Universidade de São Paulo Instituto de Arquitetura e Urbanismo
barra funda centro de música e dança Professores da CAP Joubert José Lancha Lucia Zanin Shimbo Simone Helena T. Vizioli
GT “Contexto” Professor Miguel Buzzar Caderno de registros e apresentação do Trabalho de Graduação Integrado (TGI) da aluna de graduação Paula Garcia Jareta Santos.
São Carlos 2012
Ă€ Barra Funda.
agradecimentos Primeiramente, agradeço muito aos professores Joubert Lancha e Miguel Buzzar, pelo direcionamento, pela atenção, críticas e tantas conversas, que me levaram sempre a aprimorar as questões colocadas pelo projeto. Também, às professoras da CAP (comissão de apoio permanente) Lúcia
Shimbo e Simone Vizioli e a todos os professores e funcionários que participaram da minha formação no Instituto de Arquitetura e Urbanismo. Aos professores do Departamento de Engenharia de Estruturas, Jorge Munaiar e Samuel Giongo, por me estruturarem. Aos professores do Departamento de Engenharia de Materiais, Aeronáutica e Automobilística, Alvaro Abdalla e Carlos Demarqui, por tornarem mais real a pele dinâmica que eu imaginava.
Aos meus amados pais, Eduardo e Magali, e irmãos, Gabriel e Marina, por tudo e sempre. Aos avós, Dona Ladinha e Seo Joãozinho e aos eternos Dona Cida e Seo Lazinho, que
estão sempre velando por mim. Aos tios, Totoca e Márcia, pelo carinho de sempre. À tia Beth e à prima Ju e ao tio Marcos, por todo o apoio. Ao querido Paulovic, por tanto que nem cabe. À Pat, especialmente pela área! À Malu, por trazer felicidade. À pequena Sâmi, uma grande companheira, com quem sempre tenho longas conversas imaginárias. Uma lembrança linda, que sempre será minha camélia sobre o musgo. Aos amigos de longa e curta data. Aos companheiros da arq 08, por terem se tornado
uma verdadeira família. Principalmente à Michele e Calila, meus braços direito e esquerdo, e às tão queridas Amanda, Camila Mariana, Maiara, Tamiris e Yara. E à Helga, Leo, Luis e Vanessa, pela amizade de sempre. Ao grande músico e amigo Matheus Pagliacci, por seu desejo de ter uma Escola de Música. Ao Gustavo, por tantos quilômetros rodados... Ao Jorginho, por toda a ajuda.
À querida Dulce, principalmente por ter despertado em mim a sensibilidade para a música. À Luciana Moretti, pela dança. Ao Panda, pelo computador. Ao Giu, pelas mamonas! E a todos aqueles que direta ou indiretamente participaram e acompanharam esse trabalho e minha formação. A todos vocês, muito obrigada pelos olhos, ouvidos, palavras, ombros, braços
e abraços.
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“It is not possible to live in this age if you don't have a sense of many contradictory forces” (KOOLHAAS) "No hay banda... No hay orquestra... It's an... ilusion” (CIDADE DOS SONHOS– David Lynch) “Dance. Dance, or we are dead” (PINA BAUSCH)
apresentação O presente trabalho se configura a partir de diversas inquietações pessoais, principalmente acerca da relação estabelecida entre arquitetura, cidade e usuário, buscando apontar, questionar e dar forma a tais inquietações. Ainda, pode ser visto como uma primeira expressão, em menor ou maior grau, das ideias elaboradas ao longo desses anos de formação em arquitetura e urbanismo, que vão sendo balizadas por referências não apenas internas à arquitetura mas também externas a ela, e que se manifestam na concepção de um projeto final.
15 projeto_zoom out 44 projeto_zoom in 88 projeto_zoom + 129 área_zoom out 145 área_zoom in 148 área_zoom + 158 universo projetual 170 ações projetuais 174 bibliografia
projeto
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projeto_zoom out A arquitetura trabalhada pretende lançar um olhar aprofundado para a cidade de São Paulo, na qual está inserida, a fim de dialogar não apenas com seu entorno imediato, mas também com um todo muito maior, estabelecendo relações fortes e particulares, enquanto se afirma como uma nova intervenção. A compreensão da cidade é mediada pelo
entendimento do ambiente urbano contemporâneo como dinâmico e complexo, baseando-se num estudo que está para além das questões arquitetônicas, e que também considera outros quesitos, como os sociais, artísticos, históricos, culturais, etc, que configuram o seu amplo contexto e são responsáveis pela constante mudança da experiência do espaço urbano. .
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O projeto se situa no tradicional bairro industrial da Barra Funda, local que, atualmente, apresenta profundos contrastes, frutos de diversos fatores que se relacionam inclusive com um quadro de transformações visíveis na cidade de São Paulo, de mudança funcional de áreas industriais em áreas mistas ou residenciais, de comércios ou serviços e que, muitas vezes, acabam gerando áreas desfuncionalizadas, abandonadas ou subutilizadas. Muito disso pode ser visto na parcela da Marginal Tietê presente no local e onde o projeto se implanta, que se apresenta como uma sucessão desses espaços, muitos convertidos em estacionamentos, a espera de algum novo empreendimento. O projeto, então, nasce da compreensão desse quadro e, ainda, da situação particular em que se encontra a área de intervenção, localizada entre a Ponte do Limão e a Ponte da Casa Verde, ao lado do antigo Playcenter e numa esquina que articula duas lógicas, a lógica rodoviarista da Marginal Tietê e o caráter ainda local da Rua Dr Rubens Meireles, mas que, certamente, conhecerá modificações
Situação.
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Situação.
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Situação.
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A inserção numa esquina, além de promover uma implantação bastante aberta, configurando um local de encontro e permitindo uma maior permeabilidade física e visual na área, traz ainda a possibilidade de articulação entre as duas lógicas de circulação distintas da Marginal Tietê e da Rua Dr. Rubens Meireles. A implantação se inicia a partir de uma leitura do Rio Tietê como um grande eixo, que se apresenta como uma barreira física na cidade, podendo ser atravessado apenas através de pontes, sendo que outra questão fundamental para o projeto é a relação conflituosa estabelecida entre a cidade de São Paulo e o Rio Tietê. Essas considerações se expressam na inserção e relação do espelho d’água no projeto, a partir do qual se inicia a implantação. São criadas, então, duas áreas distintas, uma em contato direto com a Marginal Tietê, apresentando características de local de passagem e outra articulada à Rua Doutor Rubens Meireles, com características de local de estar. Assim, o edifício é colocado sobre o espelho d’água como uma ponte que interliga essas duas áreas.
Rio Tietê como barreira física atravessada por pontes.
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01
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Edifício se colocando sobre o espelho d’água como uma ponte. Criação das duas situações da implantação.
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A relação conflituosa estabelecida entre a cidade de São Paulo e o Rio Tietê está também pontuada num muro de concreto com alguns recortes, que cobre parcialmente a visão da água, na borda seca do espelho d’água, voltada à Marginal Tietê. A água entra no térreo, abrindo o palco central e “deságua” no Córrego Quirino dos Santos, que margeia a área de intervenção e hoje passa praticamente despercebido pelo local.
Detalhe do muro no espelho d’água.
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Detalhe do espelho d’água.
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Detalhe do espelho d’água no térreo, abrindo no palco central.
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Detalhe do espelho d’água saindo do térreo e “desaguando” no Córrego Quirino dos Santos.
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A forma edificada nasce de um cubo, forma platônica representativa da terra e consagrada pela arquitetura moderna na forma do cubo branco. O projeto entende essa questão, mas deixa sua forma pura ser afetada, incorporando questões do contexto industrial da área, bem como do dinamismo urbano e de sua situação particular e, finalmente, de especificações para salas de música. Dessa maneira, o cubo branco é subvertido, resultando numa forma mais distorcida, e tem sua orientação feita de tal maneira para que possa sempre ser apreendido em perspectivas, a partir das ruas e pontes de seu entorno. Ainda, sua tectônica é problematizada através de trabalhos em suas fachadas, concebidas como “peles”, que alteram sua materialidade.
Diagrama de estudos da implantação.
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Vista do edifĂcio.
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Uma pele de aço corten é inserida dialogando com o passado industrial da Barra Funda, trazendo ao edifício lembranças das características originais do bairro, sendo que a camada de ferrugem, produzida naturalmente por esse tipo de aço, remete-se à passagem do tempo. Essa pele se apresenta de duas formas: como chapas lisas e também como uma chapa com diversos padrões de perfuração, recobrindo a fachada do edifício voltada mais para o interior do bairro. A chapa perfurada traz ainda mais essa ideia do tempo, mas como um elemento que acabou corroendo o passado e as características originais do bairro.
Detalhe das peles.
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A segunda “pele” do edifício entra como uma compreensão do próprio dinamismo urbano, estampado em forma de cores, transformando-se a cada momento do dia, dependendo da hora, do tempo e da estação do ano, por exemplo. A partir da captação dos ruídos do trânsito da Marginal Tietê, da ação do vento e da incidência solar essa pele se modifica entre tons de azul, roxo e magenta. Eventualmente, ela funciona como uma grande tela de projeções, revelando para a cidade o próprio dinamismo interno do Centro, expresso em forma de vultos. Para que essa pele seja possível, é proposto um material denominado “Material com Memória de Cor”. Dessa maneira, a “pele dinâmica” tem a característica de unir o contexto externo e o contexto interno do edifício e convertê-los em informação visual.
Mudanças da pele dinâmica.
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Vista do edifĂcio.
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Temos, então, o contraste entre as peles principais, uma rígida, enferrujada, corroída e outra leve, dinâmica, podendo adquirir inclusive características imateriais. Uma questão é colocada, ainda, por essas peles: como é olhar a cidade através delas, que muitas vezes funcionam como um filtro? Além disso, durante o percurso no Centro são proporcionados diversos locais de observação e enquadramento da cidade, como as varandas, abertas à Marginal Tietê e locais de enquadramentos mais inusitados, como as rampas que, também permitem, durante seu percurso, que a cidade seja observada através da pele ou livre dela e, ainda, a partir de seu último lance que se configura como um mirante.
Vista para a área central de São Paulo, a partir do mirante.
