Ponto Turismo 24

Page 1

#24 ABR/MAI

2016 €5

NOVOS OBJETIVOS PARA A EMPRESA OPINIÃO

Nuno Anjos fala dos perigos a que o turismo está exposto

ANÁLISE

O futuro da publicidade nas viagens: realidade virtual e aumentada

TECNOLOGIA

Os robots já estão no turismo, e estão cada vez mais “humanos”

EM FOCO

Novos conceitos no alojamento. O limite é a imaginação

GRANDE ENTREVISTA VITOR FILIPE ADMINISTRADOR TQ TRAVEL QUALITY



Ficha Técnica

Propriedade Amadeus Soluciones Tecnologicas, S.A. Sucursal em Portugal

Sede Rua de São José, 35 - 4º andar 1150-321 Lisboa, Portugal Tel.: 21 321 30 99 - Fax: 21 322 58 75 E-mail: pontoturismo@pt.amadeus.com

Diretor Geral Miguel Ángel Puertas

Índice

“O turismo ajudou a recuperar a cidade e se temos procura, temos de ter oferta para a cobrir”

8

Com o “bichinho” do turismo enraizado desde sempre, Vitor Filipe, CEO da TQ Travel fala do seu percurso, da empresa e dá as suas impressões sobre o setor.

Diretora da Ponto Turismo Helena Torres Bimestral · Ano - 2016 - Edição 24

13

Coordenação Editorial

30

32

pontoturismo@pt.amadeus.com · Tel.: 21 321 30 99

Produção de Conteúdos e Edição Mediapearl - Comunicação e Serviços, Lda. Tel.: 214 037 656 · mediapearl@mediapearl.pt

Publicidade htorres@pt.amadeus.com · Tel.: 21 321 30 99

Ilustração Capa Pedro Taquelim

06

Opinião O Eu, o Nós e o futuro

08

Grande Entrevista Vitor Filipe - Estamos a mudar e a

Fotografia Mediapearl

Produção Mediapearl - Comunicação e Serviços, Lda. Rua de Xabregas, 2, Piso 2, Sala 2.06 / 2.07 1900-440 Lisboa mediapearl@mediapearl.pt

criar novos objetivos para a empresa

13

Impressão e Acabamento RBM - Artes Gráficas

Tiragem 1300 exemplares

N.º 126281

Depósito Legal N.º 350109/12

A revista Ponto Turismo é uma publicação da Amadeus Portugal. A empresa não se identifica necessariamene com o conteúdo dos artigos nem com as opiniões dos seus colaboradores. É proibida a reprodução total ou parcial sem a autorização prévia da empresa editora.

Tecnologia

26

Análise

30

10 Insights

32

Lifestyle

34

Viagem de: Ruben Rua

Em Foco Novos conceitos de unidades de alojamento - Cereja, bolha ou igloo: a imaginação é o limite no que toca a dormir

16

Entrevista Caderno

19

Soluções

21

Notícias

Registo na ERC

24

“O agente de viagens tem de acrescentar valor”

“Low Cost em Amadeus”

Robots já estão no turismo e cada vez mais “humanos”

- R ealidade Virtual e Aumentada O Futuro da Publicidade nas Viagens - R ecursos Humanos: A Educação no Turismo e a bipolaridade

Tendências em Tecnologia

Viajar pelo mundo e estar cá para contar

Sou muito “em Roma vamos ser romanos”

Acordo de distribuição de serviços ferroviários espanhóis Amadeus e Renfe facilitam viagens de comboio por Espanha

#22 ABR/MAI 2016

3



Editorial

Ficção científica mas sem perder o elemento humano

T

enho de reconhecer que, gosto de ficção científica desde que me lembro. Ainda me lembro, e já foi há muito tempo, do dia em que o meu pai levou toda a família à estreia do primeiro filme Star Wars. Um grande acontecimento! Desde então, entre os títulos dos meus livros e filmes favoritos estão jóias da ficção científica, desde “Um mundo feliz” de Huxley, até “O jogo de Ender” passando obviamente, por toda a saga “A Fundação” de Isaac Asimov. E desde Blade Runner até ao Matrix. Ou seja, um Freaky. Sabem que mais? Agora que já estou crescidinho, ainda gosto mais. Creio que é uma forma de evasão absoluta da realidade porque nesses livros e nesses filmes encontrava alguma coisa que podia acontecer mas que naquele momento ainda não existia. Mas… e agora? Há muitas coisas que mudaram e agora nem tudo é ficção científica. Vemos como, lentamente, a tecnologia que até há pouco tempo parecia que só podia acontecer em livros e filmes, faz parte do nosso ambiente. Por exemplo: A realidade virtual estendeu as suas capacidades para oferecer experiências que antes eram dificilmente alcançáveis. Há múltiplas empresas que oferecem visitas a destinos sem ser preciso sair de casa. E, além disso, trata-se de uma realidade aumentada porque combina aquilo que qualquer pessoa podia ver no Egito ou no museu do Louvre, por exemplo, com a informação relevante disponível em milhares de bases de dados. Podia-se inclusive dizer que é uma realidade de alguma forma melhorada.

lentamente, a tecnologia que até há pouco tempo nos parecia que só podia acontecer em livros e filmes, faz parte do nosso ambiente

Encontramos outro exmplo curioso nas viagens profissionais. Alguns visionários vaticinam que em poucos anos, as feiras profissionais serão montadas num servidor de dados. De facto, alguns dos melhores programadores de jogos foram chamados por grandes multinacionais para preparar cenários, stands, auditórios, etc. Outro exemplo, neste caso extraído da robótica: há já algum tempo que podemos ver androides dotados de inteligência que são capazes de aprender padrões de comportamento emulando as reações do ser humano e escolhem a intensidade da luz de um quarto, preparam um refresco ou café, escolhem a música que deve tocar. Vemos como a internet das coisas é capaz de informar se um hóspede dormiu mal na cama do hotel. Vemos quartos forrados com ecrãs tácteis à espera de instruções. Sim. E não é ficção científica. Querem saber a minha opinião? Não há dúvida que tudo isto contribuirá para um turismo inteligente e eficiente. Não há dúvida que se criarão novos modelos de negócio e novas oportunidades para aqueles que saibam interpretar e adaptar essas inovações aos desejos do cliente. Não há dúvida que vibro quando vejo algum tipo de inovação tecnológica na indústria, até porque faz parte do ADN da Amadeus. Mas este seu humilde colega de profissão, apaixonado pela ficção científica, e que trabalha numa “casa” que está entre as 250 empresas que mais investem em tecnologia no mundo (Relatório Global Innovation 2015), ainda gosta do elemento humano. Gosto de viajar e apanhar calor a ver as pirâmides, gosto que na receção do hotel esteja a Paula, o Rodrigo ou o Carlos, com todos os seus acertos e por vezes lapsos. Gosto de escolher a música que ouço. Mas não posso evitar que me invada a sensação que estou a viver uma mudança gradual muito importante para a indústria e não o podemos perder. Mas também penso que, se calhar, como sempre, no meio é que está a virtude. Desejo-vos um feliz mês de maio. Miguel Ángel Puertas Acting General Manager

#22 ABR/MAI 2016

5


6

Opinião O Eu, o Nós e o futuro

Nuno Anjos

Diretor Comercial Soltrópico

Turismo

O Eu, o Nós e o futuro A forma como o turismo está hoje condicionado a um sem número de pressupostos é algo que faz desta indústria uma das que maior risco pode apresentar a nível do investimento.

N

esta altura, todos os destinos lutam por mostrar da melhor forma os seus atrativos e de nos convencerem a ver a sua cultura, as suas praias, montanhas ou a sua gastronomia. No entanto, uma simples notícia mais sensacionalista pode vir a prejudicar todo um trabalho de consolidação desenvolvido durante muitos anos a fio. Se existe expressão que cada vez ganha mais sentido e razão em todo o seu âmbito é a de que a pena tem mais força do que uma espada. Antes de viajarmos, vamos à procura de informação sobre o destino e o facto de podermos passar por uma notícia mais sensacionalista pode vir a condicionar a viagem. Situemo-nos em semanas anteriores à viagem em que pesquisamos sobre o destino e deparamos com uma notícia que refere que um grupo de pessoas provocou desacatos na praça principal. Aquela que é uma das principais atrações da cidade, e que de certeza estava no roteiro de visitas, será provavelmente uma visita desconsiderada quando lá estiverem, face à dúvida de algo semelhante acontecer. O que provavelmente desconhecem é que aquela notícia foi provocada por um incidente isolado que nunca antes se tinha verificado e que quem visita normalmente a praça são pessoas do mais pacato que existe. De qualquer forma, a notoriedade sobre o acontecimento teve proporções que vão muito além da compreensão. 300 anos de história daquela praça que é conhecida por Praça da Paz foram já condicionados por uma notícia que simplesmente não se referia a estes pormenores históricos. São estas e outras histórias que levam a que a chamada indústria da

#22 ABR/MAI 2016

paz seja das mais expostas a um número infindável de situações ou imprevistos. A minha leitura é de que institucionalmente as publicidades inundam os mercados emissores mas é mesmo no próprio destino onde se marca a diferença. Apesar de todos os imprevistos e todas as inseguranças que possam existir face a alguns destinos, este é o sector a considerar para o futuro. Quer por força de todos os profissionais que nela trabalham e que lidam diariamente com os atuais e futuros turistas, e que se preocupam em lhes proporcionar experiências únicas e inesquecíveis e um serviço de excelência, quer pela publicidade gratuita dessas mesmas experiências. Muitos países já passaram por contratempos incontornáveis que levaram à quebra de visitantes mas a excelência do destino pode levar a que essa mesma quebra seja encurtada ao máximo. Se tivermos sempre em conta de onde viemos e para onde vamos, as nossas expetativas seguramente que irão ser cumpridas. Mas não só as nossas – a dos que nos rodeiam e os que connosco partilham dia após dia o mesmo espaço, também irão ter o seu trabalho recompensado. Na nossa própria identidade está o segredo... e não é por acaso que é um dos segredos mais bem guardados da Europa. l


Nome do Conteúdo do OCapítulo do Capítulo Eu, o NósNome e o futuro Opinião

o facto de podermos passar por uma notícia mais sensacionalista pode vir a condicionar a viagem aquele destino

#22 ABR/MAI 2016

7


8

Grande Entrevista Vitor Filipe

Vitor Filipe CEO TQ Travel Quality

#22 ABR/MAI 2016


Vitor Filipe Grande Entrevista

Vitor Filipe

Estamos a mudar e a criar novos objetivos para a empresa Assume-se como um lisboeta empedernido, diz que o turismo ajudou a recuperar a cidade , em especial o centro, defendendo que é preciso ter oferta suficiente para a procura.

