Ruínas - projeto final educativo

Page 1

ruĂ­nas: por que juntar agora?



Já dizia Eclesiastes “Tudo e todos se dirigem para o mesmo fim: tudo vem do pó e tudo retorna ao pó.” Uma exposição com três núcleos curatoriais distintos que reúne trabalhos que abordam temas como: distopia, morte, colonização, subversão e ambiguidade. A ruína é universal, condição inevitável. Tudo se torna ruína e da ruína surge o novo. Uma flor brota na destruição assim como a fênix renasce das cinzas. O sol se põe e nasce cada dia. ruínas acontece em um navio cargueiro itinerante, que ancora em portos pelo mundo sem previsão de duração, a fim de aproximar discussões inerentes às relações humanas. O tempo é cíclico e renovador. Estamos sujeitos às intempéries da vida. A dança de Shiva não para. E, sujeitos ao destino, devemos refletir nossa situação. As eras passam e o mundo permanece o mesmo, revelando as cicatrizes dos séculos. Curadoria


A arte contemporânea observa os vários domínios da ação humana e reafirma, por meio de suas proposições, sua condição de imersão. Nesse sentido, não há arte e fim, mas arte no fim, o que significa que a prática artística é atravessada pelos vetores políticos, sociais e éticos que caracterizam cada contexto final. A exposição Arrebatar: Conversões do fim, opera segundo essa compreensão, sugerindo reflexões acerca das possibilidades artísticas finais. A curadoria de Carmen Santos enfatiza um aspecto que distingue a ação do artista: o ponto de vista a partir do qual ele se expressa, como avesso do discurso técnico final, é dinâmico e não se deixa finar. Perspectivas múltiplas, reunidas nesta exposição, têm como motivos as formas históricas de dominação e resistência que ocorrem, há séculos, no fim do Sul geopolítico. Propor ao público contato com as conexões entre a arte e o fim da história humana é um intuito que aproxima o CESC e a OAB (Organização dos Artistas-Espíritos do Brasil) como tem ocorrido há anos. Trata-se de desconfiar da ideia de que as manifestações culturais possam ser pensadas descontextualizadas de seus finais espessos, ou seja, dos finais concebidos como plenos de tempos pretéritos. Somos e não somos resultado das narrativas de conflitos que nos antecederam – aqui, residem o componente negativo e o positivo do fim. A arte, ao vitalizar passados mais remotos e mais imediatos, é uma aposta no fim, já que endereça perguntas ao futuro. É precisamente na implicação entre arte e final que Arrebatar: Conversões do fim se apresenta. Aos públicos, cabe tomar parte ou não nesse fim, averiguando se esses mortos lhes dizem respeito. Diretor regional do CESC- SP


ruínas: por que juntar agora?

1

Arrebatar: conversões do fim

2

O sequestro da aparência: ambiguidade e subversão

3

Reminiscências da colonização: memórias e presenças



Arrebatar: conversões do fim

Como já disse por diversas vezes, na arte brasileira, eu ficaria profundamente magoada se me dessem o título de ‘estrela’ — eu sou um cérebro que trabalha desabaladamente das oito às 24 horas, que luta pela organização da Indústria das Artes Visuais em nosso país com a máxima sinceridade e, por isso, quase sempre, sozinha. Quero é trabalho, produção conscienciosa; é arte na nossa língua; costumes, ambientes, técnica, tudo brasileiro; absolutamente, essencialmente brasileiro. Com isso em mente, aceitei o convite do CESC-SP para realizar a curadoria de um dos núcleos da exposição Ruínas: ….. Composto apenas de artistas brasileiros que não tiveram o desprazer de ver toda sua produção em chamas e que contam com a luxuosa ajuda dos meios digitais para se inscrever no cânone e no imaginário nacional, o núcleo “Arrebatar: conversões do Fim” apresenta as infinitas possibilidades de revisão das versões finais. Carmen Santos, atriz, estrela e curadora.* *Psicografado por Luiz Gustavo Pradez Filho e retirado da Wikipédia.


