orquídeias atópicas
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orquídeias atópicas
O R Q U I D E I A S A T Ó P I C A S
Sóniantónia & Sandralexandra
Wa f B o o k s
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orquídeias atópicas
Esta edição revê, e passa a versos, o texto publicado em 2005 em Naturarte nº2, na editora Apenas Livros © Wafbooks 2018 © Sandralexandra & Sóniantónia
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Embaraça-nos sobranceiramente a incapacidade masculina de pôr os pontos nos is e de mostrar como é o que é, com ou sem exactidões menores. Os homens são seres exteriores, vivendo nas suas confortáveis e bem menos problemáticas hormonas, e graças a elas donos de um inconsequente pudor a que também forçaram as mulheres durante indeterminado tempo.
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Os feminismos tornaram-nos mais esclarecidas, mas não estamos seguras se mais emancipadas! Quanto aos machos, continuam confusos, incapazes de se pensarem e de trocarem os seus ridículos «comia-te toda!» por uma consciência mais acutilante da sua pobre situação. Creio que temos que ser nós, mais uma vez, a fazer o servicinho todo, e a pensar-lhes a machesa, na substância, mas não no modo.
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É este esforço generoso, que nos torna ainda mais mulheres, e que poderá um dia, se a sua estupidez não persistir tão assiduamente, libertar os homens do eterno servilismo às «suas» mulheres, coisa que Hegel nem sequer conseguiu discernir na espirituosa Fenomenologia. Daí estas Orquideias Atópicas, dedicadas à Maria e ao Marcelo... Sóniantónia e Sandralexandra.
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Aos outros, que se arrastam nos nomes declinantes, na exuberância de não deixarem marcas, no ruído irrecuperável que sobra a silêncios amarelecidos – jibóia esquiva que ressoa e aperta o pescoço às extensas florestas em que não ousamos entrar. Que florestas? As florestas de Babel!
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Não deixamos de ser a excepção flutuante inclinada para a exterioridade na inexactidão crescente que contradiz a morte.
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A terra não te poderá ensinar mais que a constância assassina e anónima – a mineralização como evidência – e a cumplicidade feroz dos desertos lunares.
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A carne para ser carne tem de aprender a descer ternamente a si mesma.
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As provas da sua existência estão no modo fulgurante com que os sentidos se acendem.
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A imagem – ruminação pânica do gosto que se afina para insaciável predação.
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De nĂłs nem a acre voz pode declarar o rigor da sinceridade.
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Não há escândalo que não seja a simulação de uma decepção antiga anterior a humanidade erecta ou para sexo deitada; decepção ante o ocultamento dos ornamentos que sustentam a glória que antecedo o mundo.
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Traduzo-me em infidelidade sistemática — a escuta de aedos é desejo de domar canoras distorções.
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Exterior aos espasmos civilizacionais ainda que gargarejando numa linguagem embaraçante, rodeiam-me signos boquiabertos com ferocidade carnívora.
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Buscaram-me os lugares porque me não soubera sequer buscar – andava de um lado para o outro, furtando-me às inclemências famintas de cada espaço. Estes querem devorar-nos muito. Escapo-me passando num ápice a uma dimensão sonora.
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As perguntas que poderia ter feito estavam seladas. Reclinava-me na arte de refutar para não ser cúmplice da tentação das evidências.
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Do íntimo das simplificadas mães até ao espólio disperso em contornos fecundáveis – nada é meu senão em exílio de Dupla.
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Alegram-nos as civilizações já não serem povos e as línguas antigas e desconhecidas contaminarem de forma decisiva estes mínimos gestos – até o sabor da água que beberemos demasiado tarde.
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Chamamos à cólera que rasteja justiça como se os saúrios tivessem a arte de ser sibilinos.
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Há amores que transpiram para lá da alegria incontida – entramos em mapas selvagens onde o desejo nos chupa como caramelos antes da eternidade.
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A equação que iguala o odor ao êxtase faz mais sentido que a soma das metamorfoses que nos aguardam – o inesquecível, o súbito, o palpitante nas anamorfoses dos arredores.
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Residia na prudência para cometer com premeditação imprudências sistemáticas e sucessivas – um coabitar amoroso, embora elíptico. Curvando espaços que foram rectos. A paixão é inconciliável com as quadraturas.
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Mesmo os tenebrosos eram necessários para aperfeiçoar tua subtileza – os cânticos que derrubam muralhas são afins da alegria de Elohim.
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Nomeio a girafa porque a sua altivez é dom de aproximação – não sou o archeiro que sabe acertar metáforas em alvos certos mas aprendo a ser o indigente anterior ao indígena, uma criatura plumativa mais antiga que o aborígena.
