capa_final.pdf
1
5/4/2010
18:35:45
Boa leitura!
ISBN 978-85-7655- 267-3
9 788576 552673
Mestres da Comunicação
Rosemary Bars Mendez é doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de Piracicaba, professora de Jornalismo da PUC Campinas e da Universidade Metodista de Piracicaba, onde também leciona no curso de pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo. Atuou durante 25 anos na mídia impressa regional; recebeu Prêmio de Jornalismo Ambiental em 2000 e indicação ao Prêmio Esso de Jornalismo Regional em 2002. Trabalha com jornalismo impresso, jornalismo on-line, História e Ética da imprensa e na área de gestão de conteúdos.
Nos anos recentes, nota-se um aumento significativo de pesquisas sobre o pensamento comunicacional brasileiro. Contudo, ainda há pouca informação sobre os seres humanos que estão por trás da abertura dessa fronteira caracterizada pelos estudos da área no país. Pioneiros que delimitaram esse campo do conhecimento, firmando as bases sobre o que se entende por ensino, pesquisa acadêmica e, em alguns casos, até pela prática da Comunicação Social brasileira. Para suprir essa lacuna, dez pesquisadores contemporâneos propuseram-se ao desafio de escrever, cada um, o perfil de um profissional de destaque da área. O resultado você tem em mãos: textos que trazem a história de vida de Norval Baitello Junior, Jair Borin, Wilson Bueno, Dulcília Buitoni, Carlos Chaparro, Boris Kossoy, Edvaldo Pereira Lima, Cremilda Medina, José Marques de Melo e Lucia Santaella.
Monica Martinez · Rosemary Bars Mendez (Organização)
Monica Martinez, jornalista, é doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e pós-doutora pelo Programa de PósGraduação em Comunicação Social (Póscom) da Universidade Metodista de São Paulo. Tem como linha de pesquisa narrativas contemporâneas, jornalismo literário e escrita criativa. Atuou durante mais de vinte anos na grande imprensa em revistas de circulação nacional, como Manchete (Bloch Editores) e Saúde! (Editora Abril). É autora de Jornada do herói: estrutura narrativa mítica na construção de histórias de vida em jornalismo (Annablume/Fapesp, 2008), entre outros.
Mestres da Comunicação Monica Martinez · Rosemary Bars Mendez (Organização)
Pode parecer batido recorrer aos dicionários para definir uma obra, mas, neste caso, a busca ao verbete realmente faz sentido. Vejamos: segundo o dicionário Houaiss, por exemplo, mestre significa uma pessoa dotada de excepcional saber, competência, talento em qualquer ciência ou arte. Mestre também é aquele que ensina, que obteve o grau de mestre. Um artífice em relação aos que são seus aprendizes. Uma pessoa que orienta, que dirige os trabalhos. Em alguns casos, como no da arte, um mestre forma discípulos e pode fundar uma escola; alguém que ultrapassa os limites habituais, servindo de base, guia. Se fosse para definir em uma única palavra, bastante contemporânea, poderíamos dizer que mestre é um mentor, alguém que exerce uma profunda influência intelectual sobre uma ou mais pessoas que, por determinado tempo – ou às vezes uma vida inteira – estão sob sua orientação. Não temos dúvida de que todos os dez perfilados neste livro se incluem nessas categorias. São pensadores que ajudaram a forjar os alicerces do pensamento comunicacional brasileiro de ontem, de hoje e seguramente ajudarão o de amanhã.