Ponto Turismo › Começou a sua vida no turismo há alguns anos numa agência que já não existe… Vitor Filipe › Existe, entre aspas. É interessante essa pergunta porque eu faço precisamente 50 anos de agências de viagens o que é extraordinário. Penso que serei das pessoas mais antigas no setor ainda em atividade. Eu comecei em 7 do 7 de 67, na Agência de Turismo de Moçambique que a seguir ao 25 de abril, por haver alguma ligação com a antiga colónia de Moçambique, hoje República Popular de Moçambique, mudou nome de modo a manter o nome ATM, para Agência de Turismo Meridiano. Passados alguns anos comprei essa empresa e mudei o nome para Equador, que era uma agência conhecida e que teve bastante sucesso no mercado e que vendi, em 2001, à SONAE e que foi integrada na Star. Aliás, eu diria que a Star é que foi integrada na Equador porque ainda hoje o número de contribuinte da Geostar é o número da antiga Equador. Na altura a Star não tinha contrato de vendas ao Estado e a Equador tinha e essa foi uma das razões de se ter mantido a Equador como empresa-mãe.

os meus pais e quis ir trabalhar nas férias para ver como é que era. Apareceram-me vários empregos em escritórios, mas nenhum me agradava. Inscrevi-me indicado no centro de colocações do Sindicato dos Empregados do Comércio e lá mandaram-me a diversos lugares. Estamos a falar em 1967, havia a guerra colonial e era muito fácil arranjar emprego porque não existia desemprego em Portugal e mandaram-me a uma agência de viagens, que era precisamente a Turismo de Moçambique, que ficava na António Augusto de, Aguiar, nº 9B. Eu entrei, comecei a ver as miniaturas dos aviões a ver aquele ambiente todo e agradou-me e disse “é aqui que eu vou ficar”. E foi assim que eu comecei aos 16 anos e gostei tanto que disse aos meus pais que eu queria continuar a trabalhar, que ia estudar à noite e que me ia portar bem..

Ponto T. › Como é que foi parar ao turismo? V.F. › Eu andava a estudar no curso comercial, jogava hóquei em patins e isso tirava-me tempo dos estudos e eu falei com

Ponto T. › E chegou até aqui… V.F. › E cheguei até aqui e fiquei com o bichinho das agências de viagens. Eu às vezes conto histórias daquela época, de 67,

comecei a ver as miniaturas dos aviões, a ver aquele ambiente todo e agradou-me e disse “é aqui que eu vou ficar”.

#22 ABR/MAI 2016

9


10 Grande Entrevista Vitor Filipe

Quando vendi a Equador à Sonae, no ranking porque as pessoas nem fazem ideia de como se trabalhava naquele tempo. Hoje é muito fácil das agências de viagens, trabalhar. Por exemplo, na altura para fazer uma reserva de um hotel no exterior trabalhávamos a Equador tinha um com telegramas! Nem sequer havia ainda os Star dá um pulo muito grande com a aquisição telexes. Ligava-se para a Marconi, ditava-se o teda Equador e com a aquisição de outra empresa volume de vendas que é anterior à Equador, que é a Brotour e passa legrama com as reservas e depois mandava-se um automaticamente a ser a terceira agência de viagens telegrama com resposta paga com sete palavras. Os superior à Star hotéis respondiam-nos, aparecia um senhor da Marconi, o boletineiro, vinha de bicicleta ou de mota entregar-nos a resposta do hotel. Ainda sou desse tempo e assisti à evolução toda.

Ponto T. › Se pudesse voltar atrás faria alguma coisa de diferente? V.F. › Em termos profissionais penso que não. Estive para fazer coisas diferentes, mas poderei dizer que de tudo aquilo que fiz, não estou arrependido de nada, trabalhei em empresas onde fui empregado, em empresas que tiveram alguns problemas até de gestão, que as coisas não correram bem, mas eu às vezes digo que aprendi mais em empresas em que a gestão era mais deficiente do que aprendi naquelas que eram bem geridas porque se calhar hoje não cometo as asneiras que vi serem cometidas na época. Ponto T. › Quando vendeu as agências Equador à Sonae, foi complicada a mudança? V.F. › Quando vendi a Equador à Sonae, a Equador no ranking das agências de viagens tinha um volume de vendas superior à Star, penso que seria a sétima no ranking nacional em 2001. A Star tinha um nome enorme, isso não há dúvida, mas de qualquer forma a Equador veio alavancar a própria Star. A #22 ABR/MAI 2016

no ranking nacional.

Ponto T. › E o que é que preferia, o antes ou depois da Star? V.F. › Eu acho que todas as minhas fases profissionais têm o seu encanto. Foi muito interessante o projeto da Equador. Foi algo que criei de raiz, quase praticamente do zero, que eu e os meus ex-sócios, alguns colaboradores que estiveram comigo muitos anos, conseguimos erguer e que cresceu bastante. Foi uma época interessante em que o negócio estava a mudar imenso e havia uma grande procura de grandes empresas para entrarem no setor das agências de viagens. Foi quando a RAR entra no capital da Geotur, a Sonae que queria crescer nas agências de viagens... Recordo que também fui abordado pela BCD... Houve várias aproximações, mas eu gostei muito da maneira como fui abordado pela Sonae. Na altura, quem fez a aproximação foi uma pessoa que já não está entre nós e de quem eu tenho uma enorme saudade que é o Dr. Fernando Figueiredo Carvalho com quem eu gostei muito de trabalhar. Ficámos muito amigos e tenho pena que já não esteja entre nós. Ponto T. › A dada altura saiu da Star… V.F. › Estive lá seis anos e a dada altura começaram a haver visões diferentes


Vitor Filipe Grande Entrevista 11

sobre a maneira de estar no negócio, comigo e com outro administrador. Eu era diretor-geral e administrador mas reportava a outro administrador que por sua vez tínhamos ainda um administrador de topo do grupo Sonae que era o Dr. Nuno Jordão. Começaram a haver algumas divergências e comecei a achar que seria melhor partir para outro projeto. Tinha já feito alguma aproximação à Rita Pereira, dona da empresa que depois acabei por comprar, a Benvido Tours. Sabia que era uma empresa sólida sem problemas, apesar de ter uma dimensão bastante micro, mas foi um projeto interessante. Trouxe comigo alguns colegas e amigos de longa data e iniciámos o projeto que tem funcionado bem.

parte do sucesso da empresa, no setor do outgoing, tem a ver com a plêiade de clientes muito variada, mas tínhamos um foco muito grande com quem tinha negócios com Angola e apanhámos esse boom do mercado angolano, isto na área do outgoing. Na área do recetivo também a aposta e o grande target foi o mercado brasileiro. Portanto 2015 foi um ano complexo, é um ano que acabámos de fechar. Em termos de resultados não nos queixamos. Continuamos a ter resultados positivos e até interessantes, mesmo com a quebra de vendas que tivemos, mas tivemos que mudar a estratégia e estamos a mudar. Eu resolvi abdicar de parte da empresa. Vendi a um sócio que é um gestor, uma pessoa formada nessa área, com bastantes conhecimentos na área do marketing e estamos a mudar e a criar novos objetivos para a empresa. No momento que estamos a falar, também posso adiantar que vou ceder mais uma parte da empresa, vou manter a maioria do capital, mas estou a admitir novos acionistas. Vem trabalhar comigo uma pessoa que já foi meu sócio na Equador que é o Fernando Mendes que acabou de sair da Geostar e vem precisamente trabalhar mais na área comercial e desenvolver os grupos e incentivos que é sentíamos que tínhamos algumas fragilidades.

Em termos de outgoing estamos a fazer um forcing muito grande na captação de novas contas

Ponto T. › Num ano a dimensão da Benvindo Tours, já como TQ Travel, disparou. V.F. › Quando iniciámos o projeto já sabíamos que isso iria acontecer até porque os meus sócios eram pessoas que eu conhecia muito bem, tinham a sua carteira de clientes, eu também tinha a minha carteira de clientes e realmente foi um projeto que aconteceu na altura certa, em 2007, quando as empresas, por causa da crise interna, tiveram que se voltar para o mercado externo e a área do corporate deu um enorme pulo, até porque as pessoas tinham que viajar, tinham que ir para fora procurar novos negócios e isso alavancou o projeto na área do corporate. Fomos crescendo rapidamente, admitimos mais pessoal. Sempre tivemos o cuidado de escolher pessoal com bastante experiência dentro do setor porque também nos queríamos distinguir perante os clientes, como prestadores de um bom serviço. Ponto T. › Começaram pelo outgoing. V.F. › Começámos pelo outgoing, na área do corporate, das empresas, e depois passado um ano sensivelmente, achámos que era altura de iniciarmos o projeto do incoming e fizemos uma sociedade separada, com um antigo colega da Star, que é o Jorge Rodrigues, o meu filho também já era uma pessoa ligada ao recetivo e juntou-se ao projeto e também tem corrido razoavelmente. Ponto T. › E também tem uma empresa de eventos sob o chapéu da TQ Travel. Porque alargar o âmbito? V.F. › Sim, foi principalmente por razões fiscais. De início principalmente por questões fiscais. Depois também desenvolvemos alguma coisa na área dos eventos, não nos temos dedicado se calhar com a força que deveríamos. Este ano é um ano de grandes mudanças na nossa empresa, até de alguma estratégia, e estamos a reformular o projeto. Ponto T. › E há alguma coisa que possa contar sobre essas mudanças? V.F. › Sim posso dizer. Em 2015 foi difícil para o setor das agências de viagens, nós particularmente aqui na TQ, grande

