Alegria e Esperança Há momentos na nossa vida que precisamos de um novo roteiro, para reagir e lutar com as nossas acomodações interiores. Precisamos de procurar a coragem e a energia para prosseguir o caminho. O relógio e o calendário deram mais uma volta. Vem aí mais um ano! E muitas vezes o tempo vai simplesmente passando, como areia que escorre por entre os dedos das nossas mãos. No entanto, é apanágio do ser humano viver na alegria e esperança. Mais! São caraterísticas que nos impulsionam a lançar e a construir novos projetos. É com a esperança que acreditamos que não existe um não definitivo. Por isto, temos de aproveitar o tempo para viver, como a água do rio, entregando a Deus o nosso anuário. E apesar da conjuntura desfavorável, as dificuldades constituem um daqueles momentos históricos em que sobressaem algumas das nossas melhores qualidades: a capacidade de resistência às adversidades, o espírito de sacrifício, a flexibilidade e rapidez de ajustamento a novas condições. Como em todos os inícios de ano, avizinham-se novos desafios. Saibamos aproveitá-los e transformá-los em alegria e esperança. O Alforge deseja-lhe um Santo e Feliz Natal. E um ano de 2016 cheio de prosperidade.
Jubileu da Misericórdia O papa Francisco anunciou a 13 de março no Vaticano que decidiu proclamar um “jubileu extraordinário”, com início a 8 de dezembro deste ano, centrado na “misericórdia de Deus”. Será um Ano Santo da Misericórdia. E isto especialmente para os confessores. Francisco explicou que a iniciativa nasceu da sua intenção de tornar mais evidente a missão da Igreja e ser testemunha da misericórdia. O Papa defendeu que ninguém pode ser excluído da Misericórdia de Deus e que a Igreja é a casa que acolhe todos e não recusa ninguém. “As suas portas estão escancaradas para que todos os que são tocados pela graça possam encontrar a certeza do perdão. Quanto maior é o pecado, maior deve ser o amor que a Igreja manifesta aos que se convertem”, realçou. O 29º jubileu na história da Igreja Católica - um Ano Santo extraordinário, começou na solenidade da Imaculada Conceição e terminar a 20 de novembro de 2016, domingo de Jesus
Cristo Rei do Universo, rosto vivo da misericórdia do Pai, explicou o Papa. “É um caminho que começa com uma conversão espiritual e temos de seguir por este caminho”, prosseguiu. Este é o primeiro jubileu desde, o que foi convocado pelo Papa João Paulo II no ano 2000, para assinalar o início do terceiro milénio. O Jubileu da Misericórdia teve início com a abertura da Porta Santa da Basílica de São Pedro, algo que não acontece desde 2000. Esta porta é aberta apenas durante o Ano Santo, permanecendo fechada no resto do tempo, e existem portas santas nas quatro basílicas papais: São Pedro, São João, São João de Latrão, São Paulo fora de muros e Santa Maria maior. O jubileu, com raízes no ano sabático dos hebreus, explica o Vaticano, “consiste num perdão geral, uma indulgência aberta a todos, e na possibilidade de renovar a relação com Deus e o próximo”. Esta indulgência implica certas obras penitenciais, como peregrinações e visitas a igrejas.
Entrevista a Monsenhor Feytor Pinto
Opinião de Frei Fernando Ventura
Opinião de Pe. José Luís Borga
Abertura das IX Jornadas do Conhecimento
Ano da Misericórdia visto pelos Jovens
02 | O Alforge | dezembro 2015
O Natal Cristão é um lince ibérico? Deduz-se, segundo uma hipótese muito provável, que os cristãos de Roma nos primeiros decénios do século IV fixaram na festa civil romana do Sol Invictus, a 25 de Dezembro, a comemoração do nascimento de Jesus. Os cristãos de Roma tiveram a audácia de cristianizar uma festa civil romana, aplicando ao nascimento de Jesus o sentido simbólico do nascimento do sol no solstício de inverno, na medida em que Jesus é o verdadeiro sol de justiça, luz que vence as trevas. Creio que estamos muito próximos desta geração de cristãos de Roma que aproveitaram a festa civil do Sol Invictus para estabelecer aí, sem pedir licença a ninguém, a solenidade do nascimento de Jesus. Se no século IV os cristãos cristianizaram uma festa pagã, no século XXI uma festa cristã está sendo, em parte, paganizada. É inegável que muitos dos nossos concidadãos já não acertariam ao explicar adequadamente o porquê do ambiente festivo em torno do Natal. Nas
tradicionais celebrações de natal da nossa sociedade globalizada é cada vez mais difícil reconhecer a esperança, a paz, a justiça e reconciliação dos relatos bíblicos que anunciam o nascimento de Jesus. Não obstante, e apesar das suas ambiguidades, parece-me que ganhamos pouco ao proclamarmo-nos vitimas do consumismo e materialismo dos quais, por outro lado, todos somos cúmplices em maior ou menor grau. Paralelamente, não convém cair naquela sensação de derrota «que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre» (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 85). A situação presente, como ‘tempo de Deus’ que é, está repleta de oportunidades. Além disso «o olhar crente é capaz de reconhecer a luz que o Espírito Santo sempre irradia no meio da escuridão» (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 84). Neste sentido as vivências que partilhamos estes próximos dias em torno do Natal, com crentes e não crentes, são uma
oportunidade renovada que podemos aproveitar para gozar a rutura do tempo normal que supõe a celebração de festas e para descobrir o admirável intercâmbio que o Natal proclama: a presença de Deus feito Menino no meio de nós, Deus que se fez nossa família, que se manifestou solidário com todos os homens da terra. A partir do Natal já não se pode falar de Deus como alguém cuja vida existe à margem da nossa. Afinal a atual sociedade de consumo roubou-nos o Natal cristão ou são os cristãos que não sabem torná-lo presente? Para cuidar este ameaçado lince ibérico, animal em vias de extinção, que é o Natal cristão, falta tornar visível no Natal (e em todo o ano) a alegria e o gozo deste facto, em Jesus de Nazaré, Deus decidiu fazer-se homem, partilhando a nossa existência débil de criaturas! Agora cabe-nos a nós apreender a sagacidade daqueles ‘filhos da luz’ do século IV em Roma para recuperar uma festa que é nossa.
Rafael José Almeida Neves é pároco em São Martinho e Santa Marinha, arciprestado de Seia, e Paços da Serra, Mangualde da Serra e Moimenta da Serra arciprestado de Gouveia. Nasceu em 9 de setembro de 1985 em Vale de Estrela, Guarda, e foi ordenado padre a 3 de julho de 2011. Faz parte do Conselho Presbiteral e é presidente do Centro Social Paroquial de Santa Marinha.
Que a estrela principal do Natal, Jesus Cristo, seja uma luz a brilhar sempre na vida daqueles que o buscam.
Ficha Técnica Propriedade e Administração: Arciprestado de Seia / Zona Oeste Equipa Responsável: António Carlos (Pe.), João Barroso (Pe.), Nuno Maria (Pe.), Paulo Caetano (Dr.), Rafael Neves (Pe.) Colaboradores nesta Edição: Alcides Henriques (Dr.), António Carlos (Pe.), António Morais (Pe.), Cristina Cardoso, Daniela Santos (11º Ano), Estela Cristina Brito (Prof.), Fernando Ventura (Frei), João André (7º Ano), José Luís Borga (Pe.), Manuel Morujão (Pe.), Mariana Tavares (12º Ano), Paulo Caetano (Dr.), Rafael Neves (Pe.). Morada para Correspondência: Rua de Baixo, n. 2, 6270-213 Santiago Contatos: contacto@oalforge.pt | www.oalforge.pt | 238 085 048
03 | O Alforge | dezembro 2015
Magusto da Paróquia de Santiago
O Magusto é uma festa popular, cujas formas de celebração divergem um pouco consoante as tradições regionais. Amigos e famílias juntam-se à volta de uma fogueira onde se assam castanhas para comer, bebese a jeropiga, água-pé ou vinho novo, cantam-se cantigas, fazem-se brincadeiras e as pessoas enfarruscam-se com as cinzas. A celebração do magusto está associada também a
uma lenda, a qual dizia que um soldado romano, mais tarde conhecido por Martinho de Tours, ao passar a cavalo por um mendigo quase nu, como não tinha nada para lhe dar, cortou a sua capa ao meio com a sua espada; estava um dia chuvoso e diz-se que, nesse preciso momento, parou de chover, derivando daí a expressão: "Verão de São Martinho". O Magusto é sinónimo de diversão e consta do plano anual de atividades da
Catequese da Paróquia de Santiago, e como programado, realizou-se no passado dia 15 de novembro, no Campo de futebol da freguesia. Nesta atividade, que teve início cerca das 15h, participaram os catequizandos, acompanhados pelos pais, familiares e catequistas, para além da população em geral, a quem foi dirigido também o convite.
