respostas em silêncio - Alfredo Jaar

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educativo

lamento das imagens

alfredo jaar



Na falta de certeza, perguntas. Começamos pela dúvida e seguimos duvidando. Perguntar, mais do que tentar compreender, é movimento. Um movimento mais demorado para tentar perceber de um jeito novo. A demora em algo para não estar indiferente. As incertezas no caminho e a experiência do não-saber como companheiras em um processo educativo. Como querer ter tantas (ou, quaisquer) certezas nesses tempos? Duvidar é não estar convencida de algo. Estar convencida é o mesmo que estar fixa e imóvel. A certeza não dá chance ao mistério. Se um programa educativo de uma exposição é uma realidade provisória, como poderia ser algo além do que um passeio temporário pela dúvida? Um espaço para ensaiar, experimentar, testar e duvidar. “¿Es usted feliz?”, pergunta Alfredo Jaar, em 1979. Respondo em silêncio. Questions, questions, em 2008. respostas em silêncio para, como disse Jaar, “oferecer ausências que provoquem presenças”. Quando saímos do eixo, o silêncio é resposta.

Daniela Avelar



será?


será que toda pergunta tem uma resposta?


a memória seletiva é uma estratégia de negação?

será que teremos catálogos do Jaar? Queria dar de presente…

crianças desacompanhadas podem entrar nas obras (ex: “O Som do Silêncio”)? seria o caso de informar a indicação etária da exposição?


fracassar também é caminho?

o indiferente me afeta. será que vale a pena um movimento de aproximação?


será que não rola fazer as visitas também nos finais de semana?

será que todas as ideias são válidas?

em algum momento será exigido o cartão de vacina para entrar nas unidades do Sesc?

pode ligar os ventiladores perto de geografia = guerra?


progresso e desenvolvimento são estados socioeconômicos tangíveis? são possíveis de serem alcançados ou são ilusões?

uma palavra tem mais impacto ao se transformar em um neon?


um retratado conta a história de quem foi fotografado ou de quem fez a foto? lamentamos por essas imagens?

seria possível reverter a cegueira da alma?

e se não houver luz no fim do túnel?


há diferença estar fora de equilíbrio é fora de desequilíbrio?

o corpo que atravessa é, na mesma medida, atravessado?

a pele também é fronteira?


cultura = geografia = capital = guerra?

capital = cultura: a ordem da equação muda o sentido?

os nomes não são só nomes?

tudo é comum?


será que ainda vai dar tempo pras ações no Jaar?

será que eu sou muito chato com horários? será minha lua em virgem?

por quê será que não me recordo?


dias melhores virão?

o mercado abre amanhã?


ainda vale ser artista?


será que o Jaar vem amanhã?



o quê?


o que é um programa educativo? e na pandemia?

o que pode ser um programa educativo? e na pandemia?

o que gostaríamos que fosse um programa educativo? e na pandemia?


outras pessoas pensam?

porque precisamos lembrar que outras pessoas pensam?


o símbolo = tem o mesmo peso tanto entre as palavras geografia e guerra quanto entre cultura e capital?

o que é de capital importância para você?

equilíbrio é movimento?


moça, tira uma foto pra mim?


o que me impede de testar algumas ideias no espaço expositivo? o que (ainda) me impede de trabalhar com registro fotográfico de visitas e exposições?

o que será feito com as caixas de luz das obras “fora de equilíbrio” e “andando sobre as águas”? serão vendidas? destruídas? retornadas?


vocês compreendem que fomos/somos um milhão de pontos de luz?

quantos pontos de luz são necessários para chamar a atenção? em toda claridade há frieza?

o que torna uma visita boa?


O que está escrito na capa dos outros cadernos? o que escrever no pirulito do “som do silêncio “?

o que as pessoas esperam ver? o que sentem é pelo que vêem?

O que fazer com o papel de embrulho dos cartazes?

O que fazer quando alguém sai bastante abalado de alguma obra?


vai ter petisco na abertura?

o que leva essa mulher a me fazer esse tipo de pergunta?


