Entrevista ao Pe. José Dionísio
Opinião de Cónego Pe. Manuel Matos
Opinião de Pe. Mário Santos
Aprendemos na catequese de infância que a Liturgia é a primeira etapa da fé́, onde podemos conhecer o mistério de Deus e celebrá-lo. Neste número de O Alforge, somos convidados a fazer uma caminhada pela Liturgia e os Sacramentos, com um renovado entusiasmo na vida cristã e viver este programa no quotidiano, tornado vida através da arte de bem celebrar o mistério de Cristo na Liturgia. De uma forma simples, a Liturgia realiza a aprendizagem
da fé, não apenas racionalmente, mas também pelos sentidos. A Liturgia é um mistério que se escuta, que se vê e que se vive. A Liturgia vale por si mesma como o amor. A Igreja celebra em cada domingo o mistério pascal de Cristo nos seus diversos aspetos que tornam presente e comunicam o dom da salvação, não segundo esquemas
subjetivos, mas mediante um plano sacramental. A Constituição sobre a Sagrada Liturgia salienta que através da Liturgia e mediante o conjunto dos sinais sensíveis eficazes do culto da Igreja se exercita a obra sacerdotal de Cristo, ou seja, a santificação do homem e a glorificação de Deus. Assim, façamos este caminho e vivamos melhor esta na Quaresma.
Especial Liturgia 02 | O Alforge | fevereiro 2016
Celebrar com Verdade e Dignidade
ORAÇÃO Senhor nosso Deus que com o vosso Espírito abris a inteligência e o coração dos homens e das mulheres à Verdade e ao Amor, fazei que, também nós, na docilidade ao mesmo Espírito, pela Palavra que Deus nos dirige como a amigos, queiramos descobrir cada vez mais a Cristo como Luz de todos os povos e de todas as situações: nas alegrias e esperanças nas tristezas e nas angústias que fazem parte da nossa vida que unimos a Cristo Aquele que sendo Deus e homem verdadeiro realizou em Si a salvação. “ Nesta obra tão grande, pela qual Deus é plenamente glorificado e os homens são santificados, Cristo associa sempre a Si a Igreja, sua esposa muito amada, a qual invoca o seu Senhor e por meio d’ Ele presta culto ao Eterno Pai”, e pela intercessão da Virgem Mãe da Igreja conheçamos e acreditemos nos mistérios da salvação, e acreditando esperemos; e esperando amemos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo Vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Ámen
Este ano pastoral, o nosso programa diocesano volta-se para a revisão das formas como celebramos a Fé. Vamos ter como referência o Concílio Vaticano II e as orientações litúrgicas que dele recebemos, sobretudo através da Constituição sobre a Sagrada Liturgia – Sacrosantum Concilium. Queremos, por isso, voltar a ler pessoalmente e em grupo este importante documento conciliar sobre a renovação litúrgica. Queremos comparar as orientações que dele recebemos com a prática das nossas celebrações, a começar pela celebração da Eucaristia, sobretudo na assembleia do domingo, onde se concentra e renova o mistério pascal de Cristo, que nele deseja envolver todos os participantes. Daremos também atenção ao itinerário da iniciação cristã – Batismo, Confirmação, Eucaristia – que estamos a praticar, procurando descobrir caminhos novos para ele se ajustar mais e melhor às orientações conciliares. Procuraremos igualmente que os outros sacramentos, que celebram sempre o mistério pascal de Cristo de forma aplicada às diferentes situações da nossa existência pessoal e
comunitária, se ajustem, o mais possível, às mesmas orientações conciliares. Falamos dos sacramentos de serviço – Ordem e Matrimónio – e dos sacramentos de cura – Reconciliação e Unção dos Enfermos. Os cadernos elaborados sobre cada um destes assuntos ajudar-nosão a fazer a caminhada da revisão das nossas celebrações, à luz do Concílio. O ano da vida consagrada, que continuamos a celebrar até ao próximo mês de fevereiro e sobretudo o jubileu extraordinário que nos acompanha até novembro do próximo ano são oportunidades que queremos aproveitar ao máximo dentro do programa e do calendário que nos propomos cumprir, ao longo de todo este ano pastoral. Para chegarmos a bom termo, que para nós é a Assembleia Diocesana de Representantes, a realizar no ano de 2017, pedimos a bênção de Deus e a intercessão maternal de Nossa Senhora, a quem confiamos, desde já, este nosso programa.
Ficha Técnica Propriedade e Administração: Arciprestado de Seia / Zona Oeste Equipa Responsável: António Carlos (Pe.), João Barroso (Pe.), Nuno Maria (Pe.), Paulo Caetano (Dr.), Rafael Neves (Pe.) Colaboradores nesta Edição: António Carlos (Pe.), Cristina Cardoso, Gabriela Almeida (Dra.), Isabel Almeida (Prof.), José Manuel Almeida (Dr.), D. José Cordeiro (Bispo), José Dionísio (Pe.), José Luís Borga (Pe.), Manuel Alberto Matos (Pe.), D. Manuel Felício (Bispo), Mário Santos (Pe. SSP), Nelson Almeida (Eng.), Nuno Maria (Pe.), Paulo Caetano (Dr.), Rafael Neves (Pe.), Ricardo Garcia (Dr.), Rosa Silva. Morada para Correspondência: Rua de Baixo, n. 2, 6270-213 Santiago Contatos: contacto@oalforge.pt | www.oalforge.pt | 238 085 048
Noticias da nossa Ter ra 03 | O Alforge | fevereiro 2016
I Encontro de Janeiras e Reis 2016 - Várzea de Meruge
No dia 9 de Janeiro, numa noite de inverno, em ambiente natalício, foi com muita satisfação que a Irmandade do Santíssimo Sacramento, promoveu o I encontro de Cantares de Janeiras e Reis, pelas 21:00 h, tendo este lugar, na igreja matriz de Várzea de Meruge. O cantar das janeiras é uma tradição secular em Portugal
que consiste no cantar de músicas pelas ruas e igrejas, por grupos de pessoas – os chamados “Janeireiros” – anunciando o nascimento de Jesus Cristo e desejando um feliz ano novo. O evento teve como grupos convidados, o Rancho Folclórico “ Os Pastores de São Romão” e a “ Tuna de Figueiredo” apresentando, assim, o seu vasto repertório musical. Tivemos a presença do senhor presidente da Câmara Municipal de Seia, Dr. Carlos Filipe Camelo e o senhor presidente da União de Freguesias de Carragosela
e Várzea de Meruge, senhor João Barreiras e o pároco da nossa paróquia, o senhor Padre Nuno Silva. Para que este evento tivesse o seu marco histórico e cultural em Terras de Várzea de Meruge, foi entregue aos grupos convidados e às entidades que nos visitaram, uma lembrança alusiva ao evento, para que se perpetue na memória de todos os presentes. Agradecemos, mais uma vez, ao Rancho Folclórico “ Os Pastores de São Romão” e à “ Tuna de Figueiredo” pela sua presença, onde nos mostraram os seus
repertórios, promovendo, assim, a cultura popular da nossa região e os hábitos e costumes das nossas gentes, próprios da época natalícia. Assim, terminou uma noite cultural, num espaço muito agradável, que é a Casa de Deus, onde não faltaram as palmas, as palavras calorosas, de incentivo, para que se continue a fazer mais e melhor. Ricardo Garcia
Tomada de Posse dos Órgãos Sociais da Misericórdia de Seia Os novos corpos sociais da Santa Casa da Misericórdia de Seia para o quadriénio 20162019 tomaram posse no dia 7 de Janeiro, numa cerimónia na Igreja da Misericórdia. A Assembleia eleitoral decorreu no passado dia 17 de dezembro e participaram
no escrutínio 67 Irmãos dos 415 inscritos, tendo a única lista candidata obtido a totalidade dos votos, sem a existência de votos nulos ou brancos. A nova equipa, constituída já de acordo com os novos estatutos, é liderada por
Alcides Soares Henriques que continua com o cargo de Provedor. Continuam também como Presidente da Assembleia Geral, José Fernando Béco e como Presidente do Conselho Fiscal, Miguel Cecílio Pereira Bessa.