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Da mesma forma que as mulheres são bíblicas antes de serem belas, os homens são um húmus amassável, um acontecimento difícil de assinalar. Não foi no útero que chucharam a origem mas nas putativas perleções verbais – pedem ao inominável que a glória original mansamente proferida em sílabas sonsas contamine o brejeiro barro.
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Sou incapaz de encenar regressos em segredos. Só sei ser exuberante contaminada por paixões a desambiguar.
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A caça apoderava-se dela com comichão verde — poderiam dar-lhe o nome rebuscado de ninfa — recusa instintiva da monotonia da terra lavrável.
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É fatal no povo a devoção mesmo no auge dos espasmos revolucionários — só ao indiscreto é dado o cume.
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Após os excessos o prazer surge num sono excessivamente cru — um a posteriori áspero, doce, melhor que inefáveis samadhis.
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O terror é afogamento no excesso e literalidade intacta. A glória é a explosão dos afectos fora da acta.
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As notícias que violentamente se infiltraram nas nossas vidas, vindas por fúria televisiva ou inclemência das porteiras, são sucedâneas do terribilidade angélica — não, não implores notícias aos deuses!
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Só há erros, excessos da fortuna, mudanças contínuas, idas sem lar – e até a gramática em que registamos errâncias. Por mais latina que seja, deixa escapar o fedor da latrina, dos bárbaros, da imperfeição canalha.
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São demasiado expansivas as cores, bem para lá da devassidão que ambiciona cristalizar-se em Forma – a cor, desmesurada monstruosidade, é imprecisão que se faz pele, fascinante e praticável.
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As línguas estão tão atarefadas em canseiras lúbricas que não soltam sequer arrufos guerreiros. Só a acidentalidade exótica as faz mover.
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Nada é inconsolável ou, de súbito, definitivo – no retrocesso ou na derrota condenamo-nos a ser chamuscados pela graça insólita.
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Tagarelarás como uma gralha, assegurando que o nosso amor é ambígua guerra de minúsculos detalhes — o doce desconcerto dá passos em frente no deserto.
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Era tão prático esse modo incontornável de não residir, de ir indo, como se vai o sol todos os dias.
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A comparação era anterior às distinções elementares e ao mundo ter sido chamado para glória.
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As estátuas, assaz ofídeas, largam suas bruscas peles de grega métrica.
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Sabe-se que as casas foram edificadas para os carecas perderem defuntos cabelos.
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As revoluções são esquivos avanços de um Não figurado e parecem ignorar os Sins que se avizinham a cada encruzilhada.
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Contento-me com a enxuta finitude como se fora brincadeira assinalĂĄvel.
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O rosto só se revela pleno na escuridão mais cortante – são os cegos que melhor dão conta da subtileza que palpita nas faces.
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É assustador o modo musical com que o prazer nos afasta da morte e pede que mergulhemos em versículos que antes de escritos já são carne.
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Mesmo a frase simples, desarmante, surge num nó que parece desatar-se do emaranhado omnívoro da complexidade.
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Terás que te esquecer e voltar a esquecer as singularidades mais preciosas para que regressem as formas perturbadas.
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Os oráculos que a pitonisa te revelou acompanham-te no estilo e na crepitação de gestos – tu só não soubeste de que lingua os tinhas que traduzir.
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A audácia é fadiga antecipada que busca resignar-se em alívio poético.
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Era indesejável amar-te com hermetismos convenientes e reciprocidades adequadas. Buscava ruídos para evitar a liquida estagnação. Qualquer concórdia que se desenhasse era morte que repugnava a meus demónios viscerais.
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Há redundâncias excessivas, e respectivos rituais – o ritual, doméstico afina e desperta o explosivo o incontrolável que dissipa as carências.
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As nações são jogos fixos de um acaso que se propaga através da saliva e das tontas pronúncias. Adequei-me às singularidades desta nação tecendo línguas debaixo da língua, hipotética mãe que não cessa de se prostituir em vão. E todas estas línguas através de outras línguas desaguarão repartidas em línguas ignorando de nações.
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O que vejo no espelho nem sequer é a máscara ou decepção tremenda, é só o cómico inadequado, e como tal, o indigente verdadeiro.
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As orquídeas dissimulam a noite e suas crepitações em formas que abrem o dia para o mais pleno e aberto embora incompleto.
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O despotismo amoroso ilumina os casos em que afora trotes e ânsias o amado é. A sua imagem destrói as indagações – nenhuma presença é circunstância de oscilantes geometrias ou de gemebundos conceitos.
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Agora que as fronteiras definharam tento atar os fios que faziam ver cegas as diferentes diferenças – a exaltação animal e o demais.
