Revista do Meio Ambiente 09

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Editorial

Por Vilmar Sidnei Demamam Berna*

Meio ambiente e espiritualidade

ue valor tem um mico-leão ou um ecossistema inteiro para uma jovem mãe que não tem o que fazer para alimentar os próprios filhos, ou para alguém que não consegue se libertar das drogas, ou vive na solidão, ou não consegue ser feliz? Pessoas infelizes, solitárias, exploradas, humilhadas tendem a não conseguir estender o olhar além de sua própria miséria pessoal. Como serão capazes então de sensibilizarem-se com a superexploração do Planeta, a poluição e destruição do meio ambiente, a extinção de espécies da fauna e da flora, se elas próprias se sentem ameaçadas de extinção? Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, 19% de todas as mortes no Brasil poderiam ser evitadas. 84% da população reside nas cidades onde a poluição do ar urbano mata 12,9 mil pessoas/ ano. 22% das pessoas vivem abaixo da linha da pobreza, a deficiência de água tratada e de redes de esgoto tira a vida de 15 mil brasileiros/ano. No mundo a situação é pior. Cerca de 13 milhões de mortes poderiam ser evitadas por medidas que tornassem o meio-ambiente mais saudável, disse a OMC. Quantas vezes ouvimos alguns dizerem que as lutas ambientais não são para países pobres ou em desenvolvimento, mas apenas para países ricos, que já resolveram a maior parte de seus problemas. Revelam uma visão romântica da natureza, como se a espécie humana não fizesse parte dela. Por outro lado, só serão capazes de se dedicar às lutas socioambientais pessoas ricas, saudáveis, amadas e felizes? Em mais de duas décadas de militância convivi com parceiros e companheiros e companheiras de luta muitos já idosos, outros portadores de doenças graves, ou desempregados, ou pobres,

mas que sempre encontraram e ainda encontram – dentro de si a força e a capacidade de continuar lutando por causas coletivas, como as ambientais. Que mistérios movem o espírito humano que faz as pessoas superarem condições existenciais injustas e mesmo a se superarem em capacidades e talento para se dedicar a lutas como as ambientais, sem expectativa de algum ganho financeiro ou vantagem de qualquer natureza? E em boa parte dos casos sequer contarão com o conforto da vitória, pois geralmente se luta contra interesses econômicos e políticos poderosos! Muito menos devem contar com o reconhecimento da sociedade cuja opinião pode ser manipulada por pessoas inescrupulosas e gananciosas que colocam os ambientalistas contra a população, como se estes fossem inimigos do progresso, do emprego. O que faz pessoas comuns se transformarem em guerreiros incansáveis na luta pela defesa do meio ambiente, muitas vezes tirando energia da própria sobrevivência pessoal ou de sua família? O que faz essas pessoas mesmo ameaçadas de morte continuarem lutando pelo direito de todos, a ponto de perderem a própria vida, assassinados, como Chico Mendes, Dionísio, no Tinguá (RJ), Paulo Vinhas, no Espírito Santo, e tantos outros mártires da causa ambiental no Brasil? O que faz uma pessoa como o Francelmo atear fogo no próprio corpo, em praça pública, numa tentativa de proteger o Pantanal ameaçado por usineiros de álcool e outros projetos predatórios? Da mesma maneira, e por outro lado, o que existe no espírito dessa grande maioria de pessoas que, mesmo conscientes e sabedoras da gravidade dos problemas ambientais, ou da dor de semelhantes, escolhem ficar indiferentes, escolhem não

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lutar, escolhem usar a inteligência para encontrar desculpas para não fazer nada, em vez de arranjar um jeito de fazer alguma coisa? O nome seria amor? Existem pessoas que amam demais, a ponto de entregarem seu talento, seu tempo e até mesmo sua vida pelo outro em sua acepção mais ampla, a ponto de incluir não só nosso semelhante, mas as plantas, os animais, o planeta inteiro? Existem pessoas incapazes de amar, de serem solidárias com o outro, que vêem apenas a si próprias e aos seus interesses? O Papa disse certa vez que o capitalismo falhou com a humanidade em não acabar com a pobreza, ao se transfor mar numa ferramenta eficaz de acumular riquezas, mas não de distribuir estas riquezas. Neste sentido, creio que cabe também dizer que as religiões falharam ao não conseguirem que as pessoas priorizassem em suas escolhas a solidariedade em vez da competividade, do individualismo, da ganância; o cultivo do ser, da espiritualidade, em vez do ter, do materialismo, raízes do estilo de vida humana sobre o Planeta e que está levando ao rápido esgotamento dos ecossistemas, à degradação e à poluição. Nor malmente, diante da grandeza e da enormidade dos problemas ambientais, as pessoas costumam imaginar que a saída está no progresso da ciência e da tecnologia, como se a ciência fosse neutra e não fosse a responsável, por exemplo, pelas bombas atômicas ou pela tecnologia suja que queima combustíveis fósseis. Alguns preferem acreditar no senso de sobrevivência da humanidade e na tomada de consciência da opinião pública, mas esquecem que a maioria também erra, como no caso da crucificação de Jesus Cristo, ou na eleição de Hitler. Outros preferem

apostar no surgimento de novos políticos, mais conscientes e comprometidos com os interesses do povo e não dos seus próprios. O que há de comum em pessoas que pensam assim é que o mundo melhor que imaginam, começa no outro, depende do cientista, do instinto de sobrevivência ou dos políticos. Esquecem que o mundo melhor que queremos depende de todos, claro, mas começa em nós, principalmente. De nada adianta uma nova ciência ambiental e novas tecnologias limpas se continuarmos usando o Planeta e o próximo como se fossem descartáveis. A reciclagem das latinhas de alumínio no Brasil, por exemplo, não serviu para diminuir a produção de alumínio e assim poupar o Planeta. Ao contrário, serviu para que a indústria do alumínio pudesse lucrar mais vendendo a produção excedente para outros países que preferem não destruir e poluir o solo com a exploração da bauxita, nem arcar com a construção de novas fontes geradoras de energia para produzir alumínio. Creio que é no espírito humano que vamos encontrar as verdadeiras causas – e as soluções - para nossos problemas, pois a destruição e poluição ambiental são efeitos de um estilo de vida egoísta, ganancioso, indiferente com a dor e o sofrimento alheios. Meu abraço fraterno e ecológico a todos,

Vilmar Sidnei Demamam Berna - Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente

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Expediente FUNDADOR Vilmar Sidnei Demamam Berna - Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente CONSELHO EDITORIAL Amyra El Khalili ,André Trigueiro,Aristides Arthur Soffiati, David Man Wai Zee, Flávio Lemos de Souza. Ricardo Harduim, Rogério Ruschell PROGRAMAÇÃOVISUAL Leonardo Ciannella -VX STUDIO Soluções Criativas - leonardo@vxstudio. com.br WEBMASTER Leandro Maia Araújo - leandromaiaaraujo @hotmail.com - Tel.: (021) 96062126 CORRESPONDENTES • Juliana Radler (Internacional) - (21) 2210-2192 - julianaradler@hotmail.com

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REBIA SUL - rebiasul-subscribe@ yahoogrupos.com.br Moderadores: Paulo Pizzi * Os artigos assinados não traduzem necessariamente a opinião da Revista.

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tivos, CNPJ: 05.291.019/0001-58 Inscrição estadual e municipal: isentas - sede à Trav. Gonçalo Ferreira, 777 - Casarão da Ponta da Ilha, Bairro Jurujuba , Niteró , RJ - Brasil - Telefax: (21) 2610-2272 / Presidente do conselho diretor: Sérgio Ricardo F e r r e i r a H a r d u i m , b i ó l o g o e Educador Ambiental editada em parceria com a ASSOCIAÇÃO ECOLÓGICA PIRATINGAÚNA - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP, (Proc. nº 08015.000703/2003-31 Secretaria Nacional de Justiça, 10 de março de 2003, Diário Oficial da União de 17/ 03/ 2003 / Utilidade Pública Municipal ( LEI 3.283 de 04 de março de 2002) / CNPJ: 03.744.280/0001-30 / Rua Maria Luiza Gonzaga, nº 217 - no bairro Ano Bom - Barra Mansa, RJ CEP: 23.323.300


Ecologia Interior

E a Terra sorriu Leonardo Boff, Teólogo*

xatamente no primeiro dia do inverno, quando já começa a esfriar e quase todas as folhas que deviam cair já caíram como as do meu pé de caqui, floresceu completamente a cerejeira japonesa em frente à minha janela. Há uma semana percebi que brotos estavam irrompendo, depois se desenvolveram com uma cor arroxeada e de repente, numa manhã, estavam quase todos abertos. Pela tarde do mesmo dia, 21 de junho, início do inverno, se abriram totalmente. Para mim que procuro ler sinais nas coisas, pois elas têm sempre um outro lado e o invisível é parte do visível, foi uma revelação. Estou aqui escrevendo sobre a nova moralidade que urge viver no meio do aquecimento global já iniciado. Digo que se queremos salvar a biosfera e preservar nossa Casa Comum, habitável para toda a comunidade de vida, temos que resgatar, antes de qualquer outra medida, a dimensão do coração e a razão sensível. Se não sentirmos a Terra como nossa Grande Mãe que devemos cuidar como filhos e filhas bons e responsáveis serão insuficientes as necessárias iniciativas técnicas que tomarão as grandes empresas, os governos, outras instituições e as pessoas. Nascemos da generosidade do cosmos e da Terra que nos providenciaram as condições essenciais para a vida e sua evolução e será a mesma generosidade a nossa contrapartida. Esta florada da cerejeira japonesa que ocorre uma única vez ao ano, é um aceno que a própria Terra gratuitamente nos dá. Ela nos está dizendo: “mesmo que caiam todas

as folhas, mesmo que os galhos pareçam ressequidos durante quase todo o ano, mesmo que impere a dúvida se morreu ou ainda está viva, de repente, eu ouso revelar o mistério que escondo: a capacidade de regeneração e a vontade de sorrir gaiamente, de irradiar beleza e provocar êxtase”. Algo semelhante deve ocorrer com a crise ecológica e com as ameaças que pesam sobre o destino futuro da biosfera e da vida humana. Estimo que não se trata de uma tragédia cujo fim seria funesto mas de uma crise cujo termo é um novo estado de saúde e de consciência, mais vigoroso e mais alto. Logicamente, depende de nós transformarmos os sintomas de tragédia em sinais de crise acrisoladora (*). E o faremos, pois o instinto básico, já o reconhecia Freud, não é o de morte, mas o de vida, mesmo que passando pela morte. A vida que há 3,8 bilhões de anos irrompeu na Terra, passou por muitas dizimações. Elas nunca foram terminais. Foram crises que criaram oportunidades para a emergência de formas mais complexas de vida. A vida é chamada para mais vida. Esta é a seta da evolução e a dinâmica do universo. As flores da cerejeira japonesa significam o sorriso radiante da Terra quando me-

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nos se esperava dela. Pois o inverno é tempo de recolhimento e de retirada sustentável para recobrar forças vitais que depois irromperão vitoriosas e deslumbrantes. A Mãe Terra nos quer transmitir uma mensagem: “apesar de todas as agressões que sofro, da respiração ofegante que tenho devido às contaminações atmosféricas, não obstante o sangue de meu cor po contaminado e os meus pés chagados por causa de venenos, ainda assim tenho energia vital escondida;

ela não é infinita, mas é suficientemente poderosa para resistir, para se regenerar e para voltar a sorrir. Apenas dêem-me, por piedade filial, um pouco de tempo para descansar e um gesto de amor e de cuidado para me fortalecer”. (*) Acrisoladora está ligada à crise cuja raiz é crisol, elemento que purifica o ouro das gangas. Em sanscrito kri ou kir donde vem crise significa purificar, acrisolar, limpar.

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OPINIÃO

Por Marc Dourojeanni*

Efeito estufa e segurança nacional

Da enorme quantidade de documentos sobre o efeito estufa que estão circulando pelo mundo afora, existe um particularmente interessante, porque é diferente. Não aporta dados novos sobre o fenômeno, mas ressalta, com precisão militar, algumas das suas conseqüências para a sociedade. Com efeito, um grupo de oficiais norte-americanos aposentados, da mais alta patente e com histórias de vida notáveis, nesse documento correlacionam as implicações das mudanças climáticas previstas com os riscos, muitos deles inéditos, que agora ameaçam a segurança dos EUA. A América

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Latina é frequentemente mencionada no relatório, mas o importante é que os riscos que prevêem para os EUA têm grandes probabilidades de afetar igualmente a América do Sul. Trata-se do relatório “National security and the threat of climate change” (“Segurança nacional e mudanças climáticas”) preparado pelo Military Advisory Board (Grupo Assessor Militar) da CNA Corporation, um conhecido grupo de reflexão dos EUA. Os militares que compõem o grupo incluem personagens do ca-

libre do Vice Almirante Richard H.Truly, que foi Administrador da NASA e, ademais, recebeu suporte técnico das maiores eminências de áreas científicas do país. Evidentemente o relatório discute os riscos e alternativas para a segurança dos EUA e faz as recomendações que melhor convém a esse país. Mas é provavelmente o melhor e mais transparente relato das ameaças que as sociedades de qualquer país do mundo deverão enfrentar em breve e, entre linhas, as que por conta do processo podem se derivar da atitude das grandes potências com relação a outros países. Merece ser lido com cuidado, em especial por políticos e por responsáveis das forças armadas da América Latina. Segundo o documento, nada no cenário geopolítico mundi-

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al ficará no curso previsto até agora, se as previsões sobre impacto da mudança do clima se materializarem. O resumo do relatório indica quatro conclusões gerais: • a mudança climática esperada é uma ameaça muito séria para os EUA; • ela atuará como multiplicadora da instabilidade nas regiões mais voláteis do mundo; • aumentará as tensões, inclusive em áreas atualmente estáveis como a União Européia e a América Latina e; • a mudança climática, a crise energética e a segurança nacional são temas interdependentes que devem ser abordados em conjunto. O relatório faz cinco recomendações ao governo: (i) integrar plenamente o


OPINIÃO tema da mudança climática nas estratégias de segurança e defesa nacional; (ii) os EUA devem exercer um rol bem mais forte que o atual, nos planos nacional e internacional, para ajudar a minimizar a mudança climática nos aspectos que mais podem influir na segurança e estabilidade; (iii) os EUA devem cooperar com países menos desenvolvidos para ajudar-lhes a dispor de capacidade para manejar a mudança climática; (iv) o Departamento da Defesa deve promover, através do setor privado, as melhorias tecnológicas que aumentarão o poder combativo das forças armadas por meio da maior eficiência energética e; (v) o Departamento da Defesa deve avaliar a situação das instalações militares frente aos riscos decorrentes da mudança climática.

