Texto de apoio 4 - Experienciar a mística

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Experienciar

a

a c i t s í M

da PJM ados no blog lic b u p s o xt e te Coletâneas d


Rede Marista (RS, DF, Amazônia) Pastoral Juvenil Marista

Experienciar a

Mística Coletâneas de textos publicados no blog da PJM

2016


o ã ç a t n e Apres Segundo o livro Caminho da educação e amadurecimento na fé, “mística é a alma da espiritualidade. Espiritual é a pessoa que vive com o Espírito, dom do Deus da Vida, que tem a vida dentro dela e a exterioriza. É pessoa repleta de esperança, de solidariedade, de sentido, de amor, de paz e justiça. Vida... Mística é o resultado da vivência e integração de todos esses elementos. Não é somente algo racional, mas antes algo que alegra o coração sem deixar de ter, também, a sua lógica. É vibrante, carregada de sentido. Assim como se alimenta na fé, na esperança e no amor aos/as outros/as, ela se torna uma distribuidora de amor, de esperança e de fé, pois a mística favorece em nós estas sínteses essenciais: de corpo e afeto, sonho e compromisso, ética e estética, o ‘eu’ e o ‘outro’. Uma pessoa tem mística quando é vaso cheio que transborda o tesouro que carrega em si” (p. 25). Embora seja dom, a mística precisa ser buscada, digerida, estudada, celebrada. Tendo consciência de que a mística precisa ser buscada, comida, estudada, celebrada e que é um princípio fundamental da vivência grupal, a Equipe Provincial da PJM publicou, entre os anos de 2013-2015, uma série de textos no Blog da PJM da Rede Marista, sobre a vivência da mística. Esses textos


foram destinados aos grupos da PJM com a finalidade de alimentar e cultivar em cada Participante e, ao mesmo tempo, no grupo, a dimensão espírito que habita em cada adolescente, jovem e Assessor/a. Olhando para os textos que foram produzidos, achamos por bem compilálos e publicá-los novamente como Texto de Apoio 4: experienciar a mística Coletânea de textos publicados no blog da PJM, justamente porque reforçam o humano-divino que acontece em nós no caminho do seguimento de Jesus de Nazaré e na construção da Civilização do Amor. A conclusão da II Assembleia Internacional da Missão Marista, em Nairóbi, em 2014, nos pedia: “nosso sonho é que, Maristas de Champagnat, sejamos reconhecidos como MÍSTICOS”. Que a mística do seguimento de Jesus de Nazaré, segundo o jeito marista, possa arder no coração da PJM e impulsionar novos horizontes para a vida plena das adolescências e juventudes.

José Jair Ribeiro, Coordenador da PJM

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umário

S

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Nosso horizonte

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Uma PJM construtora da Civilização do Amor

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Civilização do amor: Nosso horizonte

14 Valores 15 Sensibilidade 18

Acolhida, a forma conta, mas não é tudo

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Amizade e partilha

38 Protagonismo Juvenil 39

Participação juvenil

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Cultura da Solidariedade

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Quem são eles? Quem eles pensam que são? Uma reflexão sobre a participação juvenil no momento político brasileiro

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Estatuto da Juventude: horizontes e desafios

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3ª Conferência Nacional de Juventude: as várias formas de mudar o Brasil

58 Acompanhamento 59

A beleza de ser um eterno aprendiz

63 Acompanhar é 67 A importância do acompanhamento ao participante e ao grupo

71 Músicas 24 Champagnat

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O mesmo rosto

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Um sonho para todas as dioceses do mundo

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Juventude missionária, inquieta e solidária

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Champagnat, amigo das juventudes

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Montagnes de hoje

79 Mariologia

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Ele sonhou, acreditou, realizou!

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Maria, mulher que escolhe e acolhe


Nosso

e t n o z i Hor


Uma PJM construtora da Civilização do Amor José Jair Ribeiro (Zeca) Publicado no dia 15/08/2013

Pode-se entender a civilização como um conjunto de características e valores próprios de uma cultura e de um povo. Diante da “crise da civilização” do mundo atual, a Civilização do Amor se apresenta como uma proposta. É aquele conjunto de condições morais, civis e econômicas que permite a vida humana uma condição melhor de existência, uma racionalidade plena e um feliz destino eterno: dignidade, libertação, pleno desenvolvimento de toda pessoa e da pessoa toda, nova cultura da vida e da solidariedade, verdade, justiça e liberdade planificadas pelo amor. A Civilização do Amor é um serviço de vida e uma opção incondicional pelo amor. É um grande ideal que Tu, Pai bondoso e Mãe de Ternura, nos deixaste: “amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado” (Jo 15,12). A Civilização do Amor nasce de tua Boa Nova. Inspira-se em tua Palavra, em tua vida e em tua entrega completa. Supõe acreditar que o estilo de vida inaugurado por Jesus de Nazaré e proclamado nas Bem-Aventuranças é o mais humano e o mais atual. Supõe acreditar que viver o estilo de Jesus, com seus critérios e valores, originará mudanças profundas na consciência coletiva dos povos da América

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Latina e Caribe e fará surgir novas e mais justas estruturas sociais. É um esforço sério para viver o Evangelho não só no âmbito pessoal, mas também na realidade social, oferecendo uma alternativa de vida diante dos sinais de morte. A Civilização do Amor é uma visão de mundo que surge do Evangelho, “se inspira na Palavra, na vida e na entrega plena de Jesus”. A civilização do amor é entrega e serviço. Queremos reafirmar os valores da vida para a edificação de nosso planeta como um todo, acreditando e atrevendo-se a reafirmar os critérios evangélicos fundamentados sobre as sementes escondidas em todas as juventudes. Portanto, a civilização do amor é uma reafirmação de valores. Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim

à vida ao amor como vocação humana à solidariedade à liberdade à verdade e ao diálogo à participação ao esforço permanente pela paz ao respeito pelas culturas ao respeito pela natureza à integração da América Latina e Caribe 8


Cremos que esse outro mundo que sonhamos, cheio de amor, é critério inspirador decisivo e de entrega total, um Projeto de Vida, um compromisso que requer organização, que se reveste de utopia e caminha na realidade como tarefa diária, em uma esperança permanente. O teu grupo é sinal da Civilização do Amor? Autoria do salmo: Nathália Jung Crédito da foto: Jaquelini Alves Debastiani

Fonte: Civilização do Amor: projeto e missão. Orientações para uma Pastoral Juvenil Latinoamericana. Brasília: Edições CNBB, 2013.

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Civilização do Amor, nosso horizonte José Jair Ribeiro (Zeca) Publicado no dia 07/10/2014

O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o que as nossas mãos apalparam (...). Nós vos anunciamos” (1Jo 1,1).

Na evangelização das adolescências e juventudes do continente LatinoAmericano e Caribenho, de muitas formas e jeitos, é usada a expressão “Civilização do Amor”. Essa expressão foi utilizada pela primeira vez pelo Papa Paulo VI, em 1976, logo após a realização do Concílio Vaticano II que trouxe um novo olhar para a caminhada da Igreja Católica em todo o mundo. O apelo profético do Papa Paulo VI foi acolhido pela Pastoral Juvenil LatinoAmericana e Caribenha e assumido com coragem por aqueles que começaram esse caminho e agora é continuado, com ardor, pelas novas gerações, as quais, por sua vez, o transmitem às adolescências e juventudes do Continente. O desafio é construir o Reino do Amor na Pátria Grande.

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A Civilização do Amor acontece quando existe serviço à vida e opção incondicional pelo amor. É o grande ideal que Tu, Pai bondoso, nos deixaste: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,12). A Civilização do Amor surge da Tua BoaNotícia e se inspira na Tua Palavra, na Tua vida e na Tua entrega plena. Acreditamos que esse outro mundo que sonhamos, de amor pleno, é critério inspirador e entrega total; um Projeto de Vida, um compromisso que exige organização, que se veste de utopia e caminha na realidade como tarefa diária numa esperança permanente. Queremos aprender contigo, Mestre de Nazaré, que a Civilização do Amor não é só uma expressão bonita ou proposta ideológica, mas um conjunto de condições que permitem a vida humana ser plena e ter feliz destino.

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Que bom poder sonhar com um mundo assim, com cheiro de vida, de novidade e de juventude! E a PJM com esse projeto? “Civilização do Amor: projeto e missão dirigese a toda nossa Igreja Latino-Americana e Caribenha, que reconhece e valoriza a presença significativa de jovens de várias expressões: Pastoral Juvenil Geral, Pastorais Específicas de Juventude, Congregações Religiosas de carisma juvenil, Movimentos Eclesiais Juvenis, Novas Comunidades etc. O pluralismo de carismas e metodologias de trabalho pastoral com adolescentes e jovens, vivido na unidade, fortalece a ação evangelizadora e encontra nessa obra motivação e orientações” (Doc. Civilização do Amor, p. 10-11). O que a tua Unidade está fazendo para conhecer esse projeto e missão?