Iniciativas deste género proporcionam momentos de alegre e salutar convívio, para além de constituírem uma oportunidade para o fortalecimento - que se deseja cada vez maior -, do espírito comunitário entre todos os membros desta “porção” da Igreja Católica. O contributo foi de todos, uns prepararam o lanche com verdadeiras iguarias, outros as castanhas e outros o espaço animado de boa música, que proporcionou um animado bailarico. Foi uma tarde muito bem passada, onde também existiu uma troca de saberes, conhecimentos e experiências entre os jovens e os menos jovens.
Bênção da Casa Mortuária - Carragozela comunidade, que muito carecia deste serviço, destacando o apoio essencial da Junta de Freguesia de Carragozela e Várzea de Meruge. A celebração foi presidida pelo Bispo Diocesano que também celebrou a eucaristia na Igreja matriz e
No dia de Todos os Santos, a comunidade paroquial de Carragozela no Arciprestado de Seia, assistiu e participou na bênção da casa mortuária que felizmente já está ao serviço da paróquia há algum tempo.
Esta reconstrução, com traços rústicos, encontra-se a ocupar parte dos salões da casa paroquial que, por iniciativa da comunidade, foi sendo intervencionado para evitar total ruína. Esta obra envolveu e contou com o apoio de toda a
ainda acompanhou a tradicional romagem ao cemitério da freguesia. Paralelamente, a convite do pároco, o bispo diocesano, ficou a conhecer o salão paroquial que serve de apoio à catequese e para o atendimento paroquial.
04| O Alforge | dezembro 2015
Paróquia de São Martinho recordou Pe. Quelhas Bigotte A paróquia de São Martinho, Seia, comemorou entre os dias 6 e 8 de novembro o centenário do nascimento do Pe. José Quelhas Bigotte (1915 – 2015), antigo pároco da paróquia de São Martinho. O programa das comemorações começou no dia 6, na Igreja paroquial com a conferência “O contexto social e religioso da vida e obra do Padre José Quelhas Bigotte”, proferida pelo Padre Henrique Santos, Capelão da Universidade da Beira Interior. O Coral de S. Pedro, paróquia de Gouveia, dirigido pelo pe. António
Morais, apresentou-se em concerto, no dia 7, na Igreja Paroquial. As comemorações terminaram no dia 8, Domingo, com a celebração da Missa presidida pelo Bispo da Diocese, D. Manuel Felício, e inauguração do busto do centenário, patente no adro da igreja paroquial com o nome do homenageado. O Padre José Quelhas Bigotte nasceu em Monte Margarida, concelho da Guarda, a 12 de junho de 1915 e morreu a 25 de dezembro de 1997. Após a conclusão do curso teológico no Seminário da Guarda foi
professor na Escola Regional Dr. Dinis da Fonseca, na Cerdeira do Côa, no Seminário nenor do Fundão, no Seminário Maior da Guarda. Era licenciado em Direito Canónico pela Universidade Pontifícia de Salamanca e doutorou-se na Universidade Gregoriana, em Roma, onde defendeu a tese “Situação Jurídica das Misericórdias Portuguesas”. Em 1938 foi nomeado pároco de Seia e desde então mesmo que não ininterruptamente foi pároco na paróquia de São Martinho que reconheceu com esta homenagem o seu
zelo apostólico e o seu empenhamento na causa das gentes mais pobres e desfavorecidas.
Equipas de Nossa Senhora - Caminho de Vida e Missão: 60 anos em Portugal No passado dia 21 e 22 de novembro realizou-se em Fátima mais um Encontro Nacional da ENS – Equipas de Nossa Senhora. As ENS são, por definição, “um Movimento católico de leigos para casais cristãos”. Os casais cristãos, unidos pelo Sacramento do Matrimónio, são chamados a seguir Cristo no caminho do Amor, da Felicidade e de Santidade. As Equipas de Nossa Senhora são oferecidas aos Casais de todo o mundo para os ajudar a viver e a crescer na sua espiritualidade conjugal. Estamos perante um Movimento além-fronteiras, um Movimento do Mundo! As ENS nasceram em França, fruto de um projeto lançado pelo Padre Henri Caffarel que, em Paris, no dia 25 de fevereiro de 1939, se reúne com casais para refletirem juntos sobre o
Equipa de Nossa Senhora - Tourais 1
matrimónio cristão. Nesse dia e dessa forma nasce a primeira equipa do Movimento. O Movimento das Equipas de Nossa Senhora deve ao Padre Henri Caffarel o privilégio de ter aprendido com ele o sentido profundo do matrimónio e ter descoberto o valor e a riqueza das pequenas comunidades cristãs. Estas comunidades cristãs, os
Casais das Equipas de Nossa Senhora, acreditam no ideal do casamento cristão e são o testemunho dele na Igreja e no mundo. “As Equipas de Nossa Senhora têm por objetivo essencial ajudar os casais a caminhar para a santidade. Nem mais, nem menos.” (Padre Henri Caffarel) Em Portugal, em 1955, na sequência de um retiro
de casais realizado no nosso país e orientado pelo jesuíta francês Alphonse d’Heilly, nascia a primeira Equipa de Nossa Senhora. Era o primeiro passo de um caminho que, em 2015, leva as Equipas de Nossa Senhora a comemorar os seus 60 anos. Por esta razão o Encontro Nacional das ENS, realizado em Fátima, teve como tema de fundo ENS – Caminho de Vida e Missão, 60 anos em Portugal. Sessenta anos de um Movimento que, pelas palavras do Papa Francisco, tem um papel missionário, pois cada casal comprometido, imbuído deste espírito de amor conjugal e em família, deve dar testemunho, anunciar, comunicar para o exterior, para que outros casais sejam conduzidos a este caminho de Amor, de Felicidade e de Santidade. Maria José e Fernando Neves
05 | O Alforge | dezembro 2015
Entrevista a Monsenhor Vitor Feytor Pinto me são feitas.