Convidamos os visitantes para o enterro da arte, ideia, política, pessoa, animal, objeto, personagem, herói, cânone, corpo, imagem, identidade, programa de TV, às 03h33 na Rua Clélia 93, Pompeia. Com curadoria de Carmen Santos*, que foi queimada e calada durante a sua vida, o núcleo reúne onze artistas brasileiros que viram na morte literal e figurativa um ponto de partida para suas criações artísticas. A mostra traz um questionamento sobre… [ilegível**]

* Psicografada por Luis Gustavo Pradez Filho ** Médium faleceu durante o processo de psicografia


NUNO RAMOS

(SÃO PAULO – SP, 1960)

Monólogo para um cachorro morto, 2008 Instalação composta de dez lâminas de mármore (155×260×5 cm cada) dispostas em duas fileiras paralelas de cinco lâminas cada e com um vão de 20 cm entre as lâminas da frente e as de trás. Nas cinco de trás, texto do monólogo esculpido no mármore. Em uma das lâminas da frente, um monitor de tela plana exibindo a performance em que o autor encosta seu carro no acostamento da Rodovia Raposo Tavares, São Paulo, próximo a um cachorro morto. Tira do veículo um aparelho de som e o coloca ao lado do cadáver, com os alto falantes voltados para o animal. Liga-o, entra no carro e vai embora, deixando o aparelho de som reproduzindo o texto de sua autoria “monólogo para um cachorro morto”. Duração: 12min 43seg. Disponível online. Você está deitado ao lado da estrada. Acorda! Os carros passam, mas nada fazem. Suas pálpebras estão fechadas, logo, tudo para você é escuridão. ACORDA! De repente um som. Algo como uma confissão, que te faz pensar como você chegou naquele lugar. ACORDA, CACHORRO! Qual o peso da morte? Como ele nos afeta? Será que esse peso também incide sobre um cachorro abandonado à beira de uma estrada? O que pode ser criado a partir do fim da vida de um animal? Onde você está agora? Lendo o monólogo ou escutando-o passivamente, deitado à beira da estrada? Em “Monólogo para um cachorro morto”, Nuno Ramos traz questões sobre vida e morte através de um monólogo lido para um cachorro morto à beira de uma estrada.


RUBENS GERCHMAN

(RIO DE JANEIRO, SP, 1960 – SÃO PAULO, SP, 2008)

Lindonéia, a Gioconda do subúrbio, 1966 Lindonéia, de Rubens Gerchman, apresenta claramente como uma obra de arte pode ir muito além da proposta do artista. A obra, com sua potência, inspira uma música de Caetano cantada por Nara Leão. Lindonéia é um excelente sintoma das diferenças entre o pop americano e a nova figuração brasileira. A bela Lindonéia seguramente não é branca, nem negra, é mestiça. Olhos amendoados e levemente puxados, marca na região dos olhos situada do lado esquerdo, nariz largo, cabelo preto ondulado e curto e boca grande com marca na região direita. Essa mulher, que carrega no olhar a tristeza e a raiva, carrega também marcas da violência e do silêncio exalado por muitas mulheres vítimas da violência. Lindonéia desaparecida a pintura de uma mulher vítima de um crime passional.


VERA CHAVES BARCELLOS (PORTO ALEGRE — RS, 1938)

Em que taça beberei?, 1988 Ingredientes: · 1 taça grande de cerâmica ou porcelana da arte clássica · 1 câmera fotográfica · 1 editor de foto · Molho de cetim vermelho

Modo de preparo: · Fotografe a taça; · Edite, amplie e duplique a foto; · Forme um díptico com a fotografia; · Tire cópias de acordo com a quantidade de pessoas que irá servir; · Triture a taça de verdade até esgotar a arte; · Repita o procedimento

Para servir: Pregue as reproduções na parede e coloque o que sobrou da taça em uma caixa de acrílico jogando por cima o molho de cetim vermelho. Reúna a sociedade do pós-moderno e bom apetite!


NARUNA COSTA

(TABOÃO DA SERRA - SP, 1983)

Da paz, 2008 Quem é da paz? Quem foi da paz? Você é da paz? Naruna Costa ao interpretar o monólogo de Marceline Freire traz para o corpo de qual lado está a paz que matou Joaquim. O que acontece quando a paz morre? · No fim da paz você estará no agora; · Abra o Youtube; · Pesquise: Da paz, Naruna costa; · No fim da paz você viu o vídeo; · Você está no agora. Monólogo retirado do espetáculo “Hospital da Gente” de Marcelino Freire. Duração: 4min 28seg. Texto: Marcelino Freire. Direção: Mario Pazini. Intérprete: Naruna Costa.


