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Capítulo Dezesseis.................. URANO

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Índice Remissivo

Índice Remissivo

Dos olhos das mulheres esta doutrina derivo: Eles ainda refulgem do fogo de Prometeu; São os livros, as artes, as academias, Que mostram, contêm e nutrem todo o mundo: — Shakespeare, Trabalhos de Amor Perdidos, IV, III

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O deus hindu Varuna, semelhante ao grego Ouranos

Urano constitui um dos mais confusos de todos os arquétipos planetários — embora talvez até mesmo essa confusão seja apropriada ao planeta que perturbou os ordenados conceitos de astrologia ptolomaica simplesmente com sua descoberta.

Como Urano fora descoberto durante as Revoluções Americana e Francesa em 1781, foi relacionado à liberdade, à independência e a uma natureza revolucionária ou rebelde. É também adequado que o planeta logo atrás de Saturno represente um rompimento com a tradição ou uma liberdade do mundo ordenado e estruturado representado por Saturno. Urano, "o planeta diferente", gira em torno de si mesmo num ângulo de 90 graus, diferentemente de qualquer outro corpo do sistema solar. Isso também

Ouranos era o deus-céu original, castrado por seu filho Cronos. Ilustrado por Diane Smirnov

nos dá uma pista sobre a natureza da mente uraniana: o afastamento de 90 graus de qualquer outra coisa!

A palavra "pioneiro" foi aplicada a Urano; de fato, os que nascem com Urano em proeminência parecem possuir um incrível espírito de pioneirismo — Sigmund Freud, Carl Jung e Ram Dass (Sol em conjunção com Urano); J. Krishnamurti (Sol oposto a Urano); Gandhi (Urano em conjunção com o Meio-Céu); e Albert Schweitzer (Saturno em oposição a Urano), para citar apenas alguns119. Junto com esse espírito pioneiro e consciência divina, com freqüência vem o sacrifício de uma vida pessoal ou mundana entre esses indivíduos. Mas, esses tipos uraniano/prometeanos contribuíram significantemente para o processo evolutivo da vida na Terra. Não importa o mapa astrológico que você prefira para os Estados Unidos (Gêmeos em ascensão, Sagitário ou Virgem em ascensão), Urano ascende, põe-se ou culmina! Por isso, a

119. Lewis, Jim, e Ariel Guttman, The Astro*Carto*Graphy Book of Maps, ibid.

América e a maior parte de seus habitantes são altamente identificados com o planeta Urano como um arquétipo nacional, caracterizado pela liberdade, independência, comportamento iconoclasta, quebra de barreiras sociais, econômicas e raciais, loucura tecnológica — e, é claro, a arrogância ou orgulho que resulta de ser uma superpotência e sentir-se superior (divina) em comparação com qualquer outra nação, seja isso justificável ou não.

Urano é o iconoclasta, o rebelde divino; é também o poder criativo da vontade humana. Seu primeiro aparecimento é como criador, e não como rebelde. A palavra latina Uranus deriva do grego Ouranos, que por sua vez relaciona-se ao sânscrito Varuna. O deus Varuna, no Rig Veda, é o criador e guardião da lei cósmica. Cria todo um universo pela força de seu maya — embora aqui devamos compreender a palavra maya como "vontade criativa", e não como seu significado mais familiar, "ilusão". Havendo criado, ele também mantém, pois é o juiz e guardião do rta, a lei, a ordem moral que governa o mundo. Em certo sentido, sua criação é um processo contínuo; Varuna é o senhor das "águas acima do céu", a fonte da chuva doadora de vida120. No século VI ou VII a.C, o profeta persa Zaratustra (mais conhecido como Zoroastro) transformou essa divindade védica em Ahura Mazda, o senhor da luz, que era também guardião da lei cósmica121 .

