รกgua sesc belenzinho
SER LIQUIDO Quero me fazer profunda. Mergulhar, afundar, emergir, tocar o chão. Quero me fazer humilde. Tranquila, cristalina, vital, vapor. Quero me fazer jorro, enxurrada. Escorrer, espalhar, movimentar, expandir. Quero me fazer forte. Quebrar, modificar, cavar, ultrapassar, libertar. Quero me fazer fluidez. Andante, enérgica, correnteza, leveza. Quero me fazer frescor. Saciante, gélida, limpa, translucida. Quero me fazer afeto. Fertilizante, acolhedora, infinita, sublime. Quero me fazer entre. Adentrar, borbulhar, pulsar, compartilhar... Para outros seres serem um só ser, O ser líquido.
10/01/18 Reunião com Daniela: Qual a nossa busca, enquanto grupo na exposição “Água”? Ser um tipo de agente político, atuante na construção de processos educacionais mais éticos.
Tanto mar tanta tormenta puxa vela fechem as portas os coletes se encontram ao lado as águas estão fortes e cada vez mais entrem no barco cada vez mais inundam os espaços do corpo preenchem lacunas preenchem o que precisa e jogam pra fora as coisas que sobram aos poucos vou aprendendo a ser timoneira e não ter medo de sair do porto de mim mesma
Mil lágrimas de água salgada afoga -------------------------------------mesmo o concreto tem sua porcentagem molhada --------------------------------------cano tubo torneira ralo chuveiro bebedouro privada pia tubulação controle de baixo da terra
A Carlos Drummond de Andrade João Cabral de Melo Neto Não há guarda-chuva contra o poema subindo de regiões onde tudo é surpresa como uma flor mesmo num canteiro. Não há guarda-chuva contra o amor que mastiga e cospe como qualquer boca, que tritura como um desastre. Não há guarda-chuva contra o tédio: o tédio das quatro paredes, das quatro estações, dos quatro pontos cardeais. Não há guarda-chuva contra o mundo cada dia devorado nos jornais sob as espécies de papel e tinta. Não há guarda-chuva contra o tempo, rio fluindo sob a casa, correnteza carregando os dias, os cabelos. Texto extraído do livro: João Cabral de Melo Neto - Obra completa, pág. 79.
A petulância da chuva texto: Nathalia Colli É curioso perceber como alguns fenômenos da natureza servem, ao contrário do que poderiam, para desnaturalizar a vida. Isso porque como sujeitos fundadores e criadores da história, da escrita, do pensamento, nós, os humanos, naturalizamos nossa construção e nos afetamos quando não conseguimos controlar a natureza. Nada de mal nisso, porém, a função indomável da natureza nos remonta ao desequilíbrio entre construir a história e agora estarmos apenas sujeitos a ela. Como é o caso da chuva. Ainda que as roupas estejam nos varais, que as mães caminhem com seus filhos, que os carros passem... ainda que estejamos no trabalho, estejamos cansados, ainda que não tenhamos tempo, que estejamos brigando com nosso controle do tempo --ao que vulgarmente chamamos relógio-- ela cai. A chuva cai atrapalhando o trânsito. Cai nos fazendo lembrar que não dominamos tudo, que a orbita intra estrelar do futuro não gira e não girou em torno de nossos problemas... a chuva cai para que não nos esqueçamos de tudo que ainda não conseguimos driblar da história dos homens, da vida coletiva, cai para que nos lembre que nem tudo é domínio, razão...cai gratuitamente, genuína, movimento livre do corpo celeste. E ainda que o guarda-chuva exista preto, colorido, fascinante, estressado, mercado, não há quem a pare. Não há quem nos pare. A petulância da chuva está em nos antepor diante da vida que ela não conhece, mas nós temos a primazia de sabela. E fazê-la.