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Aproximação felina, filha bastarda de vesgas estratégias, sem que em si conste a voracidade bélica ou bíblica dos grandes répteis ou hálitos de manipulação. Houvera um grande tempo para ir morrendo devagar e não eternidades com vistas para instantes – vindas do prometido sem promessas acordadas.
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Os pintores de silentes vidas fazem renascer coisas no miolo e nas migalhas do pão-nosso de cada dia como se a morte fosse opereta de cordel ou fábula esverdecente.
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As anatomias desgastam-se em enunciados ostensivos – murmura-se a antiguidade da pele e da carne adjacente em talhante patine. Contra todas as marés somos recentíssimas e o corpo é tosca máscara da natureza bruta sem canduras empáticas. Não basta o apetite por temperaturas distintas
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ou texturas de pele que nos juntem em condenada espécie.
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O vento é a escola dos gestos. A impaciência e a indeterminação pressupõem a dança que as continua e refuta. A monstruosidade do mundo antecipou-se à delicadeza. Os deuses fizeram-se espuma e nós saboreamos a minúcia e os exotismos erráticos e eróticos do breve.
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Acolho o ódio como a terra acolhe a neve – há uma imperceptível crueldade japonesa na precisão gestual e no vagabundear das estações. Pobres os que se contentam com a glória impalpável que os serve.
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Herdamos o excesso em excesso e caíu-nos o peso primevo da inércia. Esta baralha-se com a eternidade. Incomoda-nos fruir o outrora inimaginável até para os deuses. Arrastamo-nos, pavões aterrados, na nulidade da frágil omnipotência. Só és omnipotente no imaginar.
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Nem na discrição nem no segredo serás exemplar — terá de ser o actor desamparado improvisando papéis inadequados — a inadequação é a autênticidade.
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A amizade esconde o orgíaco perseguindo-o como acaso mais total que a canibalização consentida. Pode ser sumptuosa planta do orgíaco preestabelecido — consumado antes de se consumar.
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Somos ecos de inexactidões que volvem aos oráculos propícios — há nisto a relutância aos gracejos equestres. Mais do que à felicidade entregamo-nos ao seu eco: na euforia de mínimos gestos, ao invés das insularidades — guerrilha às molezas totalitárias.
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A tagarelice, não a desejas abolir. O silêncio, na sua majestade, é já censura, ampla, profunda, divina. Venha o palrar desmedido dando aso a quebrar a opacidade do sagrado.
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A antiguidade é o que se foi despedindo das coisas.
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Regressa como não-coisa em caracteres meditativos.
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Contorna as mumificações e as exercitadas museologias. O outrora é exuberância fresca e não só o preço circunstâncial das sucessivas modernidades.
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Não tenho sabido separar a alegria da alergia. A vida providencia alergias às gentes descontentes, aos corpos fracos, aos corações sensíveis. O mundo deu-se em luz alérgica às quietudes soberanas. E o senso afinado nos sentimentos é intromissor e vulcanico gáudio a perpétuar-se.
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Não busques desenganos nas severas transparências. Contenta-te com o vidro baço – nele o olhar, fora, demora. O invisível limita-se à vocação da decepção e da delinquência.
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Persegues o que o mistério abomina. Designas-te predador sem presas. Perdes-te em andanças sabendo que o fulgor da paisagem é exercitação suada. A cada passo ao excesso cedes.
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Espécie, especiaria – mais húmida que humana, mais humilde que húmus. Estreita-me sem sombras ou veredas de fama – astro anónimo, criatura, oral.
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Sê materna e raposa. Acolhe, como a brancura, a roupa em fúria lavada e manientamente estendida. Em ti somos o esbracejar infante. Descobrimo-nos larvas na alba de estrondosas metamorfoses.
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Querias catar o instante para nele renascer. Faltam-nos tais gestos. Ainda não chegou o tempo em que nos mordiscariam gargalhadas devotas, das que eliminam o medo. Deixai as inquietações quedas — são miragens que a avestruz no buraco produz.
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Desconfio do imutável, e afasto-me de cadeiras que rangem e de portas que não se deixam entreabrir. Os nomes com que nos incitamos são o tabuleiro de xadrez em que decorrem falsas cedências. O amor periga em tempestuosas manhãs. O tempo, exterior, não se deixa diluir na soberba dos objectos caseiros. Os invernos fazem dos lares museus do descontentamento. As musas esfriam nuas ao vento.
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Há quem vá à guerra em caçar quiméras e em braços de marfim morra. Bastam-me rascunhos para que trema regelada.
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Julguei que as minhas convicções eram cópias mal amanhadas.
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As metáforas de que abuso são cinzas de imagens que adiam o perfeito. A si entregues, à flutuação conjectural e possessiva...
