A Revista da Família Ano XLV nº 77 ABRIL | MAIO | JUNHO 2014
Irmãos:
Os efeitos da chegada de um novo membro à família
Sogros O que fazer quando há
conflitos e interferências
Copa do Mundo Para quem está sendo feita a Copa de 2014?
Tráfico Humano:
Uma atividade ilegal muito rentável atualmente, perdendo somente para o tráfico de drogas
Casamento O que saber sobre o assunto antes do casamento
Mais do que
homem:
marido
EDITORIAL
Como ser um bom marido? SHEILA DE AMORIM SOUZA
"Jesus olhou para eles e respondeu: -Para os seres humanos isso não é possível; mas, para Deus, tudo é possível" (Mt 19.26).
Com o passar do tempo, muitos homens, que desejavam ser bons maridos e tinham como objetivo construir uma relação feliz, deixam de ter essa prioridade por puro comodismo. A rotina é importante para manter o equilíbrio do relacionamento, mas, em excesso, provoca desgaste e acomodação. Mas ela não afeta somente o homem. As esposas também devem ter em mente que o casamento é um aprendizado contínuo. É preciso ter cuidado para não deixar de lado o verbo amar. É importantíssimo praticá-lo. Vamos admitir que não é fácil manter uma relação 100% sem problemas. Afinal, não estamos falando de casamento perfeito porque não existem no mundo duas pessoas perfeitas, que não falhem algum dia. Mas os conselhos bíblicos podem ajudar. A sabedoria desses conselhos já ajudou a muitas famílias. Vários dos textos desta edição vão nesta linha. Os autores apontam que a presença de Deus faz toda a diferança no relacionamento conjugal. O evangelho é a cura para todos os casamentos que estão cheios de ódio, amargura e decepção. O amor e a felicidade no casamento podem ser restaurados.Você crê? Busque a ajuda de Deus e faça a sua parte no relacionamento. E não fique só cobrando que o outro seja bom. Fiquemos atentos às atitudes e às coisas faladas. Isso traz grande impacto no casamento. A matéria de capa, do Rev. Alex Sandro, secretário da família da IPIB, deixa muito claro que há diferenças entre homem e mulher. Em sua conversa, nesta edição, dá alguns conselhos para que os homens sejam bons maridos. Mesmo que o marido tenha a reputação de ser o menos comunicativo no relacionamento, os dois devem se esforçar e pedir a ajuda de Deus para satisfazer a necessidade um do outro. Vamos investir tempo hoje para agradecer pelo cônjuge e pedir a Deus que a sua Palavra nos transforme. E que a união, a cumplicidade, a felicidade e a paz de espírito continuem a ser buscadas, mesmo depois de alguns anos de convivência. E lembremo-nos de demonstrar amor ao outro. Isso tornará o homem um bom marido e a mulher uma boa esposa. E, ainda com toda a lida da vida cotidiana, deixe o seu cônjuge saber que você ainda ama simplesmente estar ao lado dele. E não esqueça: a melhor coisa que você pode fazer pela sua vida, pelo seu casamento e pela sua família é convidar Jesus para entrar na sua casa. Lembre-se de que, para Deus, tudo é possível! Boa leitura, e até julho!
Sheila alvorada@ipib.org
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SUMÁRIO
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Reflexão
Pessoas que vivem conectadas podem estar sofrendo de FOMO.
Cotidiano
Conversas em família que no passado eram muito comum, hoje são quase inexistentes em alguns lares.
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Voz do coração
O Brasil que eu quero!
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Tráfico humano: um desafio para toda a sociedade, igrejas e religiões.
Esquizofrenia
Identificada como “demência precoce”, incoerência do pensamento, da afetividade e da ação, perda do sentido de realidade.
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Consciência Ecológica
Já parou para pensar que a água é um bem finito?
A força dos presentes de Deus. Uma conversa sobre a vida.
Filhos
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Igreja
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Entrevista
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Meditação
28
Poesia
Pais e Filhos
14
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Como ensinar os filhos a não julgar? A inclusão das crianças na comunidade. O psicólogo Marcelo Quirino fala sobre "Aconselhamento Infantil", e mostra a importância deste trabalho. A Oração melhorada. É possível melhorar a oração?
Vida Conjugal
O que precisamos saber sobre o casamento antes do casamento?
Família de Origem
O casal e os sogros. O que fazer quando há conflitos e interferências?
7
Maternidade e paternidade
Os efeitos da chegada de um novo membro à família.
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Ressentimento
Cuidado para que este sentimento não crie raízes
ENCARTE ESPECIAL Só pra Mulheres. Elas são únicas e merecem um espaço só delas.
32
Vida Conjugal
Somos mais do que homens! Somos maridos! Um conversa franca com os maridos.
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Pensar e Agir
E como caminha a igreja no Brasil?
36
Polêmica
Copa pra quem? Legado e investimentos que beneficiam a todos. Ou dinheiro mal gasto que melhoraria a educação e saúde?
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Cristianismo
Nelson Mandela, foi um exemplo de luta e de fé
Conexão Jovem
Sexo Seguro Imoralidade Sexual
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Espaço Kids
História, culinária e brincadeira para a criançada.
Alvorada A Revista da Familia
Órgão Oficial da Secretaria da Família da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Registrado, em 7/11/ 1974, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial sob o n° 289 - CNPJ n° 62.815.279/0001-19 - Fundada em 3/2/1968 por Rev. Francisco de Morais, Maria Clemência Mourão Cintra Damlão, Isollna de Magalhães Venosa. Ministério da Comunicação: Rev. Wellington Barboza de Camargo. Secretário da Família: Rev. Alex Sandro dos Santos. Coordenadoria Nacional de Adultos: Ione Rodrigues Martins e Odair Martins. Coordenadoria Nacional do Umpismo: André Lima. Coordenadoria Nacional de Adolescentes: Rev. Rodolfo Franco Gois. Coordenadoria Nacional de Crianças: Rev. Rodrigo Gasque Jordan. Editora: Sheila de Amorim Souza. Revisor: Rev. Gerson Correia de Lacerda. Arte e Diagramação: Seiva D’Artes. Foto capa: © drubig-photo - Fotolia.com. Fotos e ilustrações: Allison de Carvalho, Fotolia, stock.xchng, brusheezy e dreamstimefree. Colaboraram nesta edição: Wanderlei de Mattos Júnior, Daniel Dutra, Leontino Farias dos Santos, Alex Sandro dos Santos, Wívian L. C. Brojato, Daniela e Marcus Welte, Camila L. Tanganelli, Wag Ishii, Dulce Vieira Franco de Souza, Lisias Castilho, Ákila Moreira, Evandro Luiz Moreira, Zeneide Ribeiro de Santana, Maurício Silva de Araújo, Marcos Kopeska, Telma Caldeira, Devanira Domingues Demarque, Kleber E. B. Dias, Mindu Zinek, Marcos Stefano, Valdomiro Pires Oliveira.
Redação: e-mail alvorada@ipib.org - Fone: (11) 2596-1903. Assinaturas na Editora Pendão Real - Rua da Consolação, 2121 -CEP 01301-100 - São Paulo/SP Fone/Fax (11) 3105-7773 - E-mail: atendimento@pendaoreal.com.br. Assinatura anual Individual (4 edições): R$45,00, acima de 10 assinantes R$ 40,00, para receber através do (a) agente ou R$ 65,00, para receber em casa. Número avulso: R$ 11,50. Depósito no Banco Bradesco - Agência 095-7 - Conta Corrente 174.872-6. Tiragem: 2500 exemplares. Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião da revista. Permitida a reprodução de matéria aqui publicada, desde que citada a fonte.
REFLEXÃO
Fomo ZENEIDE RIBEIRO DE SANTANA
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Li, nestes dias, sobre algo que anda perturbando muita gente: FOMO (Fear Of Missing Out que, traduzindo livremente, significa medo de estar perdendo alguma coisa). Trata-se de um sentimento que inquieta os que se mantêm conectados às redes sociais o tempo todo, que consideram o celular uma extensão do próprio corpo, algo indispensável que, quando ausente, provoca profundo mal-estar. Há casos em que se leva o celular embrulhado em plástico até no banho. Soube de uma empresária que consegue falar por dois celulares ao mesmo tempo. Difícil quando precisa ir ao banheiro com urgência, com os dois nas mãos. A mãe dela comentou: “Não sei porque ela insiste para eu ir visitá-la… Só para ficar olhando ela mexer no computador ou falar o tempo todo naquele aparelhinho de doido?” Interessante a mania de quem posta tudo o que vai acontecendo num evento. Em tempo real, é possível acompanhar a cerimônia de um casamento, desde a entrada dos noivos até a recepção. São tantas as fotos que me pergunto: será que essa pessoa participou de
tudo, curtiu a solenidade, emocionou-se com a união dos amigos? Ou esteve tão preocupada em publicar que não teve tempo de “viver” o momento? Se o computador sofre pane ou perde o celular, quanta gente fica angustiada! A crise de abstinência se instala bem depressa… E, quando vê os posts das festas, viagens, férias com paisagens deslumbrantes, sente-se excluída, injustiçada. Nas redes sociais, todos são lindos, bons, humanitários, divertem-se tanto, amam de verdade, publicam frases lindíssimas, exibem uma vida perfeita, enfim. Se tudo isso for o alvo dos nossos anseios, se o mundo virtual nos afeta dessa forma, penso que é hora de refletir. E muito! Há um mundo real a ser desvendado, pessoas que ainda conseguem falar olhando nos olhos, conectadas pela proximidade física, que sentem necessidade de desabafar, de abraçar… Temos medo de estar perdendo alguma coisa ou estamos, de fato, perdendo o contato com nosso próximo? Deus nos ajude! A Zeneide, casada e mãe de dois filhos, membro da IPI de São Caetano do Sul, é professora aposentada e blogueira
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COTIDIANO
Conversas em família: links off-line WANDERLEY MATTOS
Não são apenas os dispositivos móveis conectados à internet que nos distraem da possibilidade de convívio e conversa familiar mais significativa. A dinâmica das grandes cidades, em si, já torna pouco possível algo que, no passado, era tão comum e, até mesmo, sagrado: fazer refeições juntos em família e conversar longamente à mesa
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A Revista da Família
Em tempos de tablets, smartphones, conectividade e Facebook que nos deixam online o tempo todo, fica cada vez mais raro deixar isso tudo de lado – eu disse de lado e não ao lado! – e ter uma boa e despretensiosa conversa em família, não é mesmo?! Mas não são apenas os dispositivos móveis conectados à internet que nos distraem da possibilidade de convívio e conversa familiar mais significativa. A dinâmica das grandes cidades, em si, já torna pouco possível algo que, no passado, era tão comum e, até mesmo, sagrado: fazer refeições juntos em família e conversar longamente à mesa. Uma família de amigos meus viveu por muitos anos uma situação inusitada para a realidade das grandes cidades: faziam todas as refeições (almoço e jantar) juntos. Todos trabalhavam ou estudavam na mesma instituição de ensino e moravam a poucos metros dali. Assim, os filhos cresceram almoçando e jantando com pai e mãe de segunda a segunda. O que parecia ser utópico certamente rendeu uma relação familiar sadia, alegre e, acima de tudo, cheia de diálogo e fortes vínculos afetivos. Claro que essa é uma exceção para a maioria dos brasileiros. A vida nas grandes cidades é consumida pelo trânsito, pelas distâncias e pela facilidade de comer fora – o que tira a possibilidade da partilha e da conversa durante o preparo do alimento e de seu próprio consumo à mesa, em meio a conversas, brincadeiras, lembranças, visitas e toda dinâmica que
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uma refeição conjunta em casa traz – e que é totalmente diferente da que se tem num ambiente público, onde se paga por uma comida que não foi feita por quem a come! Jesus sabia da importância das refeições. Já reparou que ele estava sempre comendo e conversando? Os fariseus o criticavam porque ele comia com publicanos e pecadores (Mt 9.11). Acusavam-no de ser comilão e beberrão (Mt 11.19). E há de se lembrar que, em sua época, estar à mesa não significava estar sentado numa cadeira com a mesa na frente, mas esparramado sobre uma espécie de sofá, com a mesa posta à frente de onde se comia sem pressa, enquanto se conversava. Foi em meio às conversas à mesa que pessoas se converteram, milagres foram feitos, homenagens prestadas, conversas e vínculos foram criados. Foi à mesa que Jesus repartiu simbolicamente seu corpo e derramou seu sangue através de elementos comuns a toda refeição judaica, pão e vinho. Foi nessa mesma mesa que o traidor se sentiu acusado, que dúvidas surgiram, que verdades foram ditas. Foi numa refeição que os discípulos reconheceram o Jesus ressurreto três dias após sua morte. Executivos sabem disso: negócios são fechados em almoços ou jantares. A interação acontece melhor quando há comida envolvida. As pessoas se desarmam, se soltam, têm prazer ao comer e conversar. Comida gera conversa. E conversa gera vínculo, conhecimento, intimidade, lembrança, emoção e amor!
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Mesmo que os horários não batam, ou que seja impossível almoçar ou jantar de segunda a sábado com a família reunida, por que não lançar mão dessa possibilidade de maneira programada e intencional?
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Todavia, parece que cada vez menos a família dedica tempo e oportunidade às conversas na cozinha - onde começa o ritual gastronômico no preparo, na divisão de tarefas, enquanto, em meio aos odores de alho frito e temperos diversos, se abre o coração, se conta os últimos acontecimentos, se ri e chora, e a vida acontece. Depois disso, por a mesa, organizar talheres e pratos, dispor cadeiras, acrescentar alguma de algum outro lugar porque hoje tem mais gente que o habitual. E, então, sentar-se, servir-se, ser servido, alimentar-se, nutrir-se, degustar, deleitar-se com gostos, sabores e cheiros que vão criando a atmosfera para longas e saudosas conversas, expressão de opiniões, descobrimento de notícias, revelação de segredos, histórias do passado, projetos para o futuro, discussão do presente e, assim, os vínculos vão se tornando mais fortes e concretos. Tenho memórias dos meus próprios vínculos familiares e com outras famílias que foram construídos à mesa. Sejam as festas de ano novo quando eu era criança, em que a minha casa ficava cheia de tios, tias e primos para o almoço que se estendia até o jantar, quando conversávamos, ríamos e ouvíamos histórias de parentes que sequer conhecíamos e, assim, criávamos vínculos, relações de afeto e simpatia. Ou durante a refeição do domingo apenas em família, com ou sem visitas, em que almoçar era mais do que apenas comer, mas conversar e conviver. Também me lembro de,
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na infância, estar na casa dos vizinhos que me conduziram à fé, quando juntos cantávamos uma oração antes do lanche da tarde servido pela carinhosa Dona Gessy à molecada que se assentava esfomeada à mesa da cozinha. Lá também experimentava o convívio familiar com outra família: a de amigos-vizinhos que se tornariam mais tarde, como resultado do convívio, família da fé. É comum que amigos saiam para comer juntos ou recebam em suas casas para conversar ao redor da mesa. Isso estreita os laços, solta a conversa e solidifica vínculos. Por que, então, não investir na mesma dinâmica em família? Mesmo que os horários não batam, ou que seja impossível almoçar ou jantar de segunda a sábado com a família reunida, por que não lançar mão dessa possibilidade de maneira programada e intencional? Que tal reunir os filhos jovens ou adolescentes para uma refeição com pai e mãe, num clima de descontração, amizade e alegria, celebrando a vida, contando histórias engraçadas do passado, ouvindo e falando, rindo e adorando a Deus pela possibilidade do convívio sadio e do fortalecimento de vínculos à mesa ou no preparo da refeição? Certamente desta experiência surgirão lembranças boas num futuro próximo que tornarão esses momentos singelos em memórias sublimes de vida e convívio familiar que, inclusive, podem ser postadas no Facebook, mas só quando a refeição e a conversa terminarem! O Wanderley é tradutor e intérprete
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família
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A chegada de um quarto membro na família ocasiona não apenas mudanças estruturais, como também sociais e, principalmente, afetivas. Não obstante, tais mudanças podem atingir ainda mais o primogênito com comportamentos relacionados à interação com seus pais
CAMILA LOPES TANGANELLI
Papai, mamãe e o primogênito. O relacionamento familiar está embasado nesta tríade. Tudo parece estar em seu devido lugar, cada um com a sua função. O homem, além de esposo, torna-se pai e se vê responsável pela segurança e apoio emocional dentro da família. A mulher, esposa assumida, encara a maternidade com zelo, amor, afeto, doação. E o primogênito realizando-se com o prazer de ter tudo colaborando a seu favor, espaço físico, lazer, brinquedos e principalmente a atenção dos pais. Até que surge uma grande mudança para pais e filho: a espera e chegada do segundo filho. Neste caso, para o primogênito nasce um irmão. Com isso, algumas transições surgem pelo caminho, causando certo impacto emocional em todo o ambiente familiar. Lembrando que este impacto pode ser ocasionado também numa família que tenha mais de um filho, alterando consequentemente toda a dinâmica familiar. Entretanto, neste artigo apontarei questões relacionadas aos pais e um único filho, a fim de retratar alguns comportamentos que um filho tido como primogênito venha a ter a partir desta novidade de não ser mais exclusivo. A essência do primogênito talvez seja o sentir-se exclusivo, singular, único. Por alguns momentos, pode até sentir-se sozinho. Mas, com a chegada de um irmão, tudo pode mudar. A exclusividade dará abertura para
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o dividir, a pluralidade, o compartilhar, proporcionando à convivência familiar um novo contorno emocional e afetivo. Reconhecendo que tanto pais como o primogênito sofrem com tantas mudanças na chegada do segundo filho e irmão, apontaremos alguns comportamentos que podem surgir nesta situação familiar, acarretando consequências diretas na interação dos membros familiares (pai-mãe-filho). Pensando em alguns ajustamentos, é claro que a chegada de um quarto membro na família ocasiona não apenas mudanças estruturais, como também sociais e, principalmente, afetivas. Não obstante, tais mudanças podem atingir ainda mais o primogênito com comportamentos relacionados à interação com seus pais. É possível que o filho único demonstre comportamentos de pura independência, querendo fazer tudo sozinho, ou de pura dependência, chamando a atenção dos pais a todo momento, transparecendo ações um pouco regressivas. Ou seja, o filho único, segundo sua percepção e desenvolvimento emocional, apesar do estresse, consegue administrar bem a espera do irmão durante a gestação, estendendo esta compreensão após o nascimento e visualização real da sua presença. Ou ainda, podem ocorrer comportamentos de confrontação e agressão com a mãe e o bebê, sentimentos de ambivalência, afastamento, já que pode sentir-se excluído da relação mãe-filho, pensando que ape-
Das diversas reações que atingem o primogênito com a chegada de um irmão, é possível que este sofra com algumas atitudes regredidas, como voltar a usar a mamadeira, fazer xixi na cama, sofrer alterações com o sono, falar de maneira infantilizada.