Na antiga Grécia, Ouranos era o pai-céu original, o primeiro filho de Gaia ou Mãe Terra quando ela surgiu do caos primordial. Aproximou-se em silêncio de sua mãe adormecida e derramou chuvas suaves sobre ela para que vicejasse com árvores, flores e grama. Tornou-se também seu consorte e os dois deram origem a muitos seres monstruosos, incluindo a raça dos Ciclopes de um olho só. Finalmente, deram origem à primeira família de deuses que governaram a humanidade, os sete Titãs e suas e irmãs-esposas, as Titanesas. Mas, Ouranos se tornou um tirano. Aprisionou os Ciclopes no Tártaro porque eles haviam tentado se rebelar contra ele. Gaia enraiveceu-se e persuadiu Cronos (Saturno), o mais jovem dos Titãs, a esconder-se à espera de Ouranos e castrá-lo com uma foice. A semente do moribundo pai-céu derramou-se sobre a terra, produzindo as terríveis deusas da vingança chamadas Fúrias, mas também dando origem a Afrodite (Vênus), a bela deusa do amor122 .

Urano é, portanto, a força essencial da criação. Duas vezes, na mitologia grega, ele derrama sua força criativa sobre a terra, assim como Varuna derramou sua maya ou vontade criativa. Ouranos criou todas

120. Ions, Veronica, Indian Mythology, ibid., pp. 14-5. 121 Zaehner, R.C., The Dawn and Twilight of Zoroastrianism, Nova York, CP Putnam's Sons, 1961, pp. 65-71. 122. Hesíodo, Theogony and Works and Days, ibid., pp. 8-9.

as folhagens e a vegetação que nascem sobre o corpo da Mãe Terra; também deu origem a conceitos tão dicotômicos como o amor e a vingança. Em todos os casos, seu poder derrama-se do céu como uma chuva. Em astrologia, Urano recebeu a regência de Aquário. Como veremos (em Aquário), esse signo sempre foi associado às "águas da vida" que são derramadas do céu. Assim, Aquário é um símbolo adequado para esse deus da criatividade primordial. Nesta era tecnológica, estamos mais inclinados a pensar nessas águas aquarianas como eletricidade ou energia cósmica, mas o significado essencial da vontade criativa (o maya de Varuna) permanece imutável.

O poder diáfano da criatividade uraniana raramente chega a nós em sua forma pura, "cósmica". As primeiras agitações do poder criativo normalmente causam turbulência na psique da maior parte dos indivíduos; essa turbulência se expressa como rebelião contra o passado. Assim, Urano é mais conhecido da maioria dos astrólogos e de seus clientes como o divino rebelde. Como tal, esse planeta se torna o mensageiro de um arquétipo bastante diferente do pai-céu primordial, mas que é ainda mais importante para nossa sociedade individualista e turbulenta. Urano tornou-se mensageiro do arquétipo de Prometeu.

Prometeu era da raça dos Titãs, filho de Eurimedonte, o Titã associado ao planeta Júpiter. Seu irmão gêmeo era Epimeteu e o nome Prometeu significa "presciência", enquanto Epimeteu significa "percepção tardia". Uma visão profética ou futurista da realidade era característica de Prometeu, que sempre foi amigo do seres humanos e os defendeu contra os deuses. Algumas versões do mito dão a Prometeu uma verdadeira função uraniana como espírito criador, pois se diz que ele moldou os primeiros humanos em argila e então soprou seu espírito vital neles para fazê-los viver. Junto com Hefesto, Prometeu ajudou a tirar a deusa Atená da cabeça de Zeus e foi ela quem ensinou a Prometeu as diversas artes e ciências, que ele, por sua vez, ensinou aos mortais.

O que fez de Prometeu o grande rebelde foi seu amor pelos humanos. Os deuses estavam acostumados a ganhar a melhor parte de cada touro sacrificado, deixando aos homens as sobras. Mas, quando se discutia o assunto da porção divina, Prometeu usou de uma artimanha contra os deuses. Disfarçou cuidadosamente a carcaça do touro sacrificial de forma que, quando Zeus escolheu sua porção, havia na verdade escolhido a gordura e os ossos, deixando a melhor carne para a humanidade. Zeus não estava contente. Ordenou que os patéticos mortais tivessem de comer a carne crua; confiscou deles o dom do fogo.

