Street art uma Cultura de rua
STREET ART UMA CULTURA DE RUA
Uma coisa que me repugna um bocado quando vou na rua e olho para certos e determinados elementos citadinos são aqueles rabiscos que ninguém percebe o que são: uns dizem que são hieróglifos, outros que são caracteres chineses, outros dizem ainda que são mensagens de extraterrestres. Mas que na verdade aqueles elementos feios são meras “assinaturas” ou, e chamando os bois pelos nomes, tags. É verdade...há que não tenha que fazer ao dinheiro e compre latas de tinta em spray para andar a espalhar o seu nome pela cidade. Objectivo? Também eu gostava de perceber. Eu juro que sou bastante compreensível, mas não consigo chegar a uma conclusão minimamente plausível. A única que me vem à mente é...estupidez. Ou então, tal como no conto Hansel and Gretel, dos famosos irmãos Grimm, andam a marcar os sítios por onde passaram para alguém seguir as suas pisadas. Bem, não adianta tentar perceber. Outros ainda que têm o prazer de colorir autocarros e comboios. Não sei se eles acreditam mesmo que os conseguem por mais bonitos, mas...acho que alguém lhes devia dizer que não têm lá muito jeito. ¶ Mas depois, por outro lado, há aqueles que, não dando qualquer utilidade às tradicionais telas de lona, usam edifícios da cidade para darem a conhecer ao mundo as suas grandiosas obras de arte. Há quem chegue a fazer animações em stop motion, coisa totalmente inacreditável se não tivesse visto. ¶ E pelos Hansel’s e pelos Gretel’s do graffiti que já referi, pagam todos. Principalmente para as pessoas de mais alguma idade, o graffiti ainda é alvo de muitas críticas e de desprezo. É aqui que se coloca a grande questão relativamente ao graffiti: arte ou vandalismo?
STREET ART, ARTE OU VANDALISMO?
Graffiti, arte ou vandalismo? Eis um problema com que a nossa sociedade se depara actualmente. Muitas são as opiniões dadas, mas poucas são as conclusões a que se chega. Uns criminalizam, outros defendem como sendo uma manifestação artística, um fenómeno que se manifesta pelo mundo inteiro. ¶ Mas a verdade é que, e isso todos nós reconhecemos, e mesmo os mais cépticos têm de reconhecer, que certos muros e paredes velhas da nossa cidade ficaram mais bonitos, ao ganharem cor e ao quebrar a monotonia das cidades contemporâneas. É certo que o Porto não é propriamente o melhor exemplo onde é possível ver grandes obras de artes feitas em paredes, mas algumas que vale a pena reduzir a velocidade na auto-estrada para dar uma vista de olhos ao que por lá anda. ¶ Falar em street art é, na maioria das vezes, sinónimo de falar de vandalismo. Não há nada a fazer. A maioria da população que, tal como nós (embora não como nós), habita neste planeta está programada para tal concepção. Street art é puro vandalismo (é o que eles acham). Mas a verdade, e contrariando essas pessoas mais tendenciosas, é que a street art, ou arte urbana, como lhe queiramos chamar, está muito para além do
vandalismo, de meros rabiscos numa parede, ou mais de um passatempo de jovens delinquentes perdidos pela vida. É considerada por muitos autênticas obras de arte em larga escala, e vários são os artistas de renome internacional que podem ser enunciados: Blu, Bansky, Vhils, Os Gêmeos, entre muitos outros. Todos eles com uma intenção, um conceito, um objectivo por detrás de todas aqueles cores fixadas nas paredes que se dão ao trabalho de “reciclar”. ¶ A street art é um tipo de arte que está, particularmente, relacionado com as cidades e a vida nos grandes centros urbanos, sendo, muitas vezes, realizada por artistas que nela vivem ou têm interesse nela. Desta forma, a arte urbana combina arte de rua e grafitti, e é frequentemente usada para resumir todas as formas de arte visual decorrentes em áreas urbanas, sendo inspirado na arquitectura urbana com o objectivo de descrever o estilo de vida urbana. ¶ Como já foi referido, muitas vezes, a street art é vista como vandalismo e destruição de propriedade privada, mas mesmo que às vezes possa realmente levar ao vandalismo, os criadores, os artistas, não se vêem como vândalos. ¶ Embora alguns questionem se é mesmo arte, como tem sido debatido
nas últimas décadas, há quem o reconheça como tal, a ponto de importantes exposições serem realizadas nos principais museus e galerias do planeta. Graffiti é uma forma criativa de arte urbana, enquanto aqueles rabiscos sem sentido, a chamada pichação, é somente vandalismo e desrespeito pelo património público ou alheio, um dos grandes exemplos da falta de educação e de cidadania. ¶ Quando o homem se começou a expressar artisticamente na pré-história, já grafitava as paredes de cavernas e outros paredões de pedra. Hoje, pode usar um tubo de tinta em spray ou um moderno compressor de ar profissional para expressar sua arte e até mesmo valorizar imóveis ou muros antes relegados ao abandono. ¶ Antes característico de bairros mais afastados do centro das cidades, hoje o graffiti bem feito ganhou paredes de regiões nobres, alguns até com o aval das próprias autarquias.
