Design da Imagem

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faculdade de belas artes da universidade do porto 2010/2011

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>DESIGN E CULTURA [05] >DESIGN LOCAL E GLOBAL [11] >ANÁLISE DE IMAGENS [15] >DESIGN ÉTICO [23] >DESIGN DE GÉNERO [29] >BRANDING [37] >DESIGN SOCIAL [53]

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#01 DESIGN E CULTURA com David Marreiros e Raquel Koch

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Design shapes the way we live. So it ought to serve everyone. Eva Maddox

HSBC ¶ A companhia HSBC é uma das maiores entidades bancárias estando presente em 87 países espalhados pela Europa, Ásia, América e África. Tendo em conta esta variedade cultural, a campanha publicitária “Points of View” demonstra a versatilidade da própria companhia e transmite uma atitude open-minded, versátil e flexível, possível de se adaptar a diferentes mercados, clientes e, consequentemente, mentalidades e culturas, conseguindo comunicar ao espectador a existência de várias possibilidades. ¶ Em termos gráficos, o texto completa a imagem, pois é através dele que a nossa percepção é conduzida. O texto tem, neste caso, a capacidade de modificar e/ou atribuir sentido(s) à imagem. Se por um lado ancora a imagem, por outro permite-lhe ganhar uma nova conotação. ¶ Esta propaganda incorpora na perfeição o slogan da companhia “We are the world’s local bank” ao investir numa relação de proximidade com os seus variados clientes espalhados pelo mundo fora.

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Benetton ¶ No inicio de 1994, a Benetton gerou polémica com uma campanha realizada por Oliviero Toscani, ao utilizar uma imagem da roupa ensanguentada de um soldado morto nos conflitos da Bósnia. Toscani defendeu a sua abordagem controversa, acusando a publicidade tradicional de ser monótona e pouco criativa, desfigurando e idealizando uma realidade que não existe, não possuindo, portanto, a capacidade de comunicar com o consumidor. ¶ Várias criticas foram apontadas relativamente à campanha, entre elas, a falta de relação com os produtos vendidos pela marca, e o “estilo” da publicidade, que apela ao choque do espectador, recorrendo a imagens embaraçosas, fora do contexto e, por vezes, assustadoras, de forma a gravar o nome da marca na mente das pessoas. Além disso, é também referido que a marca explora, desta forma, a dor e o luto das pessoas, invadindo a sua privacidade. ¶ A abordagem publicitária da Benetton instala-nos várias dúvidas. Será legitimo uma organização deste cariz tirar proveito de situações delicadas para efeitos publicitários e comerciais? Por outro lado, será que a marca Benetton não pretendia simplesmente exercer uma força crítica e de consciencialização pública para problemas muito reais da esfera social actual? Não é possível tirar conclusões absolutas acerca destes dois pólos de questionamento, mas o que é certo, é que “Durante a agonia, as vendas continuam”, tal como referiu um indivíduo francês seropositivo em reacção a uma outra campanha da marca. Outro exemplo de contestação relativamente à campanha “Bosnian Soldier” provido de uma grande dose de ironia, é o anúncio de um detergente para roupa, imediatamente banido, que reaproveita a imagem usada por Toscani mas apresentando as roupas ensanguentadas do soldado totalmente limpas.

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Considerações finais ¶ Apesar das suas abordagens serem significativamente diferentes (a atitude positiva e descontraída da HSBC contra a atitude agressiva e polémica da Benetton), em ambas as campanhas percebe-se que a principal preocupação não é vender um produto especifico mas sim transmitir ao público a filosofia basilar das empresas. Desta forma as imagens não publicitam nenhum dos produtos ou serviços oferecidos pelas companhias, funcionando antes como veiculo de transmissão de uma mensagem. É curioso notar que ambas as companhias demonstram um principal enfoque em questões de cariz cultural e social.

