Cosmic Tones
francisca carvalHO
poema
desenhos Pedro proença
in memoriam Gaetan Lampo
Speaking in tongues
Park music
4. Kissers eating kisses
5. Homage to Bill Traylor6. Cosmic Egg Flying to meet it’s yolk
A bear contemplating Mount Kailash
18. Deep throat in funny mood
Deer of spades
Quilting nuns
Yolks big bang31. Striped face of a loved one
Lips — la vie en rose
On sight (II)
38. Overdresed for a hot day & night — how to swear under a felt coat
Girl of wands
Que nem o tempo, nenhum milénio aturdido, erosões, herodíadas do venal evento, na veneta dada, inaugura onde a prosa apresta anseios, siderações, lowcuras, requebros de carismas refeitos, no retorno desta exuberância suja, respigada, complexa, incompleta.
Ciscos, retribuindo o explender onde o freio enfronha e o prepúcio empasta, as floras, as nocturnidades moças, as matinas ordenhadas — penugens de civilizações encastradas nos apetites pituitários, go gentle a impressionar a fuga dos dias, apinha o Proust e os astros diccionários, be kind to thyself no semear precário — selvagizadas as vitas novas no fremer afincado das nuvens de agoras — poalhas de futuros imberbes.
Não bastam bestas, torcionários noticiários, acanharem com falências virais, pois lateja Pandemos, espumosa deusa, bruxuleando em salpicos — Afrodite mascarada de Dionísos, que o sexo é raptado à terra, avelãs, vulva do fundo sem-fundo, tantans cardíacos do solo, espumas orquídicas do deus ceifado — quem diz Aphros diz Orkhis (a curtir, so deep, chupar) a fermentar o Kairos, a fruta que nos descasca, figos de Nietzsche e Lawrence, glande engalanada que é Baubô fazendo arteira as trevas rir, sussurrando no repto a chicha da cor, quiçá a amada face, os riscos, às tiras, o arcaboiço da escuta a plantar traços, impropérios, nomes (ínvios) de Twombly às cavalitas da caneta de Barthes, trombas do Tao nos sofás de Flaubert, musselinas (aqui há gato!), todas as sedas, espaventados sonhos, glitter róseo em lábios de subúrbios americanizados pelo cio, a inflamar, parodiando em desespero a jactância das curvas persas e frequências a radiar algas.
“Os tempos que nos escutam”, árvores que desde a Amazónia vão tomando o pulso que rega o rosto nos animais nos sonharem, na indiscriminada predação, no cheiro curandeiro das selvas acintosas.
Isso, isso, a desoras, róseos dedos de tanto acamar, enquanto o farol nos fareja os lombos.
Ser amoroso ou vil? Valente? Arrepiar o rastro, diversificar versões do que fora sem prometer, adivinho onde a expansão é carne, horto de feras e esperas. Acolho-o, que me há tomado o desejo a exemplo, sem poupar, em popa — e no motel a esverdecer feito urso, que manápulas, mordomias, te servirei a eito sem que o mundo agache?
E se pareço, em andar pereço à falta de tribo — qual rocha roída por mares vinhosos, manto de espasmos a altivar azuis ultramarinos. É comunhão sem dó de ambiguações, que já na mente a solidão não grassa —
orgíaca telepatia, esfusiante graça, fruto a financiar desfrutes — que antenas? vibráteis, escarlates, adamascadas partes de grada dança rés-vés, arrelampando sopros que Homeros raspam?
A tromba e a careca — porquê tal dislate? No azulejo do w.c. topas o deus da sorte. Que travos trovas? Que trevas travas? Jazentes no já.
Membranal prece. A acentuar incitamentos junto ao monte da Deusa da jukebox. Gozaste. “Gaita”! Aurífera, ridente! Nas cintas de deliciar a glosa, resgatando-te nos esporos de dizer, escutando-te a voz, mantra, língua-lira evaporadas as conveniências, a arrepiares na infusão divina, om namaha, Hera, Kama, Lalita, Lakshmi, VÁRIAS esses unguentos, ervas, súores, sucos — aí no dorso móvel, no tálamo da tola, dentes a arrepiar a medula, ombros, sela-selva, mais conciso, fluído, florestal, capilar,
a volver-se doce, a vulvar-se desce a aferir fremências: nossas.