FACTOS PASSADOS
Muitos podem não crer, mas a verdade é que poder-se-á dizer que a street art é uma das mais antigas formas de expressão artística. Mesmo não considerando a arte rupestre da pré-história, podemos traçar as suas origens até ao antigo Egipto. As inscrições nas paredes das várias cidades do Império Romano, com particular ênfase em Pompeia, são particularmente conhecidas e constituem uma recurso precioso na reconstituição histórica daquela época. ¶ Naquela altura, os já romanos escreviam nas paredes e monumentos todo o tipo de inscrições, desde insultos a alguém de quem não gostavam, declarações de amor à mulher amada (ou não amada), frases de apoio ou crítica, entre muitas outras. ¶ Muitos outros povos, em diferentes épocas da história, recorriam ao graffiti como forma de expressão individual ou colectiva, desde os Maias aos Vikings, passando pela tropas napoleónicas, ou pela época da renascença. ¶ Dando uma grande avanço no tempo, e já no século XX, mais propriamente nos finais dos anos 60, um jovem carteiro, de seu nome Demetrius, durante os seus percursos de distribuição de cartas, espalhou a sua tag, Taki 183 (Taki como diminutivo de Demetrius e 183 o número da rua onde vivia),
pelas ruas de Nova York, levando a que fosse considerado um dos percursores da street art actual.. I have been drawing in the subway for three years now, and although my career aboveground has skyrocketed, the subway is still my favorite place to draw. [...] In this underground environment, one can often feel a sense of oppression and struggle in the vast assortment of faces. It is in this context that an expression of hope and beauty carries the greatest rewards. Keith Haring Um pouco mais tarde, no início dos anos 80, Keith Haring, artista que posteriormente seria adoptado pelo mainstream e reproduzido até à exaustão em todo o tipo de merchandising, começou a desenhar a giz no metro de Nova York aproveitando os painéis pretos que eram colados nos locais reservados a publicidade quando não havia suficientes anúncios para preencher esses espaços. ¶ Com o avançar do tempo e respectiva evolução tecnológica, dez anos depois, a partir de meados dos anos 90, com a vulgarização da internet comercial, assistiu-se a um crescimento exponencial da street art. Desta forma, esta veio mudar radicalmente o proces-
so de divulgação de uma obra: se dantes um artista que quisesse divulgar a sua obra tinha necessariamente de a colocar em locais de grande visibilidade, após a massificação do acesso à internet pode coloca-la em qualquer local, fotografa-la e divulga-la mundialmente. A internet tornou a street art globalmente inclusiva; mas simultaneamente descontextualizou as obras do seu contexto de produção. Imagine a city where graffiti wasn’t illegal, a city where everybody could draw wherever they liked. Where every street was awash with a million colours and little phrases. Where standing at a bus stop was never boring. A city that felt like a living breathing thing which belonged to everybody, not just the estate agents and barons of big business. Imagine a city like that and stop leaning against the wall – it’s wet. Banksy Eis um dos grandes nomes da street art: Bansky. Nos últimos anos tornou-se incontestavelmente a figura da street art, pautando a sua intervenção pelo “agnosticismo técnico” – afirma usar a técnica mais eficiente para o contexto específico em causa -, e pelas
suas orientações anti-capitalismo, anti-governo, anti-guerra e pro-libertárias que são quase invariavelmente temperadas com uma boa dose de humor. ¶ É um provocador nato, com especial apetência para dominar o mundo dos media, onde é destaque recorrente. A esse facto não será certamente alheia a escolha dos seus “alvos”, de que saliento aqui alguns exemplos ilustrativos: • Colocar uma obra sua retratando um homem das cavernas a empurrar um carro de supermercado no British Museum. Após ter sido descoberta o museu decidiu adiciona-la à sua colecção permanente; • Pintar no muro erguido por Israel entre este país e a Palestina nove trabalhos seus como forma de protesto contra este “muro da vergonha” considerado ilegal pelas Nações Unidas; • Substituir nos locais de venda 500 cópias do CD Paris da socialite Paris Hilton por uma versão com o grafismo e texto alterados por si e com remixes de Danger Mouse.