nando o aumento da delinqüência, do extremismo e de outros elementos da instabilidade. A brecha entre ricos e pobres, para enfrentar os novos problemas, será muito maior e as tensões sociais aumentarão inevitavelmente.Todas essas situações, segundo o relatório, serão terreno fértil para mudanças políticas drásticas, revoluções e novas ditaduras e, especialmente, serão favoráveis para o terrorismo em todas as suas modalidades, especialmente a internacional. A América do Sul, no documento, merece menos atenção que a África, Ásia e o Oriente Médio, embora não deixe de ser citada. A perda drástica, já evidente, das geleiras andinas tropicais é mencionada como exemplo de uma tragédia anunciada para a populosa costa do Peru, que depende exclusivamente dessa fonte para a agricultura, geração de energia e consumo urbano. Lima, uma cidade de uns sete milhões de habitantes, localiza-se em um deserto absoluto e muito mais da metade dessa população mora diretamente sobre a areia das colinas dos arredores, onde a água já é fator limitante. Eles, quase todos migrantes da década do terror imposto pelo Sendero Luminoso, são os mais pobres. Mais ainda, muitas das cidades da costa peruana, como Callao, na Grande Lima, têm extensas áreas pouco acima do nível do mar. Uma subida do mar de poucos centímetros pode multiplicar a intensidade de fenômenos comuns, como ressacas e, claro, deslocar outra porção da população. Fácil é imaginar as convulsões sociais que essa cidade sofrerá quando a escassez de água e os impactos costeiros forem mais agudos. Os habitantes dos vales andinos padecerão do mesmo problema de escassez de água, mas, o mais grave, é que o futuro da agricultura nesse país, irrigada quase na sua totalidade, também é uma incógnita. O problema mencionado para o Peru afetará também partes do Equador, Bolívia e Venezuela. O Brasil, no relatório, apa-

As mudanças climáticas impactarão diretamente na disponibilidade de água, na produção de alimentos e na saúde. E provocarão consideráveis perdas de terra por alagamento nas áreas costeiras, que são as mais povoadas. Alguns países e regiões terão muita água doce e outros, pelo contrário, a cada dia terão menos. O incremento da violência dos fenômenos climáticos impactará mais na infra-estrutura, superando a capacidade dos governos de prestar assistência e recuperá-la, disseminando insatisfação popular, como aconteceu até nos EUA com o furacão Katrina. Os enormes câmbios previsíveis na capacidade de cada país para produzir alimentos que, por razões naturais e sócio-econômicas, afetarão mais aos menos desenvolvidos, provocarão novos processos migratórios em procura de recursos, ou aumentará os atuais. A maior incidência de enfermidades, agora sob relativo controle, exacerbará os processos migratórios e disseminará os problemas sanitários. Assim, governos que atualmente parecem estáveis poderão perder o controle, ocasio-

rece sob uma ótica mais otimista, embora muito do que ele conclui se aplica igualmente a este país como, por exemplo, o incremento de migrações indesejadas de países vizinhos. O relatório menciona o poder desestabilizante do impacto das inundações e dos fenômenos meteorológicos, como tormentas e ciclones no litoral e o incremento do impacto das secas no Nordeste ou, possivelmente, na Amazônia. Em um parágrafo menciona a incapacidade de o governo brasileiro para controlar o crime organizado (o Primeiro Comando da Capital) no Rio de Janeiro como um exemplo de problemas que poderão proliferar e acar retar mudanças sociais importantes. O relatório não tem preocupação ambiental. Não abunda em dados, nem oferece dados novos e nem menciona, por exemplo, os riscos de perda da biodiversidade e as implicações econômicas. Sobre o último, apenas menciona que a economia de todos os países e do mundo vai sofrer grandes modificações. O relatório só é uma aproximação geo-estratégica do que se espera aos EUA no futuro mediato e uma invocação para que o governo e os militares tomem medidas urgentes. Por isso é um enfoque original e, como mencionado antes, outra tarefa que dele deriva dele é de se ler entre linhas o que a América Latina pode esperar dos EUA se as previsões das mudanças climáticas se cumprirem. De uma parte, é provável que

seja possível obter mais apoio dos EUA e dos países ricos para amenizar o efeito estufa ou suas conseqüências.Também, é de se supor que virá mais apoio para que os governos dos países da região não percam o controle, ou seja, que mantenham a “estabilidade” social, que o relatório menciona com tanta freqüência e como tão desejável. De outra, é evidente que a partir do momento em que os EUA considerarem os acontecimentos em um país qualquer como risco sério, eles se reservam o direito de intervir da forma que os mesmos julguem adequada. Isso, de fato, não é novidade, mas agora adquire um novo perfil e suas probabilidades aumentam muito. Por tudo isso, analisar cuidadosamente essa problemática e, assim mesmo, levar mais a sério o que acontecerá em termos de convulsões sociais em cada país da região, é uma tarefa tão urgente por aqui como nos EUA. * Foi professor e decano da Faculdade Florestal da Universidade Nacional Agrária de Lima, Peru e Diretor Geral Florestal desse país. Atualmente é Presidente da Fundação ProNaturaleza. Fonte: http://ar ruda. r its.org.br/oeco/servlet/ newstorm.ns.prese ntation.NavigationServlet?p ublicationCode=6&pageC ode=80&textCode=21928&date=c u r r e n t D a t e & c o ntentType=html

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CLIMA Por Fiona Harvey e Stephen Fidler*, de Londres - Financial Times (26/04)

Esquema de comércio de carbono freqüentemente não é tão verde gulado para créditos de carbono deverá mais que dobrar de tamanho até 2010, para US$ 68,2 bilhões, enquanto o setor voluntário não regulado deverá aumentar para US$ 4 bilhões no mesmo período. A investigação do FT encontrou: • Muitos casos de pessoas e organizações comprando créditos sem valor que não produzem nenhuma redução de emissões de carbono. • Indústrias lucrando apesar de fazerem muito pouco - ou ganhando créditos de carbono com base em ganhos de eficiência com os quais já se beneficiaram substancialmente. • Corretores fornecendo serviços de valor questionável ou sem valor. • Uma escassez de verificação, o que dificulta para os compradores avaliarem o verdadeiro valor dos créditos de carbono. • Empresas e indivíduos estão arcando com a despesa da compra privada de permissões de carbono da União Européia, que despencaram de valor por não resultarem em redução de emissões. Francis Sullivan, consultor de meio ambiente do HSBC, o maior banco do Reino Unido que se tornou neutro em carbono em

Empresas e indivíduos com pressa em se tornarem verdes têm gasto milhões em projetos de “crédito de carbono” que produzem pouco ou nenhum benefício ambiental. ma investigação do “Financial Times” descobriu grandes falhas nos novos mercados para gases responsáveis pelo efeito estufa, sugerindo que as organizações estão pagando por reduções de emissões que não estão ocorrendo. Enquanto isso, outros estão obtendo grandes lucros com o comércio de carbono com gastos muito pequenos e, em alguns casos, limpezas que teriam feito de qualquer forma. O crescente peso das políticas ambientais provocou uma “corrida ao ouro verde”, que assiste a uma expansão dramática no número de empresas que oferecem tanto para companhias quanto indivíduos a chance de se tornarem “neutros em carbono”, compensando seu própr io uso de energia com a compra de créditos de carbono que cancelam sua contribuição ao aquecimento global. O desabrochante mercado re-

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2005, disse que encontrou “sérias preocupações de credibilidade” no mercado de compensação após avaliá-lo por vários meses.“A polícia, o esquadrão antifraude e os órgãos reguladores precisam avaliar isto. Caso contrário, as pessoas perderão sua confiança nele”, ele disse. Tais preocupações levaram o banco a ignorar o mercado e financiar diretamente seus próprios projetos de redução de carbono. Algumas empresas estão se beneficiando em pedirem aos consumidores “verdes” que paguem pela limpeza de sua própria poluição. Por exemplo, a indústria química DuPont convida os consumidores a pagarem US$ 4 para a eliminação de uma tonelada de dióxido de carbono de sua fábrica em Kentucky, que produz um potente gás responsável pelo efeito estufa chamado HFC-23. Mas o equipamento necessário para reduzir tais gases é relativamente barato. A DuPont se recusou a comentar a se recusou a detalhar seus lucros com o projeto, dizendo que está em um estágio inicial e portanto é muito cedo para discuti-lo. O FT também encontrou exemplos de empresas que se estabeleceram como compensadoras de carbono sem terem idéia de como os mercados operam.

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Em resposta às perguntas do FT sobre suas fontes de créditos de carbono, uma empresa, a carbonvoucher.com, disse não receber pagamentos pelas compensações. A Blue Source, uma empresa de compensação americana, convida os consumidores a compensarem as emissões de carbono investindo em maior recuperação de petróleo, que injeta dióxido de carbono em poços esgotados para extrair o petróleo restante. Mas a Blue Source disse que devido ao alto preço do petróleo, este processo freqüentemente é lucrativo por si só, o que significa que os operadores estão ganhando uma receita extra com a venda de “créditos de carbono” para enterrarem o carbono. Não há nada ilegal nestas práticas. Mas algumas empresas que estão compensando suas emissões evitam tais projetos porque os consumidores podem considerálos controversos. A BP disse que não compra créditos resultantes de melhorias em eficiência industrial ou da maioria dos projetos de energia renovável em países desenvolvidos. *Com reportagem adicional de Rebecca Bream com tradução de George El Khouri Andolfato.


Florestas

Deter o desmatamento é essencial para evitar o aquecimento global drew Mitchell, “as florestas precisam ter prioridade nos esforços para mitigar as missões globais porque a captura de carbono ou a tecnologia nuclear levarão décadas para ter qualquer impacto significativo em reduzir as emissões, enquanto podemos combater o desmatamento já, sem a necessidade de inventar nada novo ou de infra-estrutura cara”, diz ele na carta de apresentação do relatório. Os cientistas alegam que um dia de desmatamento equivale à “pegada de carbono” de oito milhões de pessoas voando de avião para Nova York. A maneira mais rápida e mais barata de reduzir estas emissões é mitigar a destruição em países como Brasil, Indonésia e Congo, entre outros. Segundo o relatório, o Brasil é o quarto maior emissor de gases do efeito estufa por conta do desmatamento.

s queimadas de áreas florestais são a segunda maior fonte de emissões de gases do efeito estufa, tornando o combate ao desmatamento a forma mais fácil e barata de mitigar a ação do aquecimento global, segundo afirma um relatório publicado em maio, pela ONG Global Canopy Programme. Segundo o relatório, as queimadas provenientes dos desmatamentos respondem por 18% a 25% das emissões globais de gases do efeito estufa, atrás somente das emissões provocadas pelo uso de energia. Os setores de transportes e indústrias correspondem a 14% cada. Em comparação, a organização estima as emissões decorrentes das viagens aéreas, em 2% a 3% do total. Para o fundador da ONG, An-

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De acordo com as últimas estatísticas (de 2003), 2 bilhões de toneladas de CO2 provenientes do desflorestamento entram na atmosfera todos os anos. Essa destruição totaliza 50 milhões de acres – ou uma área do tamanho da Inglaterra, Gales e Escócia derrubada anualmente. Calcula-se que manter a “floresta de pé” é conter 1(um) trilhão de tonelada de carbono – o dobro do que já se tem na atmosfera. A conservação de florestas não está incluída no Protocolo de Kyoto, nem figura no mercado de carbono, apontado em maio pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas como a melhor saída para o aquecimento global. Os relatórios Stern (divulgado em outubro de 2006) e McKinsey (publicado em janeiro de 2007) concordam que as flo-

restas oferecem “a maior oportunidade singular para reduções lucrativas e imediatas das emissões de carbono”. A organização argumenta que uma das melhores formas de combater o desmatamento seria o estabelecimento de um mercado global de carbono, para que os países com mais emissões pudessem pagar pela conservação de áreas em outros países. O relatório estima em US$ 10 bilhões ao ano o ganho potencial que a preservação dessas áreas atualmente queimadas poderia trazer ao Brasil. Para a ONG, o Brasil já tem hoje leis adequadas para a preservação das florestas, mas não existe vontade política nem recursos para implementá-las. Fonte: Informativo Mater Natura Nº 46

Campanha da Fraternidade de 2007

Reflorestamento Solidário com Espécies da Mata Atlântica em Niterói A Arquidiocese de Niterói e a SMARH-Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Município de Niterói, iniciaram o Projeto de Reflorestamento Solidário com Espécies da Mata Atlântica em 23 de junho de 2007, na Igreja Santo Expedito, com a presença do Arcebispo Metropolitano de Niterói, Dom Frei Alano Maria Pena e do Prefeito do Município de Niterói, Prof. Godofredo Pinto. O projeto é uma parceria entre a Arquidiocese de Niterói e a SMARH Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Município de Niterói para o reflorestamento com espécies da Mata Atlântica no entorno de algumas Igrejas Católica no Município de Niterói no intuito de recuperar áreas degradadas pertencentes à administração do Vicariato Episcopal Niterói Norte e Vicariato Episcopal da Região Oceânica, com a participação das comunidades locais. A necessidade surgiu através da Campanha da Fraternidade de

2007 que é um convite para que se conheça, se aprecie e se respeite toda a vida que a Amazônia guarda: seu povo, sua biodiversidade, sua beleza. É um convite para que tomemos consciência da destruição que está sendo operada e conheçamos todo o sofrimento e a resistência da população amazônica que persiste em defender sua cultura, sua organização e sua maneira de conviver com a natureza. Na parceria, a SMARH cedeu à equipe técnica, mudas, insumos e equipamentos. Colaboram conosco a CLIN e Secretaria Municipal de Educação. Ao todo serão usados 2.500 kg de adubo e 50 kg de formicida. A área total a ser reflorestada é de 20.000 m2, com o plantio de 5.000 mudas. As Comunidades envolvidas serão: Igreja de Santo Expedito Fonseca (23/06); Paróquia de São Sebastião - Itaipu (30/06); Morro do Serrão (07/07); Parque Municipal das Águas Luiz Eduardo Travassos (14/07); Igreja Nossa Senhora de Fátima - Fátima (14/07);

São Gonçalo (21/07); e Igreja Nossa Senhora da Esperança Atalaia (28/07). A coordenação do projeto é da Comissão Arquidiocesana da Campanha da Fraternidade 2007, tendo a frente o Vigário Geral da Arquidiocese de Niterói, Mons. Valdir Mesquita.

Mais informações: Cúria Arquidiocesana - (21) 2610-2200 ramal 217 (Sr. Cláudio) ou Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói - Tel.: (21) 2613-2283 (Prof. Jefferson da Silveira Martins).

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Lixo & Reciclagem Energia

A farra dos sacos plásticos Por André Trigueiro*

Creio que um dos primeiros presentes que recebi de meus sogros emViena foram 2 bolsas de algodão para ir ao supermercado. Depois compreendi. Os supermercados, farmácias e boa parte do comércio varejista embalam em saquinhos tudo o que passa pela caixa registradora. Não importa o tamanho do produto que se tenha à mão, aguarde a sua vez porque ele será embalado num saquinho plástico. O pior é que isso já foi incorporado na nossa rotina como algo normal, como se o destino de cada produto comprado fosse mesmo um saco plástico... Nossa dependência é tamanha que quando ele não está disponível costumamos reagir com reclamações indignadas. Quem recusa a embalagem de plástico é considerado, no mínimo, exótico. Outro dia fui comprar lâminas de barbear numa farmácia e me deparei com uma situação curiosa: a caixinha com as lâminas cabia perfeitamente na minha pochete. Meu plano era levar para casa assim mesmo. Mas num gesto automático, a funcionária registrou a compra e enfiou rapidamente a mísera caixinha num saco onde caberiam seguramente outras dez. Pelas razões que explicarei abaixo, recusei gentilmente a embalagem. A plasticomania vem tomando conta do planeta desde que o inglês Alexander Parkes inventou o primeiro plástico, em 1862. O novo material sintético reduziu os custos dos comerciantes e incrementou a sanha consumista da civilização moderna. Mas os estragos causados pelo derrame indiscriminado de plásticos na natureza tornou o consumidor um colaborador passivo de um desastre ambiental de grandes proporções. Feitos de resinas sintéticas originadas do petróleo, esses sacos não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor na natureza. Usando a linguagem dos cientistas, esses saquinhos são feitos de cadeias moleculares inquebráveis, e é impossível definir com precisão quanto tempo levam para desaparecer no meio natural. No caso específico das sacolas de supermercado, por exemplo, a

matéria-prima é o plástico-filme, produzido a partir de uma resina chamada polietileno de baixa densidade (PEBD). No Brasil são produzidas 210 mil toneladas anuais de plásticofilme, que já representa 9,7% de todo o lixo do país. Abandonados em vazadouros, esses sacos plásticos impedem a passagem da água, retardando a decomposição dos materiais biodegradáveis, e dificultam a compactação dos detritos. Essa realidade que tanto preocupa os ambientalistas no Brasil, já justificou mudanças importantes na legislação - e na cultura - de vários países europeus. Na Alemanha, por exemplo, a plasticomania deu lugar à sacolamania (cada um levando sua própria sacola). Quem não anda com sua própria sacola a tiracolo para levar as compras é obrigado a pagar uma taxa extra pelo uso de sacos plásticos. O preço é salgado: o equivalente a sessenta centavos a unidade. A guerra contra os sacos plásticos ganhou força em 1991, quando foi aprovada uma lei que obriga os produtores e distribuidores de embalagens a aceitar de volta e a reciclar seus produtos após o uso. E o que fizeram os empresários? Repassaram imediatamente os custos para o consumidor. Além de antiecológico, ficou bem mais caro usar sacos plásticos na Alemanha. Na Irlanda, desde 1997 paga-se um imposto de nove centavos de libra irlandesa por cada saco plástico. A criação da taxa fez multiplicar o número de irlandeses indo às compras com suas próprias sacolas de pano, de palha, e mochilas. Em toda a Grã-Bretanha a rede de supermercados CO-OP mobilizou a atenção dos consumidores com uma campanha original e ecológica: todas as lojas da rede terão seus produtos embalados em sacos plásticos 100% biodegradáveis.Até dezembro deste ano, pelo menos 2/3 de todos os saquinhos usados na rede serão feitos de um material que, segundo testes em laboratório, se decompõe dezoito meses depois de descartado. Com um detalhe interessante: se por acaso não houver contato com a água, o plástico se dissolve assim mesmo, porque serve de alimen-

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Sacola de pano comprada pelo Vilmar Berna pelo equivalente a R$ 5,00 num supermercado na Alemanha onde as sacolas plásticas foram abolidas.

to para microorganismos encontrados na natureza. Não há desculpas para nós brasileiros não estarmos igualmente preocupados com a multiplicação indiscriminada de sacos plásticos na natureza. O país que sediou a Rio-92 (Conferência Mundial da ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente), e que tem uma das legislações ambientais mais avançadas do planeta, ainda não acordou para o problema do descarte de embalagens em geral, e dos sacos plásticos em particular. A única iniciativa de regulamentar o que hoje acontece de forma aleatória e caótica foi rechaçada pelo Congresso na legislatura passada. O então deputado Emerson Kapaz foi o relator da comissão criada para elaborar a “Política Nacional de Resíduos Sólidos”. Entre outros objetivos, o projeto apresentava propostas para a destinação inteligente dos resíduos, a redução do volume de lixo no Brasil, e definia regras claras para que produtores e comerciantes assumissem novas responsabilidades em relação aos resíduos que descartam na natureza, assumindo o ônus

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pela coleta e processamento de materiais que degradam o meio ambiente e a qualidade de vida. O projeto elaborado pela comissão não chegou a ser votado. Não se sabe quando será. Sabe-se apenas que não está na pauta do Congresso... Omissão grave dos nossos parlamentares que não pode ser atribuída ao mero esquecimento. Há um lobby poderoso no Congresso trabalhando no sentido de esvaziar esse conjunto de propostas que atinge determinados setores da indústria e do comércio. É preciso declarar guerra contra a plasticomania e se rebelar contra a ausência de uma legislação específica para a gestão dos resíduos sólidos. Há muitos interesses em jogo. Qual é o seu? Vamos fazer a nossa parte: mudar nossa conduta e repassar a mensagem deste texto. * André Trigueiro é pós-graduado em meio ambiente, jornalista, redator e apresentador de jornal da TV Globo)


Bom Exemplo Por Jaime Santorsula Martins*

Plástico ecologicamente correto

A tecnologia fica cada vez mais avançada quando se refere aos diversos setores industriais - tudo em prol da comodidade do ser humano. Uma grande representação deste benefício é o plástico. Você já imaginou como seria o mundo moderno sem ele? Com diversas classificações (duro, mole, resistente, quebradiço, flutua, afunda, colorido) é possível fazer embalagens (imagine quantos produtos são envasados por potes plásticos), objetos e até artefatos cirúrgicos, entre tantos outros produtos que facilitam o nosso dia-a-dia. Mas, como grande parte do avanço tecnológico provém da transformação de matérias-primas (ou seja, produtos extraídos diretamente da natureza), é certo que esse pro-gresso não é nem um pouco benéfico ao meio ambiente, o que não é segredo para ninguém. O material plástico sempre foi uma das grandes brigas dos ambientalistas.Trata-se de um produto considerado recente na história da humanidade.As primeiras pesquisas com o material foram feitas em 1862 por Alexander Parkes, que descobriu uma substância orgânica derivada da celulose, a que se deu o nome de “parkesina” (em referência ao seu descobridor). Esse material, quando aquecido, podia ser moldado e, depois de resfr iado, conser-vava a forma com que havia sido tratabalhado. Os ambientalistas implicam com o material por uma simples razão: a sua difícil degradação. Hoje, estima-se que o plástico demore mais de 100 anos para se decompor. Usabilidade Quem não se lembra de quando as embalagens de supermercados e lojas eram feitas de papelão? Como a resistência do produto era baixa, as sacolas plásticas foram tomando o lugar devido à flexibilidade, leveza e resistência do material. No entanto, as pessoas nem imaginam aonde a maioria destes sacos plásticos vai parar quando não mais tiver utilidade. A maioria vai parar em matas, rios, ruas e praias, o que gera um enorme dano ao meio ambiente.

Porém, de acordo com a máxima postulada por Lavoisier, pai da química moderna (“na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”), foi criada a tecnologia dos plásticos oxi-biodegradáveis. O produto é fabricado por uma empresa britânica, onde o produto mais procurado denomi-na-se D2W (degradável em água), e está sendo utilizado na fabricação de sacolas plásticas, sacos de lixo, frascos, tampas, potes e outros produtos. No Brasil, esta tecnologia chegou no fim de 2003. A descoberta deste material não é recente. Os estu-dos sobre o plástico ecologicamente correto começaram na década de 70, mas apenas em 2001 é que se conseguiu recursos tecnológicos que possibilitassem a fabricação em escala do produto e com preço competitivo.” Comparativamente, não existe diferença entre o plástico oxi-biodegradável e o não-degradável. Resistência, transparência, propriedade de impressão e permeabilidade são idênticas nos dois produtos. Até quando o assunto é reciclagem, a situação não é diferente. Os produtos fabricados com o plásti-co oxi-biodegradável podem ser reciclados, basta, durante o processo de transformação, interromper o efeito de degradação e, na fabricação do novo plástico adicionar o ativo degradável. Em razão do aditivo que proporciona a sua degradação, o plástico terá uma vida útil (tempo que pode ser utilizado

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sem se estragar) em condições normais de armazenamento.Após este prazo, o produto contendo o aditivo começará o processo de degradação, como explica o diretor comercial da RES Brasil, Nivaldo Bósio.”O prazo de vida útil do produto é de aproximadamente 18 meses em ambiente normal. Depois do prazo de ‘validade’, o produto passará pelo processo de degradação (ação do tempo) e biodegradação, caso seja exposto à luz solar, umidade excessiva, contato com microorga-nismos. Assim, a vida útil é diminuída”, diz. Num prazo de um ano e meio, o plástico ecologicamente correto pode estar degradado totalmente, mas, segundo Nivaldo, esse processo pode, em alguns casos, ser acelerado. “Em aterros sanitários, por exemplo, onde as condições são extremas (calor, contato com microorganismos, umidade) temos notícia de que sacos de lixo e de supermercados tiveram o início da degradação 40 dias após o descarte”, afirmou. “Após um pe-ríodo de vida útil proporcionado pela tecnologia, inicia-se a biodegradação pela quebra das cadeias moleculares de carbono e hidrogênio do plástico, fazendo com que essas cadeias se transformem em cadeias cada vez menores. As cadeias com tamanho bastante reduzido permitem que

microorganismos possam se ‘alimentar’, gerando vapor de água, gás carbônico e biomassa (que é energia)”, completa Bósio. Em razão dos benefícios ambientais, empre-sas com responsabilidade socioambiental estão adotando o produto. No Paraná, a Associação Comercial e Industrial de Maringá (ACIM) tomou conhecimento dos oxi-biodegradáveis em 2005 através da ONG Funverde. Por mais que o plástico biodegradável não seja uma solução final para o problema ambiental enfrentado por causa do grande volume de lixo plástico produzido, ele é resultado de um avanço tecnológico e contribui para a diminuição dos efeitos nocivos à natureza causados pelo plástico que não se decompõe. Mas é certo que isso não é o suficiente. Este material, mesmo sendo degradável, não deve ser jogado em rios, ruas e praias; e a população tem que fazer a sua parte. Enquanto a educação ambiental não se propagar a todos os níveis populacionais de uma cidade, estado ou país, de nada valerão os avanços tecnológicos desenvolvidos em benefício do meio ambiente. Fonte: Revista Qualitá Socioambiental

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COLUNA DO JC

O maior inventário sobre gestão ambiental já feito no Brasil anuário ANÁLISE GESTÃO AMBIENTAL resulta de uma pesquisa que consumiu sete meses de trabalho para averiguar o que se está fazendo no Brasil em termos de práticas ado-tadas pelo setor produtivo no Brasil para consumir menos recursos naturais como insumo e produzir menos resíduos. Os números obtidos revelam o maior levantamento sobre gestão ambiental já realizado pela imprensa brasileira e se baseiam nas respostas recebidas de mais de 500 das 1.000 maiores empresas do Brasil, 13 dos 30 maiores bancos, mais de 300 de 1 000 ONGs ambientais e 142 dos 280 procu-radores e promotores de meio ambiente contatados. O retrato colhido é, pode-se adiantar, extremamente animador. Todos, absolutamente todos os agentes - em-presas, bancos, ONGs e integrantes do Ministério Público - estão preocupados em fazer seu trabalho da melhor maneira possível.Evidentemente, quando ONGs e procuradores declaram fazer o melhor tra-balho possível, empresas e bancos podem ficar de cabelo em pé. Na opinião de procuradores e ONGs, as empresas fazem um trabalho que deixa a desejar. O levantamento realizado pela Análise Editorial sugere que a afirmação pode e merece ser revista. “Há empresas dando duro para se adequar o quanto an-tes ao conceito da sustentabilidade”, afir-ma Silvana Quaglio, diretora de conteúdo da Análise Editorial, que concebeu e coor-denou a produção deste anuário. No total, a equipe de jornalistas da Análise disparou quase 20 000 telefonemas. “Preparar este anuário foi desafiador do começo ao fim, mas valeu a pena”, diz a jornalista Inaiê Sanchez, editora do anuário. A lista de informa-ções positivas sobre as práticas ambien-tais das grandes empresas em atividade no Brasil é animadora. - 44% das empresas entrevistadas só contratam fornecedores que empregam procedimentos de gestão ambiental; - 47% utilizam fontes renováveis de energia; - 49% pesquisam tecnologia para re-duzir as emissões atmosféricas; - 53% possuem ISO 14001; - 59% possuem programas de plantio de árvores; - 61 % têm meta de redução do consu-mo de água e energia elétri-

