A Revista da Família Ano XLV nº 76 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2014
O tédio:
comportamento dominante nas crianças
Sexo seguro Assunto ainda tabu no meio cristão
Amor e tolerância
O que fazer quando um familiar se distancia de Deus?
Comunicação e casamento: Resolvendo conflitos
Violência doméstica
A Revista da Família Alvorada 1 O impacto no desenvolvimento da criança nº 76 janeiro/fevereiro/março, 2014
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EDITORIAL
Na sombra protetora SHEILA DE AMORIM SOUZA
“A pessoa que procura segurança no Deus Altíssimo e se abriga na sombra protetora do Todo-Poderoso pode dizer a ele: “Ó SENHOR Deus, tu és o meu defensor e o meu protetor. Tu és o meu Deus; eu confio em ti” (Salmo 91.1-2). Além das marcas físicas, a violência doméstica costuma causar também sérios danos emocionais. Lembro-me que, aos 10 anos de idade, minha mãe recebeu um recado e saiu correndo de casa. Eu tive que ir junto porque não tinha com quem ficar. Ela foi ao encontro de uma família cujo pai, alcoólatra, ficava muito agressivo e descontava nos filhos sua raiva e frustração. A mãe sempre protegeu os 4 filhos enquanto esteve viva. Após sua morte, minha mãe atendia os chamados com frequência porque havia prometido à amiga proteger as crianças contra as agressões do pai. Fui com ela em algumas destas ocorrências. Algumas aconteceram quando íamos levá-los de volta depois da Escola Dominical. Tive medo, mesmo não sendo eu a agredida. Hoje, fico a pensar no pânico que uma criança enfrenta em situações de violência. Normalmente é na infância que é moldada grande parte das características afetivas e de personalidade que a criança carregará para a vida adulta. O Rev. Leontino Farias dos Santos, psicanalista, em sua matéria, mostra as diversas formas de violência doméstica contra a criança e o impacto que isto causa no desenvolvimento. Trata dos fatores determinantes para essas agressões e faz um alerta: "Entre os principais agressores estão os pais ou quem os representa nos cuidados em relação às crianças, cujo vínculo, quanto à sua qualidade, pode facilitar a violência". Isso é aterrorizante! Quem deveria proteger, cuidar, prover as necessidades básicas das crianças faz o oposto. Exatamente o que eu presenciei há mais de 25 anos. Infelizmente, os noticiários diários nos dão contas de vários casos extremos, chegando até à morte de crianças. Meditando no versículo acima, só posso dizer que Deus nunca nos desampara. Antes, Ele nos socorre em todo tempo e é sempre fiel às suas promessas. O pai daquelas crianças logo veio a falecer e elas passaram a receber os cuidados de uma tia. O Rev. Leontino conclama os cristãos, a igreja, em particular, para cumprir o preceito bíblico de amparar o pobre e o oprimido, a criança, entre os desamparados da sociedade. Mesmo com um tom um pouco mais para a reflexão, não podemos terminar este editorial sem transmitir os parabéns para nossa Alvorada que completará, no dia 3/2/2014, 46 anos. Observamos que, durante estes anos, a revista vem exercendo um papel muito importante, inicialmente na vida das mulheres e, hoje, para a família. Ao resistir o teste do tempo, percebemos o valor desta revista. Fica clara sua firmeza de princípio, ao tratar de assuntos novos e/ou polêmicos, tornando-se uma importante ferramenta em diversas aplicações. Através dos artigos, dicas e reportagens elaborados por preciosos colaboradores, nosso desejo é contribuir para o fortalecimento deste bem precioso projetado por Deus: a família. Outro desejo desta equipe é colaborar na construção de boas memórias a respeito de todo trabalho desenvolvido até aqui. Ebenézer! Boa leitura! Esperamos seu contato.
Sheila alvorada@ipib.org
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Meditação
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Pais e filhos
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Família
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SUMÁRIO
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Na Palavra de Deus encontramos todos os recursos para uma boa ginástica espiritual. Criação de filhos. Há pais que amam seus filhos. E tentam acertar. Muitos levam Jesus Cristo a sério.
Ensino bíblico
O que fazer quando um de nossos familiares se põe em trilhos da vida que podem levá-lo à desilusão, ao fracasso e ao distanciamento de Deus?
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Vida conjugal
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Cristianismo
Comunicação e casamento: resolvendo conflitos
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Finanças
Como poupar dinheiro independentemente de quanto ganha?
Mais que pensamentos positivos. Como cristãos, temos em Cristo Jesus a nossa mais rica esperança.
5 investimentos para se fazer em seus filhos.
Comportamento
Diante de uma mídia manipuladora que incentiva o consumismo, nossas crianças são levadas a vivenciar o tédio.
TDAH
O que é? Conheça a causa, diagnóstico e o tratamento.
Família e Igreja
Juntas podem atuar nas fragilidades e nas dificuldades da educação de filhos.
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Poema
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Espiritualidade
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O cicerone do mal
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Maternidade e paternidade
É fundamental que os próprios pais cuidem de seu filho, desde o nascimento.
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Vida conjugal Fidelidade no casamento
Mães que velam dia e noite pelos filhos para não serem devorados
Relacionamento
Tempo em família é uma importante ferramenta para aproximar e trabalhar a união da família.
ENCARTE ESPECIAL Só pra Mulheres. Elas são únicas e merecem um espaço só delas.
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Violência Doméstica
Um problema sério contra as crianças que pode trazer impacto no seu desenvolvimento.
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Maria Amaro
História, reflexão, fé e espiritualidade
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Conexão jovem
Sexo Seguro. Um assunto ainda tabu para muitos cristãos.
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Voz do Coração
Geração descartável: Como pode o ser humano, livre, indivíduo, cheio de potencialidades, ser tratado como número e ser descartado?
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Saúde
Câncer: uma doença que pode ser combatida com mudança de comportamento
Espaço Kids
História, culinária e brincadeira para a criançada.
Alvorada A Revista da Familia
Órgão Oficial da Secretaria da Família da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Registrado, em 7/11/ 1974, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial sob o n° 289 - CNPJ n° 62.815.279/0001-19 - Fundada em 3/2/1968 por Rev. Francisco de Morais, Maria Clemência Mourão Cintra Damlão, Isollna de Magalhães Venosa. Ministério da Comunicação: Rev. Wellington Barboza de Camargo. Secretário da Família: Rev. Alex Sandro dos Santos. Coordenadoria Nacional de Adultos: Ione Rodrigues Martins e Odair Martins. Coordenadoria Nacional do Umpismo: André Lima. Coordenadoria Nacional de Adolescentes: Rev. Rodolfo Franco Gois. Coordenadoria Nacional de Crianças: Rev. Rodrigo Gasque Jordan. Editora: Sheila de Amorim Souza. Revisor: Rev. Gerson Correia de Lacerda. Arte e Diagramação: Seiva D’Artes. Foto capa: © jovanmandic - Fotolia. Fotos e ilustrações: Allison de Carvalho, Fotolia, stock.xchng, brusheezy e dreamstimefree. Colaboraram nesta edição: Wanderlei de Mattos Júnior, Daniel Dutra, Leontino Farias dos Santos, Alex Sandro dos Santos, Wívian L. C. Brojato, Daniela e Marcus Welte, Lídia Sedin, César Ramirez, Camila L. Tanganelli, Renata da Silva Coelho, Wilson Adurê, Dicla Borges Mendes , Sandra Regina Vilhagra Faria, Wag Ishii, Dulce Vieira Franco de Souza, Evandro Rodrigues, Alessandro Richter, Rodolfo Montosa, Lisias Castilho, Ákila Moreira e Ruthe Marques Oliveira. Redação: e-mail alvorada@ipib.org - Fone: (11) 2596-1903. Assinaturas na Editora Pendão Real - Rua da Consolação, 2121 -CEP 01301-100 - São Paulo/SP Fone/Fax (11) 3105-7773 - E-mail: atendimento@pendaoreal.com.br. Assinatura anual Individual (4 edições): R$45,00, acima de 10 assinantes R$ 40,00, para receber através do (a) agente ou R$ 65,00, para receber em casa. Número avulso: R$ 11,50. Depósito no Banco Bradesco - Agência 095-7 - Conta Corrente 174.872-6. Tiragem: 2500 exemplares. Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião da revista. Permitida a reprodução de matéria aqui publicada, desde que citada a fonte.
MEDITAÇÃO
Ginástica diária para a vida espiritual 1.
Ginástica para relaxamento dos nervos:
Entrega ao Pai Celestial todas as tuas cargas, preocupações e tristezas (Sl 37.4,8; Sl 46.10; Rm 8.18; Fp 4). 2.
4.
Ginástica auditiva
Escuta a voz de Deus (Sl 8.5; Jó 10.4-5; Is 6.8; Pv 21.13).
Ginástica facial
Sorri, sorri, sorri o dia inteiro (1Ts 5.16; Sl 126.5; Fp 2.18). 8.
Ginástica para as pernas
Anda, sem temer, pelos caminhos em que Deus te guiar (Is 55.1-8; Rm 12.12-13).
Ginástica para a mente
Exercita-te exclusivamente com ideias construtivas (Sl 1.2; Fp 4.8). 5.
7.
Ginástica ocular
Vê somente o bem dos seus semelhantes (Fp 2.3; Mt 26.7-10; Pv 3.29).
Ginástica para a língua
Pronunciem seus lábios apenas palavras edificantes e caritativas (Cl 3.16; Mt 5.7; Pv 31.26).
Ginástica respiratória:
Respira apenas a atmosfera de paz, de amor e de felicidades (Cl 3.13; Hb 12.2,14). 3.
6.
9.
Ginástica para as mãos
Une-as diariamente para a prece (1Tm 2.8; Pv 31.20; Sl 134.2). 10. Ginástica para o coração
Irradia sentimentos de amor (Rm 12.9; Fp 1.9). 11. Ginástica para a alma
Tem todos os dias contato com Deus (Mq 6.8; 2Ts 5.17; Lc 21.19). Autor desconhecido
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Alvorada 5
PAIS E FILHOS
Criação de filhos:
Alguém se habilita? RUTHE MARQUES OLIVEIRA
Há pais perfeitos na criação dos filhos? Não. Mas há pais que amam seus filhos. E tentam acertar. Muitos deles levam Jesus Cristo a sério. Isto é um grande espelho para os pimpolhos. Visamos resultados? Claro. Mas temos que ser realistas e lembrar que seres humanos não podem ser tratados como se fossem ciências exatas.
6 Alvorada
Será que existe uma receita? Precisamos, por favor, urgentemente, de uma que atenda a todas as necessidades. Filhos não são bichinhos de estimação, mas pessoas e, como tais, têm um teor de complexidade conforme a idade. Alguém já disse que, quando Deus criou o ser humano, rasgou a receita, porque ninguém é igual a alguém. Até sobre os nossos filhos, por vezes, podemos pensar: “Será que não foi trocado na maternidade?” A afirmação “filho de peixe, peixinho é” pode ser bastante ilusória; e a expectativa de que, uma vez ensinado, o novo rebento se portará de acordo, como se pudesse ser programado como um robô obediente às suas configurações, também pode deixar a desejar. Quando isso acontece, pais decepcionados podem perguntar: “Onde será que eu errei?”. Esta pergunta, conforme a situação, pode não ter sentido. Gary Collins, doutor em psicologia e conselheiro cristão, afirma que, mesmo que os pais fossem perfeitos, ainda haveria possibilidade de rebelião e problemas porque as crianças têm mente e vontade próprias. Os filhos são dom de Deus e podem trazer tanto alegria quanto tristeza. Outros profissionais afirmam que crianças diferentes terão reações totalmente diferentes numa mesma situação. Rollo May, psicoterapeuta, afirma que os antecedentes familiares não podem ser considerados como a causa total da situação presente do indivíduo. Isto significa-
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ria cair num determinismo fácil. Vemos, então, que, com seres humanos, não é possível absolutizar nada. Humanos podem surpreender nas suas atitudes, tanto no sentido positivo como também no negativo. Então, como fica o “criar filhos”? Dentre todas as ações necessárias, uma delas é o ensino. E os pais têm um papel primordial nesta tarefa. No Antigo Testamento, a vida do povo estava orientada pela Palavra de Deus. Havia objetivos e o principal era que Deus fosse conhecido como Senhor (Dt 6.1-2). Era natural que o ensino acontecesse como um estilo de vida. Deuteronômio 6.6-9 diz que a palavra deveria estar no coração dos pais; em seguida, tinha de ser inculcada nos filhos, ser falada quando assentados em suas casas, andando pelo caminho, ao deitar-se e ao levantar-se. Deveria ser colocada como sinal nas mãos, na frente dos olhos, e escrita nos umbrais das casas e nas portas. Como uma impressão digital, o coração humano e os lugares deveriam ter a marca da Palavra de Deus. A Bíblia mostra a marca de um Deus presente. No Éden, no virar do dia, Deus chama o ser humano: Adão, onde estás? (Gn 3.9). No cristianismo, Deus se encarnou na pessoa de Jesus Cristo (Jo 1.1) e estava presente na vida dos discípulos. O que Cristo fez, ensinou e viveu com eles ficou guardado na mente. Quando ascendeu (At 1.9), continuaram aprendendo, enquanto levavam adiante o que Ele havia ensinado (Atos dos Apóstolos). Os evangelhos mostram um Jesus Cristo que multiplica alguns pães
batalha para a introdução, em casa, de um estilo de vida com discipulado para os filhos. O “estar presente” na vida dos filhos pode ser vestido de diferentes características. Uma delas é a socialização em casa e nos ambientes que a família frequenta tais como igreja, locais de lazer. As interações nestes níveis marcam a vida do ser humano para sempre. Outra forma de os pais marcarem presença é a vigilância com observação diária das ações e reações dos filhos. Quando há negligência do cuidado pessoal, rejeição, necessidades não satisfeitas, negligência espiritual, fica comprometida uma socialização sadia, que pode comprometer um discipulado eficaz. Guardamos muitas memórias do nosso tempo de infância e que nos influenciam na vida adulta. Há um legado deixado pelos pais aos filhos. Há pais perfeitos na criação dos filhos? Não. Mas há pais que amam
seus filhos. E tentam acertar. Muitos deles levam Jesus Cristo a sério. Isto é um grande espelho para os pimpolhos. Visamos resultados? Claro. Mas temos que ser realistas e lembrar que seres humanos não podem ser tratados como se fossem ciências exatas. Viver o processo do ensino dando o melhor, com zelo e temor a Deus, é o caminho. É como um capital de investimento: investir hoje pra haver probabilidade de colher no futuro. A Ruthe, da 1ª IPI de Fortaleza, CE, é educadora. É casada e mãe de 3 filhos.
Referência bibliográficas COLLINS, Gary R. Aconselhamento Cristão. São Paulo: Vida Nova. 1988. MAY, Rollo. A Arte do Aconselhamento Psicológico. Petrópolis: Vozes, 1996. RADFORD, John; KIRBY, Richard. A Pessoa em Psicologia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976. RICHARDS, Lawrence O. Teologia da Educação Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1996.
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para uma multidão faminta e que também diz: “Nem só de pão o homem viverá, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. Não existimos só pra comer, beber, viajar, sonhar com ganhar a vida e navegar na internet. Jesus Cristo espera, certamente, que não pensemos tão pouco do sentido da vida. Ninguém pode dar aquilo que não tem. Pais discípulos passam para os filhos uma vivência com a Palavra de Deus que se reflete em um estilo de vida. E o discipulado não é algo automático; há uma estrutura de vida para que aconteça. Alguém já disse que o exemplo fala mais alto que as palavras. O modo como os pais atuam fica como imagem na mente da criança. A criança hoje vive, diariamente, em um contexto amplo de informações. É a era do computador, das imagens das redes sociais na internet. E aqui se forja uma verdadeira
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Alvorada 7
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FAMÍLIA
O melhor investimento na vida dos filhos
8 Alvorada
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REINALDO MONTOZA BRIONES
Sempre que penso em ‘investir’ ou ‘investimento’, me vem à mente o conceito de aplicar, multiplicar, empregar recursos com fim lucrativo. Aqueles que possuem esta característica estão sempre procurando oportunidades para investir, seja na profissão, nas finanças, no ministério ou nos relacionamentos. Quando associo este ‘investimento’ a relacionamentos, especialmente com os filhos, me ocorre o Salmo 127.3 que diz: ‘Herança do Senhor são os filhos…’. Usamos com frequência esta expressão da Bíblia, mas será que pensamos na profundidade do seu significado? Na cultura hebraica, suscitar uma descendência, gerando filhos, era a maior bênção que poderia se receber de Deus. Por isso, era uma verdadeira herança. Aquele que recebe esta herança e tem consciência do seu grande valor, como um legado, um patrimônio transmitido, não irá sair por aí desperdiçando a exemplo do filho pródigo, mas procurará aplicá-la de forma a render-lhe ainda muitos lucros. Como pais cristãos, não podemos abrir mão deste privilégio e desta grande responsabilidade. Por isso, somos desafiados a investir nesta herança que são os nossos filhos. Quero discorrer brevemente sobre cinco investimentos importantes que precisamos fazer na vida deles:
1) Amor fundamental
É o alicerce emocional que dá segurança. Sem dúvida, é o maior legado que os pais podem deixar na vida de seus filhos. Este amor deve ser expresso de modo incondicional, seja através de palavras ou ações. Invista palavras e atitudes de amor em seu filho, diga-lhe continuamente que o ama, demonstre este amor através de pequenos atos, até mesmo quan-
do o disciplina. Afinal, a disciplina é uma grande expressão de amor. Este amor fundamental será transmitido aos filhos através do relacionamento conjugal. Isso mesmo! Alguém já disse que o melhor legado que podemos dar aos nossos filhos é um casamento sólido. Investir no amor como alicerce do caráter de seu filho é um excelente investimento.
2) Autoridade
Deus colocou os pais como autoridade sobre a vida de seus filhos e vocês devem exercê-la de modo firme e amoroso, de maneira que seu filho desenvolva a habilidade de se relacionar bem com toda autoridade. Vocês são a primeira esfera de autoridade com a qual seu filho irá se relacionar, ou seja, é no relacionamento dentro do lar que ele irá aprender a respeitar e a submeter-se às demais autoridades que encontrará em sua vida. Não se omita nesta grande responsabilidade dada por Deus a você.
3) Confiança
É segurança que nos permite permanecer firmes diante das circunstâncias ou acontecimentos ruins. Confiar é ter fé. A insegurança e a falta de confiança são raízes de males que afetam o indivíduo em sua vida adulta e são construídas na infância. Pais, invistam na transmissão de confiança (fé) para seus filhos. Confiança em quem são e virão a ser no futuro. Confiança no amor, na vida e no relacionamento com as pessoas. Confiança em Deus para que aprendam a ter fé diante das adversidades da vida.
4) Coragem
Habilidade de agir como guerreiro diante de situações de luta em favor de si mesmo e dos outros. Esta é uma característica imprescindível, especialmente para um cristão. Desde
pequeno, nossos filhos já enfrentam os embates no dia-a-dia: na escola, na vizinhança, nos relacionamentos… E nós, pais, somos aqueles que irão instruí-los e encorajá-los a encarar estas lutas. Nós somos seus referenciais de coragem. Não podemos superprotegê-los, mas devemos ensiná-los a enfrentar seus problemas. À medida que crescem, deverão assumir seus valores espirituais e posicionar-se diante deles e, para isso, necessitarão coragem.
5) Valorização e aceitação
É no ambiente do lar, na convivência pai e filho, que construímos uma identidade firme e positiva. Pais, invistam na valorização e aceitação de seus filhos. Num mundo que costuma usar as pessoas e valorizar as coisas, o ambiente do lar irá valorizá-los e aceitá-los como são, sem rótulos, ‘formas’ ou padrões impostos. Apoiem seus filhos em suas habilidades. Ajude-os a se firmar em sua personalidade. Elogiem suas atitudes (virtudes). Imagino que você chegue aqui na leitura indagando: Por que nada foi mencionado sobre investimento de tempo, comunicação, exemplo, educação, culto doméstico, oração? Estes são aspectos importantes de investimento na vida dos filhos. No entanto, somente conseguiremos alcançar tais investimentos colocando os que foram mencionados em prática. Aliás, estes são meios para conquistarmos aquilo que é essencial e irá alicerçar o caráter e a vida de nossos filhos. Eles estão implícitos nas cinco áreas de investimento mencionadas acima. E isto tudo só se constrói no ambiente saudável de um lar no qual prevaleçam o amor e o perdão, e no qual Cristo seja Senhor! Invista nesta herança que Deus lhe deu! O Rev. Reinaldo, pastor da IPI Maanaim, em Curitiba, PR, é casado e pai de duas filhas
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COMPORTAMENTO
O tédio,
comportamento dominante em nossas crianças
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Diante de uma mídia manipuladora que incentiva o consumismo, nossas crianças são levadas a vivenciar o tédio. Desejam um brinquedo (o último da moda), mas, quando o conseguem, perdem a vontade de brincar com ele. Isso também é possível ver no uso que fazem dos joguinhos do celular ou tablete.