Estes são apenas alguns exemplos do inúmero leque de intervenções do Banksy pelo mundo fora. ¶ Banksy conseguiu não só dar a conhecer a street art a um público até aí desinteressado e afastado desse fenómeno, como sensibiliza-lo para a arte em geral. O que não deixa de ser irónico que um artista iconoclasta, passe o paradoxo, seja a porta de entrada de muita gente no mundo da arte. ¶ Contudo, Bansky é, também, a prova viva da tal diluição do conceito de arte de rua, pois as suas obras atingem hoje em dia valores astronómicos na Sotheby’s e os seus actos são cirurgicamente pensados para causar impacto nos media. Banksy tem tanto de artista como de marketeer. ¶ Mais à frente podemos ver, não só, algumas das obras de Bansky, como também de outros artistas emblemáticos que, tal como ele, espalham a arte pelas ruas das cidades.
BANSKY
Para quem ainda não conhece, Banksy é um artista de graffiti secreto. Sabe-se que é natural de Yate, perto de Bristol, Inglaterra. ¶ A sua satírica arte de rua apareceu misteriosamente, dentro e fora de cidades de todo o mundo. As suas irreverentes obras de arte, frequentemente brindam-nos com um humor e comentários de âmbito politico-social. Ninguém sabe a verdadeira identidade deste artista mistério. Alguns dizem que se chama Robert, outros Robden, há ainda quem afirme que é Robin Gunningham ou até Robin Banks. Who knows? ¶ O seu spray e mestria no stencil, fê-lo ser imitado por centenas de artistas de todo o mundo. ¶ A título de curiosidade, é de referir que Christina Aguilera e Brad Pitt, são conhecidos coleccionadores da arte de Banksy. www.bansky.co.uk
BLU
Pouca informação acerca deste foi possível encontrar, mas sabe-se que, actualmente, é considerado um dos mais inovadores artistas de rua (na falta de um termo melhor…) do mundo. Vindo de Bolonha, na Itália, passou os últimos 5 anos a espalhar os seus desenhos pelas paredes de vários países, fazendo grandes obras de arte. Do seu trabalho, e talvez os que têm mais notoriedade, destaca-se os stop motions, em larga escala, feitos a graffiti. www.blublu.org
OS GÊMEOS
Nascidos em 1974, em São Paulo, os gémeos Gustavo e Otávio começaram sua a carreira na street art em meados dos anos 1980, retratando as culturas regionais do Brasil nos muros de São Paulo. O trabalho desta dupla está essencialmente ligado às suas vivências na cidade. Focada na construção de um imaginário próprio e peculiar, a sua obra reúne elementos do folclore nacional com outros ligados ao desenvolvimento da arte nascida nas ruas. As telas seguem a tradição do retrato, com personagens centrais em padrões multicoloridos e envoltos numa aura surreal. As instalações oníricas incorporam carros, barcos e bonecos cinéticos gigantes à pintura de parede em grande escala. www.osgemeos.com.br
ALEXANDRE FARTO AKA VHILS
Nascidos em 1974, em São Paulo, os gémeos Gustavo e Otávio começaram sua a carreira na street art em meados dos anos 1980, retratando as culturas regionais do Brasil nos muros de São Paulo. O trabalho desta dupla está essencialmente ligado às suas vivências na cidade. Focada na construção de um imaginário próprio e peculiar, a sua obra reúne elementos do folclore nacional com outros ligados ao desenvolvimento da arte nascida nas ruas. As telas seguem a tradição do retrato, com personagens centrais em padrões multicoloridos e envoltos numa aura surreal. As instalações oníricas incorporam carros, barcos e bonecos cinéticos gigantes à pintura de parede em grande escala. www.alexandrefarto.com