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#ficaadica Assista ao vídeo > Cúpula dos Povos - Mandinga para um Mundo Novo! E reze com o grupo: Cremos, Senhor! Nós cremos, firmemente, no novo céu e na nova terra. Cremos no Teu Filho, que inspira ternura e libertação. Cremos no Teu Espírito, que anima a Igreja que desejamos ajudar a construir. Cremos numa Igreja acolhedora e profética. Cremos que Maria nos ajudará a levantar “do pó os humildes” como ela mesma diz. Cremos firmemente que a juventude pode ser uma força dinamizadora no Continente, ante a diversidade de culturas. Acreditamos que ela é chamada a defender sua autenticidade e identidade, lutando contra os sinais de morte que afetam nossos povos. E pedimos, juntos e insistentemente, que a Civilização do Amor, real em seus sinais visíveis e invisíveis, seja realidade plena entre nós. Amém!

Fonte: Civilização do Amor: projeto e missão. Orientações para uma Pastoral Juvenil Latino-americana. Brasília: Edições CNBB, 2013.

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s e r o l Va 14


Sensibilidade Marcos José Broc Publicado no dia 20/08/2013

Pare. Respire conscientemente uma, duas, três vezes…

Por favor, leia-me (pede o texto) como se estivesse lendo uma poesia, arrisque um outro tom de voz no silêncio de sua leitura mental… pois assim talvez faça uma experiência de sensibilidade! “E Jesus Chorou” (Jo 11, 35). Qual foi a última vez que você chorou? O que foi que te levou a chorar? Há quem chore por qualquer coisa e há quem chora por poucas coisas. Mas quem chora por poucas coisas e não é insensível, quando chora, cada lágrima causa um furacão na alma, porque esse choro leva a mudanças e a não tolerar a indiferença, as tragédias e qualquer tipo de injustiça seja com quem for. As lágrimas que nascem de alguém que sente doer em si a dor dos outros, são lágrimas de olhos que não olham superficialmente, mas são atentos, desacostumados, sensibilizados… são olhos pedagógicos que catam na realidade da vida, em especial onde há urgência, uma oportunidade de fazer a diferença.

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O encontro de Champagnat com o jovem Montagne, símbolo da vida ameaçada, gerou uma avalanche de sentimentos em Marcelino (livro da Mística da PJM, nº 118) e devido a sua sensibilidade respeitou-se e aceitou a mobilização dos seus sentidos. Mobilizado definiu princípios e traduziu-os em atitudes gerando frutos até hoje. O que teria acontecido se Champagnat fosse uma pessoa indiferente ou tivesse o olhar acostumado quando visitou o jovem Montagne? O Papa Francisco disse em Lampedusa, sul da Itália, no dia 08 de julho de 2013, que “estamos em uma sociedade que esqueceu a experiência do chorar, do ‘padecer com’: a globalização da indiferença nos tirou a capacidade de chorar! Parece que nos habituamos ao sofrimento do outro, que não nos diz respeito, não nos interessa e não é tarefa nossa”.

• Que sentimentos nascem em mim a partir do jeito como olho? • Tenho coragem de respeitar-me e dar vazão a consciência quando meus sentimentos são mobilizados por algo injusto a ponto de chorar, mesmo que ás vezes seja de raiva? • Importa nos desacostumar para que a sensibilidade seja um valor vivenciado!

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Sugestão de referência Bíblica: Lc 8, 43-48.

Nova Santa Rita Crédito da foto: Jaquelini Alves Debastiani

Pôr do sol no assentamento Capela, em Nova

Fontes: Umbrasil. Caminho de educação e amadurecimento na fé: a mística da PJM. São Paulo: FTD, 2008; Papa Francisco. Carta de Lampedusa. 08 de julho de 2013.

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Acolhida A forma conta, mas não é tudo Marcos José Broc Publicado no dia 29/08/2014

Acolhida é mais que “formas” ou “maneiras” de tratamento entre as pessoas. A forma conta, mas não é tudo. Há tratamento muito cortês, mas pouco acolhedor. Em tempos de diversidade, acolher é muito necessário. É próprio da acolhida, acolher e não escolher. Acolhida não é a pura utilização de cortesia. A pessoa acolhida só com cortesia sai dizendo: “Muitas reverências, muitas palavras bonitas, mas não me deu bola, não me escutou”. Segue-se a isso a acolhida que se pensa estar fazendo com uma chuva de perguntas bisbilhoteiras e afobadas. É falta da virtude da paciência querer abranger em um só momento a vida inteira da pessoa. Em um primeiro encontro, aprendemos de Jesus, a Ver com olhos de solidariedade, de afeto e carinho. É da observação crítica que nasce atitude solidária capaz de ir ao “x” da questão e libertar a pessoa. Acolher implica não fundir-se, confundir-se ou perder-se diante do diferente. A acolhida potencializa a originalidade de cada sujeito. Se não fizer isso, não é acolhida, e sim cooptação. Não é uma boa prática de acolhida emitir imediatamente juízos de

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valor sobre o que se escuta. Dar, desde fora, os porquês das coisas que nos chegam não soluciona nada. Isso é ser pedagogo apressado. Acolher bem não é aconselhar sobre o que se deveria fazer. “Eu, no teu lugar...”, “O que tens que fazer...”, quase sem conhecer o/a outro/a, já marcamos os caminhos que a pessoa tem que percorrer. Jesus, usou palavras diretas, mas carregadas de força e ternura: “Tua fé te salvou”, igual a dizer: Deus colocou em teu interior uma força capaz de te ajudar a viver a existência com uma nova dignidade. Será que as palavras que pronunciamos levam à redescoberta do protagonismo ou criam dependência psicológica? Acolhida, portanto, é uma maneira de ser, uma atitude interior que a pessoa constrói pouco a pouco. Acolhida vai muito além da boa educação ao recepcionar uma pessoa saudando-a. Recepção é um dos elementos da acolhida. Acolhida é mais que um abraço ocasional ou um instante fragmentado de uma dinâmica ou técnica de integração num encontro. A pessoa acolhedora é aquela que tem no seu coração um lugar para o outro ininterruptamente. Quando isso acontece, experimenta-se libertação, reencontro com uma possível dignidade perdida e a integração à comunidade da vida.

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Sugestão de texto bíblico: Mc 10, 46-52

Papa Francisco, na Jornada das famílias, em 2013. Imagem acessada em: www.news.com.au

Fonte: Umbrasil. Caminho de educação e amadurecimento na fé: a mística da PJM. São Paulo: FTD, 2008, p. 48-51.

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Amizade e Partilha Ir. Jader Henz Publicado no dia 04/09/2014

Na caminhada de amadurecimento na educação da fé, o segundo passo é a Descoberta do Grupo. O/a adolescente e jovem após ter realizado algumas experiências iniciais e ter sido seduzido/a pelo grupo, começa a aprofundar o seu compromisso de estada e permanência, sentindo-se parte de um todo e não apenas como individuo isolado. Na medida em que essas vivências vão acontecendo, desperta-se maior interesse para assumir algum compromisso comunitário, sendo protagonista da sua vida e vendo no outro uma possibilidade de crescimento. A Mística da PJM apresenta como símbolo da segunda descoberta o “coração acolhedor”. Um coração que é fonte de amor inesgotável, que acolhe e compreende o outro independente de sua situação social, realidade de gênero ou crença religiosa. Jesus de Nazaré é para nós, adolescentes e jovens, exemplo perfeito de amor incondicional, de humano/divino que soube acolher a mulher adúltera, a Samaritana, os cobradores de impostos e todos que se aproximavam dele. A alteridade traz um aspecto essencial para a vivência da amizade e da partilha. Mas afinal, o que é alteridade? É ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença.

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Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem. Nesse quesito retornamos novamente para Jesus de Nazaré que, melhor do que ninguém enfatizou a radical dignidade de cada ser humano. Todos foram criados a imagem e semelhança de Deus. Todo ser humano, dentro da perspectiva judaica ou cristã, é dotado de dignidade pelo simples fato de ser vivo. Não só o ser humano, todo o Universo.

Coração acolhedor, simbologia da PJM

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Em uma sociedade marcada pelo egoísmo, pelos conflitos sociais e religiosos, o Pe. Champagnat foi outro exemplo de vivência do amor pleno, pautado em atos de partilha e de profunda amizade. Partilhando os seus dons, colocando-os a serviço da Igreja na Fundação do Instituto Marista, soube responder ao chamado que os/as Jovens Montagnes da época lhe faziam. Os ecos desse chamado ainda ressoam nos dias atuais, em cada obra Marista, em cada espaço de educação e evangelização que crianças, adolescentes e jovens frequentam. O coração do grupo começa a bater em harmonia na medida em que ele vai descobrindo o valor da amizade construída e da partilha realizada com o outros. Esses atos que são internos ao grupo, aos poucos começam a sair das estruturas e ultrapassam as fronteiras, indo ao encontro daqueles que mais necessitam. Para contribuir na reflexão do grupo: • De que forma estamos vivenciando os valores da amizade e da partilha? • É possível transformar esses valores humanos em ações concretas? De que maneira? Sugestão de música: Monte Castelo, Legião Urbana.

Fonte: Umbrasil. Caminho de educação e amadurecimento na fé: a mística da PJM. São Paulo: FTD, 2008, p. 65-81.

