Alvorada 2012 julho|agosto|setembro

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A Revista da Família Ano XLIII nº 70 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2012

Adolescentes

Não precisam de líderes perfeitos. Precisam de líderes sinceros

Filhos

O exemplo é a melhor forma para educar seus filhos

Culpa O que vem a

ser, quais suas consequências e como superar

Fofoca

O que ela oculta ou revela acerca daquele que a faz e dos que a acolhem

Ficha limpa

Uma análise sobre as operações fraudulentas na política e sociedade brasileira

Dia dos

Pais

A participação dos pais na vida e no dia a dia de filhos especias

Voluntariado: pessoas admiráveis



EDITORIAL

Pessoas

admiráveis SHEILA DE AMORIM SOUZA

"Como são admiráveis as pessoas que se dedicam a Deus! O meu maior prazer é estar na companhia delas." (Sl 16.3). Sair do conforto de casa e deixar a convivência com a família para passar horas visitando famílias (quando ainda existe uma) paupérrimas nos barracos das favelas ou moradoras de ruas, ou ainda ter disposição para ir aos hospitais e às prisões. É missão para poucos. Quem se dispõe a fazer isso? Numa época em que impera a falta de bom senso, o hedonismo e, principalmente, a desobediência à Palavra de Deus, é mais fácil encontrarmos pessoas (e até mesmo poderes públicos) que enxotam, negam comida e, por incrível que pareça, matam a pauladas (sem que nunca sejam punidas por isso) pessoas nas condições citadas. “Quando entrares na vinha do teu próximo, poderás comer à vontade, até ficares saciado, mas nada carregues em teu cesto. Quando entrares na plantação do teu próximo poderás colher as espigas com a mão, mas não passes a foice na plantação do teu próximo” (Dt 23.25-26). Estas leis estão baseadas na compreensão de que todas as pessoas têm direito de usufruir as riquezas da terra. Jesus, predizendo o dia do seu retorno, disse aos seus discípulos: “Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Venham, vocês que são abençoados pelo meu Pai! Venham e recebam o Reino que o meu Pai preparou para vocês desde a criação do mundo. Pois eu estava com fome, e vocês me deram comida; estava com sede, e me deram água. Era estrangeiro, e me receberam na sua casa. Estava sem roupa, e me vestiram; estava doente, e cuidaram de mim. Estava na cadeia, e foram me visitar” (Mt 25.34-36). Para Jesus, todas as pessoas possuem cidadania (Ef 2.19). Hoje, muitos sobrevivem sem a menor chance de exercê-la. Nesta edição, compartilhamos histórias de pessoas que se dispuseram a "levar alegria e sorriso a um lugar de dor e morte como o leito de um hospital, assim como levar palavras de liberdade e esperança para os encarcerados das

detenções. São amados e ignorados, são heróis para muitos e loucos para a sociedade". São conhecidos como voluntários. Eles se comprometem com a realização de um trabalho, sem ganhar nada. E, ainda assim, se sentem gratificados. "Se ganhasse um cheque no fim do mês pelo trabalho, não me sentiria tão recompensada”, declaração de uma voluntária. Segundo pesquisas, passamos mais tempo na companhia dos amigos. O Rev. Daniel Dutra fala sobre o valor da amizade saudável e quais os sinais de uma perigosa amizade. No cenário político, é bastante evidente estes sinais de amizade perigosa e que, sob o argumento de dedicação pública aos mais necessitados e também às classes dominantes da sociedade, expõe uma doença crônica: a corrupção. Este é um ano eleitoral. A reflexão "Eu sou fiel corrupto, ficha suja!" traz à tona não só o comportamento político, mas nos desafia a refletir sobre a verdadeira postura do discípulo de Jesus Cristo. E, por falar em discípulos, nós, pais, somos mestres na vida de nossos filhos, seja no exemplo, ensino e amor. Muitos pais também têm aprendido com seus filhos. No dia 12 de agosto vamos comemorar o Dia dos Pais e temos uma linda matéria sobre pais que vivem a experiência de ter um filho com necessidades especiais. Eles aprenderam a confiar no Senhor a cada dia e venceram desafios, preconceitos, medos e dificuldades das mais diversas. As exortações de Jesus dirigidas aos seus discípulos continuam a nos interpelar hoje. Como responderemos? Com acomodação, deformação ou transformação? Que nossa casa e o nosso coração sejam espaços de acolhida e que o nosso tempo e esforço sejam dedicados a buscar o reino de Deus. E que nos assemelhemos às pessoas descritas no Salmo do início do texto. Boa leitura e até outubro!

Sheila alvorada@ipib.org


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Reflexão

Síndrome da Pressa. Afinal de contas, para que tanta correria?

12

Solidariedade

13

Cartas

14

“Compadecer-se”, muito humano ou muito divino?

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Saúde Masculina

Câncer de Próstata: não negligencie a prevenção anual

Psicanálise e Esperança

Culpa: o que é, quais suas consequências e como superar

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Cristianismo

A igreja vivia em paz

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Entrevista

48

Mis. Delci Esteves dos Santos, há 23 em Moçambique, fala sobre a missão da Casa das Formigas

60

Fofoca

O que ela oculta ou revela acerca daquele que a faz e dos que a acolhem

Saúde

As gorduras na alimentação

O valor de um amigo

A Bíblia traz orientações para o cultivo de amizades saudáveis e faz alertas àquelas que são perigosas

Dia dos Avós

SUMÁRIO

19 20 22 24 29

Os avós podem e devem dar o melhor de si aos netos. Devem ser sempre lembrados. Suas experiências são valiosas.

Educação

Ser exemplo é a melhor maneira de educar os filhos

Pais e filhos

A criação e formação dos filhos é um legado intransferível

4 Voluntariado

Pessoas admiráveis que se dispõe a levar alegria, amor, esperança e a Palavra de Deus a muitas pessoas

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Adolescentes

Não precisam de líderes perfeitos. Precisam de líderes sinceros

Reflexão

Espiritualidade em momentos cruciais

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Liderança

Pastores e líderes precisam cuidar da saúde do corpo, das emoções e da mente

Homenagem

50 anos de ministério pastoral do Rev. Abival Pires da Silveira

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Ficha Limpa

Uma análise sobre as operações fraudulentas na política e sociedade brasileira

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Fica a dica

O desafio de se comunicar. Dicas para uma melhor comunicação do Evangelho

Escola Dominical

Algumas das principais causas de ausência de motivação para frequentar a Escola Dominical

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Dia dos Pais

A participação e importância dos pais na vida e dia a dia dos filhos especiais

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Consciência Ecológica

Muito além do "ecologicamente correto"

Habilidades

Faça com excelência

Para as crianças Atividades

Receita

Bolo "Bomba da Mamãe"

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Órgão Oficial da Secretaria da Família da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Registrado, em 7/11/ 1974, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial sob o n° 289 - CNPJ n° 62.815.279/0001-19 - Fundada em 3/2/1968 por Rev. Francisco de Morais, Maria Clemência Mourão Cintra Damlão, Isollna de Magalhães Venosa. Ministério da Comunicação: Rev. Wellington Barboza de Camargo. Secretário da Família: Rev. Alex Sandro dos Santos. Coordenadoria Nacional de Adultos: Ione Rodrigues Martins e Odair Martins. Coordenadoria Nacional do Umpismo: André Lima. Coordenadoria Nacional de Adolescentes: Rev. Rodolfo Franco Gois. Coordenadoria Nacional de Crianças: Rev. Rodrigo Gasque Jordan. Editora: Sheila de Amorim Souza. Revisor: Rev. Gerson Correia de Lacerda. Arte e Diagramação: Seiva D’Artes. Foto capa: Chrisharvey_dreamstimefree. Fotos e ilustrações: Allison de Carvalho, Fotolia, stock.xchng e dreamstimefree. Colaboraram nesta edição: Wanderlei de Mattos Júnior, Odair Martins, Adilson Souza Filho, Daniela Welte, Evandro Rodrigues, Dulce Vieira Franco de Souza, Alex Sandro dos Santos, Maria Emília Conceição, Daniel Dutra, Irani José Costa, Elaine Gomes, Wesley Zinek, Ademir S. de Almeida, Cassia Ciano, Telma Costa, Matheus Augusto Galvão, Rodrigo Gasque Jordan, Rodolfo Franco Gois, Fernando Hessel, Fábio Ikedo, Vanessa Cardoso Sene, André Almeida, Jonas Furtado do Nascimento, Leontino Farias dos Santos, Berenice Rodrigues, Lídia Sendin, Maurício Silva de Araújo, Tamara S. Drumont Machado, Gisele Rocha. Redação: e-mail alvorada@ipib.org - Fone: (11) 2596-1903. Assinaturas na Editora Pendão Real - Rua da Consolação, 2121 -CEP 01301-100 - São Paulo/SP Fone/Fax (11) 3105-7773 - E-mail: atendimento@pendaoreal.com.br. Assinatura anual Individual (4 edições): R$37,00, acima de 10 assinantes R$ 33,00, para receber através do (a) agente ou R$ 55,00, para receber em casa. Número avulso: R$ 9,50. Depósito no Banco Bradesco - Agência 095-7 - Conta Corrente 174.872-6. Tiragem: 2500 exemplares. Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião da revista. Permitida a reprodução de matéria aqui publicada, desde que citada a fonte.


REFLEXÃO

Síndrome da

pressa IRANI JOSÉ COSTA

Foi este o tema de uma reportagem que tentava diagnosticar o modus vivendi da sociedade moderna. Essa é a nova doença do século XXI. Todos têm pressa, muita pressa. Andam correndo de um lado para o outro com muitas preocupações na cabeça e muitos papéis nas mãos. Quando chega o fim do dia, percebemos que ficou muita coisa por fazer. Sentimo-nos frustrados e desanimados. As horas do dia poderiam ser maiores. Até existe um banco onde o lema é “Banco 30 horas”, pois 24 não são mais suficientes. A doença é evidente quando, por mais que se faça, ainda existe o sentimento de culpa (e com remorsos) por não se conseguir fazer tudo o que se deveria. Por mais avanço que tenhamos conseguido com a tecnologia, não conseguimos com isso melhorar nossa qualidade de vida. Os aparelhos (carro, microonda, celular, computador, aparelhos de TV), que deveriam nos ajudar, não têm conseguido facilitar a nossa vida. Afinal de contas, para que tanta correria? Onde queremos chegar? Será que esta correria toda em busca de coisas não seria uma fuga do nosso encontro com Deus? Marta, dos relatos bíblicos, já tinha essa mania da pressa e foi duramente repreendida pelo Senhor. Faz mais quem está aos pés de Jesus. Será que você precisa ser repreendido para que deixe de correr e fique na companhia daquele que tudo faz pelos seus e, especialmente, acalma o coração? Por que será que temos tanta pressa para correr atrás de interesses próprios e muita preguiça para as coisas do Reino de Deus?

O Rev. Irani (Dídio) é pastor da IPI Alvorada, em Maringá, PR

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A VOZ DO CORAÇÃO

O sucesso das missões no passa pelo

voluntar

WESLEY ZINEK

Um professor de Escola Dominical do século passado conduziu um vendedor de calçados a Cristo. O nome do professor você nunca ouviu: Kimball. O nome do vendedor de calçados que ele converteu você conhece: Dwight Moody. Moody tornou-se evangelista e exerceu grande influência na vida de um jovem pregador chamado Frederick B. Meyer. Meyer começou a pregar nas faculdades e, durante suas pregações, converteu J. Wilbur Chapman. Chapman passou a trabalhar com a Associação Cristã de Moços e organizou a ida de um ex-jogador de beisebol chamado Billy Sunday a Charlotte, Carolina do Norte, para realizar um reavivamento espiritual. Um grupo de líderes comunitários de Charlotte se entusiasmou de tal maneira com o reavivamento que planejou outra campanha evangelística, convidando Mordecai Hamm para pregar na cidade. Durante essa campanha, um jovem chamado Billy Graham entregou sua vida a Cristo. Será que o professor de Escola Dominical de Boston imaginava qual seria o resultado de sua conversa com o vendedor de calçados? Essa história é um exemplo do que acontece com pessoas que buscam fazer algo relevante no mundo e no Reino de Deus. Essas pessoas deixam

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nº 69 abril/maio/junho, 2012


o Brasil

iado

Solidariedade Que palavrão! Mas esse deve estar na sua boca e no seu coração... Sem solidariedade, não há caridade. Se você pode alguém m ajudar, um pouquinho que for, or, um pedaço de pão ou um pouco do seu calor, é porque você é atleta que pratica solidariedade e isso é na verdade um bem muito maior do que palavras, por menor que seja o ato. Existe um fato, Pois, de fato, Solidariedade é sinônimo de amor!

O Brasil que eu quero O Brasil que eu quero Deve ser bem verdadeiro, Onde o amor seja a máxima E Deus seja o primeiro. O Brasil que eu quero Deve ser bem brasileiro. Que sua riqueza seja nossa E não vá para o estrangeiro. Que o Brasil seja a Pátria Onde todos sejam irmãos. Se uns puderem mais, Ofereçam ao outro a mão. Que nesse Brasil que sonho Todos possam entender Que o amor e o respeito É nosso mais caro dever. E que nosso direito seja Nascer, viver e morrer, Amando nosso Brasil E que ele seja sempre De todos a mãe gentil! Maria Emília Conceição, da 2ª IPI de Anapólis, GO

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suas famílias e o conforto de suas casas para passarem horas visitando famílias paupérrimas nos barracos das favelas. Essas pessoas são capazes de se desligarem de qualquer contato com amigos e com o mundo para embrenharem-se no meio do mato e compartilhar o evangelho com os índios. Eles conseguem levar alegria e sorriso a um lugar de dor e morte como o leito de um hospital, assim como levam palavras de liberdade e esperança para os encarcerados das detenções. Eles são amados e ignorados, são heróis para muitos e loucos para a sociedade. São os pés de Jesus em lugares onde Ele não caminhou. Eles não são pastores remunerados nem missionários de tempo integral. Eles são os voluntários das ONGs missionárias. O voluntário é o próprio protagonista da organização social ou das ações sociais. Em especial, daquelas instituições que ainda não são auto-sustentáveis e não podem pagar profissionais. E, mesmo o voluntário sendo tão imprescindível na instituição, infelizmente, ainda há uma desvalorização deste que não se sente parte por não ser remunerado. No entanto, a legitimidade do voluntário está justamente no fato dele não ter remuneração. Primeiro, porque, além do esforço de conciliar o tempo de voluntariado com as atividades profissionais ou do dia-dia, o voluntário se doa sem o interesse financeiro, tendo como motivação o que nenhum dinheiro pode comprar, que é o amor, a paz, a salvação ou um mundo melhor. Não raro, também, a motivação ao voluntariado é de pessoas que passaram por alguma dificuldade e, agora, querem ajudar pessoas que passam pela mesma dificuldade, ou seja, voluntários de hospitais de crianças com câncer que tiveram na família crianças com câncer ou, em casas de recuperação, pessoas que tiveram parentes dependentes químicos. A isso a Bíblia chama de compaixão (padecer com). Ninguém melhor para saber o sofrimento de morar na rua do que uma pessoa que morou na rua e, ago6 Alvorada

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ra, quer ajudar. Porém, Jesus nos encoraja a “padecer com”, isto é, sentir na pele, mesmo sem ter passado por determinado sofrimento. Poderíamos citar vários exemplos e testemunhos de voluntários

das instituições pelo Brasil, mas, de momento, queremos mostrar alguns testemunhos do nosso dia-dia na Missão CENA, de voluntários que fazem a missão caminhar e que trazem salvação na Boca do Lixo.

Missão real Paulo é membro da Igreja Bola de Neve e voluntário na Missão CENA há 3 anos: “O voluntário, primeiro, tem que ter visão de igreja. Ele deve estar de bem com a igreja para poder fazer um bom trabalho voluntário. É muito importante manter a regularidade no voluntariado para ter confiabilidade dos atendidos. Essa é a diferença”. Como aposentado, Paulo ocupa todo seu tempo como voluntário na capelania do Hospital de Ermelino Matarazzo e Hospital São Paulo, nos presídios de Pinheiros e Belém, e na Fundação Casa.

Helena é membro da Igreja Batista da Água Branca e voluntária na Missão CENA há um ano: “Ser voluntário é servir. Eu não consigo explicar o que eu ganho, mas eu sinto muita paz e me sinto recompensada. Talvez se eu ganhasse um cheque no fim do mês pelo trabalho, não me sentiria tão recompensada”.

Tio Willian é seminarista na Igreja Pão da Vida e voluntário na Missão CENA há 3 anos: “O trabalho voluntário é importante desde que tenha compromisso. Geralmente o voluntário não se compromete. Nós não temos que estar ligados a títulos, mas ter a disposição de nos envolvermos na missão como um chamado. Ser voluntário está acima dessa nomenclatura”.

Esses testemunhos, na verdade, são um encorajamento para que você possa experimentar uma vida de voluntário, seja na Missão CENA ou em qualquer outra missão relevante. “É como uma via de mão dupla: nº 70 julho/agosto/setembro, 2012

Você abençoa e é abençoado. Deus fala com o pobre através de você e fala com você através dele” (Maurício Cunha). O Wesley (Mindu) é missionário da Congregação de Vargem Grande, São Paulo, SP, e na Missão CENA


Ana Lúcia é membro da Igreja Batista da Água Branca e voluntária na Missão CENA há 5 meses: “Sempre fui sensível às pessoas que moram na rua. Eu me sentia incomodada com meu conforto em casa e ficava pensando naqueles que estavam morando nas ruas. O que ganho sendo voluntária? Eu aprendo muito com eles. Estou perdendo o medo, me relacionando com eles. Estar com eles é diferente do que a mídia mostra quem eles são. Voltei a ter esperança na reconstrução do mundo através do amor de Cristo, inclusive vendo missionários que já moraram na rua e agora estão servindo e falando da salvação para os da rua”.

ALBERGUE DA CENA Ricardo começou voluntário e há 14 anos é missionário na Missão CENA: “Ser voluntário, para alguns, é desencargo de consciência e, para outros, é resultado do relacionamento com Deus”.

DE 20 DE JUNHO A 20 DE AGOSTO VOCÊ PODE PARTICIPAR DESSA MISSÃO:

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DOANDO COBERTORES ALIMENTOS NÃO PERECÍVEIS PRODUTOS DE LIMPEZA SABONETES

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O voluntário se doa sem o interesse financeiro, tendo como motivação o que nenhum dinheiro pode comprar, que é o amor, a paz, a salvação ou um mundo melhor

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ALBE ERAL COU 0 GEN S, 28 R:

E Z) ALHA G A DA LU M O Ã AÇ 71 . EST X Ó 1-44 R 3 (P 3 3 : FONE

A Revista da Família

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PARTICIPANDO COMO VOLUNTÁRIO EM ALGUMAS NOITES NO ALBERGUE COMPARTILHANDO UMA PALAVRA E LOUVOR AJUDANDO NA JANTA OU CAFÉ

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40 voluntários ajudam a melhorar a qualidade vida de doentes com câncer

Voluntários do ACREDITAR

Em dezembro de 2010, nasceu o ACREDITAR (Grupo de Apoio às Pessoas com Câncer), a partir da reunião de pessoas interessadas em ajudar quem luta contra a doença e seus “cuidadores”. No grupo inicial de 6 pessoas, 3 enfrentaram o câncer de mama e estavam dispostas a colaborar, inclusive com depoimentos incentivadores a respeito da doença. Hoje, o grupo reúne, aproximadamente, 40 voluntários com reuniões quinzenais no antigo “Hospital do Grillo”. Recebemos doações, vários artesanatos que rifamos, e fazemos feiras da bondade e eventos beneficentes. O dinheiro arrecadado é revertido para o auxílio dos assistidos pelo grupo e campanhas de conscientização e orientação sobre os direitos das pessoas com câncer. co Com pouco tempo de existência, o ACREDITAR já realizou em Porto Feliz, SP, diversos DI eventos dentre eles: Cearense (prato típico da ev cidade), Caldinho Cultural (na estação mais cid fria do ano, unindo entretenimento e gastrofri nomia), Balada Cultural (teatro, dança e jazz), no além das campanhas de conscientização como alé o “Outubro Rosa” (durante a semana em que se comemora a fundação da cidade conhecida como Semana das Monções) e também durante co a ssemana do Meio Ambiente. Caso queira conhecer mais as atividades realizadas pelo Grupo ACREDITAR, ser voluntáali rio ou fazer doações, acesse o site.

www.grupoacreditar.org 8 Alvorada

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Você sabe o que é voluntariado? Caldinho Cultural - Casa dos Velhinhos com o Grupo ACREDITAR

DE 8 2 AGOSTO

DIA NACIONAL DO

VOLUNTÁRIO

Preparo do prato Cearense

CÁSSIA CIANO

Podemos definir o trabalho voluntário como um conjunto de ações de interesse social e comunitário onde o voluntário é o agente transformador que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade, doando seu tempo e conhecimento para atender às necessidades do próximo ou em prol de uma causa. Suas motivações pessoais são de caráter religioso, cultural, filosófico ou emocional. O voluntariado contemporâneo tem características diferenciadas como maior engajamento, participação e conscientização das suas ações. Não podemos esquecer o potencial transformador que essas atitudes representam para o crescimento interior do próprio ser humano. O trabalho voluntário tem se tornado importante no crescimento das organizações não-governamentais. A sociedade tem se beneficiado desse trabalho, exercido de forma séria e cada vez mais especializada. Muitas vezes não conhecemos a pessoa ajudada e talvez não saberemos o resultado da ação. Célia Fornel, membro da 4ª IPI de Sorocaba, SP, teve uma experiência marcante: “Quando nos mudamos de São Paulo para Adamantina, onde o meu esposo tomaria posse em sua primeira experiência como pastor, nossa mudança chegou primeiro. Quando chegamos, ao final da tarde, a casa havia sido montada, tudo estava no lugar. Os queridos irmãos da igreja tinham arrumado tudo, feito o jantar e um delicioso pão caseiro para o café do dia seguinte. Um serviço totalmente voluntário para pessoas que eles mal conheciam. Em todas as igrejas que passamos, sempre encontramos irmãos voluntários para o trabalho em favor de outras pessoas". O voluntariado é surpreendente. Seres humanos usando os dons e habilidades para tornar melhor a vida do próximo. Isso, sem dúvi-

