A Revista da Família Ano XLIV nº 74 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2013
Os efeitos das redes sociais
A família através do tempo O mundo não deve ditar as regras com respeito à família
Manifestações no Brasil marcam um novo tempo Aconselhamento pré-nupcial Cuidado necessário para o início de uma família
Solteirice
Nunca houve tantos homens e mulheres bem-sucedidos e solteiros
Nossos filhos e Deus
Quanto tempo temos investido nesta relação?
Inversão de valores Por que se preocupar com isso?
Ministério Feminino A Revista da Família nº 74 julho/agosto/setembro, 2013
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EDITORIAL
Ministério Feminino: capricho ou dom? SHEILA DE AMORIM SOUZA
“É um só e o mesmo Espírito quem faz tudo isso. Ele dá um dom diferente para cada pessoa, conforme ele quer” (1Co 12.11). Há um ditado judaico que diz que Deus não criou a mulher de uma parte da cabeça do homem para que esta não quisesse mandar nele. Não a fez de uma parte de seus pés para que este não quisesse pisar sobre ela, mas a criou de seu lado para que eles pudessem andar lado a lado, em igualdade. O autor de uma tradução das Institutas, de João Calvino, professor aposentado da UNICAMP e doutor em Teologia do Novo Testamento pelo Princeton Theological Seminary, Waldir Carvalho Luz, 94 anos, afirmou em uma revista, durante entrevista, que estaríamos desprezando ou desrespeitando o próprio Espírito Santo ao delimitar categorias para os diversos dons. "Obviamente, desejável seria que os dons do Espírito fossem distribuídos sem delimitações de idade, sexo, classe social, grau de instrução, situação econômica, nacionalidade, cor, língua, origem, raça, visual, aparência. Verdade é que isso não significava que determinado talento ou dom não pudesse ser limitado a uma categoria especial, não extensivo a todos indiferentemente. É o que alegam os que se opõem ao ministério feminino. Há, porém, que se perguntar: qual razão se pode, legitimamente, invocar para essa exclusão? Que o Espírito assim agiria por mero preconceito ou capricho, seria temerário afirmar. Portanto, não transparece motivação racional para justificar essa medida discricionária. Razão, pois, assiste aos que veem esse posicionamento como desprezo ou desrespeito ao Santo Espírito. Alijar, sumariamente, a mulher da participação no dom ministerial não se afigura ordenança divina, mas, ao contrário, deplorável mostra do preconceito humano". Esta discussão sobre a ordenação feminina transpassa séculos. E, ainda hoje, não é um assunto resolvido. Há igrejas que cerceiam o ministério feminino, principalmente quando se trata de elas ocuparem os púlpitos e pastorearem uma comunidade. A matéria de capa traz os dramas, dilemas e a história de lutas e também de vitórias de igrejas que concederam às mulheres o direito de se levantarem "dos bancos para falar, cantar, visitar, administrar e – ousadia maior – pregar e ensinar". Falando em ensinar, acompanhe nesta edição, várias matérias sobre a família. Quanto tempo tem sido investido para ensinar os pequenos a amarem e desenvolverem uma relação de intimidade com Deus? Hoje mais do que nunca a família precisa de cuidados, segundo a orientação bíblica e não segundo a cultura moderna que tenazmente nos assedia. Vamos falar com Deus, que criou a família, pedindo sabedoria para nos orientar frente à inversão de valores que se avoluma diariamente. O secretário da família da IPIB, Rev. Alex, faz um alerta e desafia a atitudes. "Você não só precisa se preocupar como precisa agir. Já passou o tempo da preocupação; agora é tempo de ação. Sabemos que não existem mais valores para muitos na sociedade". Em meio às muitas manifestações que ocorrem no país, principalmente por respeito e justiça, a edição traz muitos temas não só para reflexão, mas também o convite à oração e à ação. Quanto mais nos concentrarmos nessas ações em prol do Reino de Deus, do ser humano e da família, melhores serão os resultados para todos! Boa leitura! Sheila alvorada@ipib.org
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SUMÁRIO
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Reflexão
O que você tem é suficiente para o milagre.
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Testemunho
Dois milagres na vida de duas famílias.
Culpa e graça. Achamos que podemos trocar sacrifícios e penitências por dádivas.
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Poesia
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Estilo de Vida
Sobre a Reforma Protestante. Finanças e Evangelho: alguma relação?
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Voz do coração
Dia dos Pais
Homenagem aos pais pastores.
Fique de Olho
Aconselhamento pré-nupcial: cuidado necessário.
O cuidado. Cuidar da nossa família é um privilégio, é uma missão, é agradável a Deus.
Família
A família através do tempo. O mundo não deve ditar as regras com respeito à família.
Pais e filhos
O que fazer quando os pais são superprotetores? Primeiro, é importante entender por que os pais superprotegem.
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Entrevista
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Secretaria da Família
Com um adolescente assassino confesso em meio à discussão da maioridade penal no Brasil Por que se preocupar com a inversão de valores?
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Nossos filhos e Deus
O lugar onde nossos filhos aprendem a amar a Deus, a obedecê-lo, a temê-o e a se relacionar com Ele é o lar.
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Comunicação
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Conectividade jovem
Psicanálise e Esperança
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Reflexão
Lidando com as perdas. Homens e mulheres estão sujeitos a perderem alguma coisa. Também qualquer ser humano está sujeito a dores psíquicas.
As redes socias estão sendo usadas para uma super exposição.
ENCARTE ESPECIAL Só pra Mulheres. Elas são únicas e merecem um espaço só delas.
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Ministério Feminino
As mulheres conquistaram vários direitos. Até nos templos, onde se levantaram dos bancos para pregar e ensinar.
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Manifestações
A legitimidade das manifestações se dá no fato de que o cidadão injustiçado tem o direito constitucional de se reunir para manifestar.
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Comportamento
Pesquisa do IBGE mostra que o número de solteiros é maior do que o de casados. Opção ou circunstãncia?
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Vida a dois
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Saúde
Vestibular
Como os pais podem ajudar nesta importante decisão?
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A responsabilidade do marido no cuidado com a esposa Cuidados com a gripe.
Espaço Kids
História, culinária e brincadeira para a criançada.
Alvorada A Revista da Familia
Órgão Oficial da Secretaria da Família da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Registrado, em 7/11/ 1974, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial sob o n° 289 - CNPJ n° 62.815.279/0001-19 - Fundada em 3/2/1968 por Rev. Francisco de Morais, Maria Clemência Mourão Cintra Damlão, Isollna de Magalhães Venosa. Ministério da Comunicação: Rev. Wellington Barboza de Camargo. Secretário da Família: Rev. Alex Sandro dos Santos. Coordenadoria Nacional de Adultos: Ione Rodrigues Martins e Odair Martins. Coordenadoria Nacional do Umpismo: André Lima. Coordenadoria Nacional de Adolescentes: Rev. Rodolfo Franco Gois. Coordenadoria Nacional de Crianças: Rev. Rodrigo Gasque Jordan. Editora: Sheila de Amorim Souza. Revisor: Rev. Gerson Correia de Lacerda. Arte e Diagramação: Seiva D’Artes. Foto capa: Arquivo Pessoal. Fotos e ilustrações: Allison de Carvalho, Fotolia, stock.xchng, brusheezy e dreamstimefree. Colaboraram nesta edição: Wanderlei de Mattos Júnior, Daniel Dutra, Fernando Hessel, Leontino Farias dos Santos, Zeneide Ribeiro de Santana, Maurício Silva de Araújo, Wag Ishii, Alex Sandro dos Santos, Evandro Rodrigues, Cristina da Silva, Silas Barbosa Dias, Reinaldo Briones, César Ramirez, Marcos Kopeska, Tiago Nogueira Souza, Edelberto Behs, Marcos Stefano, Dicla Borges Mendes, Wesley Zinek, Rosana Salabai,Giancarlo Brojato, Wívian L. C. Brojato, Devanira Domingues Demarque, Lisias Castilho, Akila Moreira Redação: e-mail alvorada@ipib.org - Fone: (11) 2596-1903. Assinaturas na Editora Pendão Real - Rua da Consolação, 2121 -CEP 01301-100 - São Paulo/SP Fone/Fax (11) 3105-7773 - E-mail: atendimento@pendaoreal.com.br. Assinatura anual Individual (4 edições): R$45,00, acima de 10 assinantes R$ 40,00, para receber através do (a) agente ou R$ 65,00, para receber em casa. Número avulso: R$ 11,50. Depósito no Banco Bradesco - Agência 095-7 - Conta Corrente 174.872-6. Tiragem: 2500 exemplares. Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião da revista. Permitida a reprodução de matéria aqui publicada, desde que citada a fonte.
REFLEXÃO
O que você tem é suficiente para o
milagre SILAS BARBOSA DIAS
Quem planta fé colhe milagres. Quem planta sementes de esperança rejuvenesce. Somos tão velhos quanto nossos desesperos e tão jovens quanto as expectativas de nossos sonhos. É hora de buscar uma vida de excelência e paixão pela existência. É possível encorajar, inspirar e motivar os outros em direção à paixão, superando nossos limites enquanto os influenciamos positivamente. Se você tem paixão por algo na vida, não desista de buscá-lo. Descubra uma maneira de agir e superar seus próprios limites, transformando seus sonhos em realidade. Alguém já disse que o problema principal não é o fato de sermos apaixonados demais por coisas ruins e, sim, o fato de não sermos suficientemente apaixonados por coisas boas. Viver não é passar a vida inteira a serviço das paixões, mas usar a paixão para uma vida cheia de significado. Não é a vida que deve servir à paixão, mas é a paixão que
deve servir à vida. Descobrir e desenvolver emoções saudáveis constitui uma jornada, não um acontecimento esporádico. O êxito deveria ser um modo de viver, um evento renovável a cada amanhecer. Uma paixão, um sonho, uma busca nobre, quando descobertos e desenvolvidos por uma pessoa, produzem grandes benefícios, alegrias e recompensas, além de exercerem saudável influência na sociedade. Não focalize os problemas e as adversidades. Os desertos fazem parte da nossa existência; superá-los consiste a fascinante aventura de viver. Os desertos das adversidades existem para aprendermos que obstáculos não devem ser impedimentos, mas nossa motivação para romper amarras. No deserto, secam as nossas fontes, mas é lá que descobrimos as fontes inesgotáveis de Deus. Pare de falar a Deus sobre o tamanho de seus problemas; comece a falar aos seus problemas sobre a grandeza do Deus em que você
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Sempre medimos as possibilidades de acordo com nossos recursos e habilidades, mas Deus, o Criador, mede com medida diferente. Somos rápidos em nos medir com base nas experiências e frustrações da nossa história de vida. Mas Deus nos mede de acordo com sua misericórdia e promessas. Abre caminhos onde não há, enche os vazios e maximiza potenciais.
crê. Ele é especialista em milagres. Nunca devemos nos esquecer de que o fracasso é apenas um acontecimento e não um personagem; isso significa que pode ser mudado. O ontem é passado; o hoje é o amanhã de ontem. Tudo pode mudar. Há uma verdade que precisa ser reafirmada: hoje é o primeiro dia do resto da nossa vida. Mudar é o nosso destino e decidir é sempre uma possibilidade; então, decida mudar para melhor. Escolher mudar para o melhor é fechar a porta para o caminho errado. É ser otimista em relação ao futuro. É ter paz com Deus e comunhão com outros seres humanos, compreendendo-se como família. Podemos e devemos olhar para trás com perdão, rompendo as amarras e cárceres emocionais do ontem. Olhar com esperança para frente, oportunizando novos tempos de realização. Olhar para baixo com compaixão solidária e, para cima, com festiva gratidão. As ações de graças são o hábito invencível dos vencedores. Não importa o quanto você esteja frustrado com seus próprios limites. Aquilo que você tem é suficiente para Deus fazer um milagre em você e na sua vida. Um dia, em pleno deserto, havia uma multidão faminta. Foi quando um menino aproveitou a possibilidade de um milagre e colocou nas mãos do Mestre dos Mestres cinco pães e dois peixes. Tratava-se de um lugar distante de qualquer fonte de alimento e havia ali mais de cinco mil pessoas. Aqueles poucos recursos, ao serem colocados nas mãos de Jesus, foram mais do que suficientes para representar um mila6 Alvorada
gre. Depois de alimentar todo aquele povo, ainda sobraram doze cestos cheios. Sempre medimos as possibilidades de acordo com nossos recursos e habilidades, mas Deus, o Criador, mede com medida diferente. Somos rápidos em nos medir com base nas experiências e frustrações da nossa história de vida. Mas Deus nos mede de acordo com sua misericórdia e promessas. Abre caminhos onde não há, enche os vazios e maximiza potenciais. Viver em Deus é viver em excelência. É reconhecer as capacidades concedidas pelo Autor da Vida como dons para o benefício de toda a humanidade. Por isso, o que você tem é suficiente para um milagre. Você pode derrotar gigantes. O jovem Davi tinha somente uma funda e cinco pedras lisas, mas elas foram mais do que suficientes. O milagre aconteceu com uma única pedra. Pode-se dizer que aquilo que temos é mais do que Deus precisa em suas mãos para derrubar os gigantes-problemas, os gigantes-adversidades, os gigantes-medos. Todos nós erramos e todos nós falhamos. Todos nós temos limites. Não devemos deixar nossa vida encalhada em descaminhos e frustrações do passado, nem ancorar em memórias negativas. Olhe para o que você tem. Lembre-se da história judeu-cristã em que o profeta pergunta à viúva: “O que tens em casa?” E ela responde: “Nada! Apenas uma botija de azeite”. E era o suficiente.
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Ele encha você com a esperança e o sorriso de um novo tempo. Faça o dia de hoje o melhor dia da sua vida. Segure nas mãos do Senhor da existência, renda-se ao seu amor. Ele se importa com você, com a sua vida e com o seu futuro. Ele tem promessas para lhe dar um futuro melhor! “Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida. Faça dele o começo de um futuro melhor. Creia, receba e celebre.”
Friday
O profeta pediu vasilhas vazias, não poucas. O milagre aconteceu na mesma proporção que as vasilhas disponíveis. Acabaram-se as vasilhas, mas não o azeite. Milagres são possibilidades infinitas colocadas nos territórios da nossa vida. Entenda que há muito mais para você receber de Deus do que você tem condições de receber durante toda a sua existência. Nossa vida é curta demais para usufruirmos todas as riquezas da provisão divina. Então, transforme seu negativismo em fé. Deixe seus sonhos nas mãos daquele que tudo pode. Permita que
O Rev. Silas é pastor da 2ª IPI de Londrina, PR, e autor de vários livros. Este texto faz parte do livro “Creio num Deus que sabe dançar”
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Guilherme e Eduardo com os pais
milagres ZENEIDE RIBEIRO DE SANTANA
Os nomes dos milagres: Eduardo e Guilherme
A notícia de uma gravidez sempre causa impacto e provoca mudanças na vida de um casal. Quando se trata de gestação múltipla, então a alegria vem acompanhada de apreensão pela espera daquilo que vai se tornar um dos acontecimentos mais emocionantes na vida de uma família. E, entre os riscos de complicações, pode ocorrer o parto prematuro. Sobre o assunto, trazemos o depoimento de duas mães, ambas da 1ª IPI de São Caetano do Sul, SP, que viveram essa experiência e desejam testemunhar o cuidado de Deus nos seus momentos de tensão e de dificuldade. Fábio Prestes e Andrea Gomes Prestes se assustaram, mas ficaram felizes quando souberam que esperavam gêmeos. No relato, Andrea fala sobre as dificuldades de sua gestação. “Tive uma gestação bas-
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tante tumultuada, sangramentos, muitos enjoos, mas, segundo a obstetra, tudo de acordo com o esperado para uma gestação de múltiplos. Quando cheguei à 27ª semana de gestação, tive dores terríveis, que suportei com bravura, porém na 29ª semana quem não suportava mais eram os bebês e, no dia 20/1/2006, minha bolsa estourou. Foi aquela correria, tudo inesperado, o quartinho ainda não estava pronto, o enxoval não estava todo providenciado... Mal sabia eu que aqueles eram pequenos detalhes porque o importante ali era uma coisa só: a sobrevivência. O Eduardo (Dudu) nasceu primeiro, com 1.600 kg; não conseguiu chorar, estava quase morto e os médicos nem deixaram que eu o visse. O Guilherme (Gui) veio em seguida, com 1.625 kg. Nasceu chorando, mais rosado e foi me apresentado rapidamente porque logo levaram ambos para a incubadora e para o oxigênio. No primeiro momento, vem a negação: não queremos acreditar que falhamos como mãe, que não conseguimos cumprir o
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arquivo pessoal
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TESTEMUNHO
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Minha mãe, uma serva do Senhor, disse para o médico: Faça sua parte que Deus fará a dele. Era essa a nossa única certeza, a de que Deus operaria milagres... Não tínhamos a quem recorrer e nos entregamos à sua misericórdia.
papel de carregar nossas jóias mais preciosas por nove meses. Depois, vem o otimismo: em 15 dias eles ganharão o peso necessário e iremos embora; mas o terceiro passo é o mais dolorido: colocar o pé no chão e entender o que está acontecendo de verdade. No segundo dia, ouvi que o Dudu estava com infecção generalizada e que provavelmente não passaria daquela noite. Com muita sabedoria, minha mãe, uma serva do Senhor, disse para o médico: Faça sua parte que Deus fará a dele. Era essa a nossa única certeza, a de que Deus operaria milagres... Não tínhamos a quem recorrer e nos entregamos à sua misericórdia. Foram muitas as pessoas que nos ajudaram em oração, tanto nas igrejas como na família e entre os vizinhos e amigos. Outra vez veio mais um aprendizado: Deus opera no tempo dele e não no nosso! Para o Gui foram 68 dias de UTI neonatal e para o Dudu foram 98 dias, tensos e intensos, de más notícias como: seu filho teve um sangramento
craniano; seu filho teve perda de metade do cerebelo e não vai andar; seu filho teve derrame pleural e terá dificuldades para respirar; seu filho está com uma miopia severa devido ao alto uso de oxigênio; e, no último dia, seu filho perdeu a audição bilateral devido ao uso de medicamentos ototóxicos. Recebemos alta com home care, enfermeiros 24 horas, oxigênio, aparelhos pela casa. Aos poucos, a rotina foi se estabelecendo, os meninos foram crescendo e já não precisavam usar nada daquilo; altas foram acontecendo e Deus mostrando que os milagres eram possíveis, sim, na hora dele, à maneira dele. Com 11 meses, o Dudu se submeteu a uma cirurgia de implante coclear e, através do trabalho humano, Deus devolveu a audição do meu filho. Hoje ele ouve tudo; a última audiometria mostrou audição a 20 decibéis, o que é igual à de uma pessoa que não tem deficiência auditiva. O Gui está um homenzinho responsável, estudioso, aprende piano, já se apresentou na igreja
Eduardo e Guilherme
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A família de Matheus e Mariana, e ao lado quando eram bebês
Os irmãos Guilherme e Eduardo
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tocando, lê e escreve com eficiência e é um menino exemplar. O Dudu ainda faz fisioterapia, equoterapia e fonoaudiologia para reparar algumas “arestas” deixadas por tanto sofrimento ao nascer, mas é chamado de “milagre” pelo neurologista. Anda, corre e pula o dia inteiro, está escrevendo, reconhece as letras e os números, e ouvimos elogios e mais elogios na escola. Ainda não consegue falar e o neurologista e o pediatra nos explicam que é algo esperado pelo quadro que ele teve, porém os prognósticos hoje são os melhores. Nossa história é muito diferente daquela de há 7 anos, quando tudo era incerto, quando a maioria das pessoas dizia “Não”. Mas Deus, na sua imensa bondade, disse: “Sim! Seus filhos serão bênçãos e, através deles e do testemunho deles, vidas serão alcançadas. Amém. A Deus toda honra, toda a glória, todo o louvor e toda a nossa gratidão”.
