Nós em Rede | 11ª edição

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PUBLICAÇÃO SEMESTRAL DA COORDENAÇÃO DE PASTORAL DA REDE MARISTA RS | DF | AMAZÔNIA - ANO 6 - NÚMERO 11 - 2015

e d e r m e s ó N

O cuidado com o planeta que nos dá vida Na Encíclica Laudato Si’, Papa Francisco nos chama à corresponsabilidade da preservação da Terra, nossa casa comum Páginas 3, 4, 5 e 6

PROMOÇÃO INTEGRAL DA VIDA NA REGIÃO AMAZÔNICA

SIM AO RESPEITO À NATUREZA!

Páginas 12 e 13

Páginas 10 e 11

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COORDENAÇÃO DE PASTORAL

SUMÁRIO

O cuidado com a casa comum Gerente da Coordenação de Pastoral, Ir. Valdícer Fachi Na encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco faz memória de um canto de São Francisco de Assis, sua fonte de inspiração, chamado por ele de “exemplo por excelência de cuidado, que mostrou uma atenção especial aos pobres e abandonados”. Recorda-nos que a nossa casa comum pode ser comparada ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços. Nós mesmos somos terra (cfr. Gen 2,7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos. Pautados por esse emblemático e atual documento, a 11ª edição da Nós em Rede reflete e dialoga sobre a ecologia integral, reconhecendo o humano como parte integrante da natureza e não seu dominador ou explorador. Isso deveria embasar as relações humanas e com o próprio cosmos. Precisamos de mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades, para que possamos reconhecer a palavra que chega do Senhor por meio da criação, que convoca a uma relação de contemplação da presença amorosa do Criador na criação, expressão do seu Espírito. A partir dessa compressão na editoria especial, refletiremos sobre os cuidados com a “casa comum”, na perspectiva da ecologia integral. Já na editoria missão o processo da Rede Panamazônica e os reflexos no contexto da nova configuração – Província Marista Brasil Sul-Amazônia. Em PJM, abordaremos o Princípio Civilização do Amor, assumido pela PJM, o Sim ao respeito à natureza. Em consonância com Francisco, “para além do Sol caminhemos cantando. Que nossas lutas e nossas preocupações por este planeta não nos tirem a alegria da esperança”. EXPEDIENTE Informativo da Coordenação de Pastoral da Rede Marista (RS, DF, Amazônia). Ano 6 - Nº 11 - 2015 Gerente Ir. Valdícer Fachi Equipe responsável Karen Theline Cardoso dos Santos da Silva, Jaquelini Alves Debastiani, José Jair Ribeiro, Laura Skavinski Aparicio, Marcos José Broc, Vera Lucia Ribeiro. Comentários e sugestões pastoral.pmrs@maristas.org.br 2

Produção: Comunicação Corporativa Textos: Luísa Medeiros Fotos: Arquivo Coordenação de Pastoral, Unidades Maristas e Assessoria de Comunicação Corporativa Diagramação: Design de Maria Revisão: Ir. Salvador Durante Jornalista Responsável Lidiane Amorim (DRT/RS 12725)

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ESPECIAL A urgência do cuidado e do despertar de consciência

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PASTORAL NAS UNIDADES Ecologia integral: da teoria à prática

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MISSÃO Promoção integral da vida na Região Amazônica

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PJM Sim ao respeito à natureza!

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DIRETRIZES Quando o cachimbo cai

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EM REDE Relembre algumas ações evangelizadoras que marcaram o segundo semestre


ESPECIAL

A urgência do cuidado e do despertar de consciência “A Terra, nossa casa comum, parece estar se tornando mais e mais um enorme depósito de lixo.” (Papa Francisco) A frase dura, que provoca um forte alerta à preservação do planeta, faz parte da Encíclica Laudato Si’, publicada recentemente pelo Papa Francisco. No texto divulgado em julho, o pontífice alerta para a degradação ambiental, que caminha lado a lado com a pobreza, e faz um chamamento para a corresponsabilidade no cuidado da Terra, nossa casa comum. Ao lançar luz para o tema da ecologia integral, o Papa traz dados consistentes sobre as mudanças climáticas, o esgotamento da água, a erosão da biodiversidade e a deterioração da vida humana. Mais do que isso, alerta para as consequências mais diversas desse descaso com a mãe natureza, que perpassam pelos abismos socioeconômicos, pela perda de direitos, a falta de perspectiva de futuro. “Qualquer abordagem ecológica deve incorporar uma perspectiva social que leve em conta os direitos humanos das pessoas mais desfavorecidas”, afirma o Papa em seu texto. E faz um chamamento aos Cristãos de fazerem juntos a sua parte: “A maioria dos habitantes do planeta declara ter fé, e isso deveria incitar as religiões a entrar em um diálogo com vista à conservação da natureza, da defesa dos pobres, da construção das redes de respeito e de fraternidade”, ressalta. Carta Encíclica é uma publicação escrita pelo Papa, dirigida aos bispos e fiéis do mundo católico, sobre um determinado assunto que deseja refletir e aprofundar.

