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Capítulo Vinte e Cinco.............CÂNCER
by Ponte
CÂNCER, o Caranguejo SIGNO: Câncer, o 4º Signo Zodiacal MODO: Cardinais - ELEMENTO: Água - REGENTE: Lua OUTROS ARQUÉTIPOS MÍTICOS: Khephra (o escaravelho egípcio) - a Grande Deusa e o (Divino Consorte - Deméter (Ceres)
A história e a mitologia de Câncer são um quadro de confusão e contradição. Ninguém tem certeza absoluta do que esse signo significava para os babilônicos, ou mesmo qual era seu animal simbólico, mas para os egípcios Câncer era o escaravelho, um totem sagrado relacionado à alma. Os egípcios iniciavam seu ano durante aquele que atualmente é o mês de Câncer (julho), e este simbolizava o ponto de entrada da alma no corpo. Em astrologia esotérica, Câncer é também visto como a porta da alma para a encarnação189. Como vimos, porém, os egípcios compreendiam seus meses em termos da ascensão noturna dos signos: dessa forma, a constelação de Câncer, para os egípcios, era símbolo do solstício de inverno, não de verão. O escaravelho empurra sua bola de esterco pelas dunas e a deixa rolar de volta para
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______________________________________________________________________ 189. De acordo com o filósofo neoplatônico Porfírio, em seu Gruta das Ninfas (diversas ed.)
Antes de Câncer ser representado como um caranguejo, era conhecido pelos egípcios como um escaravelho. Ilustrado por Diane Smirnov
baixo. Da mesma maneira, o sol atinge o ápice de seu movimento meridional no solstício de inverno e começa a "rolar" de volta em direção ao verão — em direção ao calor e à produtividade vivificantes190 .
Para os gregos, Câncer era inicialmente representado por uma tartaruga ou um jabuti. Esse símbolo pode parecer peculiar para nós, mas, na verdade, há muitas similaridades entre o jabuti e o caranguejo, o atual símbolo de Câncer. Jabutis, como caranguejos, têm cascas duras e interiores muito macios. Jabutis, como caranguejos, escondem-se em suas cascas quando assustados e se movem com um passo vagaroso, porém constante. Para os gregos, o símbolo do jabuti para o signo de Câncer estava ligado ao fato de que Mercúrio regia Câncer em seu esquema dos doze olímpicos. Pouco após seu nascimento, a criança precoce Hermes (Mercúrio) saiu de uma caverna e viu um jabuti. Como era uma criança extremamente esperta, usou a casca da tartaruga e algumas tripas de vaca para construir a primeira lira, um instrumento de cordas que mais tarde foi associado a Apolo'91 .
Em algum ponto da história, talvez durante a era helenística que se seguiu à morte de Alexandre, o Grande, e que testemunhou uma fusão de todas as antigas culturas mediterrâneas, Câncer foi associado ao caranguejo e à Lua. Mas havia pouco sentimento envolvido na regência lunar naquele tempo; os gregos associavam aquela luz com comércio, negócios e a enchente e vazante das marés que possibilitavam a viagem marítima. Assim, o poeta romano Manílio descreve cancerianos
190. Fagan, Cyril, Astrological Origins, ibid., pp. 119-120. 191. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., vol. 1, pp. 63-7.
como mercadores avarentos e de coração frio, ávidos por dinheiro192 — uma imagem que normalmente não associamos com Câncer, embora até hoje Câncer seja conhecido por sua capacidade de ganhar um trocado ou ter algo guardado no colchão para um dia chuvoso.
No período clássico, os gregos mostram Câncer, o caranguejo, nos Doze Trabalhos de Hércules. Enquanto o herói lutava com uma gigantesca serpente marinha chamada Hidra, um enorme caranguejo surgiu do pântano e cravou suas pinças no calcanhar de Hércules. Este voltou-se, esmagou o caranguejo e continuou sua luta com a Hidra. Sua arqui-inimiga, a deusa Hera (Juno), colocou o caranguejo entre as estrelas como recompensa por servir a deusa em sua luta para dominar Hércules193 .
