Alvorada 2011 julho|agosto|setembro

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A Revista da Família

Alvorada Ano XLII nº 66 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2011

Siloé: 20 anos

Você conhece alguém que sofreu

Olhos abertos para Jesus, recuperando dependentes químicos

Bullying?

Adolescência

A mulher e o cigarro

Como manter a comunicação com os filhos nesta fase?

As adolescentes têm sido o alvo da indústria do tabaco nos últimos anos

Depressão

Entenda qual a diferença entre tristeza e depressão

D. Rachel

Gratidão a Deus pela vida desta que foi uma serva leal

Cuidados com o corpo e a alma revelam uma espiritualidade sadia

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Meu ou nosso? A bênção de compartilhar

85% dos usuários da Cracolândia são de famílias evangélicas ou já foram da igreja

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EDITORIAL

Entrega total SHEILA DE AMORIM SOUZA

"Mas chegará o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; então sim eles vão jejuar!" (Lc 5.35) "Será que vocês não sabem que o corpo de vocês é o templo do Espírito Santo, que vive em vocês e lhes foi dado por Deus?" (1Co 6.19) Percebemos que a necessidade de buscar a Deus e cuidar do nosso corpo não vem da modernidade. É um ensinamento bíblico. Quão profundo e comprometido tem sido o nosso amor por Deus? Quanto temos obedecido a sua ordem? Na matéria "Corpo e alma preparados para servir", entenda como os hábitos da modernidade, muitas vezes, podem nos distanciar da presença do Senhor e, como conseqüência, deixamos de fazer a sua vontade. O texto revela que é preciso resgatar hábitos essenciais da vida cristã, como o de cuidar do nosso corpo e alma. O jejum é um deles. “Acho que o jejum é um momento mais intenso de oração, pois exige sacrifício. É um momento onde tento ouvir mais claramente a voz de Deus, seja através da leitura da Palavra ou da própria oração", relatou o coordenador nacional do umpismo, André Lima, que tem levado essa prática aos encontros de liderança. Fortalecidos espiritualmente, aprendemos a dominar nossos próprios desejos e paixões. O cuidado com o corpo deve integrar nossa espiritualidade. Devemos cuidar e agradecer a Deus a extraordinária máquina que é o nosso corpo. O que semeamos também colheremos. O médico Fábio Ikeda fala por que devemos cuidar melhor da saúde física: “O fato de você investir na sua saúde pode, inclusive, prolongar os anos que você terá para servir ao Senhor”. Então, comece a se mexer para viver melhor, desenvolvendo a sua espiritualidade e desfrutando de tudo o que Deus preparou para você. É triste saber que, no Brasil, uma grande parcela da população ignora esses ensinamentos. No nosso país, o tabaco é a segunda droga mais consumida por jovens. Só perde para o álcool. A outra, que tem roubado o corpo e a alma de muitos desses jovens, adolescentes e até mesmo de crianças, é o crack. O missionário Wesley Zinek tem vivenciado o drama de muitas pessoas. "Hoje em dia, há drogas em todos os lugares (escolas, trabalho, festa). Os nossos jovens e adolescentes sempre estarão em contato com drogas. Eles serão influenciados, aliciados, seduzidos." Há urgência do resgate da espiritualidade. Uma estatística revela que "85% dos usuários da Cracolândia são de famílias evangélicas e/ou congregaram, por algum tempo, em igrejas evangélicas". Contudo, se nossa entrega for total ao Senhor, Ele nos dará sabedoria e mostrará o caminho certo e equilibrado em nossas práticas corporais e espirituais. Não deixe de escrever para nós, queremos saber se você gostou desta edição. Boa leitura e até a próxima.

Sheila alvorada@ipib.org

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SUMÁRIO

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Reflexão

Deus dá oportunidades de reconciliação.

Direito de Sonhar

Crianças vitimadas pelos maus tratos recebem o amor e o evangelho.

43

É cada vez maior o uso desenfreado desta ferramenta.

Voz do Coração

Não se dobrar ao mundo e se dobrar diante de Deus.

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Saúde

A incontinência urinária.

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Homenagem

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Gratidão a Deus pela vida de Rachel Hein Ribeiro.

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Dia do Voluntário Uma ação de cidadania e solidariedade.

Presbiterianismo A história que herdamos e o legado que deixaremos.

Um olhar sobre a Cracolândia, em São Paulo.

20 anos

O Projeto Siloé trabalha no resgate de dependentes químicos.

Reflexão

Homossexualidade: como tratar o assunto nas igrejas.

Bethel

Conheça o projeto de alfabetização de adultos.

Escola Dominical

O secretário de Educação Cristã faz uma importante reflexão sobre o tema.

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Secretaria da Família

38

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Drogas

Simplicidade

34

Internet

O Evangelho nos convida a uma vida simples. Invista em seus relacionamentos familiares.

4

Comportamento

O Bullying já é considerado uma patologia social. Você conhece alguém que sofre ou já sofreu com isso?

Saúde

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Nutrição

Pais e Filhos

Filhos na adolescência: manter a comunicação entre pais e filhos é essencial.

Dia dos Pais

Reflexão e sugestões para comemorar a data nas igrejas.

Entenda a diferença entre depressão e tristeza.

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Água: em qualquer circunstância é fonte de vida. No inverno não descuide da hidratação.

Saúde

O público feminino é um dos alvos das indústrias do tabaco.

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Cristianismo

A bênção de compartilhar edifica nossa vida e o reino de Deus.

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Fidelidade

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31 de Julho

Antero e Ametista um casal fiel a Deus. Sugestão de Liturgia para celebrar os 108 anos da IPI do Brasil.

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2 de Setembro

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Ação Social

Como está o coração do pastor ou da pastora? Uma igreja Diaconal.

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Corpo e Alma

Preparados para servir. O que é mais fácil? Jejuar ou cuidar do corpo.

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Ecologia

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CMIR

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Reflexão

Pensando verde.

Umpi

O que fomos, o que somos e o que queremos ser. 1º aniversário.

Fazendo arte

Lata de costura da Vovó. Dia Internacional da paz.

Alvorada A Revista da Familia

Órgão Oficial da Secretaria Nacional de Forças Leigas da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Registrado, em 7/11/ 1974, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial sob o n° 289 - CNPJ n° 62.815.279/0001-19 - Fundada em 3/2/1968 por Rev. Francisco de Morais, Maria Clemência Mourão Cintra Damlão, Isollna de Magalhães Venosa. Ministério da Comunicação: Fabricio Guilherme. Secretário da Família: Rev. Alex Sandro. Coordenadoria Nacional de Adultos: Ione Rodrigues Martins e Odair Martins. Coordenadoria Nacional do Umpismo: André Lima. Editora: Sheila de Amorim Souza. Revisor: Rev. Gerson Correia de Lacerda. Arte e Diagramação: Seiva D’Artes. Fotos e ilustrações: Fotolia, stock.xchng, Carlos Eduardo. Colaboraram nesta edição: Wanderlei de Mattos Júnior, Odair Martins, Ezequiel Luz, Evandro Rodrigues, João Wilson Faustini, Dulce Vieira Franco de Souza, Alex Sandro dos Santos, Cristina Silva Souza, Lidia Sendin, Rogério Vieira Carvalho, Noemi Machado Alves, Carlos Alberto Ferreira, Wesley Zinek, Marco Antônio Barbosa, Ari Botelho, Clayton Leal da Silva, Heloisa Rodrigues, Adilson de Souza Filho, Maurício de Barros, Camila e Daniel Zemuner, Claudete Niel de Castro, Sandra Regina M. Vilhagra Faria, Maurício Silva de Araújo, Raquel Rodrigues, Fabiana Lopes de Souza, Fernanda Laurides R. O. Lomeu, Lísias Nogueira Castilho, Ébe dos Santos Monteiro, Dicla B. Mendes, Éber F. S. Lima, Antenildo C. da Silva, Émerson R. Pereira dos Reis, Laercio Borsato, Valdemar de Souza, Douglas A. dos Santos, Wellington B. Camargo, Marcos Pedroso Mateus, Elis Calado Húngaro, Maria Cristina R. Silva. Redação: e-mail alvorada@ipib.org - Fone: (11) 2596-1903. Assinaturas na Editora Pendão Real - Rua da Consolação, 2121 -CEP 01301-100 - São Paulo/SP Fone/Fax (11) 3105-7773 - E-mail: atendimento@pendaoreal.com.br. Assinatura anual Individual (4 edições): R$37,00, acima de 10 assinantes R$ 33,00, para receber através do (a) agente ou R$ 55,00, para receber em casa. Número avulso: R$ 9,50. Depósito no Banco Bradesco - Agência 095-7 - Conta Corrente 174.872-6. Tiragem: 2500 exemplares. Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião da revista. Permitida a reprodução de matéria aqui publicada, desde que citada a fonte.

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REFLEXÃO

Deus dá oportunidades de reconciliação ROGERIO VIEIRA CARVALHO

Massacre de crianças em uma escola. Esta notícia chocou o país meses atrás. Quais foram às motivações? Uma aparente confusão mental e o desejo de vingança por ter sido ignorado e pela discriminação sofrida. O protagonista desta chacina baseou-se em conceitos éticos, morais e religiosos, que se fundiram em sua mente e coração, aliados a um extremismo de quem deseja purificar ou corrigir sem tolerância, punindo o sistema à sua maneira. Será que temos o direito de impor mudanças radicais conforme nossos conceitos ou desejos pessoais, sem uma prévia discussão ou debate com o grupo com que nos relacionamos? Creio que existam outras formas de chamarmos atenção. Infelizmente, pessoas mal resolvidas não aceitam a dinâmica democrática. Muito pelo

contrário, em algum momento, se olharmos à nossa frente ou ao redor, veremos que existem pessoas que são tão dogmatizadas em uma direção que só ouvem o próprio coração e tudo o mais é ignorado. Só elas têm razão. Somente elas sabem o que e como “tem” de ser feito. A Bíblia nos chama para uma convivência plural, amorosa e pacífica. “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos” (Rm 12.18). Apesar de tudo, Deus sempre tem oferecido oportunidades para reconciliação, através do perdão e da reconsideração de ações e juízos. Olhemos para a criação, como campo de evangelização e convivência, e também como oportunidade preparatória ao reinado pleno de Deus, nos dias do porvir. Lembremo-nos: “Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”. O Rev. Rogerio é pastor das IPIs de Tupi Paulista e Irapuru, SP

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COMPORTAMENTO

Bullying Você conhece alguém que já passou por isso?

NOEMI MACHADO ALVES

Hoje em dia, tem se falado muito a respeito do bullying. A mídia tem mostrado muitos casos que aumentam nossa preocupação e despertam vários sentimentos. Existem muitas definições de bullying. No dicionário da Língua Portuguesa, não há uma definição exata. Entendemos como assédio moral, isto é, quando alguém é desrespeitado por seus superiores ou por seus colegas com agressão física, chacotas, zombarias por algum defeito físico ou por algum sotaque (conforme região oriunda da vítima), ridicularização, apelidos deprimentes pela aparência física (baixa, gorda, magra, tem sardas, cabelos muito lisos ou muito crespos) ou ascendência (oriental, indígena, judia, afro-descendente). Enfim, o bullying já é considerado uma patologia social e é definido também como imposição intencional em relações de desigualdades. Se a vítima tem problemas na vista, pernas, braços, surgem os apelidos cruéis que a deixam sem ação. O bullying contínuo faz com que, muitas vezes, a criança ou adolescente se recuse a ir para escola, alegando dores de barriga, de cabeça, nas pernas. Pode ainda apresentar vômitos, tristeza 4 Alvorada

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quando está chegando à escola, ao clube, à família, onde tiver de se apresentar ou onde se encontrará com seus algozes ou ameaçadores. E, se contar para os professores ou para os pais, muitas vezes, estes não acreditarão. A vítima vai juntando o desejo por vingança, ódio e ira, uma vontade enorme de destruir seus agressores. Rubem Alves, em seu livro O sapo que queria ser príncipe (Editora Planeta do Brasil), no capítulo que trata de bullying, afirma que “sadismo é uma deformação espiritual”. O sádico é uma pessoa que sente prazer em produzir ou contemplar o sofrimento de um outro; ele cita também o livro de Cleo Fonte, O fenômeno bullying (Vênus Editora), onde apresenta alguns casos dramáticos que vale a pena ler. Com certeza, lembraremos de vários exemplos da época em que freqüentávamos a escola. E na família? Às vezes, não se percebe que os pais, primos, tios fazem comentários, apelidam e diferenciam um do outro (este é preguiçoso, aquele não gosta de estudar; este é briguento, aquele é mentiroso). Exibem as dificuldades dos filhos como se fossem troféus. Pensemos e reflitamos! Por que a criança tem essa ou aquela dificuldade, certas atitudes, não tira notas boas ou é muito es-

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tudiosa? Existe irmão que, para se livrar das broncas ou palmadas, acusa o outro irmão, que nada fez, mas que acaba se tornando o culpado. Isso desenvolve sentimentos de culpa e rejeição, que o acompanham pelo resto da vida. Muitos fogem de casa, vão para as ruas ou para a casa de alguém, onde serão mais aceitos. Já recebi no consultório pessoas com histórias bem tristes, deprimidas, com baixa auto-estima, que se sentem solitárias ou se entregam aos vícios, porque sofreram ou sofrem com o bullying. E na igreja? Você lembra, conhece ou conheceu líderes de crianças ou adolescentes que sempre dão oportunidades para as mesmas crianças? Já viu ou soube de crianças ou adolescentes que foram criticados e humilhados por não conseguirem decorar, cantar tão bem como o filho ou filha desta ou daquela família? Como ficam as outras crianças que, de acordo com sua capacidade, dão tudo o que podem e acabam ficando de fora? A Bíblia traz alguns exemplos de bullying. Vou

citar um: José e seus irmãos. Em Gênesis 37 a 50, conhecemos a história de José e como sofreu com a intolerância, o ciúme e a raiva de seus irmãos. Vamos pensar como temos tratado as crianças e os adolescentes. Até mesmo adultos podem sofrer bullying. O livro de Tiago 2.1-4 relata um fato que você já deve ter presenciado em algumas comunidades de fé, na família, escola, vizinhança ou na sociedade em geral. Precisamos construir pontes e não muros entre as pessoas. Pontes ligam um lado ao outro, aproximando e unindo, enquanto os muros separam, dividem e cortam relações. Que em nossa caminhada, como cristãos, possamos construir muitas pontes e quebrar os muros da desigualdade, do preconceito e da segregação que nos separam do nosso próximo. Como anda a nossa tolerância? Pensemos, reflitamos e mudemos nossas atitudes! A Noemi, psicóloga, é membro da IPI de Vila Aparecida, São Paulo noemi.ma@itelefonica.com.br

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VOZ DO CORAÇÃO

Direito de Sonhar Crianças vitimadas pelos maus tratos recebem o amor e o evangelho CARLOS ALBERTO FERREIRA

A Associação Comunitária Direito de Sonhar (ACDS) é fruto de um sonho colocado por Deus no coração da Tia Cotinha, presidente da associação. Há cerca de 18 anos, quando começou a sentir o enorme desejo de adotar e ajudar crianças necessitadas, ela não imaginava, a princípio, o tipo de ajuda que prestaria nem a situação vivi-

da pelas crianças que, hoje, o projeto assiste. Ela e a família moravam em Conceição da Aparecida, MG, e eram membros da IPI local. Mudaram-se para Campinas, SP, onde passaram a frequentar a Igreja de Cristo, por ser próxima da casa onde moravam. Lá, conheceram o Mis. Chrys, que prometeu à Cotinha que a ajudaria, se um dia ela iniciasse um projeto assim. Em 2004, de volta a Conceição da

Aparecida, ela e o marido, João Evangelista, receberam a ajuda financeira de algumas pessoas e iniciaram a ACDS com três crianças. O Mis. Crys, que também havia voltado dos Estados Unidos, mobilizou a igreja para ajudar o projeto, que foi considerado um braço assistencial daquela igreja no exterior. No início, ajudaram bastante, enviando dólares para a construção da atual casa que abriga o

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No primeiro culto de que participou, Leonardo pediu que cantassem a música Faz um milagre em mim, testemunhando que Deus ouviu a sua oração

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projeto. Algumas pessoas até vieram ao Brasil, algumas vezes, para ajudar na construção, bem ao modo como os norte-americanos gostam de fazer. Para justificar os pedidos de ajuda aos irmãos norte-americanos, a Tia Cota e o Barroso (como é conhecido o seu marido) tornaram-se membros da Rock Mountain Christ Church (Igreja de Cristo das Montanhas Rochosas) e foram considerados missionários daquela igreja, mas o vínculo deles com a IPI nunca se rompeu e, embora o projeto não seja da IPI, esta está absolutamente envolvida com ele. Com o tempo e a crise norte-americana, a ajuda da igreja dos Estados Unidos foi diminuindo, mas, ainda que pequena e esporádica, ainda existe. Hoje, o projeto é mantido com a ajuda de pessoas que se mobilizam, doando alimentos ou dinheiro ou realizando eventos beneficentes, como leilões de gado. A Prefeitura de Conceição da Aparecida também ajuda e a IPI de Indaiatuba, SP, envia recursos mensalmente. A IPI de Conceição da Aparecida presta ajuda espiritual, realizando cultos todos os domingos na sede da associação. Atualmente, são 27 crianças e adolescentes atendidos, que moram no local, depois de terem sido retirados de seus lares pelos poderes competentes, como juiz e promotor, em parceria com o Conselho Tutelar. São crianças vítimas de maus tratos, abuso sexual, envolvimento com drogas, dentre outros desajustes familiares. No projeto, elas têm encontrado carinho e atenção e, o mais importante, o amor de Deus e o conhecimen-

Rev. Antonio Carlos levou o Zequinha e sua turma à Associação Comunitária Direito de Sonhar

Faz um milagre em mim Lembro-me do Leonardo, um menino de apenas 10 anos, que era abusado pelo padrasto e que, um dia, ouviu a música Faz Um Milagre em Mim na televisão e orou a Deus pedindo um milagre: que o livrasse daquela situação. Ele foi retirado de sua casa e levado ao projeto e, no primeiro culto de que participou, pediu que cantassem esta música, testemunhando que Deus ouviu a sua oração. Como esquecer do Luan, menino de 13 anos, por quem o Conselho Tutelar intercedeu junto ao projeto, pedindo que o acolhessem, pois ali seria a última esperança para um garoto envolvido com consumo e tráfico de drogas? Ninguém

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mais o suportava por conta de seu comportamento agressivo. Agora, Luan é uma prova viva do poder transformador de Jesus Cristo. Outro caso chocante é o de duas irmãs de 12 e 13 anos, que eram obrigadas pela mãe e pelo irmão mais velho a se prostituírem para levar dinheiro para casa. Pegos em flagrante, mãe e irmão estão presos, e as meninas estão na ACDS, recuperando o direito de sonhar com um futuro melhor. E assim as histórias de pequenas vidas vão se transformando em grandes exemplos de poderosas intervenções de Deus na história humana, tão fragilizada pela ação do mal e do pecado.

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A primavera ARI BOTELHO

Eu vi a primavera com os pássaros cantando, Nas flores desabrochando E nas árvores com suas folhas renovando, Perdidas no outono já passando!

Crianças atendidas pelo projeto

Hall da casa sede

to de Jesus Cristo. É impressionante os milagres que vemos ali, as transformações de vida das crianças, suas conversões e o renascer da esperança nos olhos delas. Fico a imaginar como pode uma criança entender e experimentar as coisas de Deus do modo como muitas delas experimentam, quando existe tanto adulto que não compreende as coisas espirituais. Eu, como pastor da IPI de Conceição da Aparecida à época da fundação do projeto, ajudei na sua concretização, escrevendo seu Estatuto Social. E até hoje ajudo. Na sexta-feira da Paixão, levamos o Zequinha e sua Turma para uma apresentação que emocionou a todos. Agradecemos aqui ao Rev. Antônio Carlos pela disposição para mais esta apresentação, entre outras que fez como preletor do Acampáscoa, da IPI de Areado. A ACDS é isso! Um sonho concretizado ao qual se juntaram muitas pessoas de bem para proporcionar esperança a quem, muito cedo, foi ela recusada.

Maria de Fátima e João Evangelista - diretores

Eu vi a primavera na volta dos beijaflores, Nas borboletas em suas asas multicores, Nas abelhas, voando por entre as flores Para produzir o mel de intensos sabores! Eu vi a primavera no sorriso da criança, No olhar feliz da mãe que a balança, No trabalho do homem que a semente lança Para, dela, cuidar com grande esperança! Eu vi a primavera nas manhãs ensolaradas, Nas noites claras enluaradas, No riacho e nos lagos de águas espraiadas, Irrigando as campinas para as floradas!

Refeitório

Fachada da sede

Eu vi a primavera nos casais de namorados, Nos velhinhos passeando por todos os lados, Nos cafés da esquina sempre lotados, Nas ruas da cidade de ônibus abarrotados! Eu vi a primavera desde quando nasci, No sorriso de meus pais, que antevi Numa canção de ninar que aprendi, Para anunciar a primavera como o bem-te-vi! O Rev. Ari é pastor da IPI de Tarabai, SP

O Rev. Carlos é pastor da IPI de Areado, MG

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A VOZ DO CORAÇÃO

Um olhar sobre a

Cracolândia WESLEY ZINEK

U

ma das questões que tem sido motivo de matéria de reportagem sobre o Brasil nos jornais internacionais é esse câncer incontrolável localizado no centro velho de São Paulo, no bairro da Luz, chamado de Cracolândia. Foi denominado assim para fazer referência ao “paraíso do crack”, droga que, desde o seu surgimento na década de 90, tem sido a causa da destruição de crianças, jovens e adultos. Com certeza, o local não foi apelidado assim pelos usuários, pois eles mesmos reconhecem aquele local como um inferno. Ali, há uma rotatividade e freqüência de mais de 5 mil pessoas, usuários de todas as faixas etárias, classes sociais e até estrangeiros. Há aqueles que vão todos os dias para buscar a “mercadoria” e aqueles que fizeram dali sua residência fixa. Volta e meia, carros luxuosos passam pelo meio da multidão que fecha a rua, param para comprar ou vender, e saem. Quando as pessoas falam da Cracolândia, é com base no que outros falaram (e, assim como ouviram, transmitem) ou com base naquilo que a mídia mostra. Então, as opiniões são diversas: “Reduto da malan-

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s, m 14 ano Wando te e de crack é usuário o al; a mãe u x e s s o m ho ebê quando b u o n o d n a ab es pela sou 3 vez s a p le o. e e violentad a r e e d n o FEBEM,

s, é m 25 ano te io n tô n A mora e crack e d io r á u s ndo u s 13, qua o e d s e d a na rua espancou o to s a r d seu pa raço brar seu b e u q e d e ponto telas. Ess s o c s a m e algu em o sto foi qu a r d a p o mesm s drogas. iniciou na

Aline, 17 anos, usuária de crack, era a busada sexualmente p or seu padrasto, o me smo que matou sua mãe a facadas na pre sença dela.

Leandro tem 22 anos, é usuário de crack, mora nas ruas da Cracolândia. Teve um irmão que foi assassinado e outro está preso. Estudou até a 4ª série. Não consegue emprego. É negro, pobre e sem escolaridade.

os, é tem 68 an D. Maria lcoólatra; a e ta e b a há analfa o catador m o c e iv v sobre onada foi aband ; s o n a 0 uns 2 as ia; mora n pela famíl e racolândia ruas da C io do guiu auxíl e s n o c a nunc governo. 10 Alvorada

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dragem”; “Ali só tem bandido”; “Deveriam jogar uma bomba e acabar com tudo isso, já que só tem gente que não presta”; “Não sei como a polícia deixa isso acontecer! Por que não prendem esses traficantes?”; e assim por diante. E, diante disso, proponho uma reflexão mais atenciosa sobre essa realidade, não baseada em opiniões e respostas simplistas, já que estamos falando de algo muito complexo, mas a partir da história de vida dessas pessoas, dos seus sentimentos, da sociedade, e da realidade política e econômica brasileira. Imaginemos um iceberg. A maior parte do gelo fica submersa na água. O que vemos, aquela montanha de gelo enorme, é apenas a ponta do bloco de gelo que fica embaixo da água. O uso desenfreado da droga é apenas a ponta do iceberg que todos vêem. Os motivos que levam a pessoa ao uso da droga é a maior parte do iceberg, que está embaixo da água e ninguém vê. Então, a existência do dependente químico que vive nas ruas da Cracolândia e abandonou família, emprego, dignidade, não é mero acaso. Houve algo, interna ou externamente, que o levou a fazer isso. Veja ao lado alguns testemunhos de vida que relatam essa realidade. E os relatos continuam. Poderiam preencher um livro de 5 mil páginas. São vidas marcadas por um histórico de sofrimento e descaso. Crianças que deveriam estar na escola ou brincando de carrinho e estão nas ruas, apanhando dos adultos na disputa por uma pedra. Idosos que deveriam ter seus direitos de aposentadoria ou algum auxílio, mas que fazem parte da estatística dos que provavelmente morrerão como indigentes. E, por incrível que pareça, 85% dos usuários da Cracolândia são de famílias evangélicas e/ou congregaram, por algum tempo, em igrejas evangélicas. Essa realidade se torna um fenômeno sócio-religioso, já que o evangelho deve ser transformador. Esse fenômeno é extremamente complexo, porém há, como observarmos, alguns pontos essenciais para uma explicação.

1) A distinção de pecados

A igreja (e eu digo sem medo de generali-

(Obs: Os nomes são fictícios para preservação de suas identidades)

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zar), infelizmente, tem a tendência de fazer distinção de pecados, por mais que se pregue que não existe “pecadão” e “pecadinho”. É possível até enumerar os pecados passíveis de disciplina: gravidez fora do casamento, dependência química, adultério, divórcio, e outros tipos de pecados que são a “ponta do iceberg” e se tornaram visíveis. Então, a igreja toma medidas somente quando esses pecados vêm à tona e não se trabalha a parte maior do “iceberg sob a água”. E essas medidas, em geral, são de exclusão e não de aproximação, como é o caso da disciplina proibindo até a participação na Santa Ceia. Por que não se disciplina os fofoqueiros, ou os que têm discórdia com o irmão, ou os mentirosos e arrogantes? Porque toda a igreja seria disciplinada, “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”, e não de disciplina eclesiástica.

2) A forma de se tratar o problema

Hoje em dia, há drogas em todos os lugares (escolas, trabalho, festas). Os nossos jovens e adolescentes sempre estarão em contato com drogas. Eles serão influenciados, aliciados, seduzidos. Isso é fato! Eles não estão imunes às drogas. Porém, há um grande diferencial quando eles encontram na família amizade, companheirismo, paciência, cuidado, compreensão. Quando conversamos com um usuário na Cracolândia, é visível a frustração com o relacionamento familiar, ou pela disfunção na família ou, por mais que a família seja aparentemente funcional, pelo tratamento do problema com julgamento, indiferença ou exclusão.