O Monsenhor Vitor Feytor Pinto tem 83 anos e celebrou em julho passado 60 anos de ordenação sacerdotal. O seu nome está intimamente ligado à diocese da Guarda de onde é padre, porque foi nos seus seminários que fez a sua formação. Depois de um percurso relacionado com o Movimento por Um Mundo Melhor, com a Pastoral Juvenil e com a Pastoral da Saúde, o padre Vitor, como gosta de ser tratado, viu ‘cumprido’ o sonho de ser pároco na Paróquia do Campo Grande, em Lisboa. Nesta entrevista Monsenhor Vitor Feytor Pinto percorre com «O Alforge» a sua infância, a ligação à diocese da Guarda, a intensa vida pastoral e as expetativas criadas em torno do Jubileu extraordinário da Misericórdia. Celebrou, no passado 10 de Julho, 60 anos de vida sacerdotal. O que mais guarda dos seus 60 anos de padre? Pede-me o P. Rafael Neves para responder a algumas perguntas que me faz a propósito dos 60 anos de sacerdócio que celebrei em junho passado. É com muito gosto que saúdo todos os leitores d’ «O Alforge» e respondo às perguntas que
o que mais guardo dos 60 anos do meu sacerdócio é a alegria de viver em comunhão profunda com a Igreja, nas diversas etapas que ela tem celebrado, desde o Concílio Vaticano II. Viver em comunhão com cada Papa e com cada um dos Bispos a quem tive a oportunidade de servir, deu sempre um sentido profundo ao meu sacerdócio. É a comunhão eclesial, essencial ao exercício do sacerdócio. Porque é que aos 5 anos de idade já queria ser padre? A minha vocação despertou, de facto, quando eu era ainda muito pequenino. Tinha dois tios padres a quem ajudava à missa com 5 ou 6 anos de idade. Depois, acompanhava meu pai na visita que fazia aos pobres, todos os sábados, nas Conferências de S. Vicente Paulo. Ajudar à missa e ir visitar os pobres desafioume a ser sacerdote. É padre do presbitério da diocese da Guarda porque foi aqui que recebeu formação em ordem ao sacerdócio e foi também na nossa diocese que iniciou a sua vida sacerdotal. Sendo natural de Coimbra como é que surgiu esta relação umbilical com a diocese da Guarda?
Fui parar ao Seminário da Guarda, embora tivesse nascido em Coimbra e vivesse com a minha família em Castelo Branco, por uma razão muito simples: o meu pai foi aluno do Seminário do Fundão durante seis meses, em 1915, e quando eu disse que queria ser padre ele respondeu que eu tinha que ir para o Fundão. Depois, não mais quis deixar os Seminários do Fundão e da Guarda que foram para mim, duas grandes escolas de formação. O que gostaria de recordar do seminarista Vítor Feytor Pinto nos seminários do Fundão e da Guarda e do padre Vítor Feytor Pinto nas primeiras missões como sacerdote? Nos Seminários do Fundão e da Guarda senti-me sempre feliz, pelos professores extraordinários que nos acompanhavam nas aulas, mas também como grandes amigos e com grande testemunho de vida. O Bispo de Coimbra, quando a minha família voltou para esta cidade, chegou a pedir-me para me transferir para ali. Respondi-lhe que estava num ambiente extraordinário que não quereria deixar. Os primeiros anos de sacerdócio foram vividos como co-adjutor da Sé da Guarda. Tive um grande mestre, pároco da Sé, P. Isidro que me ensinou a ser padre no exercício da minha missão sacerdotal, mas também na relação com todas as pessoas. A minha vida na cidade da Guarda, durante 9 anos foi muito bonita. Recordo-a sempre.
Num segundo momento da sua vida pastoral foi membro integrante do Movimento por um Mundo Melhor e acompanhou em Roma as duas últimas sessões do Concílio Vaticano II. De regresso a Portugal percorreu o país a partilhar a novidade trazida pelo concílio. Sente que este trabalho, o de anunciar o concílio Vaticano II, é ainda hoje uma prioridade na vida da Igreja? Em 1964 parti para Roma para trabalhar no Movimento para um Mundo Melhor, com o P. Manuel Vieira Pinto, hoje Bispo Emérito de Nampula. As caraterísticas do Movimento profundamente marcado pela experiência do Concílio Vaticano II e sobretudo o testemunho dos sacerdotes com quem trabalhei, renovaram profundamente a minha vida sacerdotal. A partir daí, tornei-me um missionário do Concílio nas inúmeras missões que me foram confiadas. De facto, na pregação que me levou a anunciar o concílio durante 6 anos, e depois na Pastoral Juvenil, na Pastoral da saúde e mesmo na Paróquia do Campo Grande a doutrina do Concílio e as sugestões pastorais nele contidas, têm sido a marca da minha vida. O que espera da vivência do jubileu extraordinário da misericórdia convocado pelo papa Francisco? O Jubileu da Misericórdia constitui um apelo extraordinário do Papa Francisco para a renovação da igreja. Ele próprio o disse ao abrir a Porta Santa, com o Continua...
Especial Ano da Misericórdia 06 | O Alforge | dezembro 2015
Continuação... apoio da Misericórdia de Deus, ele evocou os 50 anos do Concílio e a proteção de nossa Senhora. Neste enquadramento o Jubileu pretende que cada cristão e o mundo inteiro se aperceba da ternura de Deus, e aceite a Misericórdia como Ele acolhe, perdoa e apoia constantemente, não apenas os cristãos mas todos os homens de boa vontade. A segunda dimensão do Jubileu é vivida depois, através das obras de misericórdia corporais e
espirituais que devem fazer parte da vida de cada cristão e de cada comunidade cristã. "Se formos um só povo, certamente acolheremos o outro como irmão; se formos apenas um grupo de indivíduos, mais ou menos organizados, poderemos querer salvar-nos primeiro, mas não teremos futuro”, alertou Francisco durante uma audiência com membros da Fundação Romano Guardini. Para conseguirmos garantir o futuro de que fala o papa como fazer para passar do
medo no acolhimento aos refugiados a uma dinâmica de acolhimento? O Papa direta, ou indiretamente, tem referido para a Igreja um novo paradigma: se até aqui ser cristão praticante consistia em ir à missa ao domingo, confessar-se e comungar na Páscoa da Ressurreição, e as outras orientações doutrinais e litúrgicas, o novo paradigma tem mesmo que ser o amor. “Dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros como Eu próprio vos amei. Por isto (o novo paradigma) vos conhecerão como meus discípulos”. A partir disto compreende-se que a nossa relação com os mais pobres deve ser privilegiada na vida de todos as comunidades cristãs e na vida pessoal de cada um. Assim, para a Igreja, estão em primeiro lugar os frágeis, doentes, deficientes, sem-abrigo, idosos, marginais, e também os refugiados. A relação nossa para com estes que
agora invadem a Europa tem de ser a de um acolhimento comprometido. Este acolhimento comprometido, porém, exige o estudo de cada caso. E depois, a organização do apoio para que se lhe possa dar continuidade e assim aconteça uma salvação integral. Também na Igreja tem lugar a expressão “não basta dar um peixe, é preciso ensinar a pescar”. Com os refugiados não basta acolhêlos, é preciso dar-lhes futuro. Pode ser uma tarefa difícil, mas é esta a responsabilidade dos cristãos que se inspiram no Evangelho de Jesus Cristo e no pensamento social dos Papas desde Leão XIII. Uma conclusão: Uma saudação muito amiga a todos os leitores do Boletim digital O Alforge. Agradeço terem-me pedido para partilhar estes farrapinhos da minha vida. Tenho muita alegria de ser padre da diocese da Guarda. Estar em comunhão com o Sr. D. Manuel Felício e a todos sentir verdadeiros irmãos.
Mas além desses «anos santos» habituais, a Igreja pode estabelecer outros, motivados por especiais razões. É o caso deste que, assim, se denomina «ano santo extraordinário». O Santo Padre proclamou -o para que, neste mundo de desagregação, individualista e de violência estrutural, os
cristãos não se esqueçam que a noção de misericórdia se encontra bem no cerne da nossa fé e para que os homens e as mulheres de boa vontade descubram que a capacidade de sintonizar e fazer nossas as dores alheias é que nos elevam a um patamar que os animais não conseguem atingir.
O que é um Ano Santo? Desde 1300, a Igreja designa como «santo» o ano em que os fiéis podem beneficiar de especiais graças e indulgências, mediante a conversão e o desejo sincero de progredir na fé, na vida eclesial e na prática das boas obras. E porque essas graças devem constituir motivo de
alegria é que se fala em «jubileu», usando, aliás, uma expressão que já nos vem do antigo judaísmo. Habitualmente, o «ano santo» celebra-se de vinte e cinco em vinte e cinco anos para permitir que todas as gerações possam receber esses bens de natureza espiritual.
