A Revista da Família
Alvorada Ano XLIII nº 68 JANEIRO | FEVEREIRO | MARÇO 2012
Ano Novo
O equilíbrio deve estar presente na agenda
Câncer e estilo de vida
Uma em cada três pessoas enfrentará a doença nos próximos anos
Entrevista com Eleny Vassão
Educação
A igreja pode ser importante canal de conscientização e mobilização por um ensino de qualidade
Televisão Benefício que pode se
tornar um perigo. Ela exerce influência na vida famíliar
Discipulado
Fazer discípulos é o nosso grande desafio
Abrindo as porteiras
Princípios bíblicos e família, juntos na educação dos filhos
A desinformação da infância e da adolescência Movidos a música
Dentro ou fora da igreja, o adolescente ouve música. É melhor que esteja dentro para receber a orientação adequada
Quem está ensinando nossos filhos? alvorada68_capas_AF2.indd 1
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EDITORIAL
Agradecer a Deus SHEILA DE AMORIM SOUZA
"Ó Senhor Deus, que todo o meu ser te louve! Que eu louve o Santo Deus com todas as minhas forças! Que todo o meu ser louve o Senhor, e que eu não esqueça nenhuma das suas bênçãos!" (Sl 103.1-2). O ano de 2012 chegou! O sentimento que nos envolve é de uma gratidão imensa a Deus pelo privilégio da vida, o que já é um motivo ímpar, e por fazermos parte de uma história maravilhosa e desafiadora, que é a Alvorada. Neste ano, a revista completa 44 anos. No dia 4/2/2012, vamos agradecer a Deus por esta revista. Ela é um sonho de Deus ao coração de mulheres preciosas que foram sensíveis à sua voz e surpreenderam ao apresentar o seu primeiro número que refletia o amor pela igreja e pelo Reino dos Céus! A partir daquele momento, com alegria, eram aguardados os próximos números. Será que ainda hoje a revista é aguardada com alegria? É importante saber que Deus sempre nos conduz a algo bom, ainda que aos nossos olhos, a princípio, possa parecer o contrário. Nesta edição, além de convidarmos você a estar conosco na celebração da Alvorada, que será na IPI do Cambuci, queremos compartilhar alguns temas importantes para a família e igreja. Nossa capa (“Babás eletrônicas da fé”) fala do desafio que temos de educar nossos filhos na igreja, quando, no mundo, muitos valores estão em transformação. E os desafios passam pela qualidade de ensino que as crianças estão recebendo. Chamamos a atenção dos pais para a realidade da baixa qualidade do ensino das escolas públicas e particulares. O ensino público enfrenta crises estruturais há tempos. É preciso que ajudemos e cobremos melhorias nesta área fundamental “para que as próximas gerações sejam capacitadas a utilizar plenamente seu potencial”. O Rev. Áureo Rodrigues Oliveira afirma que o nosso grande desafio, como igreja, é fazer discípulos. Em casa, quem tem discipulado nossos filhos? Leia toda a revista e veja quantas coisas temos para falar, fazer e aprender em 2012. Sejamos sensíveis à obra que Deus quer fazer em nosso mundo e trabalhemos a seu lado na transformação da realidade em que vivemos. Além disso, sejamos gratos por tudo o que Deus fez até aqui. Feliz Ano Novo!
Sheila alvorada@ipib.org
! o ã ç a r b e l e C e d n Gra S DA FESTA DE 44 ANO
REVISTA ALVORAD
4/2/2012
ci IPI do Cambu , co 646
Av. Lacerda Fran 2545-7555 São Paulo|SP |11|
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A
Programação:
ersário 15h00 Chá de aniv ão de Graças 17h30 Culto de Aç Correia de Lacerda) n (pregador: Rev. Gerso
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Reflexão
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Ano Novo
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Saúde
SUMÁRIO
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Cenoura, ovo ou café? Como reagimos diante das adversidades Busque o equilíbrio na agenda de 2012
Reflexão
Servir ao Senhor dar e receber
Comunidade atraente Televisão
50
Um benefício que pode se tornar um perigo. Ela exerce influência na vida famíliar
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Oração
6 de março, Dia Mundial da Oração
Consciência Ecológica
A crise mundial de água potável e o Brasil
Uma em cada três pessoas enfrentará a doença nos próximos anos
12
Melhor idade
14
Entrevista
17
Saúde masculina
22
30
49
Câncer
10
21
24
Um problema sistêmico. Fruto do "nosso estado pecaminoso"
Você tem cuidado do templo do Espírito Santo?
Fitoterapia
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Corrupção
O uso das plantas para controlar o colesterol e ajudar o fígado O sono nos idosos pode ser influenciado pelos sintomas urinários Eleny Vassão de Paula Aitken fala sobre o Dia Mundial do Doente
27 Cristianismo
Fazer discípulos é o grande desafio. Não discipulando estamos nos afastando dos propósitos de Jesus
O governo de São Paulo entrega à população o Hospital do Homem
Preconceituoso
Você é uma pessoa preconceituosa? Veja algumas situações
Dia da Poesia
Poetas e poetizas ajudam com sua sensibilidade a olharmos para o mundo sob outros prismas
Nazismo e Religião
Entre a aliança e o conflito
32 36 38
Abrindo as porteiras
Princípios bíblicos e família, juntos na educação dos filhos
Pais e filhos
A desinformação da infância e da adolescência
Adolescentes
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Pais e filhos
Babás eletrônicas da fé. Crianças buscam um Cristo virtual e não espiritual
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Educação com qualidade
A igreja pode ser importante canal de conscientização e mobilização
Mulher
52 54
Viver com arte, um projeto para ajudar mulheres em Botucatu
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Homenagem
Dia Internacional da Mulher. Mulheres de fé que estão registradas na Bíblia
Movidos a música
Faça você mesmo
Pequenas mudanças dão novo ânimo. Comece pela cozinha
Vida Financeira
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Fique atento aos sintomas de doença na vida financeira. Já definiu sua aposentadoria?
Alvorada A Revista da Familia
Órgão Oficial da Secretaria da Família da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Registrado, em 7/11/ 1974, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial sob o n° 289 - CNPJ n° 62.815.279/0001-19 - Fundada em 3/2/1968 por Rev. Francisco de Morais, Maria Clemência Mourão Cintra Damlão, Isollna de Magalhães Venosa. Ministério da Comunicação: Rev. Wellington Barboza de Camargo. Secretário da Família: Rev. Alex Sandro. Coordenadoria Nacional de Adultos: Ione Rodrigues Martins e Odair Martins. Coordenadoria Nacional do Umpismo: André Lima. Coordenadoria Nacional de Adolescentes: Rev. Rodolfo Franco Gois. Editora: Sheila de Amorim Souza. Revisor: Rev. Gerson Correia de Lacerda. Arte e Diagramação: Seiva D’Artes. Foto capa: Chrisharvey_dreamstimefree. Fotos e ilustrações: Fotolia, stock.xchng e dreamstimefree. Colaboraram nesta edição: Wanderlei de Mattos Júnior, Odair Martins, Ezequiel Luz, Evandro Rodrigues, Dulce Vieira Franco de Souza, Alex Sandro dos Santos, Lidia Sendin, Fernanda Laurides R. O. Lomeu, André Tadeu de Oliveira, Fernando Hessel, Rosana S. Salabai, Ruth Campos, Priscila Luz, Lísias Nogueira Castilho, Ébe dos Santos Monteiro, Gerson David Ferreira, Vanessa Sene, Maria Emília Conceição, Rayssa Gon, Áureo Rodrigues Oliveira, Cristina Silva Souza, Rodolfo Franco Gois, Raul Hamilton de Souza, Daniel Dutra, Clayton Leal da Silva, Eunice Silva Leite, Maurício Silva de Araújo, Laércio Borsato, Levi Franco de Alvarenga, Elaine Gomes, André Sanchez, Fábio Marchiori Machado. Redação: e-mail alvorada@ipib.org - Fone: (11) 2596-1903. Assinaturas na Editora Pendão Real - Rua da Consolação, 2121 -CEP 01301-100 - São Paulo/SP Fone/Fax (11) 3105-7773 - E-mail: atendimento@pendaoreal.com.br. Assinatura anual Individual (4 edições): R$37,00, acima de 10 assinantes R$ 33,00, para receber através do (a) agente ou R$ 55,00, para receber em casa. Número avulso: R$ 9,50. Depósito no Banco Bradesco - Agência 095-7 - Conta Corrente 174.872-6. Tiragem: 2500 exemplares. Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião da revista. Permitida a reprodução de matéria aqui publicada, desde que citada a fonte.
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Cenoura, ovo ou café? Uma filha se queixou a seu pai de sua vida e de como as coisas estavam tão difíceis para ela. Ela já não sabia mais o que fazer e queria desistir. Estava cansada de lutar e combater. Parecia que, assim que um problema estava resolvido, outro surgia. Seu pai, um "chef", levou-a até a cozinha dele. Encheu três panelas com água e colocou cada uma delas em fogo alto. Logo, as panelas começaram a ferver. Em uma ele colocou cenouras; em outra colocou ovos e, na última, pó de café. Deixou que tudo fervesse, sem dizer uma palavra. A filha deu um suspiro e esperou impacientemente, imaginando o que ele estaria fazendo. Cerca de vinte minutos depois, ele apagou as bocas de gás. Pescou as cenouras e as colocou em uma tigela. Retirou os ovos e os colocou em uma tigela. Então, pegou o café com uma concha
e o colocou em uma tigela. Virando-se para ela, perguntou: -Querida, o que você está vendo? -Cenouras, ovos e café, ela respondeu. Ele a trouxe para mais perto e pediulhe para experimentar as cenouras. Ela obedeceu e notou que as cenouras estavam macias. Ele, então, pediulhe que pegasse um ovo e o quebrasse. Ela obedeceu e, depois de retirar a casca, verificou que o ovo endurecera com a fervura. Finalmente, ele lhe pediu que tomasse um gole do café. Ela sorriu ao provar seu aroma delicioso. Ela perguntou humildemente: -O que isto significa, pai? Ele explicou que cada um deles havia enfrentado a mesma adversidade, água fervendo, mas que cada um reagira de maneira diferente. A cenoura entrara forte, firme e inflexível. Mas, depois de ter
sido submetida à água fervendo, ela amolecera e se tornara frágil. Os ovos eram frágeis. Sua casca fina havia protegido o líquido interior. Mas, depois de terem sido colocados na água fervendo, seu interior se tornou mais rígido. O pó de café, contudo, era incomparável. Depois que fora colocado na água fervente, ele havia mudado a água. -Qual deles é você?, ele perguntou à sua filha. Quando a adversidade bate à sua porta, como você responde? Você é uma cenoura, um ovo ou um pó de café? Que possamos, fortalecidos no Senhor, viver com a perspectiva de que nele e por Ele teremos condições de viver como agentes de transformação e como verdadeiros adoradores do seu santo nome. Autor desconhecido; publicado no site da IPI de Chapadão do Sul, MS (www.ipichapadao.com)
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ANO NOVO
Agenda ALEX SANDRO DOS SANTOS
Ano novo, agenda nova. A cada novo ano, realizamos uma ação semelhante: vamos a uma papelaria e compramos uma agenda. Hoje, as agendas estão semelhantes às Bíblias, no aspecto estético. Temos agenda “teen”; há outras com personagens infantis, da mulher, do papai, do empresário, etc... Cores variadas e modelos diferentes fazem com que nos sintamos muito mais organizados do que na verdade somos. Quem não pode comprar uma agenda pode até ganhá-la de uma empresa ou cooperativa que mandou fazê-la para divulgação de seus negócios. Enquanto alguns não podem comprar ou não querem investir nessas agendas, temos os que abandonaram as agendas comuns para utilizarem as eletrônicas ou de programas de computador. A agenda é algo muito comum para nós.
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2012 Adquirir uma agenda é fácil; difícil é administrá-la. Podemos ter a agenda e não fazer uso dela. Alguns preferem ignorá-la. Usam um dia, dois, mas depois reaproveitam as folhas simplesmente para anotações. Não podemos ser escravos da agenda, mas precisamos usá-la para nos auxiliar nas definições de prioridades. Quem não define prioridades não consegue aproveitar seu tempo com eficácia. O tempo não para e não muda. Portanto, quem tem que parar e mudar somos nós. Precisamos ter consciência de que atividades sem objetivos não nos levam a lugar algum. A agenda é uma ferramenta que precisa ser usada corretamente. Devemos usá-la para planejamento. Após definirmos as prioridades de nossa semana, devemos organizá-las. Após a organização, precisamos planejar. Decidimos hoje o que vamos fazer amanhã. Muitos estão andando na "contra-mão", escrevendo hoje o
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Coloque em sua agenda deste novo ano tempo para sua vida pessoal (oração, leitura da Bíblia, exercícios físicos, lazer), familiar (diálogos produtivos, diversão, reuniões), eclesiástica (ir à igreja, desenvolver um ministério) e profissional (treinamento para aperfeiçoamento, novos cursos, etc...). Não se esqueça que você precisa ter equilíbrio.
que fizeram ontem. Precisamos nos lembrar que a agenda não é um relatório de atividades, mas, sim, um planejamento delas. Há algumas semanas, fui a uma cidade vizinha de Machado, Alfenas, oficializar um casamento no Tênis Clube. Minha filha estava doente e minha esposa precisou ficar em casa para cuidar dela. Meu filho de 11 anos, o Pedro Henrique, decidiu ir comigo e me fazer companhia. Enquanto percorríamos a estrada, ele me questionou sobre o que se pode e o que não se pode fazer. Diante de tantos comportamentos diferentes, o que é correto e o que é incorreto no comportamento humano. Obviamente, as perguntas não foram com essas palavras, mas era exatamente isto que ele queria saber. Respondi que tudo em nossa vida exige equilíbrio. Quando uma pessoa consegue ter equilíbrio em todas as áreas de suas vidas, ela consegue distinguir o que é correto e que é incorreto. Uma vida espiritual saudável está fundamentada no bom senso. O bom senso só é possível através de uma vida de comunhão com Deus. A nossa agenda precisa refletir esse equilíbrio. Muitas famílias são destruídas porque não há equilíbrio. Pais de famílias perdem seus empregos porque não têm equilíbrio. Tudo que fazemos sem uma boa dose de equilíbrio tornase negativo. Encontraremos pais que trabalham demais e têm pouca comunhão com seus familiares. Mães que se dedicam bastante a seus filhos, mas não têm tempo para o marido. Filhos passam horas estudando, mas não conseguem ter tempo para ir à igreja. Alguns se dedicam tanto à sua família que não querem trabalhar; outros "moram" na igreja e negligenciam sua família. Outros trabalham e não cuidam da saúde. Jovens cuidam da saúde, passando horas na academia, mas não
querem estudar e ficar com os pais. Não significa, necessariamente, que estejamos fazendo as coisas erradas, mas talvez estejamos fazendo na intensidade errada. O extremo é muito perigoso, pois ele não é saudável. O equilíbrio nos ajuda a discernir prioridades. Salomão dizia que há tempo para todas as coisas debaixo do céu (Ec 3.1). Às vezes, pensamos que esse tempo é intensivo. É tempo de trabalhar, queremos trabalhar sem parar até os 70 anos, para depois parar de uma vez (com isso, muitos, quando se dão conta, já perderam a família e os amigos e se sentem inúteis por estarem parados). Outros querem parar de uma vez e não querem saber de trabalhar em tempo algum. Contudo, precisamos entender que há tempo para todas as coisas periodicamente. A nossa satisfação não pode estar na quantidade de ações que realizamos em um dia, mas na qualidade dessas ações. Priorize, organize, planeje, execute e avalie. A sua agenda, neste ano de 2012, pode ser muito mais produtiva, desde que você a utilize da maneira correta. Coloque em sua agenda deste novo ano tempo para sua vida pessoal (oração, leitura da Bíblia, exercícios físicos, lazer), familiar (diálogos produtivos, diversão, reuniões), eclesiástica (ir à igreja, desenvolver um ministério) e profissional (treinamento para aperfeiçoamento, novos cursos, etc...). Não se esqueça que você precisa ter equilíbrio. Periodicamente, avalie se sua vida está de acordo com sua nova agenda, a agenda do Senhor, que "fez tudo formoso no seu devido tempo" (Ec 3.11). O Rev. Alex Sandro, pastor titular da 1ª IPI de Machado, MG, é o secretário da Família da IPI do Brasil
www.ipimachado.com.br
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SAÚDE
Você tem cuidado do templo do
Espírito Santo? Cresce a cada dia o número de pessoas com as chamadas doenças crônicas não transmissíveis: a obesidade, o diabetes, a hipertensão, a hipercolesterolemia, dentre tantas outras, que poderiam ser evitadas com cuidados simples como a alimentação adequada e a prática de atividade física.
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FERNANDA LAURIDES RIBEIRO DE OLIVEIRA LOMEU
E eis que chega um novo ano, cheio de esperanças no Senhor por anseios não satisfeitos no ano que se findou e cheio de promessas de mudanças de nossa parte também. É tempo de renovar votos, traçar planos e objetivos. É sempre assim e, em 2012, não seria diferente! Portanto, gostaria de trazer uma breve reflexão e espero que ela possa proporcionar mudança de vida neste novo ano. É do conhecimento de todos que, em todo mundo e no Brasil, cresce a
cada dia o número de pessoas com as chamadas doenças crônicas não transmissíveis (a obesidade, o diabetes, a hipertensão, a hipercolesterolemia, dentre tantas outras). Elas são agrupadas com esse nome (crônicas não transmissíveis), porque, na maioria das vezes, são evitáveis com cuidados simples como alimentação adequada, entre outros hábitos de vida saudáveis como a prática de atividade física. No entanto, muitas pessoas têm deixado esses cuidados de lado, principalmente no que se refere à alimentação, pois preferem satisfazer os desejos da carne, sem pensar nas conseqüências danosas
de seus atos para sua saúde. Mas e você, como cristão, como tem agido em relação a isto? Você tem cuidado do templo do Espírito Santo? Vamos à Bíblia ver o que o Senhor pode nos dizer sobre o assunto: “Não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai, a Deus no vosso corpo” (1Co 6.19-20). Agora você entende? Nós, como filhos de Deus e santuário do Espírito Santo, devemos louvar a Deus cuidando do nosso corpo não só por motivos estéticos, uma vez que teremos o corpo glorificado, mas, sim, para gozar de boa saúde e ter ainda mais disposição para servir ao Senhor, trabalhar na sua obra, louvar ao Senhor. Que o nosso corpo também seja motivo de cultuar ao nosso Deus: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1). Gostaria que você refletisse sobre o assunto e pedisse a orientação e o fortalecimento do Senhor para essa luta. Lembre-se: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (1Co 6.12). Não se deixe dominar! Lute! Mostre ao Senhor que você cuida da habitação do Espírito Santo em você! Você verá que o resultado será muito satisfatório. Sucesso! A Fernanda, nutricionista, esposa do Albert e mãe do Mateus, é membro da IPI de Areado, MG
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SAÚDE
Câncer
e estilo de vida Cerca de 1 de cada 3 de nós enfrentará o câncer ao longo da vida e possivelmente morrerá dele, apesar de números favoráveis de cura em algumas das muitas formas de câncer.