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t a n g a p m a Ch 24


Um sonho para todas as dioceses do mundo Ir. Rodinei Siveris Publicado no dia 10/09/2013

Sensibilizado pelas necessidades dos jovens de seu tempo, Marcelino sente a urgência de incluir no seu projeto de vida a educação cristã das juventudes. Dizia: “Não posso ver uma criança sem sentir o desejo de fazer-lhe compreender quanto Jesus Cristo a ama”. Esse encanto surge das suas experiências com Deus, por isso compartilha sua fé e carisma com entusiasmo, em prol das crianças, adolescentes e jovens, vivendo em seu no meio. Sente logo a urgente necessidade de preparar colaboradores/as, pois, a missão que se apresentava era grande. A resumia assim: “tornar Jesus Cristo conhecido e amado”. Com o passar do tempo e, apaixonado pelo Reino de Deus, mas também consciente das imensas carências das juventudes, inicialmente se aproxima de alguns adolescentes e jovens que se apresentaram com pouca cultura e, tornaos, apóstolos generosos, o que ajudou a transmitir a missão a várias dioceses no mundo. Esse processo se deu, porque tinha a convicção de que Deus acompanhava todos os seus passos e projetos e, sendo assim, colocou nele toda a esperança. “Se o Senhor não constrói a casa em vão trabalham seus construtores” (Sl 126).

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Sabemos que é necessário abertura para dialogar com as culturas juvenis, pois assim é possível fazer acontecer uma interação mais afetiva e efetiva, e os espaços para a socialização são fundamentais para a construção da identidade do grupo. É Jesus quem inspira essa relação/aproximação com adolescentes e jovens, o que exige o acolhimento de questões pessoais, das potencialidades e dos sonhos de cada qual. Fazendo acontecer assim a fraternidade e, ajudando cada qual a ser semeador de esperança.

“Salmo 126 – O preferido de Champagnat” “Se Javé não constrói a casa, em vão labutam os seus construtores. Se Javé não guarda a cidade, em vão vigiam os guardas. É inútil que vocês madruguem e se atrasem para deitar, para comer o pão com duros trabalhos: aos seus amigos, ele o dá enquanto dormem! A herança que Javé concede são os filhos, seu salário é o fruto do ventre: os filhos da juventude são flechas na mão de um guerreiro. Feliz o homem que enche sua aljava com elas: não será derrotado nas portas da cidade quando litigar com seus inimigos”.

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Estátua de Champagnat da Casa Marista da Juventude (Caju) Crédito da foto: Jaquelini Alves Debastiani

Fonte: Umbrasil. Caminho de educação e amadurecimento na fé: a mística da PJM. São Paulo: FTD, 2008.

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Champagnat, amigo das juventudes Ir. Rodinei Siveris Publicado no dia 05/06/2014

Hoje vivemos em uma era em que precisamos falar em “juventudes”, pois o termo remete a várias formas de as juventudes se expressarem, isto é, são diversos rostos e diversas realidades juvenis. Diante disso, é preciso compreender essa complexidade para poder melhor acompanhar e ajudar os/as adolescentes e jovens, na caminhada que cada qual realiza. Para cada uma das juventudes o Carisma Marista é destinado, e são vários os/as colaboradores/as que se dispõem a vivê-lo e transmiti-lo, inclusive os/as próprios/as adolescentes e jovens no momento em que fazem acontecer o protagonismo. E no centro do carisma/missão está a mensagem de vida de Jesus de Nazaré. A origem da palavra “amigo” é a mesma da palavra “amor” e, sem amor, deixamos de fazer muitas coisas boas em prol dos/as outros/as. Marcelino Champagnat, amigo das juventudes, insistia e acreditava muito na sabedoria do/a adolescente e jovem. Está escrito no Livro dos Provérbios, 16, 16: “Procura adquirir a sabedoria, pois ela é melhor do que o ouro”. Champagnat se deu conta

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de que, na sua própria vida, a fase de juventude, deveria ter sido mais explorada. Por isso, ao fundar o Instituto Marista, seu projeto priorizou a educação das juventudes no sentido de desenvolver nela todas as dimensões do ser humano, para que essa fase fosse repleta de realizações. Por ser um período de difícil convencimento, no que tange aos/as adolescentes e jovens focarem a vida naquilo que é mais construtivo, transformador e proveitoso, Champagnat dedicou-se totalmente à formação de educadores/as que fossem orientadores/as das crianças, adolescentes e jovens. Para ele, formar equivale a torná-los/as capazes de fazer escolhas, isto é, saber posicionar diante daquilo que mais convém, ajudando-os/as assim a construir a vida com sentido. Hoje, todos os que comungam do carisma marista de Champagnat, são convidados e desafiados a atualizá-lo. Para isso, é necessário cultivar a espiritualidade e mística maristas. Assim, serão continuadores da missão e do sonho de Champagnat, atualizando-os nos contextos atuais. No convívio com Champagnat, as pessoas que o observavam, se admiravam de sua confiança em Deus. A coragem que vinha do Alto tornava-o “homem forte do Evangelho”. Em Provérbios 16,9 lemos: “o homem planeja o seu caminho, mas é o Senhor quem lhe dirige os passos”. As lições de Marcelino continuam vivas hoje, véspera da comemoração dos 200 anos de existência do Instituto Marista.

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Para pensar: • Em que você gostaria de gastar sua vida? • Escute o seu coração e responda com coragem!

Encontro de Animadores/as da PJM de 2013 Crédito da foto: Maria Lúcia Dutra Machado

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Montagnes de hoje Ir. Jader Henz Publicado no dia 22/09/2014

Sem utopia a vida não vale a pena, nem a alegria” Dom Pedro Casadáliga

São Marcelino Champagnat, ao tomar conhecimento da deplorável situação de um jovem no leito de morte, sem ter os mínimos conhecimentos das verdades de fé, prontamente sente a necessidade de reunir um grupo de pessoas que se dedicasse a tantos/as jovens que pudessem estar nas mesmas situações. Esse fato, que marca o início do Instituto Marista, poderia ter sido encarado pelo Pe. Champagnat apenas como “mais um” entre tantos, porém foi determinante para a mudança do seu Projeto de Vida, da concretização daquilo que vinha rabiscando e elaborando há tempo! Os valores adquiridos já no berço familiar permitiram que o Pe. Champagnat abrisse os olhos para o/a outro/a, para o diferente e dele/a fizesse a razão do seu próprio existir. A maneira como introjetou essas atitudes de ser e viver, encantou outras pessoas que se tornaram os seus seguidores e difundiram o seu pensar pelos quatro cantos do mundo, em diferentes situações sociais, culturais e étnicas.

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Jovens Montagnes são encontrados atualmente em praças públicas, nas ruas, na casa de ricos e pobres, em Centros Sociais e nos maiores Colégios. Sim, o/a jovem que o Pe. Champagnat prontamente visitou e teve em seus braços, está convivendo atualmente em nosso meio. Alguns/mas são desprovidos de recursos financeiros, sem o básico para sobreviver. Outros/as são pobres de carinho, afeto, escuta e compreensão. Alguns/mas deles/as podem estar neste momento ao seu lado. Pare! Observe! Abra os olhos e o acolha-os/as em seus braços, pois é de um olhar atento que estão precisando. Na Mística da PJM, a descoberta da questão social acontece no processo de Amadurecimento da Fé. Abrir os olhos para aqueles/as que mais precisam, os/as desprovidos/as do essencial, nos torna mais humanos, mais cristãos, mais jovens preocupados com a construção de um mundo justo e fraterno, no qual o ser possa dar lugar ao ter e parecer. Adolescentes e Jovens, o Pe. Champagnat nos deixou uma bonita lição de amor e quer que cada qual de nós continue essa caminhada. A construção da Civilização do Amor acontece hoje e agora nas relações que eu construo comigo mesmo, com os/as outros/as, com a natureza e com Deus. Há um longo caminho a ser trilhado, e é na força dos/as adolescentes e jovens que ele vai se concretizar.

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Como sugestão, pode-se aliar o estudo/trabalho do texto com os elementos da música Coração Civil, Milton Nascimento.

Coração Civil (Milton Nascimento)

São José da Costa Rica, coração civil Me inspire no meu sonho de amor Brasil

Quero a utopia, quero tudo e mais

Se o poeta é o que sonha o que vai ser real

Quero a felicidade nos olhos de um pai

Bom sonhar coisas boas que o homem faz

Quero a alegria muita gente feliz

E esperar pelos frutos no quintal

Quero que a justiça reine em meu país Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder? Quero a liberdade, quero o vinho e o pão

Viva a preguiça viva a malícia que só a gente é que sabe ter

Quero ser amizade, quero amor, prazer

Assim dizendo a minha utopia eu vou levando a vida

Quero nossa cidade sempre ensolarada

Eu viver bem melhor

Os meninos e o povo no poder,

Doido pra ver o meu sonho teimoso, um dia se realizar

eu quero ver

Fonte: Umbrasil. Caminho de educação e amadurecimento na fé: a mística da PJM. São Paulo: FTD, 2008, p. 108-125.