Ponto T. › E quais são os mercados em que vão apostar para suprir as quebras? V.F. › Em termos de outgoing estamos a fazer um forcing muito grande na captação de novas contas e, nestes primeiros três meses, posso dizer que já se começa a notar alguma dinâmica. Contamos ter bastantes novos clientes com a entrada do Fernando. Na área do incoming, há uns anos que somos parceiros da ITP, que é uma associação de agências de viagens espalhadas pelo mundo inteiro, são à volta de 80 países, e estamos a apostar também nos nossos partners para trazer negócio para Portugal. Temos apostado já há alguns anos, para tentar captar fluxos no mercado chinês, fizemos uma ação de promoção na Irlanda e em Londres. Há pouco tempo estivemos em Barcelona. Temos perspectivas de ir para os Estados Unidos, até como se sabe, a TAP vai apostar no mercado americano e nós também nos vamos posicionar nos Estados Unidos. Ponto T. › Como é que surgiu a parceria com a ITP (International Travel Partnership)? V.F. › A pessoa da ITP encarregada de encontrar parceiros tinha ouvido falar em mim, conhecia algum do meu percurso, sabia do projeto TQ. Conversámos. Eu achei interessante ter uma parceria internacional e aderimos à ITP e inclusive já fizemos aqui um congresso da ITP em Portugal, que fomos nós que trouxemos. Vamos estando presente nos congressos e promovemos Portugal. Acho interessante dizer que já trouxemos turistas do Líbano, do Azerbeijão… esses nichos de mercado que também queremos apostar. #22 ABR/MAI 2016


12 Grande Entrevista Vitor Filipe

Ponto T. › Hoje em dia o turista é muito diferente ao de antes? V.F. › Sim, principalmente a nível de poder de compra. Antes do 25 de abril, era uma elite a que viajava. As empresas viajavam também, mas numa dimensão muito menor, e quem realmente fazia viagens de férias era quase uma elite. No início dos anos 70 dá-se uma melhoria da economia nacional, depois dá-se a crise do petróleo e no advento do chamado marcelismo, houve uma abertura. As pessoas começam a ganhar um bocadinho mais e recordo-me dos primeiros operadores turísticos, as viagens de grupos organizadas terem aparecido nessa época... E a seguir ao 25 de abril há um boom enorme. Foi quando as pessoas começaram a ter mais dinheiro para viajar e eu recordo-me do boom que foi as viagens para a Madeira. Os portugueses começaram a querer conhecer o seu próprio país e foi muito interessante.

Ponto T. › Mas além do poder de compra, também a mentalidade de hoje é diferente, não? V.F. › Sim, é totalmente diferente. Nos últimos 10, 15 anos as viagens mudaram muito. Hoje na área do lazer as viagens são muito diferentes, as pessoas viajam mais individualmente. Recordo que nos anos 80, 90, as pessoas gostavam muito de viajar em grupos, tinham apoio, gostavam de ir com alguém que lhes desse informação. Hoje em dia as pessoas veem tudo na internet, viajam mais individualmente, procuram as informações. Também a chegada das low-cost veio baixar o preço das viagens. Hoje é uma maneira diferente de viajar e de estar. Isso reflete-se em várias áreas de negócios. Antigamente #22 ABR/MAI 2016

em Lisboa, viam-se muitas agências de viagens. Hoje em dia veem-se muito menos agências de viagens com portas para a rua. Ponto T. › Mas sempre defendeu que os agentes de viagens nunca iriam desaparecer. V.F. › Estou convencido que não. Vamos ficar menos. Mais especialistas, vamos ter que nos adaptar. Mas nós temos sido uns camaleões porque as pessoas têm-se adaptado. Hoje em dia, como disse há pouco, há poucas agências de rua, as próprias agências de viagens estão concentradas, umas no online, outras nos shoppings, que é onde as pessoas circulam. A área do lazer tem diminuído. Se compararmos hoje o número de operadores turísticos que existem no mercado e a sua própria dimensão, não tem nada a ver com há 20 anos. Existiam operadores muito fortes, haviam muitos charters. Eu apanhei essa época, foi precisamente talvez no meu período da APAVT. A APAVT teve um papel importantíssimo na liberalização do espaço aéreo entre Portugal e o Brasil de que adveio um boom de voos. E as coisas mudaram, mas nós vamos mudando e vamos resistindo. No caso dos agentes de viagens, realmente as pessoas fazem muitas reservas pela internet e eu costumo dizer que por vezes é uma falácia em termos de preço, porque em muitos casos as agências apresentam no final preços mais em conta do que no online, além de ter a vantagem sobre o online em caso de algum problema. No caso da agência esta trata do problema, no online queixa-se a quem? Ponto T. › E como é que está o Turismo em Portugal? E o que é que se faz para manter a dinâmica que existe? V.F. › Falando de Portugal e de turismo recetivo, eu penso que felizmente tem sido um dos setores em que a política tem ficado um bocado ao lado. Tem havido havido uma cooperação entre as pessoas do setor e os secretários de estado, pelo menos os que tenho conhecido. Tenho grandes esperanças na atual Secretária de Estado, que é uma pessoa do turismo, conhece bem o setor e acho que vai fazer um trabalho. Logicamente não podemos negar, que temos beneficiado dos problemas que têm ocorrido no mediterrâneo. Países que eram recetores de grande s fluxos turísticos e que os estão a perder e muitos deles estão a ser desviados para Portugal. Eu acho que o importante foi as pessoas conhecerem Portugal. Havia uma imagem de Portugal no exterior se calhar um bocadinho distorcida, as pessoas começaram a vir e a passar-a-palavra o que é importante. Eu, que sou um lisboeta empedernido, vejo o ar de felizes dos turistas e eles quando voltam passam essa mensagem: que é interessante, tem um clima bom, onde se come bem, as pessoas são simpáticas, é um país bonito e que vale a pena visitar. E isso faz parte do sucesso. Também há outro fator que é importante que tem sido a recuperação da própria cidade. Há quem diga que estamos com excesso de turistas. Isso não é verdade e foi muito benéfico. Quem via o centro de Lisboa há 10 anos, e vê agora… e mesmo que digam há muitos hotéis... se há procura, temos de ter oferta e o centro de Lisboa estava completamente degradado. Além de que a nossa economia depende muito deste setor, não só em termos de receita como em criação de emprego. l


Novos conceitos de unidades de alojamento Em Foco 13

Novos conceitos de unidades de alojamento

Cereja, bolha ou igloo: a imaginação é o limite no que toca a dormir

A imaginação é o limite no que diz respeito a novas formas de unidades de alojamento. Lá fora são muitos os exemplos. Em Portugal a creatinghotels.com criou a linha Bungalows Iconic Hotels que, segundo a empresa, se assume como “o conceito de hotéis no espaço rural mais inovador da atualidade”.

E

stamos na presença de uma ideia que ajusta e potencia “a formação de novas experiências, que promove a riqueza endógena, enriquece o leque de serviços na valorização da “viagem” e do tempo do turista e configura em cada nova unidade turística um programa arquitetónico singular capaz de incrementar valor à oferta e ao negócio”, disse Diogo Marques, da Creating Hotels à Ponto Turismo. Para tal, foram criados doze conceitos diferentes dentro desta temática de pequenos hotéis em formato de bungalow, cada um representando por um fruto, “ícone temático com elevado conforto, riqueza cénica e sublime experiência”. Um deles é o Cherry Bungalow Iconic Hotel, cujo design, como o seu nome indica, é baseado na cereja, uma fruta de “rara beleza” e “rica na forma e textura”, o que a torna numa das mais desejadas e valiosas; além disso, é “símbolo de excelência e perfeição”, como dá conta a expressão “cereja em cima do bolo”. O objetivo passa por proporcionar aos hóspedes dos hotéis uma experiência capaz de conciliar “altos níveis de conforto, design, modernidade, ergonomia, funcionalidade, durabilidade, manutenção, isolamento térmico e acústico” com “um grande enfoque na sustentabilidade ambiental e na eficiência energética”. É, por isso, um modelo de negócio vantajoso, não só para os clientes

vulgares, como para os hoteleiros, que podem adquirir um Bungalow Iconic Hotel e configurar o seu tamanho de acordo com a pretensão inicial. Estes hotéis usufruem de uma sofisticada engenharia de produto, que garante “o desempenho da acústica, a eficiência da térmica e da sustentabilidade e certifica tudo com base em modelos e normas nacionais e internacionais”, além de permitirem uma instalação fácil e acessível, uma vez que se transportam e montam de forma simples e intuitiva. Os Bungalows Iconic Hotels foram especialmente desenvolvidos para serem implantados no campo, “em pleno contexto natural e temático, ou seja, inseridos na cultura a que aludem”, como nos explica a creatinghotels.com. Estão, por isso, “devidamente enquadrados e especialmente orientados para explorarem e oferecerem uma experiencia de imersão no mundo do fruto em questão”, sendo construídos “de acordo com as mais exigentes normas de construção”. E nem mesmo o formato fora do vulgar destes hotéis impede que tenham todas as áreas funcionais de um hotel dito vulgar, #22 ABR/MAI 2016


14 Em Foco Novos conceitos de unidades de alojamento

uma das grandes desde quartos, salas de estar, salas de jantar, salas de teravantagens dos pia, banhos turcos, saunas, escritórios, bares, Bungalows Iconic Hotels receção, balneários, casas de banho, entre outras. passa pelo reduzido Mas uma das grandes vantagens dos Bungalows Iconic tempo da sua Hotels passa pelo reduzido construção tempo da sua construção. “Todo o conceito está desenvolvido e testado, faltando apenas a adequação das plantas, do programa e a personalização do novo local de implantação. O modelo construtivo está definido e assenta a sua formação no desenho, fabricação e montagem de componentes. Permite rapidez de montagem - uma montagem simples, intuitiva e rápida, e um transporte fácil para qualquer território continental ou insular.” Com o seu design único, o Cherry Bungalow Iconic Hotel vem explorar e diversificar o conceito de turismo experiencial, que consiste na “formação de ofertas singulares, emotivas, memoráveis e inspiradoras, que desenham o sonho e que colocam o turista no centro da experimentação, associando ao alojamento e ao destino o contato e assimilação com culturas e riquezas endógenas, tecnologias e saberes inspiradores, enriquecedores da “viagem” e do reduzido tempo do turista moderno, que, perante o stress do quotidiano, procura cada vez mais na singularidade da experiência a contemplação emocional dos seus anseios, sonhos e viagens”. Este conceito de hotéis em formato de bungalow está a evoluir um pouco por todo mundo e as ideias são cada vez mais originais, o que é ideal para a diversificação da experiência. Em França, já foi desenvolvido um tipo de alojamento em #22 ABR/MAI 2016

formato de bolha, o Attrap’Rêves. Ainda que transparentes, o que permite uma observação privilegiada do céu e de todo o meio envolvente, estas bolhas garantem a intimidade dos seus hóspedes por se situarem no meio da natureza, sendo possível chegar lá através de um caminho privado. A marca, criada por uma empresa familiar em 2010, tem como lema “criador de emoções mágicas” e apresenta-se como a primeira rede de bolhas em França, com um parque de 18 bolhas distribuídas por cinco locais. As bolhas obedecem a diversas tipologias, havendo umas, as Zen, que são totalmente transparentes, e outras que têm uma parte opaca. Concebidas em material reciclado, as bolhas da Attrap’Rêves representam uma aproximação eco-responsável ao turismo. Na Lapónia finlandesa, a 250km a norte do Círculo Polar Ártico, uma das apostas mais interessantes recai sob os igloos de vidro. O hotel Kakslauttanen já criou vários modelos diferentes destas inovadoras unidades de alojamento, equipadas com sauna, lareira, chuveiro próprio e teto de vidro, onde é possível experienciar o melhor que o território escandinavo tem para oferecer, mas no conforto de um pequeno hotel de luxo, com todas as condições indispensáveis para uma estadia única e memorável e com vista privilegiada para a sempre esteticamente atrativa Aurora Boreal. l Gonçalo Santos Jornalista