3) A distinção de classe social

Ainda que exista a presença de várias classes sociais de usuários na Cracolândia, o índice de pobres é bem maior que o de classe alta. Sendo o crack uma droga de alta dependência, logo a pessoa tem a consciência de que precisa de ajuda. Então, o dependente de boa condição social tem amigos à sua volta, família para apoiá-lo, condição financeira para se recuperar e um acompanhamento à reintegração social. Os mais pobres, por outro lado, geralmente vêm de famílias de-

sestruturadas, seus amigos são da malandragem ou são poucos, de baixa escolaridade, com dificuldade para obtenção de emprego e sem condição financeira para se recuperar. Quando se depara com uma sociedade totalmente excludente, vê na Cracolândia uma fuga. Por mais que seja um lugar onde não há fraternidade, mas individualismo, ali eles se sentem inclusos, pertencendo ao mesmo mundo, sem olhares tortos ou de repugnância da sociedade, sem pessoas que se afastam pelo mau cheiro. Lá, todos comem restos, sem dar de cara com àquele que come bem e não compartilha. Lá, podem se unir como um subjetivo clamor de socorro. O problema é mais profundo do que imaginamos ser e o poder público não sabe como resolver. Por isso, utiliza a mídia para manipular a opinião do cidadão. Enquanto alguns repórteres só pensam em ganhar audiência com seu sensacionalismo que explora a miséria e as autoridades políticas propagam que está tudo sob controle, a Cracolândia ganha mais adeptos, e jovens e crianças continuam morrendo nas ruas, sem nenhuma provisão. Porém, a esperança surge ao lermos o texto bíblico que diz: “Disse o Senhor: De fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egito, tenho escutado o seu clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo. Por isso, desci para livrá-los” (Êx 3.7). Deus desce para livrar esse povo em escravidão quando usa pessoas para fazer algo por eles. E essa pessoa pode ser você, sua igreja, sua comunidade. Então, você tem duas opções: ou dá desculpas “mosaicas” e continua se questionando se Deus ainda opera milagres no século XXI, ou segue o exemplo de Moisés e vê o milagre de Deus, libertando o povo da escravidão, restaurando laços familiares e transformando usuário de crack em nova criatura para a glória de Deus. O Wesley (Mindu), missionário na missão CENA, é membro da IPI de Vila Cisper, São Paulo, SP minduza@hotmail.com

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20 ANOS

SILOÉ:

s o t r e b a s Olho sus por Je

MARCO ANTONIO BARBOSA

O Projeto Siloé completou 20 anos de uma abençoada existência no mês de abril de 2011. A princípio, o nome chama a atenção porque, conforme a narrativa bíblica contida em João 9.112, foi no Poço de Siloé que Jesus encontrou um cego de nascença e ordenou-lhe que lavasse os olhos para que pudesse ver, após ter-lhe aplicado lodo nas vistas. Nessa mesma direção, o projeto deseja que os dependentes químicos e portadores do vírus HIV tenham seus olhos abertos pelo próprio Jesus e tenham uma nova visão para suas vidas. Como a própria missionária Bugra disse certa vez, diante de um traficante que a ameaçava de morte: “O que você oferece é caro, mas com grana eles conseguem pagar. O que eu ofereço para essa gente dinheiro nenhum no mundo paga, e aí está a diferença dos nossos produtos: eu ofereço vida pra eles”. Esse precioso projeto surgiu quando Deus inquietou o coração de um grupo de jovens de uma igreja evangélica na cidade de Florianópolis, SC. Ao assistirem uma palestra da Mis. Bugra, e serem desafiados a andar pela cidade e sentir o cheiro do povo marginalizado, retornaram após essa empreitada, solicitando orientação sobre como fazer para amenizar o sofrimento dos marginalizados e excluídos. Durante 14 meses, Deus testou e solidificou a todos com relação à perseverança e à convicção do chamado. Com o tempo, o projeto ampliou suas fronteiras e passou a atender pes-

João Paulino Mafra

Rev. Marco e Bugra no lançamento do livro Desistir Jamais

Bugra com o Rev. Mathias no culto pelos 20 anos do Siloé

soas marginalizadas de todas as idades, classes sociais, religiões, raças, sejam esses dependentes químicos, portadores do vírus HIV ou presidiários. No início da década de 1990, em virtude de um primeiro contato com uma jovem dependente química internada com AIDS, o Projeto Siloé passou a visualizar o horizonte da capelania hospitalar, uma vez que a presença passou a ser constante, no dia a dia do Hospital Nereu Ramos, em Florianópolis, que atende pacientes com doenças infecto-contagiosas. A presença de Jesus, através do Projeto Siloé, na vida dessa jovem foi tão intensa que, diante da fronteira entre a vida e a morte, ela declarou: “Eu quero ir com Jesus. Nem a morte vai me impedir de viver, porque eu tenho Jesus no meu coração e ele é vida!” O trabalho preventivo quanto ao uso de drogas, álcool e outros malefícios também é feito pelo Projeto Siloé, através de reuniões em escolas, repartições públicas e privadas, empresas, hospitais, dentre outros locais, sempre ressaltando a importância de uma vida com Jesus e sem drogas. A Mis. Bugra entende que trabalhar com consolo e recuperação tem transformado a vida da equipe de missionários. Segundo ela, Deus tem atuado de inúmeras maneiras. Dessa forma, muitos passam pelo projeto e logo abandonam as drogas; outros têm mais dificuldades e se enrolam,

Bugra e Gilson, presidente do Projeto Siloé

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Siloé em números •

35 jovens libertados das drogas e do álcool na Praça XV de Novembro em Florianópolis na década de 80, presenteados com uma nova vida. Muitos deles atuam como missionários no mundo todo.

12 mil atendimentos a dependentes químicos, alcoolistas e seus familiares.

14 mil visitas a pacientes HIV/AIDS com o objetivo de consolar e levar o amor de Jesus Cristo,

6 mil encaminhamentos para internações em casas de recuperação (destas, 60% permaneceram no tratamento até o final).

Aplicação do tratamento “Amor como Realidade” em 2.200 dependentes químicos e alcoolistas (30% destes estão tendo uma vida normal na sociedade, sem drogas ou álcool).

7 pessoas recuperadas atuando como diretores de centros de recuperação no Estado de Santa Catarina e outros lugares do Brasil.

2.280 cestas básicas doadas para pacientes de AIDS e necessitados.

2.680 Bíblias distribuídas.

8 casas construídas para pacientes HIV/AIDS.

Acomodação em pensão para mais de 120 pacientes de HIV/AIDS, ajudando-os com material de higiene pessoal, alimentação e medicação sempre que necessário.

Ministração de dezenas de cursos de capacitação para pessoas e igrejas que desejam agir de maneira correta quanto à dependência química e álcool, além de cursos de capelania.

Lançamento do livro da Bugra

dando mais trabalho; outros ainda que não querem ser ajudados; e há aqueles que só procuram o projeto porque a família os obriga. Neste último caso, muitos são surpreendidos por Jesus e nascem de novo, começando uma nova vida sem droga ou álcool. O que realmente importa, diz Bugra, “é que Jesus os tem ensinado algo fundamental: que o amor é o mais importante, independentemente do resultado”. De acordo com o Rev. Mathias Quintela de Souza, pastor em Florianópolis no começo do ministério da Mis. Bugra junto aos hippies da Praça XV de Novembro, “o projeto nasceu porque foi sensível e aproveitou uma oportunidade de Deus”. Citar nomes de pessoas usadas por Deus no Projeto Siloé pode não ser aconselhável, pois, traído pela memória, corre-se o risco do esquecimento de algumas vidas preciosas. Mas o risco vale à pena quando nos referimos ao João, esposo da Bugra, que se antecipou à grande festa da ressurreição. “Deus recolheu para si o meu amor”, disse a missionária e, dessa forma, acabou descobrindo que “o sofrimento é a raiz do conhecimento mais profundo de Jesus”. Sempre que alguém se referir ao Projeto Siloé, necessariamente se lembrará do querido João, figura ilustre, servo fiel, que, pela graça de Deus, “combateu o bom combate, completou a carreira, guardou a fé”. Falar desse projeto é falar de vidas que, ao aceitarem os excluídos como pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus, se expuseram a adversidades extremas apresentadas por uma “decisão de amor”, que incomoda a todos os que promovem a morte e se beneficiam da miséria e do sofrimento humano. O Rev. Marco Antônio é pastor da 7ª IPI de Londrina, PR

Atendimentos a dependentes químicos, construção de casas e capelania hospitalar aos pacientes com HIV são algumas das ações realizadas pelo Projeto Siloé

O Projeto Siloé é uma entidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, de caráter filantrópico e assistencial, e está prestes a abrir uma extensão na Itália. Endereço: Centro Comercial e de Serviços – Rua General Liberato Bittencourt, 1914 – sala 103 – CEP 88075-301 – Telefone (48) 3244-6838 – E-mail: projetosiloe@hotmail.com Banco do Brasil – Agência 5248-5 = C/C nº 318450-1 Caixa Econômica Federal – Agência 0409 – C/P nº 01342675-5

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REFLEXÃO

Mordendo a ODAIR MARTINS

maçã

Ao tratar do homossexualismo, a Bíblia sempre se refere ao comportamento, ou seja, àquelas pessoas que têm a prática homossexual, àqueles que são assumidos. Ao fazer afirmações sobre o assunto, ela não quer dizer que são irrecuperáveis e sem esperança os que têm tais práticas, mas, sim, que, se permanecerem em seu estado, serão condenados. O mesmo acontece com todas as ações pecaminosas contrárias à vontade de Deus. Por outro lado, aqueles que lutam com impulsos, com provações nessa área, não devem sentir-se condenados, achar-se homossexuais por terem esses sentimentos. Devem, sim, resistir a eles, buscando ajuda em Deus. É necessário fazer essa distinção, às vezes, mesmo na igreja. Ao invés de ajudarmos aqueles que estão sofrendo e lutando, nós os condenamos. No Antigo Testamento, a homossexualidade é tratada principalmente à luz da ordem instaurada por Deus a partir da criação. O Senhor cria a humanidade, que é constituída de homem e mulher (Gn 1.27). O homem necessita da mulher (Gn 2.18-20) e ela lhe é dada para que se completem e vivam em companheirismo (Gn 2.21-23). A união sexual, aspecto mais íntimo de um casal, mostra que realmente se pertencem (Gn 2.24) e ser-

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ve também para a propagação da raça (Gn 1.28). É exatamente aqui que a homossexualidade é condenada pela Bíblia. Na sua prática, a ordem divina é quebrada. O homem, ou a mulher, deixa de exercer o seu papel. Além do mais, um casal de homens ou de mulheres, mesmo que tenha companheirismo, nunca terá uma união sexual normal, tanto em termos anatômicos quanto psicológicos, e não conseguirá cumprir um dos papéis principais da união: a geração de filhos. Com base nos argumentos citados, a prática homossexual é proibida no Antigo Testamento (Lv 18.22; 20.13) e a não aceitação desse padrão divino pelos homossexuais os torna reprováveis. Um exemplo prático de como o comportamento homossexual desagrada a Deus se encontra na história da destruição de Sodoma e Gomorra (Gn 19). Os homens de Sodoma pediram para que Ló lhes entregassem os dois anjos para que abusassem deles (Gn 19.5) (tradução Almeida Atualizada). Os homens, tanto os moços quanto os velhos (Gn 19.4), queriam ter relações sexuais com os dois anjos, que eles julgavam serem homens. Os anjos declaram a Ló seu objetivo de destruir as cidades (Gn 19.13), o que realmente aconteceu. Sodoma e Gomorra tornaram-se, na Bíblia, símbolo da depravação homossexual e da ira de Deus contra essa prática. A palavra Sodoma tornou-se um sinônimo para o homossexualismo. No Novo Testamento, permanece o princípio fundamental da ordem estabelecida por Deus na criação entre um homem e uma mulher. Em Romanos 1, o apóstolo Paulo condena a prática homossexual tanto nas relações femininas (v. 26), conhecida como lesbianismo, quanto nas relações masculinas (v. 27). Ele observa que a conduta natural foi mudada, referência clara ao que Deus havia estabelecido na criação. Para Paulo, o homossexualismo não era uma questão de opção pessoal, de caráter privado, mas,

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O que é homossexualismo? Como enfrentar esta realidade dentro da igreja? Será o resultado de uma definição genética? Será uma doença? sim, de perversão, pois seus praticantes “desonram os seus corpos entre si” (v. 24 e 25). A fonte dessa perversão, segundo o apóstolo, está na idolatria. Por optarem pelos falsos deuses, negando-se a adorar e a obedecer ao Deus verdadeiro, sofrem as conseqüências dessa escolha. Os homossexuais, nos tempos de Paulo, mesmo tendo consciência de que o que faziam era errado, não apenas continuavam no erro como aprovavam os que agiam de modo semelhante, sendo condenados por Deus em seu procedimento. Muito se tem falado no homossexualismo, na moda homossexual. Nós, cristãos, temos o dever de não sermos levianos nesse assunto. Não achamos normal que alguém seja homossexual, como uma opção de caráter pessoal. Nem queremos assumir um discurso moralista, condenando-os ao inferno, sem ao menos nos esforçarmos para levá-los a Jesus Cristo. Existe apenas uma coisa que pode nos manter no caminho, nestes tempos difíceis que virão. Trata-se do entendimento da glória de Deus. O assunto “homossexualismo” é muito real para todos nós. Seria a glória do Senhor, sua majestade e esplendor, seu poder a domínio, ver alguma manifestação do seu povo contra a iniqüidade, a transgressão e o pecado. Há propriedades que, para se fazerem sentir e valer, dependem exclusivamente de si mesmas. Por exemplo, antes que os seres humanos existissem, já brilhavam as estrelas, o sol aquecia, a chuva caia, e as plantas e os animais enchiam o mundo. Tudo isto existia e seria eficaz, sem que o ser humano tivesse jamais feito gesto algum. E é provável que continuarão mesmo depois do nosso desaparecimento. São realidades naturais, independentes do desejo, da vontade, da atividade praticadas pelo ser humano. Quando se fala em homossexualismo, nas igrejas logo surgem discussões. E, quando se pretende analisar as manifestações, colocam-se em torno da distinção entre homossexualismo e pornografia Por isso, este pêndulo imprevisível, que é a censura, oscila conforme ventos e tempos, ceifando algumas cabeças, resgatando outras. Uma leitura tendenciosa pode encontrar a pornografia onde bem quiser, até na Bíblia. Há quem diga que os capítulos 16 e 23 do livro de Ezequiel podem ser considerados obscenos O conceito da homossexualidade parece ter sido manipulado, em toda a sua história, nos moldes da imprecissão e da ambiguidade, embora tivesse sempre procurando servir a interesses preciosos e nitidamente

partidários, corrompendo a moral dos jovens e com teor capaz de chocar os sentimentos de decência de qualquer mente equilibrada. No Antigo Testamento, por exemplo, são encontradas várias descrições da prostituição, o que demostra que as prostitutas constituíram-se em um grupo reconhecido pela sociedade israelita. Um dos casos mais célebres ali relatados é o de Tamar que, fazendo-se passar por prostituta, seduz o sogro Judá, para vingar-se do marido, Er, que o texto sugere ser um homossexual. Como enfrentar esta realidade dentro da igreja? O que é homossexualismo? Será o resultado de uma definição genética? Será uma doença? Os relatos de Gênesis (1. 27; 2. 18, 21.24) e Mateus (19.4-6) ensinam que Deus criou a humanidade de uma maneira especifica (macho e fêmea). Em Efésios 5.25-28 e em 2 Pedro 2.1-10, temos textos repletos de referências contra o homossexualismo e, implicitamente, também contra o movimento homossexual. “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idolatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus” (lCo 6-9). O mundo tem soluções baratas; uma delas é que toda a gente peca. Solução mentirosa, pois alguns já encontraram o caminho. E, ainda que a maioria não o tenha encontrado, não há menos infelicidade num pecado coletivo que num pecado individual. Cristo oferece-nos três coisas. A primeira é o perdão para o passado. Ele mostra o coração de Deus desejoso de perdoar todo aquele que se volta para Ele sinceramente arrependido, pesaroso e decidido a mudar de vida. Reconcilia-nos com Deus. A segunda é força para abandonar o pecado. Nenhum de nós é capaz de vencer completamente o pecado, mas, na medida em que o fazemos, sabemos que não o conseguimos sozinhos, pois toda a virtude que possuímos, toda vitória ganha, todo pensamento de santidade são de Deus tão somente. A terceira coisa é a cruz. A cruz é única solução. E, sem ela, a revelação de Deus e o ideal do ser humano que temos em Cristo seriam terrivelmente incompletos. Cristo somente tem em suas mãos a chave e a cura do pecado. Há inúmeros sábios nos dias de hoje a oferecer-nos idéias; inúmeras pessoas a aconselhar-nos; mas apenas o Salvador nos oferece remédio para o pecado humano. O Odair é o coordenador nacional de adultos da IPI do Brasil

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BETHEL

Alfabetização de

Adultos

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DE 8 O ETEMBR

S

L DA A I D N U DIA M AÇÃO Z I T E B A ALF

CLAYTON LEAL DA SILVA

A cidade de Botucatu, SP, é conhecida pelo jargão de cidade das boas escolas e dos bons ares. Mas, mesmo na cidade das boas escolas, há escondido, nas dobras desta próspera cidade do interior paulista, um grupo significativo de adultos que vive na escuridão de não poder ler, escrever nem assinar o próprio nome. Este grupo geralmente vive camuflado e sofre muitas humilhações. Quem não sabe ler ou escrever tem muita vergonha de dizer que não o sabe. É muita humilhação viver num mundo onde tudo está escrito, e que pressupõe que você saiba ler e escrever. Imagine alguém que não sabe ler. Não lerá o preço de nada no supermercado, não lerá uma simples receita ou não conseguirá pegar um ônibus. Não saber ler é como viver nas trevas de olhos abertos. Quase todas as portas de emprego se fecham, antes mesmo de se ter a chance de tentar entrar por elas. Foi para atender a este grupo e tirá-lo das trevas do analfabetismo que criamos, em 2004, o Projeto Luz que os Passos Clareia. Este projeto de alfabetização é direcionado especialmente para o público adulto, de analfabetos e/ou mal alfabetizados, que não têm tempo para freqüentar uma escola e precisa de atendimento quase que individualizado para des-

cobrir o mundo da leitura. Alguns alunos já freqüentaram outros projetos de alfabetização e não progrediram no aprendizado da leitura e da escrita, mas chegam a Bethel cheios de esperança e, com o carinho e a competência do corpo docente, saem alfabetizados. Isso é um diferencial do nosso projeto, que é considerado modelo na nossa cidade. Atendemos, hoje, cerca de 40 alunos, divididos em 8 classes, com professores voluntários e profissionais contratados. Muitos destes alunos são irmãos das diferentes igrejas da cidade que buscam o aprendizado da leitura para ler as Sagradas Escrituras. Todo o material pedagógico é desenvolvido por Bethel Educação, conforme a necessidade individual dos alunos, sob o comando da coordenadora Profa. Maria Cecília Duarte Rangel da Silva. A Revista da Família

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Atendemos, hoje, cerca de 40 alunos, divididos em 8 classes, com professores voluntários e profissionais contratados. Muitos destes alunos são irmãos das diferentes igrejas da cidade que buscam o aprendizado da leitura para ler as Sagradas Escrituras.

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As aulas são aos sábados à tarde nas dependências da igreja. Os alunos recebem exame de acuidade visual e aquisição de óculos, lanche, vale transporte, atendimentos social, psicológico e espiritual e, quando necessário, são atendidos pelo Ministério de Ação Social e Diaconia da Igreja. Este projeto tem sido uma bênção para todas as pessoas envolvidas nele. A cada dia, surgem novas histórias de mudança de vida, principalmente relacionadas à melhoria da auto-estima. São histórias que nos emocionam: de uma aluna que conseguiu, finalmente, tirar a carteira de habilitação; de pessoas que prosseguiram nos estudos; de gente que conseguiu emprego; de pessoas que conseguem se corresponder com parentes e exercem sua cidadania, sem precisar que alguém as acompanhe ao banco, lojas, etc. Agora, sabem ler e escrever e podem fazer suas coisas sozinhas. Elenilde Tereza dos Santos, natural de Sergipe, foi uma de nossas primeiras alunas. Apesar de analfabeta, fazia poesias, repentes e letras de músicas, mas sempre precisava de alguém para escrevê-las. Hoje, é capaz de escrever as próprias poesias. Ganhou o primeiro lugar em um concurso de poesia da Escola do Meio Ambiente de Botucatu. Estamos buscando parcerias para publicar seu primeiro livro de poesias.

Neste ano, o projeto recebeu a visita do prefeito João Curry e do secretário de educação, Narciso Mineto Júnior, que vieram prestigiar o curso e assinar o convênio para o ano de 2011. O nosso projeto é reconhecido na cidade e é tão querido que te-

mos uma lista de espera, enquanto outros projetos semelhantes não conseguem preencher as vagas oferecidas. O projeto é desenvolvido pela Associação Bethel – UPS de Botucatu – em parceria com o Ministério de Ação Social e Diaconia da IPI de Botucatu e com a Secretaria Municipal de Educação. Temos outros projetos sociais em andamento. Além da Escola de Educação Infantil, o Projeto Caminhando para o Futuro é de inclusão digital, oferecendo ao aluno um ano de aprendizado nos mais diferentes programas usados na computação. Depois de um ano, o aluno sai de Bethel com o diploma da Microlins/Bethel. Neste projeto, temos parceria com o Conselho Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente. A maioria dos alunos consegue vaga no mercado do trabalho. Outro projeto é o Vivendo com Arte, voltado para as mulheres que aprendem várias técnicas de artesanato. Reconhecemos que, sem o apoio incondicional do Conselho, do Ministério de Ação Social e Diaconia da igreja e dos nossos parceiros, jamais conseguiríamos fazer o que temos feito para glória de Deus e o serviço ao próximo. O Rev. Clayton, presidente da AIPRAL (Aliança de Igrejas Presbiterianas e Reformadas da América Latina), é pastor da IPI de Botucatu, SP

Ajude os projetos de Bethel Seja nosso parceiro na realização destes projetos. Toda pessoa que declara imposto de renda, no formulário completo, em qualquer cidade brasileira, pode ser nosso parceiro, doando 6% do imposto a pagar. Esta doação é deduzida integralmente do imposto a pagar e não prejudica nenhuma outra dedução garan-

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tida por lei. Muitas pessoas têm se juntado a nós neste ministério de sermos testemunhas do Reino de Deus, servindo às pessoas vulneráveis da nossa cidade. Exerça o seu direito de destinar 6% do seu imposto de renda a pagar para projetos sociais realizados por Bethel. Fale conosco (fone 14-3882-2261, e-mail

educação@bethel.org.br). No blog http://associacaobethel.blogspot.com/ você tem mais informações. Você já pensou se todo evangélico exercesse este direito de doar 6% do imposto a pagar para projetos sociais reconhecidos por lei? Seriamos ainda mais abençoados e abençoaríamos uma multidão neste país.

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A educação como meio de valorização da vida HELOISA RODRIGUES

O ser humano tem dentro de si a necessidade e a habilidade para se comunicar e, como definição, sempre que ele o faz de forma criativa, pode gerar uma expressão artística. Esta afirmação faz parte dos conceitos aplicados à compreensão do estudo e ensino sobre Arte. Esta disciplina tão abrangente pode desenvolver as habilidades musicais, corporais, teatrais, plásticas, linguagem escrita, etc. Falaremos sobre o trabalho interligando esta área artística com a EJA (Educação de Jovens e Adultos). Naturalmente, todos aqueles que estão envolvidos no campo educacional já se questionaram quanto às “receitas” apresentadas para o “sucesso” educacional, mas acredito na afirmação que diz: “Todo sistema escolar é montado para cumprir também uma função social”. Acrescento a palavra também, principalmente, na realidade da EJA. Uma grande parcela dos alunos que está voltando para a escola depois de muitos anos carrega inseguranças e medos. Alguns porque, na idade em que deveriam estar no ensino fundamental, estavam trabalhando, ajudando a família ou, mesmo por outros fatores, estavam dispersos e indisciplinados, sendo rejeitados pelo sistema. Agora, anos mais tarde, com outra realidade, se deparam com a vontade ou necessidade de voltar aos estudos. Pelo tempo já vivido e com muitas histórias e fatos, com uma bagagem bem maior em relação aos alunos que cumprem o ensino na idade regular, aproveito para inserir, no conteúdo de Arte, rodas de conversa e um espaço para que, dentro do possível, possamos conhecer um pouco dessas realidades tão distintas. Seja pela localização geográfica ou pela situação familiar, as narrativas acabam sempre sendo um estímulo para eles mesmos. É comum ouvirmos frases do tipo: “Eu

estava pensando em desistir, mas, depois de ouvir este colega, vou tentar mais um pouco”. Isso nos faz ver o quanto eles trazem percepções semelhantes quanto a valores e conceitos, o que sempre me motiva a buscar alternativas para a aprendizagem. Como fazer com que alguém que passou o dia cuidando da lavoura, da casa ou em outro tipo de função, chegue até às 23 horas com ânimo e ainda realize atividades de recorte e colagem? Como fazê-los ouvir sobre artistas que registravam temas tão “misturados” em pinturas abstratas ou que apreciem uma audição de formação orquestral, quando muitos daqueles instrumentos só foram vistos pela televisão? Quando falamos e nos deparamos com olhares curiosos, cheios de vontade, mesmo que fisicamente cansados e até meio confusos diante das palavras não tão convencionais, por estarem direcionadas ao trabalho, então percebemos que a função da escola vai além de ensinar conteúdos ou formatar opiniões. A educação pode, sim, trazer opções para aprendizagem, para leitura de mundo, para troca de experiências e para possibilitar o enriquecimento cultural. Adquirimos muitas lendas e histórias, até mesmo receitas culinárias, informações sobre o clima e a natureza, viagens, linguagens e costumes, participando em uma sala de aula. A formação do cidadão está inteiramente alicerçada no âmbito educacional. Por essa e outras possibilidades que este ambiente pode proporcionar, torna-se gratificante o ato de nos relacionarmos de forma direta como seres humanos, criado por um Deus tão cuidadoso, que nos coloca no lugar certo e na hora certa para que possamos ser instrumentos nessa tão rica experiência que desfrutamos através do dom da vida. A Heloisa, educadora, é membro da IPI de Porto Feliz, SP

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EDUCAÇÃO CRISTÃ

A símbolo Escola Dominical Educação como

e... a

Cristã como signo

ADILSON DE SOUZA FILHO

Certamente nós, presbiterianos independentes, temos orgulho de falar de nossa tradição, nossa pertença ou nossa herança dos princípios fundamentais da Reforma Protestante do século XVI. A Bíblia (livro), para nós presbiterianos, sempre foi a marca registrada e autenticada de nossa fé; aliás, nossa única regra de fé e prática. Contudo, muito embora falemos da Bíblia como Palavra de Deus, ela não deixa de ser livro e, por isso, exige que a leiamos e a interpretemos. Ler a Bíblia é muito mais que uma obrigação ou exigência de nossa tradição; antes, é um exercício espiritual, pois, além do conhecimento, adquirimos conforto espiritual, pois se trata da Palavra de Deus. Entretanto, a leitura da Bíblia pressupõe o exercício da “educação”. Sendo assim, temos de criar mecanismos que tornem possíveis tanto as técnicas do “ensinar” quanto as do “aprender”. Desde as primeiras páginas do Antigo Testamento, temos registros de que, na relação entre Deus e o ser humano, a forma da comunicação é a “escrita”: Deus falava e, nesta experiência revelatória, o ser humano escrevia. Daí decorreu a importância para o povo de Israel registrar sua memória por meio da escrita, vindo a tornar-se o símbolo máximo para o povo judeu a Torá, os Dez Manda20 Alvorada

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DE 8 1 RO B M E T E S

OL A C S E A D DIA AL DOMINIC

Símbolo e signo com base na teoria da lingüística proposta por Ferdinand de Saussure Saussure definiu o signo linguístico como o formativo da relação (sua formante) entre um conceito e uma imagem sonora (linguagem falada). Tanto conceitos como imagens sonoras são entidades mentais (raciocináveis, pensamentos, idéias). A imagem acústica (ou sonora) "não é o som material, físico, mas a impressão psíquica dos sons, perceptível quando pensamos em uma palavra, mas não a falamos" . De acordo com Saussure, ao pensarmos na linguagem verbal, tendo a língua como código, os signos linguísticos são, então, os responsáveis pela representação das idéias, sendo esses signos as próprias palavras que, por meio da fala ou da escrita, associamos a determinadas idéias . Com Saussure, então, aprendemos que o signo é anterior ao símbolo e, de igual modo, anterior à própria palavra, seja oral ou escrita. O signo ainda está no mundo das idéias, ou intuições ou mesmo – podemos dizer biblicamente – está na relação da inspiração divina no momento do agir do Espírito Santo no íntimo do coração humano, como, por exemplo, Romanos 8.16: O Espírito de Deus se une com o nosso espírito para afirmar que somos filhos de Deus. Desta forma, a educação cristã adquire status de proeminência no desenvolvimento da vida de fé; ela está interligada ao fenômeno numinoso, isto é, à manifestação de Deus por meio de experiência espiritual, contudo, decodificado por meio da linguagem do indivíduo. Conforme Rudolf Otto, isso corresponde ao âmbito irracional do sagrado. E o irracional seriam justamente os elementos que não se dobram ao da linguagem, fugindo a uma apreensão conceitual. Esse aspecto ou categoria Otto chamou de “numinoso”. O elemento irracional aqui é citado na mesma proporção em que o apóstolo Paulo afirmou em 1 Coríntios 2.14: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente (não puramente racional). Sendo assim, o conceito de “signo” está ligado ao conceito de “educação cristã” no sentido de que Deus se revela no coração humano; e, por meio da ação do Espírito Santo, inspira-lhe, permitindo-lhe uma comunicação que tem início na dimensão espiritual e dá seqüência por meio do símbolo da linguagem, falada e posteriormente escrita. Desse modo, a educação cristã é anterior ao exercício do símbolo “instrumental” denominado, há mais de dois séculos, de “Escola Dominical”. Nesse sentido, a educação cristã é o meio pelo qual o indivíduo desenvolve sua experiência de fé, antes mesmo da linguagem falada ou escrita; ou seja, o Espírito Santo não depende da Bíblia para atuar no coração humano, conforme vimos em Romanos 8.16. Contudo, o mesmo apóstolo Paulo afirmou também em Romanos 10.17: E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo. Entretanto, a instrumentalidade da pregação ou fala vem da ação de Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo. E isto acontece na experiência individual da fé; e a isto podemos denominar de “signo”, ou seja, tem o sentido de “faculdades mentais” com as quais intuímos sobre Deus, independentemente da linguagem falada ou escrita; podemos dizer ou descrever isso como mística.