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Matheus e Mariana: mais milagres de Deus Outro caso é o do casal Riberto Araújo e Márcia Amaral Araújo. A mãe relata o drama vivenciado e o milagre de Deus em sua família: “Temos três filhos: Jonathas, com 18 anos, Matheus e Mariana com 13 anos. Jonathas nasceu prematuro, de 32 semanas, 1.600 g, com muita dificuldade para respirar, o que causou rompimento de alguns vasos no cérebro e, como consequência, uma hemorragia intracraniana. Meu marido e eu ficamos desesperados, porque não sabíamos que sequela aquela hemorragia traria. Oramos muito e entregamos nosso filho aos cuidados do Senhor, que realizou um milagre, pois, quando saiu do hospital após um mês, os médicos garantiram que o organismo já havia absorvido o sangue e que não haveria sequelas. Hoje, o
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Jonathas, com 18 anos, é um bênção nas mãos do Senhor e também para nossa família. Quando ele tinha cinco anos, engravidei e, para nossa surpresa, eram gêmeos. Ficamos felizes e também preocupados, pela experiência anterior, mas nossa vida é do Senhor e Ele tem o controle. Quando estava com 25 semanas, comecei a sentir algumas contrações. Naquela tarde, as irmãs da igreja foram à minha casa e foi lida a parábola do semeador. E uma irmã falou sobre o cuidado do agricultor com a semente, sobre a espera e a paciência para que ela cresça e frutifique. Não sabia, mas o Senhor já me preparava para o que viria. Naquela noite, fui ao hospital em trabalho de parto. Preocupada, entreguei meus filhos nas mãos do Senhor. Às 21h00 nasceu o Matheus, com 690 gramas e, depois, a Mariana, com 590 g. Nasceram sem chorar, foram entubados e levados imediatamente à UTI. Não os vi naquela noite, mas a médica falou que o estado de saúde deles era muito grave e que teríamos de aguardar. Quando fui para o quarto, sem saber como estavam, o Senhor falou profundamente ao meu coração. Ouvi ali a voz do Senhor, como nunca tinha ouvido: “ Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”. Apeguei-me a essa palavra que me trouxe a certeza de que Deus estava no controle da situação e de que receberíamos o milagre. No dia seguinte, fui vê-los na UTI: o Matheus, 30 cm, cheio de fios, entubado, e a Mari, 28 cm, completamente envolvida em um ninho de algodão que fizeram para que ela pudesse manter a temperatura do corpo. Não foi fácil presenciar essa cena que jamais esquecerei, mas lembrei-me do que o Senhor havia me falado e ali começava a nossa batalha. A espera do semeador com sua semente que, com paciência, amor, dedicação, vê o fruto, as flores crescendo, sendo regadas dia após dia. Isso é fácil? Não! O Senhor não nos livrou de passar por tudo aquilo, mas nos encheu de força, de fé, de garra para lutar. Meu marido encontrou no elevador a médica que havia feito o parto, mas que não sabia que ele era o pai. Ela dizia a outro médico que tinha acabado de fazer um parto de gêmeos que nasceram praticamente mortos, e que não sobreviveriam. O Riberto ficou desesperado, pois era do Matheus e da Mari que ela estava falando. Mas tivemos
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O Matheus, 30 cm, cheio de fios, entubado, e a Mari, 28 cm, completamente envolvida em um ninho de algodão que fizeram para que ela pudesse manter a temperatura do corpo. Não foi fácil presenciar essa cena que jamais esquecerei, mas lembrei-me do que o Senhor havia me falado
a certeza de que o Senhor havia ressuscitado nossos filhos na hora do nascimento e de que realizaria um milagre na vida deles. Foram 121 dias de hospital, 3 meses de UTI. Várias intercorrências, várias infecções. Vimos muitas vezes, durante a visita, nossos filhos pararem de respirar e a correria dos médicos para socorrê-los. Tiveram também uma hemorragia intracraniana. No Matheus essa hemorragia foi grau I e na Mariana, grau III, o que significava que poderiam ter sequelas. E nossa luta durante esse período todo foi aos pés do Senhor, com muita oração, com muita lágrima. A igreja orou muito por eles e outras igrejas também oraram pelo Matheus e pela Mariana. Depois, soubemos que as enfermeiras, algumas evangélicas, oravam pelos bebês. Quando os médicos passavam para examiná-los, comentavam que o estado deles era muito grave e que tinham poucas chances de sobreviver, elas diziam: “Eles vão sobreviver sim, doutor, em nome de Jesus”. Nós íamos visitá-los de manhã, à noite e nos finais semana. Deus nos dava uma certeza muito grande de que Ele estava cuidando. Hoje, o Matheus e a Mariana estão com 13 anos. Restaram algumas sequelas, mínimas, muito pequenas mesmo, diante de tudo o que eles passaram. O Matheus tem uma pequena dificuldade motora e a Mari, uma sequela auditiva. Mas são crianças muito especiais, que levam alegria por onde passam; sabem tudo o que Deus realizou na vida deles e falam para os amiguinhos e para outras pessoas que eles são milagres de Deus. Continuamos vendo na vida de nossos filhos o milagre do Senhor, dia após dia. Temos aprendido a esperar o tempo de Deus, a perseverar sempre e a nunca desistir, por mais impossível que tudo possa parecer. A palavra do Senhor falada ao nosso coração naquela noite jamais esqueceremos: “Aquietai-vos e sabei que eu Sou Deus” (Sl 46.10). Para manter o atendimento médico e hospitalar, ambas as famílias também passaram por grandes batalhas financeiras com os convênios, inclusive na justiça. Também foram vitoriosos. Mais um motivo de gratidão ao Deus que cura e tudo supre. A Zeneide, blogueira, é membro da 1ª IPI de São Caetano do Sul, SP
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Alvorada 11
VOZ DO CORAÇÃO
“Se alguém não cuida dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior que o incrédulo” (1Tm 5.8).
MAURÍCIO ARAÚJO
Se há uma demonstração que não deveria faltar à família, essa é "o cuidado". Parece-nos que, hoje em dia, muitos pais, maridos, esposas e até filhos têm negligenciado o cuidar dos seus e entraram na onda da terceirização. O setor produtivo e comercial já tem feito isso há muito tempo e, sem percebermos, temos entrado nesta onda também. A pergunta que devemos fazer é se podemos terceirizar o cuidado pelos da nossa família, pois há algumas coisas na vida que somos nós mesmos que devemos fazer e não podemos delegar ou terceirizar a outros. São pais terceirizando a educação de seus filhos à escola; são filhos terceirizando o cuidado de seus pais a casas de repouso e asilos. Enfim, se pararmos para
O cuidado 12 Alvorada
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pensar, nós nos esquecemos que temos a missão de cuidar dos da nossa casa. Quantos hoje em dia enchem a agenda de seus filhos com inúmeras atividades extras com a finalidade de preencher o tempo que eles mesmos, pais, deveriam passar com os filhos. Sei que a loucura da vida toma em muito nosso tempo, mas somos nós que devemos colocar as prioridades em nossa vida. O passar tempo com a família é também demonstração de cuidado e amor pelos nossos. Ana Paula Padrão, há alguns anos, quando ainda trabalhava na Rede Globo e era âncora do seu último telejornal, tomou uma decisão em que muitos não acreditaram e nem compreenderam, pois abriu mão desta posição conquistada com muito esforço e almejada pela maioria dos jorna-
listas, para cuidar da sua família. Sua atividade jornalística conflitava com sua vida conjugal, pois fazia com que ela e seu futuro marido se desencontrassem. Por isso, abriu mão da carreira por algo imensamente mais valioso que era seu casamento e o convívio com seu marido. Ninguém a obrigou. Não foi seu marido que a pressionou, mas simplesmente ela desejou cuidar dos da sua casa, pois eram mais valiosos que ser apresentadora do Jornal da Globo. Quero dizer que cuidar do outro, ter demonstrações de cuidado pelos da nossa família é um privilégio, um dever e, quando o fazemos, estamos agradando ao próprio Deus: “Mas se alguma viúva tem filhos ou netos, que estes aprendam primeiro a exercer piedade para com a própria casa e a recompensar a seus progenitores; pois isto é bom e agradável diante de Deus” (1Tm 5.4).
Há muita gente hoje em dia cuidando de muitas pessoas, ajudando a muitos, mas se esquecendo de cuidar daqueles que Deus lhes confiou como prioridade, que são os da sua própria família. O marido pode ser o mais bem sucedido homem da sociedade, ser honesto, voluntarioso para com os necessitados, mas não pode se esquecer que sua prioridade é cuidar de como agradar a esposa. O mesmo vale para esposa: “Mas o casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar sua mulher” (1Co 7.33). Há uma passagem bíblica que nos diz que muito melhor é dar do que receber e, quando exercemos o papel de cuidado para com nossa esposa, nossos filhos, nossos pais, nossos avós, nós estamos dando, doando, fazendo algo que nos aproxima em muito do caráter de Deus, pois não há ninguém que tenha dado tanto
em favor de outra pessoa como Deus: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Deus teve e ainda tem cuidado de cada um de nós e isso tem feito por causa do seu amor por nossa vida. Não é porque merecemos, porque fizemos alguma coisa que nos tornasse merecedores do seu cuidado, do seu amor, mas porque simplesmente nos ama. Que eu e você aprendamos, dia após dia, que cuidar da nossa família é um privilégio, é uma missão, é agradável a Deus e o faremos por amarmos aos que Deus confiou em nossas mãos. Que o Deus que tem cuidado de nós nos abençoe em Cristo Jesus! O Rev. Maurício, escritor, é pastor da IPI de Jundiaí, SP
AARevista Revistada daFamília Família nº nº 7474 julho julho/agosto/setembro, / agosto / setembro, 2013
Alvorada 13
CRISTIANISMO
Nossos filhos e Deus REINALDO MONTOZA BRIONES
Antes de entrarmos propriamente no tema, fazem-se necessárias algumas considerações importantes que nos ajudarão a refletir. Isto porque se pode constatar que há uma ideia muito equivocada entre cristãos a respeito do ‘criar filhos na igreja’. Infelizmente, uma recente pesquisa publicada numa revista evangélica diz que “a cada 10 homens crentes, cerca de nove terão filhos que, um dia, abandonarão a igreja”. Não são poucas as experiências que conhecemos de crianças que foram levadas desde cedo pelos seus pais à igreja e, no entanto, na fase de adolescência e juventude não querem mais saber de os acompanhar. Vamos considerar, primeiro, o que a meu ver é de fundamental importância e onde tudo começa, quando os pais apresentam seus filhos ao batismo. Você pode se perguntar: Mas o que isso tem a ver? Sempre considerei este assunto muito sério e paradoxal, pois, na prática, desde jovem, frequentemente assistia aos batismos infantis. No entanto, aquilo me parecia mais um rito pelo rito do que um momento de consagração e compromisso dos pais, diante de Deus, em educar seus filhos “com a disciplina e os ensinamentos cristãos”, como escreve Paulo em Efésios 6.4.
Num mundo onde a terceirização é a palavra de ordem, temos visto isto ocorrer também em relação à educação cristã, que é transferida à igreja. Será que já nos perguntamos qual é a responsabilidade da igreja na formação cristã de uma criança? Qual é o papel dos pais no ensino dos princípios da fé cristã? Percebe-se que tudo está muito confuso na cabeça dos pais, em primeiro lugar, e depois da igreja, a começar pela sua liderança e ministérios que trabalham com crianças. Assim como acontece na educação, onde percebemos a escola se vendo ‘obrigada’ a trabalhar aspectos cuja responsabilidade deveria ser dos pais no contexto de lar, na formação cristã percebemos o mesmo movimento, a igreja assumindo uma responsabilidade que não é dela. Acredito que a fé, ou seja, os princípios espirituais e bíblicos devam ser vividos, em primeira instância, no contexto dos relacionamentos dentro do lar. Sempre afirmo que aquele que pratica sua fé dentro de sua casa, junto à sua família, irá praticá-la em qualquer outro lugar. A família é o ambiente onde o discipulado dos filhos acontece, onde demonstro os valores espirituais que tenho, onde ensino meus filhos a se relacionarem com Deus. É um excelente laboratório para nos aperfeiçoar e nos fazer aprender a
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viver na prática aquilo que cremos. Afinal, quais são os compromissos feitos pelos pais quando trazem seus filhos ao batismo? São de orar pelos filhos e com eles, instruí-los na Palavra e serem um exemplo de fé para que estes possam seguir ou não? Será que o conselho de Provérbios 22.6, “Ensina a criança no caminho que deve andar...” está se referindo a levar os filhos à igreja? Enquanto escrevo, muitos textos das Escrituras me vêm à mente. No entanto, gostaria de citar pelo menos um deles, que relata o exemplo de um pai extremamente religioso, altamente envolvido nos negócios da ‘igreja’, porém negligente na verdadeira educação de seus filhos. Esse pai era um sacerdote e seu nome era Eli. Esta história pode trazer uma reflexão muito importante sobre o tema que estamos tratando. Vale a pena tirar alguns minutos para lê-la em 1 Samuel 2.12-22. Vou ressaltar algumas partes do texto: “Os filhos do sacerdote Eli não prestavam e não se importavam com Deus, o Senhor”. Outra tradução diz: “Eram filhos de Belial”, ou seja, eram filhos que não serviam para nada, inúteis. Esta era uma expressão utilizada entre os judeus para aqueles que se desviavam da fé. Agora, a pergunta que surge neste trecho é: Quem deveria ensinar os filhos a temer e honrar a Deus? Que exemplo es-
Qual a importância de levarmos nossos filhos, desde pequenos, à igreja? Como isso os influenciará a serem adultos sadios?
tes filhos de Eli tinham dentro de sua casa? E aí poderíamos contextualizar, refletindo sobre qual é a visão que nós, pais, temos passado a nossos filhos a respeito da vida de Corpo, da importância do congregar e do ministério. Nossas atitudes e exemplos estão atraindo nossos filhos para Deus ou os estão afastando? Continua o texto dizendo: “Assim os filhos de Eli tratavam com muito desprezo as ofertas trazidas a Deus, o Senhor”. Quando Eli indagava: “Por que é que vocês estão fazendo essas coisas?”, a Bíblia explica que “eles não ouviram o pai...”. Podemos inferir muitas coisas deste texto. Não nos colocamos aqui como censores, mas, se esta história foi preservada na Palavra de Deus, sem dúvida é para o nosso ensino. A partir deste exemplo negativo, quero concluir dizendo que o lugar onde nossos filhos aprendem a amar a Deus, a obedecê-lo, a temê-lo e a se relacionar com Ele é o lar. A espiritualidade de nossos filhos será um reflexo da nossa espiritualidade. Eles aprenderão conosco no dia-a-dia do relacionamento no lar, como diz Deuteronômio 6.6-8: “Guardem sempre no coração as leis que lhes estou dando hoje e
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O lugar onde nossos filhos aprendem a amar a Deus, a obedecêlo, a temê-lo e a se relacionar com Ele é o lar. A espiritualidade de nossos filhos será um reflexo da nossa espiritualidade.
não deixem de ensiná-las aos seus filhos. Repitam essas leis em casa e fora de casa, quando se deitarem e quando se levantarem... e as escrevam nos batentes das portas das suas casas e nos seus portões”. A partir deste ambiente saudável de crescimento e prática da fé dentro lar, o ambiente da igreja será simplesmente uma extensão daquilo que vivemos em casa numa amplitude maior, agora da família da fé. Aí sim a igreja fará grande sentido e terá um papel importante. Aí sim nossos filhos se tornarão adultos saudáveis em todas as áreas da vida, inclusive na fé. O Rev. Reinaldo é pastor da 3ª IPI de Curitiba, PR
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FAMÍLIA
A família através do tempo
O papel da mulher na
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CÉSAR RAMÍREZ
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Sabemos que a família é a base da sociedade e que, com o passar do tempo, ela tem mudado sua estrutura. Diante disso, podemos nos perguntar: como essas mudanças têm atrapalhado ou ajudado o próprio desenvolvimento da família em nossa época? Para um melhor entendimento, primeiramente, temos que conhecer os “novos modelos familiares” que se encontram em nossa sociedade. Cito alguns deles: • Família nuclear simples – no qual pai e mãe estão presentes no domicílio. Só os filhos deste casal moram com eles. • Monoparental feminina simples – só a mãe está presente no domicílio. Ela mora juntamente com seus filhos. • Monoparental masculina simples – só o pai está presente no domicílio. Ele mora juntamente com seus filhos. • Família nuclear reconstituída – pai e mãe estão vivendo uma nova união conjugal, juntamente com seus filhos do relacionamento anterior. • Família de genitores ausentes – o filho é criado pelos avós, tios, entre outros. • Família homoafetiva – formado por duas pessoas do mesmo sexo, com ou sem filhos. Os modelos anteriormente citados não são os únicos; existem outros. Porém, dentro de nossa realidade, já podemos afirmar que atualmente existe uma grande diversidade na família. Acompanhando a mudança na família, o papel da mulher também tem mudado. Antigamente, considerava-se que a mulher só deveria trabalhar em tarefas domésticas como: criar filhos, lavar, cozinhar, etc. Ela não tinha o direito de estudar, nem de trabalhar fora de casa entre outras atividades, pois se acreditava que estas tarefas caberiam apenas aos homens. Hoje, a mulher ganhou espaço na sociedade; ela ocupa áreas que anteriormente eram exclusivas aos homens. Só que, nesse ganho de espaço, o homem entrou numa crise que pode ser denominada de “A Crise da Masculinidade”, já que ele perdeu seu espaço ou teve que compartilhá-lo com a mulher. Esta crise também se introduziu em algumas famílias, onde se têm invertido os papéis, gerando, em alguns casos, uma desestrutura no lar. Na Bíblia, temos um texto que nos lembra como
os membros de uma família devem se relacionar que diz assim: “Sujeitem-se uns aos outros por temor a Cristo” (Ef 5.21). Talvez para nossa época este texto não fale muito, porém, temos que lembrar que, no contexto sócio-cultural greco-romano do primeiro século (no qual o texto foi escrito), o homem de uma casa, de um clã, era o “patronus”, e tudo e todos eram submetidos a ele, sendo o mesmo o centro da vida social e familiar, tendo precedência sobre tudo e sobre todos. Aquele membro da família que não aceitasse o determinado pela sociedade daquela época teria que arcar com as consequências da sua desobediência. Por isso, este texto é extremamente valioso para a época em que foi escrito, como também para nossos dias. A Bíblia está querendo nos lembrar que, se somos seguidores de Cristo, se o evangelho nos transformou, não é mais a cultura ou os modelos da nossa época que ditam as regras com respeito à família; pelo contrário, é o Reino de Deus, expressado através da Bíblia que nos orienta. A sociedade pode mudar; novos modelos familiares podem surgir. Mas o amor e o respeito mútuo devem permanecer. No momento em que mudanças promoverem o individualismo na família, esta será destruída. Assim, devemos trabalhar para a construção de um relacionamento de amor que, conforme a Bíblia, não é um mero sentimento. Amor é uma decisão! É um compromisso que assumimos e que gera em nós respeito profundo pelo outro. O Rev. César é pastor da IPI do Rio Pequeno, casado com a Elaine e pai da Priscila e Sara
A Bíblia está querendo nos lembrar que, se somos seguidores de Cristo, se o evangelho nos transformou, não é mais a cultura ou os modelos da nossa época que ditam as regras com respeito à família; pelo contrário, é o Reino de Deus, expressado através da Bíblia que nos orienta. A Revista da Família nº 74 julho/agosto/setembro, 2013
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PAIS E FILHOS
Jovens e adolescentes
Pais superprotetores
CRISTINA SILVA SOUZA
O que fazer quando os pais são superprotetores? Primeiro, é importante entender por que os pais superprotegem. 1Família x Mundo A família se torna impotente diante do mundo cheio de ofertas como drogas, sexo livre, e as mais variadas possibilidades de se experimentar e vivenciar tudo. Essa realidade faz com que os pais se apavorem e, consequentemente, prendam os filhos. A família está impotente diante de um mundo em que tudo é legal, tudo é normal. As informações vêm dos amigos, da mídia, da música, da internet, das imagens, etc. É importante que os filhos entendam os pais para não julgá-los. Quando julgamos, acionamos sentimentos como raiva e mágoa. 1Violência Outro motivo que levam os pais à superproteção dos filhos é a violência (assaltos, mortes por qualquer motivo, brigas na escola por causa de qualquer coisa). E o jeito que os pais encontram para proteger é prendendo. 1Não confiar Há filhos em que os pais sabem que podem confiar e outros que não passam segurança. Jovens muito infantilizados, ou que se envolvem em brigas, ou muito passivos ou muito agressivos. 1Trauma Quando um dos pais vivenciou algum trauma na infância ou adolescência, ele tende a superproteger os filhos para que nada ocorra de ruim. 1Autoritarismo Pais dono da verdade, inflexíveis.
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Como o adolescente/jovem deve agir
0 Conquistar a confiança dos pais. É importante conversar com os pais. Conte para eles no que você acredita, quais são seus valores e, se as opiniões forem diferentes das deles, explique e justifique o porquê. Isso vai mostrar que você tem consciência, mesmo quando as opiniões divergem. 0 Conversar, contar a respeito dos amigos, da escola, das experiências, etc. 0 Falar sempre a verdade! Seja o que for, conte para um dos pais, pelo menos, porque é melhor saberem a verdade por você do que pelos outros. Quando você conta, tem mais cuidado do que os outros, que acabam contando com certa malícia. 0 Rever seus conceitos. Se os pais estão falando muito é porque algo pode estar errado e eles podem ter razão. 0 Ser responsável com os estudos, as tarefas de casa, os irmãos menores. Com certeza, isso tudo irá contribuir para os pais confiarem.
Como os pais devem agir
0 Ser feliz - Os jovens e adolescentes precisam viver e ser felizes. Logo irão “adultecer” e virão as responsabilidades e preocupações. E os pais devem ter esta compreensão. 0 Combinar - É importante que os pais ou responsáveis conversem entre si para resolver o que vão fazer e juntos tomarem decisões importantes. Não se define juntos somente em que escola os filhos vão estudar, que convênio vão fazer ou a que médico levar. Juntos os pais devem definir se devem ou não permitir, quando ou não permitir. A conversa “Ah! Você decide” não é boa para a família. E, quando houver proibição, o motivo deve ser explicado. 0 A rebeldia dos filhos ocorre num processo da adolescência em que o filho precisa crescer. Neste momento, ele rompe com os pais para se tornar um indivíduo e é desta forma que encontra um jeito para “remar contra a maré” (dos pais). É necessário cortar o cordão umbilical, o que dói para os dois lados. É importante a consciência dos pais. 0 O extremo - Também não é boa a liberdade demais. Jovens e adolescentes que podem tudo têm prejuízos emocionais, porque a sensação que têm é a de que não são amados. Além de ser muito perigoso o filho ficar com a sensação de que ninguém liga pra ele, poderá começar a testar os limites dos pais, buscando cada vez mais perigos. 0 Os dois lados devem ter discernimento, diálogo (baseado na verdade), sabedoria, confiança e amor. Muito amor.
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Os jovens e adolescentes precisam viver e ser felizes. Logo irão “adultecer” e virão as responsabilidades e preocupações. E os pais devem ter esta compreensão.