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Vista do Rio Tietê em direção à zona leste, a partir do mirante.
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Juntamente com as peles, outros materiais são importantes na relação do conjunto, como a pele de vidro anti-ruído empregada no edifício, a fim de resolver as questões acústicas fundamentais para a prática da música e da dança e que permite que a cidade seja observada “muda”, modificando sua própria apreensão e os muros de concreto ciclópico, presentes principalmente nas paredes do auditório Em composição com o edifício do Centro, o auditório nasce no subsolo e emerge como uma “caixa” de pedra, que muda o curso do espelho d’água, levando-o a “desaguar” no Córrego Quirino dos Santos. A laje de cobertura do auditório pode ser acessada através das rampas de acesso do edifício e permite que as pessoas caminhem e permaneçam sobre ela.
Vista do teatro arena.
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Chegada das rampas na laje do audit贸rio.
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Vista a partir do teatro arena em direção ao estacionamento.
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Mas além de se integrar e articular com a cidade, o Centro se apresenta também como um mundo em si, estruturado por um grande átrio que tem início com o palco central presente no térreo e termina numa cobertura transparente, permitindo uma maior interface entre os andares e o contato constante do edifício consigo mesmo, trazendo um enquadramento do céu e garantindo a visibilidade para o palco central. Portanto, o edifício se implanta e se organiza a partir do estabelecimento de relações com o entorno e consigo mesmo.
Vista através do átrio.
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A apreensão do edifício se dá mais na vertical, como uma sequencia de espaços dentro de espaços, que vão se articulando e se inter-relacionando visualmente através do átrio.
Vista dos andares.
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A circulação acontece numa hierarquia que remete à lógica urbana, inclusive àquela na qual a área de intervenção está inserida. A chamada “circulação pesada” ou “circulação de abastecimento” remete às grandes avenidas da cidade e às rodovias que a elas se ligam. Nas cidades, esse é um fluxo de acesso muito importante entre bairros e regiões. No projeto, os núcleos de circulação vertical são entendidos como esse fluxo mais pesado, de abastecimento, e é periférico.
avenidas ruas de caráter mais “local”
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circulação periférica, “abastecimento”
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Na história do bairro da Barra Funda, as “conversas de boteco e esquina”, muito características dos italianos, são constantemente citadas, bem como a ideia de “comunidade”’. Essa “apropriação”, a “vida nas ruas”, está presente internamente no edifício nos locais de circulação em volta do átrio, que dão acesso às salas e são tratados como estares. Os andares que contém usos ou situações distintas, apresentam sua circulação quebrada ou interrompida. Essa característica é também bastante presente da Barra Funda.
circulação em volta do átrio: “estares”
circulação interrompida
piso-rampa
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Assim, podemos dividir os espaços entre espaços serventes (circulação), espaços servidos (salas) e espaços híbridos (pátio interno) que são servidos mas também são serventes.
espaços serventes espaços híbridos espaços servidos
Diagrama de atividades
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Perspectiva do edifĂcio.
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Perspectiva do edifĂcio.
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Perspectiva do edifĂcio.
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projeto_zoom in Durante os anos em que o Brasil recebeu um grande contingente de imigrantes, em São Paulo os italianos dirigiram-se principalmente à Barra Funda, bairro industrial, buscando trabalho nas fábricas e indústrias.
Nessa mesma época, os negros, que antes habitavam o centro da cidade e viviam geralmente do comércio de produtos diversos, passaram a se instalar na Barra Funda devido à inauguração da Estação Ferroviária, onde viram uma possibilidade melhor de comércio. Dessa maneira, juntamente com o Campos Elísios, o bairro tornou-se a área mais caracterizadamente negra da cidade de São Paulo. Segundo Raquel Rolnik, a população negra trouxe uma marca à Barra Funda: a música, sendo que o bairro é o berço do samba paulistano. Com isso, foi escolhido inicialmente trabalhar com a música e, portanto, com o projeto de um Centro de Música. A dança foi vista como uma maneira de aproximar ainda mais as pessoas da música. Portanto, foi escolhido como programa para a Barra Funda um Centro de Música e Dança.
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A ideia é que o Centro possa extrapolar o caráter regional, recebendo pessoas de toda a cidade e, inclusive, de outros locais, configurando-se como um possível polo de atração. Considerando as transformações que estão em curso na Barra Funda, principalmente com o gradual aumento populacional, a facilidade de acesso do local e os planos urbanos que aos poucos estão sendo implantados no bairro, um Centro de Música e Dança, que se configure como um polo de atração e uma alternativa de entretenimento para o próprio bairro, mostrou-se uma escolha bastante coerente.
DIVISÃO INICIAL DO PROGRAMA A elaboração do programa busca priorizar as aulas em turmas, mas também proporcionar a estrutura necessária para aulas individuais, em pequenos grupos e, ainda, locais para estudos individuais ou em grupo. A distribuição das aulas e oficinas de música e dança se dá nos diversos
andares a partir de uma classificação, sendo, para a música, instrumentos de cordas, sopro e percussão e, para a dança, social, cênica e rítmica. Uma parte do programa foi pensada de maneira mais “experimental”, podendo abrigar palestras, workshops, oficinas de música e dança, entre outros. Salas como a “garagem”, onde bandas podem ensaiar, também se enquadram nessa categoria.
O Centro recebe, ainda, um acervo de partituras, livros e mídias sobre música e dança, bem como um “acervo musical”, onde se pode ter contato com diversos estilos de música, inclusive com as próprias apresentações do Centro. Dessa maneira, o usuário pode estar sempre em contato com a dança e a música de diferentes maneiras.
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DIVISÃO INICIAL DO PROGRAMA -palco central -café/bar; -livraria; -área administrativa, com recepção, sala da administração, sala de reuniões e apoio para funcionários (estar, copa e sanitários); -2 salas especiais, direcionadas para oficinas, workshops e dança sobre rodas; -11 salas de estudo de música; - 7 salas de dança; -sala “palco”, com dimensões que se adéquam aos palcos do Centro, para ensaios; - sala “garagem”, para ensaio de bandas; - estúdio de gravação; - acervo de partituras, livros e mídias sobre a temática música e dança; - cabines acústicas de estudo de música; - sala de vídeo; - auditório; -palco externo
Divisão do programa.
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IMPLANTAÇÃO
Grama Batatais
Cascalho
“Jardim de mamonas”
Tecnocimento
Espelho d’água
Laje de concreto do auditório
N
Córrego Quirino dos Santos Caixa d’água externa
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O paisagismo é trabalhado com formas orgânicas e simples, buscando não concorrer com a geometria forte do edifício e a linearidade do espelho d’água. Composto basicamente por grama, cascalho e piso cimentício, apresenta uma área bastante livre de árvores, permitindo uma visão desimpedida da pele dinâmica e outra área mais densa, fazendo uma ligação com a vegetação natural do Córrego que se encontra ao lado.
1
2 3 4
5
1 – livraria 2 – palco central 3 - sanitário
4 – café/bar 5 - estacionamento
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O espelho d’água se configura como um plano inclinado, que atinge uma área plana com profundidade de 0.7m, adequada para a criação de peixes. Sua estrutura é similar às estruturas de piscina, sendo feita em concreto que, superficialmente, recebe uma camada impermeabilizante. A ideia é que sejam inseridos peixes naturais do Rio Tietê, como as arraias de água doce. Nas bordas do espelho d’água se localiza o chamado “jardim de mamonas”, vegetação também típica das margens do Rio Tietê e hoje ainda presente na área de intervenção.
-0.7m
Corte do espelho d’água.
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Perspectiva do tĂŠrreo.
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Perspectiva do tĂŠrreo.
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ANDAR 01_ADMINISTRAÇÃO E ESPECIAL
* 11 3 3
6 7
7
10 10
8 9
9
3 - sanitário 6 – recepção/secretaria 7 - administração 8 - copa/estar de funcionários 9 - sanitário de funcionários 10 - salas especiais 11 - depósito * dutos do ar condicionado central
N
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O primeiro andar acontece em dois níveis, unidos por um piso-rampa. O primeiro nível apresenta as “salas especiais”, voltadas à prática de “dança sobre rodas”, bem como a oficinas e workshops. Esse espaço “especial” tem acesso direto ao térreo, podendo, de certa maneira, estar interligado a ele. O segundo nível é referente à área administrativa e seus espaços particulares.
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ANDAR 02_CORDAS E SOCIAIS
*
11
3 3 12 12 12 13
12 13
3 - sanitário 11 - depósito
12 - salas de ensino de música - cordas 13 - salas de dança - sociais * dutos do ar condicionado central
N
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O segundo andar é destinado a instrumentos de cordas, tais como violão, guitarra, baixo, viola, violino e piano (teclado está sendo considerado nessa categoria) e danças sociais, como dança de salão, bolero, tango e forró.
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Perspectiva da sala de ensino de piano. Detalhe da parede-lousa.
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Perspectiva da sala de ensino de piano.
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Perspectiva da รกrea de estar do segundo andar_detalhe do graffiti ao fundo.
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Perspectiva da รกrea de estar do segundo andar, detalhe das paredes deslizantes de chapa perfurada de aรงo ocorten.
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ANDAR 03_SOPRO E CÊNICAS
* 11
16
3 3 14 14 14 15
14 15 15
3 - sanitário 11 - depósito 14 - salas de ensino de música 15- salas de dança 16 – “acervo musical”
* dutos do ar condicionado central
N
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O terceiro andar é referente a instrumentos de sopro, tais como flauta doce e transversal, trompete, saxofone e clarinete e danças cênicas, como ballet, sapateado, dança contemporânea e dança do ventre. Também, apresenta a área de “acervo musical”, puffs com fones de ouvido e telas touchscreen onde se pode escolher o tipo de música que se deseja ouvir, inclusive apresentações dos próprios músicos do Centro e uma área de projeções de vídeos de música e dança, junto aos puffs-acervo.
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Perspectiva da área do acervo digital e parede de projeções de vídeos.
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Perspectiva da รกrea do acervo digital e chegada das escadas e elevadores.