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- 81 % declaram no organograma a quem cabe a responsabilidade sobre ges-tão ambiental; - 85% praticam a coleta seletiva de lixo. Segundo o questionário respondido por 527 entre as 1.000 maiores empresas do país, nenhuma empresa tem o direito de ter um compromisso maior do que aquele firmado com o lucro e com a geração de retorno aos acionistas. Empresa que não produz lucro, e portanto não é sustentável do ponto de vista financeiro, jamais poderá atingir a sustentabilidade. O levantamento mostra que as empresas estão preocupadas com o tema da gestão ambiental. Mais preocupadas do que organizadas para enfrentá-lo como se deve - mas preocupadas. De acordo com o resultado da pesquisa, 88% das companhias entrevistadas declaram possuir uma política ambiental definida. Desse universo das empresas que possuem uma política ambiental, seis de cada dez declaram que a política ambiental está integrada às demais áreas da empresa. Dizer que possui uma política ambiental é resposta vaga. De forma que é preciso avaliar o que isso significa na prática. Pode ser desde molhar uma plantinha na janela do chefe até a adoção de normas e procedimentos para os processos de produção da companhia, para a contratação de fornecedores e para o relacionamento com os clientes. Por isso se qualificou a preocupação com base em uma série de práticas relacionadas em 51 perguntas. A qualidade dessa política começa a ficar mais clara quando se constata na pesquisa que mais de 80% das empresas entrevistadas informam que “os impactos ambientais dos processos, atividades e serviços da empresa são conhecidos” pela administração. Melhora quando se constata que mais de 70% das empresas implementam “programas de gestão voltados à melhoria de objetivos e metas ambientais”. Melhora ainda mais ao ver que mais de 60% das empresas trabalham com meta de redução de consumo de água e 44% “exigem que seus fornecedores comprovem a adoção de procedimentos de gestão ambiental para contratá-Ios”. Sete em cada dez entrevistados do setor industrial divulgam as ações que adotam em gestão ambiental. A leitura das respostas mostra que

www.analise.com

os empresários perceberam que gestão ambiental não é uma onda. Por essa razão, dão mostras de que não estão brincando em serviço. Nem poderia ser diferente. O peso do item “meio ambiente” no custo de produção é significativo. De acordo com a pesquisa, um quarto dos novos empreendimentos tocados pelas companhias gasta entre 10% e 20% do total investido para deixá-los adequados do ponto de vista ambiental. Existem duas discussões separadas envolvendo o meio ambiente e muita gente, até mesmo do meio empresarial, acaba confundindo uma com a outra. Uma delas é a preservação ambiental, um trabalho filantrópico que se faz por meio de fundações. Cuidar da preservação não é tarefa natural das companhias. Cabe às empresas tratar de outro tema, que é impedir que seus processos produtivos consumam mais recursos naturais do que o necessário, produzam mais subprodutos do que o necessário ou não lidem com os riscos ambientais potenciais da sua operação da maneira adequada. Preocupar-se com a gestão ambiental não quer dizer limitar-se aos muros da fábrica. Longe disso. A capacidade de a empresa adotar procedimen-

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tos de gestão ambiental com impacto para fora da organização é grande. Segundo o levantamento, as empresas estão atualizadas na discussão ambiental, preocupadas em buscar saídas energéticas novas, pela biomassa, energia solar ou energia eólica. Demonstram, também, preocupação em reduzir todos os tipos de emissão,inclusive ruídos e vibrações. Preocupam-se em conscientizar os públicos com os quais se relacionam. Quase 60% das indústrias, mais expostas aos riscos ambientais do que o segmento de serviço ou comércio mantêm políticas de comunicação específica para escolas. E quase metade faz o mesmo para as comunidades vizinhas. Praticamente 80% das indústrias brasileiras dão treinamento em gestão ambiental para os terceirizados que lhe prestam serviço. * JC Moreira é correspondente da Revista do Meio Ambiente,sediado em Barra Mansa (RJ),é presidente do Conselho Deliberativo da REBIA – Rede Brasileira de InformaçãoAmbiental e presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Sul Fluminense. Contatos: (024) 9812-2272 jcmoreira1 @uol.com.br


COLUNA DO JC

Empresas brasileiras têm dificuldade para obter licenciamento ambiental, diz CNI demora na análise de processos de licenciamento e os custos elevados para cumprir as obrigações exigidas são os principais fatores que dificultam a vida das empresas na hora de conseguir um licenciamento ambiental. A constatação está na pesquisa Sondagem Especial sobre Meio Ambiente divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em São Paulo. De acordo com os dados da pesquisa 79% das empresas que fizeram algum tipo de licenciamento, afirma enfrentar problemas no processo de requerimento de licenças. O índice é 5,7% maior que o registrado em 2005, quando foi realizada a última pesquisa. Entre os setores que mais registraram problemas está o de Álcool em que 100% das empresas assinalaram a alternativa, seguido de Refino de Petróleo, com 90,9% e Minerais NãoMetálicos que registrou 90,1%. Entre os principais problemas que provocam a dificuldade de liberação do licenciamento ambiental, a demora na avaliação dos processos aparece em primeiro lugar e foi assinalada por 66,9% das empresas. Os custos necessários para cumprir as exigências foram assinalados por 52% dos en-

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Fonte: Gestão Ambiental – www.análise.com

trevistados, seguida pela dificuldade de identificar e atender critérios, assinalada por 42,6% das empresas. De acordo com a Sondagem, 85,1% das empresas afirmaram ter se relacionado com órgãos ambientais e desse total, 68,8% assinalaram ter tido problemas com os mesmos. A pesquisa mostra ainda que neste ano 75,5% das empresas adotaram, no planejamento, a inclusão de procedimentos gerenciais associados à gestão ambiental. Em comparação com 2005, o índice cresceu 4,5%. Há dois anos o percentual de empresas que investi-

am em gestão ambiental era de 73,9%. O maior percentual de investimentos foi realizado pelas empresas de Refino de Petróleo, 100%, Química e Indústria Extrativa com 84,1% e Limpeza e Perfumaria com 82,9%. Entre as empresas pesquisadas, 79,1% afirmaram que realizaram investimentos, no ano passado, voltados à proteção do meio ambiente. Em 2005 o percentual de empresas que disponibilizaram recursos foi de 76,5%.A maior parte dessas empresas, 58%, aplicou até 3% do faturamento, 33,6% investiram de 3% a 11% e 8,4% mais de

11%. Para este ano 52% das empresas entrevistadas assinalaram que pretendem investir até 3% do faturamento na preservação ambiental. A Sondagem Especial sobre Meio Ambiente foi realizada entre 30 de março e 20 de abril com 818 pequenas empresas, 438 médias empresas e 235 empresas de grande porte. Essa foi à terceira sondagem realizada pela CNI para avaliar o processo de licenciamento ambiental no país. Fonte: Agência CNI - http:// www.agenciacni.org.br

Tema delicado: passivo ambiental De acordo com a pesquisa, 71 % das empresas não lançam o passivo ambiental no balanço publicado. Fazê-lo é uma medida de boa governança corporativa e de transparência. Por se tratar de um tema novo no meio empresarial, deve-se reconhecer que as empresas fizeram muito até aqui. Pelo menos é o que depreende com uma leitura mais atenta das respostas dadas ao questionário. Há, no entanto, muito a fazer. E um dos temas mais delicados a ser enfrentados é o dos passivos ambientais. Oriundo da contabilidade, o passivo ambiental é uma conta que ninguém sabe fazer direito, mas a maior parte dos empresários tem medo de mandar fazer porque sabe o que vai acontecer. Surgirá um numerão vermelho na tela do

computador. A identificação do passivo ambiental já não é mais um capricho empresarial. O indicador tem sido muito utilizado em avaliações para negociações de empresas. A responsabilidade e a obrigação da restauração do meio ambiente na área do empreendimento podem recair sobre os novos proprietários - assim como o passivo trabalhista e o passivo tributário. Num futuro não tão distante, conforme o tamanho do passivo ambiental, a empresa poderá vir a ter dificuldades até mesmo para contrair empréstimo bancário. Por enquanto, o passivo ambiental não precisa estar vinculado aos balanços patrimoniais, podendo fazer parte de um relatório específico que discrimine as ações e os esforços desenvolvidos para a solu-

ção dos danos ambientais. Empresas do mundo todo têm feito isso. Pois quando o assunto é o passivo ambiental, as empresas ainda têm uma lição de casa a realizar. A atuação das ONGs de Meio Ambiente Além de analisar o trabalho de gestão ambiental das empresas e dos bancos, anuário analisou também cerca de 300 ONGs - organizações não-governamentais com atuação em meio ambiente que responderam ao questionário: - 58% das ONGs declaram ter atuação urbana; - Ainda que a grande discussão am-biental mundial envolvendo o Brasil esteja na Amazônia, 74% dos projetos lista dos pelas ONGs pesquisadas se concentram na Mata Atlântica. A Amazônia é alvo de

apenas 16% dos projetos. - Quando se compara o número de projetos destinados à fauna e à flora com o número de projetos voltados para populações indígenas, chega-se a uma proporção de 7 para 1. Ou seja, para cada projeto destinado aos índios brasileiros há 7 voltados para animais e plantas. - 62% das entidades acham o trabalho das empresas na área ambiental insatisfatório. Quando se tira da conta o conjunto de ONGs que não opinaram a respeito, a taxa de crítica às empresas chega a 73%. - Quase metade das ONGs responderam envolver-se em algum tipo de publicação ligada ao tema de sua atuação. Mas apenas um quarto delas se envolve em publicação de natureza científica.

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Zonas de Risco

Seminário na FIRJAN debate remediação de áreas contaminadas uidados e providências que empresas devem tomar para recuperar e preservar o meio ambiente foram debatidos no seminário sobre ‘Remediação de Áreas Impactadas’, promovido pela Firjan, em 28/06. O evento contou com o apoio e participação de profissionais da Haztec, empresa especializada em soluções integradas em sustentabilidade. Segundo os promotores do evento, a remediação de áreas impactadas se torna necessária a partir da constatação da presença de poluentes no solo e águas subterrâneas. Esse seminário foi uma excelente oportunidade de debate entre o poder público, representado pela Secretaria do Ambiente do Estado do Rio de Janeiro e pela Feema, empresas privadas, que têm casos de sucesso

ou problemas a solucionar, e empresas que têm a tecnologia apropriada e disponível para aplicar. Julius Stepansky, diretor de operações, e Claudia Ohnuma, gerente de projetos, ambos da Haztec, falaram sobre exemplos de tecnologias utilizadas para a recuperação destas áreas. Julius e Cláudia têm ampla experiência na realização de projetos extremamente complexos no Brasil, alcançando total sucesso no atendimento aos objetivos das empresas comerciais e industriais que necessitam destes serviços. A abertura do seminário contou com a participação da Diretoria de Inovação e Meio Ambiente do Sistema Firjan, Secretaria de Meio Ambiente do Estado e dos presidentes da Synthesis Empreendimentos e da Haztec. A Petróleo Ipiranga também participou do evento pales-

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trando sobre um estudo de caso de sucesso onde foram aplicadas diferentes técnicas de remediação. O evento contou com a presença especial de Stephen Rosansky, do Battelle Memorial Institute, empresa parceira da Haztec especializada em pesquisa na área de ciência e tecnologia, de Ohio, Estados Unidos. Ele falou sobre a tecnologia de encapsulamento e dragagem de sedimentos, extremamente recente nos Estados Unidos e inovadora no Brasil. Haztec, empresa-símbolo das excelências ecológicas A Haztec Tecnologia e Planejamento Ambiental foi fundada em 1999 e é hoje uma das mais atuantes prestadoras de serviços na área ambiental, dando completo apoio às demandas das indústrias químicas e petroquímicas. Em 2003 o controle acionário da

Haztec foi adquirido pelo grupo Synthesis. Com isso a empresa passou a contar com o benefício de compartilhar da experiência de outras empresas do grupo, a Confidere (Incorporadora) e a Fugro/ OceansatPeg (Empresa de serviços offshore) que é fruto de uma Joint Venture entre o Grupo Synthesis e a Fugro. Em 2005 a empresa adquiriu o controle acionário da Techno Layer, empresa especializada na instalação de revestimentos internos de tanques que criam interstícios passíveis de monitoramento. Em 2006 foi criada a SES Haztec Serviços de Resposta a Emergências AS, uma empresa resultante da Joint Venture formada pela Seacor Environmental Services inc. (SES), líder mundial na provisão de serviços de resposta à emergências ambientais e industriais e a Haztec.

REBIA lança serviço gratuito para divulgação das zonas de risco no Estado do Rio de Janeiro Existem, no Estado do Rio de Janeiro, centenas de áreas contaminadas por produtos químicos de longa persistência no meio ambiente e alto risco à saúde humana. São antigas instalações industriais, aterros de resíduos tóxicos e depósitos irregulares ou inadequados para conter a poluição.Todos, impróprios para moradia ou uso agrícola e comercial.A Rede Brasileira de

Informação Ambiental – REBIA, através do seu Portal do Meio Ambiente, e acreditando no direito de saber da população, reuniu na página www.portaldomeioambiente. org.br/areaderisco/rj/ as áreas contaminadas de que tem notícia e abre espaço para denúncias e para a defesa das empresas e instituições envolvidas nos casos noticiados.

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Ecologia Humana Por BBC Londres

‘Doenças ambientais’ matam 233 mil por ano no Brasil entidade sediada em Genebra. Falta de higiene, saneamento básico e poluição do ar matam 32 mil brasileiros / ano, indicaram os dados. A pesquisa levou em consideração as condições enfrentadas pelo brasileiro no seu diaa-dia. Num país onde o percentual de 84% da população reside nas cidades, a poluição do ar urbano mata 12,9 mil pessoas/ ano. Com 22% das pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, a deficiência de água tratada e de redes de esgoto tira a vida de 15 mil brasileiros/ano. A OMS afirma que 4,1 mil mortes/ano poder iam ser evitadas se 13% dos lares brasileiros, que hoje utilizam carvão ou madeira para cozinhar, substituíssem esses combustíveis por alternativas consideradas limpas, como o gás encanado. “Estas estimativas por país, configuram o primeiro passo para ajudar governantes quanto às prioridades para ação preventiva, nas áreas de saúde e meio ambiente”, disse a diretorageral assistente de Desenvolvimento Sustentável da OMS, Susanne Weber-Mosdorf. “É importante que seja quantificado o peso das do-

Estimativa da Organização Mundial da Saúde é de que 18% das mortes no país poderiam ser evitadas com medidas ambientais (como melhor acesso a água e esgoto). No mundo, 13 milhões morrem por ano em razão de problemas desse tipo

importante que se avalie o peso das doenças causadas e que resultam de ambientes pouco saudáveis. Esta informação é primordial para que os países possam escolher as intervenções apropriadas”, diz Susanne Weber-Mosdorf, diretora da OMS. Aproximadamente 233 mil pessoas morrem anualmente no Brasil devido à exposição a fatores de risco ambiental - como poluição, água não tratada e conseqüências outras de grandes estruturas urbanas”, declarou nesta quarta-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS). Isto significa que 19% de todas as mortes no país poderiam ser evitadas, se fossem adotadas políticas públicas eficientes, de acordo com os dados do primeiro levantamento deste tipo feito pela

