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Capítulo Dezenove.................. O ZODÍACO

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Índice Remissivo

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Conforme observavam o céu noturno, os antigos notaram que alguns corpos celestiais pareciam permanecer na mesma posição, enquanto outros se moviam ao longo de um caminho específico. Esses corpos móveis eram os planetas, chamados "os viandantes". Os babilônicos deram aos planetas os nomes de seus deuses e tentaram mapear seu movimento ininterrupto pelo céu. Dividiram os céus em três grandes faixas que chamaram . caminhos de Anu, Enlil e Ea (outros de seus deuses). O caminho de Anu fica no meio e por ele todos os planetas, assim como o Sol e a Lua, moviam-se perpetuamente. Hoje, conhecemos essa faixa do céu como eclíptica134 .

Os astrólogos babilônicos precisaram de um padrão de medida para mapear a jornada dos planetas ao longo da eclíptica. Então notaram as constelações que ficavam no caminho de Anu e mediram o curso de cada planeta de acordo com a constelação que ele aparentemente

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134. Gauquelin, Michel, The Cosmic Clocks, ibid., pp. 35-41.

ocupava — ou seja, aquela constelação servia como uma cortina de fundo para seu movimento.

Mas, quais, das muitas constelações possíveis, deveriam ser usadas como aparelhos de medição? Levou muitos séculos para que os doze signos do nosso moderno zodíaco fossem ajustados. Um antigo documento babilônico lista nada menos do que 18 constelações, ou signos, ao longo do caminho de Anu135. Finalmente, porém, os doze signos que conhecemos hoje foram estabelecidos e o círculo de 360 graus da eclíptica foi dividido (um tanto arbitrariamente, é verdade) em doze segmentos de 30 graus cada. Isso funcionava bastante bem como calendário, já que o sol passava aproximadamente um mês em cada um dos doze signos.

Não se sabe exatamente quando e como os doze signo zodiacais foram escolhidos. A maior parte dos estudiosos acredita que o zodíaco seja uma invenção dos babilônicos, embora outros postulem uma influência egípcia ou mesmo grega. O nome é grego e provavelmente significa "o ciclo animal". A primeira sílaba, zo, é uma palavra grega que significa animal ou vida biológica, como em nossas palavras zôo e zoologia. E a identificação do zodíaco com um círculo animal é bastante óbvia, pois a maioria dos signos é simbolizada por animais.

Alguns dos signos, porém, são humanos (Gêmeos, Virgem, Aquário e metade de Sagitário), de forma que talvez tenhamos de pensar no zodíaco em termos da referência mais ampla da palavra zo, ou seja, formas de vida biológicas em geral. Assim, o zodíaco torna-se o círculo da vida.

O elaborado relógio do zodíaco em Hampton Court mostra as fases da lua, os signos do zodíaco e as doze casas. Fotografia de Ariel Guttman

135. Gauquelin, Michel, The Cosmic Clocks, ibid., pp. 37-8.

Embora cada signo tenha sua própria ressonância mítica particular, o zodíaco como um todo constitui um grande protomito. A jornada do sol através do ano é um drama de nascimento (primavera), atividade (verão), morte (outono) e ressurreição (inverno). Os quatro pontos críticos principais são os equinócios e solstícios. No equinócio (palavra latina que significa "noite igual") de primavera, os dias e noites têm duração igual, embora os dias comecem a ficar mais longos, como é próprio da estação de Urânia segurando uma esfera armilar crescimento vibrante, potente, com zodíaco, do Prognosticou 1503-1505 seja da terra ou da consciência de Johannes Stabius, desenhado por humana. O solstício (latim para Albrecht Dürer, Nurembergue, 1502 "sol estacionário") de verão marca o dia mais longo do ano e, portanto, a estação mais viva, mais abundante. É também o momento em que os dias começam a ficar mais curtos e por isso o deus da colheita, símbolo de fertilidade e crescimento, é ritualmente morto nesse dia. Os dias e noites ficam novamente iguais no equinócio de outono, mas agora as noites começam a se tornar mais longas e o mundo dirige-se à sua morte outonal, assim como o espírito humano deve ocasionalmente experimentar a morte psicológica, uma jornada ao gelado subterrâneo. Finalmente, no dia mais curto e mais escuro do ano, o sol começa outra volta e os dias passam a ficar mais longos. Esse é o solstício de inverno, quando nascem simbolicamente todos os deuses do renascimento. Esse é o momento do nascimento do eu mais elevado.

Portanto, o zodíaco significa todo o processo de desenvolvimento da consciência humana — o ciclo de morte e renascimento comum a todas as mitologias em todo o mundo e que constitui a história ou mito essencial da alma humana. Essa viagem da consciência forma a base do mito do herói, como demonstrou Joseph Campbell em seu famoso livro The Hero with a Thousand Faces136 . Em mitologia, e em geral no pensamento "primitivo", há sempre uma correspondência ou elemento de sincronicidade entre o que acontece no céu ou no mundo

136. Campbell, Joseph, The Hero with a Thousand Faces, ibid.

Ilustração de Diane Smirnov do zodíaco no templo de Dendera, Egito

exterior e o que acontece dentro do coração da humanidade. Esse é um ponto muito importante — reside na estrutura da astrologia e é provavelmente a razão por que ela existe e persiste por tantos milênios. O drama anual da morte e renascimento do sol reflete o mesmo processo ocorrido eternamente dentro do indivíduo. Muitos mitos parecem ligar a jornada do herói com a jornada zodiacal do sol de modo muito direto — o épico babilônico de Gilgamesh* e história grega dos Doze Trabalhos de Hércules são ótimos exemplos. Em suma, sempre que o número 12 aparece — as doze tribos, os doze portões de Jerusalém, os doze meses do ano de nosso calendário — estamos falando de nossa jornada por todas as partes para chegar ao todo.

Dane Rudhyar identificou o processo psicológico simbolizado pelo zodíaco em seu estudo clássico The Pulse of Life, publicado pela primeira vez em 1943137. Rudhyar vê esse ciclo sazonal em termos de dois princípios opostos, a Força do Dia (masculino ou yang) e a Força da

*. N. E.: Sugerimos a leitura de Versão Babilônica Sobre o Dilúvio e a Epopéia de Gilgamesh, de E. A. Wallis Budge, Madras Editora. 137. Rudhyar, Dane, The Pulse of Life, Berkeley, Shambala Publications, 1970.

O Zodíaco, do Le grand kalendrier et compost des bergieres, impresso por Nicolas le Rouge, Troyes, 1496

Noite (feminino ou yin). A Força do Dia é essencialmente individualista e representa o crescimento do ego, enquanto a Força da Noite é coletiva e mede nossa integração com unidades sociais e espirituais maiores. Dessa forma, Rudhyar interpreta o egotismo infantil de Áries como símbolo do crescimento da Força do Dia, mas, como os dias e noites ainda são iguais, Áries tem um pé no coletivo e pode incorporar facilmente papéis coletivos e atender a necessidades coletivas em vez de seus próprios desejos individuais. O talento de Libra para relacionamentos ou, mais precisamente, para se relacionar, tem a ver com o fato de que os poderes iguais da Força do Dia e da Força da Noite agora tendem para o coletivo, para a importância do outro. A reputação de Sagitário quanto a preocupações filosóficas de longo alcance vem do fato de que cai nos dias mais curtos do ano, quando o elemento coletivo expandiu-se para incluir o cosmo e quando o indivíduo apenas pode emergir nas necessidades de um todo maior.

Nos capítulos que se seguem discutiremos o caráter e a estrutura do zodíaco segundo a volta sazonal. É importante notar que estamos falando das estações do hemisfério norte quando dizemos que Áries representa uma Força do Dia crescente. Não vamos esquecer que

antigamente, quando o zodíaco estava sendo desenvolvido, o ritual religioso era fortemente ligado à natureza, pois a sobrevivência dependia disso. Dessa forma, os deuses (planetas, signos) no céu tinham uma relação direta com a terra e suas atividades. Uma vez que a astrologia vem das regiões temperadas do hemisfério norte, o caráter de cada signo está de acordo com as estações do hemisfério norte, mais do que com as do hemisfério sul — embora o simbolismo dos signos como os conhecemos pareça funcionar tão bem para australianos e brasileiros como para todas as outras pessoas.