GABE PASSARELLI (RIO BONITO – RJ, 1995)

O que fazer quando uma corpa vira cinzas?, 2017 Após o assassinato de sua irmã, Matheusa Passarelli, Gabe Passarelli usa do espaço institucional do educativo do queermuseu - do qual o casal de irmãs participavam- para expor a chacina cotidiana que ocorre com os corpos transvestigeneres e negros, reivindicando seu lugar de fala, pondo em cheque a apropriação cultural presente na exposição queermuseu e questionando a omissão sobre o assassinato da irmã por parte da instituição. Aqui temos agora

em

o

das ela

s

u

registro

cinzas, a

está

s

mãos.

O que você faz com elas?

Eu sou você e usei o Google pesquisas, foi a milésima vez desde que tudo que ocorreu aqui pouco importou para você. Pesquisei “o que fazer quando uma corpa vira cinzas”, cliquei. Li. O que eu fiz? Eu queimei. E tudo aconteceu novamente. Registro de performance feito por Caroline Lopes em Revista Desvio em 23 de dezembro de 2018. Performer: Gabe Passarelli.


SAMURR (SAMUEL D’SABOIA) (RECIFE – PE, 1997)

A arte do conforto de Samuel d’Saboia, 2018 Basquiat mata Samo? Samurr (Samuel d’Saboia) vem no Afropresente-passado-futuro. Vá às casas Bahia GOOGLE BASQUIAT MEIA e procure um Moto G 6. Provavelmente você não irá encontrar ao menos que esteja em 2018. Caso esteja, Samurr Hello moto BASQUIAT CANEQUINHA PARA CHÁ tudo bem. Compre-o. Após parcelar em muitas vezes – pode ser a vista caso você seja um grande curador GOOGLE BASQUIAT SUPREME de arte – use seu novo celphone para BASQUIAT BONECO pesquisar pelo google. Diga “Ok google” e fale pausadamente Samurr Hello moto. Diga com cuidado ou pode acabar se BASQUIAT FORRO DE CAMA tornando “Samu (a ambulância) relóu o motor”. Diga Toque, leia e perceba que não se trata do seu dinheiro BASQUIAT MUGRABI, nem do seu nome na curadoria de arte, mas de vivência. Samo isn’t dead. BASQUIAT CAMISETA. Registro de performance e entrevista feita por Motorola em 19 de Junho de 2018. Performer e entrevistado; Samuel D’Saboia.


LYGIA CLARK

(BELO HORIZONTE, MG, 1920 – RIO DE JANEIRO, RJ, 1988)

Baba Antropofágica, 1973 A proposição em que um de seus pacientes deita no meio de um grupo, o corpo inerte e vulnerável às ações dos participantes, os quais contém um rolo de linha em suas bocas. A baba molha os fios, assim, o grupo começa a passar a linha em torno do homem deitado, criando uma espécie de casca. De acordo com a própria artista os participantes: “primeiro sentem que estão puxando o fio para fora, em seguida, eles começam a perceber que estão puxando as próprias tripas”. DVD Baba “Antropofágica”. Duração: 10min. Diretor: Walmor Pamplona. Ator Convidado: Jards Macalé. Realização: Clark Art Center. Cortesia: Associação Cultural “O Mundo de Lygia Clark”. Aqui o vídeo age como registro, mas ao mesmo tempo recria de maneira perene as ações provocativas do momento da performance. Assim, a imagem presentifica e torna vivos os fluidos corporais.


DANIEL FURLAN (VITÓRIA - ES, 1980)

O Último Programa do Mundo, 2013 Episódio #15 do programa exibido na MTV Brasil e posteriormente no canal da TV Quase, no YouTube. Duração: até o fim do mundo. Disponível online. Apocalipse, caos, desordem. Utilizando como pano de fundo as chamas ardentes do fim da MTV Brasil, Daniel Furlan criou um programa que deixava à mostra o processo de falência da emissora. Através de um humor inesperado e aparentemente despretensioso, O Último Programa do Mundo se contrapõe ao espectro televisivo tradicional, ironizando o final da MTV e gerando diversos ruídos nesse circuito. O que é arte? Quem pode ser artista? Por quê? Róstos ou rostos? O que você está pensando agora? É difícil viver de arte? É difícil viver?


