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Capítulo Vinte e Um................MODALIDADES

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Índice Remissivo

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As Três Modalidades: Cardinal, Fixa e Mutável

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Os signos fixos são mostrados nos cantos deste baralho de Tarô Francês do século XIX

O esquema dos quatro elementos é um modo de categorizar a realidade psíquica da astrologia; o esquema das três modalidades é diferente. Esses dois sistemas se entrelaçam na mandala astrológica; e, como veremos, acrescentam camadas de significado aos signos zodiacais.

Assim como cada signo pode ser classificado de acordo com o seu elemento, pode também ser classificado segundo seu modo. Quatro elementos vezes três modos é igual a doze signos. Assim, temos um signo cardinal do ar (Libra), um signo fixo de terra (Touro), um signo mutável de água (Peixes) e assim por diante. Cada signo é uma mistura única de elemento e modo; nenhum signo tem exatamente a mesma constituição que outro.

De acordo com Jung149 e com os astrólogos védicos150, os números ímpares são masculinos. O número três é um exemplo especialmente forte, pois o próprio cristianismo concebe Deus como uma trindade; conseqüentemente, nossa civilização cristã baseia-se no princípio masculino representado pelo número três. Números pares são femininos e o número quatro, em particular, aparece de forma recorrente na mitologia e em religiões não-ocidentais. Jung observou que a estrutura da psique humana aparece em sonhos como uma entidade quádrupla; dessa forma, podemos concluir que a alma humana é essencialmente feminina151 .

A mandala astrológica une os números três e quatro. Une a energia masculina e feminina, yin e yang, em um símbolo reconciliador, o círculo horoscópico. Dentro dessa união do yin e do yang, há nuances mais sutis, pois os próprios elementos podem ser divididos em componentes masculinos (fogo e ar) e femininos (terra e água). A astrologia tem algo da antiga sabedoria, pois une símbolos masculinos e femininos em um arquétipo de completude. Essa completude foi perdida há muito no mundo ocidental. Mesmo antes do advento do judaísmo e do cristianismo com seus fortes aspectos patriarcais, as mentes analíticas dos pensadores gregos já inclinavam nossa civilização em direção de seu atual curso masculino ou científico. O horóscopo, porém, trata de uma visão de mundo mais antiga e equilibrada.

Se nos perguntarmos como ou de onde essas modalidades surgiram, não haverá uma resposta clara. Certamente, as modalidades são parte da teoria astrológica desde Ptolomeu de Alexandria, embora não pareçam ter sido conhecidas pelos babilônicos; de fato, todo o sistema de elementos e modos parecem ter origem grega. Qualquer que seja sua origem, as modalidades são um conceito muito antigo. Podemos encontrar muitas similaridades entre os três modos da astrologia ocidental e os três gunas ou atributos da filosofia clássica hindu152. Os três gunas, que exploraremos um pouco mais profundamente com os modos, são rajas (atividade), tamas (inércia) e sattva (espírito ou harmonia). Correspondem com bastante exatidão aos modos cardinal, fixo e mutável, respectivamente153. A medicina hindu clássica, ou Ayurveda, reconhece também uma divisão similar dos três "humores" (doshas) ou tipos físicos: vata (sattva, mutável, ar); pitta (rajas, cardinal, fogo); e kapha (tamas, fixo, terra/água).

149. Wilhelm, Richard, trans. The I Ching, Princeton, NJ, Princeton-Bollingen, 1970. 150. Frawley, David, comunicação pessoal com os autores, agosto de 1990. 151. Jung, Carl G., Psychology and Alchemy (Collected Works, vol. 12), ibid. Passim. 152. Leo, Alan, Esoteric Astrology, Nova York, Astrologers Library, 1983, p. xvii. 153. Frawley, David, The Astrology of the Seers, Salt Lake City, Passage Press, 1990.