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mentos, além dos escritos proféticos. Na tradição do Novo Testamento, temos a mesma experiência da revelação de Deus por meio de Jesus de Nazaré, sendo que a memória, feitos e testemunhos ficaram registrados por meio da escrita também. Então, aprendemos da própria Bíblia que a linguagem escrita é a principal forma para conhecermos os feitos de Deus no passado, bem como esta mesma escrita, transformada em testemunho da revelação de Deus, continua tanto a nos ensinar quanto a nos inspirar e “alimentar” espiritualmente. Para citar apenas duas passagens – dentre milhares que poderíamos citar – temos o texto do Antigo Testamento que diz: Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas (Dt 6.6.-9). Esta passagem é tão pedagógica que se auto-explica, pois contém em si mesma a importância de se apropriar da palavra de Deus em forma de “sentimento – coração” e em forma de “conhecimento – escrita”. Outra passagem está no Novo Testamento: Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (2Tm 3.16-17). Nesta passagem, o apóstolo Paulo fala de “habilitação”, dando todo sentido da importância de se aprender a Palavra Sagrada de Deus na sua forma escrita (Bíblia). Diante disso, podemos dizer que entramos no campo próprio da Escola Dominical como símbolo e da educação cristã como signo. (Veja no quadro a distinção entre símbolo e signo com base na teoria da lingüística proposta por Ferdinand de Saussure, filósofo da linguagem. ) A Escola Dominical em nossa igreja, bem como no mundo, adquiriu o status de símbolo, riquíssimo por sua instrumentalidade educacional bem como por meio de elementos 22 Alvorada

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de sociabilidade, estética, recreação e até mesmo lazer; sendo assim, podemos dizer que o ato de “aprender” era alegre, atraente, festivo e, por isso, gerava o desejo de recorrência. Por isso e por todo legado histórico que todos nós presbiterianos independentes recebemos da simbólica Escola Dominical, podemos afirmar, sem hesitação, que somos frutos vivos de um tempo áureo de aprendizado e desenvolvimento da fé em nossa IPI do Brasil. Entretanto, precisamos perguntar: a Escola Dominical de nosso tempo ainda atende aos anseios do ser humano moderno? Os modelos pedagógicos e didáticos de nossa centenária “Escola Dominical” ainda dão conta da necessidade de “ensinar” e de “aprender”, em tempos da imagem e som digitais, comunicação virtual, tempo da tecnologia da informação? E, ainda, esse formato simbólico e tão rico de nossa igreja, a Escola Dominical, é o único meio pelo qual podemos desenvolver nossa educação cristã? Certamente nós queremos acreditar que sim! Porém, o que temos visto em muitas de nossas igrejas é a triste realidade do esvaziamento, salvas algumas exceções. Pior do que o esvaziamento é o fato de que muitos que ainda frequentam a Escola Dominical, o fazem por hábito religioso. E, para ser sincero, acredito que devemos repensar seriamente a simbólica chamada “Escola Dominical”. Insisto no uso da palavra “simbólica” pelo simples desejo de provocar reação, ou seja, precisamos redescobrir o valor da educação cristã que, assim como o signo, é anterior ao símbolo e, por sua vez, anterior à Escola Dominical. Com isso quero dizer que a tarefa de nossas igrejas deve ser a de reproduzir educação cristã; mas poderá ser o caso e realidade de muitas de nossas igrejas de que a educação cristã não esteja necessariamente ligada ou atrelada à Escola Dominical. Assim, cabe aqui um trocadilho: a igreja pode existir sem Escola Dominical, mas não sem educação cristã. A Escola Dominical é um símbolo,

Se queremos insistir na Escola Dominical como modelo ou veículo de educação cristã, então precisamos ressignificála, tornando-a atraente, desejada e recorrente.

uma marca, uma tradição rica; mas a educação cristã é a essência ou, para usar uma figura, é o DNA da vida espiritual. Desta forma, é importante dizer que algumas igrejas nossas estão utilizando outros meios como instrumentos simbólicos para transmissão da educação cristã; há, em algumas igrejas, oficinas de educação, cursos de verão/inverno, células, grupos familiares etc. Todos estes recursos são meios simbólicos de se desenvolver educação cristã. Com esta provocação, pretendo desafiar a todos nós presbiterianos independentes a redescobrir o lugar de prestígio da educação cristã na vida da nossa igreja e do povo de Deus. Eu estou totalmente convencido de que o meio pelo qual podemos fazer isso é o Departamento Infantil. Todos nós sabemos e acreditamos que só é possível mudar uma cultura por meio da educação, que tem seu início exatamente no primeiro

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Novas revistas para crianças e adolescentes saem em 2012 E, para não ficar apenas no campo da provocação e da crítica, quero antecipar aqui a iniciativa da Secretaria de Educação Cristã (SEC) da IPI do Brasil. Estamos trabalhando exaustivamente para oferecer a todas as nossas igrejas, já em 2012, material didático completo para todo o departamento infantil, isto é, material para as idades de 2 até 11 anos. Estamos trabalhando na confecção de currículo trienal (2012 a 2014), de modo que nossas igrejas consigam se programar e estruturar o seu departamento de educação cristã. Este currículo terá como eixo as faixas etárias de 2 a 17

anos e foi apresentado para o Ministério da Educação e para a Diretoria da IPI do Brasil no mês de maio. Esta nova fase da SEC se propõe promissora. Por isso, estamos orando, mas também trabalhando para ofecer às nossas igrejas material didático de qualidade, tanto em conteúdo quanto em visual, além das novidades em aúdio e – quem sabe? – vídeo, à semelhança de algumas editoras em nosso país. O nosso desejo é o de despertar os professores e professoras, sobretudo de nossas crianças, para um novo tempo de inspiração e revitalização do espaço comum de produção de educação cristã. E outro desafio que temos colocado a nós

mesmos é o de promover um congresso nacional de educação cristã. Como consequência, uma vez realizado o congresso, esperamos disponibilizar em nosso site (portal) materiais diversos para a modernização dos recursos educacionais de nossas igrejas. Finalmente, contamos com as orações de todo o nosso povo presbiteriano independente. Sobretudo, contamos com o incentivo, no sentido de que todas as nossas igrejas valorizem a nossa tradição e a nossa denominação, adquirindo material didático produzido pela nossa amada IPI do Brasil. Pela Coroa Real do Salvador!

REVISTAS PARA 2012 BABIES

2 a 3 anos

Duração: 2 anos

KIDS

4 a 5 anos

Duração: 2 anos

DISCOVERY

6 a 8 anos

Duração: 3 anos

EXPLORER

9 a 11 anos

Duração: 3 anos

FRIENDS

12 a 14 anos

Duração: 3 anos

TEENS

15 a 17 anos

Duração: 3 anos

O nosso desejo é o de despertar os professores e professoras, sobretudo de nossas crianças, para um novo tempo de inspiração e revitalização do espaço comum de produção de educação cristã estágio do desenvolvimento humano, ainda na primeira infância. Sendo assim, devemos trocar a instrumentália de décadas usada em nossas igrejas por novos instrumentos contextualizados, principalmente se o nosso único instrumento, chamado de Escola Dominical, já não estiver mais atendendo aos anseios do ser humano moderno. Por exemplo, Bíblia em 3D, imagens e sons digitais, computação gráfica bem como todos os recursos da tecnologia da informação de nosso tempo; até porque estes recursos da tecnologia já são utilizados em escolas

não eclesiásticas. É importante dizer que a simbólica Escola Dominical é uma tradição rica em nossa igreja; contudo, ela não é mais importante do que a educação cristã. Com isso, precisamos estar atentos com a necessidade de proporcionar aos nossos filhos educação cristã, e não apenas símbolos – sejam eles quais forem. Assim como no passado, não tão recente, em que a Escola Dominical propiciava momentos de alegria, festa, estética, arte e por tudo isso aprendíamos gostosamente as verdades do Reino de A Revista da Família

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Deus; de igual modo, se queremos insistir na Escola Dominical como modelo ou veículo de educação cristã, então precisamos ressignificá-la, tornando-a atraente, desejada e recorrente. Não podemos – sob pena de nos transformarmos em agentes institucionalizantes – privilegiar o símbolo em detrimento do signo; não podemos insistir na manutenção de um símbolo à custa da fuga e do desinteresse das pessoas pela busca de Educação cristã. O Rev. Adilson é o secretário de educação cristã da IPI do Brasil

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REFLEXÃO

Pra que

simplificar se...

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WANDERLEY MATTOS

r

Bom, você deve saber o restante da frase, não é?! Pra que simplificar, se a gente pode complicar. Opa! Mas parece haver alguma coisa errada aí... O trocadilho popular inverso mostra justamente aquilo que a gente não deveria fazer, mas faz – complicar o que deveria ser simples! A vida é uma grande escola da qual nunca saímos – via de regra, porque sempre levamos bomba nas mesmas matérias! Viver, portanto, é um aprendizado constante e crescente. Uma das coisas mais complexas de realmente aprender – para alguns – é como tornar as coisas simples, incluindo as que não são complexas! Isso tem a ver com a maneira como encaramos a vida, nós mesmos e as circunstâncias. Tem a ver com a nossa personalidade e as nossas escolhas! Quando algo não vai bem – seja algo simples, como a máquina de lavar que quebrou ou o carro que amanheceu com o pneu murcho, até uma desilusão, um medo, situações novas, circunstâncias que geram abatimento, enfim, a lista não tem fim – podemos não ter a condição de mudar algumas dessas circunstâncias, mas temos sempre a condição de escolher qual atitude teremos diante dessas situações novas, difíceis ou incômodas que se nos apresentam: ou complicamos ainda mais as coisas ou tentamos simplificá-las. A Bíblia está repleta de exemplos de pessoas cujas vidas foram

viradas de cabeça para baixo por circunstâncias que, muitas vezes, não dependiam delas. E mostra como elas reagiram a isso, evitando tornar a situação ainda mais complexa. Pense, por exemplo, em José no Egito, que enfrentou situações novas e desafiadoras com coragem e determinação, sem tornar ainda mais complexo aquilo que, por si só, já não era nada simples. Ou Davi, ao dar-se conta de que havia adulterado com a mulher de seu melhor guerreiro e arquitetado a morte dele para se livrar do problema da gravidez de sua amante. Ele não sucumbe à depressão paralisante, ainda que a sofra durante o devido tempo (Salmo 51), bem como não se entrega à culpa diante de seu filho doente, fruto de sua aventura amorosa,

nem mesmo ao receber a notícia de que ele havia morrido. Ao contrário, sofre durante a doença, porém levanta-se e alimentaA Revista da Família

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se – reage – ao receber a notícia da morte. Enfrenta e segue adiante. Ou talvez possamos nos lembrar de Paulo que, mesmo sendo perseguido, ameaçado e açoitado, não fazia de seu compromisso com Cristo um peso, mas enfrentava as situações limite com o olhar firme nele, seguindo adiante e contando com o apoio e fortalecimento da comunidade da fé. Eu fico fascinado com a maneira honesta como a Bíblia relata as incoerências de seus personagens mais caros, expondo seus pecados, suas escolhas certas, bem como as erradas. Igualmente fico fascinado em ver como os homens e mulheres da Bíblia eram gente que tinha a capacidade de avançar, de seguir adiante, de passar pelos problemas sofrendo na medida certa, mas, depois, era capaz de levantar-se e continuar vivendo, a despeito de seus erros pregressos, pecados passados e incoerências. Sabiam apropriar-se do perdão restaurador de Deus, de sua graça, de sua misericórdia. Exercitavam a fé em sua força e em seu caráter. E isso lhes dava forças e sentido para continuar. Mas não complicamos a vida apenas na maneira como reagimos, mas também naquilo que esperamos dela e a partir do que valorizamos. Não há nada de errado em querer progredir na vida, conquistar coisas, ter uma ambição equilibrada. Complicado fica quando a gente coloca nas conquistas materiais, no status social ou espiritual – o que é ainda pior –, na aquisição de bens ou fama nosso motivo de contentamento. Isso também é complicar a vida, pois abandonamos o simples e optamos pelo complexo e sofisticado, que muitas vezes pode

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não estar ao nosso alcance e, daí, endividamo-nos, administramos mal os recursos que temos, invertemos os valores, e caímos em ruína financeira e, muitas vezes, familiar, profissional e espiritual. O evangelho nos convida a uma vida simples, a valorizar a simplicidade na maneira como lançamos os fundamentos da nossa vida. Não há nada de errado em gostar do bom e do belo, desde que isso não comprometa as áreas vitais da nossa vida, nem mercantilize a essência do evangelho de Jesus. Então, como é que você vive a vida? O que é preciso para alegrar você: muito ou pouco? Como você escolhe reagir diante das circunstâncias difíceis da vida, sejam as que ocorrem por escolhas erradas e mal calculadas, sejam as que surgem sem que você tenha qualquer controle sobre elas? A chave é simplificar, sempre. A maneira como a Bíblia apresenta a criação, o amor de Deus, a salvação, a graça, a encarnação de Cristo, enfim, quase tudo, é extremamente simples. As parábolas de Jesus são simples. Seus ensinamentos são simples – talvez não sejam fáceis, mas isso é outra estória! Jesus viveu na terra uma vida simples, valorizando as pequenas coisas e simplificando a complexidade sem sentido. A proposta do evangelho é a da simplicidade. A outra chave é manter a fé; fé no amor de Deus independentemente das circunstâncias. A fé em sua bondade, em seu caráter, em sua presença, na força que Ele nos dá para enfrentar a vida, na sabedoria que Ele partilha conosco, em sua palavra, em sua graça que nos fortalece na fraqueza. E penso que outra chave importante para tornar a vida mais 26 Alvorada

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simples é a esperança. Mais do que ser positivo e

Reflexão MAURÍCIO DE BARROS

Lapidar, talhar Gestos, pensamentos. Reluzir, brilhar Como os metais. Remover poeiras E crostas do tempo. Manchas dessa vida, Pecados mortais.

otimista – o que também é bom! – é nutrir a esperança. Esperança em Cristo. Paulo fala várias vezes da tríade “fé, esperança e amor”. Quando vivemos assim, com esperança, nossa tendência a complicar as coisas enfraquece e nosso olhar se volta para as soluções e saídas que, muitas vezes, estão à nossa frente, mas que só são percebidas quando temos um olhar de esperança em Cristo diante da nossa vida. Não sei de que maneira você vive, mas, diante da vida e de seus problemas corriqueiros ou de circunstâncias adversas, busque sabedoria em Deus para não complicar as coisas, mas simplificá-las. Viva simples, viva leve, viva com os olhos voltados para a Palavra de Deus e seus ensinamentos e, acima de tudo, olhe para Jesus, que viveu de maneira simples e simplificou as coisas, dandonos o suprimento do amor, do perdão e da graça, para que possamos viver a vida abundante e fascinante que ele tem para nós. Simples, assim!

Caminhar, seguir, Com suaves passos. Exalar, fluir A paz dessa calma. Verter o amor, Que redime e salva, E ter a leveza Dos pássaros, na alma. Aflorar, crescer, Como um olho d’água. Ser, transparecer, Como um cristal Imenso, infinito, Como o horizonte. Aos olhos de Deus, Ser transcendental. O Maurício é membro da 1ª IPI de Avaré, SP

O Rev. Wanderley, tradutor e intérprete, é pastor da IPI do Brasil

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FAMÍLIA

Com pouco diálogo e comunhão, os membros da família estão se isolando uns dos outros

Invista em seus relacionamentos familiares

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ALEX SANDRO DOS SANTOS

V

ivemos em um tempo de muita poluição sonora e atividades individuais em nossas casas. Desta forma, temos tido pouco diálogo e comunhão. Não é raro o quadro em que o pai está assistindo à televisão; a mãe, conversando ao telefone; um filho, no quarto ouvindo música; e outro, jogando vídeo-game. Os membros da família estão se isolando uns dos outros. Esta postura tem provocado dificuldades na comunicação entre os membros da família. Pais têm pouco diálogo com seus filhos; casais não têm qualidade de tempo com seu cônjuge; irmãos nem discutem mais por um programa de televisão, pois cada um tem seu próprio aparelho. A família está sendo dividida e nós não estamos percebendo. Justificamos nossa ausência pelo cansaço e pelo lazer individual. Para mim, as palavras de Josué são sábias e decisivas. Elas são tão objetivas e práticas que me ajudam a manter o foco em minhas posturas e, em seguida, na de meus familiares. Após a conquista da terra prometida e depois da divisão de terras entre as doze tribos de Israel, Josué chama todo o povo e faz um desafio para servirem a Deus com fidelidade e integridade. É neste momento de alegria, após o cumprimento de seu chamado, que ele pronuncia uma das frases mais conhecidas do meio cristão: "Eu e minha casa serviremos ao Senhor!" (Js 24.15). O pronome referente à primeira pessoa do singular vem antes de sua própria casa. Neste caso, o "Eu" vem antes da família. O indivíduo vem antes do grupo. Você precisa servir ao Senhor, para que também sua família venha a servi-lo. A decisão precisa começar em você. Entendo que a constituição e cuidados de uma família fazem parte do projeto de Deus para todos nós. Assim, a restauração do diálogo em sua família pode começar em você. Há atividades familiares que podem ser promovidas através de sua vida. Basta você dizer: "Eu vou fazer!". E fazer. Você pode investir em seus relacionamentos familiares e sua postura fará toda a diferença. Precisamos vencer a tentação de esperarmos que os outros membros da família tomem a iniciativa. Se nós podemos fazer algo para melhorar nossos relacionamentos, vamos fazer independentemente do que os demais tenham feito. O sucesso de uma família está na união, pois “se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir” (Mc 3.25). Nenhum lar se mantém firme, se houver divisão dentro dele. Se os membros da família se separarem, mesmo vivendo debaixo do mesmo teto, mas optarem por tomarem caminhos diferentes e assim viverem em discórdia, a família sofrerá uma ruptura. “Se uma família se divide, e as pessoas que fazem parte dela começam a lutar entre si, ela será destruída”. Infe-

lizmente, nossa família pode ser destruída por nossas próprias mãos. Aquilo que fazemos e falamos torna-se marcas na história de uma família e pode levá-la à destruição. Nenhuma mulher desiste de seu casamento porque um dia o marido a tratou com indelicadeza; ela desiste porque há muitos anos isto vem acontecendo. Nenhum marido abandona sua esposa porque um dia ela foi indiferente e desrespeitou-o, mas porque há muitos anos ele se sente humilhado. Os filhos não deixam de confiar em seus pais porque chegaram à adolescência, mas porque chegaram à adolescência sem a presença de seus pais. Quero priorizar neste artigo o exemplo da vida conjugal, pois novos relacionamentos familiares começam a partir da união de um homem e de uma mulher. Sendo assim, o casamento é um modelo adulto de intimidade. No casamento, os cônjuges precisam aprender a respeitar as diferenças. “Se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir.” Se a família se dividir, ela não conseguirá se manter; seu tempo de vida será muito curto, pois não terá relacionamento maduro necessário para durar. A durabilidade de muitos casamentos está muito curta. O tempo de vida útil de muitos casamentos está muito pequeno em nossa sociedade. A cultura de que tudo é descartável chegou às famílias. Os maridos e as esposas são descartáveis. Assim como alguns trocam carros e celulares, estão trocando de cônjuges, se eles tiverem alguns “opcionais” a mais: é mais sarado, tem menos estrias, está sempre sorrindo, parece ser mais sério, tem mais dinheiro. E a lista pode continuar. Se nós não valorizarmos a nossa família, ela não terá durabilidade. Nos relacionamentos familiares, a confiança é conquistada com anos de fidelidade; a expectativa do outro em relação à nossa vida é sempre uma tensão e isto provoca insegurança em muitos. Precisamos tomar cuidado todos os dias com o que dizemos, pois as palavras ditas são sempre interpretadas de acordo a mentalidade de quem escuta e não de quem fala. Contudo, mesmo sendo difícil a construção de relacionamentos maduros, precisamos colocar um fim no isolamento dentro de nossas casas. É prazeroso ver Deus moldando a nossa vida e a de nossos familiares. É a família quem apóia os nossos planos, sejam nos negócios ou nos estudos acadêmicos. A família é quem experimenta o que deu certo ou errado em cada uma das decisões que tomamos no dia-a-dia. Portanto, lembre-se: suas ações podem levar sua família a viver unida ou poderão levá-la à destruição. O Rev. Alex, pastor da 1ª IPI de Machado, é o secretário da Família da IPI do Brasil

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Uma família sem(GnDeus 4.19-24) CAMILA E DANIEL ZEMUNER

O livro de Gênesis nos apresenta várias genealogias. É interessante analisar, porém, que a primeira genealogia descrita é a de Caim, e não a de seu pai Adão. Isso me chama a atenção. Na descrição da descendência de Caim, a primeira a ter características reveladas é a família de seu bisneto Lameque. Lameque tomou para si duas mulheres: Ada e Zilá. Com Ada, teve dois filhos: Jabal, pai dos que habitam em tendas e possuem gados; e Jubal, pai de todos os que tocam harpa e flauta. Com Zilá teve Tubalcaim, artífice de instrumento cortante, e Naamá, cujas características não são reveladas. A Bíblia revela, também, as características de Lameque, herdadas de Caim. Esta herança emocional deixada por Caim pode ter influenciado significativamente a vida de sua descendência. O texto nos permite entender que Lameque já conhecia a Deus, pois sente culpa e reconhece que, por motivos fúteis, veio a assassinar duas pessoas. Neste momento, a Bíblia narra que a conseqüência do pecado de Lameque seria infinitamente pior do que a de Caim. Família que não observa a influência transformadora de Deus transmite a afeição pelo pecado de pai para filhos. Lameque conhecia a Palavra de Deus, mas foi autoritário, fazendo justiça com as próprias mãos, tal qual seu bisavô. Percebemos, também, que Lameque plantou no coração de seus filhos uma herança vocacional: Jabal, fazendeiro, latifundiário; Jubal, músico famoso, artista; Tubalcaim, artesão de armas e instrumentos cortantes, metalúrgico. Lameque praticamente iniciou 30 Alvorada

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a indústria de sua época. Houve esforço. Percebemos que muitos fazem verdadeiros sacrifícios para dar aos filhos o que não tiveram. Mas Gênesis 4.25-26 nos mostra uma grande virada. Sete, irmão de Caim, marca o re-início da presença do Senhor. É na descendência de Sete que conhecemos a herança espiritual deixada a Enoque, por exemplo, que, diferentemente de Lameque, não foi notável na sociedade. O registro que há sobre ele é o de que “andou” com Deus (Gn 5.22). Enoque agradou a Deus e não experimentou a morte (Hb 11.5). Enoque foi profeta, porém, sua geração não o ouviu e conheceu o destruidor Dilúvio (Jd 14). O que pretendemos deixar para a nossa família: patrimônios ou experiências verdadeiras? Queremos agradar as outras pessoas ou a Deus? Queremos dar aos filhos dinheiro investido ou capacidade emocional para gerenciar suas próprias vidas? Queremos dar peixes ou ensiná-los a pescar? Se pudermos fazer tudo, será ótimo, mas, infelizmente, muitos, ao buscarem as coisas materiais, esquecem de nutrir as emoções da família. E estamos chegando à conclusão de que a maior herança é aquela que se deixa no coração, e esta não tem sido deixada. Lameque formou bem seus filhos, mas longe de Deus. E o que adianta ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? (Mt 16.26) Assim como Sete e Enoque, que nossas famílias sejam conhecidas por invocarem a Deus e andarem em sua presença. Amém. O Rev. Daniel é pastor da 1ª IPI de Sorocaba, SP, e Camila, sua esposa

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FIQUE POR DENTRO DAS DATAS DOS ENCONTROS UM DELES PODE

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SER PERTO DE VOCÊ A Revista da Família

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CRISTIANISMO

Meu ou nosso?

A bênção de compartilhar DULCE VIEIRA FRANCO DE SOUZA

Nasci e fui criada na roça. Não digo campo, termo afrancesado, europeu, coisa mais recente, mais chique. Talvez os mais urbanizados hoje desconheçam uma mina d’água, o calor de uma galinha no choco ou o mais profundo silêncio da noite. Cheiros, claridade, escuridão. Sabe o que é um barreleiro? Fui marcada pela sensação gostosa de casas antigas, espaçosas. Sedes de fazendas de muitos alqueires de terra. Estava à procura de alguma destas remanescentes, acompanhada de poucos alqueires. Foi paixão fulminante encontrar nosso futuro Recanto. Toda sem pintura (outrora, tinha sido rosa), algumas janelas precisando de troca. Estrutura sólida, parede de tijolos largos, barrotes e assoalho em bom estado. Telhado um pouco comprometido. Dezoito janelas, sete quartos, alpendre, varanda, sala... Estas casas são ecologicamente corretas. Ventilação e 32 Alvorada

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iluminação natural. O porão e o forro regulam a temperatura. Janelas grandes, do tempo em que se trabalhava de dia e se dormia à noite. Quase nada de eletricidade. Antes de comprar, perdi o sono algumas noites, por euforia. Depois de comprada, foi a vez do Dino (Rev. Ablandino Saturnino de Souza): ficava planejando os próximos pagamentos, preocupado. Ufa! Escrituramos! Vamos limpar! Está limpa! Mas sobrou um cheiro forte que vinha do porão. Eram morcegos hematófagos que ali habitavam. Gostam de lugar escuro, inacessível. Conseguimos eliminá-los e limpar os dejetos. Finalmente, uma casa limpa, cheirosa, encerada. Móveis originais, outros ganhos de alguém, de algum lugar. Roupas de cama e louças seminovas. Começamos a renovar o pomar, plantar flores, inúmeras. Meu Recanto para descanso estava tomando forma.

Eis que o pessoal da 1ª IPI de Poços, MG, o pede emprestado para a realização de um acampamento. O primeiro impulso foi dizer: “Não!” Mas a lembrança de nossos primeiros acampamentos, na Fazenda Pinhal, Fazenda Roseira e Fazenda Canaã, veio forte. Embora com temor dos riscos no assoalho, consegui dizer: “Dino, pode emprestar”. E... tivemos o período mais alegre de nossa família. Nossos filhos, ainda crianças, foram crescendo, amando aquela animação. Improvisação e ordem foram uma boa combinação. Neste período, estávamos na 2ª IPI de Poços. Um dos irmãos possuía um caminhão basculante. Fomos levando para o salão social: colchões, mantimentos, panelas. No dia combinado, esse caminhão era carregado com tudo isso e mais alguma coisa, como freezer, mesa de pingue-pongue e som. Quase toda a igreja participava, indo no ônibus fretado ou de carro. Aproveitando a parte mais

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O Recanto serviu para edificar muitas vidas

alta da base da casa, montáva montávamos um salão de culto com lona preta e bambu, tipo MST, com caixotes de Bananas Dino para sentarmos. Todo o processo de montagem gerou comunhão. A cozinha funcionou como central de aconselhamento, com muito amor e liberdade entre os irmãos e irmãs em Cristo. Comentários e correções sobre a forma de tratar os filhos, o marido. Risos e lágrimas! Gincana. Frutas em profusão. Mas acho que os passarinhos ficavam um pouco assustados com tudo aquilo. Louvor e preleções edificantes. A igreja acontecendo, se formando. Respeito e amor entre as gerações. No encerramento, sorteávamos os serviços: limpar o banheiro, limpar o quarto, etc. Durante o evento, nada de copo descartável ou papel de bala jogado. Tudo nos lixos. O meu se tornou nosso, Muitos irmãos nos trouxeram mudas de flores, árvores

O Recanto quando foi adquirido

frutíferas f ou perfumadas. Intercâmbio de mudas, sementes. Nunca ficamos com menos; sempre, com mais. Nossos filhos e jovens estranhavam quando iam a um acampamento e não tinham “nada pra fazer”. Foram aprendendo a planejar, executar, interagir, dando valor ao que está sendo feito. Noções de vida. Aulas sobre o processo de construção coletiva. As lembranças dos primeiros acampamentos foram fortes, mas também a exortação de Lucas 12.20: “Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” Fiquei pensando que cada um é louco de acordo com suas possibilidades. Meu maior bem, apego, naquele momento era uma casa velha, cinza, ainda há pouco malcheirosa. Não queria disponibilizá-la. Que teria acontecido se aquele menino sem nome tivesse retido os pães e peixes? Não entregá-los para aquele que criou o mar, os peixes, o trigo? Não A Revista da Família

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entregá-los para o Criador e Sustentador do Universo? Este menino foi sábio. “A bênção de não possuir nada...” “Nada tendo e tudo possuindo...” Mirtes Matias diz que “nada era dele; era emprestado”, só a cruz era dele, mas, na verdade, era minha, nossa. Nosso Recanto foi sendo usado e melhorado. Caiamos a casa, as árvores cresceram, frutificaram, perfumaram. As trepadeiras cresceram descontroladamente, algumas precisaram ser eliminadas. A igreja cresceu. Nossos filhos também cresceram e saíram para estudar fora. O Recanto foi vendido. Ficou a certeza de ter sido bem aproveitado, enquanto nosso. Produziu café, gado. Edificou nossas vidas, o reino de Deus. A vida continua. “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor...” Amém. (Js 24.15) A Dulce é membro da IPI Botelhos, MG

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PAIS E FILHOS

Filhos na

adolescência CRISTINA SILVA SOUZA

Gosto muito de atender ao público adolescente porque, se uma criança faz algo “errado”, fala-se que é bonitinho e engraçadinho. Se for um adulto, o fez porque está estressado. Quando é o adolescente que faz qualquer coisa “errada”, perde-se a paciência com ele e coloca-se nele o rótulo de “aborrescente”. Quando penso em adolescente, logo penso no mundo. Não dá pra separar um do outro. O adolescente está inserido no mundo por meio da escola, internet, amigos, shopping, música, televisão. Enfim, a questão é que se, de um lado, o mundo apresenta uma enxurrada de informações e propostas, do outro, existem adolescentes suscetíveis

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a tudo. Imagine o mundo representado por um círculo muito grande no qual a família e a igreja são dois pontinhos muito pequenos e o adolescente inserido neste meio. O que se prega neste círculo gigante? Sexo livre, drogas, álcool, cigarro, baladas, mentiras e muitas outras coisas. O problema é que isto tudo é dito de forma direta, indireta e subliminar; na música, no comercial de televisão, na internet, na escola, no outdoor, em tudo que olhamos e ouvimos. A família e a igreja ficam enfraquecidas para “salvar” o filho adolescente de tudo isto. Se a família tem consciência e age de forma adequada, fica mais forte;

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Coisas que fazem o filho fechar a porta da sua vida para os pais: gritos proibições

xingamentos críticas

humilhações invasões...

