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Fogo

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Índice Remissivo

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Embora a tradição astrológica seja similar à tipologia da psique de Jung, ela não é exatamente idêntica. Os astrólogos, por exemplo, enfatizam o fato de que dois elementos, o fogo e o ar, incorporam qualidades masculinas, ativas ou yang, enquanto a terra e água são femininas, receptivas e yin. Outra diferença reside num equilíbrio entre os quatro elementos interiores. Quando um grande número de planetas ocupa o signo de fogo num mapa astrológico, podemos esperar que o indivíduo vá possuir um temperamento extremamente intuitivo, muito semelhante ao tipo de personalidade intuitiva de Jung. No esquema Junguiano, automaticamente consideraríamos que esse indivíduo se relacionaria muito mal com as coisas mundanas, tangíveis, pois teria uma função de sensação (terra) inadequadamente desenvolvida. Mas, de um ponto de vista astrológico, é possível que o mapa astral inclua bastante fogo (intuição) e terra (sensação), unindo assim precisamente os elementos ou funções que Jung coloca em eterna oposição. O conflito dentro de tal indivíduo, atraído com força igual para os mundos opostos do espírito (fogo) e da carne (terra), pode ser bastante intenso, mas ele também tem um potencial muito alto para unir os opostos internos e conseguir a completude. Embora o sistema astrológico seja muito próximo do de Jung, é um pouco menos estruturado e contém menos variáveis.

Na tipologia de Jung, o fogo representa função intuitiva, embora essa palavra demande alguma explicação. Como vimos, o fogo é um dos elementos masculinos, criativos, yang. Mas, estamos acostumados a pensar na intuição como algo feminino — como na frase "intuição feminina". Entretanto, o que chamamos intuição é, de fato, um desenvolvimento muito elevado da função de sentir. A faculdade da intuição, como simbolizada pelo elemento fogo, na verdade descreve algo bastante diferente.

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Vamos olhar isso de outra perspectiva. Os livros de astrologia com freqüência comparam fogo a "energia" ou o "espírito". É um espírito vital que nos move, inspira-nos, que nos dota da quantidade de energia que possuímos. Os horóscopos com pouco fogo com freqüência mostram indivíduos desatentos, que se cansam com facilidade e com pouca energia.

Essa ligação entre o fogo e a energia espiritual ou vitalidade é com freqüência encontrada no gnosticismo e na cabala. Esses sistemas de pensamento postulam uma unidade espiritual original da qual saem todas as coisas criadas. Mas, quanto mais sólidas ou mundanas se tornam

Uma Salamandra viva nas chamas, do Scrutinium Chymicum de Michael Maier, Frankfurt, 1687

as coisas criadas, mais se separam da unidade espiritual original. Os gnósticos acreditavam que nosso mundo, a Terra, era uma espécie de prisão, o maior desenvolvimento da materialidade. Mas, mesmo aqui, na Terra, ainda possuímos algo da divindade original em nossas almas. Essa divindade é simbolizada pelo fogo — gnósticos e cabalistas referem-se, ambos, à "centelha divina". Usam a analogia de um fole — empreender qualquer tipo de prática espiritual atiçará a centelha, a tornará uma chama e assim nos reunirá com a fonte de todo ser.

Os alquimistas, descendentes espirituais dos gnósticos, preocupavam-se profundamente com os quatro elementos, pois seu objetivo era fundi-los todos e assim criar algo novo, algo completo, uma quintessência. Psicologicamente, podemos dizer que eles estavam tentando unir todas as quatro funções psíquicas e dar origem ao Eu. Viam o fogo como um dos agentes da transformação. Era por meio de um fogo lento, regulado, que uma substância podia ser transmutada em outra, fazendo passar o

nisso um paralelo distinto com as disciplinas orientais como a ioga ou a meditação taoística. O fogo é o espírito vital dentro de nós, chamado kundalini pelos hindus e ch'i pelos chineses. Ajustando-se esse fogo — por meio do controle de nossas energias vitais —, efetuamos a transformação do ego no Eu.

Vista sob essa luz, a intuição é aquela centelha vital dentro de nós que simplesmente sabe. É a fonte de nossa energia essencial, que dá luz a nossos olhos e determina a força de nossa presença. A intuição sabe sem precisar analisar. Ela percebe; nunca julga. Pessoas cujos mapas são ricos em planetas nos signos de fogo têm essa energia vital, esse saber intuitivo. Olhando apenas para o mapa, pode ser difícil ou impossível dizer se uma pessoa é introvertida ou extrovertida. Podemos presumir que os planetas na Oitava ou Décima Segunda Casas, por exemplo, denotariam um temperamento introvertido, embora nem sempre seja o caso (na verdade, a Quarta Casa é um indicador melhor de extroversão — como podem atestar os autores, ambos com Sol na Quarta Casa). Mas, o equilíbrio entre os elementos nos dará pistas sobre o tipo da pessoa em questão.

Signos de fogo extrovertidos podem ser grandes empreendedores. Realmente sabem como seguir uma intuição. Sintonizam-se, com aquele conhecimento interior, aos acontecimentos que ocorrem no mundo exterior. Mas, se podem ganhar uma fortuna, podem também falir, pois tendem a passar por cima de limitações físicas. Ignoram da mesma maneira sua própria saúde, pois com freqüência têm uma relação muito fraca com o elemento terra ou sensação, que é seu oposto polar (quer

Os elementos fogo, terra, ar e água se encontram na atividade vulcânica, Big Island, Havaí, 1989. Fotografia de Ariel Guttman

dizer, a menos que seus mapas contenham uma boa porção de terra para equilíbrio e contraste). São com freqüência suscetíveis a "explodir", pois se aborrecem com facilidade, buscando sempre reacender sua chama. Se são grandes especuladores, podem também ser aventureiros irresponsáveis.

