SAMBACANA
*Gravura: Marcelo Webber
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“Samba quando vens aos meus ouvidos, embriagas meus sentidos, trazes inspiração/ a dolência que possuis na estrutura é uma sedução/ vai alegrar o coração daquela criatura, que com certeza está sofrendo de paixão". Os versos iniciais de "Apoteose ao Samba" parceria de Silas de Oliveira e Mano Décio traduz de forma precisa o universo do samba. Um gênero musical riquíssimo forjado pelos escravos africanos e incorporado a uma cultura singular que traz influências indígenas e européias. Nomes fundamentais da música brasileira têm a sua história ligada ao samba: Noel Rosa, Pixinguinha, Chico Buarque, Paulinho da Viola, João Gilberto, Moreira da Silva e Jamelão são alguns sambistas geniais que mostram como podem ser distintos os galhos dessa árvore genealógica musical. O melhor de tudo é que o gênero traz em si também a diversidade temática. Isto é, o samba pode ser romântico, melancólico, alegre, malandro, ingênuo e para cada uma destas características ter sempre um ou vários representantes que conseguem, seja na composição e/ou na interpretação, manifestar um pedacinho da alma de nosso país. O compositor mangueirense Nelson Sargento, num momento de inspiração, versou: "Samba agoniza mas não morre, alguém sempre te socorre antes do suspiro derradeiro". E isso já faz
antes da grande mídia voltar suas costas para o samba em detrimento do mercadão de sucessos descartáveis. Mas o samba e seus ilustres representantes resistem, remando contra a corrente e isso é bom porque fortalece a musculatura e a disposição de fazer a boa música. O projeto Sambacana promovido pelo Sesc da Esquina quer remar junto com essa turma, mostrando para o público de Curitiba um pequeno painel musical do samba brasileiro, em quatro apresentações, com ilustres representantes do Paraná a jovem Orquestra Maria Faceira e alguns dos principais nomes do samba e choro de Curitiba ao lado de duas gerações do samba carioca: Teresa Cristina e a nossa grande dama Dona Ivone Lara. Os espetáculos acontecem justamente na semana que é comemorado o Dia Nacional do Samba que, assim como o gênero musical, nasceu de uma casualidade. A história é curiosa: a data foi criada em Salvador por um vereador que quis homenagear o compositor Ary Barroso. Como assim? É que o ilustre compositor que já tinha feito o grande sucesso "Na Baixa do Sapateiro" ("Ê Bahia, Bahia que não me sai do pensamento") nunca tinha pisado na Bahia e, isso aconteceu justamente no dia 2 de dezembro que se tornou o Dia Nacional do Samba normalmente comemorado em Salvador e no Rio de
Choro/ e Samba O carioca Joaquim da Silva Callado (1848-1880), entrou para a história como o criador do choro e, com ele, chegou a se apresentar para o imperador Pedro II, por quem foi condecorado com a Ordem da Rosa em 1879. Com Callado, inaugurou-se uma estirpe de compositores e instrumentistas que passariam a ser chamados de "chorões", referência aos choros ou chorinhos que criaram e imortalizaram. Foi nessa mesma época que começou a ganhar consistência a obra de outra carioca, a ousada Chiquinha Gonzaga, que escolheu a música quando seu marido, o oficial da Marinha mercante Jacinto Amaral, a flagrou tocando violão no navio em que viviam e exigiu: "- O violão ou eu!" Sua estréia como compositora se deu com a polca Atraente (1877). Quando morreu, octogenária, deixou um legado de 77 peças teatrais e 2 mil partituras, entre as quais se destacam o tango Corta jaca e a modinha Lua branca. Outro importante pioneiro foi Ernesto Nazareth. Embora seu real desejo fosse fazer carreira como músico erudito, esse exímio pianista, que era obrigado a tocar nas ante-salas de cinema para sobreviver, entrou para a história como o mais original compositor brasileiro. De seu legado
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consta o nosso primeiro tango, Brejeiro, e choros como Apanhei-te, cavaquinho e Odeon, dois clássicos desse gênero musical. Também desempenha um papel fundamental na criação da identidade da música popular brasileira o maestro Anacleto Augusto de Medeiros (1866-1907), criador da Banda do Corpo de Bombeiros. A ele é atribuído o mérito de ter definido a escola harmônica da música popular, até então inexistente. Surgem as gravações mecânicas e, com elas, a Casa Edison, que, entre outros acertos, grava as canções compostas pelo maranhense Catulo da Paixão Cearense, que deixou para a posteridade um dos primeiros hinos afetivos da memória nacional: Luar do sertão, de 1910. Um pouco depois, começou a despontar o talento de Pixinguinha, que, em 1917, gravou, para a casa Faulhaber, as primeiras duas das quase mil composições de sua autoria: o choro Sofres porque queres e a valsa Rosa. É dessa mesma época o choro-canção Carinhoso, que, no entanto, só veio a ganhar a condição de patrimônio nacional 20 anos depois, ao receber a letra criada por Braguinha e ser cantado por Orlando Silva. Pixinguinha tem ainda o mérito de ter liderado o primeiro conjunto musical,
Foi por essa época também que os guetos negros da Praça Onze, no Rio de Janeiro, começaram a dar forma, à base de percussão e de palmas, ao que viria a ser o gênero popular mais representativo da música popular brasileira: o samba, uma corruptela da palavra de origem africana "semba", que, para alguns, significa "umbigada" ou "união do baixo ventre" e, para outros, "tristeza", "melancolia", "banzo". A primeira gravação de que se tem notícia de um samba, Pelo telefone, de Donga e Mauro de Almeida, remonta ao ano de 1917. Vale lembrar, no entanto, que o pesquisador de música popular Almirante sempre tratou Donga como um impostor, que teria se apossado de uma criação coletiva das pessoas que freqüentavam o terreiro da tia Ciata, uma das matriarcas negras moradoras da Praça Onze, que eram geralmente conhecidas como "tias". A questão da parceria era, por sinal, bastante polêmica no berço do samba, como bem o demonstra a resposta que o sambista Sinhô deu ao colega Heitor dos Prazeres, quando esse último foi reivindicar seus direitos de autor de Gosto que me
Dizem os estudiosos que o samba feito até então era muito influenciado pelo maxixe em sua estrutura formal, só ganhando a estrutura com a qual viria a ser conhecido e apreciado nos anos subseqüentes quando entraram em cena Ismael Silva e o grupo de boêmios do bairro carioca do Estácio, do qual faziam parte seu parceiro Nílton Bastos, Rubem Barcelos, Bide, Baiaco, Brancura e Mano Edgar. Esse grupo também é responsável pela criação da primeira escola de samba do Rio de Janeiro, a Deixa Falar (1928). A escola só desfilou em três carnavais, mas foi ela que inspirou Cartola, de um lado, e Paulo da Portela e Heitor dos Prazeres, de outro, a criarem, respectivamente, a Mangueira e a Portela. O primeiro desfile de escolas de samba, realizado em 1929 na Praça Onze, foi ganho pela Portela. Em 1935, os desfiles foram oficializados. Nos anos 40 surgiram os sambas-enredo, samba cuja letra conta uma estória, ou enredo, que é o tema do desfile da escola. Em 1997, em homenagem aos 80 anos da gravação de Pelo telefone, o compositor baiano Gilberto Gil compôs e gravou um samba que batizou de Pela Internet.