Ultreia Arciprestal - Vila Cova
No passado domingo, dia da festa do Batismo do Senhor, três das comunidades paroquiais deste núcleo pastoral receberam a visita e a partilha do Padre Hélder Lopes, representando o secretariado diocesano da pastoral vocacional.
As paróquias de Sandomil, Santiago e Sabugueiro foram interpeladas pela pergunta sobre quem saberia o dia do seu batismo? A exemplo do dia de aniversário também festejamos esse dia? Como batizados o que fazemos
como Filhos de Deus? Devemos todos os dias renovar as nossas promessas batismais, redescobrir a beleza de sermos todos família em Jesus Cristo. Somos e estamos sempre a caminhar como peregrinos, esse deverá ser o nosso lema.
Interpelação direta foi também feita aos pais, crianças e adolescentes da catequese para que se motivem sempre a descobrir e responder positivamente à sua vocação. Este núcleo pastoral das Paróquias da Estrela muito agradece a presença e a oração que o serviço diocesano de pastoral vocacional realizou nas nossas comunidades. Deus nos dê muitos, mas principalmente santos, sacerdotes.
Notícias da nossa Ter ra 04| O Alforge | fevereiro 2016
Paróquia de Tourais realiza CPM
Teve lugar no dois últimos fins-de-semana, antes do Natal, mais um Curso de Preparação para o Matrimónio, na Paroquia de Tourais. O CPM é um movimento
da Igreja que tem como objetivo dedicar-se à preparação dos noivos para o Matrimónio. Teve como finalidade promover sessões com pedagogia e metodologia próprias, baseadas na revisão de vida e testemunho vivencial apoiados na reflexão e no diálogo conjugais. Pretendeu-se com esta formação, ajudar os noivos a preparar o seu matrimónio,
a refletir sobre o seu noivado e a dialogar sobre a validade das suas ideias e dos seus comportamentos. Digamos que se pretendeu despertar ou fazer crescer a fé em Jesus Cristo, validando as suas ideias e os seus comportamentos, principalmente através do testemunho de outros noivos e casais. Procurou-se fazer uma aprendizagem de diálogo entre os dois, refletindo sobre situações
que afetam a harmonia das relações entre os elementos do casal de modo a desenvolver atitudes de superação dessas situações. No fundo, procurou-se desenvolver atitudes e valores que desencorajem o recurso ao divórcio e ao aborto, contribuindo para a estabilidade da família. O próximo CPM na Paroquia de Tourais será nos 2 últimos fins-de-semana de Julho.
Cantar de Reis - Santiago No dia 06 de Janeiro, cumpriu-se a tradição do cantar dos Reis na Paróquia de Santiago. Apesar da persistente e muito incómoda chuva que durante toda a noite caiu, um grupo significativo de pessoas ligadas a diferentes grupos paroquiais percorreram algumas das ruas centrais da paróquia entoando cânticos alusivos à
visita dos Reis Magos ao Deus menino.
partilha e são companheirismo.
A chuva tornou impossível a visita a todas as casas que o grupo gostaria de visitar, no entanto, de forma simbólica visitaram-se algumas famílias representando todas as outras.
Os valores apurados reverteram para a Fábrica da Igreja para apoio às obras realizadas e ainda a realizar.
Ficou a promessa de, no próximo ano, se repetir este momento de alegria, fé,
Participação Plena, Consciente e Ativa Participação é um termo recorrente na Liturgia atual, que significa tomar parte, e é sinónimo de adesão e intervenção. É uma expressão tão usada que até parece mesmo o mote da Reforma litúrgica, qualificada com vários adjetivos: plena, consciente, ativa, piedosa, fácil, interna, externa. A participação litúrgica comporta três aspetos, distanciando‐se de uma abordagem meramente sociológica: a ação de
participar, a coisa em que se participa; os participantes. A ação de participar, enquanto ação humana, implica atitudes externas e hábitos interiores. Uns e outros são, por sua vez, suscetíveis de gradualidade e de modalidades diferentes, todas orientadas para uma finalidade ou meta da ação participada, isto é, a própria celebração litúrgica. A coisa em que se participa na Liturgia é o mistério que se celebra, sob a forma de memorial. O participar na celebração significa
transcender e ultrapassar o âmbito semântico‐ritualista para penetrar no coração da ação litúrgica. A participação externa é só o primeiro estádio da participação na celebração, ao mesmo tempo subjetiva e objetiva. A fusão destes dois tipos de participação é um ideal ao qual se perspetivam a pastoral e a espiritualidade litúrgicas. Os participantes são as pessoas fiéis, que se tornam atores e ministros da própria celebração. Participa‐se, numa celebração, quando as
pessoas estão envolvidas e interagem diante do mistério das três pessoas da Santíssima Trindade. A participação é, portanto, um direito e um dever. A participação nas ações litúrgicas não é qualquer coisa de extrínseca ou de acessório, mas faz parte da própria natureza da Liturgia, que é ação de todo o povo de Deus. Por outro lado, esta participação pertence ao carácter batismal dos fiéis.
Especial Liturgia 05 | O Alforge | fevereiro 2016
A Constituição Sacrosanctum Concilium do Vaticano II No âmbito do cinquentenário do Concílio Vaticano II, somos convidados a ler de novo os Documentos conciliares. É assim que hoje queremos abordar, embora de forma muito sintética, a Constituição sobre a reforma da Sagrada Liturgia, que tem o título de Sacrosanctum Concilium (SC). A Igreja, nos seus dois milénios de história, por diversas vezes sentiu a necessidade de adaptar o modo de celebração dos atos de culto às mudanças culturais. De modo geral, fez isso nos concílios, movida especialmente por razões teológicas e pastorais, tendo em conta uma diversidade de fatores, como a multiplicidade de povos, línguas, sensibilidades religiosas e artísticas. Após os mais de quatrocentos anos em que vigorou a reforma litúrgica feita no concílio de Trento (s. XVI), via-se a necessidade de proceder a uma profunda renovação de tudo quanto dizia respeito à celebração e à compreensão dos sacramentos, especialmente da eucaristia, tarefa que veio a ser eficazmente realizada pelo Vaticano II, na sequência do estudo e das propostas que se ficaram a dever à Comissão litúrgica, nomeada por João XXIII, como diversas outras comissões que prepararam cuidadosamente o Concílio durante cerca de três anos. Presidida pelo cardeal
Cicognani, essa comissão teve uma composição verdadeiramente eclesial: formada por 65 membros e consultores, contava ainda com o contributo de peritos em liturgia, espiritualidade litúrgica, música e arte sacra, alguns párocos e reitores de centros de pastoral litúrgica, estando representados os cinco continentes. Daí sairia o esquema apresentado à votação dos Padres conciliares, com o expressivo resultado de 2147 votos a favor e apenas 4 votos contra, sendo promulgada por Paulo VI, em 4 de Dezembro de 1963. A Constituição Litúrgica seria assim o primeiro dos grandes documentos do Vaticano II. Recebida com muito entusiasmo por toda a parte, esta Constituição, pequena no formato, mas grande de consequências práticas, logo se tronou um precioso meio para implementar a reforma das celebrações litúrgicas. Os seus aspetos mais atraentes estavam no uso da língua vernácula em vez do latim, na simplificação dos gestos e das fórmulas, na remodelação dos lugares e espaços de celebração, no apelo à participação ativa, consciente e plena dos fiéis. Acima de tudo, pretendia-se introduzir um novo espírito litúrgico. Mas este constituiu (e ainda constitui) a maior dificuldade, vencendo o legalismo rubricista. Pergunta-se: o que é o espírito da liturgia? A resposta temos de a
encontrar no âmbito mais alargado daquilo que se chama o espírito do concílio. Este consiste em conciliar a fidelidade à verdade perene do evangelho e da grande tradição cristã com a fidelidade ao homem e ao mundo contemporâneo, na escuta do Espírito Santo, que sempre guia a Igreja e a revigora. Desde o início se viu a urgente necessidade de mais formação litúrgica, dirigida a todos os intervenientes na celebração, tanto os sacerdotes como os leigos. De entre as mais importantes inovações desta Constituição (SC), salientamos: a importância dada à assembleia celebrante, como verdadeiro sujeito da celebração, contra a anterior ideia da quase exclusividade atribuída ao sacerdote; a noção de que os fiéis não estão na celebração para assistir, mas para participar; o princípio de que na ação litúrgica devem intervir os diversos ministérios, os ordenados e os instituídos ou laicais, fazendo cada um tudo e só o que lhe compete; a procura da beleza e dignidade das celebrações, de acordo com as circunstâncias específicas; a valorização do canto, com cânticos apropriados e cuidada formação de executantes que ajudem toda a assembleia a fazer das celebrações momentos festivos, para que a glória tributada a Deus seja mais jubilosa e expressiva.
