© wafbooks 2019 © Jonh Rindpest 2019 © Pierre Delalande 2019
QUANDO O ARTISTA SE TORNA UM POETA=
(uma planta) (um animal) exercício complicadista (raro) (exemplar?)
por PIERRE DELALANDE e com a estúpida/exaltante colaboração de JOHN RINDPEST que o ampliou, rasurou, avacalhou, até ficar irreconhecível WAF BOOKS
Il pubblico, all'opera d'arte e all'artista preferisce la "storia dell'arte" e "gli artisti". Gino di Dominicis
Morrer é começar por ser mais traduzido. Renato Ornato
As imagens edénicas estão presentes na inocência, embora, devido ao pecado original, inventado para o efeito, sejamos obrigados a crescer para as perdermos e as voltarmos a encontrar, depois da morte. Maria Gabriela Llansol
1. Quando o artista se tornou poeta (uma planta) (um animal) ergueu-se na reparação das coisas. Vinha incomodado, cansado, olheirento, de cabelos já grisalhos, queixando-se de ciáticas — com o isco delator [ e a gaita do enguiço ] — cônscio da sua falência (assídua, asseverada) — avançando no amor (dos que vingam ou não) Vinha para o tamanho tempo de antanho a arborescer, calcar, crescer, uivar, & seguia às arrecuas do drama, por um atalho breve (desencaminhado, de perecer), — a desenfiar a cabeça de avestruz — a dar passos para a frente para trás — com dedos em doudas confidências — a cantar, raro, bicho burguês
2. Que o que separa se fecha a teu lado — ranger das dobradiças à passagem do daimon, sofreguidão que te espalma ou empluma num amor aflito, desaguizado (o ignoto que abre as portas) (o insecto que pica na pálpebra) (o veneno em granulado, para ratos) (as idas ao Aidós, nos hiatos) escuta-me atenta ao poder da escuta ao poder do poder da escuta escuta 1. o que age sob a soleira da casa dos deuses 2. a serpente que muda a pele ao mundo 3. o cobra insone nos rios do corpo [rápida mudança de assunto] (vrooum!)
3. O sublinhado é sempre meu e é na penumbra da língua que trovo e que arboresço harpejando —————— (===)* (o corpo a cheirar a ervas campestres ou a teu horto costumeiro de carnes neste centro do mundo que é centro de mosto) (flagrante) sente-me no acervo da pele no pelo da pele, nas manchas, no mapa enviesado na fala desembaraçada do assegurado na baba percorrendo penugens (que poderes correm paralelos?)
4. Adivinhamos outro tipo de entrega, arrelampada como se me devassase por ti para ti — cadela escorraçada da sombra — e me desse ao devoradamente com o tal peso lúbrico, não da boca mas de tetas desaguando em mamilos agudos aguados. Gratuita? : Ou gravitando no dom? — sem o lado pútrido do mundo as caspas, a halitóse, o ressonar ||(com adivinhadas urgências)|| ||(o sexo sugado/ungido/mugido) || [performance inusitada de lado, contra a parede, de gatas, a rastejar] (não é preciso trompetas ou gozar com os bombos da festa — os lombos da fresta? — há sempre um gozo sem fim, fulgente, no fundo enrugado da cama? (pômo-nos feitos feras!) [e a presença-ausência múltipla, a míngua do mais desavindo já que cravas tuas dedicadas unhas nesta epifania epistolar]
5. Variantes exóticas de aspectos a caçar famas que te atiro à fuça o desejo e a gana, à divina tromba mamífera à tua face que refracta de grandes olhos de antes de antiguidade prescutante · que trazemos nos bolsos rotos, num molho de chaves — planta que cresce na inactualidade, nos recuerdos azedos ou no flic-flac à rectaguarda da ginasta que em meninos amamos na televisão, ou a Pipi das meias-altas escorregando as cuecas no corrimão · · (cidades que serão arrasadas pelo bafo da terra pela insubmissa Python*** a que faz tremer e desabar a do hálito adivinho, a consumada) · (***) · (esses teu fito de deusa suméria filmando o strip-tease dos deuses invisíveis, invisíveis, mas presentes, ó ***) .
6. A nossa cumplicidade é inúteis desconversas desvios com côdeas de perguntas manobras com pleonasmos morais ou planos picados com a roupa estendida a pingar tanto e as frias mãos a arrelampar logo a nuca e a descer vértebra a vértebra até ao nó dos confins não haja vizinhos que as espiem assíduos (de Pinóquio a Platão muito pano se torceu, muita burricada se borrou) … § como inventar a liberdade no labirinto? § como sobrepor labirintos em liberdade? § como festejar na dança a parteira labrys?
7. Vinda amorosa, em reses de escolios, encolhida, empertigada, de ombros abrasivos, na entrega isquia, já marcha, a incendiária que se revelará de rapina, rápida, e empinará, com limpas orelhas de devoradora áspera — que dizer do fremente, entre cobertores?/! — se queres dizer, diz, pois, finalmente… (quero! quero!…) (ora… ora…) …o vero é o outro do outro e me quedo impassível no fulgor de Zenão…do Zero… … impossibilidade de tudo não ser senão sexual, sagrado, relacionado, ao contrário do tal Lacan (il n'y a pas de rapport—)… revisto a folha de ouro o vaso do tempo (tumbas que sulplicam num recanto da eternidade, rumbas que pedem mais espaço no salão de baile, tarde)
8. Punhado de linhas a apanhar o divino sabido cadente, no húmus de vires mortal, em isco, com teus dedos de artroses, a adiantar para cadáver (a remeter a nicos de gentes {na calduça})* (na função desavinda do artesanato amoroso) * (eco opíparo de gozo e gozo)* (fã de fuça na faena, ó toureira minóica) em: — (estilo alicatado) * (mourisco)* (fluente-indecente)* (facultativo) * (caga nessa)* (não tenhas pressa)* — são mentalidades mudas da matéria & volta a interessar-nos a beleza, a joy forever para diluir nela o sublime no cacau carnavalesco no ducere do caduceu*
9. Imperfeições costumeiras, aluviões de afectos que passam por perfeições de perfeições (no dilúvio vivêncial em marés aluado) e teu sorriso pródigo, menino e sábio, defronte do filósofo-cão, que é cadela, de gatas, arfando tendo ganas de engodos bravos …beijando-nos em beijos de beijos… línguas no palato, no fundíssimo da garganta, serpentes sugando do corpo o imo num cone forrado a papilas reconstruir desempoeirar expandir na torrente fera do desenho (que em nossas bocas habitam camaleões e camaleoas)
10. Um poeta que escreve por cima de outro poeta às cavalitas, com malvadez. E o poeta de baixo, ora está, salta (como?) para as costas do poeta de cima, e o escarafuncha, em ecos — jogo de lutos e alaúdes, de persuasão e glória, com a manha elisabetiana, de putas, piratas, cortesãos: despique a dois dentro do mesmo pela escalavrada amada que a tens em em apneia antes de resfolegar: — (a menina brinca aos pais e às mães?) — (uma geração que entra em combustão) (………) ± — tudo é desavindo e não premeditado (não há performances? a oeste de Pecos? vão voltar a formar o corpo de novo?)
