imaginação de afetos, utopias e desejos

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imaginaçþes de afetos, utopias e desejos


imaginação de um educativo utópico*

*proposta imaginada a partir de Nobody Asked You To Do Nothing - A Potential School, por Liam Gillick e seus alunos, a partir de Notas para a construção de teorias refutáveis, pedagogias sem importância e escolas de garagem, ou: um bom nome para o amor, de Mônica Hoff


19 itens a partir dos quais imaginamos um educativo utópico: Contexto histórico e político As pessoas Arquitetura Infraestrutura Localização geográfica Formação e seleção de equipe Relações de poder Orientação teórica Autoconsciência O que produz? O que oferece? O que exclui? Relações institucionais Espaços paralelos Modos de recusa Deveres e obrigações Orçamento e recursos Interferências cotidianas no outro O que seria requisitado do corpo


A relação de estado-nação foi completamente pulverizada por conta das relações econômicas e o fluxo crescente de imigração enquanto nova dinâmica de vida. Haveriam lutas por narrativas, identidade e memória. Conflitos por espaços simbólicos para construção de alteridade. Todos entenderiam o lugar de si e a cidade entende o valor destas perguntas. Contexto de pós-revolução do proletariado e socialismo caminhando para o comunismo. O contexto seria de uma sociedade contemporânea paulo freiriana e organizada por uma democracia dominada por mulheres. Seria um futuro próximo. A não meritocracia seria efetiva. Um lugar não colonizado e ao mesmo tempo não colonizador, em que o povo tivesse conhecimento de sua história. O contexto político não envolveria guerras, golpes ou divisões duais e preguiçosas. Seria impossível, o que ainda 1


não tem suas condições de possibilidade de serem criadas. Seria utópico comunista; o que não aconteceu ainda. O contexto seria de pós-ruptura e em um cenário político de contradições. // As pessoas estariam em desordem, fluidez e disputas. Seriam amigáveis e, quando possíveis, razoáveis. As pessoas seriam diversificadas e se respeitando. Fluxo grande entre centro e periferia. Corpos decoloniais, em constante reorganização das referências: identidades transitórias. Consomem mais arte do que pop. As pessoas seriam maduras, evoluídas e generosas. As pessoas teriam mais tempo para viver. // Um lugar aberto e amplo em que seja possível caminhar. Arborizado, com muitas janelas e sem escadas. Poucos prédios, mais casas e árvores. Uma sala ampla, que permita a convivência entre o educativo e o público espontâneo. Uma mesa grande, bancos confortáveis, iluminação clara mas não agressiva (como a de hospital) e diversidade de materiais. Um fogão e café coado. Limpeza regular. Um lugar sem carpetes. Um educativo que atue junto da curadoria. Sustentabilidade para entender que somos o que criamos. Como uma casa-lar aconchegante que tenha quintal com localização próxima às residências de todas pessoas. Moderna: uma definição transitória. 2


A infraestrutura teria um arranjo se convertendo em um novo grupo dominante. A partir da reconfiguração do existente, o Mundo Mágico de Oz se localiza geograficamente. Jogo constante entre dentro/fora, privado/ público. Arquitetura dobrável, de bolso, para ser erguido em qualquer lugar e depois suma; estruturas móveis. Materiais que possam ser carregados por um corpo, e que possam, ao mesmo tempo, acolhê-lo. Materiais encontrados em derivas. Espaçosa e que deixa o sol entrar. Que pensa no que comunica e não quanto custa. Possível de adaptar a cada nova necessidade. Completa e que atua ao lado do educativo, não como uma competição.// Local acessível à qualquer pessoa. Nas periferias, corredores e centros. Adaptada às necessidades da equipe. Que não indica, mas entende os alcances das pessoas. Respeitosas e horizontais. Destituídas de cargos simbólicos de orientação; cooperatividade. Orientação teórica: em movimento. Paulo Freire, Clarissa Pinkola e Bell Hooks. Corpos teóricos-feministas. Que não sejam necessários. Textos de literatura e linguística. Viveiros de Castro (O mármore e a murta). Estamos inseridos na luta narrativa. O que é o narrador? Livre para mudar de ideias e seguir novos caminhos sem pressões. 3


