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Prefácio

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Índice Remissivo

Índice Remissivo

Como utilizar este livro

Para fazer uso dos mitos e arquétipos por trás da prática da astrologia, é preciso começar do próprio mapa astrológico ou de sua resposta interior aos mitos.

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Começar pelo mapa astrológico talvez seja a abordagem mais direta. Se você tem conhecimento de astrologia suficiente para ler você mesmo o mapa, será capaz, obviamente, de identificar os planetas ou signos que representam o papel mais importante em seu "mito pessoal". Se não, você precisará de um astrólogo experiente para identificar os fatores planetários ou zodiacais com maior ressonância em seu mapa. Com bastante freqüência, os planetas ou signos dominantes em seu mapa astrológico indicarão os mitos e arquétipos aos quais você responde com mais força. Comece estudando os capítulos que falam deles, seus próprios mitos pessoais.

Também é possível escolher uma abordagem mais intuitiva, menos estruturada. Você pode começar pelo próprio livro e simplesmente anotar quais deuses, deusas ou mitos têm maior impacto sobre seu coração e sua mente. Não precisa se preocupar se por acaso um planeta ou um signo, em especial, tiver forte ressonância em sua alma, mas não for tão forte em seu mapa astrológico! Afinal de contas, você pode estar gravitando em direção a um mito comparativamente ausente em seu mapa astrológico, mas do qual agora precisa (embora possamos nos inclinar à identificação com símbolos e mitos específicos, também nos

empenhamos, mesmo inconscientemente, em experimentar todos os arquétipos zodiacais e planetários, pois o objetivo final é a completude).

Digamos que, por exemplo, você se veja atraído pelo arquétipo de Vênus. Talvez saiba que Vênus é importante para você, já que sempre deu grande valor aos relacionamentos em sua vida; se esses relacionamentos não foram bem, saberá que precisa realizar algum trabalho grande com a deusa do amor em seu interior. Talvez você tenha Vênus exaltada em Peixes ou em queda em Virgem. Você pode ter sido atingido em cheio pela pujança do famoso Nascimento de Vênus de Boticcelli e trazido a imagem consigo por anos. Ou talvez apenas tenha tido um ankh (idêntico ao símbolo astrológico de Vênus) suspenso sobre a cama desde a década de 1960.

De um modo ou de outro, você decidiu que a deusa do amor é um arquétipo com o qual quer — ou precisa — trabalhar. Está pronto para iniciar o curioso e intricado processo que a psicologia junguiana chama de elaboração simbólica. Estude os capítulos sobre Vênus e seus signos, Touro e Libra. Se você é homem, poderá perguntar a si mesmo qual tipo de mulher o atrai. Seria o aspecto terreno, sensual da deusa (Touro) ou a sua perfeição distante, resplandecente (Libra)? Se você é mulher, qual aspecto de Vênus você incorpora em seus próprios relacionamentos? Pensa no sexo em primeiro lugar, seguido talvez por dinheiro e filhos? Então você está inclinada para o lado terreno da deusa. Ou prefere ficar completamente vestida, ser envolvida com vinhos e jantares caros e mantê-lo à distância até estar pronta? Se assim for, você está gravitando mais para o aspecto libriano da deusa (não se preocupe com a posição de Vênus em seu mapa astrológico, pois há muitos fatores que afetam suas respostas, e essa, afinal de contas, é uma viagem intuitiva).

Enquanto explora os diferentes aspectos da deusa do amor nestas páginas, você poderá descobrir que Vênus é exaltada em Peixes. Suponha que você passe a estudar Peixes e em seguida, Netuno, seu regente. Descobre então que os relacionamentos fantasiosos e não realistas estão relacionados ao fator netuniano no mapa e que estrelas de cinema freqüentemente possuem um Netuno forte. Portanto, se você é um homem cujas esperanças românticas sempre se chocaram com duras realidades e que entra em transe ao ver as novas Vênus na tela do cinema, saberá que Netuno está representando um papel em sua vida amorosa, talvez tão importante quanto o da própria Vênus. Ao explorar Netuno, você poderá descobrir que sempre foi uma espécie de sonhador dionisíaco, mais interessado em seu violão e em formas exóticas de sabedoria espiritual do que em manter-se em um trabalho ou fazer sucesso. Assim, Vênus levou você a Netuno e este lhe mostrou discussões a respeito do significado do direcionamento de sua própria vida. Então você começa a trabalhar com Netuno e, no tempo certo, ele poderá

levá-lo para qualquer outro lugar. O processo da elaboração simbólica não tem início ou fim em particular; anda em círculos. É um caminho indireto. Da mesma maneira que a alquimia, que mistura e "cozinha" diversos círculos e mitos até que nasça uma nova imagem por meio de um processo de transmutação. A segunda técnica é o trabalho com sonhos que, em alguns modos, é parecido com a elaboração simbólica. Como se sabe, nossos sonhos são cheios de histórias, personagens e temas também encontrados no folclore, nos contos de fada e na mitologia — em outras palavras, nossos sonhos incorporam nossos mitos pessoais. A psique inconsciente nos fala através de nossos sonhos; o mito é a linguagem do inconsciente. Dessa forma, podemos utilizar nossos sonhos para olhar mais de perto nossos mitos pessoais e os fatores planetários ou zodiacais envolvidos.