Nuno Dias Entrevista Caderno 15

CADERNO 16

Há que encontrar alternativas, novos destinos”

Nuno Dias

OUTGOING MANAGER DA TUI VIAGENS

19

Soluções

Low Cost em Amadeus. Fique por dentro do vasto conteúdo das companhias Low Cost que a Amadeus disponibiliza

20

Notícias

Renfe e Amadeus facilitam viagens de comboio por Espanha com novo acordo de distribuição

#22 ABR/MAI 2016


Caderno Amadeus 16 Entrevista Caderno Nuno Dias

Nuno Dias OUTGOING MANAGER TUI VIAGENS

#22 ABR/MAI 2016


Caderno Amadeus Dias Entrevista Caderno 17 Nome do ConteúdoNuno do Capítulo Nome do Capítulo

Nuno Dias

“O agente de viagens tem de acrescentar valor” Nuno Dias, outgoing manager da TUI Viagens considera que em cenários de crise e a crescente insegurança de alguns destinos tem de levar ao surgimento de novos destinos e obrigar outros a tornarem-se mais acessíveis.

Ponto Turismo › Qual é o balanço que faz do ano para a TUI Viagens? Nuno Dias › O balanço do ano é positivo, o negócio está a correr bem, para além de terem sido tomadas algumas decisões estratégicas essenciais para o crescimento e desenvolvimento desta área de negócio em Portugal. Ponto T. › Como é que a TUI Viagens lidou com os tempos de crise e como se prepara para o desvanecer gradual que se assiste dos chamados “destinos seguros”? N.D. › Encontrar alternativas, novos destinos é a palavra de ordem, acho que é uma preocupação transversal a todas as agências de viagens no momento. O lado positivo desta situação é que irá obrigar ao surgimento de novos destinos, novas ligações aéreas, novas apostas. Existem destinos considerados de luxo, dado o seu custo elevado, que irão inevitavelmente tornar-se mais acessíveis.

talações e o seu conceito são desde já reveladores do que estamos a preparar para o mercado. Ponto T. › Como é que está segmentado o negócio? Quais os produtos com maior peso tendo em conta a vossa abrangência? N.D. › A segmentação e a especialização do negócio estão cada vez mais vincadas: um Departamento de Corporate renovado à medida das necessidades dos nossos clientes, um Departamento de Grupos em franco crescimento e finalmente um Departamento de Lazer com segmento Private, especializado em destinos e produtos exclusivos tailor made.

estamos a preparar: novos produtos, nova imagem, novo conceito, nova abordagem

Ponto T. › Quais são as principais novidades que a Tui Viagens está a preparar? N.D. › Existe um conjunto de novidades, que estamos a preparar: novos produtos, nova imagem, novo conceito, nova abordagem. Um conjunto de ações que não me é ainda permitido revelar em pormenor, já que o processo ainda não se encontra concluído. No entanto, as novas ins-

Ponto T. › O que é que espera, em termos de políticas de turismo, do novo governo? N.D. › Espero uma maior regulação e supervisão da atividade, por forma a oferecer melhores garantias aos clientes. Ponto T. › Como é que vê o agente de viagens da era atual, face às novas tecnologias? #22 ABR/MAI 2016


Caderno Amadeus 18 Entrevista Nome do Capítulo CadernoNome NunodoDias Conteúdo do Capítulo

N.D. › Para fazer face às novas tecnologias o agente de viagens tem de acrescentar valor. Isto é, o agente de viagens não se pode limitar a reservar passagens aéreas, pacotes de férias e hotéis, tem, sobretudo, de conhecer os destinos, os produtos e ser proactivo no aconselhamento ao cliente, tem de estar em constante aprendizagem para conhecer novas alternativas. Por outro lado a TUI está a fazer uma grande aposta em novas tecnologias, que pretende ajudar os agentes de viagens na sua formação de destinos, nos próximos meses será lançada a maior plataforma a nível mundial (e-learning), em 10 idiomas e que qualquer agente de viagens do mercado poderá utilizar de forma gratuita sob o nome de Upgrade6a. Ponto T. › Como é que a TUI se está a preparar para o consumidor cada vez mais conhecedor e dinâmico? N.D. › Os nossos agentes de viagens têm de acompanhar esta dinâmica dos consumidores, informação e constante aprendizagem é essencial. Felizmente a maioria dos nossos profissionais possui um excelente conhecimento dos destinos e do mercado - esta é para a TUI uma imensa vantagem que só acrescenta valor à empresa. A TUI criou recentemente uma plataforma (passenger6a) com a ambição de ser a maior a nível global em termos de conteúdos e de marketing digital, esta é uma forma encontrada de chegar a este cliente cada vez mais dinâmico e interessado em descobrir novos destinos.

Ponto T. › Sei que a Tui já fez a migração para Amadeus. Como é que tem sido o processo de migração? N.D. › Podemos afirmar que o processo de migração está praticamente concluído e tem corrido de acordo com o planeado.

a TUI está a fazer uma grande aposta em novas tecnologias para ajudar os agentes de viagens na sua formação de destinos

Ponto T. › Acha que o mercado das agências está novamente na mira com a nova diretiva europeia para os pacotes e viagens, organizadas? Qual é a sua opinião? N.D. › A maior proteção dos consumidores que reservam online, é, na minha opinião, muito positiva e vem repor alguma justiça à concorrência desleal que as vendas online têm vindo a fazer às agências de viagens e aos operadores, com o aumento das suas responsabilidades talvez os preços deixem de ser tão competitivos. Relativamente à possibilidade do viajante poder rescindir o contrato em qualquer momento antes do início da viagem, não considero que esta medida seja uma ameaça, uma vez que os agentes de viagens são intermediários com margens reduzidas, mas estou expectante para ver como esta medida será aplicada na prática, pois os custos de cancelamento abrangem essencialmente companhias aéreas e hotelaria.

#22 ABR/MAI 2016

Ponto T. › Como tem sido trabalhar com a equipa Amadeus Portugal? N.D. › A equipa Amadeus é extremamente profissional e possui uma experiência vasta em processos de migração. Está sempre disponível para ultrapassar os obstáculos que têm surgido e encontrar soluções à medida do nosso negócio.

Ponto T. › Qual é a vossa opinião sobre as soluções da Amadeus? N.D. › As soluções apresentadas pela Amadeus são muito positivas e permitem facilitar o trabalho dos agentes de viagens e assim reduzir a margem de erro no trabalho do dia-a-dia. l


Caderno Amadeus Nome do ConteúdoLow do Capítulo Cost em Amadeus Nome do Soluções Capítulo 19

“Low Cost em Amadeus” A Amadeus oferece-lhe um vasto conteúdo de companhias Low Cost.

Dentro das Low Cost encontramos as companhias Hibridas (além de disponíveis em Amadeus estão também disponíveis via website (travelfusion), ou via BSP, ou via SSR EPAY) e as companhias Light Ticketing (cuja emissão de documentos é possível via sistema Amadeus, para controlo de BackOffice, mas sem envio de mensagem ao BSP). Nunca foi tão fácil reservar companhias Low Cost em Amadeus Aumente as suas receitas reservando Low Cost em Amadeus. Reserva em tempo real com criação de PNR Amadeus, que poderá ser consultado em qualquer altura e permitindo que todos os dados fiquem disponíveis no seu BackOffice. Tem também a possibilidade de consultar as reservas com LPO (lista de passageiros) e de poder imprimir/enviar um itinerário ao seu cliente. Coma as Light ticketing poderá ainda aceder a um relatório de vendas. Toda a informação sobre a reserva de Low Cost em Amadeus está disponível no site Amadeus http://reservarlowcost.pt Encontra também disponível em alguns casos, as páginas Amadeus GGAIRxx e noutros informação de como reservar em Amadeus nas páginas online das várias companhias Low Cost. As companhias Low Cost voam atualmente dos principais aeroportos do país (Lisboa, Porto, Faro, Funchal, Porto Santo e Ponta Delgada). De seguida alguns exemplos do tipo de Low Cost que pode vender em Amadeus Companhias Low Cost Encontramos por exemplo as companhias MONARCH (ZB) e WIZZ (W6), cujas condições estão disponíveis nos seus sites. Em Amadeus é possível encontra-las em All Fares Plus (Travelfusion) e ao reserva-las um segmento GK é criado com o PNR Amadeus. A forma de pagamento será sempre um Cartão de crédito e a confirmação após o EOT.

A NORWEGIAN (DY/D8) apresenta também as condições de venda em Amadeus no seu site. Já se encontra esta companhia em All Fares Plus (Travelfusion) ou em críptico. É criado um segmento GK em Amadeus e a forma de pagamento (CC) é obrigatória antes do EOT.