O Cónego Manuel Alberto Pereira Matos, é Vigário geral da Diocese da Guarda e diretor da Escola Teológica de Leigos. O Cónego Manuel Alberto Pereira Matos é Capelão da Misericórdia da Guarda e faz parte do Conselho Presbiteral. É Assistente Diocesano do Renovamento Carismático e Administrador Paroquial de João Antão, Panóias e Sant'Ana de Azinha. É Membro do Conselho Pastoral Diocesano e Presidente do Cabido da Sé da Guarda. É autor dos livros: “Glória da Santíssima Trindade – Da teologia à Oração, O Rosário da Glória”; Ressuscitarão os Mortos? Horizontes da Escatologia Cristã.
A participação nas celebrações litúrgicas, mesmo que não abarque toda a vida sobrenatural dos fiéis, constitui para eles, como para toda a Igreja, o cume para o qual tende toda a sua actividade e a fonte donde emana a sua força. Na realidade, «a Igreja recebe e simultaneamente exprime-se nos sete sacramentos, pelos quais a graça de Deus influencia concretamente a existência dos fiéis para que toda a sua vida, redimida por Cristo, se torne culto agradável a Deus».
Entrevista com... 06 | O Alforge | fevereiro 2016
Entrevista ao Pe. José Dionísio, Diretor Secretariado Diocesano Liturgia
O Pe. José António Dionísio Sousa, diretor do Secretariado Diocesano da Liturgia – Guarda. É Responsável pelas Comissões de Pastoral Litúrgica e Música Sacra. O Pe. José Dionísio, nasceu a 22 de Fevereiro/ de 967. Foi ordenado a 02 de Fevereiro de 1992. É Pároco de Aldeia Viçosa, Faia, Cavadoude, Misarela, Pêro Soares, Porto da Carne, Vila Cortês do Mondego e Vila Soeiro. É Diretor da Escola de Música Sacra. Faz parte do Conselho Presbiteral e é Membro do Cabido da Sé da Guarda.
Enquanto diretor do secretariado diocesano de pastoral litúrgica, neste ano em que a diocese nos desafia no plano pastoral a celebrar melhor e com mais dignidade, quais as dimensões e aspetos que claramente poderíamos melhorar para que as nossas celebrações na diocese sejam mais verdadeiras e dignas? Com o empenho geral – especialmente os responsáveis sacerdotes e diáconos – em cuidar mais de saber claramente como participar nas celebrações – cada grupo e cada pessoa. Porque a ignorância vem habitualmente do desleixo, “tem-se feito sempre assim…”, ouvimos muitas vezes. Sem nos questionarmos, sem querermos saber porque é que se devem fazer bem as inclinações, preparar bem uma Leitura, escolher bem um cântico (sem cedências generalizadas a cânticos pop -rock travestidos de ‘religiosos’, p. ex.), presidir ou orientar bem uma celebração e não ser tão criativos, que se despreze um ritual que a Igreja aprovou para ajudar a rezar em assembleia. A maior parte das vezes para se celebrar bem, basta que o que está à frente do povo, reunido estude e respeite as rubricas (sem ritualismos ou tiques de contador de histórias para crianças), respeite o ritmo da liturgia (dê explicações muito breves e claras, se necessário) e use de bom senso no ministério (serviço!) que está a prestar. Sem pressas, nem vagares beatos. Sendo que, a nível
diocesano queremos este ano olhar para a Sacrossantum Concilum - do Concilio Vaticano II, na sua opinião que aspetos falta ainda cumprir e concretizar na nossa diocese e nas nossas comunidades? Claramente assumir que a oração litúrgica é fonte e é meta de toda a vida da Igreja! Isto não é teoria. Não é capricho de liturgistas do Vaticano ou do Secretariado da Guarda. Não são delírios de uma elite católica. É a vida das comunidades cristãs que aí encontrarão mais alegria e forças para ir às periferias a testemunhar o amor que Deus nos tem (através da caridade) e a anunciar aos outros que vale a pena acreditar no Evangelho. Se não assumirmos isso, continuaremos a definhar enquanto comunidade (igreja-assembleia) cada um a achar que basta a catequese de infância – cada vez com menos ligação à celebração do Domingo; que chega ter as “comunhões” todas; que o casamento já não está na moda; que a festa da “santa” tem de se fazer, mesmo que o dia de Páscoa, do Pentecostes, do Natal…passe cada vez mais despercebido e que aos domingos não se vá rezar com os outros baptizados. Faço votos que dentro do ‘pequeno rebanho’ que ainda pratica (e os seus pastores) preparem bem esse encontro semanal com Deus, participando e incentivando a participar alegremente. Se não, seremos uns tristes. Talvez cultos, mas tristes no culto. Na sua opinião como poderíamos valorizar mais e
melhor o ciclo litúrgico anual? Claramente com um maior empenho da parte dos responsáveis pela liturgia nas paróquias e nas outras comunidades. Mas também com a catequese (desde a infância, onde a houver) de todos os níveis, a ser muito mais “litúrgica” e voltada para as celebrações litúrgicas. O que quero dizer é que a catequese e toda a formação cristã – mesmo a que é dada pelos diferentes Movimentos católicos – se não tiver como meta a celebração da Fé semanal, não passará de uma teoria ou de uma ideologia. Celebração na comunidade paroquial, no bairro, no hospital, etc. Depois há os pontos altos do Calendário anual, que não devem ser as festas devocionais onde cada vez mais é a tradição humana e o dinheiro que mais ocupam e preocupam. Neste ano pastoral foi proposto pelo Bispo Diocesano uma formação específica para agentes pastorais de CDAP (Celebração do domingo na ausência do presbítero). Qual a pertinência e a urgência da realização desta formação específica dirigida de forma especial aos ministros da comunhão? Eu continuo convencido que esta não pode ser a solução definitiva. Isso era desistir de encontrar as formas que Deus nos inspira para encontrarmos os padres de que a Igreja precisa. Não estou a desqualificar os diáconos, os fiéis leigos, as religiosas. Cada vocação tem o seu serviço a prestar. Mas,
Entrevista com... 07 | O Alforge | fevereiro 2016 o Domingo é tão importante que temos de fazer tudo para que cada batizado tenha a oportunidade de participar na Missa dominical. É a celebração mais excelente do dia do Senhor! Em todos os sectores da vida humana se privilegia a excelência. E nós: ficamos contentes só com os mínimos?! Por isso é que os Bispos do mundo inteiro falam de uma solução provisória. Aqui e agora (em Portugal, na Europa…) não há padres para presidir a todas as celebrações do Domingo. Pede-se o serviço fundamental de diáconos, leigos, religiosos… Mas não
temos fé, nem audácia para ajudar a encontrar padres deste tempo (nem que se mude algo da disciplina da Igreja) e para este tempo? Eu acredito que sim. Mas não, se nos acomodarmos. Entretanto pede-se disponibilidade e vontade da parte daqueles que orientam essas celebrações (ou gente nova a quem os pastores peçam esse serviço). Que percam umas boas horas para se formarem a partir de um texto-guia que existe na nossa diocese e assim fazerem como deve ser. Recentemente o
secretariado diocesano a que preside renovou a sua presença na internet com um novo site. Que aspetos destaca desta presença na internet? Que aspetos destaca neste novo site? A presença do Secretariado da Liturgia na internet esteve um pouco apagada. Agora estamos a renovar esse serviço de apoio às pessoas e comunidades. A ajuda de um benfeitor foi fundamental para refazermos o site e agora divulgamos as formações deste ano de 2015/16, por exemplo, onde destaco o VI Encontro Diocesano de Pastoral Litúrgica – Guarda,
11 de Junho. Também se encontram lá as sugestões de cânticos para as celebrações do Domingo e até uma introdução/admonição para cada Domingo. Vamos divulgando também algumas partituras de cânticos feitos por compositores da nossa Diocese da Guarda. No site www.liturgiaguarda.com podem encontrar-se os contactos do padre Daniel Cordeiro – diretor adjunto do Secretariado e dinamizador do site – e o meu mail também. Está a enriquecer-se o site com material que tenha a ver com os diferentes ministérios litúrgicos.