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da, é sinal do Reino de Deus. Ambição, egoísmo, egocentrismo vão sendo domados no voluntariado. Pessoas que afirmavam não ter nenhum talento para prestar algum serviço voluntário se descobriram possuidoras de habilidades como a de alimentar doentes impossibilitados de o fazerem sozinhos ou de serem bons ouvintes. Isso é tudo o que alguém em uma cama de hospital e sem nenhum parente por perto necessita. Há vários anos, li um pequeno texto numa revista evangélica, chamando as pessoas para serem voluntárias em sua instituição. O destaque era para ser um SERVO: participar de um SERviço VOluntário. Pensando nisso, gostaria de fazer algumas colocações: 1. É voluntário. Vou porque quero servir e não para me destacar entre outros. 2. Colocar à disposição dons, habilidades e talentos para serem usados no que for necessário. 3. O voluntariado requer compromisso e constância. As pessoas poderão contar comigo, uma vez por semana, ou por mês ou seja lá o tempo comprometido. 4. É uma mão dupla. Abençoo e sou abençoado; ensino e aprendo; participo da vida do outro e permito que o outro participe da minha. 5. Um tempo investido. Não dou o tempo que me sobra, não dou resto, mas invisto um tempo precioso da minha vida em servir ao meu próximo. O apóstolo Paulo nos adverte: “Em tudo o que fiz, mostrei-lhes que mediante trabalho árduo devemos ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: Há maior felicidade em dar do que em receber” (At 20.35). O voluntariado é exatamente isso: dar de si àqueles que estão carentes de ajuda. Às vezes, discutimos por coisas tão bobas e periféricas, e nos esquecemos daquilo que Cristo deu importância a ponto de deixar como mandamento: “O meu mandamento é este: Amem-se uns aos outros como eu os amei” (Jo 15.12). O amor que não se traduz em ações não é amor; é pura falácia. A verdadeira religião, como lemos em Tiago 1.27, é cuidar dos que estão necessitados (aqui representados por órfãos e viúvas) e não se deixar corromper pelo mundo. A Cássia é gerente administrativo da Associação Bethel, em Sorocaba, SP cassiabethel@hotmail.com

www. 10 Alvorada

bethel.org.br

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Uma designer de sonhos TELMA COSTA

Meu nome é Telma, tenho 31 anos, trabalho como designer de jóias, há 3 anos sou membro da IPI do Cambuci, São Paulo, SP, e há 2 anos e meio trabalho como voluntária na Associação Beneficente do Cambuci (ABECAM). Esta instituição abriga crianças vítimas de abandono e maus tratos, cujos pais perderam o direito de guarda. A instituição tem capacidade para abrigar 12 crianças e, desde a sua fundação em 1998, já abrigou mais de 70. As crianças permanecem no lar até serem adotadas ou retornarem a sua família de origem. O desejo de trabalhar como voluntária começou antes mesmo que eu o pudesse exercer, aos 17 anos. Assim que completei a maioridade, comecei a trabalhar como voluntária na AACD. Fiquei lá por 3 anos, trabalhando com crianças e adultos com deficiência física. Depois disso, trabalhei no Greenpeace, defendendo a causa verde. Mais tarde, participei da Operação Arco-Íris, onde era palhaça de hospital, e hoje sou voluntária na Abecam, atuando na direção, como secretária, e trabalhando diretamente com as crianças com atividades e passeios. Todas estas experiências me fizeram um ser humano extremamente melhor. Poder doar o amor não tem preço. Cada uma das crianças das quais, através da minha vida, Deus tirou um sorriso ficará para sempre registrada na minha memória. Tenho milhares de histórias para contar, mas algumas são mais do que testemunhos. A mais recente foi a de duas irmãs, de 8 e 6 anos, abrigadas na Abecam. Por causa da idade, a adoção é muito mais difícil, porém, quando elas chegaram ao abrigo, já estavam em fase de convivência com uma família que iria adotá-las. Uma fatalidade tirou a vida do possível pai adotivo e elas perderam mais uma vez a chance de ter uma família. Voltamos à


estaca zero. Foi muito triste, mas Deus estava no controle de tudo. Cerca de um ano depois, Deus enviou, do interior da França, uma família que as adotou. No dia da despedida, não demos uma palavra. Elas apenas me abraçaram e pude sentir o coraçãozinho batendo muito forte. Nenhuma palavra e, mesmo assim, foi a conversa mais linda que já tive com uma criança. Aquele foi um abraço de Deus, a maior recompensa que eu poderia receber. Hoje, elas vivem na França, com uma família preparada por Deus. No tempo em que estiveram conosco, nós as preparamos para este momento. O nosso trabalho no abrigo é o de ser a família temporária destas crianças. Cada vez que uma criança chega ao lar, muitas vezes, machucada física e emocionalmente, nossa missão é acolhê-la, cuidar primeiramente da sua saúde e começar um trabalho de estabilidade emocional. No começo, é muito difícil, pois a criança se revolta muito com o abandono. Mas, aos poucos, ela percebe que a sua nova realidade é mais segura. Então, passa a aceitar os cuidados e o carinho. No lar, as crianças recebem todos os cuidados de que uma criança necessita, inclusive aquelas em idade escolar têm uma rotina de escola normal. Diariamente, elas têm atividades desenvolvidas por voluntários; alguns deles trabalham diretamente com as crianças e outros ajudam nos cuidados com a manutenção do lar. A casa conta com 6 colaboradores remunerados e um grupo de cerca de 10 voluntários que participam ativamente da rotina da casa. Sem eles, não poderíaças. mos oferecer todo o cuidado às nossas crianças. A diretoria é formada por 6 pessoas, todas voluntárias. Juntos, somos responsáveis por manter o abrigo vos e não em atividade. A entidade é sem fins lucrativos ndo inteirecebe nenhum apoio do governo, dependendo ramente de doações. Promovemos bazares, almoços, ambuci é e eventos para arrecadar fundos. A IPI do Cambuci uma das principais parceiras da instituição, além de as com a ser um local que sempre acolhe nossas crianças palavra de Deus. Sinto-me escolhida, capacitada e ungida a cada dia por ser voluntária. Não é fácil abrir mão do conforto e, muitas vezes, do lazer em prol de alguém que está sofrendo. Muitos não suportam enfrentar a dor. Eu asa muimesma não sei como consigo. Já voltei para casa tas vezes chorando; já vi uma criança falecerr no leito de um hospital, e eu, à sua frente, vestida de palhaça. haços. Já O médico disse que ela pediu para ver os palhaços. rna, com carreguei no colo crianças sem braço, sem perna,

Siri (Telma) e Sardinha (Weslei Amorim) na festa do Dia das Crianças na Abecam

d d uma vontade de viver muito maior d do que a d de muita gente. Já vi criança tomando quimioterapia e acreditando que, quando crescesse, iria ser o super-homem. A cada experiência me sinto uma pessoa melhor e mais capaz de oferecer amor. Deus me abençoou muito. Tenho uma família unida. Tive a oportunidade de exercer a profissão que escolhi quando tinha 6 anos (desenhista). Tenho a casa com que sempre sonhei e Deus ainda me deu este lar ao lado da igreja, onde há 5 anos me converti. Creio que o trabalho voluntário é uma “missão”. Para se entregar e fazer a diferença é preciso saber que as dificuldades virão, assim como a preguiça e o desânimo, mas, se você acreditar que foi chamado por Deus para esta tarefa, com cert certeza se sentirá mais forte. E a Bíblia nos ensina: “Sempr “Sempre que puder, ajude os necessitados” (Pv 3.27). Quer ser um voluntário volun na Abecam? A Telma é secretária d da Abecam e membro da IPI do Cambuci, São Paulo, SP telma@nuovametais.com.br telm

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nº 70 julho/agosto/setembro, julho/agosto/setembr 2012

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SOLIDARIEDADE

“Compadecer-se” Muito humano ou muito

divino?

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CARTAS

Nikki Zalewski - Fotolia

DULCE VIEIRA FRANCO DE SOUZA

Dois relatos me emocionaram hoje: 1) Em uma cidade muito quente, um indivíduo já debilitado, mais velho, entregava panfletos em um sinaleiro. Alguém passando ficou pensando que aquela pessoa poderia se desidratar. Impossibilitada de retornar, providenciou para que outra pessoa entregasse uma garrafa de água gelada para aquele sofrido trabalhador. Este surpreso, disse: Inacreditável! E ficou repetindo essa palavra... 2) Em um grande hospital, um senhor humilde aguardava para ser internado, agarrado a uma pequena sacola com duas trocas de roupa. Um profissional da área de saúde, que deveria se acostumar a cenas assim, pôs-se a chorar pensando que as normas vigentes ali o fariam afastar-se de seus pertences, que naquele momento eram seu apoio. Chorou o restante do dia. Não poderia mudar as normas, mas ainda era capaz de sentir a solidão, o desamparo do outro. Chorava a perda da individualidade que se faz presente nos asilos, prisões, hospitais. Chorava a descaracterização do paciente, do ser humano. Um dos ouvintes destes dois relatos disse: -Isto é muito humano! Fiquei pensando que se compadecer e ter muita humanidade é coisa divina! Jesus compadeceu-se: “Vendo Ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas, como ovelhas que não tem pastor” (Mt 9.36). “Não devias tu, igualmente compadecer-te do teu conservo, como Eu me compadeci de ti?” (Mt 18.33) “Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele” (Lc 10.33). “E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou-o” (Lc 15.20). Para multidões aflitas, exaustas, doentes, enfermas, surge um pastor cuidadoso! Para o conservo sufocado ou suplicante, surge a possibilidade do perdão. Para um homem semimorto, roubado e ferido, surgem providências concretas. Para um jovem pecador que retorna humilhado, arrependido, surgem braços acolhedores, banho, roupa. “Quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber?” (Mt 25.37). Parafraseando, o rei respondendo poderia nos dizer: -Foi no sinaleiro! Foi no hospital! Continua sendo perigoso e complicado pastorear, cuidar, perdoar, providenciar, gastar, abraçar, acolher, compadecer. “O reino de Deus está entre vós”. O reino de Deus está entre nós. “Emanuel, Deus conosco” (Mt 1.23).

Em leitura da revista Alvorada do trimestre abril a junho, especialmente a matéria, “Doméstica, você conhece seus direitos?”, páginas 36 e 37, creio que houve um equívoco na descrição dos direitos, em especial quanto às férias anuais e às férias proporcionais rescisórias. Envio tal alerta para evitar pagamentos errôneos e consequentes reclamatórias trabalhistas. Férias de 30 dias Remuneradas com, pelo menos, 1/3 a mais que o salário normal, após cada período de 12 meses de serviço prestado à mesma pessoa ou família, contados a partir da data da admissão. Tal período, fixado a critério do empregador deverá ser concedido nos 12 meses subseqüentes à data em que o empregado tiver adquirido o direito. O empregado poderá requerer a conversão de 1/3 do valor das férias em abono pecuniário (transformar em dinheiro 1/3 das férias), desde que requeira até 15 dias antes do término do período aquisitivo (Art. 7º, parágrafo único, da Constituição Federal). O pagamento da remuneração das férias será efetuado até 2 dias antes do início do respectivo período de gozo (art. 145, CLT). Férias proporcionais, no término do contrato de trabalho No término do contrato de trabalho. Em razão da Convenção nº 132 da OIT, promulgada pelo Decreto Presidencial nº 3.197, de 5 de outubro de 1999, a qual tem força de lei e assegurou a todos os empregados, inclusive os domésticos, o direito a férias proporcionais, independentemente da forma de desligamento (arts. 146 a 148, CLT), mesmo que incompleto o período aquisitivo de 12 meses. Assim, o empregado que pede demissão antes de completar 12 meses de serviço tem direito a férias proporcionais. Ainda, oriento quanto aos feriados civis e religiosos Com a publicação da Lei n.º 11.324, de 19 de julho de 2006, que revogou a alínea “a” do art. 5º da Lei n.º 605, de 5 de janeiro de 1949, os trabalhadores domésticos passaram a ter direito aos feriados civis e religiosos. Portanto, a partir de 20 de julho de 2006, data da publicação da Lei n.º 11.324/06, caso haja trabalho em feriado civil ou religioso o empregador deve proceder com o pagamento do dia em dobro ou conceder uma folga compensatória em outro dia da semana (art. 9º da Lei n.º 605/49). Fernando Ferreira Moreno, advogado Rua Barão de Itapetininga, 151 - 1º andar cj. 11 / 12 - Centro - São Paulo – SP fernandoferreira@grupolabor.com.br

Resposta Muito obrigado pela correção. Baseei-me na lei 5.859/1972, art. 3º, sem dar atenção à nova redação pela lei 11.324/2006, com relação aos dias de descanso das férias. Quanto às proporcionais, a legislação não concede o direito, mas vi que há a Convenção 132 da OIT que dá o direito a todos os trabalhadores. Enfim, peço desculpas pelo lapso. Evandro Rodrigues

A Dulce é membro da IPI de Botelhos, MG

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PROVÉRBIOS

O valor de um amigo no livro de

Provérbios

DANIEL DUTRA

O livro de Provérbios foi escrito por Salomão e está registrado que ele compôs três mil provérbios (1Rs 4.32), porém foram registrados 560 apenas. Fazendo um resumo, a sabedoria em Provérbios instrui a respeito da família, da juventude, da fidelidade conjugal, da honestidade, do trabalho diligente, da generosidade, da justiça, da retidão e do valor de um amigo. No dia 20 de julho é comemorado o Dia do Amigo. Vale a pena pensarmos neste assunto. Abraham Lincoln escreveu: “A melhor parte da vida de uma pessoa é constituída de suas amizades”. Santo Agostinho disse ser a amizade “tão verdadeira e tão vital que nada mais santo e vantajoso se pode desejar no mundo”. Quem não se lembra da amizade dos Três Mosqueteiros, a lealdade entre Batman e Robin, das estripulias da Turma da Mônica e, recentemente na tela dos cinemas, a união contra o mal dos Vingadores? Todos estes personagens citados mostram a vital necessidade de termos amigos. A revista Veja publicou uma reportagem com o título Com a ajuda dos meus amigos, onde afirma que “a maioria das pessoas passa no trabalho 70% do tempo em que estão acordadas. Quem trabalha fora costuma conviver mais com os colegas e com o chefe do que com a própria família. Portanto, ter alguém com quem conversar, trocar confidências, pedir conse conselhos ou mesmo partilhar um olhar de ccumplicidade cu mp faz toda a diferença”.

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Selecionei alguns provérbios que falam do valor de um amigo para nossa reflexão:

“Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão” (Pv 17.17)

O que esse texto está dizendo é que um irmão não é apenas aquele que nasce da mesma mãe, que faz parte da mesma família. Não é apenas o irmão biológico. Um irmão pode ser aquele que entra em sua história e se torna irmão em um momento de dor, de angústia e desespero. Ele era um amigo, mas tornou-se seu irmão exatamente no tempo de angústia. “Em todo tempo ama o amigo”. Amar o amigo é estar presente, é estar junto tanto nos momentos de alegria quanto nos de angústia. É abraçá-lo em seu aniversário, mas também saber confortá-lo pela perda de um ente querido. É estar disposto a caminhar com ele quando aparentemente parece que não há caminho a seguir; quando ele está em pecado e está lá embaixo, no abismo. É nesta hora que ele mais precisa de um verdadeiro irmão. Este é o momento de estarmos juntos. É nesta hora que se faz o irmão. É por isto que a Palavra diz: “E na angústia se faz o irmão.”

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Charles Spurgeon disse: “A amizade é uma das mais doces alegrias da vida. Muitos poderiam ter sucumbido sob a amargura de suas provações, se não tivessem encontrado um amigo”. Amigo de verdade é aquele que ouve e compreende quando você compartilha seus mais profundos sentimentos; apóia-o quando você está em dificuldades; corrige-o, com amor e carinho quando você erra; perdoa quando você fracassa. Um amigo de verdade estimula o seu crescimento pessoal e o leva a explorar todo o seu potencial. Richard Exley disse: “Comemora os seus sucessos como se dele fossem”. Na vitória, é muito fácil se fazer amigos. Quando o dinheiro está sobrando e se está lá em cima, no topo, é muito fácil ter amigos. Mas, quando se está lá embaixo, quando a angústia chega, quem se revela como verdadeiro irmão? Quando o marido foi embora, quando a esposa traiu, ou o desemprego bateu

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ESTUDO à sua porta ou a enfermidade chegou sem avisar, quem se dispõe a caminhar junto como um irmão de verdade? Nesses momentos, quando até mesmo a relação de amor com Deus é questionada, é exatamente quando o amigo deve chegar e se mostrar como irmão. Existe uma canção que tem se destacado no meio evangélico que se chama O Poder de Uma Aliança, da cantora Ludmila Ferber. Esta música traz uma linda reflexão sobre o valor de uma amizade: “Antes das honras e das conquistas, o amigo está conosco; o amigo sabe quem a gente é; o amigo sabe o nível das batalhas que nós temos; o amigo sabe o nível dos limites que rompemos; o amigo fica firme ao conhecer nossa fraqueza; o amigo está presente para nos fortalecer; o amigo está lá quando a dor é violenta; o amigo está lá e vê a força da tormenta; o amigo fica junto e permanece assim, de pé; conhecendo as nossas crises e nos sustentando em fé; o poder de uma aliança como essa inabalável é; Deus constrói nosso caráter bem dessa maneira; inabalável diante das lutas; inabalável e fiel; inabalável apesar das diferenças; inabalável, inabalável e fiel”.

Alguém pode ter muitas pessoas ao seu lado que se dizem suas amigas, mas que, de fato, são amigas apenas de seus bens. Tal pessoa sai perdendo porque não pode contar com nenhuma delas se acaso lhe faltar os bens. Já vimos que na angústia é que se faz o irmão, mas a Bíblia, aqui, diz que há amigo mais chegado que um irmão. E isso foi realidade na vida de Jesus. Ele é o nosso maior amigo, mais chegado, mais íntimo que todo bom irmão que possamos ter aqui nesta terra. Ele deu a sua vida por amor a nós, sem que o merecêssemos. E nós devemos nos espelhar no Senhor Jesus para que sejamos este amigo mais chegado que um irmão. Ouvi a história de dois homens que cresceram juntos e eram grandes amigos. Embora Jim fosse um pouco mais velho do que Phillip e sempre assumisse o papel de quase se líder, eles ele faziam tudo juntos, chegando at até a cursar o ensino médio e Quando se formaram, a faculdade. faculda

decidiram ingressar no corpo de fuzileiros navais. Por uma série de circunstâncias, eles foram enviados juntos para a Alemanha, onde combateram lado a lado em uma das mais ameaçadoras guerras da história. Certo dia de calor escaldante, durante uma feroz batalha, em meio a pesado tiroteio, bombardeio e combate, eles receberam a ordem para “bater em retirada”. Enquanto os combatentes retornavam às pressas, Jim notou que Phillip não estava entre eles. Seu coração foi tomado pelo pânico. Jim sabia que, se Phillip não estivesse de volta em um ou dois minutos, ele não aguentaria. Jim implorou a seu comandante que o deixasse ir atrás de seu amigo, mas, horrorizado, o comandante recusou o pedido, dizendo que aquilo seria suicídio. Arriscando a própria vida, Jim desobedeceu à ordem e saiu à procura de Phillip. Com o coração palpitando, orando e sem fôlego, ele corria em meio ao tiroteio, gritando por Phillip. Pouco tempo depois, seu pelotão o viu atravessando com dificuldade o campo, carregando nos braços um corpo inerte. O comandante de Jim o repreendeu, gritando que aquilo era perda de tempo e um enorme risco: -O seu amigo está morto, e não havia nada que você pudesse fazer por ele ali. -Não, senhor! O senhor está enganado - respondeu Jim. -Sabe? Cheguei lá em tempo. Antes de morrer, suas últimas palavras foram: “Eu sabia que você viria”.

Amizades saudáveis

Amizades perigosas

Amizade saudável é aquela que nos leva para Deus e quer o nosso bem. “Dize-me com quem andas, e te direi quem és” (Provérbio francês).

“Não se deixem enganar: as más companhias corrompem os bons costumes” (1Co 15.33).

Andando sempre num caminho correto: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4.18).

“Vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus” (Tg 4.4).

“Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores” (Sl 1.1).

“Filho meu, não te ponhas a caminho com eles; guarda das suas veredas os pés; porque os seus pés correm para o mal e se apressam a derramar sangue” (Pv 1.15-16)

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Além dos amigos que fazemos, recebemos amigos de herança dos nossos pais, e a Palavra nos diz para não os abandonarmos. E ainda diz que o vizinho perto é muito mais precioso do que o irmão longe. Paulo tinha amigos, mas, quando eles o traíam, Paulo sofria. Houve um momento quando ele disse: “Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. Somente Lucas está comigo” (2Tm 4.10-11). Momento de abandono, mas que Paulo superou na força do Senhor. Lucas foi para Paulo o amigo mais chegado que um irmão. Gente precisa de gente! A Palavra também diz para não abandonarmos o amigo de nosso pai. Talvez seu pai já tenha morrido, mas os amigos dele ainda estão vivos e, de vez em quando, ligam para você ou você os encontra. O problema é que, muitas vezes, você não quer nada com os amigos do seu pai. Mas não os esqueça, não os abandone, conserve os vínculos, pois isso é bom, porque é assim que nos orienta a Palavra de Deus: “Mais vale o vizinho perto do que o irmão longe”.

“Não abandones o teu amigo, nem o amigo de teu pai, nem entres na casa de teu irmão no dia da tua adversidade. Mais vale o vizinho perto do que o irmão longe” (Pv 27.10).

“Quem anda com os sábios será sábio, mas o companheiro dos insensatos se tornará mau” (Pv 13.20).