CÉSAR ORLANDO MENDOZA RAMÍREZ
Observando as crianças de nossa época, percebo nelas algumas características marcantes. Uma delas é o tédio. Este faz com que elas percam facilmente o interesse em fazer coisas, ouvir, sentir, etc., criando uma tristeza com amargura. O interessante disso é que, diante de uma mídia manipuladora que incentiva o consumismo, nossas crianças são levadas a vivenciar o tédio. Desejam um brinquedo (o último da moda), mas, quando o conseguem, perdem a vontade de brincar com ele. Isso também é possível ver no uso que fazem dos joguinhos do celular ou tablete. Muitos deles são gratuitos. Elas os instalam um após o outro, mas, com a mesma rapidez, o desinstalam. O tempo de duração de um jogo no celular ou tablete de uma criança é curtíssimo. Como pais, devemos ajudar a corrigir o tédio em nossas crianças. Para que isso seja possível, devemos, primeiramente, não acreditar que esta geração é ruim e que a nossa era muito melhor. Na verdade, todas as gerações humanas tiveram suas características boas e ruins. Em segundo lugar, devemos observar este comportamento como uma das marcas deste tempo que vivemos. Negá-lo seria um tremendo erro. Terceiro, devemos nos posicionar, instruindo nossos filhos
segundo a Palavra de Deus. A Bíblia diz: “Onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mt 6.21). Pode-se perceber que a época atual está gerando um ídolo no coração de nossas crianças. Este ídolo é o “Materialismo”, ou seja, ter tudo o que você sempre quis. Este ídolo cria constante insatisfação e promove sua existência através da seguinte frase: “Minha vida só faz sentido se eu tiver posses altamente desejáveis”. Então, podemos nos perguntar: que tipo de comportamento este ídolo gerará no ser humano? Gerará o tédio e suas consequências são terríveis. Podemos dizer que fará com que o ser humano seja mais agressivo, irritadiço por qualquer coisa, pensando em si mesmo e não no próximo, desprezando o momento que está vivendo e acreditando que, com algo novo que planeja conseguir, será feliz. Só que, cada vez que esse novo chega, automaticamente vem o tédio e, assim, desenvolve-se a procura de outra novidade que o torne feliz. Na verdade, tal novidade nunca chegará, aumentando ainda mais a sensação de insatisfação com a vida. Consequentemente, a necessidade de ter crescerá em seu coração. Esse tédio gerará uma vida de desconfiança, vingança, ciúmes, mágoa, desejo de revidar, aborrecimento crônico, irritabilidade aumentada, angústia, ansiedade,
desesperança, fadiga, cansaço fácil e constante, desânimo, diminuição da vontade. Diante do exposto, como devemos pastorear o coração de nossas crianças? Segundo David Powlison1, o ser humano convive com uma tríplice tensão: os impulsos biológicos, as motivações internas, e os condicionamentos sociais e culturais. Sendo assim, o tédio é um comportamento que o ídolo do materialismo, incentivado pelos condicionamentos sociais e culturais de nossa época, está gerando. João Calvino afirmava que há uma consciência ou senso de Deus (Sensus Divinitatis) implantado em todas as pessoas por natureza. Esse senso nos torna adoradores. A questão é: quem guia a escolha da nossa adoração? Segundo a Bíblia, todos os seres humanos buscam desesperadamente aquilo que o seu coração deseja. Infelizmente, porém, nosso coração muitas vezes nos engana: “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável” (Jr 17.9). E nos leva a escolher um ídolo para adorar: “Filho do homem, estes homens ergueram ídolos em seus corações e puseram tropeços ímpios diante de si” (Ez 14.3). Essa adoração dirige nossas crenças, desejos e vontades. Quando um ídolo domina nosso coração 1 POWLISON, David. Ídolos do coração & feira das vaidades: vida cristã, motivação individual e condicionamento sociológico. Editora Refúgio.
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O relacionamento com nossas crianças deve seguir o modelo do relacionamento de Jesus conosco. Esse relacionamento tem por objetivo a redenção do coração para a glória de Deus e isso é possível quando, primeiramente, entramos no mundo da pessoa.
(materialismo), domina nosso comportamento (tédio). Em outras palavras, ele determina quem é esse ser humano e como ele viverá. Assim, o problema básico de todo ser humano não é externo (comportamento), porém interno (coração): “Filhinhos, guardem-se dos ídolos” (1Jo 5.21). Para sermos instrumento de mudança do coração das nossas crianças, temos primeiramente que focalizar nossas energias na mudança dos nossos corações. Precisamos começar pelo coração dos pais, antes do coração dos filhos. Mais importante do que ensinar às crianças as verdades sobre Deus é amá-las de verdade. Mas elas só poderão ser amadas se, primeiramente, o amor de Cristo estiver no coração dos pais. A única maneira de alcançar nossas crianças é através do amor de Cristo. Ele é a base da nossa esperança pessoal e expressão. O relacionamento com nossas crianças deve seguir o modelo do relacionamento de Jesus conosco. Esse relacionamento tem por objetivo a redenção do coração para a glória de Deus e isso é possível quando, primeiramente, entramos no mundo da pessoa. Para isso, é necessário entrar pela porta certa, aquela porta que está deixando entrar o tédio em nossas crianças. Como fazemos isso? É necessário manter a atenção na conversa com a criança, nas emoções reveladas, nas interpretações feitas sobre o problema, e nas declarações sobre si mesma e sobre Deus. Além disso, devemos encarnar o amor de Cristo. O método de Deus para mudar a nossa vida foi nos amar. Como pais, somos instrumentos nas mãos de Cristo não apenas para falar sobre o amor de Deus, mas, acima de tudo, para sermos uma ilustração viva deste amor. O Rev. César, pastor da IPI Rio Pequeno, São Paulo, SP, é casado e pai de 2 filhas
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Nota
Duas sugestões de livros que ajudarão aos pais nas educação de seus filhos conforme a vontade de Deus. • MacARTHUR, John F. Jr. Como educar seus filhos segundo a Bíblia. Editora Cultura Cristã. O objetivo deste livro é apresentar os princípios bíblicos sobre a educação da forma mais clara possível e ajudar a tornar claros os deveres de pais e mães conscientes de suas responsabilidades perante Deus. • TRIPP, Tedd. Instruindo o coração da criança. Editora Fiel. Desde a sua interação com outras crianças até a instrução e correção que recebem em casa, as crianças interpretam suas experiências a partir das seguintes perguntas fundamentais: Quem sou eu? Para que existo? Onde posso encontrar alegria? Por essa razão, precisamos providenciar para nossas crianças uma estrutura bíblica persuasiva e consistente, para que compreendam o mundo que Deus criou, bem como o seu papel nele.
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Meu filho não pára quieto! E agora? CAMILA L. TANGANELLI
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Um carrossel de perturbações, o universo infantil é o seu cenário. Um forte rebuliço causa àqueles ao seu redor. Mamãe, papai, titia, titio, irmã, gatinha, escola. Todos participam, mas nem todos compreendem. Será preciso nascer de novo E assim ser valorizado pelo que se é?
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Alvorada 13
A epígrafe na página anterior retrata bem o universo infantil de uma criança que padece muitas vezes por “ser apenas criança” fazendo suas artes e brincadeiras ou também por sofrer com algum transtorno que, muitas vezes, chamamos de hiperatividade. Tal assunto vem tomando cada vez mais espaço entre pais, professores e profissionais da saúde, levantando curiosidades e dúvidas. Tanto na escola como em casa ou em lugares públicos, a agitação de uma criança, sua inquietude diante de outras pessoas ou mesmo sua falta de limites e indisciplina, já é motivo para o diagnóstico prévio e súbito: “Esta criança é hiperativa!”. Há falta de informação e precipitação na qualificação de crianças que normalmente são agitadas, cheias de energia, chamando a atenção dos que estão ao seu redor com suas travessuras. Precisamos conhecer melhor o que quer dizer o termo “hiperatividade” a partir do conceito básico da sigla TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). No intuito de esclarecer aos pais, familiares e professores, envolvidos com crianças, é necessário que compreendam o que realmente ocorre e, a partir daí, tomem certo cuidado ao proferir qualquer ‘rótulo’ que possa afetar a criança no seu quadro emocional como também de seu desenvolvimento psíquico. Sabemos que, muitas vezes, pais e professores são surpreendidos com comportamentos agitados e inquietantes de seus filhos e alunos. Sem saber o que fazer diante dessas circunstâncias, de maneira precipitada, preferem encaminhá-los para médicos ou especialistas, com um diagnóstico infundado e sem evidências concretas. Tudo isso é muito perigoso, podendo afetar a saúde emocional e afetiva das crianças. A partir disso, acredito ser neces-
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sário conhecermos um pouquinho sobre o termo hiperatividade, suas causas e consequências, sobre como o diagnóstico pode ser realizado e as possíveis intervenções para que haja uma relação harmoniosa entre pais e filhos, criança e escola, criança e sociedade. Seguem algumas considerações conceituais e sistemáticas sobre o assunto:
O que é o TDAH?
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é diagnosticado em crianças na fase pré-escolar, ou seja, aos 6-7 anos de idade. A partir de estudos já realizados sobre tal transtorno, não existem ainda causas específicas que possam comprová-lo, mas algumas hipóteses levantadas podem explicar alguns sintomas, como a desatenção, a impulsividade e a hiperatividade, característicos de uma criança hiperativa. Rodhe, Barbosa, Tramontina e Polanczyk descrevem bem o quadro clínico de uma criança com TDAH, com o seguinte comportamento: “agitar as mãos ou os pés ou se remexer na cadeira, abandonar sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado; correr ou escalar em demasia, em situações nas quais isto é inapropriado; pela dificuldade em brincar ou envolver-se silenciosamente em atividades de lazer; estar frequentemente ‘a mil’ ou muitas vezes agir como se estivesse ‘a todo vapor’; e falar em demasia”. Aqueles que estiverem lendo este breve artigo podem-se perguntar: “Meu Deus, meu filho não pára quieto! E agora? Será que ele tem TDAH?” Calma! Não seja precipitado em rotular o seu filho, dizendo que ele é hiperativo. Pais e professores envolvidos na educação de crianças devem estar atentos ao comportamento e atitudes das crianças e, a partir da existência de uma frequência rotineira de tais
comportamentos descritos acima, aí, sim, deve-se buscar orientações de um profissional da saúde para adequar possíveis intervenções de tratamento.
Causas e consequências de uma criança com TDAH
Seguindo ainda a linha de estudos e pesquisas realizadas, podemos considerar, por exemplo, fatores genéticos, atendo-se a casos dentro da família que possam justificar este transtorno, como pais com alguma dependência química ou a mãe com algum distúrbio mental. Ou mesmo fatores orgânicos como a ação desequilibrada no sistema nervoso central, segundo o distúrbio no metabolismo de aminoácidos e dos neurotransmissores (noradrenalina, serotonina e dopamina), necessitando assim de estimulantes como a desipramina para o controle de tal distúrbio. Por causa deste desequilíbrio comportamental, as crianças são atingidas com um sofrimento psíquico muito grande, desestabilizando-se nas relações em casa, na escola e na sociedade. Muitos se afastam da criança hiperativa, pois a mesma não aceita regras, impondo na maioria das vezes aquilo que lhe agrada, desrespeitando o outro e suas opiniões. Torna-se difícil a convivência com uma criança hiperativa por conta da sua falta de controle e decisões impensadas, o que a prejudica em suas várias atividades e contatos sociais. No âmbito escolar, tanta agitação pode prejudicar o processo de ensino-aprendizagem, ocasionando déficit que compromete seu desenvolvimento. Da mesma forma como ocorre na escola, a criança com TDAH expõe-se de maneira impulsiva e inquieta no ambiente familiar. Seus comportamentos inoportunos acabam por causar algumas perturbações domésticas tais como não parar
Há falta de informação e precipitação na qualificação de crianças que normalmente são agitadas, cheias de energia, chamando a atenção dos que estão ao seu redor com suas travessuras.
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quieto na hora das refeições, comer com voracidade e ansiedade. Ao assistir TV, não consegue manter-se quieta. Interrompe a conversa das pessoas ao seu redor. Demonstra uma grande desorganização com seus materiais escolares e brinquedos, entre outras descrições que apresentam graves problemas com indisciplina. Devido a esses compor-
tamentos, muitos integrantes da família não conseguem manter a paciência para entender e ajudar uma criança com TDAH. Em muitos momentos, a criança demonstra sua impulsividade arranjando brigas sem motivo aparente, apenas para satisfazer seu desejo de ter uma vontade realizada. Na tentativa de amenizar estes sintomas, é preciso ter o reconhecimen-
to e a compreensão da família para lidar com tal transtorno, ajudando a criança a respeitar regras e limites estabelecidos no âmbito familiar, sendo então estendidos aos contatos sociais também. Ao determinar uma rotina para a criança hiperativa, é possível estabelecer um relacionamento saudável e de bem estar a ela e a todos ao seu redor.
Diagnóstico e tratamento do TDAH Além de levar em considerações os critérios diagnósticos estabelecidos por organismos que identificam e qualificam a existência de qualquer transtorno que atinja a saúde mental do ser humano, é necessário levar em consideração um diagnóstico assertivo de TDAH, manifestações emitidas em casa, escola e no meio social. Ainda que os sintomas de hiperatividade, impulsividade ou desatenção sejam revelados isoladamente, será preciso considerar a situação em que se encontra o indivíduo, pois muitos comportamentos são reativos a circunstâncias vividas, como na escola, na qual o sistema de educação encontra-se inadequado, problemas no âmbito social ou mesmo questões mal resolvidas em relacionamentos com pais e/ou colegas. A partir de uma observação sensibilizada destes comportamentos realizados pela família e escola, aí, sim, os pais devem procurar um médico especialista para que possa auxiliá-los e orientá-los quanto ao tratamento a ser seguido. Sobre o tratamento, muitas são as intervenções que podem auxiliar a criança com TDAH, mas apenas algumas têm prevalecido com a sua eficácia, sendo eles o farmacológico, com o uso de medicamentos, o terapêutico e o auxílio familiar e escolar. Após o diagnóstico, convém que pais e professores amparem a criança com este transtorno, im-
pondo limites e regras a serem respeitadas, dando-lhe a assistência necessária para que possa conviver harmoniosamente com os outros ao seu redor. Especificamente a família deve disponibilizar tempo e espaço para que a criança brinque com o que mais goste. É imprescindível o acompanhamento dos pais nessas brincadeiras, pois assim a criança sente-se amada e recebe o afeto de que tanto precisa. Na escola, é recomendável que os professores chamem a atenção desta criança para as tarefas propostas, assentando-a num lugar em que seja mais bem vista pelo adulto e, assim, prenda melhor sua atenção para compreender o que lhe é solicitado. Pode ser que uma vez ou outra a criança venha a dispersar sua atenção. Diante disso, será necessário elaborar estratégias mais atrativas na hora do ensino da tarefa. Tais sugestões interventivas podem ajudar a criança a manter bons relacionamentos em casa e na escola. A partir de tais apontamentos sobre a criança hiperativa, penso que o universo infantil caracterizado por comportamentos desagradáveis, muitas vezes, esconde a falta ou o desejo de que algo se concretize, tornando-se real. Alguma coisa que paira sobre o âmbito da fantasia, e que dificilmente é compreendido e condensado na realidade. É necessário que os pais e/ou cuidadores estejam presentes neste universo, favorecendo a criança com um suporte emocional, dando-
-lhe amor e transmitindo o afeto de que tanto precisa. Refletindo sobre a criança com TDAH e suas necessidades emocionais, torna-se de suma importância para a mesma ter um espaço para externar e expressar o seu mundo interno, sendo vista como um ser humano normal, que requer tempo e espaço para brincar. Suas energias precisam ser gastas, mas, ao mesmo tempo, precisam ser compreendidas como sendo de uma criança com desejo de afeto e aceitação emocional. É recomendável que a família modifique alguns hábitos de convivência, não levando tanto em consideração aspectos isolados sobre o TDAH, mas lembrando-se da importância desta criança sentir-se acolhida e aceita como é. E, a partir daí, sustentar uma relação que traga benefícios emocionais, afetivos e também sociais para que, por meio desta conquista, a criança consiga crescer e se desenvolver saudavelmente, alcançando bons relacionamentos e perspectivas futuras para o seu mundo adulto. A Camila, membro da 1ª IPI de São Paulo, SP, é psicóloga clínica Referências bibliográficas Rohde, L. A.; Barbosa, G.; Tramontina, S.; & Polanczyk, G. (2000). Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade. Revista Brasileira de Psiquiatria, (Supl II), 7-11. Topczewski, A. (1999). Hiperatividade: como lidar? São Paulo: Casa do Psicólogo.
Contatos: 11-98257-2356 / e-mail: camilatanganelli@gmail.com A Revista da Família nº 76 janeiro/fevereiro/março, 2014
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PAIS E FILHOS
Maternidade e paternidade As ideias apresentadas no texto são fundamentadas na abordagem de D. W. Winnicott, médico e psicanalista inglês.
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RENATA DA SILVA COELHO
Os filhos sempre chegam para fortalecer o sentimento de família. Os pais amadurecem com as responsabilidades de cuidado com seus filhos. Mesmo quando os pais encaram com receio uma gravidez, por preocupações financeiras, dúvidas sobre conseguir cuidar dos filhos, preocupações com o espaço da casa ou sua idade avançada ou precoce, os filhos chegam quando eles precisam. E talvez a questão mais importante, no momento em que um bebê chega na família, seja a capacidade dos pais para acreditar ser possível serem bons pais. Ou suficientemente bons pais. Durante a gestação, as próprias mudanças no corpo da mãe fazem com que ela, desde o início, deixe de se preocupar com o cotidiano de sua vida doméstica e do trabalho para se preocupar cada vez mais com ela mesma e o bebê que está crescendo em sua barriga. Isso faz com que, logo após o nascimento, a mãe esteja completamente envolvida com as necessidades e os cuidados com o bebê. Aos poucos, ela vai retomando sua rotina doméstica e de trabalho à medida que o bebê vai crescendo e, de certa forma, não depende tão completamente da mãe. Essa condição materna é possível porque a mãe também foi um bebê que foi cuidado e, assim, guarda um tipo de memória do que precisa um bebê e de como cuidar dele. Ela também brincou de ser mamãe com suas bonecas, observou e participou dos cuidados de outros bebês de sua família em alguns casos. A mãe tem uma relação tão especial com seu bebê que é como se ela e o bebê formassem uma unidade, mãe-bebê. Do mesmo jeito que ela é uma unidade com seu bebê durante a gestação, esse estado de união continua nos primeiros tempos após o nascimento. O pai vive algo semelhante à mãe, pois também guarda uma certa memória de ter
Quando não há fatores importantes que causem impedimento, é fundamental que a própria mãe cuide de seu filho, desde o nascimento, sem que outras pessoas, familiares ou amigos, tomem a frente nos cuidados diários e rotineiros com o bebê, tais como o banho, a troca de roupas e fraldas, e principalmente a amamentação.
sido um bebê que foi cuidado e pode agora cuidar de sua família, o que quer dizer tornar o ambiente ao redor da mãe tranquilo o bastante para que ela possa voltar-se para si mesma e para o bebê. Tudo o que os pais, em geral, precisam é de um ambiente pessoal que favoreça sua crença em suas qualidades como pai e mãe. Pode ocorrer que as pessoas ao redor dos pais tenham determinadas atitudes e comportamentos que prejudiquem o desenvolvimento saudável da adaptação à nova fase da vida trazida pela gestação e o nascimento de um filho. Quando não há fatores importantes que causem impedimento, é fundamental que a própria mãe cuide de seu filho, desde o nascimento, sem que outras pessoas, familiares ou amigos, tomem a frente nos cuidados diários e rotineiros com o bebê, tais como o banho, a troca de roupas e fraldas, e principalmente a amamentação. A mãe é a pessoa mais preparada para saber do que precisa o bebê e como deve atendê-lo, considerando que, desde antes do nascimento, está se adaptando ao novo papel que irá desempenhar na vida. Um suporte bem vindo para a família que está recebendo um novo bebê seria o auxílio na organização da casa, a atenção para outros filhos maiores e as tarefas diárias para as quais a mãe e o pai não estão disponíveis para resolver. O cuidado diário com o bebê e a adaptação constante à roti-
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Os bebês devem ser alimentados de acordo com suas necessidades. Assim, não é preciso acordá-los para mamar, se estão dormindo tranquilamente, a não ser que haja orientação médica para isso, quando, por exemplo, o bebê nasceu com baixo peso e precisa recuperá-lo mais rapidamente. O mais importante é que não há regras quando se trata da amamentação. Cada mãe dedicada ao seu bebê saberá quando e como amamentá-lo.