nas o bebê terá espaço e atenção. Tal estresse, que poderá surgir na dinâmica familiar, dependerá muito da harmonia do casal para saber lidar. Afinal de contas, apenas os pais é que sabem o que cultivam para manter o bem-estar no lar, o que procuram como estratégias para proporcionar um estado emocional saudável para a maternidade, e qual a qualidade que preservam na relação pais-primogênito. O processo de adaptação à chegada de um irmão está intimamente ligado às relações familiares estabelecidas anteriormente. Tendo em vista que, se a relação pais-primogênito mostrar-se inadequada antes do nascimento do irmão, esta poderá sofrer efeitos prejudiciais tanto no âmbito emocional quanto relacional ao longo do tempo, podendo até afetar a relação entre os irmãos. É claro que o cuidado, a atenção e a inclusão do primogênito nos preparativos para a chegada do irmão podem facilitar muito esta relação. Por isso, recomenda-se que o filho único tome consciência de que será o irmão mais velho e, como tal, poderá participar das atividades de preparação durante a gravidez e a hospitalização, assim como das primeiras fases de cuidado com o bebê, envolvendo-se com a elaboração das novas rotinas diárias. Isso pode colaborar para um ajustamento e adaptação à nova fase, com um mínimo de reações prejudiciais ao primogênito. Das diversas reações que atingem
o primogênito com a chegada de um irmão, é possível que este sofra com algumas atitudes regredidas, como voltar a usar a mamadeira, fazer xixi na cama, sofrer alterações com o sono, falar de maneira infantilizada. Tudo isso para ter a atenção da mãe voltada para si. Será preciso certa sensibilidade dos pais para compreender estas reações, acolher seu filho e esclarecer suas dúvidas quanto ao seu lugar na família. Como já comentado anteriormente, é certo que a relação na dinâmica familiar, com certeza, sofrerá ajustes em que os pais terão que dividir sua atenção com o bebê que acaba de chegar, assim como procurarão manterem-se perceptíveis às necessidades e demandas do filho mais velho. Por isso, é recomendável que os pais estejam abertos às mudanças, transmitindo a emoção agradável ao primogênito na chegada de um irmão para que, desta maneira, todos possam desfrutar de um crescimento saudável e maturidade familiar. A Camila frequenta a 1ª IPI de São Paulo, é psicóloga clínica com aprimoramento em Psicoterapia Winnicottiana na Infância e Pré-Adolescência pela PUC-SP
O Contatos: 98257-2356 e-mail: camilatanganelli@gmail.com
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PAIS E FILHOS
A força dos presentes de Deus
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Uma conversa sobre vida
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Nós, pais, cuidamos, orientamos, acalmamos e observamos os filhos. Contudo, ignoramos seu potencial de persistência, de tolerância, de resistência à dor ou ao sofrimento moral. Deus reservou a si o profundo conhecimento de qualquer ser vivente. Ao poupá-los, ao desviá-los das “agruras da vida”, nós o fazemos pressupondo um conhecimento que não temos.
TELMA CALDEIRA
O Salmo 127, nos versículos 3, 4 e 5, aborda a concepção de filho que deveria vigorar também nos dias atuais: filho como aquele que protege, que enfrenta, que cuida da preservação da vida e dos valores dos pais. Tal perfil exige preparo. Lembro-me de uma mãe de criança de 9 anos a quem eu lecionava na Escola Dominical. Ela veio me procurar sugerindo que eu não enfatizasse o sofrimento de Jesus quando de sua crucificação. “-Sabe, ele pode ficar assustado e até impressionado e, assim, não querer vir mais à igreja.” Foi a partir desse comentário que compreendi a pertinência e a gravidade da declaração de Dulce Vieira Franco de Souza, à p. 43 da Revista Alvorada n° 67: Talvez queiramos para nossos descendentes um mundo sem dores. Evitamos que eles visitem doentes, asilos, hospitais, velórios. Sem palavras, pregamos a cultura do prazer. Talvez queiramos um mundo sem doação. Ensinamos apenas a receber e a exigir. Sem palavras, os preparamos para a cultura do egoísmo.
A cultura do egoísmo é a que caracteriza a Modernidade. Nela, o ser humano é considerado “[...] capaz de fazer o mundo no qual vive e construir ele mesmo as significações que dão sentido à própria vida.” (HERVIEU-LEGER, Danièle. O Peregrino e o Convertido, 2008, p. 32). Quando a pessoa percebe que, mediante suas próprias forças, não consegue construir essas significações, sai a procurar suportes que possam capacitá-la ou possam fazê-la esquecer dessa necessidade. É, então, que surgem as dependências: álcool, cigarro, maconha, cocaína, crack, LSD. Discorrer acerca da frustração, da dor e de outros prejuízos que essas escolhas acarretam na vida física e espiritual seria como “chover no molhado”. A minha pretensão, ao escrever o presente artigo, é fornecer subsídios de formação ético-espiritual para que os membros da família cristã, especialmente os filhos, vivam num mundo em que, mesmo que vizinhos ou colegas ou parentes ou amigos desenvolvam as citadas dependências, não se deixem contaminar. Já escreveu alguém, com muita propriedade, que “O único meio adequado de conseguir que alguém faça alguma coisa é conseguir que ele QUEIRA FAZER”. O primeiro passo nessa direção é conscientizá-lo de que o ser hu-
mano não é “capaz de construir, por si só, as significações que dão sentido à própria vida”. E para nós, cristãos, é confortador saber que, sendo feitos à imagem e semelhança de Deus, podemos contar com sua ajuda nesse empreendimento. A condição de “imagem e semelhança” de Deus dotou-nos de atributos especiais. No Salmo 8, versículos 6, 7 e 8, o salmista se refere a eles. Jesus, conforme registra o Evangelho de Marcos 11.23, também. Nós, pais, cuidamos, orientamos, acalmamos e observamos os filhos. Contudo, ignoramos seu potencial de persistência, de tolerância, de resistência à dor ou ao sofrimento moral. Deus reservou a si o profundo conhecimento de qualquer ser vivente. Ao poupá-los, ao desviá-los das “agruras da vida”, nós o fazemos pressupondo um conhecimento que não temos. E a nossa incapacidade logo aflora e os filhos, que tanto amamos e de quem cuidamos continuamente, fatalmente ficarão expostos a alguma situação desagradável que não pudemos evitar. Meu neto de 2 anos é aluno de uma escola cujo período de férias não coincidiu exatamente com o período da mãe, que é terapeuta ocupacional. E ela me pediu para cuidar dele num dia desses. Eu já havia cuidado antes, quando ele era ainda bebê e não verba-
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» lizava as próprias carências. Mas, agora, os recursos teriam de ser outros. Quando percebeu a ausência da Vanessa, perguntou: “- E a mamãe, onde está? - Ela foi trabalhar e vai voltar depois. - Por que ela não vem agora? - Porque ela não pode”. O Davi começou a chorar. Então, eu disse: “- Ela não pode voltar agora, mas nós dois podemos brincar e nos divertir muito. Vamos brincar?”. O Davi continuou chorando por uns 2 minutos. Eu fiquei diante dele aguardando ansiosamente uma resposta. De repente, ele parou, enxugou as lágrimas com o dorso da mão e me disse: “- Vamos colocar o sapinho para dormir na caminha dele?”. E eu fui. Tivemos uma ótima tarde. Eu agradeço a Deus por isso. Minha faxineira tem uma escolaridade restrita, mas nem tudo se aprende na escola e ela é uma ótima mãe. Sua filha caçula precisava ir ao dentista e o preparo foi iniciado uma semana antes.
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O preparo do cristão é um processo do qual participam os pais, os parentes, os professores da Escola Dominical, bem como os demais membros da igreja local. É o corpo de Cristo cuidando da formação dos futuros membros.
“- Mãe, vai doer? - Talvez um pouco. - Eu vou chorar? - Pode ser. Mas a dor é alguma coisa que você pode suportar. Você vai ver. - Como você sabe? - Deus sabe. Vamos orar a Ele, que dará a você a resposta”. E, nas orações, antes do almoço, a garota perguntava a Deus acerca da dor que sentiria. Na cadeira do dentista, ela chorou, mas enfrentou corajosamente o momento difícil. Crianças aprendem a partir de modelos. Os primeiros modelos a que têm acesso são os pais. A certeza da presença de Deus por meio do Espírito Santo orientador e consolador é sentimento que tem de ser evidenciado em nossas escolhas do dia a dia. Converse com seu filho sobre como você, na confiança em Deus, tem enfrentado as provações da vida. Leve-o a vivenciar legitimamente que “[...] todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). Preparando os filhos para se convencerem do ensinamento do ver-
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sículo estaremos concretizando sua imunização à dependência do álcool, do cigarro e de toda ou qualquer substância química nociva à saúde. Além da experiência pessoal e familiar, você pode se valer de histórias bíblicas, como a de Davi que, confiante em Deus, resolveu enfrentar “o filisteu pagão que desafiou o exército do Deus vivo”. Ou a de Daniel que “resolveu […] firmemente não se contaminar com as finas iguarias do rei, nem como o vinho que ele bebia”. O preparo do cristão é um processo do qual participam os pais, os parentes, os professores da Escola Dominical, bem como os demais membros da igreja local. É o corpo de Cristo cuidando da formação dos futuros membros. Certa vez, presenciei o culto doméstico de uma família, cujo chefe usava como apoio temático as lições de Escola Dominical estudadas pela mãe e pelos filhos. Esta é uma boa sugestão para quem quiser explorar melhor a força desses presentes de Deus. A Telma é diaconisa, professora do Ensino Fundamental na rede pública, especialista em Administração Escolar e Ciências da Religião
Babies
Teens
2 a 3 anos
15 a 17 anos
Kids
4 a 5 anos
Friends
12 a 14 anos
Discovery 6 a 8 anos
Explorer
Upgrade
18 a 25 anos
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Vivendo a fé
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Como ensinar os filhos a não julgar?
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Julgamos e somos julgados o tempo todo. Pode ser pela cor da pele, pela roupa, pelo sexo, pelo bairro em que moramos, pelo jeito que falamos, pela condição financeira, pela escola em que estudamos e outros tantos motivos. Sem percebermos, já emitimos um julgamento. A verdade é que somos radicalmente contra o preconceito, porém a realidade é que ninguém está livre dele.
DANIEL DUTRA
Um rapaz estava na estrada dirigindo. De repente, vê uma curva e uma mulher vindo em sua direção, ziguezagueando na pista. Ele se assusta e desvia o carro para o acostamento. Quando o carro da mulher passa, ela grita: “Porco!”. Ele, não querendo deixar barato, grita: “Vaca!” Sente aquela sensação de bem estar de quem não perdeu a oportunidade. Quando ele chega mais à frente, exatamente na curva, ele atropela o porco e o carro roda na pista. Nisso, ele lembra que a mulher o havia avisado! Julgamos e somos julgados o tempo todo. Pode ser pela cor da pele, pela roupa, pelo sexo, pelo bairro em que moramos, pelo jeito que falamos, pela condição financeira, pela escola em que estudamos e outros tantos motivos. Sem percebermos, já emitimos um julgamento. A verdade é que somos radicalmente contra o preconceito, porém a realidade é que ninguém está livre dele. Como na história de uma senhora idosa que, devido às constantes notícias de roubo em sua vizinhança, morria de medo de ser assaltada. Um dia, sentou-se a seu lado um homem que, para ela, era de aparência suspeita. O medo foi começando a crescer e tanto cresceu que era visível o seu pânico. Começou a pensar que o homem estava apenas aguardando o momento exato de atacá-la. A certa altura, o homem começou a se mexer
no banco. A idosa foi ficando gelada de medo. Para ela, os movimentos do homem eram cada vez mais perigosos. Desesperada, ela começou a orar em silêncio. De repente, o desconhecido fez um movimento brusco com o braço e retirou do bolso uma revista da Escola Dominical. Ela, então, finalmente suspirou aliviada. Sim, julgamos e somos julgados. São muitas as nossas desculpas: a cidade é muito violenta; não se pode confiar em ninguém; existem pessoas que querem fazer o mal. O problema é que, quando julgamos o próximo, estamos emitindo um pré-conceito (conceito formado antes), podendo ser um conceito distorcido, ilusório e irreal. Conta o escritor Stephen Covey que, numa manhã de domingo, no metrô de Nova York, as pessoas estavam calmamente lendo jornais, divagando, descansando. Era uma cena calma e tranquila. Subitamente, um homem entrou no vagão do metrô com os filhos. As crianças faziam algazarra e se comportavam mal. O clima mudou instantaneamente. O homem sentou-se e fechou os olhos, aparentemente ignorando a situação. As crianças corriam de um lado para o outro, atiravam objetos e chegavam a puxar os jornais dos passageiros, incomodando a todos. Mesmo assim, o pai não fazia nada. Para Stephen, era quase impossível evitar a irritação. Ele não conseguia acreditar que aquele pai pudesse ser tão insensível a ponto de deixar que seus filhos in-
comodassem os outros daquele jeito, sem tomar uma atitude. Dava para perceber facilmente que as demais pessoas também estavam irritadas. A certa altura, enquanto ainda conseguia manter a calma e o controle, Stephen virou-se para o homem e disse: “Senhor, seus filhos estão perturbando muitas pessoas. Será que não poderia dar um jeito neles?” O homem olhou para Stephen, como se estivesse tomando consciência da situação naquele exato momento, e disse calmamente: “Sim, creio que o senhor tem razão. Acho que deveria fazer algo. Acabamos de sair do hospital, onde a mãe deles morreu há uma hora. Eu não sei o que pensar e parece que eles também não sabem como lidar com isso”. Diante da resposta inesperada, Stephen passou a ver a situação de um modo diferente e percebeu o grave e errado julgamento que havia cometido. Jesus afirmou: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também” (Mt 7.1-2). É claro que Jesus não está nos pedindo para suspender a nossa faculdade crítica e recusando-nos o direito de discernir entre a verdade e o erro, entre o bem e o mal. A questão aqui é que, em um momento, estamos com o dedo apontado julgando e, logo após, podemos estar sentados no banco dos réus, sendo julgados. O critério é que devemos ser mais generosos com o próximo, senão corremos o risco de o próximo
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Para os nossos filhos, as palavras convencem, porém o exemplo arrasta.
também duvidar do nosso procedimento. É como a lei da semeadura, que nos ensina que colhemos aquilo que plantamos. Plantamos julgamento; colhemos julgamento. Certa vez, um homem de negócios viajava de trem para Nova Iorque e, de repente, um homem barbudo e pobremente vestido deu-lhe um esbarrão ao caminhar para a porta do vagão para descer na próxima parada. Num reflexo, o negociante apalpou o bolso e o sentiu vazio: a carteira não estava lá. Nesse instante, o trem parou, as portas se abriram e o negociante agarrou os ombros do sujeito que lhe dera o esbarrão. O indivíduo se virou com uma expressão de pavor e desespero no rosto. De repente, voltou-se, lançou-se para frente, libertou-se do paletó e saltou fora do trem correndo. As portas se fecharam. E o negociante lá ficou com o paletó do suposto assaltante nas mãos. Deu logo uma busca nos bolsos da peça, esperando encontrar sua carteira, mas eles estavam vazios. Foi para o escritório e, logo depois, naquela manha, a esposa lhe telefonou dizendo: “Querido, você esqueceu sua carteira em cima da mesa ao sair de manhã”. O homem de negócios então pensou: “Não admira que o coitado barbudo que fugiu do trem se mostrasse tão assustado. Deve ter pensado que alguém estava tentando roubá-lo”. Diante disto, como ensinar os filhos a não julgar? Em primeiro lugar, mostre que as pessoas são diferentes. Podemos perceber essas diferenças na Turma da Mônica, um desenho infantil que atravessa gerações. Por exemplo, temos a Magali que gosta de comer muito, é filha única e possui um gato. Já o Cebolinha troca o “r” pelo “l” quando vai falar. O Cascão, seu nome já diz tudo, tem medo da água e não gosta de tomar banho.
