11 minute read

Capítulo Um............................ Os PLANETAS

Next Article
Índice Remissivo

Índice Remissivo

Ao senado todos os planetas compareceram, Tara nele tecer suas maiores perfeições. — Shakespeare, "Péricles", I, I

Advertisement

Quando começam a se interessar por astrologia, normalmente as pessoas vêem os signos do zodíaco como os fatores mais importantes do arcano astrológico. Astrólogos profissionais, porém, sabem que são os planetas, mais do que os signos, que formam o cerne de todo o sistema.

A relação entre os planetas, os signos e as doze casas pode ser expressa através de uma metáfora. Examinemos uma produção teatral. Essa produção, em particular, é a sua vida e você é o dramaturgo — ou, mais precisamente, a centelha divina dentro de você é o dramaturgo. A peça, é claro, terá diversas cenas diferentes. Essas cenas ou cenários — o mobiliário, objetos cênicos e assim por diante — são representados em nossa metáfora

pelas doze casas do horóscopo. Conforme os atores entram, dizem suas falas e saem, usam diferentes trajes; e os signos zodiacais ocupados pelos planetas representam esses trajes. Mas, e os próprios atores? Os atores são os planetas e as falas por meio das quais se relacionam são os aspectos planetários.

Quando os egípcios e os babilônicos começaram a observar o céu, notaram que a maior parte das estrelas ocupava posições fixas. Cinco delas, porém, pareciam viajar através do céu, assim como a Lua. Essas "estrelas viandantes" eram, é claro, os planetas e, de fato, a palavra planeta vem de um termo grego que significa viandante. O próprio zodíaco provavelmente se desenvolveu como um modo de medir o movimento dos planetas.

Os gregos primitivos designaram guardiões — um Titã e uma Titanesa — para cada um dos sete antigos planetas. Téia e Hiperiônio governavam o Sol, enquanto Febe e Atlas presidiam a Lua. Dione e Crius guardavam Marte; Métis e Ceos eram ligados a Mercúrio; Têmis e Eurimedonte a Júpiter; Tétis e Oceano a Vênus e, finalmente, Réa e Cronos a Saturno. Alguns desses antigos guardiões influenciavam de alguma forma a natureza dos planetas, assim como nós somos influenciados de alguma maneira pela natureza de nossos ancestrais.

Os babilônicos, que levaram a astrologia mais a sério do que qualquer outro povo antigo, deram aos planetas os nomes de seus diversos deuses. O rei dos deuses, Marduk, era o planeta a que hoje chamamos Júpiter; Vênus tinha originalmente o nome Ishtar, a deusa do amor da antiga Babilônia. Em seu tempo, os gregos imitaram os babilônicos: Marduk tornou-se Zeus, o rei dos deuses gregos; Ishtar tornou-se a

Talismãs planetários franceses para os sete dias da semana. Retirado de Secretes marveilleux de la magie, de Le Petit Albert. Colônia, 1722

Representação emblemática dos sete deuses planetários. De Philosophia Reformata, de Johann Daniel Milius. Frankfurt, 1622

sorridente Afrodite. Os romanos traduziram os nomes dos planetas para o latim — e são esses nomes que usamos hoje.

Os dias da semana ganharam os nomes dos planetas. Os mais óbvios para os anglófonos são Saturday (sábado, dia de Saturno), Sunday (domingo, "Dia do Sol") e Monday (segunda-feira, "O dia da Lua"). Tuesday (terça-feira), cujo nome vem de Tiw, o deus germânico da guerra, corresponde a Marte. Wednesday (quarta-feira) recebeu o nome de Odin ou Woden, o correspondente norueguês de Mercúrio. Thursday (quinta-feira), ou Dia de Thor, tem o nome de Júpiter, enquanto Friday (sexta-feira), Dia de Freyja, é o dia de Vênus.

Embora os gregos do período arcaico (800-500 a.C.) imaginassem os deuses como entidades reais que viviam no alto de uma montanha real, os sofisticados intelectuais dos períodos helenístico (c.300 a.C. — 1 d.C.) e romano (1 d.C. — 400 d.C.) viam os deuses e planetas principalmente como entidades psicológicas. Platão chamava aos deuses de arquétipos, dando à palavra o mesmo sentido que Carl Jung. Os deuses, de acordo com Platão, eram idéias primordiais que existiam em um plano ou dimensão qualquer, removidas de nossa consciência ordinária, e que podemos perceber como estando "acima" dessa

consciência ordinária. Essas idéias primordiais eram comuns a todos os seres humanos e refletiam-se em cada um de nós como imagens em um espelho — tanto acima como abaixo. O céu era o macrocosmo; a humanidade, o microcosmo.

Segundo esse ponto de vista, podemos também suspeitar que os planetas constituem uma jornada na consciência. Os astrólogos gregos e romanos o compreenderam. Ainda trabalhamos com a ilusão de que os astrólogos antigos (e modernos) achavam que a astrologia funcionava por causa de raios misteriosos que emanavam dos verdadeiros planetas físicos, influenciando-nos aqui na Terra. Mas, uma leitura cuidadosa de Platão — e especialmente de seus seguidores, os neoplatônicos — revela que os antigos na verdade viam os planetas como arquétipos, símbolos de processos psicológicos internos.