Muitos livros de astrologia dividem a roda do zodíaco ou a roda das casas em quadrantes e hemisférios, relacionando os fatores de personalidade de acordo com o número dos planetas que há em cada região. Seguindo o tema da Força do Dia e da Força da Noite, há dois tipos de pessoas definidas pela linha do horizonte: aquelas com a maior parte dos planetas acima do horizonte vivem na região do dia, enquanto aquelas abaixo ocupam o mundo da noite. Planetas que estão acima do horizonte no setor diurno da roda são geralmente solares e podem ser vistos como "objetivos", tendo sua estrutura racional ilógica simbolizada pelo modo masculino de pensar. Abaixo do horizonte, onde não há luz, aquilo que não pode ser visto mas pode ser intuído predomina. Assim, o hemisfério inferior incorpora uma estrutura lunar, mais interior e subjetiva, em que brilham a intuição e o instinto. Esses hemisférios são produto da divisão da roda em doze casas, baseado no movimento diurno da rotação da Terra. Embora não sejam estreitamente ligadas aos doze signos, as casas (e também os planetas) têm uma certa ressonância ou ligação simbólica com os signos do zodíaco. Outra divisão da roda por hemisfério é em leste e oeste. Essa é a linha divisória criada pelo I.C. (imum coeli — cúspide da Quarta Casa) e M.C. (medium coeli — Meio-Céu) e que forma o meridiano do mapa. Planetas localizados no hemisfério leste são considerados mais independentes, enquanto planetas no oeste seriam mais orientados aos outros. Isso se relaciona à posição de Áries no ponto mais oriental da roda natural e Libra no ponto mais ocidental.

Além disso, a roda pode ser dividida em quatro quadrantes. Dizemos que os primeiros quadrantes (Áries, Touro, Gêmeos) relacionam-se ao desenvolvimento individual pessoal. O segundo quadrante (Câncer, Leão e Virgem) se relaciona às relações interpessoais com família, filhos, etc. O terceiro quadrante (Libra, Escorpião, Sagitário) tem a ver com relacionamentos com pessoas fora da unidade familiar, enquanto o quarto (Capricórnio, Aquário e Peixes) se relaciona ao desenvolvimento de interesses transpessoais e atividades que envolvem a comunidade ou o mundo como um todo.

As pessoas com freqüência esquecem que os doze signos estão em todos os horóscopos. Adoram fazer comentários como "eu não sou de

As regências olímpicas

Câncer, então não sou muito caseiro". Mas, o signo de Câncer, juntamente com todos os outros onze, faz parte de uma roda integral de vidas que constrói a estrutura sobre a qual somos feitos e reflete tudo o que está dentro do organismo. Nossos corpos são microcosmos dessa estrutura maior e, assim, há partes do corpo que se relacionam aos doze signos; essas correspondências são bastante úteis para analisar as forças e fraquezas do corpo. Dentro dessa estrutura, portanto, não há algo como um "mau signo" ou um "bom signo". São todos integrantes de uma operação funcional de um ser. Certamente, algum signos não conterão a ênfase planetária, enquanto outros signos podem conter stelliums (agrupamentos de planetas), indicando a atenção ou ênfase particular que a pessoa deve escolher naquela dada encarnação. Ao analisar os mitos e origens desses signos, esperamos encontrar mais pistas para o indivíduo sobre a atenção ou ênfase que ele escolheu para a sua vida. Outro importante componente da roda zodiacal é o sistema de atribuições planetárias, pois, dessa maneira, dois dos fatores principais da arte astrológica (planetas e signos) são entrelaçados numa unidade simbólica.

As regências ptolomaicas

Como notamos, o horóscopo é uma mandala. Por meio da história astrológica, os signos do zodíaco foram atribuídos ou simbolicamente ligados a diversos planetas e/ou divindades. Essas atribuições formam outro componente da mandala astrológica. O que em geral não se sabe, porém, é que as atribuições planetárias ou divinas mudaram segundo a época. O historiador astrológico Rupert Gleadow deve receber o crédito por recuperar a mais antiga dessas mandalas, o sistema de correspondências que data do tempo de Platão138. Os signos ainda não eram regidos por planetas: em vez disso, era regidos pelos "doze olímpicos", os principais deuses do Panteão grego (ver página 233).