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ELE SONHOU, ACREDITOU, REALIZOU! José Jair Ribeiro (Zeca) Publicado no dia 08/06/2015

Pouco depois de ordenado padre, Champagnat foi nomeado coadjutor na paróquia de La Valla (cf. Lanfrey, p.64), vilarejo com cerca de dois mil habitantes, pessoas boas, simples, sem instrução e com muita fé. Entre as suas atividades habituais, costumava visitar os doentes. O encontro de jovens moribundos com o padre era coisa relativamente comum e poderia produzir, na maior parte dos sacerdotes, não mais que a satisfação do dever cumprido. Em 28 de outubro de 1816, Marcelino Champagnat é chamado para atender um desses jovens: João Batista Montagne, em seu leito de morte. Surpreendeu-se ao ver que o rapaz de 16 anos ignorava a existência de Deus. Pacientemente, expressou-lhe toda a solidariedade e preparou-o para morrer. Esse encontro, no entanto, gerou algo maior em Marcelino – ele percebera que não havia mais tempo a esperar, era preciso agir. Champagnat globalizou esse encontro, pois representava o mundo das crianças, adolescentes e jovens ameaçados de morte em plena juventude. Ele se reencontrou nesse jovem.

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Assim como o jovem Montagne, Marcelino também foi habitante de um povoado. Quando tinha a mesma idade do rapaz, um padre se apresentou para convidá-lo a ir ao seminário. Sofreu como esse jovem, pela ignorância, mas dela pôde escapar. Já o jovem não teve a mesma sorte.

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Habitante das montanhas afastadas, ele foi abandonado à “própria sorte”, o que para o padre Champagnat é a origem de morte simbólica, pela ignorância; de morte física, por falta de cuidados, e de morte espiritual, pelo desconhecimento das verdades necessárias à salvação. No semblante desse jovem doente, Champagnat conseguiu enfim unificar em si mesmo dois sentimentos profundos: o de criança mal instruída (fracasso escolar) e o velho desejo de fazer algo em benefício das crianças e jovens. O jovem Montagne (cf. Lanfrey, p. 65) fez o seu projeto tornar-se concreto. É seu irmão. Ambos têm histórias semelhantes. E é também a mesma história de crianças, adolescentes, jovens e adultos abandonados à sua rudeza e à sua ignorância nas vilas, nos municípios, estados, países, no mundo. Lá onde muitos teriam visto um fato banal ou um problema concreto e urgente, Champagnat toma consciência de que não deve se ocupar, nesse momento, com aqueles que estão distante, em outro lugar, mas com a paróquia onde se encontra (CF Lanfrey, 2012, p. 66-67). Por ser responsável por esse povo, que tem de agora em diante um rosto/semblante, ele se julga no dever de agir imediatamente ali onde está, na paróquia de La Valla.

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Assim se estabelece em Champagnat um dos traços de seu projeto e de sua espiritualidade: ocupar-se dos mais pobres, dos mais rudes, de todos os que estão à margem, órfãos, mendigos, miseráveis..., pelos quais, mais tarde, fundaria um Instituto capaz de contribuir para dignificar suas vidas.

Dia de Champagnat - Histórias que se encontram.

Para conversar: • O que conheces sobre a história de Champagnat? • Há semelhanças entre a história de Champagnat e a tua história? • Champagnat sonhou, acreditou e realizou seu sonho. Que sonhos eu tenho? Que sonhos tem o grupo?

Fonte: Lanfrey, André. Marcelino Champagnat e os Irmãos Maristas: professores, congreganistas no século XIX. Brasília: Umbrasil, 2013.

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o m s i n o g a t o r P

l i n e v Ju

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Participação juvenil Maurício Perondi Publicado no dia 02/10/2013

Contrariamente ao que se percebe em muitos casos do senso comum e da grande mídia, a preocupação dos/as adolescentes e jovens com as questões sociais não deixou de acontecer. Os/as adolescentes e jovens reinventam formas, fazem adaptações, extrapolam as forças que dificultam a sua participação. Deste modo, não deixam de atuar em diversos coletivos com os quais se identificam. Um dos exemplos desse fenômeno é a grande mobilização dos/as adolescentes e jovens nas manifestações que aconteceram no Brasil em 2013. As novas formas e temas de participação da juventude apontam para um quadro de crise e mutação na esfera política “no qual as ações coletivas dos jovens, bem como os movimentos sociais, podem estar ocorrendo de formas múltiplas, variáveis e com níveis diversos de intervenção no social, muitas vezes de forma fluida e pouco estruturada” (DAYRELL; CARRANO, 2008, p. 18). Além das diversas formas de participação, também é possível enfatizar que as ações podem acontecer em dois âmbitos, o individual e o coletivo. Para Dallari (1983, p. 44), no sentido individual “cada um participa falando, escrevendo,

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discutindo, denunciando, cobrando responsabilidades, encorajando os tímidos e indecisos e aproveitando todas as oportunidades para acordar as consciências adormecidas”. No âmbito coletivo a participação é produzida por meio de grupos com objetivos definidos (ecológicos, político-partidários, culturais, educacionais, raciais, humanitários, entre outros) e disposição para trabalharem em favor de determinada situação social. É importante destacar que as diversas formas de participação social não acontecem espontaneamente, tampouco abrangem todos os/as adolescentes e jovens, pois dependem de determinadas condições que os/as mobilizem. Neste sentido, a proposta oferecida pela PJM é intencionalmente motivadora da participação juvenil. Para Melucci “a agregação não é possível se não existe certa coincidência entre os objetivos coletivos e as necessidades afetivas, comunicativas e de solidariedade dos seus membros” (2001, p. 98). Deste modo, pode-se apontar que os grupos juvenis podem se constituir como espaços determinantes para despertar os/as adolescentes e jovens para a participação social. Isso pode mobilizá-los/as para o envolvimento em questões sociais que visam a melhoria das condições de vida de seu grupo, da sua comunidade ou da sociedade de maneira geral.

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Jovens nas ruas no Encontro de Jovens Maristas (2011), em Santa Maria, RS

Fontes: PERONDI, Maurício. Narrativas de jovens: experiências de participação social e sentidos atribuídos às suas vidas. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Programa de Pós-Graduação em Educação (Tese de Doutorado) 2013; DALLARI, Dalmo de Abreu. O que é participação política. São Paulo: 8ª ed. Ed. Brasiliense, 1983; DAYRELL, Juarez; CARRANO, Paulo. Jovens no Brasil: difíceis travessias de fim de século e promessas de um outro mundo. Observatório Jovem. Rio de Janeiro, 2008; MELUCCI, Alberto. A Invenção do Presente: Movimentos Sociais nas Sociedades Complexas. Tradução de Maria do Carmo Alves do Bomfim. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

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Cultura da Solidariedade Ir. Matheus da Silva Martins Publicado no dia 14/08/2014

Os seres humanos são seres de relações, ou seja, desde o nascimento já se relacionam com mãe, pai, irmãos, irmãs de maneira efetiva/afetiva e também com o mundo. O simples fato de conhecer o mundo é uma relação. Acredita-se que, hoje, a sociedade globalizada nos apresenta um mundo que prega o individualismo, a não socialização nas relações entre as pessoas. A felicidade, em um contexto de globalização capitalista, está alicerçada no simples fato de conseguir adquirir bens materiais, um prazer e uma busca de felicidade instantâneas. No entanto, temos ações sociais que contradizem esse mundo individualista, que buscam uma mudança social, um mundo melhor, sem desigualdades que são as ações de voluntariado. O voluntariado é compreendido como um fator social que contribui para o protagonismo do agente e de quem recebe essa ação social que visa sempre a algo melhor para aquela realidade (ou instituição) que recebe as ações solidárias.

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Busca-se um sentido de pertença e cooperação ao desenvolvimento da sociedade. O pano de fundo é criar uma cultura de solidariedade, criando vínculos e parcerias na sociedade. A cultura da solidariedade ajuda no processo formativo/educativo dos adolescentes e jovens, pois no simples fato dessa cultura, estar presente na vida dos adolescentes e jovens, mostra a eles/as outras possibilidades de ser feliz e ajudar outras pessoas a serem felizes: a formação de uma consciência crítica e de um projeto de vida focado no humano, e não somente nos bens materiais. Segundo Sberga (2001), o voluntariado é uma proposta educativa para os adolescentes e jovens, contribuindo para o seu caminho formativo. Percebe-se que as ações do voluntariado, voltadas à solidariedade, implicam atitudes que nos auxiliam a apreender a olhar a realidade de uma maneira mais ampla. Oxalá que possamos criar forças e vontades para atuar nos ambientes que mais necessitam de nossa ajuda. O voluntariado nos convoca ao protagonismo juvenil, a ter um projeto de vida focado nas relações com os outros, consigo mesmo, com a natureza e mundo.

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Animadora da PJM em atividade durante a Missão Jovem Marista de 2014. Crédito da foto: Lucas Saporiti

Fonte: SBERGA, Adair Aparecida. Voluntariado jovem: construção da identidade e educação sociopolítica. São Paulo: Editora Salesiana, 2001.