A repercussão ao texto foi imediata não apenas na Igreja Católica, mas também em organismos internacionais, associações, especialistas e simpatizantes do assunto. Talvez pelo ineditismo – é a primeira vez que um Papa aborda o tema da ecologia integral (que vai além da ambiental) de forma tão coerente e comple-

ta – e, também, pelo fato de que elabora um documento a partir de um novo paradigma ecológico, iniciativa que, de acordo com o teólogo Leonardo Boff, nenhum documento oficial da ONU fez até hoje. Em seu blog, Boff comenta: “fundamental é seu discurso com os dados mais seguros das ciências da vida e da Terra. Lê

O QUE, AFINAL, É ECOLOGIA INTEGRAL? A ecologia integral é um conceito amplo, que nos convida a enxergar o planeta com outros olhos – os olhos da unidade e corresponsabilidade. O conceito data dos anos 1960, a partir da observação do planeta Terra visto como um todo, e ganha contornos na voz de estudiosos que nos convidam a perceber que todas as coisas estão interligadas: o ser humano, a sociedade e o planeta. O filósofo francês Felix Guattari foi um dos percussores desse pensamento amplo sobre a relação do homem com o meio ambiente. Para ele, a ecologia integral é o conjunto de três ecologias – a pessoal, que diz respeito à saúde física, emocional e espiritual do ser humano; a social, que busca a integração com a sociedade de forma justa, cidadã, simples, não violenta e multidisciplinar; e a ambiental, com vistas à integração do ser humano com a natureza através de preceitos de sustentabilidade e preservação. 3


ESPECIAL os dados afetivamente (com a inteligência sensível ou cordial), pois discerne que por detrás deles se escondem dramas humanos e muito sofrimento também por parte da mãe Terra”. Ao mesmo tempo em que traz o assunto à tona e provoca o alerta embasado em dados que chocam, o Pontífice mostra esperança através de soluções viáveis. Para isso, no entanto, é preciso compreender alguns aspectos que envolvem o tema.

ECOLOGIA INTEGRAL: O QUE TEMOS A VER COM ISSO? A preservação do planeta de forma integral e todos os aspectos que abrangem a prática no seu dia a dia, é papel de todos. Nós, maristas, educadores por essência, somos chamados ao despertar da consciência de que somos, todos, responsáveis pelo cuidado com a nossa casa comum. São inúmeras as iniciativas que aparecem nos empreendimentos da Rede Marista, desde os Colégios e Unidades Sociais, passando pela Universidade, pelo Hospital São Lucas, Fraternidades e espaços de missão. Alguns deles serão conhecidos nesta edição da Nós em Rede. Sendo a educação uma das principais formas de realizar nossa missão, começa na infância o cuidado em incluir os princípios da ecologia integral no dia a

dia de nossos estudantes e educandos. Das séries iniciais, com as Diretrizes da Educação Infantil; passando pela formação continuada e integrada aos conteúdos nucleares, no Ensino Médio; até o Ensino Superior, com iniciativas como o Pró-Mata; a ecologia integral é uma constante na Rede Marista. “De uma forma ou de outra, esses conceitos estão presentes em toda e qualquer atividade educacional”, afirma o professor do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS, Pedro Maria de Abreu Ferreira.

Sensibilização que vem da infância Desde os primeiros anos da vida escolar, as crianças são estimuladas a uma convivência consciente com o meio ambiente. Para orientar práticas e iniciativas dessa natureza, os Colégios

VOCÊ SABIA? O cuidado com a Casa comum norteará todas as atividades da Campanha da Fraternidade 2016. De caráter ecumênico, reunirá outras igrejas cristãs além da Católica, sob coordenação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), composto pela Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia e Igreja Presbiteriana Unida. O tema será Casa comum, nossa responsabilidade, e o lema bíblico apoia-se na passagem de Amós (5,24) que diz: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”. Nesse sentido, a campanha quer chamar atenção para o saneamento básico no Brasil e sua importância para garantir desenvolvimento, saúde integral e qualidade de vida para todos.

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da Rede lançaram, no início de 2015, um documento que norteia o projeto educativo e reúne as Diretrizes da Educação Infantil. Com o documento, as práticas foram normatizadas, as boas práticas relatadas e as iniciativas inovadoras estimuladas. “O conteúdo foi construído a partir não apenas dos nossos exemplos, mas também de visitas feitas aos lugares que são referência em diversos lugares do mundo. O livro propõe uma formação integral com consciência ecológica, em que o estudante entende o seu lugar no mundo”, explica o gerente educacional dos Colégios da Rede Marista, Irmão Manuir Mentges. Por meio da valorização do simples, do contato com a natureza e do protagonismo infantil, as crianças são estimuladas ao aprendizado em ambientes lúdicos. A simplicidade – de materiais, de atividades e de espaços – é um dos preceitos do documento. “Os estudantes têm contato com o que chamamos de territórios de aprendizagem, ambientes preparados para promover a interação com o simples, os elementos mais básicos da natureza, como água, barro, luz, madeira, folhas”, explica a supervisora pedagógica da Educação Infantil, Loide Pereira Trois. Por meio de campos sensoriais (tato, visão, olfato, fala), as crianças são estimuladas


“Se tudo está relacionado, também o estado de saúde das instituições duma sociedade tem consequências no ambiente e na qualidade de vida humana: «toda a lesão da solidariedade e da amizade cívica provoca danos ambientais»” Papa Francisco citando Bento XVI

à exploração e descobertas, em perfeita harmonia com o mundo que os cerca. “Entendemos que a relação da criança com o meio ambiente é vital para qualquer fase da vida”, complementa. Ainda há muito a ser feito – e as práticas de ecologia integral ganham novos

contornos de forma constante. O que vemos acontecer de forma efetiva nos espaços de missão, é apenas a ponta de um grande iceberg que inclui a formação continuada de educadores, o estímulo à autonomia dos estudantes e educandos e um novo olhar para a sala de aula como

um espaço para o desenvolvimento de habilidades, muito além do conteúdo. Trilhar esse caminho passa pela adoção de um olhar aberto ao novo, à experimentação e ao ineditismo. Um bom caminho para se começar, é fazer alguns questionamentos a respeito do tema.