Com a ajuda de Atená, Prometeu subiu ao Olimpo. Com uma haste de funcho, esperou até que o carro do sol, conduzido pelo Titã Hélios, passasse por ele, soltando faíscas de fogo divino no cume rochoso do Olimpo. Prometeu apanhou uma fagulha desse fogo com a haste de funcho e a deu à humanidade — uma "iluminação" literal.

Mas, Prometeu se rebelara duas vezes contra os ditames dos deuses. Zeus ordenou um terrível destino para ele — seria acorrentado ao cume de uma montanha no Cáucaso, onde uma águia comeria seu fígado. Mas a cada dia o fígado do rebelde divino se renovaria e a cada dia a águia viria de novo, mantendo Prometeu num perpétuo tormento. Esse destino mítico fora sofrido pelo deus viking Loki, outro rebelde divino que rejeitou a vontade dos deuses.

Mas, como vimos, o tormento de Prometeu não durou para sempre. A humanidade ainda tinha alguns amigos no mundo imortal. Coube a Quíron, o rei centauro, sacrificar-se para que Prometeu pudesse ser libertado

Prometeu rouba o fogo dos deuses, ilustrado por Diane Smirnov

Urano no mapa astral é comparado à rebelião social de um indivíduo. Embora isso seja verdade até certo ponto, é igualmente verdade que a boemia das últimas décadas foi produto de Netuno tanto quanto de Urano. Também se atribui ao rebelde planetário um talento para a invenção científica. Supomos que tudo isso seja verdade; afinal de contas, Urano foi descoberto no início da Revolução Industrial e o espírito prometeano era inventivo. Os astrólogos prendem-se a esse aspecto de Urano em particular quando prevêem a Era de Aquário como uma era de tecnologia avançada — embora, atualmente, como nos tornamos cada vez mais conscientes do lado escuro da tecnologia, isso possa nos levar a reconsiderar ou rever o que realmente seria a criatividade uraniana.

O ponto principal é: todas as idéias preconcebidas que nós acostumamos a atribuir a Urano sugerem apenas parte do arquétipo. Urano pode ou não ser socialmente rebelde — sua premência por liberdade pode ser expressa em um nível interno e não por meio do estilo de vida. Como rebelde, é também o Homem Selvagem ou Mulher Selvagem, o espírito cheio de artimanhas que vive de acordo com suas próprias regras.

Urano tinha a inventividade de Prometeu, certamente, mas o governo tirânico do deus-céu Ouranos deve nos prevenir que a ciência e a tecnologia podem tornar-se forças tirânicas ou limitadoras — a menos que, como Prometeu, estejamos sempre conscientes de nossa necessidade de servir a humanidade por meio de nossa inventividade. Mas, Prometeu, devemos lembrar, foi recompensado por sua criatividade sendo amarrado ao topo de uma montanha. Esse é um aspecto de Urano ou Aquário que poucos astrólogos, com a exceção de Liz Greene, notaram; a incrível solidão de resolução que se apodera de nós quando nosso espírito prometeano desperta plenamente.

A solidão e o isolamento experimentados quando incorporamos o arquétipo de Urano é similar ao isolamento experimentado pelo arquétipo de Saturno. Saturno caiu em desgraça quando seu filho Júpiter o destronou e o baniu para o Tártaro. Urano também foi destronado por seu filho, Saturno, e suas partes foram jogadas no mar. Prometeu, cujo espírito se elevava, foi condenado a ser amarrado a uma pedra; essas condições de liberdade e banimento se apoderam de uma pessoa quando ela está sob influência de Urano em trânsito ou em progressão. Primeiro, há a necessidade irresistível de criar ou gerar. Como projetor da primeira raça de deuses terrestres, aquele que responde ao arquétipo de Urano se sentirá onipotente, libertado pelos sentimentos que resultam de uma co-criação tão magnífica, sem qualquer premeditação quanto aos resultados ou o efeito de que essas criações terão sobre seu criador ou sobre o mundo em que emerge. Na mitologia, a Mãe Terra Gaia deu um fim a isso; o tempo e a distância trouxeram alguma objetividade e perspectiva ao assunto. Repetimos, para Urano tudo acontece de forma explosiva — a repentina consciência de que a pessoa pode criar coisas