Interpelações, vivências e desafios do Sacramento da Eucaristia O grão de mostarda (Mc 4,30-32; Lc 13,18-19) 31 Jesus propôs-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. 32É a mais pequena de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos.» Assim foi o começo, como o grão de mostarda, pequena em transformação, e aprendendo com cada Eucaristia, com cada sinal, e com a comunidade de crentes que, domingo a domingo, em comunhão nos reuniu para viver esse sacramento da Eucaristia. Desafios nos são lançados, e com eles aprendizagens novas, aprendemos mais, e mais queremos saber, e para Amarmos temos que conhecer mais esse Jesus,
Vivo e presente em cada Eucaristia “C.I.C. 1323. «O nosso Salvador instituiu na última ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do seu corpo e sangue, para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até voltar, o sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da glória futura» (145) “ Interpelação de saber qual o domingo que celebramos, meditar nas leituras, e saber mais com explicações, assim já a vivência dominical é mais intensa, para também ajudarmos mais a nossa comunidade, e vindos com mais ardor de Evangelizar e levar a Boa Nova a todos os que nos rodeiam, tanto nos trabalhos, como na família,
nos amigos, na sociedade que nos envolve, pela prática do mandamento novo do amor comungado na ceia do Senhor. Deus é Amor e como tal, transcende os nossos desafios, com momentos de entrega total, que nos ajuda a transformação, a abrir os nossos corações, e sabermos ver, olhar e escutar aqueles que por vezes são muito difíceis de entender e saber levar a Fé deste nosso Amado Jesus Cristo. Deixemos neste grão de mostarda, crescer esta árvore em que os céus nos ajudam a abrigar todos em geral, não tendo distinção de raças, cores ou ideologias. Podemos, na Igreja, viver diferentes vocações, exercer diferentes ministérios, mas todos nos devemos sentir um só com Cristo na Eucaristia. A Eucaristia desperta todos os que
n’Ele acreditam, a fazeremse «pão partido» para os outros. Não devemos participar na Eucaristia de costas para o mundo e depois voltar para o mundo de costas para a Eucaristia. Assim, devemos empenharmo-nos por um mundo mais justo e fraterno. Sabemos que Jesus nos leva muitas vezes a termos forças e coragem que nunca pensaríamos que seria possível e reconhecermos como de facto é BOM ESTAR CONTIGO SENHOR. Rosa Silva e Ana Cristina Cardoso
Especial Liturgia 08 | O Alforge | fevereiro 2016
O Sacramento da Confissão no Ano da Misericórdia...
Pe. Mário Santos, SSP Sacerdote Paulista, diretor da revista «Síntese» da Paulus Editora O Ano Santo vai caminhando a seu passo santo, confortado pelo anúncio da misericórdia divina que quer ser “ainda mais” efectiva durante um ano inteiro. Durante qualquer Ano Santo costuma haver um muito maior acesso ao confessionário, real ou pressuposto. Tratase da celebração do sacramento da Penitência. Mas é igualmente conhecido por “sacramento da Reconciliação” (porque garante uma passagem real de uma situação de menor ou inexistente amizade com Deus, com os outros e até connosco mesmos para uma nova situação de paz, de diálogo e de amor); e por “sacramento da misericórdia” no qual somos graciosamente perdoados e limpos de todo o pecado. O Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização preparou um interessante livro (A confissão sacramento da misericórdia - ed. Paulus 2015, p. 135), em que se explica este sacramento através de um método que segue passo a passo o próprio sacramento da
Confissão, assim chamado porque através dele o penitente proclama (=”confessa”) o amor de Deus benevolente para com o pecador e em que o próprio pecador se reconhece culpado através do encontro privado que tiver com um confessor. O que deve fazer qualquer penitente ao aproximar-se deste sacramento? Segundo a obra citada, deve abrir a Bíblia e escutar uma palavra com sentido penitencial como vinda diretamente da boca de Deus. Esta Palavra viva de convite à penitência, asseguradora do perdão de Deus, reveste formas muito variadas. Muitas pessoas nunca abrirão materialmente Bíblia alguma, mas podem aproveitar qualquer página da Sagrada Escritura nesse sentido, ou um roteiro de exame de consciência que lhes recorda os Dez Mandamentos, ou os preceitos e conselhos evangélicos e os deveres ou omissões de toda a nossa vida, principalmente desde a última vez que nos confessámos. Caiamos sempre na conta que a Confissão é sempre uma empenhadíssima ação litúrgica; que todo o ato litúrgico é constituído por uma parte essencial que é a proclamação da Palavra de Deus; que a nossa tarefa penitencial deve ter sempre em vista partir da divina Palavra, basear-se nela, para referir ao confessor o índice da nossa fidelidade a essa mesma Palavra. O nosso livro sobre a Confissão começa logo por se referir aos milagres de Jesus como dispensador de perdão (Mc 2,1-12), às suas ações
redentoras à procura dos pecadores a fim de os reconduzir ao bom caminho e às suas parábolas (ou ao seu ensinamento) sobre a misericórdia de Deus que Jesus em Si mesmo pessoalizou. Por fim, tenhase sempre em atenção, neste contexto, o sacrifício de Cristo na cruz, oferecido a Deus pelos nossos pecados. Passemos em seguida a outra parte importante do livro em causa. Depois de pegarmos na Palavra de Deus e de nos basearmos nela, o livro leva-nos a abrir com a mesma determinação o ritual litúrgico do sacramento da Penitência. Aí, penetra-se na liturgia do sacramento, onde sobressai a fórmula da absolvição que o sacerdote invoca sobre nós. Dizemos “invoca” porque o sacerdote a reza com solenidade (embora às vezes as aparências exteriores nem nos façam notar isso). Essa invocação apoia-se na unção sacerdotal de que o sacerdote está revestido desde a sua ordenação sacerdotal. Exatamente e tal e qual como faz na Eucaristia para que a consagração (ou o sacrifício sacramental de Cristo) se realize, o confessor enquanto reza (mas não decreta) a fórmula de absolvição prevista, impõe as mãos sobre o penitente indicando deste modo que lhe confere o dom do divino Espírito Santo prometido para a remissão dos pecados. Depois, todas as palavras da fórmula de absolvição são um breve compêndio da teologia e espiritualidade do sacramento. O alcance trinitário do sacramento
intervêm, de maneira própria, em cada uma das Três Pessoas divinas. Põe em relevo a ação do Espírito Santo nesse sacramento explicando bem tratar-se de um sacramento ao mesmo tempo absolutamente pneumático e pascal, servindo -se para isso da citação da página de Jo 21,21-22 em que se vê o Ressuscitado a apresentar-Se junto dos Apóstolos impondo-lhes as mãos e entregando-lhes o dom do Espírito Santo para a remissão dos pecados. Isto significa que o sacramento realiza efetivamente a redenção acabada de operar na páscoa de Cristo. Por fim, a ligação do sacramento da Penitência com a Eucaristia. Os cristãos fazem uso do dom do sacramento da Penitência para serem plena e mais dignamente integrados como membros do Corpo de Cristo, que é o principal efeito (e todos os sacramentos devem ser estudados a partir dos seus efeitos!) da Eucaristia. Assim, também o alcance eclesial destes dois sacramentos é por demais evidente: a Igreja é uma sociedade muito diversificada de união com Cristo, com Deus e com as Três Pessoas divinas! Há ainda a contemplar os efeitos sociais e comunitários do sacramento da Penitência. Ele é o remédio salutar para um mundo dividido e dilacerado, injusto e desigual; para as famílias dilaceradas e com falta de paz doméstica e de vizinhança. Não nos admiremos que o confessor nos dê como penitência a prática das obras de misericórdia, ou pelo menos de alguma delas em concreto.