Por exemplo: um cliente de um dos autores teve um sonho no qual ele viajava por uma grande cidade. Durante o sonho, ele e seus companheiros de viagem tinham muitas aventuras em muitos locais diferentes dessa cidade. Finalmente, encontraram-se em uma loja de animais. Aquele que sonhava olhou para um canto da loja e percebeu uma cena muito incomum: um homem de cabelos escuros, com uma cobra enrolada no corpo, olhava para ele e apontava o dedo. O sonhador notou então um cachorrinho escapando de uma das gaiolas. Feliz porque o cão escapara do cativeiro, decidiu não contar a nenhum dos empregados da loja sobre o animal fugitivo.

O motivo da viagem pode remeter às longas jornadas empreendidas por muitas das figuras heróicas mencionadas neste livro: a demanda de Jasão pelo Velo de Ouro, a jornada de Ulisses por mares desconhecidos ou a busca de Percival pelo Graal. Podemos suspeitar que o sonhador está realmente envolvido em alguma espécie de busca, como indicariam as muitas aventuras vividas pelo caminho. Como cidadão da América contemporânea, e não da Idade Média, ele vagueia por uma grande cidade, e não por uma floresta escura.

E quanto à loja de animais? Obviamente, o sonhador está no "reino animal" — um nível de consciência um tanto mais primário ou "primitivo" do que sua consciência desperta. Mas, a característica mais notável do sonho é obviamente o homem moreno entrelaçado com a cobra. Três figuras masculinas associadas a serpentes surgem nas páginas deste livro: Hermes, Asclépio e Plutão. Hermes, obviamente, traz o caduceu, a vara com serpentes entrelaçadas que se tornou o emblema da profissão médica. Asclépio, outro curandeiro, traz uma vara similar; tem seu lugar no céu como a constelação Ofíaco e é associado a Escorpião e a Quíron, seu legendário professor. Como o senhor do mundo subterrâneo, Plutão ou Hades rege a casa da sabedoria da serpente; suas

contrapartes femininas, Perséfone e Ereshkigal, têm serpentes nos cabelos. O capítulo sobre Mercúrio também nos informa que Hermes era, entre outras coisas, o guia que ajudava as almas em sua jornada pelo mundo subterrâneo, o reino de Plutão.

Temos assim uma coleção de símbolos, todos falando a mesma língua: um sonhador atingiu um estágio, em sua busca, no qual fez contato com um reino de consciência bem mais primário do que o seu próprio, ou seja, com o "reino animal". Mas, ele deve ir ainda mais fundo. A figura morena entrelaçada com a serpente é obviamente um guia que vem levá-lo às profundezas de seu espírito, onde se esconde a serpente da sabedoria; portanto esse processo, não importa o quão assustador pareça, é também um processo de cura, como claramente mostra o simbolismo.

Podemos agora passar a examinar de que modo o sonho e o mapa astrológico se combinam. Especificamente, queremos olhar Mercúrio, Quíron e o Plutão do homem que teve o sonho. Queremos ver se ele tem algum planeta em Escorpião ou na Oitava Casa e se há alguma conjunção envolvendo esses planetas em seu mapa. Plutão surge para dar respostas: na época do sonho, Plutão, em transição, estava em oposição ao Sol do sonhador. Uma vez que o Sol representa o eu mais profundo do sonhador — o cerne de seu próprio mito pessoal — , podemos ver que é necessário nada menos do que uma descida transformadora total no mundo subterrâneo particular do sonhador. A figura morena que acenava é, muito provavelmente, o próprio deus do mundo subterrâneo, chamando o ego consciente do sonhador (outro aspecto do Sol) para descer em busca da sabedoria da serpente. Felizmente, o sonhador tem um ajudante animal, como os heróis e heroínas dos contos de fada — o cachorrinho fugitivo é obviamente uma porção de sua alma vital que permanecerá livre e viva durante sua passagem pelo mundo subterrâneo.