Exemplos:

1

Mãe: Minha filha fala muitos palavrões, xinga todo mundo, a mim, ao pai, ao irmão. Enfim, brigo com ela, peço para parar, mas ela não obedece.

2 3

Mãe: Não agüento mais! Ele grita comigo como se eu não fosse mãe dele. Me xinga, berra, vem para cima de mim.

Terapeuta: E você, fala palavrões? Mãe: (pausa) Falo... É! Eu sei que estou errada.

Terapeuta: E você grita com ele? Mãe (dá um sorriso sem graça): É! Eu grito. Paciente chorando muito relata: Minha mãe deu a minha boneca. Ela não tinha este direito. A boneca não era minha? Você acha que ela agiu certo? Eu acho que não! Aquela boneca tinha muito significado para mim. Mãe (quando em orientação de pais): Ah, eu dei mesmo. Ela ficou muito brava, mas ela não tem idade de brincar com boneca. Já tem 14 anos. E ela nem sabe que dei algumas roupas também. Quando descobrir, vai ficar mais brava ainda. (Esta mãe não sabia que a filha cabulava aula e tomava bebida alcoólica junto com os amigos em horário de aula).

Há tantos exemplos que ocupariam toda a revista. Estas queixas são comuns no consultório. Portanto, são formas de tratamentos que afastam os filhos dos pais, tornando-os fracos e impotentes diante do mundo. Respeitar o filho é aceitá-lo como é. Se sua filha quer tocar bateria e não piano, respeite, ainda que o seu desejo seja diferente do desejo dela. Se seu filho quer fazer curso de Gastronomia e não de Direito como você fez, respeite! Para falar em respeito e aceitação ao adolescente, temos de lembrar que ele tem algumas características que são próprias da idade: egocentrismo (diferente de egoísmo. Cuidado!); necessidade de dormir muito; desorganização; dramatização, etc. Estas características são comuns entre eles.

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se nega, não quer ver que esta força chamada mundo existe e acaba por deixar o filho à sua própria sorte. Recebi um adolescente, 16 anos, de família evangélica, que havia engravidado uma menina. Os pais estavam desesperados, raivosos e inconformados. Perguntei aos pais quantas vezes eles haviam sentado com este filho e conversado sobre sexo. A resposta foi: Nenhuma. Mas eles acreditavam que o filho sabia que deveria ser depois do casamento, porque é isso o que a Bíblia ensina. Perguntei quantas vezes foi falado isso para o filho na igreja, nos últimos quatro anos. Os pais não souberam responder. Vejo como agravante, principalmente nas famílias que freqüentam uma igreja, que os adultos acham que, pelo fato dos filhos irem ao culto todos os domingos, participarem do louvor, acampamentos, entre outras coisas, estão conscientes do certo e do errado. Volto a afirmar: enquanto a família e a igreja falam superficialmente do que é certo, o mundo fala com muita insistência de valores questionáveis. Diante disso, o adolescente pode ficar em dúvida a respeito de quem está certo: uma multidão de pessoas ou meia dúzia delas? Há algum tempo, comecei a observar os adolescentes com os quais tenho contato e descobri que eles não têm noção do certo e errado, do bem e do mal, como se espera deles. Os pais querem crer que os filhos sabem das coisas, mas eles não sabem. Quando nasce uma criança, nasce uma mãe e um pai; quando se torna um adolescente, também nasce uma nova mãe e um novo pai. O adolescente só é grande no tamanho, mas precisa ser ensinado a dar seus passos, assim como um bebê. Posso estar exagerando? “Vigiem e orem para que não sejam tentados. É fácil querer resistir à tentação; o difícil mesmo é conseguir” (Mt 26.41). Seguir o ensinamento de Jesus com o filho adolescente não é esperar que ele vigie e ore. Somos nós, pais, quem exercemos este papel de ensiná-los a fazer. Cuidar do filho é a função dos 36 Alvorada

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pais. Pensar que o filho sabe tudo é um grande erro. Se você deixar um adolescente em casa sozinho por uma hora, e alguém tocar a campainha e falar que veio arrumar o fio do telefone, é grande a probabilidade dele abrir a porta para o estranho. Se antes de sair você falar que não é para abrir a porta para ninguém, possivelmente, ele não abrirá. Da mesma forma, quando o seu filho for a uma festa de 15 anos de uma amiga da escola e, ao deixá-lo, você pedir para ele não tomar bebidas que contenham álcool, ele possivelmente obedecerá; se você o deixar na festa e não falar nada, é provável que experimente a bebida alcoólica. Cabe aos pais orientar cada passo do filho, com a consciência que este não sabe e precisa aprender. Os pais sabem de muitas coisas; sabem mais que os filhos porque já vivenciaram esta fase. Os pais devem se lembrar que, muitas vezes, agiram por impulso, fazendo a coisa errada e acreditando que era a certa. Devem se lembrar de seus medos, inseguranças e carências da presença da mãe e do pai. Tais lembranças podem ajudar a agir de forma diferente, olhando os filhos e suas necessidades, desenvolvendo diálogo com eles e marcando presença.

Respeito x Limites

Como conquistar este respeito? A resposta está em Efésios. “Filhos, o dever cristão de vocês é obedecer ao seu pai e à sua mãe, pois isto é o certo” (Ef 6.1). “Pais, não tratem os seus filhos de um jeito que faça com que eles fiquem irritados. Pelo contrário, vocês devem criá-los com a disciplina e os ensinamentos cristãos” (Ef 6.4). Respeitar o filho para ser respeitado - é isso o que a Bíblia ensina. É assim que se consegue cuidar dos filhos; e cuidar não é prender, reprimir, tirar do convívio do mundo. Cuidar é orientar; e, para orientar, precisamos ser ouvidos; e, para sermos ouvidos, precisamos ter uma porta aberta na vida deles para entrarmos; e, para termos esta porta

aberta, precisamos respeitá-los.

Pai e mãe, juntos para educar

Outra vertente que pode ajudar na educação dos filhos é o casal. Pai e mãe devem definir seus valores, suas crenças, idéias e ideais para orientar o filho com segurança. Outra forma é evitar gritos, brigas, sentimentos raivosos e conversar, fazer o adolescente pensar, deixar que decida algumas coisas, por conta própria, de acordo com suas orientações. Porém, você só terá esta possibilidade de orientar seu filho se a porta entre você e ele estiver aberta. Se ele for tratado com o devido respeito, ele te respeitará e ouvirá. Lembro-me de uma família que atendi na qual a guerra entre o pai e a filha era porque ela queria ficar com as amigas no domingo à tarde e o pai não deixava porque achava que a filha tinha de dormir para relaxar e iniciar a semana descansada, assim como ele. Foi assim até que percebeu que dormir e descansar funcionava para ele, mas, para a filha, relaxar era conversar e rir com as amigas. Essa compreensão permitiu que acordos fossem feitos e o conflito, solucionado. Falar de educação de filhos e, principalmente, de adolescentes, é muito complexo. Há várias formas de se avaliar e temas infinitos que abrangem este público. Porém, perceber que as necessidades do filho são

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diferentes das necessidades dos pais facilita a compreensão na relação. Respirar quantas vezes for necessário, antes de agir. Falar de forma que o seu filho escute, de forma amável, sem críticas, com amor. Quando falar um não, explicar quais os motivos que levaram a dizer “não”. Entender que o filho está crescendo, mas precisa de você, da sua orientação, do seu direcionamento. Olhar para ele como filho, com amor, e perceber que, embora seja grande no tamanho, você é o grande na relação e ele é o pequeno e sempre será assim. Agir assim é respeitar. Leia livros que falem sobre o tema. Leia a Bíblia que fala muito sobre o amor. Algumas atitudes dos pais podem afastar ou aproximar os filhos. Observe se a sua atitude traz o seu filho para junto de você. Assim fica mais fácil para ambos lidarem com o mundo lá fora. A família precisa ser uma força de: amor, compreensão, carinho, limites, regras e respeito! O ambiente familiar deve acolher o filho adolescente e não empurrá-lo para fora. O lar deve ser um lugar seguro. Orientando-se segundo a palavra de Deus e com sabedoria, menos lágrimas serão derramadas nesta fase: a adolescência.

Eu e minha adolescência Uma forma de olharmos para nossos filhos com respeito é nos lembrarmos das nossas experiências quando adolescentes. É resgatar, por meio de lembranças, como foi passar por esta idade tão complicada. Sempre que minha filha me pede algo, principalmente quando envolve passeios e amigos, antes de dar a resposta, lembro-me de mim nesta idade e situação, penso nas necessidades dela e, só então, lhe respondo. Colocar-se no lugar do filho é uma forma de respeito. Mas querer colocar o filho em nosso lugar é querer demais, pois ele está vivendo a fase do egocentrismo, ou seja, está ocupado com suas próprias mudanças e o seu novo lugar no mundo. Alguns pais falam que começaram a trabalhar com 12, 13 anos e que o filho é “folgado”, pois não faz nada. Ora, é preciso perceber que os adolescentes do passado tinham de ajudar os pais e ir para o mercado de trabalho muito cedo, ao passo que, hoje, os pais suprem todas as necessidades da casa e dos filhos, facilitando para que eles não tenham determinadas obrigações. Quando se pensa em ser pai ou mãe, pensa-se em dar o melhor para os filhos; e, diante do melhor, os adolescentes se acomodam. Respeitar o filho adolescente é olhar tudo isso e muito mais. Quem falou que seria fácil? Respeitar é também saber a hora de dizer não; respeitar não é permitir tudo. Porém, sempre deve haver coerência. Repito: Os pais são os grandes e os filhos, os pequenos. Esta é a hierarquia. Quem é grande é detentor do saber e do discernimento.

Enquanto a família e a igreja falam superficialmente do que é certo, o mundo fala com muita insistência de valores questionáveis.

A Cristina, psicóloga, é membro da IPI de Freguesia, São Paulo, SP Espaço Crescer - Av. Itaberaba, 970 – Freguesia do Ó (11) 3976-3838

Indicação de livros:

MO FAL AR Faber, Adele; Mazlish, Elaine; “CO O OUVIR PARA COM E IR OUV O FILH PARA O SEU mus; São Sum O SEU FILHO FAL AR”. Editora Paulo; 2003. EEM, AUTO Radcliffe, Sarah Chana; “TEEN EST Chabad; São ora ESTIMA DO ADOLESCENTE”; Edit Paulo; 1997. A ARTE DE Bassoff, Evelyn; “MÃES E FILHAS: HER”; Editora MUL SER A ER END APR E R CRESCE Saraiva; São Paulo; 1990.

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DIA DOS PAIS

De calças curtas CLAUDETE NIEL DE CASTRO

Houve um tempo em nossa cultura em que os meninos, ao atingir a puberdade, ganhavam a sua primeira calça comprida. Vestir calças compridas era sinal de fim de infância, início de vida responsável, rumo à vida profissional e formação de família. Hoje, este “rito de passagem” não existe mais; as demarcações foram desaparecendo e dando lugar ao mito de eterna juventude, onde o mercado se regozija! O pai, antes figura de autoridade e sabedoria, hoje é o “companheiro”, quase o igual; adotou as “calças curtas” e o boné, tentando igualar-se aos filhos em juventude. Nada contra os bermudões - o que não podemos manter é a “atitude calças curtas”. Ser pego de calças curtas é sinônimo de estar desprevenido - prevenido é aquele que se antecipa, que olha para o que há de vir. O pai deve ser aquele que tira a criança do ninho, do narcisismo em que os olhos da mãe a mantém, para mostrar que o mundo a espera, com as possibilidades de realização e também de frustração. O pai aponta o futuro, organiza a existência, dando limites, mostrando um rumo. Assistimos passivos a gerações que se sucedem, sem regras, sem lei, sem rumo, sem esperança. Não sabem olhar para o futuro; buscam somente o prazer imediato, em picos de euforia, seguidos de vazio depressivo. Não sabem o que pedir, o que desejar - a mídia indica os falsos desejos e necessidades. “Se não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt 18.3); “Quando cheguei a ser homem, desisti das coisas de menino” (1Co 13.11). Talvez estas passagens pareçam incoerentes; no entanto, ser como criança é ter humildade para aprender - sempre estar aberto para o novo - sempre. Desistir das coisas de menino é voltar-se para o futuro, para as novidades da maturidade; é não permanecer na estagnação da juventude que o mercado oferece, e que é virtual! Pais, honrem as calças que vestem! Caminhem rumo à semelhança de Cristo, levando seus filhos à estatura de varões perfeitos! A Claudete, psicóloga, é membro da 1ª IPI de São Paulo, SP

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Letras adaptadas para o Dia dos Pais CLAUDETE NIEL CASTRO

“Tão somente guarda-te a ti mesmo e guarda bem a tua alma, que não te esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto e não se apartem do teu coração todos os dias da tua vida, e as farás saber a teus filhos e aos filhos de teus filhos” (Dt 4.9). “Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando” (Jo 15.14).

“Se estais sem correção, sois bastardos e não filhos” (Hb 12.8). “Quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esperança, assim como ele é puro” (1Jo 2 e 3).

Parecido com Jesus

Papai, eu quero ser bem parecido com Jesus. Quando estiver me esquecendo, Que você possa me lembrar, papai! Você é amoroso, mas preciso correção; Ajude-me! Eu quero ser como Jesus!

Três amigos

Papai, meu amigo, te amo demais! Por isso eu te sigo para onde quer que vá. Pra mim é o exemplo que eu vou seguir; Assim obedeço; se falar, eu vou ouvir. Vire à direita. Eu vou atrás bem certo. Vai para a esquerda. Vou seguindo perto. Sempre andando, eu, você e Jesus!

Eu, você e Jesus

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A Claudete, psicóloga, é membro da 1ª IPI de São Paulo, SP

Melodias nºs 6 e 4 do CD “Tanta coisa boa” - www.igrejadocaminho.com.br

"Tudo quanto fizermos pela criança é pouco. O cristianismo ainda tem muito a fazer pela criança. Ver a criança é ver a Jesus. Amar a criança é amar a Jesus, é amar a Deus." Rev. Jorge Bertolaso Stella

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INTERNET

ssoas de É assustador o número peo sendo todas as idades que estã m contar que sugadas pela Internet, se ais, seguidas inúmeras traições conjugenvolvimentos de divórcios, se devem areada virtuais de forma desenf

Um amigo adicionou

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SANDRA REGINA MORAES VILHAGRA FARIA

A avó chegou para seu neto de 17 anos pedindo que esse esquecesse um pouco os sites de relacionamentos e aceitasse Jesus. Ele virou-se para ela e respondeu: “Se Ele me adicionar, eu o aceito”. Engraçado? Não! Dramático! Fiquei a pensar que o ocorrido com esse adolescente não se trata de um fato isolado. É assustador o número pessoas de todas as idades que estão sendo sugadas pela Internet, sem contar que inúmeras traições conjugais, seguidas de divórcios, se devem a envolvimentos virtuais de forma desenfreada. Sabendo desse fato, escrevi algo e encaminhei a esse garoto que não conheço pessoalmente, mas 40 Alvorada

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que infelizmente conheço inúmeros outros nessa situação. Primeiramente, gostaria de dizer que Deus não despreza a Internet, pois Ele mesmo deu inteligência ao ser humano para que criasse esse meio de comunicação tão importante. A Bíblia nos alerta para o exagero. Muita gente mostra aquilo que não é. Parece que a mente vai à frente do físico como ressalta o provérbio: “Porque como imagina em sua alma, assim ele é” (Pv 23.7). Se você fica alimentando a alma de que gostaria de ser como aquela pessoa, de rosto e corpo bonito, vai se achar um verme. É mais fácil viver de ilusões e fantasias sexuais. Tudo que começou com uma brincadeira ou simples passatempo poderá se tornar uma grande armadilha para que o inimigo o pegue.

Em segundo lugar, você será uma presa fácil. Conheço jovens que, pelo MSN, batem o maior papo (apesar do vocabulário pobre), mas parecem estranhos quando se encontram pessoalmente. Têm medo de encarar a realidade. É muito doloroso para eles assumirem que aquilo não é uma amizade concreta. Em terceiro lugar, o problema dos jogos virtuais. Na condição de pecadores, não é difícil se imaginar com uma arma na mão matando todos que estão à frente. A resposta é sempre a mesma: “Nada a ver! É tudo brincadeira!” Uma vez li que, quando optamos pela virtualidade, estamos escolhendo nossa própria vida, o plano virtual onde tudo é permitido. Logicamente, sem Deus nos planos. O pior de tudo é a ilusão que o

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Quando optamos pela virtualidade, estamos escolhendo nossa própria vida, o plano virtual onde tudo é permitido. Logicamente, sem Deus nos planos.

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internauta tem de que, no mundo virtual, os problemas se tornam menores, quando, de fato, ocorre o inverso, ou seja, tornam-se uma bola de neve, cada vez mais difícil de controlar. E o vazio continua. Podemos aplicar o exemplo à gula. Provérbios 23. 2, 3, 7 e 8 nos ensina: “Se você é guloso, controlese... Não tenha pressa de comer a boa comida que se serve, pois essa pessoa pode estar querendo enganar você. ...Coma um pouco mais, diz ela, mas não está sendo sincera. Você ficará enjoado. Você vomitará o pouco que comeu, e todos os seus elogios ficarão desperdiçados.” Então, tenho que abandonar tudo? Não devo mais entrar na Internet? Não é isso. A Bíblia está alertando para o exagero daquele que não tem controle no que consome. Trazendo para o contexto que estamos abordando, o sistema virtual pode estar querendo

enganá-lo. Você terá um grande enjôo espiritual, o que te levará a vomitar. Nada em você e em tuas palavras terão valor. O mais triste é saber que muitas pessoas que já aceitaram o Salvador se encontram em grande risco; outras já excluíram o grande amigo Jesus de seus contatos. Se você é crente, mas já excluiu Jesus ou ainda não o conhece, saiba que Jesus o adicionou ao morrer na cruz, uma única vez, pelos nossos pecados. A Bíblia afirma que “a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus” (Jo 112). O que fazer então? Tomar a decisão correta: aceite-o. Não como mais um amigo somente, mas como o maior amigo, Senhor e Salvador. Este é o amigo que nunca está ausente, apesar de invisível. Ele está ao seu lado o tempo todo e nunca coloca o status de ocupa-

do. Conhece o seu coração e sabe o que você pesquisa, mas só ele tem o que você precisa para “preencher” o vazio da sua alma. Ele é o pão e a água da vida. O amigo que sabe os seus sentimentos, tudo o que está no seu interior. O amigo Salvador que quer que hoje mesmo você decida aceitá-lo. “Para quem iremos nós? Tu (Jesus) tens as palavras da vida eterna” (Jo 6.68). Logo, seu corpo e mente serão ocupados pelo Espírito Santo. Ele mesmo diz: “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e, o que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora” (Jo 6.37). Esse amigo nunca vai bloquear nem excluir você! E então? Jesus já o adicionou! O que está esperando para aceitálo? A Sandra é membro da IPI de Votuporanga, SP

O mais triste é saber que muitas pessoas que já aceitaram o Salvador se encontram em grande risco; outras já excluíram o grande amigo Jesus de seus contatos.

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A VOZ DO CORAÇÃO

Ficar em pé

Não se dobrar ao mundo é se dobrar diante de Deus MAURÍCIO SILVA DE ARAÚJO

“Disse-lhes Nabucodonosor: É de propósito, ó Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que vós não servis a meus deuses nem adorais a estátua de ouro que levantei? Agora, se já estais prontos, quando ouvirdes o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da gaita de foles, e de toda sorte de música, para vos prostrardes e adorardes a estátua que fiz, bom é. Mas, se não a adorardes, sereis lançados, na mesma hora, na fornalha de fogo ardente. E quem é o Deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” (Dn 3.14-15). Ficar em pé ou permanecer em pé não é uma coisa tão fácil como alguns pensam. Paulo, escrevendo aos coríntios, advertiu-os que tomassem cuidado para não caírem também: “Aquele, pois, que pensa estar em pé, cuide para que não caia” (1Co10.12). Para cair basta estar de pé, já diziam alguns há um bom tempo, e permanecer em pé, no caso daqueles três jovens, não foi nada fácil, pois isso resultaria em

sentença de morte já decretada pelo rei. O rei Nabucodonosor, famoso na história dos grandes imperadores, de quem Saddam Hussein (então rei do Iraque) se dizia descendente, tinha estabelecido um decreto de que, ao som dos instrumentos musicais, todos os súditos de seu reino deveriam se prostrar e adorar a imagem que ele havia edificado em sua homenagem. Nabucodonosor nem imaginava que alguém teria a coragem de ficar em pé, ao tocarem os instrumentos, mas foi o que aconteceu, pois três jovens judeus ouviram a ordem, ouviram os instrumentos, porém não se dobraram diante da estátua do rei. Não devem ter nem flexionado os joelhos e, logo, isso foi notícia na corte real. A fúria do rei levou-o a mandar buscálos, pois imaginava que talvez não tivessem entendido. Por isso, faloulhes pessoalmente, mandando que se tocassem novamente os instrumentos e, se, mesmo assim, permanecessem em pé, seriam jogados na fornalha. A

história a maioria já conhece. Aqueles jovens ficaram em pé e foram lançados na fornalha, mas Deus os livrou sobrenaturalmente em meio ao fogo. Ficar em pé significa não se dobrar diante das provas, não ceder à pressão, não abdicar da fé e crença em um Deus vivo por causa das pessoas e situações. Ficar em pé é um desafio a cada dia na vida do cristão. O que mais surpreende é o fato de serem jovens que, mesmo longe de casa, da família e da igreja, não se prostraram diante daquela imagem. Ficar em pé só é possível com a ajuda de Deus, mas é impossível, se não houver, no coração, o propósito de servir a Deus. A palavra de Deus nos fala que não sobrevém a nós tentação senão humana, e que Deus é fiel e providencia o livramento. Que nos inspiremos nestes jovens e decidamos ficar em pé, pois não se dobrar ao mundo, às pessoas e ao pecado é se dobrar diante de Deus. O Rev. Maurício é pastor da IPI de Jundiaí, SP

sidath

Ficar em pé só é possível com a ajuda de Deus, mas é impossível, se não houver, no coração, o propósito de servir a Deus.

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SAÚDE

RAQUEL RODRIGUES

C

om as grandes guerras e revolução industrial recebemos em nossa sociedade uma personagem, hoje com um papel protagonista: a depressão. Esta perdura como a doença do século. Tal doença é conhecida por seus sintomas peculiares como desânimo, apatia, intolerância à frustração, falta de flexibilidade psíquica, irritabilidade, perda ou aumento de apetite, hipersonia ou insônia, entre outros. É interessante observar que, antes da depressão, a doença que assolava nossa sociedade era a histeria. Em seu contexto, encontramos mulheres subjugadas aos homens e às normas, homens fadados ao trabalho incansável e à proibição da expressão de seus sentimentos: uma sociedade de proibições. Isso resultou em sintomas sem causa física e sem cura por medicamentos, que apenas expressavam

a ânsia de liberdade... Liberdade de expressão, de sentir e de viver! Com o advento das revoluções, tivemos em nossa sociedade contemporânea uma liberação a tudo. Jamais o ser humano teve tanta liberdade e hoje, paradoxalmente, ele agoniza frente a esta liberdade irrefreável. Mas será que sabemos lidar com isto? Será que estamos preparados para suas conseqüências e responsabilidades embutidas? Nossa sociedade vive hoje uma espécie de permissividade onde o que realmente importa é a realização imediata dos prazeres (hedonismo), o endeusamento do Eu, onde o “ser” é sombreado pelo “ter”. Tudo é permitido, quando se trata da busca pela realização pessoal. A responsabilidade pela felicidade é única e exclusivamente do indivíduo, que deve buscá-la através do consumismo e do egoísmo, distanciando-se do outro, pois este o ameaça.

A liberdade conferida ao individual condena o próprio ser humano a uma sutil prisão, que impõe um modo de vida que faz o sujeito se distanciar de suas questões fundamentais. Vemos hoje uma sociedade em que instituições doadoras de identidade e sentido social, como a família e a religião, estão falidas ou relegadas aos desejos do indivíduo, ao seu “bem-estar”. Os pais não colocam mais limites nem corrigem a seus filhos. Afinal, quem manda agora em casa são os filhos. As religiões se adaptam às pessoas. Daí a existência de tantas denominações. O que é transmitido pela sociedade é que o indivíduo não tem mais a quem responder, nem aos pais, nem aos professores e nem a Deus. É cada um por si. O resultado é uma vida inconsistente de valores e sentidos. Ou seja, a depressão denuncia o vazio interior do ser humano contemporâneo, que se angustia com a responsa-

a r e g e u q Liberdade Zsuzsanna Kilian

o ã s s depre

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Diferença entre tristeza e depressão Cabe aqui uma diferença entre depressão e tristeza, suas implicações físicas e psíquicas. Quando uma pessoa passa por evento estressante ou que lhe cause sofrimento, geralmente sente-se triste, desanimado, o que é extremamente aceitável e normal. A linha que separa esta tristeza da depressão é sua duração e conseqüências à saúde física da pessoa. À depressão associa-se a diminuição dos batimentos cardíacos, a falta de energia, a lentidão psicomotora, o cansaço e a diminuição da produção de serotonina no cérebro (substância do prazer). Sendo assim, não confundamos uma doença tão grave com uma indisposição momentânea; caso contrário, ocorrerão problemas mais graves. Contudo, a depressão não passa apenas por sintomatologias físicas ou psíquicas, mas também sociais. Esta é considerada uma doença do organismo como um todo, que compromete o ser humano na sua totalidade.

bilidade de ser o único que pode gerar felicidade a si mesmo. É hora de acordar! “Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e tua mãe para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 6.1-4). Igreja, “há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Ef 4.4-6). Deus nos deixa a missão de sarar este mundo tão vazio de sentido! Como família da fé, temos a responsabilidade de devolver a este mundo o sentido de viver, mostrando-lhe o amor de Deus e resgatando

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os filhos perdidos. Paulo diz para nos consolarmos uns aos outros e ainda:“Admoesteis os insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos” (1Ts 5.11,14). A depressão é uma doença não só do indivíduo, mas principalmente da sociedade, e nós, como participantes desta, devemos ser ativos na busca por sua cura, na busca por devolver sentido à vida. Isto é possível através do amor de Deus. A Raquel, psicóloga, é membro da 1ª IPI de Poços de Caldas, MG kellpsi@gmail.com

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VIDA CRISTÃ

Corpo alma

preparados para servir O que é mais fácil? Jejuar ou cuidar do corpo? O ato de entregarse a Deus de corpo e alma é uma tarefa que requer um esforço imenso. O mundo moderno insere o ser humano em um contexto que rouba a nossa identidade de servos o tempo todo. Deus e a nossa missão como cristãos ficam, em boa parte do tempo, relegados a segundo plano.