VISITA APOCALÍPTICA Olá visitante, você está prestes a participar de uma visita áudio-guiada a exposição Água. Confirme aos educadores que o acompanharão durante a visita se está ouvindo esse áudio. (Silêncio) O áudio ditará um roteiro de obras pelas quais você passará durante sua visita. Pedimos que você siga as instruções dadas e se mantenha próximo aos educadores a todo o momento. Os educadores são aqueles que poderão te orientar e tirar dúvidas durante esse processo. Esperamos que você tenha uma boa experiência. Que comece a visita apocalíptica. 1- Carlos Montani – Aqua Planetae, 2012 – em andamento Observem as águas nas garrafas. Elas vêm de 52 países. Retirem algumas das garrafas e experimentem o sabor das águas desses países. Qual o gosto da Argentina? E a Grécia, como está? Beba a água do Papa. Segure a estante pela lateral, empurre e veja-a caindo. Deixem que as águas se misturem. 2- Sheba Chhachhi – The Water Diviner (Adivinhador de águas), 2008 Na sala azul, escale os livros. Arranque algum livro que te interessar da pilha e coloque na bolsa. Volte uma semana depois com o livro e pergunte se o prazo de devolução já passou. Corte os barbantes e liberte os livros das amarras. Derrube a pilha de livros no chão. Patine sobre eles. Faça sombras sobre a figura do elefante. Duble o que o elefante estaria dizendo e grite quando ele se desintegrar. 3- Marcello Maloberti – Strombus Pink, 2017 Essas conchas têm como objetivo aqui trazer o som do mar. Lance uma das conchas no chão. Pegue um pedaço, ofereça a alguém e pergunte: O que você está ouvindo? 4- Maria Tsagkari – One more Garden, one more circle (Mais um jardim, mais um círculo), 2013 Se aproxime da obra que parece ser feita de um círculo de areia. Não é areia, são cinzas. Isso não faz diferença visual alguma, se quiser, faça um castelinho e chame de areia. Caso seja fumante, sinta-se a vontade para acender seu cigarro na exposição e usar a obra como cinzeiro, ao terminar de fumar, abandone lá a sua bituca. Use essas cinzas como cimento, acrescente água e molde alguma coisa com isso. Sugerimos um barco. Diga que o barco ficou atracado na exposição e que é uma homenagem ao naufrágio da mesma. Chame-o de Titanic.
5- Marcelo Moscheta – Arrasto, 2015 Reparem no quadro ao centro das pedras. Ele é feito de grafite. Pegue uma borracha e comece a apaga-lo cuidadosamente. Caso se empolgue, chame as pessoas pra fazerem desenhos com você. Toque nas pedras do Rio Tietê. Troque as pedras de lugar. Retireas da estante e coloque no lugar os objetos que existem na sua bolsa nesse momento. Você acaba de fazer um ready made. Pegue as pedras tiradas da estante e faça um caminho com elas pela exposição. 6- Rosana Palazyan – ...Uma História que Eu Nunca Esqueci... /... A Story I Never Forgot... , 2013/2015 Peguem os barbantes e enrolem no corpo. Saiam correndo pela exposição com eles e deixem que os fios tomem seus caminhos. Se perguntarem diga que está ocorrendo uma enchente e que a água está se espalhando. 7- Sala de vídeos: Movam os projetores e projetem onde quiserem. Hackeiem os projetores e coloquem seus vídeos favoritos do youtube para tocar. Observe a porta que tem no canto esquerdo da sala de vídeos. Ela é feita para ser invisível. Veja-a. Invada esta sala, ela é destinada para funcionários. Investigue o que eles fazem lá dentro. Se estiverem em reunião, diga que estão todos demitidos e desça a rampa rolando. Se for divertido, repita a ação. 8- Vasilis Zoografos – Untitled (Sem título), 2010-2017 Observe os quadros cinzas, escolha um deles e o entorte levemente. Arranque os quadros da parede e faça um campeonato de arremesso de quadros. Descubra qual tem a melhor aerodinâmica. 9- Laura Vinci – Mona Lisa, 2001 Vá para o local no qual se encontram as bacias de água em ebulição. Observe o título. Monalisa. Jogue água fria dentro de uma das bacias quentes. Veja se o vidro vai explodir. Alerta: Isso já aconteceu. Faça um sopão em uma das bacias. Crie um evento no facebook dizendo que o SESC está distribuindo sopa gratuita na sala de exposições. Se estiver com sede, pode-se utilizar a água para fazer um chá. Quando as bacias estiverem vazias, faça xixi sobre a Monalisa. Veja ele borbulhar. 10- Iseult Labote Karamaounas – La Chaudière (A Caldeira), 2005 Fique horrorizado com as fotos, grite que as fotos são imorais e desenhe roupas nos homens, reclame com os educadores, exija que a exposição tenha censura.