Especial Ano da Misericórdia 07 | O Alforge | dezembro 2015
A Misericórdia e a Verdade... Falar de misericórdia, é falar de uma das categorias essenciais dos atributos de Deus no Antigo Testamento, que em Jesus Cristo se vai transformar na chave de leitura das relações de Deus connosco, e em desafio para a chave de leitura das nossas relações com os outros, como sinal distintivo e condição sine qua non para a nossa relação com Deus. Ninguém pode pretender ter uma relação com Deus se não tiver uma relação com os outros. Uma relação de coração, uma relação de intimidade, de empatia, de SER. De ser com e para. E aqui está o desafio, mas também a condição do próprio existir. Tudo o resto não passa de folclore… Com efeito, no A.T., o conceito de Deus como misericórdia e verdade, perpassa todo o texto, numa atitude “desafiadora” que “empurra” o leitor a ir mais longe na sua compreensão de si próprio e de Deus. Trata-se de um empurrão no sentido de entender o sentido profundo da própria revelação, ou seja, o do matrimónio de Deus com toda a humanidade, com toda a criação. Com efeito, atrever-se a
fazer o esforço de entender Deus que “tem coração”, que tem “entranhas”, que é relação de intimidade, logo, que é capaz de se “comover”, que é capaz de empatia, é tocar a essencialidade essencial de ter, ser e viver uma relação de intimidade e de TU, quando e onde o TU se transforma na categoria reveladora do EU, que fatalmente terá de me levar a construir uma relação de NÓS, em primeiro lugar com os outros e depois, só depois, com Deus. Um dos atributos fundamentais de Deus, que o Antigo Testamento apresenta está representado pela palavra hebraica hesed, - misericórdia, coração misericordioso… podem ser expressões semelhantes, mas não chegam para transmitir toda a grandiosidade que o conceito original encerra. Ao partir de duas afirmações centrais do Antigo Testamento acerca dos “atributos” de Deus, misericórdia e verdade (hesed e ‘emet), a Escritura coloca nesta frase toda a carga de identificação e de caracterização dos anawim, ou seja, dos pobres em
espírito, ou seja, daqueles que são precisamente gente que vive este mesmo sentimento de Deus, esses que reconhecem que tudo o que têm receberam de Deus e que, por isso, se abrem sem condições aos outros. Um Deus de hesed, um Deus de misericórdia, em última análise, e indo à etimologia dos termos usados, é um Deus com “tripas”, – diríamos nós de uma forma mais poética, com coração –, que desafia o anaw, que desafia cada um de nós, para esta mesma atitude diante de vida. Longe de ser simplesmente uma elucubração tão ao gosto das liberdades poéticas, o convite que fica, neste elemento de bemaventurança, de felicidade, é justamente este de ter um coração capaz de bater ao ritmo do coração de Deus. Um coração apaixonado, um coração não solitário; casado com a vida e com o mundo, da mesma forma que Deus casou com a criação inteira, sem exceções… Deus casou com todos… até com os católicos…
Frei Fernando Ventura Franciscano capuchinho, nasceu em 1959. Teólogo e biblista, foi professor de Ciências Religiosas no ISCRA em Aveiro. É intérprete na Comissão Teológica Internacional da Santa Sé. Colabora, como tradutor, com diversos organismos internacionais, como a Ordem dos Capuchinhos, a OFS e a Federação Bíblica Mundial. Pertence ao quadro de redatores da revista Bíblica, onde assina artigos de aprofundamento teológico. É assíduo comentador de atualidade social e religiosa na SIC Notícias. A TSF escolheu-o como "figura do ano" em 2010.
Onde fazer uma peregrinação? É de sempre o uso devocional de, individual ou coletivamente, o crente se dirigir a um santuário ou lugar sagrado para aí realizar especiais atos de piedade ou práticas de penitência. Pensemos nas peregrinações à Terra Santa, nas visitas aos túmulos dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, em Roma e,
fundamentalmente, no «caminho de Santiago» de
Compostela. Curiosamente, esta prática recrudesceu espontânea e imensamente
nos nossos dias. Sinal de que ela corresponde a uma aspiração antropológica profunda. É que o contato com os locais intimamente ligados à vida física de Jesus é sempre estimulador e facilita a evangelização e a cultura da fé. Para mais, leva força moral aos cristãos que mantêm viva a memória de Jesus na terra em que nasceu.
Especial Ano da Misericórdia 08 | O Alforge | dezembro 2015
Misericórdia: a nossa “prova dos nove”
Pe. José Luís Fernandes Borga, nasceu em Lapas, aldeia junto à cidade de Torres Novas, a 19 de novembro de 1964, cerca de uma hora depois do seu irmão, Luís Manuel, numa família onde havia já duas meninas e o irmão primogénito que, nessa altura, já frequentava o Seminário Menor de Santarém. Portanto, há dois padres Borga, irmãos com doze anos de diferença: primeiro, o João Maria e, depois, o José Luís! A música e a escrita, tanto em casa como na sua comunidade paroquial foi sempre presente. Desde muito jovem integrou-se no serviço da liturgia da comunidade . Editou 5 CD’s e 5 Livros.
Nesta vida só vivemos o que nós, primeiro, aceitamos e, depois, queremos. O pior é que nós também podemos não aceitar e, por isso mesmo, não querer o que a Vida de melhor nos oferece como dom e desafia a querer por nossa missão! Tudo isto é conjugado em tempos e espaços, necessários e próprios para o nosso fim. Ano santo é um especial tempo favorável no qual a Vida nos oferece, renovando a Sua proposta para nos capacitar e nos poder orientar o nosso livre querer. Penso, a este propósito, no exemplo das Olimpíadas, que se realizam de quatro em quatro anos por isto mesmo pois é preciso que haja tempo para se renovarem as apostas e o empenho, para se renovar o querer e lutar, ainda mais, no sentido de se alcançarem melhores marcas, pessoais e coletivas. Assim os progressos serão bem possíveis e muito mais visíveis. Uma Olimpíada só regista o melhor que aquela nela alcançou, anunciando que na próxima tudo será “mais alto, mais longe e mais forte!”. O tempo que existe entre as provas Olímpicas é necessário para a luta e o trabalho, bem ponderado e calendarizado, por forma a que se evolua na arte e capacidade desportiva. Neste caso, após a convocação deste ano santo, que agora começa, somos
todos e cada um de nós, cristãos e homens de boa vontade, desafiados a evoluir consideravelmente na nossa capacidade de vivermos em misericórdia. Uma capacidade da alma que, de tão carente, procura, solicita e se deixa amar por Deus, “rico em misericórdia” para, “nesta base” podermos arriscar e aventurar-nos nesse “registo” de relação com os irmãos, de quem nos devemos aproximar com essa única vontade: sermos misericordiosos como o Pai! Porque é que isto é tão decisivo? Porque facilmente se instala demasiada desumanidade na nossa forma de ser, sentir e consentir. Porque se não temos a felicidade de a experimentar não a podemos conhecer e, assim, aprender como ela é e como ela se faz presente em nós. Porque a misericórdia é algo que só nós provando e vendo é que sabemos como ela é, além saborosa, boa e justa. Porque ela é vital para toda a humanidade! Ela é a “prova dos nove” da qualidade e quantidade da nossa santidade. Seremos julgados por ela ou pela sua ausência. Diante de tantas trevas e erros; perante tantas manifestações de tantos medos, que geram violências e mortes, é urgente luz e paz só possíveis por gestos de verdadeira Caridade, que se
alimenta de Misericórdia. Quem não precisa de força vinda da ternura, da paciência e do perdão? Quem pode ficar fechado e escravizado na lógia do mal e da maldade que tão bem conhecemos e identificamos na nossa história pessoal e coletiva? Então este ano é um tempo de crescermos e melhorarmos nos nossos níveis de receção, experiência e oferta de Misericórdia. Como atletas Olímpicos que se propõem gastar tempo e energias na sua melhoria pessoal. Durante este ano serão muitas as manifestações eclesiais desta presença e desta fonte que é a misericórdia divina, para nós. Tomando dela mais consciência, felizmente, precisamos de ver se ela consegue que entre nós e em nós ela produz os frutos melhores e mais desejados por Deus e pelos nossos irmãos. É a Igreja a fazer caminho e a querer mostrar o que de melhor ela pode oferecer a esta humanidade, neste estado de coisas a que nós chegámos. Disse-nos o Papa Francisco no dia 13 de março, na Basílica de São Pedro: “Estou certo de que toda a Igreja (...) poderá encontrar neste Jubileu a alegria para redescobrir e tornar fecunda a misericórdia de Deus, com a qual cada um de nós está chamado a dar conforto a todos os homens e mulheres do nosso tempo.”