POESIA

“Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo” (Pv 27.17). Quem afia o ser humano? Na verdade, é Deus que faz toda boa obra em nós (Fp 1.6), porém Ele usa os amigos para nos afiar. Os amigos fazem com que nos sintamos úteis e são capazes de nos dizer verdades que outras pessoas não teriam liberdade para falar. Sem amigos, nada tenho (Billie Holiday). Se tivermos amigos mais chegados que um irmão, certamente vamos ouvi-los. Não vamos considerar a sua exortação como uma intromissão em nossa com vida, mas como um conselho vavida lioso de alguém que nos ama de lios verdade: “O olhar de amigo alegra verd ao ccoração; as boas-novas fortalecem até oos ossos” (Pv 15.30).

Será que existem boas amizades e perigosas amizades? Nossas companhias são como os botões de um elevador: podem tanto nos conduzir para cima como para baixo. Mas quem são os bons amigos? Quais os sinais de uma perigosa amizade?

Oração da amizade Querido Senhor, agradeço-te por um presente especial, que não pode ser comprado por nenhum dinheiro no mundo. Agradeço-te por um presente embrulhado no que é belo, sendo maravilhoso em todas as estações e ocasiões. Agradeço-te por um presente que está sempre por p perto nos momentos de neccessidade e que traz grande alegria. Agradeço-te pelo presente que brilha como novo todos os dias. Agradeço-te pelo meu amigo. Que eu nunca deixe de dar o devido valor a esse presente. Em nome do Senhor Jesus. Amém.

O Rev. Daniel é psicólogo e pastor da IPI de Rondonópolis, MT

www.pastordanieldutra.blogspot.com REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Maxwell, John C. O Valor de Uma Amizade - São Paulo, SP: Editora Magnos, 2004. Valadão, Márcio. Além das fronteiras – Belo Horizonte, MG: Igreja Batista da Lagoinha, 2008. Revista Veja. Com a ajuda dos meus amigos - 27 de dezembro de 2006, Edição 1988.

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Amizade

MATHEUS AUGUSTO GALVÃO

Por mais que tente , creio que nunc ão a har p lav pa defin r amizade . Amizade é constituíd de fa s b as u ns. At l ente ouv m s p s as izendo, co e t istez , que e s amig s ve dade s e con a n s d d s. Acr i o que deve ia demonst ar g i , pois que r cis de mui s amig s endo que s po c s que s ão ao e r dor são ve dade s e o f ze f li ? F e ent r um p s hor? Amizade e m h o nião é nad mais que e d ar ao óx mo. Não é izer p lav as boni as, não é ag adar e , , s ber o que izer e ho e pa i so. É er fo e o c ente pa izer ve dade , b o u . N vid n s são dadas mui as gundas han s. Co amizade não é iferente . Se ê f ho co o e óx mo, co e amigo, não “dê u tempo” pa que as coisas e ac l e so has. Co at ás do pe dão, a e mais, e gre mais, d e- e mais. C lt ve be as amizad s e s s e ão pa vid d . P de v r as fa s u ns, b as, emas; mas nad , s l a ente nad á b lar s amizade ve dade . O que De s i s re amizade? P ové i s 17.17 i : “O amigo am em re , e n d sg aç e o n u mão.” Ta bé i : “A r p s n e é n de um amizade verdade ” (P 24. 26). Não é r ciso f zer co en i s s re s ve íc l s ci ad s, pois ao longo do tex o f lam s exa a ente s re i so. A amizade é enci pa o er humano. O er humano, às vez s, s i er ouvido, apoiado, fo ças í icas o it ais e enco aja en o. At av s d amizade , e g ande r ente de De s, encont am s t do i so. A oveitem s e con e vem s s ia ente n sas amizad s, pois s é só mais um das g and s bênçã s que De s n s dá ia i ente . e o

O Matheus, 18 anos, é membro da IPI de Porto Feliz, SP

DE 0 2 JULHO

DIA

INTERNACIONAL DA

AMIZADE

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Avós

26 DE JULHO - DIA DOS AVÓS

Lições de ALEX SANDRO DOS SANTOS

Afetividade nos relacionamentos e temor a Deus são duas lições entre várias que podemos aprender com nossos avós. Há duas figuras de avós muito interessantes na Bíblia que nos ensinam isso. Uma figura do Antigo Testamento e outra do Novo Testamento. No Antigo Testamento, temos Jacó, um avô carinhoso. Já no Novo Testamento, temos a avó Lóide, um exemplo de fé cristã sincera. Carinho e fé são importantes na vida de um neto. Jacó tem um momento maravilhoso com seu filho José e seus netos Manassés e Efraim. Quando sua visão estava bastante prejudicada pela idade avançada e suas forças estavam esgotadas devido à enfermidade, ele recebe a visita de seus netos e encontra motivação para abençoá-los, beijá-los e abraçá-los (Gn 48.10). Eu imagino que esse Jacó aprendeu a ser mais afetuoso só quando José nasceu, pois era filho da sua velhice. A pergunta de Jacó para José sobre quem eram aqueles meninos deve ter sido feita com um grande e gostoso sorriso. Como se dissesse: “Não me diga que eu também tenho netos!”. Não sei como deve ter soado para Jacó os seus nomes, especialmente o de Manassés (Deus me fez esquecer de todos os meus trabalhos e de toda a casa do meu pai), pois o

de Efraim era muito mais sugestivo (Deus me fez próspero na terra da minha aflição) (Gn 41.51-52). Creio que a impressão era a de que as dores da separação haviam sido superadas. Lóide é citada pelo apóstolo Paulo, quando ele escreve a Timóteo. O exemplo de fé cristã esteve presente em Lóide, em sua filha Eunice e agora também em seu neto Timóteo. Creio que a avó de Timóteo orientava sua vida no cotidiano. Em um tempo em que as mulheres idosas ensinavam as mais novas, a forma de criar Timóteo

imprimiu valores cristãos que contribuíram com a formação de cristão e de líder na vida desse jovem. Paulo deu continuidade a uma formação que a avó Lóide e a mãe Eunice começaram. Jamais poderemos negligenciar a importância benéfica e também maléfica dos avós. Os bons exemplos são assimilados, mas infelizmente os maus procedimentos também. Avós que ensinam a Palavra de Deus aos netos e demonstram carinho colherão atitudes semelhantes dos netos. Por sua vez, aqueles que são indiferentes e negligentes à Palavra ensinarão seus netos que amor e temor a Deus não é algo essencial. As avós e os avôs podem e devem dar o melhor de si aos seus netos. Se fizerem isso, marcarão profundamente o caráter e a vida dos netos. Não são em vão os momentos dedicados aos netos. Por sua vez, os netos podem ser mais presentes na vida de seus avôs. Os netos devem visitá-los mais, compreender seus dramas com mais paciência e agir com amor para com suas vidas. Os avôs devem ser sempre valorizados! Lembremos que há muita sabedoria na vida deles. A experiência que eles têm são valiosas para a nossa vida!

O Rev. Alex Sandro, secretário da Família da IPIB, é pastor da 1ª IPI de Machado, MG

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FIQUE ATENTO

Ser exemplo: a melhor forma para educar seus

filhos

ADEMIR S. DE ALMEIDA

Hoje em dia existem várias fórmulas e métodos que muitos pais utilizam como alternativas para educarem e influenciarem seus filhos nas mais diversas situações. Alguns preferem usar como instrumento educador o relacionamento, incluindo o diálogo nesse processo. Outros já partem automaticamente para a agressão física diante de um conflito. Mas existem também os que dizem que algo é errado, só que eles mesmos praticam os erros que não gostariam que seus filhos praticassem. As crianças, de um modo geral, são muito observadoras. Aliás, nós adultos também temos esta mesma característica e ficamos de olho nas atitudes de outros. Olhamos para as pessoas e para as instituições em todos os seus aspectos e desejamos encontrar alguém que seja exemplo de honestidade e coerência em suas posições. No ambiente

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nºº 70 70 jjulho/agosto/setembro, ulllh ulho u ulh ho h o/ago /ago /a /ag ag a go g osto stto//set ssto/ sete sete ete tembro mbro mb mbr bro o, 20 2 2012 01 12 2


familiar é a mesma coisa. Os filhos estão de olho na vida de seus pais, buscando neles a inspiração para a formação de seu caráter. Porém, quantas crianças e adolescentes estão crescendo em um ambiente familiar onde os pais lançam suas regras disciplinares e eles mesmos estão em falta no cumprimento delas. São pais que dizem: “Filho, não beba, não fume”. Mas são adeptos de tais práticas dentro do próprio lar. Eles desejam a seus filhos um caminho longe de vícios, como o alcoolismo, mas consomem bebidas na frente deles. Que autoridade um pai ou uma mãe terá, se não vivenciarem o que tanto desejam para seus filhos? Nenhuma. Para ser sincero, pais que ditam algo que contradiz sua atitude pessoal causam revolta no coração dos filhos. Quer criar seus filhos no laço da revolta? É só se basear no ditado popular que diz: “Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço”. Somente através do exemplo é que iremos ter autoridade e crédito nas situações corriqueiras do dia a dia e também nas mais complicadas. Há alguns que foram criados sem bons exemplos familiares e escolheram ser diferentes de seus pais. Mas esse índice é muito pequeno, pois a influência do que se vê em casa posteriormente refletirá no comportamento. Como você está educando seus filhos? Você tem sido exemplo naquilo que tem desejado para eles ou não? Se sua resposta for sim, parabéns. Continue assim, pois

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Você cumpre o que diz? Suas atitudes são coerentes com as suas palavras? Nós cristãos seguimos uma referência de vida e princípio: Jesus Cristo. Nós o seguimos e o amamos porque seu amor e estilo de vida nos conquistaram.

sua imagem será refletida neles. Se a resposta for não, então é tempo de mudanças. Comece por você mesmo. Faça uma autoanálise de suas palavras e atitudes. Você cumpre o que diz? Suas atitudes são coerentes com as suas palavras? Nós cristãos seguimos uma referência de vida e princípio: Jesus Cristo. Nós o seguimos e o amamos porque seu amor e estilo de vida nos conquistaram. “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1Jo 4.19). Suas palavras combinavam com suas atitudes. Seu exemplo de amor nos marcou e, hoje, pela graça de Deus, temos a convicção de que não estamos sozinhos e de que temos a vida eterna. Ele é a nossa razão de viver. Albert Schweitzer foi um teólogo, músico, filósofo e médico alemão, nascido na Alsácia e autor de uma frase que vem a calhar neste artigo: “Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros - é a única”. Lembre-se: meras palavras cansam; atitudes marcam. Conquiste seu lar e seus filhos através de seu exemplo. O Mis. Ademir é da IPI de Areado, MG www.missionarioademir.com.br

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PAIS E FILHOS

Um legado intransferível

RODRIGO GASQUE JORDAN

Ao realizar capelania escolar na cidade onde pastoreio, ouço constantes reclamações de professores, coordenadores e diretores sobre os alunos. Muitas dessas reclamações referem-se à ausência e omissão da família. Conversando com uma coordenadora pedagógica cristã, ela que me disse: “Pastor, um dos problemas fundamentais está na casa, na família. Perderam-se os valores básicos como o respeito, o amor, etc. Os pais deixam tudo para a escola, enquanto eles deveriam ter uma participação mais ativa na vida dos seus filhos”. O mais alarmante nesta história e nas palavras dela é que “os filhos dos crentes em Jesus estão nesta estatística”. 22 Alvorada

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Os pais e responsáveis cristãos têm um legado intransferível de ensinamento moral, ético e espiritual de seus filhos. Eles são herança do Senhor (Sl 127.3) e precisam ser cuidados. A Bíblia nos ajuda a entender esse legado intransferível. No Antigo Testamento, em Deuteronômio 6, é registrado um discurso dirigido ao povo de Israel, na véspera da entrada na terra de Canaã. O tema do discurso são os Mandamentos de Deus, dois especificamente. O primeiro é amar a Deus, seguido da ordem aos pais judeus sobre a responsabilidade de ensinar seus filhos acerca das palavras do Senhor. Deus quer que amemos e ensinemos aos nossos filhos, que transmitamos a fé às próximas gerações. Isto para não incorrermos no quadro desastroso da geração pós Josué (Jz 2.10-12). No Novo Testamento, encontramos uma ordem de Jesus (Mt 28.18-20) dada às vésperas de sua ascensão: evangelizar e ensinar. A ordem dada aos discípulos é para todos os pastores, missionários, crentes, líderes, professores de crianças, avós, pais e responsáveis. Esta missão ainda é atual em nossos dias: “fazer discípulos” e “inculcar a palavra aos filhos”. Em seu livro, “Igreja Ensinadora”, Sherron K. George afirma que a educação cristã na vida dos filhos, realizada pelos pais, é algo que “facilita, promove, gera, guia, acompanha e estimula o desenvolvimento, a partir do nascimento até a maturidade e a morte” (GEORGE, Sherron K. 2003, p.14). Entretanto, não é o que tem sido constatado em muitos lares cristãos. No livro “Os Valores Começam no Lar”, Ted Ward afirma que “a família tradicional está desaparecendo. Está morrendo devido ao desinteresse e negligência e... poucos lamentam o desaparecimento da família estável” (WARD, Ted. 1981, p.25). Ward resgata a família como o lugar de onde procedem os valores cristãos. Na família, as crianças veem o certo e o errado nas palavras, atitudes e ações dos pais. Segundo Sherron, “a educação deve ser responsabilidade dos pais, e não pode ser transferida para a escola e a Igreja” (GEORGE, Sherron K. 2003, p.38). Em “Nascidos para um tempo como este”, Daphne Kirk diz que “os pais são líderes-chave de crianças” (KIRK, Daphne. 2006, p.23), pois, segundo ela, os pais devem “orar com seus filhos até que aprendam, ler a Palavra com eles até que aprendam, corrigir atitudes erradas até que aprendam, fazer uso da disciplina ordenada por Deus até que aprendam” (KIRK, Daphne. 2006, p.23). Os pais são a chave para um discipulado forte, segundo Deuteronômio 29.29: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, o nosso Deus, mas as reveladas

pertencem a nós e aos nossos filhos”. Moisés e Timóteo são dois exemplos da boa influência da família. Moisés passou seus anos de educação formal na cultura pagã e materialista do Egito, mas seu caráter e formação espiritual foram moldados na infância, no seu lar, com a sua família (Êx 2.9,10). Com Timóteo não foi diferente. O jovem discípulo de Paulo e pastor em Éfeso foi instruído por sua avó Lóide e sua mãe Eunice, o que gerou uma fé autêntica (2Tm 1.5). Portanto, o legado intransferível de Deus para você é que Ele os escolheu e os autorizou para ser instrumento dele na vida de seus filhos. Os pais cristãos têm a responsabilidade de batizar ou dedicar seus filhos, pois este é o ensino bíblico: “Para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2.39). É diante do sério compromisso do batismo que os pais assumem a responsabilidade de serem ministros aos filhos e de prepará-los a fazerem sua pública profissão de fé. “Vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 6.4). Há cinco anos tenho o privilégio de exercer o ministério pastoral com crianças na IPI de Iepê e, pela experiência diária que Deus tem me proporcionado, estou convencido de que a igreja é fundamental na vida dos nossos pequeninos. Entendo que, enquanto os líderes e os professores da igreja têm uma incumbência de ensinar, eles estão realmente complementando e completando o ensino de base que se faz no lar (Pv 4.3-4). Que os pais e responsáveis assumam seu legado intransferível, sua missão na criação e formação de seus filhos, conduzindo-os ao desenvolvimento, ensinando-os e sendo modelo inspirador, levando seus filhos à semelhança da vida de Jesus que “crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2.52). Que a Igreja de Cristo invista na educação cristã de crianças e dos que delas cuidam, criando um ambiente onde a criança tenha a oportunidade de conhecer, sentir e praticar a Palavra de Deus de forma criativa, divertida e consistente (2Co 9.6). Assim, quando os valores cristãos como justiça, paz, reconciliação, alegria e esperança são introduzidos na sociedade, há transformação. Deus nos ajude como pais e responsáveis de crianças! O Rev. Rodrigo é o coordenador nacional de crianças da IPI do Brasil e pastor na IPI de Iepê, SP rev.rodrigojordan@hotmail.com ou facebook.com/rodrigogasquejordan

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ADOLESCÊNCIA

Inspiros, transpiros, suspiros Por uma liderança ficha limpa para esta geração RODOLFO FRANCO GOIS

O termo “adolescência”, em nossos dias, geralmente é acompanhado de suspiros. Suspiros de incompreensão, suspiros de desilusão, suspiros de interrogação. Pais e líderes, ao se defrontarem com essa turminha, sonham, choram, desejam, se distanciam, curtem, perdem o sono, se empolgam, falam baixo, falam alto, sorriem, fazem cara feia, amam, sofrem, inspiram, transpiram. Da mesma maneira que os altos e baixos formaram uma montanha russa na frase anterior, assim é o coração daqueles que convivem diariamente ou sistematicamente com adolescentes. O desafio de liderá-los e conduzi-los é muito grande, pois vivemos em um mundo de constantes e rápidas mudanças e, por isso talvez, o rótulo de liderança que foi herdado pela geração dos anos 80 já não se encaixa para fazer com que a geração de adolescentes dos nossos dias seja pastoreada. Líderes perfeitos, pomposos, virtuosos, admiráveis! Líderes infalíveis, intocáveis, inatingíveis. A questão do “suposto saber” que desenvolvia nos liderados uma admiração até mística pelo 24 Alvorada

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nºº 70 n 0 jjulho julho/agosto/setembro, ulho ulh u ho h o/ago //a agossto ago tto o//se o o/s ssete e ette tem mbro b bro rro o, 2 20 2012 01 12 2


ultraconhecimento e posição daqueles que dirigiam o grupo era o modelo de anos atrás e, desta maneira, eram considerados os “Fichas-Limpas” Isto não funciona mais hoje. Vivemos um período em que as pessoas são motivadas pelos relacionamentos. Não estou caracterizando a qualidade dos mesmos, apenas identificando como o grupo se define e se move. Não é a posição hierárquica ou o poder delegado a alguém que o legitima como líder neste tempo em que vivemos para esta geração. Ter um grupo de adolescentes bem organizados, quietinhos, ouvintes e “obedientes” nem sempre é resultado de uma liderança eficaz. Pode significar o contrário, pois eles têm a capacidade de “sair de seus corpos” e viajar para outros “planetas”, enquanto ficam ali, sentados, calados. Adolescentes sentados, calados, quietos é um sintoma de enfermidade no seu ambiente social. Pelo fato de estarem passando pelo período de maior transformação de toda a sua vida, seja em nível biológico, neurológico, anatômico, emocional ou social, é praticamente impossível um adolescente parecer uma estátua. Mas um líder distante pode provocar isso. Na aproximação com adolescentes, é necessário exposição. Exposição de limitações, oscilações, dificuldades, fraquezas. Exposição de virtudes e de lutas para vencer os pecados que tentam roubar o lugar de Deus em suas vidas. Obrigado! Me perdoe! Eu errei! Vamos começar novamente! Parabéns! É isso aí! Você é importante! Eu acredito em você! São expressões de atitudes que aproximam a liderança dos adolescentes, quando isso é feito com sinceridade. Parece que os adolescentes têm um sensor de hipocrisia muito aguçado. Por isso, não adianta tentar iludi-los com máscaras e falsidade. Adolescentes não precisam de líderes perfeitos, pois eles sofrem com

a sua imperfeição. Tantas mudanças, como já foi citado, levam o adolescente a enxergar a si mesmo como o ápice das falhas e imperfeições, que às vezes são até mesmo ocultadas por máscaras que ele mesmo usa para disfarçar diante dos outros, apelando para sensualidade, rebeldia, introversão e outras fugas. Adolescentes não precisam de líderes perfeitos. Precisam de líderes verdadeiros! Pessoas sinceras, capazes de permitir que seu coração seja lido pelos adolescentes. Dispostas a caminhar o caminho do discipulado e do aprendizado. Que já não são adolescentes, mas recebem de Deus a missão e a paixão pelos adolescentes. Que são amigos, mas mais que amigos, são responsáveis, diante de Deus, por ajudar estes mesmos adolescentes a descobrirem o amor de Deus e a perfeição do Senhor diante das distorções da humanidade. O líder ficha-limpa para o adolescente é aquele que mostra que sua ficha não é tão limpa assim. Que assume que também precisa crescer e conta com a ajuda do grupo para isso. O líder ficha-limpa reconhece que a sua ficha não o qualifica para a liderança e, por isso mesmo, depende da ficha de Cristo, o único e suficiente ficha-limpa. O líder ficha-limpa, então, para esta geração, entende e demonstra que não é a sua perfeição que o qualifica, mas a perfeição de Cristo que o capacita, mesmo em meio às suas imperfeições. Isso é motivo de alegria e liberdade! É tirar um peso das costas! É saber que estamos levando nossos liderados a não olhar para nós, mas para o alvo. Alivie a sua bagagem, e suspire com coragem para abençoar e influenciar esta geração. Ela está esperando por isso. O Rev. Rodolfo é o coordenador nacional de adolescentes da IPIB e pastor da 5ª IPI de Maringá, MG @rodolfo_gois / rodolfo@ipiliberdade.net

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REFLEXÃO

Eu sou fiel corrupto, ficha suja!