Tipos introvertidos de signos de fogo têm a mesma percepção altamente desenvolvida da realidade psíquica que caracteriza seus primos extrovertidos. Mas, essas pessoas voltam essa consciência para dentro. Sentem-se mais confortáveis com seus sonhos e visões do que com realidades físicas. Se o carro ou o cortador de grama quebra, não têm a menor idéia de como consertá-lo; problemas com dinheiro ou máquinas podem enchê-los de ansiedade e pavor. O analista junguiano Edward Whitmont diz que essas pessoas são do tipo que ferveriam o relógio enquanto olham o ovo para ver que horas são143! Um dos autores é um introvertido intuitivo e deve confessar que isso é quase literalmente verdade. Claro, nem é preciso dizer que esses tipos introvertidos de fogo são também os grande profetas, artistas e visionários deste mundo. A centelha vital é ardente e flamejante dentro deles; apesar de sua interioridade dolorosa, ocasionalmente pegam fogo e mudam o mundo com um livro, um sermão ou uma sinfonia que toca o espírito dentro de todos nós.

Fogo também pode ser definido como o princípio da combustão espontânea. As pessoas que possuem bastante elemento fogo — por exemplo, se o Sol, a Lua ou o ascendente estão em Áries, Leão ou Sagitário, ou se Marte, Sol ou Júpiter (regentes desses signos de fogo) estão próximos dos quatro ângulos do horóscopos na Primeira, Quarta, Sétima ou Décima Casas — podem ter muita espontaneidade e combustibilidade. Uma vez que Áries é a forma mais primordial e a primeira de expressão de fogo, atribui-se a esse signo mais espontaneidade e impulsividade que a qualquer outro signo. Por ser um fogo cardinal (ver capítulo 21, "Modalidades"), que, de muitas formas, age como um duplo yang, Áries aparentemente não necessita de sinais externos antes de agir. É realmente uma voz intuitiva vinda de dentro que acende essa chama. Como Áries é o primeiro dos signos de fogo e também o primeiro signo do zodíaco, qualidades infantis e uma preocupação autocentrada com as próprias necessidades pessoais são enfatizadas. Assim também é a pureza do elemento fogo, pois é dirigida pelo modo cardinal que inspira a ação — da impaciência irrequieta e irritável dos arianos (ou, como os chamava John Bradshaw, "rage-aholics")144 pouco desenvolvidos aos guerreiros destemidos, pioneiros e singularmente concentrados em seu caminho, quando mais evoluídos.

143. Whitmont, Edward, The Symbolic Quest, ibid., p. 152. 144. Bradshaw. John. Healing the Shame that Binds You. ibid.. n. 103.

Em sua modalidade fixa, o fogo opera através da chama de Leão, regido pelo Sol — e que fogo seria mais fixo ou contido do que o Sol, o regente de Leão? A fixidez, em astrologia, expressa-se principalmente num modo yin, de forma que Leão pode facilmente incorporar a necessidade essencial yang do fogo de expressar seus impulsos criativos exteriormente, assim como a premência yin de atrair, concentrar e conter algo de seu calor e intuição, alimentando sua cria, como é a inclinação de Leão. Essa luz interior é o poder do magnetismo e da atração que muitos leoninos possuem, uma luz que atrai os outros para eles, tão brilhante que eles próprios podem ser seduzidos por aquilo que vêem como sua própria grandeza. Sendo o fogo de Leão contido e centrado através da modalidade fixa, não há muita espontaneidade ou movimento constante como há com Áries e Sagitário; em vez disso, Leão contenta-se em expressar seu fogo criativo por meio da reprodução, seja biológica ou artística. E, como outros signos de fogo, precisa de espaço em seu ambiente para fazê-lo.

No terceiro e último estágio do fogo, a mutabilidade de Sagitário sugere uma distribuição ou disseminação dos inflamados impulsos espirituais interiores. Assim, muitos sagitarianos necessitam espalhar a verdade onde vão e para quem encontram, qualquer possa ser essa verdade. Uma vez que a mutabilidade traz, paradoxalmente, tanto a completude quanto a inconstância à natureza das coisas, o fogo de Sagitário está sempre mexendo a panela para ver as imagens que vão aparecer. Como terceiro e último estágio do fogo, a purificação do "Eu" é um problema com os sagitarianos e normalmente os encontramos em um extremo ou outro — com excesso de auto-indulgência, até o ponto de morrer (por exemplo, Jimi Hendrix e Jim Morrison) —, ou polindo, limpando e refinando seus veículos terrenos na preparação para sua imanente reconexão com a Fonte.

A função do fogo representa um papel importante na saúde e vitalidade de um indivíduo. A fonte terrestre principal de fogo natural é solar, o Sol, que nos dá calor, vida, radiância e aquecimento. Como mencionado anteriormente, pessoas que carecem do elemento fogo parecerão carecer de radiância e calor natural, serão sem graça, pouco enérgicas e desatentas. Com freqüência, também, queixar-se-ão de estar com frio, mesmo quando não está fazendo frio. Por outro lado, excesso de fogo pode causar excesso de calor corporal, de forma que o fogo interno parece arder de forma descontrolada. Pessoas de fogo com demasiado estresse na vida sentirão espasmos, dores musculares ou dor em partes do corpo incapazes de assimilar ou aliviar o estresse de outras maneiras. Portanto, suavizar esse fogo é importante pela expressão física — corrida, aeróbica, esportes e jogos. Um lembrete desse princípio é o carregador da tocha olímpica, que a acende no fogareiro sagrado de Olímpia, carregando-a ao lugar dos jogos. A expressão mental do fogo

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