DO PAPEL PARA A REFLEXÃO, UMA PROPOSTA METODOLÓGICA O documento do Papa Francisco é atual, denso e relevante. Sua leitura não apenas informa, mas provoca questionamentos e reflexões. Por esse motivo, Irmão Antônio Cecchin, soma esforços na linha da catequese conscientizadora e propõe uma metodologia de estudo e reflexão a partir da Laudato Si’. A proposta de estudo ou formação parte de 12 perguntas a respeito da Encíclica. O Irmão indica, também, os parágrafos nos quais são encontrados indicativos para as questões propostas. Um exercício de aprendizagem que pode, ao mesmo tempo, ser individual e/ou coletivo, tanto para jovens como para adultos. Ao final, pode ser encerrado com um debate a partir do método ver-julgar-agir, em torno de uma ecologia integral. A seguir, confira as 12 questões para reflexão. 1. Por que o Papa defende que não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental? (debate pode ser feito tendo como base o n. 139) 2. O que significa ter uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza? (n. 139) 3. Por que o Papa acha importante compreendermos os ecossistemas e a nossa relação com eles? (n. 140) 4. Por que se torna atual a necessidade imperiosa do humanismo, que faz apelo aos distintos saberes? (n. 141) 5. O Papa fala de uma ecologia integral que combina as ecologias ambiental (n. 138-140), econômica (n. 141), social (n. 142) e cultural (n. 134). O que essa expressão significa? 6. Como os ambientes onde vivemos, os nossos locais de trabalho e o nosso bairro afetam a nossa qualidade de vida? (n. 147) 7. Como a pobreza, a superlotação, a falta de espaços abertos e as moradias precárias afetam os pobres? (n. 149) Por que estas questões são também ambientais? 8. O que o Papa quer dizer com a expressão bem comum? (n. 156) 9. Quais as consequências de enxergar a Terra como uma dádiva que recebemos livremente e que devemos compartilhar com os outros, uma dádiva que também pertence àqueles que virão depois de nós? (n. 159) 10. Com que finalidade passamos por este mundo? Para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lutamos? Que necessidade tem de nós esta Terra? (n. 160) 11. O que o Papa quer dizer com a frase: as previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia? (n. 161) 12. O que o Papa quer dizer quando afirma: uma deterioração ética e cultural, que acompanha a deterioraIrmão Antônio Cecchin ção ecológica? (n. 162) 5


ESPECIAL

Cuidar e respeitar o valor intrínseco de cada ser A esplêndida encíclica do Papa Francisco “sobre o cuidado da Casa Comum” insiste continuamente que cada ser, por menor que seja, possui valor intrínseco e tem algo a nos dizer, ademais de estar sempre interconectado com todos os demais seres. Por isso merece respeito e cuidado de nossa parte. Estes pensamentos nos remetem ao pensador que melhor no Ocidente pensou o ilimitado respeito a tudo o que existe e vive: o médico suíço Albert Schweitzer (1875-1965). Era oriundo da Alsácia. Desde cedo apresentou traços de genialidade. Tornou-se famoso exegeta bíblico com vasta obra especialmente sobre questões ligadas à possibilidade ou não de se fazer uma biografia científica de Jesus. Era também um exímio organista e concertista das obras de Bach e compositor. Foi grande a minha emoção quando visitei a sua casa e o órgão que tocava em Kaysersberg. Em consequência de seus estudos sobre a mensagem de Jesus, especialmente do Sermão da Montanha, com sua centralidade no pobre e no oprimido, resolveu abandonar tudo e estudar medicina. Em 1913 foi para a África como médico em Lambarene, no atual Gabun, exatamente para aquelas regiões que foram dominadas e exploradas furiosamente pelos colonizadores europeus. Diz explicitamente, numa carta, que “o que precisamos não é enviar para lá missionários que queiram converter os africanos, mas pessoas que se disponham a fazer para os pobres o que deve

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ser feito, caso o Sermão da Montanha e as palavras de Jesus possuam algum valor. Se o Cristianismo não realizar isso, perdeu seu sentido”. E continua: “depois de ter refletido muito, isso ficou claro para mim: minha vida não é nem a ciência nem a arte, mas tornar-me um simples ser humano que, no espírito de Jesus, faz alguma coisa, por pequena que seja” (A. Schweitzer, Wie wir überleben können, 1994 p. 25-26). Para Schweitzer, as éticas vigentes são incompletas porque tratam apenas dos comportamentos dos seres humanos face a outros seres humanos e esquecem de incluir todas as formas de vida que se nos apresentam. O Papa Francisco em sua encíclica faz uma rigorosa crítica a este antropocentrismo (nn. 115-121). O respeito que devemos à vida “engloba tudo o que significa amor, doação, compaixão, solidariedade e partilha” (op. cit. 53). Numa palavra: “a ética é a responsabilidade ilimitada por tudo que existe e vive” (Wie wir überleben, p. 52 e Was sollen wir tun p. 29). Como a nossa vida é vida com outras vidas, a ética do respeito à vida deverá ser sempre um con-viver e um con-sofrer (miterleben und miterleiden) com os outros. Numa formulação suscinta afirma: ”Tu deves viver convivendo e conservando a vida, este é o maior dos mandamentos na sua forma mais elementar” (Was sollen wir tun?.op. cit. p. 26). Daí derivam comportamentos de grande compaixão e cuidado. ‘O que fi-