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ANDAR 04_PERCUSSÃO E RÍTMICAS
*
11
19
3 3
17 17
17
18 18
3 - sanitário 11 - depósito 17 - salas de ensino de música 18 - salas de dança 19– área para exposições
* dutos do ar condicionado central
N
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O quarto andar é referente a instrumentos de percussão, como bateria, cuíca, tamborim e pandeiro e a danças aqui classificadas como “ritmicas”, como, por exemplo funk, zumba ou danças que misturam estilos. Nesse andar também é prevista uma área destinada a exposições itinerárias, composta por painéis e um deck de madeira com níveis elevados.
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Perspectiva do deck de madeira do quarto andar, do “beco� de espelhos com vista para a cidade e do graffiti.
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Vista dos andares.
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ANDAR 05_ACERVO, ESTUDO, PALCO, GARAGEM E ESTÚDIO 25
24 * 3
3
20 23 21
22
3 - sanitário 20- “palco” 21 - “garagem” 22 - estúdio de gravação 23- acervo 24 - sala de vídeos 25 - conjunto de salas de estudo * dutos do ar condicionado central
N
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O quinto andar também acontece em dois meio-níveis. O primeiro nível recebe o acervo de partituras, bem como de literatura e mídia referentes ao tema música e dança, cabines acústicas de ensaio e uma sala de vídeo. O segundo nível contém as salas “palco”, para ensaios de dança, “garagem”, para ensaios de banda e um estúdio de gravação musical.
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COBERTURA E MIRANTE 26 26 - mirante
N Um último lance de rampas leva ao mirante externo, que permite uma ampla visão do Rio Tietê e da cidade. O átrio, que se inicia no térreo com o palco central, termina em uma cobertura transparente, de policarbonato compacto, que permite a transmissão da luz solar mas reflete boa parte do calor, permitindo o enquadramento do céu e a entrada de luz natural no edifício. A telha zipada é adequada para grandes coberturas, por necessitar de uma baixa inclinação e apresentar alto grau de estanqueidade.
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Detalhe do mirante.
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Para o escoamento da água pluvial, são inseridas calhas e rufos pingadeiras. Os tubos de queda descem internamente aos pilares de seção tubular.
rufo-pingadeira
platibanda aço corten seção tubular, 30x100cm
rufo acabamento + calha + suporte para calha Steel Deck: camada adicional lã de vidro Steel Deck: camada adicional
Detalhe da cobertura.
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Vista do cĂŠu a partir do ĂĄtrio.
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CORTE AA
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CORTE BB
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Vista dos andares.
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Vista dos andares.
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“BANCOS-SOM” Bancos de acrílico, desenvolvidos a partir do desenho das ondas sonoras de instrumentos com diferentes frequências e timbres.
“Banco-som”
Som forte e som fraco / Ondas sonoras com a mesma frequência, mas diferentes timbres. (fonte: http://www.fisicaequimica.net/som/propriedades.htm)
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“PUFFS” O mobiliário predominante nos estares do Centro são os puffs. Tanto na área externa, com os extensos gramados, quanto no interior do edifício, a ideia é que as pessoas sentem mais próximas ao chão do que o usual , podendo se deitar, estabelecendo relações diferentes com o espaço. Isso também ocorre com os níveis no deck de madeira do quarto andar. São dois tipos de puffs: os “puffs-acervo”, do acervo musical, com uma tela touchscreen onde se pode escolher tipos de música e ouvir com fones de ouvido e os “puffs-mesa”, quadrados, que podem ser unidos ou empilhados de diferentes maneiras.
Puffs-acervo
Puffs-mesa
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Vista da varanda e chegada das rampas.
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DETALHES As janelas dos banheiros são tiras de 0,5m de altura e comprimento igual à largura da sala, protegidas por tela perfurada, fazendo apenas uma diferenciação entre a chapa contínua de aço corten e a chapa perfurada, na fachada onde se encontram. Localizam-se logo abaixo da passarela que liga a entrada e saída das rampas de acesso, permitindo, assim, a privacidade necessária. As portas das salas são revestidas por chapas de aço corten, apresentando uma parte móvel para abertura e uma bandeira fixa que vence a altura do pé-direito. Nas salas de música e dança são portas especiais com tratamento acústico adequado.
Detalhes: janelas dos banheiros e portas.
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AUDITÓRIO
auditório teatro arena/palco externo
N
acesso ao túnel (entrada e saída) área de carga e descarga O conjunto do Auditório é acessado através de rampas que ligam diretamente o térreo do edifício principal ao foyer e recebe, também, um túnel para veículos, com entrada pelo estacionamento e saída pela Marginal Tietê, para carga/descarga e eventuais emergências. Externamente, a parede do auditório auxilia o palco externo, juntamente com o volume do edifício, trabalhando como uma barreira acústica contra os ruídos do trânsito.
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Vista superior do audit贸rio.
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28 3
3 - sanitário
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3
Planta do auditório.
N
27 - foyer
28 - platéia 29 – sala técnica 30– apoio/camarins 31 - coxia 32 - palco
O auditório se configura como um palco italiano, com capacidade de 480 lugares.
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Vista do palco em direção à plateia.
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Corte do auditório.
Como na cobertura acessível do auditório não há guarda-corpo, é proposta uma
sinalização com faixa amarela e uma barra metálica horizontal, percorrendo todo o seu perímetro, a um metro de distância das bordas.
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Perspectiva do audit贸rio.
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projeto_zoom + Na segunda etapa do Trabalho de Graduação Integrado, além de um aprofundamento das questões projetuais, foi desenvolvida uma série de detalhamentos, a fim de prover o projeto de um maior amadurecimento técnico e construtivo.
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PELE DINÂMICA A “pele dinâmica” entra no projeto revelando o dinamismo presente tanto na cidade quanto no próprio Centro. A partir da captação de estímulos externos, principalmente o ruído da Marginal Tietê, a incidência da luz solar e o vento, a pele se modifica, variando entre os tons de azul (menor estímulo), roxo (estímulo usual) e magenta (maior estímulo). Pode, ainda, receber projeções, inclusive de apresentações ou eventos que estiverem ocorrendo dentro do próprio Centro. Essa pele tem a
característica de estampar, em forma de cores, o dinamismo próprio da cidade e do cotidiano, bem como do Centro em si. Como uma questão colocada é: “como é olhar a cidade através de uma pele?”, ela se coloca como um “filtro” sobre a paisagem conhecida, modificando a maneira de percebê-la e compreendê-la e, assim, podendo trazer novas apreensões de algo já familiar. Portanto, a “pele” principal do edifício é quase uma membrana, que se coloca entre o edifício e a cidade, estabelecendo
relações de dentro para fora e de fora para dentro. Para que o efeito proposto pela pele seja obtido, propõe-se o desenvolvimento de um novo material, chamado “Material com Memória de Cor”, desenvolvido com o auxílio dos professores Alvaro Abdalla e Carlos Demarqui, professores do Departamento de Engenharia de Materiais, Aeronáutica e Automobilística na Escola de Engenharia de São Carlos –USP.
Partindo do tecido arquitetônico Stamisol FT 381©, da Serge Ferrari, propõe-se sua implementação com pigmentos fotocrômicos, malha de LEDs e sensores piezelétricos.
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STAMISOL FT 381©, Serge Ferrari Nas buscas por um material adequado para a pele, foi encontrado e tomado como referência o Danish Concert Hall, de Jean Nouvel, que utiliza o tecido Stamisol FT 381© como uma “capa” que recobre o volume original do edifício, provendo-lhe de uma fachada quase etérea. O tecido Stamisol FT 381© foi escolhido por
proporcionar um alto grau de
transparência, funcionando como o “filtro” desejado e por possibilitar a criação de sombras e efeitos 3D. Ainda, é um material apropriado para diversos tipos de ambientes, incluindo os mais severos, o que se encaixa à situação de um edifício público. Outras características também são importantes, como o auxílio na proteção acústica, necessária principalmente nas salas de ensino musical.
Detalhe da malha do Stamisol FT 381© (fonte:http://www.archiproducts.com/en/ products/24672/stamisol-ft381-sergeferrari.html )
Danish Concert Hall_Jean Nouvel (fonte:http://www.flickr.com/photos/31058959@N04 /4982433744/sizes/z/in/photostream/)
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A cidade vista atravĂŠs do tecido e seu alto grau de transparĂŞncia. (fonte: http://www.flickr.com/photos/31058959@N04/4982433744/sizes/z/in/photostream/)
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SENSORES PIEZELÉTRICOS Sensores piezelétricos são dispositivos que utilizam o efeito piezelétrico, ou seja, têm a capacidade de captar energia mecânica e transformá-la em energia elétrica. Dessa maneira a vibração do vento e ruídos presentes no ambiente urbano, os automóveis das avenidas e marginais, máquinas e fábricas (energia mecânica), por exemplo, podem ser convertidas em estímulos elétricos capazes de alimentar as baterias que, posteriormente, estimularão a malha de LEDs.
energia mecânica
energia elétrica Diagrama do princípio dos sensores piezoelétricos.
ruído do trânsito vento
LED
Diagrama do princípio dos sensores piezelétricos ligados a baterias e LEDs.
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PIGMENTOS FOTOCRÔMICOS Pigmentos fotocrômicos são substâncias que têm a capacidade de mudar sua cor, de forma reversível, quando expostas aos raios ultravioletas da luz. A cor dos pigmentos progressivamente se revela quando são expostos à luz do sol e vai se perdendo conforme a fonte de luz é removida, variando sua intensidade conforme a intensidade do estímulo.
LUZ SOLAR radiação ultravioleta
INCOLOR
COLORIDO
Diagrama do princípio dos pigmentos fotocrômicos.
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LEDS O LED é um componente eletrônico semicondutor,
que tem a propriedade de
transformar energia elétrica em luz. Tal transformação é diferente da encontrada nas lâmpadas convencionais, que utilizam filamentos metálicos, por exemplo, pois a transformação de energia elétrica em luz é feita na matéria, chamada de Estado sólido. Por ter baixas voltagens, necessita de pequenas cargas de energia. Seu fluxo luminoso é variável em função da variação da corrente elétrica aplicada, possibilitando modificações da intensidade da luz emitida. Não emitem radiação ultravioleta. Portanto, na pele dinâmica, não interferem nos pigmentos fotocrômicos.