A consciência estaria orientada para o reconhecimento das contradições. Que tenha tempo para autoconhecimento. Autocuidado para cuidar do outro, dos outros. Zonas autônomas, desordem e deslocamento de lugar comum, estranhamento, conflito, gozo. Exclui regras colocadas por alguém externo ao grupo montado em cada tempo/espaço de encontro. Produz imaginação, oferece pensamento crítico e excluí fascismo. Compreensão de limites para saber ultrapassá-los. Relações institucionais nulas. Aconteceria enquanto grupo autônomo. Que a instituição respeite e valorize o educativo. Relações divergentes ou dialéticas? Depende das muitas coisas. Não aconteceriam relações institucionais: o que é instituição? Lugares de conflitos geradores de potência e ação. Instituições seriam os espaços paralelos. Serão geradores de conflitos potentes. Os espaços paralelos são uma sistemática onda de modificação do novo - uma contradição de adaptação do existente. Indivisibilidade de espaços, sem paralelismos. Interferências cotidianas presentes. Não é não seria o principal modo de recusa. Aprender a ouvir não. O público seria nós e nós o público, dado que o cotidiano seria muita coisa. Sempre no coletivo, em diálogo com os locutores. Discutidos e respeitados. 4


Motivos para seguir em frente. Senso de coletivo, compromisso enquanto os acontecimentos estiverem ativados, consciência do outro, relações diabólicas. Trazer propostas e projetos potentes que não desencontre os interesses do próprio educador. O orçamento seria infinito. Se manteria por relações de escambo e procedimentos colaborativos. Potente e diverso. Processos educativos acontecendo por autogestão. Compreensão desse ‘como fazer’ sendo parte do processo e não como fim. Público formado por identidades em trânsito. Que tiver interesse em participar. A interferência para com o outro é afetiva, dada pela troca e diálogo. A possibilidade de usá-lo e explorá-lo como ferramenta no espaço. Aprender como necessidade. Agir ao invés de reagir. Pessoas mais tranquilas. Os requisitos do corpo seriam estar presente, cultivar saúde e bem estar, praticar alongamento, cochilar mais e ter acesso à comida. Um corpo não pronto para a guerra. Corpos em movimento. Presença e estados de dança. Modos de relação coletivos e transparentes. Maior intuição. Produzir no outro o tempo para a pausa. Modos de seleção por escolhas coletivas e, porque não, afetivas. Seleção a partir da análise de mapa astral. O educativo não existiria. 5


o que aprendi com os vĂ­nculos afetivos?


qual é o sentido disso? tô perdendo tempo tô querendo tudo só perdido hoje só ouvindo o outro posso comprovar quanto tempo falta para o tempo consumir o espaço? o som ocupa presença dos teus passos será que vou ser encontrado? preciso de mais tempo o que tenho está acabando vou parar de correr contra ele não somos inimigos. ....................................................................................................................


-> o afeto afeta de diferentes formas -> construções de afeto importam -> as vezes é necessário receber colo -> gratidão às diferentes maneiras que o afeto se manifesta .................................................................................................................... Aprendi que ninguém ensina nada para ninguém, mas sempre a gente aprende algo. .................................................................................................................... Que é impossível sair ileso de qualquer situação. É no afeto que, para mim, se torna evidente a situação de um corpo em eterno estado de mancha. A troca atômica que borra os contornos: todo atravessamento é também uma proposta de reorganização das partículas. Acolho e me assombro. E, claro, aprendi a ler de maneira mais íntegra alguns poemas. ....................................................................................................................