Marsilio Ficino, o estudioso renascentista que traduziu os escritos herméticos, desenvolveu uma doutrina sobre os planetas interiores segundo a qual os planetas astrológicos eram, na verdade, entidades psico-espirituais internas e que, através da meditação, talismãs ou outras práticas mágicas simpáticas, seria possível melhorar ou harmonizar a influência desses planetas interiores de forma a produzir efeitos benéficos na vida10 .

Para os filósofos gnósticos do início da era cristã, a jornada pelos planetas era um processo de meditação similar à jornada do xamã a outro mundo. Os gnósticos tinham uma visão assumidamente negativa da astrologia: para eles, os planetas simbolizavam o duro regime do destino humano. Era possível superar a influência dos planetas e libertar-se do destino "erguendo-se acima" dos símbolos arquetípicos que constroem nossa psicologia individual e completando a união com um "Eu" mais elevado — um "Eu" infinito e, portanto, livre de toda obrigação planetária (ou seja, psicológica).

Mas os gnósticos sabiam que não era possível libertar-se de uma aflição planetária ou de um complexo psicológico até que ele estivesse dominado no nível interior, Psico-espiritual. Conseqüentemente, acreditavam que a pessoa deveria viajar por cada planeta sucessivamente — uma jornada que, para eles, simbolizava a ascensão à consciência mais elevada. Por meio de meditação, cânticos e rituais de magia talismânica, eles buscavam dominar — ou, nas palavras de Ficino, harmonizar — a influência de cada planeta e, assim fazendo, elevar-se a um estado mais alto de consciência.

A jornada é a mesma hoje em dia. Algum dos atores, porém, mudaram — ou, mais precisamente, alguns novos personagens

10. Ficino, Marsilio. The Book of Life, trad. por Charles Boer, Irving, TX, Spring Publications, 1980.

Os Sete Planetas, do Organum Uranicum de Sebastian Münster, impresso por Heinrich Petri. Basiléia, 1536

Os sete planetas como protetores dos agricultores, gravado por V. Feil no Wiener Praktik de Thannstetter. Viena, 1524

ingressaram no drama astrológico. A descoberta de novos planetas, assim como o mapeamento dos principais asteróides, estendeu nosso espectro de consciência astrológica para além dos sete planetas conhecidos dos antigos. Essa extensão de consciência é uma questão de escolha e muito típica da cultura ocidental. Na Índia, os astrólogos continuam a limitar seus mapas a uma consideração dos sete antigos planetas e mais os Nodos Lunares. Têm pouco ou nenhum interesse por Urano, Netuno ou Plutão e certamente nenhum interesse em Quíron e nos asteróides. Nós, ocidentais, por outro lado, encaramos a descoberta de novos corpos celestiais com ávida curiosidade. De maneira similar, os astrólogos ocidentais usam o zodíaco tropical, enquanto os astrólogos hindus

favorecem o sistema sideral mais antigo. Muito se escreveu nos últimos anos sobre as fraquezas de nossa civilização exageradamente assertiva, científica e analítica. Mas, nossa vontade de expandir a nossa consciência coletiva aceitando tudo o que é novo pode muito bem ser uma das forças dessa civilização.

Um dos princípios da filosofia astrológica é que a descoberta de um novo planeta assinala o desenvolvimento de um novo estágio na evolução consciente da humanidade. Jung acreditava que o inconsciente coletivo constelaria novos símbolos e arquétipos sempre que a humanidade precisasse deles. Esses novos arquétipos — que com freqüência são reafirmações dramáticas dos antigos — emergem em nosso inconsciente coletivo em pontos delicados da história, em épocas nas quais os paradigmas da realidade sofrem uma mudança radical. Impressionado pelo simbolismo arquetípico que observou nos relatos sobre OVNIs, Jung sugeriu que os OVNIs eram a manifestação de um novo arquétipo. Jacques Vallee e Whitley Streiber chegaram a conclusões similares sobre a chamada "experiência visitante".

Segundo a perspectiva astrológica, poderíamos dizer que a descoberta e o batismo de um novo planeta é uma dramática incidência de sincronicidade que possui implicações para todos os habitantes do planeta Terra. Deve-se observar que os novos planetas (ou asteróides ou cometas) são batizados por quem os descobre e que esses indivíduos têm pouca simpatia pela astrologia (normalmente a desprezam). Mesmo assim, os nomes mitológicos que dão aos planetas têm, na maioria dos casos, uma relação misteriosa com o verdadeiro funcionamento desses planetas no mapa astrológico. A descoberta de um planeta, a pessoa "escolhida" para "descobri-lo", seu batismo e seu impacto místico sobre o consciente humano combinam-se numa teia de sincronicidade que dá origem a um novo arquétipo coletivo.

