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humana
caderno de integração
Setor de Vida Consagrada e Laicato Ir. Joaquim Sperandio – Diretor Fabiano Incerti Fábio Viviurka Correia João Luis Fedel Gonçalves Projeto
GT Leigos
André Mores, Carlos Echeverria, Ir. Celedônio Cruz, César Leandro Ribeiro, Fabiano Incerti, Isabel Cristina Michelan Azevedo, Ir. Joaquim Sperandio,
Juliano Perozza, Lúcia Lima P. Coelho, Maurício Buckeridge Av. Senador Salgado Filho, 1651 Guabirotuba 81510-001 Curitiba – PR setorvcl@marista.org.br
© Província Marista Brasil Centro-Sul 2010 Revisão técnica
João Luis Fedel Gonçalves Fabiano Incerti Fábio Viviurka Correia Revisão sintática e estilística
Ir. Virgílio Josué Balestro
Preparação de texto e revisão
Rosemary Lima
Direção de arte e arte-final
Andrea Vilela de Almeida Ilustrações
Sputnik Studio
Apresentação Quando vamos a algum espaço cultural importante, é comum recebermos, junto com o ingresso, um folheto com informações técnicas e artísticas, que traz também normas que é preciso observar. Sua finalidade é orientar e informar, para que possamos desfrutar a visita e aproveitar melhor o tempo. Este livreto foi elaborado especialmente para você, que está ingressando na Instituição Marista. Ele o ajudará a conhecer melhor a Instituição, sua missão e seus valores. Além disso, traz orientações mínimas para que você atue de maneira eficiente, eficaz e seja feliz na realização de suas tarefas.
Você também participa da missão que os Irmãos Maristas herdaram de seu fundador, São Marcelino Champagnat: “Formar cidadãos humanos, éticos, justos e solidários para a transformação da sociedade, por meio de processos educacionais fundamentados nos valores do Evangelho, do jeito Marista”. Dessa missão todos participamos, independentemente do espaço que ocupamos. Amigo! Amiga! Leia, reflita, medite e internalize os valores e orientações contidas neste livreto. Juntos e puxando para a mesma direção, faremos muito bem entre as crianças e jovens que Deus nos confia. Que Maria, a Boa Mãe dos Maristas e de São Champagnat, abençoe você e seus esforços na construção de um mundo melhor. Seu sucesso é nossa alegria. Ir. Joaquim Sperandio Vice-Provincial
sumário
Introdução
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DIMENSÃO
cristã
Cooperação 17 Comunicação 21 Organização 29 Ética 36
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Um jeito de ser gente 49 Identidade cristã da Instituição Marista Espiritualidade e ética cristã 61 DIMENSÃO
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Rosey, Verrières, La Valla, L’Hermitage 71 Estilo marista de educar, cuidar, gerir e comunicar Do jeito de Maria 82 Estruturas e organização 86
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Caro colaborador, estimada colaboradora, Você começa a fazer parte da Instituição Marista! Com satisfação lhe apresentamos nosso jeito de trabalhar e de conviver, bem como os valores e as crenças que motivam e sustentam a ação de Irmãos, colaboradores, leigas e leigos em cada uma das Unidades Maristas. A missão marista começou há quase dois séculos, na França, com Marcelino Champagnat. Nascido em 1789, tornou-se padre aos 27 anos e se dedicou principalmente ao ensino e evangelização de crianças e jovens. Para dar continuidade a esse projeto, fundou a Congregação dos Irmãozinhos de Maria, os Irmãos Maristas. A obra se expandiu rapidamente, alcançando diferentes partes do mundo, e está atualmente em 79 países. INTRODUÇÃO
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No Brasil, os Irmãos Maristas estão presentes desde 1897. A primeira Unidade foi o colégio de Congonhas do Campo, Minas Gerais. De lá, o carisma marista se espalhou por quase todos os Estados. O Instituto conta com 357 Unidades no país, organizadas em três Províncias e um Distrito. A Província Marista do Brasil Centro-Sul, na qual você está entrando, engloba diversos negócios e atividades nas áreas de Educação Básica, Ensino Superior, Editorial, Comunicação, Saúde e Assistência Social, entre outras. Mais de 120 Irmãos e 11 mil colaboradores trabalham para permitir que a missão marista seja levada a milhares de crianças, jovens e adultos. Neste livreto, você encontra os elementos que caracterizam a identidade da Instituição, isto é, o carisma marista. Estão organizados em três dimensões: humana, cristã e marista. A primeira tem como base os valores que dão o sentido profundo do ser humano. A cristã se fundamenta nos princípios cristãos, cuja fonte é o Evangelho de Jesus Cristo. A dimensão marista corresponde ao nosso estilo próprio de agir, baseado em dois elementos fundamentais do carisma marista: a missão e a espiritualidade. As três dimensões estão divididas apenas no papel, para facilitar o entendimento. Na vida,
se encontram entrelaçadas, uma integrando e completando a outra. Quando age, a pessoa mostra claramente o que ela é na sua totalidade. De fato é a pessoa que qualifica a função, e não o contrário. É no fazer que se revela o ser da pessoa. Acreditamos que o conhecimento desses elementos pode ajudar você a executar bem as próprias tarefas e a se realizar como ser humano, na comunhão com outras pessoas e com Deus, segundo o jeito marista de ser. Seja bem-vindo, bem-vinda. Você é muito importante para a Instituição Marista!
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INTRODUÇÃO
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Instituição Marista valoriza as pessoas que a procuram e são aceitas a trabalhar em suas Unidades. Acredita que o tempo que cada um investe em suas estruturas deve ajudá-lo a se realizar como pessoa, tanto na execução das próprias tarefas, como na convivência fecunda com outros colaboradores. A Instituição oferece a seus colaboradores momentos de formação humana, visando ao crescimento pessoal e profissional, para melhor execução da missão marista. Para isso, a atuação da colaboradora e do colaborador deve levar em conta quatro aspectos essenciais: cooperação, comunicação, organização e ética.
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Cooperação Na Instituição Marista, o trabalho é sempre cooperativo. As relações estão presentes nos diferentes processos de gestão e execução. Ocorrem tanto entre gestor e subordinado, como entre parceiros de trabalho. Isso exige a disposição para a convivência, para o trabalho em equipe e para o diálogo.
Convivência As diferenças são bem-vindas. Saber conviver harmoniosamente com parceiras e parceiros que têm características próprias promove a união e favorece a busca de resultados comuns. A participação de cada um traz resultados melhores para toda a comunidade e contribui para o desenvolvimento de projetos pessoais. Além disso, influi positivamente na qualidade de vida. DI MENSÃO
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Situações que envolvem experiências de solidariedade, empatia, responsabilidade, autocontrole, autoconhecimento, tolerância, respeito, disciplina, humildade e perdão, entre outras, certamente farão parte de seu trabalho. Isso requer, portanto, a disposição para se aperfeiçoar constantemente, tendo em conta os processos avaliativos institucionais e os pessoais.
Trabalho em equipe Quando pessoas estão vinculadas a objetivos comuns e colocam as próprias competências a serviço do trabalho conjunto e do bem comum, o grau de envolvimento, cooperação e determinação cresce e leva a resultados muito superiores. Esse comprometimento é indispensável para a realização da missão marista em todos os âmbitos. Para a Instituição Marista, ser competente não significa apenas demonstrar o conhecimento técnico exigido pela profissão. Da colaboradora e do colaborador pede-se a participação ativa no ambiente de trabalho, a autonomia para solucionar problemas, a capacidade de tomar decisões e assumir responsabilidades, com base no trabalho em equipe. A diversidade de visões sobre um mesmo problema enriquece a discussão e é atributo igualmente indispensável. 18
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Diálogo A cooperação nasce da confiança entre as pessoas e está vinculada de modo especial à capacidade de diálogo, que envolve a escuta ativa e a liberdade para expressar ideias e vivências, em torno de desafios comuns. A confiança se constrói com a palavra verdadeira, a integridade de sentimentos e a autenticidade no agir. O diálogo envolve diversas formas de expressão, desde a conversa informal até o uso de tecnologia para contatos não presenciais. Vincula-se aos diferentes âmbitos da atividade profissional, tanto nas áreas técnicas como nas que se dedicam especificamente à educação. É fundamental exercitar a capacidade de relação com vistas ao desenvolvimento pessoal. De fato, crescemos como pessoa à medida que interagimos com os outros. Ao mesmo tempo, o diálogo é caminho privilegiado para a construção da sociedade justa e fraterna.