11. Uma arte para parares, para arrumares a intenção, para seres conciso e certinho, que ias aprumado ao assunto — mas entortou-se o amor, irra, e enquinou-se no caso formidável, enjorcado, onde ganhas a inépcia e a larva dileta (da tua alarve larva) …………………………………………………… (que te contorna) (desacerto do processo) (zut de possesso) (ouro de pedra transformada) (horto de um tempo dado)
12. Um eternamente aviado, ó dama de amor incompleto, ((1. )nas agruras da gramática ((2. )nas nervuras endossadas a negro ((3. )com Marguerite Yourcenar a acenar ((4. )a Zambrano a zarzuelar de abanico
me gustas!) te adoro!) ay coño!) mi vida!)
)))) dedilhas as cordas vocais do Logos, e a vibração estremece em todalas cousas, a) para que se confie (na assiduidade materna) b) para que recolhas o novelo rubro, incendiário, e o dês ao astuto ateniense que arrebente com as bestas arcaicas (aguardamos a cena macaca!)
13. Toma lá dá cá vários apocalipses (queres preservar teu provecto ADN, mê amor!) o género especado da noiva pura sendo, com púcara, puta fina e escarlata? ||do teu prazer nasce o novíssimo nasce o nove — ó deusa e a parte macha, tumefacção logo murcha, é o um que é o dez, somado a teus pés|| (avança Tirésias, ó serpentino emplumado!)
14. O desa-vir poético, como variante política leixa amargos de boca — bem pode o povo rir com malícia à fonte desses magalas que arengam versos e estopadas de estrofes rotas sendo sôfregos na rua e na lábia em pompa — o culto da musa é perigoso, gostoso e pretexto de ricas conquistas : idealização-alçapão, põe-te na bicha meu bem! (o real está no papo!) & agora rosno quadrúpede, cadela, galinha, ovo antes de ovo em cenas de irritação, insulto, ironia, cinismo, contra os poetas fortes grrrrrrrrrrrrrr!
15. Serás capaz de suprimir a linha tonta, a variante fraca, fosca, fruste ou deixá-la aí, incómoda desforçada, mal parida? Polvilhas com labores para que a voz te surja a la carte ao alabares a amada em plinto, logo tu, o que se ata ao sublime feito femme fatal, so naughty, com bico pato Donald, vagando em terrores de íngremes amores… (adepto idiota a engrossar fileiras beras) & embrulhei Babel num pano que já recolheu maninho mortos ó Engana que quisera provar da tua frágua ó maravilhosa, ó sacra, que me apeias na prosa pautada de teus seios com ungentos de plantas, em alambiques esmifrados: leite que gerações sugam em entendimento sem culpa (um espaço para desovar)
16. Eis-me um tardio moderno (chegado neste depois bem antes dos demais vindouros) dado a ressurreições à letra (a roçar posteridades) no estupefacto júbilo da carne — deslumbramento em fartura (o sacana!) ·|· (arfa o Snoopy na relva) ·|· (esperneia o bizarro na guitarra) …a aventura que traduz, que glosa, que escangalha no desígnio insano de te dizer quero-te à brava estarrecido, assarapantado armado em Ananké fatal, Karma pinto-calçudo, sem tirar nem pôr …………………………………………………… este é o texto que nos palpa, nos monta, nos conta e que salvará os encantos, a carpir descalço os mitos arredados (& outras declarações de amor)
17. Uma autobiografia encapotada anda aí arrelampando (é um impasse mimético mal-passado) (na escrava aporia/a retroescavadora do metro revolve as carnes da terra, o coração acre […] (verso famoso atríbuido a discípulo de …)*) (escolha de rima em ano de brigas) (piadola pândega que o jogral urina) quando as formas tomam atitudes quando os conceitos estão nas patas quando o meu corpo é e não é o teu corpo quando me beijas e nunca me bates Nenhum fascínio pela máquina: nota bene ———————transformar a noiva de Duchamp numa deusa pelásguica…… Transformar a amizade na anamnése, num regresso a carnes imemoriais.
18. Um pequeníssimo eco de sublime, acabado de acordar, pelas matinas, sob cobertores rente ao corpo amado, concreto, morno, plausível (e esta consciência empalada em palimpsestos sonhando artes sinistras em sestas) uma laceração de dados que abraça o oportuno (absolvência de aleatório)+(brados do branco unânime) || tudo o que se escreve é falso || tudo o que se vê é vidência ou: inscreve com as ganas todas, vidente e falso, num amor adivinho, máquina mirífica que em dizeres de Dante, move céus, galáxias, universos, plateias, estando a amada, loba ao lado, dando cotoveladas de carne, a fazer-se desperta, estremunhada, fresca, cheia para ser profeta basta saber vêr onde mais ninguém ousou posar
19. Rosas puras e bunda a arribar (um rabo ideomático onde a língua mátria se enxuga de sua impureza sem origens, ortografias, gramáticas) e :|: (rabiosque do lápis vandalizado por dentes do vampiro)! -------- quando a banda passar cante então você o amor universal ou o particular, o das ironias narrativas, o do mestre limpando o sebo ao poema inepto do discípulo ——— rito de passagem de polimento e castração, só para pôr na malha as ternuras deslocadas ——— a mãe passada a poema, a loucura parideira transando na fonte iniciática a estonteante origem materna que agrafa o fausto e o infausto (tradução em efígie/ditirambo em epígrafes) :|: - - - - - - - - - escreves antes de escrever com o desejo a correr pelas epistolas adentro :|: :|: (coisas que, precisamente, querem dizer nada) (ou não?)