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Mônica é muito mandona e agressiva. Chico Bento não gosta de escola. Cada um é de um jeito. Cada um tem sua dificuldade. O mundo seria tão sem graça se todo mundo se parecesse, agisse e vestisse da mesma forma. Preconceito é feio e errado. Quando um pai ou uma mãe emite o tempo todo seu preconceito, é claro que o filho terá uma referência negativa das pessoas ao seu redor e será um pequeno juiz. Em segundo lugar, ensine a empatia por aqueles que estão em dificuldades. Uma ilustração narra que um pai recebeu um telefonema, dizendo que um amigo tinha sido encontrado bêbado na praça. Imediatamente, buscou o amigo, enquanto a mãe preparava um quarto para recebê-lo. O bêbado, chegando à casa, ficou com os olhos arregalados ao ver os lindos cobertores colocados sobre cama. O filho resmungou: “Mas, mãe, ele está bêbado”. “Eu sei”, disse sua mãe gentilmente, “mas este homem escorregou e caiu. Quando voltar a si, estará tão envergonhado que precisará de todo o carinho e ânimo que nós lhe possamos transmitir”. Não devemos zombar de pessoas fragilizadas na frente dos nossos filhos. Ao contrário, devemos explicar que, às vezes, as pessoas se tornam dependentes de drogas como o álcool, em situações pontuais da vida. Mostremos às crianças o que significa compaixão. O que elas sentiriam se estivessem em uma situação tão difícil? O que seria não ter um lugar para chamar de lar, nem refeições saudáveis, roupas para trocar e muito
menos um emprego? Para os nossos filhos, as palavras convencem, porém o exemplo arrasta. Os pais precisam estar envolvidos no voluntariado, na distribuição de alimentos, de brinquedos e de roupas aos necessitados. É imprescindível também mostrar respeito por aqueles com dificuldades físicas ou mentais. No evangelho de João, temos o relato de que os fariseus trouxeram a Jesus uma mulher apanhada em adultério. Estes fizeram questão de provocar o vexame da mulher e a fizeram ficar em pé no meio de todos. Como queriam um motivo para culpar Jesus, eles citaram a Lei de Moisés, que afirmava que, em casos como aquele, a consequência era o apedrejamento. Jesus, conhecendo o coração dos acusadores, disse: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra” (Jo 8.7). Os fariseus, acuados pela própria consciência, foram soltando as pedras ao chão. Jesus, vendo que ninguém mais restou, perguntou para a mulher: “Onde estão os teus acusadores? Ninguém te condenou?” Então afirmou: “Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais” (Jo 8.11). A questão aqui é por que os fariseus só trouxeram a mulher e deixaram o homem escapar? A lei previa a morte para ambos. Isto reflete a sociedade machista da época que tinha dois pesos e duas medidas. A balança pendia sempre para o mais fraco, no caso, a mulher. Jesus, porém, age com misericórdia; ele não veio para julgar, mas para salvar. Eis aí o nosso exemplo! O Rev. Daniel, casado e pai de um filho, é pastor da IPI de Rondonópolis, MT
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A inclusão das crianças na comunidade EVANDRO LUÍS E AKILA VIVIANE RELKE KNEUBE MOREIRA
A comunicação é uma aventura. Transformar ideias, sentimentos e percepções em algo que ultrapasse os limites da linguagem e alcance o coração e a mente dos outros de um modo parecido com o que planejamos é um desafio que contagia e, porque não dizer, vicia quem se aventura e tenta fazê-lo. Akila e eu aceitamos o desafio de repartir com vocês algo que tem marcado nossa experiência de vida cristã: tornar a igreja uma comunidade cristã inclusiva para as crianças. Frequento igrejas presbiterianas
independentes desde os meus 4 anos e a Akila, desde os 10 anos, após sua conversão numa EBF (Escola Bíblica de Férias). Por muitos anos, a relação igreja e criança infelizmente ficou reduzida a falar sobre a Escola Dominical e/ou eventos para as crianças. Nos últimos anos, Deus tem raspado o fundo da panela e trouxe à tona um aspecto importante da relação da criança com a igreja: o culto público. Falar de crianças é falar de crescimento. Por isso a maioria dos textos sobre a espiritualidade das crianças menciona Lucas 2.52! Todos sabemos que o ser humano, do nascimento até a morte, está
em constante desenvolvimento e que este se dá em etapas ou fases. Mas será que nossa prática comunitária e litúrgica refletem uma consciência também do desenvolvimento integral de nossas crianças? Relembro aqui uma de minhas professoras no Seminário Teológico de Londrina, Odete Líber de Almeida, em seu trabalho sobre a inclusão da criança em nossas liturgias: "O ser humano desenvolve-se enquanto pertence a um grupo social, a um contexto de relações que desenha o mundo e ensina os primeiros conceitos da vida e, juntamente com o desenvolvimento de uma criança, a fé está também incluída na história
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ALLISON CARVALHO
Paredes e borboletas
do desenvolvimento humano. A igreja, enquanto comunidade de fé, tem o desafio de reformular sua prática cultual como espaço de crescimento espiritual no sentido de gerar na vida das crianças um pólo de encontro de solidariedade e maturidade. [...] Na comunidade de fé deve existir um espaço aberto às desventuras e às oportunidades de novas maneiras de crescimento da criança, já que elas possuem características próprias dentro do seu desenvolvimento cognitivo e psicossocial." Erik Erikson1 foi um estudioso na área de psicologia do desenvolvimento humano. Ele considerou a cultura e o aspecto social como indispensáveis para desenvolvimento da pessoa. Nesse aspecto, em que "cultura" estamos inserindo nossas crianças? O pastor e psicólogo James Fowler2 é um estudioso da fé e sua relação com o desenvolvimento humano. Seus estudos resultaram na teoria dos estágios da fé. Como exemplo, Fowler acredita que as pré-imagens de Deus são inseridas na criança ainda bebê, num primeiro estágio que ele chama de "fé indiferenciada", quando a criança não diferencia a si mesma dos outros. Refletindo apenas neste estágio, basicamente o primeiro ano de vida de uma criança, como nossos cultos e suas estruturas contribuem para o desenvolvimento espiritual de nossas crianças?
Duas histórias
Para ajudar nesta reflexão, convidamos você a passear conosco por duas histórias. A primeira é sobre uma igreja que, há uns quinze anos, decidiu construir um prédio com salas para educação cristã. Ela havia guardado recursos por um longo tempo. Por isso, as primeiras etapas da obra foram concluídas rapidamente. Na fase final de acabamento e compra dos móveis, a obra teve um ritmo mais lento, mas, em dois anos, o prédio estava em uso. Ao longo dos anos, muitos professores e alunos já passaram por ali. Excelentes aulas foram ministradas. Alu-
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A primeira infância Recortando um pouco mais este assunto, queremos focar aquilo que os estudiosos chamam de Primeira Infância, que vai mais ou menos de 0 a 6 anos. A criança nesta fase: aprende através de experiências sensoriais: vendo, apalpando, ouvindo, movimentando-se. Fala com o corpo todo e ouve com o corpo todo; é egocêntrica, mas não necessariamente egoísta. Isso quer dizer que ela pensa que tudo existe por causa dela, para ela, por ela; exercita a capacidade de fantasiar. Ela ainda não faz diferenciação entre o mundo real e o imaginário; é imitadora dos gestos de irmãos, colegas e adultos que a cercam, principalmente dos pais; é afetiva e tem grande necessidade de carinho o que influenciará o desenvolvimento de sua segurança e estabilidade emocional; é lúdica - Brincar é uma necessidade, uma forma de expressão, de aprendizado e de experiência. Brincando é que a criança organiza o mundo, domina papéis e situações e se prepara para o futuro; vive o presente - A construção da noção de tempo se faz pela experiência e ação da criança que, em seus primeiros anos de vida, vive o presente de forma intensa. O conhecimento de Deus e a experiência da fé é, antes, um "encontro", uma "jornada", com os pais e as outras gerações que formam a comunidade de fé. Você já se perguntou como e quando uma criança constrói as imagens e os conceitos, por exemplo, de Deus e igreja?
nos satisfeitos recordam o que aprenderam naquelas salas. Mas a história não termina aqui. Recentemente, a igreja ganhou uma nova professora. Esta jovem senhora, desde sua conversão, sentia o coração bater mais forte quando o assunto era ensinar. Aguardou ansiosa sua hora chegar. E, ao final do seu primeiro semestre de aulas, enviou um documento ao Conselho da igreja com um pedido de reforma da parte elétrica da sala onde ministrava. Justificativa: como usava
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seu notebook e usava também o datashow (um aparelho que tinha sido usado no templo e que fora substituído por um mais novo), ela precisava de um ponto de energia mais próximo do lugar onde ele ficava, pois a única tomada que existia ficava perto da porta, do outro lado da sala. Durante o semestre, ela levava uma extensão de casa que, nas primeiras semanas, foi desligada por alguns tropeços dos alunos, mas que ganhou a segurança de uma fita crepe trocada constan-
Aconselhamento para crianças
Entrevista com Marcelo Quirino Vemos em nossas igrejas um grande despreparo para o trabalho infantil. De fato, não em todas. Muitas têm se destacado nesta grande obra. Contudo, a maioria delas apenas entretém as crianças para que elas "não atrapalhem" o culto. As crianças vão aos seus "cultinhos" para pintar, brincar ou assistir algum filme, e não há uma mensagem específica para sua vida cristã. Segundo uma pesquisa de Lionel Hunt, 1% dos convertidos fizeram sua decisão antes dos 4 anos de idade, 85% a fizeram entre os 4 aos 14 anos. Dos 14 aos 30 apenas 10%, e somente 4% após os 30 anos. Estes dados reforçam nossa responsabilidade: "Ensina a criança no caminho que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele" (Pv 22.6). Se não há ministérios infantis fortes nas igrejas, também não há um olhar mais atento para as suas necessidades espirituais, psicológicas/emocionais e físicas, e muito menos para o tema "aconselhamento para crianças", que é algo novíssimo. Nesta entrevista ao Instituto Jetro sobre o seu livro "Aconselhamento Infantil", o psicólogo Marcelo Quirino mostra a importância deste trabalho. Marcelo é graduado em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com Licenciatura Plena em Psicologia pela
Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Técnico em Administração de Empresas pelo Complexo Educacional Vilar dos Telles. Realizou trabalhos voluntários na UNESCO/ Estado do Rio; na ONG Renascer; no INCA e no Governo Federal/SESI. Realizou atendimentos de Psicologia Clínica em Duque de Caxias, RJ. Atualmente é Psicólogo Clínico no Centro de Referência de Tratamento para Crianças e Adolescentes II, em Campos dos Goytacazes, RJ. É membro da 1ª Igreja Batista no Guarani, São João de Meriti, RJ. Há 13 anos e palestrante nas áreas de Psicologia Organizacional, Psicologia e Educação e Relacionamentos. Conheça o site do autor.
A que se deve a produção deste livro e qual o seu objetivo? Eu ainda procuro uma editora para o livro. Por enquanto, é uma produção independente. A produção deste livro se deve a dois fatores principais: minha experiência profissional com atendimento a crianças e a ausência de material de aconselhamento voltado especificamente para crianças. Na época da lançamento de meu livro, fiz um levantamento bibliográfico e não havia absolutamente nenhum livro sobre o tema. Os motivos secundários são a dificuldade de se tratar de aconselhamento com crianças, a pouca frequência de atendimentos pastorais infantis e a falta de preparo adequado de pastores e líderes para desempenhar com qualidade a tarefa de atendimentos pastorais. Esse livro é fruto de experiência própria com atendimentos infantis em clínica particular e, posteriormente, no Centro de Referência e Tratamento da Criança e Adolescente, onde trabalho como servidor público. É um tema do qual gosto muito. Atualmente, percebo uma extrema carência em habilidades de educação dos pais. Esse livro pode ajudar também a pais e educadores nesse aspecto. Não é só voltado para aconselhadores, não.
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Na entrevista " Educando os próximos líderes" do Instituto Jetro com Cris Poli (Super Nanny), ela afirma que: "A igreja deve ter um ministério para crianças onde seja desenvolvido um trabalho em unidade com os pais através de palestras, workshops e reuniões para orientações sobre como educar seus filhos". Em sua opinião, qual é o papel da igreja na saúde física-emocionalmental-espiritual das crianças? A igreja tem um papel indispensável com na saúde integral da criança. Não diria que esse trabalho é opcional, mas entendo como um dever da igreja ter um ministério específico para crianças e que aborde as diversas dimensões dos pequeninos, como a saúde física, emocional, social e espiritual. Muitas igrejas se limitam a ter a Escola Dominical e o culto infantil. Ressalto que isso é extremamente insuficiente para um ministério que se queira prestador de serviços integrais para a criança. Com essa atual visão limitada das igrejas, as atividades para a criança se restringem a atividades sociais e de aprendizado espiritual. Contudo, a atividade de cuidado emocional, prevenção e intervenção não é realizada ou, quando muito, é efetuada por professores de escolinha que, ao menos, sabem as fases do desenvolvimento infantil e estão ali emprestados, depois de muito se implorar para que se responsabilizem pelo ministério. Eles não têm preparo psicológico e muito menos acadêmico para tratamento de crianças na igreja. Sabemos que o trabalho é voluntário, mas critico a falta de uma visão pastoral voltada para um ministério integral com preparo acadêmico de professores infantis nas igrejas.
Quem pode atuar como um conselheiro infantil? Quais as características e conhecimentos necessários para desempenhar esta função? Que tipo de ferramentas de aconselhamento infantil você propõe no livro?
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Os preparados, sejam quais forem. A questão é o que estabeleceremos como critério para definirmos quem é o preparado e que tipo de preparo é necessário para o desempenho eficaz dessa tarefa importante. Creio que o bom senso deve nortear os critérios para se definir o preparado. Um curso de aconselhamento, a prática supervisionada do aconselhamento, o gosto pela atividade e a habilidade em atendimentos lúdicos de aconselhamento já são pontapés iniciais para o preparo. Não necessariamente, a atividade de aconselhamento deve ser desempenhada por um pastor ou líder de ministério. O aconselhamento é um dom divino conforme descrito em Romanos 12, 1 Coríntios 12 e 14, e Efésios 4. Os dons que geralmente um aconselhador possui são múltiplos, tais como exortar, ensinar, discernir, ciência, conhecimento, discernimento de espíritos e cura, levando-se em consideração os dons descritos nesses capítulos bíblicos. A ferramenta proposta no livro é essencialmente o manejo de técnicas lúdicas para ouvir e compreender a criança em sua problemática, que geralmente está inserta na família.
As mudanças na sociedade como o aumento do número de pais divorciados, educação terceirizada para as escolas ou babás, avanços tecnológicos ou o consumismo, têm repercutido na saúde mentalemocional das crianças? Sim, é o que percebo em meus atendimentos clínicos. Diria que, de 10 atendimentos infantis que realizo, 8 têm relação direta com a problemática dos pais. Seja crise familiar, separação, inabilidade de educar, problemas dos pais com seus pais, repetição de padrões patogênicos de interação familiar, projeção no filho de problemas emocionais parentais, ódio inconsciente contra a criança, crianças assumindo papel de pai ou mãe e retardando ou tornando o desenvolvimento infantil precoce, insuficiência cognitiva e cultural dos pais, dentre outros fatores patogênicos. O que precisamos perceber é que psicologicamente somos devedores
à nossa época. Somos seres históricos, culturais, simbólicos e, portanto, localizados num tempo especifico. Desde o pós-guerra, quando a quantidade de mão de obra masculina decaiu, a revolução feminina na década de 70 com a inserção da mulher no mercado de trabalho buscando direitos iguais, a tecnologia, a liberalização do direito para minorias, a globalização e o transculturalismo, dentre outras transformações sociais, percebemos uma mudança que nos coloca no que chamamos de pós-modernidade. Este é um período peculiar e formador de identidades coletivas sociais e, principalmente, um período formador de identidades eclesiásticas e religiosas inclusive. Mal-aventurado é o líder que não sabe ler as consequências psicossociais desse tempo em seus liderados.
crianças nas igrejas deve entender que seu trabalho é restrito à Bíblia e ao tratamento espiritual das crianças. Nesse sentido, seu trabalho possui foco educativo-espiritual para a criança, para os pais e para a família em qualquer caso. Já diante de temas específicos, o acompanhamento por um profissional é condição sine qua non para o desenrolar eficaz da atividade do próprio aconselhador. O aconselhador pode confortar biblicamente a criança, a família e amparar espiritualmente crianças hiperativas. Não podemos cair no romantismo de que a atividade de aconselhamento infantil é indicada para todos os casos. Há casos em que é contraindicada por suas limitações e restrições de objetivos estruturais.
O que a igreja/conselheiro infantil pode fazer diante do conhecimento de que a criança sofreu algum tipo de violência (sexual, psicológica, moral) ou que sofre dos transtornos psicológicos como o TDAHI (Transtorno do Déficit de Atenção, Hiperatividade e Impulsividade), cibervício, depressão, desajustes do ego e de conduta? A atividade de aconselhamento infantil possui um limite, modo de intervenção, um foco específico, objetivos espirituais, indicações e contraindicações. Por isso, é importante a formação para que não haja atividade iatrogênica (atividade terapêutica prejudicial) no aconselhamento infantil. Um aconselhador infantil pode ser tanto alguém com foco em espiritualidade como um psicólogo com atendimento especializado. O profissional inserido na igreja poderá desempenhar uma atividade terapêutica de aconselhamento voltado para um trabalho em conjunto com os pais e a criança. Já o não-psicólogo que aconselha
Quais os conselhos para pastores e líderes quanto ao cuidado com as crianças da igreja? De maneira geral, preparo, gosto pela atividade, visão para formar líderes de aconselhamento, e não somente professores de Escola Dominical, e desenvolvimento de ministérios integrais voltados especificamente para as crianças. Tecnicamente, desenvolvimento de atividades lúdicas em aconselhamento, desprendimento, linguagem simples, expressividade, paciência, atenção à expressividade infantil nem sempre clara. Como conselho de profissional, indico o trabalho conjunto com psicólogos, assistentes sociais, parceria com a família, muita sabedoria e perspicácia para não exercer atividades iatrogênicas para a família e zelo com a saúde da criança. Taticamente, o líder deve desenvolver um plano de preparo de líderes, de estrutura do ministério infantil integral com aconselhamento profissional incluído e de recursos necessários para o bom desenvolvimento do projeto. Há de se ter em mente que a saúde emocional das crianças e o trabalho com aconselhamento infantil pode ser um caminho de evangelização de famílias na comunidade da igreja e um bom reforço nas bases sociais e psicológicas futuras da comunidade cristã local.
De 10 atendimentos infantis que realizo, 8 têm relação direta com a problemática dos pais.