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Comunicação
Habilidades necessárias no trabalho em equipe
A Província Marista do Brasil Centro-Sul considera que a comunicação, em suas diferentes estruturas e processos, é elemento imprescindível para a realização de sua missão. Desse modo, é importante que cada colaboradora e colaborador estejam envolvidos nos processos. A comunicação consiste na partilha de experiências, ideias e sentimentos entre as pessoas, de forma que se influenciem mutuamente e juntas modifiquem a realidade. O ato de comunicar requer, além disso, a interação das pessoas com os instrumentos que utilizam, tais como o telefone, o computador e o microfone. Conhecer o processo de comunicação possibilita melhora na sua prática e mais consciência do próprio papel no desencadeamento de cada uma das etapas que esse processo requer. O ato de comunicar pode, pois, ser expresso assim: DI MENSÃO
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processo de comunicação
Mensagem diz respeito às diversas formas de transmitir ideias ou informações a alguém. Sempre que a enviamos, ficamos esperando determinada reação ou atitude. Quem envia a mensagem é chamado de emissor, e quem a recebe, de receptor. No processo de comunicação, geralmente somos emissores e receptores ao mesmo tempo. É o caso da conversa com alguém, seja pessoalmente, por telefone ou pela internet. Há casos, porém, em que o contato entre emissor e receptor pode ser pequeno ou quase nulo, como quando se assiste à televisão. Codificação é a transformação da mensagem em determinado código, que possibilite sua compreensão. Esse código pode ser um idioma, um sinal, gesto ou uma imagem. Descodificação, por sua vez, é o entendimento e a interpretação da mensagem. Canal são os meios através dos quais a mensagem flui do emissor até o receptor, e vice-versa. Há inf inidade de canais de comunicação, que podem envolver palavras ou não: telefone, televisão, internet, rádio, bilhetes, gestos e fotografias, entre tantos. Feedback é o processo pelo qual ajustamos o modo de falar ou de escrever para que o receptor nos entenda melhor. Leva em consideração a resposta ou a reação da pessoa à mensagem. DI MENSÃO
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Esse processo acontece continuamente na comunicação, muitas vezes sem que nos demos conta dele. O ambiente em que se realiza a comunicação é chamado de contexto. Conhecê-lo é importante, para melhor adequar o meio e a mensagem.
Comunicação Organizacional A comunicação acontece tanto de forma espontânea, na convivência diária entre os colaboradores, por meio de conversas telefônicas, bate-papo e troca de e-mails, como de forma planejada, por intermédio de ações, programas e meios ou veículos de comunicação. A forma planejada é chamada de Comunicação Organizacional. Consiste no conjunto de práticas de comunicação que contemplam os diferentes públicos com os quais a Instituição se relaciona, de acordo com quatro grandes linhas de atuação, integradas entre si: Comunicação Administrativa, Interna, Institucional e Mercadológica. Comunicação Administrativa transcorre dentro da Instituição e é necessária no desempenho das funções administrativas. Exemplos dessa modalidade de comunicação: reuniões, videoconferências, comunicados e afins.
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Comunicação Interna visa à interação entre a Instituição e seus colaboradores, por meio do diálogo, da troca de experiências e do incentivo à participação nos diferentes âmbitos. Pode ocorrer por meio de uma série de instrumentos: informativos internos, quadros de avisos, intranet, e-mails e folhetos, entre outros. Comunicação Institucional consiste no conjunto de atividades, ações, estratégias, produtos e processos desenvolvidos para criar e manter a boa imagem da Instituição junto à sociedade e aos públicos com os quais se relaciona diretamente: professores, alunos, colaboradores administrativos, pais de alunos, ouvintes de rádio, pacientes de hospitais, telespectadores, clientes e pessoas ligadas à Igreja. Comunicação Mercadológica ou de Marketing é responsável por todas as ações de comunicação que colaboram para o cumprimento dos objetivos comerciais e de participação de mercado da Instituição, tendo em vista a divulgação dos produtos ou serviços. Está vinculada diretamente aos diferentes negócios. São exemplos a propaganda, as vendas pessoais e o marketing direto.
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Blog corporativo: são páginas na internet criadas para facilitar o diálogo entre as áreas da Província e seus públicos de relacionamento. Exemplos: blog da Pastoral Juvenil Marista: <http://pjm-pmbcs.blogspot.com>; blog do vestibular da PUCPR : <http://www.blogdovestibapucpr. com.br>. Jornal institucional: publicação periódica, com conteúdos informativos, de opinião e de entretenimento, dirigida tanto ao público interno como ao externo. Exemplos: Cidadania Marista, APC+, FTD Acontece, Informativo Saúde Integrada, Informativo Irmandade. Boletim institucional: publicação dedicada a assunto específico, dirigida tanto ao público interno como ao externo. Exemplos: Informativo do Plano de Saúde Ideal, Boletim Vivemarista. E-mail marketing : utilizado para transmissão, via e-mail, de mensagens rápidas e ocasionais. Exemplos: avisos de datas religiosas ou maristas, e-mails no Portal Marista.
Intranet: conjunto de páginas virtuais, restritas aos colaboradores, usadas para disponibilizar informações e ferramentas de trabalho digitais, tais como holerite, acesso ao sistema de atas, vagas de trabalho internas etc. Cada Mantenedora dispõe de intranet própria: <https:// intranetmarista>; <http://www.pucpr.br>; <http://www. ftd.com.br/intranet>.
Principais ferramentas de comunicação
Jornal mural: dirigido ao público interno da Instituição, trata de temas como segurança, saúde, meio ambiente, benefícios, responsabilidade social, lazer, cultura, entre outros. Exemplo: APC Retrata. Newsletter digital: boletim para os colaboradores da Província, distribuído em formato digital. Ex.: Acontece, Newsletter do Setor de Pastoral, Newsletter do Setor de Vida Consagrada e Laicato.
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Portal corporativo: espaços na internet que permitem acesso a informações técnicas da Instituição e seus produtos ou serviços, notícias, conta de e-mail, biblioteca virtual, assim como mecanismos para busca de informações e para download, entre outros instrumentos. Exemplos: <www.pucpr.br>; <www.marista.org.br>; <www.ftd.com.br>. Revista institucional: publicação periódica com notícias, artigos de opinião e entrevistas. Exemplos: Revista Vida Universitária, Revista Em Família, Revista da PMBCS . Revista de divulgação científica: publica resultados de pesquisas científicas realizadas na PUCPR e na Rede de Colégios. Vídeo institucional: divulga grande variedade de informações aos colaboradores e à comunidade. Exemplo: vídeo institucional da PMBCS. Mídia de circulação: materiais impressos, tais como cartazes, banners e folders, que podem estar expostos em diferentes locais de grande circulação ou serem distribuídos diretamente às pessoas. Comunicados internos: impressos ou enviados por e-mail ou intranet. Visam informar os colaboradores sobre diversos assuntos, tais como os novos procedimentos e as contratações. Exemplo: Circular do Irmão Provincial. Além desses instrumentos, também existem outros materiais úteis à Comunicação Administrativa: modelos de apresentações em PowerPoint, papel de carta, envelopes e cartões de visita.
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Organização A gestão na Instituição Marista caracteriza-se por estar a serviço da missão: busca ser mais participativa, facilita a supervisão, acompanhamento e avaliação, e se baseia na confiança e na clara definição de papéis e responsabilidades. Além disso, está atenta aos objetivos institucionais, sobretudo na esfera da solidariedade. A organização adotada na Província Marista do Brasil Centro-Sul possui quatro níveis de gestão distintos: provincial, mantenedoras, negócios e unidades.
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NÍVEL PROVINCIAL
NÍVEL DAS MANTENEDORAS
NÍVEL DOS NEGÓCIOS
NÍVEL DAS UNIDADES
Hospitais
Aliança Saúde
Campus Sucursais Colégios Centros Sociais, Centro de Defesa e Pró-Ações
PUCPR DERC DEAS
Residências e Centros de Formação
Comitês
ABEC/UCE
FTD
Comitês
APC
Conselho de Administração APC Conselho de Administração FTD Conselho de Administração ABEC/UCE
Vida Consagrada e Laicato
Pastoral
Assistência Social
Conselho Provincial
Economato
Desenvolvimento Educacional
Comunicação e Imagem Institucional
Nível Provincial:
responsável pela gestão de grupo, por definir os rumos da Instituição e por garantir o alinhamento entre os diversos negócios e setores. É composto pelos Irmãos que participam do Conselho Provincial. Os setores provinciais assessoram o Conselho. São eles: Assistência Social; Comunicação e Imagem Institucional; Desenvolvimento Educacional; Economato; Pastoral; e Vida Consagrada e Laicato.
Nível das Mantenedoras:
responsável pela gestão executiva das atividades da Província e pela coordenação das diversas áreas. Busca garantir o cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo Conselho Provincial. É composto pela Associação Brasileira de Educação e Cultura e União Catarinense de Educação (ABEC/UCE), pela FTD e pela Associação Paranaense de Cultura (APC).