O relâmpago é associado a Urano, bem como a Júpiter. Fotografia de Michael Guttman

magníficas e o repentino fim ou queda do estado divino que resulta quando a pessoa é trazida de volta à vida real. Da mesma maneira, a energia de Prometeu é um espírito arrojado, que voa alto com os deuses, consciente da ordem universal do cosmo, mas preso num corpo terreno no qual parece estar acorrentado ou com os movimentos severamente restringidos. Assim, os uranianos, que não encontram um modo de reconciliar seu dilema criativo, sofrem de uma sensação de frustração e, freqüentemente, de isolamento. Quando alguém reside no reino dos deuses, mas é acorrentado à terra, o mundo pode ser um lugar muito solitário. Também pode induzir características de violência.

O sêmen de Urano deu origem à deusa do amor, Afrodite. Quase todos nós experimentamos o magnetismo e a atração uraniana em assuntos amorosos. Ouvimos com muita freqüência, porém, que os casos amorosos que se iniciam sob a influência de Urano podem terminar tão abrupta e intensamente quanto começaram. Urano, como os outros planetas exteriores, precisa de nove meses para completar um trânsito sobre um planeta ou grau em particular. O que se inicia no início do trânsito de Urano pode terminar com a sua conclusão. Muitas pessoas experimentam uma necessidade repentina, esmagadora, de criar um estilo de vida totalmente novo para si e romper uma rotina ou relação. São irresistivelmente atraídas para o campo magnético de alguém ou experimentam uma outra forma uraniana de libertação durante o trânsito de Urano pelos planetas natais. Mas, com freqüência, quando

o trajeto de Urano se completa, a pessoa é trazida de volta daquelas alturas celestiais e deve novamente adaptar-se à realidade terrena. Quando alguém experimenta um trânsito de Urano (especialmente pelo Sol, Lua ou Ângulos), pode parecer bastante afastado das preocupações cotidianas da vida — a rotina mundana não tem muito interesse para ele durante essas etapas. Esses períodos são com freqüência caracterizados por um sentimento de estar elevado a estados eufóricos normalmente reservados para os deuses — como Prometeu roubando o fogo ou Urano envolvido em atos de magnífica criação. Impulsos elétricos zumbem em torno de nós, parecemos amarrados a gigantescas redes de computadores que oferecem toneladas de informação nova e excitante, nosso sistema nervoso é altamente estimulado — e, certamente, temos de nos concentrar para nos sentirmos ligados ao chão. Embora esses estados possam ser altamente compensadores, o baque na volta à terra parece muito duro quando a fase termina. Mas, imagine viver nesse estado o tempo todo — seria preciso grande habilidade para agir de forma realista e eficiente num universo uraniano perpétuo. Saturno é o deus da terra e exige que ajamos de acordo com suas leis. Os períodos uranianos vêm trazer um alívio de Saturno, dando-nos uma chance de atingir a liberdade de que precisamos, acabar com modos de comportamento desgastados, permanecer progressivos e manter nosso suco criativo correndo. Mas, há pessoas nascidas com um fator Urano altamente enfatizado no mapa e essas pessoas estão extremamente estimuladas na maior parte do tempo. Sua consciência pode certamente ser divina ou extramundana. Podem ter freqüentemente visões de extraterrestres, pois esse é um símbolo uraniano/prometeano — deuses que residem acima de nós e que vêm à nossa esfera para nos ajudar com nosso processo revolucionário (Prometeu/Quíron) ou para infligir vingança e punição sobre nós, como Zeus em seus momentos de ira. Os homens sempre contaram mitos sobre como os deuses estão raivosos ou contentes conosco, segundo a maneira como interagimos com a natureza. Relâmpagos e trovões (símbolos de Urano e Júpiter) são símbolos tradicionais dos momentos em que os deuses estão bravos conosco. Visitantes de outros planetas são normalmente descritos como úteis a seus irmãos terrenos menos desenvolvidos ou como propositalmente destrutivos, tentando conquistar-nos 123 .