A Bula de Convocação do Ano Jubilar conta com 25 números e pode ser dividida em três partes: Primeira Parte explora o conceito de misericordia; na Segunda Parte oferece algumas sugestões práticas para celebrar o Jubileu; na Terceira Parte faz alguns apelos. Finalmente termina com uma invocação a Maria, testemunho da Misericórdia de Deus.
Especial Ano da Misericórdia 09 | O Alforge | dezembro 2015
D. Manuel Felício projetou o Ano da Misericórdia A paróquia de Santa Marinha organizou no passado dia 13 de novembro um Jantar Conferência dedicado ao tema «Sede misericordiosos» que contou com a intervenção e participação do bispo da diocese, D. Manuel Felício. A reunião à volta da mesa serviu de pretexto para o bispo diocesano apresentar o Jubileu da Misericórdia, proclamado pelo papa Francisco para se realizar de 8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016, como momento favorável para «fazer da igreja cada vez mais o rosto visível da misericórdia» do Pai. No salão da casa paroquial, D. Manuel Felício,
com a participação de cerca de meia centena de convivas, sugeriu a contemplação da Misericórdia de Deus como «estilo de vida de cada um». O bispo da diocese explicou que atravessar simbolicamente a «Porta da Misericórdia», determinada pelo papa para as igrejas jubilares, significará «assumir o compromisso, de celebrar a misericórdia, de repensar a forma de por em prática as diferentes obras de misericórdia corporais e espirituais». Por outro lado, «peregrinar a lugares jubilares determinados, com possibilidade de lucrar a indulgência respetiva, lembrar-nos-á a nossa
condição de peregrinos, simbolizando a caminhada que cada pessoa realiza na terra, rumando à meta do Reino de Deus» frisou. D. Manuel Felício anunciou ainda que, na diocese, a intenção é associar o Jubileu Extraordinário da Misericórdia ao programa pastoral que este ano se projeta centrado no Concilio Vaticano II e as orientações litúrgicas dele recebidas, sobretudo através da
constituição sobre a Sagrada Liturgia. D. Manuel Felício aludiu às celebrações jubilares já divulgadas e pediu a participação de todos para que ninguém se sinta excluído daquilo que significa celebrar a Misericórdia de Deus.
que acolhe para darem testemunho de si. O Papa Francisco, neste Ano Santo da Misericórdia, que agora se inicia, exorta-nos a ser Misericordiosos como o Pai. Aos Cristãos caberá responder ao apelo do Santo Padre, enfrentando a indiferença humana, prosseguindo o rumo que leve à cura das feridas do Ser Humano, sejam físicas ou morais. A sociedade humana, hoje, navega num oceano de tormentas, cujo horizonte é, além de negro, cheio de ódio, ira, injustiça e impera o crime e a vingança.
encontrar bom porto, alicerça-se numa igreja, capaz de a conduzir a olhar o vizinho, seja ele humilde, fraco, abandonado ou doente, mas como ser humano que é, perante o Deus Misericordioso, merecedor de compaixão e do perdão.
humildade e dê a mão, com sorriso rasgado, ao semelhante que vive só, esquecido e, em silêncio, sofre, angustiado e sem esperança.
A Misericórdia...
Já se descrevia, no Antigo Testamento, a natureza de Deus como paciente e misericordioso. A sua omnipotência se manifesta na eterna Misericórdia. O Senhor “libertará” os prisioneiros, ampara os fracos, cura os enfermos, anima os prostrados e é o refúgio dos oprimidos. Deus manifesta-se na ternura, na compaixão, no perdão e na indulgência através dos seus desígnios que coloca nos
A esperança desta “nau”, pouco confiante em
É missão do Cristão dar testemunho de Cristo, que foi enviado pelo Pai para divulgar a sua vontade e a sua voz. Chegámos assim ao apelo que nos é proposto. Sermos anunciadores da alegria de um novo caminho que, em vez do Mar encapelado e enfurecido pela ira, vaidade, ódio, vingança e injustiça que a sociedade atual trilha com tanta naturalidade, opte pela tolerância, alegria,
Na nossa fragilidade chamemos a nós quem nos dá motivo para nos tornarmos fortes e espiritualmente ricos. E que belo exemplo de vida de missão nos dão as Misericórdias e os seus agentes… O Santo Padre foca, no Jubileu da Misericórdia, as suas 14 obras e para elas chama a nossa atenção. Prestemos-lha então.
Alcides Henriques
Especial Ano da Misericórdia 10 | O Alforge | dezembro 2015
Indulgências... Devido aos notórios exageros históricos, com consequências dramáticas para a unidade da Igreja, atualmente, não é fácil mostrar em que consiste a indulgência. Não obstante, continua a ser doutrina católica, agora reafirmada pelo Papa Francisco no nº 22 da referida Bula (Misericordiae vultus). De forma simples, poderse-ia dizer que a indulgência consiste na receção de uma especial graça concedida pelo Papa enquanto mediador entre o Céu e a terra (o conhecido «poder das chaves») ou dispensador
do tesouro da graça da Igreja. Essa graça não se pode ver como uma espécie de automatismo que santifica a pessoa e a liberta do peso do pecado «instantaneamente», mas como «marco» de renovação da sua vida espiritual e eclesial. Por isso, inerentes à indulgência, estiveram sempre a confissão e a comunhão,
dois sacramentos que exprimem bem e operam a renúncia ao mal e a adesão a Jesus Cristo. Como o Papa quer associar a ele a decisão dos bispos do mundo inteiro de regular a prática da indulgência, na igreja da Memória, concedo a indulgência plenária no dia da abertura da porta santa (10 de dezembro), durante
todo o tempo da Quaresma, tríduo pascal e semana da Páscoa (de 10 de fevereiro a 3 de abril, dia da Divina Misericórdia) e na primeira Quinta-feira de cada mês, dia em que o bispo ou o vigário-geral presidirão à Eucaristia. As condições para lucrar a indulgência são as habituais: confessar-se (pode ser com alguns dias de antecedência), participar na Eucaristia e comungar e fazer alguma oração ou obra de caridade pelas intenções do Santo Padre, do Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança e pela Igreja.
O que é a Porta Santa? É um costume que nos vem da Idade Média passar por uma determinada porta, como sinal visível do desejo de se inserir mais profundamente na vida da Igreja e beneficiar da graça que a move ou do Espírito Santo que a conduz. Para mais, a porta é um símbolo muito expressivo. Se, por um lado, ela permite a entrada, como que a demonstrar o desejo de o crente se inserir mais na
comunidade que aí celebra a sua vida de fé, também é a abertura por onde se sai para o mundo, ambiente onde o cristão tece habitualmente a sua existência e que deve fermentar com a verdade do Evangelho. Quando nos concentrarmos para abrir a porta santa (igreja da Memória), abrirmos e entrarmos pela porta, queremos tomar consciência
viva desta mesma realidade: os cristãos presentes sabem bem conciliar a vivência da fé com uma específica forma de atuação no mundo. Por isso, entram no espaço sagrado, como que expressão visível do contato com o divino; mas voltam ao mundo, lugar onde a fé modela o comportamento humano e eleva, em humanismo, a história e a cultura.
Testemunho… Ano da Misericórdia para Deus O início do Ano Jubilar, ou Ano da Misericórdia aproxima-se, de modo que, considero ser de extrema importância refletir sobre o sentido da palavra misericórdia. Eu entendo misericórdia por perdão, piedade ou salvação. No entanto quando digo isto
não me refiro só a perdoar os outros, antes, temos ainda de nos perdoar a nós próprios pois esse é o único modo de podermos perdoar o próximo. Durante este ano de vivência da misericórdia de Deus, penso que devíamos refletir na nossa própria vida
tendo como objetivo melhorar a nossa capacidade de ter misericórdia para com nós próprios e para com os outros, mas não esquecer que a misericórdia de Deus é infinita para connosco. Concluo assim que se aproxima um ano de
reflexão profunda em que devemos louvar Deus pela sua misericórdia e fazer de tudo para nos tornarmos melhores a nós e aos outros. Rodrigo Cruz, 11º Ano
Especial Ano da Misericórdia 11 | O Alforge | dezembro 2015
A Escola como Palco de Construção de Valores A temática do ensino das atitudes e valores afigura-se, atualmente, como um aspeto de grande relevância, tendo em conta o contexto de diversidade que as sociedades modernas experienciam. Os currículos escolares previram, durante anos, apenas a transmissão de conteúdos, deixando a cargo da família a formação das competências sociais e atitudinais. No entanto, as modificações ocorridas no último século tornaram necessário aprofundar o olhar sobre o papel da Escola na vida das crianças e jovens. Muitas das alterações ocorridas tiveram influência direta numa mudança de paradigma, pelo que questões de género, de origem, sociais e multiculturais, atravessam o panorama escolar e forçam uma redefinição curricular. A globalização, sendo um fenómeno multifacetado, manifesta-se em vários aspetos da vida humana, ao nível económico, social, político, cultural, religioso e jurídico. Um dos grandes problemas da globalização é o amplo desenraizamento que desfaz modos de vidas locais, desenquadra milhões de seres humanos das suas referências culturais e das suas próprias vidas. Neste enquadramento, é importante, dizer que a palavra valor é difícil de definir, pois oscila entre o facto e o direito, entre o que se deseja e o que é desejável; o termo valor designará indistintamente quer as normas ou regras, quer os princípios, quer as interpretações desses princípios.
Falar de valores não é consensual, pois cada um pode fazer a sua interpretação. O que diz alguém pode ser interpretado de diversas formas. Da minha parte, apenas retenho a ideia de que um valor é algo que guia as nossas ações, independentemente da escala que cada um define para a sua vida, ou da inversão que a sociedade muitas vezes faz, porque é composta por seres humanos. Os valores são transmitidos pela educação e que o educando constrói a sua própria aprendizagem com o auxílio dos outros e do próprio ambiente onde está inserido. Importa referir que os educadores que acompanham os jovens são fundamentais para o processo educativo e que os valores são de extrema importância para a organização, se assim se pode dizer, formação integral de cada ser humano. Tendo em conta que o Homem é um ser social, a educação tem, assim a tarefa de preparar cada indivíduo para se compreender a si mesmo e ao outro. Podemos dizer que compreender os outros, faz com que cada um se conheça melhor a si mesmo. Os valores, que se transmitem pela educação, têm um papel preponderante para a vida em sociedade. No entanto, não podemos descurar o papel importante que a família tem na transmissão dos valores; estamos
constantemente a falar em crise da família e por isso em crise de valores. A família perdeu, em algumas situações, a influência enquanto sistema de socialização e de transmissão de valores. Quando os pais acompanham a vida escolar dos filhos, os resultados são sem dúvida mais positivos, mesmo em relação aos comportamentos, às relações com os pares e às atitudes, os alunos são mais coerentes, honestos, mais responsáveis e até exigentes consigo próprios. A família é o interlocutor privilegiado da escola, como garantia de melhores resultados educativos. Neste âmbito, torna-se pertinente falar da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica como sendo de proposta obrigatória, mas com frequência facultativa, pode ajudar o aluno a experienciar-se e a experimentar Deus, a deixarse cativar para que Ele o cative. A aula de EMRC insere-se na estrutura escolar para se tornar o lugar da procura existencial própria ao crescimento humano, em ordem ao desenvolvimento harmonioso e integral da pessoa. Relativamente à questão da fundamentação pedagógica e escolar, a importância educativa do fenómeno religioso baseiase no facto da problemática religiosa levantar necessariamente as questões essenciais da existência humana e oferecer grelhas de leitura em profundidade da vida e da história.
O facto religioso tem uma importância educativa e sociocultural que faz consenso, mesmo entre os descrentes. Por esta razão este pode ser o principal fundamento da educação religiosa escolar. As competências educam-se, as unidades didáticas, que trabalhamos ao longo dos vários anos de escolaridade, integram várias dimensões: pessoal, familiar, religiosa, social, escolar e profissional. Ajudam a crescer como pessoa. Ao trabalhá-las, contribuímos de uma forma fundamental para uma sociedade futura mais justa, mais equilibrada e mais verdadeira, onde todos tenham as mesmas oportunidades. Neste ano jubilar da Misericórdia, a disciplina de EMRC, como promotora dos valores humano cristãos, quer colaborar para que a “Igreja faça eco da Palavra de Deus que ressoa, forte e convincente, como uma palavra e um gesto de perdão, apoio, ajuda, amor. Que ela nunca se canse de oferecer misericórdia e seja sempre paciente a confortar e perdoar”. (Papa Francisco) Estela Cristina Brito
Especial Ano da Misericórdia 12 | O Alforge | dezembro 2015
Testemunhos… A Misericórdia e o Perdão A Misericórdia é um termo amplo que se refere a benevolência, perdão e bondade numa variedade de contextos éticos, religiosos, sociais e legais. Este termo deriva do latim através da junção de duas palavras, miseratio (compaixão) e cordis (coração). Assim, o sentido literal de misericórdia pode ser entendido como “coração compadecido”. Nos contextos social e legal, a misericórdia referese, por um lado, ao comportamento compassivo de quem está no poder, por outro, ao humanitarismo, por exemplo, uma missão de forma a ajudar as vítimas da guerra. No Antigo Testamento, Deus é considerado
misericordioso e compassivo. A ênfase na misericórdia ocorre em numerosas partes do Novo Testamento, como nas “Bem -aventuranças” em Mateus 5,7, “Felizes os que são misericordiosos, porque encontrarão misericórdia”, na Parábola do Bom Samaritano, em Lucas 15, 11 -32, em que o pai do filho que partiu teve compaixão ao vê-lo, tornando-se este tema muito importante sobre a extensão da misericórdia divina para os outros. As Obras de Misericórdia são ações e práticas que o Cristianismo espera que todos os cristãos executem. A prática é atribuída à Igreja Católica como um ato de penitência e de caridade.
Estas obras são distribuídas em duas categorias, com sete elementos cada, as Obras de Misericórdia Corporais, que dizem respeito às necessidades materiais do outro: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nús, dar pousada aos peregrinos, visitar os doentes, visitar os presos e enterrar os mortos; e as Obras da Misericórdia Espirituais, que dizem respeito ao alívio do sofrimento espiritual: dar bons conselhos, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo e rogar a Deus pelos vivos e pelos defuntos.