BATERIAS E LIGAÇÕES As baterias são do tipo Bateria de Filme Fino, por serem bastante discretas e a ligação entre todos esses elementos é feita através de circuitos impressos no tecido.
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MATERIAL COM MEMÓRIA DE COR O material com memória de cor é o tecido Stamisol FT 381© implementado a partir da aplicação de uma malha de LEDs e de pigmentos fotocrômicos nas trama de sua própria malha (os LEDs são cobertos por uma camada extra de tecido, a fim de repelir a água e proporcionar uma maior suavidade da luz), bem como de sensores piezoelétricos, responsáveis por captar a vibração do som e do vento e transformá-los na energia, estocada nas baterias e que alimentaos LEDs. Por ser um material maleável, o tecido permite que os sensores piezoelétricos absorvam os impulsos mecânicos do som e do vento e os converta em energia elétrica.
ruído do trânsito
LED
vento
+
LUZ SOLAR radiação ultravioleta
Stamisol FT381© Serge Ferrari INCOLOR
COLORIDO
Diagrama do princípio do “Material com Memória de Cor”.
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REFERÊNCIAS Embora o “Material com Memória de Cor” não esteja disponível no mercado, a tecnologia necessária para sua elaboração existe. Portanto, ele é uma diretriz de como unir diferentes tecnologias. As principais referências são os tecidos Phillips Lumalive e Lumigram, o papel de parede interativo “Not So White Wallpaper” e o edifício GreenPix.
PHILLIPS LUMALIVE Tecnologia que integra LEDs nas fibras do tecido. O display do tecido é baseado num substrato flexível no qual LEDs RGB são montados numa matriz de 14 x 14 pixels, podendo receber conteúdo via USB. Sua bateria é recarregável e de lítio, com duração aproximada de 4 horas.
Phillips Lumalive (fontes: http://www.itu.dk/stud/projekter_e2006/take_a_break/smart_textiles.html http://www.nova-nex.com/en/pd/projects/philips-lumalive-shirt)
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LUMIGRAM “FIBER OPTICS FABRIC” (LUMINOUS FABRIC) Os tecidos de fibra óptica são produzidos a partir de fibras ópticas ultrafinas, especialmente desenvolvidas para que a luz possa ser emitida ao longo de todo seu comprimento, diretamente tecidas junto às fibras sintéticas. Nas extremidades do tecido são incorporados LEDs ultrabrilhantes, aos quais incorporam-se as fibras ópticas, que trasmitem a luz.
Lumigram (fonte: http://www.lumigram.com/catalog/download/LumiGram%20Decoration%20Collection.pdf)
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NOT-SO-WHITE-WALLS: INTERACTIVE WALLPAPERS Papel de parede projetado pelo designer Dario Buzzini. Embora a superfície pareça com uma parede normal, na verdade são interfaces que funcionam como displays, cuja parte posterior é coberta por uma grelha de sensores, materiais condutores e resistências. A interação física permite o acionamento de luzes e eletrodomésticos e, até mesmo, o acesso a e-mails e fotos através de celulares ou computadores. Uma outra versão do papel de parede funciona como um barômetro, modificando sua cor de acordo com o nível de umidade detectado na atmosfera.
Not-So-White-Walls: Interactive Wallpaper (fonte: http://www.engadget.com/2004/11/03/not-so-white-walls-interactive-wallpaper/)
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GREENPIX (Simone Giostra & Partner Architects) _ Pequim, 2008 O GreenPix é conhecido como uma parede midiática de “zero energia”, aliando sustentabilidade a tecnologia de mídia digital, sendo um dos maiores displays de LEDs coloridos do mundo. É um sistema fotovoltaico integrado a uma parede de vidro., que coleta a energia solar durante o dia e a utiliza à noite para iluminar a tela, espelhando um ciclo climático do dia. As células fotovoltaicas policristalinas são laminadas dentro do vidro da parede e colocadas em toda a superfície do edifício, dessa maneira a caixa opaca ganha a habilidade de comunicação com o entorno urbano, através de uma transparência digital, transformando a fachada do edifício em um meio ágil de entretenimento e participação do público.
GreenPix (fonte: http://www.greenpix.org)
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ESTRUTURA DA PELE DINÂMICA A fixação da pele é feita através de um sistema de grelhas que suportam os paineis de fixação do tecido e se ligam aos pilares e vigas do edifício de maneira similar à fixação da chapa perfurada, detalhada no próximo tópico.
Elevação: da grelha estrutural e detalhe da fixação da pele dinâmica.
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Esse tipo de estrutura é similar à chamada “gaiola de pássaro”, presente no Danish Concert Hall, de Jean Nouvel.
“Gaiola de pássaro”, Danish Concert Hall. (fonte: http://www.house42.com/2009/04/06/dr-concert-hall-construction-site-copenhagen/)
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PELE DE AÇO CORTEN A pele de aço corten é inserida dialogando com o passado industrial da Barra Funda. A camada de ferrugem, produzida naturalmente por esse tipo de aço remete-se à passagem do tempo. Essa pele se apresenta de duas formas: como chapas lisas e como chapas com diversos padrões de perfuração, recobrindo a fachada do edifício voltada mais para o interior do bairro. A chapa perfurada traz ainda mais essa ideia do tempo, mas como um elemento que acabou corroendo o passado e as características originais do bairro.. O padrão de perfuração da chapa tem como referência o Cubo Laranja, de Jakob +MacFarlane.
Cubo Laranja, de Jakob + McFarlane (fonte: http://www.designboom.com/weblog/cat/9/view/13017/jakob-macfarlane-orangecube.html)
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perfil tubular retangular 15x10cm, de aço corten chapa perfurada de aço corten perfurada Metalon perfil tubular tipo caixão 2.5x3.5cm, em aço galvanizado
parafuso de alta resistência arruela de teflon chapa de ligação entre perfis chapa de ligação entre a grelha estrutural da chapa e a estrutura do edifício parafuso de alta resistência
Detalhe da fixação da chapa perfurada
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PELE DE AÇO CORTEN: STEEL FRAME O Steel Frame se estrutura de maneira similar a paredes de drywall, sendo que, no Centro, a vedação externa é feita por chapas planas de aço corten e, internas, por placas de gesso acartonado. Uma das vantagens
do Steel Frame e do DryWall, é a possibilidade de todas as
instalações hidráulicas e elétricas estarem embutidas diretamente na vedação, ainda mais quando se apresentam com grades espaçamentos entre as placas de vedação, como no caso do Centro.
Planta: parede de Steel Frame.
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Corte: parede de Steel Frame.
Corte: parede de Cteel Frame – tratamento acústico.
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SISTEMAS ESTRUTURAIS O sistema estrutural do edifício é metálico e utiliza aço corten, a fim de se harmonizar com os conceitos empregados na elaboração do projeto, principalmente com as peles de chapa plana e chapa perfurada de aço corten.
Partindo de uma solução usual de estrutura em grelha, lançam-se as vigas principais, com vãos aproximados de 12m. Para uma maior sustentação, necessária principalmente pela alta carga e impactos presente no Centro, um sistema de grelhas secundárias é inserido, tendo vãos aproximados de 3m. Uma vez que essas grelhas ficarão aparentes nos corredores, térreo e acervo, são introduzidas vigas com dimensão reduzida, formando-se uma grelha tetraédrica, proporcionando uma maior sensação de continuidade. A escolha por esse tipo de grelha é uma citação ao arquiteto Kahn, no projeto da ”Yale University Art Gallery”.
Grelha tetraédrica da Yale University Art Gallery (fonte:http://www.donhead.com/journal_architectural_conservation/13%202%20papers/Yale_University_ Art_Gallery.htm)
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Os pilares são inseridos buscando manter a área central do edifício o mais livre possível, visando uma maior fluidez no interior do edifício.
vigas principais (seção tubular, 30cm x 50 cm) vigas secundárias (seção tubular, 15cm x 25cm) vigas: grelha tetraédrica (seção tubular, 10cm x 25cm) pilares (seção tubular, 30cm x 60cm)
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Como o átrio se modifica em todos os andares, a grelha estrutural também sofre pequenas variações, pra acomodar as diferentes aberturas de cada andar.
Perspectivas da grelha estrutural do edifício. As lajes são em Steel Deck, um sistema misto que, além de ser adequado para grandes vãos, permite a inserção de material isolante, como lã de rocha, para um maior conforto térmico e acústico – solução presente na laje de cobertura do edifício. Esse sistema de grelhas metálicas auxilia no tratamento acústico das salas pois funciona como forro acústico e técnico, além de participar do sistema de isolamento acústico chamado “box in a box”, adotado no Centro.
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Nos corredores, térreo e acervo, a iluminação é inserida nessa grelha tetraédrica e recebe uma vedação de policarbonato, mantendo o desenho.
Detalhe: iluminação inserida na grelha tetraédrica.
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Na cobertura do auditório, o sistema de grelha metálica é mantido, dado o grande vão livre, e ocorre da mesma maneira que a grelha estrutural do edifício, exceto pela ausência do fechamento tetraédrico. Os pilares estão apenas nas vigas de borda, mantendo a plateia livre. A laje é do tipo “Slim Floor”, sistema misto com características similares ao Steel Deck, porém com a laje parcialmente inserida entre as vigas, diminuindo sua altura final. Posteriormente, recebe impermeabilização adequada.
vigas principais (seção tubular, 30cm x 50 cm). vigas secundárias (seção tubular, 15cm x 25cm. Parede estrutural de concreto ciclópico.
pilares de concreto, seção 30cm x 60cm. pilar metálico do edifício que atravessa o auditório.
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Como a parede estrutural de concreto ciclópico tem uma superfície bastante irregular, devido às pedras, foi necessária a colocação de pilares de concreto parcialmente inseridos nessas paredes, criando uma interface entre elas e a grelha metálica, que necessita de precisão em sua fixação.
cobertura tipo “Slim Floor” chumbadores grelha estrutural
chapa de fixação e apoio pilar de concreto
parede estrutural de concreto ciclópico
Detalhe: interface muro concreto ciclópico x pilar de concreto x grelha estrutural no auditório.