20. Este escrevinhar é desfeito de possessão e é de deuses digitais, por mãos que se dão vendo (adiantam obras às minhas personagens mas não pagam dívidas, nem rendas) :\/: (tira-me aí umas férias) apostas, apetências de responder — : — : — : o pelo púbico como Verbo turvo o toucado da Moira onde o medo se entrança e se esquiva o novelo ao rubro (o Ser?) que flameja labirintos ……………………………………………………… a canibalizar desabafos no sobreabundância de postais escritos sobre postais sobre o fascínio dos rostos, da empatia em riscos, que confunde amor e tremor viajando em anamnéses órficas, oficinais ………………………………
21. Não abandones a carne rápida, não prostes tua filha ante o abismo, nem te afogues em existência pura — prefere as falsas complicações, o look artesanal, as trapalhadas dos poemas, a crua convicção na nobreza da impureza — 'tavas a dizer que de Heloísa a Holderlin algo se perdeu (o amor tautológico, sem espinhas!) — venho apenas com a vidência das vísceras e então as madrastas entram nos quartos e lêem a nossa privacidade (os poemas, os diários) e as origens enlouquecem ::: _—_ (eu gostava de desgostar de alguém) -…- tendo perdido o isqueiro -…- noutro bolso -…- ou num cérebro a ser operado
22. Amanhar essas imagens que me imprimem é uma chantagem hipnótica que deixa tudo à mercê (custa uma pipa de massa) — ? (não na tens) — ! (ou tens?) vou tê-la
assim como aos teus cornos de Dama-Licorne os teus cornos de grande minocabra (meu amor!) sobre a minha mansa cabeça encornada sobre a minha tonta mona encarnada sobre a minha mansidão cabeçuda & aperaltada — cornos divinos onde esticarei a corda da harpa do Logos as tripas luzentes do meu canto as meadas emaranhadas de meus versos
23. Como ser um santo para si mesmo, e em artes, sendo estas prostituição — que o mundo te coroará de escarros, maldicências, atribulações: um medonho prévio, uma peçonha na alma que se dá às vibrações da razão e às razias da intímidade conseguem os estranhos sentir o embrião? os fios que irradiam do omphalos? a soberba de Alexandre e de Ares? estamos indefesos defronte da crítica caneta que faz representar em palcos desavindos a opereta [aspirar partes do mundo para as resguardar devagar?]
24. Se trabalhas mumificas-te (no escândalo de isso funcionar) — …— (na felicidade de seres descoberto por um bunch of guys catita) — …— as escolhas escolhem-te sorrateiras as palavras a medo infusam o eu pardo que é um poço desgarrado onde a consciência tomba tomba tomba — …— (beleza que deixa encardidos os que se acham puros e eleitos) — …— porque te leio aos pulos e não toco os pelos do sentido só te afago na lonjura se tiveres alma desenhando em poema
25. Um gajo dado à vida, a aparar gostos para incandescer na finura do paradisum ("ética desagradável") |—| (sobre "o tal" estilo biodegradado) |—| (sobre a minha força duvidosa) |—| (sobre o amor que arriba no Nilo, em alba) |—| um gajo rebuscando o desentendimento de si para imitar a pura eclosão — estilhaços de invisível sobre o saco do espaço e a glória de deus em nacos de cor |—| (saberás o que estás a dizer?)
26. Na impossibilidade da vanguarda fica tudo reaccionário mais agachado, anichado, esfriado, num atraso permanente, num esquecimento provinciano, debaixo do galho na dor de corno de não ter achado fama ou afecto que sacie (nem orgulho!) (uma árvore para mais paraísos) (uma genealogia a nascer em sexo textual) ::::: (multiplicarás as tuas dores, multiplicarás) :/:/: (rizoma hieróglifico) (os cheiros não sonham mas entram)
27. Especializado [em parte] nas minhas idéias (que as roubei mal mas não porcamente) com os mamilos a enrijecer no ler amante elas aí vão, para-oulípicas (derivadas de versos confusos e regras mal-adestradas) — o tema é a moldura da trampa (idêntico/indeciso/pulsional) (ainda dá para ir melhorando aos poucos com o punho fechado e o olhar de quem se desvia do que vê) a tua morte depois de morreres deixará de te interessar, meu burguês! —————— aproveita em vão, rapaz!
28. Escrevendo a genealogia da mentira, desde o paradoxo do Cretense, de Epiménides, — o do deus enigmático, o do ramo de oliveira entre povos — até à erosão dos falos (quando metes os pés pelas mãos, e a rosa moribunda renasce), sai o lamento de Ariadne cantado por castrati. Ao encapotamento de tédio, a língua apõe a fraude fecunda da fábula, o vazio sem espelho da Alcoforado, o sexo sem sexo de Adília, a inocência desastrada de Alice o cubo interroga a esfera que interroga o mundo que o envolve num brilho afectivo e crítico o que é que interroga o cone? o círculo das bananas? a nádega a sentar-se na santidade?
29. Quando começamos assola-nos o mau inglês internacional (Googlish) e os poemas sem ritmo, fito ou métrica sem passado incandescente, só periferias, vagidos mansos, e um triste lixo, de grafittis a envelhecerem com gatos, e a melancolia de nada ter a ver com nada de nada e quebrantamento de sopros (é uma atitude) (não te queixes) ---- vou por aí ---- encurta-me as frases ---- abrevia-me as palavras ---- põe-me chapéus (tchau!)