ph179_5a_emenda.indb 6
1/4/2010 11:15:14
Mestres da Comunicação
ph179_5a_emenda.indb 1
1/4/2010 11:15:14
Instituto Phorte Educação Phorte Editora Diretor-Presidente Fabio Mazzonetto Diretora-Executiva Vânia M. V. Mazzonetto Editor-Executivo Tulio Loyelo
ph179_5a_emenda.indb 2
1/4/2010 11:15:14
Mestres da Comunicação
Organização Monica Martinez e Rosemary Bars Mendez
São Paulo, 2010
ph179_5a_emenda.indb 3
1/4/2010 11:15:14
Mestres da comunicação Copyright © 2010 by Phorte Editora Rua Treze de Maio, 596 CEP: 01327-000 Bela Vista – São Paulo – SP Tel./fax: (11) 3141-1033 Site: www.phorte.com E-mail: phorte@phorte.com Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por quaisquer meios eletrônico, mecânico, fotocopiado, gravado ou outro, sem autorização prévia por escrito da Phorte Editora Ltda. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M55 Mestres da comunicação / organização Monica Martinez e Rosemary Bars Mendez. - São Paulo : Phorte, 2010. 208p. ISBN 978-85-7655-267-3 1. Jornalismo - Séc. XX - Brasil. 2. Jornalistas - Brasil - Biografia. I. Martinez, Monica. II. Mendez, Resemary Bars. 09-6089
CDD: 079.81 CDU: 070(81)
25.11.09 03.12.09
016469
Impresso no Brasil Printed in Brazil
ph179_5a_emenda.indb 4
1/4/2010 11:15:14
A Rose Bars, pela ideia A Eugênio, pelo amor e incentivo A minha filha Laura, pela compreensão A todos os Comunicadores Sociais Monica Martinez
Para Monica, Pela amizade e dedicação, responsável por este livro existir Rosemary Bars Mendez
ph179_5a_emenda.indb 5
1/4/2010 11:15:14
ph179_5a_emenda.indb 6
1/4/2010 11:15:14
Agradecemos a todos os que participaram deste projeto. Aos entrevistados, que dedicaram tempo precioso às entrevistas, leituras e atualizações. Aos profissionais da editora, que transformaram páginas em Word em um livro bonito. E aos leitores, para os quais esta obra foi concebida.
ph179_5a_emenda.indb 7
1/4/2010 11:15:14
ph179_5a_emenda.indb 8
1/4/2010 11:15:14
Apresentação Este projeto nasceu no segundo semestre de 2005. O desafio foi lançado pela professora Rosemary Bars Mendez, então coordenadora da habilitação em Jornalismo do curso de Comunicação Social do UniFIAMFAAM Centro Universitário e atualmente professora da Unimep e da PUC-Campinas: “Que tal um livro de perfis de pesquisadores de Comunicação Social?” Como titular da disciplina de Jornalismo Literário e Cultural da instituição, que tem como trabalho de conclusão de curso a produção de histórias de vida, topei o desafio na hora. Pensei nos mestres com os quais tantos de nós comunicadores tivemos o privilégio de aprender, nos cursos de graduação, mestrado e doutorado, que possuíam produção acadêmica considerável, mas, às vezes, nenhum perfil aprofundado que revelasse o ser humano por trás da obra. Deu-se, então, início ao processo de convidar autores para a produção textual. A premissa básica era buscar pessoas que escrevessem bem e tivessem vínculo além do acadêmico com as personagens. Conforme o projeto se clareava, outra questão ficou estabelecida: não se tratava de redigir um currículo, afinal o Lattes (documento eletrônico do CNPq que abriga a história acadêmica dos docentes universitários brasileiros) está acessível para quem realizar uma busca na internet. A ideia, como o colaborador/filósofo Dimas A. Kunsch bem definiu, era produzir um desLattes. Era usar o currículo apenas como fio condutor para ressaltar o aspecto humano da personagem. No auge do processo produtivo, muitos autores se disponibilizaram a seguir um modelo, se houvesse. Embora minha tese de doutorado tenha sido justamente sobre a jornada do herói, estrutura narrativa mítica aplicada na construção de histórias de vida em Jornalismo, entendi que a proposta deveria ser aberta: cada um produzir um perfil autoral, estabelecendo os pontos que julgasse fundamentais para a compreensão do perfilado, de forma que o texto fosse o mais saboroso e pessoal possível. O resultado você comprova nas próximas páginas. Para abrir o livro, Dimas A. Kunsch escreve sobre Norval Baitello Junior, expondo a vida desse pesquisador que bebeu nas fontes do tcheco Ivan Bystrina e dos alemães Dietmar Kamper e Harry Pross para criar uma teoria da mídia. Modesto demais para assumir tal rótulo, como tantos pioneiros, Baitello gosta mesmo de cultivar os