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FABIANA LOPES DE SOUZA

Diariamente, deixamos para agir como servos, depois de lermos as centenas de emails que chegam a nossa caixa de entrada, depois de vermos nosso programa preferido na TV, depois de trabalharmos 10 horas por dia, depois de nos divertimos com os amigos, depois e depois. Essa quantidade de postergações tem levado muitos de nós para longe da perfeita vontade de Deus e tem nos feito perder hábitos essenciais na vida cristã, como o ato de cuidar do nosso corpo e alma. Dentro dessa questão, temos dois importantes cuidados que estão sendo esquecidos: o jejum, que transforma a nossa alma; e os hábitos de alimentação e exercí-

cios físicos, que mantêm o nosso corpo saudável. Esses dois itens aparecem na Bíblia em várias ocasiões e fazem parte da vontade de Deus dirigida a seu povo. No caso do jejum, o pastor e escritor norte-americano John Piper lembra que, ao fazê-lo, é como se estivéssemos dizendo ao Pai que estamos vazios, mas Ele é completo; que estamos com fome, mas Ele é o pão celeste; que estamos com sede, mas Ele é a fonte de vida. É o momento, portanto, de renegar o pão terrestre para provar, de modo profundo, o pão que vem dos altos céus. O pastor da Igreja Presbiteriana Independente Central de Cuiabá, Rev. José Drailton da Silva, lembra que, ao se abster do alimento físico, o cristão fica mais

sensível para ouvir a palavra e a voz de Deus. ”É um momento de nos privarmos do que é essencial para nos dedicarmos ao que, de fato, é prioridade”, diz. O jejum pode ser feito por várias motivações, dentre as quais: ação de graças; fortalecimento para enfrentar batalhas; e para alcançar um propósito específico. “É um momento de mortificar a carne para, então, alimentar o espírito”, diz Silva. Ele destaca, porém, que o jejum não deve ser feito com a disposição de mudar o coração de Deus em nosso favor e, sim, para mudar o nosso coração em favor dele. O coordenador nacional da Umpi, André Lima, viveu uma experiência extremamente valorosa com o jejum. Em um encon-

O jejum pode ser feito por várias motivações, dentre as quais: ação de graças; fortalecimento para enfrentar batalhas; e para alcançar um propósito específico.

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tro de liderança de jovens, em Brasília, o grupo reunido fez o jejum de Daniel, comendo apenas legumes e bebendo água. “A proposta deu um susto. A atitude de consagração está faltando cada vez mais entre os jovens”, disse. Ele diz que foi um momento muito especial e um abrir de olhos para um chamado. “Os jovens entenderam o propósito daquilo e viram que não era uma brincadeira e, sim, uma preparação para uma atividade de evangelização que faríamos a tarde”, explicou o coordenador. O grupo fez um evangelismo de rua, com panfletos, chamando as pessoas para participarem de um culto à noite, e André conta que a experiência foi uma bênção. “Acho que o jejum é um momento mais intenso de oração, pois exige sacrifício. É um momento onde tento ouvir mais claramente a voz de Deus, seja através da leitura da palavra ou da própria oração”, diz o coordenador. Semelhantemente a esse propósito contado por André, Paulo

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e Barnabé, conforme narrado em Atos 13.1 a 4, estavam orando e jejuando, quando foram surpreendidos pelo Espírito Santo, que os mandou cumprir uma missão. Eles então saíram da igreja de Antioquia e navegaram até Chipre, onde pregaram o evangelho e, dali, seguiram para outras regiões, guardando em si a mesma disposição que receberam durante a oração e o jejum. Dessa forma, fica claro, que, ao nos humilharmos, nos entregarmos, jejuarmos e orarmos, ficamos mais atentos à palavra de Deus e nosso corpo se dispõe a ir além. Nossa identidade de servos é, então, novamente relevada. A Bíblia nos ensina que há uma série de propósitos para se fazer jejum e há também diversas maneiras de fazer isso. O Rev. José Drailton da Silva explica que há o jejum integral, quando não se come nem se bebe nada. “Vemos isso na Bíblia feito por Moisés e Elias”, lembra. Há também o jejum parcial que, segundo o pastor, pode ter sido feito por Jesus durante os 40 dias em

que ele esteve no deserto. Ele explica que, em Mateus 4.2, a Bíblia relata que, “tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, Jesus teve fome”, o que pode ser um indicativo de que ele estava bebendo água, já que a palavra não diz que ele teve sede.

Corpo: templo do Espírito

Além de cuidar de nossa alma e de nosso relacionamento com Deus, a preocupação deve estar também no cuidado com o nosso corpo. “Partindo do pressuposto de que somos templos do Espírito Santo, isso quer dizer que devemos ser bem cuidados”, diz o pastor da IPI Central de Cuiabá. Ele lembra, inclusive, que a gula é colocada na Bíblia como pecado, o que mostra que Deus também se preocupa com o nosso bem-estar. Da Igreja Evangélica Maracanã, em Atibaia, interior de São Paulo, o reumatologista Fábio Ikedo concorda com o pastor e lembra do ver-

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sículo: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1Co 10.31). Segundo ele, cuidar para não comer e nem beber em excesso é responsabilidade do cristão e pode ser usado para glorificar a Deus. “O fato de você investir na sua saúde pode, inclusive, prolongar os anos que você terá para servir ao Senhor”, ressalta. Para o médico, nunca é tarde para começar a ter uma vida mais saudável. “O primeiro passo para isso é ter a consciência de que temos um papel muito importante na nossa própria saúde e, a partir disso, podemos começar a fazer pequenas coisas”, diz. Ele explica que é im-

portante que se mantenha o hábito de fazer exercícios regulares e que aprendamos a comer melhor. Uma dica dada pelo doutor é fazer uma lista dos principais alimentos que ingerimos e avaliar se estamos comendo bem ou mal. A partir dessa conclusão, fica mais fácil identificar o que precisamos retirar de nossa dieta ou o que podemos substituir. Ele diz que estudos têm mostrado que 30% do processo de envelhecimento das pessoas são genéticos e hereditários, mas 70% dos problemas estão relacionados com os hábitos, incluindo a alimentação. Ikedo diz que pesquisas mostram ainda que fazer exercícios re-

gulares pode aumentar a vida em três anos, em média. Dormir bem adicionaria mais uns 3 anos e manter o bom humor e emoções positivas poderia acrescentar aproximadamente um ano e meio de vida. É tempo, portanto, de rever nossos conceitos e preparar nosso corpo e nossa alma para servir a Deus com disposição. Não deixe, portanto, que o padrão “fast food” e de pouca profundidade da sociedade contemporânea tire de você a identidade dada por Cristo. A entrega tem de ser completa. Temos de estar prontos, de corpo e alma, para ouvir e cumprir o chamado de Deus. A Fabiana, jornalista, é membro da IPI de Vila Carrão, SP

Processo de envelhecimento

30% 70%

Estão relacionados à genética e à hereditariedade

Faça uma lista dos principais alimentos que são ingeridos e avalie se está comendo bem ou mal.

Dos problemas estão associados com hábitos e estilo de vida

Dormir bem adicionaria mais uns 3 anos e manter o bom humor e emoções positivas poderia acrescentar aproximadamente um ano e meio de vida.

Exercícios regulares podem aumentar a vida em três anos.

O DONO DA VIDA LÍDIA SENDIN

Sendo homem que planta e que rega O alimento que tem pra comer E a mulher que no ventre carrega A criança que espera nascer; Pensam ambos que tudo eles sabem Sejam homens que lancem sementes Ou mulheres que acolhem e concebem Um novo ser gerado em seus ventres.

Mas se o sangue que corre nas veias E o caule que conduz a seiva Nos parecem outra vida trazer, Não se enganem mortais criaturas, É preciso ler nas Escrituras Que é o seu Deus quem faz tudo viver. A Lídia é membro da IPI de Piracicaba, SP

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NUTRIÇÃO

: a u g Á r e u q l a u q em

é a i c n â t s n circu a d i v e d e t n fo

“Enquanto durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e inverno, dia e noite” (Gn 8.22).

FERNANDA LAURIDES RIBEIRO DE OLIVEIRA LOMEU

E eis que já chegou o inverno e, com ele, uma grande preocupação para nós, profissionais da saúde: a ingestão adequada de água e líquidos em geral. Em decorrência dos dias frios, as pessoas não se preocupam em hidratar-se de maneira adequada. E é com o objetivo de alertar e orientar você sobre esse assunto tão importante que vamos relembrar a importância da água para o bom funcionamento do nosso corpo. A água é essencial para a manutenção da vida. A água possui funções essenciais no nosso corpo.

Principais funções da água no nosso organismo •

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É o meio utilizado para que ocorram todas as reações metabólicas no nosso corpo; Regula a temperatura corporal;

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Dicas para a adequada ingestão de água • O corpo humano é formado em sua maior parte por água:

do peso de um homem é água e, na mulher, esse percentual varia de

60% 50% 70%

a 55%; num bebê essa quantidade pode atingir mais de

, reduzindo conforme a idade e atingindo os menores índices no idoso.

• •

Auxilia no funcionamento de todos os nossos órgãos; Participa do transporte de nutrientes pelo corpo; Auxilia na eliminação de substâncias tóxicas ou que não serão mais utilizadas pelo organismo.

No entanto, não esqueçamos do que Jesus disse à mulher samaritana: “Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4. 13,14). Que prossigamos pedindo ao Senhor que nos dê mais sede de conhecimento do seu reino e que Jesus seja a nossa fonte de água viva, que nos cura, restaura e liberta eternamente. A Fernanda, nutricionista, esposa do Albert e mãe do Mateus, é membro da IPI de Areado, MG

Como conseguir uma boa hidratação nos dias frios? Realmente, o ideal é a ingestão da água pura ou em sucos naturais. No entanto, nesta época, devemos lançar mão de outros recursos para não deixar a desejar nesse assunto. Então, ficam aqui algumas dicas: • Durante o dia, não deixe de ingerir água, sucos naturais, frutas e saladas, pois esses são alimentos ricos em água; •

• • • •

À noite, aproveite para tomar um leite quente, chás, sopas e caldos.

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Sempre utilize água tratada ou fervida e filtrada para beber e preparar refeições e sucos; Beba, pelo menos, 2 litros de líquido por dia (6 a 8 copos), dando preferência para a água pura; Tenha uma garrafa com água sempre por perto; Beba pequenas quantidades de cada vez e não espere sentir sede; Dê preferência ao consumo de água e sucos nos intervalos das refeições; Ofereça água para crianças e idosos durante todo o dia, uma vez que eles não controlam a sede adequadamente; Bebês até 6 meses, que se alimentam apenas de leite materno, não precisam ingerir água; Aumente a ingestão de líquidos nas seguintes situações: Sede (ela aparece quando já se iniciou o processo de desidratação); Urina de cor forte e com cheiro (o ideal é que ela seja transparente e sem cheiro); Quando apresentar cansaço, dor de cabeça e falta de concentração; Antes, durante e após a atividade física; Quando estiver em ambientes quentes; Em caso de febre, vômitos, diarréia, gripes e resfriados; Durante toda a gravidez e amamentação, quanto mais água você beber, mais leite você terá; Dê preferência ao consumo de água e sucos nos intervalos das refeições;

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DE 5 GOSTO

SAÚDE O alvo da indústria do tabaco nos últimos anos é fidelizar adolescentes, particularmente meninas, com um apelo publicitário muito forte, cativando-as por toda a vida

DIA A ONAL DA NACI SAÚDE

A mulher e o cigarro tromboflebite em mulheres jovens que usam anticoncepcionais orais e fumam chega a ser 10 vezes maior que o das que não fumam e usam este método de controle da natalidade.

LÍSIAS NOGUEIRA CASTILHO

Em maio, celebraram-se o Dia das Mães e o Mês das Noivas. Uma atenção especial foi dedicada às mulheres em maio em todos os meios de comunicação. Também em maio, celebrou-se o Dia Mundial Sem Tabaco (dia 31), por iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a OMS e o Ministério da Saúde, um número entre 10 e 15% de mulheres adultas fumam no Brasil, sendo que cerca de 90% delas adquiriram o hábito de fumar antes dos 20 anos de idade. O número de fumantes tem crescido sem parar entre as mulheres e atualmente é estimado em mais de 11 milhões de brasileiras. O tabagismo é o responsável direto por 40% das mortes de mulheres com menos de 65 anos de idade, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). O tabagismo provoca diversos problemas de saúde sérios nas mulheres e em seus filhos, dentre os quais podem ser destacados os seguintes: • 1) O risco de infarto do miocárdio, embolia pulmonar e

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2) Mulheres fumantes de dois ou mais maços de cigarros por dia têm 20 vezes mais chances de morrer de câncer de pulmão do que mulheres que não fumam.

3) As mulheres têm risco maior de ter câncer de pulmão com exposições menores do que os homens. Adenocarcinomas ocorrem mais em mulheres fumantes do que em homens, e estão associados ao modo diferenciado de fumar (inalação profunda) e/ou produtos voltados para a mulher.

4) Calcula-se que o tabagismo seja responsável por 10% das mortes por doença coronariana nas mulheres com mais de 65 anos.

5) Mulheres fumantes que não usam métodos contraceptivos hormonais reduzem a taxa de fertilidade de 75% para 57%, devido ao efeito causado pelas

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O tabaco é a segunda droga mais consumida por jovens no mundo todo, também no Brasil. Perde só para o álcool.

taxas de concentração de nicotina no ovário. •

6) As fumantes que fazem uso de contraceptivos orais apresentam risco para doenças do sistema circulatório, aumentando em 39% as chances de desenvolver doenças coronarianas e 22% a de acidentes vasculares cerebrais.

7) Fumar durante a gravidez traz sérios riscos. Abortos espontâneos, nascimentos prematuros, bebês de baixo peso, mortes fetais e de recém-nascidos, complicações com a placenta e episódios de hemorragia ocorrem mais freqüentemente quando a grávida é fumante. Tais problemas se devem, principalmente, aos efeitos do monóxido de carbono e da nicotina exercidos sobre o feto, após a absorção pelo organismo materno. • 8) Um único cigarro fumado pela gestante é capaz de acelerar em poucos minutos os batimentos cardíacos do feto, devido ao efeito da nicotina sobre seu aparelho cardiovascular. (Fonte: Ministério da Saúde) O alvo da indústria do tabaco nos últimos anos é fidelizar A Revista da Família

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adolescentes, particularmente meninas, com um apelo publicitário muito forte, cativando-as por toda a vida. Isso tem funcionado muito bem. Para a indústria do tabaco. E tem funcionado muito mal para a saúde das mulheres, nas quais a incidência de câncer de pulmão e de acidentes cardiovasculares vem crescendo sem parar, entre outras doenças igualmente graves causadas pelo hábito de fumar. O tabaco é a segunda droga mais consumida por jovens no mundo todo, também no Brasil. Perde só para o álcool. No entanto, o tabagismo é a principal causa de morte evitável no planeta, numericamente muito mais importante do que o alcoolismo. Se pudermos considerar um único inimigo público número um da saúde de homens e mulheres, este é, sem dúvida, o cigarro. A mulher brasileira tem fumado cada vez mais, apesar de tudo. A propaganda desenfreada tem vencido o jogo, de lavada. É hora de refletirmos sobre isso como indivíduos e como nação. O Dr. Lísias é médico urologista e Professor Livre-Docente da Faculdade de Medicina da USP lisiascastilho@gmail.com www.momentosaude.com.br

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SAÚDE Cerca de 45% da população feminina apresentarão algum tipo de incontinência urinária e esta é, muitas vezes, um limitante à vida social e profissional

A incontinência urinária nas

mulheres ÉBE DOS SANTOS MONTEIRO

A incontinência urinária é conceituada como perda involuntária de urina que cause problema social ou higiênico. Dentre as diversas possibilidades, temos a incontinência urinária de esforço, que ocorre em decorrência de algum esforço físico como, por exemplo, tossir, pegar peso, agachar, etc. Alguns autores consideram que cerca de 45% da população feminina apresentará algum tipo de incontinência urinária e esta é, muitas vezes, um limitante à vida social e profissional, geradora de problemas psicológicos, isolamento social e problemas sexuais. Além disso, a incontinência urinária deve ser prevenida e tratada, pois pode ser causada por uma fraqueza muscular do períneo ou assoalho pélvico, que tem como conseqüências: incontinência fecal, distopias genitais (queda de órgãos), anormalidades no trato urinário inferior, disfunções sexuais, dor

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pélvica crônica, problemas menstruais e sexuais. A perda urinária é uma condição desconfortável e embaraçosa, tanto que a paciente tende a se isolar socialmente, com receio de estar em público e ocorrer uma perda de urina. Muitas vezes, desiste da prática de esportes, passa a depender da disponibilidade de banheiros, sofre de dificuldades sexuais e alterações do sono. Já foi observado em alguns estudos que a incontinência urinária está relacionada com a infecção do trato urinário, pois a prevalência de infecção nas mulheres é diretamente proporcional ao avanço da idade, podendo chegar a até 20% em idosas com 80 anos. Atualmente, existem algumas possibilidades de tratamento: tratamento medicamentoso, acupuntura, terapia comportamental e a fisioterapia. A fisioterapia disponibiliza de algumas técnicas para prevenir e reabilitar as disfunções do trato urinário.

A fisioterapia disponibiliza de algumas técnicas para prevenir e reabilitar as disfunções do trato urinário.

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Fisioterapia A atuação do fisioterapeuta na reeducação perineal do assoalho pélvico tem como objetivo melhorar a força de contração das fibras musculares e promover a reeducação abdominal, através de exercícios, aparelhos e técnicas. Assim, fortalece os músculos necessários para manter a continência urinária. Exercícios de fortalecimento pélvico têm a finalidade de reforçar a resistência uretral e melhorar a sustentação dos órgãos pélvicos. Para isso, devem ser feitos de forma correta a fim de se obter o resultado esperado. Os exercícios consistem na contração e relaxamento dos músculos do assoalho pélvico, sem a utilização da musculatura do abdome, do glúteo e da coxa. No entanto, realizar o exercício desta maneira pode ser difícil para algumas incon-

tinentes, caso não haja uma conscientização da musculatura pélvica envolvida. Para que ocorra uma boa evolução no programa terapêutico é necessário que a paciente seja avaliada e acompanhada por um fisioterapeuta especialista na área. Dentre os recursos utilizados temos: a eletro-estimulação, cones para fortalecimento, exercícios para consciência pélvica e corporal, biofeedback, exercícios da musculatura perineal (que podem ser realizados com a paciente deitada, sentada na bola, em pé e associados à funcionalidade) e a terapia comportamental. A Ebe, fisioterapeuta do Hospital São Paulo, especialista em uroginecologia e em pneumologia, docente do Centro Universitário São Camilo, vice-coordenadora da Especialização em Fisioterapia na Emergência da UNIFESP, é membro da IPI de Cidade Patriarca, São Paulo, SP

Exercícios para conscientização

1 Paciente sentada, com as costas eretas e as pernas cruzadas: contrair a musculatura pélvica e relaxar. Esse exercício é simples e auxilia na conscientização da musculatura do assoalho pélvico.

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Paciente deitada, com as cosExemplo de exercícios de tas apoiadas no colchonete: fortalecimento do múscucontrair a musculatura péllo do períneo realizados na vica e relaxar. Esta é outra bola terapêutica com o auxipossibilidade para conscienlio do fisioterapeuta. Ebe, fisioterapeuta Hospital São Paulo, especialista em tização da musculatura Ado Parado que ocorra uma melhora uroginecologia e em pneumologia, docente do Centro Universitário assoalho pélvico dos sintomas, a pacienteem deve São Camilo, vice-coordenadora da Especialização Fisioterapia procurar ajudadaespecilizada. na Emergência da UNIFESP, é membro IPI de Cidade Patriarca, São Paulo, SP

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HOMENAGEM

Gratidão a Deus pela vida de

Rachel Hein Ribeiro DICLA BORGES MENDES

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o dia 21/5/2011, na IPI de Vila Dom Pedro, em São Paulo, SP, prestamos a Deus um culto de gratidão pela vida de nossa querida irmã Rachel, que já está na glória! Ela foi muito especial para mim, durante os anos de convívio na Confederação Nacional de Senhoras, quando trabalhei como vice-presidente e 1ª secretária, além de escrever os estudos bíblicos para a Alvorada, poesias para as datas especiais e relatórios de nossas viagens pelo Brasil, dando apoio às federações. D. Rachel foi presidente da Confederação, redatora da Alvorada e, quando surgiu a Coordenadoria de Adultos, continuou como responsável pela redação de nossa revista. Que mulher! Um exemplo de serva de Deus fiel e dedicada. Citar, neste momento, suas qualidades e virtudes seria perigoso, pois poderíamos incorrer em omissões... Temos tão somente de louvar e glorificar a Jesus,

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o Senhor da Igreja, que mediante seu Espírito Santo, capacita as pessoas dispostas para o serviço cristão. Estamos quebrantados e saudosos pela partida de nossa amada Rachel, mas também felizes pela certeza de que ela completou a carreira e conservou a fé. Agora, resta-lhe receber a coroa da justiça que o justo juiz lhe dará (2Tm 4.7). Então, nos consolamos com as boas lembranças de sua meiga presença entre nós. Quantas saudades deixou! Mas nem todos são assim. Existe na Bíblia referência a um rei de Judá, Jeorão, de quem é dito: “Morreu; foi-se sem deixar saudades”. Morreu. Mas o que é a morte? Por que ela veio ao mundo? E agora, o que acontecerá? (1Co 15.21 -22; Jo 5.21 e 1Co 15.26). Sabemos que a morte é o salário ou a conseqüência do pecado (Rm 6.23). Ela é a porção de todos, pois “aos homens está ordenado morrer” (Hb 9.27). Ninguém escapa; a morte nivela todas as pessoas: ricos, pobres, maus e bons, pequenos e grandes. Na verdade, Deus nos criou para vida.

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“Dona Rachel” ÉBER FERREIRA SILVEIRA LIMA

Rachel Hein Ribeiro foi uma pessoa extraordinária! Isso pode ser testemunhado pelas pessoas que conviveram com ela - quer na família, quer na igreja, quer no magistério estadual de São Paulo, quer no cotidiano da existência em seus múltiplos caminhos. Fui uma das pessoas que teve o privilégio de com ela conviver, por muitos anos, no âmbito da IPI do Cambuci, da qual era pastor o seu esposo, Rev. Jair Ribeiro de Melo. Minhas memórias mais remotas da IPI do Cambuci, que estão ligadas à minha infância, passada nos salões e corredores modestos do edifício da Rua Barão de Jaguara, 1140, sempre encontram a figura nobre, elevada, inteligente e bondosa de "Dona Rachel", como aprendemos a chamá-la. Era uma expressão-título, digamos, para classificar sua importância e papel naquela comunidade que marcou a vida de tanta gente. A Dona Rachel e o Rev. Jair chegaram ao Cambuci no ano de 1954 ou 1955 (nasci neste último ano referido). A dedicação e entusiasmo do casal foram em grande medida os responsáveis pela recuperação da igreja, que saíra destroçada de uma divisão pentecostal no ano de 1953. Nos anos 50, 60 e 70, a IPI do Cambuci foi uma das mais operosas e destacadas igrejas evangélicas de São Paulo. Mas tinha uma dupla notável a comandá-la. Dona Rachel postava-se como uma autêntica co-pastora. Lembro-me de vê-la tocando o pequeno harmônio de fole em cultos e reuniões de quarta-feira. Impossível não lembrar do seu lugar “oficial”, à saída de cada culto dominical, cumprimentando as pessoas e, sempre pelo nome, referindo-se a cada um com uma particularidade de incentivo e inspiração para a semana que se iniciava. Muitas vezes Dona Rachel foi professora e superintendente de escola dominical - aliás, uma excelente e vibrante líder! A primeira vez que a Igreja do Cambuci ouviu o som de uma guitarra elétrica foi em um encerramento da escola dominical. A superintendente Dona Rachel foi quem autorizou a terrível, desafinada e barulhenta “apresentação” que se seguiu, da qual fiz parte, juntamente com meu irmão. Foi um ato de coragem e de visão de futuro. De maneira semelhante, foi ela quem convenceu ao seu esposo de que ele deveria autorizar que um coral de jovens

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Dona Rachel sempre se destacou por ter luz própria, por sua força moral e espiritual, por seu jeito particular de ser e de atuar. apresentasse uma cantata “modernosa” no culto vespertino, contando com um regente “diferente” (eu mesmo!), na flor dos seus 18 anos... Dona Rachel era assim - ousada, determinada, firme, inovadora, fiel a Deus e à Igreja. Lembro-me que foi ela, numa certa manhã de domingo no ano de 1971, quem me explicou terem falecido dois importantes pastores da IPI, Revs. Daily Resende França e João Euclides Pereira, em grave acidente automobilístico. À época, o Rev. Daily era o presidente do Supremo Concílio, atual Assembléia Geral. Com isso, ela chamava a atenção dos jovens para as questões nacionais da igreja, nós que tínhamos a tendência de viver fechados em nosso mundinho em plena época do regime ditatorial implantado em 1964 pelos militares. Falar de Dona Rachel seria lembrar de sua liderança junto à SAS (Sociedade Auxiliadora de Senhoras) e também de seu trabalho à frente da Confederação Nacional de Senhoras da IPI do Brasil. Seria recordar de seu trabalho à frente da Mesa Diaconal, diaconisa que era - e brilhante! - nos tempos em que ainda não se ordenavam mulheres ao presbiterato. Seria destacar que seu trabalho como diretora de escola pública estadual em São Paulo, sempre com grande competência, era uma extensão do ministério que exercia na igreja. Seria dar destaque ao cuidado e preocupação que tinha para com todos, inclusive hospedando em sua casa muitos pastores e missionários, dedicando a eles, sempre, as melhores das atenções. Dona Rachel não se encaixa, assim, no estereótipo de “mulher de pastor”, de colaboradora eficiente, embora o fosse, indubitavelmente. Ela sempre se destacou por ter luz própria, por sua força moral e espiritual, por seu jeito particular de ser e de atuar. Daí seu grande trabalho, em Cornélio Procópio, PR, no Cambuci, na Vila Moinho Velho e Vila Dom Pedro, por onde passou e deixou as marcas de sua vida inspiradora. Lamentei muito não poder ter ido às cerimônias de seu sepultamento, por me encontrar adoentado. E por não poder comparecer ao culto memorial de louvor a Deus, por estar me despedindo da minha filha mais velha, que mudou para outro país. Meu coração, no entanto, está honrado por ter podido conhecer e conviver com essa extraordinária mulher - Rachel Hein Ribeiro nossa “Dona Rachel”, que vive intensamente em nossa memória. Bem aventurados somos nós que, em breve, também estaremos outra vez junto dela, provando eternamente da presença de nosso querido Mestre Jesus Cristo! A memória do justo é eterna! O Rev. Éber é pastor jubilado da IPI do Brasil

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Homenagem a Rachel Hein Ribeiro DICLA BORGES MENDES

Rachel não construiu seu futuro sobre a areia Nem ideais em terreno arenoso. Seriam sonhos que não resistem às “cheias”, Sem fundamento; algo muito perigoso... Fundamentou os sonhos, na Rocha que é Jesus. Como reforço, o cimento da “verdade” E sinceridade, trabalhando fez jus A uma existência útil, em simplicidade. Firmou sua vida na Palavra do Senhor, Mesmo vindo impiedosa tempestade, A converteu em meio unificador. Experimentou com autenticidade A alegria do amor vitalizador Da vida em Cristo, com paz, fidelidade...

Ele não tem prazer na morte do pecador, mas quer que se convertam e recebam a “vida eterna”. Para isso, providenciou salvação e justificação em Jesus Cristo (Rm 5.1). Justificação é uma palavra traduzida do grego que significa absolver ou ser declarado justo. A lei não serve para justificar o pecador, mas para expor seus pecados; por isso, Deus enviou seu Filho para morrer no lugar do pecador e justificá-lo, declarando-o justo mediante a fé em Jesus. Assim, quando alguém faz como nossa irmã Rachel fez, crê em Jesus e o recebe como Salvador e Senhor, é justificado pela fé. Desse modo Deus demonstra que é tanto juiz como nosso justificador (Rm 3.26). Daí em diante, a morte, que para o descrente é uma tragédia, para o justo é bem diferente e enfrentada sem medo (Sl 23.4). A morte passa a ser grande ganho (Fl 1.21). É lucro

porque sabe que será vivificado em Cristo, que é a fonte da vida. É, ainda, verdadeiro descanso (Ap 14.13). Além do descanso, ainda receberá a recompensa pelo trabalho cristão, o galardão. Por tudo isto, “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos”. Assim podemos exclamar como Paulo: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó morte, a tua vitória?”. Finalmente, lembremos a preciosa promessa de que “o próprio Deus estará com eles e enxugará dos seus olhos toda lágrima, quando não haverá mais dor nem morte, nem tristeza nem choro; porque as coisas velhas já passaram e tudo se fez novo” (Ap 21.3-4). A morte foi vencida! Cremos, e assim aguardamos, porque esta é a Palavra de Deus. “Glória, pois, a Ele eternamente!” Amém. A Presba Dicla é membro da 4ª IPI Sorocaba, SP

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Dicla trabalhou com D. Rachel durante muitos anos na IPI do Brasil

Dona Rachel. Que mulher! Um exemplo de serva de Deus fiel e dedicada.

