Mauro Breda - Larissa Galatti Alcides José Scaglia - Roberto Rodrigues Paes
Mauro Breda - Larissa Galatti - Alcides José Scaglia - Roberto Rodrigues Paes Pedagogia do esporte aplicada às lutas
O nosso objetivo nesta pequena obra é auxiliar os professores no ensino de lutas para crianças, sendo as atividades aqui propostas aplicáveis a diferentes modalidades e ambientes, uma vez que não se prendem a detalhes técnicos. Pretendemos, também, auxiliar professores de Educação Física a lidar com as lutas como um componente do currículo escolar, independentemente de o professor ter tido algum contato como praticante de lutas. Tendo em vista a recém-inserção das disciplinas de Metodologia de Ensino das Lutas nos currículos de licenciatura e graduação em Educação Física, os professores mostram-se inseguros em abordar o tema nas aulas, privando os alunos de um contato sistematizado com mais esse conteúdo da cultura corporal brasileira, sinalizado pelos PCNs, mas poucas vezes aplicado pelos professores. Mais que aulas específicas de lutas, as atividades aqui apresentadas, embora focadas no ensino das lutas, podem compor programas de iniciação esportiva global, por preverem o desenvolvimento integral dos alunos, tendo um foco na infância. Com essa abordagem, esperamos auxiliar o professor de lutas, em especial, o professor de caratê, o professor do ensino fundamental e até mesmo o professor universitário a conhecer e a entender alguns conceitos que relacionam infância e lutas. Boa leitura! Mauro Breda
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ISBN 978-85-7655-246-8
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Instituto Phorte Educação Phorte Editora Diretor-Presidente Fabio Mazzonetto Diretora-Executiva Vânia M. V. Mazzonetto Editor-Executivo Tulio Loyelo
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Mauro Breda Larissa Galatti Alcides José Scaglia Roberto Rodrigues Paes
São Paulo, 2010
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Pedagogia do esporte aplicada às lutas Copyright © 2010 by Phorte Editora Rua Treze de Maio, 596 CEP: 01327-000 Bela Vista – São Paulo – SP Tel./fax: (11) 3141-1033 Site: www.phorte.com E-mail: phorte@phorte.com
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ __________________________________________________________________ M552 Pedagogia do esporte aplicada às lutas / Mauro Breda... [et al.]. - São Paulo : Phorte, 2010. 160p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-7655-246-8 1. Luta (Esporte). 2. Luta corporal. 3. Educação física - Estudo e ensino. I. Breda, Mauro. 09-4501.
CDD: 796.8123 CDU: 796.81
31.08.09 09.09.09 014946 __________________________________________________________________
Impresso no Brasil Printed in Brazil
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Dedicatória Gavião, ave de voo ousado. Presente em todos os continentes, com diversas espécies, das quais temos conhecimento de algumas: gaviãosolidário, gavião-generoso, gavião-amigo, gavião-menino, gavião-atleta, gavião-caipira, gavião-doutor. Existe, ainda, uma espécie de família de gavião com características únicas: seu voo é extremamente energético e, contrariando outras aves de rapina, prefere voar em grupo, alimentando os que experimentam as primeiras batidas de asas e acompanhando – de forma carinhosa – os voos solo (mas não sozinhos) de outras aves de sua espécie: toda nossa gratidão, admiração e carinho ao gavião de Almeida.
Aos nossos alunos, por estarem conosco, tornando tudo isso possível.