Por exemplo, a Santa Casa de Misericórdia é uma irmandade que tem como missão o tratamento e sustento a enfermos e inválidos, além de dar assistência a recém-nascidos abandonados na instituição. Esta instituição tem como base as Obras da Misericórdia. Atualmente, existem várias Santas Casas da Misericórdia. Por tudo isto, entende-se que os atos de misericórdia que se devem executar atualmente, correspondem aos que se executavam antigamente, tal como disse Santo Agostinho, que chamou a misericórdia “tão antiga e tão nova”. Daniela Santos, 11º Ano
Abertura do Ano da Misericórdia em Seia Na Véspera da abertura da Porta Santa em Roma, pelo Papa Francisco, cerca de cinco dezenas de pessoas quiseram sintonizar-se com a proposta de Ano Jubilar/ Ano da Misericórdia no concelho de Seia. Numa bonita vigília ecuménica, que decorreu no serão do dia sete de dezembro, na Igreja da Misericórdia de Seia, com um representante da Igreja católica e um representante da Igreja Lusitana (linha Anglicana) foram apresentadas as orientações que o Santo Padre coloca neste ano à Igreja e a todos
os “homens de boa vontade”. Admirável testemunho foi apresentado pelo Reverendo Fernando Santos – da Igreja Lusitana – a respeito da missão abrangente que o Papa Francisco tem conseguido realizar, ultrapassando barreiras e separações. Esta Vigília de oração, marcou também o início das Jornadas do Conhecimento que vai já na sua nona edição. Muito valorizado ficou este momento de oração/ formação com a participação da voz de
Célia Oliveira e acompanhamento musical do musicoterapeuta António José Novais, com belos temas enquadrados na temática abordada. No final da referida vigília foi entregue a todos os participantes um medicamento diferente. Foram entregues a todos os orantes um terço e orientações para rezar o Terço da Misericórdia, juntamente com a bula papal “O rosto da Misericórdia”.
Jesus Cristo é o rosto da Misericórdia do Pai. Deus é um Pai «rico de misericordia», que não se cansa de procurar dar a conhecer a sua natureza divina. Enviou o seu Filho para nos revelar de maneira definitiva o seu amor. O Mistério da misericórdia é fonte de alegria, serenidade e paz. A misericórida é a via que une Deus e o homem porque abre o coração à esperança de sermos amados sem ter em conta o limite do nosso pecado.
Especial Ano da Misericórdia 13 | O Alforge | dezembro 2015
Apreço pelo Sacramento da Reconciliação Misericordiosa Reconhecer a nossa pequenez e fragilidade, abrir os olhos para o nosso estado de pecadores exige humildade. Um remédio é sempre mais difícil de tomar que uma guloseima. Mas só o remédio é que cura. E Cristo quer curar-nos das nossas doenças do pecado e oferecer-nos a sua amizade salvadora. “Aproximemonos, então, com grande confiança, do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça para uma ajuda oportuna” (Heb 4,16). Deus perdoa o homem na sua soberana misericórdia, mas Ele mesmo quis que as pessoas que pertencem a Cristo e à sua Igreja recebam o perdão através dos ministros da Comunidade. Para isso, a Igreja é depositária do “poder das chaves”: “Dar-te-ei as chaves do reino dos Céus. (…) Tudo o que desligares na Terra será desligado no Céu”. Mas o protagonista do perdão dos pecados é o Espírito Santo. A Igreja não é senhora deste poder das chaves, mas serva do ministério da misericórdia e
fica feliz sempre que pode oferecer este dom divino. Às vezes, ouve-se dizer: “Eu confesso-me diretamente a Deus”. É verdade que Deus sempre te ouve, mas, no sacramento da Penitência, manda um irmão trazer-te o perdão. O sacerdote confessor deve estar ciente de que o irmão ou irmã que se abeira dele procura o perdão e fá-lo como tantas pessoas se abeiravam de Jesus para que as curasse. Os fiéis penitentes têm o direito de encontrar, nos sacerdotes, servidores do perdão de Deus. O Sacramento da penitência, confissão ou reconciliação deverá ser encarado não apenas numa perspetiva de libertação pessoal do peso da culpa dos próprios pecados. O sacerdote a quem me confesso representa não somente a Deus sumamente misericordioso, mas a toda a comunidade da Igreja. O sacerdote não está em nome pessoal, mas como embaixador de Cristo (in persona Christi) e representante da Igreja (in domine ecclesiae). Porque
não ver no sacramento da questão uma questão de justiça social, de responsabilidade comunitária? É que, recebendo o perdão amorosíssimo de Deus, um perdão de qualidade suma, assim poderá oferecer também aos outros gestos de paz e perdão, amor e reconciliação de qualidade divina. Todas as ocasiões são oportunas e boas para aproveitarmos os dons de Deus e nos abeirarmos da misericórdia que Ele nos quer oferecer, especialmente pelo sacramento da reconciliação. O seu infinito amor por nós não permite que Se canse ou desista de nos fazer felizes. Por isso, o Papa Francisco, especial arauto da misericórdia divina, assim nos exorta: “Com convicção, ponhamos novamente no centro o sacramento da Reconciliação, porque permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia. Será, para cada penitente, fonte de verdadeira paz interior.
O Padre Manuel Morujão, foi Secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, durante 4 anos. O Padre Manuel Morujão, ocupa atualmente o cargo de reitor da Comunidade da FacFil/AO, em Braga. Pertence, também, ao Conselho Editorial do Apostolado da Oração e da Revista. Pertence ao Conselho de Direção da Revista Brotéria - Cristinanismo e Cultura.
Testemunhos… Prática da Misericórdia “Quem pratica o bem, tem a misericórdia de Deus sem Limites” Na minha opinião, a Misericórdia é um sentimento de compaixão, despertado pela desgraça ou pela miséria alheia, que se traduz na capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente, no fundo, é uma aproximação aos sentimentos de outra pessoa, é um ato de solidariedade.
A Misericórdia Divina é entendida como a libertação do julgamento extraterreno, isto é, é pedir a Ele (Deus) que suspenda o julgamento que merecemos, uma vez que Ele (Deus) perdoa os pecados apesar das faltas cometidas pelos pecadores. O Salmo 51, 1-2 exemplifica um apelo de misericórdia Divina, David clama: "Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as
minhas transgressões. Lavame de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado." No entanto, a Misericórdia de Deus estende-se a todos, aos crentes e não crentes desde que pratiquem o bem. O Papa Francisco afirma, numa carta enviada ao jornal La Repubblica, que “a misericórdia de Deus não tem limites se Ele for abordado com um coração
sincero e arrependido, a questão para quem não acredita em Deus é a obediência à sua própria consciência”. Assim, a consciência de cada um molda os seus comportamentos. Quem praticar "o bem", mesmo não tendo fé, beneficia da "misericórdia sem limites" de Deus. Mariana Tavares, 12ºano
Especial Ano da Misericórdia 14 | O Alforge | dezembro 2015
Confissão não é um Tribunal... «Confissão não é tribunal de condenação, mas experiência de perdão e misericórdia» Antes de tudo, o protagonista do ministério da Reconciliação é o Espírito Santo. O perdão que o sacramento confere é a vida nova transmitida pelo Senhor Ressuscitado por meio do seu Espírito: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados; àqueles a quem não os perdoardes, não serão perdoados» (João 20, 22-23). Por isso, vós sois chamados a ser sempre «homens do Espírito Santo», testemunhas e anunciadores, felizes e fortes, da ressurreição do Senhor. Este testemunho lêse no rosto, sente-se na voz do sacerdote que administra com fé e com «unção» o sacramento da Reconciliação. Ele acolhe os penitentes não com a atitude de um juiz, nem com a de um simples amigo, mas com a caridade de Deus, com o amor de um pai que vê regressar o filho e vai ao seu encontro, do pastor que reencontrou a ovelha perdida. O coração do sacerdote é um coração que sabe comover-se, não por sentimentalismo por mera emotividade, mas pelas «entranhas de misericórdia» do Senhor. Se é verdade que a tradição nos indica o duplo papel de médico e juiz para os confessores, nunca esqueçamos que como médico é chamado a curar e como juiz a absolver. Segundo aspeto: se a Reconciliação transmite a
vida nova do Ressuscitado e renova a graça baptismal, então a vossa tarefa é dá-la generosamente aos irmãos. Dar esta graça. Um sacerdote que não cuida desta parte do seu ministério, seja na quantidade de tempo dedicado, seja na qualidade espiritual, é um pastor que não toma cuidado das ovelhas que se perderam; é como um pai que se esquece do filho perdido e negligencia esperar por ele. A misericórdia é o coração do Evangelho! Não esqueçais isto: a misericórdia é o coração do Evangelho! É a boa notícia que Deus nos ama, que ama sempre o homem pecador, e com este amor atrai-o a si e convida-o à conversão. Não esqueçamos que os fiéis consideram difícil aproximar -se do sacramento, seja por razões práticas, seja pela natural dificuldade de confessarem os próprios pecados a outro homem. Por este motivo, é preciso trabalhar muito sobre nós próprios, sobre a nossa humildade, para nunca ser obstáculo, mas favorecer sempre a aproximação à misericórdia e ao perdão.