ph179_5a_emenda.indb 9
1/4/2010 11:15:14
campos de seu sítio em Mairinque, no interior do estado paulista, onde entre uma ideia e outra semeia alhos-porós e garlic chive, erva de origem africana, meio cebola, meio alho, que orgulhosamente exibe aos visitantes. Jaqueline Lemos faz um tributo a Jair Borin, docente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo falecido em 2003. Natural do campo, de Adamantina, Borin era conhecido por sua militância política, por ser um defensor da reforma agrária, da democratização dos meios de comunicação e da necessidade de um ensino público, gratuito e de boa qualidade. Seguem-se as deliciosas revelações, feitas de forma absolutamente espirituosa por Arquimedes Pessoni, que trouxe à tona a mania futebolística de Wilson Bueno, um dos maiores especialistas do país em comunicação empresarial. Bueno até mandou construir um armário para abrigar sua coleção de cerca de oitocentas camisas de times diferentes, todas devidamente bordadas nas costas com o logotipo Buenão. Paulo Sérgio Pires resgata a infância difícil de Manuel Carlos Chaparro, outro mestre de origem portuguesa que, com sua pragmática do jornalismo, expõe muitas idiossincrasias do nosso ofício de narrar a realidade da melhor forma possível. Rodrigo Capella, um pesquisador extremamente jovem, mas pleno de garra, encantou-se e, por meio de seu olhar, encantamo-nos com o monumental Boris Kossoy, o redescobridor de Hercule Florence, francês naturalizado brasileiro que inventou a fotografia muito antes de outro francês mais conhecido internacionalmente, Daguerre. Gisely Hime, especialista em História do Jornalismo Brasileiro, desvenda a vida e a obra de Dulcília Buitoni, uma das pioneiras da Escola de Comunicações e Artes que agora disponibiliza sua expertise no programa de pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero. Para o perfil de Edvaldo Pereira Lima, o idealizador do jornalismo literário avançado, empreguei o método que une a jornada do herói, inspirada nos estudos do mitólogo norte-americano Joseph Campbell, e a Biografia Humana, concebida pela médica brasileira Gudrun Burkhard a partir dos trabalhos do filósofo austríaco Rudolf Steiner. Ao término, percebi que havia feito 315 questões a Edvaldo, que, com sua costumeira generosidade, respondeu a todas com boa vontade. Já o jornalista colombiano Raul Osório Vargas tira partido de seus anos de convivência com Cremilda Medina (ela o orientou no mestrado e no doutora-
ph179_5a_emenda.indb 10
1/4/2010 11:15:15
do) para escrever sobre a profissional. No texto, ele emprega seus conhecimentos de reportagensaio para inserir-se delicadamente na narrativa. Orientada no mestrado e no doutorado por José Marques de Melo, nada mais natural que Rosemary Bars Mendez propusesse escrever a história de vida desse pilar do pensamento comunicacional latino-americano. Organizador notável, Marques de Melo fundou várias sociedades científicas e tem um volume de publicações exemplar. Finalmente, o cotidiano da pesquisadora cujo nome é sinônimo de Semiótica no país, Lucia Santaella, é delineado por Vinicius Romanini, que conta a nova incursão da profissional pelos inusitados campos do videogame e da matemática. Três anos se passaram até que esta obra finalmente chegasse ao mercado, graças ao apoio da Phorte Editora. Queremos, portanto, deixar registrada nossa gratidão ao editor-executivo, Túlio Loyelo, que acolheu a ideia desde o início, e à assistente editorial Talita Gnidarchichi, que cuidou carinhosamente do projeto até sua impressão. Não tenho dúvidas de que a produção desses perfis reforçou os laços jornalísticos, acadêmicos e criativos de autores e perfilados. Espero também que a obra possa reforçar o apreço dos leitores não somente pelos profissionais, cuja saga aqui é narrada, mas também pelo mundo da pesquisa em Comunicação. Afinal, como diz Baitello, “Comunicação é vínculo”.