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HOMENAGEM

Nasci nessa,

nessa eu morro

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ANTENILDO CORRÊA DA SILVA

P

Antero e Ametista, um casal como os demais casais, tiveram seus dias de acertos e desacertos. O que os diferencia é a firmeza e perseverança na caminhada ao lado do Senhor, nosso Deus.

or muitos anos, essa foi a frase usada na juventude por Antero Soares da Silva para resistir aos convites de Ametista Corrêa da Silva, uma bonita jovem que ele conheceu numa tarde de domingo, à beira de um campo de futebol, em 1945. Ela, aos 14 anos de idade, já tinha em seu coração as sementes do evangelho semeadas por seus pais, oriundos da Igreja Batista. Por ter viva a chama do evangelho no coração, ela convidava-o para participar dos cultos na igrejinha simples do interior onde morava e sua resposta era sempre a frase: “nasci nessa e nessa eu morro,” referindo-se à Igreja Católica Romana. Apesar da fé inabalável em Deus e de conhecer as recomendações do apóstolo Paulo de que “não há comunhão das trevas com a luz”, Ametista decidiu casar-se com o jovem teimoso e de coração duro ao evangelho. A decisão custou-lhe a árdua missão de orar pela conversão do marido por mais de 10 anos e enfrentar alguns banhos noturnos de chuva ao retornar dos cultos e encontrar a porta de casa fechada por dentro, mesmo acompanhada dos dois filhos. Era uma forma de desmotivá-la e fazê-la desistir da caminhada cristã. Quanto mais ele resistia, mais ela colocava os joelhos no chão. Numa memorável noite, em uma das viagens missionárias do grande e saudoso servo de Deus Rev. Mário de Abreu Alvarenga, após a procla-

mação da mensagem e tocado pelo poder do Espírito Santo, o jovem de coração duro se entregou ao Deus Todo Poderoso. Uma nova vida surgiu. A família continuou aumentando e o casal resolveu mudar para a capital, Manaus. Por conhecerem o Rev. Mário, procuraram a 1ª IPI, que estava recém organizada. Tornaram-se membros atuantes e terminaram de criar os 7 filhos: 4 mulheres e 3 homens. Com a necessidade de aumentar a renda da família, durante 25 anos foram zeladores daquela igreja. Hoje, aos 94 anos, Antero continua freqüentando os cultos dominicais noturnos. Ametista é diaconisa emérita, ministério que exerceu com amor e dedicação por mais de 30 anos. Aos 80 anos, ela continua a ser um dos sustentáculos da igreja e da família em oração. Uma mulher de luta e fibra, que é exemplo para todos com o seu testemunho de uma fé inabalável em Deus. Muitas vezes, quando menino, via-a de joelhos, ao pé da cama, orando pela igreja e por nós, seus filhos. Antero e Ametista, um casal como os demais casais, tiveram seus dias de acertos e desacertos. O que os diferencia é a firmeza e perseverança na caminhada ao lado do Senhor, nosso Deus. Hoje, podem dizer como o apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé”.

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O Presb. Antenildo, filho do casal, é membro da IPI Coroado, Manaus, AM

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31 DE JULHO

31 de Julho ADOLPHO MACHADO CORRÊA

Em meio ao clamor vigoroso e constante De vozes ungidas de zelo e temor, Visando a pureza da fé triunfante, Nasceste, ó igreja, honrando ao Senhor. Por graça dos céus, um caminho de glória Abriu-se a teus pés, para a grande missão De alçar por Jesus de vitória em vitória, O seu Estandarte de paz e perdão. Fiel aos princípios do mestre bendito, Aos homens pregando o mais alto ideal, Proclamas com gozo profundo e infinito A graça de Cristo, perfeita e real. Avante, ó igreja, que esplêndida messe Se estende aos teus olhos, em busca dos céus. Que o santo labor desta ceifa não cesse, Trinta e um de Julho, mil graças a Deus. O Rev. Adolpho, de saudosa memória, foi ministro da IPI do Brasil e professor do Seminário Teológico de São Paulo (Colaboração de Vicente de Souza Sobrinho, da IPI de Cidade Patriarca, São Paulo, SP)

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PELO SECRETÁRIO DE LITURGIA EL ABORADA IPI DO BRASIL, DA MÚSICA E LITURGIA PEREIRA DOS REIS DO AR RIC REV. EMERSON

Liturgia para a Celebração do “31

de Julho”

108º aniversário de organização da IPI do Brasil

“No Correr da História Revelando Teu Amor” - Prelúdio (silêncio e oração) - Saudação e Acolhida - Chamada à Adoração (Breve Catecismo de Westminster – Pergunta 1; Salmo 73.25-26; Filipenses 4.4; Romanos 11.36) Oficiante: Qual é o nosso fim principal? Povo: O nosso fim principal é glorificar a Deus e nele ter prazer para todo o sempre. Oficiante: Quem mais temos no céu? Não há outro, que nos dê mais alegria, na terra. Povo: Ainda que a nossa carne e o nosso coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do nosso coração, e a nossa herança para sempre! Oficiante: Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, alegrai-vos! Povo: Porque dele e por meio dele e para ele são todas as coisas. A Deus, pois, a glória eternamente. Amém. - Cântico: “Vem e Sopra Sobre Nós” (CTP, 9) - Oração de Adoração - Ato de Confissão de Pecados Oficiante: A IPI do Brasil é um ramo da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso deve ser um lugar de fé, de esperança, de amor, de refrigério, de cura, de justiça, de serviço, de perdão, de vida. Todos: Sabemos, ó Deus, que o justo vive pela fé. Em um mundo que não deposita confiança em tuas promessas, nossa Igreja nem sempre tem sido um lugar de fé. Homens: Sabemos, ó Deus, que fomos regenerados para uma viva esperança. Em um mundo desesperado, nossa Igreja nem sempre tem sido um lugar de esperança. Mulheres: Sabemos, ó Deus, que te amamos porque o Senhor nos amou primeiro. Em um mundo sem caridade, nossa Igreja nem sempre tem sido um lugar de amor.

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Adultos: Sabemos, ó Deus, que tu és o Pastor que refrigera a nossa alma. Em um mundo ressecado, deserto e sem vida, nossa Igreja nem sempre tem sido um lugar de tranqüilidade, alívio, descanso e refrigério. Crianças, Adolescentes e Jovens: Sabemos, ó Deus, que tu és o Médico dos que estão doentes. Em um mundo ferido e enfermo, nossa Igreja nem sempre tem sido um lugar de cura. Oficiante: Sabemos, ó Deus, que o Senhor nos guia pelas veredas da justiça. Em mundo cheio de injustiças, nossa Igreja nem sempre tem sido um lugar de justiça. Homens: Sabemos, ó Deus, que em Cristo Jesus tu assumiste a forma de Servo. Em mundo tão carente, nossa Igreja nem sempre tem sido um lugar de serviço. Mulheres: Sabemos, ó Deus, que contigo está a graça e a misericórdia. Em mundo dividido por discórdias, nossa Igreja nem sempre tem sido um lugar de perdão. Todos: Sabemos, ó Deus, que tu enviaste Jesus para que todos tenham vida e vida em abundância. Em um mundo rodeado pela morte e que parece não ter respeito pelas obras do Deus Criador, nossa Igreja nem sempre tem sido um lugar de vida. - Confissão Silenciosa - Cântico: “Cordeiro de Deus” (CTP, 470) - Declaração de Perdão (Miquéias 7.18-19) Oficiante: Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Povo: Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniqüidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar. Oficiante: Em nome de Jesus Cristo, somos perdoados. - Cântico: “Cantai a Cristo” (CTP, 93)

“Meus Olhos Vem Abrir, Pois Quero Ver” - Acolhendo a Palavra de Deus (Breve Catecismo de Westminster – Perguntas 89 e 90) Oficiante: Como se torna a Palavra eficaz para a nossa salvação? Povo: O Espírito de Deus torna a leitura e, especialmente, a pregação da Palavra meios eficazes para nos convencer e converter, para nos

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edificar em santidade e conforto, por meio da fé, para a salvação. Oficiante: Como é que devemos ouvir a Palavra de Deus, a fim de que ela se torne eficaz para a nossa salvação? Povo: Para que a Palavra se torne eficaz para a nossa salvação, devemos ouvi-la com diligência, preparação e oração; recebê-la com fé e amor; guardá-la em nosso coração e praticá-la em nossa vida. - Oração por Iluminação (cantada): “Invocação para a Leitura Bíblica” (CTP, 100 – 1ª estrofe) - Leitura das Sagradas Escrituras - Cântico: “Louvemos Todos Juntos” (CTP, 482) - Proclamação da Palavra - Declaração de Fé (Formulada pelo Sínodo da IPI do Brasil, em 1938, e adotada oficialmente pela Assembléia Geral da IPI do Brasil, em 2009) Todos: Cremos no Deus trino, Pai, Filho e Espírito Santo. Cremos na revelação de Deus nas Escrituras Sagradas e, por excelência, mediante o Verbo, que se encarnou. Cremos na maldade do pecado universal, no livramento do seu domínio, e na necessidade do perdão. Cremos na justiça divina, que condena os ímpios, e na misericórdia de Deus, que concede bem-aventurança na companhia do Senhor. Cremos na soberania de Deus, que cumpre o seu plano eterno, sem destruir a liberdade das pessoas. Cremos na obra redentora que Jesus Cristo realizou por sua vida, morte e ressurreição. Cremos na obra do Espírito Santo, que regenera, desperta a fé, justifica e progressivamente santifica. Cremos em uma só Igreja de Jesus Cristo, universal na sua fé e missão em todo o tempo e lugar; e no sagrado dever da unidade cristã e do amor fraterno. Cremos na comunhão com Deus por Cristo, o único Mediador; e na eficácia da Palavra lida e pregada, da oração, do batismo e da ceia do Senhor, como meios de graça. Cremos na necessidade de uma vida consagrada à glória de Deus e ao serviço do próximo, para a extensão do Reino e o predomínio da paz e da fraternidade humana. Amém. - Recepção de Novos Membros (Batismo, Profissão de Fé, outros) - Orações de Intercessão e Súplica * Oremos pela nossa Pátria * Oremos pela nossa Igreja e sua missão no Brasil - Coleta Especial do “31 de Julho”

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Oficiante: A Igreja Presbiteriana Independente do Brasil foi a primeira igreja protestante genuinamente brasileira, pois foi primeira a manterse financeiramente sem a ajuda de recursos estrangeiros. Desde 1904, levantamos uma Coleta Especial no “31 de Julho”, coleta de gratidão a Deus pela existência de nossa igreja; coleta que expressa a vida de uma igreja com poucos recursos, mas que vence desafios, amparada pela graça de Deus. Louvemos ao Senhor, que nos tem sustentado há 108 anos. - Cântico: “Chuvas de Bênçãos” (CTP, 234) - Oração de Dedicação

“Cristo Vivo Está! Ele o Pão Dará!” - Preparação para a Ceia (Catecismo Maior de Westminster – Pergunta 168) Oficiante: Que é a Ceia do Senhor? Povo: A Ceia do Senhor é um Sacramento do Novo Testamento, no qual, ao darmos e ao recebermos pão e vinho, conforme Cristo ordenou, proclamamos a sua morte, até que ele venha. Oficiante: Quais são os benefícios da Ceia do Senhor? Povo: Ao participarmos dignamente da Ceia do Senhor, alimentamo-nos do seu corpo e do seu sangue para nosso sustento espiritual e nosso crescimento na graça. Confirmamos nossa união e comunhão com Cristo, testemunhamos nossa gratidão a Deus, e renovamos nosso pacto com ele e nosso amor e comunhão uns com os outros, como membros do mesmo Corpo Místico. - Convite à Mesa do Senhor - Oração Eucarística Ministro: O Senhor esteja com os irmãos e as irmãs. Povo: E também com o irmão. Ministro: Elevemos o coração a Deus. Povo: Ao Senhor o elevamos. Ministro: Rendamos graças ao Senhor, nosso Deus. Povo: É justo, bom e belo louvar a Deus e renderlhe graças. Ministro: Senhor, nós te adoramos e rendemos graças. Tu és o Deus Todo-Poderoso, cuidador do universo e de nossas vidas. Nós te louvamos porque tu nos deste Jesus Cristo, que viveu, morreu e ressuscitou para que tenhamos paz e vida plena. Povo: Lembramos a sua morte. Proclamamos a sua ressurreição. Aguardamos a sua vinda

gloriosa. Ministro: Nós te damos graças, Senhor, porque, pela fé e pela ação do Espírito Santo, somos alimentados pelo corpo e pelo sangue de Jesus, através da participação nesta mesa. Nesta hora, mais uma vez nós suplicamos, ó Deus: derrama sobre nós o teu Espírito e permite que este alimento espiritual seja para nós a comunhão do corpo e sangue de nosso Senhor, a fim de que sejamos unidos a ele e ele conosco. Recebe, pois a nossa gratidão, Senhor, por nos receberes à tua presença, por nos acolheres à tua mesa e por nos julgares dignos de te servir na Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Todos: A ti, Senhor, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, seja toda a glória, hoje e para sempre. Amém! - Oração do Pai Nosso - Palavras da Instituição da Ceia (1Coríntios 11.23-26) - O Partir do Pão - Cântico: “Vamos Vozes e Dons Usar” (CTP, 310) - Comunhão do Povo de Deus - Saudação da Paz

“Por Cristo Prontos a Sofrer!” - Envio (Rev. Eduardo Carlos Pereira – texto de agosto de 1918) Oficiante: Amados irmãos, hoje, como ontem, como sempre, seja bendito o Deus de nossas esperanças, sob cuja proteção celebramos, nesta data, o aniversário de independência espiritual e financeira de nossa denominação eclesiástica. É nossa missão no Brasil levantar Cristo crucificado. Somos, como todas as igrejas evangélicas, testemunhas do poder da cruz, da suficiência de Cristo crucificado para libertar o ser humano legal, moral e espiritualmente. Temos uma missão gloriosa a cumprir nesta terra – uma missão patriótica e humanitária. Povo: Com a graça do Senhor, iremos cumpri-la, saindo vencedores de todos os empecilhos que se opõem à nossa marcha. A obra não se pode desvanecer – é de Cristo. Oficiante: Há nuvens negras no horizonte? Elas se dissiparão a nossos olhos, como muitas vezes tem sucedido. Confiemos no Senhor. Todos: Pela Coroa Real do Salvador! - Hino Oficial da IPI do Brasil: “O Pendão Real” (CTP, 412) - Bênção - Cântico: “Amém, Aleluia” (CTP, 437) - Poslúdio (silêncio e oração)

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DIA DO PASTOR E DA PASTORA

Como está o

coração do pastor pastora? ou da

PROJETO SEMEANDO Laercio Borsato

A voz do Senhor em presságio me disse Que me espelhasse em seus escolhidos: Pontes de amizade e amor construísse, Para resgatar, mormente, os perdidos! Se preciso fosse, pra longe partisse, Deixando pra trás pedestais construídos; Com carinho e zelo na Bíblia revisse Como seus apóstolos foram atraídos. Quando vem à tona nossa consciência, Vemos com clareza nossa displicência, Pois, nessa missão, quase estamos parando! Mas é necessário erigir a bandeira, Aqui nesta igreja e na nação brasileira, Pra atingir o alvo: o projeto SEMEANDO! O Laercio é membro da 1ª IPI de Poços de Caldas, MG

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O pastor cuida das ovelhas com dedicação, respeito e amor, mas descuida de si mesmo.

VALDEMAR DE SOUZA

O pastor e a pastora merecem nesse dia especial os sinceros cumprimentos de todos os membros da IPI do Brasil. Aproveito este espaço para levantar uma questão importante: Como está o coração do pastor ou da pastora? Antes de tudo, temos que entender a palavra “coração”, muitíssimo usada nas traduções e versões do texto bíblico. Coração é o vocábulo mais completo para indicar as faculdades humanas, como: os sentimentos, a vontade e o intelecto. É uma palavra especialmente usada para identificar o ser humano interior, o ser humano essencial. É no coração onde são definidas as motivações e desenvolvidas as maiores experiências existenciais. Assim, podemos dizer que o coração do pastor é o centro de todas as suas motivações ministeriais. Se, por um lado, o coração do pastor bate apaixonado por tudo o que o envolve no seu cuidado com as ovelhas, por outro, para sermos bem econômicos, dizemos que esse coração não está tão bem. É verdade que a consciência do chamado o faz sempre motivado e determinado a se doar, visando cumprir a vontade daquele que o chamou. Para isto, se necessário, sacrifica a si mesmo e a sua família pela nobre causa. Pensa e sente como o apóstolo João, quando disse: “Não tenho maior alegria do que esta: a de ouvir que os meus filhos andam na verdade” (3Jo 4). A sua realização pessoal está em vidas salvas e bem cuidadas. Tive o privilégio de ouvir o saudoso Rev. Sherlock Nogueira dizer, com muita convicção, na altura dos seus 44 anos de ministério: “Apesar das lutas, se eu tivesse de voltar 50 anos atrás e escolher novamente, a minha decisão, com certeza, seria ser pastor”. Portanto, não podemos ter uma visão romântica do pastorado. Quantas lutas! Quantas noites sem dormir! Quantas adversidades! Neste sentido, temos de admitir que este momento, marcado pela pós-modernidade, tem se constituído em um dos mais adversos da história, quando se pensa em um pastorado sério e comprometido com os princípios da Palavra e com a vocação. Eugene Peterson, escritor e pastor, disse: “Às vezes, reduzem-nos a profissionais simpáticos, e transformam-nos em réplicas de nossos líderes políticos e culturais, que procuram o poder, a influência e o prestígio”. Uma visão secular e corporativa tem gerado uma expectativa equivocada do ministério pastoral. Assim, pastores e líderes, pensando pragmaticamente, bus-

cam alcançar resultados práticos, mensuráveis, com metas definidas. Os pastores são chamados para cuidar das vidas que o Senhor Deus lhe confiou, fazendo-o sempre com a sabedoria e unção do Espírito Santo. Qualquer outra motivação descaracterizará o seu ministério. Outro ponto importante a considerar tem a ver com a saúde, sobretudo espiritual, do pastor. De maneira geral, ele cuida das ovelhas com dedicação, respeito e amor, mas descuida de si mesmo. Sente necessidade de se abrir para alguém, mas não tem a quem recorrer. Por outro lado, nos seus momentos de crise, não confia os seus problemas pessoais, as suas dúvidas e conflitos a ninguém. Na verdade, esquece-se que é também uma ovelha que precisa ser pastoreada por alguém. Aplicando as sábias palavras de Jesus, podemos afirmar que muitos desses são como “ovelhas que não tem pastor”. Por isso, ficam “aflitas e exaustas” (Mt 9.36). Mas também: “A boca fala do que está cheio o coração” (Mt 12.34). Ora, como um pastor pode oferecer atenção, motivação, direção e alimento consistente às suas ovelhas, se o seu coração está vazio, machucado ou confuso? É possível o pastor reverter essas situações? Como ser relevante neste momento histórico? Parece-me oportuna a exortação do apóstolo Paulo para responder a essas questões. Disse ele: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At 20.28). Com o apóstolo aprendemos que: • a) O rebanho, alvo do pastoreio, pertence a Deus; são vidas resgatadas e salvas por Ele e que precisam de cuidado; • b) Para o cumprimento desta tarefa, requer-se que o pastor esteja devidamente preparado, atualizado, comprometido, relevante, cheio do Espírito Santo para responder às demandas ministeriais; • c) O propósito do ministério é corresponder ao chamado de Deus. A Secretaria Pastoral, ao cumprimentar os queridos pastores e pastoras de todo o arraial presbiteriano independente, do recém-ordenado ao jubilado mais idoso, deseja e ora para que sejam abençoados e abençoadores na obra do Senhor.

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O Rev. Valdemar, pastor da 1ª IPI de Campinas, SP, é secretário pastoral da IPI do Brasil

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AÇÃO SOCIAL

LHO DE JU ÁCONO,

I DIA DO D ISA E DA ON DA DIAC OCIAL DA AÇÃO S JA IGRE

1923 Foi organizado o Orfanato Bethel, pelo Rev. Otoniel Mota

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Dia do Diácono, da Diaconisa e da Ação Social da Igreja DOUGLAS ALBERTO DOS SANTOS

Ampliando o conceito de diaconia

“Diaconia” é um substantivo de origem grega que significa “serviço”. Diakonia se refere ao cargo e trabalho de um diakonos (servo, servidor). Este substantivo é usado 34 vezes no Novo Testamento de diferentes maneiras, e em diferentes contextos e sentidos. Este serviço, no qual as forças e os bens são investidos a favor dos outros, se revela como o elemento fundamental para a manutenção da comunhão (“koinonia”). Há também o verbo “diakonêin” que significa “servir”, “ser servo”, “ser assistente”, “esperar em”, “ministrar, prestar qualquer tipo de serviço”. Este verbo recebe seu sentido

neo-testamentário da pessoa de Jesus Cristo e do seu evangelho. Jesus é aquele que nos serviu da maneira mais profunda e intensa possível, não procurando interesses pessoais, mas dando sua vida pela nossa salvação. Entendemos melhor quando ele disse: “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.45). “Servir” se tornou a palavra que caracteriza as ações e as obras de amor que, brotando do amor de Deus, alcançam o próximo. Nosso desejo é que todos os cristãos sejam diáconos de Jesus Cristo e que esse verbo seja conjugado diariamente em ações práticas de serviço a Deus, redundando em benefício ao nosso próximo, indistintamente. O substantivo grego “diákonos”,

que significa “servo”, “servidor”, “assistente”, “auxiliar”, se refere ao “criado”, àquele que faz trabalhos servis ou o ajudante que presta serviços voluntários, sem referência particular ao seu caráter. Aparece 29 vezes no Novo Testamento e deve ser distinguido do termo grego “doulos”, que significa “servo”, “escravo”. O diácono está envolvido na tarefa de servir amorosamente à igreja, aos irmãos e às pessoas. Um exemplo disso encontramos em 1 Pe 4.10-11: “Servi [diakoneo – verbo] uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve [diakoneo – verbo], faça-o na força que Deus supre”. O diácono e a diaconisa são os

Uma igreja diaconal A IPI do Brasil nasceu diaconal. Inicialmente na pessoa de um de seus fundadores, o Rev. Otoniel Mota, que serviu de inspiração para o compromisso social na fundação da IPI do Brasil, em 1903. Foi graças a seu esforço e visão sócio-diaconal que foi organizado o Orfanato Bethel, em 1923. Também foi o Rev. Otoniel quem deu início à “Vila Samaritana”, para tratamento dos tuberculosos, em Campos do Jordão, a qual se ampliou e se transformou na Associação Evangélica Beneficente, em 1930. Muitos outros nomes nessa época se destacaram pelo trabalho de assistência social,

educação e cultura, como, por exemplo, o Rev. Eduardo Carlos Pereira de Magalhães, que dedicou a sua vida à pregação do evangelho e se preocupava com a missão integral da igreja. Inclusive, o Rev. Eduardo realizou um excelente trabalho entre os escravos. A IPI do Brasil, através do trabalho leigo, desenvolveu um belíssimo ministério diaconal em todas as suas áreas: varonis, senhoras, mocidade e juvenis. O ministério diaconal existe nas igrejas presbiterianas brasileiras desde 1866, mas estava restrito aos homens. A ordenação da primeira diaconisa presbiteriana independente ocorreu em 4/3/1934 e, na ocasião,

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Albina Pires de Camargo

foi eleita a irmã Odette Vieira Reis, da IPI de Marambaia (Bandeira do Sul, MG). Ainda no ano de 1934, a irmã Albina Pires de Camargo também foi ordenada diaconisa, na 1ª IPI de São Paulo, época esta de grande mobilização do movimento leigo na IPI do Brasil.

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agentes da missão diaconal integral. São pessoas que servem de acordo com o dom que receberam. Os diáconos e as diaconisas são agentes que servem a partir do diácono por excelência: Jesus Cristo. O Rev. Adiel Tito de Figueiredo escreveu que “Diáconos e diaconisas são servos de Deus para realizar, em nome da igreja e por ela (dentro e fora), beneficência ou caridade. Foram estabelecidos por Deus para tal ministério” (vocação). Rodolfo Gaede Neto escreveu “Diaconia é ação salvífica de Deus que motiva, a partir da fé, uma ação da igreja em favor de pessoas que se encontram em situação de sofrimento, pobreza e injustiça, ação esta que se dá através da intervenção consciente, da ação social e política, da ajuda, da atuação pelo amor, da aceitação mútua, inteira, libertadora e curativa, visando transformar uma situação de sofrimento ou injustiça, visando que os pobres resolvam seus problemas e visando um estado de justiça”. Diaconia não implica em privilégios ou exclusividade, mas em disponibilidade para servir à comunidade toda, “com vista ao aperfeiçoamento dos santos para desempenho do seu serviço (diakonía), para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.12). Diaconia é serviço, é servir às mesas, é servir a alguém, é servir ao próximo e nunca a si mesmo. É servir com amor, caridade e beneficência. É o que deve ser feito (preferencialmente) em favor do pobre, do necessitado, do excluído. A igreja tem responsabilidade para com os pobres de dentro e fora dela. Alguém já disse que “pregar a existência de um céu para quem tem o estômago faminto não funciona”. Tenho um princípio: para ser pastor, primeiramente, devo ser um diácono e, para ser um diácono, devo ser um cristão. Dentro dessa perspectiva, entendemos que a reflexão sobre os paradigmas diaconais é de extrema relevância para os nossos dias, considerando que Deus, em todas as épocas, tem despertado e vocacionado homens e mulheres para o cuidado e auxílio de seu povo. Precisamos ampliar a nossa visão sobre a abrangência da ação diaconal e veremos que 70 Alvorada

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fazer diaconia (servir), não se limita somente a assistir aos necessitados e excluídos ou a uma função cristã, mas em um modo e jeito de ser da igreja e um estilo de vida do próprio cristão. Deve fazer parte da nossa espiritualidade integral. A mesma mão que se levanta aos céus, enquanto cantamos em adoração a Deus, nos cultos de domingo, deve ser a mesma que se abaixa para levantar o pobre, marginalizado e excluído no dia a dia. Fazer diaconia não é tarefa só dos eleitos (oficiais) para o Ministério de Ação Social e Diaconia, mas de todo o corpo de Cristo, de todo cristão. É oportuno destacar que existem dois grandes ministérios na igreja cristã e especialmente na IPI do Brasil, são eles: o Ministério da Palavra e o Ministério das Mesas ou Serviço (Diaconia). O Ministério da Palavra é a pregação, o ensino e tudo o que diz respeito à Educação Cristã do rebanho. O Ministério das Mesas ou serviço (At 6.2-3), hoje denominado de Ministério de Ação Social e Diaconia, consiste em tudo o que diz respeito à ação social da igreja ou ao

exercício da compaixão e misericórdia. O diaconato, segundo Atos 6.2, é uma vocação e um ministério. Diaconia é missão da igreja como um todo, cabendo aos diáconos e diaconisas (oficiais) a responsabilidade de liderar a igreja e conduzir outros a este ministério.

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Uma igreja com diaconia forte é uma igreja forte O Salmo 46.1-9 fala claramente que Deus é o Senhor que liberta o oprimido e o perseguido, e nos leva a entender que diaconia não é algo que surgiu apenas no Novo Testamento, em Atos 6.1-7, através da instituição dos diáconos. Temos, no Antigo Testamento, exemplos de serviços, quando, por exemplo, os profetas chamaram a atenção dos reis e do povo para atentarem e atenderem aos órfãos, às viúvas e aos pobres, que estavam sendo oprimidos e privados de seus direitos. No Novo Testamento, encontramos Jesus exercitando a “Diaconia do Reino”, o serviço do Reino de Deus. É comum ouvirmos que evangelizar é tarefa de toda a igreja. Um grupo toma a iniciativa, mas todos evangelizam, especialmente através de uma vida coerente e verdadeira. No caso da Diaconia, quem toma a iniciativa de serviço ao próximo é o Ministério Diaconal. Lembramos que nem toda

a igreja é chamada ao compromisso com os empobrecidos e sofredores. A evangelização e a diaconia caminham juntas. Não podemos pregar sem levar em consideração as necessidades daqueles para os quais nós estamos falando. Isso é o que chamamos de evangelho integral, que atende a todas as necessidades humanas. A Secretaria de Diaconia da IPI do Brasil vem desenvolvendo essa conscientização diaconal através de cursos, seminários, simpósios e oficinas de formação e capacitação, proporcionando uma visão e uma compreensão mais ampla a respeito de diaconia. A partir daí, a Diaconia ganhará sua relevância e importância como reflexão crítica sobre aquilo que a igreja faz a serviço de Deus, na realidade humana de injustiça, exclusão e sofrimento. Na Diaconia, a reflexão e a ação se entrelaçam e se complementam, porque a fé leva à ação. O anúncio através da

palavra e o testemunho através das ações se fundem e se complementam. Queremos nesta oportunidade, homenagear todos os diáconos e diaconisas da IPI do Brasil e nos colocar à disposição para trabalharmos juntos, pois juntos vamos mais longe. A todos os cristãos, diáconos e diaconisas, que exercem essa função primordial e indispensável na vida da igreja, os nossos sinceros agradecimentos e o incentivo para que continuem trabalhando na obra de Deus. Deixamos como motivação o texto de 1 Coríntios 15.58: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão”. Deus continue abençoando a todos que servem a Deus e ao próximo, com saúde e entusiasmo. O Rev. Douglas, pastor da IPI de Osvaldo Cruz, é secretário de Diaconia da IPI da Brasil

Fontes: ZEMUNER, Adiloar Franco. Diaconia e Ação Social. Londrina, PR, Seminário sobre Diaconia, Projeto Férias nos Campos, SMI-Projeto Natanael, Julho, 2000. FIGUEIREDO, Adiel Tito de. Diaconia ou Promoção Humana. São Paulo, Pendão Real, 1997, p. 17 e 25. NETO, Rodolfo Gaede. A Diaconia de Jesus – Contribuição para a Fundamentação Teológica da Diaconia na América Latina. São Leopoldo, Sinodal; São Paulo, Centro de Estudos Bíblicos e Paulus Editora, 2001, p.33.

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A VOZ DO CORAÇÃO

A

remuneração do O trabalho voluntário é uma ação de cidadania e solidariedade, que enriquece a vida pessoal de quem o faz, e contribui para a transformação da sociedade.

Ivone visitando uma criança indígena no Centrinho da Missão Evangélica Caiuá

Voluntários distribuindo lanches na Casa Criança Feliz

DE 2AG8 OSTO

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REV. EZEQUIEL LUZ

“Meu coração fica em pedaços diante da situação das crianças do Centrinho (nome dado ao local onde ficam as crianças indígenas subnutridas e abandonadas). O que elas querem é um pouquinho de atenção, de carinho, de amor. Basta um gesto, um afago e elas abrem um sorriso imenso”, disse minha esposa ao voltar de uma visita à Missão Evangélica Caiuá. Ela não é assistente social, nem diaconisa, nem trabalha na Prefeitura Municipal, mas dedica parte do seu tempo para angariar donativos a serem distribuídos às pessoas necessitadas. Não recebe nenhum salário por isso. A remuneração do voluntário é de outra espécie. O trabalho voluntário é uma ação de cidadania e solidariedade, que enriquece a vida pessoal de quem o faz e contribui para a transformação da sociedade. Segundo definição das Nações Unidas, “o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos”. Portanto, ser voluntário é dedicar espontaneamente parte do tempo para trabalhar em prol do bem social e comunitário. Para Antônio Carlos Mesa, contador e segundo tesoureiro da Casa da Esperança, mantida pela Associação Beneficente de Assistência e Recuperação do Dependente Químico, o trabalho voluntário é motivado pelo amor ao próximo. Ele realiza toda a parte contábil da entidade, dedicando uma hora por dia em seu próprio escritório e uma vez por semana trabalhando na entidade. Segundo Mesa, o grande beneficiado é o próprio voluntário. Ao contribuir para que uma pessoa que estava no fundo do poço recupere a sua auto-estima, sente-se um ser humano muito melhor. Esta é também a opinião de Edmilson de Souza Osório, diretor da Casa Criança Feliz. Para ele, “setenta por cento do benefício do trabalho voluntário fica com quem realiza e trinta por cento com a criança que o recebe”. Afirma ainda que a instituição é enriquecida não somente com a economia financeira que o trabalho voluntário produz, mas principalmente com a alegria estampada no rosto

das crianças e com a percepção de que os voluntários se transformam em pessoas mais humanas. O trabalho voluntário gera uma realização pessoal, um bem estar interior originado pelo prazer de servir a quem precisa. É um sentimento de amor ao próximo e solidariedade aliado à importância de sentir-se socialmente útil. Existem críticas ao trabalho voluntário. Alguns entendem que a ONU, ao conclamar pessoas a realizarem tarefas de maneira depreendida, está, na verdade, maquiando a incompetência do Estado e tirando a oportunidade de emprego dos desempregados. Mas, mesmo assim, o ganho social é inegável. A sociedade reconhece o voluntário como uma pessoa confiável. Alguém que pode ser procurado em momentos difíceis. Mesa conta que, várias vezes, foi procurado para ajudar famílias que possuem algum dependente químico. Também o voluntário se firma como um cidadão responsável e disposto a lutar pelo bem estar de toda a comunidade. O grande exemplo é o de Jesus Cristo. Ele doou sua vida em favor do ser humano com a intenção de salvá-lo da tirania do egoísmo. Por isso, os cristãos devem seguir o Mestre, sendo voluntários. Não é preciso ser especialista em algum assunto e nem disponibilizar de muito tempo para essa atividade. Basta ter interesse em ajudar o próximo. Há muitas formas de participar. Colaborando com algum departamento interno da igreja, doando sangue, auxiliando alguma instituição social, cooperando com uma escola pública, visitando enfermos em um hospital. A remuneração é a satisfação interior de sentir-se útil e o prazer de ajudar o próximo, a comunidade, a igreja e a sociedade a serem melhores. No dia 28 de agosto, comemora-se o Dia Nacional do Voluntário. Vamos prestar nossa homenagem a esses homens, mulheres, jovens que dedicam tempo e talento na realização de um trabalho solidário. A todos que trabalham na igreja, no hospital, na organização de assistência social, na escola pública, tão somente pela alegria de ajudar o próximo, manifestamos o nosso profundo respeito. Vocês são o reflexo do grande amor de Deus revelado em Jesus Cristo. O Rev. Ezequiel é pastor da Congregação Presbiterial de Dourados, MS

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PRESBITERIANISMO

O Presbiterianismo

Brasileiro

Da história que herdamos para uma reflexão sobre o legado que deixaremos

WELLINGTON BARBOSA CAMARGO

A implantação, a consolidação e a influência do protestantismo brasileiro têm sido objeto de estudo de muitos historiadores e pensadores. Entretanto, não é pequena a tarefa para uma reflexão sobre os desafios presentes e futuros de como continuarmos sendo efetivamente sal e luz em nossa nação. Ao observar a obra literária, teses de mestrado e doutorado, artigos e publicações sobre o presbiterianismo brasileiro, conseguimos grande inspiração a partir do ministério sério, comprometido e relevante desenvolvido ao longo desses 152 anos, desde a chegada do pioneiro, o Rev. Ashbel Green Simonton, em 12 de agosto de 1859.

Rev. Simonton, pioneiro, visionário e autor de um profícuo ministério de oito anos de serviços no Brasil, até sua morte em 1867.

Família presbiteriana

Igrejas Presbiterianas IPB

Igreja Presbiteriana do Brasil

IPIB

Igreja Presbiteriana Independente do Brasil

IPU

Igreja Presbiteriana Unida

IPF

Igreja Presbiteriana Fundamentalista

IPC

Igreja Presbiteriana Conservadora

IPR

Igreja Presbiteriana Renovada

Temos aprendido a viver a unidade em meio à nossa própria diversidade. 74 Alvorada

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A família presbiteriana brasileira, dentre outras que, segundo o IBGE, pertencem a um grupo religioso formado por 0,5% da população brasileira, certamente com marcante e saudável presença em algumas cidades através de seus templos, projetos educacionais e sociais com crianças, idosos, enfermos, menos favorecidos socialmente, dentre outros. São muitos os bons exemplos pelo Brasil afora. Entretanto, muitos têm dito que a família presbiteriana brasileira, por não conseguir obter um crescimento numérico nos mesmos índices de outros evangélicos no Brasil, de uma forma geral, está com problemas. Para aqueles que dizem conhecer o cenário religioso evangélico brasileiro, somos considerados como uma igreja bíblica e comprometida com o Reino de Deus.

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É preciso lembrar que essa data não é o primeiro registro na história de nosso país sobre o trabalho missionário reformado. Resgatar a história do protestantismo no Brasil permite uma compreensão melhor do nascedouro do presbiterianismo no Brasil. É importante conhecer e lembrar a inspiradora obra do Rev. Simonton, pioneiro, visionário e autor de um profícuo ministério de oito anos de serviços no Brasil, até sua morte em 1867. Fruto de sua abnegação e empenho, explicitado pelo aprendizado rápido da fala e da escrita em português, recebeu por profissão de fé dezenas de pessoas a cada ano de seu trabalho. Organizou em 12/1/1862 a primeira Igreja Presbiteriana do Brasil, conhecida atualmente como a Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro. Organizou a primeira escola confessional, o primeiro jornal evangéli-

co, o primeiro presbitério do Brasil, fundou o primeiro seminário teológico do Brasil, dentre outras contribuições significativas. A esse trabalho somou-se o de vários outros pastores e missionários presbiterianos, organizando dezenas de igrejas e fundando mais de 20 escolas nas primeiras décadas de trabalho em solo brasileiro. Seguindo a tradição reformada de criar instituições de ensino de excelência, como a fundação de Harvard (Massachusetts - 1636), Yale (Connecticut - 1701) e Princeton (New Jersey - 1746), no Brasil, como herança do presbiterianismo, temos a Universidade Presbiteriana Mackenzie (fundada em 1870). Além dessa universidade, esparramam-se pelo solo brasileiro centenas de escolas presbiterianas de educação infantil e ensino fundamental, sem contabilizar as que não são ligadas à família presbiteriana, mas

Principais escolas de tradição reformada HARVARD

Massachusetts (1636)

YALE

Connecticut (1701)

PRINCETON

New Jersey (1746)

MACKENZIE

São Paulo (1870)

da população brasileira pertence ao grupo religioso de formação presbiteriana

O prebiterianismo no Brasil O primeiro culto reformado, com celebração da ceia, aconteceu em 21/3/1557, dois anos após a incursão de Nicolau Durand de Villegaignon. Foi marcado pela presença dos pastores calvinistas/reformados Revs. Pierre Richier e Guillaume Chartier, também por outros 280 homens, além de mulheres e crianças. Nessa oportunidade, João Calvino havia enviado cartas de recomendação aos pastores para que aqui também fosse implantada a mesma disciplina existente em Genebra. Havia o desejo de se fundar, no Rio, um lugar neutro, tal qual a Suíça, para outros protestantes que estavam fugindo das violentas guerras religiosas desse triste período da história cristã européia. Esse curto primeiro capítulo do protestantismo brasileiro foi encerrado 7 meses depois pela expulsão dos franceses do Rio de Janeiro. Um segundo registro da presença de reformados em terras brasileiras se dá com a intenção políticoeconômica holandesa de estabelecer uma colônia, primeiramente em 1624, na Bahia, e logo depois, de 1630 até 1654, em Pernambuco. Há registros históricos interessantes no período do príncipe Maurício de Nassau como a realização de cultos dominicais, evangelização de índios, impressão de catecismo em holandês, português e tupi, além de ações sociais ligadas à área da saúde e educação direcionadas aos menos favorecidos. Dessas anotações se destacam também importantes obras de urbanismo em Recife que, com a expulsão dos holandeses, encerra o segundo curto capítulo. Com a vinda de Dom João VI, em 1808, para o Brasil e a transferência do estado português para a então colônia, e com o Tratado de Comércio (19/2/1810) entre Portugal e Inglaterra, surge a possibilidade da vinda de outros cristãos não romanos para o Brasil com os ingleses – os anglicanos. Pouco tempo depois, em 1922, o Brasil torna-se independente, e o culto e a mensagem protestante começaram a aportar em definitivo em nossa pátria. Em 1824, com a chegada dos imigrantes luteranos ao Rio Grande do Sul, seguida, em 1836, pela tentativa metodista de se estabelecer no Rio de Janeiro, com o Rev. James Spaulding. Em 1855, destaca-se o importante trabalho do Rev. Dr. Robert Reid Kalley e o surgimento da Igreja Evangélica Fluminense.

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2 1 O E AGOST

D

DIA DO

ISMO

ERIAN T I B S E R P

Nós, presbiterianos brasileiros, temos reais condições de contribuir para a construção de um Brasil melhor. Temos condições de proclamar o evangelho para a conversão de muitos para Jesus, mas, para isso, precisamos ter a coragem e a lembrança de que a Igreja Reformada está sempre se reformando.

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que adotaram o sistema de ensino Mackenzie, marcado pelo compromisso com a excelência na questão pedagógica e na preocupação com valores bíblicos cristãos reformados. Como família presbiteriana, apesar de algumas tensões internas, temos aprendido a viver a unidade em meio à nossa própria diversidade. Evidentemente, temos de aceitar a crítica de que nossa presença em solo brasileiro, ao longo dessas 15 décadas, poderia ser mais efetiva e mais relevante, não só no contexto evangélico, como da sociedade brasileira como um todo. Na grande maioria das cidades, as igrejas e presbitérios presbiterianos não acompanham o crescimento populacional e há algumas situações de decréscimo, tanto em grandes centros, como São Paulo, como em cidades do interior do país. Urge refletirmos sobre essa eventual necessidade de uma “Nova Reforma”, com a mesma ênfase no resgate das verdades essenciais da Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, com a preocupação de uma forma e uma linguagem mais apropriada ao nosso tempo. As instituições humanas precisam se reinventar ao longo do tempo para sobreviver. A igreja, enquanto corpo de Cristo, precisa se manter fiel ao próprio Senhor da Igreja. Por mais assustador que seja, sabemos que templos fecham portas e essa tem sido a realidade em muitos lugares na Europa, nos Estados Unidos e agora também no Brasil. Nós, presbiterianos brasileiros, temos reais condições de contribuir para a construção de um Brasil melhor. Temos condições de proclamar o evangelho para a conversão de muitos para Jesus, mas, para isso, precisamos ter a coragem e a lembrança de que “Ecclesia reformata et semper reformanda est” (Igreja Reformada, sempre se reformando). Compreendemos que só poderemos

ser mais relevantes na história de nosso país se voltarmos aos princípios fundamentais de nossa tradição, marcada pela certeza de que a Bíblia é nossa regra de fé e prática (Sola Scriptura), e pela certeza de que somos salvos unicamente pela imerecida graça de Deus (Sola Gratia), e que esta salvação exclusivamente só pode vir por intermédio do sacrifício salvífico de Jesus Cristo (Solo Christus). Se a família presbiteriana brasileira crê na necessidade de sermos sal e luz em nossa amada Pátria, precisamos pregar às pessoas de nosso tempo com uma linguagem apropriada ao nosso tempo, ensinando a todos que não é pelo esforço pessoal, mas mediante a fé (Sola Fides) no salvador da humanidade que há salvação. Voltemos à Palavra de Deus, a uma singela e comprometida vida de oração, zelo, fervor e dedicação em todo o lugar que o Senhor nos colocar, pregando as boas novas da salvação, e nos desafiemos ao compromisso da busca pela excelência em tudo, em nossa vida e igreja. Certamente, Deus irá acrescentar dia a dia aqueles que forem sendo salvos. Oremos para que Deus nos dê sabedoria e trabalhemos todos para construirmos um belo e frutífero legado às próximas gerações como outros presbiterianos brasileiros fizeram no passado. O Rev. Wellington, gestor do Colégio Presbiteriano Eduardo Lane e do Lar de Idosas Alice de Oliveira, é pastor auxiliar da 1ª IPI de Campinas, SP

Bibliografia

Bíblia. Edição comemorativa do Sesquicentenário no Brasil da Chegada de Simonton -1859-2009. Barueri: SBB, 1999. Guthrie, Shirley C. Sempre se Reformando: a fé reformada em um mundo pluralista. São Paulo: Pendão Real. 2000. Hahn, Carl Joseph. História do Culto Protestante no Brasil. São Paulo: ASTE, 1989. Matos, Alderi de Souza. Os pioneiros presbiterianos do Brasil. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. Reile, Duncanb Alexander. História documental do protestantismo no Brasil. São Paulo: ASTE, 1984. Soares, Caleb. 150 anos de paixão missionária: o presbiterianismo no Brasil. São Paulo: IPC, 2010.

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CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

Pensando N

a fila do supermercado, o caixa disse à velha senhora que ela deveria ter trazido sua própria sacola, porque as sacolas de plástico prejudicam o meio ambiente. A mulher pediu desculpas e explicou: "Nós não pensávamos verde, no meu tempo...". O atendente respondeu e disse: "Esse é o nosso grande problema hoje. A geração passada não se importou o suficiente para proteger o meio ambiente". Ele estava certo. Aquela geração não pensara no meio ambiente. Naquela época, eles devolviam os litros de leite e as garrafas de refrigerante para o armazém. O armazém as devolvia para as fábricas, que as lavavam e esterilizavam, e depois as enchiam novamente, de modo que as garrafas podiam ser usadas muitas vezes. Na verdade, elas eram recicladas. Mas, de fato, não pensávamos no meio ambiente nos dias daquela freguesa. Naqueles dias, as pessoas subiam as escadas, porque não existia escada rolante em todas as lojas e edifícios. Elas iam a pé até o armazém, e não precisavam usar um veículo de 300 cavalos de força cada vez que precisassem andar duas quadras. Mas aquela senhora estava certa. Eles não pensavam no meio ambiente. Naquela época, as mães lavavam as fraldas dos bebês, porque não conheciam as fraldas descartáveis. Elas secavam as roupas no varal, e não em uma máquina que consome muita energia em uma tomada de 220 volts. O vento e o calor solar secavam as roupas. As crianças usavam as roupas usadas de seus irmãos mais velhos, e não roupas e sapatos novos em folha. Mas aquela senhora estava certa. Eles não pensavam no meio ambiente. Naquela época, eles tinham só uma TV ou rádio em toda a casa - não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de

verde...

um lenço, e não uma tela do tamanho do estado do Pará... Na cozinha, eles misturavam e mexiam as massas e bolos à mão, porque não tinham os eletrodomésticos que fazem tudo por você. Quando eles despachavam algum pacote pelo correio, usavam jornais amassados para proteger os objetos frágeis, e não embrulhos de plástico ou isopor. Eles não usavam máquinas movidas a gasolina para cortar a grama. Eles empurravam o aparador de grama com a força humana. Eles se exercitavam bastante com estas atividades, e não precisavam ir a uma academia ou andar em máquina elétricas que forçam você a correr e suar. A velha estava certa, eles não pensavam no meio ambiente. Eles bebiam água da moringa, do pote ou da talha, quando tinham sede, em vez de usar copos e garrafas plásticas. Eles enchiam suas canetas tinteiro em vez de comprar muitas canetas esferográficas novas. E trocavam as giletes dos barbeadores em vez de jogar fora todo o aparelho de barbear, só porque a lámina perdeu o fio. Mas eles não pensavam no meio ambiente antigamente. As pessoas andavam de bonde e de ônibus, e as crianças iam à escola a pé ou de bicicleta, em vez de fazerem de suas mães um serviço de táxi de 24 horas. Eles tinham só uma tomada elétrica em cada cômodo, e não uma fileira de tomadas para uma dúzia de aparelhos em cada divisão da casa. Eles também não precisavam de um treco computadorizado para receber um sinal enviado de um satélite a 2.000 milhas no espaço, para descobrir a pizzaria mais próxima de sua casa... A presente geração lamenta o desperdício das gerações passadas... Afinal de contas, eles realmente não precisavam pensar no meio ambiente... Tradução: Rev. João Wilson Faustini, 2011

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UMPI

Juventude Independente: O que fomos, o que somos e o que queremos ser MARCOS PEDROSO MATEUS

LINHA DO TEMPO

Hoje em dia, ninguém duvida da importância que o movimento jovem tem no seio da IPI Brasil. Presente desde a década de 30 no cotidiano da igreja, o Umpismo deixou suas digitais nessa caminhada e, em todos esses momentos, os jovens têm procurado cumprir aqueles mandamentos que estão contidos no seu hino oficial: “Mocidade, sempre avante, ao trabalho de Jesus! Do evangelho sê gigante e do mundo sê a luz. Levanta, resplandece e proclama a salvação.

Avante, nunca cesses, pois terás teu galardão.” Essa importância do jovem na vida da igreja deve conduzi-lo a encarar os grandes dilemas vividos, não apenas pela IPI do Brasil, mas pelas igrejas protestantes e evangélicas nos dias atuais: Que tipo de igreja os tempos modernos exigem? Que igreja Deus espera de nós, jovens? Devemos reproduzir as fórmulas de sucesso que nos são apresentadas todos os dias em programas televisivos, nas marchas para Jesus ou na trilha sonora gospel do momento? De fato, enfrentar tais questões

seguramente não é tarefa simples; exige de nós a capacidade de aprender nossa história, analisar corretamente o presente e projetar um futuro que, acima de tudo, nos permita realizar a vontade de Deus na nossa vida. Para isso, seria muito útil resgatar alguns momentos da rica caminhada do Umpismo. Conhecer essa história, feita de bons momentos, mas também de dificuldades, é muito importante para a formação da nossa identidade hoje e, especialmente, para nos auxiliar a escolher os melhores caminhos que queremos trilhar.

1934

O movimento teve início com 22 sociedades e 560 jovens

1934

No Sínodo, em 29/1/1934, o Rev. Eduardo Pereira de Magalhães foi nomeado secretário da mocidade pelo Concilio Supremo

História da

UMPI

nos anos 50 e 60 78 Alvorada

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1938

1º Congresso Nacional, em janeiro

Não podemos deixar de mencionar o importante papel que a juventude independente vivenciou no seio da igreja nos anos 50 e início dos anos 60. Naquele período, a Confederação da Mocidade Presbiteriana Independente do Brasil (CMPIB) demonstrou grande ousadia, lançandose em missão evangelística pelo país sob o lema “O Brasil para Cristo”, fazendo com que o evangelho chegasse aos locais mais distantes, por intermédio dos jovens. Aqueles não eram tempos de twitter, blogs, sms, etc. Eram tempos difíceis, em que grandes distâncias por vezes eram percorridas mediante uso de animais. É interessante notar, ainda, que em alguns pontos do país, a primeira presença presbiteriana independente foi justamente dos jovens da igreja, o que demonstra o grande compromisso que mantinham com a sua instituição. Outra característica muito marcante do período, especialmente ao final da década de 50 e iní-

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O ETEMBR S E D 2 2 MPISMO DIA DO U

Realidade atual

Mas, e nos dias atuais? Quais seriam “as novas ditaduras” a serem enfrentadas pelos jovens presbiterianos independentes? Sem dúvida alguma, vivemos um tempo de grandes mudanças no modo de ser igreja, especialmente no que diz respeito à igreja protestante. Uma série de influências, especialmente aquelas fórmulas propagadas midiaticamente por outros segmentos evangélicos, vem recebendo cada vez mais atenção nas nossas comunidades e ganhando a adesão da esmagadora maioria dos

1940

"O Brasil para Cristo"este lema se tornou o carro chefe dos trabalhos evangelísticos da juventude Este movimento enviou os primeiros missionários para a Missão Caiuá

nossos jovens. Vivemos um tempo de imposição ideológica e de costumes introduzidos pelo “deus-mercado”. As pessoas, em tempos ditados pela globalização, têm se tornado cada vez mais individualistas, preocupadas apenas com os seus interesses pessoais, com o acúmulo de riqueza e com o sucesso a qualquer preço. E muitas igrejas têm reproduzido essa ideologia do “deus-mercado”, incorporando a lógica do neoliberalismo nas suas práticas, ou seja, fazendo sua missão se circunscrever à disputa pelos fiéis, pelo domínio do mercado

1945

O Rev. Eduardo pede exoneração do cargo. Assume o Carlos René Egg, até 1950.

1940

O Brasão: A coroa de espinhos é vermelha, a cor do sangue de Cristo derramado por amor de nós. A Coroa Real é amarelo ouro, a Coroa de Glória que Cristo tem por ser o Rei dos reis. Também a Coroa que Ele nos promete, se nos mantivermos fiéis até a morte. O Amarelo ouro é a cor da glória.

Eram 154 UMPI´s com um total de 7200 jovens.

1941

Em O Estandarte nº 04 aparece pela primeira vez a sigla UMPI

cio dos anos 60, era o comprometimento da mocidade com a missão integral da igreja, ou seja, havia consciência de que o anúncio do evangelho não se limitava apenas à salvação das almas, mas implicava igualmente na luta pela dignidade humana, mediante a justiça, a igualdade e a paz. Com essa inspiração, o Umpismo levantou sua voz profética, denunciando as estruturas opressivas da sociedade brasileira de então. Contudo, sobreveio o golpe militar em 1964 que, com apoio do governo dos Estados Unidos, depôs o governo brasileiro democraticamente eleito, submetendo o país a uma feroz ditadura, jogando trevas sobre todos os movimentos sociais, torturando e matando aqueles que ousavam reivindicar qualquer coisa. Esse ambiente adverso, comum inclusive a vários países da América Latina, também afetou o movimento de jovens de várias igrejas, inclusive da IPI do Brasil. A exemplo do que acontecia em

1950

Carlos René Egg pede renúncia do cargo

1954

As UMPI´s locais e regionais iniciam um movimento para reavivar e reorganizar a UMPI nacional.

1955

Foi organizada a CMPIB (Confederação da Mocidade Presbiteriana Independente do Brasil) no V Congresso Nacional do Umpismo

todo o país, a juventude da igreja sofreu os efeitos da castração da liberdade de expressão, da proibição do ensino da Filosofia e da Sociologia nas escolas, e do desestímulo à análise crítica da realidade; tudo isso levou a gerações de jovens alienados, distantes da discussão sobre qualquer tema ligado à realidade social, a famosa geração AI-5. Nesses tempos, dentro da igreja, ninguém ousava promover um olhar mais crítico em relação àquele governo tirano. Muita gente passou a entender que todo e qualquer movimento social que lutasse por direitos deveria ser combatido; assim, o trabalhador crente não poderia fazer greve contra os patrões e contra o governo, e os estudantes evangélicos não podiam participar de qualquer manifestação que exigisse melhorias na educação ou que clamasse por liberdade. Diziase: “Crente não se mete em política”. No meio evangélico, inclusive, muitos teólogos, pastores,

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da fé e pela imposição aos crentes de heresias modernas, tais como a Teologia da Prosperidade, com vistas a acumularem mais riqueza e poder político e econômico. Tudo isso acaba por influenciar muito fortemente o comportamento jovem. Dentro e fora da igreja, as músicas (inclusive as do mercado gospel), a cultura, a literatura, a TV, tudo tem afastado os jovens da luta por justiça e por um compromisso com a totalidade do Reino de Deus. Nas suas relações sociais, na vida na igreja e na família, o jovem cada vez mais vem se distan1958

VI Congresso Nacional, em Assis, SP. Eleito Josué Pacheco de Lima, da 4ª IPI de São Paulo. Também foram escolhidos o moto e o hino

1957

A CMPIB divulga suas atividades em Estandarte na página intitulada UMPISMO.

1959

Faleceu aos 51 anos em um acidente automobilístico o Rev. Eduardo Pereira de Magalhães

presbíteros e outros líderes que ousavam contestar o sistema foram denunciados e, alguns, torturados. Esse pensamento foi dominante durante muitos anos. Mas, com a recessão econômica no início dos anos 80, a inflação crônica e as greves lideradas pelos metalúrgicos do ABC Paulista contra a política econômica recessiva imposta pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) ao Brasil, a ditadura foi se enfraquecendo e os movimentos que lutavam por direitos sociais começaram a se reorganizar. Na luta contra essa ditadura militar que perseguiu, torturou e matou, muitos sonhavam com um país onde a justiça estivesse presente; muitas dessas pessoas bebiam da fonte cristã seus ideais e valores. Havia entre os jovens, e especialmente entre os estudantes, uma vontade muito grande de

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ciando da preocupação com a realidade social, com as questões de interesse público, com as reivindicações populares, com a política etc. É de se notar que muitos jovens sequer gostam de participar dos cultos com as pessoas mais maduras e têm reivindicado “cultos jovens”, exclusivos, onde predomina apenas a música, e música de qualidade extremamente duvidosa, com letras centradas em uma lógica judaizante, sem referências cristãs. Infelizmente, muitos pastores e conselhos locais têm feito concessões dessa natureza, com medo de perder jovens das suas igrejas. Essa chantagem definitivamente não pode ser aceita, pois uma comunidade cristã não pode ter “dois cultos” para “dois públicos” distintos! A unidade da igre1964

1968

O Sínodo cancelou o VIII Congresso Nacional da UMPI

1961

IX Congresso Nacional, em Brasília, DF. Eleito Jahuyr Lobo, da IPI Anápolis, GO

No VII Congresso Nacional, em Campinas, Josué Pacheco de Lima foi reeleito. A Confederação da Mocidade lança sua revista oficial "Coroa Real".