30. Andas a barrar manteiga na consciência? (arranjaste um novo pronome para cavalgar entre o singular e o plural (e que não é o dual) enquanto contrais o períneo, mulabandha, sem emprego, sem razão, vilipendiado?) § (quanto maior a discrepância mais dão aos dentes mais doiem os dentes) § (gulp!) § (o amor ao amor obriga a aproximar, lupa na mão língua no pé) § (o falso adultério, como um manifesto bordado) § (frases que odeiam o nosso ódio delas) … faltando-me o tom do trágico, parecer-te-ei dócil mas ferro as dentuças nas canelas e beijar-te-ei, louva-a-deusa macho, sendo tão tenro, terno, em epidermes de abismo, com o meu cais entre as pernas…
31. O ritmo da atitude (para mudar novamente de atitude) : (ou ficar exactamente na mesma) ; (a papoila que escuta meu crescimento) | (desejo do artista que é ruina de museu, inutilidade de museu, loco-moção dos desregramentos) # (quando saio da conversa sacudo a tristeza da saia) + (despejo baldes de ideias) ± (que é dom que faz rastejar)
32. A sinceridade do irrelevante (como um mal de pele que sobe à caneta) (obcecado com revolução desde Ur, com a deusa deitada, serpentina, para vislumbre de seu Adon, rodeada de cachos de palma) .:. (escrevendo cartas ao fugitivo, ao pródigo) .:. (vinho branco que é o súor de Deus (Byars), gnóstico, espírito do santo em magnífico lençol deslizando na praça de S. Marcos) .:. (palavras que foram paridas dentro de baleias para que Pinóquio as soubesse de Alice, a deusa das inopinadas metamorfoses)
33. โ Estando a vida obstruรญda qual รฉ o melodrama da evasรฃo? Vou de abalada, tendo solidรฃo espantada! (eu pilho-te os versos de pilhรฉria) (pilho-te as galinhas e as raposas) (pilho-te a poรฉtica hespรฉrica) (pilho-te o lรกpis e a lousa) รทรทรทรทรทรทรทรทรทรทรทรทรท รทรทรทรทรทรทรทรทรทรทรทรทรท รทรทรทรทรทรทรทรทรทรทรทรทรท รทรทรทรทรทรทรทรทรทรทรทรทรท jรก temos o talho faltam-nos as facas
34. As palavras
incertas & eteceteras — a liberdade delas se perderem no montanhoso interno, no erótico desastrado
(o gozo do melodrama, com lágrimas carpidas a gosto num colo frio) (a gaita da auréola, da santidade, em vernácula, sem religião, só pus e feridas) para defender a comunidade a santidade a evasão e a nudês de um santo tibetano cujo ardor, o tapas, derretia a neve (Milarepa) hetero-hetero-retrato (um canto para repensar sem danos), liberté (je t'aime) ----
35. Índices onomásticos que te consolam (sabes consultá-los como ninguém, com o dedo indicador deslizando para baixo) — — — — —¿ procuras nomes como um libertino, mas a lista já existe, e hélas!, a maioria são mortos, tão mortos como quando te lerem depois e se despirem na mesma, imitando tua depuração funerária. mas por agora basta-me um móvel para guardar meus rolos de desenhos, de poemas invisuais Será que os alemães ainda berram como os nazis nos filmes?
36. (a imprensa faz-se legitimidade a defender a abertura) : (a face fincada do Outro daquele que reconheces mal, com desdém, com um filósofo de outrora, bom para depenar, frango antes do churrasco) = (escrever noutras linguas dentro da língua é uma traição à pátria? essa pátria que todos os dias te trai traindo-se? que te rói roendo-se?)
37. O ritmo arma-se nos gregos cabelos e tu a olhares a Koré ontem toda a cores, filmada pelo invisível, romã da deusa da diferença, ofensa em sorriso — captas o mirífico dos mortos nas frases que acumulam o conciso? ||=|=|=|=|=|| ||=|=|=|=|=|| desnudo-me contra a morte, como as letras, e tu vestes-te com o não-dito e aguento de bico calado a tua evidência literal, brutal, aflita e esse auto-retrato pelo qual me tomas que é o de uma face que nunca foi minha.
38. Acessório, artefacto, roldana que iça o eros dos mortos — os desejos incontidos que vagaram em Pan, nas correrias dos bosques, comicheira brava, grande espelho que o barqueiro corta às cegas corpo de Deméter cujo sexo é seara (a determinação e o medo de se repetir) |&| (acréscimo que cresce no acessório) |&| (jugo assexuado) |&| (não vale a pena gabares-te!) — livro perfeito que o adivinho inscreve com cegueira danada e que cheira a roupa interior, a roupa com o odor desbocado dos ingentes gigantes no principiar.
39. Irrelevante provinciana, a que te castiga ridendo mores, do altar, gargalhada sacrílega, desayuno de vinhateira, iniciada no convívio com Polifemo, o performer, o das crudités (p.s. — a aparência alegórica condensa a variedade do desacato dos significados à deriva numa forma concisa) acrescento… escrever, mesmo quando é triste, faz rejubilar o mundo, maravilha insone (porque a minha assinatura faço-a com estes dedos que te entram nos lábios)
40. Causa explícita, com joanetes, com moínhas pardas que urdem a face (o implícito do explícito, numa idade espectante, vibrantemente macha) tendo quebra de confiança e sintaxe a corresponder (em inusitada* variante a afiambrar a complexidade*) inclino-me a formar mitos com manápulas, sexo e lingua a partir do corpo materno*, o de lava inesgotável ser um poeta famoso não é compatível com a clandestinidade porno do poema*------
41. Um abismo para ti que não te orientaste, mas perdeste a atenção lendo cartas açucaradas, diabéticas, quando o terror era semeado nos jardins de Rousseau ou nas bundas sodomizados por Sade — o terror do ouriço, dos cactos, da barulheira, das plantas carnívoras, das que engolem coelhos, das tempestades em olhos de Turner do canto das Sereias em orelhas de Odisseus, o longe ainda mais longe das estrelas, a diferença incontinente das escalas que nos faz sumiços, ridículos, residuais (arrebanhado através de contradições de classes) que é como quem diz <tira as mãozinhas daí> apesar da lua te vestir em Kioto com a seda dos seus lençóis (# eu sei que é bom mas não é para ti #) (ponho aspas ou itálico?)
42. Infinita rotina que nos vomita (todo o estudo é infinito) (regurgita) (catita) é o errático a arrancar a perfeição ao acaso (como um caracol com a Sorte às costas)
43. Data com incongruências na rotina dos escândalos & litania confusa de um rito que te encosta — arte improvisada, festa inflamatória e Zenão cuspindo sua língua ao tirano [as ressurreições simbólicas ainda não me chegaram — embora a tua tromba venha do mundo onde os mortos cozinham cada recém-chegado — sabias que os desossavam?] uh aaaa… uh… uh uh (paradoxos escalfados)
44. O bom detalhe gosta de passear (a teia ateísta) (arrepio na espinha) (cortex frontal) (perspectiva cavaleira) — o tailleur de Flaubert e Warburg — miúdezas para cozinhar em escabeche /sou a restituição espontânea/ /a remendar as meias do mundo/ pega na agulha e vem passajar!
