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Capítulo Treze......................... JÚPITER

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Índice Remissivo

Índice Remissivo

E no templo do grande Júpiter Nossa paz ratificaremos; que seja selada com. festas.

— Shakespeare, Cimbeline, V,V

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Para os babilônicos, o planeta Júpiter era conhecido como Marduk e, como o grego Zeus e o romano Júpiter, era o rei dos deuses. Sua história é contada no Enuma Elish, o épico babilônico da criação. Nesse antigo poema, um monstro marinho ou serpente marinha primordial chamada Tiamat reúne seus exércitos ctônicos para se revoltar contra os deuses celestes. Os deuses escolhem, como seu campeão, o jovem Marduk, filho do rei do céu. Marduk vai ao encontro deles em seu carro, derrota os exércitos da escuridão e destrói Tiamat. Constrói o céu e a terra a partir dos restos do cadáver gigantesco. Coloca as estrelas em seus cursos e estabelece o calendário96 .

96. Gray, John, Near Eastern Mythology, ibid, pp. 29-33.

O leitor deve lembrar-se de que esse também é o tema principal na história de Apolo e Píton, que discutimos no capítulo sobre o Sol. Realmente, estamos falando exatamente do mesmo mito. Marduk (o Zeus, o Júpiter) é o rei dos deuses. Apolo é o Sol, e o Sol era o "rei" dos planetas. O Sol e Júpiter exercem ambos a função real de dar ordem ao caos e de controlar as energias vitais para a realização consciente. E realmente, ambos os planetas participam do aspecto masculino que Robert Bly chama de rei interior.

Em astrologia, porém, o Sol e Júpiter são planetas bastante diferentes. Cabe ao astrólogo definir a diferença entre esses dois arquétipos reais. Júpiter com freqüência é descrito como um planeta social, enquanto o Sol é chamado planeta pessoal — talvez o mais pessoal dos planetas. O Sol pode trazer a força vital de cada indivíduo para o controle pessoal dele, e esse direcionamento de poder nos dá um senso de direção. Pode nos orientar nos negócios, no aprendizado e nos relacionamentos ou na espiritualidade — qualquer número de objetivos possíveis. Mas, como estendemos essa energia para o mundo? Como a nossa energia dirigida funciona na esfera social? O papel de Júpiter é responder a essas questões. Com Júpiter, nossa vontade dirigida direciona-se para objetivos sociais específicos e aprende a incorporar atitudes sociais específicas.

Como rei dos deuses, Júpiter é o administrador do cosmo clássico. Pessoas com um Júpiter forte ou elevado normalmente administram seu próprio cosmo e, enquanto um Júpiter proeminente no horóscopo é tradicionalmente associado a profissões como direito, negócios ou educação superior. Os jupiterianos podem aventurar-se em qualquer empreitada, desde que saibam que estão nos degraus superiores da escada social e controlados por nenhuma lei além da sua própria. As questões importantes são: que tipo de atitude trazemos para a realização de nossos

O deus babilônico Marduk, associado ao objetivos? Que tipo de planeta Júpiter espírito incorporamos em nossa busca pelo sucesso? Para explorar o papel de Júpiter no mito, podemos formar um panorama da atitude

Júpiter trazendo a ordem ao caos, ao derrotar os gigantes

positiva ou bem adaptada de Júpiter. Deve-se dar grande atenção ao fato de que Júpiter era o rei. Para os antigos gregos, o rei era essencialmente uma figura paternal, um zelador do povo. A Ilíada de Homero traça um notável grupo de reis — Agamêmnon, Odisseu, Menelau, Ájax e assim por diante —, todos reunidos diante dos muros de Tróia. Esses reis são bastante diferentes; Ájax é todo músculos, enquanto Odisseu é todo cérebro e Agamêmnon gravita entre a extrema nobreza e a crueldade, mas todos têm uma coisa em comum: vêem a si mesmos como protetores de seu povo. Júpiter foi descrito (especialmente em astrologia esotérica) como o protetor ou "guia interior" do horóscopo. Um Júpiter na Sexta Casa pode proteger nossa saúde, enquanto um Júpiter na Décima Segunda Casa pode nos dar proteção. Abrir caminho no mundo seguindo o caminho de Júpiter pode nem sempre nos levar à bem-aventurança, mas certamente nos levará a um tipo de sucesso — e por estágios muito fáceis.