Monica Martinez Organizadora São Paulo, outubro de 2008
ph179_5a_emenda.indb 11
1/4/2010 11:15:15
ph179_5a_emenda.indb 12
1/4/2010 11:15:15
Prefácio Há vários meses, por meio de uma mensagem eletrônica, minha amiga Rosemary Bars Mendez, cujas dissertação de mestrado e tese de doutorado tive o prazer de orientar na Universidade Metodista de São Paulo, pediu-me uma entrevista pessoal. Como nossas agendas não se combinaram, Rose preferiu fazer a entrevista pela internet. Mandou um questionário, a que respondi pouco tempo depois. Nada mais soube do uso daquele material. No primeiro semestre deste ano, Monica Martinez me procurou na Cátedra Unesco da Metodista, informando que voltava à nossa universidade, onde se diplomara em Jornalismo, para fazer pós-doutorado. Ela naturalmente havia conquistado, nesse ínterim, os títulos de mestre e de doutora em Ciências da Comunicação, pela Universidade de São Paulo. Mantivemos, então, um agradável colóquio sobre o objeto de pesquisa do seu doutorado, Jornalismo Literário, mas não chegamos a um consenso sobre o significado e o alcance desse. Enquanto Monica tem uma concepção substantiva, meu entendimento é de natureza adjetiva. Voltamos ao tema quando Monica retornou do Colóquio Brasil-Estados Unidos de Ciências da Comunicação, em que apresentou um estudo comparativo sobre o exercício do jornalismo literário, lá e aqui. Na sequência, Monica me deixou um dossiê, com dez perfis de professores de comunicação, solicitando um prefácio para a obra a ser publicada brevemente. Entretanto, ao examinar o dossiê, constatei que eu também era personagem daquela narrativa. Estava ali o perfil escrito por Rosemary Bars Mendez, tendo como referência a entrevista antes mencionada. Em face disso, senti desconforto com relação ao pedido do prefácio. Quando Monica voltou a me procurar, pedi desculpas, tentando escapar da tarefa. Minha justificativa era simples e direta, mas pareceu ineficaz. Persistente, a colega não desistiu do seu intento. Que fazer? À guisa de prefácio, relato algumas impressões suscitadas pela leitura do original. O que me chamou atenção foi o lugar em que estão situados os biografados. Todos eles pertencem ao corpo docente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo ou por ela transitaram.
ph179_5a_emenda.indb 13
1/4/2010 11:15:15
Nesse contexto, parecia estar em casa, mas ao mesmo tempo senti-me deslocado no tempo. Remanescente da geração dos fundadores, encontrei ali vários ex-alunos. Alguns da graduação e/ou da pós – Wilson Bueno, Dulcília Buitoni, Jair Borin –, outros somente do mestrado – Edvaldo Pereira Lima – ou do doutorado – Cremilda Medina e Manuel Carlos Chaparro. O único que chegou depois foi Boris Kossoy. Lendo as histórias de vida, fiquei impressionado com o cruzamento de caminhos entre as diferentes personagens. Embora dois biografados possam caracterizar-se como “filhos da PUC”, a maioria é constituída por “filhos ou netos da USP”, onde cursaram a graduação e/ou a pós-graduação. As próprias exceções confirmam a regra. Embora suas carreiras venham se desenvolvendo na PUC, Lucia Santaella conquistou na ECA-USP seu título de livre-docente. Por sua vez, Norval Baitello já atuou como professor-visitante do Departamento de Audiovisual dessa mesma instituição. Intrigou-me, desde o início, a seleção daqueles dez professores. Por que exatamente eles, e não outros? Como justificar a amostra pesquisada? As organizadoras me convenceram de que o método usado foi coerente com a estratégia de organização do grupo. Tratou-se de amostra derivada. Seu ponto de partida foi a definição dos autores dos perfis. A equipe se formou numa dada circunstância, num