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Agradecimentos Dedico esta pequena parte de minha vida a meus pais, Mauro e Odete Breda e à minha família. À Erika Lima, pela pessoa que é. À Toshin-kaikan do Brasil, representada pelo Shihan Leandro Bonini, assim como a todos os professores, alunos e amigos; à Toshin-kaikan Mundial, na pessoa do Kancho Yuji Shimizu, fundador do estilo; e ao Shihan Hideo Takada, amigo, irmão e mestre. Ao ACMC e os grandes amigos que passei a ter. A tudo o que passei nas competições, nos treinamentos e a todos que puderam participar, mesmo que um pouco, dessa jornada. À força maior, Deus. Mauro Breda
À minha família: Vicente, Marta, Rodrigo e Letícia, desde sempre. À Paula Baloni, que me levou ao caratê, amizade para sempre. Larissa Galatti
Sempre à minha amada família, especialmente à minha esposa, Fabrina, e aos meus filhos, Annelise e Hugo. Alcides José Scaglia
À minha esposa, Alice, e filhos, Sophia, Julia e Caio. Roberto Rodrigues Paes
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A todos os colegas e amigos com os quais sempre aprendemos nos grupos de estudo, nas aulas compartilhadas e nas conversas sobre lutas na Unicamp, em especial aos professores Artur, Mariana, Liana, Isadora, Noelle, Juca, Diego e Yiudi. Breda e Larissa
Aos amigos e parceiros José Julio Gavião de Almeida e Paulo César Montagner. E um especial agradecimento ao Roberto Martins de Lima pela concepção dos personagens que ilustram o livro. Breda, Larissa, Alcides e Roberto
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Apresentação Dada a importância de apresentar uma obra, confesso que fiquei com muitas dúvidas de como registrar meu respeito intelectual e apreço pelos autores e pelo conteúdo do livro. Possuo relações diretas de trabalho, amizade e convivência com todos, desfruto de boas e alegres conversas, também de trocas de informações e de formação. Sobre lutas, o que conheço está um pouco nas conversas com eles, na minha convivência na universidade e nos muitos anos em que militei no esporte. Isso posto, minimizei essas dúvidas com um aprofundamento na obra, o que permitiu elaborar as considerações aqui presentes. Uma análise inicial do que significa um livro com o conteúdo lutas, mais especificamente do ensino do caratê, pode levar a uma série de questionamentos. caratê é apenas uma arte marcial? Seu objetivo é simplesmente de construir ações de ataque e defesa? A esportivização do caratê, assim como em outras modalidades com essa característica, foi inevitável? Não sem muita polêmica sobre o tema, o papel das artes marciais, das lutas, sua construção histórica e cultura milenar ainda são temas apaixonantes de pesquisa. E este livro contribui com essas reflexões. Felizmente, as diversas manifestações das lutas estão definitivamente nas práticas corporais de nosso país; os profissionais da Educação Física estudam esses conteúdos, metodologias e estratégias de ensino, o que é necessário para o conhecimento aprofundado desse conteúdo clássico. Em nosso país, passamos por um desafio já preconizado por Lucrecia Ferrara na apresentação da obra Como se faz uma tese, de Umberto Eco (1977): o de que os estudos de pós-graduação e a pesquisa oriunda deles
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se afastem simplesmente da formalidade da obtenção dos títulos e que a pesquisa gerada seja capaz de “movimentar outras mentes e acionar novas ideias”, ou seja, de construir o conhecimento novo. Se bem conheço os autores, e observando a obra em questão, isso está posto aqui. As ações teóricas e de intervenção propostas neste projeto combinam os vários conceitos que eles difundem em suas aulas, em seus textos, em suas práticas, adaptando-os e transportando as experiências adquiridas nas várias modalidades esportivas e nas lutas em geral para o caratê, corroborando com o desafio anteriormente citado. As interfaces teóricas possibilitarão ao leitor refletir sobre o ensino do caratê com base em uma visão que bem caracteriza os autores, suas crenças, conhecimentos, criações e “transpirações”. Parece-nos importante também destacar um pouco da experiência dos autores e peço licença a eles e ao leitor para “misturar” minha visão profissional, relação de afetividade e respeito ao trabalho de cada um. Quanto à professora Larissa Galatti, que vi menina jogando basquete, acompanho mais de perto sua carreira desde o ingresso como estudante de graduação na Faculdade de Educação Física da Unicamp, em seguida no mestrado e, atualmente, como aluna de doutorado em nosso programa de pós-graduação. Seus projetos na área da Pedagogia do Esporte já ecoam não apenas nas publicações geradas dos seus estudos e pesquisas, mas também como professora universitária qualificada, formando as novas e futuras gerações. Faz isso com muita paixão e acredito que essa paixão transforma-se em energia para seu projeto de vida. O jovem professor e especialista em Ciências do Esporte, Mauro Breda, com experiência como atleta, professor e técnico em lutas, dedica sua vida a estudar métodos de ensino e treinamento para crianças, jovens e atletas
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de caratê. Seu aprofundamento na área possibilitou uma contribuição ímpar ao livro, num estudo qualificado sobre esse conhecimento. Do professor Alcides José Scaglia, jovem e entusiasmado professor doutor, com quem tenho o prazer de conviver desde o início dos anos 1990 - o conheci estudante de graduação - ressalto sua orientação segura e sua qualidade de articular conhecimentos na área da Pedagogia do Esporte, de fomentar nos seus estudantes e orientandos a construção de temáticas, ideias e projetos novos e desafiadores para as diferentes modalidades esportivas, de transformar teorias em “realidades aplicáveis”, de transpor dos livros para o campo. Por fim, destaco o professor Roberto Rodrigues Paes, professor doutor e livre-docente com uma carreira consolidada e dedicada ao ensino e pesquisa em esportes nas suas várias manifestações e também na formação de gerações de profissionais e de novas lideranças. Um profissional experiente, qualificado, que colhe frutos pelo seu trabalho árduo, sério e competente de muitos anos. A responsabilidade de apresentar um livro com esses quatro autores e, além disso, amigos, permite registrar a importância deles para minha vida, para a vida institucional da Faculdade de Educação Física da Unicamp e também para a Educação Física nacional. Sinto-me privilegiado por essa oportunidade e agradeço a honraria e lembrança.