DE 7 SETEMBRO DIA DA

INDEPENDÊNCIA 26 Alvorada

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nte sobre as e d n tu n o c e s li á n a Uma na política e s ta n le u d u a fr s e õ operaç rasileira. b tã s ri c e d a d ie c o s FERNANDO HESSEL

Olly @Fotolia

Esta é uma afirmação quase impossível de se ver nos tempos atuais. Reconhecer que é corrupto ou Ficha Suja. Não precisamos de muita argumentação para falar de algo que assombra a todos principalmente no Brasil: a corrupção. Trata-se de um comportamento ilícito já registrado em Gênesis (a serpente, o Adão e a Eva sabem do que estou falando). Há teólogos que afirmam a possibilidade de arrependimento pós-pecado de Adão e Eva; mas outros estudiosos defendem a ideia de pura entrega ao pecado dos personagens, sem qualquer sentimento de remorso. Independentemente disso, o fato resultante daquela ação gerou a cicatriz genética na alma que carregamos até hoje; e levaremos às gerações futuras. A política nacional ilustra boa parte deste raciocínio humano. Vejamos! É absurdamente comum constatarmos uma verdadeira guerra entre os políticos em nosso país. Muitas ofensas são presenciadas em anos eleitorais, mas, quando a maré abaixa, tudo vira um verdadeiro mar de rosas. As carícias afáveis ficam mais evidentes quando, por exemplo, um destes falece. Todos os tais inimigos políticos se unem em torno do caixão e choram copiosamente. Se derretem em lágrimas e, com discursos de hipervalorizacão ao colega falecido, parecem que ambos foram os melhores políticos e amigos do universo. Mas que relação teria este fato com a corrupção? Tudo! Vemos nisso uma relação de puro interesse de imagem. O político sempre quer estar bem com a população, o que, por sua vez, gera votos. Quanto maior a permanência no poder, sob o argumento de dedicação pública aos mais necessitados e também às classes dominantes da sociedade, maior será a sobrevida de um político profissional. E é exatamente isto que ouvi uma vez de um importante candidato a prefeito e a governador de São Paulo. O político profissional! É como agradar a gregos e troianos. São poucos os que vivem uma política como ferramenta de inclusão da sociedade aos planos básicos de vida. Chorar ou se identificar com algo que cause comoção dá uma imagem positiva para a maioria

da população. Isto que estou afirmando é comprovado nos meios de comunicação, onde vemos diariamente ações e reações de telespectadores, quando assistem situações de drama profundo. O sentimento de corrupção mora exatamente aqui: na elaboração da imagem. Muitas pessoas usam de maneira arbitrária esta realidade para mascarar procedimentos obscuros. E, quanto mais enrolado e cabuloso for o crime de corrupção, maior será a necessidade de algo que esconda o tamanho da ilegalidade. Felizmente, temos visto um movimento positivo no sentido de desvendar esta prática. Não importa que seja uma manobra da situação ou oposição, mas o fato é que as investigações e operações da Polícia Federal estão cada vez mais eficazes, coibindo tais atos libidinosos. Isso poderia ser uma ação motivada pelos próprios legisladores, mas não é. Temos uma reforma política que, há anos, está no papel e nunca é debatida efetivamente. Ela não é votada porque justamente resvala neste tema que, para comodidade de todos os políticos, é deixada em segundo plano. Se você perguntar a um político o que ele acha da reforma política no Brasil, ele rapidamente responderá que é defensor árduo. Só que, se você acompanhar o real comportamento dele de levar o assunto adiante, na mesma proporção é esvaziado num virar de costas. Para que o grande público entenda, todos os nossos políticos seguem a orientação do partido. Não há qualquer votação de matérias no Senado ou Legislativos que sigam os desejos coletivos da sociedade por parte do político. Caso isso aconteça, o voto contrário será punido internamente no partido. Alguns casos, como os da ex-senadora Heloísa Helena e da seringueira ex-candidata à presidência da República Marina Silva, são exemplos. Elas foram praticamente expulsas do partido por discordarem de pontos defendidos pela maioria. Outro fato a ser analisado é o que presenciamos em anos como estes de eleições municipais. Tornam-se paradoxos quando os candidatos realizam as convenções partidárias antes de cada pleito. Os pré-candidatos dão inúmeras entrevistas, dizendo que os tais partidos são plurais

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e, por isso, passam por votações internas para decidir quem concorrerá efetivamente aos cargos a prefeito, governador e presidente. Mas, infelizmente, as cartas já ficam marcadas, inclusive com os devidos apoios entre os partidos, conforme as afinidades e modos operantes. Esta é a parte da coluna de fogo que blinda as relações e que é pouco conhecida pela massa votante neste nosso imenso país. A Ficha Limpa não nasceu no berço político, como parece para muitas pessoas, e, sim, pelo Judiciário. O Supremo Tribunal Federal foi um dos grandes motivadores deste freio nos agentes corruptos. Com isso, a justiça saiu desgastada por essa influência num projeto de lei que tenta moralizar o cenário político. Parte da classe que teria que legislar encabeçou, na época, uma campanha sórdida, denegrindo o judiciário, que tem suas falhas, sim, mas conseguiu este feito de criar leis em muitos temas no lugar daqueles que deveriam lutar pela moralidade, neste cenário no quesito corrupção. A Ficha Limpa ou Lei Complementar 135/2010 conseguiu reunir mais de 1,3 milhões de assinaturas para que fossem iniciadas as discussões no Legislativo. A lei tem por objetivo tornar inelegível por oito anos os candidatos que tiveram mandatos cassados ou condenados pela justiça. Um exemplo de forças contrárias foi demonstrado no dia em que o suposto símbolo da corrupção contemporânea, o bicheiro Carlinhos Cachoeira, prestava depoimento na CPMI do Senado. Enquanto os holofotes estavam sobre ele, em outra sala na câmara dos deputados federais era votado um projeto para reverter alguns efeitos da Lei da Ficha Limpa. Certos deputados aprovaram com urgência cláusulas que liberam políticos com contas reprovadas de serem considerados ficha suja. Dito e feito, projeto aprovadíssimo e com louvor pelo dinamismo. O mau político, então, torna-se ficha limpa, dependendo apenas de uma chancela do Senado e da presidente Dilma. E assim tem sido o trabalho de parte de nossa classe política: legislar em causa própria na escuridão. Mas criticar quem está na vitrine é meramente tranquilo e cômodo para muitas pessoas. Criticar a massa política por seus delitos é extremamente dicotômico, se compararmos que eles estão no poder pela força de nosso voto nas urnas. Podemos, então, concluir que somos corruptos quase na mesma proporção dos atos praticados. Só para se ter uma idéia: por ano, no Brasil, são desviados cerca de 720 bilhões de reais dos cofres públicos,

segundo a FIESP. Aprofundando ainda mais a análise do mapa da corrupção em nossa sociedade, olhemos detalhadamente em nosso umbigo cristão, que muitas vezes esquecemo-nos de ver e limpar. O umbigo é uma das partes do nosso corpo mais esquecidas e que aparentemente perde a importância após o parto. Mas a ciência explica o contrário. O umbigo nada mais é que um dos suportes do nosso sistema digestivo a que, muitas vezes, não damos a devida atenção. A gente só percebe sua existência quando inflama, causando profundo desconforto, ou quando as mulheres fazem cirurgias plásticas e o remodelam para dar maior harmonia e beleza à famosa “barriguinha tanquinho”. Segurar o sistema digestivo de um corpo tem seu grau de importância e não é uma tarefa fácil. Como unidade cristã, devemos nos enxergar por dentro e avaliarmos rotineiramente as nossas conformidades. Quem, por exemplo, nunca pensou em argumentar com um guarda rodoviário para deixar de lado uma penalidade do Código Nacional do Trânsito? Quem nunca tentou omitir uma informação ao filho em detrimento de outras coisas? Quem não falou a verdadeira idade para parecer uma pessoa mais nova? Dizer que foi, quando não foi para algum lugar? Que comeu e não comeu? Que a vida está péssima, mas que ela está boa demais? Que a injeção não vai doer e dói pra caramba? Quem colocou no facebook informações ou pensamentos que não correspondem à realidade? Mostrar uma coisa e não ter? Ou mesmo se parecer com o mundo e, como desculpa, dizer que isso faz parte da evangelização? Ou muitas outras coisas que nos parecem bobas e que, juntadas às devidas proporções, são todas pecados? Ou não existe pecado? Sempre me lembro da história bíblica ensinada na Escola Dominical da IPI sobre aquela senhora que deu envergonhada a oferta no templo, de tão pequena que era a quantia. O significado daquela atitude foi infinitamente maior pelo valor interior daquela senhora. O mesmo nos faz refletir que aquilo que fazemos de tão pequeno e que não nos parece mal, a intenção toma para si proporções jamais imagináveis aos olhos do Senhor. A corrupção não está só no fato primário de tomar algo de alguém, mas de corromper o próprio eu! A corrupção no Brasil é tudo isso e um pouco mais. É a comprovada vontade do ser humano de ter tudo e não ter nada! O Fernando é jornalista e membro da IPI de Palmas, TO

o e que não nos Aquilo que fazemos de tão pequen si proporções jamais parece mal, a intenção toma para A corrupção não está imagináveis aos olhos do Senhor. de alguém, mas de só no fato primário de tomar algo corromper o próprio eu! 28 Alvorada

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REFLEXÃO

Espiritualidade em momentos cruciais FÁBIO IKEDO

Quando normalmente as pessoas pensam sobre o significado da vida, esperança e conforto? Em diversos momentos ao longo da vida, como médico, tenho visto que a maioria medita com profundidade sobre esses assuntos quando recebe uma notícia trágica (como um acidente) ou quando sente o impacto de uma doença grave atingindo a si próprio ou alguém conhecido. Em outras palavras, a proximidade da morte nos faz valorizar aquilo que realmente é importante. Quando uma pessoa está morrendo com uma doença considerada incurável, ela não está preocupa-

da com o número de vezes que o seu time preferido foi campeão ou com o doutorado que deveria ter feito há 20 anos. A sua preocupação está focada em assuntos realmente prioritários e que, na correria do dia a dia, não haviam sido corretamente valorizados. Numa pesquisa com 340 doentes terminais, 332 familiares recentemente enlutados, 361 médicos e 429 profissionais que cuidam de doentes terminais foi feito um questionamento sobre os fatores considerados mais importantes no final de vida. Dentre os 44 atributos relacionados à qualidade do fim de vida, na opinião dos pacientes e familiares, ficaram empatados em primeiro lugar a “ausência de dor” e “ter paz

com Deus” (artigo “Factors Considered Important at the End of Life by Patients, Family, Physicians, and Other Care Providers”, publicado no JAMA. 2000;284:2476-2482.) Numa outra pesquisa feita com 231 pacientes com câncer terminal, uma das perguntas era: “O que mantém a qualidade de vida?” Entre as 28 opções de respostas estavam: • “tipo de alimentação”; • “contato físico com aqueles que me importo”; • “alívio da dor”. A resposta mais comum foi: “relacionamento com Deus” O Fábio é médico, foi palestrante no 11º Congresso de Diaconia da IPIB

Conclusão: Pacientes terminais mantinham seu relacionamento com Deus, apesar das severas dificuldades funcionais e sintomas físicos.

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PAIS E FILHOS

Pais especiais A importância da participação dos pais na vida e no dia a dia de filhos com deficiência VANESSA CARDOSO SENE

Um filho, uma bênção! Rogério e Izilda Jorge receberam com alegria a notícia da gestação de seu primeiro bebê. Depois de uma gravidez tranquila, faltavam poucas semanas para o parto, o médico pediu um ultrassom e o resultado deixou Rogério um pouco preocupado. A cabeça do bebê era maior que o normal, ficando desproporcional em relação ao corpo. Mas, na época, não houve um diagnóstico. Finalmente, chegou o dia de ver o rostinho daquela menininha chamada Marcella. Era 7 de fevereiro de 1984. O casal era jovem e foi aprendendo, aos poucos, como cuidar dela. Logo depois do nascimento, Marcella passou por alguns exames e foi liberada ainda sem um diagnóstico. Com o passar dos meses, o casal observou que a filha tinha o pescoço mole e não ficava firme como o normal para a fase em que ela estava. Demorou dois anos para começar a andar e a falar. Ao perceber os primeiros sinais de que alguma coisa não ia bem, Rogério procurou ajuda. Os exames apontaram que a filha tinha Tetrassomia do Cromossomo 15, uma deficiência mental. Em uma situação inesperada como esta, muitas vezes, é inevitável a pergunta: Por quê? No início, foi muito difícil até

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mesmo pela falta de informação sobre a síndrome e as incertezas quanto ao futuro. Mas o casal seguiu em frente em busca dos recursos necessários para o tratamento de Marcella. Em setembro de 1999, Izilda teve seu encontro com Jesus, durante uma Tarde de Esperança, na 1ª IPI de Londrina, PR. No mesmo dia, em outra igreja, Rogério também experimentou a salvação em Cristo. A vida em Deus passou a fazer toda a diferença na vida da família. De acordo com o Rogério, outros portadores da mesma síndrome de sua filha levam uma vida vegetativa. Ele crê que Deus operou um milagre na vida de Marcella. Hoje, aos 28 anos, ela conquistou certa independência, estuda em um centro ocupacional que atende adultos, o que contribui para a socialização. Ela gosta de conversar, ouvir música, faz alguns trabalhos manuais. Em famílias em que há filhos com deficiência, o comum é um envolvimento maior da mãe. Muitos pais se isolam e não participam da vida deles. Rogério é e sempre foi um pai presente na vida de Marcella. Ele afirma: “Pai de filho especial tem que estar sempre junto”. A sua experiência tem servido para ajudar outras pessoas. Há 12 anos faz parte do Ministério Lição de Amor, da 1ª IPI de Londrina, coordenado pelo Rev. Fabio Vedoato, que é surdo. Este ministério trabalha

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Em famílias em que há filhos com deficiência, o comum é um envolvimento maior da mãe. Muitos pais se isolam e não participam da vida deles.


O Alex é o nosso oxigênio

Alex e sua irmã

A história do João Wilson Camilo e de seu filho Alex é longa, com algumas tristezas, mas muito mais com alegrias e bênçãos de um Deus maravilhoso. O Alex nasceu no dia 7/5/1982, às 12h15, em Osasco, SP. Somente depois do nascimento a família ficou sabendo que ele era portador da Síndrome de Down. "Soube através de um médico sem escrúpulos, no meu modo de entender. Ele não esperou minha esposa se recuperar do parto e deu a notícia. Ela levou um susto tremendo. O atendimento foi muito mal. Não nos davam nenhuma informação. Mas confiamos na vontade de Deus. O nosso filho especial já era bem vindo em nossa vida", conta João Wilson, que é membro da IPI do Quilômetro Dezoito, em Osasco. A criança permaneceu internada por mais 6 meses no hospital onde nasceu. Um problema cardíaco e o baixo peso agravavam o quadro. Para o pai, esse período foi angustiante. "Não tínhamos nenhum diagnóstico. Fui obrigado a intervir e retirá-lo à força em uma ambulância UTI cedida pelo diretor de outro hospital. Nós o transferimos para o Hospital do Servidor Público Estadual e, no mesmo dia, uma equipe médica o atendeu, mantendo-o vivo pela graça de Deus" Foram mais 5 anos de internação. Foi neste mesmo hospital que o Alex aprendeu a andar, falar alguma coisa e, principalmente, a viver de novo. Passou por muitas cirurgias como a do coração, reconstrução dos rins (plástica), bexiga, amígdalas, tímpanos perfurados e mais alguns problemas de menor gravidade. Depois disso tudo, o Alex teve, durante mais 10 anos, um acompanhamento rigoroso, com vários especialistas. Ele se tornou um garoto saudável, muito forte e com uma saúde ótima. "Hoje, o Alex é o nosso oxigênio, pois o respiramos 24 horas por dia. Ele é amado, é querido e é a alegria de toda a família", declara o papai todo feliz. As lutas e o sofrimento foram vencidos com graças de Deus e pelas orações. "Foi o nosso Pai Maravilhoso e as orações de nossas igrejas queridas, que não pouparam tempo para se ajoelhar e pedir pela vida do Alex e também por nossa família. Somos gratos pela vida do meu, do nosso Alex. Nós o amamos muito. Ele é muito especial para todos nós e nos tornamos uma família privilegiada e também muito especial para ele", falou João Wilson Camilo, um pai que, como muitos outros, vivem a experiência de ter um filho com deficiência e que vai comemorar como todos os outros o Dia dos Pais no próximo dia 12/8. Afinal, também são pais que orientam, apóiam e vibram com as conquistas de seus rebentos.

João Camilo com a família

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com portadores de deficiência auditiva e mental. Atualmente, Rogério coordena a classe dos portadores de deficiência mental, que se reúne aos domingos de manhã, no Espaço Esperança. Experiência semelhante à de Rogério Jorge teve Celso Mendes. Ele e a esposa, Simone, também membros da 1ª IPI de Londrina, descobriram que a filha mais nova tinha uma deficiência, logo após o nascimento. Isabela, hoje com 7 anos, é portadora da Síndrome de Turner, que acomete somente mulheres. Aos seis meses, a menina teve uma convulsão; em decorrência da síndrome, possuía musculatura flácida, andou aos 3 anos, e há pouco tempo começou a falar. Embora tenha um atraso motor e mental de grau moderado, Celso a descreve como uma garotinha bastante ativa, esperta e afetiva.

Celso encara esta situação com naturalidade. Afirma que, desde o início, no momento do diagnóstico, Deus já havia preparado o seu coração e ele sentiu muita paz e crê no propósito do Pai para todas as situações. Tanto Celso quanto Rogério afirmam que a maior dificuldade é o preconceito e a discriminação das pessoas. Mas isto não impede que eles tenham uma vida de qualidade em família. Eles creem na soberania de Deus em todas as situações e suas filhas são bênçãos e herança do Senhor. O pai de Isabela, Celso, compartilha a seguinte palavra que Deus tem ministrado ao seu coração: “Ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (Sl 33.9). A Vanessa é jornalista e integra a equipe de comunicação da 1ª IPI de Londrina, PR

SER NORMAL, ESPECIAL OU EXCEPCIONAL MARIA EMÍLIA CONCEIÇÃO

O que é ser normal? É ser sempre do mesmo jeito Não ter nenhum defeito Da sociedade seguir o padrão E esquecer o que vai no coração? O que é ser especial ou excepcional? É ser de diferente jeito Ter algum defeito Não seguir nenhum padrão E deixar fluir o que vai no coração? É crescer sempre criança Tendo a doce esperança De ser amado, querido

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Isabela e sua família

Sem nenhuma condição? Ser normal É não ser insano Ser especial É ser um ser humano Que não segue nenhum plano Nem as regras legais Que chora, ri, canta E brinca , feliz demais... Ser especial é ser normal Nem sempre os normais são especiais Porque ser normal É só ser Um ser normal Sem nada De excepcional!! Maria Emília Conceição é da 2ª IPI de Anapólis, GO


Ser pai é uma bênção, e ser pai de uma criança especial é ter em mãos uma bênção ainda maior

Meu filho, meu milagre ANDRÉ ALMEIDA

Um dos maiores desejos de um homem é ser pai. Eu tive esse privilégio em 1998, quando fomos abençoados com uma linda menina chamada Karen Cristini. Ela trouxe alegria e responsabilidades para nosso lar. Um ano e meio depois, descobri que seria novamente abençoado, desta vez com um menino, que meses depois se chamaria Renan. Quando minha esposa Gisele estava no 5º mês de gestação, recebemos a notícia de que esse bebê seria especial e que tanto ele quanto a mãe corriam risco de morte. Nesse momento começou nossa luta pela vida. No primeiro momento, começamos uma campanha de oração, pois sabíamos que o socorro vem do Senhor Jesus. A corrente de oração se estendeu à igreja que freqüentamos - a IPI do Km 18 - e também ao Presbitério Osasco, além de parentes e amigos. Todos clamavam a nosso favor. No 6º mês da gravidez, descobrimos que o Renan nasceria sem o esôfago e teria que passar por uma cirurgia assim que nascesse. Essa notícia nos tirou o chão, tirou nossa paz, nos trouxe grande tristeza, pois se tratava de uma cirurgia em que a possibilidade de sair sem vida era grande. Sempre em oração, não ficamos de braços cruzados e fomos atrás de especialistas para o procedimento cirúrgico. No dia 4/7/2000 estava tudo pronto para o nascimento do Renan e consequentemente para a cirurgia. Estávamos confiantes e com muita fé que tudo iria correr bem. Após o nascimento, eu estava com o Renan na UTI e observei que os médicos, inclusive o cirurgião, conversavam e gesticulavam olhando o ultrassom. Pouco depois dessa conversa, o médico se aproximou de mim e disse: “Pai, não sei o que aconteceu, mas o esôfago do seu filho foi restaurado”. Louvei a Deus pelo primeiro milagre! Porém, já nos primeiros meses de vida Renan apresentou diversos problemas de saúde. Quando estava com um ano e seis meses, a geneticista que

nan

A família de Re

cuidava de seu caso nos chamou ao consultório e disse: “Seu filho tem Síndrome de Schimke”. Nunca tinha ouvido falar nessa síndrome e pedi para que ela nos esclarecesse sobre o assunto. Primeiramente ela nos disse que era uma doença muito rara. Na literatura só havia 50 casos descritos e no Brasil, ele era o único. A Síndrome de Schimke afeta diretamente os ossos impedindo o crescimento da criança e causa também problemas vasculares: os vasos sanguineos são tão apertados que com o tempo começam a romper, provocando infartos cerebrais. Além disso, afeta os rins, causa imunodeficiência e o prognóstico de vida é muito negativo. Na descrição da literatura a pessoa mais velha com essa síndrome tinha dezessete anos e vivia em estado vegetativo. No caso do Renan esse estado chegaria antes devido à sua atrofia cerebral, à falta de sustentação do seu pescoço e tronco e nenhuma coordenação motora. O tempo estimado de vida dele era de apenas mais um ano. Foram muitas noites em claro, muitas lágrimas derramadas, diversas internações. Minha casa parecia uma farmácia. Foram momentos muito difíceis, mas Deus sempre esteve conosco, segurando nossas mãos e dizendo: “Não temas, sou contigo”. O tempo foi passando e juntos fomos aprendendo cada dia a confiar no Senhor. Vencemos desafios, preconceitos, medos e dificuldades das mais diversas. Hoje o Renan – que os médicos disseram que não passaria da primeira infância - está com 12 anos de vida! Quanto a mim, louvo a Deus pelas vitórias e agradeço pela oportunidade de ser pai de uma criança tão especial. Meus filhos são a maior herança que o Senhor me deu na terra e sou grato eternamente por esse privilégio. Para mim, ser pai é uma bênção, e ser pai de uma criança especial é ter em mãos uma bênção ainda maior! O André é casado com Gisele e pai da Karen e do Renan, e membro da IPI do Quilômetro 18 em Osasco

Se deseja conhecer outros milagres que Deus operou nesses anos vida do Renan, acesse o link blog: A Revi Revista Re R evi vist sta da st da12 F Família am am ílliia a denº nº 70 70 jjulho/agosto/setembro, ulho ulh u o//a /ago /ag ag ago a g go ossto/ sto to/ o//ssete o ete et embro embro o, 20 2012 012 1 Alvorada Al lvo v do rada ra a 33 3

http://quandodeusescolhe.blogspot.com.br/


DE 2 1 AGOSTO

Meus filhos, meus mestres

DIA

DOS

PAIS

JONAS FURTADO DO NASCIMENTO

“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (Pv 22.6). Neste Dia dos Pais, gostaria de pensar o inverso. Geralmente, se espera de nós pais que ensinemos os nossos filhos. Entretanto, quero revelar o que venho aprendendo com minhas filhas e com meu filho.