Isso tudo tem um profundo significado para a nossa época. Desde a Antiguidade até 1781, havia apenas os sete planetas (ou seja, os cinco planetas visíveis mais o Sol e a Lua). Urano foi descoberto em 1781, Netuno em 1846 e Plutão em 1930. Os principais asteróides foram mapeados no início do século XIX e quadros de seu movimento foram publicados na década de 1970. O cometa Quíron foi descoberto em 1977. Deve-se portanto ficar claro que novas descobertas estão sendo feitas cada vez mais rapidamente.

Esse crescendo de descobertas simboliza uma aceleração igualmente dramática na consciência. Novos arquétipos irrompem da psique coletiva em velocidade realmente notável. A mente humana está atravessando seus limites anteriores, expandindo-se em uma velocidade que, para muitos, parece demasiado rápida. Estamos no limiar de um novo consciente coletivo — não é uma situação surpreendente, visto que também estamos no limiar de uma nova era astrológica.

A jornada através dos planetas é na verdade uma jornada em direção a estados mais elevados de consciência. Viajamos pela mesma estrada celestial dos gnósticos; mas, para nós, é uma estrada mais longa, e mais larga. Como mencionamos anteriormente, os astrólogos hindus não estão interessados em usar os planetas "modernos", muito menos os asteróides. Sua atitude incorpora um conceito muito oriental — a idéia de que a essência da consciência humana é eterna e imutável. E isso é bastante verdadeiro. Ao adotar alegremente as novas descobertas celestiais em nosso repertório astrológico, incorporamos uma atitude intrinsecamente ocidental — a idéia de que a consciência humana está em contínuo estado de evolução. Isso também é verdade. Nesse espírito de exploração e evolução, incluímos Gaia (Terra), os quatro principais asteróides e Quíron neste livro, pois sentimos que esses corpos que orbitam no espaço são arquétipos significativos para os tempos modernos.

Como observamos, os planetas constituem o cerne do quadro astrológico. Esse fator permaneceu constante no decorrer dos séculos. Porém as idéias sobre os planetas passaram por consideráveis alterações — talvez evoluções — através das eras. Certamente foram coloridas por realidades históricas e políticas e refletiram de alguma forma o modo como a própria astrologia é vista. Por exemplo, as antigas pacas de argila da Babilônia sugerem que, "se uma criança nasce quando Vênus ascende e Júpiter se põe, sua esposa será mais forte do que ele."11 . Aqui não se faz qualquer referência ao signo do zodíaco ocupado pelos planetas — ou mesmo ao signo solar! Em vez disso, há uma referência à angularidade (ascensão e ocaso dos planetas), que os Gauquelins confirmaram e reconfirmaram como um ponto importante da descrição astrológica. Porém, é provável que poucos astrólogos contemporâneos concordem com essa interpretação, já que o modo como interpretamos Vênus e Júpiter mudou ao longo dos séculos.

O interesse de nossos predecessores na ascensão e no ocaso dos planetas relacionava-se normalmente a preocupações como a colheita daquele ano ou o perigo de invasão do reino por um exército inimigo. Os eclipses lunares e solares também apareciam com destaque nesse esquema. Há registros sobre os planetas que estavam diretos ou retrógrados na época em que ocorreram desastres naturais ou invasões. Em alguns casos, as mesmas teorias e técnicas podem ser aplicadas atualmente. Os astrólogos modernos ainda observam o ciclo dos eclipses muito cuidadosamente e, como possuem instrumentos de medição cada vez mais sofisticados, são capazes de apontar os locais precisos desses

11. Gauquelin, Michel, The Cosmic Clocks, ibid., p. 25.

eclipses em toda a Terra. Mas, há uma diferença primordial ao se atribuir um significado a Saturno, Júpiter ou Marte se se analisam padrões políticos e climáticos em comparação à análise da vida de um recém-nascido. E essa é uma das mais importantes considerações ao se trabalhar dentro do sistema astrológico. Nas especialidades astrológicas conhecidas como astrologia mundana, em que se discutem realidades políticas e geográficas; ou em astrologia horária, em que se dá uma resposta específica para uma questão específica; ou em astrologia econômica, em que os ciclos da bolsa são analisados em comparação com ciclos planetários, há regras de interpretação rígidas e firmes. E talvez mesmo para nossos ancestrais, que viviam em um mundo "fixo" no qual pareciam ter pouco ou nenhum controle sobre o destino pessoal, Saturno ascendente no mapa astrológico atirava uma sombra escura sobre a vida de uma pessoa. Mas, hoje é diferente. Em uma sociedade em que começamos a perceber que a evolução humana está embebida de uma substância divina e que padrões negativos do passado podem ser transformados em situações de crescimento dinâmico e a realidade torna-se aquilo que é criado a cada momento por nossos padrões de pensamento e sistemas de crenças, Saturno no ascendente não é mais apenas uma sombra escura; é também a dinâmica interna que leva o indivíduo a alcançar a maior realização da sua vida — a consciência.

This article is from: