CADERNOS DE ORIENTAÇÃO “Evangelizar para ser… pessoa e comunidade”
Ano Pastoral 2 – 2014/2015
Caderno 1
Cons?tuição Dogmá?ca sobre a Divina Revelação Dei Verbum Introdução Promulgada a 18 de Nov. de 1965. Obje?vo principal: “propor a genuína doutrina sobre a Revelação divina e a sua transmissão, para que o mundo inteiro, ouvindo, acredite na mensagem da salvação, acreditando espere, e esperando ame” (DV 1) Pontos centrais: . a Palavra que Deus dirige aos homens e através da qual se revela a eles e os salva; . o modo como esta Palavra de Deus é transmiBda ao longo da História; . como esta mesma Palavra de Deus deve chegar, iluminar e renovar a vida do homem, a vida da Igreja, a vida do mundo.
Pontos mais importantes e inovadores da Dei Verbum: “O sagrado concílio, ouvindo religiosamente a Palavra de Deus e proclamando-‐a com confiança… (DV 1) “São palavras com as quais o Concílio indica um aspeto qualificaCvo da Igreja: esta é uma comunidade que escuta e anuncia a Palavra de Deus. A Igreja não vive de si mesma, mas do Evangelho e do Evangelho Cra sempre orientação para o seu caminho”. “A Igreja sabe bem que Cristo vive nas Sagradas Escrituras. Precisamente por isso, ela sempre atribuiu às Divinas Escrituras uma veneração semelhante à que é reservada ao próprio Corpo do Senhor” (DV 21) “A Igreja e a Palavra de Deus estão inCmamente interligadas. A Igreja vive da Palavra de Deus e a Palavra de Deus ressoa na Igreja, no seu ensinamento e em toda a sua vida (DV 8). A DV revalorizou a Palavra de Deus, renovou a vida da Igreja pela pregação, catequese, teologia e espiritualidade (Bento XVI)
I – A Revelação em si mesma “Aprouve a Deus, em sua sabedoria e bondade… (DV 2) “Deus no seu imenso amor, quis dar-‐se a conhecer ao homem…(DV 21)
Neste diálogo, Deus revela o seu projeto, o seu programa, a sua proposta para a vida do homem: admiBr os homens à comunhão com Ele; quer que os homens parBcipem da sua vida divina; quer que os homens façam parte da sua família. (DV 2; DV 4) A Revelação acontece por meio de “obras e palavras” Jesus Cristo é o cume e a plenitude da Revelação” (Mt 11,27); DV 4) ) Nada pode ser acrescentado à Revelação de Deus.
II – A transmissão da Revelação Divina “Deus dispôs amorosamente que permanecesse integro e
fosse transmiCdo a todas as gerações tudo quanto Cnha revelado para salvação de todos os povos” (DV 7).
Se tudo o que Deus revelou foi para salvação de todos os homens há a necessidade e o dever de transmiBr, com fidelidade, a Revelação de Deus ao longo de todas as gerações. “Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tim 2,4)
A Tradição e a Sagrada Escritura
A Revelação de Deus é transmiBda pelos Livros Sagrados (transmiCda por escrito) e pela Tradição viva da Igreja (pela vida da própria Igreja); apóstolos e varões apostólicos, sob a inspiração do Espírito Santo, “escreveram a mensagem da salvação … para que o Evangelho fosse perenemente conservado íntegro e vivo na Igreja; os apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores, entregando-‐lhes o seu próprio o]cio de magistério” (DV 7) A Escritura contém tudo o que devemos saber e acreditar em ordem à salvação; pela Tradição “a Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo em que acredita” (DV 8) A Tradição e a Escritura formam um todo orgânico, estão estreitamente ligadas: ambas derivam da mesma fonte, Revelação; ambas exprimem o mesmo e único mistério de Deus; ambas tendem para o mesmo fim: a salvação dos homens; ambas merecem igual veneração. A Escritura como texto é inalterável; a Tradição permite e possibilita progresso na compreensão das coisas e daas palavras reveladas, mercê da reflexão e do estudo dos crentes… (DV 8)
III – A Sagrada Escritura na vida da Igreja “ A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o Corpo do Senhor … (DV 21) A Sagrada Escritura merece a mesma veneração que o Corpo de Cristo… (cf. DV 22, 23, 24 e 25) Conclusão A Dei Verbum deve ser entendida também à luz dos documentos que se lhes seguiram, do modo parBcular a Verbum Domini (Cf. VD 3)
Caderno 2
As tentações dos Agentes Pastorais (Reflexão da Evangelii Gaudium)
Síntese Introdução I. Uma visão profé?ca da Igreja II. As grandes Tentações III. Desafios eclesiais Perguntas de Reflexão
Introdução
O papa Francisco lançou a proposta da transformação missionária da Igreja (cap I – n. 19-‐49). Indica ele as tentações que se opõem ao rumo traçado. Todos somos interpelados a olhar com responsabilidade a nossa vida a vida da Igreja. Diz o papa: “somos chamados a ser pessoas-‐cântaro para dar de beber aos outros (n. 86) Imagem rica: . de raiz bíblica (a samaritana e a água viva); . apresentada numa dimensão vocacional “somos chamados a ser…”; . portadora de grande exigência espiritual e altruísta: “para dar de beber aos outros” Não teremos a tentação de levar o cântaro vazio … para diminuir o peso…? Não teremos preguiça espiritual de ir à fonte que é o Espírito?
I. Uma visão profé?ca da Igreja
O papa enuncia três ideias: 1) A gra?dão por todos os que trabalham na Igreja e exalta o edificante exemplo de generosidade apostólica dos “inúmeros cristãos que dão a vida por amor” (n. 76) 2) A necessidade de criar espaços apropriados para moBvar e sanar os agentes pastorais (n.77) 3) A idenBficação das grandes tentações que na atualidade afetam os agentes pastorais. Proposta corajosa do papa ao enfrentar os males do nosso tempo e os males da Igreja que não podem servir de desculpa para reduzir a nossa entrega e o nosso ardor (n.84). O papa faz o elenco das tentações e aponta o remédio para cada uma delas.
II. As grandes tentações 1. A tentação do individualismo: “a preocupação exacerbada pelos espaços pessoais de autonomia e relaxamento” (n.78); vem a tentação de se agarrar a seguranças económicas, poder e glória. Remédio contra esta tentação: espiritualidade missionária. Cuidado com a “acédia egoísta” (n.81) 2. A tentação do desalento, psicologia do túmulo, pastoral “da múmia de museu” (n.82). Diz o papa: “não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização” 3. A tentação do pessimismo estéril… S.João XXIII chamava-‐lhes “os profetas de desgraças” e Francisco chama-‐lhes “pessimistas lamurientos” (n.85) Remédio: transformar a “deserCficação”espiritual em fecundidade da verdadeira experiência de deserto. “Não deixemos que nos roubem a esperança”-‐ diz o papa. (n.86)
4. A tentação do isolamento e da privacidade. O remédio é fortalecer o senBdo de comunidade. O papa propõe a “caravana solidária” e incenBva a estabelecer relações novas e solidárias e qualifica esta caminhada como “peregrinação sagrada”(n.87), tentação egoísta que nos distancia uns dos outros. Revigorar as relações verdadeiramente comunitárias
O papa fala da religiosidade popular com caráter pessoal e concreto dos que foram exemplo de sanBdade e de proximidade com os irmãos.
5. A tentação do mundanismo espiritual a) A busca da glória humana e do poder, em vez de procurar a glória de Deus; b) A arrogância dos grupos de elite que se ouve no dogmaBsmo doutrinal e disciplinar com o menosprezo do povo simples. c) O espírito de contenda, gerador de divisões e de guerras internas que ameaçam as comunidades cristãs e criam más vontades entre as próprias pessoas consagradas. Remédio: oração por aqueles com quem estamos irritados, exaltando o amor fraterno.
III. Desafios eclesiais
a) Tomada de consciência da responsabilidade dos leigos na Igreja. Tem sido travada: . pelo excesso de clericalismo; . pela dificuldade de os leigos assumirem cargos e tarefas na comunidade. b) A par?cipação nos ministérios laicais não correspondeu às tarefas seculares própria dos leigos no mundo da políBca, da economia, na intervenção do tecido social. c) Quais as respostas para esta situação? Que fazer? Por onde começar? O papa no n.77 diz: “precisamos de criar espaços apropriados para moCvar e sanar os agentes pastorais”. O fundamental está na formação dos leigos. Que fazer?
O papa Francisco aponta explicitamente: . a “evangelização das categorias profissionais e intelectuais (n.102)
. a valorização do contributo da mulher – “o génio feminino” na vida social e na igreja (n.109) reconhecendo a igualdade de dignidade e de vocação à sanBdade de homens e mulheres, o lugar das mulheres nos espaços “onde se tomam decisões importantes, nos diferentes âmbitos da Igreja” (n.104) . atenção à pastoral juvenil (n.105) promovendo associações e movimentos juvenis, com paciência e compreensão diante das aspirações e reivindicações dos jovens (n.106) o cuidado das vocações sacerdotais e religiosas, mediante a oração e a “coragem de propor aos jovens um caminho de especial consagração” (n.107) Saber ler os sinais dos tempos, ouvindo os jovens e os idosos; alegria e audácia que brota da força missionária (n.109)
Perguntas de reflexão: 1.Serão esses espaços os diversos órgãos de parBcipação, mormente os Conselhos Pastorais? 2.Terão eles Bdo o tempo necessário para a análise e reflexão de forma menos apressada e com mais aprofundado estudo, com agendas menos carregadas e mais abertas? 3. E não precisamos de criar outros espaços, como sejam os grupos que aliem a oração e a reflexão pastoral?
Caderno 3
A Homilia e a sua preparação (EG)
Oportuno e urgente fazer uma reflexão profunda, em Igreja, acerca da homilia. Redescobrir o que significa a homilia, para que serve, como deve ser preparada, que empenho devem colocar nela os que a proclamam e que valor lhe dão aqueles que a ouvem. No sínodo sobre a Palavra de Deus, em Out. de 2008, os bispos dedicaram-‐lhe grande atenção. Vejamos o que diz o papa Francisco na Evangelii Gaudium, de 24 Nov. 2013, nos n. 135 – 159. A reflexão que se segue vem a parBr desta Exortação.
“Reveste-‐se de um valor especial a homilia, derivado do seu contexto eucarísCco, que supera toda a catequese por ser o momento mais alto do diálogo entre Deus e o seu povo” (EG 137). A homilia serve para prolongar e aprofundar o diálogo entre Deus e a assembleia, na liturgia da Palavra; Por ser feita em contexto eucarísBco, a homilia tem uma função mistagógica, isto é, deve instruir sobre os “santos mistérios”, ajudar a celebrá-‐los de modo consciente e orientar para uma comunhão com Cristo de modo a transformar a vida.
A homilia não pode ser demasiado longa para não perder a harmonia entre as suas partes e o seu ritmo (EG 138) e não pode ser nem parecer uma conferência ou uma lição. É um serviço que exige seriedade e humildade, sem exibicionismo: “não nos pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo, o Senhor” (2Cor 4,5)
Deve usar-‐se uma linguagem posi?va: “não diz tanto o que não deve fazer-‐se, mas propõe o que podemos fazer melhor” (EG 159). Evitar a pregação puramente moralista ou doutrinadora. O Evangelho é Boa Nova; é dom antes de ser exigência, anúncio do Reino de Deus e da salvação, antes de ser exortação à nossa (necessária) resposta e adesão. O papa Francisco define a homilia como uma conversa com a mãe. “A Igreja é mãe e prega ao povo como uma mãe fala ao seu filho” (EG 139). O pregador deve estar revesBdo de espírito materno-‐eclesial e demonstrá-‐lo “através da proximidade cordial, do tom caloroso da voz, da mansidão do esClo das suas frases, da alegria dos seus gestos”.
O pastor deve culBvar a proximidade, escutar muito, conhecer as dores e as angúsBas, alegrias e tristezas de cada “ovelha” “O pregador tem a belíssima e di]cil missão de unir os corações que se amam: o do Senhor e os do seu povo” (EG 143) “A preparação da pregação é uma tarefa tão importante que convém dedicar-‐ lhe um tempo longo de estudo, oração, reflexão criaCvidade pastoral” (EG 145)
I?nerário de preparação da homilia: 1. invocar o Espírito Santo; 2. dedicar-‐se, ao longo de toda a semana, com amor e paciência, ao estudo do texto bíblico, de modo a conhecer em profundidade o texto que servirá de base à homilia; 3. a personalização da Palavra: permiBr que Deus fale, em primeiro lugar, a si mesmo; interiorizar a Palavra, deixar que ela passe da cabeça ao coração para que no momento da homilia “a boca fale da abundância do coração” (Mt 12,34)
4. Lec?o Divina
Para preparar a homilia é indispensável reservar um tempo específico para oração, concretamente para a leitura orante da Palavra. 5. Além de escutar Deus, deve escutar também o povo, conhecer a sua situação humana. Para preparar bem a homilia, o pregador deve ser um contemplaBvo da Palavra e, ao mesmo tempo, um contemplaBvo da comunidade (EG 154). Só assim será capaz de trazer a vida ao Evangelho e levar a luz do Evangelho à vida.
Perguntas de reflexão:
1. Considerando a realidade que conhece, ao nível pessoal e da comunidade, como é vista a homilia? Ajuda a compreender a Palavra de Deus e a sua ligação à vida? Ilumina algum momento da Celebração, favorecendo uma par?cipação mais consciente? 2. Que aspetos lhe parecem mais distantes do ideal proposto pela EG ? Como se poderia ajudar a melhorar? 3. Seria possível e melhor que o pároco preparasse a homilia em grupo, com colegas, ou mesmo com a colaboração de leigos?
Caderno 4
O compromisso no serviço aos pobres, caminho da evangelização, segundo as propostas do papa Francisco na “Evangelii Gaudium”
“Uma Igreja pobre para os pobres”
A pobreza evangélica é condição fundamental para a dilatação do Reino de Deus: Não possuais ouro, nem prata, nem cobre, em vossos cintos; nem alforge para o caminho, nem túnicas, nem sandálias, nem cajado, pois o trabalhador merece o seu sustento” (Mt 10,9-‐10) Muitas formas de pobreza afligem o mundo moderno: a pobreza moral sofrida pelos que perderam o senBdo da vida, os que estão sem perspeBvas para o futuro e perderam a esperança; a fragilidade das pessoas que vivem na miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho; a pobreza espiritual “que golpeia quantos se afastam de Deus e rejeitam o seu amor”; os que vivem sem esperança meBdos no álcool, na droga, no jogo do azar, no poder do dinheiro, na sexualidade sem regras…
Perante estas situações, o cristão não pode ficar indiferente. Tem que ser sensível às carências e não pode ficar por discursos belos; é preciso “abandonar o egoísmo e servir os outros”, indo ao seu encontro. O mundo está saturado de “sermões” e precisa mais “de testemunhas do que de mestres” – dizia Paulo VI.
O episódio dos discípulos de Emaús pode traduzir a aBtude do cristão diante do pobre: “…diante dos dois passageiros, jesus, vê, aproxima-‐se, caminha com eles, ouve-‐os depois fala … mas fala como quem busca respostas, como companheiro de caminhada, que acolhe, respeita e acompanha o outro na sua dor, para que o caminho se faça menos pesado e para que a esperança seja de novo possível” O papa sugere a criação de uma nova mentalidade, de uma nova cultura, que supere o individualismo… (EG 188) e diz: “Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-‐lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-‐los, a compreendê-‐los e a acolher a sua sabedoria” (EG 198)
Desde o princípio do crisBanismo, os cristãos aprenderam que “a fé sem obras é morta” (Tg 2,17) S. Paulo recebeu dos apóstolos que não descurasse os pobres… (EG 201); (cf 1Cor 12)
Felizmente muitos, interpelados pela Palavra de Deus, abandonam a comodidade, o conforto, e a segurança e oferecem a sua vida e seus bens em favor dos mais necessitados.”Saiam”-‐ diz o papa (EG 49) “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” Que a Evangelii Gaudium faça desassossegar mentes e corações!