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A seus sábios poderes o demiurgo resignou. A emancipação nunca é vã. É autarca, ou nem por sombras. A si as coisas se entregam num abandono sabendo a café em manhãs orientais com a ementa desenhada a giz.
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Até da injustiça fomos espoliados mas não do chá.
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Juba, alga, barro – não rimam estas palavras. Pedem-nos que remendemos os espaços gananciosos que as parecem separar. Pego na agulha e no remendo — o demónio vai coser.
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Os cumes reduzem à lentidão o rastejar dos júbilos Acolhemos o borbulhar ruidoso precioso ou impreciso e na sua baba nos deleitamos nas noites em que se canta para lá do evidente – lamentos feitos rebanhos?
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Num canto de uma miniatura via-te de alimárias rodeada – o despudor tão natural alumiava o sexo dos mensageiros.
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Somos menos coabitantes do que coabitáveis – procuramos pigmentos que interiorizem e cores traiçoeiras. E antes que o dia chegue saboreamos o veneno de cada noite, reptilíneo, delicioso, insuficiente...
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As amadas desiludem mais que os imortais A nossa carne invejam e as canoras evidências. Vozes animais vão correndo às faces da Terra. Um hiato nos devora — o da separação dos deuses.
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Sopas paupérrimas preferimos às calmarias do incenso.
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A teima nas orquídeas já viera molhada.
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Com devoradora devoção as criaturas ascendem à mestiçagem progressiva. De lá enxergamos esse avanço como condição premonitória.
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Há na paixão a desesperada transparência do paraiso E também do êxtase a tenacidade com paisagens claviculares! Na sublime acidez fomos exilados! Desde o Cobra.
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É de supor que haja um bestiário de que fazemos sub-reptícia parte. Feras ignotas sejamos! E as páginas que nos enrolam vêm caligrafadas com capitulares onde o monstruoso desponta em gozo.
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Na escrita se refugiam os olímpicos. Dispostos a devorar-nos.
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Jamais te busquei, mesmo que te assemelhes a axiomas que em minha carne acampam.
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És o pasto de polidas emoções.
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Os desacertos enriquecem a harmonia com temperamentos musicĂĄveis.
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Antes a queda brutalidade dos barrocos que a polida e movente harmonia das esferas.
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O riso deslumbra e convida a fidelidades adiadas. Faz-nos esquecer que o amor é guerrilha e que as revoluções são feitas de coagulos de habilidades. A gentileza dos risos torna honestos os colos. Assim se enxugam os objectos amados.
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A curva do cisne entra nos aprumados apuros da toillete.
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Não são transparências mas criaturas desossadas e os exactos condimentos que tornam justos e saborosos os caldos da prosa. Tirassem-nos os coentros e tombaríamos em ardis castos. Há quem queira amputar-nos o gosto e abolir a honestidade amorosa do poejo…
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Ele invocava a tuba como timbre épico. Eu contentava-me com o apito disciplinado da panela de pressão. A casa está possessa do cheiro a cozido. É a sedução nasal misturando a retórica da culinária popular com a gentileza escolástica.
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Há nos pianos das avós a presença sinistra de mastodontes, como se a pré-história solicitasse dedos e a música nos tentasse engolir num enunciado de Deus em Job! Os pianos tornam acidamente acessível o titanismo e convidam ao anódino estrépito. Porém, o que tínhamos em vista era a voz, rugosa e sábia da velha Sibila.
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O que é clássico reconhece-se pelo labor e a elisão. O que não rima com as conveniências. Habituamo-nos desde logo a progredir pelo inexacto nos arrufos, nas tropicais inclemências de um clima forte. Como pode o amor trepidante tornar-se clássico senão como nostalgia distante? Ainda não aprendemos a contenção e muito menos a exaustão!
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As metamorfoses entre o Logos e a Carne decantando afectos ignoram o puro e o virginal.
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Os mapas incitam ao calor da Terra e aos animais raiados. Os rostos pedem a altivez das harpas. E as pátrias? Má retórica e adagas.
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Descartei-me da intimidade que tive por cozinha linguareira. Despojada, quedei-me natural entre esconderijos. Intimíssima intimidade! Os demais perigos já são adjacentes jogos.
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Cada osso tem sua morfologia e justificações bíblicas. Os amantes não são instruídos na lógica articular — esta vem mais tarde quando os manuais arrefecem nas estantes e os corpos buscam os exageros da plenitude onde pouco é o que se ajusta às evidências e ao rude.
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Heloisas e Marianas, dizem entendidos, são másculas encenações da ilimitada devoção ao masculino – mais incontinente e fundamente fendida é a erótica feminina. E seu é o amor sábiamente desatinado.