Prof. Dr. Paulo Cesar Montagner Diretor da Faculdade de Educação Física Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) São Paulo, Brasil Junho de 2008
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Prefácio Esta obra está predestinada a alimentar a área da Educação Física como um todo, propiciando o início de novos entendimentos sobre os possíveis papéis das lutas no contexto esportivo e nas suas várias formas de manifestação, com especial atenção para o escolar. Seus autores, estudiosos da Educação Física, por suas experiências práticas e teóricas, específicas e gerais, trazem à tona neste livro o início para uma revolução pedagógica (e cultural, arrisco escrever) da qual a temática lutas faz-se altiva e integrante. Propiciar ou provocar mudanças dentro de um sistema estabelecido e enraizado em preconceitos é tarefa árdua e delicada. As lutas, de maneira geral, mesmo que tenham conquistado espaço na área de treinamento de alto rendimento, no Brasil (e em outros países), ainda estão longe de serem massificadas como um instrumento educacional integrante do conteúdo escolar. Os autores desta obra nos trazem uma dimensão do ensino das lutas que transcende as conquistas já conhecidas ao propiciar-nos elementos pertinentes aos atuais modelos educacionais para aprendizagem e desenvolvimento global dos alunos. Vivemos em um mundo de constantes mudanças. O próprio globo terrestre em seus aspectos geográficos, por exemplo, sofreu alterações no decorrer dos anos. Consequentemente, com o tempo, mudam-se também conceitos, formas de pensamentos ou mesmo maneiras diferentes de se preservá-los. As lutas, as artes de guerra (tal como também são conhecidas), as culturas que as cercavam, mesmo que tivessem objetivos e ações se-
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melhantes (de defesa, ou de ataque, ou de guerra, ou de paz) em determinada época, sofreram alterações que hoje as tornam distintas não apenas em seus aspectos motores mas também em muitos outros, caracterizando-as como possuidoras de identidade própria. Trata-se, assim, de analisarmos fundamentos, e não estereótipos absolutos. Alia-se a essa ideia de transformação a sustentação de uma contradição, pois há duas “coisas” na vida que não mudam. A primeira pode ser considerada a plena capacidade de constante transformação, que pode acontecer rapidamente ou, ainda, demorar gerações. Daí a necessidade de evoluirmos e estarmos atentos a mudanças (as que já ocorreram, as que estão ocorrendo e as que tendem ou precisam ocorrer). Foram as lutas - propósitos de conquistas individuais ou coletivas - sempre vinculadas a elementos como o da violência. Hoje, independentemente do “confronto” entre pessoas, em que o alvo é o próprio parceiro (algumas formas de confronto no passado, como o tiro e o arco e flecha, também tinham como alvo o adversário), a violência deve ser refutada categoricamente. A segunda “coisa” que não muda é o passado. Nesse sentido, da mesma maneira que é imprescindível compreendermos o passado para que possamos valorizar os acontecimentos ocorridos e desejados, é muito importante tentarmos “plantar e cultivar”, procurando fazer bem feito tudo quanto nos propusermos a disseminar e registrar. Ensinar lutas nos novos tempos é (ou deveria ser) sinônimo de educar, não apenas na linha do desenvolvimento motor
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mas também como parte integrante do desenvolvimento humano, considerando os anseios afetivos, cognitivos e sociais que nos cercam. Portanto, esta já é uma obra vitoriosa por ter sido construída de forma tão cuidadosa ao buscar no passado e no presente a sustentação de valores que se somam e que respeitam as ansiedades das novas tendências e correntes educacionais.