Companhias Low Cost Hibridas Encontramos em Amadeus várias companhias que permitem a reserva via críptico (BSP ou All Fares Plus/segmento HK) ou via web (All fares Plus – Travelfusion/segmento GK). No caso da web sempre obrigatório o cartão de crédito como forma de pagamento e a confirmação após o EOT. Via BSP as condições normais são aplicadas: • FLYEBE.COM (BE) - www.flybe.com • VUELING (VY) - GGAIRVY

#22 ABR/MAI 2016


Caderno Amadeus 20 Soluções Nome do Capítulo Low Cost em Nome Amadeus do Conteúdo do Capítulo

Encontramos também companhias cuja venda só é possível via BSP aplicando a chapa de uma companhia com a qual tem acordo e as condições são BSP. • JETAIRFLY (TB) - www.jetairfly.com • SMARTWINGS (QS) - GGAIRVY

Encontramos ainda companhias que podem ser vendidas via Amadeus mas cujo pagamento é feito via SSR (SR-epay): • GOL AIRLINES (G3) – GGAIRG3 • TUIFLY (X3) – GGAIRX3 Companhias Low Cost Light Ticketing São consideradas companhias “Light Ticketing”, aquelas cuja emissão de documentos é possível via sistema Amadeus. Estes documentos não são no entanto enviados ao BSP pois servem somente para controlo da agência. O processo de reserva é igual ao de qualquer outra companhia, no entanto a confirmação da reserva só é possível apos a emissão dos documentos. Por isso é necessário emitir logo após o EOT, de forma a garantir que que os lugares, as tarifas e os serviços sejam confirmados pelas companhia aérea. Encontramos hoje, disponível em Amadeus, as seguintes Light Ticketing: easyJet (U2) transavia.com (HV/TO) jet2.com (LS) Germanwings (4U) Ryanair (FR) Air Asia (AK: AirAsia / D7: AirAsia X / FD: Thai AirAsia / I5: AirAsia India / PQ: AirAsia Philippines / QZ: Indonesia AirAsia / XJ: Thai AirAsia X / Z2: AirAsia Zest)

• • • • • •

#22 ABR/MAI 2016

Com uma companhia Light Ticketing acede aos seguintes processos: Pesquisa – AN ou AW dependendo da companhia. Reserva – Venda com SS; criação de elementos obrigatórios NM, TKOK, APE, FP; possibilidade de venda de serviços (SR / ST). Preço - Confirmação do preço do itinerário e dos serviços (FXX, FXP, FXH, FXG). É nesta fase que são adicionados os FEES da companhia e criadas as TST’s e TSM’s. Confirmação da reserva – o EOT gera o localizador Amadeus, mas não a validação da reserva junto da companhia. Emissão da reserva – É na emissão (TTP/TTM) que todas as validações são feitas. Débito ao cartão de crédito, criação dos documentos (bilhete e EMD) e relatório de vendas para os mesmos, criação do A.I.R para BackOffice, criação do localizador da companhia (reserva confirmada do lado da companhia). Pós emissão – Em Amadeus Light Ticketing as soluções ATC e ASC estão disponíveis e dependendo da companhia uma reemissão de reserva e/ou serviço é possível.

• • • • •


Caderno Amadeus Amadeus e RenfeNome facilitam do Conteúdo viagens dedocomboio CapítuloporNome Espanha do Capítulo Notícias 21

Acordo de distribuição de serviços ferroviários espanhóis

Amadeus e Renfe facilitam viagens de comboio por Espanha

A

RENFE e a Amadeus assinaram um acordo de distribuição de serviços ferroviários às agências de viagens de todo o mundo, facilitando o processo a compra de bilhetes tanto às agências de viagens como aos turistas, num país estrangeiro. A expansão das redes de alta velocidade ferroviárias provocou uma maior procura pelo que cada vez mais turistas optam pelo comboio como o meio de transporte, nomeadamente em Espanha. Em 2015 a RENFE transportou na rede de alta velocidade um número recorde de 31 milhões de passageiros e comissionou mais de 250 quilómetros de rotas AVE. Até agora, apesar da atratividade deste meio de transporte, a aquisição de bilhetes de comboio num país estrangeiro podia converter-se num processo complicado. Do ponto de vista das agências de viagens obter e facilitar os serviços ferroviários pode também ser uma tarefa complexa. De modo a facilitar o processo, a Renfe e a Amadeus assinaram um acordo de distribuição e através de uma ligação padronizada, as agências de viagens de todo o mundo poderão, em breve, disponibilizar aos seus clientes um grande leque de serviços ferroviários espanhóis, ficando a Amadeus com a gestão da pesquisa, reserva e emissão de bilhetes, além de pagamentos e processo de liquidação. “Graças à Amadeus estamos a promover a nossa oferta para todo o mundo”, afirmou Francisco Cañamero Palacios, diretor comercial da RENFE que acres-

as agências de viagens de todo o mundo poderão disponibilizar aos seus clientes um grande leque de serviços ferroviários espanhóis

centa que muitos estrangeiros que visitam Espanha não viajam de comboio simplesmente por desconhecimento e pelas dificuldades acrescidas de pesquisa, reservar e pagar os bilhetes num país estrangeiro. Com o novo acordo esta situação faz parte do passado uma vez que passa a ter a possibilidade de planear as suas viagens com antecedência nos canais habituais a preços competitivos, com a confiança de poder considerar o comboio como uma alternativa de transporte acessível. Por sua vez, Thomas Drexler, Head of Rail & Ground Travel da Amadeus refere que “o acordo com a RENFE é outro grande passo em direção ao nosso objetivo de desenvolver uma plataforma global de distribuição de serviços ferroviários. Para muitos, viajar em comboio é muito mais confortável e agradável do que fazê-lo em outros meios de transporte e com a chegada dos comboios de alta velocidade, é ainda melhor. Além disso, pesquisar e reservar bilhetes deve ser confortável e fácil, e a nossa plataforma oferece às agências de viagens serviços ferroviários um formato padronizado.” Além da RENFE, a Amadeus oferece às agências de viagens uma ligação simples para os serviços ferroviários SNCF, DB, SJ, Trenitalia, SNCB, NS, Eurostar, Lyria, Thalys, CFL e MTR, e conteúdo através da AccesRail e Hahn Air. l #22 ABR/MAI 2016


Caderno Amadeus 22 Notícias Nome do Breves Capítulo Nome do Conteúdo do Capítulo

Ano termina com resultado líquido de €751.8 milhões Reservas áreas na Amadeus aumentam 8,3% em 2015 O número de reservas aéreas feitas pelos agentes de viagens Amadeus cresceu 8,3%, para 505 milhões em 2015, ficando acima do crescimento da indústria dos GDS que foi de 3,9%. Mais de 80% das reservas aéreas processadas através do sistema Amadeus a nível mundial foram feitas em companhias aéreas que assinaram contratos de distribuição, diz uma informação. Durante o ano a Amadeus renovou ou assinou acordos de distribuição com 37 companhias aéreas. O negócio de distribuição aumentou 11,5% para €2.737,8 milhões e foi impulsionado pelo crescimento na América do Norte e Ásia-Pacífico. No que diz respeito às soluções de marketing da Amadeus, no final do ano, a solução Amadeus Airline Ancillary Services, que permite às companhias aéreas comercializarem os seus serviços complementares praticamente em todos os mercados do mundo, foi contratada por 135 companhias aéreas, das quais 101 já implementaram a solução. Enquanto isso, a Ama-

deus Fare Families, que permite às companhias aéreas distribuírem tarifas personalizadas, conta com 29 companhias aéreas clientes, das quais 22 já tinham finalizado a sua implantação. Nas Soluções de TI a receita cresceu 22,1% para €1,174,3 milhões, impulsionada pelo impacto da migração de grandes companhias aéreas da Ásia-Pacífico, bem como iniciativas de vendas incrementais e a contribuição de novas áreas, como a tecnologia para aeroportos e pagamentos. A Amadeus apresentou os resultados financeiros e operacionais para o exercício que terminou a 31 de dezembro, em que o resultado líquido ajustado para o ano cresceu 10,4%, para €751.8 milhões. Este resultado foi sustentado por um aumento da receita de 14,5%, para €3,912.7 milhões, e um crescimento de 12,2% no EBITDA, para €1,465.4 milhões. Apesar das preocupações atuais do panorama económico, a Amadeus encara 2016 com otimismo, graças à expansão da oferta para fornecedores de viagens.

Gestão de receitas Singapore Airlines adota tecnologias de nova geração da Amadeus A Amadeus e a Singapore Airlines estenderam o seu programa de colaboração graças à adoção, por parte da companhia aérea, do pacote completo de soluções Amadeus Revenue Management. Este sistema vai permitir ao operador adaptar a sua capacidade de gestão de receitas e a sua reação de forma mais ágil à rápida evolução do setor. Trata-se de um sistema de gestão de receitas de nova geração com base na

origem e destino, destinado a garantir a adaptação de mudanças futuras e totalmente integrado com as novas práticas de comercialização, como os preços dinâmicos, famílias de tarifas e a venda de serviços auxiliares. Ao obter dados de diversas fontes, o sistema vai oferecer conselhos mais rápidos, precisos e inteligentes sobre os melhores preços e pacotes de ofertas da companhia aérea. A Singapore Airlines vai adotar ainda as soluções Amadeus Dynamic Pricing e Amadeus Altéa Group Manager.

Sistema de controlo de carga Lufthansa instala Amadeus Altéa Departure Control Flight Management A Lufthansa vai utilizar o sistema de gestão de voos Amadeus Altéa Departure Control Flight Management e contratou o pacote completo Amadeus Altéa Suite em toda a rede de operadores. O controlo de carga é um dos principais desafios das companhias aéreas, sendo essencial para alcançar um aumento da eficiência, melhorar a pontualidade e reduzir os custos de combustível. Neste sentido, o Grupo Lufthansa e a Amadeus assinaram um acordo através do qual as compa-

nhias aéreas do Grupo alemão vão implementar o sistema de gestão de voos Amadeus Altéa Departure Control Flight Management. Os primeiros a utilizar o sistema serão a Lufthansa, Swiss International Air Lines, Brussels Airlines e a Lufthansa Cargo. O sistema automatiza o controlo de carga dos aviões e otimiza a saída dos voos mediante a análise da carga de passageiros e mercadorias, o cálculo das necessidades de combustível e a definição da distribuição da carga ideal no avião. A Amadeus otimizará a carga de 3.000 voos diários uma vez finalizada a instalação em todas as companhias do Grupo.

Tecnologia na Cloud Aeroporto do Québec implementa Amadeus ACUS O Aeroporto Internacional Jean Lesage do Quebec vai adotar a solução Amadeus Airport Common Use Service (ACUS) gerida pela Cofely, que irá proporcionar uma experiência de check-in muito mais eficiente aos passageiros. A solução transforma as tecnologias de faturação por meio de uma virtualização de aplicações que permite o acesso e implementação de serviços de processamento de passageiros através de diferentes browsers em qualquer portátil ou dispositivo móvel. A ACUS vai facilitar o trabalho dos funcionários do aeroporto – incluindo as companhias aéreas e os operadores de assistência #22 ABR/MAI 2016

em escala. Além disso serão implementados pontos de auto-atendimento em todo o aeroporto, que irão economizar tempo aos passageiros. A tecnologia ACUS também irá apresentar outras vantagens ao Aeroporto de Quebec: uma delas é a grande poupança económica e energética devido à eliminação dos servidores localizados nas instalações e a sua manutenção. Também é de destacar a redução dos gastos operativos associados aos sistemas informáticos aeroportuários tradicionais. Além disso, o uso da plataforma remota permitirá ao Aeroporto do Quebec tirar o máximo partido da sua infraestrutura e utilizar os seus recursos de maneira mais eficiente.