Outra característica dos reis é que eram todos "doadores de presentes". Quando um bardo cantava ou quando um campeão ganhava uma competição, o rei tinha de conceder pulseiras, ou gado, ou belas mulheres. Júpiter num horóscopo pode nos conceder presentes; também representa nossa própria capacidade de generosidade.

Vamos lembrar o papel de Zeus de conceder a imortalidade àqueles que julgava merecedores. Quíron foi libertado de seu sofrimento e posto nos céus como Sagitário como recompensa por seus serviços à humanidade, embora Prometeu tenha sido condenado a ser atado numa rocha por outro ato de caridade. Hércules recebeu a imortalidade por seus atos corajosos e Zeus pôs a imagem de Calisto entre as estrelas.

Hefesto recebeu a mão de Afrodite em casamento. A palavra de Zeus acabou por libertar Perséfone de Hades (embora ele tenha originalmente sancionado o ato de rapto que selou seu destino). Cronos também foi banido para o Tártaro por Zeus por seus atos desleais. Asclépio foi atingido por um dos raios de Zeus por despertar os mortos. Em outras palavras, Zeus tinha o poder e a autoridade, como rei soberano, para recompensar um e dar a imortalidade a outro, ou condená-lo a destinos terríveis, segundo seu julgamento daqueles atos. Não se deve esquecer de que Júpiter é um planeta associado a advogados e juizes; os trânsitos de Júpiter podem elevar as pessoas ao estrelato ou à oportunidade de ouro de suas vidas. Pode, da mesma maneira, fazer julgamentos que resultem no banimento ou na completa imobilidade.

O rei interior (Sol e Júpiter) organiza e concentra toda a nossa energia psicoespiritual e a dirige para um objetivo específico, enquanto o guerreiro (Marte) faz o trabalho real. O Sol pode ser visto como o cerne essencial de nosso ser, que nos dirige para nosso verdadeiro objetivo espiritual. Mas, é apenas por meio de Júpiter que tornamos real esse objetivo, em um sentido mundano. Esse planeta imperial nos impele a andar no mundo com generosidade e espírito benevolente. Protege certos caminhos e avenidas de nossas vidas, para que possamos encontrar uma rota apropriada para o sucesso. Seguir a estrada de Júpiter para a abundância nos capacita a manter o espírito de generosidade e boa camaradagem.

Mas, Júpiter tem os seus revezes. Abundância demais também não é bom. Um exemplo, bem conhecido dos astrólogos, diz respeito ao corpo físico. Se Júpiter está em uma das casas que pertence ao corpo físico (Primeira ou Sexta), ou quando está em trânsito nessas casas, podemos experimentar a abundância física — ou seja, podemos comer demais e ganhar muito peso! Da mesma maneira, Júpiter pode nos levar ao excesso de confiança, a uma certa arrogância ou presunção ou a uma condição de complacência estática. Em combinação com Vênus e/ou Netuno, pode aumentar a tolerância para sexo, drogas, comida ou bebida.

Podemos resolver esses revezes de Júpiter com uma visão mais ampla das coisas. Zeus tinha um trono especial no alto do monte Olimpo; dali, ele podia ver tudo o que ocorria na Terra, embaixo. Da mesma maneira, o deus norueguês Odin sentava-se em seu trono em Asgard, o mundo divino, e olhava para o mundo humano embaixo. Nos ombros de Zeus pousavam dois corvos, Pensamento e Memória, seus constantes conselheiros (o tema do trono no alto da montanha será familiar aos leitores de Senhor dos Anéis). Júpiter rege o signo de Sagitário, associado à filosofia, conhecido por sua capacidade de obter uma visão ampla (e por isso tolerante) de toda a atividade humana e de sintetizar diferentes ramos de conhecimento em um todo vital e filosófico. Essa

O deus norueguês Odin em seu trono em Asgard, o mundo divino

síntese é um traço muito jupiteriano, embora devamos lembrar que é difícil notar pequenos detalhes de uma grande altura. Para atingir o espírito prático que transforma grandes sonhos em manifestação, Júpiter precisa da ajuda de Mercúrio, o mestre do detalhe.