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LÍSIAS NOGUEIRA CASTILHO
Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), nos próximos 20 anos morrerão cerca de 240 milhões de pessoas de câncer em nosso planeta. Isso dá uma média de 12 milhões de mortes por ano, o que é bem superior às médias dos últimos anos, de cerca de 8 milhões. Por quê? Porque a cura das mais de 100 doenças a cujo conjunto chamamos de câncer está ainda muito longe de ser alcançada, apesar da evolução da ciência e das conquistas médicas aguardadas para os próximos anos. Paralelamente, a população mundial envelhece depressa,
O que fazer? De prático, podemos fazer duas coisas. A primeira, e mais importante, é adotarmos um estilo de vida que nos afaste do câncer: controle da dieta e do peso, ginástica regular, uso de protetor solar desde a infância, dieta rica em vegetais, abstinência total do fumo, ingestão mínima e não diária de álcool, combate ao estresse e à depressão, fuga dos poluentes ambientais (difícil, mas possível) e outras muitas mudanças no modo de viver. A segunda medida é nós nos
o que faz com que diversas doenças cresçam proporcionalmente, como o diabetes, a osteoporose, a demência, a aterosclerose e o câncer. Outras causas para o panorama sombrio que aquelas duas prestigiosas organizações internacionais traçaram são o aumento da obesidade, o crescimento da poluição ambiental, o desenfreado crescimento do estresse urbano, a redução da camada de ozônio no planeta Terra, o ainda arraigado hábito de fumar, o aumento do alcoolismo e da dependência de drogas, a extraordinária produção de produtos químicos de toda ordem em nossas indústrias, entre diversos outros fatores. No Brasil, são esperados cerca de 500 mil casos novos de câncer em 2011 e um número crescente nas
submetermos à busca ativa dos tumores malignos a partir dos 40 anos de idade, quando a incidência de câncer é alta e crescente. Todos nós, homens e mulheres, temos de, humildemente, ir aos nossos respectivos médicos e passar por alguns exames anualmente, sempre no intuito de buscar um diagnóstico de doenças pré-malignas e de tumores malignos iniciais. Câncer descoberto em check-up, antes de provocar sintomas, tem alta chance de cura. Isoladamente, de tudo o que foi apontado nas linhas anteriores, o mais importante, estatisticamente, é a abstinência do fumo. Sem sombra
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próximas décadas, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Hoje, o câncer é a segunda doença que mais mata no Brasil e em quase todo o mundo, perdendo apenas para os acidentes vasculares, como o infarto e o acidente vascular cerebral. Cerca de 1 de cada 3 de nós enfrentará o câncer ao longo da vida e possivelmente morrerá dele, apesar de números favoráveis de cura em algumas das muitas formas de câncer. O câncer de testículo, por exemplo, tem a cura quase certa graças ao desenvolvimento da indústria farmacêutica. Outros casos, todavia, como o câncer de pulmão e de cérebro, têm a sobrevida curta, medida em meses, apesar de todos os recursos médicos disponíveis.
de dúvida, o hábito de fumar é a principal causa de morte evitável em todo o mundo. Este é o verdadeiro inimigo número um da humanidade hoje. Deixar o cigarro faz parte de uma mudança significativa do estilo de vida e todos nós temos a responsabilidade de zelar por nossas famílias e nossos ambientes de estudo e trabalho. Abaixo o cigarro! É hora de cada um rever o seu modo de viver! O Lísias é professor livre-docente da Faculdade de Medicina da USP, diretor clínico do Instituto do Radium de Campinas lisiascastilho@gmail.com
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SAÚDE
PRISCILA LUZ
Vamos continuar nossa conversa sobre Fitoterapia? Infelizmente, em nosso país a preocupação com a saúde não é prioridade. Consultas médicas são difíceis de serem agendadas e o acesso ao medicamento não é tão fácil e, não raras vezes, economicamente inviável. Diante desse cenário, a prática da automedicação é comum e o uso dos fitoterápicos, sem a indicação de um profissional da saúde, é mais comum ainda. Mas há problema em utilizar plantas medicinais? A resposta é: depende. Depende da informação! Informação sobre qual o problema de saúde com que estamos lidando e informação sobre a planta a ser utilizada (para que serve, como usar e quais os efeitos que podem ocorrer em nosso organismo). Nosso objetivo é fornecer alguma informação sobre as indicações terapêuticas das plantas e a maneira correta de usá-las, mas a consulta a um profissional da saúde é de extrema importância para a manutenção da saúde. No artigo anterior, citamos algumas plantas que podem ser utilizadas nos distúrbios do estômago, como gastrite. Vamos continuar então com o sistema digestório!
Fitoterapia O uso das plantas para o benefício de nossa saúde
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A Priscila, membro da IPI de Cidade Patriarca, é farmacêutica (CRF 32.327)
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Problemas com o níveis de colesterol? Hoje em dia é comum escutarmos: “Meu médico disse que estou com colesterol!” O colesterol é uma molécula importante para nossa vida, e todos nós temos, mas o excesso dele, principalmente o de algumas formas que não são benéficas à saúde (o LDL, por exemplo), pode causar problemas. Geralmente, podemos associar os níveis altos de colesterol à nossa dieta, embora outros problemas também possam ocasionar esse aumento.
Duas plantas, que são alimentos, podem ser utilizadas para essa finalidade:
alcachofra beringela!
Estudos científicos comprovaram a ação dessas plantas na redução dos níveis de colesterol e, no caso da beringela, também dos triglicérides (outro tipo de “gordura” em nosso sangue). Elas estimulam o funcionamento dos nossos órgãos e a secreção de substâncias que promovem essa redução.
Efeitos colaterais podem ocorrer em pacientes alérgicos a algum constituinte químico da alcachofra ou da beringela e, geralmente, se manisfestam na forma de dermatites (irritações na pele). Pela ausência de estudos de segurança, em gestantes o seu uso não é indicado. As formas de usar podem variar: tinturas ou extratos fluídos (gotinhas para pingar na água) ou em cápsula, geralmente utilizados de 2 a 4 vezes ao dia, dependendo da forma usada.
“Tô mal do fígado!” Se existisse um banco onde todas as pessoas colocassem uma moedinha cada vez que falam essa frase, esse banco seria o mais rico do mundo! O fígado é um órgão extremamente importante para nossa vida. Os especialistas – hepatologistas – dizem que é o mais importante! E ele é maravilhoso mesmo, pois é ele que nos limpa de tudo que ingerimos. Os rins jogam fora, mas é o fígado que transforma tudo em algo fácil para jogar fora ou bom para usar, e ele faz isso todos os momentos de nossa vida bem quietinho, sem dar alarde, tanto que, quando descobrimos que há algo errado com ele, é por
Caso queira sugerir uma planta para os próximos artigos favor enviar um e-mail para: priscilaespozito@hotmail.com ou bioarte.farmacia@gmail.com, ou pelos fones (11) 5575-0872 e 5573-1003.
que o estrago já foi feito (e, em alguns casos, o estrago é fatal) e geralmente devido a abusos em nossos hábitos. Algumas plantas podem proteger as funções de nosso fígado:
boldo do chile zedoária jurubeba.
Estudos mostram a atividade hepatoprotetora dessas plantas, comprovando o uso popular. A zedoária e a jurubeba também possuem ação benéfica em moléstias do estômago. Podemos utilizar essas plantas de modo caseiro ou em
Lembrar nunca é demais: Boa alimentação, bons hábitos de vida, atividade física regularmente e boa orientação na saúde são caminhos para um corpo - templo do Espírito Santo - com muita disposição e saúde para a caminhada na obra de nosso Deus. A Revista da Família
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cápsulas ou tinturas. Como não estão disponíveis estudos envolvendo o uso dessas plantas durante a gravidez, o seu uso durante a gestação deve ser contra-indicado, como também durante a lactação. Doses excessivas de boldo podem causar irritação renal devido ao seu óleo essencial, devendo ser devidamente avaliado o seu uso em pacientes com problemas renais em geral. A jurubeba pode apresentar toxicidade em altas doses. Muitos de nossos problemas de saúde provêm de nossos hábitos de vida. Sejamos bons mordomos e aprendamos o domínio próprio!
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MELHOR IDADE
O sono nos idosos pode ser influenciado pelos sintomas urinários 12 Alvorada
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ÉBE DOS SANTOS MONTEIRO
O envelhecimento populacional é um fenômeno importante que vem acontecendo no Brasil e tem levado a uma reorganização do sistema de saúde, pois a população idosa exige cuidados que são um desafio devido às doenças crônicas que apresentam e também ao fato de incorporarem disfunções específicas. A maioria dos idosos tem queixas relacionadas ao sono, decorrentes de mudanças fisiológicas específicas do processo de envelhecimento ou de doenças que podem causar distúrbios secundários de sono. O sono no indivíduo interfere diretamente na qualidade de vida e hábitos diários da população. Sendo assim, uma noite mal dormida resulta em repercussões importantes ao idoso. A sonolência excessiva diurna (SED) é um dos sintomas mais comuns em pessoas idosas. O processo de envelhecimento pode produzir alterações nas paredes dos vasos sanguíneos, afetando o transporte de oxigênio e nutrientes para os tecidos. Essas doenças crônicas interferem na qualidade de vida e conseqüentemente no sono do indivíduo, já que a condição física dolorosa e crônica pode ser a principal causa de distúrbios do sono. A incontinência urinária (IU) é um problema de saúde pública, por causa do alto custo do tratamento clínico
ou cirúrgico e, também, por situações que levam a restrições de atividades de pacientes economicamente ativos. Nos Estados Unidos, a IU é responsável por aproximadamente 2% dos gastos com a saúde, o qual foi estimado em mais de 16 milhões de dólares por ano. O estudo de Fonseca et al. aborda de maneira muito coerente a relação entre os sintomas urinários e as conseqüências para a qualidade do sono. A noctúria (acordar a noite para urinar) e a enurese (urinar na cama) geram conseqüências significantes para a qualidade de vida. Esse estudo apresenta mais um aspecto relevante em relação aos cuidados com a população idosa. Uma paciente que se levanta diversas vezes para urinar não realiza uma noite de sono adequada; um paciente idoso sonolento favorece as quedas e desequilíbrios durante as idas ao banheiro e, conseqüentemente, pode gerar maiores gastos aos cuidadores. As pessoas que possuem distúrbios do sono e sintomas urinários devem procurar tratamento médico para que seja realizada uma avaliação minuciosa do caso e direcionado o melhor tratamento.
Os sintomas urinários podem ser decorrentes da incontinência urinária de esforço ou até mesmo por bexiga hiperativa, sendo necessário acompanhamento fisioterapêutico para que ocorra a melhora, minimizando assim os distúrbios do sono.
A Ébe, especialista em uroginecologia e pneumologia, vice-coordenadora da especialização em fisioterapia na Emergência da UNIFESP, é membro da IPI de Cidade Patriarca, São Paulo, SP
Pesquisa Um estudo que entrevistou 1.424 idosas descobriu que 53% delas apresentavam noctúria, sendo que 75% afirmaram ter insônia e 71% relataram ter uma redução da qualidade do sono. Além disso, o estudo encontrou uma relação da noctúria com o aumento de cochilos diurnos.
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VOZ DO CORAÇÃO O objetivo desta data é, sobretudo, sensibilizar governantes e sociedade para uma atenção especial aos enfermos, possibilitando assistência mais adequada.
14 de fevereiro:
Dia Mundial do Doente Entrevista com Eleny Vassão de Paula Aitken
Eleny Vassão de Paula Aitken
é capelã-missionária da Igreja Presbiteriana do Brasil , casada com o Missionário Gavin Levi Aitken, mãe de Todd, Aimee, Dalton, Davi, Denis e Daniel. Licenciada em Artes Plásticas e Teologia e Mestre em Aconselhamento Bíblico, atua como capelã em hospitais há 29 anos. É capelã-titular do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo e do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e presidente da Associação de Capelanias Evangélicas Hospitalares (ACEH). É autora dos livros: No leito da enfermidade; Consolo; Aconselhamento a pacientes terminais; A missão da igreja frente a AIDS; Esperança para vencer; O poder do amor; No leito da enfermidade (para pacientes); Mal em bem; Aconselhamento a pessoas em final de vida; Dor na alma.
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Alvorada: Vemos as práticas de saúde serem realizadas de maneira técnicas e objetivas. Por causa disso, é prejudicado o relacionamento entre profissionais e pacientes. O Ministério da Saúde criou um programa de humanização nos hospitais. Como a senhora vê isso na prática em seu dia-a-dia?
Eleny Vassão: A Humanização Hospitalar deve ter um planejamento e ações amplas, pensando desde o preparo de todos os profissionais, desde a recepção do hospital até o responsável pelos mais altos cargos. Deve contemplar o acesso, facilidade de agendamento de consultas, acessibilidade, até a disposição das enfermarias, salas de exame, cores e decoração do ambiente hospitalar. Creio
que é algo que está em processo, mas poucos hospitais estão realmente mais humanizados. Mesmo naqueles que têm melhores acomodações físicas e pessoal com excelência no treinamento humanizado e na habilidade de desempenho técnico, ainda falta a visão integral do ser humano, contemplando seu aspecto espiritual em maior profundidade. Alvorada: O ser humano consegue se reabilitar não apenas com remédios. A fé é importante para uma recuperação menos dolorosa e mais rápida?
Eleny Vassão: Milhares de pesquisas científicas têm sido publicadas, provando o impacto da fé sobre a saúde física e mental. Pessoas que
têm fé em Deus, freqüentam regularmente uma igreja e têm fortes vínculos recuperam-se em cerca de 1/3 do tempo em relação a outros com as mesmas patologias, sangram menos durante cirurgias, enfrentam melhor o período de internação e mantêm a esperança, mesmo diante de situações difíceis. Um dos maiores pesquisadores nesta área é o Prof. Dr. Harold Köenig, médico psiquiatra, geriatra e pesquisador cristão, da Universidade de Duke, nos EUA, que tem escrito muitos livros e publicado interessantes resultados de suas pesquisas científicas. Em nosso ministério de Capelania Hospitalar, temos visto, nesses 29 anos de trabalho, muitos pacientes em estado grave de saúde que, por terem profunda fé em Deus, enfrentaram melhor o sofrimento e, mesmo não obtendo a cura física para seus males, compartilharam a sua fé e a esperança eterna com paz e alegria, enfrentando a morte de uma maneira calma. Deixaram um legado de vida que nada pode apagar. Alvorada: Como a senhora vê o trabalho de grupos como Doutores da Alegria, Contadores de História e outros nos hospitais? Isso ajuda a diminuir o sofrimento causado pela doença?
Eleny Vassão: Eles fazem um trabalho muito interessante, bem organizado, com pessoas muito bem treinadas, que realmente divertem e fazem com que os enfermos encontrem diversão mesmo dentro de um hospital, até em uma UTI, podendo, por instantes, quase se esquecerem de suas dores. Também colaboram muito com a humanização hospitalar. Temos assistido suas apresentações informais junto ao leito, e eles são muito bons! Mas não deixam nada de valor eterno, e nem é esse o seu propósito. Alvorada: Como agir diante do sofrimento de uma pessoa?
Eleny Vassão: Creio que tudo começa no preparo do visitador. Ele deve estar em comunhão com Deus, buscando no relacionamento com Ele, através da oração e da Palavra, A Revista da Família
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primeiro perdão para os seus pecados, procurando com isso ser um canal límpido através do qual o Senhor possa agir na vida daquele que está sofrendo. A empatia, o "sentir com o enfermo", do visitador faz com que ele não fale demais e tenha muito cuidado com as suas palavras, que só deverão ser usadas, caso necessário, depois de dar ouvidos muito atenciosos ao sofredor. Quando pedimos ao Senhor que nos faça mais sensíveis à dor do outro, dando-nos amor pela pessoa e sabedoria ao falar, já teremos caminhado bem. É o paciente ou também o seu familiar (cuidador), a quem estivermos atendendo, que, através de sua linguagem verbal e não verbal, nos dará a palavra-chave, o problema que mais o aflige. Somente então poderemos falar, aconselhando biblicamente com cuidado e delicadeza, levando-o a conhecer a Deus, na pessoa de Cristo, que o confortará. Deus usa, muitas vezes, como seus instrumentos, gente de pele e osso, para demonstrar o seu amor para com aquela pessoa que ainda não o conhece. Alvorada: A senhora concorda com a existência do Dia do Enfermo (14/1) (11/2 Dia Mundial do Doente)?
Eleny Vassão: Eu não conhecia essa data. Mas procuramos confortar o enfermo todos os dias, no ministério de capelania.
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Alvorada: Existe carência de pessoas para o trabalho de capelania? Há cursos específicos de preparação?
Eleny Vassão: Os hospitais estão muito abertos para aqueles que fazem um trabalho organizado, com pessoas bem capacitadas e com bom equilíbrio emocional e teológico. Mas, infelizmente, não há muitas pessoas que têm se disposto para este ministério tão difícil. Temos oferecido cursos nos últimos 28 anos e capacitado muitas pessoas em todo o país, mas infelizmente não são muitas que concluem o treinamento prático supervisionado nos hospitais após o curso. Mesmo assim, já formamos visitadores e capelães para mais de 150 hospitais no Brasil e em 13 países. Não há nada mais gratificante do que perceber a transformação de vida, o conforto e a paz que Deus dá a um enfermo antes angustiado e desesperançado. Mesmo que sua situação clínica não tenha mudado, o Espírito de Deus age de dentro para fora, trazendo vida abundante. Alvorada: Fale um pouco do seu trabalho. Como as igrejas poderiam ajudar?
Eleny Vassão: Temos os nossos Cursos e Treinamento em Capelania Hospitalar Níveis 1, 2 e 3. Nossos professores e treinadores são excelentes, capacitando com excelência nossos alunos. Para 2012, teremos o Curso
Nível 1, de 28 de abril a 1º de maio. Em seguida, a seleção e o treinamento prático nos hospitais, para os aprovados. Em outubro, de 15 a 18, teremos o Curso Nível 2, onde nos aprofundaremos em Bioética, Psiquiatria, Tanatologia, Cuidados Paliativos, UTI, Geriatria e Aconselhamento Bíblico em Crises. Também oferecemos em um sábado, para as igrejas que o desejarem, o Curso de Capelania Pós-Alta Médica, preparando-as para o atendimento aos membros enfermos em hospitais e domicílio e, em alguns casos, para o atendimento domiciliar aos pacientes pós-alta hospitalar. Além da consultoria para implantação de capelanias em todo o Brasil, também atuamos diretamente, através de equipes de capelães e visitadores capacitados, em nossas capelanias nos hospitais do Servidor Público do Estado de São Paulo, Emílio Ribas, Pérola Byington, Santa Maggiori, GRENDACC, Universitário de Jundiaí, de Vila Penteado, CRT-AIDS, Municipal da Criança e de Urgência de Guarulhos. Agora temos também a Casa do Aconchego, localizada na Rua Oscar Freire, em Pinheiros, que atende pacientes e cuidadores dos hospitais da região, oferecendo-lhes alimentação, hospedagem, cursos, palestras, artesanato e aconselhamento bíblico. Todos podem colaborar através de doações ou trabalho voluntário.