Nível dos Negócios:
responsável pela gestão diária dos negócios e pelo apoio técnico às Unidades. Os principais negócios são: Rede de Colégios, Rede Marista de Solidariedade, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Editora FTD e Aliança Saúde, bem como os negócios suplementares.
Nível das Unidades:
responsável pela execução das atividades do dia a dia, por materializar a missão no meio das crianças, jovens e adultos, garantindo o sucesso dos negócios
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e os valores da Instituição. É composto pelos colégios, centros sociais, centro de defesa, pró-ações, campus da PUCPR , emissoras do Grupo Lumen, sucursais da FTD e hospitais da Aliança Saúde, além dos centros de formação dos jovens Irmãos e pelas residências de Irmãos.
A articulação dos níveis de gestão com a missão marista se dá por meio do alinhamento das políticas e processos organizacionais com os valores institucionais. Por sua vez, todas as ações têm claro direcionamento pastoral e se abrem à dimensão da solidariedade. A colaboradora e o colaborador se inserem e atuam nessa estrutura organizacional. Estão em rede, em constante processo de recebimento e envio de informações. Agem localmente e mantêmse abertos à perspectiva global. Tal dinâmica pede atenção à cultura organizacional própria da Instituição e aos procedimentos que viabilizam sua realização.
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Fidelidade aos procedimentos A realização das atividades se dá em processo que integra diferentes âmbitos, envolve outras pessoas e se destina a objetivos comuns da Instituição. Para tanto é necessário que a colaboradora e o colaborador conheçam os procedimentos que regulam suas tarefas e competências. Devem também criar o hábito de relacionar o próprio nível de participação na estrutura organizacional com outros níveis, acima e abaixo. Os procedimentos, porém, não são estáticos nem definitivos. Como indicam maneiras de desenvolver tarefas e competências, devem ser avaliados periodicamente e modificados onde se mostram inadequados ou insuficientes. Faz parte, pois, do compromisso da colaboradora e do colaborador revê-los, sugerir mudanças, propor novos elementos. Postura Há o jeito marista de posicionar-se diante das pessoas, dos grupos, das instituições e da sociedade. Esse jeito é fundamentalmente disposição interior, de convicções e motivações, que se reflete nas atitudes, na linguagem e nas expressões corporais. A seguir, vão indicadas algumas das posturas exigidas da colaboradora e do colaborador marista. DI MENSÃO
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Ser conveniente:
supõe, primeiramente, conhecer o próprio lugar na estrutura organizacional. Isso evita tanto a superexposição e o exagero, como a atitude também negativa de subestima. É conveniente aquele que conhece o espaço que ocupa e sabe tirar daí o máximo proveito em benefício próprio e do grupo.
Ser respeitoso:
parte do pressuposto de que toda pessoa é digna e merece consideração, independentemente da posição social ou do cargo na Instituição. É igualmente valorizar a hierarquia e reconhecer os próprios limites no confronto com os superiores.
Ponderar:
é “colocar na balança”, pesar, avaliar. Essa postura mostra-se muito importante nos momentos de decisão, de conflitos, de estresse. Ponderação exige o fino equilíbrio entre razão e emoção, entre argumentos e sentimentos.
indispensável que qualquer ação ou palavra sejam realizadas responsavelmente, com ponderação e prudência.
Agir com equilíbrio:
não sobrepor os próprios interesses aos da Instituição, mas manter o necessário contraponto. A melhor autopromoção é, nesse caso, a realização das próprias tarefas e competências com seriedade.
Guardar sigilo:
informações são patrimônio da Instituição. Revelá-las a qualquer pessoa sem que isso seja solicitado ou permitir o acesso indevido a elas constituem grave desvio de postura. Além disso, é de bom tom evitar a dispersão de notícias e informações que possam comprometer a convivência e o bom andamento das tarefas.
Ser prudente:
não é propriamente a atitude passiva de ficar esperando, para ver o que acontece, mas a disposição de deliberar corretamente sobre qual é a melhor ação. O prudente não deixa passar: decide e age.
Agir com seriedade:
a atitude de cada colaboradora e colaborador repercute além de seu espaço de atuação. Por isso é
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Ética A condição humana de estar no mundo é sempre “ser com os outros”. A ética se constitui precisamente nesse confronto entre a afirmação da própria identidade e as exigências decorrentes das situações familiares, econômicas, de etnia, de religião, políticas etc. Assim, as condições que cercam a existência desde o nascimento influenciam a personalidade do indivíduo, de modo a prepará-lo para a vida em sociedade. Mas a ética não é simplesmente agir padronizado, que tende a valorizar os de boa conduta e punir os que se transviam. As informações que o indivíduo recebe devem permitir que ele seja capaz de avaliá-las, negando ou modificando-as, de modo a formar um conjunto de princípios que orientam sua vida. De fato, não há agir ético sem liberdade, isto é, sem capacidade de refletir e deliberar a partir da própria consciência. 36
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É característica da sociedade contemporânea a fragmentação dos valores. Há diferentes modelos familiares, concepções políticas, convicções religiosas, estruturas econômicas, modelos de gestão, entre tantas outras diversidades. Na prática ninguém consegue somente frequentar ambientes e viver em grupos que partilham os mesmos princípios éticos. Mesmo que fosse o caso, pertencer ao mesmo grupo não significa pensar da mesma forma ou ter as mesmas atitudes que os outros membros. É, pois, compreensível que as pessoas tenham comportamentos diferentes em face de determinada situação, alicerçadas nas próprias crenças e valores. A ética é, desse modo, o exercício constante de escolha, em que nem sempre se pode decidir claramente entre o certo e o errado. Essa forma de compreender a dimensão ética da vida humana exige cada vez mais a capacidade de ser tolerante com a diversidade e consciente das próprias convicções. A Instituição Marista professa, em todas as suas estruturas e atuações, a ética cristã. Fundamenta-se na dignidade irrenunciável do ser humano e da natureza, feito à imagem e semelhança do Criador. Baseia-se no modo de viver e agir de Jesus Cristo, que curou os doentes, acolheu DI MENSÃO
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mulheres e crianças, deu de comer ao faminto, andou com pecadores, indignou-se com a injustiça, mostrou a todos a misericórdia de Deus. A ética cristã é, fundamentalmente, a ética do Evangelho. Tais valores determinam a atuação marista e servem de critério de avaliação. A colaboradora e o colaborador precisam estar cientes desse fato quando entram para fazer parte da Instituição. Isso, porém, não implica necessariamente que professem a fé cristã. A diversidade é considerada riqueza à medida que pontos de vista pessoais são postos a serviço do grupo e da missão.
Ética no trabalho Aplicada ao mundo do trabalho, a ética é o conjunto de princípios que se devem observar no exercício da profissão. Tais princípios formam a base dos comportamentos e atitudes aceitáveis em determinada sociedade ou grupo. Sem isso, a convivência entre colaboradores e a execução de tarefas comuns seriam impossíveis. O ser humano constitui-se em sua dignidade pelo trabalho. Dele não só tira o sustento, mas forja a própria evolução e de toda a humanidade. Não se pode, pois, separar os processos de execução de tarefas, quaisquer que elas sejam, do 38
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processo de conhecimento. Pelo trabalho, entendo melhor o mundo em que vivo e desenvolvo a própria consciência. Assim, mesmo quando se cumprem obrigações rotineiras, é preciso exercitar a consciência ética plenamente. A convivência no ambiente de trabalho impõe código de conduta, escrito ou não, que exige de cada membro do grupo o exercício pleno da ética. A convivência pressupõe determinado conjunto de direitos e deveres, em vista dos quais é necessário discernir o próprio limite de atuação. Esse código é explicitado pela Instituição, e cada colaboradora e colaborador devem buscar conhecê-lo. As diferenças que surgem do confronto da postura ética com as normas e comportamentos estabelecidos pelo grupo geram naturalmente conf litos. Na medida do possível, tais conf litos devem ser solucionados por meio do diálogo entre os envolvidos. Cabe à Instituição estabelecer processos que permitam o melhor encaminhamento dessas situações, tanto para o grupo como para o indivíduo. Igualmente importante é o esforço de criar espaço adequado ao pleno desenvolvimento da colaboradora e do colaborador. Em geral, quase um terço da vida é gasto no ambiente de trabalho. Por conta disso, o local deve oferecer condições DI MENSÃO
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mínimas para a qualidade de vida de todos. Disso dependem, em boa parte, as atitudes e o comportamento no convívio diário.