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Adoniran Barbosa Filho de imigrantes italianos o paulista Adoniran Barbosa nasceu na cidade de Valinhos no dia 6 de agosto de 1910. Antes de completar o primário abandonou os estudos para trabalhar. Desenpenhou as mais diversas funções, mas o que queria mesmo era ser artista. No início da década de 30, a convite do cantor Paraguaçu passou a frequentar os programas de calouro da rádio Cruzeiro do Sul de São Paulo. Em 1933, depois de ser desclassificado várias vezes por causa da voz fanha, Adoniran conquistou o primeiro lugar no programa de Jorge Amaral cantando "Filosofia" de Noel Rosa. Em 1935, teve sua primeira música gravada "Dona Boa" por Raul Torres, eleita a melhor marcha do Carnaval de São Paulo naquele ano. Até o início dos anos 40 Adoniran trabalhou em várias rádios de São Paulo como: locutor, radioator e animador de programas, foi neste periodo que criou vários personagens como o malandro Zé Cunversa ou Jean Rubinet, um galã de cinema francês. Em 1943 passou a se apresentar com o grupo Demônios da Garoa que animava torcidas nos jogos de futebol que eram promovidos por artistas de rádio. Foi na Rádio Record, que Adoniran conheceu o produtor Osvaldo Moles, responsável pela criação e pelo texto dos principais tipos interpretados por ele. Esta parceria durou 26 anos e o grande destaque foi o programa "Histórias das Malocas", onde Adoniran representava o personagem Charutinho.
O programa chegou a ter uma versão para a televisão. Os dois também dividiram a criação de vários sambas como "Tiro ao Álvaro" e "Pafúncia". Em 1945, Adoniran começou a atuar no cinema. Sua primeira participação foi no filme "Pif-Paf", seguido de "Caídos do Céu", em 1946, dirigidos por Ademar Gonzaga e em 1953, atuou em "O Cangaceiro", de Lima Barreto. Em 1951 Adoniran Barbosa gravou seu primeiro disco, no repertório "Saudosa Maloca", música que se tornou o primeiro grande sucesso do relatando dramas pessoais e com forte dose de humor; mesmo que trágico, como em "Iaracema", música que se tornou conhecida em todo Brasil na interpretação do grupo Demônios da Garoa . "Saudosa Maloca", que o próprio autor havia gravado, recebeu dois registros definitivos Demônios da Garoa em 1955 e Elis Regina no início da década de 70. "O Samba do Arnesto" também obteve grande aceitação , mas foi com "Trem das Onze", de 1964, que Adoniran conquistou seu maior sucesso. Em 1965 a composição foi
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compositor. Astuto observador do comportamento humano construia suas letras
premiada no Carnaval do Rio de Janeiro. Mais recentemente(2000), "Trem da Onze", foi escolhida pela população de São Paulo, em um concurso organizado pela Rede Globo, como a música que mais representa a cidade. Adoniran Barbosa morreu em 23 de novembro de 1982, aos 72 anos.
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Cartola SAMBACANA
Angenor de Oliveira, o Cartola, nasceu no bairro do Catete no dia 11 de outubro de 1908, no Rio de Janeiro. Era o quarto filho - de um total de sete - do casal Sebastião Joaquim de Oliveira e Aída Gomes de Oliveira. Aos 8 anos de idade, já desfilava em blocos carnavalescos de rua. Aos 11, por problemas financeiros, foi morar com a família no morro de Mangueira. Começou a trabalhar muito cedo. Foi tipógrafo e pedreiro. Foi nesta época em que trabalhava em obras que surgiu o apelido de Cartola por causa do chapeu côco que usava para não sujar os cabelos de cimento.
Sua mãe morreu quando ainda era garoto e seu pai muito severo chegou a expulsa-lo de casa quando tinha 17 anos. Junto com seu amigo e principal parceiro de composições, Carlos Cachaça, criou o bloco dos Arengueiros e em 28 de abril de 1928, foi um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, segunda escola de samba do Rio de Janeiro. Foi Cartola quem compôs o primeiro samba da escola, "Chega de Demanda". Cartola tornou-se diretor de harmonia e passou a se dedicar à composição e aos poucos foi construindo seu repertório de compositor. Em 1931, passou a ser conhecido fora do morro por intermédio do cantor e compositor carioca Mário Reis, quando este foi à Mangueira para comprar músicas e voltou com os direitos de gravação do samba "Que Infeliz Sorte", lançado em 1932, por Francisco Alves, que mais tarde se tornaria um de seus maiores intérpretes.
Cartola
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Parceira de vida que desenpenhou papel importante na vida de Cartola, Dona Zica conheceu o compositor ainda na infância, nos desfiles dos blocos carnavalescos de rua. Cartola pertencia aos Arrepiados, enquanto dona Zica era do Bloco do Seu Júlio. Foram se reencontrar depois de muitos anos, em 1952. Passaram por muitas dificuldades financeiras, abriram com mais dois sócios um restaurante chamado Zicartola. Na época em que moraram juntos, Cartola compôs "As Rosas Não Falam", "Nós Dois" (feita dias antes do casamento de Cartola e Dona Zica) e "O sol Nascerá" (parceria com Elton Medeiros que se tornou um grande sucesso na voz de Nara Leão). Cartola só conseguiu realizar seu sonho de gravar um disco em 1974, aos 65 anos de idade. Sua vida conturbada e a falta de oportunidades fizeram com que sua obra só fosse conhecida oficialmente num disco lançado pelo produtor Marcus Pereira. Apesar de ter sido famoso nos anos trinta, reconhecido nos anos setenta e muito querido por todos (em destaque com o maestro
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Ismael Silva
Carioca de Niterói, filho de cozinheiro e de uma lavadeira, Ismael Silva nasceu no dia 25 de setembro de 1905, e foi um dos mais importantes sambistas das décadas de 30 e 40.Freqüentador de rodas de samba e da malandragem do Estácio, Ismael foi um dos fundadores da primeira escola de samba, a Deixa Falar, em 1928. Um dos responsáveis pela forma que o samba tem até hoje,
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Ismael fez na década de 20 um acordo com Francisco Alves, que permitia ao cantor gravar suas composições como autor. Esse "comércio" de sambas era prática comum nos anos 20 e 30. Além de Ismael, Noel Rosa, Cartola, Nelson Cavaquinho e outros venderam sambas. "Me Faz Carinhos" e "Amor de Malandro" foram dois sucessos na voz de Francisco Alves comprados de Ismael.
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Nos anos 30 Ismael Silva se tornou uma figura lendária no mundo do samba carioca. Seus sambas foram gravados com muito sucesso pelos cantores mais populares da época, Francisco Alves e Mário Reis, que cantaram em dueto "Se Você Jurar", em 1931. Foi parceiro de Noel Rosa em sambas como "Pra Me Livrar do Mal", "A Razão Dá-se a Quem Tem" (com F. Alves), "Ando Cismado" e "Adeus". Na década de 40 se afastou do meio artístico, voltando a se apresentar em 1954 nos show da Velha Guarda produzidos por Almirante. Nos anos 60 também freqüentou o bar Zicartola e se apresentou em programas de televisão, tornando-se conhecido por outras gerações. Gal Costa regravou com êxito seu autobiográfico "Antonico". Ao completar 70 anos, em 1975, participou de um show em sua homenagem, no Teatro João Caetano, o que deixou o compositor muito emocionado, ao ver o teatro lotado cantando seus grandes sucessos. Em 1977 participou de um programa de televisão, na TV Globo, dirigido por Fernando Faro e dedicado aos sambistas do Estácio, com destaque para a sua obra. Reconhecido pelos seus pares e por admiradores como um homem tranqüilo, sereno, bem-humorado e elegante, Ismal Silva não dispensava o terno branco sempre bem engomado, sobre camisa verde ou vermelha e lenço combinando no bolso do paletó. Ismael Silva morreu em 1978, sem fama nem dinheiro.
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Pixinguinha Considerado um dos maiores gênios da música popular brasileira e do mundo, Alfredo da Rocha Viana Filho - Pixinguinha, foi autor de dezenas de valsas, sambas, choros e polcas. Compôs orquestrações para cinema, teatro e circo, além de arranjos para intérpretes famosos como: Carmen Miranda, Francisco Alves e Mário Reis. Pixinguinha foi um revoluvionário no modo de compor, arranjar e executar música no Brasil. O apelido "Pizindim" vem da infância, era como a avó africana o chamava, que significa "menino bom". O pai era flautista amador, e foi pela flauta que Pixinguinha começou sua ligação mais séria com a música, depois de ter aprendido um pouco de cavaquinho. Aos 14 anos já começava a fazer parte do cenário musical do Rio, tocando em orquestras, choperias, peças musicais e a participar de gravações ao lado dos irmãos Henrique e Otávio (China), que tocavam violão. Rapidamente criou fama como flautista graças aos improvisos e floreados que tirava do instrumento. Ainda garoto começou a compor os primeiro choros, polcas e valsas. Aos 22 anos, Pixinguinha forma o grupo Os Oito Batutas, que tocavam na sala de espera do Cine Palais, o grupo costumava fazer mais sucesso que os próprios filmes; participaram da Semana de Arte Moderna de 22, foram para Paris, tocar ao lado de jazz bands americanas e orquestras caribenhas. Outra viagem internacional que foi importante na historia do grupo foi a Buenos Aires - embora os argentinos não entendessem exatamente o que era aquela música, se encantavam com Pixinguinha. Os conjuntos liderados por Pixinguinha tiveram grande importância na história da indústria fonográfica brasileira. A Orquestra Típica
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Pixinguinha-Donga, que organizou em 1928 junto com o compositor e sambista Donga, participou de várias gravações para a Parlophon, em uma época em que o sistema elétrico de gravação era novidade. Liderou também os Diabos do Céu, a Guarda Velha e a Orquestra Columbia de Pixinguinha. Nos anos 30 e 40 gravou como flautista e saxofonista diversas peças que se tornaram a base do repertório de choro, para solista e acompanhamento. Deste período podemos destacar - "Segura Ele", "Ainda Me Recordo", "1 x 0", "Proezas de Solon", "Naquele Tempo", "Abraçando Jacaré", "Os Oito Batutas", "Sofres Porque Queres", gravadas mais tarde por intérpretes de vários instrumentos. Em 1940, indicado por Villa-Lobos, foi o responsável pela seleção dos músicos populares que participaram da célebre gravação para o maestro Leopold Stokowski, que divulgou a música brasileira nos Estados Unidos. Trocou definitivamente A flauta pelo saxofone em 1946, o que, segundo alguns biógrafos, aconteceu porque Pixinguinha teria perdido a embocadura para a flauta devido a problemas de saude. Mesmo diante desta dificuldade Pixinguinha não parou de compor nem mesmo quando teve o primeiro enfarte, em 1964, que o obrigou a permanecer 20 dias no hospital. Desta fase compôs músicas com títulos que faziam referência a sua saude , como "Fala Baixinho", "Mais Quinze Dias", "No Elevador", "Mais Três Dias", "Vou pra Casa". Depois de sua morte, em 1973, uma série de homenagens em discos e shows foi produzida. A Prefeitura do Rio de Janeiro produziu também grandes eventos em 1988 e 1998, quando completaria 90 e 100 anos. Algumas músicas de Pixinguinha ganharam letra antes ou depois de sua morte, sendo a mais famosa "Carinhoso", composta em 1917, gravada pela primeira vez em 1928, de forma instrumental, e cuja letra João de Barro escreveu em 1937, para gravação de Orlando Silva. Outras que ganharam letras foram "Rosa" (Otávio de
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Noel rosa Noel de Medeiros Rosa, nasceu em 11 de dezembro de 1910, na Rua Teodoro da Silva no bairro carioca de Vila Isabel. Filho de um gerente de farmácia e de uma professora. Noel nasceu de um parto complicado, "retirado" a fórceps, o que lhe causou afundamento e fratura no maxilar. Alfabetizado pela mãe, Noel aprendeu a tocar violão com o pai e bandolim, de ouvido, com a mãe. Com dezesseis anos já havia feito uma composição e já era considerado um bom violonista. Torna-se um assíduo participante das serenatas organizadas pelos amigos, ao mesmo tempo que estabelece contato com os sambistas do Estácio de Sá e dos "morros" do Rio de Janeiro - atento à cadência e à forma de compor e cantar destes sambistas, Noel, incorporou não só a forma de compor, mas também a cadência melódica, marcando, em definitivo, a difusão e aceitação do samba como música de qualidade, o que contribuiu definitivamente para a superação dos preconceitos que identificavam o samba como "música de negro". Noel Rosa, chegou a ingressar na Faculdade de Medicina (1930), mas abandonou o curso dois anos depois, pois estava muito envolvido com a boêmia.