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na de dedicação ao bebê tornam-se a base para o estabelecimento firme e forte da capacidade de ser pai e mãe adequados para o bebê. Os pais, mesmo que inicialmente se sintam inseguros, não devem ser privados de seus papéis, pois o medo inicial pode se cristalizar e impossibilitar o amadurecimento saudável desses adultos, diante da nova situação familiar. Os pais devem ser atendidos de acordo com suas solicitações, de forma não intrusiva de seu relacionamento com o bebê. Assim, quando eles solicitarem, os familiares e amigos devem estar à disposição e somente nesse momento. Para o bebê, os cuidados físicos que recebe são, ao mesmo tempo, também cuidados emocionais. O bebê sente-se amado quando é tocado, segurado no colo e amamentado. Ao retirar ou colocar o bebê no berço ou ao deslocar ao bebê pelo espaço, é necessário que ele seja avisado de que algo novo vai acontecer, com toques suaves que o façam perceber que algo vai acontecer. Assim, o corpo do bebê deve ser completamente envolvido pelas mãos e braços que o seguram, evitando que o bebê se sinta solto no espaço. Aos poucos e com a rotina constante e estável, esses toques e o colo seguro propiciam ao bebê a formação de uma consciência corporal e um sentimento de segurança pessoal que fortalece sua identidade individual. Outros exemplos de cuidados ambientais bem adaptados às necessidades do bebê na rotina diária são o banho e a amamentação. O banho do bebê deixa a mamãe bastante ansiosa e, em geral, o bebê chora muito durante todo o tempo. Ultimamente, tem se orientado o uso de uma banheira com formato oval e alto, o tummy baby (algo como bebê na barriga). O bebê fica em posição fetal, envolvido por água em temperatura agradável, o que lhe traz uma vivência já conhecida durante os meses de gestação. Nesta banheira, o bebê se sente acolhido, com todas as partes de seu corpinho reunidas, mas o mais importante é que a mamãe se sinta calma e segura para que seu bebê possa aproveitar o banho com tranquilidade em sua companhia. Durante a amamentação, é importante que o bebê receba um bom colo, com apoio adequado para sua cabeça e seus pés, o que lhe dá um sentido de unidade e segurança, além de desenvolver um sentimento de confiança entre o bebê
e sua mãe ou a pessoa que cuida dele. Esse segurar o bebê de forma redondinha é indicado mesmo quando a amamentação ocorre com o uso da mamadeira, o que é indicado desde o início para alguns bebês. Além disso, deve-se lembrar que, nas primeiras semanas e meses, o bebê mama a todo o momento. Devido à pouca força muscular e falta de completo controle motor para sugar, ele repete várias vezes a mamada para se satisfazer. Conforme vai crescendo e ganhando força e controle muscular, suas mamadas se tornam mais completas. O que não significa que ele já sabe que deve mamar de acordo com a hora do relógio. Os bebês devem ser alimentados de acordo com suas necessidades. Assim, não é preciso acordá-los para mamar, se estão dormindo tranquilamente, a não ser que haja orientação médica para isso, quando, por exemplo, o bebê nasceu com baixo peso e precisa recuperá-lo mais rapidamente. O mais importante é que não há regras quando se trata da amamentação. Cada mãe dedicada ao seu bebê saberá quando e como amamentá-lo. Cada bebê e cada mãe irão descobrir sua forma de relacionamento, que será única. Não é possível aprender em manuais como cuidar de seu bebê, que é único. Os cuidados simplesmente precisam ser tranquilos e dentro da necessidade do bebê. Pode ser que as coisas não corram muito bem e, devido à história de vida dos pais, a identificação com o bebê e a crença em sua capacidade de cuidar sejam prejudicadas. Essa situação indica a necessidade de cuidados maiores de outras pessoas e até de profissionais. Aqui, é interessante comentar que, durante o período de internação para o parto, é comum que profissionais de enfermagem utilizem certos procedimentos pedagógicos para orientar as mães sobre a amamentação. Muitas mães podem sentir-se incompetentes para a amamentação diante da instrução diretiva e até insistente para que a amamentação ocorra facilmente. Os profissionais que as atendem neste momento de vulnerabilidade devem estar atentos para facilitar a comunicação espontânea entre a mãe e o bebê durante a amamentação, pois as mães estão completamente voltadas para seus bebês neste momento, e podem ter dificuldade e receio em recusar a atuação de profissionais voltados para técnicas de assistência aos bebês. Algumas mães podem desistir de ten-
tar o contato de amamentação por terem reforçados seus sentimentos de inadequação e fracasso, o que dificilmente é revertido quando se sentirem sozinhas com o bebê em casa. A atuação profissional mais eficiente para a mãe e o pai é a simples presença pessoal, confiante e disponível do profissional. Basta estar disponível para atender as solicitações dos pais. Quando situações mais complicadas ocorrem como, por exemplo, a infertilidade inicial ou a perda gestacional recorrente, é necessário recorrer ao suporte profissional adequado para que um sentimento de fracasso pessoal quanto à capacidade para a maternidade e/ou paternidade não se instale na base do relacionamento com um novo bebê ou até entre o casal. Nestes casos, o apoio profissional adequado e pessoal poderá se caracterizar por um ambiente de cuidados confiáveis, especialmente após a perda de um bebê ou durante as tentativas para engravidar. Por fim, é indispensável comentar os aspectos sociais, como a licença maternidade e paternidade, e o cuidado institucional com crianças menores de dois anos. Seria importante que pudéssemos refletir sobre a importância de valorização da família em um dos momentos mais fundamentais para sua estruturação, o nascimento de um bebê. Oferecer condições sociais e trabalhistas para que os pais permaneçam um tempo mais longo cuidando de seus bebês, sem preocupações com as pressões do trabalho ou com a assistência que seus filhos muitos pequenos recebem nas creches. Talvez o maior direito das mães, dos pais e de seus bebês sejam ter um bom início, com cuidados familiares suficientemente bons. Mais do que ter direito à educação institucional, os bebês deveriam poder estar na companhia de sua mãe ou pai por, ao menos, um ano inteiro, no seu primeiro ano de vida. Imagine se as licenças maternidade e paternidade ocorressem pelo período de um ano, seis meses para a mãe e outros seis meses para o pai, tempo que poderia ser cedido de um para o outro! As famílias assim seriam socialmente valorizadas em sua tarefa, difícil e natural, de cuidar de seus bebês. A Renata frequenta a IPI Casa Verde, São Paulo, SP, é doutora em psicologia clínica, psicóloga e professora universitária renatacoelho.psi@gmail.com
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FAMÍLIA E IGREJA Entre os anos 70 e 80, as crianças passaram a ser autoras da própria história. Essas crianças, supostamente pelo fato das mulheres adotarem o uso contínuo da pílula, o controle da natalidade e quererem ter menos filhos para educá-las com mais qualidade, passaram a ter um lugar de proeminência na sociedade e este destaque as colocou em um patamar de consumidoras exigentes
Filhos da igreja contemporânea WILSON ADURÊ
Conversando com minha mãe a respeito de como foi sua infância, ela me disse que não tinha muito direito de opinar ou protestar com seus pais. A obediência era algo primordial na relação deles. Se tivesse visita em casa, por exemplo, e ela quisesse conversar com os meus avós, precisando interromper o diálogo dos adultos, a interrupção deveria ser de extrema relevância. Para isso, ela deveria entrar na sala com muita cautela e, em um momento oportuno, pedir licença e assim falar o que estava querendo. Se meus avós suspeitassem que ela estivesse ali interessada no assunto dos adultos, ela corria sérios riscos de apanhar depois que as visitas saíssem. Além disso, meus avós definiam cada atividade a ser feita durante o dia e, dessa forma, sobrava pouco tempo para bisbilhotar a conversa dos adultos ou até mesmos brincar com as crianças vizinhas. Se observarmos as crianças de nossos dias, é fato que elas não têm nada a ver com as crianças da geração de minha mãe. Segundo Mary Del Priori, organizadora do livro História das Crianças no Brasil, entre os anos 70 e 80, as crianças passaram a ser autoras da própria história. Essas crianças, supostamente pelo fato das mulheres adotarem o uso contínuo da pílula, o controle da natalidade e quererem ter menos filhos para educá-las com mais qualidade, passa20 Alvorada
ram a ter um lugar de proeminência na sociedade e este destaque as colocou em um patamar de consumidoras exigentes. Por esse motivo, elas começaram a ter maior visibilidade no cinema e na publicidade como mercado consumidor. Essas características fizeram com que, concomitantemente, as famílias diminuíssem o número de filhos. Além disso, surgiram leis de proteção à infância e à adolescência que passaram a garantir direitos outrora violados. Essas leis possibilitaram às crianças o acesso cada vez mais cedo às creches e escolas, tornando-as mais interativas e desenvolvidas, e consequentemente com maior capacidade de leitura de mundo. Contudo, educação, roupas, calçado, alimentos e brinquedos começaram a ser veiculados na mídia no nível de linguagem acessível às crianças consumidoras. Elas podem até não ter a consciência de que as agências de propaganda consideram-nas como fiéis clientes, porém é fato que as mesmas passaram a ter gostos, vontades, grifes e, contundentemente, passam a escolher seus produtos. Isso ocorre porque as crianças “adultizadas” estão expostas a um grande número de estímulo e influências midiáticas. Tânia Zagury, mestre em educação e autora de Limites sem Trauma, diz que “quem está criando filho agora são os que já tiveram liberdade na infância e estão frente a uma situação que não vivenciaram: os filhos deles também querem
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fazer de tudo. A liberdade da criança acaba tirando a dos pais”. Zagury em 1990 já identificava o surgimento da tirania infantil. Essas crianças são exaltadas pelo poder de compra e liberdade, e sabem se impor aos pais que, por sua vez, não sabem lidar com essa situação que sempre será considerada nova para cada novo filho. Por outro lado, o pai e a mãe, para aumentarem o poder aquisitivo da família, passaram a trabalhar mais e a situação piora nas cidades em que há o problema de mobilidade urbana, pois o transporte não é eficiente e o trânsito não flui e, consequentemente, os pais ficam mais tempo longe dos filhos. A situação tende a piorar em casos de separação dos cônjuges. Atualmente, grande parte dos lares é chefiada somente pela mãe, que acaba assumindo o papel de mãe e pai ao mesmo tempo. Nestes casos, é possível afirmar que há graves consequências para os filhos que ficam distantes, física e afetivamente, do pai. O pastor e psicanalista Leontino Farias dos Santos, em um artigo da edição 75 da Revista Alvorada (2013 pp. 18 – 21), observa que um dos grandes problemas do modelo de família moderna é a ausência dos pais nos lares. Para Leontino, o problema não consiste somente no fato de muitas famílias se ajustarem sem a figura paterna, mas também no fato de que, em muitos lares, embora os pais estejam presentes fisicamente, não estão presente afetivamente. Essa ausência de interação entre pai e filho, para a psicanálise, contribui para a má formação cognitiva, a interação e a realização social da criança. Segundo o psicanalista, é o referencial do pai que tem como objetivo estabelecer limites e parâmetros de certo e errado para a criança em formação. Leontino comenta os resultados da pesquisa feita pela Associação Brasileira de Medicina Psicossomática que apontam que a obesidade infantil ocorre em crianças cujos pais estão ausentes em seu desenvolvimento e formação. Outro resultado a partir dessa ausência é o amadurecimento precoce da sexualidade nas meninas. Alguns psicólogos e neurologistas afirmam que, sem a presença do pai ou em ambientes em que há pouca interação, elas têm desempenho cognitivo abaixo do normal, inclusive com a probabilidade de baixo rendimento escolar e, em alguns casos, tendência ao suicídio. Mas é preciso também pontuar que, mesmo nos lares em que há o esforço do pai e da mãe para oferecer um ambiente favorável para o desenvolvimento da criança, também há pro-
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A igreja pode se utilizar da psicologia comportamental, aliada à sabedoria bíblica, para ajudar os pais que têm dificuldades na educação dos filhos. Essa pode ser mais uma ferramenta para acessar pessoas que não se envolveriam com a igreja, se não estivessem em uma situação de dificuldade com os filhos.
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blemas. É possível constatar que a maioria dos brasileiros não está conseguindo educar seus filhos. Há um discurso, geralmente entre as pessoas na faixa etária dos quarenta anos, que diz: “No meu tempo, esse tipo de coisa não acontecia”. Para o pai e a mãe fica a sensação de impotência e frustração pela suposta constatação de que não estão conseguindo educar os filhos. Porém, a sabedoria bíblica pode ser um caminho a orientá-los nesta difícil caminhada de educar os filhos.
A criação dos filhos na perspectiva bíblica
Ao lermos tanto o Antigo como o Novo Testamento, não podemos nos esquecer da sabedoria bíblica. Ela nos ensina a respeito do temor ao Senhor Deus e a apropriação dessa sabedoria, visando à melhoria da condição de vida do ser humano. O temor do Senhor como sabedoria é algo extremamente valorizado pelos judeus. Talvez os cristãos da geração pós-moderna se esqueceram de fomentar, sobretudo nos ambientes de leitura bíblica, essa sabedoria. Salientamos a
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contribuição da Tradição Reformada para a valorização dessa sabedoria bíblica. A respeito da Sola Scriptura, há muito que dizer. Todavia, nos ateremos à sabedoria contida nos textos bíblicos a respeito dos ensinamentos aplicados à vida cotidiana, relacionando pais e filhos. Quando lemos o texto de Deuteronômio, não podemos ignorar a orientação de que é necessário estar apto a ser um chefe ou, numa boa perspectiva democrática, um moderador da família. No capítulo 4, há uma preocupação de Deus com os israelitas quanto à obediência. Nesta preocupação, verificamos a necessidade de que os pais sejam transmissores, compartilhadores e/ou via dessa sabedoria aos filhos (Dt 4.5 e 9). O pensamento bíblico a respeito dessa moderação é, acima de tudo, a preocupação com a manutenção do arquétipo de fé das próximas gerações. Não podemos ignorar que esse arquétipo é a sabedoria bíblica, muito útil ao ensino das crianças para que sejam adultos bem inseridos e relacionados na comunidade.
Outro fator importante que esta sabedoria nos ensina é a valorização do tempo de qualidade nos ambientes de comunhão. O lar é um local de ensino e aprendizagem dos pais e dos filhos. Os Salmos 127 e 128, relacionados entre si, trazem a noção de família ao redor da mesa. No contexto da cultura brasileira, a área social, a churrasqueira e a cozinha são lugares em que há comunhão plena. Para marcar isso, o mestre Jesus usou a imagem da mesa para interagir com os discípulos no seu último encontro e, para as próximas gerações, ele deixou como memória e orientou que os seus seguidores repetissem esse ato de comunhão até o seu retorno. O Salmo 128 no verso 3 reproduz a ideia de ambiente familiar ao redor da mesa: “[...] tua esposa, no interior da tua casa, [..] teus filhos [...] à roda da tua mesa”. Adaptando à vida contemporânea, podemos dizer que deve haver uma interação entre as gerações, ou seja, os avós com os netos, os pais com os filhos e os pais com os seus próprios pais. Este local de interação está presente no imaginário do salmista,
Os filhos de uma igreja contemporânea Temos que considerar que a igreja pode ter papel fundamental na orientação dos pais, ao auxiliá-los em relação à educação de seus filhos. As programações que as igrejas, sobretudo as de Tradição Reformada, desenvolvem, como os estudos bíblicos de domingo de manhã e cultos de domingo à noite, por exemplo, podem colaborar neste processo de ensino-aprendizagem, mas não conseguem ajudar efetivamente. Por isso, é preciso reinventar a maneira de ser igreja no contexto da pós-modernidade. O pastor, que já soma vários papéis ao seu, precisa assumir
pois ele sabe, em sua sabedoria, que não se pode ensinar alguém que não está próximo, e esse é o exercício da interatividade familiar. O Salmo 127, por sua vez, nos diz que a família que valoriza estes momentos tem em seus filhos seu orgulho. A ideia moderna de filhos bem sucedidos passa pelo ensino e aprendizagem, e essa perspectiva demanda comunhão e investimento de tempo de qualidade no ambiente familiar. No Novo Testamento, há uma interpretação paulina do Antigo Testamento a respeito da relação entre os pais e os filhos. Há alguns conselhos em Efésios, capítulo 6, especificamente dos versos 1 ao 4, que trata da educação dos filhos. Neste excerto, as Escrituras salientam que os filhos devem obedecer aos pais, por meio do Senhor, como se fossem o Senhor e isso, de certa maneira, está implícito na sabedoria de temor ao Senhor ensinado às crianças. Outro apontamento do texto bíblico é a promessa contida em Êxodo 20, ou seja, “honre teu pai e tua mãe para que tudo te vá bem”. É como se o es-
mais um papel, o de moderador de conflitos entre pais e filhos. Para instrumentalizar isso, ele pode treinar líderes que exerçam isso como um ministério. A igreja pode se utilizar da psicologia comportamental, aliada à sabedoria bíblica, para ajudar os pais que têm dificuldades na educação dos filhos. Essa pode ser mais uma ferramenta para acessar pessoas que não se envolveriam com a igreja, se não estivessem em uma situação de dificuldade com os filhos. E, para desenvolver uma atividade de ajuda terapêutica aos pais, a igreja pode juntar profissionais da pedagogia, psicopedagogia e da psicologia, que poderão atuar avaliando as fragi-
critor estivesse dizendo: “Vale a pena honrar o pai e a mãe, filhos, pois o próprio Senhor o recompensará”, trazendo longevidade. Novamente há a inferência do temor ao Senhor. Além disso, em outro ponto importante, o texto nos diz: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”. A imagem da mesa está presente não fisicamente, mas implicitamente na troca de experiências entre os pais e os filhos, pois o texto enfoca a liberdade que os pais devem dar aos filhos, não os sufocando, não os pressionando, mas deixando-os se auto-afirmarem com segurança diante de cada situação conflituosa. Temos o dever de deixá-los viver suas experiências, mas também temos o dever de assisti-los de longe. O Novo Testamento é mais amplo em dizer que os pais e os filhos podem e devem trocar experiências. E, assim, cada um pode ter seu espaço respeitado de maneira democrática. Esta pode ser a ponte que a igreja precisa para orientar os pais na educação dos filhos.
lidades e as dificuldades enfrentadas pelos pais na educação dos filhos. Aliado a isso, pode haver uma palavra pastoral de conforto aos pais angustiados por não se sentirem aptos a educarem seus filhos. Por fim, a educação dos filhos, que é uma dificuldade tão comum em nossa geração, pode ser vista como um problema da sociedade contemporânea ou pode ser vista como mais uma oportunidade de atuação da igreja. Tudo depende de como queremos olhar para essa situação. O Wilson, seminarista da FATIPI, congrega na IPI do Tucuruvi, é casado wilsonadure@hotmail.com
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, João Ferreira de. Trad. A Bíblia Sagrada (revista e atualizada no Brasil). 2 ed. São Paulo: Sociedade Bíblica Brasileira, 1993. DOS SANTOS, L. F. A importância do pai para o desenvolvimento infantil. A Revista da Família Alvorada, São Paulo, ano XLIV, Ed. 75. pp. 18-21, out/dez. 2013. PRIORE, Mary del (org.).História das crianças no Brasil. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 231-258. VINES, J. Porque é tão difícil colocar limites no seu filho. Folha de São Paulo, 06/12/2006.
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PSICANÁLISE E ESPERANÇA
Violência domésticas O impacto no desenvolvimento da criança
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LEONTINO FARIAS DOS SANTOS
A criança é sempre muito sensível em relação a tudo que lhe diz respeito. No caso da violência, qualquer que seja sua origem, a repercussão de situações desconfortáveis no desenvolvimento infantil pode ser traumatizante, com consequências inimagináveis em relação ao seu futuro. Otto Rank (1884-1939), ao referir-se ao “trauma do nascimento”, já sinalizava para o fato de que, ao nascer, a criança, dependendo do ambiente e de quem a acolhe, pode carregar consigo sequelas de grande repercussão em seu desenvolvimento emocional. John Bowlby (1907-1990), ao referir-se à violência causada às crianças após a II Guerra Mundial, com o “trauma da separação” ao serem deixadas em creches, aponta consequências desastrosas que lhes ocorriam. Entre essas consequências, inúmeros casos de delinquência juvenil. Quando falamos de violência doméstica e o impacto que ela pode causar no desenvolvimento infantil, não se pode esperar que a situação das crianças nessa condição seja diferente. Muitas crianças não só têm sido testemunhas de violências entre os pais, entre os pais e os demais filhos, entre os irmãos, mas também contra elas próprias. Este tipo de violência é mais comum diante de crianças de 0 a 9 anos de idade, e até entre adolescentes de 10 a 19 anos de idade, entre diversos fatores nem sempre identificáveis.