Entrevista realizada pelo Instituto Jetro (http://www.institutojetro.com)
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temente até o momento. As opções eram duas: quebrar a parede e refazer as instalações de tomada da sala ou então instalar canaletas ao longo da parede até o ponto necessário. Qual opção você acha que o conselho escolheu? Ao olharmos para os nossos cultos e a inclusão de nossas crianças hoje nos deparamos com necessidades que não foram reconhecidas e previstas. Não adianta olharmos para nossos antecessores que construíram este prédio e culpá-los. Será que hoje temos consciência de que as coisas que acontecem nos primeiros anos de vida marcam uma criança pelo resto de sua vida e que estes primeiros momentos e experiências estabelecem as bases para o seu percurso afetivo, cognitivo e também espiritual? Depois de conscientes, o que vamos fazer: ter a coragem de enfrentar os desgastes, a sujeira e os transtornos de "quebrar paredes" e dar respostas eficazes e permanentes ou vamos optar por canaletas ou ainda manter extensões grudadas com fitas no chão? Permitam-nos uma segunda história. Certo menino, enquanto brincava no quintal, encontrou um casulo de lagarta. Levou para casa e, motivado pelo pai, professor de biologia, deixou o casulo no seu quarto, num lugar apropriado para seu desenvolvimento. Ele observava o casulo todos os dias, ou melhor, várias vezes ao dia. Certo dia, ele observou que aquilo que estava dentro do casulo começou a se mexer e muito. Logo ele correu, apanhou um estilete na sua gaveta e fez um pequeno corte no casulo. Depois de alguns instantes, o casulo se rasgaria e dele sairia uma linda e colorida borboleta. Que visão maravilhosa! Que experiência única observar a beleza e os primeiros passos daquela borboleta. Passada a euforia, veio a preocupação: por que aquela borboleta de asas tão coloridas não voava? Mais tarde, quando o pai chegou, veio a explicação: ao ajudar a borboleta a romper o casulo o menino impediu o fortalecimento necessário para as asas conseguirem voar. Todos sabemos que "atalhos" cobram mais tarde seu preço. Esta his-
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Hoje necessitamos de arrependimento e não apenas de estratégias. Hoje necessitamos de um autoexame sobre o que é ser igreja.
tória sempre me remete às imagens do caminho estreito e largo usados por Jesus. Ao longo de vinte anos trabalhando com jovens e adolescentes (Evandro), tenho encontrado muitas borboletas que não voam em nossas igrejas.
Hoje, muitas de nossas igrejas, ao adotar propostas como o de cultos exclusivos para crianças, estão com estiletes nas mãos, rompendo os casulos da espiritualidade delas. Não estamos propondo cultos especiais para crianças com preletores convi-
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dados, decoração infantil do templo e guloseimas no final. Não estamos propondo chamar as crianças à frente para um momento especial com elas dentro da liturgia. Estamos falando de quebrar as paredes de nossas liturgias e torná-las inclusivas e naturais para nossas crianças. Elas não precisam de destaque. Elas precisam de uma comunidade. E lembramos que aqui fizemos um recorte: mudanças em nossas propostas litúrgicas deverão vir acompanhadas por reflexões e mudanças em outras áreas como a Escola Dominical e os grupos pequenos. Sobre a Escola Dominical e o ensino das crianças perguntamos a você o que sempre perguntamos aos pais: é responsabilidade da igreja contar histórias bíblicas para seus filhos? Você compra e deixa seu filho assistir dezenas de vezes aquele DVD de animação e será que somos nós que temos de contar histórias bíblicas para seus filhos? Você é quem compra vários títulos de literatura infantil e coloca seu filho para dormir todas as noites e será que somos nós que temos de contar histórias bíblicas para ele? O que a igreja tem por responsabilidade e somente ela pode proporcionar é a experiência da vida em comunidade. A missionária Daphne Kirk reforça em seu livro "Reconectando as Gerações" que poucas vezes a Bíblia fala de crianças de modo exclusivo e específico, porém toda a Bíblia fala também sobre as crianças quando se refere a "povo", "todos", "cada um",
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"toda a nação", "comunidade" e "família". Ela afirma: "Nós não percebemos isso porque fizemos a palavra ‘todos’ significar ‘adultos’”. Hoje necessitamos de arrependimento e não apenas de estratégias. Hoje necessitamos de um autoexame sobre o que é ser igreja. Parte da responsabilidade do processo que hoje faz nossos jovens e adolescentes deixarem nossas comunidades é dos líderes e adultos, quando eles os excluíram da comunidade quando eram crianças. Ou você acha que a experiência de uma sala de escola dominical, o relacionamento com as muitas "tias" e a participação em muitos "retiros", "EBFs" e tardes especiais darão a elas o senso de pertença e uma visão comunitária da igreja? Veja bem, não somos contra a Escola Dominical e os eventos especiais para as crianças. O que acontece é que não podemos esperar deles o que eles não podem dar aos nossos filhos! Aproveitamos o gancho para alertar aos que estão optando por grupos pequenos específicos para crianças, que escalam adolescentes ou literalmente contratam pessoas para "cuidar" de seus filhos durante os encontros do grupo pequeno que, além de estar em pecado por conta da omissão de suas responsabilidades como pais, estão também roubando destes pequenos a única e insubstituível oportunidade de construir os fundamentos de uma espiritualidade saudável e uma visão comunitária da igreja. Talvez você possa achar que estamos exagerando da mesma forma
que um pai, que manda seu filho se levantar para dar lugar para um adulto e, depois, o instrui categoricamente sobre o respeito aos mais velhos, não consegue entender o impacto que ele teria sobre seu filho se aquele filho o visse se levantar e ele dar o seu lugar! O que vale pregarmos em nossos púlpitos contra o consumismo religioso, se estamos forjando estes mesmos valores contra os quais pregamos na espiritualidade de nossas crianças? Percebeu por que escrever e refletir vicia? Isto porque não vamos refletir sobre o fato de que tudo o dissemos até aqui diz respeito a, no máximo, 150 horas do tempo de nossas crianças durante um ano contra cerca de três mil horas com seus pais. Mas isto é tema para outra conversa. Vamos quebrar as paredes? Vamos enfrentar a tentação dos estiletes? O Rev. Evandro e a Akila são casados, trabalham com jovens e crianças na 1ª IPI de São José do Rio Preto, SP. A Akila tem um ministério itinerante (www.akilaetc.com.br) 1. 2.
3. 4.
http://www3.est.edu.br/biblioteca/btd/ Textos/Mest_Prof/almeida_ol_tmp10.pdf página 20 “Psicodinâmica e Sacrodinâmica”, artigo eletrônico de Uriel Heckert - http://www. cppc.org.br/index.php?option=com_conte nt&task=view&id=266&Itemid=114 http://www.metodista.br/centraldeestagios/ ppc/caminhando/caminhando-14/ caminhando-14/a-crianca-e-a-fe/ Kirk, Daphne. Reconectando as gerações. Ministério Igreja em Células, Curitiba, 2003, página 97.
Ao olharmos para os nossos cultos e a inclusão de nossas crianças hoje nos deparamos com necessidades que não foram reconhecidas e previstas. Não adianta olharmos para nossos antecessores que construíram este prédio e culpá-los. Será que hoje temos consciência de que as coisas que acontecem nos primeiros anos de vida marcam uma criança pelo resto de sua vida e que estes primeiros momentos e experiências estabelecem as bases para o seu percurso afetivo, cognitivo e também espiritual? A Revista da Família
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MEDITAÇÃO
A oração melhorada MAURÍCIO ARAÚJO
“Portanto, confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz” (Tg 5.16). Ao longo da vida, sempre estamos buscando melhorar alguma coisa em nós, na nossa casa, em nossas relações, na vida conjugal, no trabalho. Enfim, o que já é bom pode ainda ficar melhor, já dizia o ditado popular. São inúmeras as coisas da vida que podem ser melhoradas! Tem gente melhorando seu inglês, melhorando sua dicção, melhorando seu conhecimento profissional, melhorando a forma de lidar com as tensões da vida e das relações. Enfim, podemos melhorar muitas coisas ao longo dos anos. Certa vez, um colega pastor me disse que uma irmã o procurou após o culto de domingo à noite para dizer-lhe que havia usado o seu sermão do domingo passado em uma reunião de oração no seu lar. O pastor, muito feliz, parabenizou a singela senhora e perguntou como havia se saído. A irmã, na sua simplicidade, lhe respondeu: “Foi uma bênção pastor, pois, depois que eu dei uma melhorada no seu sermão, ele ficou maravilhoso”. Nós compreendemos que a irmã não quis dizer que o sermão do pastor estava ruim, porém sabemos que tudo pode ser melhorado nesta vida, até o sermão de domingo. Voltando para o texto de Tiago, chego à conclusão de que a nossa oração também pode ser melhorada. Eu pessoalmente já não oro da mesma forma que orava há alguns anos, pois a vida com Deus vai nos acrescentando melhoras e mudanças até na oração. A vida é uma grande escola para nosso aprendizado e, se andarmos com Deus com desejo de aprender, até a nossa oração pode ser melhorada. Quantas vezes já oramos incessantemente acerca de um pedido, e devemos assim fazer, mas, com o passar do tempo, aprendemos que não podemos nos esquecer que
nossa oração não pode deixar de conter a frase “seja feita a sua vontade” ensinada por Jesus na oração do Pai Nosso. Muitas vezes não somos atendidos porque pedimos mal, porque não sabemos orar, porque vivemos de forma contrária à vontade de Deus, porque não perseveramos na oração, porque nosso coração ainda está inclinado na direção errada. Enfim, a nossa oração pode ser melhorada. A passagem de Tiago nos deixa alguns ensinos de como podemos melhorar nossa oração. Quando confessamos nossos pecados, estamos melhorando nossa oração, pois estamos tirando o impedimento, a barreira, o obstáculo que impede que Deus ouça nossa petição. Quando confessamos nossos pecados uns aos outros também estamos melhorando nossa oração, pois estamos declarando que somos humanos, somos pecadores, falhos, que podemos cometer erros e que precisamos uns dos outros para dividir nossas culpas e tropeços. A nossa oração pode ser melhorada quando passamos a orar não só por nossas causas e necessidades pessoais, mas também a orar pela causa dos outros, por suas dores e aflições. A nossa oração pode ser melhorada quando não só achamos que somos justos, mas quando nos portamos como tal, quando vivemos como filhos de Deus mesmo num mundo de impiedade e perversidade. Como me disse um irmão nesta semana: “Tenho buscado melhorar minha oração a cada dia diante de Deus, pois não sei como orar e, muitas vezes, tenho pedido de forma errada e me esquecido de buscar a vontade de Deus para minha vida”. Quero concluir dizendo que podemos sim melhorar muitas coisas em nossa vida ao longo dos anos e a oração é uma delas. E, diga-se de passagem, uma das mais importantes, pois reflete nossa comunhão com Deus. Que Deus nos abençoe em Cristo Jesus! O Maurício é pastor da IPI de Jundiaí, SP
A Revista da Família
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VIDA CONJUGAL
Antes do casal fazer os votos de união, terá que ter o conhecimento de como manter viva e saudável esta união. Para isto, o casal terá que conversar e conversar muito, de maneira esclarecedora, sobre qual é a forma que vai ter o seu contrato de casamento.
DEVANIRA DOMINGUES DEMARQUE
Em quase 40 anos trabalhando com terapia de casais, ouvindo histórias tão dolorosas, momentos tão conflitantes, elevados níveis de angústia e grande hostilidade, pude concluir que casamento é um terreno onde é muito mais fácil entrar do que sair. É importante dizer que, quando o casal, em meio a tanta dor, vem procurar ajuda, isso nos faz pensar que o amor plantado neste terreno ainda é uma raiz viva que, se retomarmos os cuidados, pode brotar e, novamente, florescer. Esta busca do casal nos deixa acreditar que eles ainda querem continuar casados, não querendo correr o risco doloroso de uma separação, pois ela assemelha-se à quebra de algo muito precioso e valioso para o casal. É importante pensarmos seriamente em coisas que precisamos saber sobre o casamento antes do casamento. O casamento nos acrescenta novos papéis: seremos pais; seremos cônjuges; seremos genros, noras; seremos 24 Alvorada
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donos de casa (de um lar), etc. Quando um homem e uma mulher se unem em matrimônio, juntamente se unem duas famílias (família expandida). Então, quando fazemos esta escolha tão íntima, que é a pessoa com quem vamos nos unir, estamos dizendo a nós mesmos e aos outros quem somos. E o conhecer-se (o autoconhecimento) é uma porta aberta para receber e conhecer também o outro. Antes do casal fazer os votos de união, terá que ter o conhecimento de como manter viva e saudável esta união. Para isto, o casal terá que conversar e conversar muito, de maneira esclarecedora, sobre qual é a forma que vai ter o seu contrato de casamento. É importante salientar mais coisas que precisamos saber antes do casamento para podermos caminhar na direção deste momento de união com a segurança daquilo que será eternizado em nossa vida. Acredito que o que vem em primeiro lugar é a fundamental fidelidade como condição inegociável dentro do casamento.
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O que precisamos saber sobre o casamento antes do casamento
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Ter a coragem de dizer um ao outro: “Me caso com você para fazê-lo feliz”. Isto constrói um compromisso maior do que qualquer problema
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Não existe uma receita para construir um relacionamento perfeito, assim como não existe uma faculdade oferecendo um curso de “belos casamentos”. Cada união é única, da mesma forma que cada indivíduo é único. Devemos saber que, na vida, há tarefas a cumprir tanto para homens como para mulheres. Agora, podemos dizer que há diretrizes (orientações) que demonstram a possibilidade de promover felicidade e equilíbrio conjugal:
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A importância do casal edificar o relacionamento no compromisso de permanência. O casamento enfraquece quando se coloca a separação (divórcio) como opção de solução de possíveis crises (Por exemplo, “se der certo, permanecemos e, se não der, a gente se separa”). Isto é não permitir a santidade da união.
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Compreender que momentos de dor podem fortalecer a relação quando o casal opta por resolvê-los junto. Alguém já disse: “O amor é aquilo que os dois atravessam juntos”. Porque amor representa compromisso.
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Ter a coragem de dizer um ao outro: “Me caso com você para fazê-lo feliz”. Isto constrói um compromisso maior do que qualquer problema; isto coloca luz dentro de cada um quando o caminho parece escuro.
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Aprender a falar e demonstrar o seu amor. Amar traz o milagre do recomeço a cada dia. Amar é uma atitude e casamento é a oportunidade de amar.
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Ter a maturidade de compreender que as muitas dificuldades que o casal enfrenta junto – como uma doença, como a luta diária para fechar o mês dentro do orçamento, os muitos
beijos de boa noite já no escuro porque o cansaço já nos leva a adormecer, e tantas outras – leva à compreensão do quão profundo é o amor que existe.
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Saber que falar sobre sexo deve ser sempre de maneira espontânea e sincera para que o medo, possíveis culpas e constrangimentos desapareçam. E aí, neste relacionamento de verdadeira confiança, haverá ampla liberdade na comunicação e isto produzirá mais prazer. O casal deve entender a todo o momento que o homem e a mulher têm respostas diferentes no relacionamento sexual. Compreender que cada um, dentro do seu gênero, vive a sua sexualidade de maneira distinta, desde a excitação e desejo até o orgasmo. Que o casal possa compreender sempre que cada um é um universo único com sua cultura, sua história, seus valores éticos, morais, cristãos, sua educação, etc. e, diante disto, não se empenhar em uma luta para modificar um ao outro, mas, sim, aceitá-lo como é. Não esquecer que a mudança não começa no outro e, sim, em mim. Existem coisas no outro que não aceitamos, mas podemos muito bem
a olhar para o outro de maneira mais zelosa, mais gentil, mais generosa, mais receptiva para que, desta maneira, possamos enxergar mais suas virtudes e aí poder plantar a semente que fará florescer a aceitação do nosso cônjuge. E esta flor é a expressão do amor que diz: “Como nos alegramos por Deus ter nos unido”.
aprender a conviver com elas e nos empenharmos mais em amar o outro de maneira plena. Ame o seu parceiro real e não o imaginário.
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É importante perdoar sempre. A Palavra de Deus fala em Mateus 8.21 e 22 que devemos perdoar setenta vezes sete. Quando perdoamos, nos tornamos grandes nas pequenas coisas. Sabemos que falhas sempre existirão, pois não somos perfeitos, mas o que importa é o que faremos com estas falhas, no sentido do casal se conhecer cada vez mais, administrar-se cada vez mais e aceitar-se cada vez mais. Neste momento, fica proibido dar um rótulo ao que o outro fez, mas é permitido dizer-lhe o que aquilo te fez sentir e, a partir daí, ter neste bom diálogo o pilar fundamental de transparência no relacionamento interpessoal do casal.
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Que no decorrer do tempo o casal possa sempre deixar claro o quanto um é importante para o outro. E que são nas pequenas e boas coisas que ambos podem juntos celebrar as grandes coisas.
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Existe um velho ditado que diz: “Quem planta expectativas colhe decepções”. Então, para que a colheita não seja decepcionante, temos que aprender
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Precisamos saber que casamento é feito por aqueles que sabem que a vida é, muitas vezes, imprevisível, e isto nos faz aprender que temos ora que ceder e ora nos ajustar para que o equilíbrio da relação se mantenha com vitalidade e significado.
Agora lembre-se: de maneira geral, no casamento, a perfeição não reina o tempo todo, mas é necessário uma disposição de aceitar e conviver bem com o cônjuge assim como ele é, e não como gostaríamos que ele fosse. Administrar um conflito pode ser uma interessante oportunidade de crescimento do casal. Fazer as pazes é continuar mergulhando fundo nesta relação de permanência, de cumplicidade e de companheirismo. É indispensável que o casal tenha um espírito perdoador e um autêntico desejo de acertar.
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A Devanira, psicóloga clínica, sexóloga e terapeuta de casal e família, é presbítera da 2ª IPI de Londrina (Filadélfia), PR
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FAMÍLIA DE ORIGEM
O casal e os sogros:
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O que fazer quando há conflitos e interferências?