45. Vinda das águas, emudeceste com o halo de Heloísa? vinda da casa de Helena choraste amores virtuais? ………………………………… (Deus é uma negação-desarrumo) ………………………………… :— ………………………………… ] e um arrepio tal [ ………………………………………………………… — -- — -- — (caminhas com o João da Cruz na testa) (atreves-te com o César Monteiro em farra) (o poema é a forma-fêmea do teu corpo) (rapaste o cabelo no cabeleireiro do diabo) ………………………………………………………… Eury-Diké, a da Noite Obscura, ovípara ………………………………… : — recolher o poder de orar : —
46. Em directo, na crista da onda (com rigor brutal) ou cansativa no bem talhante como tal leio a mancha de tinta de tÊnebra que te escorre dos bafos nasais e da tua influência incauta e assim podes por fim rodar o pescoço e beijar-me enegrecida
47. As frases enérgicas, imbecis, préviamente conspurcadas, na camaradagem, nos sismo abanando os canais, no riso cariado do faraó, querem morder-te as beiças. (podes fazer com a linguagem um tragolamango nela) Cadmo e Harmonia com suas cem serpentes envolvem a tua consistência na lira sanguinária, no entrançamento, por onde se penetra noutro mundo de gatas — vem, por meio dos ossos maternos, novelo de carne trajando sombra, — vem para uma outra luz — tuas irmãs aguardam com o cutelo e sarça. (visão cónica-cómica do inferno dantesco (sugerida em boa hora por E.B.))
48. … com os cães soltos em busca de canelas & a raiva auto-hipnótica & a leitura com atenção sem intenção eis-me num canto do Brasil onde há jagunços que destrõem lojas a floristas e por um salário de merda dão uns tiritos nas montras e acidentalmente matam todos os que estão do lado errado da história (os daquela história) por mais simpáticos que sejam — a minha amada é só quem me lê, excitadíssima com o macaco da posteridade aos ombros, com seu afago de macaco — talvez me dê esmola — tantos talvezes podem chegar a um sim, a uma consolada afirmação a um Logos adolescente sem tiros, sem mortos, adjacente a um enigma cujo nome é enigmático.
49. Oportunidade que leva à meditação-opressão ao caos político da democracia a rebentar pelas costuras com a multiforme besta — haja quem a decepe! (se o calhamaço budista não te livra da fera, tavez te ofereça a carcassa) (expressionismo frio em tempos de fachos) comunica-se fora dos parentes, dos parenteses (a fundação subsidia) e o gato flui na popa da gondola com o morto dourado ao lado com um gancho no cachaço — vai para uma ilha onde a eternidade tem bigodes e garras.
50. ………………trabalhar com ténebras cobre-nos de brilho daí que tenha que camuflar meu corpo de histerias avulsas e renascer assim tão violenta e forte de uma mãe esquimó a saber a peixe com o norte na boca…
51. (*Dionisio, Diotima*, Lezama Lima) deslumbrados no ovo cego do ego ………………………………… ……………………………………… se queres trabalhar em papel de arroz terás que abandonar o lápiz terás que derrubar o muro construído contra as fábulas terás que evitar o casino esse que está sempre aberto no colo da colina no calo da sina
52. O tempo é o espectro que acaba até ao teu dia derradeiro no ultimatum-abatanado que bebes nas barbas do juízo singular —
—
—
—
—
—
—
—
—
—
uma arte que nunca faz perguntas directas que se refugia em estátuas e panegíricos — o que dá pele de galinha e depois não é que serve para canja
—
53. É esse o anel, o cachucho que atiras ao mar à espera que ele te o devolva, com fortuna, ou razão, ou equílibrio, ou justiça logo tu que usavas um chapéu alto para pensar e questionar esse deus na ponta do anzol.
54. Míope é a economia do olhar, a esquecer o longe. E ali te quedas, no fundo fecundo das sombras que semeia a Noite e seus hinos onde se conciliam mênstruos e feras e as deficiências transbordam em afectos por afinidade canina… ………………………………………………… …sempre conflituosa, por causa de confidências e da mulher branca que pode ser tua filha que podia ser negra ou de outra cor qualquer côr verde de figo, ou vermelha, ou de um rôxo bronzeado: — mesmo que sejas retinto na alma não desdenhes a mulher branca ) a luz pode travesti-la ( trás-lhe a carne para a luz do dia trás-lhe a claridade de Apolo trás-lhe um arco e um colo trás-lhe uma faca e uma manta
55. Apagaram-se os lumes. A fervura baixou a temperatura à consolação inconsolável. O sorriso, debalde rebelde, está al dente. Podes beber o vinho dos vivos em mesa amante, íntimo, e buscar rebeliões, alegrias, o absoluto, o teu astro jactante. Mais tarde falarás de bilhas de gás, e de torneiras que pingam. O preço pesa. A amada rimbombará foliona. Largará a pele de cobra, mudará frugal de idade. Terá cãs de sonetos já antigos e engelhamento de árvore ancestral. (o cenário de estranheza que muda o clima que muda de banalidades). Abusavas de metáforas para dizer o indizível/indefectível e o refutado pelo silêncio (que estorvo!) (frases a apinharem-se na paisagem e que se destacam [justamente/injustamente] nas fileiras por calar o dizível, por dourar o tacet) tenho uma pulsão na mão que é capaz de ainda dar muitas ideias nas próximas jornadas.
56. Nรณs temos que nos livrar (ou lacrar/lacerar) do รณbvio (dos inuendos da reciclagem) e sentar os deuses numa mesa redonda com toalha de veludo, e uma garrafa de vinho, espesso, fresco, perfumado, e encontrar uma maneira de negociar com eles um futuro mais porreiro para todos.
57. Sou anacrónico (do tempo da Maria Cachucha) (crânio com natureza morta) (mamilo de bravo magala com noiva à espera) (epitáfio em Bissau num ermo medonho) a cegueira do amor não desculpa certas atitudes por mais nobres que sejam os instintos por mais gira que seja a farsa
:
58. Estuda todo o passado que te mede e o definhamento de revoluções (anotação de anotação** ** ** ** (¡desgraçadinha!) — não inova (mas relembra) :—: a possibilidade está no papo-seco enquanto está quente (ainda que o fiambre bolchevique venha ressequido na margarina facha)) quero fazer outra coisa na minha vida nova bem diferente de estar sentado ao computador (o queijo ficou na merendeira do tal filósofo que deixou dívidas na mercearia)
59. A natureza ama os travestis (§. a poetisa diria que é incomum) (§. eu cá não digo nada)**** (§ não quero nem vêr! (P.P.))