— Vem ao festim vindimar-me as vindas, abraços, de bruços, a apetizar pernas, e ainda pernas, na linha-linha, dos hebreus e dos sumérios, no prumo primordial.
— Sacia-me a bacia de ternuras, verte o leito lustral dos regaços onde o todo se empolga a rodos.
Arreiga-se, tal e qual, inteiro, tacto no acto — e se enflora no resguardar o sémen suave acesso à cetinosa fenda, silvo de Shakti, donna ch’avete intelleto d’amore, canibaile, o mesmo múltiplo assenhorando-se, milhentos planatos a averbar a verve, magas, sibilas, pitonisas, hereges, sábias.
Que o monte contempla
o urso: Pooh meets Kailash. Recesso que estrabucha labirintos e entrança a pintura dos destinos (uf!) a destinar pinturas —
refrões de reinventar o útero, de inverter o falo, barbarismos de cuidar caminhos, provai a brasa, o afluir de amoras, o serpentear do caduceu, sóis, luas, lastros do sopro seminal — a mirar adiante (não ser pato em jogos sem fronteiras) arte vibratória, spanda em festa, flor de aneis a apurar o belo (incessante a beleza), seiva a sexuar (sob o súor do casaco) anarquias de gentes ermas, ameríndios, aborígenes ornatos ocres, magentas, telepata dando à pata no outrar-se em animais, a dealbar nos glúteos: ela, nocturna, a apetizar a obra, a arreigar a varinha; ele, entornando florações do sul, estirado para avarandar; ambos arcando costuras, tessituras que enlevam signos, onde o dedo adula os dialetos (é bera!) do dédalo deliciando mais e mais — porque se aninha, errática ou sincera, a criatura na alta esfera.
Saiem do sal do sexo, deuses, ninfas, daimons, — cálidos cuscam, com pneuma em magma no báquico varar do diafragma — espiral que ascende vértebra a vértebra do aceso sacro,
verdor de cacos de Osíris, Dionísos, Shiva, a empenhar espasmos, cismas da implícita caprina, ou bovina, ou leoa, e que mais — deidade circunflexa de aguas ígneas, humidade térrea lambendo pés.
Impregnadas as mútuas carnes de odor a Éden a nudez veste nudez alheia que os corpos sendo outrém repastam a incessante ceia.
Que te livres, desfolhes, acedas, ascendas no espanto que colhe o mundo e a veia — esperma de astros que emplumam versos, sílabas de chakras a gerar ornatos (kosmos), colagens de panglossar.
Beijos beijando beijos na prega em que se engasta o ver. No dissimular ritualizam, em indigo, os shaktas, a coar sopros e fogos numa só virtus: o ardor a teimar primaveras, a cabeçar os espaços.
Que se amanhem na gema os povos no ser libertos, dispersos, vindos do ouro, recuados ovários até às ganas que antecedem mundos, esse imo sem-fundo até ao pescoço — lá, onde de Kali se solta a cara no travo aberto da corcuma, do gengibre, do mel que a nádega aclara o Nada, e o OM brama céus.
Janeiro 2021
para informação do leitor desprevenido as obras de 1, 2, 4 e 5, medem 100 x 70 cm as de 6 a 41 (aproximadamente) 29 x 20,5 cm as de 42 a 44, 140 x 100 cm, tendo todas sido executadas sobre papel & utilizando diversos materiais como: a) guache b) aguarela c) pastel seco s) pastel de óleo e) lápis de cor f) canetas de feltro g) caneta prateada em diversas combinações, sendo de assinalar (é importante!) o uso de papel de Jaipur nas obras mais pequenas
Publicação feita por ocasião da exposição Cosmic Tones, mas também esteve para ser Bread and Bed, Beans and Dreams, de Francisca Carvalho, no CIAJG, Guimarães, na primavera de 2021 (dado que na Pandemia não há datas certeiras).
O presente livro foi esgalhado numa tarde soalheira de Março por Pedro Proença