Talvez não haja uma maneira melhor de afirmar a influência de Urano nos assuntos humanos do que perceber os quatro estágios uranianos na vida humana. Urano leva 84 anos para dar a volta do zodíaco; assim, estará em quadratura com a posição natal por volta dos 21, em oposição a si mesmo aos 42, em nova quadratura aos 63 e

123. Greene, Liz, The Astrology of Fate, York Beach, ME, Samuel Weiser, 1984, pp. 250-7.

voltará ao seu lugar aos 84. Esses são os quatro momentos uranianos na vida de uma pessoa e podemos emprestar uma frase do psicólogo Gail Sheehy, chamando-os "crises previsíveis da vida adulta"124 .

A primeira quadratura uraniana concorre no final da adolescência e início da vida adulta. Aqui vivemos o espírito uraniano de rebelião em em sua forma mais pura: é a idade em que incorporamos o homem selvagem, vestimo-nos como boêmios, repudiamos os valores de nossos pais ou da sociedade, vivemos com pessoas com quem nunca pretendemos casar e acabamos partindo em viagem pela América na garupa de uma moto. Claro, algumas pessoas nunca passam por essa fase de rebelião, embora talvez fosse mais saudável se o fizessem. Esses personagens naturalmente saturninos, não tendo feito suas loucuras de juventude, podem achar a fase seguinte de Urano muito difícil de lidar.

Já se disse que "a vida começa aos 40", o que é um modo inconsciente de a sociedade reconhecer a oposição de Urano. Os psicólogos chamam a isso "crise da meia-idade". Astrólogos conservadores (saturninos) — e sempre parece haver um punhado deles — podem olhar para esse período da vida com grande trepidação e caracterizá-lo como caótico. Mas, os astrólogos uranianos o vêem como, potencialmente, a melhor época da vida. É quando nos conscientizamos de que ainda não somos velhos, mas de que não somos mais jovens. Não sabemos tudo, mas sabemos bastante. Quando Urano entrou em quadratura consigo mesmo aos 21, pensávamos que sabíamos tudo; mas, quando ele atinge a oposição, percebemos que não sabemos nada e que essa percepção nos traz uma espécie de iluminação que nos dá uma chave para destrancar as portas secretas do futuro. Essa percepção, junto com alguma experiência saturnina, nos prepara em grande estilo para a próxima fase da vida, quando começamos a colher aquilo que trabalhamos tanto para plantar. Perguntamo-nos, nessa fase, se atingimos ou não nossos objetivos, se realizamos nossos sonhos. Se formos sábios, percebemos que é tempo de desviar a atenção de preocupações puramente materiais ou mundanas (Saturno) para objetivos mais espirituais, criativos e individuais (Urano). Os que estiverem abertos a esse momento uraniano estarão prontos para elevarse. Já têm idade bastante para usar as habilidades que adquiriram ao lidar com o mundo de Saturno — habilidades que podem ajudá-los a encontrar a liberdade interior e exterior, ainda tão nebulosa e dura de alcançar quando tinham vinte anos. Aqueles que não podem ouvir a voz de Urano nessa época, podem começar a fazer coisas muito estranhas. A mãe fuma maconha com os filhos, visita um astrólogo pela primeira vez ou tem um caso amoroso;

124. Sheehy, Gail, Passages, Nova York, E.P. Dutton, 1974.

o pai chega ao escritório de contabilidade em uma nova Harley e belisca todas as secretárias. Aqueles que tentam manter tanto a criatividade quanto o caos fora de suas vidas podem correr o risco de desenvolver doenças sérias — especialmente homens executivos que não querem sair da pista rápida.