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WÍVIAN L. C. BROJATO
Uma dificuldade que muitas pessoas encontram no início do casamento e, às vezes, ao longo de anos de convivência está no relacionamento com sogros e outros familiares do cônjuge. Quando nos casamos, iniciamos um relacionamento vitalício não só com o cônjuge, mas também com seus pais, irmãos, sobrinhos, etc. Ganhamos não apenas um marido/esposa, mas uma família toda. Ocorre que a família do outro possui em geral hábitos, valores e modos particulares de comportar-se que nem sempre se adequam muito à maneira como fomos educados. Apesar de todas as dificuldades que podem surgir no trato com esta nova família, é importante esforçarmo-nos para criar laços de harmonia e amor com sogros, cunhados e demais familiares, já que estas pessoas possuem vínculos de amor profundos e perenes com o cônjuge, e são agora nossa família também. Chamo aqui de família de origem a família de onde viemos (pai, mãe, irmãos, etc.), para diferenciá-la de “família” que se refere ao núcleo formado em geral por você, seu marido (ou esposa) e filhos, se houver. Mas, antes de adentrarmos propriamente nos problemas e possíveis direcionamentos para lidar com conflitos entre marido/ esposa e sogros, quero falar um pouco sobre o vínculo que há entre o homem ou a mulher e seus pais.
A relação de dependência
Quando nascemos e mesmo durante a nossa formação no ventre de nossa mãe, somos completamente dependentes dela. Precisamos da mãe e, posteriormente, do pai para tudo. São eles quem nos mantêm limpos, alimentados e aquecidos. São eles quem nos transmitem a sensação de segurança e nos amam.
A família do outro possui em geral hábitos, valores e modos particulares de comportar-se que nem sempre se adequam muito à maneira como fomos educados.
À medida que a criança vai crescendo, ela se torna cada vez mais independente. Começa a ter condições e maturidade para se manter limpa sem a ajuda de outros, para se alimentar e até mesmo fazer o seu alimento sozinha, etc. O adolescente, em sua fase “rebelde”, começa a questionar a autoridade dos pais e a consolidar a sua identidade, buscando um nível cada vez maior de independência. Quando nos tornamos adultos, esta independência (que começou a ser desenvolvida desde a infância) está completa (ou deveria estar). Ocorre que esta relação de dependência que acontece durante toda infância e adolescência (em maior ou menor grau) não se restringe apenas a aspectos práticos e materiais, mas é também emocional. Resquícios desta dependência emocional podem perdurar ao longo de toda a vida e, assim, o adulto, que já possui condições de amarrar o próprio cadarço e sustentar a casa, pode ter dificuldades para “rejeitar” um conselho da mãe quanto à maneira como deve educar os filhos ou acerca de qualquer outra coisa. Os pais, por sua vez, que se acostumaram a ter o filho dependente de seus cuidados e conselhos, podem ter certa dificuldade para se adaptar a esta nova etapa da vida do filho que, agora adulto e formando uma nova família, precisa ser, ele mesmo, o responsável pelas decisões tomadas em seu lar.
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A partir disto surgem as interferências e os conflitos entre sogros e genros/noras. As interferências, salvo raras exceções, têm uma origem dupla: um pai (ou mãe) que ainda não consegue ver seu filho como alguém independente; um filho que está tendo dificuldade para romper os laços de dependência com os pais. Os conflitos, por sua vez, em geral se estabelecem porque duas coisas ocorrem: um dos cônjuges está tendo dificuldades para limitar a interferência dos pais, e o outro está tendo dificuldades para tratar esta questão com amor e sabedoria.
Duas sábias orientações bíblicas
Deixar de seguir uma orientação dos pais, dizer um “não”, etc., não é sinal de falta de respeito ou ingratidão, mas exprime o caráter de um homem ou mulher que se sente seguro e preparado para tomar as próprias decisões. 30 Alvorada
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A Bíblia nos deixa duas sábias orientações a respeito do relacionamento com os pais. Uma é que devemos honrar pai e mãe, e a outra é que, ao nos casarmos, devemos deixar pai e mãe. Mas seriam estas orientações antagônicas? Certamente, não! Honrar está relacionado a tratar com carinho, respeito e cuidado. Honrar é tratar com dignidade. Por sua vez, “deixar” refere-se a abandonar a relação de dependência; é ser responsável pela própria vida; é tornar-se capaz de formar, junto com o cônjuge, uma nova família e, ao lado dele (e só dele), tomar todas as decisões pertinentes a ela. Isto não quer dizer que os conselhos dos pais não podem ou não devem ser bem vindos. Os mais velhos possuem uma sabedoria conferida pela experiência que merece ser considerada, e muito. Porém, a palavra final dentro de uma casa deve ser definida em acordo entre marido e mulher, e jamais por terceiros. Até mesmo quando uma orientação de fora vai ser acatada, ela deve ser acatada por decisão do casal. Deixar de seguir uma orientação dos pais, dizer um “não”, etc., não é sinal de falta de respeito ou ingratidão, mas exprime o caráter de um homem ou mulher que se sente seguro e preparado para tomar as próprias decisões. Mas como podemos honrar os pais? Podemos demonstrar nosso apreço, dedicação e amor sendo cuidadosos, ligando sempre para saber como estão, reservando sempre que possível um tempo para passarmos juntos, incluindo-os na vida dos netos; enfim, agindo com amor e respeito por eles.
Colocando limites
O que fazer quando os sogros insistem em interferir na vida e decisões do casal, com críticas, palpites insistentes ou outras condutas? E, pior ainda, o que fazer quando o cônjuge parece não conseguir tomar as próprias decisões sem o direcionamento dos pais? • Aja com calma, compreensão e amor. Lembre-se de que o marido/esposa, por longos anos, viveu uma relação mais estreita de dependência com os pais e, muitas vezes, pode ser difícil e confuso estabelecer um novo tipo de relação onde ainda existe respeito e amor, mas com independência. • Jamais fale da família do outro em tom áspero de crítica ou desrespeito. Lembre-se: aqueles são os pais e irmãos dele. Ele os ama, possui um forte vínculo e ouvir palavras duras e desrespeitosas sobre eles pode machucar seu cônjuge ou até mesmo provocar ira nele. • Converse com seu marido/esposa e explique o quanto está sendo difícil lidar com interferências. Fale sobre a importância de ambos (você e ele (a)) administrarem a vida da família. Você pode recorrer aos conselhos bíblicos que aqui já foram citados e deixar claro que é orientação de Deus que o casal “resolva” a própria vida. • Aceite de bom grado conselhos e ajuda dos sogros que são bons para vocês. Valorize seus sogros. Trate seus sogros com amor e delicadeza, exatamente como gosta que seus pais sejam tratados. Não se esqueça que, por mais falhos que eles possam te parecer, foram eles os responsáveis pelo cuidado, formação e educação de seu cônjuge. • Quando for necessário colocar algum limite, dizer “não”, deixe que seu cônjuge, o (a) filho (a), fale com eles. Será muito mais confortável e menos conflituoso para seus sogros ouvirem um “não” do filho (a). Há situações em que os conflitos acontecem com a sua família. Nestas situações, é você quem deve impor os limites. Preserve seu cônjuge. Não o (a) coloque em conflitos desnecessários com
seus pais. Resolva você os problemas que porventura aconteçam com sua família.
Os filhos e os avós
A família de origem de ambos os pais são bastante importantes e enriquecem muito os relacionamentos dos filhos. Por este motivo os pais devem sempre procurar fomentar o bom relacionamento dos filhos com os avós, tios, etc. Jamais devemos criticar os pais, irmãos ou demais familiares do cônjuge (ou mesmo os nossos) na presença dos filhos. É bom que as crianças aprendam desde cedo a amar e respeitar os avós e tios, tanto do pai quanto da mãe. A criança em formação tem dificuldade para estabelecer uma relação próxima de afeto com uma pessoa criticada sempre pelos pais. Se um dos avós ou tios tem alguma conduta inadequada na frente da criança, isso pode ser pontuado para ela (até para que ela não copie a conduta: “Realmente, seu avô está bebendo bastante, e isto não é legal”), mas limite-se a dizer que o comportamento não é apropriado e jamais desmoralize a pessoa. Lembre-se: quando honramos pais e sogros, tratando-os com amor e cuidado, estamos não apenas obedecendo a Deus, mas também, e principalmente, ensinando de maneira prática e efetiva nossos filhos a nos tratarem com honra e respeito. Os sogros, cunhados e demais familiares são presentes de Deus em nossa vida. Eles podem em muito contribuir com a vida do casal e netos com sua experiência e amor. Algumas vezes, limites precisam ser estabelecidos para que conflitos maiores não surjam, mas a relação de amor e respeito deve perdurar mesmo diante destas dificuldades. Honrar os pais é um mandamento bíblico. Deixá-los para formar uma família também. Com paciência e sabedoria, podemos construir uma vida a dois feliz e saudável, sem deixar de observar estas duas exortações importantes. (Retirado do Curso para Casais ministrado pela autora, juntamente com seu marido, Rev. Giancarlo Brojato.)
A Wívian L. C. Brojato, membro da 1ª IPI de Cruzeiro, SP, é psicóloga clínica
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VIDA CONJUGAL
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Somos mais do que homens! Somos maridos! REV. ALEX SANDRO DOS SANTOS
Hoje quero falar especificamente com os homens. Homens e mulheres são diferentes. Precisamos ter consciência de que, política e socialmente, as mulheres alcançaram direitos iguais aos homens, mas, cientificamente, somos diferentes. Isso não podemos negar! Podemos encontrar um caso ou outro em que as semelhanças sejam perceptíveis, mas, mesmo assim, não somos idênticos. Em alguns aspectos, esta diferença conduziu a mulher à valorização dos relacionamentos. Seu cérebro desenvolveu a percepção de valorização dos filhos, cuidado com o marido e proteção dos relacionamentos. Sendo assim, a manifestação de atos e declarações de amor, a dedicação de um tempo maior de qualidade e a facilidade em compartilhar sentimentos são muito maiores nelas. No Brasil, as índias viviam e vivem desta forma. Enquanto os homens vão à caça, elas permanecem na tribo cuidando dos filhos, conversando com as amigas e aguardando ansiosamente o retorno dos maridos, pois temem por sua segurança. São anos de evolução. As consequências? Poucos homens falam "tão bem"
quanto uma mulher, têm tanta desenvoltura no cuidado dos filhos e pouquíssimos se preocupam tanto com a esposa. (Pensamos: "Ela está bem. Se alguma coisa ruim tivesse acontecido, alguém já teria ligado!") Pelo menos para mim, as diferenças são nítidas. Portanto, mesmo com todas as diferenças, precisamos nos educar para melhorar o relacionamento. Justiça seja feita! As mulheres, na maioria dos casos, se doam muito mais ao casamento e à família. Nós valorizamos a competência, a eficiência, o poder e a realização. Nosso cérebro está programado para caçar. Acordamos focados. Queremos ir à caça o mais rápido possível para retornarmos para casa com a sensação de dever cumprido. Quanto menos conversa, mais eficiência. (Pensamos: "Como caçar ou pescar com alguém falando o tempo todo. Desse jeito, vai espantá-los!") Quando estamos em casa, nosso amor é geralmente manifestado no cuidado com o bem estar físico. Queremos estar certos de que nossa família vai dormir segura. Portanto, confirmamos se as portas estão trancadas, as janelas fechadas, se está vazando gás e se tem algum carro suspeito em
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Raphael fotografia
frente de casa. Quando o homem dormia em cavernas, ele ficava próximo da entrada para proteger fisicamente sua família. Homens acordam e levantam rapidamente se ouvem um balde caindo na lavanderia, mas, se o filho recém-nascido chorar à noite inteira, ele continua dormindo. Contudo, os tempos mudaram. Hoje, poucos de nós vivemos da caça e raramente nosso trabalho é perigoso (o perigo que corremos é a violência humana e o trânsito) e, sendo assim, gastamos pouco de nossa energia. Retornamos para casa esgotados emocionalmente e com dores nas costas por causa da posição em que ficamos o dia todo. O meio profissional exige que falemos: precisamos vender, dar feedback em reunião, apresentar relatório oral, ser receptivo com o cliente e muito mais. Em outras palavras, precisamos falar demais para nosso gosto e, quando chegamos em casa... Adivinha! Isso mesmo. Queremos ficar quietos! Precisamos nos adaptar. Se que-
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remos edificar uma família sólida, precisamos começar pelo relacionamento conjugal. Precisamos dar um basta aos divórcios no meio cristão. Muitos homens, por não caçar mais animais, querem dar vazão à sua adrenalina caçando outras mulheres e, assim, arrebentam o casamento. Em outros casos, por falarem mais do que gostariam, economizam palavras no relacionamento em que deveria haver mais intimidade e cumplicidade. Quando nós agimos, mesmo com boas intenções, de forma errada, provocamos uma série de reações negativas em nossa companheira. E sabemos que a recíproca é verdadeira. Sabemos que, no relacionamento, não deveria haver ações de vingança, mas, infelizmente, elas existem. Essas ações podem ser sutis, em alguns casos, e descaradas, em outras. Essas reações prejudicam o diálogo, a vida sexual, a educação dos filhos, a administração financeira e outras áreas. Quando nos esforçamos para fazer a
nossa parte e fazemos o melhor, todos saem ganhando. Lembre-se sempre de Gênesis 1.27: "Assim Deus criou os seres humanos; ele os criou parecidos com Deus. Ele os criou homem e mulher". As mulheres são diferentes. Portanto, quando você voltar para casa hoje, dê um abraço bem forte nela, faça um elogio, fale por alguns minutos olhando nos olhos dela e eduque seus ouvidos para ouvi-la. Por mais difícil que pareça, acredite, você consegue! Creio que posso usar o versículo de Filipenses 4.13 nesse momento: "Tudo podemos naquele que nos fortalece". Por mais que nossa natureza nos impulsione a agir da mesma forma todos os dias, podemos ser melhores e disciplinarmos nosso comportamento. Deus, por meio de sua graça, pode nos tornar maridos melhores. O Rev. Alex, pastor da 1ª. IPI de Machado, MG, é o secretário nacional da Família da IPIB. É casado e pai de dois filhos.
Quando nós agimos, mesmo que com boas intenções, de forma errada provocamos uma série de reações negativas em nossa companheira. E sabemos que a recíproca é verdadeira. A Revista da Família
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POESIA
O Brasil que eu quero MARIA EMILIA CONCEIÇÃO
O Brasil que eu quero Deve ser bem verdadeiro, Onde o amor seja a máxima E Deus seja o primeiro. O Brasil que eu quero Deve ser bem brasileiro; Que sua riqueza seja nossa E não vá para o estrangeiro. Que o Brasil seja a Pátria Onde todos sejam irmãos; Se uns puderem mais, Ofereçam ao outro a mão. Que nesse Brasil que sonho Todos possam entender Que o amor e o respeito É nosso mais caro dever. E que nosso direito seja Nascer, viver e morrer, Amando nosso Brasil E que ele seja sempre De todos a mãe gentil! A Maria Emilia é contadora de histórias, professora, poetisa, membro da 2ª IPI de Anápolis, GO
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POLÊMICA
Copa para
quem?
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Se forem contabilizados os recursos investidos para a construção de equipamentos para a Copa e para as Olimpíadas, o país poderia diminuir o déficit habitacional, ampliar o acesso aos serviços urbanos básicos, promover melhorias socioambientais, programas de trabalho e renda, investir na saúde pública e na educação.
MARCOS STEFANO
“Dilma, finge que eu sou a Copa do Mundo e investe em mim! Assinado: Educação.” A imagem de um servidor público carregando um cartaz em que pedia mais investimentos no ensino durante um protesto correu o mundo e se tornou símbolo da polêmica que vem incendiando o Brasil. Desde o mês de junho do ano passado, quando as manifestações que levaram milhões às ruas deixaram de ser apenas reivindicações contra o aumento de alguns centavos no transporte público para se tornarem o clamor por mudanças profundas e justiça social, uma questão passou a mobilizar a opinião pública: para quem está sendo feita a Copa de 2014? De um lado, os governos falam em legado e investimentos que beneficiam a todos. Por sua vez, os críticos argumentam que a nação não precisa do evento esportivo e o que o dinheiro usado para construir estádios seria melhor empregado se gasto com educação e saúde. Quem está com a razão? A pergunta se torna ainda mais pertinente quando entram em campo para discussão alguns números. Segundo dados divulgados no Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União (CGU), a maior parte dos investimentos públicos federais para o evento, um total de 9,1 bilhões de reais, deixarão um legado que não será bem para todos os brasileiros. Trata-se de verba aplicada nas arenas, no entorno delas e em segurança, estrutura de telecomunicações e turismo especificamente para atender o evento. Somente nos estádios foram investidos 7,5 bi-
lhões de reais. Enquanto isso, menos da metade de todo o gasto, 8,8 bilhões, vão para obras de mobilidade urbana, aeroportos e portos. Por conta disso, alguns comitês de movimentos populares já compraram a briga e bradam que não vai ter Copa no Brasil. “Se forem contabilizados os recursos investidos para a construção de equipamentos para a Copa e para as Olimpíadas, o país poderia diminuir o déficit habitacional, ampliar o acesso aos serviços urbanos básicos, promover melhorias socioambientais, programas de trabalho e renda, investir na saúde pública e na educação. Além disso, poderia construir uma política esportiva que promovesse o esporte amador e também o de alto rendimento, e não beneficiar quem faz do esporte fonte de acumulação de poder e de riquezas”, diz em nota oficial a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, num coro que vem provocando eco na sociedade e dando recado a supostos desmandos da FIFA e de suas empresas parceiras, acusadas de amealhar lucros históricos e abusivos na Copa da África, em 2010. Uma das pessoas que compartilham esse ponto de vista é o Rev. Edson Alcantara, pastor da IPI de Vila Nova Votorantim, em Sorocaba, SP, presidente da Associação Bethel: “Duas das minhas paixões profissionais são o esporte e a educação. Defendo mais investimentos no esporte, mas aquele massificado, que todos tenham a oportunidade de praticar e melhorar sua qualidade de vida. A grande maioria dos brasileiros não poderá nem chegar perto dessas arenas que tanto dinheiro consumiram", critica ele. Alcantara também é diretor da Escola Estadual de Ensino Fundamental Integral Professor José Roque Almeida Rosa, uma das 133 escolas que experi-
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mentam uma realidade bem diferente das outras 6 mil da rede de ensino público do estado. A proposta é que, até 2030, São Paulo tenha um dos dez melhores programas de ensino do mundo e, para tanto, escolas como a dele foram escolhidas para um projeto piloto de excelência, que valorize o ensino integral e invista significativamente em estrutura física, humana e pedagógica. “Todas as salas aula dispõem de lousas digitais. Temos laboratórios de ciências, salas de informática com equipamentos de última geração e lecionamos com tablets para todos os alunos. Gostaria que essa pudesse ser a realidade das outras escolas também. Com os valores investidos em estádios para a Copa e para as Olimpíadas poderíamos melhorar muito a qualidade da educação oferecida a nossos jovens”, completa ele.