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A filha primogênita - Minha primogênita tem sido mestra da vida. Quanta riqueza Deus tem canalizado para dentro de nosso lar através dela. Ela nos ensina e nos desafia ao amor desinteressado. Provavelmente, ela nunca nos dará uma das respostas esperadas como “normais” por nós e por nosso mundo. Então, ela nos ensina a todo instante o verdadeiro amor, aquele que damos sem esperar nada em retribuição. Suas recompensas são diferentes, mas são valorosas; de vez em quando um sorriso, outra vez um abraço, mas sempre e sempre ela está ali para me ensinar a ser um pai melhor, mais presente, mais carinhoso, mais altruísta e menos, mas muito menos egoísta.

2

O filho do meio - Da vontade do Senhor, o filho veio como segundo. Ele é de certa forma meu espelho, mas me ensina muito por suas diferenças. Ele me desafia por ser muito mais comunicativo. Meu filho consegue manter longas conversas e me faz voar nas asas 34 Alvorada

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de seus sonhos e expectativas. Nisto, ele prolonga os meus dias e me revigora. Sou quieto e de pouca conversa, mas meu filho sabe comentar os fatos da vida com vivacidade. Como sinto falta das nossas boas conversas, filho amado!

3

A filha caçula - Minha filha mais nova é um turbilhão. Ela me ensina muito a dinamizar a vida. Sou devagar nas idéias e moroso nas ações, mas tenho uma mestra perspicaz. Ela é mestra em cobrar minhas decisões, aguçando minha mente. Ela é também mestra em cobrar minhas ações, apelando para a dinamização de meu físico. Suas expectativas firmes sobre o futuro me ensinam que os filhos estão dispostos e prontos para o que vem pela frente e, que, portanto, devo descansar livre de minhas preocupações com o amanhã. Neste Dia dos Pais, ouso imaginar o contrário. Mestres são os filhos, aprendizes são os pais. Para ousar mais, parafraseio o texto livremente: “Ensina o paizão no caminho em que deve andar e, quando ficar velho, ainda aprenderá preciosas lições”. Pergunto aos queridos que comigo têm este alto privilégio de serem pais: não é verdade que nossos filhos são nossos mestres? Que Deus nos abençoe e nos faça pais e filhos segundo o coração dele. O Rev. Jonas é pai da Marina, Leonardo e Raquel, trabalha da Secretaria de Evangelização e é pastor da IPI do Cambuci, São Paulo, SP


SAÚDE MASCULINA

Câncer de Próstata LUIS CLAUDIO C. HEITZMANN

A próstata, uma glândula exclusiva do homem, é um órgão pequeno, do tamanho de uma noz e situa-se logo abaixo da bexiga, envolvendo a porção inicial da uretra (tubo pelo qual a urina armazenada na bexiga é eliminada) e produz parte do sêmen, líquido espesso que contém os espermatozóides, liberado durante o ato sexual. No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens. Em valores absolutos, é o sexto tipo mais comum no mundo e o mais prevalente em homens. A sua taxa de incidência é cerca de seis vezes maior nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento. Existem alguns fatores de risco, além da idade (três quartos dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos), que são: a presença de um ou mais familiares de primeiro grau com a doença e uma dieta rica em gordura animal. No passado, muitos homens morriam com câncer de próstata disseminado, porém hoje a evolução dos métodos diagnósticos e uma maior compreensão da doença possibilitaram sua descoberta precoce e, portanto, o tratamento imediato, mais efetivo, o que justifica os programas de rastreamento da doença em homens assintomáticos. É recomendado de maneira geral que homens a partir de 40 anos de idade (caso tenham um parente de primeiro grau com a doença) ou a partir de 45 anos (sem esse fator de risco), iniciem a rotina anual de visita ao urologista, independentemente de terem sintomas associados à micção ou não, pois a doença pode ser silenciosa. Nesta consulta é feita uma análise da história do paciente e é solicitado um exame de sangue, o PSA (antígeno prostático específico), que é uma substância produzida exclusivamente pela próstata e que se encontra elevado em casos de câncer (podendo estar alterado também em outras doenças como, por exemplo, a prostatite, que é uma inflamação da glândula).

Procede-se também o toque digital da próstata que é fundamental, juntamente com o PSA, para o correto diagnóstico do paciente. É preciso desfazer o mito do toque retal, pois ele não é doloroso, é rápido, ninguém tem sua masculinidade ofendida por isso e é extremamente valioso para o diagnóstico, podendo salvar vidas que seriam perdidas pela ignorância e pelo tabu criado por uma sociedade machista e desinformada com relação à doença. O PSA e o toque retal juntos diagnosticam a maioria dos casos, enquanto que somente o PSA isoladamente deixa passar uma parcela significativa. Outros exames, como a ultrasonografia de próstata, podem ser realizados como complemento, mas jamais como substitutos do exame clínico e laboratorial já mencionados. Caso o PSA venha alterado e/ou toque retal suspeito (o que não quer dizer em absoluto que o paciente tenha câncer de próstata), pode ser necessário a realização de uma biópsia, que dará um diagnóstico final do caso. Havendo confirmação de malignidade, realizam-se mais alguns exames para depois discutir junto ao paciente o melhor tratamento. Atualmente, a primeira opção é a cirurgia radical da próstata, que consiste na retirada total do orgão, porém, dependendo de cada caso, pode-se indicar radioterapia, braquiterapia (tipo especial de radioterapia ) e tratamento à base de hormônios com resultados satisfatórios. O importante é não deixar de descobrir algo que possa ser tratado com sucesso. Não há mais espaço para que os tabus da sociedade impeçam as pessoas de irem ao médico. Tenha certeza que, se você ficar doente por ter negligenciado sua prevenção anual, essa mesma sociedade não irá preocupar-se nem um pouco com isso e só você, sua família e amigos terão a perder com essa situação. Deus nos chama para cuidarmos do templo do Espírito Santo, o nosso corpo, e, portanto, temos a obrigação de fazê-lo com diligência! O Dr. Luis é médico urologista e presbítero da IPI Vida Nova, no Campo Belo, SP lcllau@terra.com.br

A Re Revista Revi v stta da F vi Família am mílliia a

nºº 70 julho n julho/agosto/setembro, ju ulh ulho llh /ago /ag ag agosto/ g sto/ sto to o set sete etembro mbr br , 20 2012 012 12 2

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PSICANÁLISE E ESPERANÇA

LEONTINO FARIAS DOS SANTOS

É comum pessoas dizerem que já pediram perdão a Deus por erros cometidos, mas que, mesmo assim, sentem-se culpadas. Por que culpadas? A culpa é um sentimento que alguém tem por considerar-se indigno e mau por causa de erros praticados. Em diversas, mas não em todas as situações, muitos erros são transformados em culpa. O que vem a ser o sentimento de culpa? O sentimento de culpa está relacionado com a situação de alguém que praticou um ato que julga repreensível e, por isso, sofre, de acordo com a educação moral que recebeu em sua família, na escola, na religião, em sua cultura, enfim. Portanto, está relacionado ao tipo de educação que o indivíduo recebeu, às suas tradições. Todos os valores morais, provenientes desses segmentos sociais, incluindo princípios, normas, leis, proibições, constituem o que se tem chamado, na Psicanálise, de superego. Percebe-se, então, que a culpa será gerada de acordo como internalizamos e aceitamos esses valores em relação ao que nos foi ensinado como certo e errado, como permitido ou proibido. Daí se dizer, por exemplo, que “os pais são a fonte do superego”, isto é, deles é que vêm as ordens, as proibições, os conceitos de certo ou errado. De igual modo, não só da família, mas também da educação escolar, da religião, da Bíblia é que vêm esses conceitos como diretrizes para que vivamos de maneira saudável. Daí que o sentimento de culpa não é gerado da mesma forma nas pessoas. Ele depende dos valores morais que foram aprendidos e internalizados pela pessoa durante seu desenvolvimento. Por conta dessa maneira como vemos o sentimento de culpa, pode-se também dizer que a sociedade e sua cultura têm grande responsabilidade na geração desse sentimento no indivíduo.

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Sentimento de

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culpa


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As implicações do sentimento de culpa Considerando o que foi dito, o sentimento de culpa também pode ser enganoso, dependendo da maneira como o indivíduo assimilou certos valores, proibições, normas. Os pais que educam seus filhos com muito rigor, com excesso de proibições, por exemplo, poderão gerar sentimentos de culpa nos filhos com mais facilidade do que em alguém pertencente a uma família mais liberal. Os membros de uma igreja cuja doutrina e normas morais sejam muito rigorosas em relação a usos e costumes, de igual modo poderão alimentar sentimentos de culpa com mais facilidade. Quando na igreja fala-se mais do caráter punitivo de Deus do que do seu amor e misericórdia, a tendência é que a igreja seja mais ansiosa e angustiada do que um povo feliz. Toda sociedade tem o seu padrão moral definido. A religião cristã, por exemplo, tem, na Bíblia, as suas regras de fé e prática. Essas normas, tanto da sociedade civil como da religião, têm a função de proteção e comunhão do indivíduo no meio social e perante Deus para o seu bem-estar. São elaboradas pela cultura. São essenciais para a convivência humana. São parâmetros para serem observados. Os que responsavelmente sentem que transgrediram, é natural que tenham sentimento de culpa. Neste caso, o sentimento de culpa não é apenas algo negativo. Tem também o seu valor, na medida em que gera o sofrimento. Também poderá inibir a prática de ações que firam as normas morais às quais o indivíduo está ligado na sua cultura. Consequências dos sentimentos de culpa Os que têm sentimento de culpa geralmente sofrem quando se preocupam com a opinião de outras pessoas de seu relacionamento, têm dificuldade em assumir responsabilidades pelos próprios atos, sentem-se rejeitadas, faltam-lhes o amor próprio, vivem com a auto-estima em baixa, são repetitivas em relação à sua culpa, buscam desesperadamente a autopunição ou esperam algum outro tipo de punição. A conseqüência mais evidente do sentimento de culpa é o desejo de autopunição. O senso de responsabilidade moral, diante da culpa, acentua ou exacerba esse desejo. Quanto maior é o sentimento de culpa, maior é o desejo de reparação do erro. Há pessoas que nunca se perdoam; desejam mais castigos à sua vida. Tornam-se angustiadas, obsessivas, neuróticas e até psicóticas. Quem carrega esse sentimento, sem encontrar uma solução, não consegue ver a si próprio de maneira saudável. Está sempre angustiado e a vida lhe parece sombria. Como superar e lidar com os sentimentos de culpa Do ponto de vista das ciências que se ocupam com

a mente humana, vários caminhos são sugeridos. Vários tipos de terapia são considerados capazes de diminuir ou eliminar o sofrimento. A busca do autoconhecimento, por exemplo, tem sido apontada como um caminho. Há os que acham que as pessoas conhecem pouco de seu próprio comportamento, de seus sentimentos e pensamentos. Conhecem pouco dos porquês do seu comportamento. Para Skinner, quando uma pessoa percebe as razões de seus atos, isso facilita a mudança, se necessária. Sem o autoconhecimento, as pessoas às vezes não conseguem deixar de fumar, beber, brigar com a esposa, e assim evitar algo que pode causar sentimento de culpa. Freud viu no autoconhecimento o caminho para a superação das neuroses, do sofrimento. O apóstolo Paulo faz menção em suas cartas dirigidas aos crentes de Corinto (1Co 11.28, 2Co 13.5) e de Roma (Rm 7.10), a procedimentos necessários para quem deseja estar bem consigo e com Deus. Aos coríntios, ele recomenda o autoconhecimento; aos romanos, ele faz uma confissão com humildade, assumindo responsabilidades para recuperar ou manter-se em paz: “Não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço”. Está implícita, no pronunciamento de Paulo, a necessidade que temos de assumir nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos e, de igual modo, nossas responsabilidades quanto à culpa. Assumir, aqui, portanto, não é simplesmente penitenciar-se, buscar a autopunição, mas responsabilizar-se e não apenas se culpar. Imaginar-se apenas culpado faz com que o indivíduo permaneça no papel de vítima. Se for assim, restará apenas a estagnação, a repetição de padrão, e não haverá crescimento moral nem espiritual. A responsabilidade faz com que o indivíduo acredite também em sua capacidade de mudar e sair do círculo vicioso que o torna refém de si mesmo. De acordo com a ortodoxia da fé e da ética cristãs, assumir e responsabilizar-se também fazem parte desse processo de libertação; apesar dos erros cometidos e mediante a fé em Cristo, com arrependimento, pode-se conseguir a declaração de “não culpado”, quando se aceita o convite da graça de Deus (Rm 3. 21-24). Pois Cristo pode aliviar a consciência pesada (1Jo 3.19-20). O caminho, então, para a libertação do sentimento de culpa, inclui basicamente a confissão sincera de pecados e a certeza de que Deus perdoa as faltas e apaga as culpas (Sl 32. 1-6). Neste caso, qualquer que seja a origem do sentimento de culpa, tudo se resolve em Deus, que vê e conhece tudo a respeito do ser humano. O Rev. Leontino é psicanalista e pastor da IPI Alto de Vila Maria, São Paulo, SP

Consultório: Rua Pitangueiras, 62, Sala - Metrô Praça Árvore, São Paulo :: Telefones: (11) 9596-3275 A Revista da12Família nº da 70 julho/agosto/setembro, 2012 Alvorada 37 ou (11) 7261-8158 :: www.leontinopsicanalise.com :: www.encontrocomaesperanca.com


LIDERANÇA Quando pastores e líderes estão esgotados física e mentalmente, o primeiro médico que lhes vem à cabeça é o cardiologista. É mais fácil pensar que há algo errado com o "coração físico" do que enfrentar a realidade da "comida demais e errada", "falta de atividade física", "atividades demais, sem respeito ao descanso e limites do corpo e da mente" ou "dificuldades de gerenciar as emoções".

A saúde dos pastores e líderes Como mordomos de Deus, todas as pessoas são responsáveis diante dele pela maneira que vivem sua vida e como se conduzem em relação às coisas e pessoas. Não é apenas o cuidar das finanças da igreja, mas também, entre outras coisas, o cuidar da saúde do corpo, das emoções e da mente e do outro. Pensando nisto, entrevistamos o Dr. Valmir Rosa. Graduado em Medicina pela Universidade Estadual de Londrina, com título de cardiologista pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, o Dr. Valmir também é especialista em Missiologia pela Faculdade Teológica Sul Americana e autor do livro: "Saúde Integral - Vivendo a vida intensamente", da Editora Descoberta.

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DE 5 AGOSTO

DIA NACIONAL DA SAÚDE

O senhor acredita que os pastores e líderes estão sofrendo mais por falta de saúde física e mental? É uma população que está acima do peso ou obesa, sofre de depressão, pressão alta, ansiedade, AVC, infarto, câncer, diabetes e colesterol com maior frequência? Quais as principais doenças diagnosticadas em pastores e líderes?

Valmir - De uma maneira geral, todos, e não somente os pastores e líderes, carecem de um entendimento maior a respeito de saúde e de saúde integral, que só acontece quando temos um equilíbrio entre as questões entre o físico/ corpo, a alma/emoções/personalidade e o espiritual. Com os pastores e líderes, isso não é diferente, mas com o agravante de que eles definitivamente não se cuidam, não fazem esportes, não têm momentos de lazer e muitas vezes nem ao médico vão para fazer check-ups regulares. As causas desse comportamento são múltiplas, como a dificuldade em ter acesso à saúde, falta de recursos, falta de tempo e tantas outras mais. Infelizmente, isso é uma realidade. Não há diferenças nas doenças diagnosticadas entre pastores e líderes e outros pacientes, mas eu diria que há um maior descaso com a saúde nessa classe profissional, assim como uma aderência menor aos tratamentos propostos. Talvez por acreditarem que Deus vai dar conta de algo que é nossa responsabilidade fazer. Temos atendido a muitos pastores com depressão, síndrome do pânico, frustrações ministeriais e familiares, obesidade e até tentativa de suicídio. Sem dúvida, tem sido um problema muito sério no meio pastoral.

O trabalho do pastor e do líder é muito estressante. Eles são mais propensos a se queixarem de demandas excessivas no trabalho, críticas, isolamento e estresse. O que fazer se há esta conexão psicológica entre o estresse prolongado e a saúde física da pessoa?

Valmir - Sabemos que a demanda emocional dos pastores e líderes é bem grande e, por isso mesmo, eles são os que mais deveriam se cuidar e estar com as coisas em ordem. Sem dúvida, observamos uma grande angústia nessas pessoas e a pergunta já menciona algumas das principais razões para isso: as demandas excessivas, onde o ativismo impera, pois o meio evangélico entrou por um caminho onde o significado de sucesso ministerial passa a ser relacionado ao número de membros, ao tamanho da igreja e do aporte financeiro que acontece. Temos visto muito sofrimento nessas pessoas por conduzirem a igreja como uma verdadeira empresa, e isso demanda mais sofrimento emocional. A questão do isolamento também é um fator importante, pois esse líder não pode abrir o coração para qualquer um, mostrar-se normal e carente. Entre os pastores, não é comum relacionamentos onde se possa comportar dessa maneira. Participamos algumas vezes de um trabalho desenvolvido pela Faculdade Teológica Sul Americana, onde oferecemos a pastores essa oportunidade, de falarem abertamente com outros sobre as questões práticas e angustiantes do ministério, e foi muito proveitoso. Este tipo de trabalho deveria existir em muitos lugares. O que fazer? Todos temos questões interiores, sejam traumas que vêm desde a infância ou

A questão do isolamento também é um fator importante, pois esse líder não pode abrir o coração para qualquer um, mostrar-se normal e carente. Entre os pastores, não é comum relacionamentos onde se possa comportar dessa maneira. A Revista da Família

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Coisas simples como: fazer esportes regularmente, ter momentos de lazer sozinho e com sua família, permitir-se ser normal como qualquer pessoa... fazer check up regularmente nas diferentes áreas.

coisas atuais, e precisamos ter alguém para quem contar, para compartilhar e nos ajudar. Isso gera saúde em nós e pode ser oferecido por um amigo íntimo, por um conselheiro, por um psicólogo, senão nosso físico sente mesmo, e assim aparecem as taquicardias, a queda de cabelo, a úlcera gástrica e tantas outras coisas. A maioria dos pastores e líderes sente que nunca tem tempo o suficiente para cuidar de si mesmo e acredita que o descanso ou a atividade física/hobby é algo necessário. Mas, na prática, pelo receio de decepcionar as pessoas ou por outros motivos, vemos que a maioria prefere ficar disponível 100% do tempo, negligenciando assim o cuidado com o seu corpo e mente. Como mudar esta situação?

Valmir - Fizemos uma pesquisa recentemente junto a pastores e líderes sobre essa questão do estresse no ministério, e sabe qual a maior causa dele? A agenda, seja a falta dela ou o seu excesso. Isso é interessante, pois precisamos rever essa correria e ativismo que nos cercam. Como fazer algo concreto? Voltando para a palavra de Deus que nos ensina a respeito das prioridades: 1) minha vida de comunhão com Deus, 2) minha família, 3) minha profissão/ministério. Temos feito as coisas nessa ordem? Não! Os pastores mal têm tido tempo de ter comunhão com Deus. O que oferecer, então, a outros? A família tem ficado em último plano e daí advém tantas deturpações seja com os filhos, no próprio casamento e ministério. É estresse em cima de estresse por erros nas nossas prioridades. Ficamos correndo atrás do vento e deixando aquilo que é importante passar. Para isso, atitudes concretas precisam ser tomadas e muitas vezes quebrar paradigmas, o que poderá gerar crise, seja individual, seja na igreja onde está, mas é necessário 40 Alvorada

A Revista da Família

colocar as coisas em ordem, senão o físico não aguenta e mais cedo ou mais tarde algo acontece. Falar sobre saúde física e emocional dos pastores e líderes não é fácil, pois não parece espiritual. Esperamos que os pastores sejam automaticamente saudáveis e moralmente puros. As igrejas maiores já disponibilizam aos seus pastores um plano de saúde, mas, mesmo nestas, poucas "exigem" um check up anual. Como a igreja pode cuidar de seus pastores e líderes? Qual é a responsabilidade da igreja?

Valmir – Sinceramente, não creio ser o papel da igreja "exigir"que o seu pastor faça esse ou aquele check up, pois isso tem que ser consciência do próprio pastor. A igreja, oferecendo a ele condições de que isso seja feito, seja com uma assistência médica ou com um salário digno, já é o bastante. Mas creio no papel da igreja como um instrumento para educar, ensinar e direcionar segundo o que a palavra de Deus ensina. E ela fala muito a respeito de integridade em todas as áreas. Creio que uma dessas maneiras de ensinar é quebrar o paradigma que infelizmente nos "perseguiu” por tanto tempo, quando se ensinava erradamente que crente não fica doente, que se há doença necessariamente tem algum pecado e coisas desse tipo. Nem sempre é assim e precisamos entender que, se vivemos nesse mundo caído, a possibilidade de enfrentarmos crises, doenças e tribulações é algo bem concreto e, por isso, precisamos nos cuidar. Temos visto muitos líderes e pastores terem o seu ministério encurtado de uma maneira horrível por um infarto, por um acidente vascular, por uma diabetes, secundários a uma obesidade, a falta de atividade física, falta de tempo de qualidade, a erros de alimentação. Com certeza, se houvesse um pouco de atenção e cuidado não seria assim. nº 70 julho/agosto/setembro, 2012

Quais os cuidados básicos que o pastor e/ou líder deve ter para com a sua saúde?