O verdadeiro significado de Câncer, porém, pode ser melhor compreendido considerando-se sua posição no ano sazonal. Câncer marca o solstício de verão, o dia mais longo do ano (e, é claro, a noite mais curta). Pode parecer estranho que se atribua à Lua, símbolo da Grande Deusa e do eterno feminino, esse momento em que a força solar está em seu auge. Mas, a idéia principal aqui é que o sol está se voltando, iniciando seu caminho para o mundo da força noturna ou humanidade coletiva, que é o yin ou componente feminino da consciência e da civilização. A força solar ou ego atingiu seu limite e a individualidade desenfreada deve agora abrir caminho para as necessidades da humanidade coletiva.
Em tempos arcaicos (particularmente durante a Era de Câncer, de 8000 a 6000 a.C, o tempo que muitos estudiosos identificam como a era da adoração à Deusa), o solstício de verão era o dia em que o Deus Sol — ou seu representante terrestre — era ritualmente assassinado, sacrificado à Grande Mãe. Ele começava sua jornada pelo mundo subterrâneo, assim como a consciência do ego começa sua jornada em direção à consciência universal na fase Canceriana da vida humana. Assim, se diz que Câncer representa o lar e a família de uma pessoa, pois ao estabelecer essa pequena unidade coletiva nós, como indivíduos, começamos a permitir que um pouco da consciência do outro penetre em nossas vidas.
O Sol está em seu momento de maior poder, embora o signo em si seja regido pela Lua. Dessa forma, os símbolos do Sol e da Lua, masculino e feminino, estão unidos em um só arquétipo. Podemos pensar em Câncer como o signo do "casamento místico", a união de opostos alquímicos. Em seu conhecido livro The Hero With a Thousand Faces, o mitologista Joseph Campbell representou a jornada do herói como
192. Gleadow, Rupert, The Zodiac Revealed, ibid., pp. 71-2. 193. Graves, Robert, The Greek Myths, ibid., vol. II, pp. 108-9.
Um tetradracma de Akragas (moderna Agrigento), Sicília, 472-420 a.C. da coleção de Michael A. Sikora
um círculo194. Os estágios daquela jornada heróica harmonizam-se bastante bem com o círculo zodiacal e, realmente, o nadir do círculo é atribuído ao casamento místico, assim como Câncer é o ponto do nadir do círculo zodiacal. Essa é uma fase em que o herói, após viajar pelo "outro mundo", que representa as profundezas da mente coletiva, encontra a princesa de contos de fada, a feiticeira, a noiva mágica, e se une a ela. No ritual primitivo, o deus-sol era com freqüência o consorte da Mãe Divina. O sacerdote que representava o papel do deus unia-se ritualmente à sacerdotisa da Mãe Divina antes de sua morte simbólica. É por meio da união com o coletivo ou princípio feminino que a consciência masculina do ego atinge seu limite e começa a ser absorvida por algo diferente. É também por isso que homens sentem tanto uma atração quanto um temor de se misturar com o feminino. No momento da fusão, o ego ou componente masculino da consciência perde o controle, é "engolido" e, simbolicamente falando, morre para que a consciência (yang) e o inconsciente (yin) possam se unir.
Não é de espantar, então, que se diga que os cancerianos têm dons psíquicos, pois são particularmente abertos ao influxo de vastas forças universais, que se canalizam para os confins da consciência individual da pessoa, quer o canceriano decida ou não ser um desses canais.
Observamos que há essencialmente quatro aspectos da Grande Deusa, correspondentes às quatro fases da lua e aos signos Touro, Câncer,
194. Campbell, Joseph, The Hero with a Thousand Faces, ibid., p. 245.
Virgem c Escorpião. Os primeiros dois aspectos da Deusa — que encontramos em Câncer e Touro — estão fortemente relacionados, principalmente, graças à importante relação da Lua com os dois signos. Em Touro a Lua é exaltada, enquanto em Câncer ela está em sua dignidade. A lua e suas fases em constante mudança representaram um importante papel nas celebrações e rituais da época da Deusa. O aspecto taurino da Deusa trata de fertilidade e abundância da Mãe Terra e do poder feminino representado pela terra.