Prof. Dr. José Julio de Almeida Responsável pela disciplina Lutas na Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
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Sumário Introdução
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1. Sobre as lutas e o caratê: conceitos e contextos 1.1 Os primeiros registros marciais 1.2 China – possível berço das lutas 1.3 Do oriente para o mundo 1.4 O primeiro estilo de caratê – o Shotokan 1.5 O primeiro estilo de caratê de contato – o Kyokushin-kaikan 1.6 O caratê de contato Toshin-kaikan 1.7 O caratê de contato no Brasil 1.8 Os elementos técnicos do caratê e sua aplicação em uma aula tradicional
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2. Desenvolvimento das aulas de lutas: da compreensão teórica aos procedimentos práticos 2.1 A pedagogia do esporte e as lutas 2.2 A realidade da iniciação esportiva em lutas no Brasil: observando a criança no processo 2.3 Aulas de lutas na academia ou na escola: promovendo a diversificação de conteúdos 2.4 O conteúdo das aulas de lutas: das modalidades específicas aos elementos de curta, média e longa distância 2.5 O ensino e aprendizagem de modalidades específicas de lutas na infância: reflexões a partir do caratê de contato 2.6 Novas perspectivas para aulas de lutas
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3. Hajime! Entre a teoria e a prática: atividades gerais e específicas para as lutas na academia e na escola – propostas do caratê de contato 73 3.1 Atividades pedagógicas gerais para o ensino de lutas 75 3.2 Atividades específicas em uma aula de lutas 94 3.3 Sobre as atividades propostas 128
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4. caratê infantil: participação em eventos competitivos 4.1 As regras 4.2 A participação de crianças em eventos competitivos na modalidade caratê de contato 4.3 A participação dos pais no aprendizado
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Considerações finais
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Referências
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Introdução
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Olá, você está entrando agora num mundo que tem milhares de séculos, cheio de tradições e lendas. Nossos guerreiros são mais fortes, mais rápidos, e têm a melhor estratégia. Aqui você não vai somente aprender, vai também ensinar, pois nas nossas aulas ensinamos e aprendemos. Nesse processo, você será auxiliado pelos samurais da Pedagogia, que são guerreiros que não medirão esforços para lhe passar o conhecimento. O caminho é longo e perigoso, porém estamos protegidos pelos escudos do saber, representados por livros, artigos e diálogos. Sabemos que nossos inimigos são muito poderosos, têm milhares de séculos de maldades e vivem em terras desconhecidas. Nossa missão é explorar essas terras, armados com as espadas de grafite (lápis), com as lanças de tinta (canetas), com os capacetes de borracha e com os escudos do saber. Lembre: o caminho é longo e árduo, e poderemos perder alguns de nossos companheiros, mas juntos vamos vencer nossos inimigos e essa guerra! O nosso objetivo é auxiliar professores no ensino de lutas para crianças, sendo as atividades aqui propostas aplicáveis para diferentes
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modalidades e ambientes, uma vez que não se prendem a detalhes técnicos. Pretendemos também auxiliar professores de Educação Física a lidar com as lutas como um componente do currículo escolar, independentemente do professor ter tido algum contato como praticante de lutas. Tendo em vista a recém-inserção das disciplinas de Metodologia de Ensino das Lutas nos currículos de licenciatura e graduação em Educação Física, os professores mostram-se inseguros em abordar esse tema nas aulas, privando os alunos de um contato sistematizado com mais esse conteúdo da cultura corporal brasileira, sinalizado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), mas poucas vezes aplicados pelos professores. Mais que em aulas específicas de lutas, as atividades aqui apresentadas, embora focadas no ensino de lutas, podem compor programas de iniciação esportiva global, por preverem o desenvolvimento integral dos alunos, tendo foco na infância. Este livro aborda o processo pedagógico de ensino de lutas no momento da iniciação esportiva, pautado em autores de base da pedagogia dos esportes. Embora de aspecto geral, as discussões e atividades propostas têm por base a modalidade caratê de contato, em função da história de vida dos autores. Isso será rapidamente observado pelo leitor, já que o livro se inicia com histórico das lutas e afunila no histórico dessa modalidade. A seguir são descritos os componentes básicos do caratê, assim como uma aula tradicional dessa modalidade, o que servirá de base para a discussão acerca da inserção de novos métodos de ensino nas aulas de lutas, seja na academia especializada ou na escola, tendo por norte a pedagogia do esporte (no segundo ca-
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23 Introdução