Perguntas de reflexão: 1. Que respostas têm sido dadas às situações de pobreza nas nossas comunidades? 2. Que formas de caridade organizada temos nos nossos meios? (Ex: Caritas, movimentos, Centros Sociais Paroquiais, entre outros)
Caderno 5
Leitura Orante da Bíblia (Lec?o Divina)
Introdução O Concílio VaBcano II exorta todos os fiéis a que aprendam a “maravilha que é o conhecimento de Jesus Cristo” (Fl 3,8) com a leitura frequente da Bíblia, porque “desconhecer as Escrituras é desconhecer Cristo” – diz S. Jerónimo. Recomenda a leitura, estudo e oração para que seja possível o diálogo entre Deus e os fiéis, porque “quando rezamos, falamos com Deus e ouvimo-‐Lo, quando lemos as palavras divinas” (S. Ambrósio) A LecBo divina leva-‐nos ao encontro pessoal com Cristo como aconteceu com Zaqueu, a Samaritana, Nicodemos e outros
Pressupostos para a leitura orante da Bíblia 1. A?tude de escuta e obediência: “faça-‐se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38)
Não só ler e estudar, mas escutar o que Deus tem para nos dizer; conhecer a sua vontade e viver melhor o Evangelho: “Fala, Senhor, que o teu servo escuta (1Sm 3,9);
2. Pedir o Espírito Santo “Pedi e dar-‐se-‐vos-‐á ” (Mt 7,7) Escutar Deus não depende do nosso esforço, mas de Deus, da sua decisão gratuita e soberana de entrar em contacto connosco e fazer com que possamos ouvir a sua voz. Para isso a nossa primeira a?tude deve ser de humildade, de oração (Lc 11,13; Jo 14,26; 16,13) 3. Criar um ambiente de recolhimento Ler a Bíblia é como conviver com um amigo, o que exige atenção, respeito amizade, entrega e escuta atenta. Para isso culBvar o silêncio dentro de nós. Até uma boa e digna posição do corpo ajuda o recolhimento da mente.
4. Receber a Bíblia como livro da Igreja e da tradição monás?ca
Ter consciência de que a Bíblia não é nossa, mas da comunidade cristã. Ao fazer a lecBo divina, entramos na grande Tradição da Igreja, que atravessa os séculos. Não ficamos isolados, mas em comunhão com todas as comunidades cristãs e religiosas, que nos precederam e as que hoje nos acompanham e põem “todo o seu enlevo na lei do Senhor e nela meditam dia e noite” (Sl 1,2)
5. Ter uma correta a?tude interpreta?va da Bíblia Percorrer seis tempos ou passos:
1º passo – (lecBo) leitura: conhecer, respeitar, situar O que é que o texto diz? Isto exige silêncio. . Ler e reler atentamente o texto, sem pressa; . Sublinhar o que nos chama mais a atenção; . RefleBr sobre o ambiente as circunstâncias da narraBva; . Ver as pessoas que intervêm.
2º passo – (meditaBo) meditação : refleBr, dialogar, atualizar
O que é que o texto me diz a mim, a nós? Entramos em diálogo com o texto para que o senBdo se atualize e penetre a nossa vida. Como Maria, refleBmos sobre o que escutamos (Lc 2,19, 51) e assim descobrimos que “a Lei está muito perto de C, na tua boca e no teu coração, para a praCcares” (Dt 30,14). RefleBmos sobre o texto: . sublinhar os verbos e as ações, para perceber o que é que o texto nos quer dizer, que mensagem nos traz. . confrontar a Palavra com a nossa vida: A que conversão ele nos chama? Que quer que eu faça? Saborear a Palavra.
3º passo –(collaCo)Par?lha: compreender, aclarar, dialogar
Cada parBcipante é chamado a parBcipar, com simplicidade e brevidade, a sua compreensão do texto, as suas vivências e senBmentos e os pontos escuros da Palavra. E esclarecimento das dúvidas e de síntese. 4º passo – (oraCo) Oração: suplicar, louvar, recitar Preocupação de descobrir. O que é que o texto me faz dizer a Deus? Hora de oração. Falar com Deus livremente em oração de louvor, agradecimento, súplica, perdão…
5º passo – (contemplaCo) Contemplação: ver, saborear, agir A contemplação é ter nos olhos algo da “sabedoria que leva à salvação” (2Tm 3,15); . ver o mundo e a vida com os olhos de Deus; . assumir a própria pobreza e eliminar, do nosso modo de pensar, tudo aquilo que vem dos poderosos; . tomar consciência de que muita coisa que pensávamos ser fidelidade ao Evangelho e à Tradição, na realidade, nada mais é do que fidelidade a nós mesmos e aos nossos próprios interesses e nossas ideias; . saborear, desde já, algo do amor de Deus que supera todas as coisas; . mostrar com a vida que o amor de Deus se revela no amor do próximo; . dizer sempre: “faça-‐se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38); . deixar que a Palavra se entranhe em nós; . ficar em silêncio amoroso diante de Deus e da sua Palavra.
6º passo –(operaCo) Ação: acreditar, agir, obedecer na fé
Dispormo-‐nos à conversão, mudança de aBtude. “A palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes”, “penetra até à divisão da alma e do corpo, das junturas e das medulas, e discerne os senCmentos e intenções do coração”( Hb 4,12), impelindo-‐nos ao arrependimento e à conversão. Com a nossa vida interpretamos a Sagrada Escritura.
Perguntas de reflexão 1. Que modo de ler, estudar e meditar a Bíblia têm acontecido nas nossas comunidades? 2. Como pode ser desenvolvido o contacto com a Bíblia nas famílias e nas comunidades?
Caderno 6
Pastoral Familiar
Sumário 1. Introdução 1.1.Casal humano “inaugural”-‐ Imagem e semelhança de Deus 1.2. Plenitude do amor conjugal 1.3. Matrimónio – uma realidade sacramental 2. O matrimónio e a família no pensamento atual da Igreja Perguntas de reflexão
Introdução “… Não chegueis ao fim de nenhum dia sem fazerdes as pazes entre vós…” “Três palavras são importantes para vós: “por favor”; “obrigado”; “desculpa” – disse o papa francisco às famílias. Destaca-‐se: a linguagem rica de profundo humanismo; a importância decisiva do amor conjugal para a construção e para a vida do casal e da família em oposição à orientação personalista do matrimónio. Qualquer relação interpessoal é problemáBca; muito mais o é num casal que deve ser: . relação de pessoas, . Relação de amizade, . Relação baseada na diferença sexual. (cf. Mt 19,3-‐12; Mc 10,1-‐2) A resposta de Jesus não vem como uma lei, mas como uma proclamação proféBca da realidade profunda do amor conjugal.
1.1. Casal humano “inaugural”-‐ imagem de Deus Gn 2,18-‐25 : o homem não foi chamado a viver sozinho, mas em família . A necessidade de relação interpessoal no homem. “não é bom que o homem esteja só” . O diálogo de amor supõe igualdade.
A mesma natureza homem e mulher e a mesma dignidade. . O relato da formação misteriosa da mulher (2,21-‐22) indica a integração dos dois seres, para encontrar a complementaridade e a totalidade: esta “é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne” (2,23) . O diálogo de amor procura a união e realiza-‐se na unidade: “por isso, o homem deixará pai e mãe …”. O homem é imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,27) . O aspeto da fecundidade (1,28)
1.2. Plenitude do amor conjugal cf Mt 19,3-‐12; Mc 10,1-‐12
Estas passagens não devem interpretar-‐se como uma lei, mas como uma proclamação profé?ca da realidade profunda do amor conjugal. Jesus não determinou uma insBtuição matrimonial especial, mas revelou a plenitude do amor e do modo de realizá-‐lo dentro do ambiente da fé cristã.