Criar filhos para o mundo
Sempre achei que criava minhas filhas para o mundo. Isso pra mim significava que elas poderiam ter amigos, se apaixonar, ir ao shopping, ao cinema, ao parque, etc. Ir para o mundo se resumia a permitir diversões, até que, um dia, percebi que criar filhos para o mundo é aceitar e respeitar suas escolhas. Idealizamos o melhor para os nossos filhos. Queremos que sejam profissionais bem sucedidos, que tenham uma boa situação financeira, que viajem para o exterior, que realizem um casamento com um príncipe/princesa. E não paramos aqui. Continuamos sonhando sempre o melhor para eles. O sonho dos pais não é o sonho dos filhos. Este ser perfeito que os pais idealizaram fará suas escolhas como, por exemplo, a filha que pode escolher se casar, não fazer faculdade, cuidar da casa e ter filhos. É aqui que entra o criar filhos para o mundo. Independentemente dos pais e dos sonhos destes, os filhos têm os seus sonhos, objetivos e limites que estão, muitas vezes, longe de serem os que os pais almejavam. Criar filho para o mundo é aceitar e respeitar suas escolhas. Isto está ao nosso alcance. A Cristina, psicóloga no Espaço Crescer, é membro da IPI de Freguesia do Ó, São Paulo, SP
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ENTREVISTA
Menor
criminoso Alvorada entrevista um adolescente assassino confesso em meio à discussão da maioridade penal no Brasil
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Muitos psicólogos e psiquiatras afirmam que mentes criminosas não são passíveis de cura, como é o caso de José, que matou friamente e de forma consciente aquela vítima desprotegida. Mas o interessante é ouvir da própria boca dele a vontade de mudar de vida.
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FERNANDO HESSEL
O relógio marcava quatro horas da madrugada de um dia impreciso da semana. Um rapaz aparentando ter 19 anos caminhava sozinho por uma vila deserta ao norte de uma capital brasileira. Ele estava retornando de uma balada quando foi abordado por um menor de idade e um adulto de 20 anos. A dupla anuncia o assalto e, antes mesmo que a vítima reagisse, os dois começam uma sequência de golpes com capacetes e porretes na cabeça do jovem indefeso. O rapaz que caminhava sozinho desmaia no primeiro impacto no crânio, mas respirava caído ao chão. Para terem a certeza de que ele morreria definitivamente e não sobreviveria para entregá-los à polícia, eles continuam o massacre até que o último suspiro dele foi percebido no abdômen. Após isso, saqueiam o jovem morto e cada um foge para um lado. Todos os envolvidos moravam no mesmo bairro e se conheciam de vista. A polícia civil investigou durante 12 meses. Chegou aos acusados através de uma denúncia anônima. Os mesmos assumiram o latrocínio daquela madrugada. No caso do menor, este teria sido seu primeiro homicídio. Ele reconheceu integralmente o crime e contou para a Revista Alvorada a história de sua precoce carreira criminal diante da discussão acalorada pela Maioridade Penal no Brasil. O nome que daremos a ele será José, pois somos proibidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de identificar menores de idade envolvidos em crimes sob a tutela do Estado. José hoje tem 17 anos e cumpre atualmente o regime semi-aberto de uma pena de dois anos pelo latrocínio que praticou. Durante toda a semana, ele fica recolhido, liberado apenas para frequentar a escola à noite e com permissão provisória de ficar com a família aos finais de semana. A nossa reportagem chega à unidade prisional onde os reeducandos deste regime estão recolhidos num 22 Alvorada
dia de segunda-feira de calor infernal, próximo ao horário do almoço. O prédio é grande, com vários cômodos, piscina e muros altos, num bairro de classe média alta. Tocamos o interfone e o portão se abre sozinho monitorado por uma câmera do sistema interno. Acredito que puderam ver que se tratava do jornalista agendado para entrevistar o menor José. O acesso principal da casa estava vazio. Ouviam-se apenas as vozes perdidas ao fundo, carregadas de gírias de adolescentes conversando uns com os outros no interior do local. Os muros eram cercados com cercas elétricas e arames enrolados por todos os lados. Encontro José encostado numa mesa de pingue-pongue, conversando com duas funcionárias. O garoto encabulado me olha e logo cumprimenta cabisbaixo como se eu já soubesse de todo o passado dele. Estendo a mão para cumprimentá-lo e ele retribui com o rosto baixado. Cada orelha dele estava furada com pequenos curativos, um sinal de que, num futuro próximo, cada buraco dará lugar a dois brincos. O rosto colecionava poucas espinhas típicas da idade, uma franja encaracolada na testa e, na panturrilha direita, uma grande tatuagem do famoso coiote do desenho animado infantil. A tatuagem ainda apresentava vermelhidões na pele; ao ser questionado, ele informou que os próprios colegas reeducandos fizeram aquela arte a seu pedido. Com voz fraca, quase sussurrada, me pergunta sobre o que vou falar e se esta reportagem o ajudaria a sair daquele lugar mais rapidamente. Após uma breve explanação sobre a revista, eu o convido para ir até a varanda da casa para que pudéssemos conversar melhor, na tentativa de quebrar a timidez e a desconfiança da primeira entrevista da vida dele. E, assim, José, sentado numa cadeira de rodinhas, começa a responder os questionamentos e, ao mesmo tempo, a afastar-se constantemente do microfone, um sinal claro de que não queria lembrar seu passado. Por diversas vezes, a entrevista foi inter-
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rompida por este afastamento físico inconsciente. Após 15 minutos de entrevista, José demonstra cansaço ao ouvir as perguntas. Suas respostas se tornam curtas, misturadas com muita inquietude. Seu olhar se desviava constantemente para a minha aliança, relógio, celular e câmera. Talvez este comportamento pudesse ser um ato contínuo de sua infância criminosa. Achamos por bem interromper. Hoje, ele afirma que largou o vício da maconha e o substituiu pelo cigarro. O menor reeducando ficará no semi-aberto até a avaliação positiva do grupo multidisciplinar. Muitos psicólogos e psiquiatras afirmam que mentes criminosas não são passíveis de cura, como é o caso de José, que matou friamente e de forma consciente aquela vítima desprotegida. Mas o interessante é ouvir da própria boca dele a vontade de mudar de vida. Cabe à sociedade, ao governo e à igreja acolherem ou encaminharem vidas como a do pequeno José. Um jovem rapaz de comportamento congelado diante de seu inexistente horizonte cultural e espiritual. Fica clara em suas curtas respostas a existência de um universo social do crime, onde os menores de idade são contratados como “laranjas” do custe o que custar da vida. Temos diante de nós uma lei de incentivo a esta nova classe de criminosos mirins que requer debate e definição urgente. O pastor evangélico, capelão da unidade, Manoel Albuquerque trabalha intensamente para a recuperação espiritual total do José. Do mesmo modo, os profissionais da saúde do recolhimento desta casa de custódia só querem liberar o menor mediante o bom comportamento dele nesta fase de acompanhamento. José é diferente dos demais e requer cuidado, pois praticava crimes por prazer. Mas aqui fica uma dúvida inquietante. Será que realmente a dificuldade da vida por trás dos muros o manterá no bom caminho? Assim esperam a família dele e toda a sociedade.
Fernando e o menor entrevistado
Neste momento, você, leitor da Revista Alvorada, acompanhará trechos importantes desta conversa com o menor reeducando José. Revista Alvorada - Quando você entrou para o mundo do crime?
pessoa. Só revelei este assassinato dias antes de ser preso porque um policial conhecido me disse que o delegado ia me pegar de qualquer jeito; aí eu me entreguei na delegacia. O outro (comparsa) começou a caguetar (contar) que eu havia matado o cara.
José - Eu desde cedo dei problema aos meus pais. Sempre arrumei confusão. Comecei a roubar depois dos onze anos. Tenho mais dois irmãos, mas eu era o mais bagunceiro.
José - Sim, fiquei muito arrependido. Até hoje, não vejo a hora de sair dessa.
Revista Alvorada - O que te motivava a roubar?
Revista Alvorada - O que você sentia quando roubava uma pessoa?
José - Era por puro prazer. Para mim, era dinheiro fácil, mas nunca havia passado pela minha cabeça matar alguém.
José - Eu achava "massa" (legal) fazer estas fitas (roubos). Eu tinha dinheiro na hora que precisava. Por isso, era bom.
Revista Alvorada - Você estava sob efeito de drogas quando matou aquele rapaz?
José - Eu não estava drogado. Só tinha fumado maconha. Eu estava consciente do que estava fazendo. Mas o cara esboçou que iria reagir e aí nós fomos para cima dele. Eu não queria matar ele. Revista Alvorada - O que passou na sua cabeça depois que você assassinou aquela vítima?
José - Eu fiquei meio atordoado. Não consegui dormir direito naquela noite. Fui embora para casa e passei um ano sem contar para os meus pais que tinha matado uma
Revista Alvorada - Você se arrependeu quando foi preso?
Revista Alvorada - Quando você deve ficar livre?
José – Olha, eu não sei. Só o pessoal (diretoria) sabe quando vou sair. Eu fiz muita coisa errada lá fora. Revista Alvorada - Você é a favor da diminuição da Maioridade Penal?
José - (demonstra desconhecimento) É que vai ficar mais tempo preso, é isso? Eu sou contra. Revista Alvorada - Qual profissão você quer exercer?
José - Não sei, não. Estou estudando para ver o que quero ser. Revista Alvorada - A sua vida mudou após o recolhimento?
José - Mudou demais. Já não tenho mais aquelas amizades que me influenciaram. Agora estou quieto e preciso ocupar a mente. Revista Alvorada - O que os seus pais falam para você?
José - Eles só ficam me dando conselhos para eu sair desta vida. Revista Alvorada - Você se encontra com seus amigos da época?
José - Eu me encontro com eles, mas só falo de boa rápido e já corto a conversa. Revista Alvorada - Você sofreu no regime fechado?
José - Cheguei lá arrependido. Mas nunca mexeram comigo. Já teve um que morreu lá dentro por causa de briga. Revista Alvorada - O menor de idade é assediado pelos criminosos maiores a participar de crimes?
José - Sim. Já fizeram várias propostas. Mas eu fazia crime por mim mesmo; não entrava nesta onda. Revista Alvorada - Você pensa em procurar uma igreja?
José - Já pensei, mas não vou. Não tenho tempo para ir à igreja. Eu fico mais em casa; não quero sair. O Fernando, jornalista, é membro da IPI Central de Palmas, TO
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SECRETARIA DA FAMÍLIA Sabemos que não existem mais valores para muitos na sociedade. Algumas mídias tentam convencer a cada um de nós que os valores absolutos que tínhamos já não são necessários e úteis. O que tem valor hoje são influências temporárias e concepções relativas.
Por que se preocupar
com a inversão de
ALEX SANDRO DOS SANTOS
Sempre procuramos um culpado! Quem tem culpa pela inversão de valores? O governo, na tentativa de agradar a todos e conceder direitos igualitários, tem negociado valores morais inegociáveis? A mídia, que para ter uma boa aceitação da sociedade não respeita limite algum, desde que haja público para sua programação? A sociedade, onde encontramos pessoas que, para satisfazerem seus desejos individuais, criaram uma nova ideologia de vida coletiva? A família, que se acomodou a um estilo de vida relativista e considerou cômodo não haver limites para os membros da família? De quem é a culpa? Talvez de todos. Governo, mídia, sociedade e família estão inseridos em uma realidade mutável. Infelizmente, muitas das mudanças têm sido para pior. A ideia filosófica do relativismo se tornou conveniente para todos. 24 Alvorada
Cada um faz o que quer baseado em sua interpretação dos fatos e de acordo com a sua consciência. O pior de tudo é que muitos ainda não se deram conta do caos para o qual estamos caminhando. Alguns nos questionam: por que se preocupar? Homossexualismo? Que bobagem! Cada um é dono de sua própria vida. Por que se preocupar? Ganância dos filhos? Deixe-os ganharem o dinheiro deles a qualquer custo; neste mundo, todos roubam. Por que se preocupar? Os jovens têm iniciado sua vida sexual cedo e sem o compromisso do casamento? Deixa de ser antiquado! Todos os casais de namorados transam nos dias de hoje. Por que se preocupar? A infidelidade conjugal cresce diariamente? Seja um casal moderno. O que os olhos não veem o coração não sente. E a sensualidade em que as crianças estão sendo inseridas hoje? É bom termos crianças mais espertas. Vai que
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valores?
elas fiquem solteironas por não entrar na “onda” da sociedade. Por que se preocupar? Você considera esse quadro perigoso? Você não só precisa se preocupar como precisa agir. Já passou o tempo da preocupação; agora é tempo de ação. Sabemos que não existem mais valores para muitos na sociedade. Algumas mídias tentam convencer a cada um de nós que os valores absolutos que tínhamos já não são
necessários e úteis. O que tem valor hoje são influências temporárias e concepções relativas. Como vencer essa realidade? Da mesma forma como ela tem nos vencido! Insistindo, persistindo e perseverando, lembrando que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. A inversão de valores só tem ocorrido em lares, empresas e ambientes públicos porque nós temos permitido. Permitimos pela omissão de
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nosso papel ou pela adesão aos novos valores. Ensine seus filhos! Cobre seus familiares! Discipline os que estão sob sua responsabilidade! Discorde da postura errada! Não dê ibope aos programas que incentivam a prática de ações erradas! Muitos estão confundindo amor com conformismo. Amar o que age de forma errada é um dever cristão; concordar com a sua ação errada é um descaso. A nossa lealdade é com a Palavra de Deus e
com Cristo. Nós não podemos nos preocupar em querer agradar ao mundo (1Jo 2.15-17). Há limites e eles precisam ser impostos. Há limites nos relacionamentos. Um filho precisa saber qual é o limite imposto pelo pai. O homem deve saber qual o limite de seu relacionamento com uma colega de trabalho. Um membro deve ter ciência do limite de seu relacionamento com a liderança de sua igreja. Alunos devem
ter limites com os professores. Por não haver mais limite, há muito desrespeito. E, pelo fato de muitos não demonstrarem respeito, vivemos em uma sociedade com poucos princípios morais. Eles não deixaram de existir; apenas deixaram de ser ensinados. Ao invés de procurarmos um culpado, precisamos reconhecer nossas falhas e fazer o possível para mudarmos essa situação. Seja influente e íntegro nos lugares em que você estiver
presente. Caso você tenha influência no governo, defenda os princípios cristãos. Se você tem acesso à mídia, use-a de forma responsável. Não se conforme com os procedimentos errados da sociedade! Faça diferença! Lembre-se de que, se você não conseguir fazer nada ou fizer muito pouco pelo governo, mídia e sociedade, você pode fazer muito pela sua família. O Rev. Alex, pastor da 1ª IPI de Machado, MG, é secretário nacional da família da IPIB
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PSICANÁLISE E ESPERANÇA
Lidando com as perdas 26 Alvorada
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Homens e mulheres estão sujeitos a perderem alguma coisa. Também qualquer ser humano está sujeito a dores psíquicas que levam as pessoas à perda de sono, de paz, e à experiência de uma vida angustiada, com tristeza.
LEONTINO FARIAS DOS SANTOS
O que devemos entender por “perdas”
Consideramos perdas bens ou conquistas de alguém que, de alguma forma, deixam de existir por causa de uma ruptura com aquilo que se perdeu e que causa dor. A perda se configura diante da impotência de se conseguir reverter ou mudar essa situação de dor. Quando isso ocorre e a pessoa fica paralisada ou estarrecida diante da perda, a vida fica comprometida. A princípio, entre os bens ou conquistas que podem ser objeto de perda estão a perda de um emprego, algo que pode significar ao mesmo tempo a perda da dignidade, do respeito de outros e do papel de provedor da família. É sempre trágica a perda de bens materiais, ocasionada por catástrofes com a destruição de casas, carros, móveis; a perda da saúde, de um órgão do corpo, de um ente querido, de um animal de estimação; a perda da identidade e a perda da fé.
As principais perdas inerentes ao ser humano:
0Perdas relacionadas ao nascimento A primeira grande perda do ser humano acontece quando se dá o nascimento da criança. A separação do ventre, isto é, do útero materno é considerada por Otto Rank (1924) um trauma. Ele considerou essa separação e suas consequências negativas como “trauma do nascimento”, gerador da angústia psíquica, inclusive. Acompanha essa situação a perda do seio e dos abraços maternos, tão significativos para o crescimento e desenvolvimento da criança. Melanie Klein, semelhantemente ao pensamento de Rank, refere-se à angústia da separação na relação ambivalente da criança com o seio da mãe. Vale lembrar também a situação de crianças que sofrem com a perda de atenção dos pais pelo nascimento de um irmão; nem sempre os pais estão devidamente preparados para lidar com essa situação para criar uma situação confortável para a vida afetiva e emocional da criança. Acrescente-se
também a perda pelas crescentes atividades dos pais; estes nem sempre percebem que os filhos sofrem com o aumento gradativo de suas atividades dentro ou fora de casa, roubando dos filhos o tempo precioso que poderia ser canalizado para o enriquecimento da vida afetiva e familiar. Para a criança também é significativo, e não poderia ser diferente, a perda sofrida diante da separação conjugal dos pais. Essas perdas, principalmente quando não reelaboradas de maneira construtiva, tendem a acompanhar a vida humana em todos os seus momentos. A mudança no estado civil, com a passagem do estado de solteiro para casado, também pode significar perdas, com consequências danosas, caso não tenha havido preparo para esse novo estado.
0Perda por envelhecimento O processo de envelhecimento é responsável por vários tipos de perdas: perda da beleza e saúde do corpo; perda da liberdade de movimentos, por causa de enfermidades; perda do status social, com a aposentadoria;
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perda de amigos e familiares; perda do sentido da vida diante do fantasma da morte que se aproxima; perda da auto-estima, e assim por diante. O momento da aposentadoria, por exemplo, ao mesmo tempo em que é algo ansiosamente esperado, é também algo dramático e temível.
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Nihan Aydin
0Perda diante da realidade da morte Diante da situação devastadora causada pela morte, um vazio psíquico se instala. A mente fica conturbada e o desejo é o de que a vida pare para que não se lembre mais da perda da pessoa amada para não sofrer com a sua ausência. É como se uma parte do nosso corpo fosse tirada! Mesmo que não seja caso de morte, a perda de um grande amor também representa uma dor maior até do que a morte de um ente querido da família. No caso da morte de uma pessoa querida, é normal a experiência do luto, uma tristeza natural, resultante de um desajuste que se dá na pessoa que sofre a ausência do ser amado. O luto é o período de reelaboração da realidade, na ausência da pessoa que faleceu. A experiência do luto, portanto, é necessária para o reequilíbrio psíquico. É um processo que é marcado pela dor e desorganização, e nos coloca diante de intensas emoções que dão a impressão que a vida nunca mais será a mesma. Nesse processo, no contato com o mundo real, o enlutado deve reconhecer e redescobrir que a pessoa que morreu já não existe mais. A dor da perda deve transformar-se em memória, saudade, lembrança, carinho. No processo de luto, somos desafiados a construir novos significados em relação ao tempo passado, presente e perspectivas para o futuro. Ao mesmo tempo em que é um processo doloroso, pode ser também fortalece-
dor, na medida em que pode contribuir para o amadurecimento diante da realidade da perda. Quando se perde alguém e se compreende a perda de maneira equilibrada, como parte do processo da vida, o luto é normal, repetimos; nesse caso, mesmo que a dor exista, ela diminui de intensidade. Reconheçamos, contudo, a relevância dos efeitos do luto sobre a saúde mental e física das pessoas diante de suas perdas. Quando o luto não é bem conduzido, há a constatação de altos índices de mortalidade nas pessoas enlutadas. É significativo o número de doenças que surgem após a perda de um cônjuge, de irmãos, pais ou filhos, quando o tempo de luto não é aproveitável. Vale reconhecer, porém, que o ritmo de amadurecimento nesse período varia de pessoa para pessoa. Por isso, o luto de um pode durar dois ou três meses e o luto de outro pode durar cinco ou seis, ou mesmo um ano. Dependendo das características do indivíduo, pode ocorrer o que Freud chamou de “luto cristalizado”, isto é, pode tornar-se patológico, correndo-se o risco de transformar-se em melancolia. A melancolia, de acordo com Cassorla (1992), resulta de lutos mal-elaborados, mal-resolvidos, nos quais a pessoa passa a viver também como se fosse um morto. Nesse caso, o indivíduo prefere juntar-se ao objeto perdido a permanecer separado dele. A melancolia, conforme descrita por Freud (Luto e Melancolia – 1915), está relacionada a “estados de depressão” que envolvem graves afastamentos das atividades da vida diária. Desânimo, redução da capacidade de amar e dos sentimentos de auto-estima levam o indivíduo a recriminar-se com atitudes de busca de autopunição para compensar a perda. Uma demonstração clara de insatisfação com
De qualquer forma, a perda, em qualquer situação, não deve ser considerada na perspectiva de que chegamos ao fim de tudo, mas como possibilidade para o surgimento de “coisas novas” em nossa vida. A Revista da Família nº 74 julho/agosto/setembro, 2013
o próprio ego, um sentimento de revolta e de abandono de si próprio.
0Perdas que reclamam luto O luto não deve ser apenas uma experiência de quem perdeu um ente querido com a morte. Há situações na vida humana que também deveriam ser objeto do luto. Quando se perde um amor ou quando pessoas terminam um relacionamento e não vivem ou elaboram o luto porque inconscientemente acreditam que perderam a capacidade de amar e ser feliz junto com a pessoa que já não está ao seu lado. Nesse caso, vem a melancolia e a pessoa passa a vivenciar uma tristeza que nunca se acaba. De outra forma, a experiência do luto ajudaria a ajustar o mecanismo psíquico e, assim, a pessoa que não mais está do seu lado passaria a ser apenas memória, lembrança. Neste caso, surge a possibilidade de buscar um outro amor e a felicidade. Vale lembrar que o luto, quando não exagerado, é sempre bem-vindo como uma possibilidade para elaborar e reelaborar a situação de perda, mesmo que não seja por motivo de morte.