mesmo espaço. Ou melhor, a aleatoriedade decorreu da espontaneidade. Reuniram-se dez pesquisadores, que decidiram escrever os perfis daqueles a quem tributam reconhecimento acadêmico. Cada um teve liberdade de escolher o mestre que considerava importante, por razões acadêmicas ou afetivas. Uns mais identificados com o pensamento dos antigos professores, outros mais próximos por critérios pessoais ou conjunturais. Nem todos explicam claramente suas razões. Trata-se, portanto, de um universo heterogêneo, com forte predominância dos professores de Jornalismo, em função da área de atuação de cada um deles na academia. Quero destacar a multiplicidade de entendimentos sobre o campo da Comunicação. Cada cabeça, uma sentença. Percebe-se um clima de perplexidade, em face da velocidade com que as mudanças tecnológicas fluem no campus. Daí a impressão de que a área é uma espécie de Babel high-tech, um vale-tudo desplugado. Cada um tem justificativa para sua posição. Finalmente, observei que, estando os autores dos perfis mais antenados com o lado “humano” dos seus mestres, foi natural que a dimensão cognitiva
ph179_5a_emenda.indb 14
1/4/2010 11:15:15
ficasse em segundo plano. Há naturalmente exceções, mas o conjunto mostra-se desarticulado. Aliás, essa não foi a intenção das organizadoras. Seu projeto era reunir narrativas eivadas de sensibilidade. Nesse sentido, existe uma questão a dirimir. Onde está o jornalismo literário? Disse a Monica Martinez que, do meu ponto de vista, a coletânea reúne uma boa mostra de jornalismo interpretativo – singelos perfis biográficos –, mas a ela se agregam textos mais próximos do conceito de jornalismo literário, que, a meu ver, adotam o formato de “histórias de interesse humano”, típico do jornalismo diversional. Mas essa é outra história. Quem sabe, ela possa ser retomada numa próxima rodada de perfis biográficos...
José Marques de Melo Docente fundador da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Diretor-Titular da Cátedra Unesco de Comunicação na Universidade Metodista de Comunicação São Paulo, 17 de setembro de 2008
ph179_5a_emenda.indb 15
1/4/2010 11:15:15
ph179_5a_emenda.indb 16
1/4/2010 11:15:15
Sumário 1 Vínculos Humanos: Comunicação, Corpo e Vida, 19 Norval Baitello Junior por Dimas A. Künsch 2 Um Homem da Terra e das Palavras, 43 Jair Borin por Jaqueline Lemos 3 Fritando o Peixe e Olhando o Gato, 55 Wilson Bueno por Arquimedes Pessoni 4 Mercado e Academia: Buscando a Conciliação, 71 Dulcília Helena Schroeder Buitoni por Gisely Valentim Vaz Coelho Hime 5 Um Professor e Jornalista Pragmático, 95 Manuel Carlos Chaparro por Paulo Sérgio Pires 6 Uma Vida Dedicada à Imagem, 117 Boris Kossoy por Rodrigo Capella 7 O Visionário da Comunicação, 131 Edvaldo Pereira Lima por Monica Martinez 8 O Diálogo Possível no Jornalismo Latino-Americano, 157 Cremilda Medina por Raul Osório Vargas 9 Marques de Melo, o Homem da Comunicação, 171 José Marques de Melo por Rosemary Bars Mendez 10 O Jornalismo no Olhar de uma Semioticista, 189 Lucia Santaella por Vinicius Romanini
ph179_5a_emenda.indb 17
1/4/2010 11:15:15
ph179_5a_emenda.indb 18
1/4/2010 11:15:15
1
Vínculos Humanos: Comunicação, Corpo e Vida – Norval Baitello Junior Dimas A. Künsch
Norval Baitello Junior, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade Livre de Berlim, é professor da pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC de São Paulo. Foi diretor da Faculdade de Comunicação e Filosofia dessa instituição e criou os cursos de Comunicação e Artes do Corpo e de Comunicação em Multimeios. Fundou o Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Semiótica da Cultura e da Mídia (Cisc).