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Foi convidado para integrar o Bando dos Tangarás, formado pelos amigos de Vila Isabel, João de Barro (Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito. Em 1930 iniciou-se o período Vargas, que iria desenvolver uma política econômica nacionalista - o rádio caminhava para estabelecer-se como um veículo de massa, ajudando a fazer do samba o símbolo da cultura nacional; apesar de serem um retrato desse tempo, as músicas de Noel não são datadas e possuem uma contemporaneidade comprovada pelas constantes releituras. Noel vendeu alguns sambas a cantores e teve outros gravados, que se tornaram grandes sucessos com a divulgação nas rádios. Mário Reis, Francisco Alves e principalmente Aracy de Almeida foram alguns dos intérpretes mais notórios de seus sambas. Com Mário Reis chegou a excursionar pelo sul do país, atuando como violonista.
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No ano de 1933, depois de gravar sucessos como "Até Amanhã", "Fita Amarela" e "Onde Está a Honestidade", aconteceu o primeiro "round" de seu desentendimento com o sambista Wilson Batista. Da rixa saíram as músicas "Lenço no Pescoço" (Wilson), "Rapaz Folgado" (Noel), "Mocinho da Vila" (Wilson). O segundo "round" deu-se em 1934, com "Feitiço da Vila" (Noel), "Conversa Fiada" (Wilson), "Palpite Infeliz" (Noel) e "Frankenstein da Vila" (Wilson). Outra face a ser destacado do compositor é a veia humoristica que fica evidente em letras como: "(...) Se vais à Penha comigo/ Tu tens que me dar vantagem/ Vais pagar minha passagem/ Carregar minha bagagem..." (Não Há Castigo, 1932). Em 1934 casou-se com Lindaura, apesar de sua explicita paixão pela dançarina de cabaré Ceci, para quem compôs suas músicas mais líricas, como "Último Desejo", "Dama do Cabaré", "Pra que Mentir" (com Vadico) e "Quantos Beijos" (com Vadico). Apesar da tuberculose que o atacou desde cedo, obrigando-o a se internar por várias vezes, jamais abandonou a boêmia, o samba na rua, a bebida, o cigarro. Noel transformava a sua vida em samba e, ajudou a projetá-lo como gênero de primeira grandeza no cenário musical brasileiro - foi um dos primeiros a trazer a modernidade para esse rico segmento de nossa cultura popular. Foi um cronista atento que bem soube observar o meio em que vivia, tirando de cada contexto um rico material para suas composições, com isto; certamente contribuiu para definir o perfil poético do carioca. Em menos de oito anos, construiu uma obra invejável, não só pelo número de composições que fez(mais de 250), mas, principalmente, por sua genialidade de músico e letrista. Noel Rosa, morreu no dia 05 de maio de 1937. Em janeiro de 2008, quando será completado o 70º aniversário de morte de Noel Rosa, toda a obra do compositor irá se transformar em domínio público, como preve a legislação autoral brasileira .
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Noel rosa Noel de Medeiros Rosa, nasceu em 11 de dezembro de 1910, na Rua Teodoro da Silva no bairro carioca de Vila Isabel. Filho de um gerente de farmácia e de uma professora. Noel nasceu de um parto complicado, "retirado" a fórceps, o que lhe causou afundamento e fratura no maxilar. Alfabetizado pela mãe, Noel aprendeu a tocar violão com o pai e bandolim, de ouvido, com a mãe. Com dezesseis anos já havia feito uma composição e já era considerado um bom violonista. Torna-se um assíduo participante das serenatas organizadas pelos amigos, ao mesmo tempo que estabelece contato com os sambistas do Estácio de Sá e dos "morros" do Rio de Janeiro - atento à cadência e à forma de compor e cantar destes sambistas, Noel, incorporou não só a forma de compor, mas também a cadência melódica, marcando, em definitivo, a difusão e aceitação do samba como música de qualidade, o que contribuiu definitivamente para a superação dos preconceitos que identificavam o samba como "música de negro". Noel Rosa, chegou a ingressar na Faculdade de Medicina (1930), mas abandonou o curso dois anos depois, pois estava muito envolvido com a boêmia.
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Foi convidado para integrar o Bando dos Tangarás, formado pelos amigos de Vila Isabel, João de Barro (Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito. Em 1930 iniciou-se o período Vargas, que iria desenvolver uma política econômica nacionalista - o rádio caminhava para estabelecer-se como um veículo de massa, ajudando a fazer do samba o símbolo da cultura nacional; apesar de serem um retrato desse tempo, as músicas de Noel não são datadas e possuem uma contemporaneidade comprovada pelas constantes releituras. Noel vendeu alguns sambas a cantores e teve outros gravados, que se tornaram grandes sucessos com a divulgação nas rádios. Mário Reis, Francisco Alves e principalmente Aracy de Almeida foram alguns dos intérpretes mais notórios de seus sambas. Com Mário Reis chegou a excursionar pelo sul do país, atuando como violonista.