Aprendi a respeitar o tempo do outro. “Aprendi”a tentar filtrar melhor aquilo que apreendo do outro. Aprendi que devo ser forte para puxar o outro para cima, mas que ser forte sempre também não é solução para nada. Aprendi que nem sempre podemos resolver tudo na hora, mas que rir muitas vezes ajuda. Aprendi que às vezes temos que errar e sofrer mesmo para assim seguir em frente. Aprendi que respeito e horizontalidade não são coisas dadas, mas que se constróem. .................................................................................................................... - aprendi a me reconhecer no outro. a ouvir o que o outro diz, fazendo parte de mim também. - aprendi a ter mais paciência. aprendi um pouco mais sobre o que é não ser ouvida, e tudo bem. .................................................................................................................... Aprendi a confiar mais e que eu não estou fazendo tudo sozinha. Aprendi como é bom ter colegas que te apoiam quando problemas surgem. Aprendia a apoiar também. ....................................................................................................................


vínculo, laço, olhar, abraço vínculo, hábito, sorriso, afago vínculo, tato, corpo, calor vínculo, olhar, pensamento, oco vínculo, lembrar, relembrar, puxar vínculo, surto, riso, nervoso vínculo, bixinho, brasil, cozinha vínculo, alegria, raiva, deboche vínculo, leitura, mico, patada vínculo, leitura, paciência, produção vínculo, arte, educação, vermelho vínculo, união, perrengue, salinha vínculo, amor, continuidade... .................................................................................................................... Qualquer relação afetiva precisa de estabilidade para poder ser cuidada. Terreno fértil. ....................................................................................................................


o que aprendi durante “o tempo mata�?


Aprendi a “cozinhar” e a fazer marca páginas. Quem foi Angel W e que não se deve brincar com cão guia em trabalho. Aprendi quem são Hito, Jafa, Douglas, Rachel, Cyprien e que uma visita nunca sai como planejado (essa é a beleza dela). Aprendi que surtar às vezes é bom e que é assustador escrever no site que apaga tudo. Aprendi Bell Hooks e Freire e a usar as brechas para lutar pela educação. Aprendi quem é Pollock e outras formas de tirar a calcinha da bunda em público. Aprendi que todos entendem de arte, cada um a sua maneira. .................................................................................................................... Que o corpo dança em qualquer lugar. Que também é ótimo se relacionar com gente mais nova. Que eu envelheci. A usar figurinhas do whatsapp. Astrologia. A olhar meus trajetos para cuidar de outros. Chorar de cansaço. Relações de trabalho. Destruir. A ser dura. A ser mole. Usar portas automáticas. Fazer música com autômatos. Que o Cage amava o Merce Cunningham. Mergulhar em estados amorosos e não demonstrar. Depois demonstrar. Observar, cozinhar, esperar, esperançar, correr nas escadas, fazer planilhas e gostar, elementos de paisagem, dançar, de novo. ....................................................................................................................


Aprendi que é muito difícil dissociar a arte e o trabalho educativo das relações de afeto. Aprendi um pouco mais sobre como tentar fazer um bom trabalho dentro de uma instituição. Aprendi limites. Aprendi ainda mais a me posicionar (sempre lutando com a vozinha que diz que era melhor calar). Aprendi ainda mais que é preciso parar. Aprendi a, em coletivo, impulsionar e acreditar nos meus próprios projetos. .................................................................................................................... Mais do que resistir, transformar(se). Deixar, não morrer. Porque somos florestas. .................................................................................................................... Sim, os museus são aquilo que imaginávamos; só é possível habitá-los à margem. .................................................................................................................... Que tudo (ou quase tudo) acontece devagarzinho, com tempo. Mas que o tempo nunca é suficiente pra gente matar ele por inteiro. ....................................................................................................................


não julgue as pessoas, não se julgue não esconda o choro, chore não lamente a perda, acolha não desista do que ama, lute não se desgaste tanto, descanse não seja dura, sorria sim, abrace quando achar que sim sim, fique quando achar que não sim, crie sem ter permissão sim, eu não estou sozinha sim, o tempo passa sim, tudo está sempre bem sim, tudo já deu certo... ....................................................................................................................