1965

VIII Congresso Nacional, em Curitiba, PR, foi eleito o jovem Joel Ribeiro de Camargo do Presbitério Maringá, PR.

se envolver em todos os espaços de atuação coletiva para transformar o mundo que estava à sua volta. Em 1984, surge a campanha pelas eleições diretas para presidente da República, que mobiliza multidões em torno dos anseios por liberdade. Essa tentativa de mudança na política brasileira e esses ventos libertários, ainda que posteriormente frustrados pelo Congresso Nacional submisso aos militares, acabaram por soprar em muitos lugares, tais como na igreja. Nesse momento, na IPI do Brasil, o Rev. Abival Pires da Silveira liderou um movimento que aspirava por uma igreja mais aberta e progressista, e chegou à presidência do Supremo Concílio. A juventude, mais uma vez, estava sintonizada com esse processo e não ficou para trás. Em um congresso para eleição da mocidade realizado em São José do Rio Preto, SP, uma nova chapa apresentou-se aos jovens

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A Revista da Família

ja deve ser um testemunho da fé em Jesus Cristo (Jo 17.21). Na verdade, o “deus-mercado” tem se valido de ferramentas modernas, tais como individualismo, o consumismo e o narcisismo dos jovens para re-editar hoje a tentativa de cooptação perpetrada por Satanás, na tentação de Cristo: “Depois, o Diabo levou Jesus para um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e as suas grandezas e disse: Eu lhe darei tudo isto se você se ajoelhar e me adorar”. Podemos perceber, então, que vivemos uma crise na ação jovem dentro da igreja, que está diretamente ligada ao seu compromisso efetivo com o Reino de Deus e com a igreja a que pertence. Essa crise precisa ser enfrentada e cabe ao jovem, mais uma vez, o prota1974

XI Congresso Nacional, em Londrina, PR. Teve 800 umpistas. O novo presidente eleito é Zilton Bicudo, da IPI Franco da Rocha, SP.

1971

X Congresso Nacional, em São Paulo, Jahuyr Lobo é reeleito.

1977

No XII Congresso, em Osasco, SP, Zilton Bicudo foi reeleito.

gonismo desse processo. “Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança de suas mentes. Assim, vocês conhecerão a vontade de Deus, que é boa, perfeita e agradável a ele” (Rm 12.2). As práticas religiosas dos tempos atuais estão a exigir um novo movimento de reforma, a exemplo daquele liderado por Lutero e Calvino. É preciso dizer um sonoro “não” àquelas práticas que se afastam das Sagradas Escrituras, ainda que travestidas de grande espiritualidade, mas que, na verdade, apenas apelam ao emocionalismo. Não podemos aceitar que o dinheiro e o poder estejam no centro da nossa vida e vida da igreja. Diante desse imperativo, de qual

1980

XIII Congresso da UMPI, em S.J. do Rio Preto, SP, com o tema "Mocidade – Missão e Ação", com a participação de 600 jovens. Foi eleito Onan Gonçalves Castro, da IPI Bela Vista, Osasco, SP.

1982

No dia 16 de setembro, em Sorocaba, SP, falece aos 70 anos o Presb. Carlos René Egg, um dos maiores líderes umpistas.

independentes, que novamente sentiam uma vontade muito grande de demonstrar o que o evangelho tinha a dizer a uma sociedade excluída e oprimida. Esse sentimento de mudança não apenas inspirou o nome da chapa, mas deu origem a um movimento que emprestou da canção o seu nome, “Momento Novo”, e que culminou com a eleição do Presb. Adair Sérgio de Camargo (2ª IPI de São José do Rio Preto) para presidente da Confederação de Mocidades. O “Momento Novo” fazia jus ao nome, propondo uma verdadeira revolução na ação dos jovens na igreja. O movimento contagiou novamente a juventude presbiteriana independente, alterando definitivamente a maneira como o jovem era visto pela igreja e, notadamente, como a igreja era vista pelo jovem; havia um claro sentimento de que a igreja também era dos jovens e que estes deveriam se apropriar dela. A linda canção que dera nome à chapa, ao

1983

1986

Adair Sérgio Eduardo Camargo foi eleito no XV Congresso Nacional, realizado em S.J. do Rio Preto. Foi criada a CNU, a CRU e CLU.

XIV Congresso Nacional, em Taguatinga, DF, contou com a participação de 500 jovens e 28 federações. O jovem Victor Marcos Hansen foi eleito.

1987

A CNU cria o "Projeto Caetaninho", de expressão missionária e de ajuda humanitária para jovens.

movimento e que virou seu símbolo musical tem a seguinte letra: “(1) Deus chama a gente pra um momento novo de caminhar junto com o seu povo. É hora de transformar o que não dá mais. Sozinho, isolado, ninguém é capaz. Por isso, vem! Entra na roda com a gente também Você é muito importante, vem! (2) Não é possível crer que tudo é fácil. Há muita força que produz a morte, gerando dor, tristeza e desolação. É necessário unir o cordão. (3) A força que hoje faz brotar a vida atua em nós pela sua graça. É Deus que nos convida pra trabalhar O amor repartir e as forças juntar”. Era como se aquela marcha-rancho, um ritmo genuinamente brasileiro, fruto de uma criação coletiva de pessoas de diferentes igrejas cristãs, tivesse, junto aos jovens independentes, força semelhante àquela que a “Marselhesa” teve para a Revolução Francesa ou que “Pra não dizer que eu não falei das flores”, de Geraldo Vandré, teve para quem lutava contra a ditadura militar no Brasil ou, ainda, que “Castelo Forte” teve para

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lado você, jovem presbiteriano independente, está? Inspirados na Bíblia, os jovens precisam de discernimento para dizer não ao “deus-mercado” que sorrateiramente vem se infiltrando nos cultos, nos louvores e nas “atitudes jovens” influenciadas por outros movimentos e seitas. Precisam os jovens urgentemente buscar novo sentido para a vida e para a vida na igreja, que não seja fundado na ética do mercado, que leva a uma prática emocional, teatral e falsa consagração. É preciso que o jovem assuma um verdadeiro compromisso com a igreja, que não se limite à superficialidade dos espetáculos musicais, onde cantores, a título de “ministrar o louvor”, com-

1988 a 1994

A UMPI sofre um terrível período de desarticulação, quase 10 anos sem atividade alguma.

1995

Em Castro, PR, no XVII Congresso Nacional foi eleito Ronaldo Dias de Andrade da 1ª IPI de Carapicuíba, SP.

portam-se como verdadeiras estrelas desse mercado gospel, subvertendo por completo aquilo que, sobre o culto, aprendemos dos nossos antepassados: a centralidade do culto repousa na proclamação da Palavra e nos sacramentos. Ao invés de se limitar ao “ministério do louvor”, o jovem precisa, definitivamente, abraçar o ministério da visitação, o ministério do serviço ao próximo, o ministério da educação e, acima de tudo, o ministério da oração, e não aquela oração pública, sob os holofotes, mas aquela feita de joelhos, na reclusão do próprio quarto (Mt 6.1). Ao assumir essa luta, os jovens presbiterianos independentes estarão honrando a sua história, história esta feita por mulheres e homens valorosos

1998

1000 jovens lotaram o Colégio Marista, em Maringá, PR, para o XVIII Congresso Nacional. Foi eleita a primeira mulher para coordenadora da CNU, Maria Aparecida Lisboa, da IPI do Jd. Guarujá, SP. Dois anos mais tarde, Cidinha pede exoneração de seu cargo da CNU.

2001

XIX Congresso Nacional. É eleito o seminarista Paulo Pinheiro, do Presbitério Catarinense.

a Reforma Protestante. Ninguém conseguia ficar indiferente a ela e o refrão ainda provocava: “Por isso vem, entra na roda com a gente, também, você é muito importante, vem!”. Era um verdadeiro manifesto, uma carta de princípios que obrigava cada um a escolher de que lado estava. Naquela época, não havia culto ou encontro de jovens promovido pela então Confederação da Mocidade que não se encerrasse com essa canção, em uma grande roda. Realmente, houve naquele momento uma transformação. Os jovens perceberam que, como cristãos, eram responsáveis pelo que estava acontecendo na sociedade e no mundo, e que não deveriam se omitir, deixar de dar o seu recado. E o recado era este: Os jovens presbiterianos independentes: Queriam discutir sem censura temas que eram naturais como: participação na política, democracia, direitos humanos, reforma agrária, saúde, sexualidade, Teologia da Libertação e a

2001

Em 22 de agosto falece, em acidente de carro, o Presb. Zílton Bicudo.

2003

O Presb. Marcos, ex- coordenador de juventude da IPI do Brasil e da Região Brasil do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), é membro da IPI de Vila Talarico, SP; reside atualmente em Brasília, onde colabora com a Igreja Presbiteriana Unida de Brasília.

2006

Encontro da Família, em Aracruz, ES. Denise Arcanjo é eleita à nova coordenadora da UMPI.

No ano de seu centenário, a IPI do Brasil perdeu um de seus maiores líderes umpistas, o Presb. Josué Pacheco de Lima.

2007

2008

XXI Congresso Nacional, em Itapecerica da Serra, SP, com 230 jovens, representando 34 presbitérios da IPI do Brasil. Foram realizadas algumas alterações no estatuto da UMPI.

10 de outubro, faleceu o Presb. Adair Sérgio Eduardo Camargo, vitima de acidente automobilístico.

2010

É eleita a atual diretoria da Coordenadoria Nacional da UMPI, em S.J. do Rio Preto, SP.

Informações do site da UMPI do Presbitério São Paulo

opção preferencial pelos pobres, socialismo e capitalismo, a ordenação feminina, etc. (e tudo isso era um gigantesco tabu dentro da igreja); Queriam um culto que, sem romper com a liturgia reformada e aliado à espiritualidade, refletisse o compromisso da igreja com a justiça, com os pobres, e com a liberdade e igualdade entre as pessoas; Queriam um novo louvor na igreja; não queriam desprezar as músicas tradicionais do hinário, mas queriam que as letras que falavam do compromisso com a realidade também fizessem parte do culto, ou seja, não era possível louvar a Deus falando apenas da sua própria soberania, honra e glória, e se esquecendo da missão que Ele nos deixou de cuidar dos que sofrem; ao lado disso, pleiteavam que as músicas tivessem ritmos brasileiros, com pandeiros, triângulos e reco-recos (porque somos uma igreja brasileira desde o início, em 1903); Queriam também compartilhar suas ex-

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– muitos dos quais já não estão entre nós, como é o caso do Presb. Adair Sérgio de Camargo, cuja memória homenageio com o presente artigo. Com esperança de que outros levem adiante os grandes ideais do Umpismo, encerro esta reflexão com as seguintes palavras de um trecho de outra linda canção, chamada Frutos do Reino: “O Reino de Deus está Onde a esperança estiver Ao repartir, compartilhar A sua palavra em ação Transformar.”

periências com os jovens de outras igrejas cristãs, mediante o diálogo ecumênico, sem preconceitos. Muitas outras bandeiras e idéias foram levantadas e colocadas em prática. A Confederação criou os Encontros Nacionais de Universitários da IPI do Brasil, os Encontros Nacionais de Líderes Umpistas, os Areópagos (que eram encontros de poetas, músicos e artistas comprometidos com esses novos ideais dos jovens presbiterianos independentes) e o Projeto Caetaninho. Foram anos ricos e inesquecíveis. Mas nada é para sempre. Encerrado o mandato, o “Momento Novo” passou a ser representado pela chapa “Consolidação” que, embora vitoriosa no Congresso da Mocidade, enfrentou reações conservadoras e maiores dificuldades com a direção da igreja; enfraquecida, não conseguiu força suficiente para dar seqüência a esses ideais e projetos.

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COMUNHÃO

Fotos: Eric Coll

Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas

Elis durante a reunião da Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas

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Pela graça de Deus, sou a quarta geração de presbiterianos independentes e fui selecionada para participar deste m junho de 2010, tive a oportunidade de participar evento marcante, sem nenhum ônus de um dos mais significativos momentos histópara a nossa denominação. Sou grata ricos do Cristianismo e conhecer de perto a Cotambém ao Rev. Assir Pereira e ao Rev. munhão Mundial de Igrejas Reformadas (CMIR), Gerson Correia de Lacerda que incluíram que hoje reúne 80 milhões de cristãos reformados em mais o meu nome dentre os jovens candidatos de 100 países ao redor do mundo. Ela nasceu da união do à participação. Conselho Ecumênico Reformado e da Aliança Mundial de Em junho, a criação oficial da CMIR Igrejas Reformadas, da qual a IPI do Brasil já era membro completou um ano de existência, e ainda desde sua fundação. posso dizer que sinto diariamente as bênRepresentantes de igrejas reformadas de todos os conçãos de poder contribuir para um momento tinentes viajaram dias e dias para participarem do grantão importante e simbólico. de evento que uniria esses dois organismos na cidade Primeiramente, é inenarrável a emode Grand Rapids, nos Estados Unidos. E por que a exisção que senti ao ver nossa tão amada IPI do tência de tal organização é tão importante? O objetivo Brasil ali presente, usufruindo o convívio da CMIR pode ser simplificado no tema trabalhado de uma comunidade verdadeiramente cristã durante toda a Assembléia, inspirado em Efésios 4.3: e o aprendizado junto a tantas outras igrejas “Mantendo a unidade do Espírito no vínculo da paz”. Ao ler do mundo. Em meditações matinais com peesta frase, certamente uma das palavras que nos vem à quenos grupos, presenciei diversos delegados mente é comunhão. compartilhando desafios enfrentados em suas Lembro-me do cântico “Somos um corpo em Criscomunidades locais, e sentindo o conforto e to”, muitas vezes cantado em minha igreja local, orientação de outros irmãos estrangeiros. enquanto dávamos às mãos, formando um círculo. Outro fator do qual me recordo com agradáFervorosamente, entoávamos: “Quando estamos vel lembrança é o da presença de uma juventude juntos, entre nós Jesus está; quando estamos juntos, engajada e apaixonada, pronta para o serviço. O há poder e autoridade em seu nome”. O objetivo trabalho, que algumas vezes se estendia até a mada CMIR é justamente promover essa união entre drugada, não apagava o sorriso pela manhã, vindo seus membros que compartilham de uma mesma da satisfação de representar seu país e sua igreja fé, e mostrar ao mundo quem somos e no que naquela marcante Assembléia. acreditamos. Foi uma oportunidade de conhecer as muitas E como eu, uma jovem de 20 e poucos anos, maneiras que diferentes povos possuem de louvar vivenciei um momento tão histórico, junto aos ao Senhor, presenciar animadas danças africanas, ler mais importantes líderes e delegações dos mais uma Bíblia em lituano ou ainda escutar hinos suíços diversos países do mundo? Em primeiro lugar, ao som de uma flauta. Era interessante notar como por fazer parte da IPI do Brasil, uma igreja éramos culturalmente diferentes, mas como nos sentíque, apesar de pequena em relação a tantas amos parte de uma só família, a família de Deus. outras, é conhecida e respeitada pela seriedaA decisão de me engajar em trabalhos como este de e compromisso com os valores do Reino trouxe não apenas conhecimento, experiência e amadude Deus. recimento, mas reafirmou o sentimento de efetivamente Em segundo lugar, pelo fato de que a fazer parte do corpo de Cristo. Foi um fortalecimento CMIR reconhece a importância da juvenpara meu testemunho como jovem cristã e uma porta de tude na igreja e, paralelamente à Assementrada para compartilhar, no trabalho ou na universidabléia, encontrou uma maneira de engajáde, sobre o que é viver uma vida dedicada à igreja. los. Cerca de 50 jovens voluntários que Deixo meu desafio para você, jovem como eu, ou como desejavam conhecer, participar e aprenmeus pais e meus avós, para que compartilhe seus dons e der sobre a CMIR foram escolhidos para dedique seu tempo para a sua igreja, para que sua vida seja trabalhar nos bastidores dessa grande edificada, como a minha foi, e para que sejam criados laços reunião. O processo seletivo levou em como aqueles descritos no Novo Testamento, quando “toconta a indicação da liderança da igredos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum, ja e o preenchimento de requisitos que louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. levavam em consideração faixa etária, Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que formação, domínio de outros idiomas iam sendo salvos” (At 2.44-47). e engajamento nas atividades da igreA Elis, publicitária, é secretária de Comunicação da ja no país de origem do candidato. ELIS CALADO HÚNGARO

E

IPI do Cambuci, São Paulo, SP

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FAZENDO ARTE

Lata de Costura da Vovó MARIA CRISTINA RODRIGUES DA SILVA

Corte 5 círculos com aproximadamente 11cm de diâmetro para servirem como pétalas para a flor de fuxico. Dobre o primeiro círculo ao meio e, com a agulha e a linha 10, alinhave a parte arredondada. Faça o mesmo com os outros círculos todos na mesma linha. Amarre bem firme, formando uma flor, dê dois nós e corte o excesso de linha.

3

1 Você vai precisar: • 01 lata de molho de tomate • Tinta plástica de artesanato da cor de sua preferência • 01 pincel largo n°20 • Verniz geral • 20 cm de tecido estampado combinando com a cor escolhida para a flor de fuxico • Linha de costura n°10 • 01 agulha • Tesoura de costura • 01 mt de cordão encerado fino • 04 botões decorativos • 01 pouco de plumante • 15 cm de tecido branco para o miolo • Máquina de cola quente e refil Limpe bem a lata com um pano seco e álcool. Pinte-a com a tinta para artesanato, juntamente com a tampa. Aguarde secar.

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2JU6LHDOE

VÔS E A S O D DIA S DAS AVÓ

Corte um círculo no tecido branco e, com a agulha e a linha 10, faça um fuxico tradicional. Antes de arrematar, encha-o com plumante, formando assim uma pequena almofada. Arremate com dois nós.

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6

Estando a tinta seca, pegue a lata e comece a decorar. Utilizando a cola quente e o fio encerado. Faça arabescos e vá decorando com os botões.

5

Por fim, cole a flor de fuxico na tampa e a almofadinha no centro, formando o miolo.

Pronto! Sua lata de costura da vovó já está pronta. Incremente com utensílios de costura, adquiridos em lojas especializadas.

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Seguindo os mesmos passos, fazer esta varia8 pode-se ção. Faça uma flor de fuxico menor para decorar a lata, e um miolo bem maior para colocar na tampa. Maria Cristina, pedagoga e artista plástica, é membro da IPI de Vila Aparecida, São Paulo, SP

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REFLEXÃO

DE 1 1 O R B M E T SE

Dia

Internacional da

Paz

EVANDRO RODRIGUES

“Há vinte e cinco anos, a Assembléia Geral proclamou o Dia Internacional da Paz como um dia de cessarfogo e de não violência em todo o mundo. Desde então, a ONU tem celebrado este dia, cuja finalidade não é apenas que as pessoas pensem na paz, mas, sim, que façam também algo a favor da paz” (Koffi Annan, secretário-geral da ONU, setembro de 2006). Paz é o desejo último de todo indivíduo. Cada ser humano sonha com aquele estado de perfeita calma e tranqüilidade, isento de 86 Alvorada

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ira, ódio ou quaisquer sentimentos negativos. Vivendo em São Paulo, lembro-me saudoso dos momentos que passei, quando criança, em um sítio próximo a Umuarama, interior do Paraná. Sem energia elétrica ou qualquer conforto, brincávamos de trabalhar no café, de tirar leite e apartar os bezerros. Um estado de total despreocupação e ausência de sentimentos como aflição e angústia. Certamente por não compreender a situação dos adultos, que trabalhavam como meeiros. No final da safra, o dinheiro mal dava para cobrir as dívidas contraídas durante o ano. Não eram donos

dos animais. Muito menos da terra que cultivavam. Individualmente, cada pessoa passa a empreender sua jornada pela paz. Nessa busca, acaba por vincular paz com satisfação. Em uma sociedade regida pela lógica de mercado, nada mais propício. A satisfação pessoal é oferecida no atacado, pelas estruturas de consumo, das quais a religião é grande aliada. E o cristianismo hodierno adotou o modelo. No catolicismo, há um santo para cada anseio humano. No protestantismo, em cada esquina das cidades, uma igreja que oferece a cura, a “bênção” e a prosperidade.

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Os cristãos passaram a viver a promessa do Reino de Deus como um acontecimento futuro. Esqueceram a notícia do evangelho: o Reino de Deus está entre vós. Esqueceu-se que a fé cristã só se realiza no coletivo, no serviço ao outro. Esqueceu-se que paz individual é produto da paz com Deus, com o outro e com o planeta. Talvez seja por esse motivo que Jesus falou da necessidade de nos tornarmos como criança. Teologicamente, sabemos qual a causa do vazio, da angústia e da inquietação humana. Denominase pecado. O ser humano é inimigo de Deus. Como viver em paz, mantendo inimizade com alguém dessa magnitude? Por isso, as Escrituras dão conta de que, em Jesus, Deus estava reconciliando o mundo consigo mesmo. A fé em Cristo abre ao ser humano a maravilhosa possibilidade de viver em paz, mesmo em meio ao turbilhão, inserido no caos de um mundo caído. Por meio da fé, o cristão pode então enfrentar as tribulações e gozar de uma “paz que excede o entendimento”: a paz de Deus. Em Cristo, passase da condição de inimigo para a condição de aliado. Igualmente, com um aliado dessa magnitude, não há evento que possa ruir a paz e a esperança daqueles que foram transformados pelo poder da mensagem divina. Deve-se refletir, então, por que, de posse de mensagem tão poderosa, os cristãos não atuam no mundo de modo a proclamar a paz de Deus e a denunciar toda forma de ação humana, seja política ou econômica, que inviabilize o projeto pacificador de Jesus. Essa questão não é simples. Mas, se lembrarmos que a paz é produto da justiça, talvez seja possível compreender melhor a ques-

tão. Diz o profeta Isaías: “Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a boa notícia da paz!” (52.7). Em sua grande comissão, Jesus dá aos discípulos a incumbência de pregar o evangelho. Porém, não é apenas isso. Eles deveriam “fazer discípulos”. Ou seja, a evangelização não se limita a aspectos informativos, mas deve chamar as pessoas a um novo estilo de vida, dentro do mundo, mas diferente de sua lógica. Como afirma o teólogo Xabier Pikaza: “A utopia do Evangelho enquanto tal não é informação, mas comunicação pessoal: não transmite saberes ou notícias, mas oferece algumas ‘formas’ de vida em encontro pessoal, em diálogo afetivo e na busca compartilhada da vida”. O grande equívoco cristão reside no fato de que sua esperança está no além-túmulo. Os cristãos passaram a viver a promessa do Reino de Deus como um acontecimento futuro. Esqueceram a notícia do evangelho: o Reino de Deus está entre vós. Se Deus ama a justiça – e Ele a ama – e se os cristãos dizem amar a Deus, devem, necessariamente, amar aquilo que Ele ama. A boa notícia que os cristãos deveriam levar é a do fim da opressão, da discriminação, do ódio e de todos os elementos combustíveis da guerra. A vocação cristã é também vocação profética, que denuncia os abusos e que luta pela justiça. Contrariando sua vocação profética, amorosa e gregária, a igreja preferiu fechar-se em grupos e desenvolver mecanismos para defender qualquer ação ou discurso que coloque em risco sua “paz” A Revista da Família

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pessoal. Ao invés de proclamar a paz, armou-se para guerra. O fundamentalismo protestante é tão nocivo quanto qualquer outro fundamentalismo religioso. Não trabalha pela paz. Trabalha pela eliminação de idéias e pessoas que figurem como “ameaça” ao seu conforto. Conforto obtido pela iniciativa de aguardar um reino vindouro de braços cruzados, como alguém que viaja à noite e não é capaz de desfrutar da paisagem. A estrada para o céu vai sendo, assim, pavimentada com sangue. Sangue daqueles que Jesus amou, mas que a igreja odeia. Em uma operação imperialista em pleno século XXI, o fundamentalismo religioso obteve mais uma “vitória”. O arquiinimigo do Ocidente está morto. Sem julgamento, sem direito ao rito fúnebre pela família. Porém, como bem afirmou Leonardo Boff em artigo recente: “Não se fez justiça. Praticou-se a vingança”. O fundamentalismo das religiões abraâmicas esquece-se do mandamento “Não matarás” e das palavras das Escrituras: “Minha é a vingança, diz o Senhor”. Calam fundo as palavras do bispo de Melbourne Beach, Robert Bowman, citadas por Boff: “Somos alvos de terroristas porque, em boa parte no mundo, nosso Governo defende a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos de terroristas porque nos odeiam. E nos odeiam porque nosso Governo faz coisas odiosas”. Esse tipo de visão religiosa faz também com que os cristãos da América Latina dêem as cos-

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As palavras de Jesus não deixam alternativas. Só é chamado filho de Deus aquele que é pacificador. tas aos movimentos por reforma agrária, pelos direitos das minorias; os faz acreditar nas informações produzidas pela mídia, comprometida em manter o status quo. Tratam as pessoas engajadas em movimentos sociais como “fora-da-lei”. Lembremo-nos das palavras de Jesus: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”. Não podemos esperar sentados a pacificação total, imposta pelo governo final do Messias. Somos chamados para proclamar o Reino de Deus e sua justiça. A comunicar a vida abundante em Jesus Cristo. A transmitir a paz possível em meio às dificuldades impostas pela crueza e tribulações do mundo. Porém, o apóstolo São Paulo adverte Timóteo: “Ninguém pode governar a igreja de Deus se não governa bem a própria casa”. Aplicando tal verdade, como a igreja pode pacificar o mundo se ela mesma não está em paz? Como clamar contra a injustiça social, se no seio de cada denominação está a injustiça, a guerra de egos, a divisão? As palavras de Jesus não deixam alternativas. Só é chamado filho de Deus aquele que é pacificador. Temos nós vivido como filhos de Deus? “Ó, Senhor, permita que a paz de Cristo seja realmente o árbitro dos corações. Assim, como orou Francisco de Assis, teus filhos tornar-se-ão reais instrumentos de tua paz!” O Evandro, graduando em teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, é membro da IPI de Vila Brasilândia, São Paulo, SP evandro_enops@hotmail.com

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Sugestão de ações concretas para o Dia Internacional da Paz Utilizando-se do método ver-julgar-agir desenvolvido pelas CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), nossas igrejas locais podem, por ocasião da data, promover grupos de estudo relacionados ao tema. Através da discussão sobre temáticas como desigualdade social, distribuição de renda, reforma agrária, condições das moradias de risco, discriminação social e étnica, propaganda, consumo, mídias, etc., será possível à comunidade Ver como se desenvolvem as relações na sociedade em que ela atua, bem como Julgar, sob a perspectiva do evangelho, sua realidade. De posse dos resultados dessa reflexão, é possível partir para a terceira fase. Desenvolver uma metodologia para Agir nessa realidade. As coordenadorias de adultos poderão mobilizar os membros para organizarem ações junto aos setores público e privado. Podem contatar órgãos como a defesa civil e a polícia militar de sua região para saberem onde estão as famílias em situações de risco com relação à moradia (casas em encostas, ausência de saneamento básico, iluminação pública e asfalto, falta de áreas de recreação e lazer) segurança, drogas e déficit educacional. Nestas áreas, podem desenvolver um programa de assistência, visitando as casas, ouvindo as pessoas, orando e falando da Palavra de Deus para essas famílias. Representantes das igrejas locais ou presbitérios podem fazer contato com prefeitos, vereadores e deputados de suas regiões, cobrando uma melhor aplicação de recursos nessas áreas. Podem levantar fundos junto à própria igreja local e à iniciativa privada para atender famílias desprovidas de recursos mínimos para alimentação e vestuário. As coordenarias de jovens e adolescentes podem integrar os projetos, atuando junto às famílias, levando a palavra de Deus de maneira criativa e interativa, com apresentações musicais e teatrais, por exemplo. O espaço físico do templo também pode ser utilizado para a realização de palestras, cursos de geração de renda e apoio psicológico (desenvolvidos por profissionais habilitados), bem como apoio espiritual. È importante ressaltar que a igreja local precisa, primeiramente, estar atenta às necessidades de seus próprios membros. É triste ver uma comunidade que investe recursos na aquisição de aparelhagem sonora, construção ou reforma de templos, tendo em seu seio pessoas padecendo necessidades básicas. A maioria das pessoas que observa a igreja já conhece a “informação” do evangelho. Esperam ver, entre os membros da comunidade, a aplicação do discurso que fala de amor, humildade, mansidão e serviço como algo concreto. Isso estabelecerá a diferença entre conquistar adeptos para a igreja e fazer discípulos de Jesus. Pela Coroa Real do Salvador, vamos trabalhar pela justiça! A hora é agora! O campo missionário é aqui! Penosamente, espalhando a semente da justiça, alegremente colheremos os frutos da paz. “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos”.

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