24 Tecnologia Robots já cá estão no turismo e cada vez mais “humanos”

Robots já estão no turismo e

cada vez mais “humanos” Dizer que os robots já estão na indústria do turismo já não é novidade, mas dizer que eles estão cada vez mais “humanos” já é diferente. Que o digam aqueles que conheceram Chihira Kanae, um robot humanóide desenvolvido pela Toshiba que esteve a receber e a dar indicações aos visitantes na ITB em Berlim. O robot, uma figura feminina com traços asiáticos e cabelos longos, constitui a terceira versão desenvolvida pela Toshiba e está preparada para responder a perguntas pré-programadas.

A

o lado deste robot da Toshiba esteve outro “anfitrião”, o Mário, um robot vermelho e branco, mais pequeno, desenvolvido pelos franceses da Aldebaran Robotics, e o objetivo foi mostrar como podem ser utilizados no turismo, mais concretamente, na hotelaria em serviços de portaria ou de quarto. A ideia é proporcionar uma experiência diferente aos clientes e não ocupar o lugar dos humanos, refere Fabrice Goffin, co-fundador da QBMT, empresa que desenvolveu o software de Mario. Este robot está em teste no hotel Marriott em Gante, na Bélgica, que o utiliza para entregar chaves dos quartos, dar high-fives aos clientes, a animar reuniões no hotel e a ler apresentações. O Marriott Ghent, no entanto deixa bem claro que a utilização deste tipo de robots não é para substituir pessoas. Também a Hilton anunciou, em conjunto com a IBM, o primeiro robot con#22 ABR/MAI 2016

cierge a quem chamaram Connie em honra de Conrad Hilton, o fundador da marca. Connie irá trabalhar ao lado da equipa da Hilton a ajudar com os pedidos dos clientes, personalizar a experiência dos clientes e dar mais informação aos clientes para os ajudar a melhor planear as suas viagens, como por exemplo com informação sobre atrações turísticas locais, recomendações de restaurantes, características do hotel, entre outros. Uma das características deste robot é que à medida que vai interagindo com os clientes, vai aprendendo mais, vai-se adaptando e melhorando


Robots já cá estão no turismo e cada vez mais “humanos” Tecnologia 25

as recomendações que dá. O hotel também terá acesso a um registo das perguntas dos clientes e às respostas de Connie, que permitem melhorar as experiências dos clientes antes, durante e após a sua estada. Esta possibilidade é-lhe dada graças à plataforma tecnológica de computação cognitiva Watson da IBM através da qual é alimentado. Esta plataforma representa uma nova era na computação onde os sistemas entendem o mundo da mesma forma que os seres humanos - através dos sentidos, da aprendizagem e experiência. A Starwood, ao utilizar o robot Boltr nos Aloft, o que permitiu transportar as imagens de ficção de um robot a entregar toalhas para a realidade, foi das primeiras cadeias hoteleiras a integrarem o mundo da robótica numa indústria onde o capital humano é muito valorizado pelos consumidores e que por isso poderá levantar algumas questões. A empresa Savioke, de Silicon Valley foi quem criou o Boltr defende que a tecnologia por trás deste robot é básica, apenas o faz mover do ponto A ao ponto B, algo que os hotéis não precisam que os empregados façam, ao passo que estes acabam por se sentir desafiados a fazer o trabalho que apenas eles podem fazer. No entanto, isso não significa que todos os hotéis devam ter robots. Na opinião do CEO da Savioke, Steve Cousins, a utilização de robots faz mais sentido em hotéis onde os clientes estão abertos à interação com os robots porque querem entrar, dormir e ir embora. Para hotéis de luxo, onde o serviço personalizado é o elemento chave do produto, a presença do robot não fará muito sentido. Apesar disso existe no Japão um hotel low-cost totalmente operacional através de robots, é o Henn na Hotel, perto de Nagasaki e que abriu em meados do ano passado. No seu site apresenta-se como o primeiro hotel no mundo a operar apenas com robots, no entanto, na parte das perguntas frequentes, o hotel responde que em casos de urgência, como por exemplo uma doença súbita, há sempre pessoas no hotel. Para ser ainda mais claro, o hotel confessa ainda que outra área que é feita totalmente pelos seres humanos é a segurança. Cada câmara é monitorizada por uma pessoa que assegura a segurança dos clientes e também dos robots… Além disso, a arrumação dos quartos, quando é solicitada, também é feita por staff humano porque os robots “ainda não conseguem fazer camas”, explicam. Os clientes ao chegarem a este hotel deparam-se na receção com três robots, multilingues e todos diferentes: existe desde o robot humanoide, ao dinossáurio, passando pelo ‘mais normal’. Os robots ajudam no processo de check-in (e também no check-out), depois o braço robótico recolhe a bagagem que por sua vez irá ser entregue

Apesar do potencial dos robots no turismo, um inquérito feito em diversos países, indica que as pessoas ainda querem o toque humano nas férias

aos robots-porteiros que a transportam ao quarto. Não existem chaves, uma vez que no check-in é feito o registo do rosto e a entrada é feita através do reconhecimento facial. Se o cliente pretender uma chave, terá de a pedir. A razão pela qual não existem, por norma, chaves físicas é porque os robots não são bons a encontrar chaves perdidas… No fundo ainda há um longo caminho a percorrer até que os robots possam “substituir” o trabalho humano e mesmo o “toque” humano. Mas além da hotelaria, os robots começam a ser utilizados em outras áreas do turismo, como é o caso dos aeroportos. A KLM tem um robot-guia, o Spencer, que orienta os passageiros no aeroporto de Amesterdão. Nos cruzeiros, a Royal Caribbean introduziu um robot que atende num bar no Quantum of the Seas. Apesar do potencial que a introdução dos robots possa ter no turismo, um inquérito feito em diversos países, entre os quais Reino Unido, França, Espanha, Alemanha, Japão, Brasil e América do Norte feito pelo Travelzoo indica que

as pessoas ainda querem o toque humano durante as férias receando a perda de emoções que apenas podem ser transmitidas pelos seres humanos, como o humor, traços culturais ou calor humano, e em países como a Alemanha ou França, os consumidores mostram-se céticos quanto à utilização dos robots. No entanto, o inquérito indica que 80% dos consumidores espera que os robots venham a ter uma grande participação nas suas vidas antes de 2020. Aliás se analisarmos bem, os robots já estão bem presentes, basta ver a quantidade de robots-aspiradores disponíveis no mercado e que vieram libertar essa tarefa dos humanos. l Antónia Barroso jornalista

#22 ABR/MAI 2016


26 Análise O Futuro da Publicidade nas Viagens

Realidade Virtual e Aumentada

O Futuro da Publicidade nas Viagens A realidade virtual e a realidade aumentada podem constituir elementos que podem alterar significativamente a atividade da indústria de viagens. Ambas oferecem inúmeras oportunidades para se conectar com os viajantes e entusiasmam-nos ao utilizarem promoções e publicidade nova e interessante, inclusive experiências imersivas de viagem na loja. Será que a indústria de viagens deveria ir até ao próximo nível?

C

omo é que a realidade virtual e a realidade aumentada podem fazer com que um destino pareça real? A realidade aumentada, também conhecida como RA, é a fusão entre realidade virtual e o mundo real na medida em que oferece uma nova dimensão ao consumidor ligado. Os programadores criam imagens em aplicações que fundem com conteúdo do mundo real. Com a realidade aumentada, os utilizadores podem distinguir entre as imagens criadas e o conteúdo do mundo real. A realidade virtual, também conhecida como RV, cria um mundo completamente virtual – muitas vezes utilizando um capacete ou óculos de Realidade Virtual – em que os utilizadores podem ‘mergulhar’ e interagir com os seus ambientes virtuais. Uma boa Realidade Virtual torna difícil aos utilizadores ver a diferença entre o que é real e o que não é. Um exemplo famoso de uma campanha de realidade aumentada é a ‘Unbelievable Bus Shelter’, criada pela Pepsi Max em Londres. A janela do abrigo da paragem do autocarro era um ecrã hiper-realista que criava a ilusão de um tigre a aproximar-se, de um impacto de um meteorito ou de um tentáculo de um extraterrestre a atacar as pessoas. As pessoas no

#22 ABR/MAI 2016

abrigo da paragem do autocarro depressa perceberam que era irreal e acharam engraçado. Este tipo de abordagem que agarra a atenção pode resultar bem na indústria das viagens em que os consumidores várias vezes ‘viajam’ nas suas imaginações muito antes de começarem o o processo de pesquisa e reserva de umas férias. Os cartazes de realidade aumentada podem envolver e entreter os clientes de uma forma que os cartazes convencionais não conseguem. Enquanto a realidade aumentada e a realidade virtual têm valor de novidade, prometem ser uma forma prática de ajudar os clientes a tomar decisões a visualizarem as suas compras de forma mais clara – por exemplo com uma alteração de quartos em realidade virtual. Thomas Hobbs no seu a artigo na Marketing Week, publicado em julho passado, analisava como a tecnologia da realidade aumentada e da realidade