No A. T. o matrimónio aparece na imagem das relações de Deus com o seu povo e no N.T. na aliança de Cristo com a Igreja: “por isso o homem deixará pai e mãe, unir-‐se-‐á à sua esposa e serão os dois uma só carne. Grande é este mistério; mas eu interpreto-‐o em relação a Cristo e à Igreja” (Ef 5,31-‐32)
I.3. O matrimónio: uma realidade sacramental O casamento tem uma dimensão histórico-‐mundana (terrena), mas, ao mesmo tempo, uma nova dimensão: a religiosa-‐sacramental. Dizer que o casamento é sacramento significa “que a ordem criacional da relação homem-‐mulher, concreCzada no casamento não é algo neutral nem meramente mundano, mas que está assumido no mistério da aliança de Deus com o seu povo (…) O sacramento não é algo que se juntou ao casamento, ou que está ali ao lado, mas é o próprio casamento. Para o que vive na fé, e na m e d i d a e m q u e o v i v e , o m a t r i m ó n i o é sacramento” (Ratzinger hacia una teologia del matrimonio 241) O sacramento pode ser ineficaz por falta de fé e falta de amor. Por isso o devem cuidar todos os dias
1.4. O matrimónio e a família no pensamento atual da Igreja A arBculação entre a sabedoria cristã (vinda da Sagrada Escritura e da Tradição” e a racionalidade atual (GS 44) (cf também GS 51) A forma como o Vat.II aborda os problemas do matrimónio e da família: (cf GS 47, 48, 49, 51,52): rejeita a primazia da procriação sobre os aspetos uniBvos da sexualidade e insiste na sua harmonia e integração. Assim: . Propõe a pessoa humana como centro de todos estes valores e reconhece os valores pessoais e interpessoais da sexualidade (GS 51) . Chama a atenção sobre a qualidade humana das expressões da sexualidade e como podem desenvolver posiBvamente a pessoa (GS 49) . Reflete uma fina sensibilidade no que diz respeito às dimensões sociais e comunitárias da sexualidade humana e do matrimónio (GS 47)
.Reconhece que o Criador é fonte e a razão
suprema da sexualidade humana (GS 48) . O matrimónio é assumido como aliança (GS 52) O paradigma teológico-‐moral é “personalista” e supõe: . Unidade fiel exigida pela total doação dos esposos (GS 48) . É um amor orientado para a fecundidade . É um amor de amizade que, por isso, exige reciprocidade (GS 49)
. Este amor nasceu da fonte divina da caridade, parBcipa da união de Cristo com a Igreja e foi abençoado por Cristo. A bondade do amor conjugal aparece exaltado no nº 49 da GS: “por ser eminentemente humano…”
Perguntas de reflexão: 1. Que ideia temos, quando falamos de matrimónio ou família, contrato ou aliança? 2. Como manter a união matrimónio – sacramento se grande parte dos nossos noivos não têm práBca religiosa, habitual, ou mesmo não têm fé?
Caderno 7
Desafios aos casais novos
Introdução I. Acolhimento II. Pós casamento III. Acolhimento para o Ba?smo dos filhos e sua celebração IV. Início da catequese dos filhos Perguntas de Reflexão
Introdução
“A ação pastoral da Igreja deve ser progressiva, também no senCdo de que deve seguir a família, acompanhando-‐a, passo a passo, nas diversas etapas da sua formação e desenvolvimento” (F:C: 65) O serviço de acolhimento aos noivos tem como grande objeBvo acolher as futuras famílias e ajudar a inseri-‐las nas comunidades oferecendo-‐lhes espaços de formação, de reflexão e de vida parBlhada. Devem criar-‐se equipas de pastoral familiar a nível paroquial, interparoquial ou arciprestal. Que as comunidades estejam abertas a estes movimentos da família.