0Perdas generalizadas Em síntese, não é demais reconhecer que estamos sempre sujeitos a muitas perdas. Homens e mulheres estão sujeitos a perderem alguma coisa. Também qualquer ser humano está sujeito a dores psíquicas que levam as pessoas à perda de sono, de paz, e à experiência de uma vida angustiada, com tristeza. Vale reconhecer que qualquer perda pode ocasionar uma sensação de abandono, vazio, mal-estar. O Rev. Leontino, psicanalista, é vice-diretor e professor da Faculdade de Teologia de São Paulo da IPIB
Como superar as perdas da vida
Diante da grande variedade de perdas às quais estamos sujeitos, é preciso aprender a conviver com elas e crescer por meio delas. Somos desafiados a elaborar e reelaborar as perdas, uma vez que, na vida humana, não há como evitá-las. De modo geral, reconheçamos, o sofrimento, no ser humano, é praticamente impossível de ser eliminado. Há perdas que se repetem antes de serem elaboradas, isto é, “resolvidas”. Todavia, de igual modo, afirmamos que o sofrimento com a perda pode ser transformado ou minimizado. Frisemos, mais uma vez, que quem perde alguém, por exemplo, não pode deixar que o luto se transforme em melancolia. Pois o luto, em si, não é uma experiência ruim. É um tempo natural de tristeza, que deve ser vivido de maneira reflexiva; é um processo justificado. Ele pode ser um tempo de ressignificação, de atividades criativas, até mesmo em memória da pessoa que já não está mais neste mundo. Do ponto de vista da Psicanálise, a experiência da sublimação tem sido uma alternativa para a superação da falta. Ela consiste na transferência da libido (energia vital ou sexual) para novos objetos ou novos fins, de forma produtiva. É um meio de aumentar a auto-estima.
Do ponto de vista da fé cristã
Como ocorre em várias religiões, também o cristianismo considera que o sofrimento é inerente ao ser humano, ao mesmo tempo em que é inevitável. Embora não possa ser eliminado, o sofrimento proveniente das perdas pode dar lugar a uma nova experiência de vida sob a ótica da fé e da esperança cristãs, para as quais “nem sempre tudo está perdido”. Muitos textos bíblicos mostram saídas significativas para a superação da dor provocada pelas perdas da vida. Em Filipenses 4.10-13, o apóstolo Paulo diz que, com Deus, que o fortalece, é possível conviver com suas próprias limitações e possibilidades, em todas as circunstâncias. Em Romanos 8. 31-39, ainda o apóstolo Paulo aconselha aos fiéis cristãos que, acima de tudo, contem com a certeza do amor de Deus para superar as adversidades causadas pela morte. No Salmo 23, o autor confessa que, tendo Deus como seu pastor, ainda que esteja no “vale da sombra da morte”, mesmo assim sentirá segurança. Em Isaías 65.17, o profeta refere-se à renovação do status quo, quando diz que Deus cria “novo céus e nova terra” e que “não haverá lembranças das coisas passadas”. Logo, as perdas poderão ser reelaboradas para uma nova fase na vida humana. De qualquer forma, a perda, em qualquer situação, não deve ser considerada na perspectiva de que chegamos ao fim de tudo, mas como possibilidade para o surgimento de “coisas novas” em nossa vida.
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CRISTIANISMO
Culpa e
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graça
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» MARCOS KOPESKA
Muito cedo fomos preparados para um mundo cruel de intensas trocas. Nos primeiros dias de aula, já ouvíamos dos pais: “Se não estudar bastante, vai ficar burro e não vai ser nada na vida”. Dos líderes religiosos ouvimos desde a mais tenra infância as ameaças: “Seja um bom menino, ou você não vai para o céu”. Crescemos ouvindo: “Faça por merecer e será efetivado no emprego”. O tempo passou e as advertências continuaram: “Se não produzir o correspondente à cota mensal, não podemos mantê-lo na empresa”. Por vivermos neste universo diário de trocas, acabamos por assimilar este padrão em nossa relação com Deus. Desde sempre nos foi inculcado o conceito de que Deus é o Deus da troca e não o Deus da graça. Aliás, “graça” – favor imerecido – se tornou um termo poético-religioso e não um conceito a ser vivido. Afinal, vivemos no mundo das trocas. Tentamos trocar bondade humana por aprovação de Deus. Procuramos trocar boas obras e caridade por salvação. Achamos que podemos trocar sacrifícios e penitências por dádivas. Este vazio de “graça” no coração do ser humano gera uma incessante busca pelo encontro gratuito e espontâneo “ser humano – Deus”. Em seu livro What’s so amazing about grace? (O que tem a graça de tão espantoso?), Philip Yancey diz que “o mundo anseia pela graça de uma forma que nem sequer reconhece”. Ele escreve: “Não admira que o hino ‘Amazing Grace’ (Graça Maravilhosa) tenha alcançado os ‘top 10’, 200 anos após ter sido composto. O compositor do hino John Newton, que outrora tinha sido um perverso, infiel e comerciante de escravos, estava sedento de graça. Após
Qual é nossa reação frente à graça? Devemos reconhecer que nada merecemos, somos indignos, e nos humilharmos diante do Deus que alcança os desfavorecidos.
ter descoberto a graça de Deus, ele nunca parou de se surpreender. E as pessoas não têm parado de cantar ‘Amazing Grace’. Graça é favor imerecido e, quando almejada pela troca, traz a culpa pelo fracasso. Num mundo em que tudo o que as pessoas conquistam é subproduto do merecimento, cada vez menos entendemos as verdades contidas na graça. Paulo, o apóstolo, diz: “Pela graça sois salvos mediante a fé...” (Ef 2.8). Logo, salvação não é conquista, mas presente de Deus. Favor imerecido. Conta-se que o matuto Antônio viveu pensando que era uma pessoa tão boa que, ao morrer, iria direto para o céu. Por isso, no dia da sua morte, ficou surpreso que as portas do céu estavam fechadas. Teve que bater. Aproximou-se Simão Pedro, o porteiro do céu, e perguntou-lhe o que desejava. “Quero entrar no céu, disse Antônio. Aqui é o meu lugar”. Simão Pedro olhou a lista e não encontrou o nome de Antônio. Mas ele insistiu tanto que Pedro considerou que poderia haver um equívoco e perguntou ao Antônio: “Bem, o que você fez de bom na terra para merecer o céu?” Antônio custou a se lembrar, mas finalmente disse: “Uma vez, eu dei dois reais para uma pessoa necessitada. Outra vez, dei um sanduíche para uma criança faminta e, outra vez, dei cinco reais para uma entidade filantrópica”. Não se lembrava de mais nada. Por mais que forçasse a cabeça, não se lembrou. Então Pedro virou para o lado, onde estava o arcanjo Gabriel e perguntou: “O que a gente faz com ele, Gabriel?” O arcanjo pensou um pouco, coçou a cabeça e lascou: “Acho que o melhor é a gente devolver pra ele os sete reais e um sanduíche, e mandar o cara para o inferno de uma vez”.
É... pelas obras da lei nenhuma carne será justificada... Pela religiosidade, menos ainda. Graça é favor, benevolência, perdão, mercê, agrado, diz o Dicionário Popular da Língua Portuguesa. O Dicionário Bíblico Universal, de Buckland, diz: "É aquele favor que o homem não merece”, mas que Deus livremente lhe concede; algumas vezes é posta em contraste com a lei (Rm 6.14); e também exprime a corrente de misericórdia divina, pela qual o ser humano é chamado, é salvo, é justificado e habilitado para viver bem e achar isso suficiente para ele (Gl 1.15). A palavra "graça" aparece mais de 150 vezes no Novo Testamento (quase 100% vezes nos escritos de Paulo). Ela quer dizer um favor demonstrado para com o absolutamente indigno. Trata-se, em outras palavras, de um presente gracioso de Deus e não de uma recompensa merecida. Nós nada merecemos. Nossas obras, religiosidade, conduta moral, esforços humanos não têm nenhum valor diante de Deus no que diz respeito à questão da salvação eterna. Qual é nossa reação frente à graça? Devemos reconhecer que nada merecemos, somos indignos, e nos humilharmos diante do Deus que alcança os desfavorecidos. Quando o frei agostiniano Martinho Lutero, depois chamado de reformador protestante, ofereceu ao mundo suas 95 teses, esta era uma de suas principais proposições: "Somente pela graça". Era a retomada da verdade bíblica esquecida em contraponto à culpa do pecado. Pense nas trocas que você já tentou fazer com Deus. Talvez seja o momento de um encontro com a maravilhosa graça. Deus o abençoe. O Rev. Marcos Kopeska Paraizo é pastor da 3ª IPI de Marília, SP
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COMUNICAÇÃO
Os efeitos das
redes sociais
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TIAGO NOGUEIRA DE SOUZA
Escrever essa matéria, primeiramente, me fez refletir a respeito de qual tem sido minha postura e quão distante eu tenho sido por causa das redes sociais. Muitos criticam o uso das redes sociais, porém elas se tornaram o principal meio de comunicação da nova sociedade. Isto é um fato. Marcar encontros, divulgar a vida, conversar com amigos e familiares, fazer amizades, tudo isso faz parte do dia a dia nas redes e é uma via sem volta, ou seja, a tendência é migrarmos tudo para a web. Pense você num belo restaurante diante de um suculento prato. A primeira ideia é pegar o smartphone, fotografar e imediatamente compartilhar nas redes sociais, esperando pelas "curtidas" dos amigos. Ou então, uma notícia, seja ela excelente ou má, você a espalha na rede, esperando os parabéns ou o consolo. Hoje, as redes sociais influenciam na forma de se comunicar entre familiares, cônjuges, amigos, profissionalmente, nas reivindicações dos direitos, na produção acadêmica e inclusive na exibição artística. Vivemos num tempo onde o antigo diário
pessoal virou uma “página aberta”. Até que ponto é saudável essa relação virtual em relação à presencial? Para o Rev. Hernandes Dias Lopes, pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, todo progresso traz riscos, mas ele em si não é um mal. Muitos usam a rede virtual com o propósito errado. Para o pastor, as redes sociais são uma oportunidade para esparramar as boas novas. A questão não é a rede social, mas como as pessoas a usam. E esta é uma decisão pessoal. A psicóloga Laura Jacoby, membro da Comunidade Presbiteriana Chácara Primavera, diz que o acesso às tecnologias é positivo. No entanto, as pessoas podem se acomodar com a facilidade e priorizar esse meio, perdendo oportunidades de desenvolverem um vínculo saudável de proximidade que somente a presença e o contato físico podem oferecer. As redes socias estão sendo usadas para uma super exposição Não dá para negar que as redes sociais são usadas como uma espécie de
terapia virtual em grupo. Facebook, Twitter e até o moribundo Orkut se transformaram em murais de desabafos, lamúrias, reclamações e pedidos - sutis ou nem tanto - de ajuda, compreensão, elogios e outras coisas. Entre um choramingo e uma frase de efeito, há quem se beneficie não só com os comentários que suas queixas ou indiretas despertam, mas com o alívio que compartilhá-las proporciona. A psicóloga Laura diz que a super exposição acarreta nas famílias a falta de privacidade. Situações que antes era partilhadas somente entre alguns membros da família, agora, devido à internet, estão expostas para o mundo todo ver. Na mesma linha, o Rev. Hernandes afirma que a liberdade de uma pessoa se comunicar com outra que não está fisicamente presente leva a uma certa abertura insinuadora e perigosa. E poderá colocar a pessoa num terreno escorregadio, abrindo portas para a infidelidade conjugal, promiscuidade, que são janelas para o mundo e que nos levam para longe dos princípios e valores do Reino de Deus.
Entrevista com o Rev. Hernandes Dias Lopes Por que o relacionamento pessoal tem sido trocado pelo virtual?
Rev. Hernandes – Na nossa sociedade, à medida que vai avançando em números, automaticamente, as relações deixam de se tornar intensas e, de certa maneira, retrocedemos em afetividade, integração e aliança. Estamos nos encolhendo. E o pior é que isso tem acontecido dentro da nossa casa. Precisamos romper essa barreira sem perder as fronteiras. Na sua visão, o que tem acontecido e colaborado para a falta de tempo nos relacionamentos?
Rev. Hernandes - A tensão entre o urgente x importante. O problema é a falta de prioridade. Temos 24 horas como anteriormente. O problema é não
atender a ordem da vida. O urgente tem sido a nossa prioridade sempre. E, por causa do urgente, sacrificamos aquilo que é importante. Precisamos trabalhar em nossa vida com o importante. O contato com pessoas é importante. Percebemos, em muitas famílias, o virtual tomando lugar do presencial. Como podemos mudar ou colocar um limite?
Rev. Hernandes - O limite é o diálogo. A comunicação dentro de casa precisa de um constante “check-list”, sobretudo no relacionamento entre pais e filhos. Não podemos perder essas coisas de vista. Cabe aos pais ter a clareza do que é importante e do que é urgente. Cabe aos pais estabelecer limites, parâmetros, critérios. Os pais hoje estão perdendo a
liderança sobre os filhos, alguns por pura imaturidade. Como pais, não podemos perder a ponte do contato interpessoal. Se perdemos isso, vai ser gerado um desajuste na família. Pai e mãe precisam assumir as potencialidades e os riscos.
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Estrevista com Laura Jacoby Não é possível estar acessível – e disponível – 24 horas por sete dias. Mas seria bom estabelecer alguns encontros entre os membros da família. Por que são saudáveis estes encontros?
Laura Jacoby - O ser humano é um ser relacional; não foi criado por Deus para viver só. O contato físico é necessário para o desenvolvimento físico, emocional e social de uma pessoa. Cada família tem uma rotina; algumas têm a dificuldade de estarem fisicamente próximas. O contato virtual pode ser uma das formas de estabelecer a comunicação, mas não a única, pois isto pode gerar sentimento de abandono e rejeição. Outra forma pode ser criar encontros semanais ou quinzenais, com atividades de prazer e lazer de que todos participem e que todos possam sugerir até chegarem num consenso . O mais conhecido é em torno da mesa, onde a comida pode ser uma forma de unir, desenvolvendo uma atmosfera de amizade. Outra forma pode ser um esporte, a música ou outros. Por que se tem trocado o contato pessoal pelo relacionamento virtual?
Laura Jacoby - Porque a conquista, a sedução, a aproximação das pessoas demanda tempo, dinheiro e motivação pessoal, e acaba dando muito trabalho.Uma pessoa, quando quer seduzir outra, tem que se deslocar até o lugar onde a outra pessoa se encontra, tem que usar sua melhor roupa, seu melhor perfume, sua melhor forma de se comunicar para seduzi-la. Vivemos um período no qual as pessoas não querem mais perder tempo, não sabem mais esperar. Antigamente, acontecia a conquista, o namoro, o compromisso, a aliança, o sexo. Os relacionamentos atuais não seguem essa ordem porque demora muito tempo; há uma busca pelo prazer imediato. Este fato gera cada
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Laura Jacoby e a família
vez mais nas pessoas um vazio, uma intranquilidade, uma falta de paz, uma falta de Deus. Pois só Deus pode preencher o vazio do ser humano. A internet é um mecanismo que trouxe grandes avanços . Como devemos usá-la para melhorar relacionamentos?
Laura Jacoby - A internet e todos os avanços tecnológicos chegaram para facilitar nosso dia a dia e devemos aproveitar os seus benefícios. Os aspectos negativos estão relacionados à dependência, ao vício, que pode se transformar em patologia, como o TOC (Transtorno Obssessivo Compulsivo). Nesta fase, é necessário aconselhamento pastoral ou ajuda profissional de um psicólogo ou de um psiquiatra. As pessoas podem estar substituindo algo que falta nelas como: traumas da infância, carência de amor, de atenção, de carinho, decepção, ódio, raiva, falta de perdão. Esses sentimentos guardados geram muita frustração, que pode ser compensada na forma mais rápida de prazer, que são as compulsões.Os pontos po-
O ser humano é um ser relacional; não foi criado por Deus para viver só
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sitivos da utilização dos avanços tecnológicos estão em diminuir as distâncias entre pessoas. Viver acontecimentos em tempo real, que contribuem para despertar emoções e sentimentos instantâneos, aproximando mais as pessoas e estreitando vínculos e relacionamentos. O apóstolo Paulo nos ensina uma forma de alerta: “Tudo posso, mas nem tudo me convém”. O Tiago é candidato ao Ministério do Presbitério Sudoeste de Minas
Mídia digital motiva “crentes” autônomos EDELBERTO BEHS
A mídia digital empodera pessoas na escolha religiosa, no desenvolvimento de “crentes” autônomos, disse o professor Stewart Hoover, da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos. Autoridades eclesiais perderam o controle sobre os símbolos religiosos e têm dificuldades de encontrar modelos para divulgá-los, ao contrário da mídia. Tratados como campos separados até os anos 60, mídia e religião passaram a convergir, apontou Hoover em palestra para alunos de jornalismo, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), RS. Hoje, pesquisadores voltam seus olhares para o fenômeno da religião digital. As tecnologias digitais, explicou o diretor do Centro para a Mídia, Religião e Cultura, são o espaço específico onde a religião está sendo modificada, trazendo autonomia pessoal, provocando o declínio da autoridade religiosa, transformando a lógica estética da própria mídia e gerando culturas digitais. Nesse novo espaço, as igrejas históricas têm pouco a fazer. Elas existem num mercado competitivo e encontrarão novas plateias se abrirem mão de sua essência teológica, perdendo, assim, sua identidade. “O frame da mídia é que determina quem fará sucesso no mercado”, disse. O espectro religioso passa por tremenda transformação, anotou o professor. A cantora pop norte-americana Madonna, usando crucifixos em suas apresentações, seria inconcebível e até mesmo intolerável
há 50 anos. Hoje, essa apropriação está fora do controle da autoridade religiosa. As pessoas não aceitam mais que padres e pastores lhes digam como e em quem devem acreditar. A própria mídia passou por mudanças no período. “Ela está mais autônoma, mais comercial, mais competitiva e ganhou mais poder. Ela está em toda a parte e inclusive fornece subsídios para quem busca o religioso”, afirmou Hoover. Um dos objetos de pesquisa desenvolvida do Centro para a Mídia, Religião e Cultura é o site PostSecret, apontado pelo palestrante como exemplo de mídia digital que favorece a autonomia dos internautas, desenvolvendo uma nova forma de prática simbólica. O site nasceu da experiência de Frank Warren. Ele pediu às pessoas que escrevessem cartões postais anônimos, neles contando algum segredo. A recepção foi tal que Warren decidiu abrir esse espaço na internet. Na atualidade, ele posta 30 desses “cartões” por semana no site que tem 4,1 milhões de visitantes exclusivos. PostSecret, definiu Hoover, é um projeto de arte pública, mas também um fórum para o discurso crítico e de resistência à religião. “Deus, gostaria que você sentisse falta de mim assim como eu sinto falta de você”, é uma dessas mensagens anônimas postadas no PostSecret.
O Edelberto é colaborador da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC) http://www.alcnoticias.net
As pessoas não aceitam mais que padres e pastores lhes digam como e em quem devem acreditar. A Revista da Família nº 74 julho/agosto/setembro, 2013
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CONEXÃO JOVEM
O Senhor aguarda respostas ao seu chamado para a liberação de seu poder. Essas respostas que devemos enviar aos céus chamam-se adoração e entrega total. WAG ISHII
Upload e download parte 3 Na edição passada, tratamos sobre o assunto sistema operacional. Assim como todo computador tem um sistema operacional instalado, todos nós temos um ser interior que recebe, arquiva e processa todas as informações racionais, emocionais e espirituais de nossa vida. Toda pessoa necessita de uma formatação de seu ser interior, chamada novo nascimento, para viver a verdadeira vida em Cristo. Sem esse processo do novo nascimento, nosso sistema torna-se ultrapassado e incapaz de estabelecer a conectividade com aquele que nos projetou e nos desenvolveu,
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o próprio Deus. Somos fabricados pelo céu e projetados para manter um relacionamento de atualização constante com o Pai. Esse relacionamento de conectividade se resume em envio e recebimento de dados, o qual chamamos de upload e download. Upload significa o envio de dados de nosso aparelho local para a rede virtual e download significa o recebimento de dados da rede virtual para o nosso aparelho local. Após a formatação do novo nascimento, o nosso ser interior está destravado para um universo de atualizações racionais, emocionais e espirituais em Cristo. Romanos 12.2 diz: “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para
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que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”. Ser como Jesus Cristo é o maior propósito de Deus para o crente. A Bíblia, em muitos versículos, afirma que a vontade do Pai é que sejamos à imagem e semelhança do seu Primogênito. Romanos 8.28 e 29 diz que o destino que Deus traçou para aqueles que o amam e foram por Ele chamados é “serem conformes à imagem de seu filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Em 1 Coríntios 11.1, o apóstolo Paulo chama os cristãos a serem seus imitadores, assim como ele tem imitado a Cristo. Dessa forma, Deus tem todos os dias um download de atualizações para buscarmos e sermos aperfeiçoados nele.