ões Mais informulataçr o nosso
Você pode cons ania.com, ou site: www.capel l: sco pelo e-mai conversar cono om l.c ai gm elica@ capelaniaevang
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Hospital do homem GERSON DAVID FERREIRA
O Governo do Estado de São Paulo investiu R$ 2 milhões na compra de equipamentos de ultrassom, urologia, litotripsia (que destrói o cálculo renal através de ondas de impacto) para equipar o Hospital do Homem. O hospital ocupa uma área de 1,1 mil m². A unidade reúne especialidades médicas como Andrologia, Patologias da Próstata e Urologia, além dos núcleos de alta resultabilidade (check-up) e de ensino e pesquisa. O Departamento de Patologias da Próstata é dividido em dois setores: diagnóstico e tratamento das DST, prostatites (infecções da próstata causadas por
bactérias e vírus) e prevenção do HIV e HPV e tumores (câncer e hiperplasia benigna da próstata). Já na área de Urologia, o centro conta com profissionais de Nefrologia (hipertensão renovascular e transplante renal), Endocrinologia, Neurologia (disfunções da vesícula, uretrais e incontinência urinária) e urologias geriátrica e plástica. Ajude a divulgar, mesmo que você não resida na capital, pois é público e, por desconhecimento desses serviços, o uso tem sido pequeno. Não justificando o investimento, o hospital pode ser fechado.
Av. Brigadeiro Paulista, 2.651, Jardim São Paulo, SP 3289-2421 telefone (11) 4-8650. fax: (11) 328
O Rev. Gerson Davi é pastor da 3ª IPI de Santo André, SP
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Homem Hospital do Lu ís Antônio,
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FIQUE ATENTO
Preconceituoso,
eu?! VANESSA SENE
Você se considera preconceituoso? A resposta politicamente correta é não. Mas, se usar de honestidade, ainda que seja consigo mesmo, talvez admita um certo conceito pré-estabelecido. Veja bem, não se trata de preconceito. Convido você a bisbilhotar conversas de
algumas pessoas. O que acha? -Imagina! A vida dos outros não me desperta curiosidade. Neste caso, não tem problema, pois são apenas personagens fictícios e “nada” tem a ver com a realidade. Vamos! -Não é do meu feitio, mas já que você insiste...
No ônibus
Segunda-feira, 7 horas da manhã, Adélia esperava, no ponto de ônibus para o trabalho. Estava em cima da hora e isso lhe causava irritação uma vez que tinha por hábito chegar adiantada pelo menos dez minutos. Ainda por cima, tinha uma fila para entrar no coletivo. Finalmente, conseguiu. Que aperto! Alguém que estava um pouco atrás dela puxou assunto. -Adélia, tudo bem? -Oi, Sílvia. -Menina, você sabe o motivo da fila para entrar no ônibus? -Ah! É que aquela moça gordinha ali ficou entalada na roleta. -Sério? -A vida de uma pessoa gorda é tão complicada, né?! Devia tomar vergonha e fazer um regime. -Não é tão fácil. Eu já fui obesa, fiz tudo quanto é tipo de regime e não consegui perder peso. A solução para o meu caso foi a cirurgia de redução do estômago. Adélia ficou sem resposta e as duas seguiram sem trocar mais nenhuma palavra até a parada final.
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Na fila do banco
ia. Carlos e Roberto se enEra segunda-feira, quase meio-d iniciou a conversa. contraram na fila do banco. Carlos -Cara, que movimento! entendo por que os idosos -É verdade. Ainda por cima, não oria bem neste horário. Eles costumam vir retirar a aposentad nas o horário de almoço para têm tempo de sobra e a gente ape abafou Roberto. vir ao banco. Eu fico irritado, des havia dois rapazes falando Um pouco mais à frente, na fila, modar com a demora. Estaalto, rindo, pareciam nem se inco alto, forte, usava uma camiseta vam se divertindo. Um deles era los; o outro era franzino, com regata branca, exibindo os múscu trejeitos efeminados. disse a Carlos: Roberto olhou para os rapazes e Que pouca vergonha! -Olha só o jeitinho daqueles dois. primo? Aquele que indicou -Ué, aquele de branco não é o seu trabalhando? você para esta empresa em que está era o seu primo um dos raRoberto não tinha percebido que u uma desculpa, disse que pazes. Ficou desconcertado, invento promisso. Quando ia saindo, acabava de se lembrar de um com ouviu alguém lhe chamar: -Ei, primo. ou do rapaz na fila. Roberto, meio sem jeito, se aproxim -Desistiu de esperar? so. Vou deixar para des-Lembrei que tenho um compromis contar o cheque depois. deixo lá na empresa. Aliás, -Se quiser eu desconto pra você e como vai o novo emprego?
Na praça de alimentação do shopping
Era um sábado à tarde e, depois de saírem do cinema, Márcia e Dora decidiram tomar um lanche. -Quanta gente, Dora! -É mesmo. Estou vendo uma mesa ali. As duas se acomodaram. E, enquanto lanchavam, observavam o movimento. Pessoas bem vestidas, aparentando boa condição financeira, logo renderam comentários. -Sabe, Márcia, eu vejo essas pessoas passeando aqui e penso: “Quanta futilidade!” -Por quê? -Muitas delas não sabem o que é lutar na vida. Está vendo aquela moça de verde ali? Aquela toda arrumada, cheia de jóias, roupa de marca e óculos de sol - aliás, não sei por que usar óculos de sol em ambiente fechado - ela nem olhou para a mulher que está recolhendo o lixo ao lado da mesa dela. Quanta arrogância! -Mas a mulher da limpeza falou com ela? -Não vi. -Por que o comentário então? -Sabe por que esse tipo de atitude me incomoda, Márcia? É que eu nasci numa família pobre, perdi meus pais quando era adolescente, tive que batalhar muito para estudar, conseguir um emprego e, ainda hoje, luto com dificuldade. Quando você passa por privações, fica mais aberta e sem preconceitos. Por isso, quando vejo pessoas que nunca precisaram lutar por nada, receberam tudo de bandeja e ainda ignoram os outros, eu fico inconformada. -Realmente, algumas pessoas se acham melhores que as outras, mas isso não necessariamente tem a ver com condição financeira. Se não me engano, aquela moça de verde é uma amiga da minha chefe e ela tem um problema de visão. É quase cega. Neste caso, a sua indignação não faz sentido, Dora. Depois do comentário de Márcia, a conversa acabou e as duas terminaram o lanche observando em silêncio o movimento na praça de alimentação.
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Na porta do bar
Gil e Marcelo haviam combinado de encontrar Valmir na porta do bar onde tomariam alguma coisa antes de ir pra balada. Enquanto aguardavam o parceiro, observavam a igreja do outro lado da rua, bem em frente ao bar. -Gil, eu acho esse povo tão bitolado, fundamentalista. Eu não entro em igreja por nada neste mundo. -Muitos evangélicos são mesmo alienados, se acham donos da verdade, mas alguns são “gente boa”, como a minha avó. Ela nunca condenou meu estilo de vida. -Eu não gosto de crente. Sou favorável a leis que ponham um freio nessa gente preconceituosa. Afinal de contas, liberdade de expressão é válida apenas para quem sabe usar. -Em parte, concordo com você. Mas quem é capaz de determinar o “bom uso” da liberdade de expressão? Será que existe um legislador ou juiz totalmente imparcial para isso? Muitos usam o conceito de liberdade de expressão para legitimar o preconceito seja de que lado for. Gil e Marcelo foram interrompidos abruptamente por Valmir que se aproximou ofegante. -Está tendo uma troca de tiros entre polícia e assaltantes ali na esquina. Levei um tiro de raspão. A coisa está feia. Vamos entrar no bar. -Aqui, não! - disse o segurança, barrando a entrada dos rapazes - Não queremos confusão. Apavorados, atravessaram a rua correndo e entraram na primeira porta aberta que encontraram. -O que aconteceu? - perguntou um homem grisalho e sorridente no saguão da igreja. -Está tendo uma perseguição policial aí na rua. Meu amigo levou um tiro de raspão - disse Marcelo apontando para a perna de Valmir. -Entrem e tomem um chazinho para acalmar - disse o senhor. Quanto ao seu amigo, vamos cuidar do ferimento.
E aí, o que achou da vida alheia? A questão é que nos colocamos como padrão e olhamos para os outros através desta lente. Será que ela não é uma trave? (Mt 7.1-5). Jesus é o modelo para os que são dele. Sendo assim, devemos distinguir o comportamento da pessoa. Posso não concordar com o outro, mas não preciso rejeitá-lo por isso. Vale sempre lembrar que a função de julgar não é nossa e, por isso, somos péssimos neste ofício.
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A Vanessa, jornalista, integra do Departamento de Comunicação da 1ª IPI de Londrina, PR
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VIVER COM ARTE
1MA4RÇDOE
A DIA NACIONAL D
POESIA
MARIA EMÍLIA CONCEIÇÃO
Sou contadora de histórias, professora, poetisa e, nas horas vagas, palhaço. Sou o palhaço Alegria, da Biblioteca Municipal, onde trabalho. Membro da IPI do Brasil há 61 anos e da 2ª IPI de Anápolis há mais ou menos 36 anos. Tenho um amor muito grande por nossa igreja. Hoje meu trabalho na igreja está muito limitado por causa da saúde e escrever é para mim terapia e prazer. Agradeço muito pela oportunidade. Para mim, é um presente de Deus poder colaborar com vocês, um “tantinho” que seja, até mesmo por causa das minhas limitações. Esse será um trabalho que, como já disse, só me dará prazer. A Maria Emília é membro da 2ª IPI de Anápolis, GO
A Alvorada parabeniza todos os poetas e poetizas que com sua sensibilidade têm nos ajudado a olhar para o mundo e as pessoas sob outros prismas.
Dia da ou Direitos humanos
Poesia
humanos direitos?
nça entre Existe uma grande difere humano direito ser. Ter direitos humanos e o dever Todo ser humano tem de ser direito eitos deve ter. Mas, também, seus dir aquele O ser humano direito é gir, exi os Que sabe seus direit o, tud de Mas sabe que, antes Tem deveres a cumprir am criados Os direitos humanos for Para ajudar o cidadão. o, Quando ele é maltratad ão... aç em m Os direitos entra
Única raça
Somos seres humanos. Somos todos da mesma raça. Apesar da cor, Apesar do credo, Da opção política Ou sexual... O outro de mim É igual Somos todos seres humanos... Da mesma raça, Apesar dos olhos puxadinhos Arredondados, Amendoados, Esverdeados, Azuis, negros, Castanhos Ou pretinhos. Nem teria graça, Se todos fôssemos iguais... Deus sabe o que faz! Somos todos da mesma raça, Apesar do tamanho Pequeninos, Baixinhos, Altos Ou altíssimos. A Revista da Família
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adão: São direitos de todo cid de, morar, alimentar, ter saú no, dig o ári sal r trabalhar po . ão ers ter escola e div atenção Portanto, preste muita direitos. Em quem te rouba os Não importa quem seja, trão... Se político, sócio ou pa ita, Se o patrão não te respe tão; en , go pre em Procure outro desista. o, eit dir da Se o sócio não an urna, Mas, se for o político na diga-lhe não!
Apesar do peso pena, Peso leve Ou peso pesado Quem está ou não ao meu lado É meu irmão. Somos todos da mesma raça, Apesar da idade, Criança, Jovem, Adulto, Velho ou ancião. Somos todos da mesma raça. Por que então Olhar para o outro Com olhos assustados, Arregalados, De reprovação? Por que menosprezar Ou ser indiferente? Todos nós somos gente... Somos seres humanos Da mesma condição. Todos somos seres humanos. O que não tem graça É tratar de forma diferente Todos que, como você ou eu, Somos da mesma raça! nº 68 janeiro/fevereiro/março, 2012
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RESENHA
Nazismo e Religião Entre a aliança e o conflito
RAYSSA GON
Os cristãos, uma vez alinhados ao regime nacional socialista, revisaram muitos dos pressupostos e ensinamentos bíblicos com o objetivo de combinar a religião cristã com as bases ideológicas do nazismo.
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Enquanto eu lia o trabalho do André Tadeu (“Influência das Religiões no Nascimento e Consolidação do Nazismo Alemão”), vários adjetivos passaram pela minha cabeça para defini-lo. Acho que o que se encaixa melhor é ousadia. Sem dúvida, é um livro muito bem projetado e pesquisado, rigoroso e claro, mas a forma como André tratou um tema até hoje tão delicado, sem perder o foco ou o espírito investigativo, demonstra que ele possui a ousadia necessária a todos os bons pesquisadores. Um dos pontos que acho mais importante destacar na tese do André é a relação do regime nazista com as igrejas cristãs. Ao contrário do que se costuma pensar, o nazismo manteve relações muito mais estreitas com a Igreja Luterana (evangélica) do que com a Igreja Católica. A Reforma Protestante, por ter tido como um de seus pilares Martinho Lutero (nascido em Eisleben, região central da Alemanha), foi considerada fruto essencial de uma germanidade ideal. Muitos entusiastas do regime olharam a Reforma retrospectivamente como uma luta entre uma religião genuinamente ariana contra outra, estrangeira e invasora, no caso a Católica Romana. As reiteradas demonstrações de apoio dadas ao nazismo por Roma (pelo Papa Pio XII especificamente) foram feitas para garantir que Igreja Católica não mediria
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forças com Estado Nazista. De forma geral, enquanto os papistas gradativamente se alinharam ao governo nacional-socialista, os luteranos alemães se aproximaram do chamado protestantismo liberal – movimento de grande influência do século XIX. O grande mérito do livro do André é mostrar que o campo religioso é absolutamente necessário para entendermos o fenômeno do nazismo na Alemanha. A religião, então, nos ajuda a compreender não apenas o nazismo em si como também a organização da resistência organizada a esse movimento. É o caso da Igreja Confessante. Karl Barth é apenas um exemplo de grandes lideranças cristãs na luta contra o nazismo. Segundo ele, a comunhão entre os filhos de Deus deveria ser através do Espírito Santo, e não de uma mesma e única raça. Medidas eugenistas, como a esterilização em massa e eutanásia compulsória, também formaram, juntamente com os argumentos teológicos, as bases da oposição cristã ao nazismo. O nacional socialismo alemão também se fundamentou numa releitura de antigas crenças pagãs germânicas. Dietrich Eckart, um dos membros chaves do partido nazista, defendia que as crenças pagãs eram, na verdade, um cristianismo velado. Muitos dos símbolos e mi-
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O grande mérito deste livro é mostrar que o campo religioso é absolutamente necessário para entendermos o fenômeno do nazismo na Alemanha.
des políti
Autorida
André Tadeu explica a natureza dessa aliança: Para muitos protestantes liberais, a Alemanha havia sido predestinada por Deus para comandar a civilização do mundo moderno. O conceito da realização do reino de Deus por meio da esfera exclusivamente política – aliado a uma clara identificação com a política nacional alemã – forneceu bases teóricas para consolidar a união entre protestantismo e nazismo. Os cristãos, uma vez alinhados ao regime nacional socialista, revisaram muitos dos pressupostos e ensinamentos bíblicos com o obje-
tivo de combinar a religião cristã com as bases ideológicas do nazismo. Nesse sentido, o Congresso de Cristãos Alemães, realizado em 13/11/1933, em Berlim, é emblemático. Durante o evento, Hermann Krauser, um dos expoentes do governo, defendeu que, para ser vivido na realidade alemã, o cristianismo deveria ser depurado: o Antigo Testamento excluído – “com sua ética de recompensa judaica, e de todas as histórias de negociantes de gado e cafetões” – assim como as contribuições do “rabino Paulo”. Nesse contexto, Jesus seria apropriado como um líder audacioso, beligerante e, principalmente, antissemita.
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ã
reja alem
m uma ig
giosas e cas e reli
tos utilizados para estruturar o regime foram tomados de lendas e rituais nórdicos. As runas merecem destaque especial. O duplo raio usado como símbolo da SS (Schutzstaffel) – organização paramilitar de grande poder e influência – é derivado do chamado alfabeto rúnico. Um grupo dedicado ao culto e estudo dessas tradições se formou na Alemanha. Denominado “Comunidade de Fé Alemã”, contava com personalidades centrais do alto escalão nazista como integrantes e defendia o resgate completo dessas crenças. O trabalho de André nos mostra como alguns conflitos – pontuais, mas significativos – se deram entre os seguidores dessa dita religião germânica ancestral e os cristãos. Por fim, o livro ainda conta com análises e explicações sobre elementos do Hinduísmo, Budismo e até Astrológicos cooptados pelo regime nazista. Uma pesquisa completa, minuciosa e de fácil compreensão, que tem tudo para se tornar uma obra referencial para todos aqueles interessados em História e Religião. A Rayssa é estudante de história (FFLCH-USP), blogueira e editora do blogue secularista "Bule Voador".