O terceiro método de contatar os arquétipos planetários e zodiacais é o mais direto. Os analistas junguianos o chamam de imaginação ativa, mas aqueles que têm alguma familiaridade com Wicca, Cabala prática e outras formas de magia reconhecerão essa técnica como similar à invocação. Talvez seja por isso que muitos terapeutas junguianos previnem seus clientes contra a experimentação desse exercício sem a orientação de um terapeuta. Afinal de contas, não é brincadeira invocar os antigos deuses e deusas. Mas a técnica da imaginação ativa é tipicamente utilizada como uma jornada interior livre e sem direcionamento, na qual o terapeuta representa o papel de guia; nisso difere da invocação, firmemente dirigida pelo indivíduo que realiza a operação. Se a pessoa permite que sua consciência viaje aos reinos arquetípicos sem uma intenção clara, pode realmente encontrar imagens perigosas ou

realidades interiores desagradáveis. Mas, a técnica que descrevemos aqui não é, de forma alguma, desgovernada. Escolha o planeta ou deus que você pretende cativar em si mesmo. Saiba para onde vai e onde está entrando.

O exercício consiste simplesmente em escolher um planeta ou uma divindade mitológica em particular com o qual deseja fazer contato. Claro, todos os planetas e signos, deuses e deusas estão dentro de você e representam parte de seu "Eu" eterno, arquetípico. Portanto, você na verdade está entrando em contato com uma parte de seu "Eu" eterno. Como escolher esse planeta e/ou divindade? Talvez você tenha identificado um planeta em seu mapa que sempre representou uma de suas forças; você pode querer desenvolver e nutrir aquele arquétipo dentro de si para se tornar ainda mais forte e mais completo. Ou, pelo contrário, talvez você tenha problemas com um planeta em particular. Você pode ter dificuldades com o mundo material e precisa fazer amizade com Saturno. Talvez sua vida amorosa seja conturbada e o problema resida em confrontos psicológicos com seu Marte ou com sua Vênus. Ou talvez você tenha tido um sonho no qual um arquétipo planetário em particular haja repentinamente surgido com grande força e quer saber mais sobre o significado disso. Ou talvez um dos mitos ou histórias deste livro ou de algum outro o tenham deixado com aquela sensação peculiar — comum ao mito e ao conto de fadas, embora rara em outras formas de literatura — que pode apenas ser descrita como misteriosa ou fantástica. Essa sensação indica que o mundo arquetípico foi ativado dentro de você pelo mito e, nesse caso, sempre vale a pena explorar o assunto. Encontre um lugar calmo e quieto para se sentar. Comece sua meditação com a intenção específica de entrar em contato com um arquétipo em particular — seu próprio Marte, ou Lua, ou Quíron, ou qualquer outro. Você pode já saber a forma que deseja que o arquétipo adote. Por exemplo: uma mulher que busca entrar em contato com seu Marte ou seu Sol interior já saberá provavelmente como se parece seu homem ideal ou interior, seu animus, pois ela o encontrou em suas fantasias e sonhos muitas vezes. Pode assim construir uma imagem da força arquetípica interior baseada em seu próprio conhecimento pessoal daquilo que está dentro dela. Ou talvez em um sonho Mercúrio tenha aparecido a você como um vendedor ou como um ladrãozinho, e você pode querer chamá-lo na mesma forma. Aqueles que apreciam o passado mitológico ou um certo contexto em outras formas de magia podem querer invocar os deuses e deusas em suas formas costumeiras: Atená com seu elmo e a coruja no ombro, Júpiter com sua barba e seu trovão ou a Lua como Ísis.

Provavelmente, sua imaginação vai levá-lo a uma paisagem em particular. É possível que você precise vagar por essa paisagem mítica

por algum tempo antes que a divindade invocada apareça. Mas, uma vez na presença do arquétipo, basta começar seu diálogo interior. O deus terá algo a lhe contar — algo valioso que ecoa na placidez de sua imaginação. Eis como os deuses nos falam, como bem sabiam os astrólogos e magos neoplatônicos da era helenística, como Jâmblico e Porfírio. Se você traz um problema particular à divindade, pode pedir discernimento ou conselho diretamente para aquele assunto. Ou, se tiver sido levado indiretamente àquele arquétipo por um sonho ou intuição, pode simplesmente abrir-se àquilo que os deuses querem lhe contar.

Essa talvez seja a técnica mais poderosa para fazer contato com os planetas interiores. Não deve ser praticada de modo frívolo. E, como nos advertem os junguianos, nunca deve ser praticada de modo não dirigido ou desestruturado. Saiba sempre quem ou o que você pretende encontrar no reino arquetípico. Mostre respeito e honra aos deuses interiores. Quando eles quiserem partir, permita que o façam. Trate-os como se fossem reais, e não invenções de sua imaginação. Você ganhará contato vivo e vital com o mundo das divindades dentro de você e com as dimensões interiores de seu mapa astrológico.

ARIEL GUTTMAN KENNETH JOHNSON

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