“Luan, você sabe o que é escravidão? Nunca ouvi falar, tia.”


o que é essencial para você?

o que nos leva a arriscar?

você tem uma pergunta para me emprestar?


o que está morrendo?


o que eu vou jantar hoje?



como?


como encontrar o equilíbrio estando na borda?

se 70% do nosso corpo é água, quantos passos são necessários para atravessar essa fronteira?

qual é a importância de preservar fronteiras?


quantas linhas configuram um roteiro?

quantos roteiros até aqui? quantos ainda a serem vividos?

quais guerras fazem parte da nossa geografia?

quantos mundos já morreram? seremos os outros dos outros?


como preparar variados corpos e evitar a indiferença?


como criar uma coreografia fluida do corpo educativo para ocupar o espaço?

como experiência a exposição para além da visão? como a imagem se relaciona com os demais sentidos?

como perceber esse tempo do público e expandí-lo (ainda que minimamente)?


como a exposição está sendo divulgada na mídia?

como responder, de forma prática, as questões que eu facilmente elaboro e sei falar sobre? como alinhar nossos próprios interesses com os três roteiros de visitas temáticas que estamos oferecendo?

como fazer o pessoal focar?

como poderíamos aumentar o público durante a semana?


como respeitar o tempo de assimilação do público após “o Som do Silêncio?”

como tornar o estar no espaço confortável?


como eu não pesquisei a relação entre Lina e Jaar antes?


como marcar a folha de ponto?

como funcionarão os feriados de fim de ano? O Sesc irá abrir? como proceder com a chuva forte? alguma imagem já salvou a sua vida?

como me organizar melhor quanto ao horário dos estudos? como utilizarmos ainda de maneira mais eficiente nosso tempo de reunião, visto que todos os assuntos levantados foram relevantes?


como mediar obras para crianças?

como uma criança poderia aproveitar melhor a exposição? o que poderíamos falar a elas? quais temas?


quais são os lixões ainda operantes na cidade?

como lidar com a agitação das crianças, de maneira que não interrompemos seu fluxo? não é irresistível para as crianças brincarem de escondeesconde no “Geografia = Guerra? um dédalo não é um local de se esconder-fugir-caçar?


como lidar com a expectativa e o controle em relação aos visitantes?

como podemos nos proteger mais em relação ao covid?

como aproximar sem invadir o espaço individual na pandemia?

como proceder com as pessoas tirando as máscaras para fazerem fotografias/selfies?


como o educativo pode lidar com a saúde mental?

como separarmos de maneira mais saudável nosso trabalho e nossos problemas pessoais?


como e quando me colocar?


como atravessar o mistério?

cavaremos até o nosso oco?

silêncio, por favor?



quando?


vidas negras importam?

cadê a reparação?

o que nos resta é sonhar?


qual foi a última foto que você tirou? qual foi a última foto que você fez?

quantas geografias são possíveis neste tempo-espaço?

qual é a geografia dos seus descartes?


quando os shows irão voltar? quando será que não me recordo?

quando me colocar?

quando iremos quebrar o sistema?


até quando vale ser artista?

e quando não dá pra fazer diferente?

dias melhores virão? o seu trabalho tem preço ou valor?

vocês podem parar de falar?


por que a gente segura o choro?

qual é a cor do seu lamento?


cultura, onde voce está?

quando o educativo é público?


Quando será exigido o cartão de vacina para entrar nas unidades do SESC? Quando o sesc irá liberar a entrada geral? Quando o espaço de brincar vai voltar a funcionar?

quando lamentar?

será que eu sou muito chato com horários?


É possível mudar a memória? do que desviar?

quanto tempo leva? em uma travessia forçada, o que levar?


quando atravessar o mistério?


o que está morrendo?


a distância entre nós, afinal, não está nos quilômetros?


naufragaremos até o último suspiro?

qual o silêncio mais estridente que você já ouviu?



quem? Alice Yura Dana Fittipaldi Daniela Avelar [coordenação] Felipe Bittencourt (in memoriam) João Pedro Canola Kelly Santos Mariana Valicente May Agontinme Nayara Patente Ossaiê selma maria Thales Marreti Tiago Luz equipe educativa da exposição Lamento das Imagens - Alfredo Jaar Sesc Pompeia agosto a dezembro de 2021



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