Especial Liturgia 09 | O Alforge | fevereiro 2016
Formação Litúrgica
D. José Manuel Garcia Cordeiro, Bispo de BragançaMiranda. Nasceu em Vila Nova de Seles, Angola, em 1967. O grande objetivo da reforma litúrgica operada pelo Concílio não é tanto uma mudança de ritos e textos, mas sim suscitar a formação dos fiéis e promover a ação pastoral que tenha como vértice e fonte a Liturgia. A promoção de uma formação litúrgica dos cristãos é um veemente convite da Sacrosanctum Concilium. Formar para a Liturgia significa consentir a entrada no mistério cristão. A Liturgia não é tanto uma doutrina a compreender,
mas uma fonte de luz e de vida para a inteligência e a experiência do mistério. Ela «é a primeira e necessária fonte onde os fiéis hão de beber o espírito genuinamente cristão. Esta é a razão que deve levar os pastores de almas a procurarem‐na com o máximo empenho, através da devida educação.» A concretização prática de tal desejo do Concílio passa pela formação teológico‐ litúrgica, espiritual e pastoral de todos, em especial pela formação dos pastores. «É um campo em que muito há ainda a fazer: ou seja, para ajudar os sacerdotes e os fiéis a compreenderem o sentido dos ritos e dos textos litúrgicos, para aperfeiçoar a dignidade e a beleza das celebrações e dos locais; e para promover, à maneira dos Padres da Igreja, uma “catequese mistagógica” dos sacramentos.» A necessidade urgente da formação litúrgica é também recordada pela Exortação
Apostólica Pós‐Sinodal Ecclesia in Europa: [...] “é necessário um grande esforço de formação. Tendo como finalidade favorecer a compreensão do verdadeiro sentido das celebrações da Igreja e ainda uma adequada instrução sobre os ritos, tal formação requer uma autêntica espiritualidade e a educação para vivê-la em plenitude. Por conseguinte, há que promover ainda mais uma verdadeira “mistagogia litúrgica”, com a participação ativa de todos os fiéis, cada qual segundo as próprias competências, nas ações sagradas, particularmente na Eucaristia.” A formação litúrgica passa também através de uma catequese que favoreça o conhecimento do significado da Liturgia e dos sacramentos. «Embora a sagrada Liturgia seja principalmente culto de majestade divina, é também abundante fonte de instrução para o povo fiel. Efetivamente, na Liturgia
Deus fala ao Seu povo, e Cristo continua a anunciar o Evangelho. Por seu lado, o povo responde a Deus com o canto e a oração.» A catequese litúrgica «explica o conteúdo das orações, o sentido dos gestos e dos sinais, educa para a participação ativa, para a contemplação e para o silêncio. Deve ser considerada como “uma forma eminente de catequese”.» Enfim, a formação litúrgica está intimamente ligada à participação ativa dos fiéis (clérigos, religiosos e leigos) e deve ser realizada tendo em conta «a idade, condição, género de vida e grau de cultura religiosa» de cada um. Educar à participação no mistério não é somente uma animação litúrgica. Trata‐se de uma verdadeira pastoral litúrgica, no sentido de ser uma ciência e uma arte de tornar os sinais da Liturgia profundamente comunicativos; e de ser um momento de reflexão sistemática sobre a atividade litúrgica da Igreja. Educa‐se à Liturgia através da própria Liturgia.
O Sacramento da Família (Matrimónio) Na nossa família somos interpelados a deixar o nosso individualismo para construirmos um lugar de todos. Em família, as nossas fragilidades e defeitos a descoberto tornam-se motivos de ação, de perdão, de misericórdia de uns para com os outros como forma de santificação de todos os seus membros. No seio da família todos crescemos aceitando as nossas diferenças que são ao mesmo tempo as razões
maiores do nosso crescimento conjunto. Na família os pequenos são grandes, os grandes fazem-se pequenos e os valores de alegria, perdão e serviço põem-se em acção e transformam a família em escola de Jesus onde a humildade e o amor imperam. Ao longo da caminhada em família, adensam-se os laços e os afectos que formam os alicerces da nossa vida dentro e fora
dela, levando para os outros esta riqueza interior como raios de sol a irradiar para o mundo. O casamento é a semente original que, em terra fecunda, dá mais humanidade à vida. A entrega completa do casal, abdicando dos seus egoísmos, dá fruto. É Sol que aquece e faz crescer todos os ramos dessa
árvore de Deus que é a nossa Família. O Matrimónio é o nosso testemunho vivo de fé em Jesus Cristo, Criador e Salvador. Nelson e Gabriela Almeida
Especial Liturgia 10 | O Alforge | fevereiro 2016
Vivências do Sacramento do Batismo "Ide, portanto, e fazei que todos os povos se tornem meus discípulos, batizandoos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo quanto vos ordenei" (Mt 28,19-20). O Principal objetivo da Pastoral do Batismo é levar aos pais e padrinhos, o conhecimento do que é o Batismo e o compromisso que através dele se assume com Deus e com a comunidade. Demonstrar que este Sacramento não se resume apenas em batizar. É
necessário vivenciar, testemunhar e ensinar filhos e afilhados a serem cristãos autênticos e fiéis seguidores de Jesus Cristo. É o nascimento em Cristo. Como a criança que nasce depende dos pais para viver, nós também dependemos de Nosso Pai Celestial para viver a vida eterna. Ser batizado, é fazer parte de Jesus, é ser membro de Sua Igreja, é ser filho de Deus adotado por Jesus Cristo, é ter o Céu por herança, e ter Maria como Mãe.
Quando recebemos o Sacramento do Batismo, deixamos de ser simples criaturas e passamos a ser Filhos Amados de Deus. No Batismo, a Igreja reunida celebra essa maravilhosa experiência de sermos filhos de Deus e pelo Batismo, participamos da vida de Cristo.