11- Dan Perjovschi – Notes and Postcards on Water (Notas e Postais sobre Água), 2017 Existe uma obra na parede que é composta de vários desenhos. Pegue uma caneta e faça intervenções nos desenhos já existentes. Rabisque, desenhe, escreva. O artista, por incrível que pareça, não se incomodaria muito com isso. Desenhe uma moldura em volta de algum desenho que você gosta e diga que irá comprar apenas aquela parte da parede para colocar na sua sala. Existe uma frase presente no trabalho que é “Let’s not call it water. Let’s call it Nestle” cuja tradução é “Não vamos mais chamar a água de água, vamos chamar de Nestlé”. Vá até a porta e mude o nome da exposição inteira para Nestlé. Pegue os postais presentes no trabalho e envie para a Nestlé convidando-a para a abertura de sua exposição. 12- Guto Lacaz – Ondas d’Água, 2010 Jogue uma moeda e faça um desejo. Diga que ele se realizou e comece a jogar água para fora da fonte. Antes que ela se esvazie, entre na fonte e tome banho lá dentro. Brinque de gangorra com as estruturas de metal. Se estiver sozinho, ainda é possível brincar de cavalinho. Espaço Geral Dispare o alarme de incêndio. Essas pessoas de cinza paradas aí são os educadores da exposição. Agora os educadores vão te entregar o catálogo da exposição. Vire o catálogo e note que atrás existem informações para o agendamento de visitas. Agende uma visita para a exposição em outro dia da semana para quinze pessoas e apareça sozinho. Mostre-se indisposto e para cada pergunta que o educador fizer responda “Aham”. Troquem os textos referentes a cada obra de lugar. Percebam se faz alguma diferença. Fechem a porta da exposição. Não permitam que ninguém entre ou saia. Caso encontre as portas fechadas e queira entrar ou sair, quebre o vidro. Entrem sem camisa na exposição. Entrem nus na exposição. Observe como está um ótimo dia. Um ótimo dia para encarar as pessoas. Encare as pessoas que cruzarem com você. Veja as pessoas na piscina. Comece a aplaudir o que vê. Ainda que a piscina esteja vazia, aplauda do mesmo jeito. Vá até o banheiro. Pressione as torneiras todas ao mesmo tempo. Desperdice água. Aperte as descargas todas ao mesmo tempo e diga que está fazendo uma percussão sanitária para afastar os maus odores.
(voz de atendente) Você está na visita apocalíptica. Não desista. Sua presença é muito importante para nós. Aguarde. (MÚSICA DE ATENDENTE DE TELEFONE). Para desistir imediatamente desta visita, tecle 1. Para continuar sua experiência apocalíptica aguarde na linha. 1- Jonathas de Andrade – Maré (Tide), 2014 Batuquem nas placas de madeira com imagens do píer. Troquem as imagens de lugar. Caminhe até a frase ao lado e esfregue os dedos até que ela desapareça. Pegue uma caneta e escreva alguns números nas placas. Diga que é um grande calendário para este ano que começou. 2- Salomé Lamas – Theatrum Orbis Terrarum, 2013 Entre na sala ao fundo do espaço, assista o mar. “Quando olho muito tempo para o mar, perco o interesse pelo que acontece em terra.”. Perca o interesse. Saia da exposição e diga às pessoas que você vai se tornar um marinheiro. Existem atrás dessa sala janelas que dão para a piscina, elas estão escondidas pela arquitetura provisória da exposição. Quebre a parede e abra uma janela ali. Deixe a luz inundar o espaço. 3- Luca Pancrazzi – Fuori Registro (3000 Metri) (Fora de Registo – 3000 metros), 2014 Fuori Registro (Maloja) (Fora de Registro – Maloja), 2015 Leve os quadros para nadar. Observe se boiam, se sim, use-os de bote para não se molhar. Caso afundem, perceba que você acaba de colocar o céu debaixo d’água. 4- Benji Boyadgian –Still Waters (Águas Paradas), 2017 / Clogged (Entupido), 2017 Ao lado temos quadros que são de Israel e retratam terras israelenses. Ou será que são Palestinas? Não vamos entrar nessa questão agora. Sigam em frente. 5- Nirotoshi Hirakawa – HarukaSakura, 2017 Entre na sala a sua direita. Abra a cortina e coloque uma música bem alta. Ao invés de dançar, arranque o globo do teto e jogue uma partida de futebol com ele. Peguem os refletores nas laterais e usem-os como gols. Existem duas televisões nessa sala. Não gostamos da programação dessa TV. Ligue para a operadora e contrate um pacote de TV a cabo em nome do SESC. 6- Eduardo Srur – Pintado, 2017 Suba na tela na qual está passando um vídeo. Use como palco de Karaokê e cante “Como uma onda no mar”. Diga que é advogado do rio e que gostaria processar o artista por tê-lo poluído visualmente, ferindo a lei da Cidade Limpa. Esmurre a tela do Eduardo Srur e diga que o rio não pagou seus honorários.