O Futuro da Publicidade nas Viagens Análise 27

virtual já estava a ter um impacto significativo na indústria das viagens no Reino Unido. A TUI está a disponibilizar mapas-mundo interativos e iPads aos clientes, ao mesmo tempo que está a instalar grandes vídeo walls digitais e imersivos nas lojas localizadas nas ruas mais importantes para mostrar férias. A Thomas Cook foi pioneira na utilização de capacetes de realidade virtual na sua maior loja em Londres e de acordo com o chief digital officer Marco Ryan, um em cada dez clientes que experimentaram os dispositivos de realidade virtual reservaram logo ali umas férias. Uma experiência personalizada A realidade aumentada e a realidade virtual estão a tornar-se uma parte importante da experiência de compra personalizada e feita à medida, e a personalização, de acordo com o nosso estudo GfK “O comprador-jovem” apresentado recentemente, é muito apelativa ao público de 18-21 anos. Ao combinar a realidade aumentada com os wearables e a personalização envolvem o consumidor, tanto online como dentro ou perto das lojas físicas. Hoje e amanhã, estas técnicas oferecem novas formas de atrair os consumidores ligados tanto de forma visual como emocional. Um cliente pode ser alertado através do seu Google Glass ou do seu smart watch sobre uma promoção numa agência de viagens local, ou, através de um cartaz interativo, ser relembrado das atrações de um determinado destino turístico. O desafio está em acertar no equilíbrio entre o respeito pela privacidade das pessoas e a sua tolerância às mensagens, quando fornecem informação, que pode beneficiá-las diretamente, baseada nas suas preferências pessoais, tal como analisamos no relatório Tech Trends. As oportunidades que a realidade aumentada

e a realidade virtual podem trazer à indústria são imensas. Estas tecnologias estão a desenvolver-se numa forma relevante de marketing para uma nova geração de consumidores que facilmente se aborrecem e sentem-se confortáveis na interação com os mundos virtuais. Para os consumidores ligados do futuro, estas técnicas, que os transportam virtualmente para outros destinos e novas experiências, irão, sem dúvida, acolher bem a inovação. Com o aumento da tecnologia wearable e com a melhoria contínua da tecnologia, a oferecer novas e mais entusiasmadas formas de mostrar e promover uma experiência de viagem, a indústria das viagens poderá interagir e atrair clientes potenciais como nunca antes conseguiu. Evoluir com os tempos e abraçar as possibilidades oferecidas pela realidade aumentada e pela realidade virtual pode ser uma viagem animada. No entanto, a jornada mais importante de todas é a compreensão. Se tiver informações de alta qualidade sobre o comportamento dos clientes, as empresas de viagens podem otimizar as suas campanhas e aumentar o seu retorno de investimento. l

A realidade aumentada e a realidade virtual estão a tornar-se uma parte importante da experiência de compra

Laurens van den Oever GfK

#22 ABR/MAI 2016


28 Análise A Educação no Turismo e a bipolaridade

Recursos Humanos

A Educação no Turismo e a bipolaridade No passado dia 16 de de abril estive presente na 3ª edição do Portugal Tourism Challenges, organizado pelo Fórum Turismo 2.1. Este evento, que conta com oradores nacionais e internacionais, pretende estimular a partilha de experiencias profissionais relacionadas com temas sobre Social Media, Storytelling, User Experience, Online Selling, Trends, Gestão de Crises e outras mais. É notável a organização deste tipo de eventos, assim como a participação de jovens que pretendem acompanhar a evolução do conhecimento e as tendências que marcam a actividade turística. São sinais que enaltecem, os atuais e os futuros profissionais de turismo e que, rompem com a falta de formação ao longo da vida que se instalou, infelizmente, na vontade de muitos players do turismo.

P

odemos mesmo dizer que existe, finalmente, uma convergência de ideias sobre a importância da formação/educação nos recursos humanos do turismo. Aliás, é importante referir que de repente, todos os temas, apresentações e opiniões se viram para a importância da mesma, numa atividade que contribui para 7,9% do emprego em Portugal, de acordo com o World Travel & Tourism Council (WTTC). Para mim, que trabalho diariamente com a educação pessoal e profissional de centenas de jovens, é uma enorme satisfação perceber que existe, finalmente, uma consciência coletiva sobre o valor que os profissionais representam nos resultados do turismo português. Mas este valor deve estar assente em políticas que considere a formação/educação ao longo da vida, um valor ativo para as empresas. E perdoem-me os empregadores do setor, esta questão (salvo raras exceções) tem sido, até aqui, considerada como um parente pobre na maioria das empresas. Mas de facto estas considerações levam-me a refletir, novamente, sobre #22 ABR/MAI 2016

o binómio ensino/profissão no turismo. Porque algo não bate certo nesta suposta relação. Se não vejamos. O ensino superior (público e privado) vive tempos de alguma amargura, devido às questões demográficas, financeiras e também ao grau de exigência (exagerado!) imposto pela tutela (através da A3ES – Agencia de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior), relacionado com o número de professores doutorados, que devem lecionar na área do turismo e da hotelaria, em detrimento dos profissionais da área que podem transmitir os conhecimentos adquiridos ao longo do seu percurso profissional. Ou seja o artigo 6º do Decreto – Lei nº 115/2013, de 7 de agosto, refere que o corpo docente é academicamente qualificado, quando o mesmo é constituído por um mínimo de 50% de docentes com o grau de doutor


A Educação no Turismo e a bipolaridade Análise 29

nas áreas científicas das unidades curriculares que lecionam, com produção científica e investigação reconhecida na área. Como se deve calcular, devido à escassez de doutorados na área do turismo e na hotelaria, a questão complica-se. As contas são simples. Vejamos só o caso das licenciaturas. Existem 12 licenciaturas no setor privado e 31 licenciaturas no ensino público na área do turismo e o número de doutorados em Turismo deve atualmente rondar os 50 (segundo os últimos dados). Refira-se também, que a dedicação necessária à produção científica e à investigação afasta, na maioria das vezes, o corpo docente da realidade empresarial, levando à separação das duas realidades fundamentais para o ensino do turismo. Portanto a situação é claramente constrangedora. Por outro lado, se a sociedade portuguesa começa, paulatinamente, a responder de forma positiva à importância que a formação, a aquisição de competências e respetiva atualização de conhecimentos representa para todos os profissionais de turismo, por que razão a regulação das profissões, de guia turístico e de diretor de hotel, por exemplo, deixou de fazer sentido? O Decreto-Lei nº 92/2011 de 27 de julho aprovou a reformulação referente à qualificação e ao acesso às profissões em Portugal. Assim, foi criado o Sistema de Regulação do Acesso a Profissões (SRAP) que, em articulação com o Sistema Nacional de Qualificações (SNQ), criou o Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ). Para o desenvolvimento do SRAP foi criada a Comissão de Regulamentação do Acesso a Profissões (CRAP). Esta multiplicidade de organismos (típica do nosso pais!) implicou a desregulação cega de uma grande parte das profissões reconhecidas, retirando qualquer obrigação de qualificações mínimas para aceder a profissões com especificidades e características essenciais que importa garantir. Por exemplo, a desregulação da profissão de guia turístico provocou uma substancial degradação na qualidade dos serviços oferecidos aos

turistas que visitam o país, com óbvias e preocupantes repercussões na promoção do património cultural do país e na saúde económica do setor. Para perceber esta realidade basta ouvir, na Praça Luís de Camões (Lisboa), o que se diz por lá aos turistas. O mesmo acontece com a desregulação da profissão de diretor de hotel, já que para o ser não são necessários quaisquer requisitos mínimos. Qualquer um pode sê-lo. Aliás, a legislação vai mais longe e substitui a nomenclatura por “responsável operacional”! Então se as universidades se deparam com tantas exigências no seu funcionamento faz algum sentido que o final da linha, ou seja, o exercício da profissão, seja esvaziado de critérios e de requisitos? A ser assim estamos, claramente, perante uma política legislativa bipolar, no que diz respeito à formação no Turismo, mas que poderá melhorar com uma prescrição adequada. Como já tive oportunidade de referir, enquanto a política do turismo não integrar o ensino do mesmo, não me parece que os resultados sejam frutíferos, por mais que aumentem os valores referentes à procura turística, tão apregoadas ultimamente. l

“enquanto a política do turismo não integrar o ensino do mesmo, não me parece que os resultados sejam frutíferos”

Mafalda Patuleia Diretora do Departamento de Turismo do Grupo Lusófona

#22 ABR/MAI 2016


30 10 Insights Tendências em Tecnologia

10

Insights: tendências em tecnologia

“Guerras” de vídeo As guerras do mobile vídeo vão aquecer, com os vencedores e derrotados a começarem a emergir em categorias distintas de conteúdos. As marcas e os media vão aumentar o número de vídeos que irão publicar diretamente no Facebook e este possivelmente irá ultrapassar o YouTube em termos de uploads de vídeo e visualizações.

Métrica em vídeo sem normas Plataformas como o Facebook, YouTube e outras, usam diferentes sistemas de métrica para contar as visualizações. Os marketeers e os editores vão começar a exigir um padrão que determine o que é uma visualização. Os serviços de streaming com base em assinatura, como o Netflix, também terão de dar informações sobre os hábitos de visualização à medida que os espetadores migram para o online.

Aumento da publicidade nativa A publicidade nativa, que inclui entre outros o conteúdo patrocinado, por natureza, não diminui a experiência do utilizador, acreditamos que uma migração para nativa poderia ajudar a redefinir a perceção de publicidade digital dos usuários, e , por sua vez , diminui a necessidade de bloqueadores de anúncios .

Mais aplicativos corporativos Esperam-se mais parcerias entre empresas como a Apple e a IBM destinadas a permitir que os dispositivos móveis tenham uma aplicação mais útil nas novas indústrias. A maior necessidade de tais aplicações empresariais irá catalisar um crescimento semelhante de outros fornecedores de aplicações e soluções.

Tecnologia Blockchain Tem o potencial de eliminar a necessidade de intermediários de confiança nas transações financeiras, reduzindo os custos associados a essas operações. Apesar dos bancos terem perceções diferentes de como será a tecnologia disruptiva blockchain, parecem concordar no seu potencial subjacente para estimular a economia de custos. #22 ABR/MAI 2016


Tendências em Tecnologia 10 Insights 31

mPOS em crescendo As aplicações de gestão alojadas em dispositivos móveis de ponto de venda (mPOS) vão ser uma necessidade para os negócios pequenos. No centro desta tendência está o business data. As apps que venham a gerar visões ou perceções utilizando estes dados irão ser a mais adotadas. Para as empresas tal irá significar mais tráfego e volume de transações no front-office e uma maior eficiência operacional no back-office.

Apps móveis de pedidos As aplicações móveis de pedido serão um canal de transação importante para restaurantes de serviço rápido. Estes estão a investir em plataformas de encomendas/pedidos digitais para aumentar o volume, a frequência, lealdade e as vendas. Para maximizar as vantagens de encomendar através dos dispositivos móveis, os restaurantes vão incentivar os consumidores com programas de fidelidade e recompensa.

Facebook e o e-commerce O Facebook vai ser um elemento essencial no e-commerce. Atualmente as vendas derivadas da rede social representam um nicho, mas estimase que no futuro próximo o Facebook venha a representar um papel mais importante no retalho devido à introdução de novos serviços.

Beacons vão estar na moda A utilização de aplicações de compras aumentou 174% e como resultado têm servido de proxy para sistemas de marketing baseados na proximidade, tais como beacons. Estes são dispositivos wireless que permitem que marcas e lojas enviem promoções e descontos para os smartphones dos compradores com base na sua localização.