ph179_5a_emenda.indb 19
1/4/2010 11:15:15
ph179_5a_emenda.indb 20
1/4/2010 11:15:15
Vínculos Humanos: Comunicação, Corpo e Vida – Norval Baitello Junior
Berlim, inverno de 1982. “Entschuldigen Sie, mein Herr! Desculpe, mas o senhor não acha que está feio desse jeito? Um jardinzinho, aí, ficaria muito bem, não é mesmo?” A janela do apartamento, no porão de um prédio antigo da cidade, Laubacher Strasse, 18, ficava localizada bem no nível da rua, e a visão não era exatamente agradável. Numa pequena faixa de terra do jardim, havia lixo, entulho, galhos. Quem sabe o dono do edifício não pudesse ser convencido a dar um jeito naquilo?! Sempre muito educado e respeitoso, Norval vai conversar com ele. A resposta foi um belo de um não: “Nein, nein, nein, Herr Baitello! Acha que paga tanto aluguel assim pra exigir até jardim na frente da janela?” Berlim, verão de 1982. A terra é escura e endurecida, pelo frio e pelo gelo do longo inverno alemão. Bem diferente da terra fofa e vermelha da distante Mirassol, no interior de São Paulo. Mas Norval e o filho Ricardo, de seis anos, estão decididos a fazer o pequeno jardim em frente à janela. Antes de chegar o verão, o pai havia estudado bastante sobre o cultivo de jardins em climas frios, o solo, as plantas, as flores. Descobrira coisas maravilhosas. Tem até uma florzinha – como é o nome mesmo? Krokus – que brota no início da primavera, quando a neve nem derreteu direito. Só a flor, sem folhas, que nem um pintinho pondo a cabeça para fora da casca do ovo. Mas, vamos lá, agora é preciso cavar. “Filho, filho!” Começam a cavoucar a terra, e a enxada bate numa coisa dura. Não era pedra, era chumbo. Bolinhas e mais bolinhas de chumbo. Chumbo de disparos e estilhaços de bombas. Um susto. De repente, as imagens da guerra, a segunda mundial, terminada quase quarenta anos antes, ocupam o pensamento e a alma do brasileiro. Ele se emociona ainda hoje ao falar do acontecido. O projeto de jardim assume então novos significados. Norval conversa com o pequeno Ricardo. As cicatrizes da guerra estavam ali, bem em frente à janela.
21
ph179_5a_emenda.indb 21
1/4/2010 11:15:16
Mestres da Comunicação
Trabalham juntos, pai e filho, agora com a missão de enterrar uma guerra. Com flores. Tulipas. Anos depois, com o pequenino jardim berlinense ainda muito vivo na memória, Norval escreveria uma crônica para o filho: As tulipas de Berlim. Ali, onde eram visíveis os sinais da dor e da morte, na Berlim ainda tomada pelas forças de ocupação, ele e o filho tinham semeado, e visto florir, a esperança. No início daquele ano de 1982, terminado o mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Norval juntara uns dinheiros que tinha e, com uma bolsa da Fundação Adenauer, fora fazer doutorado na Alemanha. Queria aprofundar o estudo do dadaísmo berlinense e dos anos 1920, suas ações por meio de folhetins e tabloides, sua crítica social e política, seu humor e sua irreverência. O dadaísmo foi “um movimento na história da arte que se pautou fundamentalmente pelo espírito lúdico”, escreve Norval em O animal que parou os relógios (1999, p. 61-62). Ele continua:
Dadá presta-se, por isso, como muito poucos movimentos artísticos, a uma reflexão sobre a contaminação do universo da lógica, da racionalidade e da atividade produtiva, portanto, do trabalho, pelo universo do lúdico. [...] O sério é desnudado e aparece sua natureza lúdica e o lúdico deixa entrever a sua profunda seriedade.