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FUNDAÇÃO As fundações, tanto do edifício quanto do auditório e do túnel, são do tipo estaca. O diâmetro proposto é de 30cm e a profundidade estimada é de, no mínimo, 10m, necessitando de análises do solo local a fim de um dimensionamento exato.
bloco de transição pilar
chapa de fixação_pilar-bloco de transição Planta
pilar
chapa de fixação_pilar-bloco de transição bloco de transição
estaca
Corte
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Em alguns momentos, os pilares das rampas de acesso ao edifício colocam-se sobre o espelho d’água. Por serem metálicos, necessitam de uma camisa de concreto impermeabilizado para garantir sua integridade e desempenho.
pilar metálico
“camisa” de concreto impermeabilizado espelho d’água
fundação
Detalhe: chegada de um pilar metálico no espelho d’água.
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TÚNEL O túnel de carga e descarga que se liga ao auditório possui uma estrutura independente, impedindo, assim, que o auditório seja estruturalmente prejudicado por ele. No contato entre as duas estruturas há um espaço de 2,5cm preenchido com isopor, a fim de evitar problemas relacionados a diferentes coeficientes de dilatação. Outra particularidade é que, dada a proximidade da área com o Córrego Quirino dos Santos, a parede lateral do túnel recebe um reforço estrutural, que funciona como um muro de contenção, denominado “terra armada”.
terra armada
espaçamento preenchido com isopor (junta de dilatação). Detalhe: interface entre a parede estrutural do auditório e o túnel de carga e descarga.
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Canaletas de concreto com grelha de ferro fundido
Para a captação da água pluvial, ao longo de todo o túnel são inseridas canaletas de concreto com grelha de ferro fundido, que levam a água da chuva diretamente à rede de esgoto.
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ACÚSTICA O tratamento acústico do Centro foi pensado com muita cautela, não apenas para atender às necessidades acústicas de salas para a prática de música e dança mas também pelo fato dessas duas atividades estarem muito próximas e dado a proximidade com a Marginal Tietê, fonte constante de ruído intenso. Algumas considerações foram respeitadas, principalmente nas salas de ensino de música, tais como evitar o paralelismo entre as paredes, evitar paredes de comprimento similar ou múltiplo e evitar que ângulos muito agudos sejam formados entre elas.
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ESPELHOS ACÚSTICOS Como o palco do auditório é do tipo italiano, com as paredes perpendiculares, é necessária a colocação de espelhos acústicos nas paredes e na cobertura, para uma melhor distribuição das ondas sonoras pelo ambiente.
Detalhe: estudos para colocação de espelhos acústicos nas paredes e cobertura da área de apresentações do auditório.
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MATERIAIS Tempo de reverberação é o tempo que o som demora para se extinguir após múltiplas reflexões. Cada atividade requer um tempo de reverberação ótimo diferente na sala onde será exercida, que varia também de acordo com a frequência do instrumento, praticado por exemplo. Um dos fatores principais para o tempo de reverberação é o tipo e quantidade de materiais aplicados na superfície das salas.
Baixas frequências/sons graves: 31,25 - 62,5 -125 - 250HZ Médias frequências/sons médios: 500 - 1000 – 2000HZ Altas frequências/sons agudos: 4000 – 8000 – 16000HZ
Frequência de alguns instrumentos: Contrabaixo: 41 – 247HZ Trombone: 82 – 588HZ Clarinete: 73 – 88HZ Saxofone: 88 – 110HZ Trompete: 164 – 1046HZ Piano: 32 – 400HZ.
Assim, para os dois casos principais presentes no Centro: Tempo ótimo de reverberação_Sala de educação musical 125 < f < 250HZ Tr < 1,5s 250HZ < f < 4000HZ 1,0s < Tr< 1,3s Tempo ótimo de reverberação_Sala de concertos 125 < f < 250HZ 0,8s <Tr < 1,3s 250HZ < f < 4000HZ 1,3s < Tr< 1,5s
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Como uma das variáveis que influenciam o tempo de reverberação em uma sala é tipo de material aplicado nas superfícies, bem como a área por ele ocupada, para saber se a sala está exatamente nos padrões desejados é necessário um projeto especifico de acústica. Aqui, deixamos indicado os tempos de reverberação ótimos para as salas do Centro e a necessidade desse projeto específico, mas podemos colocar como diretriz as superfícies que receberiam os materiais refletores e os absorventes, de maneira a evitar reflexões demasiadas e ondas estacionárias.
Materiais refletores
Materiais absorventes Diretrizes para aplicação dos materiais.
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SISTEMA DE ISOLAMENTO ACÚSTICO “BOX-IN-A-BOX” Devido à proximidade entre as salas de diferentes tipos de atividades e, inclusive, instrumentos com frequências distintas, foi escolhido como sistema de isolamento acústico o chamado “box-in-a-box”, capaz de absorver inclusive sons graves, os mais difíceis de serem controlados. O sistema consiste em se construir uma “sala flutuante” internamente à sala original e que não toca diretamente a estrutura e as vedações do edifício, fazendo com que a vibração do som aconteça entre as camadas adicionais e as vedações e estrutura originais e, dessa maneira, se dissipe antes de serem transmitidas pelo edifício.
paredes/estrutura
isolante acústico
forro acústico/paredes adicionais e piso flutuante Exemplificação do sistema “box-in-a-box”.
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DRY WALL As vedações internas do edifício são de drywall, uma vez que esse sistema atende bem às diferentes necessidades de isolamento acústico. Para aumentar ainda mais o desempenho, além das paredes de drywall serem duplas e preenchidas por isolante acústico, é inserida uma camada adicional de gesso acartonado e isolante.
Planta: parede de drywall.
Planta: parede de drywall – tratamento acústico.
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Cortes: parede de drywall e tratamento acĂşstico.
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FORRO O “forro falso”, além de ser fundamental para a configuração do sistema “box-in-abox”, funciona também como um forro técnico.
Tratamento acústico do forro.
PISO FLUTUANTE O “piso flutuante” é uma solução indispensável em salas de dança, onde recebe cobertura de piso laminado de madeira, podendo ser utilizado também nas salas de música, participando da eficiência do sistema “box-in-a-box”.
LAMINADO DE MADEIRA(e=6mm) MANTA DE ESPUMA (e=3mm) LAMINADO DE MADEIRA(e=6mm)
CARPETE SEM RESINA (e-12mm)
LAJE
Tratamento acústico do piso.
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PORTA ACÚSTICA É proposto que as portas acústicas das salas sejam compostas por um painel do tipo “Wall Eternit” e lã de vidro, para um melhor desempenho acústico, com acabamento emchapa de aço corten.
O painel Wall Eternit apresenta bom desempenho acústico para todas as frequências de som, bem como alto grau de isolamento acústico, devido à sua alta densidade superficial, já que seu miolo é de madeira maciça, contraplacado em ambas as faces por lâminas de madeira e externamente por chapas lisas de CRFS (Cimento Reforçado com Fio Síntético).
Detalhe: porta acústica.
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PELE DE VIDRO Devido à necessidade de alto isolamento acústico nas salas de aula, o edifício recebe uma pele de vidro acústico fixa, que permite um isolamento de até 55dB. Para tanto, é proposto um vidro duplo com espaçamento de ar desidratado, formando um sistema de isolamento acústico muito eficiente conhecido como massa-mola-massa, pois os sons têm dificuldade de atravessar meios
heterrogêneos, devido aos padrões vibratórios distintos dos materiais constituintes. Para que os vidros acústicos apresentem um melhor desempenho, é preferível que tenham espessuras distintas. Ainda, por ser um edifício público, o vidro externo deve ser laminado, ou seja, duas lâminas de vidros unidas por uma película plástica, o que impede, em caso de quebra, que o vidro estilhaçado se solte da esquadria. No caso, é proposto que o espaçador entre as camadas de vidro seja uma peça especial do tipo Isolar Akustex, que auxilia o desempenho acústico do sistema.
Detalhe: vidro acústico.
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INTERFACE ENTRE O SISTEMA ESTRUTURAL DO EDIFÍCIO E AS SOLUÇÕES ACÚSTICAS DA PELE DE VIDRO E PISO FLUTUANTE.
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BANDA ACÚSTICA A banda acústica é aplicada na estrutura do contorno da parede em drywall, guias e montantes. Além de impedir a passagem de som por eventuais frestas entre o perfil e o elemento estrutural, evita que a onda sonora que atinge a parede se transmita-se para os elementos estruturais por vibração, participando ativamente do sistema “box in a box”. É uma vedação acústica recomendável nas aberturas, como no encontro do batente com o perfil de contorno das aberturas e em seu rebaixo, evitando a passagem de som ou a transmissão de vibração na batida da porta e impede a passagem do som com a porta fechada.
Detalhe: banda acústica (fonte: www.drywall.org.br)
รกrea
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área_zoom out O tradicional bairro da Barra Funda está situado na zona oeste de São Paulo, pertence à subprefeitura da Lapa e está muito próximo do chamado “centro velho” da cidade, que compreende os bairros de Santa Cecília, Bela Vista, Liberdade, Consolação, República, Cambuci, Bom Retiro e Sé.