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Para sermos como Jesus, é necessário termos o nosso caráter e a nossa conduta transformados. Afinal, a imagem de Deus em nós foi corrompida pelo vírus do pecado. Paulo ensina que esse upgrade é realizado pelo Espírito Santo à medida que vamos experimentando a presença de Deus em nossa vida através de uma vida de oração e entrega. Ele diz em 2 Coríntios 3.18: “E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Algo importante a se observar é que o download celestial é liberado à medida que fazemos o upload a Deus. O
Senhor aguarda respostas ao seu chamado para a liberação de seu poder. Essas respostas que devemos enviar aos céus chamam-se adoração e entrega total. Quanto maior o seu upload, maior será o download liberado; quanto maior for sua entrega, maiores serão as promessas sobre sua vida! “Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes” (Jr 33.3). “Está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam” (1Co 2.9). Mais de Deus sobre sua vida! O Wag Ishii é líder de jovens e adolescentes da IPI de Rolândia, PR
wagner@ventoimpetuoso.com.br 0 www.facebook.com/prwagishii
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MINISTÉRIO FEMININO
Revª. Grytsje Couperus é pastora da IPI Central de Botucatu
MARCOS STEFANO E ALLISON CARVALHO
Revª Ildemara Bonfim é pastora da 1ª IPI de São Paulo
Revª Elena é pastora da Igreja Metodista em Jardim 38 Alvorada A Revista da Família Colorado, São Paulo
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ora ulo
Lugar de mulher é no púlpito
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As mulheres conquistaram o direito de trabalhar fora de casa, de votar e de liderar. Até nos templos, onde se levantaram dos bancos para falar, cantar, visitar, administrar e – ousadia maior – pregar e ensinar. “A ordenação feminina não tem ligação com o feminismo moderno. Porém, é inegável que a sociedade mudou e que as mulheres estão se organizando para ocupar espaços
MARCOS STEFANO
Em janeiro de 2014, a IPIB estará comemorando uma data histórica. Há cerca de 15 anos, mais precisamente nos dias 28 e 29/1/1999, uma reunião extraordinária do então Supremo Concílio – hoje Assembleia Geral –, realizada em Campinas, SP, aprovou significativas mudanças na Constituição da denominação. Entre elas, a ordenação feminina para o Ministério da Palavra e dos Sacramentos. Não foi um processo simples. Foram necessários anos de debate, estudo, superação de questionamentos, críticas e preconceitos. Mas desde que a Reva. Lucilêde Pereira foi ordenada pastora pelo Presbitério Distrito Federal, em maio de 2000, diversas outras mulheres têm seguido o mesmo caminho, tornando-se presbíteras ou pastoras, assumindo igrejas e trabalhos Brasil afora. Hoje, ver uma mulher no púlpito é algo natural para a grande maioria dos presbiterianos independentes. O que não quer dizer que todas as oposições tenham sido vencidas, pois, apesar do longo caminho já percorrido, ainda falta muito para que homens e mulheres tenham condições iguais para trabalhar na obra de Deus. Durante muito tempo, a própria
Bíblia serviu de justificativa contra a ordenação do chamado “sexo frágil”. Apesar da importância da figura feminina na história de Israel, com personagens como Débora, que se tornou juíza da nação, e Raabe, a prostituta tão importante na tomada de Jericó e integrante da genealogia de Jesus, elas eram associadas a situações de ruína moral no Antigo Testamento e criticadas pelo deslize de Eva, pela traição de Dalila ou pelas manipulações de Jezabel. O Novo Testamento valorizou bem mais as mulheres. Maria foi escolhida para ser a mãe do Salvador e outra Maria, enviada para anunciar pela primeira vez sua ressurreição. No entanto, a imagem que continuou sendo evocada ao longo dos séculos era a da submissão, com o véu na cabeça e a boca fechada, tal qual ordenou Paulo às mulheres de Corinto. No quarto século, quando a igreja decidiu que os sacerdotes deviam ter dons específicos dados por Deus, a ordenação feminina acabou definitivamente descartada e, desde então, com o aumento das exigências e o aparecimento do celibato, os púlpitos se tornaram ainda mais exclusivos dos homens. Nem mesmo a Reforma Protestante, em seus primórdios, fez questão de mudar essa
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As mulheres marcaram presença na última reunião do Supremo Concílio da IPIB em 1999
situação. Mas, do martírio de Joana D´Arc ao feminismo radical de Betty Friedman, revoluções sociais, políticas e culturais aconteceram e a igreja não passou incólume às mudanças. As mulheres conquistaram o direito de trabalhar fora de casa, de votar e de liderar. Até nos templos, onde se levantaram dos bancos para falar, cantar, visitar, administrar e – ousadia maior – pregar e ensinar. “A ordenação feminina não tem ligação com o feminismo moderno. Porém, é inegável que a sociedade mudou e que as mulheres estão se organizando para ocupar espaços. A igreja é um deles”, explica a Reva. Shirley Maria dos Santos Proença, pastora ordenada pela IPIB em 2000 e uma das principais articuladoras do movimento pela ordenação feminina a partir dos anos 1980. Mais do que um sinal dos tempos, para ela, o grande motivo da mulher ter adquirido importância e chegado às instâncias decisórias da igreja é uma melhor concepção teológica: “Hoje, temos uma leitura mais contextualizada da Bíblia. Quando Cristo deu dons aos seres humanos, chamando uns para pastores, outros para mestres ou evangelistas, não disse que esses dons eram exclusivos do sexo 40 Alvorada
masculino. Acredito que a ordem de Paulo para a mulher ficar calada tenha sido específica ao contexto de Corinto”. Foi com esse pensamento que ela ingressou na faculdade em 1978. Sonhava com a carreira pastoral, mas sabia que não seria fácil. Mulheres vinham estudando teologia desde os anos 40, 0, mas não com o propósiito de subir aos púlpitos. s. Não que a discussão não o existisse. Ela conta que o assunto estava em pauta a 0, desde o final dos anos 60, o mas, com o argumento ade que a igreja não estao, va preparada para aquilo, o. era sempre engavetado. A partir da década dee o 80, com apoio do grupo de jovens e da Sociedadee s, Auxiliadora de Senhoras, tã o o debate foi aberto. Criou-se então Grupo de Reflexão do Ministério Feminino, fizeram-se debates, e artigos foram escritos e publicados em O Estandarte, órgão oficial da IPIB. Nesse tempo todo, a Reva. Shirley
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O primeiro encontro (organização) do Grupo de Reflexão de Ministério Feminino ocorreu em 13 de julho de 1991, na 1a. IPI de São Paulo e foi dirigido por Cassia Ciano e Sueli da Silva Machado
Elizabete Carvalho Teófilo é uma das 148 mulheres atualmente ordenadas ao ministério pastoral nas igrejas da Convenção Batista Brasileira (CBB).
ouviu argumentos contrários, críticas e gracinhas. No tempo de faculdade, era comum alguns colegas que não lidavam bem com o tema provocarem: “O que uma mulher faz por aqui?” ou “Só pode estar procurando marido”. Mas a oposição masculina não era a pior. “Havia restrições de homens, mas muito mais de mulheres. Essas foram mais difíceis de serem superadas. Para tanto, tivemos que conversar muito e realizar vários encontros e debates locais e regionais. Na reunião conciliar, o tema não passou com muita folga, mas encontramos muitos pastores e presbíteros favoráveis à causa”, conta ela. Após ser ordenada, a Reva. Shirley trabalhou primeiro em secretarias do Presbitério Santana. Depois, no Presbitério Bandeirantes, pastoreou a 1ª e a 4ª IPI de Guarulhos, e atualmente presta serviço à Faculdade de Teologia de São Paulo (FATIPI).
Machismo
A competência feminina é atestada nas áreas de educação, música e ação social de qualquer igreja evangélica. Seria de supor que isso acontecesse também no ministério pastoral. Mas nem sempre é assim. “Qualquer homem pode ser pastor. Em alguns casos, mesmo que não tenha voca-
ção para tanto. Mas a mulher precisa matar um leão por dia, dar frutos e ainda superar a discriminação para exercer seu chamado”, afirma Elena Alves Silva, pastora da Igreja Metodista em Jardim Colorado, na Zona Leste de São Paulo, e profes-sora da Universidade Metodista dee São Paulo (UMESP). Os metodistass aprovaram a ordenação feminina em m 1971. Ainda assim, nas duas primeiiras décadas, as candidatas ao minisstério sofreram bastante preconceito to e poucas resistiram, concluíram os estudos e se engajaram no ministério. io. Quando conseguiam, optavam por aqueles alternativos, como pastorais i com crianças, mulheres, boias frias, meninos e meninas de rua. No máximo, uma igreja local ou atuando ao lado de um pastor, com quem se casavam. “Nos últimos tempos, muita coisa mudou. Cerca de 25% do corpo pastoral é hoje composto por mulheres e, há alguns anos, elegemos uma espiscopisa – feminino de bispo -, no Nordeste. Apesar desses avanços, no geral, a mulher ainda é vista como “tapa buraco”: longe dos cargos maiores e mais importantes e com as tarefas mais difíceis, em comunidades mais distantes e sofridas”, analisa a Reva. Elena, que está no ministério há 26 anos e já diri-
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Amigas há anos, as Revas. Elena e Shirley acompanharam, em 2012, a defesa de mestrado da Reva. Sueli na Universidade Metodista
Os metodistas aprovaram a ordenação feminina em 1971. Ainda assim, nas duas primeiras décadas, as candidatas ao ministério sofreram bastante preconceito e poucas resistiram, concluíram os estudos e se engajaram no ministério.
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A Reva. Maria Cristina Glória exerce o ministério há 10 anos ao lado do esposo, Rev. Heitor Glória
A Reva. Maria Cristina, depois de sofrer discriminação velada, hoje tem o apoio total da igreja
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giu 6 igrejas. Mesmo com tantos problemas, ela vê o futuro do ministério feminino com boas perspectivas. E lembra de dois casos que viveu para atestar isso: “Assumi o pastorado de uma comunidade quando meu filho mais novo tinha apenas um ano. Era um bebê e dormia no colo das irmãs ou no banco, em um travesseiro feito por uma das “vozinhas” da igreja. Na minha avaliação, no final daquele ano, um homem se levantou e disse que eu não deveria continuar, pois não considerava aquilo certo, não achava possível eu ser pastora e mãe ao mesmo tempo. Fiquei triste, mas ninguém apoiou isso. O voto dele foi vencido e permaneci por mais um ano”. Outro caso aconteceu em uma comunidade que ela dirigiu por 5 anos, quando precisou sair para assumir outro compromisso pastoral. Para sucedê-la, dois pastores foram nomeados. “Quando foi lida a nomeação na igreja, uma senhora se levantou e falou para todos: ‘Só assim mesmo. Para substituir nossa pastora precisaram colocar dois homens’. Todos riram, mas até hoje se lembram e apoiam aquelas palavras”. Lutas e vitórias também não faltaram para Elizabete Carvalho Teófilo, uma das 148 mulheres atualmente ordenadas ao ministério pastoral nas igrejas da Convenção Batista Brasileira (CBB). Há 16 anos no santo serviço, ela atualmente está à frente da Igreja Batista Esperança, em Fortaleza, CE. “É uma igreja que me dá todo o apoio para desenvolver meu ministério. Mas já trabalhei com plantação de igrejas, implantei e desenvolvi o Ministério de Restauração da Alma (Rever), liderei pequenos grupos de comunhão, realizei trabalhos sociais e participei de grupos de oração. A verdade é que há longo tempo as missionárias abençoam e até pastoreiam o povo de Deus, mas só agora têm o direito à ordenação. Mas não sem oposição”, explica. Ela lembra pelo que passou quando foi eleita presidente de sua convenção estadual. Na época, uma das igrejas pediu desligamento, alegando que Jesus não tinha chamado nenhuma mulher para o corpo apostólico e que
elas não podem ter autoridade sobre as igrejas. Quando terminou seu primeiro mandato, Elizabete não decidiu concorrer à reeleição. Quando outro presidente foi eleito em seu lugar, um homem, aquela igreja voltou à convenção. “No momento, senti-me mal. Mas entendi que era apenas momentâneo e procurei seguir em frente. A verdade é que uma coisa é estabelecer a ordenação feminina como um direito e outra de fato. Embora o número de pastoras batistas ainda pareça pequeno, é um grande avanço num país machista. Ainda precisamos buscar – e muito – por oportunidades iguais e salários dignos, nesse meio”, completa ela. Se em algumas denominações o debate ainda provoca furor, em outras, é bem mais tranquilo. É o caso da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). A igreja comemorou os 30 anos da aprovação da ordenação feminina no fim do ano passado com muita festa. “Na IECLB, a ordenação feminina acontece sem restrições. A única coisa exigida da candidata é que esteja teologicamente bem preparada. Mesmo em minha primeira experiência, fui bem recebida e não tive dificuldades nem com os membros nem com a liderança”, garante a pastora emérita Rita Marta Panke. Em 1976, Rita foi a primeira mulher luterana a assumir uma paróquia no Brasil. Enviada a Candelária, RS, ela se tornou ministra pastoral. Dois anos depois – um período prático então exigido pela igreja antes da ordenação definitiva tanto de homens quanto de mulheres –, ela estava apta para a consagração. “Por razões pessoais, aceitei a ordenação definitiva apenas em 1983. Por isso, apesar de ter assumido a primeira paróquia, não fui a primeira a ter o título de pastora”, diz Rita. No meio luterano, quando se fala em “mais tranquilo”, não se quer dizer “sem qualquer dificuldade”. De acordo com levantamento da própria IECLB, a igreja possui atualmente 350 ministras ordenadas. São pastoras, catequistas, diaconisas e missionárias, em um total de 1.220 pessoas ordenadas. Mas as mulheres já representam 50% dos estudantes de teologia, o que
deve fazer com que o número de ministras suba rapidamente nos próximos anos. Elas terão de lidar com a falta de campo de trabalho para pastoras e a discriminação em algumas paróquias que ainda não conseguem ver na mulher uma liderança tão importante quanto a do homem. Sem falar que nem todo luterano aceita a ordenação feminina. A Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), por exemplo, até hoje não aceita mulheres no pastorado.
Desafios
Não é somente entre os luteranos que uma visão mais liberal do ministério feminino está longe de ser unanimidade. Entre os presbiterianos, isso também se repete. Apesar da IPIB aceitar a ordenação feminina, a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) é contra. Os argumentos para quem faz distinção entre o papel de servos e de servas é variado. Alguns se baseiam no fato de Jesus não ter chamado mulheres para o apostolado. Outros reduzem a importância da cultura judaica e enxergam nas palavras de Paulo em 1 Coríntios 11 uma regra espiritual e atemporal. Seguindo esse raciocínio, defendem a liderança masculina não somente no lar, mas também no ministério. “Esse debate foi travado durante vários anos e acredito que já esteja resolvido na IPIB. Respeito quem discorda teologicamente da ordenação feminina, mas acredito que a maior dificuldade, dentro e fora das igrejas, não seja de interpretação das Escrituras, mas de preconceito contra a mulher”, defende a Reva. Maria Cristina Moro Glória, pastora da IPI de Henrique Jorge, em Fortaleza, CE. Natural do Espírito Santo, ela está há 32 anos no Nordeste brasileiro, região que diz ter aprendido a amar e onde exerce o ministério há 10 anos. Para que essa
A pastora emérita Rita Marta Panke foi a primeira mulher luterana a assumir uma paróquia no Brasil.
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A mulher não precisa mais se preocupar em agradar ou em provar qualquer coisa. Precisa trabalhar com dedicação e compromisso, confiando que o Senhor se encarregará de prover os frutos.
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Cultura da submissão Não é somente no Brasil e entre os protestantes históricos que a ordenação feminina divide opiniões. O tempo é de reavaliar preceitos, seja para apoiar, seja para combater. Não é de hoje que os pentecostais aceitam mulheres como pastoras. Mas o fato das Assembleias de Deus da Convenção de Madureira começarem a ordenar figuras públicas, como a cantora Cassiane, ao pastorado, vêm gerando um intenso debate, que se espalha por outros ministérios e convenções. Vale lembrar que os neopentecostais – como a Universal do Reino de Deus, a Renascer em Cristo e a Igreja da Graça – já ordenam mulheres sem restrições. Por outro lado, para evitar possíveis divisões, alguns têm optado por posturas mais conservadoras. Recentemente, a Igreja Anglicana na Inglaterra derrubou a proposta pela qual mulheres poderiam ser ordenadas episcopisas. Enquanto na Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos, mulheres já podem ser ordenadas a cargos mais elevados, no berço da Igreja Reformada, o debate entre reformistas e tradicionalistas permanece intenso.
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Panorama bem diferente daquele visto na Igreja Católica Romana. Apesar de algumas ações promovidas por grupos dissidentes, que chegaram a ordenar centenas de mulheres nos Estados Unidos há poucos anos, o sacerdócio ainda é considerado exclusivo para homens. E não há perspectivas de que isso venha a mudar. O antigo Papa, Bento XVI, reiterou a proibição da ordenação feminina. E o novo, Francisco, já disse várias vezes que pensa da mesma maneira. Nas outras religiões, a situação é ainda mais difícil. O judaísmo tradicional coloca a figura feminina num segundo plano, a ponto de, no passado, as mulheres só poderem assistir algumas cerimônias por um buraco na parede da sinagoga. Tudo para que não estivessem no mesmo ambiente dos homens. Já para os muçulmanos, as mulheres podem participar das orações nas mesquitas, mas devidamente trajadas com um longo véu, o shador, e num canto, separadas dos homens. Isto é, se não estiverem menstruadas. Em seus “períodos”, elas estariam liberando as impurezas e, portanto, sem condições de orar e jejuar.
Nas outras religiões, a situação é ainda mais difícil. O judaísmo tradicional coloca a figura feminina num segundo plano, a ponto de, no passado, as mulheres só poderem assistir algumas cerimônias por um buraco na parede da sinagoga.
combinação tivesse êxito, o amor divino foi realmente essencial. “O nordestino carrega fama de machista e muitos realmente são. Mesmo na IPIB, recordo dos problemas enfrentados pelas primeiras presbíteras. Quando não eram confrontadas, eram ignoradas. Não foram poucas as vezes que o conselho da igreja de Henrique Jorge marcava reuniões e simplesmente ‘esquecia’ de chamá-las, como se elas não fizessem parte do ministério”, lembra. Para vencer o problema, Maria Cristina contou com paciência, oração e tempo para mostrar sua capacidade: “Durante 6 anos, atuei como pastora auxiliar de meu esposo, o Rev. Heitor Glória. O que não aprendi no seminário, esse período se encarregou de me ensinar. Inclusive, a discriminação velada por parte dos oficiais da igreja, que não estavam preparados para serem liderados por uma mulher”. Tempos duros, mas que, alegra-se ela, ficaram para trás. Hoje, o apoio às mulheres na IPI de Henrique Jorge é total. “A mulher não precisa mais se preocupar em agradar ou em provar qualquer coisa. Precisa trabalhar com dedicação e compromisso, confiando que o Senhor se encarregará de prover os frutos”, aconselha. Uma lição valiosa e que precisa ser aprendida em todas as igrejas. “Há regiões em que não temos ainda nem presbíteras. Em outras, as mulheres até são ordenadas, mas acabam encaminhadas para igrejas distantes e cheias de problemas. Onde está o apoio dos presbitérios para resolver isso?”, questiona a Reva. Shirley Proença, mostrando que ainda há uma diferença entre a autorização legal e o reconhecimento prático e de fato do ministério feminino. Afinal, mais do que resultado dos tempos modernos, a ordenação de mulheres ao Ministério da Palavra e dos Sacramentos surgiu como aprimoramento do crescimento e da maturidade espiritual da igreja, com a finalidade de melhor realizar sua missão. “Precisamos trabalhar para que as novas gerações conheçam essa história. Moças têm liberdade para estudar teologia, mas não mostram a mesma urgência missionária do passado. Só renovando a visão, conseguiremos avançar e mudar o que ainda falta ser mudado”, conclui ela. O Marcos é jornalista
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POESIA
Comemoramos nesta data o movimento da Reforma Da igreja de Jesus, desviada de sua norma. Enclausurada nas trevas sem a luz da Escritura, Abrigando sérios erros, então houve a varredura.
31 de Outubro
Dia da Reforma DICLA BORGES MENDES
Quando aqui no mundo o cristianismo apareceu, Quem interpretava a lei era escriba e fariseu. Prevalecendo a tradição, o ensino real se perdeu. Valia preceito humano – contra o que Jesus se bateu, Apontando para a “fonte” afirmou: “está escrito...” A verdade revelada é o único gabarito! Mas, no passar dos séculos, novamente aconteceu, Uma outra tradição alcançou o apogeu. Reformadores anunciaram: salvação só pela graça; Esforço humano é inútil e resulta em desgraça. Assim está na Escritura – Efésios dois, oito e nove – Pois só ela é o padrão que todo erro demove. Só a Fé, só a Graça, só a Escritura, Foi da Reforma a inabalável postura, Reconduzindo a igreja à suprema autoridade Da Bíblia Sagrada, por ser a única verdade. Neste tempo presente, em que a heresia se alastra, Na Igreja Reformada é preciso haver “pilastra”. Cristão que se firma na Palavra que Deus deu É atual reformador – seja você, seja eu! A Presba. Dicla é membro da 4ª IPI de Sorocaba, SP
UM CONVITE A OUVIR A VOZ DE DEUS E RECEBER DELE A SABEDORIA PARA FAZER AS ESCOLHAS CERTAS DE CADA DIA.
1INFORMAÇÕES PELO EMAIL: REV.MAURICIO.ARAUJO@UOL.COM.BR A Revista da Família nº 74 julho/agosto/setembro, 2013
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ESTILO DE VIDA
Finalguma ançasrelação? e Evangelho:
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O dinheiro define prioridades, impulsiona a todos ao enfrentamento da “luta cotidiana”. Aliás, o sistema econômico atual pode ser definido como religião.
EVANDRO RODRIGUES
“Os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera” (Mc 4.19). Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Soa como uma fórmula mágica. Um encantamento que coloca fim a todos os problemas. A força motora que move os moinhos das relações humanas. Aquilo que faz com que homens e mulheres de todas as idades acordem cedo, durmam tarde, enfrentem o frio, o calor e o mau tempo. O dinheiro define prioridades, impulsiona a todos ao enfrentamento da “luta cotidiana”. Aliás, o sistema econômico atual pode ser definido como religião. O dinheiro é o deus; o shopping é o templo; produtores, atravessadores e comerciantes, os sacerdotes; as vidas humanas, o sacrifício. Antigamente, a busca pelo dinheiro estava subordinada ao clima. Diversos fatores impediam que o pescador se lançasse ao mar, que o agricultor empunhasse a enxada, que a lavadeira quarasse e esticasse as roupas ao sol. Era preciso esperar o tempo “melhorar”, esperar a época da colheita, conforme a cultura em que se investia. Havia dias santos; primeiro o sábado, com os hebreus; depois o domingo, com os cristãos. Porém, o avanço tecnológico permitiu ao ser humano submeter o clima. Aquecedor, ar-condicionado, resistência elétrica que esquenta a água; máquinas as mais diversas que substituem a força de muitas pessoas, no campo e na cidade. Biotecnologia, que dinamiza os cultivos e alavanca resultados.