zerdes a um desses mais pequenos foi a mim que o fizestes’. Esta palavra de Jesus não vale apenas para nós humanos, mas também para as mais pequenas das criaturas” (Was sollen wir tun, op.cit. p. 55). A ética do respeito e do cuidado de Albert Schweitzer une inteligência emocional, cordial e inteligência racional, num esforço de tornar a ética um caminho de salvaguarda de todas as coisas e de resgate do valor que elas possuem em si mesmas. O maior inimigo desta ética é o embotamento da sensibilidade, a inconsciência e a ignorância que fazem perder de vista o dom da existência e a excelência da vida em todas as suas formas. O ser humano é chamado a ser o guardião de cada ser vivo. Ao realizar esta missão, ele alcança o grau maior de sua humanidade. E se sentirá pertencendo a um Todo maior, superando a falta de enraizamento e a solidão dos filhos da modernidade. Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor Trecho de artigo extraído por indicação do autor do site leonardoboff.com Outros artigos podem ser encontrados em leonardoboff.wordpress.com


PASTORAL NAS UNIDADES

Jovens porto-alegrenses têm a oportunidade de aprender uma nova profissão calcada em princípios ecológicos

Ecologia integral: da teoria à prática Somente quando entendemos a relevância da ecologia integral, em todas as suas dimensões, é que percebemos a urgência em acolher o pedido do Papa Francisco para um olhar mais fraterno e ativo perante a destruição do planeta. E é nas Unidades Maristas que esse apelo ganha contornos de ação.

Um espaço privilegiado para práticas que se pautam na ecologia integral é o Polo Marista de Formação Tecnológica, localizado dentro do Complexo do Cesmar, região Nordeste de Porto Alegre. Desde 2006, o Polo já transformou a vida de mais de 1,2 mil adolescentes e jovens que vivem em um território marcado por graves problemas sociais como pobreza, falta de saneamento, educação precária e violência – além de registrar um dos menores índices de desenvolvimento humano da Capital. O Polo foi criado como um centro de recondicionamento de computadores – desde o princípio, portanto, as ativida-

des já tinham foco na preocupação com a destinação ideal do lixo eletrônico e a inclusão digital de jovens da região onde está inserido. Com o passar dos anos, o projeto foi ampliado com a criação de cursos na área tecnológica e oficinas de Meta Arte, que transformam peças de computadores, impressoras, telefones celular e outros equipamentos eletrônicos em objetos utilitários ou de decoração, sempre seguindo preceitos da sustentabilidade e do consumo consciente, e outras atividades que dão aos estudantes uma nova perspectiva de vida. O coordenador de projetos do Polo, Ricardo Brodt Leistner Jr., explica que

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PASTORAL NAS UNIDADES

“Quando pensamos em consumo, não nos referimos apenas ao poder de compra, mas também ao uso consciente dos recursos de que dispomos. Isso se reflete na relação familiar, alimentar, na destinação do lixo doméstico e, inclusive, no mundo do trabalho” Ricardo Leistner Jr., coordenador de Projetos do Polo Marista de Formação Tecnológica

pode até parecer estranho falar em consumo com pessoas de baixa renda, mas é estritamente necessário. “Quando pensamos em consumo, não nos referimos apenas ao poder de compra, mas também ao uso consciente dos recursos de que dispomos. Isso se reflete na rela-

ção familiar, alimentar, na destinação do lixo doméstico e, inclusive, no mundo do trabalho”, afirma. E é pensando, justamente, em um futuro melhor para esses estudantes que todas as atividades são tratadas como oportunidades para quebrar a

POLO MARISTA DE FORMAÇÃO TECNOLÓGICA • O Polo atende, atualmente, 260 estudantes entre 14 e 24 anos, sendo 30 pessoas com algum tipo de deficiência. • O Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC), oferece cursos na área de hardware e software livre para jovens. • O projeto Alquimia, aproveita resíduos retirados de caça-níqueis para a montagem de telecentros. • A Meta Arte reaproveita materiais que não podem ser utilizados em computadores para artesanato e objetos utilitários • A Robótica Livre possibilita uma ferramenta para trabalhar eletrônica e mecânica com materiais alternativos • A Fábrica de Softwares aprofunda o conhecimento em diferentes linguagens, como PHP, HTML, CSS e Javascript • O projeto Redes Livres, que distribui sinal wireless para a região • A Rádio Conexão Livre, uma plataforma web criada por educandos das oficinas dos cursos • O Projeto Recondicionar, é responsável pela instalação de Ecopontos em diversos colégios e unidades sociais da Rede Marista • O HardwareTec promove a pesquisa sobre materiais eletrônicos antigos e atuais • A Incubatec funciona como uma incubadora de projetos sociais • O Capacitando para a Vida e as Tecnologias oportuniza qualificação para pessoas com deficiência • O projeto Jovem Aprendiz, direciona educandos para o mercado de trabalho, especialmente na Rede Marista • O Telecentro Timbaúva disponibiliza 20 computadores para uso da população do bairro • O Trabalho Educativo, em parceria com a Fundação de Assistência Social e Cidadania, para jovens em situação de vulnerabilidade e risco social.