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enças causadas por ambientes pouco saudáveis. Esta informação é a chave para ajudar um país a escolher as intervenções apropriadas, disse ela. Situação mundial Mundialmente, cerca de 13 milhões de mortes poderiam ser evitadas por medidas que tornassem o meioambiente mais saudável, disse a OMC. A pesquisa analisou condições como poluição e saneamento, ambiente de trabalho, exposição ao barulho, métodos agrícolas e de construções urbanas, mudanças ambientais causadas pela ação humana, entre outros fatores. Fatores ambientais associados a processos naturais que não podem ser facilmente modificados, como o curso de rios ou o regime pluviométrico, foram descartados nesta pesquisa. Diarréia, malária e infecções respiratórias estão entre as causas mais comuns, das denominadas “mortes ambientais” no mundo. Mas, para os padrões mundiais, a situação brasileira não preocupa a OMS. Uma das cientistas responsáveis pelo estudo, Annette

Prouss-Üstün, explicou que no panorama global, o Brasil se distingue por casos de asma e de doenças neuropsiquiátricas, como depressão, insônia e estresse em relação ao trabalho. “ Mas estresse no trabalho não quer dizer que a pessoa tenha acúmulo de atribuições. Pode significar que esteja desempregada, ou que não esteja exercendo o controle sobre suas próprias tarefas, ou ainda, que trabalhe em ambiente precário”, exemplificou ela. “Já a insônia pode estar ligada à poluição sonora, e outras doenças neuropsiquiátricas, à exposição a pesticidas”. De acordo com a OMC, 24% das doenças, no mundo, estão relacionadas ao ambiente onde as pessoas vivem. Colaborou na tradução: Cylene A S Dantas da Gama - cydagama@terra.com.br

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De Olho no Governo

Por Silvia Pereira *

Cedae a maior empresa pública do Rio de Janeiro

Um bilhão de dólares! É este o orçamento previsto para a Cedae este ano, o que a coloca como a maior empresa pública do governo do Estado do Rio de Janeiro. Em entrevista à Revista do Meio Ambiente, o presidente da Cedae, Wagner Victer, que durante oito anos foi o Secretário de Minas e Energia Indústria Naval e Petróleo do Governo do Estado, fez um balanço das ações da companhia e explicou como está alcançando mês a mês um faturamento recorde de 10% a 15% sobre o praticado anteriormente pela empresa.

bientais. Quais são essas ações? Retomamos o PDBG Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, mas hoje com uma nova estratégia. Em vez de ter dezenas de frentes de obras simultâneas e não terminar nenhuma estamos concentrando esforço para terminar a estação de Tratamento de Esgotos de Alegria, no Caju, e que fazia parte de um verdadeiro monumento de obras paradas. Até o final do ano que vem estaremos com ela finalizada, não só o primário como o secundário, processando algo em torno de três metros cúbicos litros por segundo, que é a produção média de esgoto da rede coletora. Em relação ao PAC, como a Cedae foi contemplada? A Cedae nunca tinha conseguido dinheiro do Governo Federal. Nós apresentamos projeto recorde e negociamos por quatro meses com o Ministério das Cidades e tivemos a liberação agora de mais de um bilhão de reais em obras que serão licitadas nos

REBIA: Como o senhor encontrou a Cedae? Wagner Victer: A Cedae era uma empresa que foi desestruturada ao longo dos últimos trinta anos. Uma empresa com um papel econômico e social muito importante no Rio de Janeiro. Como a sua administração está conseguindo tirar a Cedae do vermelho? Estamos reconstruindo uma empresa voltada para o futuro, não nos prendemos ao passado, o passado serve só para aprendermos com os erros e não repeti-los. Progressivamente estamos reestruturando a Cedae através de um planejamento estratégico, feito em parceria com a Fundação Getúlio Vargas. Com a implantação de mais de 100 projetos estratégicos que estão sendo desenvolvidos em paralelo, faz com que a empresa tenha aumentado a rentabilidade tremendamente e reduzido muito seus custos, que tem resultados muito importantes em diversas ações, inclusive algumas ações am-

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próximos meses, algumas delas de cunho ambiental, como, por exemplo, a estação de esgoto de São Gonçalo, que é um projeto muito importante, e uma série de outros projetos na Baixada Fluminense. O Guandu é dos projetos que também foi aprovado pelo PAC e que será financiado pela Caixa Econômica Federal, onde será aplicado para elevar sua capacidade de oferta de água aumentada em 30%. E o prometido Projeto do Emissário da Barra, será finalizado? O projeto do Emissário da Barra, que ninguém acreditava mais na sua execução, conseguimos colocar em funcionamento. Começamos progressivamente a retirar os esgotos que são lançados nas lagoas de Jacarepaguá e Barra da Tijuca, fato este que é o sonho de toda a região, especialmente dos ambientalistas. Muitos não acreditaram que o Emissário já estaria pronto antes do Pan. Pois é isso mesmo, o Emissário da Barra já está pronto e funcionando. Agora estamos fazendo as ele-

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vatórias de Marapendi para até janeiro do ano que vem possamos tirar os esgotos de mais 50 metros de comprimento de condomínios da Barra e lançar no Emissário em alto mar. Qual a qualidade da água fornecida pela Cedae que o carioca e o fluminense bebem hoje? Posso afirmar que é a melhor do mundo, e não seria exagero afirmar que a água do Estado do Rio de Janeiro é melhor até que a água mineral. Nós temos um padrão de água muito melhor e superior do que a maioria dos países europeus. Não se tem conhecimento de doenças transmitidas pelo consumo de água da Cedae. Por isso a qualidade da água da Cedae é reconhecidamente como ponto um de excelência da empresa. Mais informações: ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA CEDAE – (021) 2516-1729 / 2223-1843 comunicacao @cedae-rj.com.br - site: www. cedae.rj.gov.br


Água

Iniciativa brasileira é reconhecida internacionalmente Projeto da Rede Internacional de Gestão de Conflitos Ambientais, que começou depois da criação das Promotorias de Justiça por Bacia Hidrográfica, no Ministério Público do Paraná, é premiado na França e já despertou interesse de países da Europa, Ásia e África

A estrutura da Rede Internacional de Gestão de Conflitos Ambientais, que já nasce como mecanismo supranacional que deve facilitar as relações e o estabelecimento de acordos entre os diversos países na área ambiental, prevê a implantação de 35 subprojetos e sete atividades operacionais orientadas para integração de sete áreas de conhecimento, que têm implicação direta com as questões ambientais que se desdobrarão até 2022. A RIGCA terá a coordenação internacional a cargo d o p ro f e s s o r H a r r y s s o n (IGETECON - UFSC), da promotora de Justiça Luciana Lepri (MP-PR - Londrina) e da professora Roseli Isabel Ribeiro (IGETECON de Minas Gerais). Novos parceiros - Sete países já aderiram à RIGCA, após a apresentação da proposta da no evento internacional. Assinaram os Acordos de Cooperação, que serão enviados à UNESCO, o Ministério de Ecologia de Missiones (Argentina) e o Governo da Província de Missiones, que na prática já participavam das atividades da Rede, o Ministério do Meio Ambiente do Líbano, a Empresa de Captação de Recursos Milleniun Enterprises (França), a Universidade Federal de Santa Catarina, a Universidade de Nice Sophia Antipolis (França), a Universidade de La Sagesse (PUC do Líbano), a Univer sidade de Notre Dame, o Instituto de Ciência Social e Desarollo Sostenible da Argentina, a Faculdade de Ciências Exactas, Químicas e Naturales da Universidade Nacional de Missiones, e a Faculdade de Ciências Forestales da Universidade Nacional de Missiones. Ainda estão aguardando a análise da do-

Ministério Público do Paraná e o Instituto de Geração de Tecnologias do Conhecimento (IGETECON) apresentaram durante o 9o Simpósio Internacional da Água (9º Cannes Water Symposium), em Cannes, as propostas da RIGCA - Rede Internacional de Gestão de Conflitos Ambientais. A rede foi lançada oficialmente no evento, realizado entre 26 e 28 de junho, como nova proposta de governança global para a área ambiental. A RIGCA é um projeto do professor Harrysson Luiz da Silva, pós-doutor em ergonomia cognitiva, diretor-presidente do IGETECON, e da promotora de Justiça Luciana Ribeiro Lepri Moreira, coordenadora executiva das Promotorias por Bacia Hidrográfica do Ministério Público do Paraná, pré-aprovado pela UNESCO do Brasil como cátedra, ou seja, espaço de discussão dentro da UNESCO para produção de conhecimento, orientação e intervenção. Já fazem parte da RIGCA, além do MP-PR, o Ministério de Ecologia de Missiones (Argentina), Governo da Província de Missiones, Itaipu Binacional, Ministério Público do Paraguai, Ministério do Meio Ambiente do Paraguai, Programa “Paraguay Biodiversidade”, Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Paraná, e o Programa Paraná Biodiversidade.

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cumentação para ingresso na RIGCA, a PUC do Paraná e a Universidade de La Republica del Uruguay. Durante o simpósio, outras instituições manifestaram interesse na integração dessa Rede, tais como a Cátedra UNESCO sobre Movimentos Interculturais, a Universidade de Cooperação Internacional na Costa Rica, o Conselho Mundial da Água, o Institut for Environment and Humam Securities da Universidade das Nações Unidas na Alemanha, a Universidad de la República del Uruguay e a Universidade de Batna, na Argélia. O próximo passo será promover uma reunião para criação de um fundo de aval entre as instituições, a fim de garantir a captação de recursos para os projetos entre os países. Prêmio – Durante o 9 o Simpósio Inter nacional da Água, o MP-PR e instituições e órgãos parceiros - entidades brasileiras, paraguaias e argentinas - obtiveram o reconhecimento internacional pela montagem do Grupo de Gestão Compartilhada por Bacia Hidrográfica (GECOMBAH), que faz parte da RIGCA, recebendo o prêmio “Lumiéres de l’Eau”, na categoria “Água e Direito”. O Ministério Público foi representado no evento pelo procurador de Justiça Saint-Clair Honorato Santos, coordenador geral das Promotorias por Bacia Hidrográfica do MP-PR. O prêmio foi entregue após análise de um júri internacional composto por autoridades de vários países da Comunidade Européia. O Grupo de Gestão Compartilhada por Bacia Hidrográfica desenvolve trabalho na América do Sul, envolvendo instituições do Paraná, Para-

guai e da província de Missiones, na Argentina. O GECOMBAH foi criado em outubro de 2006, a partir de contatos iniciados pela promotora de Justiça Luciana Ribeiro Lepri Moreira. Ela buscou, com a formação do Grupo, estender à tríplice fronteira a proposta de gestão por bacia hidrográfica que já havia sido implantada no Paraná pelo Ministér io Público estadual e pelo Governo do Estado. A idéia surgiu a partir do trabalho de mestrado realizado pela promotora no curso de Engenharia de Produção/ Gestão Ambiental, tendo o professor doutor Harrysson L. da Silva como orientador, de 1998 a 2000. No trabalho, Luciana Lepri propôs a criação dentro dos Ministérios Públicos de Promotorias por Bacia Hidrográfica, que permitiriam uma nova forma de gestão, agilizando e uniformizando os procedimentos dos promotores de Justiça na área ambiental, respeitadas as características de cada bacia hidrog ráfica. A proposta foi aceita pelo MP-PR, que criou 12 promotorias por bacia hidrográfica em 2005. O Estado do Paraná, então, seguiu o modelo e também dividiu a atuação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, e de todos os órgãos ambientais subordinados a ela, em doze regiões hidrográficas, que correspondem às áreas de abrangência das Promotorias. Agora, o projeto se estende, com a parceria de órgãos do Paraguai e Argentina, para a Bacia do Prata, buscando uma política de gestão das águas nacionais e transnacionais. Mais informações: Jaqueline Conte/ Patrícia Ribas (41) 3250-4229 / 4228

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Fauna

Projeto cria estratégias para proteção do peixe Mero A espécie que chega a pesar quase meia tonelada, será o símbolo da preservação dos ambientes marinhos em quatro Estados do país roteger uma espécie em extinção e toda a biodiversidade envolvida é o objetivo do projeto “Meros - estratégias para a conservação de ambientes costeiros e marinhos do Brasil” começa oficialmente suas atividades neste semestre. O Mero, Epinephelus itajara, conhecido como o “senhor das pedras” ou “gigante do mar” é uma espécie de peixe de grande porte, da família Serranidae, a mesma da Garoupa e do Badejo. Além de ambientes costeiros e marinhos do Brasil, o peixe é encontrado em águas tropicais e subtropicais oceano Atlântico por todo Golfo do México e Caribe, do Pacífico do Golfo da Califórnia (EUA) até o Peru. É um peixe que figura no imaginário popular como “história de pescador”: pode atingir três metros de comprimento, pesar mais de 400 quilos e viver 40 anos. Mas a caça indiscriminada, justamente pelo seu alto valor de mercado, escassez de habitat e poluição do ambiente marinho, vem resultando em sérias perdas populacionais. Além disso, o biólogo e coordenador do projeto no Estado de São Paulo, Clodoaldo Gazzetta, destaca que os Meros são altamente vulneráveis, porque começam a se reproduzir tardiamente, depois dos sete anos.Somado a isso, o habito de formação de agregados reprodutivos, quando vários indivíduos se reúnem para acasalamento, facilita a caça predatória e o desaparecimento da espécie naquela região. Estes fatores aliados a falta de informações consistentes sobre sua biologia, foram decisivos para inclusão do Mero na lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção da IUCN (Internacional Union for Conservation Nature) como espécie Criticamente Ameaçada. Recentemente, o

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Ibama definiu a espécie como sobre-explotada, devido a sua alta longevidade, maturação tardia e alto valor comercial. Justamente para procurar conhecer e proteger a espécie é que começou a trajetória de um grupo de ambientalistas e pesquisadores de quatro pontos diferentes do país – São Paulo, Bahia, Pernambuco e Santa Catarina. Em 2001, foi lançada a primeira iniciativa para preservação da espécie, o projeto “Meros do Brasil”, uma parceria da Univali (Universidade do Vale do Itajaí) e a ONG de Proteção a Vida Marinha – Vidamar, que mobilizou esforços na proteção e conservação do peixe, em Santa Catarina. Depois disso, o responsável técnico e coordenador do projeto no Estado de Santa Catarina, Mauricio Hostim, explica que outras iniciativas independentes surgiram na busca de informações para preservação do peixe e para a criação de um plano de manejo nacional, que reduzisse e controlasse a pressão pesqueira mantendo um estoque populacional sustentável. Na mesma linha, tam-

bém se juntaram às iniciativas o Ircos (Instituto Recifes Costeiros), em Pernambuco, a Ecomar (Associação de Estudos Costeiros e Marinhos dos Abrolhos), na Bahia, e o Instituto Ambiental Vidágua, em São Paulo. Os esforços isolados, que começaram há pelo menos seis anos, resultaram na edição, pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), da portaria 121 de 20 de setembro de 2002, que proibiu a pesca e comercialização do Mero por um período de cinco anos, em todo o território brasileiro. Gazzetta lembra que com isso, o Mero se tornou o primeiro peixe marinho da história do Brasil a receber um mecanismo legal de proteção. O fato proporcionou aos pesquisadores mais tempo para a divulgação e coleta de informações sobre a biologia da espécie, locais de agregação, reprodução, alimentação e padrões de migração. O projeto vem ganhando mais adeptos a cada dia, contando com apoio de instituições governamentais e não governamentais,