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#02 DESIGN LOCAL E GLOBAL com Bruno Almeida

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You have to be interested in culture to design for it. Lorraine Wild

Design Local é um design direccionado a uma audiência em particular, que visa ser exibido e consumido por uma cultura em particular, num determinado espaço geográfico. Desta forma, e tendo em conta a proposta de trabalho, demos início à revisão da literatura e consequente recolha de exemplos prácticos que nos elucidassem acerca do trabalho que tinhamos pela frente. ¶ Um exemplo que nos veio à memória foi a campanha que a marca de cervejas Super Bock lançou no ano de 2009, quer na cidade do Porto quer na cidade de Lisboa. Nesta campanha, a marca associou os seus diferentes tipos de packaging não só aos edifícios e monumentos mais marcantes e simbólicos de cada uma das cidades, mas também reforçou a sua presença nos eventos mais relevantes de cada uma das cidades acima referidas. ¶ Um desses exemplos é um billboard colocado junto ao túnel das Antas, e aí via-se uma lata da Super Bock deitada, com um buraco num dos lados, simbolizando esse mesmo túnel, complementado com um slogan relacionado com o mesmo. Tal aconteceu a outros, tendo como ponto de referência o conhecido cubo da Ribeira, e outros pontos de maior interesse da cidade do Porto. Como referimos, esta campanha também teve lugar em Lisboa com o mesmo intuito. Nesta cidade foram escolhidos vários edifícios e espaços como a Ponte Vasco da Gama, o Parque Eduardo VII, a Fonte Luminosa e a Avenida da Liberdade, tendo todos como ponto comum o facto serem espaços que preenchiam o quotidiano dos transiuntes. ¶ Tendo em conta o exemplo acima relatado, a nossa ideia de reforço da imagem da Coca-Cola junto dos portuenses passaria pela utilização dos mais celebres monumentos e espaços de interesse da Invicta, e descontextualiza-los, torna-los objectos Coca-Cola. Desta forma, e como exemplo, pegaríamos na Torre dos Clérigos, numa versão simplificada, e, tendo em vista as semelhanças a olho nu entre a silhueta e uma garrafa de vidro da Coca-Cola, tornar a Torre dos Clérigos numa garrafa de Coca-Cola. O mesmo aconteceria com a Casa da Música, por exemplo, em que deformaríamos uma lata de Coca-Cola até aparentar esse edifício. Estes espaços, assim como o facto da cidade estar, inevitavelmente, associada quer ao F.C. Porto, quer ao Vinho do Porto, seriam importantes ferramentas para que a marca Coca-Cola se torna-se ainda mais importante junto dos habitantes da Cidade Invicta.

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#03 ANÁLISE DE IMAGENS com Bruno Almeida

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If I knew how to take a good photograph, I’d do it every time. Robert Doisneau

“Un Regard Oblique”, em português “Um Olhar Oblíquo” é um ensaio fotográfico, feito em 1948, pelo fotógrafo francês Robert Doisneau para a revista LIFE, sendo evidente o toque de humor do fotógrafo. Embora tenha sido definido como um momento decisivo, a verdade é que Doisneau cuidadosamente posicionou a sua Rolleiflex numa cadeira antiga que estava em exposição numa galeria de arte em Paris. ¶ Várias fotografias foram tiradas para o ensaio, mas esta é sem dúvida a mais conhecida da série. Nesta fotografia reparamos de imediato qual a intenção do fotógrafo: capturar a reacção das pessoas que ia na rua, e se deparavam com o quadro que estava pendurado na montra. Nesta, um casal olha para a montra e o homem fica fascinado pelo quadro de uma mulher nua. É uma foto do tipo Momento Decisivo, pois o olhar do homem para o quadro é apenas mais ou menos previsível. Não completamente imprevisível, visto ser reacção comum no homem olhar para imagens de mulheres nuas. ¶ Nota-se que a preparação da foto foi bastante bem pensada, na qual todos os elementos são dispostos pelo enquadramento, todos eles significativos: o quadro com a mulher desnuda, a montra por onde se vê os interessados nos quadros, e o fundo de rua, que nos permite ver o ambiente em que se gera a acção. ¶ Ao seguirmos o olhar da mulher, vemos que ela está a olhar interessadamente para um quadro. Por outro lado, se seguirmos o olhar do homem, o nosso olhar é levado da direita para a esquerda, e vemos, então, a mulher no quadro, que, à partida, passaria possivelmente despercebida. ¶ Esta fotografia, a nosso ver, poderia ser comparada a uma “pescadinha de rabo na boca”, sendo que um determinado foco de atenção da fotografia nos leva a outro, e a outro. Por exemplo: se o nosso olhar começar no letreiro da loja da frente, e tendo em conta que lemos da esquerda para a direita, o sentido da leitura desse leva-nos até ao olhar do homem, que por sua vez nos conduz até ao quadro da mulher nua, no lado esquerdo da enquadramento. Se, por outro lado, o nosso olhar for atraído de imediato pelo casal, vemos a mulher interessada no quadro que está à frente dela, mas se olharmos logo de seguida para o homem vemos que ele não está interessado na mesma coisa, e o seu olhar faz-nos atravessar a fotografia e encontrar o quadro da mulher nua. Por sua vez, ao olhar para este quadro a nossa visão periférica leva-nos até ao letreiro da loja em frente, e por conseguinte, e como já explicámos, retoma-nos até ao olhar do homem. 17