Furacão de desenvolvimento
Apesar de considerar le-
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gítimos muitos dos protestos contra a Copa e se dizer disposto a ouvir as críticas daqueles que são contra o evento, o ministro dos Esportes Aldo Rebelo considera, sim, que ser a sede do campeonato pode ser uma grande bênção para o Brasil. “No dia 13 de julho, quando o apito final soar no Maracanã, não sei se seremos os campeões dentro de campo, mas teremos resultados extraordinários em favor do povo brasileiro para comemorar. Não é à toa que esse é o evento esportivo mais disputado e acompanhado do planeta, pois traz consigo um furacão de desenvolvimento e aumenta toda a moral, mostrando que temos condição de fazer algo grandioso e marcante”, defende. Rebelo também escala os números para defender seu lado. Segundo ele, o último balanço de investimentos públicos e privados já totaliza 25,6 bilhões de reais. “As consultorias Ernst&Young e Fundação Getúlio Vargas
O professor Éber com a aluna Isabel Machado
“Não vai ter Copa”
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Revs. Edson e Heitor na sede de Bethel
Entre 2010 e 2014, serão movimentados 142,39 bilhões de reais adicionais
calculam que, entre 2010 e 2014, serão movimentados 142,39 bilhões de reais adicionais na economia nacional. Deverão ser gerados 3,6 milhões de empregos e a arrecadação de impostos atingirá 11 bilhões. A população poderá auferir renda adicional de 63,48 bilhões apenas nesse quadriênio. Até 2019, os investimentos vão agregar 183,2 bilhões ao PIB”, aponta. Ainda assim, o ministro garante que a Copa e a Olimpíada não têm a mesma prioridade para o Governo que a saúde e a educação: “Concordo que precisamos aumentar os investimentos nessas áreas. Mas não será a Copa que vai tirar recursos delas. Os 4 bilhões de reais do BNDES não foram dados aos estádios, mas emprestados. Para serem devolvidos com juros. E, desde que o Brasil ganhou o direito de sediar a Copa, em 2007, os investimentos da União em educação quase triplicaram e os destinados à saúde quase dobraram. A educação recebeu 311,6 bilhões e a saúde, 447 bilhões”. O Marcos é jornalista, mora em São Paulo, SP
Mesmo com os protestos, que entraram dentro dos estádios durante a Copa das Confederações, a maioria dos brasileiros continua apoiando a realização do campeonato da FIFA. De acordo com pesquisa do Datafolha, dois terços da população são favoráveis ao evento e a expectativa do governo é de que suba para 80%. Tudo isso só mostra a paixão do povo pela bola. Mesmo com tal apoio, a desconfiança que tomou conta da sociedade nos últimos tempos deve ser louvada. “Toda essa discussão mostra o amadurecimento do povo, uma nova e bem-vinda postura crítica. Já não se vê mais a Copa como uma dádiva”, analisa a professora Roseli Fischmann, docente da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Ela avalia que eventos como a Copa do Mundo de Futebol não fazem parte dos direitos de cidadania, mas é algo que precisaria ser pensando antes, quando o Brasil foi atrás do evento. “Não se trata somente de entretenimento, mas eu não investiria nisso. Mas não é algo que nos impeça de pensarmos em gastar mais com educação. Enquanto a Copa é algo pontual, a educação precisa ser pensada a longo prazo”. Nesse sentido, a mesma atenção que o ensino superior vem recebendo deve ser dada à educação básica. Ideias e novos projetos precisam ser pensados. Um dos mais polêmicos é o do senador A Revista da Família
Cristovam Buarque (PDT/DF), pois federaliza a educação básica. “Penso que existe um grande equívoco nessa proposta, pois a municipalização do ensino básico é muito recente e precisa ser aperfeiçoada. Somente com devido acompanhamento e necessários investimentos, teremos escolas públicas de qualidade para todos. Mas precisamos travar esse debate na sociedade, com ou sem megaeventos esportivos, e caminhamos nessa direção”, acredita a professora Fischmann. Mesmo achando que o Brasil não deveria abrigar eventos esportivos tão dispendiosos, o novo ceticismo do brasileiro também é elogiado pelo historiador e cientista social Eber Ferreira Silveira Lima, pastor jubilado da IPIB e professor da Universidade Nove de Julho (Uninove): “Diferente dos Estados Unidos, França e Inglaterra, países que recentemente abrigaram esses jogos, somos uma nação em construção e que luta para mudar uma cultura de corrupção. Sou apaixonado pelo esporte, mas como tantos aprendi a ser desconfiado. A crise econômica de 2008 também mudou muito as perspectivas de investimentos. Só não vou na onda de dizer que ‘não vai ter Copa’. Não é por aí. Temos que exigir mais atenção à saúde, à educação, aos transportes, à segurança e às condições de vida nas periferias das grandes cidades. Podemos ter a Copa, mas o maior legado – e resultado extracampo – será a maturidade da sociedade brasileira”. nº 77 abril/maio/junho, 2014
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VOZ DO CORAÇÃO
Tráfico humano: um desafio para toda a sociedade, igrejas e religiões CLAUDETE BEISE ULRICH, DORIS KIESLICH CAVALCANTE, SILVIA CUNTO BARBOSA
Há poucos dias, a Adidas retirou do mercado camisetas da Copa com forte apelo sexual. Uma camiseta de cor verde mostrava a frase “Eu amo o Brasil”, cujo coração tinha o formato de um bumbum de biquíni. A outra camiseta, amarela, trazia o slogan: “lookin’ to score”, que pode ser traduzido como “buscando gols”, mas que também pode fazer uma alusão a “pegar garotas”. A retirada das camisetas do mercado só foi possível porque um grande grupo de pessoas se manifestou publicamente via diferentes meios da mídia contra a venda das camisetas. Além disso, a ação imediata da presidente da República, Dilma Rousseff, que usou a sua conta no Twitter para expressar o seu descontentamento com a mensagem de cunho sexual feita pela Adidas, foi de fundamental importância. Também a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência publicou nota de repúdio à “confecção de camisetas com ilustrações de cunho sexual associado às cores e aos símbolos do Brasil, deixando claro que qualquer estímulo nesse sentido significa associar-se à criminosa prática do turismo sexual, que se constitui em uma grave violação de Direitos Humanos combatida permanentemente pelo país” (Veja: Do UOL, em São Paulo, 25/2/2014).
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Somente ações conjuntas, como o exemplo citado, podem combater de forma definitiva o turismo sexual e o tráfico humano, que inclui mulheres, crianças, jovens, trabalhadores no Brasil e no mundo todo. As maiores vítimas do tráfico humano são as pessoas pobres. É muito triste constatar que o tráfico humano, atualmente, é uma atividade ilegal muito rentável em nosso mundo, perdendo somente para o tráfico de drogas. Uma notícia, por exemplo, relatada na Deutsche Welle em 2013 por Mariana Santos relata que cresceu o número vítimas de tráfico humano na União Europeia. Quem são as vítimas do tráfico? São as pessoas submetidas à prostituição, trabalho forçado, mendicância, retirada de órgãos, adoção ilegal. É um crime muito bem organizado que lucra muito dinheiro. “É difícil imaginar que, em nossos livres e democráticos países da União Europeia, dezenas de milhares de pessoas tenham sua liberdade roubada, que sejam negociadas como mercadorias”, criticou a comissária para Assuntos Internos na Comissão Europa, Cecilia Malmström, ao jornal alemão. “Mas essa é a triste verdade: o tráfico humano está por toda parte, à nossa volta, e mais perto do que pensamos”. Neste ano, a Campanha da Fraternidade da Igreja Católica Romana tem como tema “Fraternidade e Tráfico Humano”, com o lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou.”
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lucidwaters
xão Para continuar a refle uma poesia escrita pela Silvia e Doris de Fortaleza:
idade
n Clamor por dig ência é essa,
Que viol gnidade, Que rouba di icam pessoas, Quando se traf olentadas? E mulheres vi o, arcas no corp São tantas m a da alma, Mas a pior é cidadania Subtraindo a agilizadas. De pessoas fr , resse implícito Há muito inte , os opressores Rentável para dade, Muita desigual
Que este chamado ético profético seja um desafio para toda a sociedade, igrejas e religiões. A vida de qualquer ser humano é sagrada. Ela não é mercadoria. Não pode ser vendida e nem comprada. O nosso corpo é templo e morada do Espírito Santo (1Co 6.19). Portanto, qualquer ato contra a vida humana deve ser denunciado. A verdadeira liberdade necessita ser vivida com responsabilidade e com respeito à vida. A vivência da liberdade com responsabilidade nos torna pessoas livres, sensíveis e felizes. Com a realização da Copa do Mundo no Brasil, necessitamos refletir sobre esta triste realidade do tráfico humano em nosso país. Precisamos vencer o medo e denunciar práticas que desrespeitam e maltratam a vida. Anunciar a sacralidade da vida é uma tarefa teológica, pois a vida é presente, é graça de Deus. Ela é também tarefa pedagógica. Precisamos dialogar em nossas escolas e centros de formação sobre as formas de tráfico humano em nosso contexto local, mas também de alcance global. Sem dúvida, é um tema complexo, e muitas vezes invisibilizado, que necessita ser trazido para a discussão nos diferentes processos educativos. Nós cremos no Deus da vida, que não compactua com a escravidão, com o tráfico, assim como nos conta o livro do Êxodo, especialmente os primeiros capítulos. As parteiras foram fieis e defenderam a vida de meninos. Deus viu, es-
erabilidade. pobreza e vuln s ns e mulhere Crianças, jove . es organizaçõ São vítimas de do as portas, Vão-se fechan escuridão. Na mais pura alidade, Há muita brut xual, Exploração se órgãos, Há remoção de l. ia internaciona Por uma máf de! r vida e liberda Clamamos po
cutou o clamor, desceu e se colocou a caminho com o seu povo, afirmando que não queria o seu povo escravo. Os profetas também são bem claros. Deus ama a justiça, não compactua com a corrupção, nem com a venda dos pobres por um par de sandálias, conforme o profeta Amós. A pergunta ética sobre o que significa liberdade é tarefa constante de todas as pessoas cristãs, que estão em busca de um mundo com paz e justiça. A vivência da liberdade liberta e não escraviza. O apóstolo Paulo deixa isto bem claro na Carta aos Gálatas. Nosso compromisso é viver com responsabilidade a liberdade, denunciando todo tipo de escravidão. Jesus afirma: “Eu vim para que todas as pessoas tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10). Nós cremos que outro mundo é possível. Sejamos profetas éticos, denunciando o pecado do tráfico humano em todas as suas formas, vivendo e anunciando a liberdade com responsabilidade e compromisso com a vida de todos os seres humanos. A Claudete, coordenadora de estudos da Academia de Missão junto à Universidade de Hamburgo, é teóloga e pedagoga. A Doris, professora catequista voluntária na Ceclfor (Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Fortaleza), é socióloga. A Silvia, professora licenciada em língua portuguesa, é aposentada e mora Fortaleza, CE (Texto publicado originalmente em www.conic.org.br)
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PSICOLOGIA
Ressentimento
KLEBER E. B. DIAS
O ser humano, em sua racionalidade, falha em cobrir as profundezas e os poderes de suas emoções. Cada um possui reações emotivas, motivações e incontáveis tipos de sentimentos. De fato, nas profundezas de nossa alma, possuímos segredos, particularidades e reflexões que são desconhecidos dos outros. Porém, em meio a isto é que surge a possibilidade que o ressentimento crie suas raízes e atue em toda estrutura do nosso ser, filtrando a compreensão da nossa própria realidade. O ser humano em sua essência é um ser para o amor, pois persegue o bem em tudo o que se propõe a fazer. Conhecer essa essência é reconhecer que se participa da ordem do Ser, sendo nossa alma um reflexo dessa ordem. Quando o ressentimento se instala, ele gera desordem, nutrindo e canalizando o rancor para sentimentos que eventualmente virão à superfície da consciência, tomando várias formas de sentimentos que serão dirigidos contra si mesmo, pessoas, condições sociais, classes, raças, religiões, instituições e até mesmo contra Deus. O ressentimento pode se tornar um sentimento incurável e persistente de ódio e desprezo, que pode ocorrer desde
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em certos indivíduos e grupos até em toda uma cultura e sistema moral de valores que permeia a sociedade. Ele se enraíza nos sujeitos que constantemente sofrem de sentimentos de impotência, frustração ou fraqueza. Estas impotências podem ser psíquicas, mentais, sociais, físicas, desvantagens ou deficiências das mais diversas, que se manifestam sempre como atitudes emocionais negativas. Frequentemente, o ressentimento guia a falsos julgamentos da realidade que são acompanhados por palavras ásperas e violentas de fanatismo por uma opinião (doxa) que à primeira mão parece uma verdade. O ressentido não vivencia a verdade, como um meio de transformar a si mesmo, mas usa das suas opiniões como se fossem verdades como um fino véu para cobrir suas fraquezas e impotências afetivas, o que lhe proporciona, superficialmente, segurança psíquica e alívio de sua miséria. O ressentido não intelige que aquele que encontra uma verdade não está na posse dela, mas é possuído por ela. Aquele que encontrou uma verdade não consegue mais viver fora dela. Não porque ela o oprime, mas porque ele percebe que a verdade o ilumina e o constrange a uma atitude de sinceridade para consigo. Pois fugir dela seria fazer um pacto com a loucura, vendendo a um preço ínfimo os tesouros
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Cuidado para que este sentimento não crie raízes e atue em toda a nossa estrutura
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É muito melhor reconhecer inteiramente os próprios sentimentos – por mais deploráveis que sejam – do que colocálos de lado, rejeitá-los, ignorá-los.
que sustentam a ordem do coração. O ressentido, por outro lado, não tem consciência de tais tesouros. Ele, por temer que sua fraqueza e impotência não sejam suficientes frente à realidade da vida, deixa o ressentimento criar suas raízes e nutrir-se de força. Indivíduos ou grupos ressentidos criam inúmeras justificativas e acusações com a finalidade de esconder a maldição que vagarosamente se instalou nas profundezas de sua interioridade. Portanto, é muito melhor reconhecer inteiramente os próprios sentimentos – por mais deploráveis que sejam – do que colocá-los de lado, rejeitá-los, ignorá-los. Reconhecê-los, diz Bernard Lonergan1, possibilita que o indivíduo conheça a si mesmo e que sejam reveladas a desatenção, as fugas de compreensão, a estupidez e a irresponsabilidade que fizeram nascer o ressentimento. Não reconhecer tais sentimentos é aceitar um conflito inevitável que surgirá entre o ressentido e o outro que se tornou um objeto a ser combatido ou até destruído, se necessário. Essa alienação de si mesmo conduz a soluções equivocadas, que farão surgir novos erros até que, desesperado, o indivíduo recorra ao analista. O Kleber, advogado, professor universitário na UNIFIL (Centro Universitário Filadélfia da cidade de Londrina), é membro da 2ª IPI de Londrina, PR 1 LONERGAN, Bernard. Method in Theology. University of Toronto Press, 1971, p. 33.
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PSICANÁLISE E ESPERANÇA
Identificada como “demência precoce”, incoerência do pensamento, da afetividade e da ação, perda do sentido de realidade, com situações em que o indivíduo se torna ensimesmado ou praticante de uma atividade delirante. É um tipo de sofrimento psíquico grave.
Esquizofrenia por exemplo, ouvem vozes que lhe dão ordens, de forma imperativa, capazes de levá-los ao suicídio.
O que é
O termo esquizofrenia deriva de duas palavras gregas (schizein + phrenós) que, juntas, compostas, têm sido utilizadas com o significado de “cisão das funções mentais” (Bleuler, 1911). Também tem sido identificado como “demência precoce”, incoerência do pensamento, da afetividade e da ação, perda do sentido de realidade, com situações em que o indivíduo se torna ensimesmado ou praticante de uma atividade delirante. É um tipo de sofrimento psíquico grave, caracterizado pela alteração no contato com a realidade (psicose). É um transtorno mental severo, que pode atingir pessoas de qualquer idade, gênero, classe social em qualquer contexto social. A esquizofrenia caracteriza-se por apresentar sintomas como alucinações visuais, sinestésicas (com cruzamento de sensações) ou auditivas, delírios, fala desorganizada (de difícil compreensão), catatonia e/ou sintomas depressivos. Em seus delírios e alucinações, o esquizofrênico tem uma visão distorcida da realidade. Há os que têm a sensação de que estão diante de algum tipo de perseguição (delírio persecutório), sendo observado por pessoas que tramam alguma coisa contra si. Essas alucinações independem de um estímulo externo. Há os que, ao se sentirem perseguidos,
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Sintomas
Especialistas afirmam que existem dois tipos de sintomas: os produtivos (delírios e alucinações), como vimos acima, e os negativos. Os sintomas produtivos estão mais presentes com maior visibilidade na fase mais aguda do transtorno, com perturbações mentais consideradas “muito fora” do normal, tidas como se fossem “acrescentadas” às funções psico-orgânicas do indivíduo. Entre as perturbações estão delírios, percepções irreais de audição, visão, paladar, olfato ou tato, pensamento e discurso desorganizado com elaboração de frases sem sentido, invenção de palavras, ansiedade excessiva, alterações visíveis do comportamento, agressividade. Quanto aos sintomas negativos, são considerados como mais resistentes ao tratamento e são reconhecidos pela diminuição dos impulsos e da vontade e por achatamento afetivo. Geralmente a pessoa assim afetada perde a capacidade de entrar em ressonância com o ambiente e de sentir alegria ou tristeza condizentes com a realidade ao seu redor. Esquizofrênicos nessa situação tornam-se apáticos, sem iniciativa, totalmente indiferentes do ponto de vista emocional, com pobreza do pensamento.