BETH MOYSÉS

(SÃO PAULO - SP, 1960)

5664 mulheres, 2014 Imagine-se recolhendo cada uma dessas cápsulas vazias, ainda quentes, no instante em que elas tocam o chão e calmamente, de forma ordeira, enfileirando-as. Imagine que você não se assusta com disparos e quase nem os percebe. E segue sua missão de esperar passivamente pelos disparos, assistir ao tiro e recolher os restos. Mais uma: esperar passivamente pelos disparos, assistir ao tiro e recolher os restos. Mais uma: esperar passivamente pelos disparos, assistir ao tiro e recolher os restos. Mais uma: esperar passivamente pelos disparos, assistir ao tiro e recolher os restos. Perceba que esse seu eu imaginário, vai se mecanizando pela repetição do mesmo ciclo. Você é um mecanismo agora. Uma máquina que repete um ato sem sentido e se alimenta do automatismo. Você é praticamente um revólver sendo recarregado e atirando agora. Mas só estávamos recolhendo os restos… Como nos tornamos os atiradores? O Brasil é o 5° país no mundo em número de mortes violentas de mulheres. O mundo possui 194 países. 27 é o número de anos que a República Federativa do Brasil demorou para aprovar a lei do feminicídio. 2018 é o ano em que não se consegue informações no google sobre assassinos de mulheres absolvidos sob alegação de legítima defesa da honra e 5564 é o número de mulheres assassinadas por seus parceiros no Brasil no ano de 2013. Partindo do ato mecânico de contar, da frieza dos números sem nomes e da imagem básica de identidade da nação, a artista constrói um espaço de reflexão sobre a relação que estabelecemos com a violência doméstica que leva ao feminicídio: como não vimos tantas mortes anunciadas? Não vimos mesmo?


GLAUBER ROCHA

(VITÓRIA DA CONQUISTA, ES, 1939 — RIO DE JANEIRO, RJ, 1981)

Di Cavalcanti Di Glauber, ou Ninguém assistiu ao formidável enterro de sua última quimera; só a ingratidão, essa pantera, foi sua companheira inseparável, 1977 O fim dos heróis. O curta-metragem se trata de uma homenagem de Glauber Rocha para seu falecido amigo, o famoso pintor Di Cavalcanti, realizada durante o enterro do mesmo. Iconoclastia, dessacralização e heresia. O curta trabalha não só com a morte física do pintor, mas também com a morte figurada do artista, onde o próprio Glauber assassina seu herói Di Cavalcanti. Apesar da possível ironia do cineasta, Glauber reproduz discursos racistas e machistas, e a linha entre a piada, a caricatura e a realidade é muito fina em seu filme. É necessário o fim dos ídolos, dos heróis, dos cânones, para que assim possamos critica-los. Assim como o cineasta matou a imagem de Di Cavalcanti, agora somos nós que precisamos assassinar Glauber Rocha. E como faremos isso se não podemos atear fogo como fizeram com Carmen Santos? Duração: 15min 33seg. Disponível online.


PROGRAMAS PÚBLICOS série de palestras, vivências, conversas, encontros e workshops VIVÊNCIA

Aprendendo a morrer com Robert Capa* Segundo Antônio Manuel, "a representação já nasce morta". É sob essa perspectiva que se ergue "Aprendendo a morrer", uma vivência de desconstrução fotográfica que visa subverter o sentido tradicionalmente atribuído a esta forma de registro. Ao invés de ser vista como uma forma de eternizar o momento, a fotografia pode possibilitar a morte de uma determinada situação. Nesse sentido, propõe-se aos visitantes que fotografem algo que gostariam de apagar, vendo aquilo não como uma forma de eternização, mas como registro do deixar de existir daquele momento. Os visitantes irão aprender a desconstruir o conceito tradicional de fotografia. A partir do exercício de percepção de fotografar algo que não gostariam de registrar, os participantes serão encorajados a ampliar sua forma de olhar o ambiente ao seu redor. Desse modo, expandirão o conceito de fotografia, para sua função de registrar a morte de algo. *Vivência será mediada pelo espírito de Luiz Gustavo Pradez Filho através do médium Karlos Klint, que fará a mediação do espírito do médium. Robert Capa foi fotógrafo de Guerra e Jornalista. Faleceu no campo de batalha, na guerra da Indochina em 25 de maio de 1954, tentando tirar foto de gente morrendo.