A nível técnico e formal, esta fotografia, a nosso ver, tem um cariz sobretudo “emocional”, mostrando a intenção e reacção das pessoas fotografadas, mas, apesar disso e ainda mais curioso, é também o toque de humor por parte do autor. ¶ Tendo sido usada uma Rolleiflex, esta fotografia foi capturada no decorrer do século XX, mais precisamente em 1948, em Paris, a preto e branco, e com fortes contrastes de claro-escuro e poucos meios-tons, aparentemente sem grande manipulação, talvez e apenas a nível de contrastes. ¶ No enquadramento, vemos personagens do primeiro plano encostadas ao lado esquerdo, estando ambas cortadas, quer pelo próprio enquadramento da fotografia, quer por um objecto num plano mais próximo. À esquerda, podemos ver um dos principais focos de atenção da fotografia, a ocupar cerca de 1/3 da fotografia: um quadro com nu feminino. Como pano de fundo, podemos ver uma outra loja, em que o letreiro, em cima, é o único texto presente em toda a fotografia. Toda a acção se passa numa rua parisiense. ¶ Tal como o nome da fotografia sugere, achamos que é evidente a obliquidade inscrita na fotografia, quer pela própria direcção do enquadramento, quer, e acima de tudo, pelo cruzamento de olhares entre as duas pessoas que estão em primeiro plano. ¶ Relativamente às pessoas, fotografia cinco pessoas: duas em primeiro plano que constroem narrativa da fotografia, e três em segundo plano, passando quase despercebidas.

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NARRATIVA INTERNA

Foco de atenção da fotografia: quadro na montra com mulher nua + homem, aparentemente casado com a senhora ao lado, a desviar o olhar para o quadro enquanto a mulher aprecia a montra. Luz (escuro, claro, etc.): fotografia com fortes contrastes de claro-escuro, com poucos meios-tons. Natureza da imagem: imagem de cariz emocional; mostra as intenções das duas pessoas fotografadas. Enquadramento: personagens do primeiro plano encostadas ao lado esquerdo, estando ambas cortadas, quer pelo próprio enquadramento da fotografia, quer por um objecto em plano mais próximo. Quadro com nu feminino, um dos principais focos de atenção da fotografia, a ocupar cerca de 1/3 da fotografia. Rua e Paris como pano de fundo. Número de pessoas (posição das pessoas, plano): fotografia cinco pessoas: duas em primeiro plano que constroem narrativa da fotografia, e três em segundo plano, passando quase despercebidas. Tamanhos: 29.5 cm x 24 cm Texto: único texto visível na imagem está presente na montra de uma loja apanhada na fotografia. Simetria/Assimetria: imagem equilibrada, mas sem qualquer tipo de simetria Efeitos especiais: fotografia aparentemente não manipulada Ângulo: Tal como o nome da fotografia sugere, acho que é evidente a obliquidade inscrita na fotografia, quer pela própria direcção do enquadramento, mas também, e acima de tudo, pelo cruzamento de olhares entre as duas pessoas que estão em primeiro plano.