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lógica de perpetuidade da falta de perspectiva. “Muitos não acreditam que possam sair daquela situação de pobreza, não se enxergam com um futuro melhor ou nem sequer se enxergam fazendo parte de algum futuro. Nosso esforço é mostrar para aquele jovem que ele pode, sim, ter um futuro com esperança e, especialmente, que ele pode fazer diferença naquele ambiente em que cresceu”, diz Leistner. O coordenador conta que a transformação social ocorrida na região, desde a criação do Polo, em 2006, é visível. “É difícil de mensurar a mudança de mentalidade, a autoestima dos jovens. Mas, para se ter uma ideia, dos 29 funcionários que temos hoje, no Polo, 11 são ex-educandos. Eles são exemplo para os que estão ingressando – de que é possível um futuro melhor”, conta. Para a educanda Ana Daniela Freitas Dalmolin, de 18 anos, a participação nas atividades do Polo representa uma nova perspectiva de vida. Há três anos, ela ingressou em um curso de Software, seguiu como voluntária em um projeto de robótica e na Incubatec. Recentemente, começou o curso de Administração e encontrou sua vocação. O objetivo, agora, é cursar uma faculdade na área e prestar concurso para ingressar na Marinha. “O Polo já é como se fosse a minha casa, lá eu me desenvolvo cada vez mais para ser uma profissional exemplar”, diz, orgulhosa.


Um espaço para se viver a natureza Distante 160 quilômetros de Porto Alegre, está um verdadeiro oásis a serviço da pesquisa e da educação e, sobretudo, de contato de forma harmoniosa com a natureza. O Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza – Pró-Mata, é uma área de 3 mil hectares no interior de São Francisco de Paula, recoberta por florestas primárias e secundárias, além de pequenos trechos de campos nativos e preservados. O espaço foi criado pela PUCRS em 1996, em parceria com a Universidade de Tübingen, na Alemanha, e com a empresa Stihl, com o objetivo de apoiar e promover a conservação da natureza, a geração e divulgação do conhecimento científico e o desenvolvimento sustentável. Pertencente ao Instituto do Meio Ambiente (IMA) da PUCRS, nesses quase 20 anos de existência, teve suas atividades norteadas pelo tripé preservação-pesquisa-ensino. Por isso, não apenas a dimensão da área impressiona, mas, também, os números que ela envolve: mais de 1,5 mil estudantes já passaram pelo Pró-Mata, além de 300 pesquisadores de dez países, que tiveram contato com as mais de 600 plantas listadas e mais de 215 espécies de aves, e tantos outros animais. A estrutura disponível na área contempla salas de aula, salas equipadas para a preparação, análise e conservação de amostras, estradas e trilhas, mirantes de interesse científico e estrutura de hospedagem para grupos no prédio sede e em locais avançados, na mata. O coordenador do Pró-Mata, professor Pedro Maria de Abreu Ferreira, explica que o espaço abrange diversos níveis de ensino. Na Educação Superior, é procurado especialmente para aulas de campo, na

Estudantes do Colégio Marista Champagnat visitaram o espaço em 2015

área de biociência. Nos níveis Fundamental e Médio, recebe turmas para a educação ambiental por meio da imersão em espaços que, normalmente, estudantes não têm proximidade. “Estar em sala de aula ou estar em meio à natureza é completamente diferente para o aprendizado do aluno. Não é nem comparável, pois nas escolas eles veem fotos, aqui, podem tocar, interagir. Os próprios alunos relatam isso”, comenta.

O projeto Caminhos do Saber, realizado com estudantes do 3º ano do Ensino Médio de diversas Colégios da Rede Marista, também prevê visita ao Pró-Mata. Ferreira explica que, durante a imersão, é realizada uma sensibilização ambiental atrelada à escolha profissional. “Afinal, entendemos que todas as profissões têm algum vínculo com o meio ambiente”, diz, alinhado aos preceitos da ecologia integral.

OBJETIVOS DO PRÓ-MATA: • • • • • • • • •

manter a diversidade biológica; proteger as espécies ameaçadas de extinção; preservar e restaurar a diversidade de ecossistemas naturais; proteger paisagens naturais ou pouco alteradas, de beleza cênica notável; manejar os recursos da flora e da fauna; incentivar atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento de natureza ambiental, sob todas as suas formas; incentivar o uso sustentável dos recursos naturais; estimular o desenvolvimento regional integrado, com base nas práticas de conservação; favorecer condições para a educação ambiental e recreação em contato com a natureza.