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A rouquidão das vozes irrompe quando a narrativa apodrece – desculpas de orquídea exausta. Ninguém nos obriga a cantar com a pele os descontos da espécie. A glória é mais vaca do que vã.
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Adule-se a facilidade com que o Verbo jorra nas velocidades reptilíneas e oraculares, mas jamais em murada encenação ou aplausos reprimidos.
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Agora que a música, exímia, se exilou dos sabres, a mortalidade assumiu o papel de insurrecta acantonando-se nas entrelinhas — na pele das reticências amorosas, na exaustão de leituras esponjosas.
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Pede-se rigor como desculpa para a inabilidade na intensidade. A embriaguês dispersa-se como o polén. Entra em oráculos, sempre ambígua, provocando alergias às estátuas dos deuses.
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Quando a orquídea devora o polvo a comoção dos espectadores transforma a sua carne em divina risada.
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Recusas as figuras como se cada imagem incitasse à adoração sem tréguas. Mas é a violência da adoração que exige imagens coesas — para sacrificá-las acesas!
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Os enxertos poéticos enxergam-se — foram podados com as soberbas árvores do Paraíso.
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A multiplicidade é fruto humilhante e um desígnio mais intenso e demente que a cela da unidade.
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O vácuo não pode parir senão vacuidades – o granito e suas giestas são mestiços antes das raças e da acumulação das consciências. O híbrido no vazio se emaranha como o gato as minhas meias de Lycra arranha.
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A leveza faz-se caminho e o olhar alcança a nítida distância.
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Incorporou-se nos gestos musicais a magia. As melodias bulem em encalces desregulando o poderio e o insĂłlito.
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Os deuses não deslargam as línguas mortas e seus papiros. A eternidade vaga nos ardis ou por passagens sem trancas.
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Catava tactilmente mapas para enfrentar a cegueira com que ia para o distante.
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Na orquídea não há evidências claviculares nem defensivos espinhos (mesmo que os houvera) só exuberante polén para as faunas galgarem.
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O tigre não ama desdenhosamente como o teu ou o meu gato nem em submisso lume, ou canídeo — pavoneia-se no raiar do poderio com um sorriso pacato que ateia na floresta a alegria.
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Para a ofegante noite que sustém os distraídos astros os dias são a circunstância da proximidade de uma estrela.
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orquídeias atópicas
Teimas de orquídea geram geometrias substancialmente férteis.
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As feras farejam fĂĄbulas amorosas em suburbanas jaulas.
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O ciúme segura a paixão como portada da morte – para quem ama, a despossessão oferecida, funde-se com o afogamento da absorvente imagem da amada.
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É Durga que se desfaz do Minotauro dando-nos o labirinto, alameda ajardinada. Teseu procura o sexo suplementar, o não-desflorado, trocando do semitaurino a parte mas das enigmáticas arquitecturas distinto.
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orquĂdeias atĂłpicas
Indagamos com adagas as submissas partes das urbes. Deixamos que sorrisos se tornem Ăngremes quando as nuvens se achegam a nossos hirsutos rostos.
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Resplandecemos regurgitando repastos fĂşnebres.
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Damo-nos conta que dissipamos cuidados em contínuos desvios aos nossos arcaicos planos e que arrumamos a doçura em desfiladeiros e sucursais.
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Fechas-te para te instruíres numa ciência desavinda. Recusas o silêncio e as formosuras do mobilado. Desvelas o críptico no mais precário.
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A glória é subúrbio insone de aflições muitas, seja divina ou cordialmente mortal. Alguns dos seus casos vegetam no preço dos casacos.
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A posteridade é tragável e entra em corpos amáveis. O desbragado amor é filho do inextricávelmente recatado.
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orquídeias atópicas
Muito se teima na indicibilidade amorosa, seja em pejos de amor indeclarado, seja no legado pânico dos gemidos. O amor, diz-se, é nas metamorfoses que opera pelas almas carnívoras. Ou na exaltação contínua que arrepia corpos. É uma fala que se assenta no mundo com explendidas cabeleiras.
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orquídeias atópicas
É certo que o vácuo deflagra a cada instante. A história afaga-nos interpretando variados rumores. São miríficos, mas não alcançam a sedição metamórfica dos mitos. Assim registamos estilhaços que sobram à história e que em mitos continuam reticentes.
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Um rosto é um modo urbanizado de aflorar escândalos. O que do rosto resta são floras ajardinadas desenvolvendo violências propensas devassas caças.
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São as enraizadas plantas que me devolvem a inconstância do mar e o regular ritmo das marés.
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Hortos são refúgios de medos mais maduros – retomamos metáforas edénicas para salvar os deuses da crueldade?
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Há velocidades no estar quedas que arrebatam a contemplação para o florir dramas – o silêncio é a retracção dos músculos que se degladia nas grutas da boca.