colecionar perguntas; buscar vermelhos; gesto limitado; gesto preso; gesto apagado. autoretrato; autorepresentação; pequenas violências; desobediência civil; autoinserção; atravessamentos; construções e reconstruções de identidade. afeto. depois das 19:30 é surto! .................................................................................................................... - Expresión y condición - O tempo passa o espaço fica; o video fica eu passo; eu vou, nós vamos? eu mudei? lá vou eu pra próxima jornada! (vocês mudaram?) ....................................................................................................................


o que gostaria de aprender de verdade?


cuidar da terra. Ter fé. Articulações mais flexíveis. A ir embora. A coreografia do Bolero de Ravel. Sorrir sem vergonha dos dentes. Linguística e fenomenologia. Corporalidades. Derrubar bancos. .................................................................................................................... como ser rica, como se manter sã o que é o 9. andar como mediar o gatinho aos domingos por que decisões são tomadas tão distantes como lidar com a injustiça como fazer creme de cupuaçu como não perder a fé como manter a união como levantar o outro como continuar andando quando acaba, será que volta? ....................................................................................................................


a ter menos medo e só ser. e a ser mais prolixa. .................................................................................................................... - escutar de verdade - escutar o que não é dito - desaprender tudo o que penso que sei .................................................................................................................... gostaria de aprender a ter uma rotina, só para depois quebrá-la. gostaria de aprender a não ficar ansiosa com o futuro. gostaria de aprender a conciliar minhas vontades, e a ser mais produtiva para além do trabalho. gostaria de aprender a surfar. gostara de aprender a guardar melhor o meu dinheiro e não gastar tudo em lámen. gostaria de aprender a finalizar projetos. gostaria de aprender a tricotar. gostaria de aprender a costurar. .................................................................................................................... tudo que for possível ....................................................................................................................


como sobreviver a um estágio temporário. como manter laços depois do estágio temporário. o que cabe no vazio? .................................................................................................................... sobre: história da arte mercado de arte pq o sesc não tem um educativo fixo? pq estamos sendo dispensados? pq somos dispensáveis? .................................................................................................................... correr em sentido ao horizonte é interessante na medida em que é evidente que não é a “chegada” (serve apenas de noção para o trajeto): quem diria que um dia eu pararia e buscaria na filosofia esclarecimentos? a resposta não está dada, preciso encontrá-la. isso só não basta para saciar (...)


como gostaria de aprender o que gostaria de aprender?


Dançando, e sim sozinho. Sendo afetada. .................................................................................................................... aprender e ensinar ensinar aprendendo .................................................................................................................... Sabe quando você faz um desenho, mas ele não fica perfeito? Porém, dentro das condições reais está expressando o objetivo. É semelhante a querer chegar ao “horizonte”. Isto é válido na medida em que compreendemos o conceito que serve de orientação. Meu receio é quando sabemos das condições reais, mas tendemos a viver do objetivo de chegar ao horizonte. Você não chega a borda do planeta, não vai ter o pote de ouro lá. Faltou algo. Não lembro o quê. Prática? .................................................................................................................... em movimento. ....................................................................................................................


Aprendendo ressignificar, reconstruindo e sem sentir que todo meu corpo é consumido por exaustão psicológica. .................................................................................................................... gostaria de aprender fazendo gostaria de aprender brincando gostaria de aprender dormindo .................................................................................................................... sutilmente .................................................................................................................... por algum truque de mágica .................................................................................................................... vivendo ....................................................................................................................


educativo da exposição O TEMPO MATA, Sesc Avenida Paulista março a junho de 2019 Daniela Avelar [Pinã Cultura] Tiago Marin [Sesc] +

Paloma Durante Samantha Canovas +

Alaíde Cadima Camila Campos Diana Torrão Daniel D. Laura S. Letícia Oliveira Lucas Santiago Miranda, Igor


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