O que se espera A seguir encontram-se alguns exemplos de atitudes que devem ser observadas no ambiente de trabalho. Essas podem ser também chamadas virtudes em seu sentido mais forte: a força interior que determina o agir humano. Elas completam o que já foi dito sobre a postura da colaboradora e do colaborador na Instituição. Cuidado de si:
conhecer as próprias características físicas e psicológicas e ter domínio de si. Promover o próprio bem-estar e do outro. Realizar avaliações periódicas de saúde. Participar de programas institucionais voltados para a melhoria na qualidade de vida.
Dignidade:
posicionar-se com firmeza e seriedade, sem ceder nas próprias convicções e sem desrespeitar os outros. Evitar toda a dissimulação e hipocrisia. Ser polido em palavras e ações no trato com as pessoas.
Justiça:
dar o que é devido a cada um e respeitar o bem alheio, físico ou moral. Agir com imparcialidade
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no confronto com os outros. Fazer avaliações corretas e com transparência, tanto em relação ao outro como a si próprio.
Empatia:
identificar-se com o outro, procurando colocar-se na posição dele. Estabelecer processos de interação fundados na veracidade dos sentimentos e no diálogo. Desculpar as falhas e ajudar a corrigi-las.
Honestidade:
agir de forma conscienciosa, com integridade e retidão. Realizar as tarefas de forma adequada, utilizando as próprias aptidões, capacidades e competências. Não esconder informações que possam comprometer a Instituição e a dignidade das pessoas.
Livre iniciativa:
desincumbir-se das tarefas, adotando a melhor prática para a sua execução, segundo as diretrizes internas e as demais normas éticas que regulam o trabalho. Adiantar-se às necessidades do outro.
Princípio da hierarquia:
conhecer e observar as diferentes responsabilidades de cada cargo atribuídas pela estrutura organizacional da Instituição. Respeitar suas normas, procedimentos e diretrizes. Não usar a autoridade em proveito próprio.
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Princípio da igualdade:
respeitar as diferenças de gênero, etnia, orientação sexual, religião, condição social e posicionamentos políticos, entre outras. Promover, em todos os âmbitos, a inclusão e a solidariedade.
Processo de comunicação:
transmitir informações e conhecimentos com linguagem clara e objetiva. Da mesma forma, saber ouvir e compreender as mensagens recebidas. Utilizar linguagem adequada e respeitosa.
Processo do conhecimento:
aplicar corretamente os próprios conhecimentos na realização das tarefas e buscar orientação adequada para suprir a necessidade de informação. Valorizar as oportunidades de crescimento oferecidas pela Instituição e solicitá-las quando considerar oportuno.
Relações profissionais:
trabalhar em conjunto, visualizando no outro um profissional que também tem responsabilidades no trabalho. Colaborar sempre que solicitado, oferecendo as respostas necessárias ao bom desempenho das tarefas.
Responsabilidade profissional:
projetar e desempenhar as tarefas, respeitando prazos e metas. Avaliar criticamente, de modo a reparar possíveis erros. Dar conta do que foi assumido. Comunicar a quem de direito o andamento do processo e os resultados.
Senso crítico:
contribuir para a melhor solução, empregando critérios construtivos e respeitosos. Abrir-se para opiniões contrárias e aplicá-las para a melhor prática nas próprias atividades. Ser resiliente e flexível, e não agir por impulso.
Trabalho em equipe:
colaborar na realização das tarefas multidisciplinares, compreendendo o próprio papel no grupo. Solicitar e disponibilizar, sempre que necessário, ajuda para a concretização das tarefas.
Conduta social:
eliminar da própria conduta e não propagar, incentivar, apoiar ou estimular vícios como alcoolismo, consumo de drogas, tabagismo, violência, discriminação ou outras formas de segregação.
Respeito ao meio ambiente:
adotar práticas sustentáveis de preservação de recursos naturais através do emprego adequado dos meios e ferramentas disponíveis para a realização do trabalho: papel, água, energia etc.
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Um jeito de ser gente
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s Irmãos Maristas, em parceria com todos os colaboradores, empenham-se em cumprir a sua missão inspirados por um carisma que tem a fonte no Evangelho e no jeito simples de Maria, a mãe de Jesus. Como Instituição, eles estão ligados à Igreja Católica. Os colaboradores de outras confissões religiosas são acolhidos em sua diversidade e chamados a contribuir na realização da missão marista. A liberdade religiosa, a disposição para o diálogo e a cooperação são valores cultivados nos diferentes âmbitos da Instituição. Ao apresentar os elementos distintivos da fé cristã, queremos que você tome consciência dos princípios que regem a Instituição Marista. Poderá, assim, compartilhar os valores comuns às suas convicções e respeitar as crenças que, talvez, você não professe pessoalmente. Essa é condição fundamental para o seu desempenho profissional. 48
Um jeito de viver no mundo Somos parte deste Universo, criado por Deus. Estamos inscritos na história do mundo e ajudamos a construí-la. Temos consciência de que a Terra é nossa casa, da qual precisamos cuidar. A bonita imagem do mundo como jardim, que encontramos nas primeiras páginas da Bíblia (Gn 2,15), lembra-nos que o papel do ser humano não é o de um dominador que usufrui sem escrúpulos das riquezas, mas do jardineiro que procura “embelezar” a terra cultivando-a. O trabalho humano assemelha-se, de alguma forma, à ação criadora de Deus. Através do labor cotidiano intervimos em nós mesmos, em nossas relações e no mundo, e os transformamos. A inteligência, aliada às múltiplas capacidades humanas, desafia os limites naturais e gera soluções que podem beneficiar a todos. Por meio das ciências e das tecnologias, a humanidade consegue dar saltos significativos de qualidade de vida. DI MENSÃO
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Ao mesmo tempo, convivemos com o pesadelo de ver a Terra se tornar inabitável para o próprio ser humano. Uso abusivo dos recursos energéticos, destruição do meio ambiente, consumo sempre crescente: esses são alguns dos problemas que afetam nossa geração e devem comprometer as próximas. Ao mesmo tempo, continua existindo um fosso enorme entre ricos e pobres, entre quem tem acesso a todas as inovações e quem continua morrendo de desnutrição e doenças curáveis. A Instituição Marista acredita que é preciso buscar o sentido de nosso “estar no mundo” que supere o simples nível da sobrevivência. Daí a necessidade da justiça social como caminho de recondução da Terra como habitação do ser humano e de todos os outros seres. O jeito marista de viver no mundo implica respeito ao meio ambiente, uso do conhecimento para melhorar a vida de todos no planeta e empenho na educação de qualidade das crianças e jovens para viver em mundo sustentável.
Um jeito de estar com os outros Desde o nascimento estamos imersos em determinada cultura. Aprendemos a língua, os costumes, os valores, os modelos de vida e as visões de mundo. Existimos em determinado tempo, cujas 50
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características definem nossa forma de ser e de viver. A espaciotemporalidade é o modo de nos situarmos na história, que é sempre obra coletiva. Constituimo-nos pessoas à medida que nos relacionamos com os outros, em diferentes situações. Escolhemos fazer parte de alguns grupos e comunidades, por afinidade religiosa, cultural ou política. Também estabelecemos vínculos com quem devemos necessariamente nos relacionar, como em geral acontece no ambiente de trabalho. Em ambas as situações, saber conviver e buscar caminhos de superação dos conflitos é uma das exigências da vida humana. A individualidade é conquista moderna. Respeitar os espaços de cada um representa desafio para a vida grupal e em sociedade. Ao mesmo tempo, é fundamental superar as formas de individualismo que destroem a convivência e impedem o compromisso com o outro. A solidariedade é antídoto a essa tendência, assim como o é o respeito pelos valores próprios de cada lugar e pela originalidade das culturas. Na Instituição Marista, o trabalho em equipe é necessário para o desenvolvimento pleno de sua missão. Nos vários âmbitos de atuação, a Instituição favorece o encontro de pessoas, estimula o envolvimento de todos, valoriza o diálogo e promove DI MENSÃO
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a gestão participativa. O empenho no serviço aos mais pobres orienta estruturas e pessoas e torna-se testemunho, para a sociedade, do compromisso irrestrito com todos os seres humanos.
Um jeito de ser pessoa A afirmação bíblica “façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26) representa um dos grandes mistérios de nossa existência. Há quem afirme que é a nossa racionalidade o que nos assemelha ao Criador. Outros dizem que é a liberdade. É a capacidade de amar, sustentam alguns. Essas tentativas acabam revelando traços irrenunciáveis do ser humano. A inteligência humana se mostra, sobretudo, em duas atividades. O ser humano é capaz de compreender o mundo e a si mesmo, ao mesmo tempo que age, transformando a própria realidade por meio de todo o conhecimento produzido pela sabedoria e pela ciência. A liberdade é capacidade de deliberar e escolher o que é mais fundamental para o indivíduo e para os outros, sem a coação da própria consciência. O amor pressupõe a abertura para o outro e a crença na bondade do ser humano. Se, por um lado, somos de fato imagem de Deus, por outro ainda não estamos prontos. 52
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Ser humano é “tornar-se” humano. Tomamos consciência da própria finitude e limitação, cujo resultado, muitas vezes, é a experiência do mal. A violência, que atinge todos os níveis da vida humana, é exemplo de nossa capacidade destruidora. O mal, contudo, não é maior que nossa liberdade para responder às diferentes situações com o bem e a verdade. A Instituição Marista acredita que o ser humano se realiza plenamente no encontro com Deus, que se revelou a nós em seu filho Jesus Cristo. Com suas palavras e ações, ele se dirige a cada pessoa, em especial aos excluídos. Sua ressurreição é a afirmação plena da comunhão de Deus com toda a humanidade. Nele se encontra o verdadeiro significado do que seja o ser humano.
Um jeito de esperar em Deus O ser humano não é fim em si mesmo, não esgota a própria vida em realizações que visam unicamente à própria satisfação. Ao perceber as limitações que lhe são inerentes, ao abrir-se para os outros e ao sentir que a realidade ultrapassa sua capacidade de compreensão, ele pode encontrar-se com essa realidade transcendente, que chamamos Deus. A abertura para o Transcendente, em suas múltiplas formas e expressões, também é chamada DI MENSÃO
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de espiritualidade. Dizemos espiritual a capacidade de ir além dos condicionamentos da realidade física. Uma pessoa espiritual tem a vida dentro dela e a exterioriza. É pessoa repleta de esperança e solidariedade, de sentido e amor, de paz e justiça. A mística, por sua vez, é o resultado da vivência e integração de todos esses elementos. Confiar é disposição que o ser humano experimenta a todo momento na vida. Confiamos no motorista do ônibus, no funcionamento dos sinais de trânsito, nos agentes da medicina, em que acordaremos no dia seguinte, e em muito mais que conseguimos imaginar. Da mesma forma, esperamos em Deus e em sua bondade e amor. Isso não deixa o ser humano parado, sem ação, aguardando o que virá. Quem espera em Deus é mais confiante em si mesmo e na humanidade, e acredita na capacidade de mudança e de transformação. Os inícios da Instituição Marista na França não foram grandiosos. As dificuldades financeiras, a doença e as incompreensões exigiram de Marcelino Champagnat e de seus seguidores bem mais do que certezas. Ao se colocar totalmente em Deus, encontraram forças para superar todos os obstáculos e realizar a missão que se estende até hoje, por todos os continentes.
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Identidade cristã da Instituição Marista A Instituição Marista participa da missão da Igreja Católica, contribuindo para tornar Jesus Cristo conhecido e amado. Todas as pessoas que atuam na Instituição, embora não professem necessariamente a mesma convicção religiosa, são convidadas a conhecer a identidade cristã, que está na origem da ação marista e fundamenta todos os negócios. A Igreja nasce do projeto de Jesus Cristo de instauração do Reino de Deus. Após sua morte e ressurreição, Jesus confia aos Apóstolos a tarefa de levar a boa nova a todos os povos (Mt 28,19-20; Mc 16,20; Lc 24,47-48), a fim de que tenham a vida em seu nome (Jo 20,31). O conhecimento dos evangelhos, em especial, e da Bíblia ajudam a Igreja a aprofundar a própria identidade e fundamentar sua ação evangelizadora. Jesus, filho de Maria, é a Palavra de Deus que se fez carne (Jo 1,14). Ele comunica a vida aos que se encontram cansados e abatidos. Anuncia a misericórdia e o amor de Deus, e convida todos a um novo modo de viver, com verdade, coerência, solidariedade, liberdade em relação aos bens materiais e comunhão com o Pai. Denuncia as formas DI MENSÃO
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de injustiça e tudo o que contraria a vida plena, inclusive as estruturas políticas e religiosas. Por causa do compromisso com os mais pobres e do modo como apresentou Deus Pai ao mundo, é levado a julgamento e morto, pendurado numa cruz. Ele realiza, dessa forma, suas palavras: “não há maior amor que dar a vida pelos seus amigos” (Jo 15,13). Sua ressurreição, porém, traz a esperança para a humanidade. O túmulo vazio é, para os cristãos, o símbolo da vida que vence a morte definitivamente, pela força de Deus. Para realizar sua missão, a Igreja, em Pentecostes, recebe o Espírito Santo (At 2,4). Os apóstolos continuam a missão de Jesus, convidando as pessoas a acolherem a boa nova e a receberem o batismo. Como os Apóstolos, os cristãos são chamados missionários, portanto, onde se encontram e qualquer que seja sua atividade, devem proclamar a mensagem do Filho de Deus. A comunidade se reúne no domingo, dia do Senhor, para celebrar os mistérios da fé cristã. Na mesa da Palavra e na mesa do Pão, os cristãos revivem plenamente o mistério da morte e ressurreição de Jesus, comungam da vida divina por meio do alimento que é o próprio Cristo, se preparam para viver o que acabaram de receber no cotidiano, nos diferentes contextos da vida 56
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humana, e testemunham a esperança da comunhão plena com Deus na vida eterna. Para realizar sua missão, a Igreja conta com a força do Espírito Santo, que a sustenta e a impulsiona. Essa vitalidade que vem de Deus se expressa na variedade de dons e carismas, colocados a serviço da própria Igreja e do mundo. O Espírito conduz a Igreja em suas três tarefas principais: anúncio da Palavra, celebração da fé e anúncio da caridade. Os sacramentos marcam momentos fortes da experiência de fé e revelam a ação salvífica e libertadora de Deus: batismo, crisma, eucaristia, penitência, matrimônio, ordem e unção dos enfermos. Durante o ano, as duas grandes festas, Páscoa e Natal, assim como os períodos que antecedem e sucedem a ambas, marcam a passagem do tempo pela manifestação de Deus na vida humana. A pastoral é a ação organizada da Igreja no mundo. A condução da comunidade e o cuidado das pessoas, em especial das mais necessitadas, realizam-se por diferentes pastorais: catequética, social, litúrgica, educativa, universitária, da saúde, da criança, entre muitas outras. Todas visam tornar a mensagem cristã significativa e eficaz em realidades e públicos específicos. Em nosso contexto, a caridade cristã se expressa principalmente na busca da justiça social. DI MENSÃO
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Esta restitui a dignidade humana a todos, especialmente aos pobres e excluidos; promove o respeito e a valorização das culturas e das diferenças; retoma a ética como valor primordial para a política e para a economia, no âmbito local e internacional. Além disso, a Igreja se coloca ao lado da vida, condenando todas as práticas que a destroem ou comprometem sua integridade. Novas questões desafiam a capacidade da Igreja de ser presença significativa no mundo contemporâneo: os desenvolvimentos científicos, sobretudo na área das ciências da vida; as novas fronteiras na exploração do universo; o uso de tecnologias para ampliação das redes de comunicação; o processo de globalização, nos diferentes níveis; a individualidade e a pluralidade cultural e religiosa.
A Igreja e sua estrutura Chamada a viver a comunhão no amor, a Igreja se serve da diversidade de carismas, ministérios e serviços para realizar a missão comum. No plano local, a diocese, presidida pelo bispo, é chamada de Igreja particular, pois é o primeiro espaço da vida e missão eclesial. A diocese se encontra em relação com outras dioceses e sob o pastoreio do bispo de Roma, o papa. Nessa dupla dimensão local e universal, a Igreja realiza 58
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a tarefa evangelizadora nos diferentes contextos e culturas. A experiência concreta dos cristãos é vivida nas comunidades eclesiais, em especial na paróquia. Nelas acontece a celebração eucarística e se realiza a maior parte dos sacramentos. Nelas também se dão os momentos de formação cristã e se organizam diferentes serviços de solidariedade. O acelerado ritmo de mudanças em todos os níveis tem levado a Igreja e os cristãos a buscar novas formas de vivência comunitária. A ação criativa do Espírito Santo fez surgir, ao longo da história, diferentes ordens e congregações religiosas, masculinas e femininas, para exercer determinado carisma na vida da Igreja e da sociedade. Entre as mais conhecidas estão os beneditinos, os franciscanos, os dominicanos, as carmelitas, as irmãs vicentinas. A experiência de Marcelino Champagnat produziu o carisma marista, a que pertence esta Instituição. Cada cristã e cristão é chamado, pelo batismo, a realizar a comunhão com Deus e com os outros, e a desenvolver a missão cristã de um modo específico. A transformação das realidades humanas e a criação de estruturas justas, segundo os critérios do Evangelho, são o principal testemunho das leigas e leigos. Por meio de diferentes ministérios, DI MENSÃO
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contribuem nas pastorais e participam de associações e de grupos com projetos espirituais próprios. Essa diversidade é sinal da presença fecunda do Espírito Santo na Igreja. A vida consagrada é caminho especial de seguimento de Cristo. Homens e mulheres escolhem dedicar-se plenamente a ele, numa vida casta, pobre e obediente. Existem várias modalidades: vida monástica contemplativa e ativa, institutos seculares, sociedades de vida apostólica, além de outras formas. Os que participam da vida consagrada podem ser leigos ou ministros ordenados. Os Irmãos Maristas pertencem a esse grupo, assim como os Padres Maristas, as Irmãs Maristas e as Irmãs Maristas Missionárias. Os bispos são sucessores dos Apóstolos. Guiam as comunidades cristãs como pastores e mestres espirituais. São administradores dos sacramentos e responsáveis pela formação dos cristãos. São auxiliados pelos outros ministros ordenados, os sacerdotes e os diáconos, a quem cabe a tarefa de estar próximo do povo nas comunidades e paróquias. Outras estruturas ajudam a dinamizar a missão da Igreja: as Conferências Episcopais, os Concílios e os organismos eclesiais, em nível regional e mundial.