60. Lê supinadamente notas de rodapé: contraíndo o períneo/ movimentando ligeiramente a zona púbica para cima/ relaxando doravante os glúteos. O efémero é indestrutível.
61. As criaturas eram desconfiadas
(nas novas funções obsoletas) (do modelo de legislação que não tinha entrado em vigor (e era justamente acusado de falhas))
as criaturas povoavam as escrituras com os seus pelos das pernas com os seus pelos entre as pernas com as farfalhudas sovaqueiras quando as rapas matas o bicho e a alma e ficas com o sexo insolvente e um limpo fio de ângustia erecto for a while
- - - - - - - (desconfiar da confiança)
62. Repetição ————————————— Pensam os filhos-abismo agora, cada um a cada repetição (pede-lhes que levitem!) num processo de montagem infinito a que chamam pátria conformada, a confirmar fatalidades de sebo e sangue (conformismo como afinidade de afeições // ao invés da escolha serial-existêncial pré-programada ou ímplicita no que está em curso) o que queria era arrastar uma montanha de granito com todos os seus pedregulhos para dentro de uma exposição: fábula a crédito a negociar pelo galerista.
63. (||o óbvio da confusão||) em vez de ficar especado ante a geografia ou a linguagem acho que consigo ir contigo das mais côncavas proximidades até à remota opressão das estrelas um espaço que nos entre magânime a partir de astros difusos de confins que são templos de pérolas e obscuridades e tu a rebrilhar, a rastejar iníqua, com a esponja ensopada na ferocidade da paixão a tentar enfiar nos dedos os aneis da insolvência
64. Atitudes injustas que ficam nas mãos de mães que degolam cabras para cozinhar o fígado para os filhos — mães que já extriparam os pais das vidas animais — mães devoradoras das paisagens em redor da casa — mães que impõem os seus afectos aos demais porque a gente, a pequeníssima gente, a gente curvada, apatetada, insalubre, não acredita que valha nem um chavelho nem que este mundo seja só luz e orvalhos.
65. Musas-Múmias que abrem as cortinas do Paraíso. É uma forma de querer; e se assim é por favor, faça! Tal como vestir um fato de cerimónias no dia de escola em que os colegas nos vão querer espancar. É tudo facilidades de elitismo! Aproveitem e batam!
66. Obras de arte que crescem como vides e lhes colhes os cachos ± sem emprego ± sem carcanhol ¶ sem dignidade (tudo tem sido tão híbrido após a morte não-certificada da arte-poema substituída pela arte-a-fingir-de-ideia com sabor a cadáver) ¶ elas colhem sózinhas as flores do abismo
onde os filhos não chegam sequer
e cujos frutos os faria eternos e hábeis.
67. Poemas que te atiram para os braços de um novo amor [que tem uma guilhotina no ventre] â&#x2014;&#x160;*
68. Uma pintura onde um tipo de poesia visual [jovial] explica o explendor (que eu quero viver contigo numa casa ideal!) encheste uma arca de poalha de ouro para a lançar do alto da torre, sobre a cidade alguém o vai aspirar depois? o que vão fazer as árvores sem heroísmo? — continuar a crescer junto a homens e ouros? _ _ _ (a graça está no negócio) _ _ _ (e o frete, Fred — onde é que o meteste?)
69. Perguntas que nos livram de quaisquer intenções (tão rápido servem sorvetes como empapam o papel de parede com cola celulosa) (no momento em que escrevo erro e berro, e os erros e berros aprimoram a minha biografia) {#}
(que te quero bem formosa
:
)
70. A ternura institucional de Laio é reiterada em Saint-Just e mais tarde serve de cartilha a Lenine e de cantina a muitos mais — não há meninos para as suas mães nem cigarreiras bravas entre cigarras breves
quero ser o artificial do artificial e a inversão ridícula do mesmo
71. Envergonhado
(auto-exibicionista) sob a tragédia em que:
a) Édipo vai na nau a meio carinho à mesa materna (ao erotismo da inconfidência), ao seio absurdo (ao carisma do cosseno) à noite das esfinges b) sabendo que o buda se agachou perante o insecto que bebia o orvalho sobre a sua pereclitante pálpebra
72. Jocasta (uma ex-lolita provocadora) é insuspeita de inocências. Leva o burro à nora. Puxa debalde o balde. Tem a ideia fixa numa corda: algoz do algorítmo que confunde o Logos com o Falo a corda do cordão umbilical com a forca que a suspende. (o amor está no ar/o céu é azul)
73. Evita a moral da ferramenta, a tal da colher de pau platรณnica .................................................................. .................................................................. (cul-de-sac)
74. Eu sou a reescrita a tentar melhorar as tuas posses, o teu padrão de vida, a tua permnência no futuro dos outros, nos filhos a adaptarem-se à sobrevivência — eles pedem ferramentas (e andrajos) e só lhes dás pão e poemas e se o pão ganha bolor, os poemas perdem sentido sendo incomuns, sendo incomunicaveis (neles as jogadas do não são aplicadas com regularidade), e deixo-lhes ainda palimpsestos de personalidades que me diferem, que fazem confundir o pai distraído com um tipo à porta de um prédio procurando chaves… ¡(não te esqueças de pôr o selo na carta)!
75. Minha senhora precipitou-se no trevo, nas trevas que engordam a noite, com as mamas bamboleando no abismo e com a mão ajeitando a cabeleira revestida a orvalho. Foi no jardim académico, (absurdo, porque credível) onde urdia a Teoria. (ei-la agora doutorada em arte, com uma infame tese sobre si mesma, contra si mesma). Teoria que é parte da paisagem (uma baba confundindo a santa com o caracol, que nem vale um) ≈ (dá-me a mão para atravessar esta estrada, mamã!). Mostrava ela as altas coxas do visível para que os filhos lhe bebessem a imagem, dúbia e inaextricável, da fontanária cabeça. As desconversas andam a aprender-se com aditamentos e liberdades em busca de limites.
