Invocação ao Espírito Santo Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso amor. Enviai, Senhor, o Vosso Espírito, e tudo será criado, e renovareis a face da terra. Oremos: Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos rectamente todas as coisas e gozemos sempre da sua consolação. Por nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amen.
Tema III Tripé e Intendência
Durante as mais de seis décadas de vida dos Cursilhos de Cristandade em todo o mundo, multidões de homens e de mulheres, das mais diversas línguas e culturas, mudaram as suas vidas, depois de um encontro pessoal com Cristo, num Cursilho de Cristandade.
Este encontro foi possível porque a ação do Espírito de Cristo Ressuscitado encontrou um ponto de apoio, uma colaboração generosa em muitos cristãos, no âmbito deste movimento.
Também S. Paulo mudou radicalmente de vida depois de o Senhor o ter chamado, fazendo-o cair por terra. É o próprio quem nos deixa o testemunho da sua conversão. Encontramo-lo nos Actos dos Apóstolos (22,3-16; cf. narrativa em 9,1-22) e na Carta aos Gálatas (1,1124), com uma riqueza tal de elementos, que, ao descrever essa profunda transformação pessoal, nos ajuda a interpretar e a perceber, à luz da fé, aquilo que se passa na vida de cada homem e mulher, que se encontra verdadeiramente com Cristo.
Ia ele a caminho de Damasco, em perseguição dos cristãos, quando, de repente, em pleno dia, se vê envolvido numa “intensa luz vinda do céu”… Caiu por terra, deixou de ver “por causa do esplendor daquela luz”, ouviu a voz do Senhor que Se identificava com os cristãos perseguidos. Levantou-se e, guiado pelas mãos dos seus companheiros, foi até à cidade, onde lhe foi dito por Ananias, segundo a palavra de Jesus: “tu serás sua testemunha diante de todos os homens, acerca do que viste e ouviste”; recuperou a vista, passando a ver tudo com outros olhos e a outra luz – com os olhos da fé, à luz de Cristo; recebeu o Baptismo, ganhou novas forças e logo começou a proclamar nas sinagogas que Jesus era o Filho de Deus, lançando-se mais tarde, após intenso período de preparação, nas suas grandes viagens missionárias.
Paulo foi um homem decidido. Assumiu-se, de facto, como “instrumento” escolhido por Cristo para levar o Seu nome ao conhecimento dos gentios, entregandose incondicionalmente à missão recebida. Paulo sabia em quem tinha acreditado! Contava com a graça de Deus, que estava sempre com ele e nele não era inútil (cf. 1 Cor 15, 9-10). É este o testemunho de S. Paulo, particularmente significativo e interpelativo para nós.
Na verdade, a experiência do “Cursilho” foi para muitos tempo de primeira descoberta do Senhor e de encontro consigo mesmos; foi para muitos outros, oportunidade de parar e sair da rotina duma prática religiosa sem alma; foi para quase todos, um momento forte de “conversão” à graça e às experiências do próprio Baptismo.
Diz Santo Agostinho que “Deus é tão inesgotável que, quando se encontra, está ainda todo por encontrar”. Quer isto dizer que o nosso encontro com Ele tem de ser dinâmico; nunca está feito em termos definitivos, mas está sempre a fazer-se e não pode ser descorado!
Por isso mesmo, no âmbito do movimento, se propõem momentos de reflexão, (Reuniões de Grupo, Ultreias, Escola, etc.) para ajudar cada cristão “cursilhista”a questionar-se sobre o seu encontro com Deus, por Cristo, e a repensar os seus compromissos com Ele, com a Igreja e com o próprio MCC, no serviço apostólico que lhe compete prestar.
Todos sentimos o perigo da rotina e do cansaço; o perigo do desalento e até de uma certa frustração, perante as dificuldades do apostolado; o perigo da acomodação e do facilitismo, encontrando sempre razões e pretextos para limitar, progressivamente, o entusiasmo e o amor inicial.
Diz S. Paulo a Timóteo e hoje a cada um de nós cursilhistas: - “Por isso te exorto a que reanimes o dom de Deus que está em ti”. Não o deixes morrer, dá-lhe vida! Procura os meios, confia! Já não sabes em Quem acreditaste? - Olha que “Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação”. Como que a dizer: na tua vida e na tua acção apostólica, sê ponderado, procura sempre o maior bem, não te deixes vencer por inibições ou cobardias, sê forte na força do Espírito que está em ti! - E concluiu: “Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus”.
E Timóteo cumpriu e deixa-nos este exemplo de entrega confiante e generosa à causa do Evangelho: segundo a tradição, ele foi perseguido e apedrejado até à morte, foi mártir!
E nós? O que é que hoje nos é pedido? Como havemos de dar testemunho do Senhor e sofrer pelo Evangelho? Em resposta a estas perguntas, continuamos a ouvir o eco das palavras de Jesus no Evangelho: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. Jesus enviou os discípulos “dois a dois à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir”. Naquele envio, Jesus associa os discípulos, pela oração e pela pregação, à Sua Obra!
Tomando as palavras de Jesus como mensagem para nós, hoje, não podemos esquecer que aos discípulos Ele disse: “ Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores…” E vós: “Ide : Eu vos envio…” Associados à missão, cada um segundo a sua vocação, teremos de pedir... de rezar.
São eco das palavras de Jesus todos os apelos e convites que a Igreja, através dos seus Pastores, continua a dirigir-nos para sermos agentes da evangelização das realidades do nosso tempo.
É exigente e arriscado levar Cristo do adro à sociedade, mas é este o desafio que a fome e o vazio dos homens de hoje nos dirigem a nós Igreja. Temos de levar connosco Cristo aos ambientes.