Vimos Júpiter como o divino guerreiro que se tornou o rei, como apóstolo da consciência que mata o dragão e como filósofo no alto da montanha. Mas, e quanto a Júpiter, o amante? Na mitologia grega, temos a impressão de que que a única função de Zeus era engravidar deusas, semideusas e donzelas mortais, e assim produzir heróis. Apesar disso, os astrólogos sempre olharam Júpiter como um planeta assexuado, sem qualquer papel especial no jogo dos relacionamentos. Os signos regidos por Júpiter têm poderosas conotações sexuais: Peixes retira êxtase místico do ato do amor, enquanto Sagitário manifesta uma sexualidade brincalhona, mas totalmente descompromissada, digna do próprio Zeus. Mas, a pista verdadeira para o papel de Júpiter no processo sexual reside no fato de que os mais antigos astrólogos gregos associavam esse deus a Leão97. Leão é o signo que simboliza os filhos;

97. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid., pp. 80-81.

Júpiter, ou Zeus

os astrólogos lêem a relação de uma pessoa com seus filhos a partir de uma consideração de Leão ou da Quinta Casa. Na astrologia védica, Júpiter ainda é visto como significador de filhos, assim como da Quinta Casa98. Outro significado da Quinta Casa é criatividade.

Eis portanto a razão por trás da prolífica fertilização de mulheres e deusas por Júpiter. Não se tratava de uma natureza supersexuada, nem mesmo de uma vontade de envolver-se em um relacionamento; era um desejo expresso do deus do céu de ser o progenitor de uma nova raça. As histórias não se concentram nas habilidades amorosas de Júpiter como, por exemplo, o fazem com as de Marte. Em vez disso, retratam o ato do acasalamento como especificamente dirigido à produção prolífica de rebentos. Nunca se diz que Júpiter e sua amante escolhida são estéreis; sempre nasce um filho, às vezes vários, dessas uniões. As ações de Júpiter dão fruto. Ele, mais do que qualquer outra coisa, era o rei dos deuses e, quando reparava em uma mulher particularmente bonita, fosse deusa ou mortal, casada ou solteira, querendo ou não, sentia-se obrigado a possuí-la. Não vamos esquecer de que os arquétipos femininos com quem Júpiter se acasalou eram deusas poderosas, detentoras da sabedoria feminina. "Acasalar-se" com elas permitiu a Júpiter adquirir algo de seu conhecimento e também fazer filhos que poderiam encarnar o melhor da composição genética de cada um de seus genitores.

98. Braha, James, Ancient Hindu Astrology for the Modern Western Astrologer, ibid., pp. 27, 65.

Estátua Criselefantina de Zeus Olímpios, restaurada — ilustração do século XIX

Os muitos filhos mitológicos de Júpiter, portanto, devem ser vistos como metáforas de sua prolífica criatividade e não como indicações de uma natureza sexual demasiada ativa. Júpiter é a abundância personificada e sua natureza abundante é muito adequadamente expressa na produção de prole. Um jupiteriano de mente estreita pode, porém, ver seus filhos como posses, contribuições para sua posição social. Essa tendência de ver os filhos como objetos de status é notável também no caso de Juno, que era a esposa de Júpiter, sua polaridade feminina.

Como planeta social, não se espera que Júpiter tenha um relacionamento pessoal muito profundo com as outras pessoas em sua vida. Dessa forma, tipos com Júpiter forte terão muitos relacionamentos com muitas pessoas diferentes, mas são todos intencionais, como os relacionamentos de Júpiter com as deusas e mulheres que deram à luz seus filhos. Ele não perdia tempo tentando conhecer melhor aquelas mulheres e nem precisava disso. Da mesma maneira, seus filhos eram realmente estranhos a ele (com exceção de Atená, sua favorita). Tinha orgulho deles ou se aborrecia com eles de acordo com seus feitos e reputações. Assim é o genitor com Júpiter forte — não quer perder tempo com a família, mas observa de longe suas ações. Essa visão distanciada resulta em sua consciência de quando enviar um raio ou uma jóia — as ações de sua prole o agradam ou o desagradam? É verdade que Júpiter é exaltado em Câncer, o signo da família. Dessa forma, podemos dizer que, mesmo se um Júpiter fortemente dominante não está encarregado do mundo, pode certamente ser considerado o patriarca ou a matriarca da família.