Proximidade entre a Barra Funda e os bairros do centro tradicional de São Paulo
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Sua origem ocorreu num momento de transformações da cidade de São Paulo, que começaram a lhe conferir uma feição urbana renovada, relacionada ao ciclo econômico, social e político, a partir do aumento da produção de café, quando a cidade se tornou centro de ligação ferroviária entre o interior e o porto de Santos, e que pôde ser percebido a partir de 1870. A partir da implantação da Estrada de Ferro Sorocabana (1875) e da duplicação da Estrada de Ferro São Paulo Railway (1882), a Barra Funda começou a se consolidar como um bairro industrial e operário, com seu parque industrial fortalecido pela chegada dos imigrantes no final do século XIX. Essa característica conferiu-lhe um traçado urbano e feições peculiares, com duas parcelas distintas: a norte, entre o Rio Tietê e a linha férrea, onde foram instalados os locais de armazenamento e as casas operárias e que apresenta quadras extensas e circulação de pedestres e veículos diversas vezes quebrada ou interrompida, e a sul, entre a ferrovia e o bairro de Perdizes, que é predominantemente residencial, apresentando lotes e quadras menores, com um traçado mais regular. Com isso, até hoje, é possível observar que seu traçado urbano, principalmente da parcela norte, muito difere do tradicional traçado quadriculado dos bairros residenciais ao seu redor. Pode-se dizer que há dois elementos de presença significativa para o bairro, a ferrovia e o Rio Tietê, barreiras físicas que durante anos foram tidas como fatores de degradação ambiental e segregação espacial da área. Segundo Rita Cannuti: A Barra Funda, desde sua origem, (...) é um bairro fragmentado pelas barreiras físicas representadas pela ferrovia e o Rio Tietê. Dessa forma, o bairro é configurado por suas partes alta e baixa. A parte alta, apesar de característica mista, é mais luxuosa e se aproxima dos tipos de edificações encontradas nos Campos Elísios, enquanto que a parte baixa mais popular, tem características semelhante às edificações do Bom Retiro. (CANUTTI, 2008, p.33)
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comparação entre a malha urbana irregular da Barra Funda, de características industriais com grandes quadras, para poder abrigar galpões, e circulações longas, e a malha dos bairros a seu redor, de característica residencial, com traçado regular.
Barra Funda_bairro industrial
bairros residenciais.
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Sem comungar exatamente com a ideia que o rio Tietê fragmenta o bairro, observa-se ainda que o mesmo é atravessado por dois importantes eixos viários da cidade, articulados com diversas rodovias, a Avenida Presidente Castelo Branco (Marginal Tietê) e, mais recentemente, a Avenida Marquês de São Vicente. Além disso, o transporte público na área foi fortalecido com a implantação do Terminal Intermodal da Barra Funda, em 1988, que articula ônibus municipais, intermunicipais e interestaduais, metrô e trens da CPTM e que promoveu o bairro a importante nó intermodal da cidade. Ainda, atualmente a região apresenta equipamentos como o Memorial da América Latina, um importante centro cultural inaugurado em 1989, bem como abriga as sedes da Rede Record de Televisão, implantada em 1995 e da Federação Paulista de Futebol e os Fóruns Trabalhista Rui Barbosa e Criminal Mário Guimarães.
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Marginal Tietê
Pontos importantes
Rio Tietê
Estacionamento
Eixos transversais Eixos longitudinais
GRES Camisa Verde_futura “Fábrica do Samba”
Linha férrea
Parque da Água Branca.
Ruas importantes
Terminal intermodal da Barra Funda
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Durante o século XX, a Barra Funda foi objeto de intervenções urbanas que reconfiguraram a região, sendo que na primeira metade do século, as intervenções mais expressivas estavam relacionadas às obras sanitaristas e de reestruturação do viário, já no sentido de privilegiar os deslocamentos urbanos, como (...) por exemplo, a abertura e o prolongamento de vias, a retificação e canalização do rio Tietê, entre outros. As intervenções viárias e obras de saneamento buscaram articular o deslocamento de pessoas e mercadorias no âmbito regional, sendo secundário o desenvolvimento do bairro e, portanto, tais intervenções não estiveram relacionadas a relocalização do centro principal, a criação de um sub-centro e consequentemente, a atração das camadas de alta renda. (CANUTTI, 2008, p.3).
A partir de 1950, as transformações ocorridas na Barra Funda aprofundaram esta situação, estando relacionadas ao processo de metropolização da cidade de São Paulo. Nesse período, a taxa de crescimento populacional de São Paulo, que na primeira metade do século havia alcançado
cerca de 4,5% ao ano, começou a apresentar algum arrefecimento, sendo que em 1970 a população crescia a 3,7% ao ano e em 1980 essa taxa caíra a 1,2%. (...) A capital paulistana estava pois perdendo seu poder de atração e retenção migratória, no bojo da crise do emprego, da perda do dinamismo industrial, do redirecionamento dos fluxos migratórios para cidades médias, da amplificação do fenômeno de retorno dos migrantes do Nordeste e de outras regiões. A violência, a perda da qualidade de vida, os problemas de poluição sonora, do ar e visual e outras deseconomias da aglomeração também passaram a ter peso crescente na decisão de saída de famílias da capital (...) que passaram a se dirigir a outras cidades próximas na Região Metropolitana (...) (JANNUZZI, 2006)
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Após a década de 1960, a dinâmica da evolução industrial progressivamente conduziu a desativação das unidades industriais existentes ao longo das ferrovias em favor de áreas localizadas em regiões mais próximas a rodovias e geralmente ainda não urbanizadas. Com isso, o bairro e suas regiões próximas foram perdendo a importância enquanto polo produtivo na cidade. Segundo Raquel Rolnik (1997), a concentração de investimentos públicos no vetor sudoeste de São Paulo, nessa época, pode parcialmente explicar o estado de aparente abandono que foi se configurando na Barra Funda a partir da segunda metade do século XX. Pode-se dizer que o vetor sudoeste compreende a macro-zona formada pelas zonas oeste e centro-sul, ou ainda, é delimitado a norte pelo Rio Tietê, a oeste pelo Rio Pinheiros, a leste pelo Rio Tamanduateí e a sul pelos distritos de Santo Amaro e Jabaquara e (...) é reconhecidamente o lugar onde se concentram as principais oportunidades e benefícios da vida urbana de São Paulo. Nele se encontra a maior parte dos empregos, as áreas de moradia dos grupos com maiores rendimentos, os melhores espaços públicos, museus, teatros, hospitais, a maior parte dos equipamentos de consumo e de prestação de serviços privados. A estruturação desta centralidade se valeu de investimentos públicos e privados de grande monta, voltados para a construção de edifícios residenciais e não-residenciais, da ampliação da malha viária, da oferta de diversos serviços urbanos de uso coletivo, da implantação das infra-estruturas de iluminação pública, energia elétrica, transporte de massa e saneamento básico, além da criação e do paisagismo de áreas verdes. A constituição dos pólos administrativos, de consumo e de serviços nas avenidas Paulista, Engenheiro Luís Carlos Berrini, Brigadeiro Faria Lima e em alguns trechos da via marginal ao rio Pinheiros (avenida das Nações Unidas) revela a reconfiguração econômico-territorial das atividades que apresentam grande dinamismo e capacidade de polarização. A expressão “centro expandido” é insuficiente para designar esse fenômeno, pois não se trata de uma simples expansão do centro abarcando algumas áreas do quadrante sudoeste. Trata-se de um processo de mudança na própria configuração espacial das atividades centrais, principalmente naquelas de cunho administrativo empresarial, de cultura e lazer e nas formas de territorialização. (CAMPOS, NAKANO, ROLNIK, s/a, p. 125-126)
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Dessa maneira, mesmo apresentando uma infraestrutura consolidada e boas condições de macro-acessibilidade, dado o porte de seu sistema viário e à presença do Terminal Intermodal da Barra Funda, ao final do século XX o bairro não apresentava um dinamismo cultural e de negócios, resultado de diversos fatores, dentre os quais da expansão da zona urbana, que se deu, progressivamente, do Centro e bairros próximos em direção à periferia e bairros mais afastados. Segundo Jannuzzi (2006), “o processo de ‘esvaziamento populacional’ da região central pode ser constatado visivelmente pela quantidade de imóveis e prédios desocupados nos distritos da Sé, Brás e Santa Cecília”, condição que também pode ser observada no esvaziamento de extensas áreas outrora industriais, com terrenos e construções abandonadas ou subutilizadas. Ainda, segundo Rita Canutti (2008, p. 5), ao analisar a trajetória de formação, consolidação, retração e reestruturação urbana da Barra Funda no decorrer do século XX, fica evidente, conforme já apontado, que grande parte das intervenções urbanas realizadas no bairro, promovidas pelo poder público, tiveram um caráter regional, resultando em determinados períodos em limitações ao seu desenvolvimento, auxiliando na configuração do quadro de estagnação total da área, conforme observado pela autora: As intervenções viárias e obras de saneamento buscaram articular o deslocamento de pessoas e mercadorias no âmbito regional, sendo secundário o desenvolvimento do bairro e, portanto, tais intervenções não estiveram relacionadas com a relocalização do centro principal, a criação de um sub-centro e consequentemente, a atração de camadas de alta renda (CANUTTI, 2008, p. 3)
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No entanto, a partir de 1990 a região recomeçou a ser foco de investimentos intensivos da iniciativa pública e privada, a fim de promover sua revalorização e desenvolvimento. A implantação do Terminal Intermodal da Barra Funda no final da década de 1980, mesmo sendo uma intervenção de caráter regional, reanimou a atividade imobiliária na região, que, no entanto, teve sua maior taxa de crescimento apenas a partir do ano 2000. A presença de cerca de 1.100.000m2 de glebas vazias ou com baixo aproveitamento, boa parte pertencente ao poder público, potencialmente facilita a implementação de projetos urbanos, reforçando as possibilidades de renovação urbanística da região. Questões como a reestruturação do viário - principalmente da parcela norte, configurada entre a ferrovia e o Rio Tietê - que se apresenta deficiente e truncada, como reflexo do processo de ocupação industrial, e mesmo a despoluição do Rio Tietê - ainda que exceda a questão do bairro - estão sempre na mira dessas possibilidades. Neste quadro, corroborando com as potencialidades locais, atualmente está em vigor a chamada Operação Urbana Água Branca, elaborada em 1995 e readequada com a implantação do Estatuto da Cidade em 2001, do Plano Diretor em 2002 e do Plano Regional em 2004, sendo constantemente reavaliada. No entanto, até agora, teve poucos de seus objetivos implantados. Compreendendo parte dos bairros Água Branca, Perdizes e Barra Funda, a Operação Urbana Água Branca aponta para a necessidade de complementação e integração do sistema viário, bem como a revisão de projetos pré-elaborados para a área, implantação de obras de drenagem e a necessidade de adensamento e ocupação da área. Seu objetivo estratégico está explicitado no Artigo 2º. da lei no 11.774: A Operação Água Branca tem como objetivo geral promover o desenvolvimento urbano e melhorar a qualidade de vida dos atuais e dos futuros moradores da área objetivada, promovendo a valorização da paisagem urbana, a melhoria da infra-estrutura e da sua qualidade ambiental. (BRASIL. Lei nº 11.774 De 18 de maio de 1995.)
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Já, no Artigo 3º da lei supracitada, os objetivos específicos são descritos, no sentido de levar um desenvolvimento da região de maneira equilibrada, promovendo um crescimento urbano ordenado, a partir da utilização novos padrões de ocupação do solo e incentivo a criação de um polo de serviços, com equipamentos públicos e semi-públicos de estar e lazer, a partir da ocupação dos espaços
vazios ou subutilizados. Além disso, a Operação visa a implantação de áreas verdes e o parcelamento de grandes glebas, buscando melhorar o sistema viário e a circulação de pedestres.
Delimitação do perímetro de área da Operação Urbana Água Branca. fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br)
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Diagrama da proposta de novas vias para a รกrea. (fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br)
140
Estudo de relocação da orla ferroviária (fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br)
141
Áreas de interesse para a implantação de habitação de interesse social fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br)
142
Divisão das áreas de proposta de áreas verdes, áreas públicas e áreas particulares. (fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br)
143
Divisรฃo das รกreas de proposta de รกreas verdes, รกreas institucionais e รกreas para projetos especiais. (fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br)
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Diante disso, são observadas muitas mudanças no ambiente construído do bairro e, inclusive, na delimitação de seu território. É interessante observar que as parcelas norte e sul apresentam processos de renovação distintos e que de maneira geral a ocupação se apresenta bastante heterogênea. Portanto, atualmente a Barra Funda é uma área que apresenta profundos contrastes, que se relacionam inclusive com um quadro de transformações visíveis na cidade de São Paulo, de mudança funcional de áreas industriais em áreas mistas ou residenciais, de comércios ou serviços e que, às vezes, acabam gerando áreas desfuncionalizadas, abandonadas ou subutlizadas. Ao lado de antigos galpões industriais, geralmente subutilizados ou abandonados, começam a ser erguidos grandes empreendimentos residenciais e comerciais, frutos, mas também reflexos, dos incentivos e investimentos que a área vem recebendo. Outro contraste que também pode ser visto é em relação à dinâmica de suas ruas. Enquanto a Marginal Tietê e a Avenida Marquês de São Vicente apresentam um fluxo rápido e intenso de veículos, a maioria das ruas internas apresenta uma dinâmica totalmente diferente, com tráfego de caráter local. Pode-se encontrar coincidências entre as definições de Koolhaas para espaço-lixo e os aspectos urbanos de várias áreas desfuncionalizadas da cidade de São Paulo, como é em boa parte setores da Barra Funda. O mesmo pode ser dito em relação aos efeitos nefastos para o bairro de intervenções que miram questões metropolitanas e que, apesar de serem implantadas na Barra Funda, a desconsideram, tratam-na não como fração da cidade, com dimensões econômicas e sociais, mas apenas como um plataforma desprovida de qualidades e atributos urbanos.
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área_zoom in A porção do bairro da Barra Funda onde a área de intervenção está localizada possui características bastante particulares, como o contato com a Marginal Tietê e a proximidade com o Rio Tietê além de apresentar muitos terrenos ociosos ou subutilizados, principalmente convertidos em estacionamentos, além de galpões industriais
preservados e em uso ou degradados e abandonados. Guarda, ainda, duas situações urbanas distintas, sendo uma a lógica rodoviarista presente na Marginal Tietê e, outra, a lógica mais local das ruas internas do bairro que, ainda, se contrapõe à Avenida Marquês de São Vicente, eixo já bastante particular com relação ao seu entorno e importante avenida paralela à Marginal Tietê, podendo ser uma alternativa a ela.
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A Marginal Tietê é uma das avenidas mais importantes da cidade de São Paulo, que faz a ligação oeste-leste, recebendo diversas outras avenidas e rodovias em seu corpo.
Marginal Tietê Avenidas que se ligam ao corpo da Marginal. Rodovias que se ligam ao corpo da Marginal.
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Se considerarmos a implantação total da Operação Urbana Água Branca, o entorno da área de intervenção passará por diversas transformações, sendo que a principal delas é o aumento de densidade populacional. Uma questão importante para o projeto é a possibilidade de implantação de habitações de interesse social muito próximas à área de intervenção.
Áreas de interesse para a implantação de habitação de interesse social fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br)
área de intervenção áreas destinadas a habitações de interesse social.
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área_zoom + A área de intervenção está ociosa, possui aproximadamente 22000m 2 e se situa entre a Rua Dr. Rubens Meireles, de caráter mais local, com fluxo predominante de pedestres, e a Avenida Marginal Tietê, via expressa, com alto fluxo de carros.
Por estar localizada numa esquina de uma das avenidas mais importantes da cidade de São Paulo, a área apresenta grande visibilidade e facilidade de acesso. Ainda, sua localização é estratégica devido à proximidade com o terminal intermodal da Barra Funda, chegada do metrô, de trens da CPTM e de ônibus municipais, intermunicipais e interestaduais.
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fluxo rápido e intenso fluxo menor_ruas de caráter mais local pontos de ônibus
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Na Barra Funda, a Marginal Tietê apresenta um caráter bastante distinto, uma vez que seu entorno se coloca praticamente como uma sequência de espaços subutilizados, ociosos, vazios ou
playcenter
R. José Gomes Falcão
estacionamento
Córrego Quirino dos Santos
motel
R. Dr. Rubens Meireles
em estado de abandono, marcado, principalmente, por uma grande presença de estacionamentos.
estacionamento depósito de “lixo” do Tribunal de da Mancha Verde *futura Justiça do Estado De São Paulo “Fábrica do Samba”
“Recorte” da Marginal Tietê no entorno da área de intervenção.
151
Entorno da ĂĄrea_vistas a partir da Marginal TietĂŞ.
152
Foto atual da área de intervenção, hoje fechada.
Perspectiva da esquina da área de intervenção. (fonte: google street view)
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Perspectiva da Rua Dr. Rubens de Meireles a partir da Marginal Tietê. (fonte: google street view)
Perspectiva da Rua Dr. Rubens de Meireles a partir da Avenida Marquês de São Vicente.
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Vistas da Marginal Tietê e da Ponte do Limão a partir da esquina e de uma extremidade da área de intervenção (fonte: google street view)
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Vista da Marginal Tietê e da Ponte do Limão a partir da área de intervenção. (fonte: google street view)
Vista da Marginal Tietê a partir da área de intervenção.
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Vista da área de intervenção contraposta à Marginal Tietê a partir da Rua Dr. Rubens Meireles. (fonte: google street view)
Vista da outra margem da Marginal Tietê a partir do terreno ao fundo da área de intervenção.
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A escolha de uma esquina parte da vontade de se alcançar uma implantação bastante “aberta” e convidativa para a cidade, proporcionando uma maior permeabilidade física e visual na área, configurando um local de encontros. Ainda, essa esquina articula duas lógicas diferentes, a lógica rodoviarista da Marginal Tietê e a lógica mais local da Rua Dr. Ruben de Meireles.
priorizar a vista da marginal e da ponte do limão criar perspectivas, privilegiando o alto fluxo do entorno, principalmente de veículos
esquina: ponto de encontro Permeabilidade física e visual na área implantação convidativa para o pedestre Diagrama de intenções projetuais, apresentado na banca de interlocução do tgi 1.
universo projetual
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universo projetual Os arquitetos que compõem essa revisão arquitetônica e universo projetual foram muito importantes durante o processo de projeto, a fim de auxiliar a reflexão da realidade contemporânea de modo que ela integrasse a estrutura da obra arquitetônica, de tal modo que essa pudesse ser projetada.
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ARCHIGRAM O grupo inglês de arquitetos Archigram originou-se no contexto dos anos 1960 e seu desenvolvimento está intimamente ligado à implantação do chamado “estado do bem estar”, implantado nos países industrializados que passavam por uma fase de afluência econômica sem precedentes e que, na Europa, conheceu uma articulação entre políticas sociais e um processo cultural
de “americanização”, marcado pelo consumo de bens de toda ordem. O grupo buscava refletir sobre a questão da inserção da tecnologia no projeto e a incorporação de elementos da cultura de massa a fim de se aproximar dos usuário através de uma “linguagem pop”. Suas reflexões partiam de pautas importantes àquele contexto, tais como a reestruturação do capitalismo fordista e a transformação da cultura industrial numa cultura eletrônica, passando pela explosão da cultura de massa e a ascensão da telecultura. Ainda, as propostas do Archigram buscavam uma arquitetura que não apenas investisse em novas tecnologias, mas que estivesse igualmente envolvida com as novas circunstâncias sociais e
econômicas emergentes naquele contexto do pós-guerra, a fim de encontrar a expressão de uma cultura urbana e industrial e da lógica econômica que a sustentava: obsolescência, mobilidade e
transitoriedade. Recorriam à tecnologia e à cultura de massa, conduzindo um discurso otimista da relação entre o homem e a tecnologia, e buscavam ampliar tal discurso, com o objetivo de produzir uma reflexão profunda e ampla sobre as relações entre a técnica e a arquitetura. Atualmente, o discurso construído pelo Archigram pode ser compreendido como uma
representação de toda uma transformação econômica, social e cultural que teve lugar naquele contexto particular.
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VENTURI Venturi, assim como o Archigram, também está inserido no contexto dos anos 1960, que vai marcar uma nova chave de leitura, com perspectivas de ruptura, com relação à Arquitetura Moderna. Para ele, a busca moderna pela racionalidade, tendo em vários casos a simplicidade ou concisão formal, como sua expressão, havia implicado numa diminuição de significado e, portanto, deveria ser elaborada uma arquitetura mais densa em camadas e significados, onde o protagonismo fosse do expectador (ao contrário do movimento moderno onde o protagonismo era da arquitetura). Essa nova arquitetura aceitaria a inserção de elementos tradicionais, reconhecendo a história como um elemento fundamental e a necessidade do arquiteto de se imbuir daquilo que está em seu entorno imediato. Dessa maneira, seria originada uma “arquitetura inclusiva”: complexa, contraditória e ambígua se necessário, que não se resolveria em um único olhar. Ele incorpora o “residual” em suas obras e defende a fachada, e suas possibilidades simbólicas, como elemento fundamental da arquitetura, sua face pública, como ela se mostra à cidade. Também, traz a discussão entre cultura e arquitetura de massa e, contra a ideia moderna de pureza se coloca a favor da contaminação da obra pelo contexto. Na sua reflexão sobre o contexto urbano de sua época Venturi elege a Main Street, a rua comercial, como a essência da paisagem urbana norte-americana, tendo Las Vegas quase que como uma situação arquetípica, lida através do percurso do automóvel como uma “selva de símbolos, de ícones”, na qual identifica dois tipos de relação da arquitetura: tipo pato, onde toda a estrutura e programa do edifício estão submetidos a uma estrutura simbólica total e onde a forma literalmente segue a função, e tipo galpão decorado, onde os símbolos são autônomos com relação ao espaço funcional e cuja função é comunicar explicitamente.