Valmir - Coisas simples como: fazer esportes regularmente, ter momentos de lazer sozinho e com sua família, permitir-se ser normal como qualquer pessoa. Então, fazer check up regularmente nas diferentes áreas, como a cardiologia, a urologia para os homens, a ginecologia para as mulheres e outras tantas. Cuidar do peso, tendo também uma alimentação saudável. Lembrar que as pessoas estarão olhando para eles e é preciso ser exemplo. Você iria a um cardiologista que fosse obeso? Ou fumante? É a mesma coisa no ministério. Temos tantos conselhos a respeito do cuidado com a saúde física, emocional e mental descritos na Bíblia, como: "Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida" (Pv 4.17). "Ame a seu próximo como a si mesmo" (Mt 22.39). "Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho" (At 20.28). "Atente bem para sua própria vida e para a doutrina (1Tm 4.16). "Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e não sois de vós mesmos?"(1Co 6.19)."Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus" (1Co 10.31), entre outros. Por que a mensagem de cuidado encontra tanta resistência entre nós?

Valmir - Creio que essa questão é bastante complexa para ser respondida, mas podemos apontar algumas coisas que temos visto. Uma delas é o fato de vivermos nesse século, quando tudo é aparentemente fácil e obtido num clicar de dedos no computador. Não subimos mais escadas; pegamos o elevador. Não andamos mais a pé; pegamos nosso carro para as menores tarefas. Sequer nos levantamos para mudar um canal de TV; usamos um dos 20 controles que estão a nossa frente. Acomodamos-nos demais. Nessa modernidade, também comemos fast food, comida pronta e


cheia de gordura, e isso vai trazendo as suas consequências. Um tempo atrás, fomos falar em um evento de pastores e levamos um esquema para medirmos a pressão arterial, as taxas de colesterol e de açúcar no sangue, e o resultado foi assustador. Quase todos, com raras exceções, estavam com todas as taxas altas. Também lembramos que trabalhar as questões de nossa alma geralmente traz muita dor e sofrimento. Então, na maior parte das vezes, é mais fácil deixar a sujeira embaixo do tapete, até que tudo venha à tona e gere crise. E, por fim, as questões espirituais, que vêm sendo bombardeadas com uma mensagem deturpada do cristianismo quando tudo se resolve com uma oração "poderosa", com uma "corrente de oração", com um voto ou promessa, gerando assim a falsa compreensão de que crente não adoece, não fica deprimido, não passa por lutas e dissabores na vida. Deixamos de lado a nossa co-participação e a liberdade que Deus nos dá para agirmos e tomarmos as nossas decisões pelo livre arbítrio que Ele nos deu. Quais as suas considerações finais para pastores e líderes?

Valmir - Lembro-me do livro de Gênesis, capítulos de 28 a 30, quando Jacó encontra Raquel. O texto nos

oferece muitas coisas preciosas, mas quero destacar esta: após ter conquistado as suas esposas, ter enriquecido e também ao seu sogro, enfim, ter feito muitas coisas, Jacó faz uma pergunta: "Quando farei algo em prol da minha família, de mim mesmo?" Precisamos fazer esta pergunta a nós mesmos. Podemos ter ministérios prósperos, igrejas enormes, com grande aporte financeiro, com muita influência social e até mesmo política, mas o que temos feito por nós e pelos nossos queridos? Temos atendido muitos pastores e líderes que, na aparência, estão bem, tendo sucesso, mas que, na intimidade de um consultório, a coisa não é bem assim. A frustração é grande, seja com as pessoas, seja com a instituição, seja financeira, na família, com o cônjuge e mesmo os filhos. Será que vale a pena? É hora de fazermos algo por nós mesmos, e isso passa desde ter um tempo de qualidade até fazer um bom check up. Cada um sabe do que precisa. Pastores e líderes têm um chamado da parte de Deus e, se não houver mudanças, esse ministério não vai alcançar tudo aquilo que Deus gostaria e nem gerará frutos para a eternidade. É hora de romper paradigmas e mudar. Esse é o meu desafio a todos. (Reprodução autorizada www.institutojetro.com)

Vocação Pastoral REV. ARI BOTELHO

E à semelhança do apóstolo pregador Que com Deus vivia em cumplicidade, É dever de todo o que se preza pastor, Humildemente, receber de Deus autoridade! E construir com sabedoria as pontes, Que sobre a existência de homens e mulheres, Revelem em suas vidas límpidas fontes, De águas saborosas, curadoras, salutares! Que tenham de Deus a santa vocação, Que não lhes falte amor e perseverança Para, em tempos difíceis, manterem confiança! Nunca percam o alvo da salvação, Que tenham em Cristo a esperança, E nele se fortaleçam, conhecendo-o em oração! O Rev. Ari é pastor da IPI de Tarabai, SP

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HOMENAGEM

50 anos de ministério pastoral

Rev. Abival Pires da Silveira BERENICE RODRIGUES

Abival

Chamarei o Abival por seu nome, apesar de reconhecê-lo como um grande pastor, mas soaria falso de minha parte se precisasse tratá-lo desta forma, pois não o faço em meu dia a dia. O Abival existe em minha família desde antes do meu nascimento. Tudo começou no início da década de 60 do século passado. A primeira história foi contada por minha mãe sobre uma noite de final de ano no culto de vigília, em Santa Cruz do Rio Pardo, SP, onde ela ouviu um menino pregar. Ele fez um pequeno sermão - “E faço novas todas as coisas” - que deixou minha mãe encantada. Ao voltar para casa, sob o efeito do encantamento, ela contou ao meu pai como este menino era especial, como suas palavras eram belas e tocantes. Logo depois, este mesmo menino, Abival, foi ser o pastor de Rancharia, onde meus pais estavam morando e, novamente, os caminhos deles se cruzaram. Desse fato surgiram muitos encontros e várias histórias. Uma delas foi que, um dia, ele levou uma foto e mostrou à minha mãe. Disse que aquela mulher seria sua esposa. Começou ali a presença da Marlene. O que gerou, na época, uma grande frustração em minha irmã, que tinha

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Nasceu no dia 12/4/1939, na cidade de Bofete É casado com Marlene e pai de 5 filhos Foi presidente do Supremo Concílio da IPI do Brasil por 3 mandatos

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DE 2 SETEMBRO

DIA DO PASTOR E DA PASTORA

então sete anos, pois o havia escolhido como seu pretendente. Mas a escolha dele foi a certa. Marlene tem sido sua companheira leal por todos estes anos e, sem ela, também não teríamos o Abival como ele é. Quando nasci, as histórias já existiam e, ao redor da mesa de almoço, principalmente aos domingos, fui ouvindo todas elas e as guardando: o pai que tinha fundado a igreja de Bofete; o fogão de lenha na casa da mãe que tinha sempre a comida para os visitantes; o começo de carreira na 4ª Igreja e o cuidado das pessoas com aquele novo casal; o nascimento dos filhos; o doce de figo não amado, que tinha e tem o poder de aterrorizar o pastor até hoje; e o doce de abóbora como o preferido; os inúmeros cafés nas visitas dominicais; as piadas que sempre era o último a entender; a gentileza frente às situações mais inusitadas; o sotaque de um bom caipira de Bofete, nunca perdido; e os sermões que continuavam encantando. Na minha adolescência, viemos para São Paulo. Foi neste momento que passei a conviver com o pastor dono das histórias que ouvia. Descobri pessoalmente o encantamento de sua pregação. A história era verdadeira e suas palavras realmente nos apro-

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Foi vice-presidente da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas (AMIR) Foi presidente da Aliança de Igrejas Presbiterianas e Reformadas da América Latina (AIPRAL)

ximam de Deus. Isto acontece não somente por ele ser um bom orador, mas pelo fato de acreditar e ter o cristianismo como eixo de sua vida. Sua relação com Deus é viva. Vê-lo e ouvi-lo nos possibilita estabelecer esta relação viva e real com Deus. Também não se trata simplesmente de um grande estudioso da religião. Sua intimidade com a vida espiritual nos convida a percorrer este caminho de forma semelhante. Sua fala ressoa em nossa alma e não só em nosso pensamento. Apesar do fascínio, um dia, na minha arrogância de adolescente, fui até ele para dizer que agora que estava na universidade via que muitas das coisas que ele havia me ensinado eram um grande equívoco. Entre elas, a existência de Deus. O Abival ouviu com a maior paciência e também com paciência explicou-me onde estava o meu equívoco. Levou muito a sério as minhas questões e terminou o encontro com uma oração. Dois sentimentos me invadiram após este encontro: de que tinha sido muito petulante, o que me deixou sinceramente envergonhada; e que eu tinha achado meu pastor, aquele que me acompanharia durante a vida. Sabia que mesmo as questões

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consideradas ridículas ele estaria disposto a ouvir seriamente. Esta é uma de suas características marcantes: acolher o outro, aceitá-lo sem julgamento. Isso vi se repetir ao longo destes anos todos. Tive muitos momentos especiais na presença do Abival. Vou citar três onde ele foi fundamental e ficou comprovada a escolha dele como meu pastor. O primeiro foi quando dava aula no Seminário de São Paulo e recebemos a visita de um representante da Igreja Reformada. Na época, nós, professores do seminário, fomos almoçar com este senhor. Era um ano em que os olhos da Igreja Reformada estavam voltados para as mulheres, principalmente da América Latina. Durante este almoço, este representante perguntou quais eram os meus planos para o futuro. Disse, em tom de brincadeira, que gostaria de estudar no Jung Institut, em Zurique, o que realmente era verdade, mas que seria impossível naquele momento. Ele pediu que fizesse um projeto e enviasse para ele. No domingo de manhã, lá estava eu contando a história para o Abival, que assumiu a história como um compromisso pessoal e fez com que ela se tornasse real. Graças a ele e ao seminário, pude fazer a es-

Apesar do fascínio, um dia, na minha arrogância de adolescente, fui até ele para dizer que agora que estava na universidade via que muitas das coisas que ele havia me ensinado eram um grande equívoco. Entre elas, a existência de Deus

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Abival

Allison de Carvalho

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pecialização no Instituto Junguiano, o que me possibilitou grande desenvolvimento na vida profissional e pessoal. Ele também fez isso com outras pessoas. O seu compromisso com o desenvolvimento do outro, dentro e fora da igreja, é um fato. O segundo acontecimento foi em 2005, durante um problema de saúde. Entre descoberta, diagnóstico e cirurgia, tive seu total apoio, o que diminuiu o meu medo. Na manhã seguinte após a cirurgia, ele foi ao hospital me dizer em seu silêncio e oração que a vida voltaria a ficar normal e que Deus no seu silêncio estava ali também; poderia confiar que não estava só. Foi mais fácil confiar ao vê-lo. Por último, algo bem recente. Meu pai adoeceu gravemente no final de 2011. Foi uma experiência muito difícil e dolorosa. Sem dúvida, dores profundas que, sem as ligações diárias do Abival e suas orações, que começavam ao nascer do sol, teriam sido insuportáveis. Eu sabia que ele próprio estava ferido e que estava lutando contra sua própria enfermidade, mas não tive muito como poupá-lo e pedi ajuda. A frase de que o médico ferido é aquele que sabe cuidar cabe perfeitamente aos pastores também. Ele é um grande pastor e cuida, apesar de sua própria ferida. Por isso, a aposentadoria para ele é um ato meramente convencional. Foi e sempre será o pastor que cuida das ovelhas. Alguns amigos brincam e me perguntam porque esta ligação é tão forte com o Abival. Eu o amo mesmo porque, sem ele, eu não seria quem eu sou hoje. Sou uma pessoa melhor por causa dele. Porque com seu jeito suave ele tem suavizado nossa vida. Agradeço à Marlene e aos seus filhos. Sei o quanto eles tiveram que o emprestar para que usufruíssemos da sua presença e tivéssemos histórias para contar. Minha gratidão é imensa por ter dado tanto de si. Sei que são muitas as histórias e as pessoas agraciadas pela vida deste pastor. Tomo emprestadas as palavras de Mário Quintana para resumir o significado deste homem na minha vida: Abival é alguém que dá cor ao invisível. A Berenice é psicóloga e membro da 1ª IPI de São Paulo, SP

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POESIA

Como estrelas depois da chuva LÍDIA SENDIN

Se nas tormentas o peito te sufoca, A dor e o pesar no coração fervilham, A Deus, com fé no coração, evoca, Pois no céu as estrelas ainda brilham. Se na calada da noite vem o medo, Chegando os conflitos a te perturbar, Conta com Deus pra ouvir o teu segredo, Pois há lá no céu estrelas a brilhar. Se os inimigos te deixam sem ação E dos amigos te separa negro véu, Busque em teu Deus o conforto da oração Que as estrelas ainda brilharão no céu. E, apesar de todo medo e ameaças, Do céu esperaremos a boa vinda. A Deus então daremos sempre graças Porque no céu brilham estrelas, ainda! A Lídia é da IPI de Piracicaba, SP

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CRISTIANISMO

A igreja vivia em paz MAURÍCIO SILVA DE ARAÚJO

“A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em numero” (At 9.31). Parece que foi ontem, mas já faz 25 anos que vivo esta vida de igreja e posso dizer, sem dúvida alguma, que foi a melhor opção da minha vida ter me entregado a Jesus e, a partir de então, começado a servi-lo dentro da igreja. Talvez entre nós haja quem já esteja por mais tempo. O Rev. Jayro, por exemplo, começou o curso no seminário em 1969, ano de sua aposentadoria e ano em que eu nasci, e há muito mais tempo já servia a Deus

na igreja. D. Galdina liderou um ministério de oração por mais de 35 anos e serviu a Deus por mais tempo ainda. E a D. Rosa Ferracini? Você já perguntou a ela há quanto tempo esta servindo a Deus dentro da igreja? O “seu” Vandir, há alguns dias, me disse que estava completando 30 anos como membro desta igreja. A igreja é um lugar de bênção, uma instituição criada por Deus para nosso aperfeiçoamento, para nos abençoar. É o corpo de Cristo que Paulo estava perseguindo a caminho para Damasco, mas do qual veio a fazer parte ao se encontrar com Jesus. O texto que abriu esta reflexão fala como era a igreja no tempo dos apóstolos e como

3JU1LHDOE

ANIVERSÁRIO DE 109 ANOS DA

IPI DO BRASIL

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ela estava. Quando o versículo começa dizendo: Na verdade, ela tinha paz, quer dizer que esta igreja, embora passasse por sofrimento, por perseguição, por incompreensão de muitos, ainda assim ela experimentava um estado de espírito (paz) que só se encontra em Cristo. A igreja vivia em paz, vivia na paz, experimentava paz e, por isso, ia se edificando através de seu Senhor, andando sempre no temor de Deus, sendo confortada pela presença do Espírito Santo. E o conjunto disso tudo a fazia crescer. Hoje, estamos recebendo alguns irmãos como membros desta igreja. Estamos experimentando um pouco disto que acontecia em Atos e tudo por


IPI do Brasil REV. ARI BOTELHO

que estamos em paz. Você pode dizer que temos problemas também e vou concordar com você, mas, à semelhança da igreja dos apóstolos que também tinha problemas, nós estamos vivendo um momento agradável de paz, independentemente das circunstancias. O crescimento vem do Senhor, mas o ambiente depende de nós. De como vivemos, de como agimos, de como servimos a Deus junto de nossos irmãos. Alguns destes futuros membros confidenciaram ao Conselho no ato de seu exame que um dos motivos desta decisão de fazerem sua profissão de fé e batismo foi por causa da igreja que encontraram e que os acolheu com atenção e amor, mani-

festos através de alguns de seus membros. Que o Senhor da Igreja seja louvado por esse momento da vida da igreja. Que seja duradouro este tempo de paz, de alegria, de salvação, manifestado através desta colheita de vidas. Que os novos membros se somem a esta igreja para servirem a Deus conosco, para abençoarem outras vidas que não conhecem a Jesus ainda e que nada mude esse entendimento de que a igreja é uma bênção para vocês e que vale a pena estar nela. Deus nos abençoe em Cristo Jesus! O Rev. Maurício é pastor da IPI de Jundiaí, SP

Numa terra sem esperança, Porém com riqueza, com pujança, Surgiu a “Igrejinha dos milagres”, Trazendo alegria, como uma criança! Por acender o luzeiro da abertura, Por posicionar-se em prol da liberdade, Sofreu ataques, divisões, a desventura, Para fazer prevalecer de Jesus a verdade! E por não ser o “grupo do momento”, E procurar viver o Evangelho da Graça, Sofre as conseqüências do humano desalento! Entretanto, fiel a Jesus, que a abraça, Ao longo desses anos, a contento: Vive a ventura do “semear”, sem medo de ameaça! O Rev. Ari é pastor da IPI de Tarabai, SP

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ENTREVISTA

O tempo de Missões é hoje Ela veio para o Brasil para cuidar da saúde e cumprir uma agenda de visita aos parceiros e apoiadores do Projeto Casa das Formigas, em Moçambique, na Africa, que há mais de 20 anos atende crianças carentes e muitas que vivem sem ninguém para orientá-las. Atualmente 100 crianças recebem cuidados e educação em tempo integral e outras 300 passam pelo projeto diariamente para estudos e refeições. A finalidade da Casa das Formigas é ensinar. As mínimas coisas são passadas para as crianças que chegam ao projeto. A intenção não é ter empregados mas, ensinar a sobreviver e transmitir o essencial para isso: a Palavra de Deus. Delci acorda às 5 da manhã para a leitura bíblica e a oração, e não tem tempo para descanso. Suas férias acontecem quando viaja a serviço, como foi nestes 2 meses que esteve no Brasil. Sua história revela a atuação de Deus e mostra que missões não é um evento. É preciso fazer missões e o tempo é hoje!

Mis. Delci Esteves dos Santos

A senhora nasceu num lar evangélico e disse que passou 12 anos de sua vida viciada em bebidas e cigarros. Depois de um momento de desespero, em frente à sua varanda, conversou com Deus pedindo que a resgatasse, caso contrário, se suicidaria. Esse foi o momento de sua conversão?

Não. Este não foi o momento da minha conversão, mas o retorno da minha vida para Deus. Em seguida, Deus me deu uma resposta muito especial em Isaías 45.2-3. A senhora nasceu aqui no Brasil e há 23 anos trabalha na África. A senhora se considera mais brasileira ou africana?

Já me considero mais moçambicana. Não posso dizer africana porque só conheço e vivo intensamente em Moçambique. Aprendi a amá-los e pensar como eles. Já posso agir como eles, especialmente porque trabalho com as crianças e, à medida que elas crescem, me ensinam a viver e a entender o jeito delas. Como a senhora foi enviada para Moçambique?

Nunca em minha vida pensei em pôr meus pés na África, mas costumo dizer 48 Alvorada

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que fui preparada para a África desde a minha infância, pois fui ovelha do Rev. Jonas Dias Martins e, sendo ele negro, foi de grande ajuda para a minha adaptação na África. Não senti qualquer choque e isto foi mesmo muito bom. Trabalhava na COMIBAM. Um pastor da África veio ao congresso e solicitou o envio de alguém que falasse português, pois queria abrir uma escola bíblica em Maputo, capital de Moçambique. E assim fui enviada para dar aulas nessa escola. A senhora sentiu alguma discriminação quando chegou lá?

Não senti discriminação, pois cheguei e já fui dar aulas. Minha classe era só para homens e, pelo fato de ter meus cabelos brancos, isto me abriu muitas portas, pois, em Moçambique, o idoso tem muito valor, não pelo que ele estudou, mas pelo que viveu, e me olhavam com muita seriedade. Desde o início, um dos meus alunos me disse o seguinte: “Irmã, sabe por que nós a aceitamos como nossa professora? Por causa do seu cabelo branco, pois, quando a olhamos lá na frente dando aulas, não vemos uma mulher e,


Mis. Delci e algumas crianças e jovens da Casa das Formigas

sim, uma avó”. Esta situação me fez lembrar o passado. Quando ainda estava no Brasil, com 27 anos, o meu cabelo ficou branco. Cheguei a raspar o meu cabelo e usar uma peruca inteira, de tanto que não gostava. Mas Deus sabia o que Ele iria fazer comigo no futuro. Outro fator importante para mim foi o fato de ser mulher, estrangeira, e poder dar aulas para homens. O machismo na África é mesmo sério e, para um homem pedir ajuda para uma mulher, é algo especial. Isto nos leva ao Antigo Testamento e ao lugar em que estava a mulher nos relatos bíblicos. Em sua trajetória ministerial, a senhora pode nos apontar um divisor de águas?

Se entendi sua pergunta, do ponto de vista de denominações evangélicas, já encontrei, mas não são tão fortes, pois o valor do amor de Deus por nós supera todas as diferenças e, nas diferentes igrejas que já vi e em algumas que já vivi, o centro das atenções é o amor de Deus. Quando esta parte é entendida, todas as outras “teologias” que se pregam perdem as diferenças, pois aquele ser humano que

reconhece que é pecador e passa a amar a Deus, ele sai à sua procura, quer sempre aprender mais. Como surgiu e qual é o objetivo da Casa das Formigas? Por que tem esse nome?

A Casa das Formigas surgiu depois de um tempo que eu dava aulas na Escola Bíblica. Como cheguei no tempo da guerra, havia muitas crianças na rua, mas, quando falo muitas, é porque não dá mesmo para descrever. Uma manhã, eu estava na cidade e vi um menino de uns 10 anos dormindo na calçada, num calor de 30 graus. Logo pensei: Este menino dorme não é de sono; é de fome. Passei a mão na cabeça dele e orei. Saí dali chorando pela rua e perguntando para Deus o que eu poderia fazer. A partir deste dia, comecei a pensar em criar uma classe de escola dominical, aos sábados, para crianças. Iniciamos com 30 crianças e hoje apoiamos 450 crianças. Nosso objetivo não é dar escola, roupas, sapatos, mas fazer da criança que recebemos uma pessoa digna, especialmente com o conhecimento de Deus em sua vida. A Revista da Família

Nosso objetivo não é dar escola, roupas, sapatos, mas fazer da criança que recebemos uma pessoa digna, especialmente com o conhecimento de Deus em sua vida.