pítulo). Com essa abordagem, esperamos auxiliar o professor de lutas, em especial, o professor de caratê, o professor do ensino fundamental e até mesmo o professor universitário a conhecer e a entender alguns conceitos que relacionam infância e lutas. Ainda no segundo capítulo, uma nova abordagem quanto à classificação das lutas é apresentada, tendo por base seus elementos de curta, média e longa distância, o que pode ser utilizado como eixo para a organização do processo de ensino, vivência e aprendizagem desse conteúdo na escola ou para que o professor de modalidade específica de luta enriqueça suas aulas com elementos de outras modalidades. Já no terceiro capítulo, serão apresentados dois blocos de atividades, um denominado geral e outro, específico. O primeiro engloba brincadeiras e jogos corriqueiros no universo infantil, sendo enfatizadas as contribuições para o desenvolvimento de uma criança nas aulas de lutas; o segundo traz um conjunto de atividades específicas para uma aula de caratê de contato com crianças, sendo englobadas atividades que envolvam também os elementos de curta e longa distância das lutas, sendo coerente com o pressuposto inicial de expandir os conteúdos e possibilidades metodológicas em uma aula de luta. Por fim, no quarto capítulo, esta obra não se isenta de discutir a questão da competição infantil, apresentando uma nova proposta para o envolvimento de crianças em eventos de lutas. Desafiador, este livro convida o leitor a “abrir a guarda” e, com os autores, refletir sobre o processo de ensino, vivência e aprendizagem das lutas, na expectativa de construir práticas que não se
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preocupem apenas em ensinar uma modalidade ou preparar crianças para competição, mas que tenham como eixo principal atender essas crianças em suas necessidades e interesses, sem que as tradições envolvidas nas lutas sejam desrespeitadas. Ao combate!
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1. Sobre as lutas e o caratê: conceitos e contextos
Karate-Dô – O Caminho das Mãos Vazias A água é submissa, mas tudo conquista. A água extingue o fogo, ou, diante de uma provável derrota, escapa como vapor e se refaz. A água carrega a terra macia, ou, quando se defronta com rochedos, procura um caminho ao redor. A água corrói o ferro até que ele se desintegra em poeira; satura tanto a atmosfera que leva à morte o vento. A água dá lugar aos obstáculos com aparente humildade, pois nenhuma força pode impedi-la de seguir seu curso para o mar. A água conquista pela submissão; jamais ataca, mas sempre ganha a última batalha. Yoshikawa (Musashi, 1999).
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O conhecimento histórico de um objeto de estudo sempre se mostra relevante. No estudo das lutas, se faz essencial. Isso porque somente ao se conhecer a origem e o percurso delas podemos compreender de forma ampla sua inserção atual nas diferentes culturas, como na brasileira. Este livro busca contribuir para o processo de ensino, vivência e aprendizagem das lutas na infância, sobretudo na modalidade caratê, tendo o texto um foco no caratê de contato, por ser essa a modalidade de origem dos autores. Busca-se contribuir para que as academias especializadas estruturem aulas adequadas ao universo infantil e não apenas reproduzam as aulas de adultos, ou mais grave, de adultos atletas, com crianças, pois trata-se de momentos de diversificação e descobertas, não de repetição. Espera-se também que as ideias aqui abordadas assim como as atividades propostas ao final estimulem os professores de Educação Física escolar a tratar o conteúdo lutas nesse ambiente, algo que é preconizado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, mas que ainda
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não é uma prática dissiminada, seja por deficiências na formação profissional ou de publicações que apenas descrevem técnicas, em detrimento de um conteúdo pedagógico como o proposto aqui. Para tanto, não se pode deixar de compartir com o leitor a origem de um grupo de modalidades de lutas com milhares de adeptos em nosso país: as lutas de origem oriental. Isso será feito por meio do relato dos primeiros registros sobre lutas e artes marciais, termos que por vezes se confundem. A seguir, o foco irá para o histórico das modalidades caratê e caratê de contato, que serão as modalidades de apoio neste estudo, das quais as reflexões metodológicas e propostas pedagógicas serão elaboradas. Por fim, apresentaremos os elementos constituintes do caratê de contato, assim como as regras de competição, permitindo ao leitor não especialista na modalidade uma melhor compreensão.
1.1 Os primeiros registros marciais Precisar o surgimento das lutas não é possível, uma vez que não se trata de uma ação isolada de um homem ou grupo que a propôs, mas, sim, de uma construção sociocultural que a foi modificando e dando novos significados ao longo do tempo. Espatero (1999) aponta que as primeiras formas de lutas surgem como necessidade de defesa pessoal ou de territórios e que, com o tempo, as lutas foram aparecendo em outras manifestações sociais; como exemplo, citamos a utilização das lutas em rituais (em especial entre os indígenas), na
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como um jogo, como um exercício físico (na Europa) e como forma de defesa-dissimulação (a capoeira, no Brasil).