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NARRATIVA EXTERNA

Fotógrafo(a) – eye gaze, quem é que criou a imagem ou de que fonte foi retirada?: Robert Doisneau, para a revista Life, fotografada com uma câmara Rolleiflex Porque foi esta foto tirada, com que intenção? apreciar e analisar a reacção das pessoas da época ao depararem-se com o nu, neste caso um quadro onde está retratada uma mulher, de costas, nua. Data: 1948 Local: Paris Contexto social: fotografia tirada, numa rua de Paris, durante o quotidiano dos parisienses Foto-elicitação: “... the photograph appears to give a certain prominence to a woman’s look. Yet, both the title of the photograph and its organization of space indicate that the real site of scopophilic power is on the margins of the frame. The man is not centered (...) Nevertheless, it is his gaze which defines the problematic of the photograph (...) Indeed, as subject of the gaze, the woman looks intently. But not only is the object of her look concealed from the spectator, her gaze is encased by the two poles defining masculine axis of vision. Fascinated by nothing visible (...) the female gaze is left free-floating, vulnerable to subjection. On the other hand, the object of the male gaze is fully present, there for the spectator. The fetishistic representation of the nude female body (...) insures a masculinization of the spectorial position.” (Mary Ann Doane, 1968)

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#04 DESIGN ÉTICO com Bruno Almeida

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Good design is a form of respect – on the part of the producer for the person who will eventually spend hard-earned cash on the product, use the product, own the product. David Brown

Quando se fala em imagem, seja em que contexto for, seja no jornalismo, seja na publicidade, onde for, de uma coisa nós nunca poderemos ter a certeza: a sua veracidade. ¶ No caso em particular da publicidade, a imagem desempenha uma dupla função, uma vez que existe uma dicotomia entre o que é recebido e o que é percebido. No campo do recebido, a publicidade tem de se impor visualmente, como se costuma dizer: tem de dar o ar da sua graça, sendo que no campo do percebido remete para a inteligibilidade da imagem, na medida em que a fotografia publicitária visa divulgar uma existência comercial. ¶ A publicidade é uma das ferramentas do marketing mais expostas aos problemas éticos. A mensagem transmitida deve garantir que o produto chame a atenção do público, mas é bastante comum e divulgada a ideia de que, num mercado que seja muito competitivo, como é o de hoje em dia, seja difícil atingir esse objectivo de forma a que não se recorra a qualquer tipo de comportamento não ético. ¶ Como tal, uma das técnicas usadas cada vez com mais frequência pela publicidade é a fotomontagem. Cada vez mais, hoje em dia, os publicitários e designers recorrem à fotomontagem para fazerem vender melhor, e mais eficazmente, os produtos. ¶ A meu ver há dois tipos de fotomontagem na publicidade: há aquela fotomontagem que mente descaradamente, embora o comprador não se aperceba, e há aquela fotomontagem que é feita como o objectivo de ser perceptível a “olho nu”. Esse tipo de fotomontagens é feita com o propósito de enfatizar as propriedades de um produto, exagerando, de forma intencional, a nível visual de forma a dar a entender aos clientes as potencialidades do produto em causa. ¶ Foi precisamente isso que fizemos com as nossas imagens. Numa primeira imagem, o nosso “cliente” foi marca de produtos de limpeza Vileda, e o que fizemos foi apropriarmo-nos de uma imagem e no objecto final colocar a mesma imagem em cima e em baixo, sendo que a de baixo foi manipulada. A nossa intenção, ao criar esta mentira visual, foi dar credibilidade à marca, mostrando as potencialidades e vantagens dos seus produtos. ¶ Na segunda imagem, para a marca de cosméticos Vichi, criamos uma situação arrepiante e fora do comum, mostrando que a marca era capaz de resolver até os problemas mais complicados e improváveis.