filhos de Deus. Tornamo-nos membros de Cristo, somos incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão: José Manuel Almeida
O santo Batismo é o fundamento de toda a vida cristã. É a porta que abre o acesso aos demais sacramentos. Pelo Batismo somos libertados do pecado original e regenerados como
Crisma: confirma a nossa fé na Vida! A Crisma que muitos lhe chamam de Confirmação, é o Sacramento pelo qual o batizado é fortalecido com o dom do Espírito Santo, para que, por palavras e obras, seja testemunha de Cristo e propague e defenda a fé. Podemos assim dizer que o ato do Crisma é para nós o que Pentecostes foi para os Apóstolos. Desde os seus primórdios, a Igreja de Cristo conhece o Sacramento do Crisma ou Confirmação, intimamente ligado ao Batismo. E o Catecismo da Igreja Católica, diz-nos que A Confirmação aperfeiçoa a graça batismal; é o Sacramento que dá o Espírito Santo para enraizarnos mais profundamente na filiação divina, incorporarnos mais firmemente a Cristo, tornar mais sólida a nossa vinculação com a Igreja, associar-nos mais à sua missão e ajudar-nos a dar testemunho da fé cristã
pela palavra, acompanhada das obras." (CIC §1316) A palavra Crisma vem do grego e significa Óleo da Unção. O termo, no feminino (a Crisma), referese ao Sacramento em si, e no masculino (o crisma), refere-se ao óleo de ungir. Ungir é untar a fronte do crismando com o óleo próprio, em cruz. O óleo usado na cerimónia da Crisma é consagrado na Missa da Quinta-Feira Santa. Enquanto no Batismo a vida recebida é graça que nos renova e transforma, na Confirmação esta mesma vida é Dom que devemos testemunhar e partilhar. Por isso, o crismado deve estar consciente do seu lugar na Igreja, na comunidade eclesial, e do seu dever de testemunhar Cristo sendo, como se diz, um soldado do Senhor. Nós recebemos o Espírito Santo no Batismo, mas a plenitude dos seus
dons recebemos na Crisma. Aí é que estes dons se manifestam com toda a força. É como a flor que desabrocha e exala seu perfume. Quem recebe este Sacramento, recebe três frutos: o aumento da graça santificante, a graça sacramental específica, cujo efeito próprio são os 7 dons e o aprofundamento do caráter (marca) na alma, que identifica o soldado de Cristo no combate contra o mal. Para que o Confirmando com uso da razão possa receber licitamente este sacramento, deve estar adequadamente instruído e em estado de graça e deve ser capaz de renovar as promessas do batismo. A Crisma, portanto, é o Sacramento que confere os Dons do Espírito Santo, conduzindo o fiel católico ao caminho da perfeição cristã. Representa como que a passagem da infância para a
fase adulta, espiritualmente falando. Nesse sentido é que a Crisma é o Sacramento da Confirmação do Batismo. A Crisma é a confirmação do Batismo porque fortalece a Graça que este nos confere: se o Batismo nos imerge no Espírito Santo, a Crisma deve nos tornar “fortes e robustos” no mesmo Espírito, enquanto cristãos e membros do Corpo Místico de Cristo neste mundo, a Santa Igreja.
Especial Liturgia 11 | O Alforge | fevereiro 2016
A Liturgia no Tempo
Até ao Concílio Vaticano II As origens do culto perdem-se nos alvores da humanidade. O homem, reconhecendo-se pequenino diante de forças que não consegue dominar (divindade), põe em prática acções que o manifestam. Daí foram surgindo, pouco a pouco, os elementos fundamentais do culto: a tendência para Deus (devotio), a entrega a Deus (pietas) e a adoração (latria). Com a revelação à humanidade do Deus único, a partir de Abraão, e muito mais com Jesus Cristo, foram -se agregando os elementos essenciais que constituem o que chamamos a Celebração: a lembrança de um Acontecimento históricosalvífico (através da Palavra de Deus), que convoca a Assembleia, onde acontece a Acção litúrgica. Surgiu, assim, a Liturgia cristã que, no dizer de Pio XII, é o culto completo do Corpo místico de Cristo, ou seja, da Cabeça e dos seus membros, que se dá ao Pai. Concretamente, a celebração cristã, através de símbolos e de ritos evoca e torna presente a salvação realizada pelo Pai em Jesus,
com o poder do Espírito Santo. Com o crescimento da Igreja, a celebração litúrgica foi-se enriquecendo e diversificando. Diferentes povos e culturas, distâncias entre regiões, mudanças políticas e sociais, sensibilidade e criatividade de tantos crentes…fizeram o mosaico harmonioso dos ritos cristãos. A liturgia católica foi evoluindo e, nos séculos mais recentes, vinha perdendo parte da sua centralidade na vida da Igreja. Foi-se acentuando o papel do presidente, enquanto a assembleia se acostumava a assistir passivamente. A partir dos anos cinquenta, nomeadamente no que respeita à maneira de celebrar a fé, começou a sentir-se como urgente uma reforma que permitisse uma adaptação da vida eclesial ao mundo em mudança. O desejo de mudar vinha já, pelo menos, desde o início do século 20. Continuar a celebrar a Missa em latim, por exemplo, estava a tornar -se difícil de sustentar. Foi convocado o Concílio Vaticano II, o qual, votou e promulgou no dia 04 de
Dezembro de 1963 a Constituição sobre a Sagrada Liturgia: a Sacrosanctum Concilium (SC). Foi o primeiro documento a ser aprovado pelo Concílio e um dos que teve maior impacto e visibilidade, mesmo para a sociedade em geral. É a carta magna da celebração litúrgica para a Igreja católica atual. No seu número 10, afirma esta Constituição que a liturgia é fonte e cume de toda a vida da Igreja. A partir desta convicção, foi recordado também que todos os batizados participam ativamente (não assistem) nas celebrações litúrgicas, onde acontece a principal manifestação da Igreja como Povo santo de Deus, especialmente na Eucaristia. A liturgia é uma acção cultual dirigida a Deus em que o sujeito integral desta acção litúrgica é sempre a Igreja. Com o presidente e os diferentes ministérios litúrgicos, a assembleia é também celebrante. Na liturgia “os sinais sensíveis significam e, cada um a seu modo, realizam a santificação do homem e, assim, o Corpo místico de Cristo (…) exerce o culto público e integral” (SC 7). Para explicar melhor o papel da participação dos fiéis na liturgia, o Concílio Vaticano II escreve que ela há-de ser: interna e externa, consciente, activa, plena, frutuosa, adaptada à situação dos fiéis, comunitária...( SC 11, 14, 19, 21, 26-30, 48). O desejo do Concílio, em relação à liturgia, pode ser traduzido pela passagem bem conhecida da Constituição: “A liturgia é o cume para
onde se dirige toda a acção da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde brota a sua força” (SC 10). Ou seja, a liturgia é o coração de tudo! É na liturgia que o cristão renova a fé e encontra força para a missão… Este documento ajudou muito na reforma conciliar, já que provocou uma revisão do modelo de Igreja, propondo uma igreja mais participativa, ministerial e preocupada em se adaptar às diferentes culturas, à índole dos povos, etc. Atualidade e futuro da liturgia Muito se avançou na participação dos leigos nas celebrações litúrgicas, especialmente na Eucaristia dominical. Na comunhão eucarística durante a Missa, na leitura, no canto, nas respostas, na própria preparação das celebrações, etc, progrediu-se. Infelizmente, o comodismo dos fiéis ou dos pastores leva a que a celebração da fé continue a ser vista, por vezes, como “coisa” de padres e de freiras. Na Igreja Católica, a Liturgia tem de continuar a ser a grande pedagoga, a educadora que forma o povo para a vida cristã. O cristão não é apenas um carimbado com o selo de Cristo, mas aquele que segue Jesus Cristo! A preocupação do Concílio não consistiu apenas, portanto, em introduzir mudanças nos ritos, normas e formas exteriores na liturgia, mas, e sobretudo, em fomentar Continua…
Especial Liturgia 12 | O Alforge | fevereiro 2016