SAIBA MAIS: O Pró-Mata está aberto para receber grupos escolares, mediante reserva. O contato pode ser feito diretamente no IMA, no prédio 5 da PUCRS (Avenida Ipiranga, 6681). O telefone é (51) 3320 3640 e o e-mail ima@pucrs.br

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MISSÃO

Promoção integral

da vida na Região Amazônica Seja no olhar atento às necessidades dos outros, na educação em harmonia com o meio ambiente ou evangelizando em contextos de dificuldades, a ecologia integral caminha, de certa forma, lado a lado com a missão marista A partir desses pressupostos, em 2014, bispos, sacerdotes, missionários e missionárias de congregações que atuam na região amazônica uniram forças para a criação da Rede Eclesial Panamazônica (Repam). O objetivo principal da organização é encontrar modalidades para gerir os recursos naturais amazônicos, favorecer o desenvolvimento econômica da região e promover uma gestão inclusiva e democrática, preservando a dignidade humana e os recursos naturais. As metas são tão grandes quanto a região, que abrange em torno de 7

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milhões de quilômetros quadrados de selva, que inclui trechos de nove países (Bolívia, Peru, Equador Colômbia, Venezuela e Brasil, além das três Guianas – Guiana Francesa, Guiana e Suriname). “A rede tem o interesse de coordenar todos os esforços da Igreja Católica na Amazônia, entendendo a região não como fragmentos de países, mas como um bioma de muitas realidades e de pluralidade de vida”, explica o Irmão João Gutemberg, representante do Instituto Marista na Repam. Com o lema Panamazônia, fonte de vida no coração da Igreja, o grupo quer

ressaltar a imensa riqueza de recursos naturais e a pluralidade sociocultural das dezenas de comunidades nativas e urbanas que integram a região. “Pregamos a integração da vida humana com a vida do planeta, e não a subordinação de uma em detrimento da outra”, afirma o Irmão. A Repam é coordenada pelos principais organismos da Igreja Católica na América Latina. A ideia é que a atuação tenha forte incidência na Sociedade Civil e outros parceiros, como Conselhos das Nações Unidas e Fóruns alternativos, entre outros. A própria estrutura administrativa da Rede tem, também, o caráter


comunitário – cada país é responsável por um âmbito da organização.

Nesse contexto, existem vários projetos de congregações que pensam a Amazônia em seu conjunto. Entre eles está o Projeto Marista Panamazônico, desenvolvido pelo Instituto Marista, que prevê, entre outras ações: • A criação da Comunidade Marista Internacional de Tabatinga, prevista para 2016, na fronteira de três países: Peru, Colômbia e Brasil. Inserida em um território de forte presença indígena, tem a missão de desenvolver atividades sociopastorais ligadas às questões ambientais. • Atuação de Irmãos para formação da consciência amazônica, por meio de cursos de extensão universitária realizados no contexto da Amazônia Brasileira.

Novos horizontes para a atuação marista na Amazônia Em dezembro, a Rede Marista reconfigura seu território de missão passando a abranger, oficialmente, além da atuação marista no Rio Grande do Sul e Distrito Federal, também a Região Amazônica. Os Irmãos que atuam nesse espaço enxergam o momento como de grandes possibilidades. “O mundo está co-

nectado. Os problemas climáticos no Sul têm incidência aqui e vice-versa – as nuvens viajam muito, e a realidade da natureza não tem cercas, não tem limites”, contextualiza Irmão João. Por isso mesmo, afirma que é o momento de ampliar as perspectivas. “O Papa diz que o todo é mais importante que as partes. Prega uma visão ampla – não como um mal necessário, mas como um dom”, diz, otimista.

“Nossa casa comum tem um cômodo chamado Amazônia. Os Maristas são inquilinos há 50 anos. Cabe-nos perguntar como temos cuidado deste cantinho e da casa como um todo em todo esse tempo. Ser marista e estar nesse cenário é ter o compromisso de zelar profeticamente pelo bioma, responsável, em grande parte, pela vida do planeta. Requer uma cultura própria, um modo de ser que responda vitalmente por esse cenário de vida. É um desafio, uma aventura e um compromisso evangélico. Tenho procurado em todo o tempo ser amigo de toda a vida que se manifesta na Amazônia.” Irmão Sebastião Ferrarini

Irmão João Gutemberg

“Colaborar com a Rede Eclesial Panamazônica é algo semelhante ao dinamismo da natureza amazônica com suas tão variadas formas de vida. O encontro com tantas pessoas e Instituições que procuram unir capacidades e potencialidades em favor da Amazônia me faz lembrar da vivencia harmoniosa, complementária e desafiadora, como também prazerosa e bela, dos muitos integrantes da natureza. Tudo e todos precisam dos demais para que haja o equilíbrio ecossistêmico. Mas nessa natureza também existem os perigos, as dificuldades, as agressões, os sofrimentos. E é por isso que a Repam está ali, como proposta de luta, de consciência, de mística e de profetismo em favor da vida na Amazônia e no Planeta: todas as formas de vida! E isso me dá também mais vontade de viver e de tornar minha vida, o tanto quanto possível, mais significativa.” 11


Sim ao respeito à natureza! Preservar o planeta é um sonho estruturante da mística da PJM

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Não podemos ficar alheios, fechados, alienados, enclausurados enquanto é perceptível que vivemos tempos difíceis. Nossa Casa Comum, nosso planeta, vive a maior ameaça à sua existência em todos os tempos. Nunca se depredou tanto. Nunca os recursos naturais foram tão escassos. E o pior de tudo isso, é que os recursos estão sendo utilizados não para o desenvolvimento dos povos, mas, em sua grande maioria, para o enriquecimento daqueles que detêm os meios de produção. O modelo de desenvolvimento tem gerado morte e destruição, tanto dos seres humanos

como do meio ambiente. Somos poeira estelar, como diz Lucas Silveira, da banda Fresno, fazemos parte do todo, coabitando o mesmo universo. O que eu tenho a ver com tudo isso? O que a PJM tem a ver com isso? A luta pela preservação da vida do planeta diz respeito a todos os seres humanos que nele habitam. De fato, o que está em jogo é a defesa da vida. Todavia, como tornar essa defesa um grito coletivo em um mundo marcado pelo individualismo, pelos ideais avassaladores do consumo? Na defesa da vida, a PJM ajuda a construir a Civilização do Amor.


Mística ecológica! A PJM convoca a cultivar uma mística ecológica, uma mística de valorização da vida em todas as suas formas. Pois, segundo Karl Rahner, “no século XXI ou seremos místicos ou não seremos nada”. Eis o desafio: escolher a vida! Reafirmar os valores da vida para a edificação de nosso planeta como um todo, é acreditar e nos atrevermos a dizer sim ao respeito à natureza, pois somos convocados a viver o amor a toda a natureza e a reconhecer a sua presença na criação, acolhendo-a com reverência e respeito, não como objeto de dominação. Muitos grupos, muitos adolescentes e jovens perguntam-se com frequência por que, constantemente, temos que reafirmar este sim do cuidado, este sim do respeito, este compromisso com o outro, com nossa Casa Comum? Isto se dá porque nestes tempos difíceis, esta crise criada não é apenas ecológica, mas sim, civilizacional, como diz Leonardo Boff. Suas principais características são: a produção de pobreza e miséria, de um lado, e a riqueza e acumulação, de outro. Nesse sentido, é necessária uma consciência e uma prática ecológica que sejam capazes de incluir o ser humano como parte integrante da natureza, em interação e interdependência, e não apenas como dominador e manipulador. Segundo Boff, existiriam quatro formas de realização da ecologia: a. Ecologia ambiental – que se preocupa com o meio ambiente, para que não sofra excessiva desfigura-

ção, visando à qualidade de vida, à preservação das espécies em extinção e à permanente renovação do equilíbrio dinâmico. b. Ecologia social – que insere o ser humano e a sociedade dentro da natureza como partes diferenciadas dela. Preocupa-se não apenas com o embelezamento das cidades, mas também prioriza o saneamento básico, uma boa rede escolar e um serviço de saúde decente. Defende o desenvolvimento sustentável. c. Ecologia mental – a que sustenta que as causas do déficit da Terra não se encontram apenas no tipo de sociedade que atualmente temos, mas também no tipo de mentalidade que vigora. d. Ecologia integral – segundo esta forma de ecologia, Terra e seres humanos emergem como uma única entidade. O ser humano é a própria terra enquanto sente, pensa, ama, chora e venera. Há que se cuidar da vida! Há que se cuidar do mundo!

Para aprofundamento: Mística ecológica e juventude / UMBRASIL. São Paulo: FTD, 2007 (Coleção cadernos da PJM). BOFF, Leonardo. As quatro ecologias: Ambiental, política e social, mental e integral. Ed. Mar de ideias. São Paulo, 2012. Músicas: Sal da Terra, Beto Guedes; Herdeiros do futuro, Toquinho; Coração de estudante, Milton Nascimento. Encíclica Laudato Si’

O grande desafio ecológico na atualidade é provocar uma reaproximação entre as pessoas e a natureza. De fato, precisamos tomar consciência de que destruindo a natureza estamos destruindo o nosso espaço vital. O Papa Francisco, na encíclica Laudato Si’, nos diz que a Carta da Terra convida a todos e todas a começar de novo deixando para trás uma etapa de autodestruição, mas ainda não desenvolvemos uma consciência universal que torne isso possível. Por isso, atreve-se a propor de novo aquele considerável desafio: “Como nunca antes na História, o destino comum obriga-nos a procurar um novo início (...). Que o nosso seja um tempo que se recorde pelo despertar duma nova reverência em face da vida, pela firme resolução de alcançar a sustentabilidade, pela intensificação da luta em prol da justiça e da paz e pela jubilosa celebração da vida”. Carta da Terra, Haia (29 de junho de 2000).

Renova-se a esperança, nova aurora a cada dia! Fazer deste planeta nossa Casa Comum, permite-nos reconhecer as relações que estabelecemos com os outros. Somos seres de relações e precisamos cuidar deste ambiente comum que habitamos e convivemos. Por isso que enquanto PJM acreditamos que juntos somos mais!!! Somos capazes de contribuir para a convivência numa sociedade mais justa, mais solidária, mais fraterna, onde acreditamos que o amor transforma. 13


DIRETRIZES

Quando o cachimbo cai Precisamos mergulhar fundo nos problemas ambientais Há um curta-metragem no youtube chamado “Casa de pequenos cubinhos” que pode servir como metáfora para entender o atual momento em relação às mudanças climáticas. O curta apresenta um homem vivendo sozinho em uma casa rodeada de água que nunca para de subir de nível. A cada vez que a água atinge os móveis, ele inicia uma outra construção sobre a casa que habitava até então. Fez isso pelo menos umas dez vezes. Em um determinado momento, enquanto pescava, o seu cachimbo caiu e isso lhe motivou a mergulhar. Desceu até o primeiro andar. Ao passar em cada um dos andares, fez memória de fatos e pessoas de sua história. Depois desse retorno às origens volta para a casa, no topo de todas, em um espaço bastante reduzido. Serve duas taças de vinho e brinda solitariamente, talvez, esperando pela próxima enchente. E o filme acaba com o tilintar das taças. Este homem realizava ações paliativas. O que ele fazia não impactava no nível da água e não solucionava radicalmente o problema. O fato é que a cada elevação da água ele se obrigava a diminuir sua casa a ponto de quase ficar sem espaço. Para uma ação que fosse na origem do problema, seria necessária uma mudança de mentalidade e perguntar-se sobre o porquê daquilo tudo. Isso não aconteceu. Quando mergulhou nas profundezas para resgatar seu cachimbo, encontrou-se com um contexto histórico de várias outras casas abandonadas. Essas casas ti-