Muitas vezes sucede que uma pessoa vem e diz: «Não me confesso há muitos anos, tive este problema, deixei a Confissão porque encontrei um sacerdote que me disse isto», e vê-se a imprudência, a falta de amor pastoral naquilo que a pessoa conta. E afasta-se por causa de uma má experiência na Confissão. Se há uma atitude de pai, que vem da bondade de Deus, isto nunca mais acontecerá. E é preciso evitar os dois extremos opostos: o rigorismo e o laxismo. Nenhum dos dois faz bem, porque na realidade não cuidam da pessoa do penitente. Ao invés, a misericórdia escuta verdadeiramente com o coração de Deus e quer acompanhar a alma no caminho da reconciliação. A Confissão não é um tribunal de condenação, mas
experiência de perdão e de misericórdia! Por fim, todos conhecemos as dificuldades que muitas vezes a Confissão encontra. São muitas as razões, históricas ou espirituais. Todavia, sabemos que o Senhor quis fazer este imenso dom à Igreja, oferecendo aos batizados a segurança do perdão do Pai. É isto, é a segurança do perdão do Pai. Por isso, é muito importante que, em todas as dioceses e nas comunidades paroquiais, se cuide particularmente da celebração deste sacramento de perdão e de salvação. É bom que em cada paróquia os fiéis saibam quando podem encontrar os sacerdotes disponíveis: quando existe a fidelidade, veem-se os frutos. Isto vale de modo particular para as igrejas confiadas às comunidades religiosas, que podem assegurar uma presença constante de confessores. À Virgem, Mãe de Misericórdia, confiamos o ministério dos sacerdotes, e cada comunidade cristã, para que compreenda sempre mais o valor do sacramento da Penitência. Papa Francisco Discurso aos participantes no curso promovido pela Penitenciária Apostólica
Especial Ano da Misericórdia 15 | O Alforge | dezembro 2015
Ano da Misericórdia em perspetiva… O Papa Francisco proclamou no dia oito de dezembro próximo, o Ano da Misericórdia. Cuido que é suficientemente sabido. Todavia esta proclamação deixa algumas interrogações: " Não são, porventura, todos os anos, anos da misericórdia? E não são todos os dias, dias da misericórdia? E se o são, porque proclama o Papa, com toda a solenidade, um Ano da Misericórdia? Será que os anunciadores do Evangelho, anunciam mesmo a Misericórdia? E os crentes, que batalham para que lhes seja anunciado um Deus vingativo, castigador, que apenas vigia o mal que os humanos praticam e não olha o que de bem eles fazem? A verdade é que o nosso pobre mundo, obra maravilhosa do nosso Deus, continua a ter uma carência de misericórdia e a proclamação do Papa, visa despertar para o Deus que é Amor, Misericórdia, Justiça, Paz. Disse Misericórdia e Justiça e talvez não devesse, porque a justiça de Deus tem um nome:" Misericórdia.” Nesta investida de crueldade, radicalismo, desrespeito pela vida e as suas circunstâncias, urge reavivar a presença e a necessidade da Misericórdia nas nossas
vidas. Falo de presença ativa, dado o facto da tentação de olhar a misericórdia, apenas pelo dado do perdão no sacramento da reconciliação e esquecer outras vertentes, das quais depende a reconciliação com o Pai, com os outros, com a natureza e consigo mesmo. Repare-se no quanto o Evangelho nos anuncia como Misericórdia e que deve identificar a vida do crente e dos anunciadores da Misericórdia. Passam pela vida do Mestre, pecadores de todos os jeitos, ladrões, adúlteros, impuros, maldizentes e outros, cujo pecado se desconhece. Jesus tem para todos a mesma palavra: "Vai em paz, os teus pecados estão perdoados...não voltes a pecar"...porque muito amou, muito lhe foi perdoado"..."Se conhecesses o dom de Deus...(Jo 4,1 ss; Mc 2,1 ss). Claro que estes, para obterem o perdão de Jesus, tiveram que se deixar ver por dentro...e Jesus viu: a fé e o arrependimento. Não houve intromissão na consciência do outro, não houve sermão reprovador do que fizeram, mas apenas a palavra da misericórdia. Noutras circunstâncias, foram apenas os gestos, sem
exigir explicações: "Abraçouo e disse aos servos. "Vestilhe uma túnica nova, ponde -lhe uma sandálias nos pés e um anel no dedo e façamos uma festa, porque este meu filho estava perdido e encontrou-se"... (Lc 15,1 ss) "Zaqueu desce depressa, porque Eu, hoje, vou ficar em tua casa"...Ó Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres e se defraudei alguém, vou dar quatro vezes mais"..."Hoje, a salvação entrou nesta casa"(Lc 19, 1 ss) E para escândalo dos judeus, comia com publicanos e pecadores. (Mc 3,15 ss) Mas não ficou por aqui. Também as misérias físicas couberam, no seu coração de misericórdia. Foi o recado que enviou a João Baptista: "Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, aos pobres é anunciado o Reino de Deus". (Mt 11,2 ss) E deixou o caminho para uma prática quotidiana da misericórdia: Tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber... e tudo o que vem a seguir, com uma conclusão: " Tudo o que fizeste ao mais pequenino dos meus, foi a Mim que o fizeste" (Mt 25, 31 ss).
António José Oliveira Morais é o atual arcipreste de Gouveia e pároco de Gouveia, Folgosinho, Freixo da Serra, Melo e Nabais. Nasceu em Cativelos, Gouveia, a 12 de fevereiro de 1941 e foi ordenado padre a 1 de agosto de 1965. Faz parte da Comissão Diocesana de Música sacra. Foi o Assistente Diocesano do Movimento Vida Ascendente.
Testemunhos… Misericórdia e Evangelização A proposta do Papa Francisco deseja ser para os cristãos um modelo de vida, à imagem de Jesus. E os seus valores evangélicos, como o amor, a ajuda, a partilha e o serviço, são a força e a energia que podem
influenciar de forma decisiva o rumo de vida de cada um de nós! Para viver melhor o Ano da Misericórdia que o Papa propôs, teremos de mudar as nossas atitudes, os nossos
gestos e sermos mais atenciosos, mais dedicados às causas humanas e abandonar os egoísmos, as vaidades que preenchem o nosso mundo.
No fundo, a Misericórdia de Deus tem de estar assente na evangelização e melhoria de nós mesmos e do mundo. João André, 7º Ano
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ANO DA MISERICÓRDIA - Sugestão de livros e publicações A misericórdia de Deus não é uma ideia abstrata, mas uma realidade concreta com a qual Deus revela o seu imenso amor. Um amor «visceral» que provem do mais íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e de perdão.
«Eterna é a sua misericórdia», esta misericórdia faz da história de Deus com o seu povo uma história de Salvação. A Igreja, comprometida com a Nova Evangelização, tem a missão de anunciar a Misericórdia de Deus como o coração palpitante do Evangelho.
A sua linguagem e os seus gestos devem transmitir misericórdia para penetrar no coração das pessoas e motivá-las a reencontrar o caminho de volta à casa do Pai. Onde a Igreja estiver presente, aí deve ser evidente a Misericórdia do Pai. Com o apoio e sugestão da
Galeria Paz de Espírito, apresentamos um conjunto de livros que podem ajudar na reflexão deste Ano da Misericórdia, abrindo novos horizontes e perspetivas no camino de vida de cada pessoa.