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O que se deve entender por violência doméstica
São todos os episódios que acontecem dentro da família, caracterizados por agressões entre familiares, gritos, empurrões, estrangulamento, pancadas, práticas sexuais explícitas diante de crianças ou mesmo agressões físicas e abusos sexuais contra elas. Certos castigos aplicados à criança pelos pais, ainda que sejam com a intenção de educar, instruir, ensinar (deixar a criança de castigo, sem refeição, de joelhos, sem roupas, etc.) também são considerados violência. Ao presenciarem a violência doméstica, as crianças correm o risco de enfrentar problemas psicossociais, aterrorizando-as e perturbando significativamente sua socialização, com maus-tratos também psicológicos.
Fatores determinantes da violência doméstica
Geralmente as pessoas que produzem a violência doméstica encontram motivos que aparentemente seriam justificáveis. A princípio, há os que dizem que certas práticas são justificáveis porque na sua origem têm como fundamento boas intenções, como a disciplina e a educação. São adultos que dizem precisar do controle da criança para que ela se comporte bem. Para tanto, usam táticas de coerção, abuso emocional e psicológico para lidar com crianças consideradas “abusadas”. Esse tipo de argumentação
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Quando falamos de violência doméstica e o impacto que ela pode causar no desenvolvimento infantil, não se pode esperar que a situação das crianças nessa condição seja diferente. Muitas crianças não só têm sido testemunhas de violências entre os pais, entre os pais e os demais filhos, entre os irmãos, mas também contra elas próprias. Este tipo de violência é mais comum diante de crianças de 0 a 9 anos de idade
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Não se pode ignorar que as condições sociais, relacionadas à falta de emprego, à péssima qualidade de vida, aos limites da vida financeira da família, à baixa escolaridade dos integrantes familiares, entre outros, podem desencadear agressões físicas, negligência, abusos psicológicos; nesses casos, a agressividade pode ser um escape.
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torna sutil o limite sobre o que é ou não uma prática violenta. Entre os principais agressores estão os pais ou quem os representa nos cuidados em relação às crianças, cujo vínculo, quanto à sua qualidade, pode facilitar a violência. Dependendo dos vínculos familiares e a situação da família, pode ser que os pais descarreguem nos filhos suas amarguras, suas frustrações na vida conjugal e na vida financeira ou sua insegurança em relação ao futuro, culpando-os, inclusive, por situações adversas. Nessas condições, pode ser que os filhos se tornem um peso, uma preocupação a mais que poderia ser evitada. Depende também da personalidade do agressor, da maneira como foi educado na infância, das violências que sofreu. Assim, a violência praticada contra os filhos pode ser a reprodução de suas experiências anteriores, como forma de compensar ou por achar que o modelo aplicado à sua educação, na infância, é o que deve ser repetido na formação dos filhos. Não se pode ignorar que as condições sociais, relacionadas à falta de emprego, à péssima qualidade de vida, aos limites da vida financeira da família, à baixa escolaridade dos integrantes familiares, entre outros, podem desencadear agressões físicas, negligência, abusos psicológicos; nesses casos, a agressividade pode ser um escape. Nos abusos sexuais, vários fatores são determinantes. Um deles está relacionado à situação de pobreza e vida promíscua da família. A miséria econômica, moral e espiritual colaboram. Em muitas casas, as condições de vida são precárias. Pouco espaço para muita gente dormir no mesmo lugar. Muitas meninas são sexualmente abusadas por padrastos, irmãos, tios, avós porque, dormindo todos num mesmo cômodo da casa, uns sobre os outros, o ambiente facilita a promiscuidade. Há casos doentios que têm sido determinantes dos abusos sexuais.
Nos casos incestuosos ou de pedofilia, portadores de distúrbios mentais poderão provocar esse tipo de violência. A pedofilia é uma psicopatologia, uma perversão sexual com caráter compulsivo e obsessivo. Define-se pela atração erótica por crianças de ambos os sexos. Essa atração pode ser elaborada como fantasias ou se materializar em atos sexuais com meninos ou meninas. Muitos pedófilos sofreram violência sexual quando crianças; ou, de outra forma, quando meninos, se não sofreram violência sexual, tiveram irmãs que sofreram tais constrangimentos. Esses podem tornar-se agressores.
Consequências
Como toda criança é extremamente sensível do ponto de vista emocional, tudo que lhe ocorre em termos de relacionamentos pode produzir consequências desagradáveis. Se a criança tiver diante de si um ambiente de carinho e acolhimento, poderá entender com palavras e gestos comedidos o que se espera de seu comportamento; poderá tornar-se amável, carinhosa. Contudo, diante de pais ou adultos agressivos, poderá sofrer danos que resultarão na idade adulta em homens ou mulheres violentos, depressivos ou medrosos, repetindo-se assim nesse adulto a forma como foi criado. A violência doméstica prejudica a saúde física e mental da mulher, gerando também o impacto de afetar negativamente a saúde da criança. Um estudo publicado pelo BID concluiu, depois de uma análise de 83.000 dados estatísticos de cinco países da América Latina e Caribe, que representam 26,3 milhões de mulheres, “que há uma relação negativa entre a violência doméstica e a saúde da criança. Os efeitos começam durante a gravidez, tendo em vista o fato de que as mulheres grávidas, quando vítimas de violência doméstica, têm menos probabili-
Formas de violência doméstica contra a criança
Didaticamente tem sido comum classificar a violência doméstica quanto às formas como: •
Violência física Caracterizada de forma intencional, deliberada, não acidental, praticada pelos pais, responsáveis, familiares ou pessoas próximas, tendo como objetivo ferir, provocar danos capazes até de levar à morte, deixando ou não marcas evidentes dessa situação. •
Violência sexual Resultante de um jogo sexual, hétero ou homossexual, praticado por alguém, um adulto, com a intenção de estimular a criança sexualmente ou utilizá-la para obter satisfação sexual. Neste caso, incluem-se práticas como carícias, manipulação da genitália, mama ou ânus, o voyeurismo (pelo simples prazer de ver como a criança se comporta diante desses estímulos), pornografia, exibicionismo, até o ato sexual com ou sem algum tipo de penetração. De acordo com o Núcleo de Estudos da Violência contra Crianças e Adolescentes da Sociedade de Pediatria de São Paulo (2007), a violência sexual pode ter diferentes contextos de ocorrência, com características específicas quanto à demanda, onde a relação entre o agressor e a criança é o principal determinante da forma como os casos ocorrem. Há o abuso sexual extra-familiar, com agressor desconhecido; há o abuso sexual extra-familiar com o agressor conhecido, que se dá de forma gradual, cada vez mais intensa, acompanhado de ameaças verbais ou sedução, fazendo com que a criança fique em silêncio por medo ou vergonha; há o abuso sexual intra-familiar, que ocorre entre os membros da mesma família (pode incluir pai, irmãos, tios, avôs), dentro do ambiente doméstico ou fora dele. •
Violência psicológica Caracterizada por toda forma de submissão da criança aos pais ou responsáveis através de agressões verbais, humilhação, desqualificação, discriminação, depreciação, culpabilização, responsabilização excessiva, indiferença ou rejeição. Também a utilização da criança para atender às necessidades psíquicas de um adulto é um outro fator. Tudo isso representa maus-tratos capazes de causar danos ao desenvolvimento psicossocial da criança. •
Negligência Quando há omissão de quem está responsável pela criança em prover as necessidades básicas para o seu desenvolvimento integral. Exemplos de negligência são privação de medicamentos, de alimentos, de roupas, desinteresse pela educação escolar, descuido com a higiene da criança. •
Síndrome de Munchausen por Transferência Quando a criança é conduzida para cuidados médicos por causa de sintomas inventados pelos pais; trata-se de comportamento que impõe sofrimentos físicos a criança, com a exigência de exames desconfortáveis, uso de medicamentos de gosto desagradável, capazes de causar danos psicológicos de difícil solução. • Bullying É um tipo de violência mais comum entre adolescentes, praticada nas escolas e incentivada nas redes sociais, como a produzida pela Internet.
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A violência doméstica que é praticada diante da criança ou contra ela poderá desestruturar a base da formação física e psíquica desse indivíduo e toda a valorização de si mesma e dos outros com os quais virá a conviver. Essa experiência desastrosa deixará marcas profundas que lhe darão uma visão de mundo e da sociedade deturpados.
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dade de realizar as necessárias cinco visitas pré-natais” a um médico. Os resultados em vários outros estudos têm mostrado que o impacto da violência doméstica afeta o desenvolvimento infantil e o futuro da criança, comprometendo não apenas a vida da criança, mas também o desenvolvimento econômico e social de um povo. Considerando as consequências físicas, os resultados de outros estudos têm mostrado que a violência doméstica até pode, em casos extremos, determinar a morte da criança; mas esse tipo de violência também pode gerar ansiedade, transtornos depressivos, alucinações, baixo desempenho escolar, alterações na memória, sérias consequências emocionais, sociais, além de comprometer o futuro da criança, com possibilidade até de tentativas suicidas. Na vida adulta, a criança também poderá desenvolver o interesse por substâncias psicoativas, por bebidas alcoólicas, outras drogas e a iniciação precoce na atividade sexual, tornando a menina mais vulnerável à gravidez precoce, à exploração sexual e à prostituição. Também enquanto criança, o indivíduo, em fase de formação de sua personalidade e do entendimento do sentido de família e proteção, tem como modelo para si os adultos com os quais se relaciona e os valores que lhe ajudarão a formar os conceitos morais que servirão de referências em toda a sua vida adulta. A violência doméstica que é praticada diante da criança ou contra ela poderá desestruturar a base da formação física e psíquica desse indivíduo e toda a valorização de si mesma e dos outros com os quais virá a conviver. Essa experiência desastrosa deixará marcas profundas que lhe darão uma visão de mundo e da sociedade deturpados. Os valores fundamentais da família (amor, carinho, respeito) poderão ser ignorados ou distorcidos, comprometendo assim os valores também básicos da sociedade, com a progressão da violência de maneira global, sem respeito à vida e ao próximo.
O caminho a seguir
Como se percebe, a criança vítima da violência doméstica está em situação de risco mesmo quando não sofre qualquer abuso e apenas presencia agressões entre os familiares. Algumas evidências sugerem que o risco maior é para crianças mais jovens, em virtude de suas limitações para a compreensão de conflitos. Reconheçamos que muitas violências são encobertas. Muitos têm medo de denunciar episódios de violência cometidos pelos que deveriam proteger as próprias crianças, tais como os pais, familiares, amigos, conhecidos, cuidadores e outras pessoas investidas de alguma autoridade. Reconheçamos que há uma certa aceitação social da violência utilizada com a justificativa de “educar”. De igual modo, faz-se necessário que os serviços de escuta da sociedade sejam acionados (dis-
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que-denúncia, delegacias, serviços de saúde e assistência social, escolas, conselhos tutelares, a própria comunidade). Todos nós podemos contribuir para a cultura da paz. Todos, como cuidadores, podemos desenvolver ações de sensibilização e mobilização na defesa de crianças em situação de risco. Entre essas ações, destacamos posturas proativas, debates, orientações diretas às crianças, denúncias, quando for o caso. Todos temos, para ações concretas, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e outros aparatos legais à disposição. A igreja, em particular, deve estar entre os segmentos de vanguarda, para cumprir o preceito bíblico de amparar o pobre e o oprimido, a criança, entre os desamparados da sociedade. O Rev. Leontino, pastor da 1ª IPI de Mauá, SP, é psicanalista,casado e pai de 2 filhos
O cicerone do mal DICLA BORGES MENDES
“Sede sóbrios; vigiai; porque o Diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando com leão, buscando a quem possa tragar" (1Pe 5.8). O Diabo é mestre em desviar, esconder e até cegar. Mostra o que lhe convém, só o que quer mostrar. Mostrou a árvore do conhecimento do bem e do mal; Escondeu a consequência terrível - o adicional... Mostrou Bate-Seba a Davi; linda, desejável! Escondeu a humilhante vergonha e a dor incalculável. Mostra a adúltera ao jovem, que a ela vai com sede; Esconde que, ao segui-la, está caindo na rede. Mostra o prazer das compras, possessões, luxo, riqueza; Esconde o vazio, a mesmice da vaidade e a vileza. Mostra o caminho largo e quantos que por ele vão; Esconde que esta via termina em perdição. Mostra que os maus prosperam, os que agem por cobiça; Esconde que o grande Deus, no final, fará justiça. Mostra, distorcendo, o amor de Deus e a bondade; Esconde sua santidade, justiça e severidade. Mostra a tribulação dos que seguem a Jesus; Esconde o "peso da glória" a que eles fazem jus. Em sua vida neste mundo, cuide não ser enganado Pelo cicerone do mal. Você já está avisado! A Presba. Dicla é da 4ª IPI de Sorocaba, SP
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ESPIRITUALIDADE
Mães que velam dia e noite pelos filhos para não serem devorados 30 Alvorada
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SANDRA REGINA VILHAGRA FARIA
“Então Rispa, filha de Aiá, tomou um pano de saco e o estendeu para si sobre uma penha, desde o princípio da ceifa, até que sobre eles caiu água do céu; e não deixou as aves do céu pousarem sobre eles de dia, nem os animais do campo de noite” (2Sm 21.10). Por causa de uma aliança tola que Josué fizera com os gibeonitas e, consequentemente, vindo a vingança de Saul (leia toda a história em Josué 9 e 2 Samuel 21), Davi não teve outra saída para “pagar” o referido mal àquele povo a não ser mandar enforcar sete jovens, filhos do rei Saul com duas de suas concubinas, cinco filhos de Merabe e dois de Rispa (Armoni e Mefibosete). A Bíblia diz que “foram mortos nos primeiros dias da ceifa da cevada.” “... e os corpos dos sete moços enforcados para a expiação da culpa da casa de Saul não foram sepultados, foram deixados sobre a penha onde morreram”. Rispa, cujo nome significa “pedra quente”, foi firme como uma rocha. Mulher forte e de caráter firme. Era filha de Aiá, cujo nome vem da mesma raiz da palavra “intocável”, e não “arredou o pé” dali. Vestiu-se de panos de saco e colocou desse mesmo material (roupa de quebrantamento e humildade) sobre a rocha em frente aos cadáveres de seus filhos e os ficou guardando “e não deixou as aves do céu pousarem sobre eles de dia, nem os animais do campo de noite”. Ali permaneceu desde o começo da colheita até a vinda das primeiras chuvas de outono que caíram sobre os sete corpos esquecidos no madeiro, ao relento. Até que, dois meses depois, o coração do rei Davi se comoveu e mandou sepultar decentemente aqueles corpos juntamente aos ossos do rei Saul (2Sm 21.12-14). Rispa, como uma heroína, sofreu em
seu posto sozinha. Não tinha medo e não saía de sua “torre de vigia”. Esse assunto muito me comove e me leva a abordar um assunto que tem despertado e levantado inúmeras mães: A oração das mães. Mães que, como Rispa, choram e velam por seus filhos vítimas de um sistema mundano, que vigiam por filhos aparentemente “intocáveis” por terem nascido em lares cristãos, mas que, num piscar de olhos, podem ser presas fáceis deste mundo. Mães que colocam “panos de saco” sobre a “Rocha”, que simboliza Cristo e suas promessas, e vigiam e oram, pondo seus joelhos no chão pelos filhos espiritualmente mortos em drogas, prostituição, homossexualismo e outras depravações que exalam o mau cheiro do pecado, decompondo-os a cada dia. Mães que, com suas orações, “espantam o ataque dos abutres do dia e das feras da noite”. Elas creem que Deus irá ressuscitar seus filhos e lhes dará uma nova e maravilhosa vida. Creem que seus filhos receberão o “toque” de vida do Espírito Santo e serão ressuscitados para uma nova vida ainda neste mundo, a fim de serem um canal de bênção para outros jovens. Precisamos clamar a Deus pelos nossos filhos que, um dia, foram consagrados ao Senhor, pois ataques sobrevoam suas vidas querendo tirá-los do altar. Somente o sangue de Jesus pode protegê-los a fim de vencer o inimigo. Não pretendo ser dramática, mas não podemos tapar os ouvidos às tragédias envolvendo filhos de grandes servos de Deus, cegados literalmente por Satanás, que assassinaram os próprios pais. Minha oração é: “Senhor, creio totalmente na tua Palavra que diz que nossos filhos são tua herança. Por isso, não permita que essa he-
rança, essa riqueza, seja gasta nos altares do príncipe deste mundo. Creio que o Senhor é poderoso para guardar esse tesouro (meus filhos) até o dia final. Santifica-os a fim de que nunca se esqueçam que, em seus corações, habita o Espírito Santo”. Confio nas promessas do Salvador, dentre elas destaco a oração sacerdotal: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo 17). Merabe, mãe dos outros cinco jovens, deixou Rispa sozinha. Não quero deixar outras mães a clamarem e vigiarem sozinhas, e também não quero ficar só. Por isso, precisamos de muitas “Rispas” corajosas. Precisamos umas das outras para velar dia e noite pelos filhos a fim de que não sejam devorados pelas feras que, em formas humanas ou não, estão a favor do príncipe deste mundo. Sigamos a orientação de Pedro: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1Pe 5.8). Somente em oração vamos sensibilizar o coração de Deus. Ele pode se tornar favorável à igreja que ora, que não desanima e persevera. Vamos começar e continuar com as mães que não se cansam de vigiar dia e noite... E orar... E crer... Até que o Rei dos reis se compadeça delas (mães) e faça cessar a sua dor tendo misericórdia de seus filhos. Muito pode em seus efeitos a oração de um justo. Mães e povo de Deus, uma igreja forte se faz com oração. Não há dúvida de que nós aprendemos a orar orando. C. H. Spurgeon ensina que, para orar, precisamos orar; e precisamos continuar a orar, para que as nossas orações possam continuar. A Sandra, membro da IPI de Votuporanga, SP, é casada e mãe de dois filhos
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RELACIONAMENTO
Tempo em
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Às segundas-feiras, colocamos os colchões na sala e assistimos filmes, todos juntos, apertadinhos. Também jogamos vídeo game ou jogos de tabuleiro, ou vamos ao cinema, ou saímos para comer um lanche. À noite, apagamos as luzes de casa para brincar de esconde-esconde no escuro. É uma ferramenta importante para aproximar e trabalhar a união da família.
DANI E MARCUS WELTE
Nossa família tem um lema “Família - Família” que começou há 18 anos. Vivemos em sociedade, fazemos parte de uma família que nos gerou e também de uma família na fé. Em meio a isso, sentimos a necessidade de ter um tempo para nossa “Família - Família”, que era, na época, eu, a Dani e o Thiago, nosso primeiro filho. Sempre fomos rodeados de pessoas, mas, quando íamos passear, brincar ou simplesmente sair para ter um tempo só nosso, sempre tinha uma vovó, um vovô, um irmão da igreja, um primo e, sem percebermos, nunca estávamos a sós. Um dia, nosso filho virou e perguntou: Hoje pode ser só a “Família – Família”? Ele era pequeno e perguntamos pra ele: “Como assim?” Ele respondeu: “Não a família grande, todo mundo, só a família - família, eu, você e a mamãe”. Olhamos um para o outro e entendemos Deus nos alertando com aquele pequeno recado. Depois disso, quando pensávamos em algo para fazer, virávamos um para ou outro e dizíamos: “Hoje o tempo é Família - Família” e estava dado o recado. O tempo era só nosso! Sempre valorizamos esse momento tanto para nós, como casal, como para os filhos, para conseguirmos colocar em prática o texto de Provérbios 22.6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. O texto diz para ensinarmos as crianças no caminho e não o caminho em que deve andar. No caminho significa caminhar junto, mas também entendemos que era um momento de brincar, passear, jogar videogame ou simples-
mente nos juntarmos para preparar uma deliciosa refeição. E esse nosso momento Família - Família nos proporciona tempo para praticarmos diariamente o cristianismo com nossos filhos. A correria do dia a dia sempre foi um vilão desse nosso lema, mas hoje somos em 5, unidos para que nosso lema não se perca. É lindo ver nosso filho menor João Pedro, de 9 anos, olhar pra nós e dizer: “Pai... paaaaai... e nosso tempo Família Família?” Nossa filha Bruna, com 15 anos, mesmo na adolescência, abre mão de estar com os amigos para priorizar o que ela diz ser mais legal: Estar em Família – Família. Ela hoje é nosso maior lembrete. E nosso filho mais velho, Thiago, já com 20 anos, sofreu os últimos 3 meses por estar num curso e perder esses momentos Família - Família, sugerindo até a mudança dos dias e os horários para poder estar junto. Deus sempre nos alerta. Como pastor e missionário, o tempo e as pessoas sempre aparecem como urgentes. Por isso, estabelecemos algumas ações para facilitar nosso dia a dia. Às segundas-feiras, colocamos os colchões na sala e assistimos filmes, todos juntos, apertadinhos. Também jogamos vídeo game ou jogos de tabuleiro, ou vamos ao cinema, ou saímos para comer um lanche. À noite, apagamos as luzes de casa para brincar de esconde-esconde no escuro. Gostamos de cozinhar. Então, os filhos escolhem o cardápio e vamos todos pôr literalmente a mão na massa. Jogamos bola, balançamos na rede, lemos e compartilhamos os livros, fazemos a bandejinha de café da manhã especial para comemorar o aniversário de cada um. Dinheiro nunca foi o problema, ou a falta dele, pois quem disse que dinheiro proporciona as melhores programações? Assim mantemos nosso lema Família - Família. Lindo também é ouvir nos-
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» Famíla Welte em momento família durante jogo de tabuleiro
A alegria é marca registrada desta família
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Os filhos Thiago, Bruna e João Pedro
Sempre valorizamos esse momento tanto para nós, como casal, como para os filhos, para conseguirmos colocar em prática o texto de Provérbios 22.6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar e, ainda quando for velho, não se desviará dele”.
sos filhos dizerem que repetirão isso em suas famílias. Bem que o escritor de Eclesiastes tinha razão (3.12): “Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou...” (Ec 3.1-2). É há tempo de Família - Família.