Diversos pontos importantes surgem de um estudo desse antigo sistema. Em primeiro lugar, podemos ver que os elementos masculino e feminino ainda estão em estado de perfeito equilíbrio. Há seis deuses e seis deusas. Se um signo é regido por um deus, seu signo oposto será

138. Gleadow, Rupert, The Origin of the Zodiac, ibid.

Regências contemporâneas regido por uma deusa. O conceito de opostos psíquicos vai muito mais ao longe do que uma mera divisão em masculino e feminino. Por exemplo, Áries é regido por Palas Atená e seu signo oposto, Libra, por Hefesto. Ambas as divindades tiveram só um genitor, e não foram geradas por união sexual comum; a fêmea Atená nasceu do masculino Zeus, enquanto o varão Hefesto nasceu da fêmea Hera. Apolo (Gêmeos) e Ártemis (Sagitário) eram gêmeos. Zeus (Leão) e Hera (Aquário) eram respectivamente o rei e a rainha do céu. Afrodite (Touro) e Ares (Escorpião) eram amantes. Alguns desses pares de opostos são mais difíceis de entender, mas teremos ocasião de discutir isso mais adiante. No tempo de Cláudio Ptolomeu, um astrólogo do final do período romano, estabeleceu-se um novo sistema de atribuições. Nessa mandala, os sete antigos planetas eram designados como regentes dos signos. Começando com o Sol leão) como símbolo do arquétipo masculino e a Lua (Câncer) como o arquétipo feminino, as regências distribuíam-se, em ordem orbital, de cada lado desse par primordial. Cada planeta regia uma "casa do dia" (ou seja, o signo masculino) e uma "casa da noite"

(signo feminino). Devido a essa estrutura em forma de leque, Saturno, o planeta mais distante conhecido pelos antigos, regia os dois signos opostos ao Sol e à Lua, enquanto os outros planetas eram também arranjados em pares de opostos — Marte com Vênus e Mercúrio com Júpiter. Essa elegante mandala (ver página 234) durou desde o fim da Antiguidade até a descoberta de Urano, em 1781.

Urano sempre foi o iconoclasta, o inimigo da tradição. Bem de acordo com seu papel mítico, Urano trouxe um fim à tradicional mandala do horóscopo. Foi preciso encontrar um signo para que o novo planeta regesse e ele acabou sendo dado a Aquário. A descoberta de Netuno em 1846 e de Plutão em 1930 perturbou ainda mais o equilíbrio clássico. Conforme a ciência da astrofísica se tornava cada vez mais precisa, os astrólogos foram confrontados com um número crescente de corpos celestes que podiam ser relevantes para os padrões míticos da vida humana. Apenas desde o início da década de 1970, começamos a dar importância aos quatro principais asteróides e a Quíron. Como se isso não bastasse, temos a opção de usar um número quase infinito de asteróides, dos quais milhares foram batizados e mapeados na história recente.

O que temos de fazer com toda essa opulência? Se estudarmos as atribuições planetárias que estão estabelecidas ou sendo discutidas atualmente, veremos que não há mais nenhum padrão (ver página 235). Nenhum padrão significa nenhuma mandala. Seria fácil olhar para tudo isso de um ponto de vida negativo ou pessimista e dizer que o caos em nosso retrato dos céus não passa de um modelo de nossa sociedade caótica e desorganizada. Mas, isso não é correto. O que é correto é que temos um número muito grande de opções e escolhas com as quais nossos predecessores jamais sonharam. Além disso, estamos numa era de mudança radical e profunda, uma era em que os arquétipos da consciência humana também estão em estado de transformação.

Essa espécie de mudança não deveria ser inesperada, já que estamos no ponto de transição entre duas eras astrológicas, Peixes e Aquário. Afinal de contas, uma era astrológica implica uma fase coletiva de consciência que dura mais de dois mil anos: uma mudança quântica nesse inconsciente coletivo terá algum tipo de impacto visível em nossas realidades interiores, simbólicas. No momento certo, outra mandala surgirá do caos aparente e as idéias que trazem esse estímulo e inspiração aos astrólogos contemporâneos formarão a base de uma nova estrutura, uma nova mandala que representará uma nova fase de consciência.

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