76. Atenta à ideia de paraíso (para ver se ele te agarra), adiado e adiado para evitar o terror e deus. É um espaço em contramão que habitarás na morte. Mal sabes tu que o deus só fala em poemas e que, por isso mesmo, é esmurrado à porta de casa por um rufia da bófia ou um brutamontes do bairro — será delicia para o fogo do Geena. Ao ver um jardim botânico dá para imaginar o que seria o Edén mesmo sem estar em pelota enquanto te incendeias de desejos místico até, ou aborrecedor, ou herege e ateu (ao mesmo tempo) e te despenhas num desfiladeiro de fita com o Paraíso na tola ≈|≈ (o carrinho cheio de cimento) ≈|≈ ≈|≈ (o bebé em cima do jumento) ≈|≈
77. No entanto…|… (muitos no entantos dá em casal…)… o nome que te puseram como uma coroa de espinhos, ainda gostas dele? …|… a graça intacta, entre burocracias mantem-te o sorriso profundo? …|… …|… é a mania da narrativa, tão fisiológica, mesmo que esfarrapada, com fiapos de mitos no caixote do lixo …|… e teus dentes a brilhar para o rato que queres matar …|…
78. Exageros insuficientes para •encarnar• no que puder ou como a tua mão alcança a santidade dos objectos …………………………………… arte exímia de ir largando ardendo num jogo em que todos perdem mais tarde
79. Intenções que arrastam l=e=t=r=a=s (lá está o rei pescador a jogar xadrês com a Brigitte Bardot no que pode ser num poema do Spicer) • • • • a ideia de obra-prima, de perfeição, gerava a lisura ou o invisível, e punha-te a traduzir Empédocles nu, num quarto frio e desarrumado sem porreirismos, cio ou fé …sandálias de ouro a um canto, onde a osga acasala • • • • … devolvidas pelo vulcão…
80. Uma esferográfica, uma vulgar esferográfica para imitar a caligrafia dos mestres, para beber a força dos mestres para me desaparecer na morte mansa dos mestres antes de usá-los, antes de desperdiçá-los uma merdosa mui merdosa esferográfica . . modos de os trair e compilar e complicar . . . . meadas miadas e miasmas . . . . destroços de Knossos e amor . .
81. O artista dito nu
é bulshit.
O que estou determinado a fazer é hediondo e adolescente — passo a dizer: — Quero um tapete voador para fazer amor contigo entre as nuvens (gosto disso!) mas deixei o meu pénis sagrado debaixo da mesa de uma tasca e agora estou à rasca e impotente ± (a claque de basquetebol aproveita para gozar)
82. Odiar melhor. Amar com um braço que puxa mortos. Deito-me assi sob os falhanços porreiros com a imortalidade a fugir, no desarrumo das serpentes, no livro da epopeia em pousio na luz encolhida ao lado da cama. Aventaram-me: estás quedo, quedo como uma pedra. Pedra mercurial?, respondi-lhes com este sorriso entornado sobre o precário. — Porque sorris nas palavras se as palavras são de peste? — São as rugosidades que me fazem leve assim como ao pensamento agreste. — E eu conheço-te essa voz, e é voz de sacrilégios. — É o exagero que me permite disparar em todas as direcções e mistérios… [são muitas dificuldades para lidar com os deuses, a intimidade, a sintaxe e a perfeição] (o excesso como desporto, e os tigres da ira em cima dos cavalos de instrução)
83. — Negócios cegos — Peças de teatro que podem
ser famosas fermosas sem esforços sem degenerarem em cumplicidade elitista (inusitada evasão ao esquema princípio-meio-fim, de Aristóteles) (in média reles de Homero) (tenho dificuldade em escrever frases em que acredites mas tu aturas-me o estilo de desperdício com chá, torradas e beijos)
a suspensão da descrença é tola mas custa-me bem mais confiar nas verosimilhanças da realidade.
84. Um estilo sopa da pedra para a Memória, com os dons da profundeza, com os ritos da imortalidade, com as águas doces e salgadas a remisturarem-se ante os candelabros. E apagas as chamas dos seios nos partos do desenho. Mãe, vem agachar-te onde começa a pintura. Despe-me o pretenciosismo, e concede-me a exaltação, a leveza do viajante. Porque a pintura é a irmã que me faz mundo. Às vezes misturas-te com os terrores da noite ou olhas-me, vertiginosa, num trono triste, através de palavras pautadas de juízos. A arte é o teu confronto que agudiza as presenças, o animal que baila ante o olhar da morte. E entre os antigos retratos, plenos de palavras pardas, procuro desafogar-me, venho à tona dando o melhor, in freta, inteiramente vivo, tornando-me mais antigo que os antigos pese embora tanta troça.
85. Vós sois deuses, disse Jesus glosando um salmo que cita a cena do horto, no Bereshit, enquanto os fariseus degolavam patos. E tu também os és, ó salmodiado, sabente do bem e do mal, mesmo que te ponhas distraído a mamar talk-shows feito omniscente demiurgo cansado. (e no entanto só existimos como evidências de desvios à atenção nas sensações, como aficcionados de narrativas) — bradou o crente ao raspar o tampo da mesa empunhando o g-a-r-f-o de casquinha da avó (era o ateísmo integral, serializado, piedético)
86. Nele as intenções eram descuidadas e a e•s•c•r•i•t•a exacta (exausta), soberana que desce à ralé, suserana de evidências costumeiras (como o sexo da criada com o aprendiz de carpinteiro) abafadora de escatologias (venha um mundo melhor!) e apascentadora de tretas herméticas (a esguinchar assiduamente soberbas) daí que o resultado ora seja bestial ou péssimo (conforme) dando desatenção e carinho ao filão inesgotável de possibilidades combinatórias de banalidades tocantes de acordeão pimba em festa na paróquia os outros estavam mais interessados em julgar pelo prazer (malévolo, mas ainda assim prazer) de julgar
87. O martírio é sempre por reputação (ou prostituição) /\ (um segredo duvidoso) /\ (um estigma maravilhoso) /\ (um egoísmo que faz mal ao corpo) /\ (o que me faz bom faz bem aos outros) /\ (és um chanfrado pá!) e depois veio um poema a cavalo com três poetas que corriam com a mesma amada no goto e ela não lhes ligou pevas, a megera, e eles carpiram nesse único poema a ressaca da amada dando-se conta que já não era a malfada paixão nem nunca fora igual para cada um dos três.
88. Nascer é ser porreiro (ou melhor). Ou antes, a bondade cai no pires (com a proverbial mosca) e há pessoas muito más que se aproveitam. Gritos genésicos, espantos e fraldas (algália para a avó). Miniaturas de gente destinada a apinhamento no cemitério municipal _ _ _ onde os mortos são enterrados-encerrados ($) com restos de mortos desfeitos (fica registado!).