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Essa é a maneira que adotamos para ter um tempo em família. Sua família tem um tempo família? Descubra a melhor maneira de fazer isso. É uma ferramenta importante para aproximar e trabalhar a união da família. A Daniela e o Rev. Marcus, missionários da Secretaria de Evangelização em Palmas, TO, têm 3 filhos.
POESIAS
Kairós: O tempo oportuno LÍDIA SENDIN
Nem sempre é o agora O tempo dos sonhos meus. Um sonho tem sua hora, Está tudo nas mãos de Deus. Deus sabe do que eu preciso, Muito além da minha oração, E para o que quero e viso Não quer minha orientação. Do dono da minha história Virá a melhor solução. Então é com honra e glória Que eu louvo sua decisão. Por isso o meu louvor Vai pra quem está sempre perto, Pra quem do tempo é o Senhor E conhece o tempo certo.
O amor é a nossa marca LÍDIA SENDIN Foi na cruz, sim, numa cruz, Que por nós foi imolado O cordeiro, que é Jesus, Que venceu morte e pecado. É preciso ser marcado Com o sangue do cordeiro. Ele foi crucificado, Deu sua vida por inteiro. Uma casa protegida Leva a marca do Senhor. Ser marcado é ter na vida Toda a fé, obra e amor. E, no sangue derramado, Que mostrou o amor perfeito E livrou-nos do pecado, Cristo disse: Está feito! A Lídia é membro da IPI de Piracicaba, SP
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ENSINO BÍBLICO O que fazer quando um de nossos familiares se põe em trilhos da vida que podem levá-lo à desilusão, ao fracasso e ao distanciamento de Deus? Como agir quando a relação é rompida pela teimosia? O que fazer para ajudá-lo a reconhecer que está fazendo escolhas erradas? A parábola do filho pródigo nos ajuda a pensar neste assunto
Amor e tolerância Leia Lucas 15.11-31
DANIEL DUTRA
Nossa família é o nosso maior patrimônio! É na família que somos recebidos quando nascemos e neste ambiente desenvolvemos nossos primeiros contatos sociais, emocionais e espirituais. Mas o que fazer quando um de nossos familiares se põe em trilhos da vida que podem levá-lo à desilusão, ao fracasso e ao distanciamento de Deus? Como agir quando a relação é rompida pela teimosia? O que fazer para ajudá-lo a reconhecer que está fazendo escolhas erradas? A parábola do filho pródigo nos ajuda a pensar neste assunto. Possivelmente esta é a mais conhecida das parábolas de Jesus.
Uma decisão precipitada
Jesus contou a história de um homem rico que tinha dois filhos e provavelmente esses filhos estão na transição do final da adolescência e início da juventude. Os dois trabalhavam com o pai na fazenda da família, mas o mais jovem se tornou impaciente e quis partir para longe da casa dos pais. Quis ser livre, para ir a outras terras e viver como lhe agradasse. Um dia, se aproximou do pai e dis-
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se: “Pai, dá-me a parte dos bens que me cabe”. Pedindo sua parte, o filho mais novo confessava que não permaneceria mais com o pai, que se aborrecia com a rotina diária e queria a parte a que tinha direito para gastá-la como quisesse. Estudiosos afirmam que, ao pedir sua parte da herança, este filho estava matando para si o seu pai que ainda era vivo. Essa partilha dos bens só acontecia após a morte do pai na cultura patriarcal. Esperava-se que um pai tradicional do Oriente Médio respondesse a tal expectativa com a expulsão do filho da família. Mas o pai não fez nada disso. Simplesmente “repartiu os haveres”. O pai suportou com enorme paciência a desonra do filho caçula, bem como a dor de ter seu amor rejeitado.
Uma vida no pecado
O filho mais novo recebeu sua parte e ajuntou “tudo o que era seu”. Estava agora por conta própria e livre para ir. Pensava: “Tenho dinheiro! Vou viajar.” Poderia ir para a Babilônia, se quisesse. Princípios de vida e conduta, aprendidos em casa, foram postos de lado e esquecidos. A reprovação do irmão mais velho: “Esse teu
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filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes”, não é mera acusação. Baseava-se em informações que a família recebia, de tempos em tempos, de como o filho caçula passava seus dias dissolutamente. Essa palavra, “dissolutamente”, apresenta alguns significados: “devasso, corrupto, libertino, miséria, pecado, hedonismo e prazeres da carne”. Uma palavra que diz muito sobre aquele que decide sair da presença do pai. O moço dessa parábola decidiu sair de perto do pai, pensando ser esse o tipo de vida que valia a pena. Talvez tenha imaginado: “Agora é que eu tenho vida, não tenho fronteiras, não tenho limites, não tenho os olhos do meu pai. O velho não está aqui. Estou sozinho, tenho dinheiro, tudo o que realmente preciso”. Assim como esse jovem, há muitos filhos que nutrem o mesmo desejo. Sonham fazer uma faculdade longe dos olhos dos pais. Às vezes, o curso superior pretendido pode ser frequentado em sua cidade, mas o desejo é fazer numa cidade vizinha, exatamente para desfrutar da pretendida liberdade. Querem voar mais alto. Esta situação aconteceu na família de Billy Graham. Mesmo um grandioso pastor como ele enfrentou várias dificuldades com seus filhos, especialmente com Franklin Graham, o seu filho homem mais velho. Franklin começou a pensar que ser filho de pastor era uma maldição. Achava que, no auge da juventude, perderia o melhor da vida e até a identidade. Foi então que ele se rebelou. Passou a viver uma vida devassa nas drogas, nos vícios e na imoralidade.
Passando necessidades
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Em terrível necessidade, o filho
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pródigo percorreu as ruas e arredores da cidade procurando serviço, mas tudo que pôde achar foi a tarefa humilde de alimentar porcos. Ele tinha chegado agora à degradação mais profunda, pois, desde a infância aprendera, como qualquer judeu, que o porco é um animal imundo. Os judeus estavam estritamente proibidos de criar porcos. Era agora empregado de um gentio e guardador de porcos. Nessa triste situação, estava afastado da religião de seus pais. Ele estava desesperado. Seu empregador o fazia sentir que aqueles porcos tinham mais valor para ele que um simples empregado. Sentia falta de amizade e consideração, e ninguém se importava com ele. Por causa da escassez de comida, sua alimentação diária não era suficiente para amenizar suas dores de fome. Queria até mesmo comer da comida dada aos porcos. Talvez não existisse no seu vocabulário essa expressão: “necessidade”. Na infância provavelmente tivera de tudo: roupa lavada, comida sempre na hora e cama quentinha. Quando se leva dos pais apenas o dinheiro, certamente surgirão as necessidades. Já a fé e a educação contribuem para que os momentos de necessidades sejam superados. A educação que o pai deixa nunca acaba. Também jamais acaba a fé que o pai pode legar para o seu filho. Mas, se o pai se preocupa apenas em construir riquezas materiais, em apenas legar moedas e recursos, crendo que tudo isso é a única herança que ele pode deixar, certamente o filho terá muitas necessidades diante da vida. Não há problemas em sair de casa, pois a Bíblia no ensina que o homem deixará seu pai e sua mãe. O problema é sair de casa antes da hora, como aconteceu com o filho pródigo.
Voltar para casa?
A história mostra que a falta de consideração mostrada pelo cidadão que lhe dera este miserável emprego era mais do que o rapaz podia aguentar. Buscou a bondade humana e não a pôde achar. As notícias a respeito da fome o fizeram pensar em sua terra natal. Começou a pensar em sua casa. Devia voltar? O filho começou a pensar em seu pai. Como o tinha magoado quando seu pai lhe havia dado a parte da herança que ele, filho ingrato, tinha esbanjado. Começou a falar consigo mesmo: “Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome”. Quando caiu em si, estava pronto para confessar seus pecados contra Deus e contra seu pai. Ele disse a si mesmo: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti.” Todo pecado é contra Deus. Por trás de cada ato de rebeldia, está a quebra do mandamento: “Honra teu pai”. Sabia que tinha transgredido o mandamento de Deus e que, agindo assim, ofendera e magoara seu pai. Queria se corrigir. Procuraria o pai e lhe diria: “Já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores”. Os rabinos ensinavam que, quando uma norma da comunidade era violada, pedidos de desculpas não eram suficientes. Nesses casos, era necessária alguma restituição. O filho planeja dizer: “Pai, sei que não tenho o direito de voltar à família. Porém, se você me fizer aprendiz de um empregado seu, então poderei aprender uma profissão e ganhar um salário, para, ao menos, começar a pagar minha dívida”. Era esse o plano. Em meio ao chiqueiro, o filho mais novo ensaia seu discurso. Quando ele se
Assim como esse jovem, há muitos filhos que nutrem o mesmo desejo. Sonham fazer uma faculdade longe dos olhos dos pais. Às vezes, o curso superior pretendido pode ser frequentado em sua cidade, mas o desejo é fazer numa cidade vizinha, exatamente para desfrutar da pretendida liberdade. Querem voar mais alto. A Revista da Família nº 76 janeiro/fevereiro/março, 2014
sente pronto para o encontro, prepara-se e começa a viagem de volta para casa.
O pai o aguardava
O pai aceitou o filho como membro da família antes que ele pudesse atirar-se a seus pés para beijá-los como um escravo. Desconcertado, o filho tentou explicar todo o plano traçado para a restituição. O pai o interrompeu, não só ignorando o discurso ensaiado, mas também o contradizendo imediatamente. Ainda assim o filho confessou seu pecado: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”. Ele falou a verdade. Já não era mais digno por causa de seu passado. Tinha perdido o direito legal à sua filiação, mas o pai o aceitou como filho novamente.
Uma festa
O longo período de espera chegou ao fim. O pai tinha seu filho de volta. Portanto, era hora de comemorar. Ele ordenou que os servos preparassem um banquete de celebração com o novilho cevado como prato principal. O pai ordenou que houvesse músicas e danças. Todos os membros da família e os servos foram chamados para a festa. Era hora de celebrar: “Porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado”.
A revolta do filho mais velho
A parábola do filho pródigo poderia se encerrar com as palavras: “E começaram a regozijar-se”. Mas temos na introdução: “Certo homem tinha dois filhos”. A história estaria incompleta sem outras referências ao filho
mais velho. O pai não era pai apenas do filho mais novo; era pai também do filho mais velho. O boato logo se espalhou e logo o banquete estava a pleno vapor, com música e danças, todos celebrando a devolução do filho mais novo à vida. Seu primogênito tinha sido um filho leal. Ele estava fora, no campo, enquanto todos celebravam a volta de seu irmão. Ele servia bem a seu pai, e seu pai aprovava o zelo do filho. Ao chegar, ouviu a música e as danças, e perguntou a um dos servos o que era aquilo. Em segundos ficou sabendo que o irmão mais moço tinha voltado e que o pai mandara matar o novilho cevado porque recebera de volta o filho são e salvo. O filho mais velho simplesmente não podia entender por que seu pai estava tão feliz com a volta daquele filho inútil. Ninguém
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expressou alegria e felicidade por causa do primogênito. Nunca fizeram uma festa para aquele que tinha ficado em casa e que servia com tanto zelo ao pai. O filho mais velho se recusou a entrar em casa. Não tinha nada para tratar com seu irmão irresponsável que, ao voltar para casa, recebia a atenção de todos. Ele se recusa a se dirigir ao pai com os modos respeitosos que devidos aos superiores, especialmente quando em público. Em uma cultura onde o respeito aos mais velhos era tão importante, tal comportamento seria inaceitável. Como o pai irá responder à rebeldia declarada do filho mais velho? O que irá fazer? O pai talvez devesse deserdar o filho. Provavelmente o pai respondeu: “Meu filho, apesar de você ter me insultado em público, ainda quero que você participe do banquete. Não deserdarei seu irmão, mas também não quero deserdá-lo. Eu o desafio a engolir o orgulho e a participar do banquete. A escolha é sua. E então, você vem, ou você fica?”. É um apelo gracioso e dramático. Jesus não disse o que aconteceu depois. Parou ali, propositalmente, deixando inacabada a história.
Amor e tolerância na família
Jesus retratou o amor do pai pelo filho para deixar bastante claro que o amor de Deus é infinito. A atitude do pai na parábola representa o perdão amoroso de Deus oferecido ao pecador que se arrepende. Esta parábola 40 Alvorada
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nos ensina também sobre o amor e a tolerância na família. Podemos encontrar treze vezes a palavra “pai”, nove vezes a palavra “filho” e duas vezes a palavra “irmão”. Vemos uma família passando pelos desafios da transição entre a adolescência e a juventude. Sabemos que toda família tem problemas. A família perfeita é imperfeita! O que fazer quando um de nossos queridos faz escolhas erradas como fez o filho pródigo? Li uma história que dizia que, num bar de São Paulo, um senhor entregou um folheto de evangelização a uma meretriz. Aproveitando o ensejo, essa mulher lhe abriu o coração. Era uma prostituta, mas fora criada numa igreja evangélica, no interior do país. Um dia, cortou o cabelo, atitude que sua igreja proibia. Foi excluída, e continuou a cortar o cabelo. Não podendo mais se vingar nela, a igreja ameaçou o seu pai. Iria proibi-lo de tocar na banda da igreja, o que para ele era o que havia de mais importante em sua vida. Para não ser privado de tocar na banda, o referido senhor, um crente em Jesus Cristo, cedeu à chantagem da suposta igreja e expulsou a filha de casa. Humilhada, a simplória mocinha do interior foi para São Paulo trabalhar como doméstica. Lá, foi desencaminhada pelo filho do patrão. Grávida, foi colocada na rua. Escreveu para o pai, mas este disse que não mais a considerava como filha, pois cortara o cabelo e ainda por cima tinha errado moralmente. Quem
» a acolheu e amparou, pasmem, foi a dona de um bordel. Agora, estava na prostituição para viver. Chorou com saudades, pois não encontrou o amor na igreja e na família. Não recebeu amparo no lar. Foi receber amparo entre meretrizes. Este relato nos ajuda a perceber a necessidade do amor e da tolerância no ambiente familiar. O filho pródigo recebeu perdão porque o pai decidiu não hesitar em seu amor. Rubem Amorese escrevendo para a revista Ultimato no artigo intitulado “Pais e Filhos, a parede derrubada”, esclarece: “Há algum tempo, ouvi um pastor pregando sobre o tema ‘Linha de Comando’. Ele ensinava que há uma forte hierarquia de poder nas regiões celestiais, e que essa ordem acaba por desembocar na família, que é o último elo dessa corrente. Por isso ensinou ele - é preciso treinar o garoto, desde pequeno, a obedecer cegamente aos pais, para que não se torne, por falta de treino, insubmisso ao Senhor, quando adulto. Para exemplificar, ele mostrou como fazia em casa: Quando meu filho era pequeno, e levantava o nariz e perguntava: ‘Por quê?’, eu respondia: ‘Porque eu sou mais forte’. Agora, ele já estava crescido e mandava o rapaz se levantar, para mostrar seus um metro e noventa. Por isso, quando ele me pergunta: ‘Por quê?’, eu lhe digo: ‘Porque sou eu quem põe a comida na mesa’. Eu passei muito tempo meditando nesse sermão. Muito mesmo. De vez em quando, o assunto vinha à minha cabeça: será que é assim que deve ser? Será que é
Graças a Deus a “ficha” cai um dia. Fruto da desobediência vêm as consequências: sofrimento, dor, tristeza, mágoa, pobreza, drogas, acidentes, doenças sexualmente transmissíveis, dentre outros. A Bíblia afirma: “Honra teu pai e tua mãe para que se prolonguem os dias na terra”. O filho volta para casa. A filha pede desculpa. O pai estava orando por isso. Era seu desejo. Queria poder abraçar, beijar e dizer que amava.