Os quatro signos da cruz fixa são representados nesta janela de catedral como: Aquário — o homem (São Mateus); Leão — o leão (S. Marcos); Escorpião — a águia (São João); e Touro — o touro (São Lucas). Fotografia de Ariel Guttman

Será que deveríamos, por isso, admitir que a astrologia grega foi influenciada pelo hinduísmo? Essa influência certamente não é impossível. Praticantes do sistema védico que inclui a astrologia afirmam que ele tem ao menos cinco mil anos. Alexandre, o Grande, um conquistador grego*, tinha iogues hindus em seu séquito e conversava freqüentemente com eles sobre assuntos filosóficos. Suas façanhas militares deram origem a uma civilização que era meio grega e meio asiática, que ia do continente europeu até as fronteiras da Índia. Muitas idéias foram transportadas pelas rotas das caravanas do Oriente Próximo naquele tempo. O sânscrito, a língua do hinduísmo clássico, tem semelhanças com o grego. Ambas são classificadas como línguas indo-européias, o que sugere que em algum momento distante elas tiveram um ancestral comum. A maioria dos estudiosos acredita atualmente que a busca por esse ancestral comum remonta ao quarto milênio antes de Cristo e à

parte meridional da antiga União Soviética154. Ali, nas grandes estepes, viviam algumas tribos guerreiras — patriarcas que manejavam espadas e mestres cavaleiros. Tudo o que sabemos sobre esses primitivos indoeuropeus sugere que o número três tinha vital importância para sua religião. Esses nômades viajaram para oeste de sua pátria original e invadiram a Europa. Surgiram nos Bálcãs por volta de 3500 a.C. A arqueóloga Marija Gimbutas afirmou que os Bálcãs eram o local de origem de uma proto-civilização muito primitiva a que chama "Velha Europa"155. A cultura da Velha Europa baseava-se no culto à Grande Deusa; era um mundo de pacíficas aldeias agrícolas, um verdadeiro matriarcado. Não surpreende que seus artefatos religiosos sugiram que quatro, o número feminino, fosse de grande importância. Mas em meados do quarto milênio a.C. a Velha Europa foi invadida por nômades que traziam espadas de bronze e esculpiam cabeças de cavalo em seus utensílios fúnebres. Esses invasores, segundo Gimbutas, eram os indo-europeus. Continua dizendo que a mesma história de conquista repetiu-se quando os gregos micênicos patriarcais invadiram a civilização da Creta Minóica, que cultuava a Deusa (de acordo com Gimbutas, há fortes razões para crer que a Velha Europa e a Creta Minóica fossem ramificações da mesma civilização matriarcal).

Aqui, pela primeira vez, vemos o conflito e a eventual união entre a religião patriarcal baseada no três e a visão de mundo matriarcal baseada no quatro. Na Grécia, especialmente, as duas visões de mundo realizaram uma síntese incômoda, mas praticável. Os indo-europeus trouxeram seus deuses guerreiros — Zeus, o Pai Céu, Ares, o Guerreiro e outros — para uma Grécia que ainda cultuava a Grande Mãe. Os invasores e os habitantes originais forjaram um desconfortável compromisso em que os novos deuses se tornaram filhos ou consortes da Grande Mãe156 — como quando Zeus é retratado como filho da deusa cretense Réia ou marido de Hera, nome sob o qual a Grande Deusa era cultuada em Argos. Gaia, a Mãe Terra, deu à luz Ouranos, o Deus Céu. Gaia também era cultuada em Delfos muito antes que Apolo surgisse e exigisse aquele ponto como lar.

A mandala astrológica de elementos e modalidades pode ser parte do legado simbólico dessa síntese. Se os quatro elementos representam uma sobrevivência da visão de mundo matriarcal, os três modos podem representar os conceitos dos invasores indo-europeus que trouxeram um fim à Antiga Europa.

154. Mallory, J.P., In Search of the Indo-Europeans, Londres, Thames and Hudson, 1989, pp. 182-5. 155. Gimbutas, Marija, Goddesses and Gods of Old Europe, ibid 156. Ver Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., pp. 9-26; e também Harrison, Jane Ellen, Prolegomena to the Study of Greek Religion, ibid.

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