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“Casa das Formigas” - Este nome surgiu pelo seguinte: uma manhã, eu estava na porta da casa onde no futuro iniciaríamos o projeto e as crianças chegavam andando em fila, uma depois da outra. Eu vi e disse para mim mesma: “Parecem formigas”. Logo veio à minha mente que a Bíblia fala da formigas e fui procurar. Em Provérbios 30.25 diz: “A formiga é um povo indefeso, que no verão prepara sua comida”. O que me chamou a atenção é que a Bíblia fala de povo. Então pensei: Deus está me mostrando “gente”, “ser humano”. Então ficou “Casa das Formigas - Centro de Apoio à Criança”. Esse projeto que a senhora lidera atende 100 crianças em tempo integral e outras 400 passam por lá diariamente, para refeições e estudos. A casa tem parceria com o governo local? Quem mantém?

Nossa parceria é exclusivamente com as igrejas e os padrinhos que nos apóiam. As 100 crianças que apoiamos e vivem na Casa das Formigas são desprovidas de familiares e tem mais 11 que vivem comigo em casa. Toda nossa manutenção vem de servos do Senhor que oram e contribuem com nosso ministério. O que é a poupança escolar e poupança faculdade?

São a mesma coisa. Temos conosco, entre os da minha casa e os que vivem na Casa Lar (que é um departamento da Casa das Formigas), 48 crianças que não têm familiares e, quando completarem 18 anos, não teremos para onde enviá-las. Nossa ajuda será incompleta, se todas as crianças que chegam à Casa das Formigas e ficam conosco não forem enviadas para a faculdade e não serem devidamente preparadas para a vida. Assim, tanto uma como a outra tem o mesmo objetivo. Ocorre que uns já cresceram e estão mais próximos do ensino superior. Por isso, temos esses tipos de poupança. Abrimos uma conta no banco no nome de cada criança e, quando chega a oferta, depositamos no banco e uma cópia do recibo do depósito enviamos a cada padrinho. O dinheiro não é utilizado. Fica guardado no banco até quando 50 Alvorada

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chegar o momento de pagar a faculdade. Neste ano, já estamos com 11 nas faculdades. Temos dois alunos que se formam advogados neste ano, um psicólogo já formado e trabalhando, e outro está em Londrina, na 1ª IPI, fazendo mestrado em Teologia juntamente como a esposa. O presidente da Casa das Formigas, Alfredo Gavene Bazima, está terminando o mestrado em Teologia. Qual a idade limite para freqüentar a Casa das Formigas?

Nós recebemos crianças a partir de 8 anos e, se ela permanecer conosco, só sairá quando tiver terminado a faculdade e estiver pronta para seguir em frente com sua vida. Isto falamos dos residentes. Temos também a classe e escola bíblica, ou seja, um Seminário Bíblico com a duração de 4 anos. Neste caso podem somente frequentar as aulas os não residentes que vivem ao nosso redor, já que de alguma forma eles têm famílias. Na sua casa moram 11 crianças. Elas são adotadas?

Não são adotadas. Não existe autorização de adoção no país, devido ao abuso de crianças que ocorreu. Por esta razão, nós apoiamos as crianças e não podemos sair com elas para fora do país, a não ser em caso de enfermidades para as quais não exista socorro perto. A senhora disse que 60% da população africana é aidética, 3 crianças com o vírus moram com a senhora e outras frequentam o projeto. Como é o tratamento médico, o procedimento na casa? Elas vivem separadas dos outros?

Esta informação do índice de aidéticos é em Moçambique e as crianças que temos vivem normalmente com as outras crianças. Mensalmente, devem visitar o médico e utilizam os remédios diariamente, duas vezes ao dia. Deve haver uma atenção à criança que tem AIDS, pois, se ela corre brincando, pode se machucar, deve ser socorrida sem entrar em contato com outras. Também a criança com AIDS não pode dormir junto com outra que não tem, para não correr risco de transmissão. nº 70 julho/agosto/setembro, 2012

Quais as principais transformações que a senhora observa nas crianças que freqüentam a Casa das Formigas?

Temos classe bíblica diária para todas as crianças, pois temos diariamente dentro da Casa das Formigas 300 crianças. Logo podemos ver que o desenvolvimento tanto na área educacional como espiritual é bastante visível. A maioria vive sem ninguém para orientá-la e, quando estão conosco, agimos como se fôssemos pais e mães que os ajudam. No ano passado tivemos 90% de aprovações nas diferentes escolas. A senhora chegou a Moçambique num tempo de guerra. Como é a situação política do país atualmente?

Hoje, temos tranquilidade, sem grandes problemas. A senhora consegue ter um momento de “Shabat” (um dia de descanso), distanciarse do trabalho da semana e ter um tempo para centrar sua vida em Deus, estar na sua presença? Como a senhora o faz?

Diariamente, acordo às 5 horas da manhã. Tenho meu tempo de leitura bíblica e de oração, e não tenho tempo para descanso, especialmente por causa das próprias limitações que temos. Minhas férias ocorrem quando viajo a serviço e mudo de ambiente. Aí posso descansar, como agora que estou no Brasil.


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FICA A DICA

O desafio de se

comunicar! TAMARA S. DRUMONT MACHADO

No último aniversário da Revista Alvorada, tive a graça de ouvir a voz de Deus em diversos momentos e, em alguns deles, ficou nítido ao meu coração uma palavra: comunicação. Um tema desafiador para a igreja de Cristo. Vivemos num mundo comunicativo, abarrotado de informações e mídias. Somos diariamente bombardeados com notícias ao vivo, escândalos, “ritmanias” na internet que informam e também nos sufocam. É necessário dedicar um tempo para

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nos atualizarmos para não perder a qualidade e a credibilidade do que levamos para a vida profissional, familiar e até espiritual. Comunicar e se fazer entender é um desafio e tanto. Na fonoaudiologia, a comunicação é o principal objeto de estudo, seja nas áreas de voz, audição, fala, linguagem (oral e escrita) ou motricidade oral (trata dos músculos da face, dificuldades de deglutição e outros). Por ser uma área tão ampla, o fonoaudiólogo atua em conjunto com outros profissionais para maximizar resultados. Pensando nisto, surgiu a

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preocupação não apenas com o que se fala, mas como se fala. Nossas igrejas têm muitos irmãos que não têm formação teológica, mas que estudam e participam de estudos na própria igreja e contribuem para o reino com os seus talentos, propagando e dividindo o conhecimento. São presbíteros, evangelistas, missionários, diáconos, professores de Escola Dominical ou apenas membros aos quais sugiro alguns recursos para tornar o discurso mais claro, interessante e eficiente. Como cristãos, o que se fala deve


Quando se fala em público, rádio ou até numa conversa informal algumas dicas ajudam: 1. Falar pausadamente; ser dito conforme a Palavra de Deus. O conteúdo da fala não é o foco deste texto. Ressalto a importância de aperfeiçoar a fala através de recursos sadios e eficientes de comunicação. Inúmeras instituições se aproveitam unicamente destes recursos para atrair pessoas, sem considerar a veracidade da Palavra de Deus. Estudos mostram que 7% do que falamos é mensagem verbal, 38% é vocal e 55% não verbal; se quiser vencer o desafio de comunicar bem, seja você membro ou pastor, é preciso levar em consideração algumas dicas que favo-

recerem a pregação do evangelho. A Homilética é um estudo importante e tem alguns pontos que podem ser usados para dar expressividade. Este texto tem o objetivo apenas de chamar a atenção para uma nova realidade onde não é necessário um púlpito para falar de Jesus. Somos testemunhas e em qualquer lugar devemos falar do Evangelho. A Tamara é fonoaudióloga e membro da IPI de Mogi da Cruzes, SP

2. Manter o “tom” de voz mais grave (geralmente passa mais credibilidade); 3. Falar em apenas um tom (monótono) torna o conteúdo desinteressante; 4. Falar rápido ou devagar agita ou dispersa o ouvinte; 5. Movimentos de face e braços em excessos tiram a atenção; 6. Vícios de linguagem atrapalham a concentração; 7. A intensidade da fala pode transparecer fraqueza ou força; 8. As pausas facilitam a compreensão; 9. E, claro, o conteúdo. Um bom orador deve dominar o assunto que se propõe a falar. “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15).

Referência bibliográfica • Birck, V. R. &Keske, H. I. (2008).A Voz do Corpo: A Comunicação Não-Verbal e as Relações Interpessoais. Anais do XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Retrieved August 20, 2008, from http://www.intercom.org.br/papers/ nacionais/2008/resumos/R3-0900-1.pdf. • BARRETO, AMORIM,TRINDADE, FILHO,KANASHIRO - Perfil da saúde vocal de cantores amadores de igreja evangélica. Rev. soc. bras. fonoaudiol. [online]. 2011, vol.16, n.2, pp. 140-145. ISSN 19820232. http://dx.doi.org/10.1590/S151680342011000200006.

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DE 6 1 SETEMBRO

REFLEXÃO

ESCOL A DOMINICAL

DIA DA

Ainda existe motivação? ADILSON DE SOUZA FILHO

O público da Revista Alvorada, com toda certeza, traz na memória os idos tempos em que nossas igrejas locais lotavam seus templos com alunos de todas as idades, para participarem da Escola Dominical. Aliás, quando nós revisitamos as fotos antigas de nossas igrejas, todas elas, sejam do interior ou das capitais, é possível constatar o mesmo fenômeno da “igreja lotada” de alunos; sim, as igrejas lotavam de crianças, adolescentes, jovens e adultos. Quem não se lembra das famosas gincanas bíblicas entre classes? E as campanhas de melhor frequência ou de trazer visitante? Tudo isso ainda está bem vivo em nossa memória; e o sentimento

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de quem viveu essa época é duplo: alegria e tristeza. Sim, lembramos com alegria, pois a sensação que temos é a de voltar ao tempo, e o fazemos com prazer porque lembramos de uma época em que a nossa vida girava em torno da igreja; ou seja, nossos amigos, nosso lazer, nosso compromisso e até nossa família passavam pela igreja. Mas nós também, ao lembrarmos dessa época distante, sentimos tristeza porque é impossível não fazer comparação com a Escola Dominical de hoje. Daí a pergunta que virou o título desta reflexão: Escola Dominical, ainda existe motivação? Esta pergunta encontra a sua razão de ser quando analisamos as estatísticas de nossas igrejas locais; e um dado curioso é que o

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atual quadro estatístico é praticamente igual em todas as regiões. E para respondermos a esta pergunta, com toda certeza, não devemos iniciar pelo tema da “fidelidade à tradição”. Sim, é comum encontrarmos pastores e conselhos apelando para o tema da fidelidade à tradição, tentando por meio de um pseudo “emocionalismo” cultivar interesse dos membros da igreja para participarem da Escola Dominical. A nossa opinião sobre essa tática é, tacitamente: Não vai dar certo! A resposta para esta questão é bem mais complexa do que queremos imaginar. A sociedade mudou muito nas últimas décadas. E, se nós queremos entender as causas que levaram ao esvaziamento de nossas escolas dominicais,

precisamos analisar tais mudanças sociais ocorridas em nosso país. Entretanto, queremos insistir no tema da “motivação”. Todo ser vivo é movido por motivação, seja ele consciente ou não. Por exemplo, os animais são movidos pela motivação instintiva da fome, da autodefesa, além da busca intensa pelo prazer e pelo bem-estar. Porém, é no ser humano em que todos os conceitos que justificam o sentido de “motivação” se manifestam em grande medida. O ser humano vive em todo tempo em busca de motivação. Por exemplo, a motivação para o trabalho, a motivação pelo cuidado com a saúde, a motivação pelo namoro, a motivação pelo dinheiro... Contudo, a grande diferença da motivação de qualquer ser vivo


em comparação com o ser humano está na questão do prazer. Sim, há as motivações que nos obrigam a fazer coisas que nem sempre nos dão prazer. Mas é a motivação do prazer que rouba de nós a nossa maior quantidade de energia. E o grande problema da sociedade de nosso tempo é que as opções de motivação que geram prazer aumentaram absurdamente. E este fator não pode ser desconsiderado numa análise conjuntural sobre as causas do esvaziamento de nossas Escolas Dominicais. Dentre essas muitas opções que geram motivação de prazer no ser humano, queremos destacar algumas que, possivelmente, são as principais causas de ausência de motivação nas pessoas para frequentarem a Escola Dominical.

A sociedade mudou muito nas últimas décadas. E, se nós queremos entender as causas que levaram ao esvaziamento de nossas escolas dominicais, precisamos analisar tais mudanças sociais ocorridas em nosso país.

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Até bem pouco tempo, a figura do “chefe de família” ainda era muito forte dentro do lar. Nenhum filho ousava desafiar o pai, dizendo que estava com sono e que queria ficar dormindo em casa. Já hoje, não só os filhos ficam dormindo, mas também os próprios pais, pois dizem que trabalharam a semana inteira e precisam descansar. De fato, trabalharam a semana inteira, pai e mãe; e, com ambos no mercado de trabalho, aumentaram a capacidade de consumo, permitindo mais opções de motivação que geram prazer. Desse modo, é muito comum os programas familiares de fim de semana: shopping, churrascaria, cinema, day camp, praia, passeios de carro, visitação de familiares etc. Somado a isso, há uma guerra cibernético-tecnológica dentro de casa que está dizimando quase todos os alunos da Escola Dominical. Crianças, adolescentes, casais/pais ficam até de madrugada na internet ou vendo filmes nas grandes telas de Led/TV e coisas do tipo. Ou seja, a tarefa da Escola Dominical de concorrer com tudo isso é até covardia.

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Outro fator que contribui fortemente para o esvaziamento da Escola Dominical é o progresso intelectual da sociedade brasileira. Com isso queremos dizer que o acesso maciço das pessoas às escolas, universidades, meios de comunicação e interatividade social vem causando esfriamento no coração espiritual na sociedade de nosso tempo; aliás, fenômeno semelhante já ocorreu na Europa e Estados Unidos, ficando conhecido como secularismo. Este fator é corroborado quando lembramos do nosso jeito de ser presbiteriano. Somos doutrinados a confiar na perseverança dos santos, na certeza da salvação e na validade da graça regeneradora de Cristo. Desse modo, não temos uma necessidade premente e obrigatória de irmos à igreja. Esse jeito presbiteriano de ser, aliado aos fatores de progresso citados anteriormente, provoca o resultado racionalizado do esvaziamento da Escola Dominical em todo Brasil afora. É preciso dizer ainda que, ao contrário da Escola Dominical, que lembra “raciocínio lógico, doutrina”, as pessoas preferem ir ao culto de louvor e adoração, pois este apresenta características mais próximas do sentimento religioso.

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Por último, precisamos mencionar as dificuldades estruturais da própria Escola Dominical. A dificuldade de oferecer formação bíblica, teológica e pedagógica aos nossos professores, a ausência de critérios claros para escolha de material didático a ser utilizado e a falta de planejamento educacional reúnem elementos suficientes para chegar ao nível contextual que estamos vivendo como Escola Dominical.

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Todos nós sabemos as causas deste esvaziamento. Assim, todos nós devemos ter humildade para nos permitir começar em casa, em nosso lar, em nossa família, em nossa forma de administrar nossa vida cristã uma revolução de valores. Finalmente, a nossa proposta reflexiva pode ser baseada numa passagem bíblica: Ageu 1.2-11 e 2.1-9. A partir de um work shop podemos fazer uma sinopse do antes e do depois. Isto é, de acordo com o que diz o profeta Ageu, quem viu a primeira glória da Escola Dominical? Nós perguntamos a nós mesmos: Quem se lembra da nossa Escola Dominical do passado, como ela era? E agora, como a temos visto hoje? Cabe a cada um de nós, servos de Deus e presbiterianos independentes, lutar para garantir aos nossos netos, no futuro, um lugar para abrigar espiritualmente os nossos bisnetos. Portanto, o futuro da nossa Escola Dominical depende do que nós estamos fazendo hoje no presente. Todos nós sabemos as causas deste esvaziamento. Assim, todos nós devemos ter humildade para nos permitir começar em casa, em nosso lar, em nossa família, em nossa forma de administrar nossa vida cristã uma revolução de valores. Sim, não vai adiantar a atitude de ficar procurando novos líderes, novos professores, novos superintendentes, novos materiais didáticos... O Rev. Adilson é secretário de Educação Cristã da IPI do Brasil e pastor na IPI do Moinho Velho, São Paulo, SP


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COMPORTAMENTO

WANDERLEY DE MATTOS JÚNIOR

- Olha, não comenta com ninguém o que eu vou te contar. Na verdade, é mais pra você orar pelo pastor, que eu acho que ele tá numa enrascada. Você não imagina o que estão falando por trás dele, meu irmão... Vou te contar tudo o que eu ouvi, mas... por favor... morre aqui, hein! - Claro... Fala logo, rapaz... Você sabe que pode confiar em mim, não sabe?! Ô, vontade de saber, não é!? Como o ser humano é curioso! E tanto faz se é homem ou mulher, jovem ou maduro, líder ou liderado, não importa. A curiosidade move nossos ouvidos em direção a um “bom” assunto exclusivo. É um tipo de prazer que nossos ouvidos buscam, sem jamais se saciar. Há sempre espaço para mais um pouco! Sempre há uma boa justificativa para a fofoca. E sempre há um outro nome para dar a esta mesma ação: comentário, troca de informação, no-

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tícia, tentativa de checar a veracidade da informação recebida, entre outras. Os mais espirituais podem rebatizar a fofoca com o nome de “pedido de oração” quando, junto ao pedido, segue um longo anexo informativo sobre a vida da pessoa em questão! Injustamente, a fofoca é normalmente associada à mulher. Tolice, pois os homens fofocam tanto quanto, senão mais que as mulheres, porém, sob outras premissas e, claro, com outra nomenclatura dada à mesma atividade. O fato é que falar da vida alheia, fazer comentários, conjecturar acerca de suspeitas, interpretar eventos sem fundamentos concretos, contar fatos comprovados ou não, passar adiante informações confidenciais ou não, contar algo que sabe em tom de exclusividade secreta a alguém (geralmente mais que apenas a uma pessoa), revelar fatos sobre a vida dos outros e todas as variantes dentro do mesmo tema, constituem a mesma ação nefasta. A fofoca pode ser extremamente

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desastrosa na vida de uma pessoa, família, comunidade ou país. Na economia, boatos têm a capacidade de mudar o desempenho das ações no mercado financeiro. Nas relações comunitárias, quer no ambiente religioso, no trabalho ou entre amigos, as fofocas têm o poder de gerar suspeitas, julgamentos e alterar comportamentos. Tudo isso, muitas vezes, como fruto de comentários maldosos cuja intenção não é construtiva, mesmo que quem a promova não queira, concretamente, o mal da outra pessoa. Todavia, o não querer não a impede de gerar tal mal quando se põe a falar. A carta de Tiago, no capítulo 3, fala da imensa dificuldade no controle da língua, mostrando sua ação destrutiva a partir de pequenas e insignificantes palavras, da mesma forma como uma pequena fagulha tem, em si própria, o potencial de destruir toda uma floresta. A fofoca funciona baseada num sistema de alimentação. A informação trazida é valorizada quando o


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Infelizmente, a igreja não é uma comunidade exemplar nesse assunto. Praticamos a fofoca como se fosse um esporte. Ela nos dá prazer. Ela nos alivia. Dá-nos uma falsa sensação de liberdade, de autonomia, de poder falar e ouvir livremente.

receptor a acolhe (ouvindo), sendo potencializada quando este a devolve ao emissor através de qualquer sinal de aprovação, curiosidade ou interesse, que dá àquele o estímulo para seguir adiante. Em outras palavras, o fofoqueiro só existe porque ele encontra quem o ouça com algum interesse. Assim, fazer a fofoca ou acolhê-la é praticamente a mesma coisa. Lados de uma mesma moeda. Mas não há nada de novo aqui. Você, certamente, já sabe de tudo isso. No entanto, a fofoca continua correndo solta (e, muito provavelmente, continuará) dentro da sua igreja, sua sala de aula, seu escritório. Você – e eu – podemos facilmente continuar dando ouvidos ou propagando coisas quando tais nos interessarem, mesmo sabendo que isso não gere nada de bom. O que fazer, então? Penso que é útil refletirmos acerca do que está por trás da fofoca. O que ela oculta – ou o que revela acerca daquele que a faz ou que a acolhe. Talvez se fizermos uma autoavaliação, examinando o ambiente em que estamos e as pessoas com quem convivemos, possamos diminuir o prazer e a peçonha que as fofocas produzem. Assim, da próxima vez que alguém procurar você para contar alguma – ou quando você for tal agente – tente pensar: o que está por trás desse desejo de falar ou ouvir acerca da vida de outra pessoa? Pode ser que você descubra coisas inusitadas, tais como intenções escusas, desejos de manipulação, inveja, raiva, sentimentos de inferioridade, presunção, sede de poder, desejos destrutivos, rancor, ódio, maldade ou, simplesmente, o

insaciável prazer de falar e ouvir sobre a vida alheia. Não é tarefa fácil nos vermos totalmente livres da fofoca. Parece que ela está por demais arraigada em nós. Porém, é importante discernir o grau de comprometimento que esta pode trazer para uma determinada situação. Ainda usando o exemplo da carta de Tiago, é preciso discernir se aquela fagulha está sendo lançada sobre um asfalto quente ou sobre uma floresta seca: avalie o grau de destruição que tal comentário pode gerar. Há incêndios criminosos em florestas, tal como há cidadãos incautos que lançam uma bituca de cigarro acesa pela janela do carro numa avenida movimentada na cidade. Ambas são ações indevidas. Porém, a capacidade destrutiva da primeira é infinitamente maior que a da segunda. Infelizmente, a igreja não é uma comunidade exemplar nesse assunto. Praticamos a fofoca como se fosse um esporte. Ela nos dá prazer. Ela nos alivia. Dá-nos uma falsa sensação de liberdade, de autonomia, de poder falar e ouvir livremente. Porém, ela é, em última instância, uma atitude covarde. Ao promover ou abrigar a fofoca, deixamos de falar ao outro, para falar do outro. Isso nos infantiliza, tornando-nos imaturos e impedindo-nos de exercitar o quão libertador pode ser falar diretamente a alguém aquilo que está no nosso coração ou aquilo que vemos, percebemos ou imaginamos acerca daquela pessoa. Enquanto comunidade cristã, tornamo-nos menos do que poderíamos ser e perdemos força. Todas as coisas que Jesus teve de