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COMPORTAMENTO
Corrupção:
um problema sistêmico 24 Alvorada
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EVANDRO RODRIGUES
“Do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mt 15.19). A corrupção é um dos frutos ou resultados de nosso “estado pecaminoso”. Caímos nesse estado quando cometemos o pecado de afastarmo-nos de Deus. Sabemos que tratar os efeitos de uma doença não promove a cura. Apenas produz um efeito provisório de alívio. Se não encontrarmos a causa da doença, trataremos por um longo período seus sintomas, mas o indivíduo permanecerá doente. A religião cristã, ao longo de dois milênios, insiste em tratar os sintomas da doença humana. Queremos que os indivíduos abandonem os maus hábitos, deixem de beber, de fumar, de mentir e de fornicar. Porém, sem um verdadeiro encontro com Deus, uma legítima experiência de conversão, podemos até conseguir alguns resultados. Mas, fatalmente, serão provisórios. Assim, freqüentemente somos surpreendidos: “Como pode uma pessoa que parecia tão ‘boa’, de idoneidade ilibada, revelar-se invejoso, cruel, insensível, falso e corrupto?” O fato é que, a partir do século XVII, desenvolvemos um método do qual ficaríamos prisioneiros: o método cartesiano. Segundo a perspectiva cartesiana, se decompormos o todo em pequenas partes, analisando essas partes seria possível conhecer a totalidade. Aos poucos, fomos perdendo a capacidade de olhar as coisas e os fatos de uma maneira global, focando apenas suas frações. Ou seja, cada vez mais nos tornamos incapazes de enxergar as causas, preocupando-nos apenas com os efeitos. Segundo a Revista Exame, a corrupção é o tema mais comentado nas redes sociais. Só no mês de outubro, a palavra foi citada mais de 122 mil vezes no Twitter . Já dizia o velho Maquiavel que o rei revela sua sabedoria por meio da escolha de seus ministros. Porém, será que o grande
problema da corrupção, que assola nosso país desde tempos imemoriáveis, é apenas um problema de caráter pessoal e individual? Devemos acreditar que o erro reside apenas nas escolhas da presidente Dilma, quando da concessão dos ministérios do Esporte e do Trabalho? E o problema da Casa Civil – dentre tantos outros – do governo Lula ou o processo de improbidade por qual passou um ministro do governo FHC? Se retornarmos no tempo, desde a proclamação da República, há mais de 100 anos, os casos de corrupção e de má administração do erário público são incontáveis. Assim, permanece a pergunta: trocar os indivíduos, mudar os políticos e os partidos por eles representados é o suficiente para que se estanque o problema? Na verdade, a “dança das cadeiras” trata apenas dos sintomas. Passa a falsa impressão de que temos uma presidente firme, que não tolera pessoas corruptas em seu governo. Porém, o problema não é individual. É um problema sistêmico. Vivemos em um sistema político e econômico perverso, que possui em suas bases o ambiente ideal para que ocorram os acordos, os privilégios, a desigualdade, o favorecimento e a corrupção. Temos ainda um problema mais sério, essencial. O brasileiro é um povo trabalhador, festivo e cheio de esperança. Mas é também um povo que aprecia o “jeitinho”. Gosta de levar vantagem, de pagar menos, de artigos “genéricos”, de fazer “sumir” multas e dívidas – tem crente dando testemunho na igreja dizendo que Deus fez desaparecer suas dívidas do sistema credor – de estudar em cima da hora, de colar na prova. Ou seja, se não olharmos para a totalidade do problema, para sua essência, continuaremos tratando sintomas e continuaremos doentes. Não bastam indivíduos bem intencionados em um sistema corrompido. Prova disso é a expressiva bancada evangélica atual. Quais as ações promovidas por esses “homens de Deus” para denunciar os “malfeitos”? Infelizmente, foram agafanhados pelo sistema. Aplicando essa triste realidade para nossas igrejas, será que temos conseguido olhar siste-
O brasileiro é um povo trabalhador, festivo e cheio de esperança. Mas é também um povo que aprecia o “jeitinho”. Gosta de levar vantagem, de pagar menos, de artigos “genéricos”, de fazer “sumir” multas e dívidas – tem crente dando testemunho na igreja dizendo que Deus fez desaparecer suas dívidas do sistema credor – de estudar em cima da hora, de colar na prova A Revista da Família
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A responsabilidade pelos pecados coletivos da igreja é sua. É minha. É de todos nós. Se não nos arrependermos, não reconhecermos nosso afastamento de Deus, continuaremos a trocar ministros, como nossa presidente, sem que haja uma intervenção direta nas causas de nossa enfermidade. As situações que nos entristecem em nossa igreja local são apenas sintomas, resultados de uma vida muitas vezes dedicada apenas aos nossos próprios interesses, à nossa sede de poder. Precisamos fazer uma escolha: ou Deus governa ou governamos nós.
micamente para os problemas que enfrentamos? Quem é o responsável pela disputa de poder, pela divisão, competição, politicagem e corrupção (não apenas relacionada a dinheiro, mas a princípios morais e teológicos), presentes em sua igreja local? Muitos responderão a essa pergunta sem pestanejar: a culpa é dos líderes! E qual a solução? Vamos trocá-los! Mas você já reparou quantos pastores passaram pela sua igreja? Quantos presbíteros foram substituídos? E então? As coisas mudaram? Sei bem que os pecados de uma liderança que não ouve a voz do Espírito Santo trazem graves conseqüências para a igreja. Porém, precisamos lembrar que a igreja não é formada apenas por líderes. A responsabilidade pelos pecados coletivos da igreja é sua. É minha. É de todos nós. Se não nos arrependermos, não reconhecermos nosso afastamento de Deus, continuaremos a trocar ministros, como nossa presidente, sem que haja uma intervenção direta nas causas de nossa enfermidade. As situações que nos entristecem em nossa igreja local são apenas sintomas, resultados de uma vida muitas vezes dedicada apenas aos nossos próprios interesses, à nossa sede de poder. Precisamos fazer uma escolha: ou Deus governa ou governamos nós. Meu desejo sincero é que, ao refletirmos sobre essas questões, possamos retroceder alguns passos, voltando ao primeiro amor, para que somente “Deus seja tudo em todos”. Que o Senhor transforme nossa essência, para que o todo seja transformado em nossa volta. Certamente, se alguém pode transformar nossa vida, individual e coletivamente, esse alguém é Jesus Cristo, “o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas” (Fp 3.21). Deus abençoe nosso país e nossa amada IPI para que a corrupção humana seja vencida pelo amor divino; que o pobre seja vestido e alimentado, com oportunidade de educação e trabalho; que a Palavra de Deus seja encarnada por meio da igreja e venha a nós o Reino de Deus.
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O Evandro é membro da IPI de Vila Brasilândia, São Paulo, Capital evandro_enops@hotmail.com
1 Exame.com. Disponível em: http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/ governo-dilma-corrupcao-e-o-tema-mais-falado-nas-redes-sociais.
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CRISTIANISMO
Fazer discípulos: nosso grande desafio!
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Reconhecemos que somos uma comunidade de fé, estabelecida por Cristo com a finalidade de proclamar as boas novas do evangelho fazendo discípulos. Esta é a nossa identidade básica.
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ÁUREO RODRIGUES OLIVEIRA
Todos nós nos deparamos com algumas perguntas às quais não podemos deixar de responder ao longo da vida sob pena de não alcançarmos realização e plenitude em nossa vida. Perguntas como: “Quem sou eu?”; “De onde vim?”; “Para onde vou?”; “Qual a finalidade de minha A Revista da Família
vida?” etc. martelam nossa mente e precisamos encontrar respostas. Somente no relacionamento com Deus essas perguntas encontram respostas significativas. Com a igreja, não é diferente. Temos que nos fazer as mesmas perguntas e questionamentos. Reconhecemos que somos uma comunidade de fé, estabelecida por Cristo com a finalidade de proclamar nº 68 janeiro/fevereiro/março, 2012
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» Rev. Áureo Rodrigues Oliveira
as boas novas do evangelho fazendo discípulos. Esta é a nossa identidade básica. Todavia, percebemos que, como IPI do Brasil, temos nos afastado do propósito para o qual Jesus estabeleceu a igreja. Este é, sem dúvida nenhuma, um dos maiores desafios com que nossa igreja se depara hoje: a evangelização tem deixado de ser a prioridade. Temos desenvolvido vários programas e belos projetos na área social; temos enfatizado o ensino e o estudo da Palavra; nossa música tem excelentes expositores e não nos faltam talentos nessa área; muitas atividades têm sido desenvolvidas para fortalecer a comunhão; temos construído belos templos, todavia, a evangelização propriamente dita e que é o centro da missão tem se constituído uma lacuna em muitas das nossas igrejas.
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Para ser honesto, não apenas o tema da evangelização, bem como sua prática efetiva tem desaparecido não apenas das igrejas locais, mas também das preocupações da igreja nacional. Avançamos em muitas áreas, todavia esse assunto ficou esquecido. Isto tem representado uma grande perda não apenas para a vida da igreja, mas também para o seu crescimento. Os últimos resultados estatísticos têm comprovado essa afirmação. Nosso crescimento anual não tem ultrapassado 5%. Isto representa apenas o crescimento vegetativo. Ou seja, a simples inserção daqueles que nascem no seio da igreja. Para ser mais específico ainda, somos 62 igrejas na cidade de São Paulo, totalizando aproximadamente 6.400 membros em um universo populacional de cerca de 11 milhões de pessoas!
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Se usarmos outros exemplos, os números não são, infelizmente, muito diferentes. Tudo isso ilustra um fenômeno generalizado, o qual temos que reconhecer e confessar, ou seja, não estamos fazendo aquilo para o que a igreja foi constituída: fazer discípulos. Como já o mencionamos acima, temos feito muitas coisas boas, exceto o fundamental da missão da igreja: fazer discípulos. A falta do foco na missão da igreja resulta inevitavelmente no empobrecimento, no declínio da qualidade de vida da igreja e conseqüentemente no declínio numérico. Velhos jargões tais como: “Queremos qualidade não quantidade”; “Não fazemos proselitismo”; etc. não se sustentam. Igrejas saudáveis crescem naturalmente. Igrejas onde a Palavra é pregada e os seus desa-
fios são levados a sério crescem, produzem frutos, se multiplicam. Christian Schwarz elaborou uma extensa pesquisa investigando durante mais de 10 anos cerca de 1.000 igrejas em 32 países e chegou a algumas conclusões interessantes. Ele conseguiu identificar 8 marcas das igrejas que crescem: liderança capacitadora, ministérios orientados pelos dons, espiritualidade contagiante, estruturas funcionais, culto inspirador, grupos familiares, evangelização orientada para as necessidades e relacionamentos marcados pelo amor fraternal (Christian Schwarz. O desenvolvimento natural da igreja. Curitiba: Editora Esperança). Como se pode ver, o crescimento é o resultado de um conjunto de situações e processos. Todavia, todos esses fa-
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Nosso crescimento anual não tem
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ultrapassado %. Isto representa apenas o crescimento vegetativo. São Paulo tem
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habitantes, existem 62 IPIs totalizando 6.400 membros.
tores estão a serviço da grande tarefa da igreja: fazer discípulos. Não há crescimento como fruto do acaso ou de circunstâncias fortuitas. Se a razão de ser da igreja está bem clara em nossa mente e coração, tudo o que fizermos não pode estar desvinculado do “fazer discípulos”. Por outro lado, o crescimento da igreja não pode nos levar a adoção de estratagemas visando apenas à adição de pessoas. A pressão do sucesso, uma cultura que avalia o sucesso apenas
pelos números e resultados, as comparações com igrejas, principalmente as neopentecostais, que crescem vertiginosamente, têm levado muitos pastores e líderes à adoção de estratégias de cunho duvidoso. A cópia ou transplante de técnicas e procedimentos de modo acrítico ou ainda sem fundamentação bíblica têm criado mais problemas do que soluções. Entretanto, somos uma igreja que, por sua tradição reformada, preza a centralidade da
Palavra. Desta maneira, temos sempre que nos guiar pela Palavra. Na sua simplicidade, a Palavra nos lembra que nossa tarefa não é nenhuma outra senão fazer discípulos. Há muitas formas pelas quais isso pode acontecer. Todavia, não se pode considerar que todas as atividades da igreja sejam o fazer discípulos. Como bem disse um grande missionário: “Se tudo é missão, então nada é missão!” As generalizações produzem esses conceitos difusos.
Discipulado se faz com relacionamentos Fazer discípulos é uma tarefa bem específica, intencional e principalmente relacional. Discipulado requer relacionamentos. Eles são fundamentais para que se criem oportunidades de discipulado e são o espaço adequado e indispensável. Li recentemente uma pesquisa com cerca de 14.000 pessoas a qual indicava que 80% delas foram levadas a Cristo por conta de relacionamentos pessoais. Outros fatores, como campanhas evangelísticas, eventos, líderes, necessidades pessoais, etc., tiveram participação inexpressiva
comparando com o fator relacionamentos. Crentes que, ao iniciarem sua vida cristã, foram adequada e constantemente discipulados têm entendido essa tarefa com mais facilidade e se propõem com mais disposição a discipular outras pessoas. Na verdade, é uma grande cadeia. Discipulando para levar pessoas a Cristo, discipulando crentes para reproduzirem o que lhes foi ensinado e o processo continua. Infelizmente, temos aprendido muito pouco sobre o que significa ser crente e esperamos que
alguém, principalmente o pastor porque ganha para isso, evangelize em nosso lugar. Neste ponto, tocamos em um problema que nos afeta profundamente: a centralização no pastor que deve fazer tudo; a redução da vida igreja ao templo que bloqueia a noção de que cada casa ou família deve ser uma agência a serviço do Reino; e o reducionismo da vida cristã às atividades de um dia por semana, no caso o domingo. Esses reducionismos, além de terem sido uma constante em nossa realidade, impedem a compreensão
de que todos somos ministros, com diferentes dons para servir ao Senhor, que cada casa ou lar é um espaço a serviço do Reino, e que todos os dias somos chamados a estabelecer e cultivar relacionamentos que propiciem o conhecimento de Jesus como Senhor. A ordem do Senhor Jesus é bem clara e simples: “Ide e fazei discípulos”. Estamos prontos para obedecê-lo e cumprir nossa tarefa como igreja? O Rev. Áureo, pastor da 1ª IPI de Fortaleza, CE, é presidente da Assembléia Geral da IPI do Brasil
Todos somos ministros, com diferentes dons para servir ao Senhor. Cada casa ou lar é um espaço a serviço do Reino. Todos os dias somos chamados a estabelecer e cultivar relacionamentos que propiciem o conhecimento de Jesus como Senhor. A Revista da Família
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REFLEXÃO
Servir ao Senhor Dar e receber
CRISTINA SILVA SOUZA
Sou psicóloga, membro da IPI de Freguesia do Ó há quatro anos. Acho importante citar, pois, devido à minha profissão, sou muito analítica e, em minha mente, costumo conciliar aprendizagens da minha área profissional com a minha vida em Cristo. Em meus atendimentos clínicos, não posso falar do amor de Jesus, segundo o Código de Ética ("Art. 2º: Ao psicólogo é vedado...: e) induzir convicções políticas, filosóficas, morais ou religiosas, quando em exercício de suas funções"). E não falar do 30 Alvorada
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amor de Jesus para alguém que se encontra em sofrimento é frustrante. Pensei então em escrever sobre os pensamentos e avaliações que me surgem nesta conciliação que faço, até porque eu não estou cristã, eu sou cristã, assim como eu não estou psicóloga; eu sou psicóloga. Minha reflexão hoje é sobre o dar e receber. Sou estudiosa do autor Bert Hellinger. Ele fala em sua teoria que existem leis que regem o amor no sistema familiar, ou ordens do amor. Segundo Bert, a primeira lei é a lei do pertencimento; a segunda é o equilíbrio entre o
dar e receber; e a terceira é a ordem da hierarquia no sistema familiar. Sou estudiosa da Bíblia, assídua na escola dominical e nos cultos. Num determinado dia, no culto, o pregador falava sobre servir. Neste momento, fiz um link entre servir – ser servo de Deus – e a teoria do dar e receber. Perguntas que surgiram em minha mente: 1. Por que algumas pessoas somem da igreja? 2. O que faz com que outras pessoas permaneçam? 3. O que o dar e o receber têm a ver com isso?
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Por que algumas pessoas somem da igreja? Algumas pessoas procuram a igreja nos momentos de desespero, dificuldades, sofrimento, falta de esperança e, às vezes, até na desistência da vida. Quando conhecem o amor de Jesus, a vida delas começa a melhorar, começa a surgir uma paz imensa. Logo vem a segurança de saber que existe um Deus, que nos ama e que é maior que tudo. A partir desta certeza, iniciam-se algumas mudanças no emocional: segurança, atitude, determinação, escolhas, etc. E o resultado é mudança de vida, alegrias, realizações, tranqüilidade, bênçãos e mais bênçãos. Porém, muitos, quando estão bem, começam a sair da igreja. E a igreja é o local que nos alimenta de Deus. Precisamos do prato, garfo, faca e, principalmente, da comida para alimentar nosso corpo. Também precisamos da igreja, da Bíblia, do pastor, dos irmãos em Cristo para nos alimentarmos de Deus. Lembrome de uma irmã que, em uma reunião, justificou sua ausência na igreja pelo fato de ter comprado um imóvel. Ficou mais longe e, por isso, não estava vindo à igreja. Logo, outro irmão comentou: “Então, a bênção virou maldição?” O que deveria ser bênção (compra do imóvel) virou maldição (afastou o casal da igreja). Sabemos que este fenômeno ocorre com bastante freqüência. Quando as pessoas ficam bem por diversos motivos, começam a não ir à igreja e, conseqüentemente, a se afastar de Deus. O que faz com que outras pessoas permaneçam? Comecei então a observar as pessoas assíduas na minha igreja: os dois pastores, os presbíteros, os diáconos, os líderes dos jovens, o grupo de louvor, as pessoas que compõem
o coral, os jovens da mesa de som, os professores da escola dominical, os superintendentes, os coordenadores de adultos, as pessoas que integram os grupos de oração, as pessoas que integram o Despertar da Família (trabalho realizado pela nossa igreja), entre outros, ou seja, os servos. Todos que ali são assíduos são servos, servem ao Senhor, exatamente como nos ensina a Bíblia: “Servi ao Senhor com alegria e apresentai-vos a ele com canto” (Sl 100.2). Bert, em seus escritos, mostra que deve haver um equilíbrio entre o dar e o receber. Vamos imaginar um exemplo: Uma moça chamada Maria, com 24 anos, trabalha, faz faculdade, conhece um jovem chamado João, 28 anos, que trabalha. Ambos iniciam um namoro. João liga para Maria 10 vezes ao dia, leva bombons todos os sábados e domingos. Manda 30 torpedos por noite, falando do quanto a ama. Este excesso de “amor” causa um desequilíbrio na relação. Maria passa a não suportar mais e termina o namoro. Se o João tivesse ligado uma vez pela manhã, muito provavelmente, no início da noite, antes de entrar para a aula, a Maria ligaria pra ele. Seria o equilíbrio entre o dar e receber. Mas o que esta história tem a ver? Tudo. Trazendo o exemplo para a igreja, vamos pensar no irmão que chegou à igreja destruído. Ele começa a se alimentar de Jesus, recebe informações, louvores, leitura da Palavra, hinos, testemunhos. Enfim, recebe... recebe... recebe. Chega um momento em que ele se sente tão preenchido que acreditará que não precisa mais ir à igreja; já conhece “tudo” e passa a freqüentá-la de vez em quando (sabemos que este comportamento tem graves conseqüên-
cias, porém este irmãozinho não sabe, até porque ele não está obedecendo a Bíblia, não está servindo). O irmão servo recebe do outro irmão servo e doa de si: serve. Vamos imaginar um exemplo: a nossa irmãzinha Maria participa do Grupo de Louvor, ela canta e encanta a igreja com sua linda voz, leva aos ouvintes a Palavra cantada, comove as pessoas, ensina, etc. Através do seu serviço, contribui na alimentação de todos. Após o louvor, Maria ouve a Palavra, é alimentada e o pregador que já se alimentou do louvor agora é o alimentador; depois, a pianista, que alimenta a igreja com o som do piano, que já foi alimentada pelo louvor e pela Palavra. Assim, o irmão que serve estará sempre carente de conhecimento e alimento para se preencher mais e servir cada vez melhor, mantendo o equilíbrio entre o dar e o receber. Servir a Deus é maravilhoso, gratificante e não tem preço. Não importa como você serve, mas é importante que, se ainda não é um servo, comece a pensar sobre isso. A Bíblia nos diz: “Pela graça sois salvo, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2. 8-10). Uma das minhas filhas tem 10 anos e, outro dia, estava no trabalho do pai e alguém perguntou se ela estava trabalhando. “Por enquanto, trabalhar só pra Deus”, foi sua resposta. Os seus serviços em nossa igreja são para honra e glória do nosso Deus. “Então disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos são os ceifeiros” (Mt 9.37). Está dado o recado! A Cristina é psicóloga e membro da IPI da Freguesia do Ó, São Paulo, SP
Cristina Silva Souza – Psicóloga | CRP: 06-71699 |IPI de Freguesia do Ó Email: uilcris@hotmail.com A Revista da Família
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VOZ DO CORAÇÃO Nossos filhos são desta geração moderna, mas levam em sua bagagem muito de nossa família e de princípios bíblicos. Tive muito medo de que se espelhassem na Xuxa ou na Madona.