Ritos de fertilidade e festivais celebrados durante a Era de Touro também diziam respeito ao milagre da concepção, à capacidade da mulher de gerar a vida em seu corpo. Em Câncer, o relacionamento entre mãe e filho é honrado e celebrado, um relacionamento que se inicia logo que o ovo é fertilizado. Os pesquisadores afirmam que o relacionamento estabelecido entre o feto e sua mãe durante seu desenvolvimento pré-natal de nove meses tem efeitos dramáticos e duradouros desde o nascimento até a idade adulta. É quando a mãe estabelece o relacionamento com seu filho e o filho está receptivo para qualquer informação, emocional e psicologicamente. É quando se estabelece o cordão umbilical — e ele não é necessariamente cortado após o nascimento, ao menos no nível psíquico. Na verdade, para algumas pessoas o cordão umbilical psíquico permanece ligado à mãe durante a vida, e para aquelas que estão passando pela experiência de Câncer esse é com freqüência o caso, seja devido à falta de vontade da mãe de separar-se do filho, seja pela incapacidade do filho de separar-se da mãe, ou ambos. Exemplos míticos incluem Édipo e Core (Perséfone). Na história de Deméter e sua filha Core, a deusa da agricultura e da terra, Ceres, que talvez seja exaltada em Câncer, condena o mundo a um eterno inverno pela tristeza de perder sua filha.
Outra similaridade entre Touro e Câncer é sua necessidade mútua de segurança, embora Touro necessite dela em sua forma física e Câncer no reino emocional. Contudo, se esses signos se põem em marcha com um relacionamento tão forte nas funções vitais relacionadas ao nascimento e à criação da criança, não é de se espantar que exijam um lugar seguro para ficar. Durante a gravidez e os primeiros meses da vida, especialmente nos tempos antigos, a vida da mãe e da criança ficava extremamente frágil e delicada e qualquer coisa que pudesse causar um abalo era considerada perigosa, causa de insegurança.
A constelação do Caranguejo foi posta nos céus por Hera por ajudá-la em sua luta entre Hércules e a Hidra. Tanto Hera quanto a Hidra são aspectos da Grande Mãe pré-helênica, enquanto Hércules é o arquétipo patriarcal ou herói solar. Assim, nas profundezas da psique de um canceriano pode haver a necessidade de defender e proteger os "direitos maternos", ó grande feminino que deu a vida ao caranguejo e também sua imortalidade estelar. Quando a mãe, a honra da família ou
O ninho estão ameaçados, o canceriano pode responder instintivamente beliscando o inimigo com suas pinças, como o caranguejo fez com Hércules. Vemos esse drama representado ao inverso no reino animal, onde a mãe protege os filhotes furiosamente — mas no reino humano as mesmas mensagens emocionais ou psíquicas são transmitidas e os tipos de Câncer com freqüência alimentam a sua posição e a expectativa de que seus filhotes devolverão o favor e virão protegê-los logo que forem capazes de fazê-lo.
Uma vez que Câncer é representado pela Grande Mãe, a mãe verdadeira, terrena, não deixa de ter um papel importante na vida daqueles que estão fortemente influenciados por esse signo. Com freqüência há um relacionamento carinhoso e simbiótico que se inicia no útero e continua até o túmulo. E no indivíduo de Câncer com aspectos fracos, isso pode ser fonte de problemas psicológicos por toda a vida. A Grande Mãe, nesses casos, sobrepuja o indivíduo de tal modo que não há possibilidade de individualidade. Nesse momento, os nativos de Câncer ficam envolvidos em um dilema de culpa, pois seus instintos dizem que ele deve honrar a mãe por lhe dar a vida, enquanto sua necessidade pessoal de ser um indivíduo está tão sufocada que são incitados à animosidade e à raiva.