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como a Universidade Federal de Pernambuco, Cepene/Ibama (Centros de Pesquisa e Extensão Pesqueira das Regiões Nordeste), Movimento Cultural Artemanha, Cepsul/Ibama (Centros de Pesquisa e Extensão Pesqueira das regiões Sudeste e Sul), Cepnor/ Ibama (Centros de Pesquisa e Extensão Pesqueira das regiões Norte) Parque Nacional Marinho dos Abrolhos e ONG-Ignis. As ações serão realizadas, simultaneamente, nos quatro Estados de abrangência, durante dois anos, e seu produto final será a criação de uma rede nacional de conservação dos Meros e a elaboração de um plano de ação e conservação da espécie que terá como embasamento as informações agregadas e a definição de políticas específicas para a preservação do peixe e, conseqüentemente, de seu habitat. Mais Informações: Katarini Miguel - Assessoria de Comunicação Projeto Meros do Brasil (0xx14) 8117-3448 katar ini @merosdobrasil.org / www. vidagua.org.br


Fauna & Animais

IBGE apresenta mapa dos animais em risco de extinção no Brasil Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou em junho o Mapa de Fauna Ameaçada de Extinção: Mamíferos, Répteis e Anfíbios. O mapa, na escala 1:5.000.000, é baseado na mais recente lista nacional da fauna ameaçada de extinção, divulgada em maio de 2003 pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Esta lista reúne ao todo 394 espécies e subespécies (não incluídos os peixes e invertebrados aquáticos), em cinco categorias de ameaça, em ordem crescente de risco: espécie vulnerável a extinção, em perigo de extinção, criticamente em perigo de extinção, extinta na natureza (encontrada somente em cativeiro) e extinta. Segundo o mapa do IBGE, das 105 espécies e subespécies sob ameaça no Brasil, 69 são mamíferos, 20 são répteis e 16 são anfíbios. Além da distribuição geográfica por estado e das categorias de ameaça, o mapa mostra os nomes científicos e populares dos animais e a divisão do País em seis biomas (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal). Em 2006, o IBGE divulgou o mapa de aves ameaçadas. Neste ano, deverá publicar um mapa contendo 130 espécies e subespécies de insetos e demais invertebrados terrestres. Em 2008, será a vez dos peixes e invertebrados aquáticos. Comparativamente, na lista do Ibama de 1989 haviam 220 espécies sob ameaça de extinção, o que significa um aumento de cerca de 80% sobre a atual lista de 2003. O total de mamíferos, répteis e anfíbios ameaçados era de 77 em 1989 e em 2003 subiu para 105.A comparação das duas listas mostra que, apesar do aumento, 27 espécies de mamíferos (oito delas macacos) saíram da lista de ameaçados. O trabalho do IBGE mostra que o litoral concentra a maior parte das 105 espécies de mamíferos, répteis e anfíbios sob ameaça de extinção no país. A Região Sudeste é a mais afetada e, conseqüentemente, o bioma mais atingido é a mata atlântica. O Rio

de Janeiro concentra o maior número: 39 das 105 ameaçadas. Depois, vêm São Paulo (38), Minas Gerais (37), Espírito Santo (29), Rio Grande do Sul (26), Paraná (20), Santa Catarina (18) e Distrito Federal (12). Os Estados com menor número de espécies ameaçadas são da Região Norte: Roraima (8) Rondônia (10) e Amapá (10). A única espécie extinta detectada no mapa é a Phrynomedusa fimbriata, popularmente conhecida apenas como perereca, que antes era encontrada em Paranapiacaba, subdistrito da cidade de Santo André, no ABC Paulista, região da serra do Mar. O animal, considerado endêmico, não figurava entre os ameaçados na lista de 1989 do Ibama. Três répteis específicos de ilhas de São Paulo estão criticamente em perigo de extinção -quando a população cai 90% em dez anos, ou quando a população é estimada em menos de 50 indivíduos adultos: as cobras dormideira-daqueimada-grande e a jararaca-ilhoa, endêmicas da ilha da Queimada Grande; e a jararaca-de-alcatrazes, da ilha de Alcatraz. “A hipótese mais provável é que seja por causa da caça predatória”, disse o coordenador de Recursos Naturais e Estatísticas Ambientais do IBGE, Celso José Monteiro Filho. As espécies animais brasileiras são um valioso recurso e um imenso patrimônio natural, cultural e econômico para o país. Mas tanto a devastação da cobertura vegetal quanto as formas de extrativismo têm contribuído consideravelmente para sua dizimação, o que significa perda de biodiversidade. O desaparecimento dos habitats naturais é um dos principais fatores que aceleram o processo de extinção dos animais, ao lado de outros como a caça predatória e a poluição.

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No mundo, número de espécies extintas atinge níveis alarmantes O número de espécies declaradas oficialmente extintas chegou a 27 nos últimos 20 anos, prova de que o ritmo atual de perda da biodiversidade é de cem a mil vezes maior do que a própria se-

leção natural. Os dados alarmantes foram divulgados no Dia da Biodiversidade - 22 de maio -, pela suíça Anabelle Cuttellod, da UICN - União Internacional para a Conservação da Natureza, e pela colombiana Margarita Astrálaga, diretora do Centro de Cooperação do Mediterrâneo da UICN na Espanha. As espécies oficialmente extintas desde o início dos trabalhos da UICN, há 40 anos, chegam a 784, número que, segundo especialistas, deve ser acrescido de 65 outras espécies, que só conseguem sobreviver em cativeiro ou em cultivos. Cutellod e Astrálaga destacaram que a lista de risco da UICN sobre espécies ameaçadas em 2006 - a última elaborada - determina que, das 40.177 espécies avaliadas no mundo, 16.119 estão incluídas em alguma das quatro fases (status) de perigo. Na prática, estão ameaçados 12% das espécies das aves; 23% das de mamíferos; 52% das de insetos; 32% das de anfíbios; 51% das de répteis; 25% das de coníferas e 20% das de tubarões e raias. Astrálaga afirmou que apesar de ter estudado apenas 60% dos vertebrados, 40% das plantas e quase 1% dos fungos e liquens do planeta, pôde-se constatar um aumento exponencial no número de espécies extintas, fato atribuído à ação do homem. “Não estamos falando de hipóteses ou de possibilidades, como alguns apontam sobre a mudança climática. Estamos falando da realidade”, afirmou. Cuttellod disse que o aumento das espécies marinhas ameaçadas de extinção no Mediterrâneo, especialmente os cetáceos e os tubarões, indica que esta zona, “uma das que apresentam maior biodiversidade no mundo”, sofre uma situação “mais grave” do que em outros mares, pela poluição e a destruição de ecossistemas causadas pelo homem. A especialista acrescentou que 64% dos anfíbios mediterrâneos são endêmicos e que, dentre eles, 25% estão ameaçados,“o que evidencia um grave perigo de perda de biodiversidade em nível planetário”. No caso da Europa, a

UICN compila “um número alarmante de espécies ameaçadas” já que se encontram em risco de extinção 42% dos mamíferos; 5% das aves; 45% das borboletas; 30% dos anfíbios e 52% dos peixes de água doce. A UICN, criada em 1948, atua em mais de 100 países e conta com uma rede de mais de 10 mil especialistas. Há 40 anos a organização vem trabalhando na elaboração de listas de espécies oficialmente extintas ou em risco de extinção. Segundo Astrálaga, estas listas são “um indicador bastante objetivo do êxito ou do fracasso” do compromisso internacional, assumido por muitos países, para conter a extinção de animais e plantas até 2010. Fonte: Informativo Mater Natura Nº 46

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REBIA NORDESTE Por Liliana Peixinho *

Evento Insustentável em Copacabana

Decepção ambiental no Live Earth

Oscar no filme “Uma verdade inconveniente” e agora reuniu celebr idades como Madonna, Red Hot Chili Peppers, Metálica, Foo Fighters, Rappa, Lenny Kravitz, Xuxa, Jorge Ben Jor entre outros, com apoio de grandes empresas como MSN, Phillips, Smart e Itaú, entre outros, parece ainda não ser positiva no desafio de agregar valor cultural, através de grandes nomes da música, nas sérias questões ambientais, em pauta. Entrevistas feitas com pessoas que tiveram acesso aos espaços vip da mega estrutura montada em Copacabana, no Rio, e também às que ficaram de fora do espaço de convidados e as que lutavam, corpo a corpo, por centímetros de visão dos artistas, ficaram decepcionadas com o resultado do evento. “Isso aqui é uma palhaçada”, disse um biólogo que estava com sua esposa, saindo do espaço vip, com as camisetas de acesso ao espaço nas mãos para dar aos “meninos” que catavam o lixo, numa demonstração de indignação com o que viram lá dentro.

á dentro, champanhe, boa comida e tietagem, com as celebr idades. Lá fora, na lama, driblando uma multidão cega aos objetivos teóricos do evento, catadores limpando a sujeira de toneladas e toneladas de lixo, formadas por sacos plásticos logotipados com a marca Live Earth, (Terra Viva), copos e garrafas descartáveis, panfletos informativos e uma gama de resíduos formados pelo consumo insustentável, numa demonstração clara da falta de coerência e sensatez, na prática, de uma proposta, teórica, com abordagem na mudança climática. As areias, o calçadão, a ciclovia e redondezas de Copacabana, no Rio de Janeiro, não estavam preparadas para receber tanta sujeira, num dia só. Ambientalmente o público não se sensibilizou. E quem levou a sério, saiu indignado. A proposta do ex- vice presidente dos EUA, e ativista verde, Al Gore, que teve apoio da Academia do

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Não entendi nada!! Se a proposta é a construção de novas práticas para ações sustentáveis, por que contrataram pessoas para distribuir sacos plásticos, incentivaram a venda de produtos em embalagens descartáveis e nem se preocuparam em ocupar os espaços, entre um show e outro, que foram imensos, para divulgar informações que pudessem sensibilizar as cercas de 400 mil pessoas que lá estiveram? Em Londres, muitas pessoas questionaram se o envolvimento dos artistas tem mesmo um compromisso com o meio ambiente ou se é apenas marketing. A imprensa dos Estados Unidos e da Grâ-Bretanha criticaram as pegadas de carbono de diversos ar tistas. No News of the World, tablóide de alta venda na Gra-Bretanha, Madonna foi citada como uma “catástrofe da mudança climática”, com pegadas de carbono anuais estimadas em 100 vezes mais do que a média britânica, resultado da ostentação de um modo de vida que inclui nove casas, frota de carros,

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jato particular e uma montagem insustentável de turnês como a “Confessions”. Na Alemanha, os propósitos políticos dos shows foram mais sérios, pois direcionaram a pressionar lideranças para a assinatura de um novo tratado até 2009, com redução das emissões de poluição pró- aquecimento global, de 90 % nos países ricos, e em mais da metade, no mundo inteiro, até 2050. Esta pressão está em pauta. No Brasil, em Copacabana, o Live Earth deve ter sido o mais sujo evento de todos os realizados na semana passada, nos diversos países. Os resultados, observados logo após o show, demonstraram público com perfis entre descrentes, alienados, indignados, descuidados, divertidos e os alheios aos apelos da Mãe Terra. Liliana Peixinho –Jornalista, Coordenadora do Movimento Voluntár io AMA - Amigos do Meio Ambiente - Viajou por conta própria para cobrir o evento, no Rio de Janeiro. liliana@amigodo meioambiente.com.br


Educação Ambiental

Unidos pela consciência ambiental Quiosqueiros promovem ações que preservam o meio ambiente

metal, papel e vidro. Esses materiais caem direto em contêineres, localizados no subsolo, e depois são recolhidos. “Dessa forma, colaboramos um pouquinho para manter a praia limpa e o meio ambiente protegido”, contou a sócia do Siri Mole, Maíra Rangel.

o dia 7 de julho a praia de Copacabana abrigou um dos palcos do Live Earth. O festival, que aconteceu simultaneamente em Londres (Inglaterra), Xangai (China), Johannesburgo (África do Sul), Sydney (Austrália), Hamburgo (Alemanha), Tóquio (Japão), Istambul (Turquia) e Nova York (EUA) teve por objetivo despertar uma consciência global sobre a crise climática. Esta não foi a primeira ação ambiental que acontece em Copacabana. Os novos quiosques da praia já realizam, constantemente, pequenos atos que podem fazer uma grande diferença. No quiosque Choppinho, próximo à Rua Siqueira Campos, a preocupação é com o consumo de água. “Tentamos, ao máximo, não desperdiçar água, que é um bem valiosíssimo que corremos o risco de perder”, afirmou a sócia do estabelecimento, Carla Lopes.Todos os funcionários são orientados a usar a água com responsabilidade. Além disso, os novos quiosques contribuem para a reciclagem do lixo da praia. Eles dispõem de lixeiras subterrâneas que permitem a coleta seletiva. Hoje, os resíduos produzidos são separados em quatro recipientes, de acordo com o tipo de material: plástico,

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Óleo Desde o início da revitalização dos quiosques, a Orla Rio tem desenvolvido ações que preservam o meio ambiente. Esse mês, começou a ser feita a coleta do óleo de cozinha utilizado em todos os quiosques. A expectativa é que sejam recolhidos, inicialmente, entre 5 e 10 mil litros de óleo por mês, o que diminuiria o entupimento da tubulação e a contaminação de rios e mares. Uma das principais alternativas para evitar esses problemas é a reutilização do resíduo que, além de reduzir o impacto ambiental, representa uma boa fonte de renda. Cada quiosqueiro receberá R$ 0,50 por litro de óleo recolhido. Vegetação O projeto paisagístico, desenvolvido pelo escritório Burle Marx & Cia, em parceria com o escritório de arquitetura Índio da Costa, manteve os coqueiros que já existiam na praia, concentrando-os em grupos. No total, serão plantados 490 novos coqueiros e 75 transplantados. A opção por não plantar vegetação que propi-

cie sombra se justifica porque as áreas sombreadas contribuem para a proliferação de bactérias na areia.Assim, garante-se a saúde dos usuários dos quiosques e banhistas. Os arbustos foram excluídos para evitar que eles servissem de sanitário, o que degradaria as condições de higiene da praia. Live Earth O festival teve a duração de 24 horas e foi transmitido ao vivo em 120 países, sendo assistido por mais de 2 bilhões de pessoas. O show no Rio de Janeiro será o único da série gratuito e ao ar li-

vre. As principais atrações internacionais do palco de Copacabana foram Alanis Morissette, Lenny Kravitz, Pharrell Williams e a banda Good Charlotte. Entre os shows nacionais, participaram Ivete Sangalo, O Rappa, Marcelo D2, Seu Jorge e Xuxa. Os fundos levantados com o festival serão usados para criar uma fundação para o combate à mudança climática liderada pela Alliance for Climate Protection (Aliança para a Proteção do Clima), que é chefiada pelo ativista ambiental e exvice-presidente norte-americano Al Gore.