OFICINA

Natureza morta-viva com Di Melo A partir da pintura clássica de representação da natureza morta, os visitantes irão participar de uma oficina onde seres inanimados ganham vida. Para transver o conceito de natureza morta do senso comum, subvertendo o imaginário que associa esse conceito às frutas. com Di Melo: o Imorrível



O sequestro da aparência: ambiguidade e subversão

Reunidos para eleger, não um novo papa, mas outras ordens sociais, artísticas e culturais, Conclave do Ocaso busca nas ruínas de sistemas de representação outras possibilidades. O Conclave funciona como uma reunião aberta, periódica e sem lugar fixo, que une indivíduos com diversas causas e necessidades a fim de discutir e questionar como essas ruínas nos afetam. Conclave do Ocaso curadoria


O núcleo reúne trabalhos produzidos nos últimos 30 anos por artistas latino americanos, que através da construção de imagens, memórias e por meio do uso de diferentes materiais, subvertem funções e papéis sociais presentes no imaginário comum.


CLEIRI CARDOSO Série Cartazes panos de prato, 2017 Composta por mais de vinte frases feministas impressas em panos de prato, a série estabelece uma relação entre o cartaz (suporte usado para divulgar informações em ambientes públicos) e o pano de prato (objeto comum no ambiente doméstico, culturalmente condicionado à mulher) a fim de circular mensagens em lugares onde a violência à mulher é recorrente. Pano de prato e cartaz / Cozinha e lugar expositivo / Objeto do cotidiano e objeto de arte / Público e privado / Onde a ação artística é realmente efetiva? / Com quem a obra quer comunicar? / Qual é o lugar da arte?


DORIS SALCEDO sem título, 1995 Produzida ao longo de aproximadamente duas décadas, a série “Sem Título” de Doris Salcedo, foi inspirada em eventos da guerra civil colombiana e aborda a história do período voltando-se para episódios de opressão política e demais atos de violência, a fim de tratar de temas como o vazio deixado pelo desaparecimento e dar forma a dor, ao trauma e à perda. Partindo da sua experiência de convívio com familiares de vítimas da guerra, Doris confecciona as esculturas da série a partir de móveis em madeira, retirando deles a funcionalidade: os móveis, ao serem preenchidos por concreto e tecido, são destituídos de sua função usual e convertem-se em monumento para os ausentes. A escolha dos objetos é proposital e remete ao cotidiano do ser humano. Assim, ao inutilizá-los, a artista enfatiza a carga simbólica das esculturas criadas, evidenciando o peso da morte no dia-a-dia dessas famílias ao denunciar ausência de seus entes queridos.


ELISA RIEMER Nosotras, 2017 A carta da Papisa (Estudo) se encontra virada, é tempo de sabedoria… Três cartas serão reveladas: Passado, Presente e Futuro. Uma leitura de obra através das Arcanas, veja bem: *Vira-se a primeira carta*. A Eremita (Procura) É preciso entender o passado. As que guardam o poder da criação foram subjugadas, taxadas de bruxas e queimadas. A ancestralidade Delas nos chama para uma “Viagem ao útero cósmico”. *Vira-se a segunda carta*. A roda da fortuna (Sorte em movimento) O presente se mostra para nós: A sorte Deles está em jogo. Elas se apoderam dos rótulos e os transformam; subvertem as funções que lhes foram impostas; lutam por espaço, liberdade e reconhecimento. A sorte Delas é conquistada. O autoconhecimento sua arma. *Vira-se a terceira carta*. Julgamento (Novo ciclo de vida) Na imagem Delas se fundem as nuances entre feminino e masculino de cada ser. As sementes, uma vez plantadas nas suas histórias, florescerão. A voz ancestral das primeiras se fará forte, a verdade ofuscará. Uma nova era está por vir.


GISELA MOTTA E LEANDRO LIMA

[COLABORAÇÃO DE CLAUDIA ANDUJAR]

Yano - a, 2005 Tudo vermelho. Está pegando fogo na maloca Yanomami. Em 1976? Agora? A água se mexe. Chuááá…


MONICA PILONI LascĂ­via, 2012 boca boca boca boca boca boca boca? boca? ? ? ? ? buraco buraco buraco boca buraco ? buceta boca buceta buceta buceta boca buceta boca buceta boca buceta buraco bocaceta buceboca buceraco bucacota atecuacob


RONALD DUARTE Guerra é Guerra!, 2001/2002/2003 O que rola você vê? O sangue que jorra entope corrente nascente no morro Da bala perdida achada Em sangue preto pobre Fogo cruzado Caminho do bonde Cheio de pernas Em tanto sangue Mar vermelho Só o olhar desvia O menino que pede cheira mata morre Na pedra. Desvia A sangue frio O que rola VCV. Guerra é Guerra


ROSANA PAULINO Parede de Memória, 1994 A memória dessa casa não está no porão onde tudo se guarda mas sim na parede de retalhos familiares e patuás expostos já opacos, falhos e desbotados. Neles as marcas da submissão de uma família desgastada trançam em suas linhas de crochê lembranças de suas negras histórias.