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No ano de 1933, depois de gravar sucessos como "Até Amanhã", "Fita Amarela" e "Onde Está a Honestidade", aconteceu o primeiro "round" de seu desentendimento com o sambista Wilson Batista. Da rixa saíram as músicas "Lenço no Pescoço" (Wilson), "Rapaz Folgado" (Noel), "Mocinho da Vila" (Wilson). O segundo "round" deu-se em 1934, com "Feitiço da Vila" (Noel), "Conversa Fiada" (Wilson), "Palpite Infeliz" (Noel) e "Frankenstein da Vila" (Wilson). Outra face a ser destacado do compositor é a veia humoristica que fica evidente em letras como: "(...) Se vais à Penha comigo/ Tu tens que me dar vantagem/ Vais pagar minha passagem/ Carregar minha bagagem..." (Não Há Castigo, 1932). Em 1934 casou-se com Lindaura, apesar de sua explicita paixão pela dançarina de cabaré Ceci, para quem compôs suas músicas mais líricas, como "Último Desejo", "Dama do Cabaré", "Pra que Mentir" (com Vadico) e "Quantos Beijos" (com Vadico). Apesar da tuberculose que o atacou desde cedo, obrigando-o a se internar por várias vezes, jamais abandonou a boêmia, o samba na rua, a bebida, o cigarro. Noel transformava a sua vida em samba e, ajudou a projetá-lo como gênero de primeira grandeza no cenário musical brasileiro - foi um dos primeiros a trazer a modernidade para esse rico segmento de nossa cultura popular. Foi um cronista atento que bem soube observar o meio em que vivia, tirando de cada contexto um rico material para suas composições, com isto; certamente contribuiu para definir o perfil poético do carioca. Em menos de oito anos, construiu uma obra invejável, não só pelo número de composições que fez(mais de 250), mas, principalmente, por sua genialidade de músico e letrista. Noel Rosa, morreu no dia 05 de maio de 1937. Em janeiro de 2008, quando será completado o 70º aniversário de morte de Noel Rosa, toda a obra do compositor irá se transformar em domínio público, como preve a legislação autoral brasileira .
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Jacob do bandolim Jacob Pick Bittencourt(1918-1969) foi tão ligado ao seu instrumento que adotou-o como sobrenome - Jacob do Bandolim. Ganhou seu primeiro bandolim quando tinha 16 anos, neste mesmo ano venceu um concurso na Rádio Guanabara tocando em um grupo regional. A partir daí passou a apresentar-se regularmente nas mais importantes rádios da época, entre elas, a Educadora, Mairynk Veiga, Transmissora, e Ipanema. Jaboc realizou gravações importantissimas e foi o compositor de musicas que se tornaram clássicos da MPB, "Noites Cariocas", "Receita de Samba", "A Ginga do Mané", "Doce de Coco", "Assanhado", "Treme-treme", "Vibrações" e "O Vôo da Mosca". Explorou as possibilidades do instrumento ao ponto de eleva-lo a um lugar de hona na musica brasileira. Como musico nunca chegou a se profissionalizar, sempre trabalhou em varios empregos o que ajudou-o a manter-se firme em sua proposta musical, sem nunca ter cedido as tendências do mercado da musica. Jacob foi um dos responsáveis por dar ao choro a forma e estrutura de como é conhecido até hoje.
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Além de instrumentista e compositor genial tornou-se um importante pesquisador da música brasileira e do choro em especial. Gravou em 1947 o primeiro disco solo pela gravadora pela Continental. Na década de 50 transferiu-se para a Rca Victor, onde gravou seus principais discos. Montou o conjunto Época de Ouro em 1966, com grandes nomes do choro, como Dino 7 Cordas, César Faria, Jonas, Carlinhos, Gilberto e Jorginho. Alcançando expressiva popularidade, Jacob e o Época de Ouro ajudaram a divulgar o choro tradicional, por meio de shows e LPs, como o consagrado "Vibrações" (1967). O conjunto permanece em atividade até hoje. Uma das últimas apresentações de Jacob, um show com Elizeth Cardoso e o Zimbo Trio em 1968, foi gravado e lançado em LP duplo. Seu filho, o compositor Sérgio Bittencourt, homenageou Jaboc do Bandolim com o samba "Naquela Mesa" ("tá faltando ele/ e a saudade dele/ tá doendo em mim"), sucesso na voz de Elizeth Cardoso, cantora que ajudou a revelar. Jaco do Bandolim foi quem legitimou o choro como gênero através de um permanente trabalho de divulgação do repertório, que coletou com extrema dedicação e competencia.
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Geraldo pereira Nascido em Juiz de Fora, em 23 de abril de 1908, esse mineiro conquistou o Brasil com o samba - e como compositor da Estação Primeira de Mangueira. Geraldo Pereira levou ao extremo o que se entendia por samba sincopado - onde residia sua genialidade. Trouxe em suas músicas o cotidiano carioca, a mulher e o homem dos morros, uma forma de ver o país em que vivia nos anos 40 que se estende até os dias de hoje. Quem, ao ouvir a irônica Ministério da Economia não diria que essa música com certeza é recém composta? ("Seu presidente, Sua Excelência mostrou que é de fato / Agora tudo vai ficar barato / Agora o pobre já pode comer. / Seu presidente, pois era isso que o povo queria / O Ministério da Economia / parece que vai resolver"). Geraldo Pereira ganhou a vida como motorista de caminhão de coleta de lixo, e gastou tudo o que tinha da velha e boa boemia, por quem viveu e morreu. Um dos maiores sucessos de Moreira da Silva, Na subida do morro, creditado a ele e Ribeiro Cunha, segundo depoimento do próprio Morengueira é de Geraldo Pereira. Foi comprado por um mil e trezentos réis.
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Aos 14 anos empregou-se em uma fábrica de cerâmicas, onde num descuido, esmagou sua mão direita deixando-lhe seqüelas no dedo indicador. Com o dinheiro da indenização comprou um violão, que aprendeu a tocar com Aluísio Dias. Logo começou a acompanhar choros, polcas e valsas da época até descobrir que seu verdadeiro dom estaria voltado para um novo gênero musical que estava surgindo, o samba. Trabalhou também como soprador de vidro, foi apontador na Central do Brasil e acabou tornando-se funcionário da Prefeitura nos volantes dos caminhões da Limpeza Urbana, emprego este que defendeu até seus últimos dias. Afastou-se do morro com dezenove anos de idade, já um tímido compositor, começou a freqüentar as rodas artísticas da cidade, destacadamente as do Café Nice. Seu cotidiano passou a resumir-se nos bares, gafieiras e noitadas com diferentes mulheres. Fazia de tema para os seus sambas seus casos amorosos, tanto que de suas 77 composições gravadas, 69 foram dedicadas ao sexo frágil. Seus sambas atravessaram os tempos e foram retomados na Bossa Nova, com a gravação de Bolinha de Papel em 1961 por João Gilberto - que trouxe a luz o samba e o nome do homem que, seis anos antes (em 05 de maio de 1955), aos 37 anos, morria numa briga de faca com o legendário Madame Satã.