Abrindo as porteiras
Mudando a forma, mantendo o conteúdo DULCE VIEIRA FRANCO DE SOUZA
Hoje, sexta-feira muito de manhãzinha, vindo com meu esposo para o Ceasa, em Poços de Caldas, ganhei o dia! Vi uma cena de muita reverência! Em um terreno inclinado, pedregoso, o trabalhador rural solitário, apoiado ao cabo da enxada, tira o chapéu da cabeça, faz uma pausa e, em seguida, diz o nome do Pai. Irá começar sua lida, preparar a terra antes das primeiras chuvas. Parece que, naquele ato, reconhece que precisa da guarda e orientação de Deus para seu dia, também do sol e da chuva, para a germinação da semente, tanto do milho quanto do feijão. Vi beleza e sinceridade na cena que se faz rara. Talvez ele estivesse repetindo um comportamento aprendido com seus pais ou avós. Naquele tempo mais remoto, não havia “bolsas” do governo, o sustento viria da terra, tinham certeza. Diariamente agradeço a Deus pelo que aprendi com meus pais, na convivência, sem tom professoral. Minha mãe tinha dia certo para assar as quitandas. Em volta da amassadeira, ficávamos a servi-la. Quebrávamos os ovos, coávamos 32 Alvorada
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a farinha de trigo, o polvilho ou o açúcar refinado. Só ela colocava a mão na massa. Até hoje não sei fazer muito bem o sequilho de araruta, mas sei quanto trabalho dá. Há segredo nesta receita! Quantos segredos para manter a casa funcionando, suprida, limpa! Quantos segredos para manter um bom ambiente familiar! Almas cheias, transbordando! Quanto cuidado parte de uma convivência atenta e amorosa! Nossas dores e doenças pediam chá. Nossa postura corporal ou nosso olhar revelavam nosso ânimo. Nossos modos precisavam de um burilamento. Quantas especialidades uma mãe é capaz de reunir? Professora, fonoaudióloga, psicóloga, botânica, chefe de cozinha... A negócios ou para servir algum amigo com seus conhecimentos de engenharia, meu pai viajava pelas precárias estradas rurais da redondeza. Nós, as crianças, íamos juntas para abrir as porteiras, inúmeras. Conhecemos então muitas famílias inseridas em seu verdadeiro contexto. Acompanhando aquelas conversas de gente grande, não podíamos avaliar todos os conceitos que íamos aprendendo. A “Hora do Brasil” e “Repórter Esso” geravam
discussões acaloradas. Também causos verdadeiros, antigos, sobre aval, crimes, inimizades, divisas, cercas, águas, nos ensinavam. As pessoas, vítimas ou autoras, tinham nome e endereço. As ações e opções geravam consequência a curto e longo prazo. Chocavam-nos. Estudei. Casei. Tive filhos. Comecei a entender a grande dificuldade existente ao criá-los em um contexto diferente do anterior. Aquele mundo meu já não existia, ao menos para mim. Ficava apavorada ao vê-los frente à televisão, vendo e ouvindo coisas sem futuro. Queria jogá-la fora, pela janela. Conversando com um pastor amigo sobre nossas preocupações, ouvimos uma frase preciosa: ”Mudar a forma, mantendo o conteúdo”. Fomos envolvendo nossos filhos cada vez mais em nossas atividades rotineiras de nosso mundo real, atual. Nossos filhos são desta geração moderna, mas levam em sua bagagem muito de nossa família e de princípios bíblicos. Tive muito medo de que se espelhassem na Xuxa ou na Madona. Prefiro que tenham como referência Rute, Ester, Lídia ou Dorcas. Poderiam ser alunos ouvintes da Escola Dominical e alunos praticantes da Escola
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Rede Globo. Querendo suprir demais as necessidades materiais e prevenir o futuro, podemos deixar nossos filhos órfãos de pais vivos. Ainda ontem, conversando com uma assistente social que trabalha em um centro de recuperação e na cadeia em uma cidade próxima, assustei quando ela disse que 90% dos presidiários têm em torno de 20 anos, devido ao uso do crack. Ela atribui este fato à ausência dos pais. Diz: “As crianças e os jovens não precisam tanto de bens materiais; não é disto que eles gostam; não é isto que eles querem”. Ricos e carentes. Valorizando demais o colégio, a leitura, poderemos deixar de passar nossa história e afeto. Mais tarde, talvez procurem os rastros de sua família. Nenhum colégio ou faculdade poderia dar uma educação vip, exclusiva, para nossos filhos. Isto nos coube. A psicanalista Roberta Ecleide Kelly afirma em um de seus artigos: “Nascemos sem estratégias, desamparados e integralmente dependentes... A falta de natureza impõe que sejamos feitos pelos outros e isso exige que a transmissão de cada detalhe se faça de modo minucioso no miudinho, a cada traço cotidiano: educação... É preciso, pois, educar as crianças... Nosso tempo (pós) moderno é infeliz ao tentar nos desobrigar desta tarefa essencial para todos, quando parece dizer: “Não precisa! Espera que depois aprende!” Educar é necessário. Não é fácil e nem pode sê-lo... Pior! É chato! Dizer não, redizê-lo, tirar daqui e dali, retirar, orientar, repetir! Educar A Revista da Família
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Gosto de Provérbios 29.17, quando Salomão diz: “Corrige o teu filho, e te dará descanso, dará delicias à tua alma”.
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é ensinar o que deve ser feito para ter tempo e espaço de fazer o que se quer e gosta, e arcar com as conseqüências do feito. Educar crianças é a tarefa mais importante da humanidade e não pode ser banalizada. A tolerância à frustração é aprendida na delicadeza das proibições, na aspereza dos limites. Para que educar as crianças? Para dar-lhes a chance de aprenderem o quanto antes a difícil arte de conviver na dificuldade” (Revista Lacrème-Nepe, ano 1, nº 5, p.67, Poços de Caldas, MG). Não consegui discordar das afirmações acima. Parece que a autora concorda mais com Salomão do que com Rousseau. Também Anthony Daniels, psiquiatra e escritor inglês, que escreve artigos duros sobre o sistema prisional, afirma nas páginas amarelas da Veja em 17/8/2011: “Rousseau difundiu a idéia de que o ser humano é naturalmente bom, e que a sociedade o corrompe. Eu não sou religioso, mas considero a visão cristã de que o homem nasce com o pecado original mais realista. Isso não significa que o
homem é inevitavelmente mal, mas que tem que lutar contra o mal dentro de si”. Eu e meu esposo, no início de nosso ministério, tivemos contatos com famílias de irmãos que usavam o livro “Summer Hill. Liberdade sem medo” como base educacional para os filhos. O resultado não foi bom. Gosto de Provérbios 29.17, quando Salomão diz: “Corrige o teu filho, e te dará descanso, dará delicias à tua alma”. Também adotamos Provérbios 3.12; 13.24; 14.1; 20.7; 22.6; 29.15 e etc. Quase ouço Roberta Cleide e Anthony Daniels dizendo: “Há perigo eminente em uma criança indisciplinada, tanto para ela como para os que estão à volta”, o que será que andam vendo e ouvindo em seus consultórios? Amamos nossos filhos? Clamemos por sabedoria! Deus nos ajude! A Dulce é membro da IPI de Botelhos, MG
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PAIS E FILHOS
EZEQUIEL LUZ
Chequei em casa no final da tarde, depois de um dia de trabalho, e encontrei meu filho mais velho com o seu notebook de um ano e meio de uso todo desmontado em cima da mesa. Perguntei assustado: “O que você está fazendo, menino?” Ele, sem levantar os olhos, respondeu com toda calma: “Vou pintar meu notebook!” Com semblante de preocupação e cara de assustado retruquei: “Quem disse que é possível pintar um notebook?” “Pai, na internet você acha de tudo”, me respondeu secamente. Na rede, ele achou um vídeo que ensinava, passo a passo, todo o processo para desmontar, pintar e montar um notebook. Seguiu a todas as orientações e obteve êxito no seu propósito de dar uma nova face ao seu “note”. Meu filho tinha razão. Na rede mundial de computadores, você encontra todo tipo de informação, tanto as que informam como as que desinformam. A palavra informar vem do latim “informare”, plavra composta por “in”, prefixo com a idéia de movimento para dentro, e “formare” que significa formar. Daí a idéia de modelar, dar forma, formar uma idéia de algo. Ao usar a expressão criança informada, expressamos a idéia de que os saberes e conhecimentos que a criança e o adolescente incorporam contribuem
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para sua formação. Mas também saberes e conhecimentos excessivos ou inadequados podem contribuir para a desinformação. Mesmo não havendo internet no período bíblico, encontramos no livro sagrado exemplos de informação e desinformação de crianças e adolescentes. Um deles é bastante constrangedor para nós que vivemos no século XXI. Está registrado no 2º Livro dos Reis e narra a viagem de Eliseu de Jericó para Betel. Na estrada, alguns jovens zombaram dele, chamado-o de careca. Ele olhou para os meninos e os amaldiçoou. Duas ursas apareceram e mataram 42 deles (2Rs 2.23-24). Esses meninos eram desinformados. Não tinham as informações adequadas sobre o profeta, sobre o temor do Senhor ou receberam informações geradoras do desrespeito e da falta de temor para com o profeta de Deus. No mesmo livro, encontramos o registro da história de uma menina que o exército da Síria prendeu. Ela foi feita escrava na casa da mulher de Naamã, comandante do Exército. Ao saber do grave problema de saúde do comandante, ela disse à patroa: “Eu gostaria que o meu patrão fosse falar com o profeta que mora em Samaria, pois ele o curaria da sua doença”. Com base nessa informação, o rei da Síria enviou Naamã para Samaria. Depois de alguns de-
sencontros, o comandante sírio resolveu obedecer às orientações do profeta Eliseu e se banhou no rio Jordão, sendo curado da lepra (2Rs 5.1-19). Essa menina era bem informada. Havia recebido todas as informações adequadas para a sua idade sobre Deus e sobre os seus profetas. Usou estas informações para o benefício de outra pessoa e para testemunhar a sua fé. Os exemplos bíblicos são importantes para colocar pais e educadores em alerta. A internet está cada vez mais presente na vida das pessoas, principalmente das crianças e adolescentes. Eles têm na rede um ótimo local para aprender, se divertir, bater papo com os amigos da escola e simplesmente relaxar e explorar. Como vivemos em uma sociedade marcada pela violência, a internet toma lugar das brincadeiras de rua, do passeio de bicicleta, da ida à praia, da visita a um coleguinha. Para os pais, ficar em casa é muito mais seguro. Mas, assim como no mundo real, a rede pode ser perigosa para as crianças. Pode ser uma janela para toda sorte de perigo que imaginamos estar do lado de fora da casa. Por esta razão, é importante estabelecer uma estratégia para filtrar as informações e evitar aquelas que são inadequadas ao desenvolvimento das
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crianças e adolescentes. Existem no mercado vários programas de bloqueio que os pais podem usar para controlar os sites visitados pelos seus filhos. Porém, a opinião dos especialistas é que, por melhor que seja o software, ele não será capaz de bloquear os milhares de sites existentes na rede. Daí a necessidade de saber com quem as crianças e adolescentes se relacionam, que sites visitam. Além disso, é necessário estipular um tempo limite de uso do micro, durante a semana e nos finais de semana. Isso é importante para que as crianças não fiquem expostas a excessos de informações, deixando de fazer outras atividades mais socializantes e menos solitárias. Antes de permitir que seu filho permaneça online sem a sua supervisão, use o diálogo e o bom senso para estabelecer regras de segurança. Estimule seus filhos a compartilhar com você suas expe-
riências com a internet. Se eles necessitarem de um login, ajude-os a criar um nome que não revele nenhuma informação pessoal sobre eles. A criança tem muita facilidade em acreditar que tudo que está na internet é verdadeiro. Ensine seus filhos como a rede funciona e explique que qualquer um pode criar um site, sem que ninguém lhe pergunte nada. Ensine-os também a usar vários recursos de informação e a verificar, questionar e confirmar o que encontram online. Ensine-os, sobretudo, que a diferença entre certo e errado na internet é a mesma da vida real. Assim como meu filho encontrou uma orientação para desmontar, pintar e montar seu notebook, ele poderia ter acesso a outras informações. Qualquer pessoa pode obter na internet orientações seguras de como construir um coquetel molo- tov, uma bomba
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caseira, de como usar uma arma, atirar com um fuzil ou carregar um revólver. Além dessas, há muitas outras de todos os matizes ideológicos, políticos, religiosos e morais. São informações totalmente inadequadas para pessoas em processo de formação física, intelectual e emocional. Para o bem das crianças e adolescentes, é muito importante que pais e responsáveis controlem o acesso à enorme quantidade de informações disponíveis na internet. Não havendo esse controle, o acesso à rede irá contribuir para a desinformação e não formação de crianças e adolescentes. O Rev. Ezequiel é pastor da Congregação Presbiterial de Dourados, MS
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MÚSICA
Movidos a
música RODOLFO FRANCO GOIS
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zugunder
Eles estão sempre plugados. Por onde andam, de onde vêm, para onde vão, não importa. Na caminhada, no trabalho, na rua, na escola, em casa, no computador, na academia, em praticamente todos os lugares, eles estão presentes. As orelhas são marcadas por um novo acessório que faz parte da vida de meninos e meninas, rapazes e moças, jovens. Não importa a raça, a camada social, a marca da roupa ou o bairro onde moram. Hoje é uma raridade encontrar alguém entre os 14 e 24 anos que não “porte”, em suas orelhas, fones de ouvido. As cores, os tamanhos, os formatos, os preços são os mais variados, mas a função é a mesma: emitir som, pulso, ritmo, melodia, harmonia, relax, música. Esta é uma clara realidade na vida da maioria dos jovens e adolescentes, que passam o dia com os fones “pendurados” em seus ouvidos. Todos os estilos, ritmos e expressões artísticas são encontrados. Da
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Não importa a raça, a camada social, a marca da roupa ou o bairro onde moram. Hoje é uma raridade encontrar alguém entre os 14 e 24 anos que não “porte”, em suas orelhas, fones de ouvido. As cores, os tamanhos, os formatos, os preços são os mais variados, mas a função é a mesma: emitir som, pulso, ritmo, melodia, harmonia, relax, música. Rev. Rodolfo Gois
música eletrônica ao acústico, do rock ao sertanejo, do pop ao hiphop, as culturas musicais sempre encontram um espaço para ser tocadas nos milhões de pares de orelhas espalhados pelo Brasil e pelo mundo na população jovem. Junto com os estilos e ritmos, letras, conteúdos, ideologias e comportamentos são propagados muitas vezes, sem qualquer “filtro” ou seleção, encontrando um enorme espaço de influência na mente desta geração.
Uma fase de transições
A passagem da infância para a adolescência é um momento muito especial para o ser humano, mas isso não quer dizer que seja tão agradável quanto parece (é só perguntar pra eles). As mudanças no corpo, a visão de mundo, a expansão dos horizontes, a busca pela autonomia, a morte dos heróis (ou a percepção de que eles são feitos de carne e osso, “sangram” e, surpreendentemente, têm mais superfraquezas que superpoderes), o final inesperado dos contos de fada, que na vida real nem sempre terminam com o “felizes para sempre”, desenca-
deiam, no indivíduo, as tensões de acordes dissonantes, notas fora da escala, melodias fora do tom, uma verdadeira desarmonia que atinge toda a estrutura do “ser”. Esta ebulição de emoções e sensações faz o adolescente e o jovem passarem por vários estilos musicais no mesmo dia. Do clássico ao hardcore, do samba ao funk, da timbalada ao vanerão, e tudo isso em poucos minutos. Isto tudo é intensificado pela incompreensão que vem dos outros e de si mesmo sobre o que se está vivendo, onde muitas coisas não são “administráveis” ainda, devido ao conjunto de transformações a que o jovem está sendo submetido. A música nos ouvidos, então, aparece como um anestésico para este tsunami sinfônico que somente o jovem escuta. Os sons parecem dar ritmo ao seu dia, a música a cadenciar e organizar o seu pensamento (ou pelo menos o fluxo do mesmo), a melodia a amenizar esta erupção de transformações. É como a música que acalma a fera nas histórias infantis.
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Acessibilidade e informação
Ao mesmo tempo, os estímulos e o fácil acesso às informações são cada vez mais precoces, influenciando hábitos e comportamentos. Audição, visão, tato, paladar, olfato altamente exigidos, mentes que recebem muitas informações ao mesmo tempo transformaram esta geração em processadores altamente capazes e “multitarefas”. Por isso, parecem ser capazes de estudar, assistir TV, navegar na internet, participar de inúmeras redes sociais e conversar ao telefone ao mesmo tempo. Além disso, a acessibilidade da era digital, onde, através da internet, jovens e adolescentes têm acesso a estilos, ritmos e culturas de todo o mundo, faz com que as fronteiras acabem ali, na frente de seu computador ou celular, pois a música é um idioma universal. O quintal de jovens e adolescentes não se reduz à varanda de casa ou à sacada do edifício onde moram. Seus horizontes são muito mais globais do que locais, abrindo muito as opções e escolhas pra fazer e que refletirão por toda a vida.
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Dentro ou fora da igreja, o adolescente vai ouvir música. É melhor que esteja dentro para que tenhamos condições de ajudá-lo, através de princípios, a tomar a sua própria decisão quanto àquilo que está ouvindo.