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Quem são eles/as? Quem eles/as pensam que são? Uma reflexão sobre a participação juvenil no momento político brasileiro Maurício Perondi Publicado no dia 05/09/2014

Depois das manifestações de junho de 2013, quando milhares de jovens foram às ruas para gritar que estavam fartos da forma atual de fazer política, muitos se perguntaram: “E aí? Qual será a consequência disso? O que irá mudar?”. Alguns mais descrentes afirmaram: “O Gigante acordou, mas já dormiu novamente”. No entanto, esse clamor não parou por aí, pois, além de jovens, inúmeras pessoas e organizações sociais perceberam que era necessário continuar debatendo o assunto e procurando novas formas de participação. O Brasil tem atualmente o 6º maior PIB (Produto Interno Bruto) do mundo, ou seja, não falta dinheiro. No entanto, por que não temos investimento em saúde e em educação? Por que o transporte é tão caro e de péssima qualidade? Por que o dinheiro que deveria ir para a área social vai para o bolso dos ricos?

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Um dos principais motivos é que no atual sistema político, as grandes empresas financiam mais de 90% dos recursos das campanhas eleitorais, logo, os políticos eleitos são controlados pelos interesses delas e não dos/as cidadãos/ ãs que votaram. Isso significa que as necessidades do povo em geral não são prioridades da grande maioria dos atuais políticos. Outro motivo é que a população não é verdadeiramente representada neste sistema político. Vejamos alguns exemplos: • Atualmente 58% dos eleitores são jovens até 34 anos, mas eles/as têm uma representatividade de apenas 7% na Câmara dos Deputados; • A população negra e parda no Brasil soma 51%, no entanto, ela tem apenas 8% de representantes na Câmara dos Deputados; • As mulheres representam 51% da população, contudo, na Câmara dos Deputados são apenas 8%; • Os empregados e trabalhadores por conta própria somam 82% da população e têm participação de apenas 19% das vagas na Câmara dos Deputados; já os empregadores (empresários), apesar de somarem apenas 3% da população, preenchem 49% das vagas na Câmara dos Deputados;

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• Um eleitor não é igual a um voto: o voto dos/as eleitores/as de estados com proporções maiores exerce menor influência sobre o poder legislativo. Por exemplo: no Brasil enquanto em um estado a proporção é de um deputado a cada 432 mil eleitores, em outro é um a cada 33 mil. Esses são apenas alguns dos inúmeros motivos que remetem a necessidade de uma Reforma Política. Uma das melhores formas de torná-la realidade é através de uma Constituinte Soberana e Exclusiva para a mudança do sistema político. Por isso, organizou-se um Plebiscito Popular na Semana da Pátria que está levando milhões de cidadãos a manifestar-se em apoio a estas mudanças. Contudo, é preciso continuar discutindo nos grupos, nas redes sociais, nas diversas instituições para que este momento histórico não passe sem que as mudanças realmente aconteçam. Que tal refletir isso no seu grupo? Sugestão de música: “3ª do plural” da Banda Engenheiros do Hawaii para contribuir na discussão. A partir dela, pode-se refletir: Quem são eles/as? O que significa politicamente falando, “eles/as ganham a corrida antes mesmo da largada”? O que significa “professar a fé de quem patrocina”? Também podemos refletir em nosso grupo: Quem somos nós? Quais são os nossos valores e ideais? Como podemos participar deste momento político histórico que estamos vivendo?

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Quem mente antes diz a verdade Satisfação garantida Obsolescência programada Eles ganham a corrida Antes mesmo da largada Eles querem te vender Eles querem te comprar Querem te matar (a sede) Eles querem te sedar Quem são eles? Quem eles pensam que são? Quem são eles? Quem eles pensam que são? Quem são eles? Quem eles pensam que são? Quem são eles? Quem eles pensam que são? Vender, comprar, vendar os olhos Jogar a rede... contra a parede Querem te deixar com sede Não querem te deixar pensar Quem são eles? Quem eles pensam que são? Quem são eles? Quem eles pensam que são?

3ª Do Plural Engenheiros do Hawaii Corrida pra vender cigarro Cigarro pra vender remédio Remédio pra curar a tosse Tossir, cuspir, jogar pra fora Corrida pra vender os carros Pneu, cerveja e gasolina Cabeça pra usar boné E professar a fé de quem patrocina Eles querem te vender Eles querem te comprar Querem te matar (de rir) Querem te fazer chorar Quem são eles? Quem eles pensam que são? Quem são eles? Quem eles pensam que são? Quem são eles? Quem eles pensam que são? Quem são eles? Quem eles pensam que são? Corrida contra o relógio Silicone contra a gravidade Dedo no gatilho, velocidade

Quem são eles?

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Estatuto da Juventude: horizontes e desafios Maurício Perondi Publicado no dia 17/11/2014

Depois de nove anos de mobilização, o Estatuto da Juventude finalmente foi aprovado, no dia 05 de agosto de 2013, com o nome de Lei n. 12.852/13. De lá para cá já se passou mais de um ano e podemos nos perguntar: Será que algo mudou na vida dos/as jovens brasileiros/as? Será que ele já é conhecido e colocado em prática? É sobre isso que queremos discutir neste texto. Sem dúvidas a aprovação de um estatuto específico para os/as jovens significa um avanço importante, afinal, agora existe uma lei que garante, pelo menos no papel, os direitos das juventudes. O primeiro grande desafio é tornar o estatuto conhecido. Pelo que se percebe, a maioria das pessoas, inclusive os próprios jovens, ainda não o conhecem. E você, sabe quais são os principais direitos presentes no Estatuto? São 11 direitos e 2 benefícios diretos.

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Vamos conhecê-los: • Direito à Cidadania, à Participação Social e Política e à Representação Juvenil. • Direito à Educação. • Direito à Profissionalização, ao Trabalho e à Renda • Direito à Diversidade e à Igualdade. • Direito à Saúde. • Direito à Cultura. • Direito à Comunicação e à Liberdade de Expressão. • Direito ao Desporto e ao Lazer. • Direito ao Território e à Mobilidade. • Direito à Sustentabilidade e ao Meio Ambiente. • Direito à Segurança Pública e ao Acesso à Justiça.

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Benefícios diretos: 1. gratuidades e descontos em transporte público interestadual para jovens de baixa renda. 2. meia-entrada em eventos culturais e esportivos para estudantes e jovens de baixa renda. Vale lembrar que as leis anteriores só previam alguns desses benefícios para quem era estudante, enquanto que, agora, todos os/as jovens, que tenham entre 15 e 29 anos, independente de estarem estudando ou não, podem usufruir essas possibilidades. Passado um ano da aprovação do estatuto, esses benefícios estão sendo muito pouco usados porque a maioria dos/as jovens e instituições nem sabem que eles existem. Portanto, um dos grandes desafios é divulgar e torná-los conhecidos. A mesma coisa vale para os direitos, eles precisam ser divulgados e discutidos para que se transformem em projetos concretos e em Políticas Públicas para a Juventude. Para que isso aconteça estão sendo criados conselhos de juventude em nível municipal, estadual e nacional.

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Em 2015, haverá a 3ª Conferência Nacional de Juventude que irá discutir prioridades para a área das juventudes. Também haverá conferências municipais e estaduais como forma de preparação para a nacional. Todos os grupos e entidades que trabalham com jovens poderão participar dessas assembleias ou até mesmo organizar uma “conferência livre” e depois enviar as suas prioridades para a Conferência Nacional. Outra forma muito interessante de participação foi a criação de uma rede social chamada “Participatório” em que jovens e grupos podem criar perfis individuais ou coletivos para interagir com outras pessoas, conhecer projetos na área das juventudes e enviar suas experiências e propostas. Voltando à questão inicial do nosso texto, percebe-se que a aprovação do Estatuto da Juventude foi um avanço importante e que ele irá se tornar tanto mais efetivo quanto mais pessoas e organizações participarem e ajudarem na sua concretização. Fica o desafio para que você e o seu grupo participem dessa importante construção.

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Seguem algumas dicas de como isso pode ser feito. Ações concretas sobre o Estatuto da Juventude: • Ler e discutir o Estatuto no seu grupo (a partir disso pode-se preparar uma apresentação a ser realizada nas turmas do colégio; poderão ser realizados painéis para serem expostos, etc.). • Ajudar a divulgar para os/as jovens de baixa renda que podem usufruir de 2 benefícios diretos (passagens interestaduais e meio ingresso em eventos culturais e esportivos); • Participar e acompanhar as conferências de juventude de sua cidade em 2015; • Participar dos conselhos de juventude de sua cidade; Participatório da Juventude: criar perfis individuais no site do participatório; criar um perfil do seu grupo no participatório para encaminhar propostas, enviar opiniões, enviar sugestões, trocar experiências com outros jovens, etc.

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3ª conferência nacional de juventude: as várias formas de mudar o Brasil Maurício Perondi Publicado no dia 26/06/2015

Você já ouviu falar da 3ª Conferência Nacional de Juventude? Ela acontecerá em dezembro de 2015 em Brasília e reunirá milhares de jovens de todo o país. Antes desta, já tivemos a 1ª Conferência, realizada em 2008 e a 2ª, em 2011. Ela será organizada pela Secretaria Nacional de Juventude e do Conselho Nacional de Juventude. A Conferência Nacional tem vários objetivos que buscam criar um espaço democrático e participativo para os/as jovens e organizações de juventude. Os objetivos visam aprofundar quais são as prioridades de atuação para melhorar a vida dos/as jovens brasileiros/as, principalmente através de Políticas Públicas organizadas em nível nacional.

