02 Trajan

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trajan the (obviest) movie font





Trajan

the obviest movie font

Quem de nós não gosta de ver um bom filme? Seja assiduamente, seja de quan-

do em vez, seja quando não há mais nada para ver num domingo à tarde, ou quando está na cama e não consegue dormir? Para tal temos várias hipóteses: se

não quisermos sair de casa, ou porque está a chover, ou porque nos deu aquela perguicite aguda temos sempre o nosso querido leitor de DVD ou a televisão, ou

então o computador pessoal, onde podemos “comprar” filmes na internet, ou

então no cinema. A vantagem de ir ao cinema, para além de ficarmos com a carteira uns euros mais leves, podemos sempre, enquanto esperamos dar uma olhadela nos cartazes de cinema expostos. ¶ Cartazes de cinema têm um função

claramente definida: a de convidar o público (ou impingir) a assistir a um filme.

Para isso, precisam de, através de uma única imagem, transmitir ao público

qual a forma da obra, qual o seu enredo e qual o seu género. ¶ Quem nunca foi

ao cinema e, enquanto estava na fila para comprar os bilhetes e as pipocas (sim, tendo em conta que agora as pipocas se compram no mesmo sítio dos bilhetes dá

mais que tempo), se pôs a olhar para os cartazes que estão afixados à entrada e

a pensar: “Onde é que eu já vi um cartaz parecido com este?” De imediato, podemos até nem nos aperceber ao certo o que é parecido, ou o porquê de ser parecido, mas a verdade é que até o olho menos treinado reconhece uma certa semelhança, um fio condutor entre certos cartazes de cinema. Seja pelo tipo de fotografia,

pela pose dos protagonistas, pelas cores usadas, pelos efeitos usados, pelo trata-

mento do título, ou pelo tipo de letra usado. ¶ A verdade, é que contrariamente

ao que possamos pensar (de que estamos errados e/ou que a impressão é nossa), o mundo dos cartazes de cinema está cheio de semelhanças, de clichês. Como já

referi, podem ser vários os pontos em comum, e nas páginas seguintes vão ser

ilustrados alguns desses exemplos, mas foi um deles que me chamou à atenção:

a exageradamente usada tipografia Trajan.


‘BACK-TO-BACK’


‘THE PARK BENCH’


‘GIANT HEADS’


‘COLLAGE’


‘THE PICK-ME-UP POSE’


‘THE THREE FLOATY FACES’


‘RED EXTRA LARGE TITLES’


‘DATE AND NUMBER’




TRA


JAN


TRAJAN QUEM? QUANDO? COMO?

Datava precisamente o ano de 1989, curiosamente o ano em que muitos de nós vinha ao mundo, quando a tipógrafa norte-americana Carol Twombly, cria, para a Abobe, a tipografia Trajan. ¶ Inspirada nos

escritos romanos em pedra, usados há 2000 anos atrás, na coluna de Trajano, esta fonte é do tipo clássico, serifado e elegante, sendo

uma das características particulares desta fonte a ausência de mi-

núsculas, devendo-se ao facto de na Roma antiga, época em que o

texto que inspirou esta tipografia foi escrito, elas não existirem. ¶

Para sua “sorte”, a coluna de Trajano tinha o alfabeto completo, tão

bem desenhado e preservado que só faltava estar escrita a conhecida frase “The quick brown fox jumps over the lazy dog” (talvez já fosse

pedir muito). ¶ Contudo, e por muito bonitinha e elegante que seja, esta também não é imune a um “problema” que afecta muitas outras

fontes: quando usada em excesso, tal como acontece com qualquer

outra coisa (não só com outras fontes, como referi atrás), satura. E é um bocado por aqui que vou pegar.




CONTEXTUALIZAÇÃO

Pegando um pouco na história mundial, de forma a tentar contextu-

alizar esta análise, uma das consequências da revolução industrial,

iniciada em Inglaterra, no século XVIII, com a mecanização dos siste-

mas de produção, foi precisamente o aumento extraordinário do volume de produção: os bens deixaram de ser manufacturados e passam a ser feitos em máquinas cada vez mais automatizadas, levando a uma

produção em massa, e a que as populações passassem a ter acesso e

pudessem usufruir desses bens industrializados. ¶ E o quê que isto

tem a ver com a Trajan? Aparentemente nada, mas no fundo, algu-

mas relações podem ser feitas. Fazendo a ponte com o tema desta aná-

lise, também o design é uma das consequências da revolução acima

referida. À medida que uma série de objectos passaram a ser produzidos em grande escala, percebeu-se que todos esses bens industria-

lizados passaram a estar ao alcance e dispor de (quase) todos, e a ser

usados massivamente. ¶ A associação pode ao início não ser directa,

mas é aqui que estabeleço uma relação entre a Revolução Industrial e

a Trajan. Uma fonte que passou a ser massivamente usada no que diz respeito a cartazes de cinema.




DESCUBRA AS DIFERENÇAS

Qualquer bom observador, ou pessoa que tenha paciência para estar

dois minutos a observar os cartazes de cinema que por aí circulam, e

não precisa de ser propriamente um viciado ou entendido em tipografia, nota que há algo de semelhante entre alguns deles: não falo só

dos actores, nem só das cores, nem do tipo de filme, nem muito me-

nos das histórias (isso sim, daria muito pano para mangas): falo sim

na tipografia usada nos cartazes. A Trajan é, como muitos lhe chamam “The Movie Font”. Quem na nossa área ainda não viu o vídeo, criado pelo canadiano Kirby Fergunson, “Trajan is the Movie Font”?

São realmente muitos os cartazes de cinema que usam como tipogra-

fia a Trajan. E, muitas vezes, quando não é usada no cartaz, é usada

na cada do DVD (até parecia mal não a usar). Desde filmes de terror,

drama ou acção, a romances, imaginários e até comédias. Nada esca-

pa à Trajan. ¶ Relativamente aos títulos, propriamente ditos, não só a

tipografia tem importância e impacto, como o seu próprio tratamento e arranjo também goza de bastante relevância. Em alguns casos,

não só a mesma tipografia é usada, como também o tratamento de texto e os efeitos usados pouco (ou nada) divergem: texto alinhado

ao centro, quer da página quer no bloco em que se insere, tipografia a branco. ¶ Mais interessante, e aparatoso, ainda de se ver em alguns

cartazes é quando, não só a mesma tipografia é usada e o seu tratamento são parcialmente idênticos, como, para complementar, a

fotografia também o é.





DESCUBRA AS DIFERENÇAS v.2

Para concluir, nos exemplos que se seguem, o tratamento de texto já

diverge notoriamente, mas um pequeno pormenor ainda me consegue intrigar, e daí estar a dar esta importância: o uso de caixa alta

apenas na primeira e última letra de cada título. Ora alinhadas à ba-

seline, ora alinhadas à meanline. Não consigo perceber a fixação dos designers dos cartazes em questão por este tipo de arranjo.






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