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A Igreja Católica participa do movimento ecumênico, que reúne outras Igrejas cristãs no esforço de superação das divisões e de construção de um caminho comum que seja testemunho de unidade para o mundo. Promove também o diálogo com outras religiões, em especial com o judaísmo. A Instituição Marista, por sua vez, valoriza a contribuição de colaboradores de outras igrejas e religiões, e estimula o respeito pelas diferenças.
Espiritualidade e ética cristã A espiritualidade é o modo de compreender a si mesmo e o mundo, que unif ica a vida e lhe dá sentido. Abrange diferentes dimensões do ser humano e estabelece a ponte necessária entre a interioridade, onde se forma e se sustenta a identidade de cada um, e a realidade circunstante, com os relacionamentos sociais, o trabalho e a cultura. Para muitos, a espiritualidade envolve também a dimensão transcendente, em suas várias formas de expressão. Para os cristãos, é a presença do Espírito de Jesus na própria vida, desde o batismo, que conduz à existência e lhe dá a razão de ser. Assim, espiritualidade é um jeito de se relacionar com Deus
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e um modo de estar no mundo. O trabalho, a vida em família, as opções políticas, o empenho social, os relacionamentos, a vivência religiosa, tudo se ilumina pela ação do Pai, revelado em Jesus Cristo e comunicado a nós pelo Espírito Santo. Está superada a ideia de que espiritualidade, assim como mística, seja reservada a um grupo exclusivo de cristãos. Todos são chamados a tornar o próprio cotidiano pleno de Deus. Em particular, o trabalho deve ser visto como prolongamento da obra do Criador. De igual modo, a espiritualidade é compreendida como vivência dos momentos históricos a partir da ótica cristã. Como diz o apóstolo Paulo, “em Cristo sou nova criatura” (2Cor 5,17). A espiritualidade cristã tem algumas características: fundamenta-se na experiência de Jesus Cristo, relatada nos evangelhos; une intimidade com Deus e compromisso com o mundo; é solidária, alegre, pacífica, cheia de gratidão e de esperança, e aberta ao novo; expressa-se na experiência comunitária e no compromisso com os mais necessitados; e sente-se parte do Universo e busca um mundo sustentável. Maria é modelo de espiritualidade para todo cristão e cristã. Era profundamente íntima de Deus, na oração e na leitura da bíblia hebraica. 62
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Soube acolher a mensagem do anjo e responder generosamente. Sendo a mãe de Jesus, tornou-se também sua discípula. Estava atenta às necessidades dos outros, como em Caná. Manteve-se junto à cruz, com o Filho, e acompanhou os Apóstolos no momento do Pentecostes. Com ela, a cristã e o cristão aprendem a se abrir totalmente ao Espírito e deixar-se conduzir por ele. Os cristãos participam das regras, dos valores e dos costumes da sociedade. Exercem o senso crítico, aceitando ou rejeitando modos de viver, segundo os valores evangélicos. São fermento de renovação, pois promovem a solidariedade e a defesa da vida, usam de temperança e bom senso, atuam com determinação e fortaleza. Esses elementos fazem parte da ética cristã. Essa capacidade de agir também é identificada como virtude, ou força vital. Virtude é uma disposição interior, firme, para se fazer o bem. A tradição cristã costuma dividir as virtudes em dois grupos. O primeiro é formado pelas virtudes cardeais, que dizem respeito às qualidades humanas que regulam nossa vida em vista da prática do bem. São quatro: prudência, justiça, fortaleza e temperança. O segundo é formado pelas virtudes teologais. São chamadas assim porque se referem DI MENSÃO
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diretamente à nossa relação com Deus, e são infundidas em nós por seu Espírito. São três: fé, esperança e caridade. A vivência dessas virtudes, assim como de outras, enriquece a própria experiência humana, ajuda na convivência com colegas de trabalho, facilita a realização das tarefas e traz maior satisfação e alegria.
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arcelino Champagnat e a obra por ele iniciada são a fonte e a raiz de toda ação marista. Esse modo de ser e de trabalhar é chamado de carisma marista. Trata-se de um dom do Espírito à Igreja e ao mundo. Esse dom se manifesta no jeito próprio de compreender e de viver a relação consigo, com os outros, com o mundo e com Deus, na forma de trabalhar com as crianças e os jovens, e de evangelizá-los por meio da educação. Essas duas dimensões do carisma marista, espiritualidade e missão, definem e qualificam todo o agir marista. O jeito de ser baseado no carisma de Champagnat não é algo à parte da dimensão humana e cristã, mas o modo “marista” de vivê-la. Conhecer esse jeito é fundamental para a colaboradora e o colaborador realizarem suas tarefas. 70
Rosey, Verrières, La Valla, L’Hermitage Durante o período da vida de Marcelino Champagnat (1789-1840), a Europa vivia um tempo de profunda crise na sociedade e na Igreja. Seu país, a França, tinha passado por grande mudança, provocada pela Revolução Francesa. Novos ideais de progresso e solidariedade conviviam com situações de ignorância e pobreza. Em Rosey, povoado onde Marcelino nasceu, e nos arredores, a maioria dos jovens e adultos era praticamente analfabeta. Influenciado pelo pai, homem empreendedor e inteligente, e pela mãe e tia, mulheres de intensa fé e devoção marial, Marcelino desenvolveu em si o que ele depois irá propor a todos os educandos: ser honesto cidadão e bom cristão. Decidiu tornar-se sacerdote, entrando primeiro no seminário em Verrières e, a seguir, em Lyon. Foi aí, nessa importante cidade, que pôde desenvolver DI MENSÃO
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a ideia de uma sociedade de Irmãos educadores. Inicialmente pensou em enviá-los a trabalhar com as crianças da zona rural, desprovida da oportunidade de uma educação humana e cristã. Depois de ordenado, em 22 de julho de 1816, Marcelino Champagnat foi nomeado vigário de La Valla. O povo dessa região rural montanhosa vivia isolado e fora das preocupações da elite que governava o país. Mesmo na Igreja havia pouco interesse pelo cuidado pastoral das crianças e dos jovens do campo. Com professores desprestigiados e mal remunerados, a situação tendia a piorar. Quando trabalhava em La Valla, o padre Marcelino foi chamado para atender um jovem muito doente. João Montagne tinha 17 anos, mas desconhecia quem era Jesus, nunca tinha ouvido falar dele, apesar de viver num “país cristão”. O jovem padre explicou-lhe os fundamentos da fé e o acompanhou em seus últimos momentos. Marcelino decidiu, a partir disso, mover-se na direção das crianças e jovens e ajudá-los a conhecer e amar Jesus. Marcelino conseguiu reunir seus dois primeiros discípulos, para levar avante seus projetos. Logo, outros se juntaram ao grupo inicial. Eram jovens camponeses, a maioria entre 15 e 18 anos. Impregnou-os com o seu zelo apostólico e 72
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educacional. Viveu entre eles e como um deles. Ensinou-lhes a leitura, a escrita e aritmética, a rezar e a viver o Evangelho no cotidiano, e a serem mestres e religiosos educadores. Eles iam aos lugarejos mais afastados da sua paróquia para ensinar às crianças e aos adultos os rudimentos da religião, da leitura e da escrita. Entre 1817 e 1824, iniciou uma escola primária em La Valla, utilizando-a como centro de formação docente para seus jovens Irmãos. Para esses corajosos empreendedores, estar ali era ocasião propícia para a experiência e a prática. Nasce, assim, o Instituto dos Irmãozinhos de Maria. Outro fato ajudou a definir a identidade marial do Instituto. Durante uma terrível tempestade de neve, em 1823, o padre Marcelino e o irmão Estanislau se perderam nas montanhas de Pilat. Já era noite. Com o companheiro correndo risco de vida, Marcelino invocou, confiante, a proteção de Maria e rezou a oração “Lembrai-vos”. A resposta não tardou: uma luz improvável foi vista na escuridão. Salvos, reconheceram em Maria a Boa Mãe e o “Recurso Habitual” para as necessidades do Instituto nascente. Entre 1824 e 1825, Marcelino Champagnat e os primeiros Irmãos construíram uma grande casa de formação, denominada Notre Dame de DI MENSÃO
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L’Hermitage. Ali, oferecia aos jovens vocacionados formação humana e espiritual, com ênfase especial no aperfeiçoamento dos conhecimentos intelectuais e das habilidades docentes. L’Hermitage, por isso, pode ser considerado o espaço de aprimoramento da pedagogia marista, de seus princípios e de suas práticas. Até hoje, é o centro de irradiação do jeito marista de ser e de educar, conforme o coração do padre Marcelino Champagnat. Quando morre, em 6 de junho de 1840, a família religiosa que havia fundado conta com 290 Irmãos, que mantêm e coordenam 48 escolas primárias. A partir da França, o Instituto se expande para todos os continentes, atuando principalmente na educação de crianças e jovens e na promoção humana e cristã. Em 18 de abril de 1999, o papa João Paulo II proclamou o padre Marcelino Champagnat santo da Igreja Católica. Marcelino tinha um coração sem fronteiras, capaz de descobrir e acolher o jovem onde ele se encontra, em qualquer parte do mundo, nas diferentes culturas e línguas. Hoje, Irmãos e leigas e leigos, queremos continuar a realizar essa missão.