A quadratura final ocorre por volta dos 63 anos. É significativo que nossa sociedade tenha escolhido esse período como idade da aposentadoria. Somos, finalmente, libertados do mundo de Saturno. E a fase em que papai e mamãe vendem a casa, decoram o motor-home com adesivos que anunciam "Vamos gastar a herança de nossos filhos" e põem o pé na estrada. Agora, terminado o jogo, podem finalmente descobrir a América — que foi o que tentaram fazer há quarenta anos!

Urano volta a seu lugar após oitenta e quatro anos. A maior parte das pessoas não vê isso acontecer, pois ainda está além da expectativa de vida média dos americanos contemporâneos — embora isso deva mudar logo. Com muita freqüência, estamos cansados, doentes ou presos ao leito ao atingir essa fase. Isso nos diz algo sobre nossa sociedade: não damos valor à velhice e, conseqüentemente, não estamos preparados para receber essa bênção. Se tomássemos como exemplo as tribos nativas que honram e reverenciam seus anciãos e os convidam a ensinar os mais jovens, experimentaríamos a iluminação maior de Urano, pois simbolicamente essa infusão uraniana final sugere um renascimento espiritual, quando aceitamos de boa vontade separar-nos do mundo e fixar o olhar em pastagens mais verdes e mais livres.

Alguns acontecimentos muito profundos têm lugar quando Urano está em conjunção com outro planeta, especialmente um dos exteriores ou trans-saturninos. Urano fez sua última conjunção com Saturno durante 1988 no signo de Saturno, Capricórnio. Novos paradigmas políticos emergiram e continuarão a emergir até que os planetas exteriores Urano e Netuno saiam de Capricórnio, em 1998. Urano encontrou-se com Netuno durante 1993, no signo de Capricórnio. Como este é um signo de terra, normalmente associado a administração, governo e economia, o final da década de 1980 e toda a década de 1990 podem ser caracterizados como um período de mudança de realidades políticas ou, como dizem os sensitivos, "mudanças na Terra"!

Urano fez conjunção com Plutão durante a década de 1960, sendo que a conjunção exata ocorreu no meio da década, o que demonstra a experiência de irrealidade que pode ocorrer durante um trânsito de Urano. Ambos os corpos no espaço simbolizam mudança — com Urano, as mudanças são para melhorar, revolucionar ou ser progressivo, de algum modo; mas com Plutão que, como Shiva, é um deus da destruição, a mudança não carece de análise racional. Dessa forma, testemunhamos um período tão fora do comum que os historiadores ainda estão

tentando definir o que aconteceu. Algumas das coisas que foram postas em movimento durante aquela década provavelmente levarão um ciclo completo (oitenta e quatro anos) para manifestarem-se plenamente ou serem compreendidas por nós. O fato de os dois planetas terem se encontrado no signo astrológico da deusa da terra (Virgem de Deméter) sugere que uma nova consciência da terra (talvez de natureza religiosa) emergia e começava a virar a maré da ascensão tecnocrática anterior de Urano. Uma nova onda de "caçulas da terra" emergiu, defendendo o êxodo de nossas cidades poluídas e a volta ao campo, um retorno à "vida natural" e, mais importante que isso, assumindo um compromisso de combater a poluição das florestas, rios e oceanos da Terra e impedir que mais espécies se extingam. A tendência continua, mais de trinta anos depois; mas o importante alvoroço em que se encontram cidadãos e políticos atualmente não terá nunca a mesma intensidade ardorosa que caracterizou os anos da conjunção — embora possamos experimentar uma profunda intensidade emocional sobre esses problemas como resultado da conjunção Urano-Netuno em 1993.

Netuno em um "cavalo-marinho" do Kunstbüchlin de Jost Amman, publicado por Johann Feyerabend, Frankfurt, 1599

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