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O tema da conferência será “As várias formas de mudar o Brasil”. Os debates serão organizados segundo os eixos estabelecidos no Estatuto da Juventude: I.

Direito à Cidadania, à Participação Social e Política e à Representação Juvenil;

II. Direito à Educação; III. Direito à Profissionalização, ao Trabalho e à Renda; IV. Direito à Diversidade e à Igualdade; V. Direito à Saúde; VI. Direito à Cultura; VII. Direito à Comunicação e à Liberdade de Expressão; VIII. Direito ao Desporto e ao Lazer; IX. Direito à Sustentabilidade e ao Meio Ambiente X. Direito ao Território e à Mobilidade; XI. Direito à Segurança Pública e ao Acesso à Justiça.

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Antes da Conferência Nacional, acontecerão etapas Livres e Territoriais, etapas das Juventudes de Povos e Comunidades Tradicionais, Municipais, Regionais, Estaduais, do Distrito Federal e Nacional. Quanto mais jovens e organizações participarem destas etapas mais rico será o debate e a proposição de ideias para esta construção coletiva. Por isso, você e o seu grupo são convidados a participarem deste processo e ajudarem a pensar quais são as principais prioridades para a vida das juventudes. Sugestão de roteiro para encontro do grupo

Observação: Preparar antes um caminho no chão, no ambiente onde será realizado o encontro. Escrever a frase “Caminho de Emaús”. Escrever também os 11 Direitos previstos no Estatuto da Juventude e colocar em tiras de papel ao longo do caminho. Colocar juntos recortes de imagens de jovens em várias situações. 1. Ler a passagem do Evangelho de Emaús: Lc 24, 13-35

• O Assessor/a ou Animador/a faz um comentário dizendo que inicialmente os discípulos estavam desanimados pela morte de Jesus, mas depois ficaram animados com a presença dele e levantaram-se para voltar a Jerusalém. Assim também na nossa vida de jovens temos motivos que nos desanimam, mas também temos motivos que nos animam, que nos desafiam a querer ir em frente para resolver aquelas situações, assim como os discípulos fizeram.

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2. Trabalho em grupos:

• Cada grupo pega 2 ou 3 dos papéis com os Direitos que estão no caminho. • O grupo irá preparar um cartaz/painel com duas partes. De um lado colocarão os aspectos que desanimam os/as jovens da sua cidade, bairro, escola com relação ao “Direito”, que pegaram. Do outro lado colocarão os desafios para resolver aquela situação (Exemplo: se pegaram o Direito ao Desporto e ao Lazer: um motivo que desanima poderia ser a falta espaços de lazer e quadras esportivas nos bairros; uma solução poderia ser cobrar o poder público para que a cidade crie estes espaços). 3. Apresentação dos grupos:

• Cada grupo apresenta o seu painel e faz uma discussão sobre os problemas e soluções apresentados. 4. Pensar para o futuro:

• Pensar junto com o grupo: como fazer para que estes problemas e soluções possam chegar até a Conferência de Juventude da sua cidade? O nosso grupo irá se articular para participar da Conferência de Juventude da nossa cidade? Se não houver conferência ou se não pudermos participar, que tal propor uma conferência livre na nossa escola/centro social, convidando outros grupos: do Grêmio Estudantil, do Voluntariado, do Teatro, etc.?

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o t n e m a h n a p Acom

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A beleza de ser um eterno aprendiz Karen Theline Cardoso dos Santos da Silva Publicado no dia 18/09/2013

Acompanhamento: o encontro O acompanhamento nasce da acolhida, nasce de um encontro. Um acompanhamento que não se fundamenta no encontro estará fazendo de conta, cumprindo tabela e não cumprirá seu papel e sua missão. No acompanhamento aprendemos juntos no conviver, no repartir o pão, na partilha de iguais, na construção com os/as diferentes. Não há crescimento na fé sem acompanhamento, e não há acompanhamento sem acompanhante. Um bom acompanhante necessita: • Conhecer e compreender o fenômeno juvenil. Conhecer os/as adolescentes e jovens em suas realidades. Não buscamos amizade e confiança de outra pessoa, se antes não vemos algo que nos cative, que nos convença, que nos atraia, que dê sentido às aspirações mais profundas do nosso coração.

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• Ser um educador na fé. Refletindo seu papel pedagógico na relação com os/as sujeitos. • Saber reconhecer o potencial juvenil e que os/as adolescentes e jovens são os/as protagonistas, mas que não caminham sozinhos/as. Não precisa de assessores/as intermediários/as, precisam de companheiros/as de missão, alguém próximo/a, que constrói caminho junto. Acompanhamento: a presença O acompanhamento juvenil é presença. A presença, o exemplo, as conversas são construtores de uma relação de proximidade, de um seguimento de perto, enxergando o/a adolescente e o jovem na sua formação integral. CON – VIVER, no verdadeiro sentido da palavra requer dos/duas dois cumplicidade, conhecimento e partilha. O/a acompanhado/a precisa conhecer o/a acompanhante e o/a acompanhante conhecer o/a acompanhado/a. É necessário criar comunidade, fazer caminho caminhando.

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Acompanhamento: um olhar pedagógico No encontro de Jesus com os discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35) podemos refletir sobre o modelo pedagógico do acompanhamento, a partir da aproximação, respeito, aculturando-se ao/a outro/a, partindo da realidade, sendo presença nessa convivência. A postura de Jesus nesse acompanhamento é de escuta, provocação e partilha. Dá voz e atenção aos/as discípulos, primando pela acolhida e o diálogo. Respeita e acolhe seus sonhos. Visualizam esperança juntos. Cultivam a partir do Cuidado a socialização e a vivência no grupo. Gonzaguinha nos fala na beleza de sermos aprendizes na vida, de viver a beleza da felicidade e da esperança. O encontro, a presença e convivência no caminho revelam a arte do acompanhamento que respeita e reconhece o/a outro/a como companheiro/a, aquele que nos ensina a viver e vive conosco.

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Imagem do documento: Evangelizadores entre os jovens (O itinerário dos discípulos de Emaús – Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles)

Fontes: Assessoria e Acompanhamento na Pastoral da Juventude. Conclusões e subsídios do 9º Encontro Latinoamericano de PJ. São Paulo: CCJ, 1994 e Evangelizadores entre os Jovens. Comissão Internacional da Pastoral da Juvenil Marista. São Paulo: FTD, 2011.

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Acompanhar é... Karen Theline Cardoso dos Santos da Silva Publicado no dia 23/12/2014

Estar junto, ir ao encontro do outro, ter sentimentos de acolhida, serviço, alegria de contribuir... Acompanhar é tanta coisa, que na própria origem da palavra já se diz “partir o pão com...”. Maria tinha muitas atitudes do acompanhamento presentes na sua vida. Podemos tentar compreender o acompanhamento a partir da visita de Maria a Isabel durante sua gravidez.

Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, às pressas, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de Zacarias, e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança se agitou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito exclamou: “Você é bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu”... Maria ficou três meses com Isabel; e depois voltou para casa” (Lc 1, 39-56).

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Por que relacionar esse fato ao acompanhamento? Porque após assumir sua missão, Maria colocou-se a caminho para a casa de sua prima Isabel apressadamente, para partilhar sua alegria e para estar junto dela que poderia precisar de ajuda, necessitando que estivesse próxima, perto. Este às pressas não expressa estresse, mas sim, uma vontade grande de estar junto, de pôr-se a serviço, de acolher e partilhar, de aproximar-se, conhecer a realidade, de não perder tempo. À luz desse encontro, portanto, cultivamos relações e sentimentos presentes no ato de acompanhar. Maria, mesmo estando grávida, partiu para uma longa viagem, pois na época não havia as estradas e os meios de transporte de hoje. Possivelmente não foi uma viagem fácil, principalmente por causa de sua gravidez. Por isso, não é fácil compreender o que levou a fazer essa caminhada, assim como Isabel também não compreendeu o motivo daquela visita inesperada de Maria, principalmente por que ela seria Mãe do seu Senhor. Mas Maria, compreendendo a necessidade de estar com Isabel naquele momento, ficou com ela durante os três meses que faltavam para Isabel dar à luz João Batista (cf. Lc 1, 60-63). Essas atitudes presentes nessa visita nos remetem aquelas que devem ser premissas no acompanhamento: encontro, acolhida, presença.

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Ir ao encontro requer conhecer a necessidade do outro, aproximar-se, estar junto. A acolhida fala da necessidade de não ir fechado, com preconceitos ou já estabelecendo posicionamentos. Necessita de abertura para o estabelecimento de uma relação próxima. A presença como atitude garantida não só na palavra, mas no estar próximo para fazer escuta, para ter olhar atento que não distancia, contribuindo para uma ajuda mútua e para o reconhecimento desse ato como serviço, tendo a alegria presente nesse serviço. Nesse período, recordamos as visitas de acompanhamento que fizemos nas Unidades, nos aproximando das PJM locais, escutando, olhando, nos sensibilizando e colocando-nos a serviço e à disposição para contribuir com essas realidades. Nas visitas tínhamos essas atitudes como impulsionadoras para garantia de um processo integrador em que o acompanhante e o acompanhado tornam-se complementares na vida de um e do outro.