7- Stefano Boccalini – Palavras, 2017 Pise nas palavras localizadas em cima da piscina. Brinque de equilibrista sobre elas. Arranque a palavra Emergency (emergência) e saia andando pela unidade Sesc com ela. Se perguntarem, diga que você prevê o futuro e sabe que acontecerá uma catástrofe em breve. TÉRMINO DA VISITA Chegamos enfim a nossa última obra. Olhe ao seu redor, você enxerga esse lugar da mesma forma que enxergava no começo? Será que a imaginação tem a capacidade de alterar a realidade mesmo que apenas a sua? Como teria sido se tudo de fato tivesse acontecido? Essa experiência foi baseada em um dos trabalhos expostos na exposição. Nesse trabalho, um mundo ficcional é atravessado por um fenômeno natural, um longo eclipse responsável por gerar uma histeria coletiva em sua população e fazê-la entrar em um estado de suspensão da moralidade. As leis, os comportamentos socialmente aceitos, tudo isso fica temporariamente suspenso e dá a possibilidade da criação de novas maneiras de agir. Propusemos aqui também outras formas de ações possíveis dentro de um espaço coletivo. Faremos agora então uma conversa sobre a visita para pensarmos juntos sobre essa proposta apocalíptica. Essa foi uma experiência SESC Belenzinho. Pode retirar seus fones de ouvido. Entregue o equipamento utilizado aos educadores e reúna-se para o debate. Agradecemos sua disposição, bom papo.
concha molusco memorial Sheba - adivinhador de åguas procura - lupa de brinquedo - papel manteiga - parte de fora - parte de dentro (cartolina) - Dan e Carlos Montani foco seleção procurar encontro Moscheta - conchas abordagem? moluscos que procuram abrigo
"E foi então que, tomada pelo desespero por não me lembrar de que cor seriam os olhos de minha mãe, naquele momento resolvi deixar tudo e, no dia seguinte, voltar à cidade em que nasci. Eu precisava buscar o rosto de minha mãe, fixar o meu olhar no dela, para nunca mais esquecer a cor de seus olhos. Assim fiz. Voltei, aflita, mas satisfeita. Vivia a sensação de estar cumprindo um ritual, em que a oferenda aos Orixás deveria ser descoberta da cor dos olhos de minha mãe. E quando, após longos dias de viagem para chegar à minha terra, pude contemplar extasiada os olhos de minha mãe, sabem o que vi? Sabem o que vi? Vi só lágrimas e lágrimas. Entretanto, ela sorria feliz. Mas, eram tantas lágrimas, que eu me perguntei se minha mãe tinha olhos ou rios caudalosos sobre a face. E só então compreendi. Minha mãe trazia, serenamente em si, águas correntezas. Por isso, prantos e prantos a enfeitar o seu rosto. A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d’água. Águas de Mamãe Oxum! Rios calmos, mas profundos e enganosos para quem contempla a vida apenas pela superfície. Sim, águas de Mamãe Oxum. Abracei a mãe, encostei meu rosto no dela e pedi proteção. Senti as lágrimas delas se misturarem às minhas. Hoje, quando já alcancei a cor dos olhos de minha mãe, tento descobrir a cor dos olhos de minha filha. Faço a brincadeira em que os olhos de uma são o espelho dos olhos da outra. E um dia desses me surpreendi com um gesto de minha menina. Quando nós duas estávamos nesse doce jogo, ela tocou suavemente o meu rosto, me contemplando intensamente. E, enquanto jogava o olhar dela no meu, perguntou baixinho, mas tão baixinho, como se fosse uma pergunta para ela mesma, ou como estivesse buscando e encontrando a revelação de um mistério ou de um grande segredo. Eu escutei quando, sussurrando, minha filha falou: — Mãe, qual é a cor tão úmida de seus olhos? " trecho do conto Olhos d’água de Conceição Evaristo
ação 1 círculo com fita adesiva invisível copos de café e de água (transparentes) contar a água num balde mapeamento/mudança de lugar aumento de água ação 2 performance - estender a mão p/gota capas de chuva vestem o grupo, mas cada educador se coloca em um ponto diferente do Sesc que tenha goteira
Para Flusser, se as coisas se tornassem transparentes, ou seja, se elas permitissem a penetração de nosso olhar através de suas superfícies, este descobriria abismos por detrás delas, que nos revelariam um vazio sem objetos: “Não pode haver sujeito, onde não há objeto”, ele conclui. O ser humano, ao situar-se em meio a estruturas transparentes, não veria o vazio além delas, mas uma sequência infinita de estruturas transparentes adicionais que, em última instância, produziram a desobjetivação do mundo e a anulação do sujeito. -Mira Schendel
equipe educartiva Anabel Antinori Anna Carolina Catarino Bianca Fina Bianca Nuche Daniela Carvalho Dennise Brito Eliane Diniz Emerson Freire Erika Francelino Jonathan Procópio Laila Siqueira Larissa Dias Marcela Strummer Mariana Pacor Matheus Mendonça Micaely Lima Rafaela Castro Samuel Barbosa Sheila Vilela Thabata Vecchio Vanessa Oliveira Victor Hugo + Bruna de Moraes Fernando Pivotto Lucas Cominato + Pinã Cultura Daniela Avelar Débora Ramos Cavaleri durante a exposição Água no Sesc Belenzinho novembro de 2017 a fevereiro de 2018