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Falta de filtros
Embalados nesta trilha, jovens e adolescentes são envolvidos pelos ritmos e batidas, muitas vezes sem sequer perceber o conteúdo das músicas que estão escutando. A musicalidade torna-se, exteriormente, mais importante que qualquer tipo de raciocínio sobre o que se canta. Este é um grande perigo, pois toda música traz consigo uma mensagem, que encontra livre acesso à mente que procura este ambiente de relaxamento diante de todas as interferências e novidades em que o jovem já está imerso. Algumas mais elaboradas, politizadas; outras menos. Não importa! A música e seu conteúdo têm um grande poder de persuasão e determinação de hábitos e comportamentos que o jovem e o adolescente levarão para sempre. Mas, como uma via de mão dupla, ao mesmo tempo em que constrói o pensamento, a música também reflete, como espelho, o retrato das ansiedades, preocupações, sonhos e desejos de uma geração. Por isso mesmo não podemos ignorar o potencial da música como estratégia e ferramenta para influenciar jovens e adolescentes para uma vida cristã saudável e autêntica e, também, para mostrar caminhos que ajudem a igreja a ter êxito na sua missão de fazer discípulos e anunciar o reino de Deus no meio da “galera”. Para isso, no entanto, torna-se necessário a igreja desarmar-se dos estigmas e preconceitos que demonizam toda música que não é considerada sacra. De forma breve, algumas dicas podem ajudar o jovem e o adolescente a selecionar, filtrar e refletir sobre os efeitos e influências da música em suas vidas. Ajude-os a:
Entender o que se canta
As melodias e o ritmo envolventes desligam o filtro que permite analisar a mensagem que se está cantando. Parar para ler e não cantar a música pode ajudar muito na percepção da mensagem que se está assimilando e divulgando naquela canção. É ouvir e pensar!
Conhecer os seus ídolos
Será que seus artistas preferidos realmente podem contribuir com a história da vida de alguém? Analisar suas histórias, seus porquês, os ídolos desses ídolos, como chegaram aonde chegaram, seu comportamento e atitudes fora dos palcos ajuda a entender o caráter e a ligação de tal artista com a vida.
Perceber o “antes” e o “depois”
Fazer isso é um grande desafio e exige muita sensi-
bilidade. Não há como negar que a música interfere no comportamento de qualquer um. Conseguir construir, junto com o jovem, esta análise ajudará muito a que ele se perceba e possa tomar decisões para acertar o trilho em que deseja caminhar. É necessário também honestidade para reconhecer que o “depois” pode ser melhor!
Incentivando à boa música
É possível que o jovem faça boa música no seu estilo, do seu jeito e com excelência. A música para alcançar a atenção de jovens e adolescentes tem de ser de boa qualidade, pois é com isso que eles convivem diariamente.
Produzindo composições relevantes e com linguagem adequada
É a poesia, o conteúdo. Conteúdos que reflitam os anseios da alma, como o salmista fazia, e que apontem caminhos de esperança, como o salmista também fazia. Poesia que, dentro do estilo e cultura jovem, apresente e testemunhe sobre sua fé, seu Deus, sua vida. Não importa o estilo, sempre existe algo de Deus para comunicar e expressar. Enfim, dentro ou fora da igreja, o adolescente vai ouvir música. É melhor que esteja dentro para que tenhamos condições de ajudá-lo, através de princípios, a tomar a sua própria decisão quanto àquilo que está ouvindo. O que dificulta esta postura, muitas vezes, é que subestimamos a sua capacidade de questionamento, avaliação e decisão do adolescente. Mas uma coisa é certa: o jovem/adolescente que descobre o amor de Deus vive radicalmente por ele, e não o troca por nada. E, bem orientados a refletir, poderão optar por aquilo que edifica, constrói, comunica, evangeliza e estabelece ainda maior intimidade com Deus e compromisso com o evangelho. O tema é muito amplo e poderíamos discorrer muito ainda sobre isso. Minha intenção aqui é despertar a atenção de pais e líderes para que utilizem a música que seu filho/liderado ouve para ajudá-lo a relacionar-se com Deus. Não tenha medo de construir a partir deste grande desafio. Elaborar conceitos e valores com eles é muito mais eficiente que simplesmente proibir. Quem conhece o amor de Deus não vai querer trocá-lo por nada e vai lutar para que todos conheçam este amor. Quem sabe continuamos esta conversa na próxima edição. Paz! O Rev. Rodolfo é o coordenador nacional de adolescentes da IPI do Brasil @rodolfo_gois
(Nota: Este texto é um trecho adaptado do capítulo Música e Juventude, escrito pelo Rev. Rodolfo Franco Gois, para o livro “Vida e Música”, da Editora Descoberta)
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PAIS E FILHOS
Babás eletrônicas da
fé
Crianças buscam um Cristo virtual e não espiritual
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Não basta ter muita idade! Basta apenas ter no mínimo dois anos de vida para a alfabetização digital invadir o universo das crianças. Esta afirmação não depende de muita pesquisa e, sim, de uma simples e fácil constatação. Basta apenas você jogar um pequeno celular de tela plana sem teclas analógicas nas mãos de um bebê para ficar de boca aberta com tamanha desenvoltura dos pequenos regalos. É importante lembrar que, tempos atrás, os bebês eram fortemente amarrados pelos cueiros e mal abriam os seus olhos cheios de remelas. Para comprovar estas afirmações sobre as crianças e as ferramentas de comunicação confira a pesquisa feita pela empresa Nielsen. A venda de celulares no período do Dia das Crianças superou outras tradicionais datas do varejo como Dia das Mães e Dia dos Pais. De acordo com a Nielsen, já na divisão por celulares, cerca de 8% dos aparelhos foram comercializados em outubro do ano passado, abaixo dos meses do Dia dos Pais (agosto) e Dia das Mães (maio) de 2010. “O Dia das Crianças é uma das datas mais importantes para o segmento, pois o celular e, principalmente, os smartphones acabaram substituindo presentes tradicionais, como brinquedos e roupas. As crianças querem acessar redes sociais, games, enviar torpedos”, diz Thiago Gustavo Gomes Moreira, diretor de Telecom da Nielsen Brasil em entrevista ao site Teletime. Hoje, a criança nasce e já fala.
Tecnologia mais humana? Em um recente evento de uma importante indústria multinacional de aparelhos celulares da Finlândia, pude constatar aquilo que virá pela frente no que diz respeito às tecnologias de comunicação e interações. Aqueles que criticam a tecnologia pela falta de interatividade entre os humanos ficarão estarrecidos com os novos desenvolvimentos que virão num breve tempo. São descobertas feitas em laboratórios nos arredores de Manaus, na Amazônia. Em breve, será possível a uma criança tetraplégica sobreviver, em todos os sentidos da palavra, apenas com os movimentos dos olhos. Alguns softwares estão em fase final de testes e prometem que qualquer pessoa movimentará um mouse virtual apenas num piscar ou mover de olhos. A seta do smartphone se movimentará para a direita, quando os olhos se dirigirem à direita, esquerda, acima, abaixo e assim sucessivamente, conforme a configuração do aparelho. Quando alguém necessitar confirmar ou clicar; apenas num piscar de olhos o sistema entenderá positivamente a ação. Desta forma, felizmente a humanidade tenta tornar a tecnologia um pouco mais humana.
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Em 1994, eu estava nos Estados Unidos, numa de minhas viagens solitárias, daquelas que muitos jovens fazem com apenas uma mochila nas costas. Isso mesmo, sozinho, uma opção que facilita reflexões profundas sobre o nosso mundo sem interferências. Eu estava hospedado num paupérrimo e pequeno quarto de hotel na Collins Avenue situado em Miami Beach. Eram dez horas da manhã de domingo e ali estava um “pastor eletrônico”. Isso mesmo! Hoje os identificamos assim. Mas, na década de 90, era um simples pastor que utilizava um programa de televisão para propagar o evangelho. Até aí nada de diferente. Mas, em dado momento, ele convocou ao ofertório e, no mesmo instante, se dirigiu às câmeras, informando inúmeras contas bancárias. Para aqueles que quisessem também contribuir num prazo de 30 dias, havia a possibilidade de pagamento através de cartões de crédito. Esta cena ficou muito marcada em minha memória pela previsão de futuro da igreja diante de tanta audácia daquele clérigo eletrônico. Hoje, de tanto vermos estas
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prática, parece-nos algo infinitamente comum e já arraigado em diversas denominações. No Brasil, sei que muitas instituições religiosas ainda usam o antigo envelope de dízimo, mas sei de muitas igrejas que já têm as transferências bancárias agendadas para todo dia dez de cada mês, naquilo que podemos denominar ADEA (Agendamento de Dízimo Eletrônico Automático). Se alguém me perguntar sobre estes avanços dentro das igrejas, digo sem demora que ainda prefiro algumas formas de maneira mais analógica. Como aquela viúva pobre faria sua oferta nos tempos atuais? Se me questionarem mais incisivamente do motivo deste comportamento antiquado de minha parte quanto às tecnologias incorporadas na comunidade, não saberei responder. Talvez seja pelo fato de não ter visto ainda Deus ou Jesus Cristo em recursos holográficos em tempo real no púlpito de mi-
A venda de celulares no período do Dia das Crianças superou outras tradicionais datas do varejo como Dia das Mães e Dia dos Pais. “O Dia das Crianças é uma das datas mais importantes para o segmento, pois o celular e, principalmente, os smartphones acabaram substituindo presentes tradicionais, como brinquedos e roupas.
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nha igreja. Mas o fato é que os símbolos da igreja estão se transformando a passos largos e sentimos uma desconstrução de eventos importantes que ajudaram a reforçar a fé cristã. Eis aqui à nossa frente o desafio de acompanharmos a tecnologia da fé, sem perder a essência gerada desde a criação. Como poderemos educar os nossos filhos na escola dominical, se um videogame está ultrapassando qualquer interesse pelo tão eficiente flanelógrafo de historinhas infantis? A tecnologia, seus males e benefícios são discutidos fora da igreja. Mesmo nos meios educacionais seculares, encontramos inúmeras dificuldades para oferecer um giz de cera a uma criança no lugar de uma pintura digital, que pode ser feita com um simples arrastar dos dedos numa tela de um tablet. A criança moderna já adquiriu a capacidade de descobrir o mais obscuro da humanidade, se tomarmos por base a nossa realidade limitada dos seres mais adultos. Um menino já é capaz de ligar um automóvel sozinho com um simples apertar de botão. Não é estranho também que ele pegue o seu celular às escondidas e compre vários jogos online, decorando sua senha do cartão de crédito, ou envie torpedos ou manuseie uma arma de fogo. A realidade nos assusta e, em muitos casos, escondemos estes fatos
A ciência não conseguiu tecnologia suficiente que substitua a verdade nos olhos dos que ensinam, quer sejam eles pais ou professores. Estamos, neste tempo tecnológico, uníssonos no caráter com os nossos filhos?
jogando-os para o último plano de consciência. Atualmente, os meios de comunicações são supérfluos nos noticiários, mostrando apenas os fatos e deixando de lado as discussões aprofundadas sobre os temas. Educar as crianças no seio cristão será o grande desafio dos próximos anos, nos quais os valores estão em veloz transformação. Talvez esta discussão se torne antiga e ineficaz em pouco tempo. Uma palavra escrita aqui e agora amanhã poderá ter uma nova tradução ou deixar simplesmente de existir. Mas é universal e consenso de que os valores cristãos pregados há milênios não mudaram mesmo diante de tanta evolução. Deus continua existindo, e isto é fato! É fato constatado que muitos bandidos foram cristãos ou têm pais evangélicos. Quais teriam sido as lacunas na educação religiosa que os tornaram fora da lei? Podemos dizer que a culpa é da igreja, do lar ou da sociedade? São vários os fatores que levam a esta decadência social e espiritual na vida de uma pessoa. Mas o importante não é levantar culpados, mas trazer luz a uma reflexão das mais diversas formas de orientação que uma criança deve ter na sua caminhada cristã. Talvez falte maior ênfase nos valores, identidade nas abordagens bíblicas e contextualização no ensino nas igrejas. É de suma impor-
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tância o ensino continuado da igreja e do lar cristão. O que existe muito hoje é a transferência de responsabilidades na educação infantil. Muitos pais irresponsáveis atribuem a educação plenamente às instituições de ensino e à Escola Dominical. Diversos responsáveis não reafirmam os valores pregados aos filhos. Certamente, uma receita clássica que não tem erro é que todos falem a mesma língua. Por enquanto, a ciência não conseguiu tecnologia suficiente que substitua a verdade nos olhos dos que ensinam, quer sejam eles pais ou professores. Estamos, neste tempo tecnológico, uníssonos no caráter com os nossos filhos? Ao que tudo indica, boa parte de nossas crianças está buscando solitariamente coerência nos meios cibernéticos, numa atitude que passa desapercebida por muitos pais. É muito cedo para transferirmos este espírito de escolha a estes seres tão carentes de lógica. A babá eletrônica é importante, mas, se os pais não tocarem nos seus filhos, esta tecnologia não surtirá efeitos. Será que as nossas crianças não estão buscando Deus nos videogames? O Fernando é membro da IPI Central de Palmas, TO, jornalista, especializado em Diplomacia Brasileira pela USP, Pós-Graduado em Administração Gestão de Negócios e Diretor da TV Bandeirantes no Tocantins. twitter: @fernandohessel e-mail: hessel@band.com.br)
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O ensino público enfrenta crises estruturais, curriculares, de docência e de governança, desde há muito tempo
WANDERLEY DE MATTOS JÚNIOR
“Pra que eu tenho de aprender trigonometria, se pretendo fazer faculdade de artes cênicas no futuro?” Você pode trocar “trigonometria” e “artes cênicas” por quaisquer variantes possíveis, mas este é o tipo de pergunta recorrente que todo aluno, em algum momento de sua vida escolar, se faz. E geralmente as respostas de professores e dos pais não são lá muito convincentes. Mas, se essa crise funcional do porquê ter de aprender certas coisas – especialmente as que não são muito apreciadas – fosse o único problema da educação brasileira, estaríamos no paraíso – ou em algum país nórdico! O fato é que, apesar de o Brasil ser a bola da vez no cenário mundial, da crise econômica européia e norte-americana não ter o poder de ameaçar e desestruturar o país, segundo as mais otimistas perspectivas governamentais, o Brasil acostumou-se placidamente a uma crise crônica que lhe suga boa parte de seu potencial humano sem que se perceba: a educação. Nosso sistema educacional é, no mínimo, precário, ineficiente e ineficaz, na maioria dos casos. Salvo exceções que pipocam raramente aqui e acolá, o ensino público, enfrenta crises estruturais, curriculares, de docência e de governança desde há muito tempo. Um índice bem pouco conhecido de avaliação do desempenho das escolas é o IDEB (Índice de 46 Alvorada
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O desafio da de qualidade Desenvolvimento da Educação Básica), do MEC, que avalia o desempenho das escolas públicas no 5° e no 9° anos (antigas 4ª e 8ª séries)*. A média nacional em 2009, numa escala de 0 a 10, foi de 4,6 e 4,9 – para o 5° e o 9° anos respectivamente – enquanto que, segundo a percepção dos pais, a nota média atribuída dentro da mesma escala foi de 8,6. Ou seja: “Roubaram a salsicha do seu cachorro quente, mas você continua colocando mostarda e achando que está uma delícia!!!” Os pais não estão atentando para a realidade da baixa qualidade do ensino que seus filhos estão recebendo na rede pública – e não é difícil que, proporcionalmente, a mesma realidade se aplique ao ensino particular, onde o aluno e seus pais, cada vez mais são vistos como clientes que têm de ficar satisfeitos com os resultados. Afinal, eles é que pagam os salários e ninguém está disposto a perder clientes no milionário mercado da educação privada, seja no nível fundamental, médio ou superior! Certo diretor de escola pública desabafou recentemente: “Estamos de mãos atadas. Os professores fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem. E, se tentamos exigir mudanças, corremos o risco de sofrer retaliação”. É sabido por toda a sociedade que alunos chegam ao 6° ano com graves deficiências de leitura e compreensão, e que a redução do analfabetismo no Brasil é mais um jogo de números do que uma nº 68 janeiro/fevereiro/março, 2012
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educação Os pais não estão atentando para a realidade da baixa qualidade do ensino que seus filhos estão recebendo na rede pública e não é difícil que, proporcionalmente, a mesma realidade se aplique ao ensino particular, onde o aluno e seus pais, cada vez mais são vistos como clientes que têm de ficar satisfeitos com os resultados
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verdadeira capacitação à leitura e compreensão. São analfabetos funcionais. Lêem, mas não entendem o que estão lendo. E pior do que isso. Os alunos de uma escola que não ensina de maneira apropriada têm sua potencialidade roubada, reduzida, negada. A escola é o espaço do convívio, do aprendizado, do despertar para as inúmeras possibilidades que o mundo tem para oferecer, mas, se permanecerem nas trevas da ignorância ou do ensino precário, limitante e ineficiente, terão menos chances de descobrir seu verdadeiro potencial, pois não exercitarão as faculdades mentais com as quais foram dotados por Deus. Assim, é contra a dignidade humana e, portanto, contra a vontade de Deus, o Criador, que o governo não propicie um ensino de qualidade, que capacite os alunos a adentrarem, por si próprios, no infinito horizonte do conhecimento, que lhes tornará seres autônomos, críticos e capazes de escolher de maneira livre o que querem para si mesmos e para a sociedade, diminuindo a possibilidade de se tornarem massa de manobra de políticos ou religiosos sem escrúpulos. Provérbios 22.6 diz: I Claro, o verso se refere ao ensino das coisas de Deus. Mas, na sociedade judaica do Antigo Testamento, a distinção entre ensino sagrado e secular não era tão distinta quanto é hoje. A religiosidade era o fundamento de tudo e, portanto, também do ensino. O próprio surgimento da Escola Dominical, iniciada por Robert Raikes, em Gloucester, Inglaterra, em 1758, foi para suprir as necessidades de um grupo de crianças que trabalhavam de segunda a sábado nas fábricas e passavam o domingo ociosas ou brigando, a um passo da delinqüência. Seu projeto consistia em ensinar matemática, história e inglês (a língua local), além do ensino bíblico, visando à mudança de caráter e perspectiva futura daquelas crianças. Assim, a visão da Escola Dominical original era suprir a falta de ensino escolar como um todo, visando ao desenvolvimento de todo 48 Alvorada
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A igreja pode ser também um importante canal de conscientização e mobilização por um ensino público e particular de melhor qualidade, no mínimo, levantando tal questão e discutindo-a. Rev. Wanderley de Mattos Junior
FIQUE DE OLHO *Você pode encontrar o IDEB de qualquer escola pública brasileira na internet em: http://sistemasideb.inep.gov.br
o potencial humano de crianças que não tinham uma educação escolar adequada. Isso mostra como as igrejas daquela época estavam atentas à necessidade de ensino eficiente às crianças e adolescentes. Todo ensino deve visar à liberdade. Transferir conhecimento significa habilitar o outro a caminhar com as próprias pernas e ter recursos suficientes para escolher o melhor ou o pior, não por falta de opção, mas por decisão autônoma e consciente. Jesus ensinou seus discípulos vivendo com eles. E, por vezes, disse-lhes que eram livres para ir. E por que eles não iam embora? Porque sabiam, entendiam, conheciam que Jesus tinha as palavras da vida eterna, porque aprenderam, avaliaram e estavam seguros disso. Em geral, a igreja se ocupa das questões espirituais e do ensino da Palavra de Deus, por meio das mensagens nos cultos e dos cursos da Escola Dominical, que não mais tem o caráter abrangente que tinha em seu
início. Mas a igreja pode ser também um importante canal de conscientização e mobilização por um ensino público e particular de melhor qualidade, no mínimo, levantando tal questão e discutindo-a. Um país verdadeiramente desenvolvido não é aquele que ocupa os primeiros lugares nos índices econômicos, mas aquele que, entre outras coisas, investe recursos substanciais na educação de qualidade de seu povo, garantindo que as futuras gerações sejam capacitadas a utilizar plenamente seu potencial. A igreja pode ser um pólo de mobilização e conscientização das necessidades educacionais do nosso país, e cada aluno e seus pais podem demandar das escolas e de quem as dirige um ensino transformador e libertador para nossas crianças, adolescentes e jovens. O Rev. Wanderley, tradutor e intérprete, é membro do Presbitério São Paulo da IPI do Brasil
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CRISTIANISMO
1
APEGO À PALAVRA DE DEUS (v. 42). Ela
nasceu sob a “doutrina dos apóstolos”. A Palavra de Deus revelada em Jesus era o seu fundamento, corrigindo desvios e faltas;
2
UNIDADE (v. 42, Sl 133.1). Os membros daquela comunidade “viviam juntos”. Partilhavam a vida e os bens. Há poder evangelizador na igreja cujos membros se amam;
Comunidade
atraente
SIMPATIA (v. 47).