assim que a Bíblia quer que eu ensine meu filho? Uma vez meu filho, que quer ser jogador de basquete, com no mínimo 2 metros de altura, aos 13 anos, subiu num sofá, colocou a mão na cintura e perguntou: ‘Pai, quando eu ficar desta altura, como é que você vai fazer para eu lhe obedecer?’ E eu me lembrei daquele sermão do pastor. Pensei em responder algo duro e vigoroso, tipo: ‘Eu é que ponho a comida na mesa’. Mas já havia pensado muito tempo no assunto, e respondi: ‘Meu filho, enquanto nossas relações forem tão vitais para você quanto são para mim; enquanto você precisar de mim, tanto quanto eu preciso de você; enquanto a gente sofrer quando está longe um do outro; enquanto a gente sentir saudade; enquanto a gente se amar como ama hoje, eu lhe direi: ‘Vai!’ e você irá; ‘Fica!’ e você ficará. Porque você me ama. Mas, se algum dia, uma parede de separação se levantar entre nós, seja da indiferença, seja da incompreensão, seja até do ódio, então nem eu lhe direi nada, nem você precisará obedecer, porque não fará mais a menor diferença. Meu filho, você me obedece porque você me ama. E eu procuro lhe servir,
como pai, seja dando o que você precisa, seja disciplinando-o, porque eu o amo”. Temos a tendência de magoar aqueles que mais amamos. Se todos virarem as costas para o pecador, mas ainda assim a família o acolher, este terá todas as condições de se levantar novamente. Graças a Deus a “ficha” cai um dia. Fruto da desobediência vêm as consequências: sofrimento, dor, tristeza, mágoa, pobreza, drogas, acidentes, doenças sexualmente transmissíveis, dentre outros. A Bíblia afirma: “Honra teu pai e tua mãe para que se prolonguem os dias na terra”. O filho volta para casa. A filha pede desculpa. O pai estava orando por isso. Era seu desejo. Queria poder abraçar, beijar e dizer que amava. O filho mais novo sabia que na casa de seu pai havia comida de sobra, mas acabou descobrindo que havia também graça de sobra. Deus pode transformar uma família onde seus membros estejam dispostos a se amar e ser tolerantes uns com os outros. O Rev. Daniel Dutra é psicólogo e pastor da IPI de Rondonópolis, MT. Casado, é pai de 1 filho
0 www.pastordanieldutra.blogspot.com REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS KISTEMAKER, Simon J. As Parábolas de Jesus. KELLER, Timothy. O Deus pródigo
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VIDA CONJUGAL
Fidelidade
RAPHAEL FOTOGRAFIA
no casamento
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ALEX SANDRO DOS SANTOS
Ilusão! Homens e mulheres se iludem por um ideal que não existe. Sendo assim, a busca pela mulher perfeita é o objetivo de muitos homens. É óbvio que o oposto também ocorre: mulheres ansiosas por homens mais compreensivos. A vida conjugal nos tira do mundo das fantasias e coloca-nos na mais clara realidade. No casamento, o ideal dá lugar ao real. Algumas expectativas são superadas, enquanto outras são frustradas. No dia-a-dia, convivemos com as qualidades e falhas do cônjuge. Infelizmente, muitos consideram as boas ações como obrigação e concentram-se nas falhas. Concentrar nos erros uns dos outros provoca a insatisfação. Por sua vez, devido à insatisfação, corremos o risco de procurar em outras pessoas as qualidades que não vemos em nosso cônjuge. Em algumas circunstâncias, alguns homens chegam à conclusão que outras mulheres são mais compreensivas do que suas esposas, sem mesmo conhecê-las. Mulheres imaginam que outros homens são mais atenciosos que seus maridos, sem nunca terem convivido com eles. Mistura-se a ilusão com uma boa dose de hormônios e pronto! A bobagem está feita. O envolvimento pode ser apenas emocional, mas, na maioria dos casos, chega ao contato físico. Isso significa que, geralmente, o envolvimento emocional gera o adultério. Jesus nos alertou acerca desse perigo quando disse: "Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela
no seu coração" (Mt 5.28). Portanto, fica a dica: busque ajuda! Procure a ajuda de alguém que seja maduro e capaz para aconselhar e dar apoio com o propósito de que você supere o problema. Lembre-se da ilusão. Talvez você seja tentado a querer ouvir frases como: "Prossiga! O importante é você ser feliz!". Ou então: "De fato! Pelo que você está me dizendo, seu cônjuge não o merece". Cuidado, pois a ilusão momentânea trará consequências por toda a vida. Antes que seja tarde de mais, procure ajuda externa. Peça ajuda a Deus em oração e compartilhe seus sofrimentos com alguém responsável. Essa insatisfação e tentação não devem ser compartilhadas com o marido ou a esposa. Isto causa feridas desnecessárias e, em alguns casos, danos irreparáveis com um problema que pode ser resolvido com oração, orientação e boa vontade. Infelizmente, nem todos os casos são resolvidos assim. Em alguns, ocorre o adultério. Nessas situações devemos agir com muita cautela, administrando cada problema. Não tem como definirmos um padrão para tratar o problema e reconciliar os envolvidos. É preciso conhecer temperamentos, circunstâncias, históricos e outros detalhes da vida dos envolvidos. Independentemente do conhecimento ou não do cônjuge acerca do adultério, é preciso acompanhamento. Sendo assim, acredito ser importante você compartilhar com o seu pastor*. O arrependimento, abandono
da prática ilícita, sentimento de culpa, indiferença sexual com o cônjuge e outras consequências precisam ser tratadas à luz da Palavra de Deus. Muitos cristãos procuram auxílio nas clínicas psicológicas. Acredito ser uma ótima opção e, em alguns casos, extremamente necessário. Contudo, o acompanhamento psicológico não substitui o acompanhamento bíblico e pastoral, e vice-versa. Quando o cônjuge está ciente dos fatos e deseja salvar o casamento, ambos precisam ser acompanhados. É importante perdoar. Não adianta querer ficar junto por causa dos filhos, por questões financeiras, pressão da sociedade, etc. Por mais que algumas dessas questões sejam importantes, o que cura as feridas é o perdão. Até mesmo decidindo perdoar será preciso cuidar das emoções. Não se deixe iludir! Invista em seu casamento. Casamentos enfrentam lutas e crises, mas vocês podem vencê-las. "O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas os que as confessa e deixa alcançará misericórdia" (Pv 28.13). Lembre-se: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça" (1Jo 1.9). Fidelidade é fruto do Espírito. O ser humano, por causa de sua natureza pecaminosa, é mentiroso, falso, desonesto e egoísta. Contudo, podemos encontrar em Deus força e socorro. O Rev. Alex Sandro, pastor da 1ª IPI de Machado, MG, é secretário nacional da família da IPIB
*Pastores, sejam sigilosos e cuidem do rebanho com amor, procurando curar feridas sem serem moralistas, atropelando tudo. Infelizmente, há muitos membros que não confiam em seus pastores. Em alguns casos, sem motivos, mas, em outros, com razão.
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Comunicação e casamento: resolvendo conflitos WÍVIAN R. L. C. BROJATO
Os conflitos estão presentes em todas as relações humanas. O ser humano é um ser eminentemente social. Ele precisa do outro, precisa relacionar-se, mas, ao passo que relacionar-se é prazeroso, é também doloroso porque de todo relacionamento humano se origina uma série de conflitos. No casamento também há conflitos. Homem e mulher são seres muito diferentes, não apenas anatomicamente, mas em sua maneira de pensar, sentir e fazer. Por isso, a convivência a dois muitas vezes não é fácil. Sendo assim, relaxe. O fato de passar por problemas, conflitos e verdadeiras turbulências na vida conjugal não quer dizer que você tenha se casado com a pessoa errada, mas que há ajustes que ainda precisam ser feitos. A diferença entre um casamento feliz e um prestes a acabar não está na existência ou inexistência de conflitos ou mesmo no número destes. A diferença reside na maneira como os cônjuges resolvem os conflitos que emergem com a relação.
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Aprender a administrar os conflitos e solucioná-los (quando possível) de maneira sábia é primordial para viver um casamento harmonioso. Algumas dicas podem ser valiosas:
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Selecione os problemas que realmente são problemas
Muitas vezes nos tornamos encrenqueiros e exigentes demais. Brigamos demais. Nos estressamos por pouca coisa. Viva com mais tranquilidade e suavidade. Não exija perfeição do outro. Há situações no relacionamento que não se transformam em problemas, se aprendermos a aceitar o outro como ele é. Há também situações que merecem ser relevadas. Na ocorrência de algum problema, primeiramente se questione: “Vale a pena falar sobre isso?”. Mas, se a situação realmente se configurar como um conflito que precisa ser administrado, então, as demais orientações podem ser válidas para evitar desgastes desnecessários.
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O fato de passar por problemas, conflitos e verdadeiras turbulências na vida conjugal não quer dizer que você tenha se casado com a pessoa errada, mas que há ajustes que ainda precisam ser feitos.
Viver a dois exige constantemente adaptações e concessões porque trata-se de duas pessoas distintas que decidem, por força do amor e da aliança, ir pelo mesmo caminho.
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Escolha o momento
Existem momentos que são impróprios para discussões. A hora em que o cônjuge chega cansado do trabalho ou está irritado com alguma situação certamente é uma ocasião oportuna para brigas e não para a resolução de conflitos. Também não é adequado iniciar uma conversa visando falar sobre problemas na presença de outras pessoas, a menos que seja alguém da confiança do casal chamado para ajudar na resolução daquele problema. Procure falar com seu cônjuge num momento tranquilo, em que ambos disponham de tempo.
3
Coloque-se no lugar do outro
Compreenda o ponto de vista de seu cônjuge. Há conversas que se transformam em brigas porque cada um dos interlocutores está interessado em defender apenas o seu ponto de vista. Considere o ponto de vista do outro. Coloque-se no lugar dele. Aja com justiça. Em uma discussão, raramente existe um certo e outro errado. O que em geral acontece são duas pessoas querendo ter seus posicionamentos compreendidos e considerados. Quando demonstramos
»
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5
Fale com amor e respeito
Não denigra. Não fale com ira. O ser humano tem o terrível hábito de atacar quando se sente contrariado. Assim, é muito comum, durante discussões, quando nos sentimos confrontados, agirmos com desrespeito, irritação, sarcasmo. Refreie esses impulsos. Seja gentil e delicado ao falar. Aja com respeito. Elogie. Não grite. Fale com amor.
6
Peça, não exija
Pedidos são atendidos com mais facilidade e boa vontade do que ordens.
Escute primeiro
Temos o péssimo costume de falar demais e ouvir menos. Ouça atentamente o que o outro fala. Procure realmente escutar os motivos e o ponto de vista de seu cônjuge. É comum desentendimentos gigantescos acontecerem entre casais porque um não conseguiu compreender ao certo o que o outro quis dizer. Então, antes de falar, escute com cautela e com os ouvidos bem abertos o que o outro tem a dizer.
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ao nosso cônjuge compreensão, temos maiores chances de sermos compreendidos também.
7
Ore
A orientação de Deus é sempre bem vinda na vida do cristão e, em momentos conflituosos, ela faz toda a diferença. Antes de iniciar uma conversa difícil, ore, medite na Palavra de Deus. Esta atitude certamente contribuirá para que você seja revestido de sabedoria do alto, além de acalmar seu coração. Viver em família é um grande privilégio. Porém, o relacionamento a dois tem também suas exigências e agruras. Em prol de um relacionamento conjugal feliz, por vezes precisamos abrir mão de algumas coisas e não nos amargurarmos por isso. Os conflitos fazem parte de todo casamento. Administrá-los vai tornando os cônjuges mais amadurecidos e o casamento mais sólido. Ninguém disse que seriam só flores. Mas, certamente, os casais que aprendem a administrar os problemas têm a oportunidade de desfrutar de uma união feliz e compensadora. A Wívian, da IPI de Cruzeiro, SP, é psicóloga
Os conflitos fazem parte de todo casamento. Administrá-los vai tornando os cônjuges mais amadurecidos e o casamento mais sólido. A Revista da Família nº 76 janeiro/fevereiro/março, 2014
Três maneiras de tratar um conflito: Não se esqueça: viver a dois exige constantemente adaptações e concessões porque trata-se de duas pessoas distintas que decidem, por força do amor e da aliança, ir pelo mesmo caminho. Por este motivo, há três possíveis maneiras adequadas como podemos tratar um conflito:
1. Adaptação
Em muitas situações, os planos e ideais de um não são exatamente iguais ao do outro, mas é possível fazer algumas adaptações para que ambos realizem o que pretendem ou obtenham o que querem. Assim, se o marido deseja passar o período de férias com sua família e a esposa deseja passar com a família dela, é possível que ambos adaptem seus planos ao do outro e passem metade do período com cada família. As adaptações, na maioria das vezes, são possíveis e precisam ser encaradas com maturidade. É evidente que, quando escolhemos viver a dois, precisamos aceitar que as coisas não funcionarão sempre da maneira como queremos. Os planos precisam ser feitos contemplando os dois.
2. Concessão
Existem situações que são ainda mais complicadas porque não admitem meio termo. É o caso do conflito vivido por um casal no qual um quer ter filhos e o outro não. Neste caso, um dos dois precisará ceder completamente e se adaptar aos planos e sonhos do outro. No casamento, há situações em que precisamos realmente fazer renúncias. É necessário ter bastante maturidade para renunciar a coisas importantes sem tornar-se ressentido.
3. Adiamento
Existem conflitos em que um ou ambos percebem-se incapazes de resolver naquele momento. Quando isso ocorre, é inútil e desgastante continuar brigando pelo assunto. A melhor solução é decidir pelo adiamento do assunto até que ambos tenham condições de decidir por adaptar-se ou ceder.
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Parte I
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Sexo seguro
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A sexualidade é constantemente explorada pelas artes, entretenimentos e mídia de maneira totalmente deturpada, fora dos padrões de Deus. Esse bombardeio estratégico de Satanás tem aprisionado vidas e destruído muitas famílias.
WAG ISHII
Vamos conversar agora e nas próximas edições sobre um assunto que é um tabu no meio cristão: a sexualidade. Falar sobre sexualidade hoje em dia, para uns, é falar de algo malicioso; para outros, é motivo de piada. No meio cristão, esse assunto é tratado de forma devassa ou puritana. Evitamos falar sobre isso ou ministramos com muito pudor. Uma pesquisa feita pela BEPEC (Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã) chamada “O crente e o sexo” aponta índices preocupantes quando se trata da transparência na sexualidade com relação a adultério, pornografia, masturbação... Isso revela que precisamos ministrar e sermos ministrados à luz da Palavra acerca dessa área tão importante e, ao mesmo tempo, comprometedora de nossas vidas. Afinal, a Bíblia fala sobre sexo? Quem criou o sexo? Essas e muitas outras perguntas precisam ser respondidas a muitos cristãos. Precisamos realmente saber o que Deus pensa sobre sexo. Vamos começar tomando por base o texto bíblico de Gênesis 3.16. Este texto narra a queda da humanidade pela desobediência ao Senhor. Satanás convenceu Adão
e Eva a pecarem contra Deus e, assim, seus olhos foram “abertos”, perceberam sua nudez e tiveram vergonha. Na narrativa da criação em Gênesis, tudo o que Deus criou era bom. Esse foi o projeto de Deus. Tudo foi criado de maneira perfeita em nós. E a sexualidade é uma delas. Ela é um dispositivo perfeito para a união e o fortalecimento entre o homem e a mulher na formação de uma família. Desde o princípio da humanidade até os dias de hoje, o Diabo trabalha na deturpação da sexualidade humana. Para muitos de nós, a palavra “sexo” remete a pecado. Há quem acredita que o Diabo foi o criador do sexo. Todavia, o Diabo nada mais é do que um plagiador das coisas de Deus. Ele veio pra matar, roubar e destruir aquilo que Deus criou. Adão e Eva viviam nus, sem vergonha e malícia. Viviam uma sexualidade pura. Essa pureza foi quebrada no momento em que eles corresponderam à astuta armadilha da serpente. Desde então, a sexualidade humana está fora dos padrões de Deus. Mas por que não encontramos na Bíblia a palavra “sexo”? Nas Escrituras, encontramos duas palavras que hoje são substituídas por “sexo”:
Pesquisa
O Wag é da IPI de Rolândia, PR. É casado e pai de 1 filho wagner@ventoimpetuoso.com.br facebook: www.facebook.com/prwagishii
24,68% dos homens e 11,96% das mu-
Segundo a pesquisa “O crente e o sexo”:
32,03% dos entrevistados têm contato com pornografia na internet;
- sexo nos padrões de Deus é chamado de casamento; - sexo fora dos padrões de Deus é chamado de prostituição. Assim como a fome, o desejo sexual é um dispositivo de alerta para a sexualidade. A fome é um aviso do organismo acerca da necessidade de alimento. Porém, existem padrões para uma alimentação sadia. A má alimentação acarreta problemas funcionais no organismo. Por mais que a fome seja grande, a boa alimentação tem a forma, a quantidade e a hora certa. A sexualidade é constantemente explorada pelas artes, entretenimentos e mídia de maneira totalmente deturpada, fora dos padrões de Deus. Esse bombardeio estratégico de Satanás tem aprisionado vidas e destruído muitas famílias. A sexualidade é um presente de Deus, que precisa ser cuidado dia a dia, alinhando-a segundo a Palavra da verdade: “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da fornicação; que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; não na paixão da concupiscência, como os gentios, que não conhecem a Deus” (1Ts 4.3-5)
lheres já traíram seus cônjuges 32,6% praticam a masturbação. Esses índices assustadores apontam uma preocupante situação nas igrejas hoje: enquanto nos calamos, a impureza sexual se alastra.
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CRISTIANISMO
Mais que pensamento positivo!
perdão vingança dor
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alegria gratidão
WANDERLEY DE MATTOS JÚNIOR
Todo mundo sabe o que fazer quando tem uma dor de cabeça: basta um comprimido ou uma boa noite de sono e, se a dor não for crônica, ela passa. Todavia, há certas dores de cabeça que o comprimido do comercial de TV não tira, pois esta é gerada por toda uma complexidade psicológica e emocional oriunda de pensamentos, crenças, costumes, comportamentos tão arraigados que, muitas vezes, sequer nos damos conta de que os temos. A Bíblia fala muito sobre alimentar a mente e a alma com ações, sentimentos e pensamentos que produzam coisas boas em nosso coração. Também fala de como nosso próprio corpo, muitas vezes, sofre a consequência de pensamentos ou sentimentos negativos que carregamos. Davi, o salmista, em um de seus escritos (Sl 32.3) fala de como seu corpo definhava como consequência dos sentimentos de culpa e inadequação resultantes de suas ações (pecados) que, por não haver conseguido superar (arrepender-se, confessar e aceitar o perdão de Deus), ainda o atormentavam. É muito triste ver cristãos que vivem subjugados pela culpa, quer por serem extremamente críticos consigo mesmos ou por se sentirem tão desqualificados diante de Deus e dos homens, que se sentem sempre aquém das expectativas divinas e humanas, não importa o quanto façam. O resul-
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tado de tais cobranças – internas e bastante cruéis, na maioria das vezes – é o adoecimento do corpo, bem como da alma. Quando nossas emoções dominam e sobrepujam nossa razão, elas podem se tornar verdadeiros inimigos da nossa saúde física e mental, a tal ponto que a própria Palavra de Deus não faça real sentido para nós, pois sentimo-nos “desqualificados” demais para receber a graça do perdão e da aceitação de Cristo por nós. Mas a boa notícia é que Deus mesmo nos requalifica com base em seu amor e graça! Gosto de refletir sobre o que aconteceu com Pedro. Sempre tão disposto a amar e defender Jesus, certo de que jamais o negaria, sentia-se o discípulo mais fiel de todos. Qual não deve ter sido sua surpresa ao mentir descaradamente, dizendo que não o conhecia quando confrontado num contexto em que se declarar seguidor de Jesus poderia resultar em prisão ou problemas. Conforme o próprio Jesus havia predito, ele o negou três vezes numa única noite. Depois disso, veio a dor e a culpa. O capítulo 21 do Evangelho de João mostra a restauração de Jesus ao coração pesado e desesperançado de Pedro: ele ajuda seus amigos a conseguir alimento, orientando-os a uma pesca frutífera, prepara-lhes uma refeição, abençoa aquele momento e tem uma conversa restauradora e amorosa com Pedro. Esse é o caráter de Deus: amo-
roso diante da nossa miséria mais degradante quando nos abrimos para seu perdão restaurador. Para alguns, pode ser difícil aceitar tal realidade! Afinal, estamos acostumados à punição quando erramos, e não à restauração. Mas esse é um dos muitos contrassensos libertadores que a Bíblia mostra: o caráter amoroso e perdoador de Deus em contraponto à dureza do coração humano. Muitas das doenças da nossa alma estão ligadas ao que pensamos: pensamentos neuróticos, falta de perdão, raiva, ódio, desejo de vingança, não aceitação de certos aspectos da nossa vida tais como características físicas, situações adversas ou seja lá qual for a condição imutável que tenhamos ou a falta de motivação para mudar o que pode ser mudado. Enfim, são tantos os pensamentos destrutivos que podemos abrigar em nossa mente e que podem nos destruir e roubar de nós a imensa graça e amor que vêm do Pai, que Paulo nos adverte sobre a importância de nutrir a mente e o coração com alegria, gratidão e bons pensamentos (Fp 4.4-9). Como cristãos, temos em Cristo Jesus a nossa mais rica esperança. Cremos num Deus amoroso que entende plenamente os conflitos do coração humano por ter experimentado “na pele” o que significa viver e passar por todo tipo de situação neste mundo. Todavia, muitos cristãos vivem aprisionados a culpas e pensamentos negativos que roubam não apenas
Muitas das doenças da nossa alma estão ligadas ao que pensamos: pensamentos neuróticos, falta de perdão, raiva, ódio, desejo de vingança, não aceitação de certos aspectos da nossa vida tais como características físicas, situações adversas ou seja lá qual for a condição imutável que tenhamos ou a falta de motivação para mudar o que pode ser mudado. A Revista da Família nº 76 janeiro/fevereiro/março, 2014
Alvorada 51
rancor dívida
superação inveja
amor
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sua paz e alegria, mas acabam gerando enfermidades no corpo. É sabido que muitas enfermidades têm origem em nosso estado emocional, quer pelo stress, quer pela tristeza excessiva, pessimismo ou outros aspectos emocionais igualmente perturbadores. Jesus é o nosso melhor exemplo de sanidade. Do ponto de vista humano, sua vida foi bem confusa e conturbada: sofreu rejeições desde pequeno, perseguições, foi questionado na fase adulta por líderes religiosos, vivia sendo desafiado por seus opositores, era acusado de herege, pecador, mentiroso, blasfemo e até de ter vínculos com demônios. Bom, não parece pouco para um rapaz de 30 anos. Apesar disso tudo, Jesus demonstrava uma genuína alegria e profunda disposição e resistência física: disposição física para tantas viagens, ensinamentos, dias longos seguidos de noites curtas e resistência física mostrada no tempo que resistiu fisicamente ao processo de espancamento e crucificação. Não consta que Jesus frequentasse a academia local lá em Jerusalém, nem que tivesse um DNA privilegiado! Pelo contrário, ele era tão humano quanto qualquer um de nós. Entretanto, buscava uma vida emocional, psicológica e espiritual equilibrada em comunhão com o Pai e a atividade física constante decorrente de seu ministério certamente fortalecia seu corpo para enfrentar tantas demandas. Acima de tudo, porém, Jesus não se deixava levar pelos maus pensamentos: não nutria ódio, nem sentimento de vingança ou revan-
che. Já na cruz, pede a Deus que não impute culpa aos que o condenavam (Lc 23.34). Seu coração não alojava a falta de perdão. Assim, sua alma não adoecia, nem seu corpo enfermava como resultado de processos emocionais ou psicológicos que não deveriam estar ali. Que tipo de pensamento sua mente abriga?! Há falta de perdão na sua vida? Perdoe! Liberte a quem você prende pelos laços do rancor, do ódio ou da vingança. Esses são sentimentos que raramente admitimos sentir – mas é possível que os tenhamos. Qualquer processo de perdão não é fácil! Até porque perdoar significa soltar quem prendemos como se nos devesse algo! E talvez nos deva mesmo! Perdoar é liberar da dívida! Perdemos esse laço ao perdoar, mas ganhamos a libertação e a alegria de superarmos a tormenta das amarras do rancor. A gratidão é uma boa forma de exercitar a mente para bons pensamentos, conforme o apóstolo Paulo nos orienta. Perdoar, reclamar menos e agradecer mais, enfrentar os problemas com o alvo de superá-los, achegar-se a Deus em oração, buscar a companhia de pessoas que nos encorajem e pedir a Deus para nos dar a mente de Cristo – ou seja, uma nova forma de pensar e de ver a vida. Assim, certamente, nossa mente será mais sadia, nosso corpo se fortalecerá e nosso espírito experimentará a maravilhosa renovação que o Espírito de Deus nos oferece – sem dor de cabeça! O Wanderley, membro da IPIB, é tradutor e intérprete
Jesus não se deixava levar pelos maus pensamentos: não nutria ódio, nem sentimento de vingança ou revanche. Já na cruz, pede a Deus que não impute culpa aos que o condenavam (Lc 23.34). Seu coração não alojava a falta de perdão. Assim, sua alma não adoecia, nem seu corpo enfermava como resultado de processos emocionais ou psicológicos que não deveriam estar ali.