Os que viveram a experiência dum “Cursilho” sentir-se-ão mais conscientes da responsabilidade de viverem a sua vida cristã, comprometidos no contacto direto com o mundo, testemunhando nele a força libertadora do Evangelho e a alegria de ser Cristão. Todos nós conhecemos pessoas que, à imitação de S. Paulo e de outros Apóstolos, se entregam ao serviço dos irmãos e à causa do Evangelho.
É preciso que também nós não fiquemos parados. Abertos ao apelo do saudoso Papa João Paulo II, na sua mensagem programática do início do milénio “Duc in altum” (“ faz-te ao largo”), deveremos lançar-nos constantemente em tarefas evangelizadoras renovadas e renovadoras para que todos possam experimentar a força transformadora e plena de esperança que brota daquelas palavras simples que sempre se ouvem no encerramento dum Cursilho de Cristandade: “Cristo conta contigo; e eu com a sua graça”.
A graça de Cristo nunca nos faltará mas é necessário que nos preparemos para o trabalho, à imagem de S. Paulo, que só iniciou as suas grandes viagens missionárias após intenso período de preparação. Para a nossa preparação contamos com o famoso tripé da vida cristã de que tanto nos falaram no Cursilho: (Piedade, Estudo e Acção). Piedade: expressão real do nosso amor a Deus e ao próximo. Estudo: conhecimento da verdade para chegar ao amor. Ação: irradiação desse amor para os outros. São estes os três elementos dinâmicos que expressam a autêntica Vida Cristã e a fazem crescer.
São inúmeros os meios para mantermos o contacto íntimo com Cristo, mas há um meio que supera os outros: - A ORAÇÃO, pessoal e comunitária. O próprio Cristo, em várias passagens do Evangelho, nos deu o exemplo. Os autores dizem: “Retirou-se para orar”, “foram encontrá-Lo a rezar”, “saiu cedo para orar”… Cristo não se cansava de repetir: pedi, chamai, buscai, batei... Com razão os Santos Padres comparavam a oração com o ar de que necessitamos para respirar. Vida de piedade sem oração está condenada à morte.
Estudo
Para conhecer, viver e ter o sentido exato e profundo dos deveres resultantes do Baptismo, ĂŠ necessĂĄrio o Estudo. Enriquecer e ilustrar a nossa inteligĂŞncia, fortalecer e determinar a nossa vontade.
Por sua vez, o estudo ajudar-nos-á a conhecer melhor a maravilha das realidades temporais, que temos obrigação de tornar conformes com o Plano de Deus, impregnando-as de sentido e de espírito evangélico. Ninguém pode dar o que não tem. Ninguém pode renovar se não estiver renovado. Ninguém transformará nada em cristão, se primeiro e constantemente não procurar uma verdadeira transformação em si mesmo. Ninguém ama o que não conhece.
Para que o estudo seja proveitoso para nós e para os outros tem de ser revestido de humildade (porque é aos humildes que Deus se revela). A generosidade é outra condição indispensável para o estudo. Não é o que diz: Senhor, Senhor, … mas o que cumpre a vontade do Pai (Mt. 7, 21). O estudo é o meio para viver mais e melhor o Plano de Deus. É necessário saber ler com amor. O coração também tem as suas razões que só entende aquele que ama.
Ação O ser cristão necessariamente inclui e exige um atuar cristão. São as vértebras da vivência cristã nos ambientes, que irão transformar o mundo que nos rodeia. - CARIDADE – AMOR PRÁTICO Mas para que os homens sejam líderes na vivência do fundamental cristão, têm que ter em si mesmos essa vivência, esse estado de graça habitual que se obtém primariamente com os joelhos do corpo, ou com a alma ajoelhada aos pés da cruz. Quanto mais comunicada for esta vivência, mais consciente e crescente se tornará. O ambiente a atingir, implica não um trabalho solitário, mas uma colaboração de equipa, pois o fruto do trabalho consertado de várias pessoas é mais produtivo do que o trabalho de um só.
A eficĂĄcia (o nosso segredo maior) do movimento dos Cursilhos de Cristandade reside em primeiro lugar na intendĂŞncia, feita pelos nossos joelhos do corpo ou da alma e pelos mesmos joelhos dos nossos irmĂŁos em Cristo.
Como não lembrar as incontáveis e por vezes comovedoras “intendências”de crianças e adultos, jovens e doentes, que sensibilizaram os participantes num Cursilho e alcançaram de Deus, para eles, a graça da conversão. O primeiro e principal passo da conversão dos outros, a principal alavanca da conversão das almas, começa pelos joelhos. “De pé perante os homens, de joelhos perante Deus”. A oração ajuda a discernir, ”antes de falar de Cristo aos homens é preciso falar dos homens a Cristo”. A oração confiada, humilde e constantemente vivida nas nossas almas é o elevador principal para a ascensão até Cristo.
A missão de penetração nos ambientes, para os mudar ou preparar para a conversão, identifica-se assim com a missão típica dos leigos na Igreja Católica, Apostólica, Romana. Estes têm como finalidade e carisma viver no mundo, enchendo as realidades terrestres com a seiva do Evangelho.
Seria incompreensível que o homem, potenciado pelo amor de Deus, aos seus semelhantes e ao mundo, pretendesse viver passivamente a sua piedade ou se quedasse gostosa e tranquilamente na contemplação dos conhecimentos religiosos que o estudo lhe tenha proporcionado. «A fé sem obras é uma fé totalmente morta» diz-nos S. Tiago. Em jeito de conclusão, elevo a minha oração ao Senhor pedindo-Lhe que ilumine os nossos espíritos a fim de entendermos o papel imprescindível do tripé para a ação nos ambientes e a importância da intendência como motor e força.
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