Isso também ocorre com os relacionamentos com amigos. Os amigos de Júpiter, nesse contexto, são provavelmente seus pares — governantes de outros reinos, chefes de outras empresas, socialmente proeminentes e com uma grande carreira, filantropos ou semideuses da sociedade. Embora as amizades ocorram entre essas pessoas, elas não são a força motivadora por trás da atividade jupiteriana. Júpiter não "necessitava" de amigos, mas necessitava ter o respeito e a admiração de seus súditos. Usava as pessoas conforme lhe agradava — e suas ações eram consideradas aceitáveis, pois ele era o rei. Seus interesses eram supostamente o bem do reino, não o benefício próprio. Um juiz (uma profissão jupiteriana) que vá pronunciar uma sentença para um criminoso para determinar se aquela pessoa deve ser encarcerada ou libertada deverá basear sua decisão no impacto que isso terá para a sociedade como um todo, e não no fato de ele gostar ou não da pessoa. Da mesma maneira, os favores de Júpiter ou a falta deles supostamente nada têm a ver com preferências pessoais, mas são motivados pela interação daquela pessoa com a sociedade. Por outro lado, temos o arquétipo de Júpiter, o deus pai, que mostrava muito claramente sua ira e desagrado

com seus filhos quando eles não correspondiam a suas expectativas com um comportamento apropriado e digno. O Júpiter astrológico com frequência mostra o que pensamos que devemos fazer para nos acomodar aos padrões sociais e "nos encaixar" no sistema. E, quanto mais nos acomodamos, mais nos encaixamos. Como já observamos, Júpiter pode não nos levar à bem-aventurança, mas certamente podemos nos sentir abençoados pelos deuses por atingir a aprovação da sociedade quando Júpiter está bem integrado. E como Júpiter representa a justiça e o domínio filosóficos, podemos escolher fazer aquilo que acreditamos estar certo e assim nos sentimos também espiritualmente recompensados por Júpiter.

Astrologicamente, Júpiter sempre foi significador de boa fortuna e companheirismo; outro nome para o deus em latim era Jove, de onde vem nossa palavra "jovial". E verdade que o grego Zeus podia ser terrível de vez em quando. Era o deus do trovão, controlador do relâmpago. Como Palas Atená, usava o terrível rosto da Medusa como parte de sua armadura e seu pássaro era a nobre, mas predadora, águia. Sua árvore sagrada era o carvalho, símbolo do reinado (o carvalho é o rei da floresta), e em Dodona os sacerdotes de Zeus adivinhavam o futuro ouvindo o murmúrio do vento através de um bosque de carvalhos. Mas, depois que o culto aos deuses deixou de ser levado a sério, Júpiter começou a ser visto sob uma luz um pouco diferente. Os humanistas do fim da Idade Média e do início da Renascença viam o período greco-romano como uma espécie de período dourado, suavizado pelo tempo e pela distância (da mesma maneira, os gregos viam o neolítico como um período dourado e perdoavam a tirania de Cronos e Saturno, porque haviam governado numa época maravilhosa). Esses estudiosos da Renascença se lembraram da glória real de Júpiter, esqueceram sua ira e criaram para si um retrato do período clássico semelhante a uma grande festa ao ar livre, com ninfas, vinho e o canto da brisa nas oliveiras. Foi esse Júpiter suavizado pelo tempo que passou à tradição astrológica. Sagitário, regido por Júpiter, fica no período do ano entre o Dia de Ação de Graças e o Natal. O espírito da estação, sempre febril e estressante, está imbuído das atividades jupiterianas de trocar presentes e oferendas, fazer montes de comida e bebida e reunir uma família numerosa, não importa a distância entre seus membros. Os membros da família que normalmente nem se falam durante o resto do ano têm de pôr de lado suas diferenças e agir como se fossem todos felizes e unidos. Até mesmo o arquétipo do Papai Noel é confundido por muitos astrólogos com o arquétipo de Júpiter — ele conhece e vê todos os seus filhos durante o ano e o número de presentes encontrados sob a árvore corresponde diretamente ao bom ou mau comportamento deles. Muitos astrólogos acreditam que o trânsito de Júpiter por um signo (o que dura

um ano, já que Júpiter dá a volta no zodíaco a cada doze anos) nos recompensaria com fabulosos presentes apropriados ao signo ou casa em questão. Por exemplo, o trânsito de Júpiter pelo meio-céu recompensaria o nativo nos assuntos de carreiras, o trânsito de Júpiter pela cúspide da Quarta Casa poderia trazer uma situação de vida melhor, o trânsito de Júpiter para a Sétima Casa poderia trazer um parceiro maravilhoso, etc. O resultado da atividade de Júpiter em trânsito pode não ser sempre tão tangível, mas sempre traz oportunidades para o crescimento e a abundância, tanto interna quanto externamente.

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