Sobre as lutas e o caratê
preparação de exércitos para guerras (no Oriente e na Grécia Antiga),
No Oriente, as lutas aparecem ligadas a outras atividades do cotidiano das pessoas, como a escrita, a culinária, a jardinagem, compondo o modo de vida dos povos há milênios e sendo amplamente difundidas e valorizadas. Ligadas às denominadas “artes marciais”, Natali (1981, p. 143) afirma que os primeiros registros são datados por volta de cinco mil anos a.C., de uma arte marcial que tem por nome Vajramushti, palavra originada do sânscrito que, na tradução literal, significa “punho real ou punho direto”. De origem indiana, essa arte marcial fazia parte da educação militar da realeza – em especial dos príncipes – e envolvia técnicas de combate, meditação e estudos variados (Breda, 2006). Entre seus praticantes ilustres, registros indicam que Buda, que era um príncipe guerreiro, teve o aprendizado do Vajramushti como parte de sua educação militar. Durante sua peregrinação difundindo o budismo, Buda ensinava a “arte do punho real” como prática acética, pois visava ao esclarecimento e à vivência dos seus ensinamentos, relativos à unidade da mente e corpo (Natali, 1981, p. 143).
1.2 China – possível berço das lutas Natali (1981) relata ainda que, no século VI, um príncipe indiano chamado Bodhidharma, após se tornar o 28º praticante do
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budismo, viajou à China a convite do imperador Liang Wu Ti. O imperador era seguidor de uma linhagem ritualístico-salvacionista, que era opositora à de Bodhidharma, pregador da meditação e da busca interior. Tendo em vista o não interesse do imperador chinês por sua filosofia, o príncipe viajou ao reinado de Wei, se hospedando no Templo de Shaolin, onde ensinou aos monges técnicas de defesa pessoal sem uso de armas; essas técnicas foram agregadas aos hábitos dos monges de meditação e estudos, em especial nos estudos sobre filosofia e religião. Em virtude disso, os monges do Templo de Shaolin se tornaram exímios combatentes, tornando-se experts nas artes marciais. Os monges transitavam por diversos mosteiros, espalhados por várias e distantes regiões da China e foram disseminando as técnicas aprendidas em suas paradas. Em cada região, novas técnicas foram surgindo e ganhando novos adeptos que se restringiam a poucos iniciados à prática budista, e, assim, as técnicas Shaolin foram mantidas em segredo por muitos anos. A posição sentada de meditação foi trocada por posições combativas, e passavam-se horas em treinamento, que consistia na quebra de diversos objetos, como tijolos, madeiras, e na prática de saltos e movimentos observados em combates entre animais. Na dinastia dos Manchu (1644-1912), registrou-se a destruição do Templo de Shaolin (alguns autores citam a destruição pelo governo Ming, mas há discordâncias), e as técnicas secretas dos monges tornaram-se populares, sendo ensinada ao povo a autodefesa do templo, que ficou determinado como “Kung Fu Shaolin, conhecido
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O nosso objetivo nesta pequena obra é auxiliar os professores no ensino de lutas para crianças, sendo as atividades aqui propostas aplicáveis a diferentes modalidades e ambientes, uma vez que não se prendem a detalhes técnicos. Pretendemos, também, auxiliar professores de Educação Física a lidar com as lutas como um componente do currículo escolar, independentemente de o professor ter tido algum contato como praticante de lutas. Tendo em vista a recém-inserção das disciplinas de Metodologia de Ensino das Lutas nos currículos de licenciatura e graduação em Educação Física, os professores mostram-se inseguros em abordar o tema nas aulas, privando os alunos de um contato sistematizado com mais esse conteúdo da cultura corporal brasileira, sinalizado pelos PCNs, mas poucas vezes aplicado pelos professores. Mais que aulas específicas de lutas, as atividades aqui apresentadas, embora focadas no ensino das lutas, podem compor programas de iniciação esportiva global, por preverem o desenvolvimento integral dos alunos, tendo um foco na infância. Com essa abordagem, esperamos auxiliar o professor de lutas, em especial, o professor de caratê, o professor do ensino fundamental e até mesmo o professor universitário a conhecer e a entender alguns conceitos que relacionam infância e lutas. Boa leitura! Mauro Breda
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