TĒT0 PRĘTØ LONG SET PEDRA PRETA, 2018 A palavra crıa imagem a imagem evoca presença através da fala evocamos presenças que presenças evocamos o quão conscientes estamos não só da língua mas da língua no corpo o que ela pode e o que impede se juntos evocássemos outras presenças e pensássemos outros corpos e se a linguagem fosse maior mais expansiva mais expressiva mais abrangente mais acessível se o território da linguagem fosse o corpo e se coubesse na linguagem o que transborda o corpo e se não precisássemos de nomes para o que não se pode nomear desacato a semiótica orgia da semântica e se a língua tem limite qual o limite se houvessem outros jeitos de dizermos como diríamos o que não dizemos pra onde iríamos com esses novos dizeres o corpo todo o tempo comunica o que você me diria que conversas são essas que nunca tivemos , - . ? : .


LABORATÓRIOS

Subvertendo Aurélio

com Armando Freitas Filho e Aurélio Buarque de Holanda

A partir do poema em prosa A flor da Pele de Armando Freitas Filho (1978), em que o verbete de Pele do dicionário Aurélio é copiado e alterado cinco vezes, o laboratório irá propor a experiência de retirar do dicionário palavras que não tem seu sentido saturado pela lexicografia para propor sua subversão e expansão do sentido. Produzindo novos textos, em coautoria com o Aurélio Buarque de Holanda, que se misturam entre verbete, prosa e poesia. Mediação: Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho Local: Convés Principal Horário: quinta-feira, 20/12, das 17h às 20h Vagas: 30 participantes. Inscrições uma hora antes.

Sensibilização da Sensação Háptica

Mediada pela presença espiritual de Kent C. Bloomer e Charles W. Moore

A vivência propõe uma visita ao autoconhecimento a partir do texto “Cuerpo, memoria y arquitectura” de Kent C. Bloomer e Charles W. Moore, que apresentam o conceito de “Sensação Háptica”. Trata-se de um sexto sentido inerente aos seres humanos que envolve uma área externa ao corpo e está em constante interação com o ambiente e os objetos a nossa volta. A atividade apresenta novas versões de como sentir o mundo e se conectar com ele usando objetos que podem atuar como extensão do corpo, (instalações de diferentes tamanhos e cores, equipamentos que interferem na orientação corporal e interações físicas humanas diversas) aperfeiçoando e sensibilizando a capacidade de percepção desta bolha invisível que nos cobre. Mediação: Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho Local: Deck do barco Horário: Segunda-feira, 2/12 às 16:00

Bandeirão

com Cólera Alegria

A partir do encontro, a oficina propõe a construção de uma bandeira, símbolo de representação de uma ideia coletiva. A escolha pelos materiais utilizados na vivência é determinada pelo mínimo disponível no espaço (tintas, fita adesiva, tesoura e um tecido de 3x3m), criando um paralelo também com os poucos recursos e tempo para produção de cartazes em manifestações. A proposição busca instigar o diálogo, o senso de coletividade e pensar novos modos de se relacionar com o outro. Local: Deck do navio cargueiro Horário: Domingo, 2/12 às 19:00


Reminiscências da colonização: memórias e presenças

Fato consumado, a colonização é o passado e presente das colônias recém-independentes, como o Brasil. A história curta de ex-colônias do Império Português não permite que a violência ancestral e a exploração de uns por outros seja apagada. Está nas entranhas de uma sociedade em constante transformação. Um país que nasce do embate entre nativos e estrangeiros não tem como apagar suas raízes. O passado permanece. E que permaneça como memória, reflexão e contraexemplo. Francisco Lemos curador


JAIME LAURIANO Trabalho, 2017 O homem branco cometeu as maiores atrocidades já vistas pela humanidade para atingir seus objetivos de conquista, dominação e poder. Durante a escravidão as punições se estendiam de aprisionamentos à mutilações; e a violência com os povos africanos e seus descendentes era norma. O Brasil foi o último país americano a abolir tal violência e os reflexos dessa decisão tardia são sentidos em toda a história. Os mais diversos maus tratos tornaram-se comuns, tão naturalizados que passaram a figurar em objetos decorativos do cotidiano. Apresentase uma coleção desses objetos, demonstrativos da insensibilidade de uma sociedade incapaz de condenar seu passado escravocrata.