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Denúncia

Abrolhos desprotegida madamente 100 mil pessoas. A medida prevê restrições a empreendimentos e ações que possam causar prejuízos ao meio ambiente no entorno do parque, como a exploração de petróleo e gás natural. Para os limites da Zona de Amortecimento também foram considerados outros fatores, como a interdependência entre ecossistemas, razão pela qual a ZA abrange os manguezais da região, considerados berçários da vida marinha do Parque. Isso gerou oposições de alguns setores, como os empresários da carcinicultura, que pretendiam implantar mega-fazendas de criação de camarão na região coberta pela Zona. Para Guilherme F. Dutra, Diretor do Programa Marinho da Conservação Internacional, esta oposição reflete um grande desconhecimento sobre o funcionamento dos ambientes marinhos: “o mar é um ambiente muito dinâmico devido a fatores como a influência de correntes e ventos, a existência de organismos que realizam seus ciclos de vida em áreas extensas e a interdependência com ecossistemas costeiros”. Inúmeras espécies de peixes do Parque completam seu ciclo de vida em manguezais e áreas mais profundas. “Por isso, os 95.000 km2 da ZA, que parecem exagerados para os padrões terrestres, são apenas razoáveis para os padrões marinhos”, complementa. Apesar disso, a ZA sofre oposições desde sua criação. Em maio do ano passado, o senador

Ação na justiça provoca a anulação da Zona de Amortecimento do Parque de Abrolhos colocando em risco a região com a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul

a semana posterior às comemorações do meio ambiente, a 7ª Vara da Justiça Federal em Brasília resolveu anular a portaria 39/2006 do Ibama, que estabelece a Zona de Amortecimento (ZA) do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. A decisão foi motivada por ações da prefeitura de Nova Viçosa (BA) e de Caravelas (BA), que atualmente movem diversos processos contra as medidas de conservação na região, como a criação da Reserva Extrativista do Cassurubá. Com a decisão, publicada no dia 14 de junho, Abrolhos perde a sua zona de proteção, ficando vulnerável a atividades potencialmente causadoras de impacto ambiental. A ZA foi estabelecida em 18 de maio de 2006, com a finalidade de garantir a proteção dos ecossistemas da região de Abrolhos, essenciais ao turismo ecológico e à pesca artesanal, que garantem o sustento de aproxi-

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João Batista Motta (PSDB/ES) elaborou o Projeto de Decreto Legislativo 328/06, que também pede a anulação da zona de proteção do Parque. O projeto contou com as assinaturas dos senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL/BA), César Borges (PFL/BA), Magno Malta (PL/ ES), Rodolpho Tourinho (PFL/ BA) e Marcos Guerra (PSDB/ ES). Em matéria da revista Carta Capital, o Senador Motta foi acusado de agir em interesse próprio. Na ocasião, foi provado que ele e mais quatro familiares são sócios da Cooperativa de Criadores de Camarão do Extremo Sul da Bahia (Coopex), grupo que pretende instalar uma mega-fazenda de camarões nos manguezais e restingas do Complexo dos Abrolhos. Com a portaria, além das licenças ambientais estaduais, a instalação do projeto passou a depender também da avaliação do Ibama. O polêmico empreendimento seria beneficiado com a queda da ZA. Marcello Lourenço, chefe do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, avalia a anulação da ZA como um grande retrocesso nas políticas sócio-ambientais da região dos Abrolhos. Segundo Lourenço, os limites da zona foram estabelecidos após anos de pesquisas e trabalhos técnicos de modelagem da dispersão de óleo em cenários de derramamento, simulados em função dos ventos e correntes predominantes na região. Além disso, desde 2004 o assunto é debatido com representantes dos governos federal, estadual e municipais, colônias de pesca,

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setor de turismo, organizações não-governamentais e pesquisadores, no Conselho Consultivo do Parque Nacional. “É importante observar que a decisão judicial questiona o instrumento legal que criou a zona de amortecimento – Portaria do IBAMA – concluindo que o instrumento jurídico adequado é um Decreto Presidencial ou uma Resolução do CONAMA. Não há questionamentos sobre o mérito técnico da zona de amortecimento nem sobre seus limites.Assim, trata-se apenas de uma questão administrativa: se as zonas de amortecimento devem ser criadas por Decreto ou Resolução, isso precisa ser corrigido rápido, para evitar que, com a ausência da proteção da ZA, se facilite a instalação de empreendimentos de alto impacto ambiental”. A anulação da zona de proteção de Abrolhos é mais uma medida que se soma a um panorama de decisões equivocadas sobre questões ambientais. Segundo Mário Mantovani, da Fundação SOS Mata Atlântica, “este realmente tem sido um ano de perdas para o meio ambiente. Não tivemos criação de nenhuma UC no dia do meio ambiente, apesar de haverem sete processos prontos para serem assinados pelo Presidente, só na região costeira e de Mata Atlântica da Bahia. Agora há mais uma agressão ao meio ambiente, com a derrubada da zona que protege a área com a maior biodiversidade marinha da parte sul do Oceânico Atlântico. Está aberta a temporada de caça aos Parques”. Os ambientalistas esperam


Denúncia que o governo federal se posicione e re-institua a Zona de Amortecimento de Abrolhos através de um instrumento legal cabível – o fundamental é garantir a proteção da região. Esperam, ainda, que as unidades de conservação propostas para o sul da Bahia sejam decretadas logo pelo presidente da república, em especial a Reserva Extrativista do Cassurubá, que está no centro dos conflitos que levaram à derrubada da ZA.

manguezais, praias e restingas. Lá podem ser encontradas várias espécies endêmicas (que só existem na região), incluindo o coral-cérebro, crustáceos e moluscos, além de tartarugas e mamíferos marinhos ameaçados, como as baleias jubarte. A região tem a maior biodiversidade registrada no Atlântico Sul e foi declarada, em 2002, área de Extrema Importância Biológica pelo Ministério do Meio Ambiente. O primeiro Parque Nacional Marinho do Brasil foi criado justamente nessa região, em 1983, ao largo das ilhas que compõem o Arquipélago dos Abrolhos, onde se encontram algumas das mais importantes colônias de aves marinhas do país. • ZA de Abrolhos - A Zona de Amortecimento do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos vem sendo discutida pela sociedade civil e órgãos governamentais desde 2003, quando a Agência Nacional do Petróleo (ANP) ofereceu grandes áreas para a exploração de hidrocarbonetos na região. Nesse período, foram produzidos estudos que indicaram áreas ecologicamente sensíveis. Estes

Para saber mais

• Zona de Amortecimento - Segundo a lei 9.985/00, que regulamenta o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), a zona de amortecimento abrange “o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade”. • Abrolhos - Com cerca de 56.000 km 2 na costa sul da Bahia, a região dos Abrolhos compreende um mosaico de ambientes marinhos e costeiros margeados por remanescentes de Mata Atlântica, incluindo recifes de coral, fundos de algas,

estudos envolveram especialistas de universidades brasileiras, do IBAMA e de organizações nãogovernamentais. Além dos cenários de derramamento de óleo resultantes das simulações, foram considerados para a proposição dos limites da ZA: as características biológicas (evidências de conectividade biológica, abrangência dos principais habitats) e oceanográficas (geomorfologia e sistemas de correntes) da Região dos Abrolhos; a facilidade de reconhecimento dos limites marinhos propostos; e características sócio-econômicas da área, como a dinâmica da pesca e do turismo. • Coalizão SOS Abrolhos - é uma rede de organizações do Terceiro Setor mobilizadas para proteger a região com a maior biodiversidade marinha registrada no Atlântico Sul. A Coalizão SOS Abrolhos surgiu em 2003, ano em que conquistou uma vitória inédita para a conservação, ao impedir a exploração de petróleo e gás natural naquela área. Atualmente a Coalizão está à frente da Campanha “SOS Abrolhos: Pescadores e Manguezais Ameaçados”. A Coalizão é formada pela Rede de ONGs da Mata Atlântica;

Fundação SOS Mata Atlântica; Conservação Internacional (CIBrasil); Instituto Terramar; Grupo Ambientalista da Bahia – Gambá; Instituto Baleia Jubarte; Environmental Justice Foundation – EJF; Patrulha Ecológica; Associação de Estudos Costeiros e Marinhos de Abrolhos - ECOMAR; Núcleo de Estudos em Manguezais da UERJ; Movimento Cultural Arte Manha; Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Teixeira de Freitas; Mangrove Action Project – MAP; Coalizão Internacional da Vida Silvestre - IWC/ BRASIL; Aquasis – Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos; Agência Brasileira de Gerenciamento Costeiro; Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia – CEPEDES; PANGEA - Centro de Estudos Sócio Ambientais, Instituto BiomaBrasil e Associação Flora Brasil. Colaboração enviada por Ana Ligia Scachetti - Gerente de Comunicação da Fundação SOS Mata Atlântica - (11) 3055-7881 / 7888 comunica cao@sosma.org.br

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Artigo Por Heitor Scalambrini Costa*

O Brasil não precisa de usinas nucleares

egundo previsão do Plano Nacional de Energia 2030 – PNE 20030 (Estratégia para a Expansão da Oferta), divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética –EPE, o Brasil deverá construir mais quatro usinas nucleares até 2030, duas das novas unidades nucleares com potência de 1 mil MW cada poderão ser construídas na região Nordeste e as outras duas no Sudeste (também com 1 mil MW cada). Além de Angra 3, que já está incluída no Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica (PDEE) 2006-2015 divulgado pelo governo no início deste ano. Paralisadas há 20 anos, as obras da usina nuclear de Angra 3 (1.350 MW), segundo prevê um dos anexos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), deverão ser retomadas em julho, e estima para agosto de 2013 a entrada de operação da terceira usina termonuclear brasileira, com investimentos da ordem de R$ 7 bilhões. A elaboração destes planos de expansão da oferta energética sofre de um erro de origem: a ausência da sociedade no debate da questão energética, e sua efetiva participação no processo decisório. A ampliação do espaço de debate é fundamental para tornar politicamente sustentável o processo de decisão. O debate energético não pode permanecer confinado nas mesas e gabinetes de “experts”, hábeis na manipulação de números e unidades (Watts, Joules, Btu´s, ....), que buscam na epistemologia das ciências a legitimação das decisões que afetam toda a sociedade. O Brasil não tem necessidade de construir mais usinas nucleares para atingir a meta do PAC de aumentar a oferta de energia elétrica. Estas decisões referentes à construção de usinas de geração de eletricidade

têm sido expostas diante de um suposto aumento dos riscos de déficit de energia, alimentadas pela síndrome do apagão. Fonte de energia elétrica ambientalmente incorreta por causa dos riscos de acidentes e pela produção de resíduos radioativos, o uso da nucleoeletricidade pelo Brasil é estrategicamente incorreto, e deveria ser definitivamente descartada. Parece-me mais inteligente buscar formas de aumentar a eficiência e a conservação de energia, e de encontrar na diversidade das fontes renováveis as múltiplas saídas para os problemas energéticos do país. O Brasil tem hoje aproximadamente 70 usinas hidrelétricas com mais de 20 anos de construção, que poderiam sofrer uma repotenciação (troca de equipamentos, por ex. substituição do rotor do gerador, ou modernização de componentes e sistemas). Se isso fosse feito, mais ou menos 60% da meta do PAC já seria contemplada. O custo é bem menor comparado à construção de novas usinas, que absorvem a maior parte dos investimentos somente em obras civis. Os 40% restantes da meta do PAC poderiam ser obtidos sem nenhuma nova obra civil. Bastaria que se investisse na redução das perdas do setor elétrico nacional, que hoje, desde a transmissão até chegar ao domicílio ou ao eventual consumidor industrial, são da ordem de 15%. Se houvesse um esforço para que o desperdício fosse reduzido para 10%, isso já seria suficiente para fechar a conta. Esses 5% de ganho, que não é muito, permitem atingir a meta do PAC. O sistema brasileiro hoje tem cerca 97 mil megawatts aproximadamente de potencia instalada. Os processos de repotenciação proporcionariam quase 8.000 megawatts, e a redução do desperdício, mais 4.850 megawatts. Mas isso tem de ser

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bem planejado, porque implica desligar as usinas para que as máquinas mais potentes possam ser instaladas. Esse processo de repotenciação não ocorreu até hoje no país por causa da cultura das megaobras. Parece que os governos preferem construírem grandes usinas, porque elas acabam dando mais visibilidade, rendendo votos para a próxima eleição. O argumento sobre o temor de um apagão energético no final da década, é uma das principais preocupações daqueles que defendem a construção da usina nuclear de Angra III. Lamentavelmente a opção nuclear é a opção preferencial, em detrimento da busca pela eficiência energética e adoção de matrizes energéticas renováveis, como o uso da biomassa (produzida a partir da queima de resíduos agrícolas ou outro material orgânico), da energia eólica, da energia solar e da produção de biocombustíveis sem aumento do desmatamento. O PDEE, que tem pouco apreço pela busca da eficiência energética e do uso racional de energia, foi elaborado para beneficiar as indústrias do setor eletro-intensivo, como as empresas produtoras de ferro, celulose e alumínio primário, que são grandes consumidoras (e desperdiçadoras) de energia, concentrando em três megaprojetos (as usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio - no Rio Madeira, em Rondônia, a de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará e a usina nuclear de Angra 3) que causarão grandes impactos sociais e ambientais e têm uma chance razoável de dar errado. O governo não dá muita importância à adoção de novas matrizes de energia renovável no país. As energias renováveis são relegadas no PDEE, enquanto deveriam ser encaradas como a grande solução para a questão energética. O Brasil, já é