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#05 DESIGN DE GÉNERO com Bruno Almeida

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Because of our social circumstances, male and female are really two cultures and their life experiences are utterly different. Kate Millett

A questão é antiga, mas a sua pertinência não só continua actual como a constante instabilidade dos mercados lhe injecta novas premissas a cada dia que passa. ¶ A evolução da mentalidade do homem relativamente ao género fez com que muitos estereótipos fossem combatidos, mas a base desses mesmos estereótipos possui raízes que se estendem muito mais para além do mundo do design e da publicidade. ¶ Por muito tempo, as diferenças entre homens e mulheres têm sido naturalizadas pelo uso do termo “sexo”. Entretanto, as diferenças entre homens e mulheres são social e culturalmente construídas, ao passo que falar em sexo reflecte uma condição biológica e, portanto, eterna. Género é cultural, enquanto que sexo é puramente biológico. ¶ O género como categoria de análise das diferenças entre homens e mulheres surgiu no contexto do feminismo, tendo, o termo, começado a ser utilizado entre as feministas como referência às diferenças socialmente construídas entre os sexos. Com isso, pretendiam comprovar que as distinções entre o masculino e o feminino eram forjadas pelos indivíduos em sociedade, isto é, pela própria estrutura social. Por outro lado, o termo sexo remetia à condição biológica, natural do ser humano, o que reforçava a naturalização das desigualdades entre homens e mulheres. ¶ O significado de género encontrado actualmente no dicionário de língua portuguesa já menciona o carácter social do termo: género é “a forma culturalmente elaborada que a diferença sexual toma em cada sociedade, e que se manifesta nos papéis e status atribuídos a cada sexo e constitutivos da identidade sexual dos indivíduos”. ¶ Neste trabalho, a nossa ideia foi a de captar imagens visuais, sejam publicidades, sejam montras, sejam produtos, em que estas seriam destinadas, aparentemente, ao público feminino, procurando signos, icónicos e linguísticos, que nos levasse a associar tal imagem à imagem da mulher.

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#06 BRANDING 37


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Innovation distinguishes between a leader and a follower. Steve Jobs

Apple. ¶ Até pode estar apenas no 17º lugar no ranking das 100 melhores marcas de 2010, no estudo realizado pela Interbrand mas, apesar desse 14º lugar (que para mim até é irrelevante) a Apple é, sem dúvida, a marca que mais me agrada e atrai, actualmente, por tudo: ora pelos produtos, ora pelo seu design, ora pela simplicidade da marca. O seu patrão, Steve Jobs, tem feito, a meu ver, um trabalho magnifico ao longo destes 34 anos de existência da marca, quer ao nível da inovação e concepção dos seus produtos, quer ao nível da sua divulgação.

História. ¶ Esta longa viagem, cheia de sucessos, e alguns fracassos também, que acabaram quase por passar ao lado, começou quando dois engenheiros, Steven Wozniak e Steve Jobs, que tinham sido colegas de turma na faculdade, tiveram a ideia de desenvolver e comercializar computadores para uso pessoal. Após a licenciatura, continuaram amigos, nunca perdendo o contacto directo um com o outro, trabalhando em empresas localizadas no Vale do Silício. Jobs trabalhava na Atari e Wozniack na Hewllet-Pachard. Steve Jobs com sua grande visão futurista insistia que ambos, mais Ron Wayne, deveriam tentar vender computadores pessoais, nascendo a ideia de desenvolver um micro-computador que pudesse ser menor e bem mais acessível que os modelos desenvolvidos pela lendária PARC. Essa ideia e união resultaram no nascimento da Apple Computer Company 1976. ¶ Relativamente ao nome da marca, Apple, foi escolhida por três razões: o nome começava com a letra A, por isso apareceria à frente da maioria dos competidores; por outro lado ninguém esperaria uma associação entre uma maçã e computadores, sendo uma aposta no fora do comum; e, por fim, uma maçã está ligada à vida saudável. Além do mais, a maçã desenhada com faixas era uma alusão à IBM, que também usa listas, e o pedaço mordido uma clara referência ao pecado bíblico.