Resultado
Lógica amalgamada ao dinheiro: é que todos buscam. Corremos, trabalhamos, conversamos, ensinamos, aprendemos, em busca de resultados. Confundimos a expressão “pão de cada dia” com “salário”. Não pedimos mais ao Pai nosso pão cotidiano, mas um bom emprego, com estabilidade e boa remuneração. Em busca deste resultado sacrificamos tudo que é importante, porque achamos que é este resultado que nos permitirá cuidar da família, ter tempo para os amigos e para o lazer. Inconscientemente, transferimos essa lógica para nossas relações pessoais e também para nossa espiritualidade. “O que eu ganho com isso?” - É o que pensamos, sem dizer. Até em nossas ações piedosas esperamos que aquele que tudo vê nos recompense com bênçãos generosas. Será que os cultos de prosperidade e cura estariam tão cheios se as pessoas detivessem estabilidade financeira e condições para pagar bons hospitais particulares? Esta lógica passou a ser tão natural que deixar de fazer qualquer coisa importante porque estávamos trabalhando tornou-se a desculpa mais aceitável para todos os outros compromissos. “Irmão, por que você faltou no trabalho da igreja?” “Estava trabalhando”, respondemos. Contra esta resposta, não há argumentos. Assim, o trabalho tornou-se nossa função vital. Não devemos ser inocentes a ponto de dizer que o dinheiro é ruim. Todos nós sabemos das agruras que um pai de família sofre diante da limita-
ção financeira. Ainda mais em nossa sociedade de consumo, onde a propaganda determina padrões que angustiam aqueles que a eles não podem se enquadrar. Por outro lado, sabemos também dos benefícios de se ter acesso à tecnologia, a uma boa casa, a um carro decente. Lembrei-me agora de quantas “velharias” eu dirigi. Tive um carro que mais o empurrei do que ele me levou. Porém, como cristãos, devemos sempre estabelecer com clareza o que é que nos impulsiona nesta vida. Jesus nos prometeu que jamais nos faltaria alimento e roupa (Mt 6.25). Sendo assim, você não está no cargo que ocupa, na empresa onde trabalha, simplesmente por causa do salário. Você está lá porque somos agentes do Reino de Deus; faróis para iluminar a escuridão; portadores de uma mensagem revolucionária, proclamada muitas vezes sem palavras. Somos livro de Deus para as pessoas. O que elas estão lendo olhando para você? O que determina se você deve permanecer ou trocar de emprego não é simplesmente a oportunidade profissional. Antes, é a vontade de Deus, que lhe deseja em local estratégico, como um soldado em missão permanente. Não se enquadre na lógica do mundo. Não se venda. Antes de refletir o bom profissional que somos, devemos refletir o brilho de Cristo. É Ele o fiel provedor para aquele que crê.
Segurança
Quando buscamos dinheiro e resultado, no fim das contas, o que se deseja é estar seguro. “E se eu
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ficar doente?” “E se acontecer alguma reviravolta no mercado?” “E se um presidente bonitão sequestrar minhas reservas?” É em busca dessa segurança aparente que as pessoas apostam na loteria. Porque essa segurança traz autonomia, independência. Queremos ser ricos para não depender do patrão, dos nossos pais ou da caridade alheia. Em última análise, queremos ser independentes de Deus. Cresci ouvindo que era pecado jogar na loteria. Porém, hoje entendo que o simples ato da aposta não é pecado. Pecado é o sentimento que nos move a buscar nossa independência total e final. E o cristão não pode ser independente. Fé, nos moldes judaico-cristãos, é sinônimo de dependência. E igreja é sinônimo de interdependência. João Calvino ensinou que devemos trabalhar com vigor e manter um estilo de vida frugal, adquirindo bens e fazendo reservas. E muitos cristãos justificam sua ambição nos ensinamentos do reformador. Porém, deliberadamente se esquecem de outra parte do seu conselho: “Aqueles a quem houvermos de ver premido pelas dificuldades das coisas, compartilhemos-lhes das necessidades e com nossa abun-
dância supramos-lhes a falta de recursos”. Devemos, sim, trabalhar com dedicação, gastar com parcimônia e fazer reservas. A economia muda, as dificuldades aparecem e aquele que souber poupar terá melhor condição de passar pelas contingências que se apresentam. Porém, não podemos fazer de nossas reservas um relicário intocável. Somos mordomos de Deus e tudo que temos é dele. Se virmos um irmão em dificuldade e não o socorrermos, pensando no rendimento que iremos perder ao mexer no dinheiro poupado, poderemos ouvir de Jesus naquele dia: “Estive faminto e não me deste de comer”. Assim, devemos desligar-nos da lógica de mercado e adotarmos a lógica do Reino, fazendo sempre a oração do profeta Habacuque. Em 1994, meu salário de office-boy era de R$ 117,00. Eu achava que todos os meus problemas seriam resolvidos quando eu passasse ao cargo de auxiliar de escritório, com salário de R$ 300,00. As promoções foram acontecendo e minha visão de “necessidades” sempre aumentou além do meu rendimento. Se você tem problema com dinheiro, gasta mais do que ganha e acha que a solução é ganhar
mais, saiba que o grande segredo é redefinir suas necessidades de consumo. E um segredo ainda maior, independentemente do seu rendimento, é ter um coração liberal. Contribua na igreja, esteja atento às necessidades entre seus familiares e em sua comunidade de fé. Reorganize suas prioridades de vida, sabendo que há tempo para trabalhar, mas também tempo para refletir, meditar, curtir as coisas simples e gratuitas da vida, lembrando que jamais o dinheiro comprará sua felicidade, que deve estar alicerçada em seu relacionamento com Deus. Não sofra por dinheiro (ou pela falta dele). O grande tesouro de sua vida está em um cofre especial: seu coração. Lembre-se sempre que “as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18). Guarde seu coração e sua consciência. Tema ao Senhor. As bênçãos de Deus o alcançarão com naturalidade e sua vida servirá como testemunho de fé e integridade. O Evandro é membro da IPI de Vila Brasilândia, São Paulo, Capital evandroalpha@hotmail.com
Não sofra por dinheiro (ou pela falta dele). O grande tesouro de sua vida está em um cofre especial: seu coração.
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POLÍTICA
Considerações sobre a manifestação contra o aumento no preço do transporte em São Paulo
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Esses dias de mobilização popular e manifestações fazem lembrar momentos históricos nos quais o brasileiro ocupou as ruas na busca e conquista de direitos pela redemocratização
WESLEY ZINEK
Diante da conjuntura inflacionária no Brasil, uma das medidas utilizada por alguns governos estaduais para combater a inflação foi o aumento da tarifa dos transportes. Esse reajuste aconteceu em algumas capitais como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Natal e Maceió. No caso de São Paulo, o aumento foi de 3,00 para 3,20. Esse aumento causou uma insatisfação tamanha por parte dos paulistanos que, desde o dia 6/6/2013, as pessoas ocuparam as ruas para protestar. A manifestação é formada por movimentos sociais, estudantes, trabalhadores, chegando a somar mais de 19 mil pessoas no dia 14. O objetivo da manifestação foi chamar a atenção do poder público, interditando as principais avenidas como Paulista, 23 de Maio e Radial Leste. Com isso, a força policial foi acionada para controlar a manifestação, o que causou confrontos violentos com muitos manifestantes feridos e presos. Feita essa introdução objetiva do fato, é necessária uma compreensão subjetiva das causas que levaram a essa manifestação que, para alguns, é um ato desnecessário e baderneiro e, para outros, é legítimo para a conquista dos direitos do brasileiro. É fato que essa manifestação tem causado violência contra os policiais que são agredidos com pauladas e pedradas. Da mesma forma, patrimônios públicos estão sendo depredados, pichados, destruídos. Há também a violação do direito de ir e vir dos demais cidadãos que ficam impedidos de transitar em decorrência da manifestação. Essas situações fazem com que um protes-
to que deveria ser pacífico perca sua razão, causando repúdio por parte da mídia e da opinião pública. Porém, é fato também que, em uma mobilização desse porte, é impossível controlar os ânimos, por maiores apelos de pacificação que se façam. Sendo assim, um grupo minoritário é responsável pelo vandalismo e não se pode generalizar. Com isso, a legitimidade dessa manifestação se dá no fato de que o cidadão injustiçado tem o direito constitucional de se reunir para se manifestar. E essa situação do aumento da tarifa de transportes é oportuna para que o cidadão se manifeste. Não somente por causa de 0,20 centavos, como alguns ironizam, mas por causa de um transporte público degradante e desumano; por causa de uma política que, como sempre, explora o trabalhador assalariado para dar solução à inflação; por causa de uma população que está prestes a explodir de indignação pelo descaso na saúde pública, na educação, na habitação, e vê nesse protesto a oportunidade de se manifestar e sentir a utopia de uma reivindicação ser atendida. Esses dias de mobilização popular e manifestações fazem lembrar momentos históricos nos quais o brasileiro ocupou as ruas na busca e conquista de direitos pela redemocratização, no impeachment de Collor, na conquista de direitos trabalhistas, na universalização da saúde, no direito de voto a mulheres e analfabetos, na implementação do Estatuto da Criança e Adolescente, e tantas outras conquistas que se deram a partir da mobilização popular. Mas hoje, após a redemocracia, o brasileiro sente que não há motivos pelos quais se manifestar porque esta-
mos falando basicamente de duas categorias de brasileiros: os que se contentam com o mínimo possível para consumir (a tal classe C que ascendeu) e por isso se acomoda; e os que vivem com um terço do salário mínimo, mas já são tão discriminados que não têm voz nem vez de se manifestarem. Então surge aquele texto de Provérbios que diz: “Fale em favor daqueles que não podem se defender. Proteja os direitos de todos os desamparados” (Pv 31.8). O missionário Willian Carey viveu esse evangelho e mobilizou uma multidão de indianos contra uma prática cultural de incineração das viúvas junto ao corpo do marido morto. O pastor e teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer participou de um movimento contra as atrocidades do nazismo e foi condenado a morte por essa causa. O arcebispo de El Salvador Oscar Romero foi morto por defender famílias que estavam sendo assassinadas pelo exército nacional. O pastor batista Martin Luther King Jr. militou e liderou um movimento contra o racismo norte-americano e por essa causa foi morto. E há muitos outros exemplos de homens e mulheres que foram “perseguidos por causa da justiça de Deus” (Mt 5.10). Inclusive a IPIB tem um histórico de militância no período do regime militar junto à Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), época em que alguns pastores e membros da denominação foram perseguidos e presos. Vivamos o evangelho da justiça do Reino de Deus, anunciando o Jesus Cristo libertador e denunciando as injustiças sociais. O Wesley (Mindu) é licenciado na Congregação do Valo Velho, São Paulo, SP, e missionário da Missão Cena
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FILHOS E EDUCAÇÃO
Como os pais podem ajudar nesta importante decisão?
Vestib Passar ou não passar:
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bular
Fique de olho Calendário de inscrições
eis a questão WANDERLEY DE MATTOS JUNIOR
A vida de um jovem é composta por inúmeros desafios. Dentre os mais decisivos, está o vestibular e tudo o que isso envolve. Não é nada fácil ser jovem e ter um, dois, vários vestibulares a prestar, pressões dos colegas e professores, além das pressões pessoais e dos pais para que passem. Meu foco neste artigo, todavia, não é o vestibulando, mas os pais dele. Então, senhor e senhora progenitores de um vestibulando alucinado: o papo é com vocês! Vestibular tem muito a ver com memória. Por mais que o ensino atualmente privilegie muito mais o raciocínio, a análise, a multidisciplinaridade e os conhecimentos gerais e atuais em vez de datas, nomes de pessoas e lugares, a memória continua sendo muito importante num exame vestibular. Pena que os pais, geralmente, se esqueçam de como eram e do que sentiam quando jovens! Eu me lembro muito bem do meu primeiro vestibular. Foi a Fuvest de 1982. É... tô véio! Pois bem, meu alvo era a ECA (Escola de Comunicações e Artes da USP), queria ser publicitário. Felizmente, eu era um bom aluno; então achava que tinha chances de passar... mas não passei, nem mesmo na primeira fase. Então, achei melhor adequar minha profissão à época ao curso que viria
a fazer. Estava sendo transferido para o departamento de câmbio do finado Banco Mercantil de São Paulo. Fui assistir a uma palestra sobre Comércio Exterior e pensei: “Taí, vou fazer Comércio Exterior!”. Prestei vestibular numa faculdade particular, que na época era referência nesse curso, passei e comecei o curso, sem me dar conta de que o que me empolgou realmente foi mais o “exterior” que o “comércio”. Devia ter feito Turismo, Letras, Jornalismo ou insistido na Publicidade. Jamais Comércio Exterior – mas lá eu aprendi a falar espanhol; então, já valeu! Anterior às pressões de passar e entrar numa boa faculdade, está a necessidade do jovem decidir sua carreira profissional aos 17 ou 18 anos. Isso é muito complicado para a maioria! Hoje me é muito claro que Comércio Exterior não tem nada a ver comigo, mesmo tendo trabalhado na área por algum tempo antes de ir para o seminário. Mas por que será que nunca me dei conta de que minhas habilidades e interesses naturais deveriam me inspirar rumo ao curso que mais tivesse a ver comigo? Essa “ficha” só caiu muitos anos depois, quando eu trabalhava como Capelão Escolar e via os alunos do ensino médio ou do superior sofrendo com as decisões a tomar ou as que foram tomadas de maneira errada. Talvez essa seja uma grande aju-
As Universidades Federais e Estaduais são as mais procuradas pelos vestibulandos. É preciso ficar de olho no calendário para não perder o prazo das inscrições. A Universidade de São Paulo, uma das mais procuradas, começa em agosto a receber as inscrições para os vestibulares que ocorrem no final do ano. As inscrições da Fuvest terão início no dia 23 de agosto, através da internet, e o término está previsto para o dia 09 de setembro. Não percam os prazos. Acesse o site da instituição, realize sua inscrição e, depois, bons estudos.
Veja também no site informações sobre a deliberação de isenção / redução de taxa de inscrição para o Concurso Vestibular FUVEST 2014. http://www.fuvest.br/vest2014
Fonte: FUVEST 2014.
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da que você, pai, mãe ou responsável, pode dar ao seu filho ou filha: preste atenção no que ele ou ela gosta (e aqui eu paro com a linguagem inclusiva porque você já percebeu que me refiro aos filhos e filhas o tempo todo, ok?!). Preste atenção no que ele é bom, no que lhe dá prazer, no que ele realmente se envolve e ajude-o a tentar escolher um curso que tenha a ver com isso, caso ele tenha dúvidas. Em 2004, em meio ao ministério pastoral, decidi fazer o curso de Intérprete de Conferências na PUC-SP e me tornei intérprete (ou seja, faço tradução simultânea em congressos e reuniões, usando a fluência em inglês para isso). Pois bem, tenho um colega intérprete que, quando perguntado sobre sua formação acadêmica, responde: “Eu fiz Engenharia para o meu pai e Direito para a minha mãe e, ao concluir ambos os cursos, entreguei o diploma nas mãos deles e disse: Agora vou fazer o que gosto” - e foi cursar Letras. Claro que o Direito e a Engenharia o ajudam e muito na cabine de tradução, mas o ponto não é esse e você entendeu bem! Muitos pais colocam pressão sobre os filhos para que esses façam o curso que eles desejam. Seja por quererem se realizar nos filhos,ou porque desejam um curso que dê dinheiro, ou status, ou melhores perspectivas e, na verdade, isso pode ser um grande erro! Se pais ou responsáveis querem ajudar,
“Eu fiz Engenharia para o meu pai e Direito para a minha mãe e, ao concluir ambos os cursos, entreguei o diploma nas mãos deles e disse: Agora vou fazer o que gosto”
ajudem seus filhos a escolher o curso que farão com prazer, com interesse, e que será útil em sua carreira e vida futura. Impor-lhes sua vontade pode ser frustrante para eles. E se meu filho não quiser fazer faculdade? Bom, isso também é uma opção! Por mais que hoje em dia haja cursos superiores de curta duração – o que é ótimo – e ainda opções de curso não presencial, cursos aos finais de semana, faculdades boas e faculdades ruins, baratas e caras, além das públicas, fazer uma faculdade não garante qualquer sucesso profissional. E também há um mito de que o jovem tem de fazer faculdade assim que termina
"Muitos pais colocam pressão sobre os filhos para que esses façam o curso que eles desejam. Seja por quererem se realizar nos filhos,ou porque desejam um curso que dê dinheiro, ou status, ou melhores perspectivas e, na verdade, isso pode ser um grande erro!" 54 Alvorada
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o ensino médio. Todavia, há outras experiências igualmente enriquecedoras dependendo da área de atuação que o jovem pretende seguir, como: fazer primeiramente um curso técnico, investir num projeto ou abrir seu próprio negócio, trabalhar num setor que não dependa de formação superior, estudar ou morar no exterior para aprender outro idioma e cultura. Enfim, o vestibular não precisa ser o único caminho de um jovem ao sair da escola. Porém, uma coisa é certa: nossa sociedade ainda valoriza um diploma de nível superior. Então, é importante considerar isso na carreira profissional em algum momento, mas sem imposição! E o que fazer após o vestibular, quando o nome não aparece na lista, nem na primeira, nem na segunda, nem na última chamada? Após o choro e frustração do pimpolho, abrace-o e incentive-o a prosseguir. Ore com ele para que seus olhos se abram para novos horizontes, ou se animem por seguir com maior garra no mesmo horizonte. Além das alternativas acima citadas, é possível continuar tentando. O importante é não fazer do vestibular o fim da jornada. Na verdade, ele é apenas a primeira de muitas etapas e desafios que se
» Há um mito de que o jovem tem de fazer faculdade assim que termina o ensino médio. Todavia, há outras experiências igualmente enriquecedoras dependendo da área de atuação que o jovem pretende seguir seguirão ao longo do curso – e, acima de tudo, da vida. E, quanto menos tenso, angustiado e pressionado ele estiver, melhores chances terá de passar. Pois bem, aos 45 decidi encarar a Fuvest novamente. Dessa vez, por puro prazer. Fiz a primeira fase e... passei! A sensação foi igual à que teria se tivesse passado aos 18! E agora, como faria a segunda fase que é toda escrita? Não teria tempo de estudar tudo. Abri os livros de física e desisti na hora. Deixei de lado as exatas e me concentrei nas humanas que tinham mais peso no meu curso. Resultado: já faz 3 anos que virei aluno de Letras na USP! Tudo bem, não tive pontuação para Publicidade, mas está sendo uma
experiência fascinante estudar novamente. Sabe o que eu descobri? Os limites somos nós que os impomos. Podemos ir além. Basta querermos. Deus não fez a prova para mim, mas colocou pessoas, jovens vestibulandos, ao meu redor me incentivando e animando para que eu prosseguisse. Deus quer usar você, pai, mãe ou responsável, para ajudar e abençoar a vida do seu filho nesse momento tão importante e decisivo para ele rumo aos objetivos que trarão alegria e realização acadêmica e profissional. Então, seja pra ele um canal de bênção, apoio e incentivo, e não de pressão! E boa prova!!!
Nossa sociedade ainda valoriza um diploma de nível superior. Então, é importante considerar isso na carreira profissional em algum momento, mas sem imposição! E o que fazer após o vestibular, quando o nome não aparece na lista, nem na primeira, nem na segunda, nem na última chamada? Após o choro e frustração do pimpolho, abrace-o e incentive-o a prosseguir. Ore com ele para que seus olhos se abram para novos horizontes, ou se animem por seguir com maior garra no mesmo horizonte.