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LEONTINO FARIAS DOS SANTOS
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A pessoa afetada pela esquizofrenia perde a capacidade de entrar em ressonância com o ambiente e de sentir alegria ou tristeza A Revista da FamĂlia
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Origens e causas da esquizofrenia
A esquizofrenia geralmente tem início durante a adolescência ou na vida adulta, podendo mesmo ter início em idade mais avançada. No começo, de acordo com a situação de cada indivíduo, é possível que ele tenha a sensação de que algo diferente está acontecendo em sua vida, sem, contudo, saber o que é, sob tensão e ansiedade. Pode ser que comece com a sensação de que está sendo perseguido, expressando essa situação de maneira delirante. Várias teorias foram desenvolvidas para explicar as causas da esquizofrenia. A teoria genética parte do princípio de que genes podem estar envolvidos, levando em consideração a possibilidade de que fatores ambientais possam desencadear o transtorno. Significa que, havendo um caso de existência de um esquizofrênico na família, a probabilidade de que alguém venha a sofrer desse transtorno é maior. As estatísticas, contudo, não confirmam tal afirmação. 81% dos afetados por esse transtorno não têm qualquer ligação com algum familiar em primeiro grau; e 91% não têm qualquer familiar, de qualquer grau, atingido, afirma Gottesman (1991).
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A teoria neurobiológica afirma que a esquizofrenia é causada por alterações bioquímicas e estruturais do cérebro, razão pela qual a maioria dos neurolépticos (antipsicóticos), isto é, substâncias utilizadas para combater as manifestações comportamentais que incluem transtornos mentais, atua precisamente nos receptores da dopamina no cérebro, reduzindo a produção endógena deste neurotransmissor. Os que defendem essa teoria afirmam que é por isso que alguns sintomas desse transtorno podem ser desencadeados por fármacos que aumentam a atividade dopaminérgica. Uma teoria que a princípio pareceu bastante plausível é a que se refere ao comportamento familiar em relação ao indivíduo. Dependendo da maneira como os familiares se comunicam ou das condições de convivência e da estrutura de vida em família, poderia ocasionar o surgimento, por exemplo, da “mãe esquizofrenogênica” (possessiva, dominadora) como geradora de personalidades esquizofrênicas. Contudo, trata-se de uma teoria sem embasamento científico comprovado. Várias teorias na área da psicanálise apontam para a fase oral da criança em seu desenvolvimento emocional nº 77 abril/maio/junho, 2014
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A espiritualidade, mais do que uma expressão do fenômeno religioso, quando bem conduzida, pode contribuir positivamente para a superação de qualquer transtorno, uma vez que pode facilitar a ressignificação do indivíduo e, desta forma, despertar nele valores espirituais capazes de proporcionar um novo sentido para a vida
como causadora da esquizofrenia. Esta é uma fase na qual o indivíduo, quando não gratificado oralmente no período de sucção (amamentação) no contato com o seio materno, pode sofrer várias consequências em seu desenvolvimento, entre elas a possibilidade de um quadro de melancolia (psicose maníaco-depressiva). É preciso reconhecer, com humildade, que nenhuma dessas teorias tem atendido satisfatoriamente à questão da origem. Do ponto de vista científico, essas teorias têm sido vistas como hipóteses que precisam ser melhor analisadas e confirmadas.
Um exemplo clássico de tratamento de esquizofrênicos com terapia ocupacional
Na história da psiquiatria brasileira, existem alguns casos que se tornaram clássicos, tendo em vista a repercussão alcançada em relação aos métodos adotados no seu tratamento. Um deles é o de Fernando Diniz, um negro, baiano, que morava no Rio de Janeiro na época em que foi preso pela polícia, sob a acusação de falta de pudor, quando andava sem roupas em uma das praias da cidade. Depois de seis meses considerado um infra-
É fundamental que o tratamento comece tão rápido quanto possível, logo que os primeiros sintomas apareçam
tor da lei, foi encaminhado para um hospício, que o tratou com métodos tradicionais, violentos. Os métodos tradicionais incluíam tratamento com choque elétrico e medicamentos fortes para acalmar o paciente. Nise da Silveira (1905-1999), uma psiquiatra alagoana que morava no Rio de Janeiro, deu início, com esse e outros casos, a um tratamento não convencional, através do desenvolvimento da terapia ocupacional, apoiada nos conceitos teóricos da psicologia analítica de Carl Jung, revoltada com a violência dos métodos da época. Negou-se a utilizar o aparelho de produzir choques elétricos para “amansar” os pacientes, introduzido no Centro Psiquiátrico Nacional, recém-inaugurado, que trouxe uma prática considerada moderna, uma referência mundial, para tratamento de pacientes com transtornos mentais. Esse tratamento produzia o que se chamou de “eletroconvulsoterapia”, utilizado em um hospital de referência no Brasil. Os psiquiatras de sua época, porém, receberam os eletrochoques com muito entusiasmo, sem questionamentos! Nise da Silveira, indignada com as práticas tradicionais, preferiu
Possibilidades de superação
No passado, o tratamento da esquizofrenia era muito precário, com medicamentos que produziam fortes efeitos colaterais e através de eletrochoques. Historicamente, data de 1950 a introdução do primeiro medicamento antipsicótico que fez tanto sucesso que chegou a esvaziar hospitais, considerados asilos para doentes mentais. Constatou-se, contudo, que muitos pacientes (75%) que saíam do hospício geralmente retornavam porque os problemas mentais eram agravados. Vale ressaltar que, na atualidade, os medicamentos antipsicóticos evoluíram em termos de qualidade, reduzindo, inclusive, os efeitos colaterais, aumentando assim a aderência do paciente ao tratamento e sua continuidade, mesmo após o desaparecimento dos sintomas. Além do uso de medicamentos recomendados por psiquiatras, terapias alternativas ou paralelas têm sido recomendadas. Muitos médicos aconselham que o paciente procure também a ajuda de um psicólogo ou psicanalista, terapias ocupacionais (individual ou em grupos), a fim de que facilitem a reintegração social do indivíduo. É indispensável a intervenção familiar, e recomendável a arte-terapia, com a musicoterapia, por exemplo, e a psicopedagogia. É fundamental que o tratamento comece tão rápido quanto possível, logo que os primeiros sintomas apareçam. A falta de tratamento por longo tempo pode dificultar a superação do transtorno, agravando-o. Em “Psicoterapia individual na esquizofrenia”, o especialista em transtornos mentais W. L. Bruscato aponta alguns objetivos a serem atingidos no processo psicoterapêutico: interromper a perda da capacidade mental, mantendo o paciente em contato com a realidade; restaurar a capacidade de cuidar de si e de administrar sua vida, encorajando o máximo de autonomia para promover o melhor ajustamento pessoal, psicológico e social possível; diminuir o isolamento; reconhecer e reduzir a natureza ameaçadora dos eventos da vida para os quais existe uma sensibilidade particular; conscientizar o portador sobre a realidade de seus recursos e limitações, tanto ajudando a descobrir e realizar seu potencial, quanto ajudando na aceitação de suas limitações; aumentar suas defesas diante de situações estressantes, liberando recursos que, eventualmente, estejam obstruídos pela psicose e desenvolver fontes alternativas para a solução de seus problemas; recuperar e promover a autoestima, a autoimagem e autoconfiança, proporcionando contínuo progresso; estimular a independência, os cuidados consigo mesmo em questões de higiene e capacitar o paciente para as atividades da vida.
A história tem mostrado vários exemplos de superação
Alguns nomes podem ser lembrados: Emygio de Barros (18651986), que deixou um acervo de 3.000 obras de pintura, resultado de um processo de arte-terapia; de igual modo Carlos Pertus (19101977), que deixou um acervo de 21.500 obras; Adelina Gomes (19161984) e Fernando Diniz (1918-1999), cujas obras foram expostas no Brasil e no exterior, depois de um período de terapia ocupacional; o matemático norte-americano John Nash, que foi ganhador do Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1964, entre muitos outros.
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uma metodologia nova, diferenciada, que não ferisse a dignidade humana. Seu método, na prática, partia do princípio de que os internos em hospitais psiquiátricos expressavam suas emoções com atividades verbais e não verbais, e os sintomas encontravam oportunidades para se exteriorizarem no mundo, desde que em um ambiente digno, cordial, afetivo, centrado num monitor sensível. A pintura e a modelagem, então, destacam-se, na experiência de Nise da Silveira, dentre as ações desenvolvidas, através das quais se tornou possível o acesso ao mundo interno dos esquizofrênicos. Desta forma, as qualidades terapêuticas deram forma às emoções tumultuosas, vindo a despotencializar as figuras ameaçadoras presentes na mente dos pacientes, com o objetivo do movimento em direção à consciência, como verdadeiros instrumentos de encontro com a ordem interna do indivíduo. O trabalho de Nise da Silveira, por exemplo, fez de Fernando Diniz, um esquizofrênico, uma referência em termos de bons resultados. Silveira trabalhou com criatividade, ao considerar aspectos significativos na relação arte e vida, entendendo que o conceito de vida deve ser preservado no paciente esquizofrênico através da terapia ocupacional com o uso do barro, madeira, palha, tinta a óleo, variedade e simbolismo de cores e textura em tecidos, jogos, danças, em espaço diferenciado que modificava o caráter agressivo dos métodos conservadores. Com essa prática, outros pacientes desenvolviam a imaginação e a criatividade e conseguiam um sentimento de liberdade, capaz de proporcionar a alegria de viver, lançando fora a apatia, a agressividade e os desejos de morte. O sofrimento interior e a angústia que caracterizavam a vida de Fernando Diniz foram transferidos para obras de arte através da pintura e da escultura, levando-o a participar de exposições no Brasil e no exterior, com resultados jamais imaginados se continuasse sendo tratado com eletrochoques e medicamentos de fortes efeitos colaterais. 48 Alvorada
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É importante destacar que a esquizofrenia não é um transtorno mental de caráter espiritual; isto é, não é uma decorrência da presença de espíritos diabólicos na vida da pessoa. O cultivo da espiritualidade
Esse procedimento não dispensa ou invalida qualquer esforço terapêutico, seja com a indispensável participação do psiquiatra no tratamento ou de outras abordagens terapêuticas. É importante destacar que a esquizofrenia não é um transtorno mental de caráter espiritual; isto é, não é uma decorrência da presença de espíritos diabólicos na vida da pessoa. Também não resulta de comportamentos pecaminosos do indivíduo. Qualquer pessoa, independentemente de sua cultura, fé, religião, ideologia, classe social, gênero, está sujeita a um transtorno mental. É importante destacar no pensamento de Jung, contudo, seu reconhecimento sobre a importância do fenômeno religioso na vida da pessoa para a saúde mental. A espiritualidade, mais do que uma expressão
do fenômeno religioso, quando bem conduzida, pode contribuir positivamente para a superação de qualquer transtorno, uma vez que pode facilitar a ressignificação do indivíduo e, desta forma, despertar nele valores espirituais capazes de proporcionar um novo sentido para a vida. Entre esses valores, experiências afetivas e de respeito à dignidade são capazes de contribuir decisivamente para a recuperação do paciente. A carência desses valores pode embrutecer e tornar o paciente mais agressivo, ensimesmado e deprimido. Uma prática religiosa que enriqueça a espiritualidade, revestida de afeto, paciência, fé em Deus e esperança cristã, certamente atuará como fator decisivo para a reintegração do paciente com transtorno mental na vida social. O Rev. Leontino, casado, pai de 2 filhos, pastor da 1ª IPI de Mauá, SP, é psicanalista
Consultório: Rua Pitangueiras, 223 – Metrô Praça da Árvore, São Paulo - SP Contatos: (11) 9-9596-3275 ou (11) 9-7261-8158. E-mail leontinofarias@hotmal.com
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PENSAR E AGIR
E como caminha a igreja no Brasil?
MINDU ZINEK
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A relevância da igreja no mundo tem sido tema de debates e reflexões no Brasil, nos últimos 10 anos como nunca antes. Publicações de revistas como a IstoÉ, edição de agosto de 2010 que trouxe como tema a busca de uma Nova Reforma Protestante. Também, a revista Ultimato edição de agosto de 2012 vem com o título: “A Europa precisa de Jesus agora”. Além de livros, como o último lançamento do pastor e compositor Nelson Bomilcar sob o título: “Os Sem-Igreja”, autores, teólogos e sociólogos trazem à tona a temática e apresentam suas opiniões sobre o assunto. Na verdade, basta olhar para a realidade dos nossos dias que constataremos a seguinte conjuntura: as denominações que mais crescem são as neopentecostais, caracterizadas
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A expansão do neopentecostalismo, com o sensacionalismo do sobrenatural somado a mega-eventos, artistas e o showbusiness gospel, vem atraindo cada vez mais fiéis de igrejas históricas.
pela manifestação de cura e milagres, expandindo territorialmente suas igrejas, divulgando massivamente na mídia, arrebanhando cada vez mais fiéis. Geralmente são criticadas por lucrar com a manipulação da fé. Com o crescimento de adeptos do neopentecostalismo, há um grande comércio no mundo evangélico que vai desde a venda de suvenir sagrado à compra de emissoras de TV. O pastor Ricardo Bitun diz que, nesse sistema, o Deus adorado é o Deus Mercado, no qual a igreja se torna empresa e os fiéis tornam-se clientes. A expansão do neopentecostalismo, com o sensacionalismo do sobrenatural somado a mega-eventos, artistas e o showbusiness gospel, vem atraindo cada vez mais fiéis de igrejas históricas. Com a perda de fiéis, algumas igrejas históricas estão se utilizando das estratégias neopentecostais para atrair novos convertidos, e muitas vezes o fazem sob a pressão de serem taxadas como igrejas antiquadas ou retrógradas. Sobre isso, o pastor Ricardo Agreste diz que não se pode negociar o evangelho. O evangelho é imutável, mas o formato da igreja muitas vezes é obsoleto. Igrejas históricas não podem abrir mão de sua tradição, mas também não podem se perder no tradicionalismo, onde o formato se sobrepõe à essência. Segundo Nelson Bomilcar, no livro “Os Sem-Igreja”, muitas vezes nas igrejas históricas há um sentimento de “não pertencimento”, ou seja, alguns membros já não se sentem pertencentes ao sistema tradi-
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cionalista da igreja, mas também não concordam que a alternativa seja o neopentecostalismo. Esses então, por vezes, frequentam grupos que estão insatisfeitos com o atual modelo de igreja e se reúnem ou em casas, ou espaços neutros (praças, escolas), ou simplesmente não frequentam mais. Assistem cultos em casa pela internet. Para Carlos Queiroz, a igreja peregrina, a igreja da rua, das praças, dos pobres, tem uma pedagogia que poderia ser assimilada pelas igrejas estabilizadas. O compositor Roberto Diamanso concorda quando diz que a igreja das praças ou das ruas é mais democrática e inclusiva. Não há paredes que impeçam qualquer um de entrar, e há oportunidade de intervenção de todos que por ali passam. Uma alternativa de se viver igreja são as chamadas igrejas emergentes como Projeto 242, Capital Augusta (que se reúnem em bares), Glocal e tantas outras com o intuito de agregar as tribos urbanas como punks, góticos, artistas e outros grupos de pessoas que se sentem rejeitadas ou cansadas das igrejas convencionais. Preocupados com essa realidade, alguns pastores e líderes evangélicos vêm realizando encontros, palestras e seminários com temas: "Resgate de uma igreja bíblica"; "A ação das igrejas na cidade"; "Como ser uma igreja relevante", e outros tantos que não deveriam ser ensinados ou debatidos, mas vividos naturalmente por qualquer igreja. Porém, ao que tudo indica, de Atos pra cá, a igreja se perdeu totalmente. O pastor Ariovaldo Ramos diz que o modelo da igreja primitiva de Atos 2 não tem nada a
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ver com a igreja de hoje. A igreja no modelo de Atos não existe mais. Diante de todo esse explanado, o que resta são as indagações: Então a igreja perdeu seu propósito bíblico e se tornou uma instituição falida? Se sim, qual seria a alternativa? Se não, como então resgatar o conceito de igreja bíblica perdido? É possível viver igreja sem ser uma instituição religiosa? Não é um exercício simples responder a essas perguntas. Por isso ocorrem tantos encontros e debates, livros escritos, opiniões divergentes. Várias questões devem ser levadas em consideração. Primeiro que, quando se fala sobre igreja, pode-se falar da instituição religiosa (visão histórico-sociológica) ou das pessoas enquanto igreja (o templo somos nós). Igreja pode representar uma reunião para se resolver qualquer assunto (Grécia antiga), bem como a reunião de cristãos em qualquer lugar, espaço, com mais de uma pessoa (Novo Testamento). Pode, também, ser relacionada com o templo do Antigo Testamento, onde a adoração era especificamente localizada, com utensílios sagrados e pessoas ungidas. Ou etimologicamente na palavra Ekklesia (Chamados para fora), mas que, em algumas passagens bíblicas, dá a ideia de rebanho de ovelhas, limitando a comunhão (Koinonia) aos que estão e já são do rebanho. Rubem Alves, fazendo uma leitura sociológica baseado em Max Weber, defende que a missão da igreja protestante hoje é dar continuidade ao seu propósito inicial no século XVI, que foi fazer emergir o capitalis-
mo. Por isso, a igreja está tão vinculada ao mercado e sobrevive nele. Em uma visão teológica, Alberto Maggi, estudando o Evangelho de João, defende que Jesus sempre foi contra a instituição religiosa e defendia a informalidade de viver o evangelho. Por outro lado, os pastores Ed René Kivitz e Jeremias Pereira, mesmo identificando as fragilidades da igreja instituída, acreditam nela e defendem sua reforma a partir do encorajamento de seus membros. Assim como o pastor Nelson Bomilcar que diz que a igreja é como a família nuclear que, mesmo tendo problemas, não deve ser abandonada. Concluímos, portanto que, mesmo diante dessa realidade e de posições tão divergentes sobre o assunto, enquanto cristãos, cabe a nós confiar que a igreja não existe como um fim em si mesma, e nem as pessoas nascem para si mesmas. É Deus quem está no controle de todas as coisas. E com igreja ou sem igreja, Ele fará cumprir sua missão, que é, através do sacrifício de Jesus Cristo na cruz, redimir e reconciliar consigo mesmo todas as coisas que foram afetadas pelo pecado, manifestando, assim, seu Reino de amor, justiça e paz. O Mindu é um eterno descobridor da vida em Jesus de Nazaré Referencias bibliografias ALVES, Rubem. Religião e Repressão. São Paulo, Ed. Loyola, 2005. BOMILCAR, Nelson. Os Sem-Igreja: buscando caminhos de esperança na experiência comunitária. São Paulo, Ed. Mundo Cristão, 2012. MAGGI, Alberto. A loucura de Deus: o Cristo de João. São Paulo, Ed. Paulus, 2013. QUEIROZ, Carlos. Ser é o bastante: felicidade à luz do sermão do monte. São Paulo, Ed. Ultimato, 2006. RAMOS, Ariovaldo. A ação da igreja nas cidades. São Paulo, Ed. United Press, 2009.