Dadá: já a palavra é uma brincadeira. O dadaísmo designa uma vanguarda modernista fundada por escritores e artistas plásticos na segunda década do século passado, em Zurique, Suíça. A palavra “dadá”, que em francês significa “cavalinho de pau”, foi escolhida aleatoriamente. Hugo Ball, um dos precursores, “abre ao acaso o Petit Larousse e esta palavra salta-lhe aos olhos: dadá. E o movimento todo passa a se chamar Dadá. O significado da palavra pouco importava”. “Você é corajoso”, felicitou-o um dia a secretária da Universidade Livre que recebeu dele as cópias da tese de doutorado, ao marcar a defesa: era o pri-
22
ph179_5a_emenda.indb 22
1/4/2010 11:15:16
Vínculos Humanos: Comunicação, Corpo e Vida – Norval Baitello Junior
meiro a optar pela disputatio, em vez da simples prova, depois de restabelecido esse hábito medieval de defesa, em que o aluno discute com uma banca sua pesquisa e as conclusões a que chegou. “Sou corajoso e sou dadaísta!”, respondeu, com orgulho, Norval. A “contaminação do universo da lógica, da racionalidade e da atividade produtiva, portanto, do trabalho”, no caso do estudioso, pesquisador, autor e professor Norval, costuma se dar, bastante, pela brincadeira com a terra. “Precisa ver como ele fica feliz quando mostra a horta e as plantas da chácara para amigos e visitantes”, conta o amigo Eugênio Menezes, também professor e pesquisador. “Tem um tal de alho-poró que ele adora. E também uma plantinha africana, meio cebola e meio alho, algo assim. Ah, e ele adora também encher o carro do visitante de verduras.” Ele ama a terra. É um “camponês disfarçado”, brinca a esposa Malena Contrera. “Ele é um homem do campo. Quando vai à chácara, incorpora até as expressões do pessoal de lá. Tem chapéu, uma camisa xadrezinha, calça jeans. É a terapia dele.”
Rádio e livros “Esse menino parece que é bobo! Estudar alemão pra quê? Se fosse pelo menos inglês...” O pessoal não é mole. Norval, o júnior, estava com 14 anos quando, um belo dia, chega uma das tias dizendo que conseguira uma bolsa de estudos para os dois filhos maiores do casal Norval e Wandira, ele e José Agostinho, hoje engenheiro (Humberto, o caçula, é jornalista). As aulas eram em São José do Rio Preto, a uns 15 quilômetros de Mirassol, com uma professora do Instituto Goethe. Precisariam de uma autorização para o ônibus, por causa da idade. O curso era noturno. Uma emoção para os dois adolescentes. A distância era pouca, mas para eles parecia longe. Combinado. Difícil era explicar para as pessoas o que fazer com a língua alemã. Norval, muito sério e inteligente, aprendeu logo a se defender: ele falava
23
ph179_5a_emenda.indb 23
1/4/2010 11:15:16
Mestres da Comunicação
que ia estudar Psiquiatria e que pretendia ler toda a obra de Freud, o famoso Sigmund Freud, em alemão. O argumento convencia. Vinte anos depois dessa entrada, para ele sem retorno, no universo da língua e da cultura alemãs, já em Berlim para o doutorado, Norval resolveria darse um presente de todo o tamanho: passou seis meses inteiros lendo exatamente quase tudo o que Freud deixou escrito. “Fui surpreendido pelo encanto de um grande escritor da língua alemã, com um estilo primoroso.” Da infância, ele lembra com enorme carinho o pai marceneiro, falecido em abril de 1987, filho de imigrantes italianos do Vêneto, artesãos da madeira. E também a mãe, igualmente de origem italiana, costureira – como, aliás, até hoje, aos 86 anos –, que fazia aqueles modelos sofisticados dos anos 1950. Puro glamour. Lembra-se, especialmente, dos livros e do rádio. Os pais não tinham mais do que a formação primária, mas livros, na casa dos Baitello, eram levados muito a sério. Eles tinham as obras completas de Humberto de Campos, Machado de Assis e Monteiro Lobato, o Quixote, a Divina Comédia, enciclopédias, dicionários. Liam à noite, depois do trabalho, ou enquanto a mãe aproveitava para adiantar alguma costura antes de dormir – nesse caso, o marido comentava com ela. Trocavam ideias sobre o que liam. Apreciavam, sobretudo, os trechos mais políticos. Vibravam com as ideias de “O petróleo é nosso”, de Lobato. O rádio, com sua programação diversa – noticiários, crônicas, músicas, novelas –, era senhor absoluto da casa. Norval recorda nomes de grandes locutores e autores. Sua memória olfativa, ele diz, vem da madeira. A memória auditiva vem da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. “Minha paixão pelo Jornalismo e pela Comunicação vem da infância, com o rádio, o cinema, o jornal. Eu me lembro de ler jornal desde os oito anos de idade. Primeiro foi a fase dos quadrinhos, depois a dos esportes, da cultura, da política e assim por diante.” O pequeno Norval podia ser sério, até melancólico. O pai, não. Era a criança da casa, dessas que adoram aprontar. Norval tem mil brincadeiras para contar. Como essa: um dia, a sogra chegou para uma visita, como fazia sempre, depois de passar pelo açougue e comprar um quilo de carne. Ela deixou o embrulho sobre a pia da cozinha para pegar depois. Assim que a sogra foi conversar
24
ph179_5a_emenda.indb 24
1/4/2010 11:15:16
ph179_5a_emenda.indb 6
1/4/2010 11:15:14
capa_final.pdf
1
5/4/2010
18:35:45
Boa leitura!