O Rev. Wanderley, intérprete e tradutor, é pastor da IPIB
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DIA DOS PAIS
Viva meu ‘Pai Pastor’! É em casa que o ministério pastoral começa e se concretiza: os filhos e a esposa são, depois de Deus, aqueles que mais conhecem a pessoa que rotineiramente sobe ao púlpito para ensinar Rev. Messias e a filha Priscila
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Rev. Wilson e a filha Renata
meira pesnça. É a pri ra u g se , o li m problema meu auxí assim que u r “Meu pai é a g li m e uém que eu penso e Deus, alg d o soa em que rv se m ai é meu sábio, u ntos. Meu p e m a surge. É um n si n e ser” lia e seus que eu quero m e m o h respira a Bíb e d o e o modelo grande amig ique Wentz Eduardo Henr
Se ser pai é desafiador, ser um ‘pai pastor’ é um desafio ainda maior. Lidar com o ministério e a família são responsabilidades que precisam ser exercidas em Cristo e com excelência. Afinal de contas, há uma exortação bíblica em relação à prioridade na vida de um ministro: “Se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel” (1Tm 5.8). Além disso, é em casa que o ministério pastoral começa e se concretiza: os filhos e a esposa são, depois de Deus, aqueles que mais conhecem a pessoa que rotineiramente sobe ao púlpito para ensinar. Deles, não tem como esconder o verdadeiro caráter e testemunho. Por outro lado, é comum encontrarmos filhos de pastores decepcionados com a igreja e até com Deus porque viram o pai dar sua vida pelo ministério e
Meu pai é o exemplo de homem de Deus pra mim. É aquele homem manso, o legítimo pastor de ovelhas, um homem inspirador. Um pai carinhoso, amoroso, zeloso, preocupado e que, mesmo sem forças, faz questão de ser presente em minha vida. Pai, te amo demais” Renata Devidé Freire, filha do Rev. Wilson Devidé
on Ribeiro
do Rev. Adils
provaram o gosto amargo da ingratidão de algumas ovelhas. Mas isso não é regra – nem os pais pastores que dão mau testemunho nem os filhos decepcionados. No mês de agosto, comemoramos o Dia dos Pais e podemos dar um “viva” e louvar a Deus por muitos ‘pais pastores’. Em 2009, a cantora Ana Paula Valadão Bessa, do Ministério Diante do Trono, no CD solo, “As Fontes do Amor”, entre as homenagens cantadas, uma das mais belas é a que ela fez ao seu pai, Pastor Márcio Valadão. Qualquer pai ficaria grato e emocionado com tal declaração, principalmente em se tratando da filha de um pastor - um homem que conhece muito bem as delícias e as lutas de servir integralmente ao Reino de Deus. Mas ela cantou: “Pai, você me ensinou a amar a Deus, você me ensinou a amar o que Ele ama e a não ter nenhuma outra ambição na vida - a não ser
ROSANA SALABAI
»
Ribeiro, filho
e justo qu tegro e . ín o d is a a ic ed mm o home ntil e d e é a g r i a a l, p p ie s Meu rido f esforço eci. Ma o mede ã e. Hon c o e já conh d u so e oeq o s h o r in o r a m c vô nhor no Pai a adar. A m o Se r o g c a a e h r ajuda e camin ue vive mem q a dia” seu dia Rosa Anacleto
»
, filha do
andrea cila Zan
Pris
ssias
Rev. Me
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cumprir a vocação que Ele nos entregou de sermos servos, de sermos santos, de sermos simples, sempre verazes, mansos, perdoadores, livres, valentes e com um puro coração”. Fazendo coro com a cantora, há muitos outros filhos que aprenderam com seu ‘pai Pastor’ a amar a Deus acima de todas as coisas. Filhos com o privilégio de ter pais que priorizam a família e reconhecem que seu ministério começa em casa. Filhos com pais que não medem esforços para que o ministério pastoral seja bênção primeiramente entre os seus. Um grande bom exemplo de um ‘pai pastor’ assim é o Rev. Messias Anacleto Rosa, hoje ministro jubilado da IPIB. “Os maiores ensinamentos que meu pai me deu foram amar a Deus acima de qualquer coisa e a amar a igreja de Cristo independentemente de suas falhas”, conta Priscila Zanandréa, a primogênita da família. “Ele também me ensinou a respeitar e honrar todas as pessoas e jamais revidar, mesmo que eu esteja com a razão". "Saber que ele vive exatamente o que prega é o maior ensinamento que recebi de meu pai”, diz Eduardo Ribeiro, filho mais velho do Rev. Adilson Ribeiro, da IPI de Rolândia, PR, outro ‘pai pastor’ que merece um ser homenageado. Assim como a filha do Rev. Messias, Eduardo lembra que sua educação foi pautada no amor a Deus e às pessoas:
“Meu pai me deu uma educação fantástica, em qualquer sentido da palavra educação; me ensinou o que é respeito e o que é certo e errado de acordo com a Palavra de Deus, até nos pequenos detalhes”. Com a mesma gratidão, Renata Devidé Freire, filha do Rev. Wilson Devidé, também ministro jubilado da IPIB, lembra da infância na igreja e do aprendizado com a vida do seu ‘pai pastor’. “Minha família sempre foi muito envolvida com a igreja e o ministério, mas meu envolvimento com as coisas de Deus foi muito natural, fruto de escolhas e não por obrigação”, lembra. Ela também comenta a educação que recebeu e as mudanças de cidade por conta do ministério pastoral. “Meu pai me ensinou a amar todo tipo de pessoas, sem distinção de classe social ou cultural; tivemos que nos mudar de cidades algumas vezes, e isso me fez amadurecer bastante nos meus relacionamentos”. Há alguns anos o ‘pai pastor’ Wilson adoeceu com Mal de Parkinson. Quando descobriu a doença, ele tinha apenas 41 anos de idade. Sua luta, fé e perseverança também se tornaram testemunho para sua filha. “Ele continuou no ministério e, mesmo com a piora da doença, nunca murmurou ou desistiu de nada; sua fé em Deus, na cura que pode acontecer ou não, é uma das coisas que mais admiro em sua vida e me fazem ter orgulho de ser sua filha”. A Rosana, jornalista, é membro da IPI do Chapadão do Sul, MS
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cação Meu pai me deu uma edu pada o tid sen er fantástica, em qualqu é que o u ino lavra educação; me ens de ado err respeito e o que é cer to e us, até nos acordo com a Palavra de De pequenos detalhes”. iro, filho do Rev. Adilson
Eduardo Henrique Wentz Ribe
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Minha família sempr e foi muito envolvida com a igreja e o m inistério, mas meu envolvimento com as coisa s de Deus foi muito natural, fruto de esco lhas e não por obrig ação”
Renata Devidé Freire,
filha do Rev. Wilson
Devidé
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Rachel James
Nunca houve tantos homens e mulheres bemsucedidos e solteiros. No Brasil, o time dos que se declaram solteiros supera o dos casados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011 do IBGE. São 48,1% de solteiros contra 39,9% de casados.
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COMPORTAMENTO
DANIEL DUTRA
No filme Noiva em Fuga, a moça do interior Maggie Carpenter (Julia Roberts) possui um grave problema: não consegue se casar. Já tentou por três vezes, mas, na hora da cerimônia, algo acontece dentro dela e ela sempre foge do altar deixando o pretendente desorientado. Nunca houve tantos homens e mulheres bem-sucedidos e solteiros. No Brasil, o time dos que se declaram solteiros supera o dos casados, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011 do IBGE. São 48,1% de solteiros contra 39,9% de casados.
Solteiro e feliz
É possível estar solteiro e ser feliz. Eclesiastes diz que tudo na vida tem seu tempo: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu” (Ec 3.1). Existem coisas que um solteiro faz e que uma pessoa casada não tem a mesma liberdade para fazer. Por exemplo: dormir na casa dos amigos, sair até mais tarde sem dar satisfação, fazer viagens e cursos no exterior, ter dedicação integral aos estudos, dentre outros. Sem falar que, quando os casados decidem ter filhos, o tempo se torna ainda mais escasso e limitado. Existe o perigo de idolatrar o sonho
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do casamento, colocando o casamento como um deus, desejando-o além do necessário. Querer casar é uma coisa; deixar de viver por causa disto é insensatez. A busca desenfreada pelo casamento pode retardar ainda mais este processo, pois a pessoa, no afã de se casar, ao conhecer um pretendente, na primeira conversa já coloca o assunto, causando muitas vezes o efeito contrário, o afastamento. Jesus não se casou, nem João Batista e nem Paulo. Podemos lembrar também a família de Lázaro, Marta e Maria, que eram solteiros. Jesus não colocou o casamento como uma obrigação: “Pois há razões diferentes que tornam alguns homens incapazes para o casamento: uns, porque nasceram assim; outros, porque foram castrados; e outros ainda não casam por causa do Reino do Céu” (Mt 19.12). O Senhor Jesus mencionou três tipos de eunucos. Alguns homens eram eunucos porque nasceram com problemas físicos ou emocionais. Outros porque foram castrados (os reis orientais obrigavam os servos que cuidavam de seus haréns a se submeterem a uma cirurgia para se tornarem eunucos). Mas Jesus estava se referindo especialmente àqueles que se fizeram eunucos por amor ao Reino de Deus. Esses homens poderiam se casar, visto que não tinham nenhum impedimento físico. Contudo, por dedicação a Jesus e ao
seu Reino, eles abdicaram do casamento para se consagrarem integralmente à causa de Cristo. Paulo orienta que o solteiro pode fazer coisas para Deus que uma pessoa casada não poderia, pois teria que se preocupar com seu cônjuge e filhos: “E aos solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que também eu vivo. Considero, por causa da angustiosa situação presente, ser bom para o homem permanecer assim como está” (1Co 7.8, 26).
Casado e completo
Ser solteiro é bom? Aparentemente, é ótimo. A pessoa tem seu espaço, sua vida, seu dinheiro e sua liberdade. Mas também tem o lado negativo, que é a solidão. Quando Deus criou Eva para Adão, disse que não era bom que o homem vivesse só (Gn 2.18). Deus não somente criou uma mulher para Adão; Ele trouxe-a até ele: “E a costela que o Senhor Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe” (Gn 2.22). Eva foi um presente de Deus para Adão. Saiu direto das mãos de Deus. Adão, ao recebê-la, fez uma declaração de amor: “Esta afinal é osso dos meus ossos e carne da minha carne...” (Gn 2.23). Eva completou plenamente a vida de Adão e preencheu o vazio do seu coração. Ela lhe proporcionava satisfação espiritual, emocional, psicológica e física. O casamento é a solução divina
Fugindo do compromisso Por outro lado, existem pessoas que têm pavor do casamento. A própria palavra já traz arrepios. O que leva uma jovem como aquela moça do filme Noiva em Fuga a fugir do compromisso do casamento? Podemos pensar em alguns fatores: 1) Dificuldade financeira • Na nossa sociedade tudo é muito caro. O dinheiro é mais que uma moeda; é uma necessidade de sobrevivência. São muitos jovens que já estão na fase dos 20 aos 30 anos, e ainda não conseguem se manter financeiramente sem o auxílio dos pais. 2) Necessidade de graduação • O mercado exige nível superior completo para uma renda maior que o salário mínimo. Nisto vão-se de quatro a seis anos de graduação, sem falar na pós-graduação, para estar preparado para o mercado de trabalho. 3)Deixar a casa dos pais • Outros não conseguem se desprender emocionalmente dos seus genitores, ficando mais tempo nesta posição, mesmo já sendo independentes financeiramente. Entendem que, casando, teriam que lavar a sua roupa, passar, pagar suas contas, cozinhar, lavar louça, etc. 4) Perder a liberdade • Alguns acham que o casamento é uma prisão, dizendo que casamento rima com enforcamento. Também é comum ouvirmos frases denegrindo o casamento: “O amor é eterno enquanto dura”; “Quando a pobreza bate à porta, o amor voa pela janela”; “O amor faz passar o tempo e o tempo faz passar o amor”.
Ser solteiro é bom? Aparentemente, é ótimo. A pessoa tem seu espaço, sua vida, seu dinheiro e sua liberdade. Mas também tem o lado negativo, que é a solidão. Quando Deus criou Eva para Adão, disse que não era bom que o homem vivesse só (Gn 2.18) A Revista da Família nº 74 julho/agosto/setembro, 2013
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para o problema da solidão humana. O homem, criado à imagem e semelhança de Deus, não pôde encontrar na vasta criação nenhum ser capaz de completá-lo. Deus deu a Adão o privilégio de dar nome a todos os animais. Conforme os animais iam passando, aos pares, ele os nomeava: esses vão se chamar leão e leoa; boi e vaca; gato e gata, e assim por diante. Quando Adão terminou sua tarefa, não encontrou nenhum ser que lhe correspondesse. Deus era a sua única companhia. Então, Deus pensou: Não é bom que o homem viva só. A carência de Adão foi identificada por Deus. Adão não tinha ninguém igual a ele. Deus estava acima dele e os animais estavam abaixo. Adão precisava de alguém que lhe correspondesse, que lhe olhasse nos olhos; alguém que fosse para ele uma companheira. Adão, mesmo vivendo em um mundo de beleza indescritível, não conseguia superar a solidão que pulsava em seu peito. Ele podia contemplar as árvores, os frutos, as flores, as águas cristalinas dos rios Tigre e Eufrates que cruzavam o jardim. Então, o próprio Deus, diagnosticou sua solidão. A Bíblia diz: “A casa e os bens vêm como herança dos pais; mas do Senhor, a esposa prudente” (Pv 19.14). Ainda: “O que acha uma esposa acha o bem e alcançou a benevolência do Senhor” (Pv 18.22). O celibato não é uma condição para atingir um nível mais alto de ministério. O apóstolo Pedro era casado (Mt 8.14). Os demais apóstolos, bem como Tiago, irmão de Jesus, que era presidente do concílio de Jerusalém, também o eram (1Co 9.5). O celibato é um chamado de Deus para um ministério com dedicação absolutamente exclusiva à obra do Senhor.
O que fazer enquanto não se encontra a pessoa certa?
Um dos grandes desafios para os solteiros cristãos é a vida sexual. Com certeza, travam uma luta difícil com sua sexualidade e confrontam muitas questões inquietantes. Existe uma frase mundana que resume o pensamento da cultura distante de Deus: “Enquanto não encontra o certo, você vai se divertindo com os errados”. Muitas pessoas têm a ideia de que o solteiro é um ser assexuado, que não tem vontades e desejos sexuais. Certa vez, uma mãe disse para o pai que a filha não era mais virgem, mas o pai dizia que, para ele, ela sempre seria virgem. Para a Palavra de Deus, a decisão de estar solteiro e viver as alegrias e prazeres deste tempo passa pela decisão de abstenção sexual. Isto mesmo, a relação sexual deve ser reservada para o casamento: “O homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne” (Gn 2.24); “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros” (Hb 13.4). Uma forte tendência da nossa sociedade é a chamada relação estável, onde os casais têm uma vida sentimental e sexual, mas nem sempre morando na mesma casa, e ainda se sentem como solteiros. Richard Foster em seu livro Dinheiro, Sexo e Poder afirma: “O sexo é como um grande rio, rico, profundo e bom enquanto se mantiver dentro de seu leito apropriado. No momento em que um rio ultrapassa suas margens, torna-se destrutivo”. Não existe problema nenhum em ser solteiro; aliás, pode ser um tempo de muita alegria e satisfação. Porém, que fique claro que a decisão de estar solteiro carrega o compromisso de se manter puro sexualmente para seu futuro casamento: “Caso, porém, não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do que viver abrasado” (1Co 7.9). O Rev. Daniel é psicólogo e pastor da IPI em Rondonópolis, MT
0 www.pastordanieldutra.blogspot.com REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS LOPES, Hernandes Dias. Casamento, divórcio e novo casamento. FOSTER, Richard. Dinheiro, sexo e Poder.
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FIQUE DE OLHO
Aconselhamento pré-nupcial: cuidado necessário
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Allison Carvalho - www.bywally.com.br
GIANCARLO BROJATO E WÍVIAN L. C. BROJATO
O alto número de casamentos que são desfeitos anualmente em todo o mundo tem chamado a atenção de estudiosos, religiosos e pesquisadores. A preconização do casamento como base da família e da sociedade tem se diluído com o tempo, e hoje já não se acredita ou se investe nessa instituição. Na verdade, pouco é exigido dos indivíduos que pretendem dar este importante passo. Pode-se afirmar, sem risco de exageros, que atualmente é mais fácil se habilitar para casar do que para dirigir. O mundo moderno parece não esperar mais nada do casamento. Esta realidade é fato e até nem causa espanto, se considerarmos a sociedade movida pelo consumo, pelo dinheiro e pelo descartável em que vivemos. Hoje, raramente uma pessoa assume o compromisso do casamento com o ânimo maduro de lutar para que ele seja para toda a vida. As pessoas se casam (ou passam a viver juntas) com facilidade e, com a mesma facilidade, rompem os vínculos que as unem. Esta é a nossa sociedade atual: tudo pelo prazer e pela conveniência; se o casamento não me oferece a realização que espero me divorcio, sem ao menos lutar. Estamos cada vez mais isolados, egoístas. Vivemos para nossas realizações. Uma mulher que abre mão de alguns projetos para cuidar do marido e dos filhos é taxada com chacota de “Amélia”. Um homem que deixa um pouco de lado o seu “eu” para agradar à esposa é chamado por muitos de “capacho”. Nesta atual configuração, como fica então o casamento na perspectiva bíblica, onde somos conclamados ao altruísmo, à generosidade e ao amor? Para que possamos começar a pensar num relacionamento segundo o coração de Deus precisamos entender que os padrões egoístas de felicidade e realização deste mundo não nos servem. E a igreja protestante, como tem se
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O aconselhamento prénupcial, realizado pelo clérigo ou por aquele que ele designar, tem como objetivo propiciar um espaço para buscar a orientação de Deus acerca da decisão de casar-se, alertar e discutir sobre as falsas expectativas do casamento, preparar para as dificuldades da vida a dois
posicionado diante desta realidade? Não creio que a igreja possa simplesmente se eximir da responsabilidade em relação aos casamentos que celebra. Numa sociedade corrompida e superficial, a igreja precisa ser a voz que proclama a vontade de Deus para a vida a dois. A igreja não pode deixar de ter as melhores expectativas quanto ao casamento, de exigir maturidade e preparo dos noivos, de investir pesado para que aqueles que entram na vida a dois o façam bem preparados.
Objetivos do aconselhamento pré-matrimonial: O aconselhamento pré-nupcial, realizado pelo clérigo ou por aquele que ele designar, tem como objetivo propiciar um espaço para buscar a orientação de Deus acerca da decisão de casar-se, alertar e discutir sobre as falsas expectativas do casamento, preparar para as dificuldades
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da vida a dois, orientar a respeito dos papéis de marido e esposa, propiciar ao casal o setting ideal para resolver e equacionar conflitos já existentes, bem como orientar sobre maneiras adequadas para resolução de futuros problemas. Todas estas orientações e reflexões a serem feitas pelo conselheiro ao incipiente casal têm como objetivo proporcionar a este maturidade para decidir sobre o casamento e preparo para a vida a dois. Antes de assumir o compromisso do casamento, é necessário analisar qual a verdadeira motivação que leva um ou ambos a terem o desejo de se unir. Muitas pessoas buscam o matrimônio como possibilidade de fuga de situações difíceis no lar. Outras depositam sobre o casamento expectativas irreais, acreditando que a vida a dois trará automaticamente todas as idealizações românticas que sonharam. Há ainda aquelas que se casam porque não se sentem completas. Em todos os casos, a união tende a não ser bem sucedida. A motivação legítima para um casamento deve ser o desejo de construir uma vida a dois lutando contra todas as dificuldades. Evidentemente, este desejo nasce de um profundo sentimento de amor e admiração pelo outro. O desejo de se casar passa também pela opção madura de fazer renúncias e ser feliz ao lado do outro. Ninguém se completa ao casar. Todos temos que buscar a completude em Deus. A junção de dois seres humanos incompletos só poderá formar um par de seres incompletos e infelizes. Porém, a junção de dois seres inteiros, que já encontraram em Deus o sentido de suas vidas, formam um “nós” que, de tão coeso, pode ser chamado de “uma só carne”. Portanto, se alguém se 66 Alvorada
sente vazio, incompleto, deve buscar esta completude, este preenchimento, a resolução de seus conflitos, aos pés da cruz e não em um relacionamento. Um problema bastante comum que temos enfrentado na atualidade é a confusão de papéis dentro da família. Sim, a mulher evoluiu e alcançou uma posição diferente na sociedade, porém, isto não é problema. O problema nasce quando, com isso, ela perde sua feminilidade, deixa de primar por seus ministérios de mãe e esposa, e coloca o marido em posição confusa e desconfortável. O homem, por sua vez, em meio a tantas mudanças, começou a se acomodar e deixar de assumir a posição de líder do lar. É preciso voltar ao equilíbrio. Mesmo na família moderna, onde ambos alcançam sucesso profissional, podem viver de acordo com as orientações bíblicas, tendo papéis distintos. O marido, que ama a esposa como Cristo amou a igreja, lidera sua casa buscando sempre a gentileza, a delicadeza e o respeito, e primando pelo bem de sua mulher. A esposa respeita o seu marido e com sabedoria edifica o lar. Os conflitos e diferenças de opiniões precisam ser discutidos num ambiente de respeito mútuo já desde a época do namoro. O momento de aconselhamento pré-matrimonial é bastante útil para proporcionar ao casal este importante aprendizado. Resolver conflitos não é sinônimo de briga; ceder muitas vezes é louvável e necessário. A comunicação respeitosa é fundamental para o desenvolvimento de qualquer relacionamento saudável. O casamento jamais será “ideal”, “cor de rosa”, como vemos em novelas ou em filmes românticos. Ele não se inicia pron-
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Omar Franco
Os conflitos e diferenças de opiniões precisam ser discutidos num ambiente de respeito mútuo já desde a época do namoro. O momento de aconselhamento pré-matrimonial é bastante útil para proporcionar ao casal este importante aprendizado. Resolver conflitos não é sinônimo de briga; ceder muitas vezes é louvável e necessário.
to. Exige trabalho, esforço, comprometimento dos dois e, especialmente, a busca incessante do casal pela orientação de Deus. Quando tudo isso acontece, o casamento torna-se o ambiente gostoso, de conforto, suporte e acolhida, que Deus projetou para o homem e a mulher. E, por último, creio que a maior lição que um bom conselheiro deixa para o jovem casal é que Deus deve ser sempre o centro da sua vida. Em momentos de dificuldades, sempre haverá a leitura da Bíblia e a oração como recursos inesgotáveis. O casal que busca intimidade com Deus constrói o seu casamento firmado na rocha, e mesmo as maiores dificuldades não podem derrubá-lo. Diante da importância do aconselhamento pré-nupcial como preparação para o casamento feliz, questionamos o “porquê” da igreja evangélica não primar por este poderoso instrumento na formação da família? Talvez seja o momento oportuno de implantar esta prática na vida da igreja!
Antes de assumir o compromisso do casamento, é necessário analisar qual a verdadeira motivação que leva um ou ambos a terem o desejo de se unir. Muitas pessoas buscam o matrimônio como possibilidade de fuga de situações difíceis no lar.
O Rev. Giancarlo é pastor da 1ª IPI de Cruzeiro, SP, e a Wívian, sua esposa, é psicóloga clínica
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VIDA A DOIS
Quando os cônjuges são cúmplices no casamento, eles celebram algo que vai durar para sempre. E é fundamental que, na vida do casal, haja, além do amor, uma cumplicidade muito forte
A
responsabilidade
do marido no
cuidado com a
esposa
DEVANIRA DOMINGUES DEMARQUE
Quando há uma reflexão sobre a vida do casal e sobre o casamento, alguns princípios são sempre colocados como primordiais, como por exemplo: amar sem reservas, prometer companheirismo um ao outro e fidelidade absoluta. Dentro disso, há também cumplicidade, preocupação genuína e convívio harmonioso. Quando os cônjuges são cúmplices no casamento, eles celebram algo que vai durar para sempre. E é fundamental que, na vida do casal, haja, além do amor, uma cumplicidade muito forte; isto inclui a compreensão, a admiração e o diálogo. E com tais princípios colocados em prática, o casamento vai sempre valer a pena. A busca do casamento perfeito não é um percurso sem armadilhas e descaminhos, mas, sim, algo que exige grande com-
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O perdão MARIA EMÍLIA CONCEIÇÃO
Perdão é sinônimo de amor. Dizem que quem ama não precisa perdoar; Mas, ao contrário, só quem ama O perdão sabe dar... Deus amou tanto e de tal forma Que nós, os filhos seus, Devemos também amar, para aprender a perdoar Quem nos ofender, magoar. Mágoas guardadas viram feridas Que adoecem o coração e estragam o sabor da vida. Para isso existe perdão, Perdão é como a magia Que num instante cura a doença, Apaga as mágoas, as ofensas E, da vida, devolve a alegria.