89. Um planeta é uma estrela que já morreu há muito tempo e o planeta vai definhando cada vez mais num tempo só dele (num plano que nos é estranho) e nós morreremos muito antes dessa morte e nem sequer fomos estrelas só sopros preplexos com o extraordinário e fabricantes de sonhos que não comunicam entre si.
90. … (continuidade instrumental) a ser espiada pela atenção hipercrítico exilado da mãe, da mater, da deusa (mas com réstias de piedade em brasa que apimentam a sanidade familiar) / (a pancada que sobra) / (o beijo dado a mais) (a ecologia reciclada na catástrofe pervertida) / (a indiferença do não adianta nada) (um léxico esfaimado para um século retorcido) (vindouro na manjedoura) (doralice eu bem ketedisse) (haiku em kit a fazer tic-tac) (orar em epigramas num estádio)
91. Se atiras uma pedra incompreensível (entendendo o incompreensível como recusa pura e dura do estado das coisas) e acertas no vidro e na ignorância esperas que ela se parta (assim como o ignoto) e que a mão (brejeira) procure outra ◊ e volte a atirar até partir ]…[ atirar sempre, disparar, balear, acertar no alvo, derrubar, humilhar, com acerto, ou em vão (amandou o herético herói) — por jactantes momentos bravo ]—[
92. Casas contendo favelas mentais para serem demolidas, tábua a tábua, tijolo a tijolo — (tu vais-me sacar o sexo por inteiro?) (pintar é desalmar) /contendas específicas entre parentes (antes tão amigos) ±/* (vale a pena a reconciliação?)\\ ainda que
a cair pelos beiços urge confessar os falhanços e os maus momentos de que te arrependeste em parte ou finjes arrepender
…e lá estava o artista radical comendo caracóis em louças de Limoges e distribuindo panfletos para nos libertar da escravidão da arte e das pilhérias sociais
93. (surpreendendo o sapo na lagoa Ă beira do <plop!> tu desfazes o visĂvel no desenho) desistindo (insistindo em desistir) no insignificante (espelho que significa por um momento frases que almejam â&#x2014;&#x160; inutilidades) incompetente (dedicado profissional do ne savoir pas faire) ) um nadador azul que atravessa um sonho de prata
94. Eu sou um velho, ainda pouco velho, mais um daqueles que com o stress se tornou senil e tem insónias (avant-la-lettre) e um cheirar a gasto, a pelo de gato gordo — não matarei meu corpo antes que ele me mate (# suplemento à carta inaudita aventada pelo vidente)
95. Manivela para babelizar o artista rápido, estilo juvenil, incutindo-lhe amores talhados, à medida, e exposições (com advérbios sem modos) (saldos proverbiais da sua brevidade de cores tapando a sombra, dos dentes partindo unhas roídas e cuspindo-as sobre o poeta de estimação subalimentado do teu livro de versos) — depois é enfiá-lo numa enciclopédia ou num inquérito; (§. és bom/boa na cama?) 1. — — — — 2. — — — — 3. — — — — (não se diz, nem se responde) e mais te adianto: a filosofia, a a sério, a tal que te pode mudar de vida, não precisa de preparação especial nem de garantia nupcial .
96. A linguagem joga aos dados a linguagem está farta de jogar aos dados adivinhando ◊ o deus
)] [( que não joga nem inquina apenas lança e lança
repetidamente os dados e envelhece a lançar dados e definha na curiosidade do lançamento porque está viciado porque está resolutamente viciado porque está resolutamente vicíado em lançar
97. Na mudança entre margens, com vespas e carrapatos (a economizar takes cinematográficos com haikais na manga), levamos o corpo da jovem violada para cima de um burro montado por um filósofo chinês que dizia: o mundo é a justaposição de incomensuráveis que se julgam interpenetrantes e infinitos § (espaldar para se esfalfar a apedrejar modas) § (um genésico ou um desintegrado?)
98. … no entanto precisamos do cacau, do pilim, para uma vida mínimamente aceitável, para uma felicidade de estômago cheio, sem ter que trabalhar, mendigar, pedinchar, explorar… senhor, dai-nos o suficiente para uma cabidela, para uma sopa da pedra, para uma malga bem servida de caldo verde ou de sopa de couve lombarda!
99. Eu cá até estou gostando de trabalhar com vosmissê. É um cara legal. O patrão é que é um cabrão de merda.
100. Datas evadindo as artes, desembaraçando-se de ti, embaciando imagens cuja beleza faz crer, sejam cultos, idiotas, devotos — engolindo a história, acocorando hermeneutas que deviam aprender a chorar que nem madalenas Imprecisão precisa do desamor (gerando equívocos adicionais). Retornos parciais de tempo (a radiação de toda a memória). Passado aos cochichos (não brinques comigo…). Retrogradação (Kunst der Fugue). Um bale-bale barroco para Innana.
101. O ziggurat em miniatura ficou na prateleira (andas tu p'ráqui a apregoar misérias) (e a roçar mistérios) e o papagaio fugiu para o Brazil ( país tropical abençoado por um deus bonito por natureza ( — panteísta talvez — ))
102. Levantar-se, madrugar, saír da cama para o frio inóspito de mais um poema ou outra inutilidade com caneca de café quente antes do primeiro iogurte, do segundo bocejo, do bafo que embate na vidraça, por sua vez… Saír do covil das imagens, e descer com a alcateia e o fogo até ao labirinto onde arde uma bola com cornos… Buscar rede para o que pode ser uma desordem inconsequente ou nula ( ou não dá para aguentar ?)… — evitar ganhar peso — fazer ginástica (ó inércia!) — partir (tempestades em torno ao Guardafui) E as nossas esperanças nítidas ao sol da madrugada e o corpo solitário da amada a bronzear-se no amor.
103. Uma #anna-mnése# que recua por fim ao último da fila (o derradeiro, o escalavrado), ao horrível ao tirano que nos antecede nas calendas dos arcontes, à massa fetal, abjecta, ao paradoxo que paralisa deixando a psique em papas e a dita dentadura ao lado (enquanto escrevo a minha sombra degrada-se) ± (retrocesso ao disjunctivo-performativo enunciado, e depois rasurado, no inóspito príncipio deste livro) este livro é de um eu com dois eus à condição e aparte
este livro acabou de se escrever em Novembro de 2018 por John Rindpest & Pierre Delalande e foi elevado on-line a 8 de Marรงo de 2019