3
Ela “contava com a simpatia de todo o povo”. Seus membros eram referência para amigos e familiares. Acolhia carinhosamente as pessoas;
ALEGRIA (v. 46, 47).
RAUL HAMILTON DE SOUZA
4
A comunidade cristã descrita em Atos 2.42-47 possuía características especiais que atraíam pessoas ao seu redor.Vejam 7 características ao lado. A nossa igreja pode ter essas características enumeradas e pode ser atrativa sempre. A sua e a minha participação eficaz em seu rico programa de vida são vitais para que essas características se manifestem plenamente em nossa comunidade.
Celebrava as coisas comuns da vida: refeições e encontros nas casas. Não havia murmuração e, quando surgiu, os apóstolos cuidaram logo do caso (At 6.1-7). Cultivava a fraternidade, celebrando a “festa da vida”;
O Rev. Raul é diretor do Ministério de Missão da IPI do Brasil
INTIMIDADE COM DEUS (v. 42, Sl 25.14).
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CRESCIMENTO (v. 47). “Cada dia o Senhor juntava ao grupo as pessoas que indo sendo salvas”. Sua qualidade gerava quantidade. Quando plantamos e regamos, Deus dá o crescimento.
CONTROLADA PELO ESPÍRITO SANTO (4.38).
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Os membros daquela comunidade receberam o Espírito Santo (At 2.38) e também foram revestidos com o poder do Espírito Santo para testemunhar (At 1.8; Ef 5.18-21);
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Dedicava-se à oração (At 4.23-30; 12.12; 13.3; 3.1; 6.6). Falava com poder às pessoas porque falava sempre com Deus. Quem luta com Deus em oração prevalece (Gn 32.26,28);
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FAMÍLIA DANIEL DUTRA
“Qualquer que olhar para uma mulher desejando-a, já cometeu adultério” (Mt 5.28). Esteve em cartaz nos cinemas o filme “A Mulher Invisível” (2009), que conta a história de um homem (Selton Mello) que foi traído pela sua esposa e decidiu nunca mais acreditar no amor. Entrou em estado depressivo e, surtando, começou a desenvolver um relacionamento com uma mulher invisível (Luana Piovani). Em maio de 2011, a Globo lançou a série “A Mulher Invisível”, trazendo das telonas para os nossos lares a idealização da mulher. O diretor Cláudio Torres justificou: “No filme, era a história de um solitário que foi traído e criou uma mulher invisível para preencher o vazio dele. Na série, passou a ser a fantasia dentro do casamento”. Sua primeira temporada teve 5 episódios exibidos de 31 de maio a 5 de julho. Sua segunda temporada iniciou no dia 1º/11/2011. Devemos observar as sutilezas que o Diabo usa para destruir os valores e princípios da Palavra de Deus. Os produtores dizem que é uma comédia romântica, que não tem nada demais e que o objetivo é
trazer diversão. Porém, não podemos deixar de perceber a influência que a mídia tem sobre nossas opiniões e valores. Rubem Amorese descobriu uma relação significante entre a chegada da televisão e o aumento dos divórcios. Ele explica que o divórcio cresceu, no Brasil, de 3,3 para 17,7 em cada 100 casamentos, entre 1984 e 2002, de acordo com a pesquisa patrocinada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. O estudo abrangeu todas as novelas da Rede Globo, de 1965 a 2004. Na busca desenfreada pelo Ibope, os donos de emissoras levam ao ar o lixo que recusam em suas casas. Por exemplo, a Rede Record, cujo proprietário se diz cristão (Bispo Edir Macedo), está neste caminho tortuoso, com programas que afrontam a ética e os bons costumes. Em média, as pessoas gastam de 3 a 5 horas por dia diante da televisão. O lixo televisivo que invade nossas casas é assustador. Sem se dar conta dos perigos e das conseqüências danosas a que está se expondo, os indivíduos ingerem diariamente agressividade, pornografia e violência. Paulo nos orienta sobre o que devemos assistir: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo
o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4.13). Não estamos falando de censura. Estamos falando de opções de vida. Se o programa não é bom, devemos escolher outro, ler um livro, ler a Bíblia, visitar um amigo, inventar alguma coisa. O Diabo nem sempre aparece como algo ruim: “E isso não é de admirar, pois até Satanás pode se disfarçar e ficar parecendo um anjo de luz” (2Co 11.14). Não devemos nos enganar: deixar-se ficar diante da televisão é mais perigoso do que parece. Uma última palavra aos homens. Logo vão inventar alguma série ou coisa parecida com o título “O Homem Invisível”. Talvez um galã desfilando para lá e para cá com roupas íntimas. E, se estamos assistindo hoje, as mulheres reivindicarão os seus direitos. Penso que os homens não se sentirão confortáveis com determinadas situações. Por isso, que tal respeitarmos as mulheres, desligando “A Mulher Invisível” e atentando para a visível que está dentro do nosso lar? O Rev. Daniel, psicólogo, é pastor na IPI de Rondonópolis, MT www.pastordanieldutra.blogspot.com Clayton Leal da Silva
A mulher invisível
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Com a chegada da televisão aumentaram os divórcios. Rubem Amorese explica que o divórcio cresceu, no Brasil, de 3,3 para 17,7 em cada 100 casamentos, entre 1984 e 2002
PERIGO A VISTA
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Não estamos falando de censura. Estamos falando de opções de vida. Se o programa não é bom, devemos escolher outro, ler um livro, ler a Bíblia, visitar um amigo, inventar alguma coisa. O Diabo nem sempre aparece como algo ruim: “E isso não é de admirar, pois até Satanás pode se disfarçar e ficar parecendo um anjo de luz” (2Co 11.14).
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O Rev. Hernandes Dias Lopes afirma: “A televisão é uma das mais fantásticas invenções do século XX. Ela trouxe inúmeros benefícios para a sociedade. A comunicação tornou-se precisa, ágil e global. Ela encurtou as distâncias, democratizou a informação e abriu os canais do conhecimento para todos, em todos os lugares do mundo. Não obstante os grandes benefícios trazidos pela televisão, ela, também, pode tornar-se um grande perigo para a sociedade. Exatamente por sua poderosa influência, quando mal usada, torna-se perigosa. A televisão brasileira é conhecida em todo o mundo pela sua descompostura moral. As telenovelas brasileiras são as mais imorais do mundo. Talvez nenhum fenômeno exerça mais influência sobre a família brasileira do que as telenovelas da Rede Globo. O argumento usado para essa prática é que a televisão apenas retrata a realidade. Ledo engano. A televisão induz a opinião pública”. nº 68 janeiro/fevereiro/março, 2012
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VIVENDO COM ARTE
Viver com arte
mulheres fazendo da vida a grande arte de viver CLAYTON LEAL DA SILVA
O projeto foi criado para ajudar mulheres através do artesanato a buscar alternativas para ajudar no sustento do lar. 52 Alvorada
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Este é um dos projetos sociais desenvolvidos por Bethel Botucatu. É um projeto gratuito e especifico para mulheres, especialmente mulheres em situação de vulnerabilidade. O projeto foi criado para ajudar mulheres através do artesanato a buscar alternativas para ajudar no sustento do lar. Sabemos que, dentre os pobres, as mulheres são aquelas que mais sofrem e que mais lutam para erguer a cabeça e buscar sustento digno para o lar. Já formamos muitas turmas. No “Vivendo com Arte”, as mulheres aprendem com profissionais contratados a fazer vários tipos de artesanato. Depois de completar o curso, a aluna pode prestar a prova para se habilitar a fazer parte da SUTACO (Superintendência do Trabalho Artesanal) nas comunidades. Com este registro, a artesã pode comercializar seu produto em feiras e na comunidade, inclusive fornecendo nota fiscal. Na verdade, é uma profissionalização para o artesanato. O “Vivendo com Arte” é
desenvolvido no Edifício Rev. Francisco Guedelha, às terçasfeiras à noite e aos sábados na parte da tarde. As alunas recebem gratuitamente todo o material, lanche, acompanhamento social e oftalmológico. Este projeto é desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Botucatu e Ministério de Ação Social e Diaconia da Igreja (antiga Mesa Diaconal) e, no ano passado, com o Dia Mundial de Oração. Todos os anos, há mais de uma de década, em Botucatu, celebramos o DMO (Dia Mundial de Oração). Na nossa igreja, a responsável por este programa é a Rev. Grietje Couperus. Aqui celebramos com as igrejas cristãs da cidade. Todo ano, o DMO arrecada uma oferta e parte dela é usada para abençoar projetos sociais. Como já celebrávamos o DMO há muitos anos e estávamos precisando bastante de ajuda, revolvemos encaminhar o nosso Projeto “Vivendo com Arte” para ser contemplado. Fomos abençoados! A verba chegou exatamente num momento mui-
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to complicado para nós de indefinição de sustento. Pensávamos até mesmo em fechar o projeto. Mas a graça de Deus nos abençoou e, através do DMO, mantivemos o projeto e continuamos em busca de outros recursos. A nossa gratidão especial ao DMO. Incentivamos as nossas igrejas a celebrar este dia de oração. Para nós, em Botucatu, tem sido uma bênção! Todo projeto social depende de sustento. A igreja sozinha não consegue manter. As parcerias com o Estado também não cobrem todos os custos. Todo ano é um desafio a busca de recursos financeiros. Mas será que vale a pena? Veja este depoimento de alguém que foi abençoada: “Em primeiro lugar, eu quero agradecer a todos e à Escola Bethel por propiciar-nos esse curso. Em segundo, à Profa. Sheila que deu esse curso maravilhoso e nos ensinou muitíssimo bem. Foi muito importante pra todos nós e pra mim principalmente. Fez-me começar a ver a vida de maneira diferente. Estava precisando disso. Graças ao curso, hoje estou trabalhando e espero que muitas outras pessoas consigam tudo o que eu consegui. Muito obrigada!” O Rev. Clayton é pastor da IPI de Botucatu, SP
Participantes do Projeto Vivendo com Arte
Você também pode ser o nosso parceiro social Você sabe que pode ajudar projetos sociais, legalmente registrados, doando 6% do seu Imposto de Renda. No blog você tem todas as informações necessárias. Exerça o seu direito de cidadão de destinar parte do seu imposto de renda a uma associação legalmente habilitada. Juntos podemos mudar o rumo da história de vida de muitas pessoas vulneráveis. Seja o nosso parceiro social! Você não perde e ainda abençoa uma pessoa que precisa. Pense nisso! Fale conosco! (14) 3882-2261
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HOMENAGEM
DE 8 ARÇO
M
DIA AL RNACION
INTE ER H L U M A D
Mulheres de que estão registradas na Bíblia
fé
EUNICE SILVA LEITE
Na palavra de Deus, encontramos muitos relatos sobre a mulher, seus atos e provações. Em Provérbios 31.10, a mulher virtuosa é aquela que é valorizada pela capacidade dos seus excelentes trabalhos, dentro e fora do lar, e é comparada com o rubi de muito valor, entre outras pedras preciosas. Gênesis 6.13 nos diz que Deus, ao anunciar o dilúvio, a mulher de Noé e as mulheres de seus filhos, pela fé, obedeceram ao chamado. No capítulo 12 versículo 1, Sara, pela fé, em companhia de seu esposo Abraão, atendeu ao
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chamado do Senhor para formar novas nações. O relato em Êxodo 1.15 nos diz que, pela fé, Sifrá e Pua, parteiras das hebréias, pouparam a vida dos recém-nascidos, inclusive a de Moisés, que foi o grande líder do povo de Deus. Em Lucas 1.26-38, Maria, mãe de Jesus Cristo, pela fé, enfrentou uma situação constrangedora ao engravidar com o auxílio do Espírito Santo, ainda virgem. Venceu a provação porque foi agraciada por Deus. Em Lucas 1.57-66, pela fé, Isabel, prima de Maria, mãe de Jesus, teve também a responsabilidade e a alegria de ser a mãe de João Batista, aquele que iria
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O dom maior LÍDIA SENDIN
Mesmo que o homem faça sua parte Neste mundo, onde ele é um grão, Usando todo seu engenho e arte, Fazendo tudo que não seja vão. Ajudando até mesmo um inimigo Que precise de um cálido olhar, Usando seus braços como um abrigo, Dando seu ombro a quem quer chorar. Leve ao faminto um prato de comida, Aos sedentos forneça a água pura E dos doentes amenize a dor. Mesmo que ponha nisso sua vida, Use a ciência e a sua cultura, Nada será, se não tiver amor. A Lídia é membro da IPI de Piracicaba, SP
batizar Jesus Cristo. A palavra de Deus é muito rica e sábia para o nosso crescimento espiritual. Ficaríamos horas e horas examinando a palavra de Deus e ainda teríamos que continuar pesquisando muitos outros exemplos maravilhosos sobre mulheres de fé. Como mulheres cristãs nos dias de hoje, deixemos que estes exemplos bíblicos nos ajudem a crescer e fortalece a nossa fé em Deus e em nosso Senhor Jesus Cristo. No Dia Internacional da Mulher desejamos às queridas irmãs a paz de nosso Senhor Jesus neste e em todos os dias de sua vida. A Eunice é membro da IPI do Alto de Vila Maria, São Paulo, SP
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REFLEXÃO
Enquanto orava MAURÍCIO SILVA DE ARAÚJO
“Mudou o Senhor a sorte de Jó, quando este orava por seus amigos” (Jó 42.10). Na Palavra de Deus há inúmeras experiências registradas de homens e mulheres que tiveram a grata visitação de Deus enquanto oravam. Vemos o centurião Cornélio, enquanto estava orando às três horas da tarde (hora nona), tendo uma visão, onde foi orientado por um anjo a procurar por Pedro em Jope (At 10.3). Enquanto Pedro orava, nesta mesma história, também teve uma visão, onde Deus lhe revela alguns mistérios, e que alguns homens chegariam a sua procura. No livro de Atos, o capítulo 12 nos relata que, enquanto a igreja orava, reunida na casa de Maria, Pedro estava sendo liberto sobrenaturalmente da prisão. No texto acima citado, vemos que também aconteceu algo, enquanto Jó orava. A história deste homem é conhecida de todos nós e fala-nos de alguém que, nas palavras do próprio criador, era reto, justo, temente ao Altíssimo e que desviava de todo mal, mas que, por permissão e soberana vontade dos céus, veio a perder tudo, sofrendo humilhações e sendo acusado em vez de consolado por seus amigos. Estes mesmos amigos, que passaram a maior parte da história sendo um tormento para Jó, agora precisam de sua ajuda, pois, em meio às aflições que lhes sobrevieram, Deus lhes diz que só os restauraria, se Jó intercedesse por eles. Que virada! Quem podia imaginar isso! Esses três “amigos da onça” pedindo socorro para o
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pobre Jó, o perebento pecador, de quem todos zombavam pelo seu infortúnio e estado. E Jó ora, intercede por eles e, enquanto a oração é feita, Deus muda a sorte deste homem. A oração é extraordinária, pois através dela falamos com Deus, visitamos a dimensão espiritual e vemos coisas maravilhosas sendo feitas em nosso meio em resposta à mesma. No caso de Jó, é mais edificante ainda porque ele vence as ofensas, resiste à vontade de se vingar, não permite fazer seus amigos sofrerem um pouco que seja para sentirem na pele o que ele sofreu. Enquanto ele orava, Deus lhe restituía em dobro o que havia perdido, fazia com que seus irmãos se condoessem dele e lhe dessem consolo, lhe ajudassem com recursos financeiros. Todas as portas estavam fechadas até que Jó fez essa oração. A oração de Jó revela o coração de um homem transformado após uma grande prova e que, em meio a essa transformação interior, se vê também sendo transformado nas demais áreas de sua vida. Que, enquanto oramos, saibamos que muito Deus pode fazer por nós. O Rev. Maurício é pastor da IPI de Jundiaí, SP
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DE 6 MARÇO
DIA MUNDIAL DA
ORAÇÃO
PALAVRA DE GRATIDÃO LAERCIO BORSATO
Provei emoções pacíficas, serenas, Num êxtase de amor e imensa paz!... Assemelhavam-se às tardes amenas, À brisa, que a fragrância do mar traz. Esse presságio não me mostrou apenas, Que o âmago, de maneira perspicaz, Buscava banir as reações pequenas, Tornando o intelecto, forte, vivaz! Um feito colossal, um refrigério... Para o ser humano, um mistério! Via da janela, toda a amplidão!... Voei noutros cosmos com tranqüilidade! Deus agia em mim com suavidade, Enquanto respondia a cada oração! O Laercio é membro da 1ª IPI de Poços de Caldas, MG
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CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA LEVI FRANCO DE ALVARENGA
Quando o cosmonauta russo Yuri Gagarin deu uma volta completa ao redor do nosso Planeta, em 12/4/1961, ele disse: “A Terra é azul”. Esta frase ficou famosa e o que o encantou na beleza deste azul, com certeza, foi a água: uma mistura de oceanos, calotas polares, grandes rios e lagos, nuvens, tudo isso nos lembra da água no planeta. O Planeta Terra tem 1.286 milhões de km³ de água, sendo 97,5 % nos oceanos e mares e 2,5% de água doce (1 km³ = 1 bilhão de m³ de água). A água é uma substância vital presente na natureza e, sem ela, a vida no Planeta Terra acabaria. O equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da água e dos seus ciclos. Estes deveriam permanecer intactos e funcionando normalmente, sem a intervenção do ser humano, para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Mas não é o que está acontecendo. O século XX trouxe muitos avanços tecnológicos para a humanidade, mas os avanços não impediram a degradação dos recursos hídricos. O ser humano vive hoje as conseqüências de sua ação nos últimos 50 anos em relação ao meio ambiente e, dentre elas, destaco a crise da água. Uma série de fatores tem causado a diminuição das reservas de água doce ainda disponíveis: o aumento da popula58 Alvorada
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“Cuidemos
Terra Azul”
da
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ção mundial, a crescente urbanização, a industrialização, a poluição dos mananciais, o desmatamento descontrolado das florestas e a destruição das matas ciliares, o desperdício e mau uso dos recursos hídricos. Desses fatores, o aumento da população mundial é o principal causador da escassez da água no mundo. Graças aos avanços tecnológicos na produção de alimentos, controle de epidemias e combate às doenças, a população mundial teve um aumento enorme, principalmente após o final da 2ª Guerra Mundial. Em apenas cinco décadas, a população mundial cresceu muito: passou de 2,94 bilhões, em 1958,
para 6 bilhões de pessoas, em 1999. Em 2011 (apenas 12 anos depois), a população mundial chegou a 7 bilhões de habitantes. Este aumento explosivo trouxe conseqüências irremediáveis para os ambientes naturais como, por exemplo, o desmatamento sucessivo de florestas para a produção de alimentos (agricultura extensiva) e pastagem, principalmente para a pecuária. Conseqüentemente, gastou-se mais água para a irrigação e dessedentação de animais. A figura abaixo exemplifica o que aconteceu no Brasil em 2003, segundo a Agência Nacional das Águas (ANA), tendo em vista a demanda total de água do país estimado em 2.178 m³/s.