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dizer ele o fez claramente diante de quem precisava ouvir. Sempre falou ao outro, nunca do outro! Imagine Jesus fazendo comentários com João acerca das pisadas na bola de Pedro! Isso seria impensável. Não apenas porque não caberiam fofocas na boca de Jesus, mas porque sabemos que isso desestruturaria todo o grupo de discípulos e não faria com que eles crescessem, gerando tensões e divisões internas no grupo. Pois bem, quando fazemos o oposto do que Jesus fazia (deixando de falar as coisas para as pessoas, em vez disso, falando delas por trás), tornamos as relações cristãs fracas, imaturas e permeadas pela hipocrisia. Minamos o solo santo das relações humanas e nos diminuímos enquanto pessoas. Incêndio se combate com água e coragem; fofoca também! Um bom balde de água fria corta imediatamente o ânimo de quem está trazendo uma fofoca fresquinha. Mas pra isso é preciso ter coragem: coragem de renunciar ao prazer de ouvir o que vai ser dito, bem como coragem para frustrar o promotor da fofoca – para o próprio bem dele mesmo. Portanto, olhe para Jesus e aprenda com ele a ser franco e direto, não falando dos outros, mas desenvolvendo a habilidade para falar aos outros, sobre qualquer coisa que você queira, com respeito e humildade. Isso certamente o converterá numa pessoa mais madura, mais autêntica e mais confiável! Taí uma notícia que você pode espalhar pra todo mundo! O Rev. Wanderley, intérprete e tradutor, é pastor da IPI do Brasil

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SAÚDE Os alimentos, tanto os naturais como os processados, podem conter vários tipos de gordura. Alguns tipos têm efeitos positivos à saúde, aumentando o HDL, que é o “colesterol bom”, enquanto outros podem ser prejudiciais, aumentando o nível de LDL, o “colesterol ruim”

As Gorduras na

alimentação

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GISELE ROCHA

Quando falamos em uma alimentação equilibrada, não devemos nos esquecer das gorduras. Embora muito se diga mal sobre elas, não podemos deixar de mencionar que as gorduras também possuem funções importantes. Essas substâncias atuam conferindo sabor, aroma e modificando a textura dos alimentos, tornando-os mais saborosos e apetitosos. Além disso, são importantes fontes de ácidos graxos essenciais (substâncias que não são sintetizadas pelo organismo e que participam de importantes funções orgânicas) e facilitam a absorção de vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D, E e K). Os alimentos, tanto os naturais como os processados, podem conter vários tipos de gordura. Alguns tipos têm efeitos positivos à saúde, aumentando o HDL, que é o “colesterol bom”, enquanto outros podem ser prejudiciais, aumentando o nível de LDL, o “colesterol ruim”. Porém, mesmo os tipos de gorduras benéficas devem ser consumidas com moderação, pois qualquer tipo de gordura contém mais calorias do que proteínas e carboidratos. As gorduras são substâncias altamente calóricas (cada grama fornece 9 calorias) e, por isso, não podem ser consumidas de forma indiscriminada. A proporção de gordura na dieta também deve ser observada. Segundo as recomendações da American Heart Association, o total de gordura na alimentação não deve ultrapassar 30% do valor calórico total da dieta. Na prática, algo próximo desta proporção pode ser obtido evitando-se preparações ricas em gordura (principalmente frituras imersas em óleo) e controlando-se o consumo de alimentos ricos em gordu-

ras, como leite integral e seus derivados, manteiga, chocolate, carnes gordurosas e outros. Recomenda-se usar leite e derivados desnatados ou do tipo “light”, alternar o uso de manteiga e creme vegetal (margarina), retirar as gorduras das carnes e peles de aves antes do preparo. Tudo isso já é um bom começo! Os alimentos podem ser preparados refogados, a vapor, cozidos ou assados com óleo vegetal rico em poliinsaturados (como canola, milho, girassol ou soja) e o azeite de oliva pode ser utilizado no tempero de saladas e em preparações. No Brasil, o óleo mais consumido é o de soja, ficando o restante dividido entre os óleos de milho, girassol, canola e azeite. Mas o óleo de soja não é o mais indicado para uma boa saúde. Percebe-se que este consumo se deve ao seu custo. Temos gordura de origem vegetal e animal. As gorduras de origem vegetal - os óleos vegetais não contêm colesterol, mas diferem entre si quanto à composição dos ácidos graxos. As gorduras ricas em ácidos graxos poliinsaturados e monoinsaturados ajudam a diminuir o LDL. As gorduras de origem animal - consideradas saturadas (ou ricas em ácidos graxos saturados) - atuam aumentando o LDL (“mau” colesterol) e diminuindo o HDL (“bom” colesterol). Temos diferentes tipos de gorduras nos alimentos: insaturadas, saturadas e gorduras trans. Gorduras insaturadas podem ser divididas em: monoinsaturadas, poliinsaturadas. Esses dois tipos de gorduras têm um efeito positivo para a saúde. Podem ser encontradas nos seguintes alimentos: azeite de oliva, óleo de canola, óleo de milho, amêndoa, nozes, castanha do Pará, abacate, semente de linhaça, peixes (ômega - 3, 6, 9) e outros.

Dra. Gisele Rocha

Gorduras saturadas têm efeito negativo em nossa saúde. Podem ser encontradas em carnes vermelhas e brancas gordurosas, bacon e banha de porco, miúdos e vísceras, pele de aves, azeite de dendê, laticínios integrais e outros. Gorduras trans são encontradas em produtos industrializados, após um processo de hidrogenação de óleos vegetais (como acontece com a margarina), biscoitos industrializados, salgadinhos de pacote, sorvetes e outros. A gordura trans deve ser evitada, pois estudos indicam que o consumo de gorduras trans em maiores quantidades está ligado ao desenvolvimento de doenças do coração. Então, o que fazer mediante tantos cuidados? A solução é termos uma alimentação rica em alimentos integrais, verduras, legumes, frutas e maior consumo de fibras. Evite alimentos ricos em gorduras e açúcares simples. Beba mais de 1,5 litros de água por dia e use o benefício dos alimentos funcionais com uma alimentação quantitativa e qualitativamente correta. Assim, teremos uma dieta balanceada, proporcionando nutrição ao nosso corpo e melhor qualidade de vida. A Dra. Gisele é nutricionista (especialista em Nutrição Clínica), e membro da 1ª IPI de São Paulo, SP

Consultório: Rua Santa Virgínia, 68 A - Tatuapé | Fones: (11) 2097-0079 / 2097-0089 / 7247-5713 | Email: giselesrocha@uol.com.br

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CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

DE 4 1 AGOSTO

DIA DE COMBATE À

POLUIÇÃO

Muito além do

“ecologicamente correto”

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“Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Gn 2.15). A Revista da Família

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EVANDRO RODRIGUES

Há quem não consiga imaginar outra forma de viver que não seja na cidade grande, cercado de conforto, livre de insetos e pequenos animais, e rodeado pelas facilidades que a tecnologia proporciona. Porém, muitas pessoas que hoje vivem na cidade sentem imensa saudade do passado no campo, sem muitos recursos, é verdade, mas respirando ar puro, ouvindo o canto dos pássaros, em contato direto com a natureza. Lembro-me dos dias no sítio da Tia Iraci, na terra roxa do Estado do Paraná. Banho de rio, pesca de lambari com minhoca, botar sal na cocheira, lavagem aos porcos, milho e sobras da janta para as galinhas de manhã. Não havia eletricidade. Levantava-se com o nascer do sol e, ao cair da noite, as lamparinas auxiliavam nas últimas tarefas do dia, antes de ir dormir. E os grãos de café torrado, que colocávamos no moedor manual para se obter aquele pó cheiroso? Aí era só encher a caneca, que acompanhava o enorme pão feito no forno de tijolos. Os dias de culto eram verdadeiras aventuras para uma criança como eu. Para irmos à igreja ainda havia alguma luminosidade entre os carreadores de café. Na volta, porém, a única iluminação eram a lua (quando era noite de céu aberto) e as incontáveis estrelas. Na linguagem de lá, saudade é mato (só faz crescer)! Com o passar do tempo, os avanços tecnológicos mudaram radicalmente a maneira de nos relacionarmos com a natureza. O ser humano foi capaz de domá-la, subjugá-la e extrair dela o máximo para seu desenvolvimento, conforto e prazer. Não há como negar os benefícios desses avanços. Tomar um banho de chuveiro aquecido, dormir em uma cama quente, em uma casa protegida, andar de carro, transpor milhares de quilômetros sobre os ares e conversar em tempo real com pessoas queridas, mas distantes, são apenas alguns exemplos de como a vida melhorou. Porém, todo esse conforto tem um preço. Preço este que, indubitavelmente, não foi calculado pelos pioneiros, inventores, descobridores que utilizaram a enorme capacidade criativa dada por Deus aos

seres humanos. E, assim, todos se movem, se mexem, buscando acesso aos benefícios do desenvolvimento. As pessoas que ficaram no campo não precisam mais utilizar a força física tão intensamente. Para quem pode pagar, existem máquinas que preparam o solo, plantam e colhem, de forma infinitamente mais rápida e eficiente. Outros entenderam que só teriam acesso se viessem para a cidade, trabalhar nas fábricas, na construção civil, em contato direto com as maravilhas inventivas que trazem avanço e prosperidade. Como cantou Belchior: “Era uma vez um cara do interior, que vida boa, água fresca e tudo mais. Rádio notícia de terra civilizada entrou no ar da passarada, e adeus paz. Agora é vencer na vida, o bilhete só de ida, da fazenda pro mundão”. Para garantir o progresso, existe um elemento fundamental: a energia. Energia para acender a lâmpada, para mover os carros, os trens, os aviões. Energia para manter as máquinas funcionando, a televisão e o computador ligados. Logo percebeu-se que era necessário encontrar maneiras de obter energia em larga escala. Além da eletricidade, novas fontes foram encontradas, desde o carvão mineral e vegetal, combustíveis fósseis até o sofisticado sistema de enriquecimento de urânio, que produz energia térmica. Assim, é na produção de energia que o ser humano passa a pagar o mais alto preço pelos benefícios que obteve. O que sobra da produção de energia é descartado na natureza, contaminando-a. A queima de combustíveis vai para a atmosfera; o mercúrio proveniente da produção de energia elétrica pode causar graves doenças; os resíduos da produção atômica (urânio) são altamente cancerígenos e, até o momento, não se sabe exatamente a melhor forma de descarte, sendo que toneladas de dejetos foram lançadas ao mar, em tonéis que podem, um dia, se abrir. Desta maneira, para garantirmos nosso confortável estilo de vida, estamos, de forma irresponsável, deixando uma herança terrível para as próximas gerações. Será que temos esse direto? E o que nós, cristãos, temos haver com tudo isso? Creio que muito. Todo avanço

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Diante do tribunal de Deus, como vamos prestar contas à ordem que Ele nos deu de zelar pela casa que nos concedeu para morar? humano, ao longo da história, possui uma força subjacente poderosa: a religião. Desde a Idade Média, a arquitetura romântica e gótica deseja mostrar a grandeza e majestade de Deus, diante da pequenez humana. Por isso se construíam catedrais gigantescas, espoliando populações miseráveis, degradando os recursos naturais. Há relatos de povos que, após serem “cristianizados”, foram convencidos a derrubar suas florestas para a construção de uma “casa digna para Deus”. Ao deteriorarem seus recursos, foram erradicados. A lógica protestante de que o acúmulo de riquezas é sinal da bênção de Deus também contribuiu historicamente para o avanço dessa relação perversa com a natureza, tirando dela mais do que o necessário para nossa subsistência. Assim, a humanidade chega mais uma vez a uma encruzilhada na linha da história. Nosso estilo de vida possui intrinsecamente uma conta que não fecha. O capitalismo prega o avanço ilimitado. Porém, ele depende exclusivamente dos recursos naturais para avançar. E esses recursos são limitados. O combate à poluição é algo que vai (ou deveria ir) muito além de campanhas “ecologicamente corretas”. Nessas ações, mesmo com aparência de cuidado com o meio-ambiente, há a mesma lógica perversa de mercado. Elas são promovidas e financiadas por agentes da sociedade que visam apenas um objetivo: o

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lucro. A embalagem e o automóvel menos poluentes, no final das contas, vão proporcionar aos idealizadores exatamente o mesmo resultado que vinham obtendo. Ou seja, convencem o consumidor de que seus produtos são melhores para o planeta, avançando sobre a concorrência, fisgando mais um nicho de mercado. O que precisamos, no combate à poluição, é de uma nova consciência. E a proposta do evangelho é exatamente esta. Viver uma lógica diferente daquela que o mundo vive. Jesus ensinou a não acumular, mas repartir. Mostrou-nos que o valor do ser humano não está nos bens que possui, pois de nada adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma. De fato, o ser humano ganhou o mundo, controlou a natureza, mas perdeu sua alma; perdeu sua essência; esqueceu-se que é apenas um mordomo de Deus, colocado neste belo jardim para cuidar. Temos uma grande esperança no futuro. Uma nova casa, junto a Deus e aos santos. Mas, e até lá, o que vamos fazer? Diante do tribunal de Deus, como vamos prestar contas à ordem que Ele nos deu de zelar pela casa que nos concedeu para morar? Talvez Ele nos questione: você quer uma casa nova, mas por que deixou a antiga em frangalhos? O Evandro é membro da IPI de Vila Brasilândia, São Paulo, Capital


HABILIDADES

Faça com excelência

ELAINE GOMES

Ao invés de passar dicas práticas sobre decoração, vou falar sobre dois acontecimentos que me envolveram nestes últimos dias. Um deles é o mais importante evento de decoração do país chamado CASA COR. Em São Paulo, está acontecendo entre os dias 29 maio a 22 de julho; o evento reuniu arquitetos e designers de renome de todo o país, bem como as tendências e últimos lançamentos em tecnologia e design em um único lugar. Visitem o evento e conheçam as novidades. Sem dúvida nenhuma, a maioria dos projetos é desenvolvida de forma bem conceitual. Esta é a ideia da mostra: a criatividade em alta e as inúmeras possibilidades de construção. Os arquitetos e designers expõem suas habilidades e reforçam sua marca no mercado. Vale a pena conferir o resultado deste lindo trabalho.

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Visitem nosso espaço: “Sala do bem estar”. E, falando ainda de trabalho, ouvi uma frase nestes dias que me impressionou muito e negativamente. Um empresário confessou não admitir funcionários cristãos por ter dificuldades com os resultados do trabalho. Assustei-me e, infelizmente, tem sido a realidade em alguns casos. O curioso é que Deus nos ensina a sermos completamente diferentes e o que acontece é que, por ignorância de muitos, temos sido envergonhados por essa realidade. Uma mensagem falou muito ao meu coração sobre o texto onde João Batista exorta o povo às margens do rio Jordão: “Produzi frutos dignos de arrependimento”. Isso é muito abrangente! É o mesmo que dizer: ande de acordo com o maior e mais valoroso acontecimento da sua vida; afirme diariamente (sem palavras) a mudança que você

viveu; o encontro com Cristo é o maior acontecimento de nossa vida e o mais importante, é o que faz de nós o que somos. Isso deve ser impactante a ponto de causar mudanças profundas e incontestáveis em nós. Tudo o que vier de você e de mim deve ser excelente; deve ser pautado pela justiça e amor de Deus. E é assim que deveríamos ser reconhecidos no meio da multidão: impressionando positivamente. Precisamos alinhar nossos valores à verdade bíblica e resgatar o que se perdeu. A Bíblia nos ensina: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo” (Cl 3.23-24). A Elaine é designer de interiores, formada pela FMU em 2006, trabalha com projeto e execução de móveis há 15 anos e é presbítera da 1ª IPI de Jardim das Oliveiras, São Paulo, SP

E os enchi do Espírito de Deus, dando-lhes destreza, habilidade e plena capacidade artística (Ex 31.3) A Revista da Família

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CRIANÇAS

O que eu quero e o que eu necessito... DANIELA WELTE (TIA PINK)

"O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus” (Fp 4.19).

Ajude-me a encontrar as coisas que eu necessito para viver, aquelas que, se eu não tiver, posso até morrer. Faça um círculo em volta do desenho. Peça a ajuda de um adulto, se você não conseguir, ok?

skate

sorvete

comida

video game

água

celular

boneca cama casa

Que legal, você viu? Deus nunca vai deixar faltar o que realmente necessitamos. Então, não precisamos fazer birra porque queremos aquela mochila com desenho da TV ou as roupas da moda. Deus sabe o que precisamos de verdade. Parabéns! Você aprendeu direitinho!

Deus sempre cuidou do seu povo e deixou a história dele escrita pra gente sempre lembrar que Ele nunca vai nos abandonar, mesmo nos momentos difices. Olhe a história de Elias. Peça a ajuda da mamãe ou do papai para você encontrar na Bíblia: 1 Reis 16.29 a 33 e 1 Reis 17.1 a 6 e 17. 8 a 15 Encontre o caminho que o corvo deve percorrer para levar o pão até o profeta Elias:

66 Al Alvorada lvo orada a

AR Revista evissta d da a Fa Família amíllia

n nºº 70 jjulho/agosto/setembro, ulho/a agosto o/setem mbro, 2 2012 012


Complete a cruzadinha com o nome dos bichos e descubra na coluna em destaque o nome do lugar onde morava a viúva que ajudou Elias no periodo de fome:

Criança tem que brincar!

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu" (Ec 3.1). Dica da tia Pink: Brincadeira da época da mamãe: Jogo 5 Marias! Não tem só computador, tv, videogame. Antigamente, a mamãe e o papai não tinham isso e brincavam muito. Pergunte pra eles!

• • •

1º - Joga-se todas as peças para cima e tenta-se aparar o máximo delas com as costas da mão. Cada peça que fica nas costas da mão vale dez pontos. 2º - Joga-se uma das peças (à escolha de um dos adversários) para cima e, antes que esta caia, pega-se outra do chão (neste momento, fica-se com as duas na mão) e, em seguida, separa esta uma que foi pega ao lado. Este movimento (jogar, pegar, separar) é chamado de jogada e repete-se até que acabem as peças. 3º - Igual à fase dois, mas nas jogadas pega-se duas peças por vez. 4º - Igual à fase dois, com uma jogada pegando uma e outra pegando três. 5º - Com as cinco na mão, joga-se uma para cima e coloca-se as outras quatro no chão. Joga-se esta uma pra cima de novo e pega-se as quatro.

6º - Faz-se um gol com uma mão (polegar e indicador no chão) e, enquanto se joga uma peça para cima, dá uma palmadinha numa das peças do chão para que estas passem por dentro do gol. A última deve ser empurrada para o gol com uma única palmadinha. As demais, com duas. Cada vez que a pessoa termina esta seqüência, volta ao início, somando-se os pontos da jogada anterior. Se um jogador errar, ele passa a vez para o adversário e, quando voltar a ser sua vez, ele pode continuar do início da fase em que tinha parado. Para iniciar as jogadas 2, 3 e 4, as peças devem ser jogadas no chão (e não colocadas). As peças podem ser, além de pedras, saquinhos (mais ou menos 3x4 cm) de tecido cheios de arroz, sementes e tudo mais que a imaginação permitir.”

A Daniela é coordenadora regional de crianças do Presbitério

ASudoeste Revista Revi istadeda F Família amítrabalha ília nºcom 70 0 julho julho/agosto/setembro, /agossto/sete eInfantil mbro o, 2012 Alvorada Alvo oerada da a 67 7 Minas, o oMinistério da Tia Pink Dr. Cabeça (Rev. Marcus Welte, pastor na IPI de Alterosa, MG)


RECEITA

Bolo Bomba da Mamãe DANIELA WELTE (TIA PINK)

Essa receita fiz depois que fechei a chocolateria, em Alterosa, MG, num momento de saudades de criar... Ficou uma delícia! Fácil de fazer, você assa o bolo com o recheio e fica pronto rapidinho! A mamãe continua a mesma, gosta de coisas práticas, rápidas e deliciosas! Receita ótima pra receber as amigas. O nome foi minha filha Bruna quem deu. xPara o creme do recheio: • 2 copos de leite (requeijão); • 2 colheres de sopa de maizena; • 1 gema; • 1 lata de leite condensado; • 1 caixinha de creme de leite (pode por com soro). Leve tudo para o fogo, menos o creme de leite. Mexa bem até engrossar. Espere esfriar. Misture o creme de leite e reserve. Enquanto esfria, vá batendo a massa! xPara a massa: • 3 xícaras de (chá) farinha de trigo; • 1 xícara de (chá) leite; • 3 ovos; • 2 xícaras (chá) açúcar (refinado); • 2 colheres (sopa) manteiga; • 2 colheres (sopa) bem cheia de fermento em pó. Eu bati esse bolo assim: ovos (clara e gema), açúcar, manteiga, na batedeira; acrescentei o leite, a farinha

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e, por último, o fermento. Unte e enfarinhe uma assadeira. O tamanho dela é importante. A minha tem 29X40 por 7 (se você não tiver deste tamanho, coloque em uma maior, nunca menor). Coloque metade da massa e esparrame bem. Coloque o creme do recheio frio e cubra com resto da massa. Leve para assar em forno a 160º. xCobertura 1 (da foto): Derreta 300g de chocolate ao leite e cubra o bolo. Leve pra gelar pra endurecer a cobertura e gelar o creme. Corte os pedaços e decore com cereja, se quiser. (Para fazer os desenhos no prato, coloque o chocolate derretido em um saquinho, corte a pontinha e vá desenhando.) x Cobertura 2: 200 g de chocolate, uma caixa de creme de leite. Essa receita fica mais mole, para quem não gosta do crocante do chocolate durinho. xCobertura 3: Faça uma receita de brigadeiro mais molinho e cubra o bolo. xCobertura 4: Pode ser feita a mesma cobertura do bolo de cenoura, com açúcar, manteiga, leite e chocolate em pó. Bom apetite!!! A Daniela é Coordenadora de Crianças do Presbitério Sudoeste de Minas


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nÂş 65 abril/maio/junho, 2011


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