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Campanhas. ¶ Quanto à publicidade, e

Different. Com outdoors, pinturas de pare-

como breve nota introdutória, a Apple, que

de, cartazes, e um anúncio de 1 minuto, a

iniciou na década de 70 a revolução dos

campanha destacava e homenageava figu-

computadores pessoais, vinha perdendo

ras históricas que mudaram o mundo por

grande parte desse mercado nos últimos

pensarem de maneira diferente como Al-

anos. Com uma série de produtos inova-

bert Einstein, Mahatma Gandhi, Martin Lu-

dores, e campanhas publicitárias geniais,

ther King, Jr., Pablo Picasso, Maria Callas,

a empresa começou a recuperar parte do

Thomas Edson, Miles Davis, Jim Henson,

mercado que havia perdido. Em 1997 du-

Ted Turner, John Lenon & Yoko Ono, Frank

rante a pré-estreia do filme “Toy Story”, foi

Sinatra e Muhammad Ali, entre outros,

apresentada uma das mais conhecidas, e

exemplificando o porquê de as pessoas de-

emblemáticas campanhas da Apple, Think

verem ter um Macintosh.

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Relação qualidade/preço. ¶ Uma das gran-

um sinal de menos para a Microsoft. Será?

des questões que a marca sempre fez levan-

Não necessariamente. Vinte por centro das

tar, e poder-se-á dizer que é um dos gran-

vendas do MS-Office correspondem à versão

des contras da marca, é a relação qualidade/

para Mac. E mais: entre os compradores do

preço dos produtos. Os preços dos seus pro-

Windows Vista Business e Ultimate,10% são

dutos sempre foram demasiado elevados

usuários do Macintosh (nem os utilizadores

relativamente aos produtos das marcas

de Windows resistem à tentação da maçã).

concorrentes. Computadores equivalentes

¶ Esses números indicam que, ao contrário

ou melhores que outro da Apple, chegam a

do que pensa o senso comum, o que é bom

custar muito menos, o entanto os fieis con-

para a Apple também pode ser bom para Mi-

sumidores Apple dificilmente trocariam a

crosoft. Aliás, a história das duas empresas,

marca por outra, mesmo sendo essa outra

sempre vistas como rivais, tem muitos tra-

(muito) mais barata. No entanto, a qualidade

ços de cooperação.

(e fidelidade) pagam-se.

Principais concorrentes. ¶ Bem, o que seria de uma marca se não tivesse o seu rival directo. E um dos principais rivais da Apple é sem dúvida a Microsoft. Apple vs. Microsoft, Steve Jobs vs. Bill Gates. Um concorrência, aparentemente, amigável, mas não deixam de ser rivais. ¶ Muita gente crê que o ressurgimento da Apple e do Macintosh representa

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Logo. ¶ Quem não conhece o logo da Apple, apresentado sempre com um ar limpo e simplista, transpondo toda a subtileza dos produtos da marca Apple? ¶ Mas, o que muita gente não sabe é que o primeiro logo da marca não tinha, de todo, a ver com a sua filosofia simplista e limpa como referi em cima. ¶ Afinal, como era o logotipo da empresa de Steve Jobs? ¶ Voltando às raízes, a empresa iniciou suas actividades com um logotipo um tanto diferente e exagerado que representava a imagem de Isaac Newton debaixo de uma macieira. Este primeiro logo foi desenvolvido em 1976 por Jobs em conjunto com Wayne, mas, felizmente não durou muito tempo (para ser sincero, mais parecia um rótulo de azeite). Não é preciso pensar muito para chegar à conclusão que o logo não iria fazer sucesso, afinal, ele vai totalmente contra um dos mais fortes princípios de Jobs: a simplicidade. Apercebendo-se disso, Jobs decidiu encomendar um novo logo (não imaginando ele que este viria a ser um dos mais famosos símbolos de todos os tempos: a maçã mordida). ¶ A criação desse novo logo foi esteve ao cargo de Rob Janoff, de apenas 20 anos, quando este ainda trabalhava numa pequena empresa de publicidade em Palo Alto. Várias coisas chamaram à atenção deste jovem, para além da comissão: o nome da empresa, Apple, e o aspecto do director da empresa, um tal de Steve Jobs, que chegou aos escritórios de Janoff de sandálias, calças de ganga e cabelos compridos. Possivelmente este logotipo foi pensado em jeito de um tributo a Isaac Newton pela descoberta da gravidade, em conjunto com a separação das cores luminosas através de um prisma. ¶ Após 1999, a Apple passou a usar um modelo monocromático para sua marca, que acabou por resultar numa forma mais leve e elegante que conhecemos até hoje, e que vemos estampados em tudo o que é producto da marca.