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Estátua que representa a visita de Maria a sua prima Isabel Acessado em: commons.wikimedia.org

Fonte: Evangelizadores entre os Jovens. Comissão Internacional da Pastoral da Juvenil Marista. São Paulo: FTD, 2011.

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A importância do acompanhamento ao Participante e ao grupo na PJM Karen Theline Cardoso dos Santos da Silva Publicado no dia 16/07/2015

Para olhar Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu: ‘Pai, me ajuda a olhar’” (Eduardo Galeano). Imagem de um pai com os seus filhos contemplando o mar Acessado em: supportforstepdads.com

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A partir deste texto, podemos perceber a importância do acompanhamento aos/as adolescentes e jovens, na vivência grupal e na vida como um todo. Crianças, adolescentes e jovens precisam ser acompanhadas pelo pai, mãe ou responsável, pelo/a educador/a, pelo/a Assessor/a. Percebemos como um grito presente na atualidade e nos contextos educativos, familiares, religiosos, sociais a importância do acompanhamento ou a sua ausência. Acompanhamento é “comer o mesmo pão”, individual e coletivamente e é nesse sentido que o “junto com” faz toda a diferença. Não é fazendo pelo/a outro/a, mas contribuindo com ele/a. É dar as ferramentas necessárias para que possa fazer seu caminho junto, sendo presença, partilhando vida, estando na perspectiva horizontal das relações. Como herdeiros do sonho de Champagnat, acreditamos que a educação evangelizadora é dom e desafio para todos nós. É essencial que aqueles/as que desejam exercer o acompanhamento leiam e estudem sobre adolescências e juventudes, estejam entre eles/as percebendo seus sonhos e desafios, suas esperanças e dificuldades, este é o papel que devemos perceber nos acompanhantes. Na PJM o acompanhamento se dará de duas formas: individual e grupal.

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Individual, pois é necessário reconhecer o potencial juvenil, partir do sujeito, de sua realidade e de seu contexto; incentivando-os a uma ação concreta de mudança pessoal e promoção de mudança coletiva. A sensibilidade especial dos adolescentes e jovens para situações de incoerência nos abre um caminho espiritual de formação de consciência social e crítica. Mas na PJM, o acompanhamento individual só acontece porque adolescentes e jovens estão envolvidos na vivência grupal. Grupal, pois o acompanhamento grupal é uma tarefa que tem como foco o processo grupal e como objetivo a construção coletiva da Civilização do Amor. No coletivo construímos identidade, caminhos e jeitos próprios de caminhar. A partir da identidade coletiva acontecem mudanças individuais e também coletivas, enriquecendo as relações pessoais e grupais com solidariedade e comunhão consigo, com o grupo, a comunidade, a sociedade. Através do serviço de Animação e de Assessoria, acompanha-se o dia a dia da vivência grupal. Acreditamos que o ambiente grupal é formativo e educativo, ajuda a ampliar os horizontes de visão, ajuda a ter posturas mais claras em relação a sua vida pessoal e também em relação à vida dos outros. Acreditamos que para um grupo caminhar, ele precisa de acompanhantes que o ajudem a fazer a sua caminhada, a vivenciar as suas etapas, a ler o que está acontecendo no seu interior e ao seu redor, enfim, ajudar para que possam escrever a sua história.

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Para discernir Cuidadores de vida, semeadores de esperança são expressões que nos dizem acerca do acompanhamento. A parábola do semeador (Mt 13, 3-23) contribui para que tenhamos a dimensão do cuidado de quem semeia, cultiva, cuida, colhe. Cuidar da semente para que ela seja plantada e cultivada em terra boa, eis a missão do acompanhante.

Para refletir Para ajudar a refletir sobre este tema e assumi-lo no dia a dia da vivência grupal trazemos um filme que retrata a importância de se ter clareza de um olhar mais amplo do acompanhamento. Vídeo: Como estrelas na terra, Índia, 2007.

Fonte: REDE MARISTA. Vivência Grupal da PJM: Marco Operativo (2015-2017). Porto Alegre: CMC, 2015, p. 40-43.

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s a c i s ú M 71


O Mesmo Rosto Gustavo Balbinot Publicado no dia 16/07/2014

O MESMO ROSTO (Jorge Trevisol) Dizem que o Sol deixou de brilhar

Enquanto existir um raio de luz

Que as flores mais belas não perfumam mais

E uma esperança que a todos conduz

Que os jovens teriam deixado de amar

Persiste a certeza marcada no chão

De crer na esperança de poder mudar

Ternura e beleza não acabarão

Que as lutas e os sonhos o vento espalhou

Pois a juventude que sabe guardar

E que envelheceram as forças do amor

Do amor e da vida não vai descuidar

Se fosse assim me digam vocês:

O rosto de Deus é jovem também

De quem é o rosto que ainda sorri

E o sonho mais lindo é ele quem tem

De quem é o grito que nos faz tremer

Deus não envelhece tampouco morreu

Defendendo a vida e o modo de ser

Continua vivo no povo que é seu

De quem são os passos marcados no chão

Se a juventude viesse a faltar

E o lindo compasso de um só coração

O rosto de Deus iria mudar.

OM

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Esta canção surgiu nos anos 90. O cantor e compositor Jorge Trevisol, amigo com quem tive a graça de, em vários encontros pessoais, ouvir suas composições antes que fossem “lançadas”, cantou esta canção expressando que ela tinha uma letra significativa, mas que estava em dúvida quanto a gravá-la ou não. Tive o privilégio de ser o primeiro a ouvi-la e me encantar pelo seu sentido. Então eu disse a ele: “Posso fazer um teste com a canção junto à juventude?”. Poucos dias depois em missão vocacional, cantei “O Mesmo Rosto” junto a jovens estudantes de escolas em quatro pequenas cidades, no interior do Rio Grande do Sul. No meu último trabalho, enquanto jantava em uma família que me havia convidado, a dona da casa me disse: “Tem gente lá fora querendo falar contigo”. Então levou-me até a sacada, e qual minha surpresa quando vi que os estudantes do Ensino Médio da pequena cidade de São Jorge estavam cantando “O Mesmo Rosto”, como se fosse uma serenata. Emocionei-me, e naquele instante se passaram muitas coisas pelo meu coração, em especial o carinho e a sensibilidade dos jovens em relação a quem os ama e neles acredita. No retorno da missão, disse ao Trevisol: “Mano, grava essa canção. Ela toca os corações pelo seu sentido”, e partilhei com ele as experiências vividas. Trevisol gravou a canção no primeiro CD que lançou, pela COMEP, que leva o nome de “Mistério, Amor e Sentido”. A partir daí a canção tornou-se um hino para as juventudes.

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A letra desenvolve uma reflexão a cada estrofe. A primeira estrofe traz presente a falta de crença nas juventudes por parte da sociedade, em outras palavras, pelos descrentes nas juventudes. A segunda estrofe é questionadora, resultante de ações que identificam as juventudes: sorrisos, gritos, manifestações, passos firmes em defesa da vida. A terceira estrofe canta a esperança, afirma o credo nas juventudes, pela sua ternura e beleza, pelo amor e pela vida cuidados por ela. A quarta estrofe, que dá o nome à canção, é a afirmação de que o rosto dos/as adolescentes e jovens é o rosto de Deus, porque o rosto de Deus é eternamente jovem. É assim que O conhecemos, no rosto revelado e encarnado de Jesus. A existência das juventudes é garantia de que o rosto de Deus não muda, e que ele se revela nas atitudes que nascem dos desejos ouvidos dos corações dos/as adolescentes e jovens.

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Juventude missionária, inquieta e solidária Gustavo Balbinot Publicado no dia 28/07/2014

Juventude Missionária (Zé Vicente) Um mundo nós sonhamos, sem muros, sem Do Reino da Justiça, alegres mensageiros,

fronteiras,

Profetas, companheiros, vivendo pela paz.

Sem ódios, sem barreiras, sem preconceito e dor.

Em Cristo batizados, ao mundo enviados,

A terra-mãe cuidada, a vida respeitada,

Nós somos missionários do amor que Deus nos traz!

Culturas dialogando e revelando o seu valor!

Juventude Missionária

Juventude Missionária

Inquieta e Solidária!

Inquieta e Solidária!

Nós temos nossas mãos e os corações abertos

Na Rede da Irmandade, na juventude em festa,

Pra, no momento certo, fazer o amor brilhar.

De Deus se manifesta a graça, a compaixão!

A fé nos enriquece, servindo a gente cresce,

Unidos com Maria, fiéis a cada dia,

Aos pobres e excluídos, queremos nos doar!

Alegres celebremos nossa vida em missão!

Juventude Missionária

Juventude Missionária

Inquieta e Solidária!

Inquieta e Solidária!