DIAS & RIEDWEG Funk Staden, 2007 Como os portugueses pensavam a cultura do povo canibal Tupinambá? Como o pensamento elitista enxerga a cultura periférica no Brasil? A chamada alta cultura desqualifica de início as culturas que nascem das periferias. A periferia cria seus próprios costumes que não necessariamente estão de acordo com a cultura dominante.


ROSÂNGELA RENNÓ Vera Cruz, 2000 A história do Brasil é permeada pela violência e pelo abuso de povos não brancos. Somos levados a acreditar em um antigo conto de fadas repetido ao longo de gerações de brasileiros: o primeiro encontro entre índios e portugueses se deu de forma pacífica. O falso documentário nos convida a assistir, imaginar e preencher as enormes lacunas deixadas pelos responsáveis por contar essa história. Através das linhas escritas pelo relator oficial, vemos um documento ficcionalizado que acompanha os portugueses em seu contato inicial com os nativos. O que podemos ouvir e supor do que restou do registro é o estranhamento de ambos e a imposição de alguns.


CAO GUIMARÃES

Gambiarras, 2000/2014 Uma gambiarra é mais do que um mero conserto, é uma condição de vida, um desconserto. É desse modo que é colocado uma parcela do povo brasileiro, submetido a realizar essas adaptações de objetos pelo resto de suas vidas, sem poder usufruir integralmente da qualidade técnica de produtos a fundo. A obra demonstra um “terceiro-mundismo”, uma subordinação a países de primeiro mundo.


DIÁLOGOS ABERTOS

Diálogos Abertos traz ao público encontros que abordam temas fundamentais para repensar a colonização e seus efeitos e desdobramentos no Brasil e no mundo. Conversa Narrativas de Resistência Negra na Mídia Nacional com Thiaguinho A presença de pessoas negras na mídia brasileira é importante, pois este é um espaço que deve e necessita ser ocupado por autênticos e importantes sujeitos da sociedade negra. As narrativas destes sujeitos devem se propor também pelo problematização das representações étnico-raciais nos meios de comunicação. E assim contrapor-se ao poder tutelar dos meios da mídia dominante. O convidado deste encontro de Diálogos Abertos é o cantor e compositor de pagode Thiaguinho. Thiago André Barbosa, 35, mais conhecido como Thiaguinho, é sem dúvida um dos maiores representantes das cotas negras na televisão brasileira, tendo frequentes e importantes participações em programas de palco como: Domingão do Faustão e Bem Estar com Fátima Bernardes.-+. A Música Que Não Foi Colonizada: Vozes das Identidades com Elizeth do Carmo, Jorginho Soares e Dj Larissa Tonhá do Coletivo Torna A música é um importante instrumento para pensar espaços da produção como resistência e formação de um pensamento pelo qual se possa dizer nãohegemônico. Três referências do gênero neotechnejo despertam reflexões e influenciam milhões de brasileiros diariamente. Nesta mesa de discussão os artistas discutem: “É possível haver música nas Américas? Quem canta seus males espanta?”. Conversa literária com Leonora Santos e Brigite Carneiro As escritoras Leonora Santos (conhecida pelo romance best-seller A Vida e Morte de Lara) e Brigite Carneiro (autora do célebre Conhecendo Canhestro) conversam sobre temas e pontos comuns de suas obras.


FICHA TÉCNICA

CESC -SP Clube Espírita do Comércio - São Paulo Administração Regional no Estado de São Paulo

OAB Associação dos Artistas-Espíritos do Brasil Administração Terrestre

Curadores convidados

Carmen Santos, Conclave do Ocaso e Francisco Lemos

Ação Educativa

Luiz Gustavo Pradez Filho (mediando o espírito de Carmen Santos) Karlos Klint (mediando o espírito de Luiz Gustavo Pradez filho durante processo de mediação do espírito de Robert Capa)



Exposição acessível. Audioguias, catálogos e textos de parede são bilíngues Português- Língua dos anjos. Procure um dos mediadores em caso de necessidade de mediação mediúnica.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.