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orquídeias atópicas
Aquilo que adoramos no mundo é expansão da cosmética rude e dos minguados fogos.
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orquídeias atópicas
Nem inaugural e muito menos terminal a vida vem embrulhada em armadilhas e interlúdios. Aí os enunciados da memória caprichosamente pontuam.
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orquídeias atópicas
Visões não curtem poltronas ou canapés para se refastelarem. Digamos que emergem de fúrias há muito em peitos guardadas – mágoas que se vertem em gargalhadas, arrebatamentos báquicos, lágrimas, suspirações.
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orquídeias atópicas
O irretratável é declamado pelas coisas – como se o que vês fora nulidade, imagem despossessa de imaginários.
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orquídeias atópicas
Nocturnas são as vésperas – vozes que se expõe na inclinação a aparelhar albas.
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orquídeias atópicas
Desejos têm astúcias de noiva – rolam para a inevitável corrupção em sacramentos de casada.
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orquídeias atópicas
Somos deveras lúcidas quando emaranhamos considerações em barrocas teias. Falta transparência e evidência à lucidez – esta é garra despindo corpos: adolescem nossas maturidades e as alheias.
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orquídeias atópicas
Os nómadas vagam de aterro em aterro demandando a transparência jocosa da morte.
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orquídeias atópicas
Com ironias acolho o desprezo nesta casa – exercitação de resiliências?
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orquídeias atópicas
O feminino deslumbra-se com as plantinhas. As evidências evidentes desviam-nos das durezas excessivas, do duro mineral que fulmina no recôndito das grutas — flores são prelúdios de guerras.
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orquídeias atópicas
Fala-se da rosa como da fragilidade fecunda de um só dia, mas jamais da apropriada fatalidade – o ânimo que falta para permanecer na exuberância.
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orquídeias atópicas
As ondas são invadidas pelo pão. O mundo encharca-se de sagrado. A improbabilidade de não sermos devoradas pela omnipotência do alheio faz-nos enxutas no que sobra íntimo – a seiva do recôndito tem ecologias!
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orquídeias atópicas
Ansiamos sonoros dilúvios como as gregas vislumbrando o sublime sanguinário das tragédias – a impaciência forra-se de adiados desejos e ritmos ambulantes. Somos becos a vomitar o aberto.
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orquídeias atópicas
Os sonhos são a insistência parda do irredimivel.
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orquídeias atópicas
Regressamos ao amor, à demora – inclinadas na excitação, a caír no buraco de absoluto.
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orquídeias atópicas
O êxtase refugia-se na dança – desengane-se quem sonda a plenitude animal na inexperiência do infante.
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orquídeias atópicas
É na fúria que nos disciplinamos e na exercitação que os recatados anseios ascendem na corda do poço. Passamos de palco a palco, de cenário a cenário porque o drama nos quer o osso.
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orquídeias atópicas
Erecto como raiz maligna – os machos são fálicos no clamor das cruas gargalhadas e nessas risadas se exacerbam. As mulheres rispostam com silente fecundidade, com o perfume de que tudo embora dito e redito ainda está por dizer.
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orquídeias atópicas
Ariadne diviniza-se no sexo total com o filho de Seméle – os que a leixaram foram pretextos para saber os limites da dor – da fragilidade nasce a carne incandescente. Em Naxos os fios de Ariadne desvelam a sacra aranha cretense que nos prepara a cama.
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orquídeias atópicas
Cidades redimem os heróis do esquecimento infligindo-lhes enigmas e certificando oráculos – a fatalidade dos incestos é inocência sonora. As mães só tardiamente se apercebem quanto foram prematuras. Nunca Jocasta foi casta.
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orquĂdeias atĂłpicas
Morcego – amor cego. Como todos os sibilantes amores.
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orquídeias atópicas
Negras as línguas que se diluem em epistolas – um dia saberás escrevinhar oratórias amorosas com línguas plácidas.
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orquídeias atópicas
Os amados fingem-se infantes para mostrar a mútua ternura – há aqui uma monstruosidade incompleta, mistura que atrai dos deuses a presença – ménage a quantos?
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orquídeias atópicas
Multidões são o monstro do alheio. O singular é mais complexo, tal e qual, com metáforas chamuscantes – os exageros da linguagem tecem fortes nós entre nós e a ambiguidade tentacular e torcida do real.
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orquídeias atópicas
Desenrolas a tua dor num velho papiro que se entranha no esquecido. Eu devoro esse veneno feita sábia cascavel – outrora cobras e serpentes foram cegos adivinhos.
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orquídeias atópicas
A música é inconsolável prudência – comanda, mas não encarna. É exemplar afago auricular. Excita ou acalma. Encanta ou irrita E os homens dão-se-lhe em docilidade animal aguardando a repentina clemência.