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O cantor e compositor Zé Vicente, nesta canção, traz a beleza, a alegria e o encantamento da juventude missionária, convocada para a continuidade da construção do Reino de Deus, instaurado pelo jovem mestre Jesus. É uma real possibilidade do encontro dos sentidos de vida, de existência, com a missão que nasce do coração de Deus: resgatar a humanidade e sua essência: o amor. Não é possível, para quem tem um coração sensível a Deus e ao seu chamado, permanecer inerte, sem causas, sem sentidos, diante dos fatos da vida. Além disso, o ser missionário leva à atitude de ser protagonista e construtor da história. O refrão diz: “Juventude, missionária, inquieta e solidária”. A inquietude, a insatisfação, as buscas, fazem parte inerente do ser humano “acordado” para a humanidade. Essas atitudes trazem presente características próprias do “ser jovem”. A força da vida está presente em todas as gerações que a alimentam, mas é no coração das juventudes que ela encontra um espaço privilegiado. Sua força, seus gritos, seus sorrisos, seus passos, suas presenças, suas existências são transformadoras. Sua inquietude, decorrente do despertar de seu coração, é solidária, capaz de sentir a dor do outro e buscar superar as causas dessa exclusão, ou ao menos fazer algo para que as pessoas sintam o quanto Deus as ama, assim como sonhou o coração do jovem Champagnat.

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Pelo batismo, a fé move o/a adolescente e jovem a caminhar e a anunciar que o amor é a essência da vida, e as atitudes decorrentes dessa consciência e encontro com o coração, o levam a viver e a experienciar a verdadeira humanidade em seus sentidos mais profundos de solidariedade, como diz o cantor: “no momento certo fazer o amor brilhar”. Sonhamos um mundo da comunhão das culturas, onde o amor é o ponto de encontro das pessoas, onde as fronteiras não existem, onde o encontro das humanidades é possível e realizador, pelo próprio sentido da existência de todas as gentes, e não só, mas também pelo sentido e existência de todas as criaturas que vivem em nosso planeta, como alimentadoras da vida. O Universo conspira e aspira a este encontro e a esta harmonia, e o caminho, pelo qual acreditamos, é o evangelho de Jesus, em seu anúncio de vida: “eu vim para que todos (as) tenham vida” (Jo 10, 10). A canção “Juventude Missionária”, de Zé Vicente cantor e compositor das realidades vivas da vida, das experiências populares, dos sentidos comunitários e pessoais pelas causas do Evangelho, desperta os sentidos das juventudes a serem missionárias, inquietas e solidárias na construção do Reino. Zé Vicente, não é somente um cantor, mas um poeta do povo e de suas realidades. Canta o que nasce da terra e das experiências comunitárias. Seu jeito de ser lembra a presença profética de nosso querido Papa Francisco, com um jeito simples,

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popular e profundo. Como ele falou aos/as jovens: “Bote fé que a vida terá novo sabor. Bote fé, bote a esperança e bote o amor”, e continuou: “Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e solidário”. Na comunidade da Rocinha, na Jornada Mundial da Juventude, denunciou: “Não há esforço de pacificação duradouro com uma sociedade que abandona parte de si mesma”. Zé Vicente é assim, como Maria, cantor das humanidades do povo, das comunidades peregrinas na fé, das utopias, das esperanças. Juventude missionária: em festa, solidária, em rede, conectada, fraterna, é a manifestação de Deus pelas causas da vida.

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escolhe e acolhe

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Maria, mulher que escolhe e acolhe Ir. Matheus da Silva Martins Publicado no dia 18/08/2015

Nossa vida é permeada de relações interpessoais, sociais, com a natureza, com o Sagrado e consigo mesmo. Ao mesmo tempo, essas relações estão interligadas com as nossas escolhas, pois nos relacionamos e escolhemos a partir daquilo que nos faz sentido. Por isso, podemos nos perguntar sobre o que Maria tem a ver com as escolhas/projeto de vida. Eis o objetivo deste breve texto: refletir sobre as escolhas e acolhida que Maria fez. As escolhas diárias em nossas vidas, como também em Maria, carregaram consigo uma dimensão de projeto de vida, ou seja, opções, escolhas e acolhidas das nossas escolhas como um projeto. Percebe-se, na vida de Maria, que as suas escolhas foram uma porta para a mudança e acolhida à novidade, como por exemplo: o fato da anunciação do Anjo Gabriel (Lc 1, 26-38), o seu próprio seguimento a Jesus Cristo, e nas bodas de Caná, não deixar acabar a festa. Maria foi escolhida por Deus para ser a Mãe de Jesus, e ela reciprocamente acolhe novidade como o seu projeto de vida, ser a Mãe do Filho de Deus. Esse fato, para nós, adolescentes e jovens, carrega um profundo sentido: a dimensão

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do “chamado”. Deus que nos escolhe e a dimensão da acolhida e aceitação do seu chamado é uma graça da escolha. Maria ouviu o chamado, acolheu, aceitou-o, e teve confiança no Senhor Deus, que prometeu estar com ela. Esse é um aspecto do chamado de Deus: Ele está com quem escolheu e chamou. Nunca abandona: “O Senhor está contigo” (Lc 1,28). Maria recebendo presentes dos Reis Magos Acessado em: rclnotes.blogspot.com.br

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Mas, qual será a relação de Maria com as Juventudes? Qual é o chamado que Deus, faz as juventudes? A Pastoral Juvenil Marista? Qual é o nosso projeto? Existe um projeto? Eu cultivo um projeto de vida? Muitas perguntas podem ser citadas, para nos ajudar a refletir e rezar a dimensão do projeto de vida. Somos convidados a rezar a partir dessas perguntas. Rezar com a confiança em Deus. Acredita-se que as opções que vamos fazendo na vida nos ajudam a formar a nossa personalidade, o nosso jeito de ser. A formação da nossa personalidade é bem dinâmica, pressupõe sempre movimento. Somos seres que escolhemos e acolhemos a todo o momento. No instante que escolhemos, acolhemos a novidade. Eis o mistério! Maria, Mãe de Deus, acolheu em si uma novidade muito bela e ao mesmo tempo desafiadora: ser a Mãe de Deus. Nesse sentido, nós adolescentes e jovens somos chamados/as a cultivar estas características marianas: coragem, consciência crítica e fé em Deus, para termos a consciência das nossas escolhas na construção do nosso projeto de vida e que estejam alicerçadas no projeto de Deus, que é o seu Reino, onde reina a paz e a justiça.

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Segundo o Ir. Afonso Murad, no seu livro, Maria e os jovens, “Maria compreendeu naquele momento, que a vida é feita de opções. Impossível ficar com tudo, quando a gente escolhe, renuncia algo (...)”. Champagnat é um desses exemplos de pessoa, que confiou a Maria a criação do Instituto dos Irmãos Maristas. Muitas de suas cartas e a sua biografia demonstram essa confiança em Maria: “Sem Maria não somos nada e com Maria temos tudo, porque Maria está sempre com seu adorável Filho, ou no colo ou no coração” (Rede Marista, p. 124). Nesta confiança ele chega a considerá-la Recurso Habitual, na qual coloca toda a sua confiança. Gosto muito do trecho de uma das nossas orações, que rezamos pela manhã nas nossas comunidades maristas. É a oração de Champagnat, em um momento de profunda crise de vocações para o Instituto Marista. Assim diz: Ó Maria, nossa Boa Mãe, esta obra é vossa. Vós nos reunistes, apesar das contradições do mundo, para trabalharmos pela glória de vosso divino Filho. Se não vierdes em nosso auxilio, pereceremos, apagar-nos-emos como lamparina chegada à última gota de azeite; mas se este instituto desaparecer, não será a nossa obra que perecerá, porém a vossa, pois fostes vós que tudo fizestes entre nós. Contamos, pois, com o vosso poderoso auxílio, em que sempre confiamos”. Amém.

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Sugestões de atividades

As atividades a seguir são propostas como vivência grupal. • Leitura individual e, em seguida, coletiva do texto. Após, pode-se estabelecer um momento de conversa e partilha. • Se o grupo for grande, pode-se dinamizar o encontro na dinâmica das pequenas comunidades. • Algumas músicas, podem auxiliar: Anunciação, Alceu Valença; Romaria, Renato Teixeira). • O dinamizador do encontro propõe um momento de partilha de vida, no qual os/as adolescentes e jovens podem ter um espaço para partilhar as alegrias e inquietações porque estão passando na vida. Ação concreta: • O que escolhemos para o grupo? • Qual o projeto que almejamos para o nosso grupo?

Fontes: Rede Marista. Rezando o legado de Marcelino Champagnat, Porto Alegre: CMC, 2014; Murad, Afonso. Maria e os jovens. Coleção Cadernos da PJM. São Paulo: FTD, 2011.

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EXPEDIENTE Texto de Apoio 4: Experienciar a mística | Coletânea de textos publicados no blog da PJM Organização: PJM Provincial 2016 Equipe: José Jair Ribeiro, Jaquelini Alves Debastiani, Karen Theline Cardoso dos Santos da Silva, Ir. Jader Luiz Henz, Ir. Matheus da Silva Martins, Angelina Fonseca e Eduardo Pavin Colaboradores com textos: Gustavo Balbinot, Ir. Rodinei Siveris, Marcos José Broc, Maurício Perondi.


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