2MA2RÇDOE
L DA
DIA DIA MUN
ÁGUA
O Planeta Terra tem 1.286 milhões de km³ de água, sendo 97,5 % nos oceanos e mares e 2,5% de água doce (1 km³ = 1 bilhão de m³ de água).
O ser humano vive hoje as conseqüências de sua ação nos últimos 50 anos em relação ao meio ambiente
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A população está maior O aumento da população mundial aumentou também a ocupação humana no planeta. Hoje, restam pouquíssimos lugares da superfície terrestre que nunca foram pisados pelo ser humano: grandes florestas tropicais da bacia amazônica, da bacia do Congo, a maior parte da ilha da Nova Guiné, além do cinturão de florestas de coníferas, que se estende pelo Norte da América e continua pela Sibéria até a Finlândia, Noruega e Suécia. A ocupação humana no planeta é quase total. A ocupação humana foi realizada de forma desordenada. As grandes cidades se transformaram em megacidades (cidade com mais de 10 milhões de habitantes). No Brasil, temos duas megacidades: São Paulo, com 19,68 milhões de habitantes, e o Rio de Janeiro, com 11,85 milhões de
habitantes (Censo IBGE/2010). A produção de lixo, a poluição do ar e dos mananciais é extrema nesses grandes espaços. Mas as pequenas, médias e grandes cidades também têm poluído sistematicamente os rios que as abastecem. Junto com o aumento da demanda por água, há o despejo de resíduos residenciais e industriais, que poluem suas águas e prejudicam as populações que necessitam de água rio abaixo. O modelo de industrialização dos países ricos e dos emergentes tem causado grande impacto nas áreas verdes e na qualidade e disponibilidade da água. O ser humano tem explorado os recursos naturais como se fossem infinitos. Na zona rural, o uso descontrolado da água e a utilização excessiva de agrotóxicos têm po-
luído o solo, o lençol freático e os mananciais. Este é o ciclo destrutivo que a humanidade tem caminhado nas últimas décadas: aumento da população, necessidade de aumentar a produção de alimentos, aumento do desmatamento e uso desordenado da água. Este quadro degradante dá hoje um sinal vermelho quanto à disponibilidade de água para uso e sobrevivência das populações no mundo. Organismos internacionais como da Unesco têm mostrado grande preocupação em relação à crise da água. No 3º Fórum Mundial da Água, realizado em Kyoto, Japão, o diretor geral da Unesco, Koichiro Matsuura afirmou: “As reservas de água estão diminuindo, enquanto a demanda cresce de forma dramática, em um ritmo insustentável”.
Este é o ciclo destrutivo que a humanidade tem caminhado nas últimas décadas: aumento da população, necessidade de aumentar a produção de alimentos, aumento do desmatamento e uso desordenado da água
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A Água e a Vida I
A água já existia no mundo quando em seu alvorecer; E foi nas águas que o Espírito divino se pôs a mover.
II
Por ato divino, parte da água ficou agrupada sob uma expansão: sob a expansão apareceu a terra seca e ainda numa segunda parte do globo, ao ajuntamento das águas, Deus chamou mares; eis os atos divinos com perfeição, tudo havia sido criado perfeito e bom, de acordo com a sua infinita razão.
III
O Mestre Divino fez uso santo da água: - no seu batismo no Rio Jordão; - para realizar seu primeiro milagre, transformando água em vinho; - para uso próprio quando disse à mulher samaritana: “Dá-me de beber!” - na cruz do calvário, quando em agonia disse: “Tenho sede!”
IV
Com vigor exerceu seu santo ministério a realizar a sua missão; cada dia mais pessoas carentes o procuram, até formar grande multidão.
V
Jesus não só se compara à água; Ele é a água da vida Que mata a sede da alma E com ele a consciência do maior pecador se acalma.
5
marcos sobre a água Em novembro de 2011, foi realizado na cidade de Medellín, na Colômbia, o “7º Diálogo Interamericano de Gestão da Água (D7)” com um rico diálogo entre lideranças dos países das Américas e troca de experiências locais. Segundo Cecy Oliveira, jornalista e editora do portal aguaonline.com. br que participou do D7, o “diálogo enlaçou mais do que idéias porque se enriqueceu com a marca de uma visão ética da gestão integrada da água no continente e a premissa de que a mesma deve ser produto das gerações presentes e futuras”. Diante das grandes temáticas, houve consenso em pelo menos cinco grandes marcos:
VI
Amamos muito o nosso planeta azul E apelamos para que todos: ricos e pobres, Sábios e incultos, governantes e governados, Façam o maior esforço, Respeitando a natureza e para todos ele seja Preservado de norte a sul. O Rio mais precioso do Universo: “E mostrou-me o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça e de uma e da outra banda do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a saúde das nações” (Ap 22.1-2). Rev. Brasílio Nunes de Alvarenga (17/5/2008), pai do Rev. Levi Franco de Alvarenga, falecido em 2009
Infelizmente, o Brasil, que é um dos países com maiores recursos hídricos de superfície e subsolo do mundo, não foge à crise da água. A água não se encontra de forma homogênea na superfície de nosso país. Vivemos hoje um grave paradoxo: 84,2% dos recursos hídricos se encontram nas regiões norte e centro-oeste, onde habitam apenas 13,4% da população. Em contrapartida, as duas regiões mais populosas (Sudeste e Nordeste), que somam 71,6% dos habitantes do Brasil, dispõem da menor parcela de água, apenas 9%.
Se não fizermos nada, em breve a água potável será um luxo para poucos!
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É fundamental o respeito e o conhecimento sobre as cosmovisões das culturas do continente; É urgente incluir o tema água na educação em todos os níveis e gerações; É indispensável reconhecer e destacar a importância da educação ambiental; Uma das estratégias decisivas para aumentar a circulação de informações é dar ênfase no uso das ferramentas de comunicação e trabalhar para ampliar e consolidar alianças com as mídias.
O Rev. Levi, pastor da 1ª IPI de Avaré, SP, secretário de Bethel Socio Ambiental Vida (administradora do Acampamento Cristo é Vida), fez especialização em “Bioecologia e Conservação”, pela UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba), concluindo em 2008 com apresentação de TCC com o tema “Sustentabilidade Hídrica em Acampamento Evangélico: o aproveitamento da água da chuva”
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A água é essencial à vida, o que reforça a sua condição de direito de todos os seres vivos;
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FAÇA VOCÊ MESMO
Pequenas mudanças dão novo ânimo ELAINE GOMES
“E o enchi do Espírito de Deus, dando-lhes destreza, habilidade e plena capacidade artística” (Êx 31.3). Pequenas mudanças são o suficiente para produzir motivação, “para dar um gás”, como diz uma amiga. Posso dizer que pequenas mudanças são necessárias para trazer um novo ânimo. E que época melhor para isso do que o início do ano? É um período de novas perspectivas e planos, quando temos a sensação de sermos capazes de realizar tudo e qualquer coisa em 12 meses. E, para você que quer reformar e/ou decorar, aproveite este entusiasmo e anote algumas sugestões para tornar esse momento ainda mais produtivo.
Cozinha Em cozinhas existe um artifício para mudar, dando novo ar e nova cor, sem bagunça, sem sujeira e com mão de obra qualificada: “você mesmo”. São os adesivos decorativos para azulejos. Você tem condições de mudar a visão das suas paredes, sem entrar em obras. As estampas são diversas, com vários temas, o que te dará um pequeno trabalho de escolher qual deles usar. Procure adesivos de parede decorativos de azulejos. São aplicados sobre o azulejo existente, vendidos em placas e kits. Fique atenta às instruções para colocação, às medidas disponíveis e à medida do seu azulejo.
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Organize as fotos Guardar e organizar são palavras bem usadas neste momento em que nos desfazemos de todos os ornamentos das festas do fim de ano e voltamos ao que, ironicamente, chamamos de ritmo normal. Dentro dessa esfera de comemorações e momentos marcantes, com certeza registrados e imortalizados em seus álbuns, uma boa pedida é selecionar e montar conceitualmente (a partir de um assunto ou local em comum) painéis de fotos, em tela ou em quadro (em um único ou em vários, de modelos e cores iguais, o tamanho pode variar). Eles sempre dão à casa um aconchego de lar e uma história pra contar. A melhor posição para serem colocados é sempre em direção à área mais íntima da casa.
Cuide da Igreja Na igreja, precisamos cuidar do aspecto do templo, externa e internamente. Ele precisa ter boa aparência, com cuidado e zelo, cores aconchegantes, objetos bem cuidados, flores vistosas e naturais, que alegram o ambiente. O espaço agradável, confortável e visualmente limpo por si só já acomoda as pessoas e faz com que se sintam bem em nosso meio. Voltaremos a esse assunto em outra edição. Neste novo ano, Deus abençoe seus celeiros e a tudo o que as suas mãos fizerem. Seja feliz em Cristo e na salvação que nos dá! A Elaine, designer de interiores – formada pela FMU em 2006 – trabalha com projeto e execução de moveis há 15 anos, é presbítera da 1ª IPI do Jardim das Oliveiras, SP elaine@cristianeschiavoni.com.br
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FIQUE ATENTO
Vida financeira ANDRÉ SANCHEZ
Quase 100% das doenças manifestam algum tipo de sintoma. Aliás, os sintomas são importantíssimos, pois ajudam a descobrir que tipo de doença acomete a pessoa e qual o antídoto para a cura. A nossa vida financeira também pode ser atacada por doenças que minam a nossa saúde. Você sabe quais são os principais sintomas de uma vida financeira que está começando a adoecer ou que já está contaminada totalmente pela doença?
SINTOMAS DE DOENÇA
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A Revista da Família
DESCONTROLE
Você anota todos os seus gastos e ganhos? Muitas pessoas acham que conseguem controlar seu dinheiro apenas com a sua mente, e acabam se enrolando e caindo em um descontrole grandioso, gerando muitos problemas na vida financeira. É imprescindível ter um controle escrito de gastos e ganhos para que haja uma visão concreta sobre o destino do seu dinheiro. Além disso, o descontrole dá a sensação de que se tem dinheiro, mas, na realidade, no final, só se tem a dor de cabeça de dívidas que trarão muitas dificuldades.
COMPRAR POR IMPULSO
Você é daqueles que compra as coisas sem pensar antes? Grande parte das doenças da vida finan-
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Aposentadoria
“O homem sensato tem o suficiente para viver na riqueza e na fartura, mas o insensato não, porque gasta tudo o que ganha”
Como será a sua? FABIO MARCHIORI MACHADO
Certa vez, vi um pastor falar para uma igreja que visitava que aqueles que pensam no futuro não confiam em Deus. Continuou dizendo que pessoas que se preocupam com sua aposentadoria ofendem a Deus por não confiarem em sua provisão e cuidado. Tenho plena convicção dos cuidados de Deus para conosco e que, de fato, não devemos ser ansiosos com o nosso futuro (Mt 6.19-33). Entretanto, creio que
Deus demonstra sua misericórdia e derrama a suas bênçãos através dos nossos esforços e da nossa disposição. O texto bíblico que mais me chama a atenção é este: “O homem sensato tem o suficiente para viver na riqueza e na fartura, mas o insensato não, porque gasta tudo o que ganha” (Pv 21.20). Não existe um versículo na Bíblia que ordene diretamente ao ser humano preparar-se para a aposentadoria, mesmo porque, nos tempos bíblicos, isso era algo que não existia. A aposentadoria, como prática, surgiu somente em 1889, na Alemanha.
No Brasil, a aposentadoria é algo muito novo, nem tem 100 anos, pois foi instituída em 1923 com a Lei Elói Chaves, que garantia este direito aos ferroviários da época. Contudo, podemos utilizar o texto de Provérbios 20.21 para entender como Deus pensa a respeito do assunto. Deus não fala para guardar, mas diz que não devemos gastar tudo que ganhamos, para sempre termos o suficiente. Este “não gastar” e “ter o suficiente” projeta, inevitavelmente, uma idéia de futuro.
tisfazer o desejo do agora. Isso é muito perigoso! Hoje, vemos uma grande quantidade de idosos sofrendo horrores porque não pensaram quando jovens em organizar uma velhice financeiramente melhor. Você quer viver uma velhice sofrida financeiramente?
ros altíssimos, que são uma bola de neve pronta a rolar por cima delas. Cartão de crédito e cheque especial só são bons se usados segundo as regras.
NA VIDA FINANCEIRA ceira é gerada por compras por impulso. As compras devem ser feitas, mas, antes, devem ser pensadas e planejadas com base nas possibilidades que o orçamento oferece. A compra de itens supérfluos deve ser analisada com coerência e baseada nas possibilidades que se tem. Compras por impulso geram doença na vida financeira.
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SÓ IMPORTA O PRESENTE
Muitas pessoas vivem apenas olhando o presente e se esquecem que a expectativa de vida das pessoas só vem aumentando. Não pensam em poupar, não pensam na aposentadoria, não pensam na velhice. Gastam todo o seu ganho para sa-
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IDOLATRAR O CARTÃO DE CRÉDITO E O CHEQUE ESPECIAL
Estes dois produtos podem ser usados de maneira consciente, como já explicamos no artigo sobre cartão de crédito, porém muitas pessoas estouram o limite do cheque especial ou do cartão de crédito, como se esse dinheiro fizesse parte do seu salário e, por isso, pagam ju-
A Revista da Família
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DESPREZAR AS PEQUENAS QUANTIAS
Por incrível que pareça, muitas pessoas estão doentes financeiramente porque desprezam pequenas quantias. No decorrer do mês, os pequenos gastos se somam, criando um grande e importante gasto, que compromete o orçamento. Carnês com pequenas parcelas e longos prazos são feitos aos montes e, no final das contas, eles, unidos,
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Preparar-se para o futuro é sensato, pois não sabemos como será o dia de amanhã (Tg 4.14). Não sabemos se teremos saúde para trabalhar ou mesmo se teremos trabalho. Não sabemos se poderemos contar com a ajuda dos nossos filhos ou parentes. Hoje, 6 em cada 10 famílias brasileiras são sustentadas por aposentados, segundo o IPEA. Sempre falo nas palestras que ministro em igrejas sobre o assunto que uma excelente estratégia é usar o tempo que Deus nos dá, aliado ao poder do juro. Eu explico: O juro pode ser nosso grande inimigo (se tivermos dívida) ou nosso grande aliado (se tivermos uma poupança). O “poder” do juro aumenta muito com o tempo, ou seja, quanto mais meses seu dinheiro ficar guardado, maior será o saldo. Vamos dizer que você tem hoje 50 anos e quer se aposentar com 65 anos. Se começar a guardar, numa conta de poupança, Início da poupança
R$ 150 todo o mês, no dia da sua aposentadoria você terá disponível mais de R$ 50 mil. Este valor aplicado poderá render-lhe um acréscimo em seus ganhos de R$ 350 por mês. Agora, se você tiver apenas 18 aninhos e se disciplinar a guardar os mesmos R$ 150 nos próximos 47 anos, lá no futuro, no momento de se aposentar, terá uma boa poupança de R$ 710 mil, proporcionandolhe uma aposentadoria no valor de R$ 5 mil mensais. Gostaria de encerrar este artigo
Idade da aposentadoria
dizendo que, apesar de se preocupar com o futuro, você não deve viver nele. A Bíblia é clara quando diz que devemos provisionar (Pv 20.21 e Tg 4.14), mas também que é pecado acumular além do que você precisa (Lc 12.16-21). Portanto, aproveite sua vida, hoje e no futuro, nas bênçãos do Senhor.
Valor depositado mensalmente
O Fabio, casado com Adriana e pai do Gabriel, ministra cursos sobre finanças pessoais em igrejas voluntariamente e é editor do blog cristão BereiaBlog – www. bereiablog.com.br
Renda que receberá
50 anos
65 anos
R$ 150,00
R$ 350,00
18 anos
65 anos
R$ 150,00
R$ 5.000,00
viram uma bola de neve destruidora.
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SEMPRE COMPRAR A PRAZO
Os doentes financeiros acreditam que comprar a prazo é sempre vantajoso. Ledo engano! Toda compra parcelada tem juros embutidos que tomam seu rico dinheirinho e enriquece ainda mais os barões do consumismo. Compre a prazo somente quando não tiver alternativa.
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POUCO INTERESSE EM DIMINUIR GASTOS
Pessoas que são esbanjadoras perdem muito dinheiro e comprometem o seu orçamento pela sua falta de interesse em poupar recursos. Não é difícil encontrar casas com todas as luzes acesas e só uma pessoa em casa, televisões ligadas sem ninguém assistindo, mangueiras de água jorrando calçada abaixo, etc. Quem quer ser saudável financeiramente pensa em ser o mais econômico
possível. Existem outros sintomas que devem ser identificados por cada um de nós e tratados com seriedade. Às vezes, o remédio é amargo, mas é importante tomálo para recuperar a saúde financeira. A escolha é de cada um! O André, casado há 6 anos com Daniela, ama escrever e estudar a Bíblia, é presbítero, ministro de louvor e professor da Escola Dominical da Igreja Presbiteriana Bela Jerusalém - autor do blog www.esbocandoideias.com
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AGENDA 2012
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