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orquídeias atópicas
Indignos para estátuas, mas adequados para o sublime.
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orquídeias atópicas
Indagas a explicitação ainda não arquitectada.
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orquídeias atópicas
Clamam do alto brilhantes criaturas – espreitam no espelho dos grotescos sentimentos a glória equivoca das profundezas, a humilhação que nos faz inaugurais mais que os antigos deuses.
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orquídeias atópicas
As histórias decantam suspiros transpirados pelos séculos – que pulmões acolhem esse ar?
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orquídeias atópicas
A solidão é o húmus da comunidade – recolhem-se lacerados os profetas a uma alegria de húmus, de orvalho.
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orquídeias atópicas
Condenei-me à cândida astúcia porque temi naufragar na modéstia e na altivez – este é o exílio que incendeia a compaixão.
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orquídeias atópicas
Nem com manhas de memórias serás conivente – eriça-te na sensibilidade que refresca filha das mutações mais recentes.
176
orquídeias atópicas
Circe é o recôndito, a plenitude de uma cama porca como não as há nos lares – acedes ao desejo porque o búzilis aguarda com cães esfaimados na lonjura. O que deveras buscas são passos amigos, a suave tagarelice das cidades – o sexo é inconsolável, nada soberano, imprescindível.
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orquídeias atópicas
Se é extrema a admiração maiores são os traços de irreverência – serás a companhia desavinda de conversas que armadilham ecos. Admiráveis os que admiram.
178
orquídeias atópicas
As geografias atormentam-nos se se insinuam espaços indisponíveis – e neste lugar, tido por habitável, são irrequietas, esplendorosas e desavindas as relações.
179
orquídeias atópicas
Desengane-se quem almeja reciprocidades sem actos rudes – errática é tua doçura e cortantes as proximidades.
180
orquídeias atópicas
A fidelidade é táctica mais que a devorante devoção – procuramos nos afectos recatos que não se edificam nem se consolidam na solidão.
181
orquídeias atópicas
Resignamo-nos à crença na graça visível e verificável não ao consolo perverso do ignoto.
182
orquídeias atópicas
Temo as trevas e seus séquitos – temor prudente, sem vera aflição.
183
orquídeias atópicas
Nomes são trânsitos entre bocas.
184
orquídeias atópicas
A premonição de exíguas alterações...
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orquídeias atópicas
As unhas que em cadáveres distraidamente se cravam unem a mudez de uns à impossibilidade de outros não tagarelarem.
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orquídeias atópicas
A errância, culposa, não cessa de ser cantante.
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orquídeias atópicas
Acampava na fraternidade para aceder a glórias feitas com retalhos de insónias.
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orquídeias atópicas
A imperfeição das paisagens aliciava-lhe os pés para demandas incandescentes.
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orquídeias atópicas
Mais tarde constatarás que a culpa é o remédio para as inextricáveis insolências da hybris.
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orquĂdeias atĂłpicas
Na vergonha os alicerces do amor fazem-na bela, embora maldita.
191
orquídeias atópicas
A hybris é o pronuncio de um desnudamento que te fará mais nua.
192
orquídeias atópicas
Sente a intencionalidade de cada gesto a tumescer-te – as coisas causam-se na iluminação do estilo com que as afloras.
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orquídeias atópicas
Os amantes ou as amadas são caninos nas suas incursões, não se dão com as felicidades felinas cépticas e arejadas.
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orquídeias atópicas
As confidências dão arredores ao amor e suas impertinentes pertinácias – a mania metonímica predomina sobre a metáfora afagada.
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orquídeias atópicas
Os machos vaginizam-se contra a sua natura e a nossa – tornam-se tiranos através das teias ténues da trémula ternura.
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orquídeias atópicas
A doçura omnívora do camaleão renova-se a cada ocasião.
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orquídeias atópicas
Ama como se fosses um esboço – espaço de dobradiça duração.
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orquídeias atópicas
Multiplico-me em indomáveis docilidades.
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orquĂdeias atĂłpicas
Desejamos no adolescer com requintados exageros a autonomia ignota e amarga que sĂł a morte pode oferecer.
200
orquídeias atópicas
O que exibe em espalhafato dissimula com rigor secreto a exaustão eminente.
201
orquídeias atópicas
A gramática é o desígnio técnico com que as línguas ditas mátrias lambem a florida fenda – a dos afundamentos?
202
orquídeias atópicas
A retórica abre frutos emocionais a que a sensibilidade sonsa parecia insensível.
203
orquídeias atópicas
Revoluções são loucos vulcões distribuindo pancada amorosa.