Também sabemos que Câncer rege os seios e o útero em astrologia médica — os dois órgãos biológicos que existem principalmente para dar um lar seguro e alimentação ao bebê. Alimentação, para Câncer, é importante durante toda a vida. Esse é um dos signos que tem mais distúrbios alimentares quando aflito. Lembramos que Ceres não tomou nenhum alimento, exceto água de cevada, quando lamentava sua perda; da mesma maneira, sua filha não comeu nada no mundo subterrâneo até pouco antes de sua saída, quando ingeriu algumas sementes de romã. Tipos lunares fortes podem comer demais, desfrutando do círculo pleno e radiante da experiência lunar, mas podem também usar a comida de modo a fazer mal para si próprios, compensando a falta de substância emocional em suas vidas. Bulimia e anorexia, que são relacionadas, com freqüência estão ligadas a um planeta disfuncional em Câncer ou uma Lua, Ceres ou Plutão malalimentados — ou qualquer combinação semelhante no horóscopo.
Claro, associamos Câncer principalmente com a mão, mas a Quarta Casa ou I.C., que é o domicílio de Câncer, representa a família, as raízes do indivíduo, e, como sustentam muitos livros de astrologia — o "pai criador" (em oposição ao "dominador"), embora uma polarização tão estrita nem sempre represente a realidade. De modo geral, o lugar de Câncer na roda representa laços familiares primitivos e o efeito que esses laços têm na capacidade da pessoa individualizar-se. E, como um canceriano recentemente observou, "se você fica comigo, fica com minha família".
A ligação de Câncer com crianças, nutrição e regência dos seios é mostrada nesta ilustração de uma mulher acalentando uma criança, do Kunstbücblin de Jost Amman, publicada por Johann Feyerabend. Frankfurt, 1599
Lembrando que estamos rodeados pela água em Câncer (assim como o feto), aparecem aqui sentimento, sensibilidade ao ambiente e forte absorção. Isso, aliado ao fato de que Câncer necessita de um lugar seguro para estar, responde pela premente necessidade Canceriana de constantemente buscar um lugar que ofereça a segurança que ele está buscando. Muitos nativos de Câncer fizeram de sua "verdadeira casa" o objetivo de sua busca.
No Círculo da Vida (o zodíaco), Câncer marca o primeiro estágio da experiência no hemisfério ocidental, uma região que define o relacionamento de uma pessoa com as outras. Sendo Câncer o primeiro signo de água, é emocionalmente dependente de relacionamentos, e por causa de sua natureza cardinal não tem vergonha de iniciar um relacionamento quando ainda não tem um. Como já discutimos, o primeiro relacionamento de dependência emocional na vida de qualquer indivíduo inicia-se com a mãe, já que todo o futuro de uma pessoa depende dela. Por essa razão, muitos nativos de Câncer passarão pela vida com a necessidade de reiterar o relacionamento mãe/filho. Por exemplo, no casamento e na parceria, Câncer precisa de alguém para acalentar ou de alguém que o acalente. Com freqüência, o Câncer sem filhos busca amigos, parceiros ou projetos para acalentar. Mas, aqui há mais do que simplesmente o princípio materno. Câncer precisa sentir-se necessário e, na ausência de um filho encontra substitutos.
A melancolia que muitos livros associam a Câncer provavelmente tem mais a ver com seu relacionamento com seu regente planetário, a Lua, do que com qualquer outro fator. Durante seu ciclo de 28 dias, a lua está constantemente mudando de fase, e muda de signo a cada dois dias e meio. Com tanto movimento, qualquer um ficaria enjoado. A outra dificuldade para Câncer é que a água cardinal deve, por natureza, iniciar o sentimento através de um processo de fundir-se com outros. Como Câncer é muito eficiente nesse processo de fusão, o resultado normalmente é uma perda de identidade pessoal. Pode também resultar em uma situação em que Câncer acaba arrastando as emoções de todas as outras pessoas, mas totalmente ignorante de quem ou o que está carregando. Isso também pode resultar em uma imprevisível melancolia ou em uma total desconexão do verdadeiro objetivo da pessoa. Isso causa a perda do centro de gravidade — e esse é um lugar bem pouco seguro para se ficar.