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Estilo marista de educar, cuidar, gerir e comunicar O estilo marista baseia-se na visão integral do ser humano e se propõe conscientemente a comunicar valores. Desenvolvido inicialmente por Marcelino Champagnat e pelos primeiros Irmãos, e transmitido pelo Instituto ao longo de quase duzentos anos, esse jeito é proposto a todos os colaboradores, em vista de sua atuação nas Unidades, em diferentes tarefas e responsabilidades. Do fundador do Instituto Marista aprendemos os aspectos fundamentais do carisma marista. Champagnat queria que todos se empenhassem na missão de “tornar Jesus Cristo conhecido e amado”. Para isso comunicou-nos seu jeito de viver essa missão por meio da espiritualidade marista, que se caracteriza por ser apostólica e marial. O carisma é vivido em todas as obras e por todos os colaboradores, na gestão de pessoas, nas políticas e processos e na cultura e clima organizacionais, segundo os valores próprios da Instituição: presença, espírito de família, justiça, amor ao trabalho e simplicidade.
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Missão: Tornar Jesus conhecido e amado A Instituição Marista é chamada a tornar Jesus conhecido e amado, especialmente pelas crianças e pelos jovens. Dessa missão participam Irmãos e colaboradores, ao realizar cada um, do melhor modo, as próprias tarefas, no espírito legado por Marcelino Champagnat. Para os que se sentem participantes do carisma, essa parceria significa partilhar a fé e um conjunto de valores, apaixonar-se por Jesus e viver a experiência coletiva de ter o coração e a imaginação cativados por Marcelino. A educação, no sentido mais amplo, é o meio de evangelização marista: tanto nas instituições de ensino como nos projetos pastorais e sociais. Qualifica, ademais, as relações entre as pessoas da Instituição. Em todas essas situações, oferecemos educação integral, elaborada a partir da visão cristã do ser humano e de seu desenvolvimento. A presença entre as crianças e os jovens e o trabalho em seu favor é a primeira forma de anúncio do Evangelho. Cada Unidade e seus membros, Irmãos e colaboradores, testemunham Jesus ao realizar, de forma plena, a missão marista. Como o Fundador, acreditamos na presença permanente de Deus. 76
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A evangelização constitui a finalidade da Instituição e, por isso, é elemento prioritário em todos os processos institucionais. A Província e as Unidades organizam a ação evangelizadora por meio da pastoral. As estratégias de atuação são organizadas levando-se em conta o público-alvo. As Unidades estimulam a vivência cristã por meio de momentos explícitos de evangelização e catequese, assim como a celebração da fé nos sacramentos. Além disso, oferecem espaços físicos, educativos e relacionais adequados, que estimulam o aprofundamento espiritual e teológico. A diversidade cultural e o surgimento de novos contextos culturais são desafio permanente para a Instituição, e requerem novas sínteses, capazes de integrar cultura e fé, tanto no trabalho realizado como na vida dos colaboradores. A ética baseada no compromisso com o ser humano se integra necessariamente com a preocupação com a sustentabilidade do planeta e o respeito pela natureza. A consciência de zelar pela Terra e seus habitantes é um dos imperativos da fé cristã e do jeito marista de ser. O pluralismo religioso não é empecilho para o testemunho da fé. Ao mesmo tempo que a Instituição vive explicitamente o compromisso da fé cristã, encoraja as pessoas com diferentes modos DI MENSÃO
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de crer e de compreender o transcendente a praticar a fé de acordo com a própria herança religiosa.
Espiritualidade apostólica e marial Os primeiros jovens que conviveram com Marcelino conheceram a maneira simples e prática de sua espiritualidade, marcada pela experiência pessoal do amor de Jesus e do acolhimento de Maria. Dois fatos da vida de Champagnat foram decisivos para a consolidação da espiritualidade apostólica e marial: o encontro com o jovem Montagne e a tempestade de neve. Como seguidores de Marcelino, Irmãos e leigas e leigos percebem em si e na Instituição a presença amorosa de Deus, que acompanha bem de perto a cada um na própria experiência humana. Sentem que essa presença os impulsiona a olhar o mundo “com olhos de criança” e a dar respostas a necessidades concretas de forma apaixonada e generosa. Confiam em Deus, reconhecendo os limites e abrindo-se ao novo com generosidade e ousadia. Os lugares simbólicos maristas de encontro com Jesus, face humana de Deus, são o presépio, a cruz e o altar. No presépio, encontramos a simplicidade, a inocência, a ternura e a fragilidade do Deus que armou sua tenda entre nós. Na cruz, percebemos o amor sem reservas do Filho, até a 78
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morte. Na Eucaristia, centro da espiritualidade marista, celebramos a presença viva de Jesus. Esses lugares também apontam o modo marista de viver o Evangelho: a sensibilidade com a situação de pobreza e fragilidade de crianças e jovens; a solidariedade com os que sofrem e lutam contra a fome e a favor da justiça e da paz; as atitudes de comunhão, partilha e gratidão. A linguagem religiosa, assim como os ambientes e os símbolos, procuram transmitir às crianças e jovens o valor da simplicidade. Da mesma forma, as propostas de evangelização e catequese se inspiram nesse modo de viver a relação com Deus e com os outros. A tradição marista valoriza o trabalho, pois nos coloca em contato direto com a Criação, para cuidar de sua preservação e para transformá-la em favor da vida e da harmonia de todos os seres. Todas as pessoas e acontecimentos são oportunidades de encontro com Deus. Igualmente fecundos são os momentos de ação de graças, de oferta e de aceitação do perdão, de revisão de vida, de meditação e partilha da Palavra de Deus, e de celebração da Eucaristia. Na espiritualidade marista, a oração emerge da vida e devolve à vida. A colaboradora e o colaborador são convidados a participar espontaneamente de programas DI MENSÃO
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e atividades que a Província e as Unidades promovem em vista da vivência espiritual pessoal e comunitária. Da mesma maneira, são estimulados a colocar os dons e carismas pessoais a serviço de toda a comunidade. O senso de humor nos ajuda a ser mais compreensivos em relação a nós mesmos e aos outros, aceitando os contratempos e as dificuldades inevitáveis. A espiritualidade marista é alegre e convida as pessoas a serem felizes e expressarem esse contentamento. Tradições espirituais diferentes são vistas como riqueza que precisa ser partilhada, com respeito e tolerância. Evita-se na obra marista as tendências ao fundamentalismo, à xenofobia e à exclusão. Nossa espiritualidade é de comunhão e de respeito mútuo.