Marketing afiliado O marketing afiliado, tática baseada no desempenho através da qual os anunciantes premeia os afiliados (parceiros) por cada visitante ou cliente que referirem. É uma das fontes de receita com maior crescimento online e deverá manter o ritmo. Business Insider 25 Big Tech Predictions for 2016

#22 ABR/MAI 2016


32 Lifestyle Viajar pelo mundo e estar cá para contar

Viajar pelo mundo e

estar cá para contar Os blogues e as redes sociais vieram mudar a forma como as pessoas partilham o seu quotidiano na internet, mas há quem o faça de maneiras muito especiais e com objetivos diferentes dos da maioria. São os casos de Carla Mota e Rui Pinto, do blogue “Viajar entre Viagens”, e de Gabriel Mendes, de “Uma Foto, Uma História”, que percorrem o mundo à procura da próxima aventura para contar, cada um com o seu estilo bastante próprio.

O

Gabriel alia as qualidades da sua fotografia à escrita, onde também dá cartas, pois considera ser “impensável não registar os momentos que vivo em fotografia e não os vir a recordar no futuro. No fundo, é essa a essência disto tudo: uma forma de prolongar no tempo as memórias”. Tanto num caso como no outro, são já muitos anos na “estrada” e, consequentemente, muitas viagens relatadas, por escrito e em fotografia. O importante, diz-nos Gabriel, é aprender e crescer em cada aventura. “Viajar torna-nos mais humildes, menos preconceituosos, mais gratos por aquilo que temos. Como costumo dizer, fortalece-nos o carácter”. Afinal, não existem duas viagens iguais e em qualquer uma delas existe espaço para surpresas; algumas desagradáveis, outras nem lá perto, como #22 ABR/MAI 2016

é o exemplo da experiência vivida pela Carla e pelo Rui no Irão, um país que lhes preencheu os sentidos. “É tudo novo e é uma aprendizagem constante. Tem um património cultural e religioso inigualável. O facto de estar fechado ao ocidente é uma vantagem (para os viajantes, claro), pois evita os efeitos negativos do mundo globalizado. Respira-se cultura. A ideia “vendida” pelos media faz-nos ver o país com olhos errados. É o povo mais acolhedor e simpático que já conheci. É a prova evidente de que os países não são os governos, mas sim as pessoas”. É, por isso, crucial manter a mente aberta e recetiva a outras formas de expressão cultural, seja qual for o nosso destino. “Quando viajamos, não devemos julgar os países à luz daquilo que consideramos ser o bom ou o mau. Nada é a preto e branco. O mundo é muito mais cinzento. Há coisas


Viajar pelo mundo e estar cá para contar Lifestyle 33

boas e más em todo o lado, quando viajamos devemos tentar aproveitá-las e compreendê-las todas”. Com tantos sítios no mundo – e até em Portugal - por conhecer, o que não falta são motivos sair do sofá e partir à descoberta. Para Gabriel, nem há muito em que pensar na hora de escolher o seu destino. “Depende de vários fatores, mas posso resumir numa trilogia: diferença cultural, paisagem e preço”. Os três fatores estão sempre interligados na hora da decisão final, mas Gabriel confessa ter um gosto especial em viajar para o estrangeiro. “Felizmente, tenho a sorte de conhecer Portugal muito bem, fruto dos projetos que fui tendo. Assim, é natural que seja viajar para fora o que mais entusiasmo me traz”, explica-nos. Para a Carla e para o Rui, o processo de decisão do próximo local a conhecer é um pouco mais complexo. “Todas as viagens são um desafio. Um desafio aos sentidos, um desafio à resistência física, um desafio à força e determinação, um desafio económico… viajar é desafiar todos os dias essa aventura. Sabemos sempre como o dia começa mas nunca sabemos como acaba”. Além disso, “todas as viagens têm um objetivo, e esse objetivo tem sempre a ver com as características históricas e geográficas dos lugares. Quando em 2008 fizemos o Transmongol (uma variante do transiberiano), o objetivo era atravessar a Europa e a Ásia em transportes públicos. Começamos em São Petersburgo e atravessamos a Rússia, a Mongólia e a China. A viagem terminou em Hong Kong. Outro exemplo foi a viagem de 2012. Como esse é o último ano do calendário Maia, resolvemos efetuar uma viagem pelos testemunhos das culturas mesoamericanas pré-colombianas. Assim, percorremos o México, o Belize, a Guatemala e as Honduras atrás de ruínas maias, astecas, toltecas, olmecas, zapotecas, entre outras”. Não será fácil planear, principalmente com a regularidade que o fazem, viagens pelos quatro cantos do globo, mas os nossos entrevistados preferem encarar a situação pelo seu lado positivo. “Encaramos as dificuldades como desafios. Gostamos de pensar que são parte de nós. O mundo é fácil”, afirmam a Carla e o Rui, que adotam uma postura semelhante à de Gabriel, que diz não ter “grandes dificuldades” no planeamento das suas viagens, fruto de ser um “organizador nato”, e que deixa ainda uma dica: “aconselho a levarem a maioria das coisas organizadas para que não percam tempo no local com essas tarefas”. Na mala, e ao contrário do que se possa pensar, nem é preciso levar muita coisa; apenas o essencial, que para a Carla e o Rui passa por “alguma roupa, a máquina fotográfica, material de trekking, muitos livros”, não podendo faltar um casaco de penas para os climas mais rigorosos. Mas o Gabriel simplifica ainda mais as coisas: “Levo apenas uma mochila pequena com três mudas de roupa (vou lavando onde fico alojado), material fotográfico e uns auscultadores para combater barulho de motores de aviões e ressonares alheios”. Antes de partir em viagem, porém, há que fazer contas à vida e, se possível, recolher patrocínios externos que permitam alguma folga financeira, mas, na maioria das situações, o dinheiro vem mesmo de quem viaja. No caso do Gabriel, o investimento é todo seu, enquanto a Carla e o Rui recebem apenas alguns apoios de empresas importantes no mercado do material técnico de montanha. De resto, “o investimento é todo do nosso bolso”. Recentemente, tanto “Viajar entre Viagens” como “Uma Foto, Uma História” foram distinguidos nos Blogger Travel Awards: o primeiro na categoria “Melhor Blogue de Viagens Eleito pelo Público”, o segundo na “Melhor Blogue de Fotografia de Viagens”, prémios bastante prestigiantes no meio

É crucial manter a mente aberta e recetiva a outras formas de expressão cultural, seja qual for o nosso destino

e importantes para a divulgação dos projetos em causa. l

Gonçalo Santos Jornalista

#22 ABR/MAI 2016


34 Viagem de: Ruben Rua

Se pudesse escolher uma viagem para fazer amanhã seria a Indochina: Camboja, Vietname e Laos

Ruben Rua Ponto Turismo › Qual foi o destino da sua vida até agora? Ruben Rua › Felizmente são tantos que me é difícil escolher. Tóquio foi possivelmente uma das cidades que mais me marcou até hoje. Foi em 2010 em que fui trabalhar e fiquei dois meses na cidade. Fui sozinho. Correu muito bem em termos pessoais e profissionais. Criei amizades que duram até hoje, descobri uma cidade que me conquistou a todos os níveis, culturalmente, socialmente. Acho que é uma cidade fascinante, com uma energia única. Acho que o povo japonês é o povo mais simpático, mais civilizado que conheci até hoje. Tóquio consegue jogar com duas componentes distintas mas que se equilibram muito bem. Por um lado é uma cidade muito tecnológica, muito moderna, com muita luz, mas ao mesmo tempo consegue ter um equilíbrio fantástico com a sua história e tradição. Eu adoro a Ásia, é o meu continente favorito, conheço já bastantes países e acho que nenhum deles consegue este equilíbrio entre o tradicional e o moderno tão bem. Por outro lado, também tenho um grande fascínio pelos Estados Unidos. Culturalmente diria que é muito diferente do Japão, mas acho que é um país fantástico, penso que aquela imagem do American Dream ainda está bastante patente, e isso agrada-me. Por outro lado, até há alguma confusão e aquele ritmo frenético que eu gosto. Nova Iorque é uma das minhas cidades favoritas. Mas fiz uma viagem pela costa oposta, por São Francisco, Las Vegas e que acabou em Los Angeles. Foi uma viagem que gostei imenso. São três cidades totalmente diferentes, acho São Francisco é uma cidade americana que se aproxima mais do conceito europeu, com uma boa qualidade de vida, mente aberta e boa para se viver. Las Vegas é uma “avenida” onde todos os pecados mortais acontecem, em que os hotéis são atrações turísticas. Los Angeles é a verdadeira cidade americana em que tudo é muito grande, tudo fica longe e que concretiza o sonho americano. Ponto T. › Qual é a viagem que falta fazer? R.R. › Faltam muitas. Tenho uma lista extensa de países que quero ir. Se pudesse escolher uma viagem para fazer amanhã seria a Indochina: Camboja, Vietname e Laos. Ou então Austrália. Quero muito fazer “um mochilão”. Ponto T. › O que é que leva sempre na mala? R.R. › Não sei, confesso que não tenho nenhum objeto que leve… alguma rou#22 ABR/MAI 2016

Sou muito “em Roma vamos ser romanos” pa, máquina fotográfica, passaporte, dinheiro. Mas levo acima de tudo uma mente aberta que acho que é muito importante ter quando viajamos. Não crio dogmas, nem preconceitos sobre nenhuma cultura, sou muito “em Roma vamos ser romanos”, aprender e regressar mais rico do que quando fui. Ponto T. › Quando tem tempo livre o que é que faz? R.R. › Infelizmente não tenho assim muito tempo livre quanto gostaria mas viajar será aquilo que possivelmente mais gosto de fazer. Comecei a viajar muito cedo com os meus pais, comecei a fazer campos de férias internacionais, como modelo viajei vários anos seguidos, por isso viajar é das coisas que mais gosto, mas também gosto de fazer exercício físico, gosto de ouvir música. Ponto T. › Qual é a sua maior fraqueza? R.R. › Acho que sou uma pessoa que valorizo muito as minhas derrotas e pouco as minhas vitórias. Ponto T. › E se tivesse um superpoder qual é que gostaria de ter? R.R. › Às vezes gostava de poder voar e assim poder viajar muito mais e mais rápido. Ponto T. › Tem algum livro na cabeceira ou algum que o tenha marcado R.R. › Tantos… “A sul da fronteira, a oeste do sol”, de Haruki Murakami. l




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.