A Liturgia no Tempo … continuação uma verdadeira educação litúrgica dos fiéis. As comunidades devem preocupar-se para que a Liturgia se torne realmente mestra de vida cristã. Através de palavras, símbolos, silêncio, gestos, músicas...participar corporal e espiritualmente. As ações litúrgicas são ações do próprio Cristo e do seu Espírito para nos tornar participantes da sua vida, para vivermos constantemente em comunhão com ele e com o Pai. Lê-se na Sacrosanctum Concilium: “Para promover uma participação ativa, trate -se de incentivar as aclamações do povo, as respostas, a salmodia, as antífonas e cânticos, bem como as ações e gestos do corpo” (SC 30). Cinquenta anos será pouco para esgotar o tesouro desta Constituição sobre a Liturgia. A tentação existe de querermos uma fuga para a frente. Já S. Paulo falava do perigo de se querer só coisas novas. O Papa S. João Paulo II escreveu, quarenta anos após a promulgação da Constituição sobre a
Liturgia: «O que é a Liturgia senão aquela fonte pura e perene de “água viva”, da qual cada pessoa sedenta pode haurir gratuitamente o dom de Deus?”. A liturgia é pois fonte, ápice e escola de espiritualidade. O lugar principal, a fonte 'primeira e necessária' para recebermos o Espírito Santo de Deus (SC 14), são as celebrações litúrgicas: a eucaristia, o baptismo, a confirmação, a liturgia das horas… A liturgia viveu, depois dos primeiros anos da reforma litúrgica, uma fase de crise, dominada pela perda de entusiasmo, desencantada por não obter rapidamente os resultados que se esperavam em relação aos generosos esforços iniciais. Esperava-se uma “utilidade” pastoral, que não lhe correspondeu, porque a liturgia, de facto, não é um instrumento de pastoral, mas ação pastoral própria da Igreja no seu núcleo e na sua fonte. Especialmente desde o início do terceiro milénio, para uma renovação duradoira, apela-se à espiritualidade litúrgica. Uma liturgia que fomente a espiritualidade e mística da missão no mundo, tendo
como fonte a participação na liturgia. Para continuarmos fiéis ao espírito da reforma litúrgica conciliar há que combater também qualquer tentativa de regresso ao rubricismo, clericalismo, ritualismo … assim como a uma liturgiaespetáculo na tentativa de atrair multidões. A Igreja, Corpo de Cristo, é o primeiro sinal sacramental por meio do qual se torna presente, na história, o dom da salvação. Através dela, Cristo continua atuando no mundo e tornando possível que os homens se unam a Deus. Isto acontece pela caridade, no meio do mundo, mas sobretudo através da assembleia litúrgica, onde acontecem os sacramentos e os outros sinais... Será que, mais de 50 anos depois da Sacrosanctum Concilium, o grande objetivo do Concílio já foi suficientemente compreendido e assimilado pela teologia e pela pastoral, para que se dê à liturgia o seu lugar próprio na
vida da Igreja? Será que se tem mesmo favorecido a verdadeira participação dos cristãos nos mistérios celebrados? Após cinco décadas, podemos constatar com satisfação que a reforma litúrgica é um dos frutos mais preciosos e mais visíveis do Concílio. Neste tempo de incertezas e de transições intermináveis, creio que precisamos de aperfeiçoar as nossas celebrações mantendo, porém, aquela coluna vertebral que nos desenha a SC. No respeito desta continuidade, que vai beber às fontes do início da Igreja, a Lex orandi continuará a ser a Lex credendi (no que se reza está o fundamento daquilo em que se crê).
Igreja, que bradam ao Senhor Jesus: “Vem?” Que é a Liturgia senão aquela fonte pura e perene de “água viva”, da qual cada pessoa sedenta pode haurir gratuitamente o dom de Deus (cf. Jo 4,10)?» Etimologicamente, a palavra liturgia significa a ação, o serviço realizado em favor
do povo, uma ação comum realizada de maneira pública que exige um povo, uma assembleia, uma comunidade. Ao nível teológico, a Liturgia é a obra divina do povo e, ao mesmo tempo, a obra do povo de Deus.
A Liturgia na Igreja Antes de mais, o que se entende por Liturgia? Até há pouco tempo ainda se pensava que fosse um conjunto complexo de rubricas e detalhes cerimoniais do culto divino que escapavam aos não iniciados. A Liturgia é a ação da Igreja em que se torna presente Cristo, isto é, a
ação salvífica de Cristo na Igreja, assumindo a fisionomia de ação ritual. O centro da Liturgia é a Páscoa de Cristo, fulcro de toda a história da salvação, ou melhor, o mistério de Cristo como história da salvação. «Que é a Liturgia senão a voz uníssona do Espírito Santo e da Esposa, a santa
Especial Liturgia 13 | O Alforge | fevereiro 2016
O Sacramento da Unção dos Doentes Dos extremos à totalidade. Nome novo para um novo entendimento.
A partir de uma visão mais plena, que nos diz, da certeza da presença e do auxílio de Deus nas nossas doenças e enfermidades, que acontecem em todas as etapas da vida, levou a que da denominação de extrema, entendida como o último momento da vida ou da doença, se passa para a totalidade, entendida como todos os momentos ou
etapas da vida ou da doença. Assim, a substituição do nome de Extrema Unção, para Santa Unção, bem melhor exprime o dom da Graça Sacramental, para o tão necessário como fundamental, auxílio de Deus, nas nossas doenças ou enfermidades. Sendo a Igreja, Sacramento de Salvação, é da Igreja que ouvimos o sentido, a razão e o fim, do Sacramento da Unção dos Doentes. No decreto da publicação do Ritual, podemos ler: “ Ao cuidar dos doentes, a Igreja serve o próprio Cristo nos membros sofredores do seu Corpo Místico e, seguindo o exemplo do Senhor Jesus, o qual «passou fazendo o bem e curando a todos», cumpre o seu mandato de cuidar deles. Esta solicitude mostra -a à Igreja, não só visitando os doentes, mas também
confortando-os com os sacramentos da Unção e da Eucaristia, durante o tempo da doença ou quando eles se encontram em perigo de vida, e ainda orando por eles e encomendando-os ao Senhor, quando moribundos.” Quem mais diretamente, está próximo das experiências de sofrimento humano, como é o exercício da missão de capelão hospitalar, sabe e experimenta que ao celebrar o Sacramento da Unção dos Doentes, se une à Igreja nesta solicitude e de forma muito concreta, deseja para os doentes o que o Papa, S. João Paulo II, disse numa celebração do Dia Mundial dos Doentes no ano de 2002: “Peço a Deus que esta celebração seja para cada doente uma ocasião de extraordinário alívio físico e espiritual, e peço ao Senhor para que ela ofereça a
todos, sãos e doentes, a oportunidade de compreender cada vez mais o valor salvífico do sofrimento.” Recordando estas amáveis palavras do nosso saudoso Papa, vemos como Ele foi capaz de concretizar de uma maneira tão afável e carinhosa o que lemos no nº 6 dos preliminares do Ritual: “Este Sacramento confere ao doente a graça do Espírito Santo, pelo qual o homem todo é ajudado em ordem à salvação, confirmado na confiança em Deus e fortalecido contra as tentações do inimigo e a ansiedade da morte. Assim, poderá não só suportar com fortaleza os males, mas ainda vencê-los e obter a própria saúde corporal, se essa lhe aproveitar à salvação da alma”.
primeiro dia da semana», «o oitavo dia», «o dia que fez o Senhor», «o dia que não conhece ocaso», «o dia do Senhor», «o dia da Ressurreição», «o dia do sol», «o dia dos sacramentos», «o dia da alegria» e «o dia da assembleia». A palavra Domingo é hoje um substantivo que deriva de um adjetivo grego, kuriakh, (do Senhor). Em latim traduziu‐se por Dominicus dies (o dia do Senhor). O Domingo não pode ser submetido a outras celebrações porque «é o fundamento e o centro de todo o Ano Litúrgico», que nasce do próprio dia da
Ressurreição de Cristo, no qual a Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias. «O Domingo é, pois, o principal dia de festa a propor e inculcar no espírito dos fiéis; seja também o dia da alegria e do repouso.» A festa é uma celebração comemorativa dos acontecimentos realizados por Deus em favor do homem na história. Na verdade, todo o Ano Litúrgico decorre em torno de um único mistério, o da morte e Ressurreição de Cristo, do qual a Igreja vive continuamente.