Na seção "Água" (Capítulo Vinte, "Os Elementos"), falamos da importância de se expressar os sentimentos como um processo natural de expansão e limpeza. Esse processo é especialmente vital para Câncer, devido à sua natureza cardinal, já que o contínuo processo de absorver os sentimentos do ambiente humano demanda também a expulsão desses sentimentos. E não estamos falando apenas de absorver o ambiente e separar-se dele em seguida. Câncer tem muito trabalho
para separar-se de qualquer coisa, como atestado por suas pinças. Também tem dificuldades em ser objetivo sobre aquilo que acaba de encontrar, pois no I.C., ou raiz do mapa, Câncer está no ponto mais intenso de subjetividade, centro de seu universo. Então, tudo o que existe afeta potencialmente Câncer de modos extremos no nível interior — talvez outra razão para a melancolia. E se houver aflições para Câncer no mapa, todos esses traços mais negativos de insegurança aflorarão.
Planetas bem aspectados em Câncer em um horóscopo contribuem para o estabelecimento de relações estimulantes e acalentadoras pela vida. Aumentarão as qualidades intuitivas ou psíquicas que um indivíduo possui e também contribuirão para a necessidade de uma pessoa de estabelecer uma sólida base de segurança na vida. A Lua exibirá essas qualidades mais intensamente, já que é o planeta regente de Câncer e compreende de forma inata as necessidades dele. O Sol em Câncer combina as habilidades solares de liderança às qualidades estimulantes de Câncer e tipicamente forma um indivíduo que pode servir de exemplo para outros. Para que essas pessoas manifestem esse tipo de liderança, porém, é importante integrar sentimentos absorvidos no útero e durante os sete primeiros anos de vida. A separação desses sentimentos subconscientes é freqüentemente difícil, mesmo quando empreendida conscientemente. Como a Lua é o planeta regente de Câncer, os que têm a Lua nesse signo incorporarão as qualidades nutrizes e intuitivas de Câncer muito intensamente, assim como sua necessidade de segurança. Eles se equilibram com comida, banhos quentes ou hidromassagem e com a luz da lua (de preferência ao lado do oceano) ou, quando tudo falha, uma forte dose de paz e quietude doméstica.
Mercúrio, como observaram os gregos, é um mercador esperto e bem-sucedido em Câncer. Vênus em Câncer é carinhosa e, se negativamente aspectada, pode contribuir para um "amor sufocante". Marte em Câncer é facilmente estimulado em um sentido erótico, mas seu processo emocional pode ficar "esfumaçado". Com freqüência essa posição traz uma certa ira contra a mãe ou a vinda dela.
Ceres pode ser exaltada em Câncer; essa posição leva a grande preocupação com a família e uma conexão excepcionalmente forte entre mãe e filho. Palas Atená traz a sabedoria e o discernimento para esse signo de sentimentos, criando uma rara mistura de discernimento e compaixão — a menos que Palas esteja aflita, caso em que seu escudo se torna uma sólida armadura. Juno em Câncer, como Ceres, gosta do papel de mãe; embora provavelmente se interesse mais pelo ritual de acasalamento que possibilita a geração. Vesta usufruirá da experiência de Câncer, já que é a guardiã tradicional do fogareiro e do lar.
Júpiter realiza sua rotina típica de expansão em Câncer — seja através da família, desejando muitos filhos e uma forte experiência familiar, ou através da comida, que pode apreciar em excesso. Saturno
em Câncer ou na Quarta Casa trará tipicamente um profundo ferimento de infância — a experiência da maternidade não foi particularmente amorosa, nutridora, e o sistema familiar com freqüência é desequilibrado. O árduo processo de curar essas feridas é o que Saturno ensina em Câncer. Quíron na Quarta Casa aponta também para a necessidade de curar problemas de família, mas, como a ferida de Quíron, a dor pode ser tão profunda que a cura deve ocorrer em um nível não-físico.