ISBN 978-85-7655- 267-3
9 788576 552673
Mestres da Comunicação
Rosemary Bars Mendez é doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de Piracicaba, professora de Jornalismo da PUC Campinas e da Universidade Metodista de Piracicaba, onde também leciona no curso de pós-graduação em Jornalismo Contemporâneo. Atuou durante 25 anos na mídia impressa regional; recebeu Prêmio de Jornalismo Ambiental em 2000 e indicação ao Prêmio Esso de Jornalismo Regional em 2002. Trabalha com jornalismo impresso, jornalismo on-line, História e Ética da imprensa e na área de gestão de conteúdos.
Nos anos recentes, nota-se um aumento significativo de pesquisas sobre o pensamento comunicacional brasileiro. Contudo, ainda há pouca informação sobre os seres humanos que estão por trás da abertura dessa fronteira caracterizada pelos estudos da área no país. Pioneiros que delimitaram esse campo do conhecimento, firmando as bases sobre o que se entende por ensino, pesquisa acadêmica e, em alguns casos, até pela prática da Comunicação Social brasileira. Para suprir essa lacuna, dez pesquisadores contemporâneos propuseram-se ao desafio de escrever, cada um, o perfil de um profissional de destaque da área. O resultado você tem em mãos: textos que trazem a história de vida de Norval Baitello Junior, Jair Borin, Wilson Bueno, Dulcília Buitoni, Carlos Chaparro, Boris Kossoy, Edvaldo Pereira Lima, Cremilda Medina, José Marques de Melo e Lucia Santaella.
Monica Martinez · Rosemary Bars Mendez (Organização)
Monica Martinez, jornalista, é doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e pós-doutora pelo Programa de PósGraduação em Comunicação Social (Póscom) da Universidade Metodista de São Paulo. Tem como linha de pesquisa narrativas contemporâneas, jornalismo literário e escrita criativa. Atuou durante mais de vinte anos na grande imprensa em revistas de circulação nacional, como Manchete (Bloch Editores) e Saúde! (Editora Abril). É autora de Jornada do herói: estrutura narrativa mítica na construção de histórias de vida em jornalismo (Annablume/Fapesp, 2008), entre outros.
Mestres da Comunicação Monica Martinez · Rosemary Bars Mendez (Organização)
Pode parecer batido recorrer aos dicionários para definir uma obra, mas, neste caso, a busca ao verbete realmente faz sentido. Vejamos: segundo o dicionário Houaiss, por exemplo, mestre significa uma pessoa dotada de excepcional saber, competência, talento em qualquer ciência ou arte. Mestre também é aquele que ensina, que obteve o grau de mestre. Um artífice em relação aos que são seus aprendizes. Uma pessoa que orienta, que dirige os trabalhos. Em alguns casos, como no da arte, um mestre forma discípulos e pode fundar uma escola; alguém que ultrapassa os limites habituais, servindo de base, guia. Se fosse para definir em uma única palavra, bastante contemporânea, poderíamos dizer que mestre é um mentor, alguém que exerce uma profunda influência intelectual sobre uma ou mais pessoas que, por determinado tempo – ou às vezes uma vida inteira – estão sob sua orientação. Não temos dúvida de que todos os dez perfilados neste livro se incluem nessas categorias. São pensadores que ajudaram a forjar os alicerces do pensamento comunicacional brasileiro de ontem, de hoje e seguramente ajudarão o de amanhã.