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Lamartine babo
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O Lalá - Lamartine de Azeredo Babo, nasceu no Rio de Janeiro em 08 de Março de 1904. Foi o mais versátil de todos os compositores do começo do século. Começou a compor aos 14 anos - uma valsa. Quando foi para o Colégio São Bento dedicou-se à músicas religiosas - depois foi a vez das operetas. trabalhava como office boy e freqüentava as galerias do Teatro Municipal. Nos anos 20 saía nos blocos de carnaval, e passou a colaborar com diversos pseudônimos em revistas satíricas e humorísticas, graças à sua capacidade de fazer trocadilhos e piadas. Ingressou no rádio em 1929, fazendo sketches e contando piadas, e no ano seguinte estreou seu próprio programa, Horas Lamartinescas. Certa vez, recebeu de Boa Esperança, MG, uma carta apaixonada de uma certa Nair Pimenta de Oliveira, pedindo fortografias para um álbum de recordações. Lalá mandou as fotos e se correspondeu por um ano com a fã apaixonada, até que esta interrompeu as cartas porque ia se casar. Convidado, tempos depois, para ir à Boa Esperança por um dentista, Lalá se apressa para conhecer Nair surpresa, não existia nenhuma Nair, quem lhe escrevia era o próprio dentista, que colecionava fotos de celebridades, e viu essa forma como a única de conseguir o queria. Lamartine, então compôs uma de suas mais belas canções "Serra da Boa Esperança".
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Na década de 30 compôs as marchinhas de carnaval que são conhecidas até hoje: "O Teu Cabelo Não Nega", "Linda Morena", "Cantores do Rádio" (com João de Barro/ A. Ribeiro), "Marcha do Grande Galo", "A-E-I-O-U" (com Noel Rosa), "Grau Dez" (com Ary Barroso), "Uma Andorinha Não Faz Verão" (com Braguinha), "Canção pra Inglês Ver" , "Chegou a Hora da Fogueira", "Hino do Carnaval Brasileiro", "História do Brasil", "Isto É Lá com Santo Antônio", "Noites de Junho". Sua produção é vastíssima no gênero em que foi mestre, mas Lalá (como era conhecido) também fez obras-primas no samba, como "No Rancho Fundo" (com Ary Barroso), "Lua Cor de Prata", "Voltei a Cantar", "A Tua Vida É um Segredo", "Serra da Boa Esperança", "Só Dando com uma Pedra Nela", e até valsas, como "Eu Sonhei que Tu Estavas Tão Linda" (com Francisco Mattoso), regravada Erasmo Carlos. Além disso, Lamartine - que tinha uma forma caricata de cantar acompanhando-se num trombone de boca - compôs hinos para os principais times de futebol do Rio: América, Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco. Lamartine morreu em 16 de junho de 1966.
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Ivone lara "O samba é uma forma de viver sempre alegre", define Dona Ivone Lara, 84 anos, uma das mais importantes representantes da autêntica cultura brasileira. Ausente dos palcos curitibanos há seis anos, nossa grande artista volta agora com a promessa de fazer um espetáculo único, combinando sambas consagrados - "Acreditar", "Sonho Meu", "Mas quem disse que eu te esqueço", "Tendências", entre tantos outros com canções dos últimos discos lançados pela gravadora francesa Lusafrica - Nasci Pra Sonhar e Cantar (2001) e Sempre a Cantar (2005), este último ainda inédito no Brasil. Com sessenta anos de carreira "oficial" no samba já que o contato dela com a música vem desde a infância, Dona Ivone Lara é extremamente elegante ao comentar a evolução desse gênero. Ela gosta de lembrar um pouco de suas origens, no começo criada pelo tio Dionísio Bento da Silva um apaixonado pelo choro mas que não admitia mulher no samba. Foi ele quem ensinou os segredos do cavaquinho para o choro e, quando o tio se ausentava, a menina Ivone compunha, escondida no quintal, seus primeiros sambas. Ainda jovem Dona Ivone casou. Seu marido Oscar Costa, era filho do presidente da Escola de Samba de Prazer da Serrinha (hoje extinta e que deu origem ao Império Serrano). Depois do casamento a relação com o samba se estreitou ainda mais e ela começou a compor com o primo o famoso mestre Fuleiro. Em 1965, já conhecida dos sambistas foi a pioneira nos desfiles das Escolas de Samba quando compôs para o Império Serrano o samba "Os cinco Bailes da História do Rio", ao lado de Bacalhau e Silas de Oliveira, tornando-se a primeira mulher compositora de sambas-enredo. "Foi uma grande novidade no desfile. O samba é um sucesso até hoje e teve mais de
Baiana titular do Império Serrano, Dona Ivone comenta que houve uma mudança muito grande nos desfiles das escolas de samba. Isso acabou afetando até o samba-enredo. "Ele sofreu algumas modificações por causa do crescimento das escolas. Agora tem que pensar se vai dar tempo para a escola desfilar. E o samba ficou bem depressa, parece um frevo", compara e, sem citar nomes, lembra do episódio no carnaval desse ano quando uma escola carioca com mais de quatro mil integrantes impediu o desfile de alguns sambistas para não perder pontos na avenida. Sobre o termo "pagode", mal utilizado e apropriado por grupos musicais modernos muitas vezes extremamente comerciais-, Dona Ivone explica que ele sempre existiu como nome das festas dos sambistas. "Quando o sambista dá uma festa ele canta partido alto, samba de terreiro, samba enredo. Um pagode é sempre acompanhado de uma boa feijoada e de uma boa peixada. Tem que ter comida no meio", ensina. Fica desfeito, portanto, a apropriação indevida do termo pelos falsos-sambistas. A nova geração do samba é promissora? Dona Ivone não só acredita que sim, como cita alguns nomes que ela gosta muito. Dos compositores ela menciona Bruno de Castro, jovem cavaquinista (que estará com ela em Curitiba) e foi parceiro nos dois últimos CDs que a sambista gravou. "Adoro ouvir ele cantar", elogia. E as cantoras? Numa geração que inclui nomes fundamentais como Teresa Cristina e Nilze Carvalho, Dona Ivone faz questão de falar da novata Juliana Diniz (neta do sambista Monarco da Portela) que recentemente lançou um disco de estréia e gravou dois samba dela. "Essas meninas todas que estão surgindo agora são grandes revelações. Da turma nova gosto muito do timbre de voz da Juliana Diniz. A Martnália também, que é mais partido alto e pagode", cita. E a inspiração. De onde vem? Dona Ivone Lara responde de bate pronto. "Vem de Deus. É um dom divino que chega em qualquer lugar, e quando vem eu completo". Na hora de citar alguma composição de sua preferência Dona Ivone mostra uma ginga perfeita de sambista: "Eu sou muito ciumenta e gosto de todas as minhas músicas". Mas, no universo
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19 regravações e é conhecido no exterior", orgulha-se a sambista que naquele ano ficou em segundo lugar.