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Four wheels move the body. Two wheels move the soul. (autor desconhecido)

Harley-Davidson. ¶ Encontrar uma marca que não gostasse foi uma tarefa um pouco difícil. Assim numa primeira pesquisa pelo meu arquivo cerebral, não encontrei nada que pudesse dizer logo de imediato “não gosto”. Tudo o que me vinha à cabeça eram marcas que, ou gostava, neste caso de tudo, ou gostava de umas coisas e não gostava de outras, ou gostava de outras e não gostava de umas. Mas encontrar uma que na verdade não gostasse mesmo nada de nada foi complicado. Até que, após uma longa e árdua pesquisa de marcas que eventualmente poderia não gostar, naquela nossa grande parceira que é a Internet, encontrei uma que realmente não me diz nada e que, na verdade, poderei dizer que não gosto: a Harley-Davidson. ¶ Quando penso nesta marca o que me vem à memória são aquelas motas baixas, com grandes guiadores, cheias de cromados, conduzidas por homens feios, gordos, barbudos, com óculos de sol e com casacos de cabedal. Na verdade, eu sei que a o que acontece hoje em dia não passa nem por aí perto, mas é essa imagem que me vem logo à cabeça. ¶ A nível de publicidade não conheço muito (para ser sincero acho que até nem conheço nada mesmo), apenas os merchandisings que por aí andam, ora na forma de boné, ora na forma de t-shirts, ou até mesmo na forma de blusões de couro, onde é colocado um enorme logotipo nas costas. Mais “ridículo” ainda, pelo menos na minha opinião, são as tatuagens feitas por alguns aficcionados (será isso considerado merchandising? acho que não).

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História. ¶ A história da Harley-Davidson

Campanhas. ¶ A par das campanhas publi-

começou com uma idéia em 1901. A marca

citárias, que são uma das vias mais fiáveis

Harley-Davidson nasceu de um simples bar-

para se promover um produto e/ou uma

racão, com três metros de largura por nove

marca, outra forma de divulgação é o mer-

metros de comprimento, e na sua fachada

chandising. A Harley-Davidson é umas das

podia-se ler o letreiro “Harley-Davidson Mo-

marcas que mais merchandising distribui/

tor Company”, na cidade de Milwaukee no

vende em todo o mundo, desde bonés, a t-

estado de Wisconsin, em 1903.

-shirts, até aos tradicionais blusões de cabedal.

Aí foram produzidas as primeiras três motas, da marca que viria a ser um enorme sucesso a nível mundial. Na verdade, o que aconteceu foi que uma bicicleta foi reforçada com um motor, e posteriormente baptizada com o sobrenome dos seus criadores: o designer Bill Harley e o engenheiro Arthur Davidson.

O sonho destes jovens era apenas o de construir para poder passear numa mota, mas o seu empenho foi de tal forma notório, que mais que realizar um sonho e construir uma moto, construíram, da verdade, uma lenda.