204
orquídeias atópicas
Os figos secos não nos purificam nem com as negruras do não nem com tácticas de medonha morte.
205
orquídeias atópicas
Sê minuciosa mesmo quando te deslumbras com a baba dos mitos – repararás que cada singularidade e detalhe ameaça a generalidade brejeira que gera as pátrias.
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orquĂdeias atĂłpicas
A beleza? Alegre glosa da fraqueza?
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orquídeias atópicas
A prosa excita a inacção soberana.
208
orquídeias atópicas
Não te deixes subjugar sequer por palavras de ordem a ordem só te quer ordenhar.
209
orquídeias atópicas
O fascínio da morte exemplar enoja-me. Nenhum deus ou ideal que se compraza em ser belo ou vero admite admiráveis destruições de inalienáveis criaturas.
210
orquídeias atópicas
As literalidades, tal como as litoralidades, desossam-se – é melhor prostituir-me nos meandros, amargados ou não, das ambiguidades.
211
orquídeias atópicas
Nega-te no que não se consente frágil.
212
orquídeias atópicas
Poderás ser intensa sem o hábito genuíno das incompletudes?
213
orquídeias atópicas
Toda a mentalidade é seguramente carnal – desde as rosas que se redimem na repetição de serem apenas rosas até às orquídeas utópicas no utopismo atarefado.
214
orquídeias atópicas
Somos corpos que se desenrolam em suposições de insuspeitas coisas.
215
orquĂdeias atĂłpicas
Enrugam-se em teorias animais as suaves peles filosofais.
216
orquídeias atópicas
Foi fulminada pelo fulgor fatal da língua bífida do real.
217
orquídeias atópicas
A pertinência dos paraísos é eco de génio e genialidade ecoante – deixa-te iluminar pela elisão da justificação.
218
orquídeias atópicas
És o prelo do pelo.
219
orquídeias atópicas
Humedeces-te no ininterruptamente descontínuo – és plácido pomar que retira tapetes a hieróglifos.
220
orquídeias atópicas
É pela nuca que se afaga a fria delicadeza da sabedoria.
221
orquídeias atópicas
Há decepções perfeitas que farejam festas vindouras.
222
orquídeias atópicas
A arte é o descerramento dos sentidos subterrâneos – vulnerabilidade dúctil quanto o cântico antes de desflorar o ar.
223
orquídeias atópicas
Entregar-te-ás à retórica das desordens consentidas. Encontrarás na inclemência das palavras fragmentos de uma perpétua exuberância.
224
orquídeias atópicas
Há plantas musculadas que fazem regelar a genitália – os caules calam a caducidade dos coitos.
225
orquídeias atópicas
Serás a donzela que os duráveis dons degela.
226
orquídeias atópicas
Ternuras selváticas que te salvam de seres centro.
227
orquídeias atópicas
A agua que te aguarda nos poços é obscuramente límpida.
228
orquídeias atópicas
A ironia é a receita das revelações mais naturais. É a graça que petrifica na entrançada cabeleira das gargalhadas.
229
orquídeias atópicas
Há hostilidades entre sexos mais antigas que a espécie – não são conveniências de ocasião que darão cabo de hálitos desavindos.
230
orquídeias atópicas
Os cariados caninos das Górgonas...
231
orquídeias atópicas
É em nupcial vocalidade que os actores do divino acorrem à construção das paixões.
232
orquĂdeias atĂłpicas
A desmesura da eternidade ĂŠ a cada momento uma sibilante perca de tempo.
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orquídeias atópicas
Um renascimento é mais que mangas e correspondentes panos que reeditam atribulados milagres.
234
orquídeias atópicas
É sob a ingestão sábia de especiarias que espaireço minhas tribos de enxutas emoções.
235
orquídeias atópicas
Não se confundam paraísos com pátrias. Tais enganos afinam com afinco graciosas estirpes.
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orquĂdeias atĂłpicas
Submerge-me resistindo-me que eu te afundarei desistindo.
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orquídeias atópicas
Quem excita a altivez angélica morre pela ferocidade das partes mais baixas.
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orquídeias atópicas
Paradisíaca é a floração sem impedimentos de partes que não pendem.
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orquídeias atópicas
És distracção harmoniosa que trai fetichistas harmonias.
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orquídeias atópicas
Entranham-se as iluminuras nos íngremes fados – seguem-se-lhes escadarias subliminares.
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orquídeias atópicas
Razões que diurnamente não vibrem não me servem de guia quanto mais sendo amantes – no princípio era a Vib-ratio.
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Pós Face (para a Rita)
A vida que tinhas no meu papel não a dei por achada. Onde anda a papelada?
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orquídeias atópicas
este livrinho foi acabado de compôr na véspera de S. João do ano de MMXVIII para os Waf Books
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