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Thereza cristina Há quase 10 anos surgia na Lapa uma cantora de voz marcante e sorriso preciso. Seu nome: Teresa Cristina. Não coincidentemente, na mesma época a zona boêmia do Rio de Janeiro, cantada em versos por diversos sambistas, estava passando por um processo de revitalização importantíssimo não só para a vida cultural do Rio mas, porque não dizer, do Brasil. Isso porque antigos casarios decadentes e muitas vezes mal freqüentados davam lugares a novos bares com uma proposta musical muito feliz, trazer o samba de volta a uma de suas origens, desta vez cantado por gente jovem e cheia de disposição. Teresa Cristina e o grupo Semente formado pelos músicos/amigos Pedro Miranda, Bernardo Dantas, João Callado e Trambique - estavam lá, presentes nessa nova gênese da música brasileira. Hoje eles começam a colher os frutos dessa semente (trocadilho não proposital) que foi plantada no final dos anos 90. Na contramão do mercado fonográfico que aposta em sucessos radiofônicos quase sempre descartáveis, Teresa lançou seu primeiro disco em 98. Um álbum duplo com composições de Paulinho da Viola. Bem recebido pela crítica foi um cartão de apresentação do talento de Teresa e seu grupo. De lá para cá mais dois discos foram lançados A Vida me Fez Assim (CD extraordinário com sambas autorais) e O Mundo é Meu Lugar (um registro ao vivo que reúne sambas dos primeiros CDs ao lado de canções inéditas). Ela explica a opção: "As pessoas iam à Lapa, me viam cantando e quando compravam o disco não tinham as músicas que elas estavam ouvindo. Então procurei atender a isso. Misturando. Para ser interessante tinha que contar a minha história musical, senão não tinha lógica".
Inquieta, mal terminou de lançar um disco, a sambista já está pensando no seu próximo trabalho. Desta vez com uma proposta diferente voltada para a música do interior do país. "Não é música sertaneja, mas a música de trabalho, feita pelas famílias. Acho que o litoral empurra a gente para um conceito muito igual, falando sobre os mesmos temas, isso me incomoda um pouco. As pessoas só querem falar de desilusão amorosa. Tudo bem que a gente sofre, a gente nasce para sofrer de amor a vida inteira, mas existem outras coisas para se comentar. Existe uma situação social, uma história do país que está completamente de cabeça para baixo, a gente também pode falar sobre a natureza, amizade... No interior estou descobrindo várias coisas. O meu novo projeto que juntar esse tipo de música com as minhas composições", adianta. Mas isso não quer dizer que ela vá se afastar das suas raízes. Não. Teresa Cristina entende o samba não apenas como um gênero musical mas, acima de tudo, um estado de espírito. "É só perceber a atitude de artistas como Cartola, Nelson Cavaquinho Monarco, Wilson Moreira, Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho você sente uma diferença de estado de espírito e acho que isso tem a ver com o samba. A nossa vida corrida, a nossa relação humana, a maneira como nós tratamos nosso próximo... o samba ensina muita coisa", finaliza lembrando um trecho da composição "Alento" de Paulo César Pinheiro "O verso do samba é conselho".
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E a história de Teresa Cristina tem muita coisa boa. Além das músicas de Paulinho e dos sambas que compõem com muita autoridade, ela traz no seu repertório nomes fundamentais da música brasileira como Chico Buarque, Candeia, Gonzaguinha, Noel Rosa, Clara Nunes, João Gilberto e muitos outros bambas que influenciaram seu trabalho diretamente. "Estou pensando que em Curitiba seria interessante não fazer apenas o show do disco novo. Faz muito tempo que não vou para aí, desde o primeiro CD, e sempre quis dar continuidade neste trabalho. Espero que esta apresentação me ajude a retomar este contato com o Sul do País", comenta Teresa Cristina que promete um espetáculo especial ao público curitibano. Apesar de incensada pela crítica e pelo público, Teresa Cristina ainda encontra dificuldades para divulgar seu trabalho na grande mídia leia-se rádios e TVs. "Eu quero quebrar os obstáculos mas de uma maneira que não me agrida. No Rio o meu trabalho já existe há oito anos cantando samba na noite e mantenho uma média de público legal com as casas sempre cheias. Manter um trabalho durante esse tempo sem tocar na rádio é um mérito nosso e do samba que sobrevive em tocar na rádio", avalia a sambista.
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Maria faceira
A Maria Faceira surgiu em novembro de 2002 da vontade dos seus músicos de expressarem sua criatividade musical através de seus improvisos e arranjos. Depois de mais de um ano de existência e amadurecimento a banda apresenta um espetáculo musical que revive o clima das antigas orquestras de gafieira, porém com identidade própria e uma visão estética adaptada à atualidade.
Maria Faceira Luís Otávio Almeida guitarra e arranjos Gabriel Schwartz saxofones alto e tenor, flauta e arranjos Sérgio Albach clarinete Raole de Souza trombone Fabiano Silveira (o Tiziu) violão de 7 cordas Marcelo Athaídes baixo Graciliano Zambonin bateria Rodrigo Bravo (o Mico) percussão Roseane Santos voz
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Apesar do pouco tempo de existência a Maria Faceira já apresenta no seu histórico apresentações ao lado de Wilson das Neves (baterista da banda de Chico Buarque, divulgando agora seu trabalho como compositor e cantor de samba), Robertinho Silva (um dos maiores bateristas/percussionistas do Brasil que já fez parte das bandas de Milton Nascimento, Gal Costa, Chico Buarque, entre outros) e de Nailor Azevedo, o "Proveta" clarinetista, saxofonista, arranjador e líder da Banda Mantiqueira). Além das canjas de Léa Freire, Arismar do Espírito Santo, Paulo Belinati e do maior clarinetista do Brasil: Paulo Moura. A banda também já tem um prêmio em sua carreira, conquistado em 2003 no 4º Festival de Música de Câmara de Curitiba (Jazz/MPB fest). Com um repertório direcionado principalmente ao samba da melhor qualidade, onde poderíamos citar compositores como Cartola, Adoniran Barbosa, Chico Buarque, João Bosco, Ary Barroso, entre outros, a MARIA FACEIRA leva à seu público interpretações únicas, com arranjos bem elaborados e muito improviso e, além da música, muita alegria e uma vontade irresistível de dançar.