Presença Acreditamos que o exemplo de vida é o meio mais eficaz na construção do ser humano pleno. Por isso buscamos estar próximos das pessoas, inculturando-nos em suas realidades, valorizando e cultivando os laços de cuidado e ternura, de solicitude e afabilidade, para construir sólida relação de confiança, marcada pela presença atenta e acolhedora. 80
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Espírito de família Construímos entre as pessoas relação de parceria ativa, acolhendo-as e compreendendo-nos como diferentes e complementares. Valorizamos a construção coletiva, a autonomia responsável, a flexibilidade, a ajuda mútua e o perdão. Ousamos construir comunidade com alegria, e fazer dela fonte de vida. Justiça Pautados pelos valores cristãos, fazemos bom uso de todos os bens e recursos, em vista da formação integral do ser humano e do bem comum. Empenhamo-nos concretamente na solidariedade, imperativo ético de nossos tempos, que dignifica e emancipa os sujeitos. Simplicidade Esforçamo-nos para ser íntegros, autênticos e transparentes. Assim, nossa simplicidade é fruto da unidade entre ser e agir e se expressa no trato com as pessoas. Está ligada à humildade e à modéstia, que nos ajudam a compreender melhor nossas potencialidades e limitações e nos tornam aptos a aceitar os outros, respeitando-os em sua dignidade e liberdade.
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Amor ao trabalho A exemplo de Marcelino Champagnat, somos constantes e perseverantes no trabalho cotidiano. Realizamos as tarefas que nos cabem com disposição, generosidade e espírito cooperativo. Esforçamo-nos em promover nossa própria formação permanente e para dar respostas criativas aos desafios da realidade. Pelo exemplo, ensinamos que o trabalho é meio de realização pessoal e contribui para o bem-estar da sociedade.
Do jeito de Maria Maria, que educou Jesus de Nazaré, inspira o estilo marista de ser e de atuar. Mulher e leiga, e primeira discípula de Jesus, orienta nosso caminhar na fé. Por isso ela tem lugar privilegiado na Instituição, como teve na vida de Marcelino Champagnat. Maria foi peregrina na fé. Educada na tradição do seu povo, admirou-se com a extraordinária intervenção de Deus na sua vida. “Escolhida entre todas as mulheres” (Lc 1,41) para ser a mãe de Jesus, conheceu a dureza de dar à luz um filho em lugar inóspito e distante do lar, e de viver como refugiada. Experimentou igualmente as alegrias e as dificuldades. Na fé, ponderou os fatos ocorridos em 82
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sua vida e na de seu Filho. Respondeu com o coração aberto, sem esperar respostas para todas as suas perguntas. Seu “sim” a Deus tornou-a participante do mistério da salvação. Ela é modelo de doação sem reserva a Deus e de dedicação aos outros. Vai visitar a prima Isabel, a fim de ajudá-la. Em Caná, cuida de que a festa não se estrague pela falta de vinho. Junta-se a Cristo no sofrimento da cruz. Assume seu papel de mãe no seio da comunidade dos Apóstolos. A colaboradora e o colaborador aprendem de Maria o jeito marista de educar. Junto com José, em Nazaré, propiciou a Jesus a unidade familiar e o amor de que necessitava para crescer na sua humanidade. Deu espaço para que Jesus adolescente desenvolvesse a própria identidade. Mesmo quando isso provocou algum mal-entendido, comunicava-lhe a sua confiança e continuava ajudando-o a crescer “em sabedoria, idade e graça” (Lc 2,52). Para Marcelino Champagnat, Maria é a Boa Mãe, o Recurso Habitual e a Primeira Superiora do Instituto. Expressou-lhe a devoção de modo pessoal, familiar, simples. Associamo-nos a Maria, para fazer Jesus nascer nos corações das crianças e dos jovens. “Tudo a Jesus por Maria. Tudo a Maria para Jesus”, repetimos com Marcelino.
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Maria, nosso modelo
1.
Como na Anunciação (Lc 1,26-38), estamos abertos à ação de Deus nas nossas vidas.
2.
Como na Visitação (Lc 1,39-45), vamos ao encontro das crianças e dos jovens, lá onde necessitam de nós.
3.
Como no Magnificat (Lc 1,46-55), damos graças a Deus pelo dom da vida.
4.
Como em Belém (Lc 2,1-20), fazemos Jesus nascer nos corações dos outros.
5.
Como em Nazaré (Lc 2,39-52), educamos e orientamos crianças e jovens.
6.
Como em Caná (Jo 2,1-11), somos sensíveis às necessidades do próximo.
7.
Como no Calvário (Jo 19,25-27), reconhecemos Jesus no rosto dos sofredores e dos oprimidos.
8.
Como no Cenáculo (At 1,12; 2,4), construímos comunidade em torno de nós. 85
Estruturas e organização A Missão Marista no mundo atinge hoje os cinco continentes. São mais de 3.600 irmãos, espalhados em 79 países. Partilham sua tarefa de maneira direta com mais de 40 mil leigas e leigos e atendem perto de 500 mil crianças e jovens. O Irmão Superior Geral e seu Conselho representam a unidade do Instituto. Irmão Emili Turú é o atual Superior Geral e tem seu mandato até o XXII Capítulo Geral, em 2017, ano em que o Instituto celebrará duzentos anos de fundação. O Irmão Emili é sucessor do Fundador, São Marcelino Champagnat, e congrega todos os Irmãos do Instituto em torno a Cristo, com a tarefa de animar, junto com o Conselho Geral, a presença marista no mundo. O Capítulo Geral é a assembleia representativa de todo o Instituto. Convocado a cada oito anos, trata de temas que dizem respeito à identidade e à missão marista. Também é responsável pela eleição do Irmão Superior Geral, do Vigário Geral e dos membros do Conselho Geral. O XXI Capítulo Geral realizou-se em 2009, em Roma, e deixou como tarefa o lema: “Com Maria, ide depressa para uma nova terra!”.
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A presença marista está organizada nas regiões e países por meio de unidades administrativas, chamadas Províncias e Distritos. Todas elas dispõem de órgãos próprios de animação e de governo. O Brasil está dividido em três Províncias e um Distrito. A Província do Rio Grande do Sul tem sede em Porto Alegre; a do Brasil Centro-Sul, em Curitiba; e a do Brasil Centro-Norte, em Brasília. O Distrito da Amazônia tem sede em Porto Velho. A União Marista do Brasil (UMBRASIL), com sede em Brasília, coordena os esforços comuns em vista da missão e do carisma no País. Representa as Províncias nos organismos governamentais, não governamentais e eclesiais. Seus diversos organismos contam com a participação de Irmãos e colaboradores das diversas Províncias. A Província Marista do Brasil Centro-Sul congrega quatro Estados (Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo) e o Distrito Federal. Está presente em 24 municípios, por meio de diferentes modalidades de atuação: colégios, centros sociais, universidade, hospitais, meios de comunicação e casas de formação. A PMBCS é governada pelo Irmão Provincial com a ajuda de seu Conselho. O Provincial é
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responsável pela animação espiritual e apostólica da Província e pela administração dos bens. Coordena e acompanha o desenvolvimento de todas as atividades, e estimula Irmãos e leigos e leigas na fidelidade à missão marista. Seu mandato, assim como o do Conselho, é de três anos. Os Irmãos estão em comunidades, onde vivem fraternalmente como consagrados. O trabalho e a oração comum testemunham a caridade cristã e anunciam ao mundo a boa nova do Reino, sobretudo por meio da educação dos jovens, principalmente os menos favorecidos economicamente. Os jovens que se dispõem a viver o carisma marista como Irmãos participam de programas vocacionais. Se decidirem continuar, são incorporados nas estruturas próprias da formação: Aspirantado, Pré-postulado, Postulado, Pré-noviciado, Noviciado e Pós-noviciado. De forma progressiva, esses jovens começam a participar do trabalho nas Unidades e em outros âmbitos da missão marista, a fim de realizar a própria vocação. Leigas e leigos compartilham a missão com os Irmãos, com espírito de genuína comunhão. Essa “parceria na missão” constitui sinal da boa nova para o mundo e, sobretudo, para as crianças e jovens. Procuram, assim, criar um ambiente de trabalho em que todos se sintam respeitados 88
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e corresponsáveis e em que haja forte sentido de companheirismo. A formação conjunta de Irmãos e leigos abre espaços para novos modos de vivência do carisma marista. Permite a inserção gradual da leiga e do leigo na espiritualidade de Champagnat e o compromisso mais efetivo com a missão de tornar Jesus conhecido e amado. Cada Unidade se implanta na Igreja local e participa de sua missão. Age de comum acordo com o bispo diocesano e busca oferecer à comunidade eclesial a riqueza do carisma marista, particularmente na evangelização da cultura. Tem profundo respeito pelo Papa e adere aos ensinamentos e diretivas da Igreja.
Para saber mais, veja os sites: <www.champagnat.org>; <www.marista.org.br>
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