veram donos, provavelmente, parecidos com ele. Mas não vê ninguém. Onde estão? Foram mortos? Fugiram para outros lugares? Para onde, se o problema parecia ser de grandes proporções? De um modo ou de outro estamos como este homem do curta-metragem, criando soluções paliativas e pouco articulando-nos para ir até a raiz dos problemas que estão desintegrando a ecologia. Cada vez mais parece que estamos com menos tempo, menos espaço e menos vida. Sem contar que as consequências da globalização da economia, baseada no capitalismo desenfreado, atinge com muito mais rigor as pessoas que estão na extrema pobreza. Há que se fazer uma busca cotidiana pela “construção de uma nova consciência e mentalidade, capazes de compreender, dialogar e relacionar-se com sistemas complexos e abertos, como são os sistemas vivos, os sistemas sociais e os sistemas culturais” sob pena de nos ocuparmos tão somente em realizar ações paliativas. O retorno àquilo que é a essência do ser humano na sua teia de relações é fundamental, pois a realidade em torno da temática em questão nos leva a pensar que a vida em plenitude (Jo 10, 10) mais do que nunca está ameaçada. Portanto a ecologia, na perspectiva aqui tratada, é um tema fundamental na formação continuada de evangelizadores. Conhecer, aprofundar, debater e inserir-se nessa realidade é indispensável para exercer a missão diante da proposta de Deus à humani-

dade revelada por Jesus de Nazaré. Foi para contribuir com esta proposta que Champagnat despertou sua criatividade e integrou sua primeira construção a uma rocha em L’Hermitage, talhando-a com a consciência de que aquele fundamento, mesmo sendo rocha, seria muito frágil caso não fosse o Senhor quem a estivesse sustentando (cf. Sl 127). Hoje, a mobilização de forças para organizar e engajar-se em lutas a favor da justiça climática é um imperativo como garantia de vida na comunidade planetária, porque “pelo menos 90% dos fenômenos da mudança climática são resultados das ações humanas” e são elas que precisam ser mudadas radicalmente. Então, como nos faz refletir Lutzemberguer, “ou mudamos nossa filosofia de vida ou de fato extinguiremos toda a vida do planeta”. José Jair Ribeiro, Karen Theline Cardoso dos Santos da Silva, Marcos José Broc e Vera Lucia Ribeiro.

1 Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=jUVhV1px6js 2 UMBRASIL. Projeto Educativo do Brasil Marista: nosso jeito de conceber a Educação Básica. Brasília: FTD, 2010. p. 55. 3 PEREIRA, Pilato. Justiça e paz com a criação: a ecologia em interação com justiça e paz na experiência prática e reflexiva do Conselho Mundial de Igrejas. PUCRS – teses. Porto Alegre, 2012. 14


EM REDE

Confira ações que marcaram o segundo semestre nas Unidades Maristas:

Depois de um processo de reestruturação, o Programa de Voluntariado do Hospital São Lucas da PUCRS (Porto Alegre/RS), realizou a recepção de 47 novos voluntários. Eles fazem parte de 12 projetos que são desenvolvidos nas mais diversas unidades do hospital, trazendo mensagens e gestos de solidariedade, esperança, apoio humano e material, alegria e carinho aos pacientes.

O Centro Social Marista Mário Quintana (Porto Alegre/RS) realizou, em agosto, a Semana Vocacional Marista. No período, os educandos foram motivados a refletir e compreender que a vocação é um chamado de Deus a refletir sobre as vocações, as escolhas pessoais e seus projetos de vida.

Integrantes da PJM do Colégio Marista Santa Maria (Santa Maria/RS) doaram seu tempo e alegria, no dia 3 de outubro, sendo padrinhos da festa de abertura do mês da criança na Escola Municipal de Educação Infantil Edy Maya Bertóia.

A Pastoral Escolar, Pastoral Juvenil Marista e Grêmio Estudantil do Colégio Marista Aparecida (Bento Gonçalves/RS), estão unidos em prol da campanha Ler, um direito de todos. A campanha tem o objetivo de arrecadar livros para serem doados à Escola Carlos Paese, situada no interior do município de Farroupilha, que perdeu todo seu acervo durante um incêndio ocorrido em setembro.

Educandos, familiares e amigos do Centro Social Marista Boa Esperança (Santa Cruz do Sul/RS) participaram, em agosto, da 1ª Caminhada da Família em Prol da Paz e da Vida. A atividade foi realizada no Bairro Santa Vitória, onde localiza-se o Centro Social, e teve o objetivo de alertar para o respeito à vida e à diversidade, a preservação do planeta, a solidariedade, o combate à violência e o fortalecimento dos vínculos sociais e comunitários.

O grupo de teatro do Centro Social Marista Santa Isabel (Porto Alegre/RS) apresentou o esquete Sonhos tristes numa noite escura, durante o 8º Congresso Marista de Educadores Sociais, realizado em 3 de setembro, na PUCRS. A peça aborda sonhos, medos, solidão e amor em um paralelo entre o real e o imaginário nas relações. 15


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