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A Maria Emília, contadora de histórias, professora, poetisa, é da 2ª. IPI de Anápolis, GO
preensão um do outro. Ter cumplicidade é inaugurar um tempo de amor e felicidade; é construir uma família que viva em harmonia; é ter intensidade no relacionamento. Há situações que são determinantes para o encontro do casal, como a descoberta que vai se fazendo um do outro ao longo da caminhada e as vivências e experiências de cada um, que vão sendo incorporadas à vida de ambos. Hoje, pode-se observar que a mulher deu um grande salto na sua vida ao vivenciar um novo arranjo conjugal, saindo daquele papel apenas de esposa, mãe e dona de casa, e tomando posse de um ser múltiplo na sociedade – ela agregou muitas outras tarefas, compromissos e responsabilidades. E tudo isso lhe trouxe benefícios, como poder ser reconhecida na sua capacidade profissional, ser provedora junto ao marido para melhorar o padrão financeiro da família, aumentar sua autoestima, dentre outros. Por outro lado, tornando árduo o seu dia-a-dia, nem sempre a esposa dá conta de fazer tudo sorrindo, e muitas mulheres lidam com uma sobrecarga que, muitas vezes, tem reflexos em um comprometimento na sua saúde física, emocional e espiritual. E é neste momento que ela precisa que o seu marido seja o seu companheiro, o seu cúmplice. O ideal é quando o casal se auto-observa e treina um novo jeito de encarar o novo tempo na vida de ambos; esta é, então, a hora de repensar a dinâmica do casal a partir das mudanças que vêm ocorrendo na vida de cada um, para que possa, dentro da estrutura familiar, gozar de seu relacionamento e crescer na convivência, até porque as adversidades fazem o casal mais
forte e sensível. E, quando o casal se vê como família, cada um é base para tantas outras coisas e se fortalece para encarar todos os desafios. Então, quando existe cumplicidade, os cônjuges sabem que terão pela frente o desafio de não deixar o relacionamento se diluir, mas, sim, proporcionar crescimento conjunto e individual. Pode-se dizer que a força da mulher para poder dar conta de seus múltiplos papéis vem do amor à família, e o que permite, dentro do casamento, ser um com o outro é a descoberta diária do amor que os une. E, quando o homem compreende isso, ele se encoraja em dar-lhe o apoio necessário, dividindo as tarefas da casa e o cuidado com os filhos. Essa atitude dele concretiza o seu amor a ela e a sua admiração por essa mulher, por essa lutadora. E ele se torna um servo obediente a Deus, como o apóstolo Paulo diz: “Vós, maridos, amais vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). E ainda: “Assim devem os maridos amar suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja. Porque somos membros do seu corpo” (Ef 5.28-30). É uma atitude crucial para a sobrevivência do casal que marido e mulher conversem sobre as soluções para os problemas que se apresentam. Ainda que pareça ameaçador no início, é preciso que o casal abrace este espaço disponível de convivência para ter bons diálogos, conforme diz Efésios 4.29: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover edificação, para que dê
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A compreensão e a cumplicidade fortificam a relação e a fraternidade, e é apenas a sólida estrutura de amor que promove amparo e segurança para o casal. graças aos que a ouvem”. A compreensão e a cumplicidade fortificam a relação e a fraternidade, e é apenas a sólida estrutura de amor que promove amparo e segurança para o casal. Além disso, é bom saber que o casal pode contar um com o outro em amor e compreensão, mesmo em momentos difíceis ou de sofrimento. E tudo isto pode ajudar não só o cônjuge, mas também os filhos a desenvolverem confiança e segurança para enfrentarem o dia-a-dia da vida. Que o casal possa sempre ser parceiro para a vida toda e em tantas novas situações.
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Muitas vezes, o maior medo da mulher é não conseguir a compreensão do marido e a sua colaboração para o seu crescimento. Muitas mulheres, hoje, adoecem pela sobrecarga, apresentando graves quadros de depressão, estresse, ansiedade e insônia, comprometendo até a vida sexual e, como consequência, perdem a oportunidade de crescer como casal e como família. O bom marido é aquele que sabe fazer mudanças até mesmo na cultura recebida para acrescentar algo de bom na vida familiar, colocando-se,
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assim, como parceiro, companheiro e cúmplice de sua esposa na sua luta. Será que esta não é a forma de você, marido, mostrar o seu amor? Porque ser cúmplice, ser parceiro, ser compreensível é dar um presente que está dentro de cada um e que é feito de amor, ternura, preocupação com o outro, fidelidade e lealdade. Este é um presente que não tem preço, mas que possui o maior valor. A Devanira, psicóloga clínica, sexóloga e terapeuta de casal e família, é membro da 2ª IPI de Londrina, PR
SAÚDE
Injeções contra a gripe? LISIAS CASTILHO
Gripe todo mundo tem, mais dia menos dia. A gripe é uma infecção respiratória aguda causada por um vírus, que passa de pessoa a pessoa pelas gotículas que saem da boca ou do nariz, pela tosse e pelo espirro. Dentro de uma condução coletiva ou no cinema, numa fila de teatro, numa sala de aula ou na rua, isto é, onde há gente por perto, especialmente bastante gente, existem as condições ideais para o contágio com o vírus da gripe. Basta que uma pessoa esteja gripada e espirre para que dezenas ou centenas de outras adquiram o vírus ao mesmo tempo. Esta facilidade para o contágio explica o porquê do caráter epidêmico da gripe. Milhares, às vezes milhões de pessoas, têm gripe na mesma época, no inverno frequentemente. Do universo dos infectados, alguns são crianças, outros são idosos e outros são imunodeprimidos, como os aidéticos e os transplantados. Tais pessoas correm riscos maiores de complicações, das quais a mais comum e mais grave é a pneumonia. Alguns morrem. De gripe.
O que fazer para prevenir a gripe? Pouco pode ser feito, mas alguns cuidados estão disponíveis para todos: 1) Em primeiro lugar, na medida do possível, evitar aglomerações em época de epidemia; 2) Em segundo lugar, levar as pessoas com mais de 60 ou 65 anos para receber a vacina contra a gripe todos os anos. É necessário que a vacina seja repetida anualmente porque os vírus sofrem modificações chamadas mutações e provocam formas diferentes de gripe. A vacina de um ano não protege contra a gripe do ano seguinte. Mesmo vacinadas, as pessoas podem desenvolver um quadro de gripe, porém mais fraca e com riscos menores de complicações e óbitos. O que fazer quando a gripe pega a gente? A velha fórmula: repouso e antitérmico qualquer. Não se deve ir às farmácias atrás de injeções contra a gripe porque elas são ineficazes e podem trazer complicações.
O dr. Lisias é médico urologista, em Campinas, SP
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ESPAÇO KIDS
Olá, crianças! Que superbacana escrever para vocês novamente!
Meu nome é Ákila e Deus me pediu para falar do amor dele contando histórias e usando bonequeira. Na história passada, vocês conheceram as aventuras de Maria Flor e sua avó Dona Margarida. E hoje vamos conhecer mais uma das suas aventuras
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Maria Flor morava em um condomínio de prédios onde havia muitas crianças de sua idade. Tinha também um parquinho e uma quadra onde todo fim de tarde as crianças se reuniam para brincar. Um dia, Maria Flor foi chamar sua melhor amiga do condomínio para brincar. Seu nome era Laura. Ao chamá-la para as brincadeiras, Maria Flor já percebeu que algo estava estranho com Laura. Ela estava muito quieta. E respondeu que, naquele dia, não iria brincar, pois tinha outras coisas para fazer. Maria Flor perguntou - Você vai sair com sua mãe? Laura respondeu - Não. - Então você vai estudar? tentou novamente Maria Flor, que novamente ouviu: - Não Maria Flor fez mais uma tentativa de descobrir o que estava acontecendo: - Então você vai tomar banho e jantar?
Ao que Laura respondeu bem brava: - Não, não e não... E chega de perguntas... Você pode ir embora! E bateu a porta na cara de Maria Flor. Maria Flor saiu tão assustada e triste que nem foi brincar e, quando chegou em casa, sua avó a viu chorando e perguntou: - Maria, o que aconteceu? E Maria Flor respondeu - Vou fazer o mesmo! Vou fazer pior! Nunca mais vou falar com ela. Sua avó, assustada com atitude da neta, perguntou o que estava acontecendo e o que significava “fazer o mesmo”, “fazer pior”. Um pouco mais calma, Maria Flor explicou. Nisso, olhando pela janela, viu a Laura brincando com as outras meninas no parque. - Vovó, você acredita que a Laura bateu a porta na minha cara. Não quis brincar comigo! - Minha neta, não é assim tentou consolar a avó confusa. Naquele instante, Vó Mar-
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garida foi até seu quarto buscar sua Bíblia e leu para Maria Flor o que Paulo havia escrito aos irmãos da igreja em Roma: “Amem uns aos outros com o amor de irmão em Cristo e se esforcem para tratar uns aos outros com respeito” (Romanos 12.10). Depois, perguntou: - Você entendeu, Maria Flor, o que Paulo quis dizer? Depois de pensar um pouco, a menina ainda bicuda respondeu: - Entender eu entendi. Mas, vovó, que respeito ela teve por mim? Quem merece respeito é quem dá respeito... Laura merece o meu desrespeito! Ainda com a Bíblia nas mãos, a avó muito paciente leu os versículos 20 e 21: “Se seu inimigo estiver com fome, dê a ele comida; não deixe que o mal vença vocês, mas vençam o mal com o bem!” - Por mim, ela vai morrer de fome - retrucou Maria Flor. - Eu sei do que você está precisando: de um bom banho e de um momento no seu quarto, só
Mãos à obra você e Deus – explicou a avó. - Mas, vó, estou com raiva e triste. -Então, Flor, fale isto para Deus! Flor obedeceu sua avó. Foi tomar seu banho e, depois, no seu quarto, fez esta oração: - “Senhor, estou com muita raiva. Só penso em pagar o mal com o mal. Não tenho vontade nenhuma de respeitar e fazer o bem para a Laura. Ajude-me a pagar o mal com o bem. Em nome de Jesus. Amém.” No outro dia, Maria Flor teve uma ideia. Chamou sua avó e disse: - Vó! Lembra que você falou que a gente tem que alimentar nossos inimigos? Então, tive uma super idéia. Lembra que um dia a Laura veio aqui em casa e comeu aquele doce que fizemos. Que tal fazermos de novo e fazer uma surpresa para ela? - Você teve uma excelente ideia. - Eu não, vó! Foi Jesus que me ajudou a ter esta ideia!
Naquele dia, elas fizeram deliciosos beijinhos e, no fim da tarde, Flor foi levar para sua amiga. Chegando lá, Laura levou um susto com a atitude de Flor. Ela convidou Maria Flor para entrar e disse: - Estes doces devem estar deliciosos. Desculpa por ontem, amiga. Eu estava chateada com você porque, na escola, você não tomou o lanche comigo e sentou com suas outras amigas. - Puxa, Laura, me perdoa. Não quis magoá-la! - Amo você minha amiga! - Amigas de novo? – perguntou Flor. Laura respondeu dando um abraço em Maria Flor: - Claro que sim. Amigas de novo. - Que barulho é este? – perguntou Flor - São os meninos chamando para brincar de bola queimada. - Vamos? E as duas brincaram juntas até escurecer...
Vamos preparar um beijinho de leite ninho! Chame seus amigos e sua família! 1° passo Ingredientes • 1 lata de leite em pó integral; • 1 vidro de leite de coco pequeno; • 1 lata de açúcar refinado (medida do leite); • 1 pacote de coco ralado (100 gramas); • Cravo da Índia para decorar; • Forminhas. 2° passo Modo de fazer: • 1 – Misture tudo em um recipiente (exceto o cravo da Índia). • 2 – Amasse bem e enrole quando começar a desgrudar das mãos; • 3 – Faça bolinhas pequenas e decore com um cravo da Índia em cada uma. 3° passo Leve para seus amigos da escola ou seus vizinhos. Com certeza, será uma surpresa a eles. Dica: Peça ajuda de um adulto para comprar os ingredientes
Descobertas • Você já brincou de “Bola Queimada”? Converse com seus pais e avós ou pessoas mais idosas da igreja para descobrir se eles conhecem esta brincadeira e quais as brincadeiras preferidas deles quando eram crianças.
is sobre mim? Quer conhecer um pouco ma etc.com.br Visite meu site: www.akila recado e envie Veja minhas fotos, deixe seu tão! car seu u uma foto de como fico .br com etc. kila @a tato Meu e-mail: con c aet akil : tter Twi e Meu face ou Telefones: (17) 9744-5600 988 2-8 (17) 302 Um beijo no seu coração, la Moreira 73 A Revista da Família nº 74 julho/agosto/setembro, 2013 ÁkiAlvorada
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Idea Shinagawa
Mulheres
Comunicação no casamento ÂNGELA SIRINO Não escolha uma hora em que seu cônjuge esteja nervoso, não fale determinadas coisas perto de outras pessoas, não o critique, não o ridicularize. Quantos maridos criticam a comida da esposa perto dos amigos, dizendo que ela está gorda, descuidada ou não é inteligente. Isso menospreza a pessoa e traz afastamento. Quantas mulheres falam mal do marido perto de outras pessoas, criticam suas escolhas, contam defeitos e perdem o respeito diante de parentes e amigos. Esta não deve jamais ser nossa atitude. Minha mãe, uma determinada vez, fez algo que achei muito sábio. Uma das minhas irmãs estava com problemas com o marido e sempre chegava à casa da mamãe reclamando dele. Um dia, minha mãe lhe disse: “Não fale mais desse homem. Ou você se acostuma ou se separa! Porque todo dia você reclama dele. Eu estou tomando verdadeiro ódio dele e você continua casada”. Depois, a sogra é quem não presta. Ah, se todas as pessoas que ouvissem reclamações respondessem assim! Com certeza, haveria pouquíssimas pessoas que continuariam a falar mal do cônjuge para os parentes e os amigos. Procure se certificar de que está tudo bem com ele, dê carinho primeiro, dê amor, dê atenção. Espere a hora correta de falar, principalmente as notícias ruins ou as contas que devem ser pagas na semana. Uma irmã, um dia, me contou que pegou o carro do marido, numa manhã, para arrumar algumas coisas de casa e que deveria retornar ao trabalho dele para buscá-lo, no final da tarde, quando terminasse seus afazeres. Nesse intervalo, ela amassou a lateral do carro do lado do motorista, num pequeno acidente com um motoqueiro. Ela ficou preocupadíssima! Como daria a notícia para o marido? Pensou que, certamente, na hora que ela o pegasse no trabalho, seria a primeira coisa que ele veria. Então, ela disse que orou bastante, pedindo a Deus sabedoria. Chegando ao trabalho, procurou dar muita atenção para ele e falar com ele todo tempo, até ele entrar no carro. Ao chegar em casa fez a mesma estratégia, preparou um saboroso jantar, deitou-se ao seu lado, enquanto ele assistia ao jornal. E cuidou logo de lhe dar uns carinhos caprichados. Então, depois de cuidar muito bem do marido, ela disse: “Querido, preciso
lhe falar algo, um pequeno probleminha”. Então, pediu para ele a acompanhar até o carro e mostrou a ele o pequeno incidente com o motoqueiro. Justificou que não conseguiu pegar a placa da moto e pediu desculpas pelo ocorrido. Diz ela que o marido a abraçou e lhe disse: “Não tem problema, querida. Ainda bem que temos carro e quem tem carro corre esse risco mesmo”. Que alívio para ela! Logo agradeceu a Deus por lhe ter dado sabedoria e virtude em saber comunicar coisas ruins. Seja sábia, esposa! Marido, seja prudente também! Existe sempre uma maneira de sabermos comunicar com eficiência e sabedoria. A Ângela é escritora, apresentadora do programa “Mulheres fazendo a diferença” e preside uma ONG com o mesmo nome
O texto faz parte do livro “É possível ser feliz”
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Índice Vida Cristã
Saúde & beleza :: moda & estilo
moda & estilo
v R
w
Saúde&
beleza Você não precisa sofrer de TPM
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HUMBERTO TINDÓ
Trata-se de um mal que acomete entre 75 a 80% das mulheres, das quais 8% manifestam acentuados sintomas físicos e comportamentais, como mudança de apetite, cólicas, dor de cabeça, inchaço, insônia, ansiedade, depressão e raiva.
O vestido longo é sinônimo de conforto e elegância. cia. Sandálias rasteiras as ou anabela combinam muito bem. Para os dias as mais frios, acrescente cente casaquinho ou uma jaqueta jeans, variando assim a produção.
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Engana-se redondamente quem acha que TPM é frescura. Tensão Pré-Menstrual é um problema muito sério que, para muitas mulheres, dá a sensação real de que o mundo vai acabar. A medicina ainda não sabe com certeza o que causa a TPM, apenas que ela está ligada à ovulação e que deve ser disparada pela produção de hormônios sexuais durante o ciclo menstrual. Por se tratar de uma síndrome, com sintomas que variam muito de intensidade, não existem tratamentos específicos. Cada caso deve ser avaliado individualmente. Quando a TPM é caracterizada por dores e incômodos acentuados, ela é chamada Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM), para o qual, com certeza, seu médico irá ajudá-la a encontrar uma forma (seja por tratamento ou mudanças de hábitos) de amenizar o incômodo. A TPM também mexe com o temperamento e os conhecidos “humores” das mulheres. O fato é que elas ficam mais sensíveis nesta época. Situações comuns no dia-a-dia tendem a afetá-las emocionalmente com mais intensidade. A disposição também não é a mesma; muitas têm uma sensação de fadiga acentuada. Esses sintomas fazem com que haja diminuição nos interesses pelas atividades de costume, e até mesmo as relações interpessoais podem sofrer alterações. O humor e a auto-estima oscilam constantemente neste período, acredita-se, graças às alterações hormonais que acontecem às vésperas do ciclo feminino chegar ao fim. Algumas dicas simples para o dia-a-dia podem ajudar e muito! Mudanças na alimentação, com a diminuição do consumo de gordura, sal, açúcar e cafeína, e a introdução de alimentos ricos em cálcio, além da redução da ingestão de álcool e a prática de exercícios regulares, são armas valiosas para combater a TPM. Fique atenta: caso você leve uma vida saudável e mesmo assim a TPM comprometa a sua rotina, é sinal de que precisa de cuidados médicos. Procure um especialista e leve anotados todos os seus sintomas, pois ele poderá orientar como melhor combatê-la. O Dr. Humberto Tindó é coordenador do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Quinta D'Or Extraído do blog Espaço Saúde da Mulher da Rede D’Or
Vestido longo transmite a feminilidade da a mulher, deixando ndo o look pronto sem complicação. Nos pés use rasteira. No inverno, os vestidos longos também ficam perfeitos com botas e sapatilhas. Dê um toque final com uma clutch e um bracelete.
Vestido com elástico na cintura fica ca super feminino. no. Estampas florais orais são sempre sucesso sso em qualquer estação. ação. Varie o look com sapatilha, sandálias de salto alto ou anabela. Acrescente um cinto, pulseiras e uma bolsa tipo carteira. Tenha um casaquinho de fio para os dias mais frescos.
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Divulgação
A tendência do momento THAISA MONTOSA Desde as últimas coleções, os brincos se tornaram maiores, determinaram um novo estilo e foram adotados pelas celebridades, que gostam de ousar em suas produções e, consequentemente, caíram no gosto das mulheres. Nos últimos desfiles internacionais, marcas como Dolce & Gabbana, Moschino, Gucci, dentre outras, adotaram o acessório na montagem de suas produções na passarela, o que acabou influenciando também marcas brasileiras, fazendo com que essa tendência fosse incorporada à moda local. Se você ainda não tentou usar um acessório tão marcante, não precisa se preocupar. Os maxi brincos podem ser usados por todas as mulheres. Só é preciso cuidar na hora de combinar com o look. Brincos que possuem pedras combinam com tecidos nobres; já os metálicos caem bem com looks mais descolados. Uma boa opção é usá-lo com um look mais clean, como os monocromáticos e os bicolores, dando atenção total ao acessório. Outra opção é usá-lo com um look mais casual, com shorts, calça jeans e camisetas, dando ao look um ar hi-lo. Outra dica importante é que o maxi brinco não deve ser usado com maxi colares. Ao optar por um maxi brinco, dê preferência somente para este acessório. Se quiser usar outras peças, opte por um anel mais discreto, pulseiras menores ou um relógio. Se você tem receio de usar um maxi brinco, pois imagina que ele possa machucar sua orelha por ser muito pesado, esqueça. Existem vários acessórios feitos com materiais super leves, como filetes de metal ou mesmo resinas, que fazem com que os maxi brincos sejam, muitas vezes, mais leves que brincos convencionais. Portanto, se você gosta do estilo e tem vontade de diferenciar suas produções com este acessório que está super em alta, invista sem medo nos maxi brincos e curta essa nova tendência que já fez a cabeça das mulheres. A Thaisa, da Igreja Batista da Lagoinha, é designer de jóias
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"Não sobrecarregue o hoje com os arrependimentos de ontem nem o estrague com os problemas de amanhã." Max Lucado 80 Alvorada
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