I – Acolhimento
“A preparação dos noivos há-‐de ter em conta a sua situação e a da comunidade em que estão integrados … cada um há-‐de senCr-‐se acolhido e ajudado, segundo a especificidade da sua situação” (Comissão Episcopal da Família) Esta recomendação pretende: . . Privilegiar a vinda dos noivos à paróquia a pedir o sacramento do matrimónio . testemunhar a alegria de toda a Igreja por mais uma comunidade familiar que se vai formar . Apontar a preocupação e a disponibilidade da Igreja para ajudar os noivos a prepararem-‐se para receber e viver o sacramento do matrimónio. . Realçar a importância e a necessidade duma preparação para a vida futura . Apresentar o CPM como forma estruturada para a preparação para o matrimónio
1. Uma vez que a maioria dos noivos não têm práBca religiosa, é
importante valorizar ao máximo o serviço de acolhimento nas paróquias; 2. É necessário estar atentos a estas realidades humanas e sociais e criar formas de aproximação; por isso uma interação entre casais de acolhimento e o pároco; 3. Familiarizar os noivos com a Igreja, de modo a inseri-‐los para melhor preparação, celebração e vivência do matrimónio; 4. Definir e afixar um calendário com indicação das horas, dias e locais de acolhimento, tendo em conta a realidade social, laboral e pastoral de cada paróquia; 5. Procurar que os noivos descubram a importância duma séria preparação para o casamento (CPM)
II – Pós-‐casamento
“Da mesma forma que toda a realidade viva, também a família está chamada a desenvolver-‐se e a crescer. Depois da preparação, durante o noivado e a celebração do matrimónio, o casal começa o caminho quoCdiano até à progressiva atuação dos valores e deveres do mesmo matrimónio (F.C. 65) 1. Inclusão em movimentos de família…(F.C. 69) 2. Convite à parBcipação na vida comunidade “Na ação pastoral para com as famílias jovens … e da sociedade humana” (F.C. 69) domingo; aBvidades pastorais paroquiais como liturgia, catequese, voluntariados, compromissos sociais, reBros, peregrinações, congressos, grupos de oração, reflexão e parBlha…
III -‐ Acolhimento para o ba?smo dos filhos e sua celebração O que se disse quanto ao acolhimento dos noivos que pedem o matrimónio, se pode dizer também a respeito do acolhimento aos pais que pedem o baBsmo de seus filhos: “é preciso vencer a tentação de reduzir a formalidade burocráCca o contacto com os noivos que aparecem para marcar o casamento ou com os jovens pais que pedem o baCsmo ou a catequese para os filhos; são ocasiões privilegiadas dum diálogo de grande importância…” “As paróquias prestem especial atenção. Tratem com solicitude da preparação dos pais e dos padrinhos…”
IV – Início da catequese dos filhos
A família é “Igreja domésCca”; então é comunidade com relações interpessoais de “comunhão” (GS 48, 49) A catequese envolve a família e a comunidade: “ É preciso ter sempre presente que toda a iniciação cristã é caminho de conversão… Quero sublinhar aqui a relevância da Primeira Comunhão… A pastoral paroquial deve valorizar adequadamente esta ocasião tão significaCva” (Bento XVI in Sacramentum CaritaCs)
A catequese familiar tem como obje?vo:
. Ajudar a redescobrir e promover a família como lugar de comunhão e educação humana e cristã; . Proporcionar a redescoberta da fé (conversão) e dos elementos centrais da idenBdade cristã (evangelização) . Facilitar a abertura a um iBnerário catequéBco . Promover um novo modelo de cristão, testemunho e presença na Igreja e na Sociedade . Promover a inserção da família na comunidade cristã.
Perguntas de Reflexão
1. De que modo preparamos os nossos jovens para o casamento? Preparação remota, próxima e imediata? (F.C. 66) 2. Nas nossas paróquias, ou conjunto de paróquias temos uma pastoral familiar estruturada e organizada? Que atenção prestamos aos casais novos e como os acompanhamos? Que estamos dispostos a fazer? 3. Estão as nossas paróquias abertas aos movimentos familiares como sejam as Equipas de Nossa Senhora ou outros?