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REFLEXÃO
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Maria Amaro
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DULCE VIEIRA FRANCO DE SOUZA
Entendidos dizem que quase todas as famílias sul-mineiras se ligam. Convergem para as Três Ilhoas, filhas de Maria Nunes. Esta veio para o Brasil em 1725, em uma nau proveniente da Ilha de Açores. Não faz muito tempo, resolvi analisar a genealogia de minha família, contrapondo locais e datas com a História do Brasil. Enxerguei pessoas sobrevivendo, se movendo em um país em construção. Desbravadores rudes aos quais só restava ser forte. Saindo da Europa, aportaram em Paraty. Foram então em lombo de burro, jornada de três meses, para São João Del Rey. Nesta região, permaneceram até a Inconfidência. Parece que, fugindo da Derrama, vieram para os campos de Caldas, mais ao sul. Aproveitando as informações e a inspiração, escrevi um conto: “Marias de Minas”. Várias personagens com nome composto passam pelo Brasil Colônia, Império, República. Atravessam os ciclos do Ouro, Pastoril e chegam à Industrialização com suas metrópoles. Conservam consigo costumes e receitas açorianas. Este conto circulou entre primos e parentes chegados. Concordaram ou discordaram. Um conto apenas, uma reflexão. Um dia destes surgiu a “Maria Amaro”. Creio ser uma personagem atemporal. Não vou acrescentá-la ao texto original. Ela existe por si só. Uma jovem que vive intensamente, amadurece, faz um balanço. Se surpreende. Solavancos e imprevistos a modificaram.
Transcrevo trechos:
“Sou Maria Amar Amaro, nasci aqui, nesta fralda de serra, lugar de água boa. Aqui faz frio, terra de pinheiros. Devo ter nascido em lua boa, qual semente colocada na terra a seu tempo. Acho que nasci bem inclinada, obediente, ensinável, cré crédula. Estudei um pouco. O que mais fiz foi trabalhar. Na lida da casa e para gerar alguma renda. Vi no trabalho árduo a possibilidade de fartura em casa, pequenos luxos e até prosperidade. Tentei não ser perversa olhando apenas para os meus; procurei ter olhos generosos.
Graças a Deus, tive saúde, coragem e paciência. Gastei tempo ajudando a elaborar atas, estatutos, instituições. Discuti pontos e vírgulas. Quem sabe poderia ter feito bordados, crivos, crochê? Uma gaveta os conteria. Entusiasmo incontido me levou a perseguir ideias e ideais. Já que estava neste lugar, aqui vivi intensamente. Infinita colheita de sementes. O grito pela terra sempre se fez presente na peleja com as flores. Arco-íris brotando do chão. Profusão de cores e cheiros. Tons infinitos. Flores lisas, dobradas, perfumadas, repicadas, folhagens cintilantes. Plantar, replantar, regar, cuidar! Por aqui fui ficando, não me apartei dos meus. Hoje partem um a um, educadamente. Meus filhos talvez voltem e tragam algum renovo. Nasci aqui, mas não nasci assim com este nome, assim como estou. Me chamaram Maria Doce ao nascer...” Assustei ao ler e reler este texto. Vi nele traços da defesa de Jó e nuances de Salomão refletindo em Eclesiastes: “...plantei pomares...” Pensei que sou Maria refletindo. Não posso ser somente Maria Amaro e nem apenas Maria Doce. Preciso ser equilibrada. Em novembro, época de chuva por aqui, sou levada a pensar nas estações do ano, nas fases da lua. Lua cheia de claridade, lua nova de noites mais escuras. Vão e vêm, se renovam. Refleti sobre a possibilidade, necessidade de transformar este conto em prece. Presto atenção ao barulho do vento, levando sementes, trazendo a chuva. É forte, solene, implacável. Creio em um Deus assim, Todo Poderoso, capaz de levar nosso fardo, nossas dores e amarguras para bem longe. Creio em um Deus que se revela de outras formas, talvez num cicio suave, qual brisa do sul das Gerais. Deus que nos perdoa e nos concede a graça de perdoar, peça de ato único ou processo prolongado, trabalhado. Careço de Jesus para atos banais ou para atos quase divinos. Sou frág gi frágil. A Dulce Dulce, e, da IPI de Botelhos, MG, é casada e tem 2 filhos
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VOZ DO CORAÇÃO Como pode o ser humano, livre, indivíduo, cheio de potencialidades, ser tratado como número, como objeto que, não mais cumprindo os objetivos para os quais foi desenvolvido, ser descartado?
Geração
descartável
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Você tem valor
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EVANDRO RODRIGUES
A chamada Modernidade apresenta-nos um curioso e famigerado paradoxo. As revoluções que tocaram a humanidade a partir do século XVII, com o Racionalismo, o Iluminismo e a Revolução Industrial, introduziram uma nova maneira do ser humano enxergar o mundo e, principalmente, de enxergar o seu lugar no mundo. Exacerbou-se a ideia de indivíduo, livre, proprietário, único, pensante, dono de seu próprio destino, independente dos demais. A centralidade do pensamento religioso na explicação de tudo que se conhece dá lugar ao pensamento crítico, metódico e científico. Tira-se Deus no centro e, em seu lugar, coloca-se o próprio ser humano como criador e transformador da História. Neste sentido, não é mais o conceito de grupo, povo ou família que move as relações humanas, mas, sim, os
objetivos individuais. Para a satisfação desses objetivos, como nunca na história humana, as pessoas passam a se concentrar nas cidades, que logo se transformam em metrópoles, abandonando a relação com a terra, que era uma relação umbilical nos séculos anteriores. Por outro lado, esta aglutinação humana e a busca desenfreada pelo acúmulo de bens e de capacidade de consumo desenvolveram um quadro bipartido: de um lado, os que dispõem de capital e, portanto, exercem o poder; de outro, os que possuem apenas a capacidade de trabalho – por terem abandonado a terra, perderam sua riqueza, sua referência, seu “lugar no mundo” – gerando mais riqueza e solidificando a capacidade de dominação do primeiro grupo. Assim, apenas um pequeno número de pessoas sente-se “indivíduo no mundo”. A grande maioria perdeu sua identidade, seu “senso
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Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui; o verdadeiro valor do homem é o seu caráter, suas ideias e a nobreza dos seus ideais” (Chaplin).
Você não é um número
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Definitivamente, não somos descartáveis. Deus, em sua infinita sabedoria, traçou um plano individual para você e para mim. Dotou-nos de capacidades particulares, feznos singulares, com impressões digitais únicas.
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de ser”. Quem nunca ouviu a expressão: “Sozinho na multidão”? Curiosamente, a conquista humana sobre as forças da natureza e sobre as manifestações do sagrado (que explicavam o incompreensível), dando aos seres humanos a consciência individual, produziu, como ônus, uma relação descartável, utilitarista e superficial dentro das instituições humanas. Olhando para nossa realidade, para nosso estilo de vida atual, percebemos claramente que tudo passou a ser descartável. Os bens de consumo, os recursos naturais e, infelizmente, as pessoas com as quais nos relacionamos. A indústria hoje fabrica “coisas quebráveis” – a chamada obsolescência programada – pois fabricar um bem que dure muito tempo vai contra a lógica própria do sistema. Lembram-se dos russos que não sabiam fazer carros (justamente porque faziam automóveis que não quebravam facilmente)? Desta mesma maneira, instituições que tinham aparência de “duráveis” foram modificadas, como o casamento, a fidelização religiosa, partidária e, também, as relações de trabalho. Quem nunca ouviu a seguinte frase no ambiente de trabalho: “Aqui, somos só um número”? Ora, como pode então o ser humano, livre, indivíduo, cheio de potencialidades, ser tratado como número, como objeto que, não mais cumprindo os objetivos para os quais foi desenvolvido, ser descartado? Deparamo-nos assim com o contraditório. Maior contradição ainda quando essa lógica entra para a igreja de Cristo. Ignorando o conselho do apóstolo Paulo, que nos orienta à não conformação com o “presente século” (pensamento vigente), os líderes da igreja tratam seus irmãos
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como descartáveis, empregados que, manifestando qualquer “insubordinação”, são colocados de lado ou mesmo para fora do convívio religioso. “Deus não precisa de você”. “Se não se submeter, Deus coloca dez no seu lugar”. Com esse pensamento, descartam ministérios profícuos, dons e talentos que poderiam ser utilizados na edificação do Corpo de Cristo. Aliás, essa postura vai de encontro à própria ideia de corpo, de igreja: membros com funções diferentes, que trabalham para a saúde comum. Se um membro padece, o corpo todo sofre. Arrancar um membro do corpo trará alívio ao sofrimento? Definitivamente, não somos descartáveis. Deus, em sua infinita sabedoria, traçou um plano individual para você e para mim. Dotou-nos de capacidades particulares, fez-nos singulares, com impressões digitais únicas. Não para que vivamos ensimesmados, reclusos em nossos objetivos individuais, senhores do nosso próprio destino. Ele criou-nos únicos para que, juntos, alcancemos um objetivo ainda maior. Então, para superarmos o paradoxo “indivíduo-descartável”, precisamos manter a consciência segura de que, onde quer que estejamos, somos, sim, insubstituíveis, pois não há outro no mundo como você e eu. Fomos colocados naquele determinado lugar não apenas como números ou peças que giram uma grande engrenagem, mas como agentes portadores do amor de Deus, que trabalham para o desenvolvimento de um plano maior. Acredite. Você tem valor! O Evandro é membro da IPI de Vila Brasilândia, São Paulo, Capital. É casado e pai de uma filha evandroalpha@hotmail.com
PITTER JANDRE
EVANGELIZAÇÃO
Comemoração do 13º ano do Moto Clube Águias de Cristo, em Nova Friburgo, RJ, nos dias 11 e 12/10/2013
Evangelismo em duas rodas: Moto Clube Águias de Cristo ALESSANDRO RICHTER
Em 2009, quando comprei minha primeira moto, sem nenhuma pretensão de algo diferente que não fosse usar para o dia a dia e fazer algumas viagens esporádicas e nada muito longe, comecei a pesquisar pela internet sobre moto clubes e encontrei o Moto Clube Águias de Cristo, que teve início há 13 anos, na cidade serrana de Nova Friburgo, RJ. Conhecendo mais sobre o trabalho realizado, pensei ser uma ótima oportunidade não apenas de entretenimento, mas também uma ótima ferramenta pra desenvolver novas amizades e levar pessoas a Cristo. Em 2010, conhecemos outras pessoas envolvidas com o moto clube, vindas do interior São Paulo até Curitiba. Em setembro do mesmo ano, foram dados os passos iniciais para a abertura de uma unidade na capital paranaense. O mais importante não está na abertura de unidades e, sim, nos frutos que este trabalho, hoje espalhados em mais de 40 cidades do Sul e Sudoeste do país e também uma unidade na Flórida, nos EUA, tem dado. A cada encontro em uma das unidades, diversas pessoas têm ouvido a palavra de Deus e têm tomado decisão por
Cristo, como Senhor e Salvador de sua vida. Neste mês de janeiro de 2014, será realizada uma viagem ao Nordeste para abertura de outras unidades. O Moto Clube Águias de Cristo não concorre com a igreja e também não tem nenhuma bandeira denominacional. É um trabalho de evangelismo e apoio à Igreja de Cristo. Um dos pré-requisitos para se tornar um membro é ser membro de uma igreja e ter uma carta de apresentação do pastor da igreja. Também não há discriminação de cilindradas, seja qual for o tamanho da moto que você tenha. Se tiver interesse em usá-la para a expansão do Reino de Deus, você é bem vindo. Se você não tem moto, mas gosta deste tipo de trabalho, as portas estão abertas para participação. Além de compartilhar sobre esse ministério, desejamos incentivar a você, seja qual for o seu hobby, esporte ou atividade, a praticá-lo. Sempre haverá uma oportunidade para ser usado como servo de Deus para levar a Palavra àqueles que ainda não conhecem e não vivem a maravilhosa graça do Senhor.
Deus nos motive e impulsione a propagar a sua palavra todos os dias. O Rev. Alessandro é pastor da IPI do Jabaquara, São Paulo, SP
Rev. Alessandro e sua esposa Giselle a caminho o Congresso de Pastores, em Poços de Caldas, MG, em setembro de 2013
bre os Saiba mais so , através sto Águias de Cri re umas cu ro p do site ou em sua s e d das unida xima a ela. cidade ou pró risto.com.br www.aguiasdec
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FINANÇAS
Como poupar dinheiro
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independentemente de quanto ganha?
Diversos estudos mostram que as finanças do brasileiro não vão bem. A atitude imprevidente fez com que somente uma pequena fração dos aposentados tenha autonomia financeira (1%), outros tenham que continuar trabalhando (25%), outros precisem de ajuda de familiares (46%) e, infelizmente, muita gente viva na miséria (28%) em sua velhice. RODOLFO MONTOSA
A rotina acontecia todos os dias: pessoas trazendo suas roupas para a D. Maria lavar e passar. Como fruto de seu trabalho duro, mas sem nunca perder a simpatia, logo conseguiu adquirir sua primeira casa em um bairro popular. Sua fama se espalhou, pois era muito prendada no ofício. Roupas impecáveis, cheirosas e bem passadas, logo aumentaram a clientela. Mas D. Maria sabia que um dia suas mãos ficariam cansadas. Passou sempre a guardar 20% de tudo o que entrava das vendas para uma poupança. Foi arrojada. Fez um plano de consórcio para aquisição de um segundo imóvel. Em algum tempo, estava contemplada, escolhendo outra casa que passaria a alugar e a render um extra para aumentar sua poupança. Pouco mais de dez anos depois, ela estava com a terceira casa. Assim, conheci uma mulher simples e precavida. Infelizmente, essa não é uma história comum em nossos dias. Diversos estudos mostram que as finanças do brasileiro não vão bem. A grande maioria das famílias gasta mais do que ganha, gerando 42 milhões de brasileiros com dívidas crônicas, dentre os quais 25 milhões inadimplentes, sendo quase metade (49%) com menos de 29 anos. A atitude imprevidente fez com que somente uma pequena fração dos aposentados tenha autonomia financeira (1%), outros tenham que continuar trabalhando (25%), outros precisem de ajuda de familiares (46%) e, infelizmente, muita gente viva na miséria (28%) em sua velhice.
Diante do quadro, surgem algumas perguntas: É possível mudar essa realidade? Sem dúvida. Existe fórmula mágica? Desconheço. O que fazer, então? Trabalho de formiguinha, que demora, mas traz resultados eficazes. Por onde começar? Observe a seguir alguns passos básicos. Muitos andam despreocupados na vida, realizando gastos desnecessários e contraindo dívidas nocivas. É fundamental, portanto, tomar consciência da realidade financeira que se tem na atualidade e projetar o que se quer no futuro. Todos devem saber como estão “na ponta do lápis”. É muito importante adotar um método de controle e acompanhamento das receitas e das despesas. Não importa se será na caderneta ou usando um computador. É fundamental que se tenha controle absoluto de todo o fluxo financeiro da família. Ao se colocar “no papel”, deve-se olhar criticamente em busca das oportunidades de cortes e reduções nas despesas. Existem muitas despesas invisíveis que minam o orçamento que precisam ser identificadas e enfrentadas: tarifas bancárias, as contas de luz, água ou tantas outras que sugam nossos recursos. Tenha tudo sob rigoroso controle. Consciência, bom método e boas intenções não bastam. É necessário ser disciplinado para gerar uma sobra mensal e poupar. Aqui é onde muitos tropeçam. Começam a poupar, mas logo são tomados pelos impulsos de consumo. Na prática, o dinheiro vai embora. A disciplina fica mais fácil quando se tem um objetivo relevante, valor definido e fre-
quência mensal. Lembre-se do exemplo da D. Maria. Esse objetivo deve ser de toda a família, pois todos deverão contribuir para andar na mesma direção. O trabalho é de formiguinha, mas o resultado aparecerá com o tempo. Alguns produtos financeiros disponíveis no mercado podem ajudar nesse objetivos. A caderneta de poupança tem sido útil para aprendizagem, mas ineficaz por não representar um claro objetivo. A previdência privada tem crescido no gosto popular, mas é importante comparar cuidadosamente seus custos. O consórcio também tem se mostrado efetivo para ajudar a disciplinar o ato de poupar e investir, mas é útil para planejamento de longo prazo. Os seguros são muito úteis para proteção patrimonial e também do provedor, caso venha a faltar. A infinidade de produtos de aplicação financeira são muito úteis, mas demasiadamente complexos para o cidadão comum. Enfim, converse, compare e decida o que mais se aplica para seu caso. Quando a questão é gestão financeira, as pessoas podem estar em três diferentes grupos: os endividados, que gastam mais do que ganham; os imprevidentes, que gastam tudo o que ganham, sem criar reservas para o futuro ou para um imprevisto; os previdentes, que gastam menos do que ganham e conseguem investir seguramente essa diferença. E você, em qual grupo quer estar? O Rev. Rodolfo, pastor da 1ª IPI de Londrina, PR, é graduado em administração de empresas e financeira. É casado e pai de 3 filhos.