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l a u x e s e oralidad
Parte 2
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Sexo seguro
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A sexualidade é constantemente explorada pelas artes, entretenimentos e mídia de maneira totalmente deturpada, fora dos padrões de Deus. Esse bombardeio estratégico de Satanás tem aprisionado vidas e destruído muitas famílias.
WAG ISHII
A vontade de Deus é que vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade sexual (1Ts 4.3). Na edição passada, falamos sobre o que a Bíblia diz acerca da sexualidade, a dificuldade e a importância de se ministrar acerca desse assunto na igreja. Como dissemos anteriormente, a pureza sexual da humanidade foi corrompida quando o pecado entrou na humanidade. A sexualidade é uma dádiva para o projeto de Deus chamado casamento. O que houver fora disso, a Bíblia chama de prostituição. Diz a Palavra de Deus que o Diabo vem para roubar, matar e destruir. Seu alvo principal é a destruição do projeto de Deus chamado família. Sua estratégia está em atingir a área mais vulnerável do ser humano, que é a sexualidade. Muitas pessoas associam a sexualidade ao pecado devido à tamanha exploração deturpada que o mundo faz dela. Não só jovens e adultos, mas também crianças estão sendo bombardeadas constantemente por apelos sexuais corrompidos. As novelas estão cheias de traições sexuais e cenas eróticas. Os comerciais usam apelos eróticos. Propagandas de revistas e outdoors usam e abusam do apelo sexual. Todo esse bombardeio vai causando o efeito da imoralidade sexual na mente.
Como numa pescaria esportiva, Satanás estrategicamente tem fisgado corações desde a infância para manifestar a destruição no casamento. Jesus disse em Mateus 5.27-28: “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela”. Nenhum adultério começa na cama de um motel. Começa na mente. A partir de quando nossa mente é corrompida, nossa sexualidade se inclina ao pecado. E a masturbação é pecado? Todo ser humano tem apetite sexual. Isso é natural e maravilhoso! O problema está na proporção que isso pode tomar e causar em sua vida. A masturbação é a concretização do ato sexual gerado na mente e, como temos dito, se está fora do relacionamento de casamento, é prostituição. Tudo começa com aquilo de que os olhos se alimenta. A carne sempre vai pedir mais estímulos buscando recursos visuais pornográficos para produzir excitação. A carne nunca se sacia e vai querer que toda a imoralidade sexual da mente se materialize na masturbação. Há quem diga que “quando casar sara”. Porém, a imoralidade praticada antes do casamento, se não tratada, será praticada no casamento.
Pornografia na internet 2,5% bilhões de e-mails pornográficos por dia; 47% das crianças recebem esses e-mails
Números assustadores apontam o grande alastramento da pornografia pela Internet. Segundo o ministério Just One Click Away, 2,5 bilhões de e-mails pornográficos são enviados todos os dias, sendo que 47% das crianças recebem esses e-mails. A idade média de uma criança ter contato com a pornografia é de 9 anos de idade e 77% dos adolescentes já tiveram contato com a pornografia na Internet. Essa realidade não está longe de nós! As estatísticas apontam também um considerável envolvimento de líderes religiosos com a pornografia. A imoralidade sexual é uma doença que tem destruído famílias. A igreja precisa despertar e se posicionar contra a imoralidade sexual em nossos dias, ministrando a restauração da sexualidade segundo os padrões de Deus. Existe uma solução em meio a esses dias de perversão. É o Senhor quem pode nos livrar e nos guardar de todos esses ataques das trevas contra a família. Precisamos clamar pela igreja, blindar nossas crianças e ministrar nossos adolescentes e jovens segundo a Palavra de Deus. “Quem subirá ao monte do Senhor? O que é limpo de mãos e puro de coração” (Sl 24.3-4). O Wag trabalha com os jovens da IPI de Rolândia, PR. É casado e pai de um filho (wagner@ventoimpetuoso.com.br Facebook: www.facebook.com/prwagishii)
9 anos é a idade média dessas crianças 77% dos adolescentes já tiveram contato com a pornografia na Internet
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CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA
Água
um bem finito
VALDOMIRO PIRES DE OLIVEIRA
Quando viajei para a Terra Santa, a questão da água foi no meu coração. Ao descer no Cairo, Egito, a primeira recomendação foi para que bebêssemos só água mineral. A água das torneiras para nós poderia trazer graves problemas. Perguntei pela chuva e nos disseram que já estava completando oito meses sem chuva. Quando saímos de ônibus em direção a Jerusalém, encaramos um deserto escaldante até Mara, lá onde Deus, por intermédio de Moisés, transformou as águas amargas em doces. Imaginava encontrar um lindo oásis com fartura de água, mas restava um fundo de poço de apenas um palmo de água. Então passamos a crer que ali podem ter sido realizados dois milagres: a transformação das águas amargas em doces e também sua multiplicação, pois saciou a sede de milhares de pessoas. Seguindo o nosso caminho, passamos pelo Mar Vermelho. Ali a água não nos pareceu um bem finito. É lindo! Mas, ao chegarmos no Mar Morto, logo soubemos que, nos últimos 50 anos, ele perdeu um terço de suas águas milagrosas. O encantador mar é alimentado pelo rio Jordão que, hoje, consegue atender, a duras penas, tão somente o Mar da Galileia. Podemos até dizer: o mar de Pedro, Tiago e João e o rio de João Batista também já sabem que a água é um bem finito. Nós que temos o rio Paraná, o São Francisco, o Amazonas e outros tan54 Alvorada
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tos, temos dificuldades para acreditar que a água é um bem finito. Mas pesquisas realizadas pela ONU em 2006 nos mostram que, em 2050, mais de 45% da população mundial não terá mais acesso à água. E também deixou claro que o desperdício, o descaso e a contaminação, até mesmo dos rios subterrâneos, poderão trazer escassez de água em regiões que não precisavam passar por isso. A água é necessária em tudo que se faz: “Para fabricar um quilo de aço se gastam 600 litros de água; para fazer um litro de cerveja se gastam quatro de água. A maior produtora de cerveja do Brasil gasta, por ano, 30 bilhões de litros de água”. Todos nós sabemos que o Brasil é o país mais rico em água do mundo. O especialista no assunto, Roberto Haushahn, disse: “Se hoje nós temos guerras por causa do petróleo, como será quando a água se tornar ainda mais escassa? Seremos, no mínimo, alvo”. Quem sabe por isso, os norte-americanos já vão tomando conta da Amazônia. Não faz muito tempo que alguns países africanos estiveram às portas de um conflito bélico por conta das águas do Rio Nilo. Para terminar, quero passar algumas informações e fazer algumas recomendações que podem retardar a falta de água em algumas regiões do nosso país. 1. Não ficar mais que 5 minutos no chuveiro; segundo a SABESP, um banho de 15 minutos, com o registro aberto, gas-
A chuva REV. VALDOMIRO PIRES DE OLIVEIRA
Finalmente caiu a chuva tão esperada, que faz o cavalo correr no pasto, o gado mugir no curral e a saracura cantar no banhado... Chuva que enche os rios, transborda os reservatórios... Chuva criadeira, que floresce a horta, o campo e as laranjeiras.
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Sabemos que o Brasil é o país mais rico em água do mundo. O especialista no assunto, Roberto Haushahn, disse: “Se hoje nós temos guerras por causa do petróleo, como será quando a água se tornar ainda mais escassa? Seremos, no mínimo, alvo”.
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ta cerca de 130 litros de água. Não lavar calçada com mangueira, nem o carro em casa. A SABESP alerta que 15 minutos limpando a calçada com a mangueira consome 279 litros de água. Fechar a torneira enquanto os pratos e outros pertences da cozinha são ensaboados e na hora de escovar os dentes ou fazer a barba. Reutilizar a água da máquina de lavar roupa para lavar o quintal e as calçadas. Nos países desenvolvidos e, em alguns lugares no Brasil, já se recolhe a água da chuva para várias utilidades até nas residências. Com o fito de economizar água, já existe uma descarga que tem dois botões: um para
Caiu a chuva que vence o medo e deixa a dor e a tristeza nuas, que sabe os segredos da natureza, onde se esconde a alegria, a beleza e sinaliza que a vida continua... Ao ouvir a canção da chuva Virei pro canto e me aquietei Pra senti-la caindo no telhado. Se dormi, de novo, não sei... Mas depois, agradecido, orei a Deus, mais uma vez, assim: Chuva que alegra a nós, brasileiros... Caia, na medida, no meu quintal, mas não se esqueça de cair, também na medida, no país inteiro... O Rev. Valdomiro, casado, pai de dois filhos, é ministro jubilado da IPIB
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o ato número um e outro para o número dois. Os eslovacos inventaram, para os banheiros, um sistema que recicla a água do banho e a reaproveita na hora. E, você, o que pode fazer ou inventar para economizar água, um bem do qual depende a vida, mas que é finito?
O Rev. Valdomiro, casado, pai de dois filhos, é ministro jubilado da IPIB
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RAPHAEL FOTOGRAFIA
CRISTIANISMO
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Mandela, um exemplo de luta e de fé MARCOS KOPESKA
Não somente a África do Sul despediu-se com dor e com glamour do seu maior líder, mas o mundo também o fez. Cento e quarenta e duas nações se fizeram presentes através de seus chefes de estado para o adeus ao pai dos sul-africanos no Soccer City, em Joanesburgo. Assisti as reportagens e algumas questões me invadiram os pensamentos: “Como alguém pôde perdoar seus algozes depois de quase três décadas de prisão?” Aliás, foi ele quem disse que a única coisa que precisávamos odiar era o ódio. “Como pôde alguém, em uma geração, derrubar o estigma maldito do apartheid, tão ‘enculturado’ desde a colonização dos europeus?” “Como pôde alguém inspirar tanto humanismo a ponto de reconstruir o ideal de liberdade e igualdade sem revolução e sem armas?” A resposta vai além de carismas pessoais, influência ou carência de ícones nas sociedades segregadas. A resposta é: cristianismo na sua essência. Mais do que religiosidade bairrista. Nelson Mandela foi discípulo de Cristo e usou todas as suas forças para
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interiorizar e, depois, exteriorizar o Sermão do Monte. Ele soube, em toda a extensão da expressão, o significado de “bem aventurados os pacificadores”. Transmitiu Cristo em sua liderança, em seu perdão, em sua missão e em seus discursos. Cristão, membro da Igreja Metodista desde a tenra infância, um dia escreveu ao seu pastor, Rev. Nkomonde, acerca da importância da fé no processo de libertação da nação: “Durante todas as gerações da opressão e discriminação, a religião deu ao povo incontável determinação e o compromisso para resistir à desumanidade. Muitos extraíram da religião a coragem para sobreviver à dor (...). Nós recordamos como os organismos religiosos foram responsáveis pela a instrução dos milhões de africanos do sul quando o governo nos negou. Nós recordamos como durante nossos anos na prisão a nossa igreja e outras comunidades religiosas nos atenderam, trazendo o cuidado e o incentivo espirituais através dos capelães que nos visitaram; e importando-se com nossas famílias quando nós não poderíamos fazer assim (...)”. Estas palavras sintetizaram a importância de Deus, da fé e da igreja na vida de um povo opri-
mido. No ano de 2000, Nelson Mandela foi homenageado pelo Concílio Mundial Metodista com o Prêmio Mundial Metodista da Paz. Com a simpatia que lhe era tão característica, declarou: “Já recebi muitos prêmios, inclusive o Nobel da Paz, mas este é muito especial para mim. É o prêmio concedido pela minha Igreja.” A vida de Mandela me faz refletir sobre o papel da verdadeira fé em nossa vida, em nossa cidade e em nosso Brasil. Uma fé que não está trancafiada em paredes, bancos e vitrais.Uma fé que explode em obras, transcende ritos e transforma uma sociedade. Nisso os sul-africanos nos ensinam. Então, sintamo-nos desafiados a transformar ódio e preconceito em paz a partir de nosso raio de influência. Você e eu podemos trabalhar contra os preconceitos nas redes sociais, nas faculdades, nos estádios de futebol, nas associações de bairro... Aí então seremos os cidadãos do Reino em nossos Sermões do Monte menos falados e mais praticados. Pense nisso. Em Cristo e por Ele! O Rev. Marcos, casado e pais de dois filhos, é pastor da 3ª IPI de Marília, SP
A vida de Mandela me faz refletir sobre o papel da verdadeira fé em nossa vida, em nossa cidade e em nosso Brasil. Uma fé que não está trancafiada em paredes, bancos e vitrais.Uma fé que explode em obras, transcende ritos e transforma uma sociedade. A Revista da Família
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ESPAÇO KIDS
Dia das mães! Você sabia?
"Os seus filhos a respeitam e falam bem dela e o seu marido a elogia" (Pv 31.28). O Dia das Mães começou com uma norte-americana chamada Ana Jarvis, filha de pastores que perdeu sua mãe e ficou tão triste que entrou em grande depressão. Suas amigas ficaram tão preocupadas com seu sofrimento que tiveram a ideia de fazer uma festa pra todo mundo lembrar-se da mãe de Ana, mas ela quis que essa festa fosse estendida a todas as mamães, como um dia pra todos homenagearem suas mães vivas ou mortas. Sua ideia era fortalecer os laços familiares e o respeito pelos pais. Ela fez uma campanha e logo virou feriado local, estadual, nacional. Depois, mais de 40 países adotaram o segundo domingo de maio como dia de homenagearem a mamães.
Daniela Welte (Tia Pink) é missionária da IPIB e congrega na IPI Central de Palmas, TO
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#dica 1
Respeitar e obedecer à mamãe em tudo que ela pedir! • Não espere a mamãe falar duas vezes. Trate-a com amor e obedeça na primeira!
#dica 2
Elogiar suas qualidades! • Faça um cartão bem lindo e deixe escondidinho num lugar que só a mamãe pode encontrar! Deixo aqui um modelinho de cartão de coração feito em origami!
mas xe algu u o r t u a o, e agearem do niss Pensan vocês homen ela um dia d ra ideias p ornar cada dia t e l! mamãe especia
#dica 3
bios 31.28 diz O texto de Provér ulher virtuosa a que os filhos da m bem dela. Vamos respeitam e falam s fáceis e que cusver algumas coisa r a você surpreende tam quase nada pr sua mamãe!
#dica 4
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Café da manhã na cama! Aqui na casa da tia Pink, é tradição preparamos um café da manhã especial em todas as datas especiais, seja aniversário ou datas comemorativas, como o Dia das Mães, dos Pais, das Crianças, etc... E, no Dia das Mães, eu simplesmente me derreto em receber os filhos na minha cama com uma bandejinha com tudo que eu amo comer... Aí vale colocar tudo que a mamãe ama: frutas, iogurtes, chicletes, chocolates, pães, biscoitos, etc. Aproveite para colocar um cartão junto dizendo o quanto você a ama!
Prepare para ela uma sobremesa que não engorde! (com certeza ela vai pirar) • Para fazer esta deliciosa receita, que é tão fácil que nem vai ao forno, você vai precisar de: • 3 copos de iogurte natural • 1 copo de suco de maracujá concentrado • 1 copo de açúcar • 1 envelope de gelatina sem sabor • Ajuda de um adulto 1º passo: Dissolva a gelatina em duas colheres de água quente. Reserve. 2º passo: Despeje o conteúdo dos três copos de iogurte dentro do liquidificador e acrescente o suco de maracujá, o açúcar e a gelatina já dissolvida. Tampe o liquidificador e peça para um adulto deixar bater por 3 minutos. 3º passo: Despeje a mistura em uma tigela e deixe na geladeira por no mínimo 3 horas
#dica 5
Faça um caderno de receita com suas receitas preferidas • Sabe aquele caderninho pequeno de capa dura que você tem e não usa? Peça ajuda de algum adulto para encapar e colar uma foto sua. Na capa, escreva: “Minhas receitas preferidas". Você nem precisa escrever as receitas. Em cada folha, você coloca o nome da sua comida preferida e deixe que a mamãe complete. Quando você crescer, ela vai lembrar-se de tudo que ela cozinhava e você amava. A mamãe vai desmaiar com esse presente!
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