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Logo. ¶ Criado em 1910, o logo da Harley-Davidson, normalmente associado à sua barra e escudo, tornou-se famoso, não só pela marca que representa, mas também pelo facto de a companhia o ter tornado rentável quando a marca registou o seu logo (em 2004, por exemplo, a marca arrecadou cerca de 41 milhões de dólares). ¶ Curiosamente, cada concessionário de vendas da marca tem o seu próprio logo, que no fundo acabava por dizer algo mais acerca da loja e que acabava por diferenciar cada um dos concessionários em todo o mundo. ¶ Apesar de não gostar, a uniformidade e simplicidade do logo da Harley-Davidson é um prova do seu sucesso, crescimento, popularidade e desenvolvimento ao longos dos seus 100 anos de existência. Para muitos, o logo é único no seu design e, para além disso, é atractivo. ¶ Quanto à sua composição cromática, apenas são usados o preto, o laranja e o branco, dando-lhe um forte contraste. Na zona do escudo, o fundo mantém-se a preto, enquanto as letras sobressaem a laranja, enquanto que na barra o mesmo fundo preto é iluminado por letras a branco. Relativamente à tipografia, as usadas são simples e em caixa alta. Na parte central, na barra, as palavras mantêm o seu tamanha, enquanto que na zona do escudo o tamanha vai se alterar sequencialmente, moldando-se à sua forma envolvente. ¶ Se há coisa que raramente acontece no mundo das marcas, e a Harley-Davidson faz questão de evidenciar, é a quantidade de logos que a esta tem (poder-se-á dizer que tem dezenas deles). A marca não se limitou, nem se limita, ao uso do “escudo e da barra”: na pesquisa que fiz, foram 22 logos que fiquei a conhecer, ficando na dúvida quantos mais existiriam. É certo que estes logos apenas são usados nas próprias motos, mas ainda assim, dá para marcar a diferença.

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#07 DESIGN SOCIAL com Raquel Koch e S贸nia Pestana

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The designer... has a passion for doing something that fits somebody’s needs, but that is not just a simple fix. David Kelley

O design pode causar debate, polémica e reflexão, quando usado como forma de expressar um ponto de vista. Esta é uma das muitas funções do design social. ¶ Na criação e desenvolvimento de uma identidade visual, principalmente de âmbito social, o design deve ser uma ferramenta de inovação, comunicação e educação, pois é através deste que um projecto pode ganhar melhor visibilidade e cultivar a sociedade em geral a ver os projectos com maior seriedade, profissionalismo e organização. O design deve alertar e ajudar a transformar situações de desigualdade social e tecnológica, oferecendo recursos para que estas barreiras sejam superadas e oportunidades de desenvolvimento para o resgate da cidadania e da dignidade. ¶ Desenvolver acções baseadas nas actividades do design social é colaborar tanto com a sociedade como com o próprio design. ¶ Desta forma o design vai ganhando espaço e importância no desenvolvimento das esferas sociais, económicos e culturais da sociedade. Isso acarreta novas responsabilidades ao designer, que necessita estar consciente da sua responsabilidade profissional e ética uma vez que o seu trabalho contribui, mesmo que com uma pequena parte, para a configuração da sociedade. APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vitima. ¶ Fundada em 25 de Junho de 1990, com sede em Lisboa, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) é uma instituição particular de solidariedade social, que tem como objectivo estatutário promover e contribuir para a informação, protecção e apoio aos cidadãos vítimas de infracções penais. ¶ É uma organização sem fins lucrativos e de voluntariado, que acredita e trabalha para que em Portugal o estatuto da vítima de crime seja plenamente reconhecido, valorizado e efectivo. ¶ Apoia as vítimas de crime, as suas famílias e os seus amigos, prestando-lhes serviços de qualidade, gratuitos e confidenciais e contribui para o aperfeiçoamento das políticas públicas, sociais e privadas centradas no estatuto da vítima (informação retirada do site oficial www.apav.pt).

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Reformulação do Logótipo ¶ Decidimos reformular a identidade visual da APAV pois consideramos que o logótipo actual da associação não transmite, eficazmente, a sua acção e conteúdo. ¶ O logo actual comunica a ideia de apoio e família mas não tem presente a noção de vitima. Julgamos que, desta forma, o logo poderia ser aplicado em diferentes contextos, por exemplo, Planeamento familiar ou Recreação e Lazer. ¶ No logótipo que criámos tentámos:

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Transmitir os conceitos essenciais de apoio e de vitima;

Atribuir um aspecto visual mais “clean”, actual e leve;

Captar a atenção do observador através da cor e da forma de gota/lágrima;

Focar o contexto da acção da APAV mas sem ser demasiado óbvio e descritivo.


APLICAÇÃO EM CARTAZES

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