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Câncer:
uma doença que pode ser combatida com mudança de comportamento 62 Alvorada
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SAÚDE
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) dão conta que, entre 2010 e 2030, cerca de 260 milhões de pessoas morrerão de câncer em todo o mundo, uma vez que não são esperadas grandes descobertas científicas, nem saltos espetaculares na ciência médica nesse período. Serão cerca de 13 milhões de mortes por alguma forma de câncer, em média, por ano. LISIAS CASTILHO
No dia 8 de abril, acontecerá um esforço internacional chamado Dia Mundial de Combate ao Câncer em que tudo que, de algum modo, estiver ligado à doença será lembrado e discutido em ambientes acadêmicos, em parte, e na mídia. A mobilização se faz necessária e a população precisa se conscientizar. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontou 500 mil novos casos da doença, somente no Brasil, em 2012. E é crescente a cada ano, acompanhando o cenário internacional. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) dão conta que, entre 2010 e 2030, cerca de 260 milhões de pessoas morrerão de câncer em todo o mundo, uma vez que não são esperadas grandes descobertas científicas, nem saltos espetaculares na ciência médica nesse período. Serão cerca de 13 milhões de mortes por alguma forma de câncer, em média, por ano. E isso representa apenas a ponta do iceberg, uma vez que o número de vítimas de câncer será, pelo menos, três vezes maior, sendo que muitos alcançarão a cura e outros tantos conviverão por vários anos com a enfermidade, ao que a comunidade científica classifica como a "cronificação da doença", que a doença já é, por natureza, crônica. As causas do número crescente do câncer são diversas e algumas são bem conhecidas com destaque para o aumento da expectativa de vida, poluição ambiental, o tabagismo, o alcoolismo, o crescimento astronômico da obesidade adulta e infantil, o sedentarismo e o estresse da vida moderna. Estima-se atualmente que uma de cada três pessoas que morrem de causas naturais morra de alguma das muitas formas de câncer, tais como problemas na pele, pulmão, próstata, mama e intestino grosso, principalmente. Isto significa que um de cada três que leem esta matéria terá que enfrentar o câncer até a morte. Os números falam por si e não podem ser contestados. Nem melhorados, senão em longo prazo. Mesmo sem os esperados "milagres" que a ci-
ência produzirá no futuro, como modificações genéticas, novos exames de detecção precoce do câncer, novas drogas, máquinas mais eficientes de radioterapia, nanotecnologia, aperfeiçoamento da robótica aplicada à cirurgia e outras tantas descobertas, podemos fazer a nossa parte que é mudar radicalmente o estilo de vida, antes que seja tarde. Então, vamos às aplicações práticas. O cigarro, isoladamente, é a principal de causa de câncer e de morte evitável no planeta. O combate ao hábito de fumar deveria ocupar todo o nosso esforço como indivíduos, como famílias e como sociedade, antes de qualquer outra medida. A obesidade tem crescido também no Brasil e carrega com ela diversas doenças, entre elas várias formas de câncer, notadamente de rim, de próstata, de mama e de intestino grosso. Mais de 50% da população adulta brasileira está com sobrepeso e cerca de um terço das crianças também. O controle do peso, por meio de alimentação correta e exercícios, está ao alcance de todos. A redução da ingestão de álcool e da exposição à luz do sol são também medidas relativamente simples e de grande alcance na prevenção do câncer do aparelho digestivo e de pele. A avaliação médica periódica é outra forma de prevenção, a chamada prevenção secundária, que tem a finalidade de detectar o câncer em suas formas iniciais, portanto curáveis. A busca ativa do câncer de mama em todas as mulheres acima de 40 anos e de próstata em todos os homens acima de 45 anos de idade também são medidas simples, relativamente eficazes e estão na dependência da vontade de cada pessoa, embora não estejam ao alcance de todos, porque nosso sistema de saúde é falho e nossa educação é precária. A conclusão a que chegamos é a seguinte: mais que celebrar um Dia Mundial de Combate ao Câncer, o que as pessoas precisam mesmo é de conscientização e de uma mudança de comportamento, antes que seja tarde. O Dr. Lísias, urologista, professor Livre-Docente da Faculdade de Medicina da USP, é diretor clínico do Instituto do Radium de Campinas, SP
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ESPAÇO KIDS As histórias de Maria Flor e seus amigos
“O dia do passeio” AKILA VIVIANE RELKE KNEUBE MOREIRA Mais um ano esta terminando e o último dia de aulas de Maria Flor está chegando. A professora avisou que neste dia eles iriam ao Zoológico. O que você acha: será que as crianças ficaram felizes com a notícia? A notícia do passeio deixou Maria Flor agitada.Ela chegou em casa com um papel na mão egritando: - “Voooooooooooooó, assina... assina ... assina ...” Dona Margarida, assustada, respondeu: - “Calma, minha filha! O que está acontecendo? E que papel é este?” Maria Flor toda eufórica explicou sobre o passeio ao zoológico no último dia
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de aula. Depois de entender o motivo de toda aquela gritaria, a avó assinou o papel da autorização, mas não perdeu tempo. - “Agora, mocinha, direto tomar banho para jantar!” Os dias se passaram e chegou o grande dia. Maria Flor colocou sua roupa mais bonita, passou perfume e, de tão animada, quase esqueceu o lanche que sua avó tinha preparado com tanto carinho. Na frente da escola, as crianças em fila foram entrando no ônibus com a Professora Luisa. Flor estava tão feliz, mas tão feliz que nada naquele dia poderia estragá-lo e não parava de pensar: “Este é o dia mais feliz da minha vida”. De repente, ouviu alguns meninos rindo. Eles estavam rindo e fazendo gestos imitando um macaco. Ao lado de Flor no ônibus estava sentada uma de suas amigas, a Lilian. Naquele momento, ela
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se levantou, foi lá no fundo do ônibus, até o banco onde os meninos estavam assentados e começou a discutir com eles. Maria Flor não conseguiu entender o que ela disse, mas percebeu que ela estava muito brava. Quando voltou, Lilian explicou o motivo de ir falar com os meninos: -“Eles estão rindo de Maria Flor e chamando-a de macaca”. Assustada, Maria Flor disse: -“Eu não sou macaca. Minha vó sempre me diz que eu sou uma princesa linda, filha do Criador de todas as coisas.” Os meninos, ouvindo, gritaram lá do fundo: - “Princesa Macaca! Princesa Macaca” E continuaram rindo de Maria Flor. Quando viu Maria Flor começar a chorar muito, a professora se aproximou e quis saber o que tinha acontecido. Depois de ouvir Lilian explicar, a professora Luisa prometeu conversar com os meninos. Neste momento, enquanto ela se levantava para ir até o fundo ônibus falar com os meninos, o motorista estacionou e avisou que havia chegado ao zoológico. As crianças ficaram agitadas e se levantaram para sair do ônibus, mas a professora, com aquela voz que eles já conheciam, disse: - “Todos sentem novamente. Não quero ver nenhuma criança de pé. Antes de sairmos pro passeio, eu preciso conversar sobre algo muito chato que aconteceu hoje aqui no ônibus. Quem de vocês sabe me dizer o que é bullying?” Pedro, um dos meni-
Atividade
Vamos fazer o contrário do bullying! fazer algo que com apelidos e brincadeiras, vamos Se as pessoas machucam os outros em lugar de e, oas pess das , vamos falar coisas boas é o contrário: em lugar dos apelidos boas para as cois r faze os as pessoas ficar tristes, vam brincadeiras maldosas e que fazem AFIO ANTI-BULLYING as pessoas. Segue uma lista do DES
DESAFIO 1 – BILHETES DA GRATIDÃO Pegue pequenos pedaços de papel e escreva um recado para uma pessoa, lembrando algo que ela fez para você. Exemplo: “Obrigado por ter me convidado para jogar bola” ou “Obrigado por ser uma professora que responde minhas dúvidas”, e assim vai...
0COMO ENTREGAR OS BILHETES? Você pode entregar de muitas formas: • 1 – Você pode deixar o bilhete em um lugar que a pessoa irá encontrar como, por exemplo, na bolsa, na mesa, na porta da geladeira, etc.; • 2 – Você pode colocar dentro de um envelope e pedir para alguém entregar; • 3 – Você pode entregar pessoalmente; • 4 – Você pode tirar uma foto e mandar pelo email ou pela internet;
nos que sempre responde qualquer pergunta, começou a explicar; - “É quando colocamos apelidos ou fazemos brincadeiras que chateiam e machucam outras pessoas”. - “Isso mesmo, Pedro”, respondeu a professora. Ela continuou - “Não podemos fazer nada com alguém que não desejamos que façam com a gente. Hoje, aqui no ônibus, alguns meninos fizeram uma brincadeira com uma amiga e ela ficou muito chateada. Espero que eles reconheçam que fizeram algo errado e peçam perdão pra sua amiga antes de sair do ônibus. E não quero ver mais este tipo de brincadeira entre vocês”. Depois que desceu do ônibus, alguns dos meninos se aproximaram de Maria Flor e pediram desculpa pela brincadeira. Depois que os meninos foram embora, Maria Flor perguntou para sua professora: - “Será que eles fizeram esta brincadeira comigo só porque eu sou negra?”
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5 – Crie um jeito diferente de entregar.
DESAFIO 2 – GESTO DE AJUDA 0Objetivo - Ajudar algumas pessoas, sem elas pedirem. Exemplos: ajude a mamãe a limpar a casa, sem ela pedir; ajude seu pai a lavar o carro, sem ele pedir; ajude um(a) amigo(a) na escola, sem ele pedir e etc. Fique atento! De repente, você terá uma oportunidade de ajudar alguém, sem a pessoa pedir a sua ajuda.
DESAFIO 3 – LISTA DAS QUALIDADES 0Objetivo: Elogiar alguém para que se sinta bem e valorizada. 0Como fazer: Separe um pedaço de papel colorido ou diferente e escreva
A professora respondeu que provavelmente sim e lembrou que muitas pessoas passam por isto também. Contou que ela, por ser gordinha, também ganhou apelidos e sofreu com este tipo de brincadeira que machuca a gente por dentro muitas vezes. Sua professora segurou-a pela mão, andaram um pouquinho e se sentaram num banco que ficava na entrada do zoológico. Luisa perguntou: - “Seu coração está doendo, não está?” - “Sim”, respondeu Maria Flor com uma voz tão baixinha que a professara quase não escutou. - “Professora, como você fazia para esta dor ir embora do coração”, perguntou Maria Flor olhando bem nos olhos da professora. - “Eu aprendi um segredo com o meu pai. Quando eu contava pra ele o que acontecia, ele sempre me dizia: Luísa, aprenda a perdoar. Uma vez, ele me contou que Jesus ensinou que a gente devia perdoar 70x7. E, todas as vezes que isso me acontecia, eu me esforçava para
O texto que a professora falou está escrito no Evangelho de Mateus 18.21
em cima “VOCÊ É ...” e embaixo faça uma pequena lista de algumas qualidades desta pessoa, pelo menos cinco. Exemplos: “VOCÊ É ... inteligente, alegre, organizado, etc.” Depois, cole com uma fita crepe esta lista em um espelho para que a pessoa encontrar a lista que você escreveu (por exemplo, o espelho do banheiro). IMPORTANTE: Escolha alguém diferente dos outros DESAFIOS - não vale fazer a lista para quem você já fez o BILHETE DE GRATIDÃO ou fez um GESTO DE AJUDA Tenho certeza que estes DESAFIOS farão muito gente feliz, mas a pessoa mais abençoada será você mesmo. Pequenos gestos podem fazer grande diferença no mundo em que vivemos!
perdoar os outros. Muitas vezes eles não pediam desculpa pra mim, mas, dentro do meu coração, eu decidia perdoar cada um deles.” - “70x7????”, exclamou Maria Flor. “É muito! Eu não sei se consigo!” - “Não pense no total. O que Jesus queria dizer era pra gente perdoar sempre, uma vez, depois da outra e não parar de perdoar”. Depois da conversa, Maria Flor ficou melhor e se juntou às outras crianças no passeio. Todos se divertiram bastante e tiraram muitas fotos. Assim que Maria Flor chegou em casa, contou tudo para sua avó. Ela falou pra sua neta que tudo o que a professora falou estava certo. Juntas, elas oraram também pelos meninos, para que Deus os ajudasse a não terem mais preconceito contra ninguém, pois somos diferentes, mas somos todos especiais. A Akila, membro da 1ª IPI de São José do Rio Preto, é pedagoga e dedica-se a um ministério itinerante ministrando a Palavra e vários cursos
A Revista da Família nº 75 outubro/novembro/dezembro, 2013
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A Revista da Família nº 76 janeiro/fevereiro/março, 2014
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A Revista da Família nº 76 janeiro/fevereiro/março, 2014
Mulheres
É verão, férias! Sol, mar, parque, piscina, muita diversão para todos, das crianças aos idosos. Mas um perigo se torna mais próximo: a radiação UV! Segundo uma estimativa do INCA (Instituto Nacional do Câncer) e do Ministério da Saúde, em 2014 o Brasil terá mais 580 mil novos casos de câncer! Na lista de tipos da doença que mais atingirão a população, o câncer de pele está em primeiro lugar, de próstata em segundo e de mama em terceiro. Infelizmente, não damos a devida importância para esses dados e continuamos nossa vida sem mudanças de hábitos que poderiam fazer a diferença nesses números. Alimentação mais saudável, atividade física e uma atitude de prevenção, realização de exames antes que sinais e sintomas indiquem algum tipo de problema são comportamentos que podem modificar o curso de determinadas doenças. Um dado muito importante a ser analisado é que o primeiro tipo de câncer é o de pele! E ele está diretamente relacionado com a exposição solar! Temos uma defesa contra esse tipo de câncer que, infelizmente, não é bem utilizada: o filtro solar. Os protetores solares devem ser utilizados em todas as estações do ano, mas, no verão, quando o índice de radiação UV se torna mais alto, não devem ser esquecidos jamais. Devemos aplicar o filtro em todas as regiões do corpo que forem expostas à radiação. Lembramos sempre do sol, mas não nos esqueçamos de que, em nossas casas e locais de trabalho, luzes, monitores de computador e televisão também emitem radiação ultravioleta. Utilize protetor solar nas mãos e braços, colo, pescoço, face, na cabeça para os homens que têm pouco cabelo e até na orelha. Quando passar na perna e coxa não se esqueça dos pés. Aplique
Índice saúde & bem estar
acessórios & moda
moda & estilo
uma quantidade suficiente para espalhar com facilidade. Se ficar branquinho, é só espalhar mais que geralmente some. Hoje, existem diversos tipos de filtros solares para os diferentes tipos de pele e também para as diferentes regiões do corpo. Para a face, onde a pele costuma ser mais oleosa, há disponíveis os cremes oil free (livre de óleo), géis-cremes e géis. Para o restante do corpo, onde a pele é mais seca, pode-se usar os cremes e loções. Crianças devem usar filtros próprios para a idade, geralmente com filtros físicos (esses podem deixar um aspecto mais branquinho). Outra informação importante é o grau de proteção. Cada tipo de pele (mais clara até a pele negra) deve usar um nível de proteção adequado. Peles mais claras devem usar um FPS mais alto e peles mais morenas podem usar FPS mais baixo, pois a própria pele já apresenta uma proteção maior pela presença de mais melanina, o pigmento que dá cor à nossa pele. Todo protetor solar deve apresentar o número do FPS (fator de proteção solar), relacionado à radiação UVB, e também o PPD, que é o índice que avalia o grau de proteção contra a radiação UVA. Geralmente conseguimos identificá-lo como um número que deve ser, no mínimo, 1/3 do valor do FPS ou na forma de estrelinhas (mínimo de 3 estrelas). Beba muito líquido! Alimente-se bem! Exercite-se! Aplique várias vezes o protetor solar! Tenha uma vida saudável e cuide do seu corpo! Deus o fez e espera que você cuide dele com dedicação e amor! Bom verão!
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Proteção e cuidados para o verão
Tassel, franja ou pompom? THAISA MONTOSA Parecido com uma franja ou com um pompom, pode ser longo ou curto, colorido ou de cores sóbrias. Ele está super em alta nos acessórios como brincos, pulseiras, colares e também nas bolsas, sapatos e roupas. Você pode não conhecer esse nome, mas provavelmente já deve ter visto esse detalhe nos acessórios citados. O tassel é a moda para o verão 2014. No Brasil, ele é conhecido como barbicacho ou borla, enfeite comum de cortinas, e está ficando cada vez mais presente na moda por ser usado em mocassins, slippers e bolsas. Podendo ser feito de couro, seda, miçangas, pedras ou correntes. É um detalhe que está em evidência nos brincos e outros acessórios. Na história do cristianismo, é interessante observar que esse ornamento é citado na Bíblia em Números 15.37-40. Seu nome vem do latim (tassau), que tem um significado parecido com fecho. E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Que nas bordas das suas vestes façam franjas pelas suas gerações; e nas franjas das bordas ponham um cordão de azul. E as franjas vos serão para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do Senhor, e os cumprais; e não seguireis o vosso coração, nem após os vossos olhos, pelos quais andais vos prostituindo. Para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sejais a vosso Deus. Para essa estação, o tassel poderá ser visto nos acessórios de diversas formas. Fica lindo em brincos com argolas, brincos com base grande e até mesmo mais discretos com um tassel pequeno. Nos colares e pulseiras, ele tem sido usado com correntes, pedras e cristais. Se você ainda não aderiu a essa moda, não perca tempo porque essa tendência será o must have do verão. A Thaisa, designer de jóias e acessórios, é casada. É membro da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte, BH
www.thaisamontosa.com Mulheres nº 76 janeiro/fevereiro/março, 2014
Alvorada 71
Animal print para plus size VIVI ALVES Diante de muitas tendências fashion publicadas, resolvi adequar a nossa queridinha animal print e ajudar a desmistificar a ideia de que essa estampa é só para magrinhas. O intuito aqui é dar ideias de produção que você pode copiar na sua costureira preferida, caso as confecções que você conhece e gosta não colaborem. Os looks foram pensados para todos os tipos de GG girls: ampulheta, pera e maçã, arrasando no animal print que, convenhamos, chegou pra ficar há várias temporadas e continua super em alta nesta estação. Já se tornou um clássico. Nossa sugestão é umA look de Vivi écasual estilistaeeoutro designer festa. de acessórios, membro da
AMPULHETA CASUAL
MAÇÃ CASUAL
Quem disse que GG girl não pode usar bandage? Nesse look casual e sexy, pernas de fora, vest de leopardo semi-transparente (que pode ser confeccionada em musseline ou qualquer tecido mais fluído com um pouco de transparência - o caimento precisa ser "lânguido" para quebrar um pouco a sensualidade do look e não ficar vulgar).
Não é porque você é uma GG girl que tem que ser clássica. Existem maçãzinhas bem moderninhas e de vanguarda, e é pra essas que proponho esse look.
0 Vestido: Modelagem justa e de tecido stretch, o decote lembra o de um body, com recorte de taças bojo, alças largas. 0 Vest:
Modelagem cache-couer (envelope) com amarração na cintura, manguinha com leve franzido formando um falso bufante. Atenção para a estampa! O degradê das cores tem que ficar na vertical. Isso reforça o alongamento proporcionado pelo transpasse do decote, que deve deixar aparecer o vestido. Atenção para o corte! Se o seu tecido não tiver a estampa na vertical (pra quem compra seus próprios tecidos), pedir ao vendedor que calcule pela ourela (borda do tecido) uma altura que permita que a estampa seja usada na vertical.
IPI de Bebedouro, SP
Ilustração: Ana Carolina Viana Matéria por Ana Carolina Viana e editada por Vivi Alves Fonte http://maggnificas.blogspot.com www.blogmulherao.com.br
72 Alvorada
0 Shoe: Pernas grossas com ankle boots - summer boots? Sim, desde que deixem o tornozelo pelado. Aqui uma sugestão com cadarço que é uma tendência super forte para este inverno e na cor camelo. Temos um look sexy pela estampa e vestido colado, mas quase um safári revisitado (cores e vest) com pegada romântica (franzido e leveza do tecido).
0 Camisa e colete: A camisa tem um tom acinzentado e um leve padrão que lembra tweed. Algodão, tricoline e até mais quentinhos como o próprio tweed. Manguinhas curtas dobradas por uma martingale (esse fechamento que lembra o de uniformes militares e mantém a manga dobrada). A modelagem da camisa é acinturada. Aliás, para você, tudo SEMPRE com pences, recortes e modelagens acinturadas, nada reto. O intuito é afinar essa parte do corpo, criando a sensação de cintura. O "truque" dessa produção é usá-lo aberto, por dois motivos: cria-se uma faixa vertical mais clara e a linha dos botões também ajuda a enganar o olho no sentido vertical. 0 Short: modelagem boyfriend, jeans mais claro bem lavado. 0 Meia: É aqui que você brilha e mostra que é moderna. Meia-calça de ZEBRA, quebrando todo o ar de básico do look. Moderninha, não? Você, dentre as GG girls, é a que tem as pernas mais alongadas e não tão grossas. Então, pode correr esse risco.
0 Shoe: Oxford vinho, o toque de cor que "conversa" com o look e com a meia ao mesmo tempo. Pegue leve nos acessórios. O destaque todo vai para a meia e a cor do sapato. Qualquer coisa vira exagero. Se optar por uma camiseta lisa no lugar da camisa, jogue um colar longo que fará o mesmo efeito da linha dos botões.
Mulheres nº 76 janeiro/fevereiro/março, 2014
PERA CASUAL Uma proposta meio retrô, um look quase vintage. Saia "lápis" em um tom café bem escuro, quase preto. Já que o jogo é disfarçar proporções, tentamos o equilíbrio do quadril com os ombros. By the way, o decote das perinhas é o canoa. Assim como sua variação, o bateau (um canoa mais reto) o tomara-que-caia. Eles criam uma linha horizontal que dá a sensação de ombros mais largos, o que é ótimo pra você. Volumes, babados, drapeados, tudo que volte a atenção para a parte superior do corpo é bem vindo!
0 Camisa: Decote canoa com um leve "v" não muito pronunciado. A intenção aqui é que o decote fique bem raso pra não quebrar a ideia de horizontalidade. Os babados duplos dão o efeito de uma gola caída. A oncinha vem romântica... em cores quentes, tecido translúcido, bem vaporosa, num fundo coral nude. Cinto de elástico marcando a cintura, sempre! Nessa produção, um marrom queimado avermelhado. 0 Saia: Modelagem lembrando a lápis. Recorte atrás para liberar os movimentos. O tecido, sempre encorpado: uma gabardina, por que não? 0 Shoe: Peep toe vermelho.
O FACEB
VAS
ESNOI
IALV OK:VIV