Pe. Nuno Maria
O Domingo na Liturgia A celebração deste mistério tem no Domingo o seu fundamento e centro, sendo o principal dia de festa para os cristãos, o seu dia de alegria e do repouso. O texto referencial sobre o Domingo evidencia que: «Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia em que bem se denomina dia do Senhor ou Domingo.» O Domingo celebra‐se desde as origens do Cristianismo como acontecimento originário e distintivo de uma “novidade”. Os testemunhos
mais antigos são os textos neotestamentários dos Atos dos Apóstolos, da Primeira Carta aos Coríntios e do Apocalipse, que apresentam a celebração do Domingo, “dia do Senhor”, ligada ao acontecimento da Páscoa. Este dia era o primeiro da semana hebraica, no qual os cristãos se reuniam para a fração do pão. Com estes textos relacionam‐se as narrações das aparições do Ressuscitado no próprio lugar do sepulcro, em Emaús e no cenáculo. O significado teológico do Domingo é dado pelos próprios nomes com os quais foi conhecido ao longo da história da Igreja: «o
Especial Liturgia 14 | O Alforge | fevereiro 2016
Sacramento da Ordem Sacerdote – uma vida! Quando fui batizado, em 10 de Março, de 1924, na freguesia de Fiães (Trancoso), com nome de José, o Pároco daquela freguesia, o santo, Sr. Padre José Maria Dias, disse à minha mãe, Elvira, estas palavras: “Vais dar este teu filho à Igreja.” Respondeu minha mãe: “Eu até lhos dou todos.” Eu era o terceiro, mas nasceram mais cinco. Tanto o meu pai, Francisco, como a minha mãe viviam muito modestamente do trabalho do campo, mas eram de comunhão diária e assim ensinaram os filhos. Por falta de professora, devido a grave doença, só comecei a escola aos dez anos. Quando fiz treze, fui matriculado no seminário do Fundão, com o currículo de cinco anos. Vim, depois, para a Guarda fazer o curso de Filosofia que incluía o estudo de várias línguas, ao longo de três anos. Entrei, depois, no curso de Teologia que durou 4 anos. Entretanto fui ordenado Padre em 2 de Abril de 1949, tendo concluído o curso de Teologia em 23 de Junho. Vieram as férias, à espera de
Sugestões de Leitura...
A Galeria Paz de Espirito sugere os seguinte livros para aprofundar os Sacramentos...
colocação, coisa que não era fácil por haver muitos padres. Chegou essa hora: 4 de Setembro, em Lagarinhos. No mesmo ano, em 2 de Outubro, assumi também a freguesia de Rio Torto. Como Novelães não tinha lugar de culto, iniciámos a construção de uma capela. Quanto à Igreja Paroquial, tivemos o cuidado de pensar na sua restauração, começando pela construção de uma torre, que não havia, onde foi colocado, por oferta da Ponte Pedrinha, um relógio de 7 sinos que continua a funcionar. Ao assumir o encargo de Rio Torto, vi que havia necessidade de uma igreja, pois a capela de culto, além do triste estado em que se encontrava, era muito pequena para aquela povoação. Depois de imensos sacrifícios, construímos uma bela e espaçosa igreja, seguindo-se a construção do salão para a Catequese e a casa paroquial onde residi 37 anos. Durante 29 anos fui também professor no novo Seminário de Gouveia (União de S. João Batista – Alemanha, no Colégio Nuno Álvares – Diocese da Guarda e na
Escola Secundária do Estado) assumindo o encargo de várias disciplinas de harmonia com as necessidades e a falta de professores. No dia 2 de Setembro de 1986, fui chamado à presença do nosso Bispo, D. António dos Santos, para me comunicar que ia ser nomeado Pároco das freguesias de Tourais e de Paranhos, continuando com a freguesia de Rio Torto. Embora com muitas dificuldades, aceitei, tanto que havia vários meus colegas com interesse por tal cargo. Felizmente, ainda estava em Paranhos o Sr. Padre Agostinho, meu grande amigo e que muito me ajudou. Estas freguesias têm muitas anexas, o que tornou mais difícil este encargo. Além do trabalho pastoral, desde a primeira hora tivemos de pensar nas obras materiais indispensáveis, que se foram construindo: Além da reparação da antiga capela, uma nova igreja em Vila Verde que foi inaugurada em 29 de Agosto de 1999, ampla e muito bela.
Foi necessário construir numerosas salas de Catequese, salões para reuniões para albergar durante a noite os nossos defuntos, além de 18 capelas que foram restauradas, tal como se fez ao Santuário de Santa Eufêmia que sofreu profunda restauração, tornando-o o maior Santuário de Santa Eufémia de todo o país. Foram restauradas as igrejas de Tourais e Nossa Senhora das Neves, antiga igreja Paroquial de Paranhos. Em Girabolhos foram construídos dois amplos salões, além da restauração da igreja paroquial e das capelas de S. Nicolau e de S. Simão, esta na Ortigueira. Felizmente, neste momento não temos dívidas. Pe. José Soares Coelho
Especial Liturgia 15 | O Alforge | fevereiro 2016
Falar de Confissão… Ao ser-me pedido se enfrentava o desafio de escrever um pequeno artigo de opinião sobre o sacramento da CONFISSÃO, pensei: Desafio…?! A vida é feita de desafios, mas mais do que enfrentar um desafio, pensei que todos somos instrumentos de conversão uns para os outros: estamos chamados a pôr outras pessoas em contacto com Jesus, através do nosso testemunho e da evangelização. Num tempo em que tantos contestam, não aceitam, e até muitos cristãos se afastam da Confissão, o meu pensamento convergiu para uma confissão em que teria talvez 12 anos, altura em que toda a gente “se escondia” atrás de um confessionário/genuflexório e eu, para surpresa de muitos, fui ajoelhar-me junto do confessor, deixando de lado a ‘barreira’ que estava ali como que a separar confessor e penitente. Recordo religiosamente a pergunta desse saudoso confessor: Porque te vens ajoelhar aqui? Com a inocência de criança, respondi que
gostava de ver com quem ia conversar. Uma conversa… de onde se sai (re) confortado – é assim que eu vejo a Confissão. É certo que outrora não tinha ainda um sentido bem definido, mas se a ideia que temos de Deus é a de um guarda que toma nota de tudo, então temos sempre receio de fazer a experiência de amor com Ele e preferimos escutar outras vozes. Toda a nossa vida está cheia de imperfeições, de pequenas ‘agressões’ perante as quais tomamos uma posição, nos distanciamos ou nos amamos. O pecado é um ato que não corresponde à vontade de Deus, ferindo e debilitando o pecador, assim como as suas relações com o próximo. Não reconhecer o nosso pecado significa acumular e fortalecer situações que não favorecem a renovação pessoal e comunitária. Confessar-se para quê? A confissão não se pode reduzir apenas a um ritualismo, ou a uma preparação para comungar. Deve ser ocasião para restaurar a vida batismal enfraquecida pela infidelidade e restabelecer
laços de comunhão. Consciente da fragilidade humana, a Igreja vem-se referindo a este sacramento como sacramento da Reconciliação. Consciencializemo-nos das nossas próprias fragilidades. Mais do que contar os pecados ao sacerdote, a Confissão deve ser um processo de conversão; o cristão deve reconhecer-se humildemente pecador e querer refazer a sua vida cristã. Se feita com reta intenção, a confissão libertanos, fortalece para reconstruir e facilita a nossa reconciliação com os outros. Viver este sacramento é um dos maiores dons que Deus pode conceder a uma pessoa. Jesus é quem nos diz em primeiro lugar: Não tenhas medo, eu conheçote, sei que és assim, não temas falar comigo destas coisas, abrir-te comigo… Neste Ano Jubilar da Misericórdia, reconheçamos que Deus não responde com castigo, mas com a misericórdia e o perdão... que não é apenas um presente gratuito, mas uma experiência a que também nós somos chamados a fazer.
Isabel Almeida é Membro do Secretariado Diocesano da Educação Cristão (Departamento do Ensino da Igreja nas Escolas) e Professora da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, na Escola Abranches Ferrão. É Catequista na Paróquia de São Martinho e Secretária do Conselho Pastoral Arciprestal.
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