Urano na Quarta Casa é, para a maioria das pessoas, uma localização difícil, já que o fogo prometeano do intelecto e da transformação interior tende a desestabilizar esse suave útero canceriano. A maioria dessas pessoas é criada em ambientes caóticos, sai de casa cedo e criam lares próprios que chegam a ser excêntricos. As capacidades intuitivas são bastante fortes com essa posição. Netuno na Quarta Casa com freqüência se relaciona com a mãe real — ela pode ser uma artista, uma alcoólatra ou uma mística —, mas indica igualmente alguém que deve buscar a segurança na unidade com o próprio universo. Plutão age com poder devastador nessa casa: ele pode engolir a Grande Deusa (Ishtar) no mundo subterrâneo, induzindo o processo plutoniano de morte e renascimento emocional em uma base regular; ou pode realmente tornar-se a Mãe Sombria, usando ganchos emocionais e psicológicos para ganhar um poder silencioso sobre os outros membros da família.
O trânsito dos planetas exteriores por Câncer coincidiu com algumas mudanças interessantes na vida doméstica das famílias em geral. A passagem de sete anos de Urano por Câncer ocorreu de 1949 a 1956. Certamente, a indústria de habitações e o mercado de bens imóveis (Câncer ou Quarta Casa) nos Estados Unidos (uma nação Canceriana, "nascida" a 4 de Julho) teve uma explosão extraordinária nesses anos, especialmente com o processo de automatização, com aparelhos eletrodomésticos (Urano) que faziam parte de todos os lares (Câncer) — o sonho americano. Mas, ainda mais interessante é que a geração nascida enquanto Plutão estava em Câncer (1919 a 1939) atingiu o auge em número de nascimentos durante a fase de Urano em Câncer, o que acabou fazendo com que, em muitos casos, o Plutão dos pais entrasse em contato com o Urano dos filhos. A reação gerada por essa combinação é altamente volátil e explosiva, resultando em um grupo de Uranos que apresentou e mesmo forçou seus próprios conceitos de casamento e cuidados paternos sobre um grupo cuja marca registrada geracional (Plutão em Câncer) era prender-se à querida vida em todos os aspectos, especialmente a tradição e os bons e velhos valores familiares. De fato, o grupo com Urano em Câncer demonstrou uma anormalidade estatística em relação aos cuidados com os filhos. Esse grupo optou, quase em massa, por abandonar totalmente esses cuidados ou postergar seus anos de paternidade para os 35-40 anos, época em que o relógio biológico está começando a falhar. Nos Estados Unidos, a estatística mostra que a
idade de ter filhos no século XX fica entre os 25 e os 29 anos195 . Tipicamente, Urano é demasiado livre e independente para tomar a responsabilidade de cuidar de filhos, mas a forte premência instintiva de Câncer para procriar acabou apanhando essa geração. O grupo com Urano em Câncer, ao chegar tarde à paternidade, sujeitou-se a mais confusão pela necessidade de revolucionar (Urano) o papel de pais (Câncer). Talvez essa seja uma reação contra o mundo homogêneo da década de 1950, em que essa geração cresceu, quando as crianças eram criadas para incorporar os valores-padrão americanos (Câncer), e não para ter sua própria individualidade (Urano) reconhecida. As tribulações desse grupo para lidar com a criação dos filhos refletem-se na recente onda de filmes e programas de TV sobre "yuppies com bebês" — o Urano da geração de Câncer rindo de si mesmo enquanto trabalha coletivamente para um estilo novo, mais individualista ou uraniano de criar os filhos.
E Netuno (o planeta que os astrólogos esotéricos associavam a Câncer)196 estava no signo do Caranguejo durante a primeira parte do século XX (1901-1916), quando milhões de imigrantes deixavam para trás seus amados lares, viajando para a ilha Tartaruga (o nome indígena para este país e uma ligação simbólica com o habilidoso Mercúrio e seu jabuti), uma nação Canceriana, que os absorveria em seu receptivo útero.
195. US Bureau of the Census, Statistical Abstract of the US: 1990, 110°ed., Washington DC, 1990. 196. Bailey, Alice, Esoteric Astrology, ibid.