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Discografia adoniran Barbosa - Passoca Canta Inéditos de Adoniran (2000) – CD - Adoniran Barbosa –,Último Show Gravado ao Vivo (2000) – CD - Adoniran Barbosa – O Poeta do Bixiga (1990) – CD - Saudades de Adoniran (1984) – Vinil - Documento Inédito (1984) – CD/ Vinil - Adoniran Barbosa – 70 anos (1980) – CD/Vinil - Talismã Canta Adoniran Barbosa (1979) – Vinil - Adoniran Barbosa – (1975) – CD /Vinil - Adoniran Barbosa – (1974) – Vinil
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Participações - Meus Momentos – Vol. 1 e 2 – Djavan (Djavan) - Elis Regina no Fino da Bossa – Ao Vivo (Elis Regina) - 10 Anos (Clara Nunes) - Adoniran Barbosa – O Poeta do Bixiga (Adoniran Barbosa)
geraldo pereira - Mais um milagre/Bonde Piedade (1945) Continental - Roubaram o lírio de ouro/Vou dar o serviço (1948) Star - Pedro do Pedregulho/Ela (1950) Sinter - Se o meu amor voltar/É hora cabrocha (1950) Sinter - Domingo infeliz/Ministério da economia (1951) Sinter - Tribo do Caramuru/Polícia no morro (1952) Sinter - Escurinha/Ser Flamengo (1952) Sinter - Coitadinha fracassou/Dama ideal (1952) RCA Victor - Fiz tudo/Tombo no chapéu (1952) RCA Victor - Cabrocha do balaco-baco/Morreu o Anacleto (1952) RCA Victor - Falso patriota/Cabritada malsucedida (1953) RCA Victor - Chorei...chorei/Reminiscência da Lapa (1953) Sinter - Olha o peroba/Maior desacerto (1954) Columbia - Professor de natação/Juraci (1954) Columbia - Conduta do Taioba/Eu vou partir (1954) Columbia - Geraldo Pereira (1998) Editora Globo CD
cartola - Cartola - Compacto Duplo - 1965b - Mocambo - Raízes da Mangueira - 1973 - Discos Copacabana - Fala Mangueira - 1968 - Odeon - Cartola - 1974 - Discus Marcus Pereira - Cartola - 1976 - Discus Marcus Pereira - Verde que Te Quero Rosa - 1977 - RCA-Victor - Cartola 70 Anos - 1978 - RCA-Victor - Cartola ao Vivo - 1982 - Eldorado - Cartola entre Amigos - 1982 - Funarte
lamartine babo - Canção para inglês ver (1931) Odeon - Só dando com uma pedra nela (Com Mário Reis) (1932) Odeon - A .E. I . O . U/Babo...zeira (1932) Victor - Maria da Luz/Erupção (1932) Columbia - As três palavrinhas/Menina que tem uma pose (1932) Columbia - Uma família radiante (I)/Uma família radiante (II) (1932) Victor - Ai!...Hein!.../Boa bola (Com Mário Reis) (1933) Victor - Infelizmente/É um xuxu (1933) Victor - Linda morena (1933) Victor - Moleque indigesto (Com Carmen Miranda) (1933) Victor
Discografia Jacb do Bandolim
- Festa no céu/Minha viola (1930) Parlophon 78 - Com que roupa?/Malandro medroso (1930) Parlophon 78 - Cordiais saudações/Mulata fuzarqueira (Com o Bando de Tangarás) (1931) Parlophon 78 - Samba da boa vontade/Picilone (Com o Bando de Tangarás) (1931) Parlophon 78 - O pulo da hora/Vou te ripar (1931) Parlophon 78 - Por causa da hora/Nunca...jamais... (1931) Victor 78 - Gago Apaixonado (1931) Columbia 78 - Quem dá mais?/Coração (1932) Odeon 78 - Mentiras de Mulher(Com Artur Costa)/Felicidade (1932) Columbia 78 - Coisas nossas/Mulher indigesta (1932) Columbia 78
Ismael silva - Se você jurar (1973) - Vinil - Samba pede passagem (1966) - Vinil - Ismael canta Ismael(1957) - CD/Vinil - O samba na voz do sambista (1955) - Vinil Extras - A Música Brasileira deste século por seus autores e intérpretes (2000) -CD Tributos - Ismael Silva - Peçam Bis Jards Macalé e Dalva Torres (1988) - CD/Vinil
Pixinguinha - Gente da Antiga (1968) - Som Pixinguinha (1971) - Carnaval dos Bons Tempos(1967) - Pixinguinha e sua banda - Alegria (1960) - Pixinguinha e sua orquestra - Marchinhas carnavalescas de João de Barroa e Alberto Ribeiro (1959) - Pixinguinha e sua banda em Carnaval de Nássara - (1957) - Assim é que é (1957) - Pixinguinha e sua banda - Festival da Velha Guarda (1956) - Almirante / Pixinguinha - 5 Companheiros (1956) - Pixinguinha e os chorões daquele tempo - Carnaval da Velha Guarda (1955) - A Velha Guarda - Almirante / Pixinguinha
*Caricaturas: Marcelo Webber
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noel rosa
- Jacob revive músicas de Ernesto Nazaré - 1955 - RCA Victor - Chorôs Evocativos - 1957 - Valsas Evocativas - RCA Victor - Primas e Bordões - RCA Victor - Valsas Brasileiras de Antigamente - RCA Victor - Na Roda do Chôro - RCA Victor - Chorinhos e Chorões - RCA Victor - Jacob Revive Sambas para Você Cantar - 1963 - Isto É Nosso - RCA Victor - Era de Ouro - RCA - Assanhado - 1966 - RCA Victor - Época de Ouro - RCA Victor - Eliseth Cardoso - Zimbo Trio Jacob do Bandolim VOL. I - 1968 - MIS - Eliseth Cardoso - Zimbo Trio Jacob do Bandolim. Fragmentos Inéditos - 1977 - Jacob do Bandolim e Valdir Azevedo - RCA Victor - Os Saraus de Jacob - RCA Victor - Arquivo do Jacob do Bandolim - RCA Victor - 10 Anos de Saudade - RCA Victor - Vibrações - RCA Victor
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