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HERZOG & DE MEURON A arquitetura de Herzog & de Meuron busca uma integração com a arte, mas rompe as convenções modernas na medida em que se provê de elementos tradicionais de forma inusitada. Uma das principais características de suas obras é o tratamento das fachadas na busca
de relações harmônicas entre forma e superfície, bem como procura diferentes efeitos sensoriais através do tratamento dos materiais. Através desses tratamentos da fachada, muitas vezes propõe a “desmaterialização” da tectônica do objeto, através da dualidade entre densidade e transparência ou quase transparência.
Detalhe do vidro serigrafado_Cottbus Library. (fonte: http://www.wicona.com/
Detalhe do concreto serigrafado_Eberswald Library. (fonte: http://www.architonic.com /)
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DIFERENÇAS ENTRE AS “CAIXAS DECORADAS” DE HERZOG & DE MEURON E O “GALPÃO DECORADO” DE VENTURI. Na conceituação de Venturi sobre os “galpões decorados”, o “símbolo” é aplicado sobre a arquitetura com a função de se comunicar explicitamente com o usuário. Dessa maneira, são autônomos e não requerem nenhum tipo de “filtro” para sua compreensão. Na arquitetura de Herzog & de Meuron, os símbolos também são aplicados sobre as fachadas, mas não são autônomos. São trabalhados de tal maneira que parecem parte integrante dos próprios materiais, muitas vezes “desmaterializando-os”, e não têm como intuito principal a função de informar. São trabalhados para funcionarem como “peles” e, mesmo não sendo explícitos, não deixam de dialogar com os usuários – numa solução que parte do mesmo princípio mas se resolve de maneira melhor que a de Venturi.
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KOOLHAAS Koolhaas propõe uma nova leitura da cidade e da arquitetura, que se mostra como uma resposta a ela. Em seus livros, ensaios e publicações discute as diversas escalas presentes nas cidades e
também temas geralmente relativos às metrópoles, como aqueles que chama de "cidade genérica", "grande dimensão" e "espaço-lixo“ O termo "cidade genérica" é discutido a fim de demonstrar sua fadiga perante a superprodução de ícones arquitetônicos, os quais ele propõe combater com edifícios mais genéricos. No ensaio "Bigness ou o problema da grande dimensão" ele enfatiza que a arquitetura
já superou uma certa escala e, atualmente, trabalha na escala da grande dimensão, que traz consigo questões como os elevadores, o condicionamento de ar, etc, que originaram um conjunto de mutações na arquitetura, com um potencial paralelo de reorganização do mundo social. A Grande Dimensão tem, portanto, a capacidade de transformar a arquitetura e sua acumulação gera um novo tipo de cidade, ao passo que ela mesma é cidade, muitas vezes independente do contexto urbano. Já, no ensaio sobre o "espaço-lixo", Koolhaas volta o olhar para espaços que estão sob
o domínio do consumo rápido e do lazer instantâneo, bem como aqueles espaços subutilizados ou ociosos presentes inseridos nas metrópolis, que configuram situações muitas vezes muito distintas daquelas de seu entorno.
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JEAN NOUVEL Para Jean Nouvel “(...) a arquitetura deve considerar o contexto como uma composição efêmera que deve ser modificada. E esse contexto é tudo que nos rodeia – contexto histórico, urbano geográfico, humano, ambiental, etc.” Ainda, contexto pode ser dividido como:
Contexto histórico – o tempo atual; Contexto humano – para quem é o projeto; Contexto urbano, geográfico, ambiental – definição de onde será inserido o projeto; Contexto real – aquilo que pode ser captado no local. Mesmo considerando esse contexto amplo, Nouvel afirma que o edifício ainda deve trazer uma especificidade, algo a acrescentar para o meio urbano no qual estará inserido.
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CUBO LARANJA_Jakob + MacFarlane O Cubo Laranja pode ser visto como uma síntese das ideias, interesses, direcionamentos e conceitos que guiaram esse TGI. O “Cubo Laranja” está situado em Lyon, na França, às margens do rio Lyon, fazendo
parte do projeto de revitalização das docas da cidade, que foi um dos centros industriais de maior progresso do século XIX. Rodeado por uma paisagem acinzentada, sua cor laranja é uma referência visual à tinta de proteção utilizada nos equipamentos e maquinários da zona portuária Através das grandes perfurações, que funcionam como focos ou enquadramentos, ele estabelece relações fortes não apenas com seu entorno imediato, mas também com a cidade. Já, a chapa laranja perfurada é responsável por estabelecer relações mais íntimas com os usuários, através de
uma memória coletiva, que remete ao maquinário portuário e, também, através do choque que é visualizar um edifício de cor tão vibrante no meio de uma paisagem predominantemente cinza. Ele requer certa proximidade, mas, ao mesmo tempo, pede distanciamento para que comece a ganhar e transmitir significados – os “símbolos” nele aplicados não têm uma apreensão tão direta. Para que esse objetivo de trazer coerência ao edifício através da relação com a cidade e o usuário seja alcançado, toda a complexidade da cidade e da arquitetura devem ser consideradas. Portanto, quando se observa o edifício inserido no contexto, encontra-se uma coerência profunda, mesmo que ele seja um objeto
chocante. A manipulação do cubo, sua degradação, traz ainda uma relação muito forte com a história da arquitetura. Para Platão, o cubo representava a terra e, na arquitetura, ele é a forma primária que foi consagrada pela Arquitetura Moderna na forma de um cubo branco.
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Cubo Laranja (fonte: http://2m2un.com/blog/3709)
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SÍNTESE Atualmente, nas cidades, temos uma alta especulação imobiliária, onde a terra ganha muito valor comercial, o que muitas vezes acaba gerando espaços urbanos sem qualidade. Koolhaas define esses espaços da cidade contemporânea como “espaços-lixo”. Diferentemente do pensamento moderno, onde o arquiteto tinha o domínio da cidade, Koolhaas
enxerga a arquitetura como apenas um dos agentes da cidade contemporânea e não como o agente principal – para ele, o arquiteto não controla a cidade. Ele afirma que o arquiteto está subordinado aos fluxos problemáticos do ambiente urbano e que, portanto, a arquitetura é fruto desse espaço-lixo. Ao admitir isso, Koolhaas reproduz e adere esse espaço-lixo em suas obras, mesmo que com através de um certo filtro e um pouco de requinte. Jean Nouvel também reconhece essa fragilidade do ambiente urbano contemporâneo e
do papel do arquiteto nesse contexto. No entanto, diferentemente de Koolhaas, ele busca dar uma “versão arquitetônica” àquilo que não é arquitetura, incorporando características urbanas como os painéis publicitários em suas obras, buscando recuperar o valor arquitetônico do local e trabalhando no limiar desse “espaço-lixo”.
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No Cubo Laranja, de Jakob + McFarlane, podemos encontrar, de certo modo, uma colisão entre o pensamento de Koolhaas e Jean Nouvel. Para Platão, o cubo representava a terra. Quando no pós-modernismo Peter Eisenmann intervém e modifica o cubo é como se ele estivesse intervindo e modificando a terra. Já, na Arquitetura Moderna, a forma perfeita do cubo, com toda a sua racionalidade, foi consagrada como um cubo branco. Portanto, a maneira como Jakob e McFarlane trabalham o cubo traz uma reflexão sobre como essa forma platônica está sendo corroída pela realidade, pois seu contexto portuário é histórico mas a realidade atual é uma realidade mais “cruel”, “degradada”. Assim, tem-se a visão da fragilidade da arquitetura contemporânea e desses espaços-lixos que constituem a cidade, mas, também, tem-se a vontade da recomposição do repertório arquitetônico que parte da modificação do cubo. Todas as ideias desses arquitetos que compõem essa revisão arquitetônica e universo projetual levam a uma reflexão da realidade contemporânea de modo que ela integre a estrutura da obra arquitetônica, de tal modo que essa possa ser projetada.
ações projetuais
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ações projetuais A busca projetual aqui presente é por uma arquitetura que trabalhe em dois níveis: nível arquitetura - cidade e nível arquitetura – usuário, originando uma obra que poderá ser chamada de “inclusiva”, na medida em que relaciona e aproxima essas duas instâncias.
172
Para tanto, algumas frentes de ação serão importantes: no nível arquitetura – cidade temos a implantação e o direcionamento do olhar através de enquadramentos, que de certa maneira estão integrados, e no nível arquitetura – usuário a fachada será tida como a “pele” do edifício, trabalhada como objeto de mediação entre os dois níveis e responsável por imbuir a obra arquitetônica de maiores significados. Portanto, a “arquitetura inclusiva” que
está sendo buscada integra cidade –
arquitetura – usuário, na medida em que procura estabelecer relações e proximidades com o entorno, a cidade e o contexto mais amplo das culturas e tradições, por exemplo, fazendo parte de
um
todo
muito
contemporaneidade,
maior
como
a
e
ainda
tecnologia
lançando e
os
o
meios
olhar de
sobre
questões
inerentes
comunicação eletrônicos.
É
à
uma
arquitetura que até pode num primeiro momento parecer confusa e desordenada, mas que aos poucos vai fazendo sentido, ganhando e transmitindo significados. É, enfim, uma arquitetura que busca “consubstanciar a difícil unidade de inclusão, em vez da fácil unidade de exclusão” (VENTURI).
173
Diagrama-síntese das “ações projetuais”
bibliografia
175
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