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capaz de produzir em quantidade energia solar térmica, solar fotovoltaica, eólica ou biomassa, entre outras, e só não o faz por falta de vontade política do governo. O governo segue desconsiderando essa tendência internacional apesar do país possuir potencial para suprir totalmente a demanda nacional atual e também para fornecer eletricidade a locais remotos que não a possuem ou que utilizam outras fontes como a geração a diesel ou a gás. Ao desprezar as fontes renováveis, o país acaba deixando de economizar energia. Essas fontes poderiam também resolver problemas atuais do setor, como o pico de consumo causado por chuveiros elétricos e que pode ser reduzido utilizando a energia solar térmica, beneficiando a todos, inclusive às concessionárias. Assim a demanda poderia ser mais balanceada e o fator de carga elevado. Como podemos observar, a temática da oferta da energia traz questões de ordem política decorrente da forma como as diferentes opções energéticas são impostas a sociedade. O tratamento da questão energética em nosso país continua a revelar a prevalência da visão liberal-mercantilista, que concebe o setor energético como um campo de relações de troca de mercadorias, com vistas à ampliação da acumulação de capital. * Professor da Universidade Federal de Per nambuco heitorscosta@terra.com.br


Energia I

ONGs reagem contra a aprovação da Usina Nuclear de Angra 3 s organizações da sociedade civil têm acompanhado ativamente todo este processo, elaborando propostas e exercendo pressão sobre os governantes para que não esmoreçam os esforços globais e nacionais para o desenvolvimento de políticas energéticas sustentáveis capazes de mitigar as causas das mudanças climáticas e ao mesmo tempo, sejam capazes de promover a universalização e a segurança energética e reduzir os impactos sobre o ambiente e a população, associados às formas tradicionais de geração de energia, expandindo a oferta das novas fontes renováveis. O nosso objetivo é preparar o terreno para a expansão global das energias renováveis, montando uma estratégia ampla para um futuro energético altamente eficiente e sustentável. O lançamento do PROINFA – Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Renovável, em março de 2004 pelo Governo Federal, é um primeiro passo para a adequação da matriz energética do país, cuja sustentabilidade depende também do enfrentamento de outras questões como eficiência no uso e transmissão de energia, conservação energética, descentralização e mudança nos padrões de consumo. Nossa meta é um mundo onde não haja mais pobreza, onde a igualdade de sexo seja lei, onde todas as pessoas tenham acesso a serviços de energia, com custo acessível e sem danos ambientais. Reconhecemos como fundamental a sustentabilidade energéticas, a participação cidadã e a apropriação do conhecimento e do poder de decisão pelas comunidades afetadas ou beneficiadas nas decisões políticas, quanto ao uso dos recursos energéticos em nível regional e local. Os Governos devem a curto prazo: 1 – Promover campanhas públicas, elaboradas em conjunto

com a sociedade civil, para a eficiência energética e a mudança de padrões e parâmetros de consumo; 2 – Implementar medidas para diminuir as perdas técnicas na geração, na transmissão e na distribuição de energia; 3 – Adotar medidas para repotenciação das hidrelétricas sem aumentar as áreas inundadas; 4 – Não autorizar empreendimentos que representem impactos ambientais, sociais, culturais e econômicos negativos, tais como barragens, usinas nucleares e termelétricas a carvão mineral e aqueles que causam grandes movimentações de combustíveis fósseis em áreas sensíveis; 5 – Recompor o Conselho Nacional de Políticas Energéticas – CNPE para garantir a participação, de forma paritária, da sociedade civil. Os Governos devem a médio e longo prazo: 1 – Transformar o sistema global de energia, atualmente dependente de combustíveis fósseis, grandes hidroelétricas, usinas nucleares, para um sistema que seja calcado em energias renováveis e uso eficiente de energia; 2 – Interromper os recursos financeiros para fontes de energia fóssil, nuclear e grandes hidroelétricas, substituindo e investindo em energia renováveis e em uso racional; As novas fontes de energias renováveis estão disponíveis por todo planeta e não causarão guerras por recursos e nem exigirão equipamentos bélicos e de defesa para protegê-las. Com essas premissas e um amplo diálogo na defesa do nosso planeta, temos a certeza de estarmos contribuindo de maneira inteligente para reparar os erros e equívocos que marcarão a nossa sociedade no uso e ocupação do solo até o presente momento. Com base no exposto,vimos por meio deste Manifesto, solicitar que: 1 – O órgão público responsável pelo monitoramento ambi-

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ental e pelo licenciamento da operação das usinas nucleares Angra 1 e 2, é o IBAMA. As usinas já operam há mais de duas décadas, sob fiscalização da CNEN e da própria empresa Eletronuclear. A nossa solicitação ao IBAMA é: Que o IBAMA informe a sociedade como um todo e ao próprio Governo Federal, se toda sua estrutura física existente na Gerência da Baía da Ilha Grande, é suficiente para que haja o cumprimento da sua responsabilidade socioambiental no procedimento de licenciamento nas fases de implantação e operação da Usina Nuclear de Angra III ? 2 – Toda atividade humana sobre os recursos naturais provocam algum tipo de impacto direto ou indireto. A geração de energia através da fissão nuclear em toda sua cadeia produtiva, oferece risco tanto a saúde humana quanto ao meio ambiente. Para que uma Usina Nuclear funcione adequadamente é necessário que seja implantado um sistema de segurança eficiente. Assim, acreditase que para duas Usinas, o montante de infra-estrutura duplique e para três, triplique, mesmo que seja informado pela Eletronuclear que a segurança do sistema é inabalável, sendo o risco de um acidente nuclear uma situação remota, dado o grau de investimento em segurança. No entanto, viveremos eternamente o risco de acidente, pois a atividade que está implantada em nossa cidade, pouco nos nutre de informações seguras. A pergunta do ISABI ao Governo Federal se faz necessária pelo fato de que atividade exige um planejamento adequado, mesmo que seja remota a probabilidade de ocorrência: O Governo Federal tem conhecimento da logística necessária em função da geografia da região sul fluminense do Estado do Rio de Janeiro, caso ocorra um sinistro que envolva a única alternativa existente e planejada para uma possível evacuação de todos os seres da região?

3 – A geração de energia através da fissão nuclear em toda sua cadeia produtiva, produz uma série de rejeitos nocivos aos seres vivos. Os rejeitos de baixa, média e alta radioatividade possuem um amplo controle dos órgãos de fiscalização. A produção destes rejeitos enquanto as usinas estiverem em funcionamento, será uma realidade permanente e conseqüentemente, dever-se-á manter uma rotina na procura de novos locais para o armazenamento dos rejeitos.A pergunta do ISABI ao Governo Federal se faz necessária pelo fato a seguir: Onde ficarão todos os rejeitos das usinas em definitivo? Quais os critérios que deverão ser utilizados? Há controle social neste procedimento? 4 – O investimento financeiro para arcar com a tecnologia nuclear é de cifra incalculável. É preciso um suporte financeiro que garanta o máximo de segurança e o bom funcionamento das usinas. Tudo deve estar contabilizado no planejamento financeiro, os riscos, o descomissionamento, o destino dos rejeitos de baixa, média e alta radioatividades, o plano de emergência, a capacitação profissional, os passivos socioambientais, as compensações ambientais e financeiras etc. A pergunta do ISABI ao Governo Federal se faz necessária pelo fato a seguir: A empresa Eletronuclear dá lucro aos cofres público do governo? De onde será tirado o dinheiro pra pagar as dividas existentes? Quem vai pagar a conta da continuação desta aventura de origem militar? Assinam: ISABI – Instituto Socioambiental da Baía da Ilha Grande; APEDEMA-RJ – Assembléia Permanente de Entidade de Defesa do Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro e FBOMS – Fórum Brasileiro de ONG’s e Movimento Sociais para o Desenvolvimento Sustentável. - GTE – Grupo de Trabalho de Energia

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Consumo Sustentável Por Marcos Crivelaro*

Morador ecológico pode economizar R$ 250 mensais

adoção de atitudes ecológicas, além de ajudar a conservar o nosso maior lar, o planeta Terra, também permite uma economia aproximada de R$ 250 no orçamento doméstico mensal. Esse valor é maior do que muitos auxílios sociais existentes. É possível, portanto, concluir que o morador que ajuda a Natureza ganha uma “bolsa-ecologia”. Assumindo que o morador não execute reformas na moradia e apenas adote novas práticas na utilização da energia elétrica e no consumo de água, já é possível totalizar um valor acima de R$ 100 (moradia de 4 a 5 pessoas). O plantio de horta caseira e a confecção de receitas culinárias que utilizem cascas e/ou talos de frutas, legumes e verduras permitem uma economia mensal superior a R$ 70. E muitas pessoas desconhecem, mas é possível fabricar produtos de limpeza do lar utilizando sabão de coco, limão, vinagre, bicarbonato de sódio e essências de ervas aromáticas (economia de mais R$ 80). No caso da energia elétrica, o selo Procel é um prêmio que estimula os fabricantes de eletrodomésticos a produzirem equipamentos cada vez mais eficientes e econômicos. Na hora da compra, procure esse selo. Na cozinha, o fogão, o microondas, o freezer, a geladeira, a lavadora de louça, a torneira elétrica e o exaustor podem totalizar

3.000 watts, representando 50% do consumo mensal. Na lavanderia, a lavadora e a secadora de roupas e o ferro elétrico respondem por 15% do consumo mensal. O custo do aquecimento da água e da iluminação pode representar de 15 a 25% da conta de energia elétrica. A TV é responsável por cerca de 5% a 15% do consumo total. Abaixo estão listados os “vilões” da conta de eletricidade e possíveis atitudes para economizar: a) Chuveiro elétrico – sua potência nominal típica pode atingir 6.500 watts. Prefira chuveiros com potência inferior a 4.000 watts. Feche o registro enquanto se ensaboa. Sempre que possível utilize o chuveiro com a chave na posição “Verão”. Limpe periodicamente os orifícios de saída de água do chuveiro. b) Ferro elétrico – habituese a acumular a maior quantidade possível de roupas, para passar de uma só vez. No caso de ferro elétrico automático, use a temperatura indicada para cada tipo de tecido. Deixe o ferro desligado quando não estiver em uso. Reserve algumas roupas leves para serem passadas nos últimos dez minutos no final da operação, com o ferro desligado, pois ele ainda estará quente (exemplos: roupas de nylon e lingeries). c) Refrigerador – evite abrir a porta repetidas vezes e deixe os alimentos quentes esfriarem até a temperatura ambiente antes de serem colocados na geladeira. Evite forrar as prateleiras da geladeira e do freezer com plásticos, tábuas, vidros ou quaisquer outros materiais para não dificultar a circulação interna do ar frio. Regule a temperatura interna através do termostato. Con-

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serve limpa a parte traseira e não a utilize para secar panos ou roupas. d) Lava-louças – máquinas modernas oferecem a opção de usar calor e um ventilador para secar os pratos. O calor é fornecido por uma resistência no fundo do aparelho. Caso não precise da secagem instantânea, desligue essa função. e) Microondas – acostumese a usá-lo só em caso de necessidade. Use corretamente o tempo sugerido para aquecer a comida. f) Torneira elétrica – evite ligá-la no verão quando a água, em geral, é mais quente. Ensaboe todas as louças para depois enxaguar de uma só vez. g) Fogão – é necessária muito menos energia elétrica e gás para ligar o fogão uma só vez e cozinhar uma grande quantidade de alimentos do que utilizá-lo várias vezes para cozinhar porções menores. h) Lava-roupas: uma carga grande de roupas, ao contrário de várias cargas pequenas, usará menos eletricidade para acionar o motor da máquina. Utilize a dosagem correta de sabão indicada pelo fabricante, evitando repetir operações de enxágüe. Lavadoras de abertura frontal gastam menos água que as de abertura superior. i) Aquecedor de água – ajustar a temperatura do aquecedor na faixa dos 55º C gera uma economia de 5%. j) Ar condicionado – uma economia de 15% pode ser obtida mantendo as portas e janelas fechadas para garantir uma vedação eficiente do ambiente, tomando cuidado na regulagem da temperatura do ambiente e realizando manutenção periódica dos filtros. k) Iluminação: a iluminação deve ser adequada a cada tipo de ambiente. Prefira as lâmpadas fluorescentes compactas ou circulares para os locais que fiquem com as luzes acesas mais de 4 horas/dia, pois são as mais eficientes que existem para iluminação residencial e,

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além de reduzirem o consumo, duram até dez vezes mais que as lâmpadas incandescentes. Limpe regularmente luminárias e arandelas para ter um bom nível de iluminação. Armários e despensas são também bons candidatos para os sensores de movimento (economia de 1 a 3% no seu gasto). Luz solar: as clarabóias costumavam ser o único caminho de entrada da luz solar. Mas, agora, novos produtos no mercado como “tubos de luz” oferecem a um custo mais baixo uma iluminação equivalente ao produzido por uma lâmpada de 100 W. Luzes externas de baixa voltagem: o jardim pode ser iluminado à noite utilizando sistemas de iluminação de baixa voltagem (12 V), o que faz com que a instalação seja segura para crianças ou animais de estimação. Energia solar: luminárias de jardim movidas a energia solar são equipadas com um pequeno painel solar, bateria recarregável e uma lâmpada dentro. Aquecedor solar caseiro: o consumo de energia elétrica é reduzido em 40% com o uso de aquecedores solares de baixo custo (cerca de R$ 110). Cada metro quadrado de coletor solar permite economizar anualmente 55 kg de gás, 66 litros de diesel e 215 kg de lenha. Stand-by (energia em estado de espera): esse é o termo usado para a eletricidade usada em dispositivos mesmo quando estão desligados. Representam 5% do consumo de potência elétrica. Uma boa solução para lidar com essas perdas é ligar vários deles num filtro de linha que tenha um botão liga-desliga. l) Televisão – é um eletrodoméstico muito utilizado (em média de 5 horas por dia). Desligue o aparelho quando ninguém estiver assistindo e programe a hora de desligar para evitar dormir com o aparelho ligado. *Marcos Crivelaro é professor PhD da FIAP – Faculdade de Informática e Administração Paulista e da Faculdade Módulo, especialista em matemática financeira e consultor em finanças.


Denúncia Por Luísa Gockel luisa.gockel@rits.org.br

Na rota do tráfico De acordo com dados do projeto, calcula-se que, do volume total de animais envolvidos no tráfico, cerca de 60% sejam comercializados no país e o restante é destinado ao mercado internacional.Ainda segundo o documento, a situação brasileira, no que tange à conservação da biodiversidade, é considerada uma das mais graves e desafiadoras no mundo. Isso ocorre porque os biomas brasileiros têm perdido a cobertura da vegetação nativa de forma drástica em função do desmatamento. Os números são alarmantes: em termos da fauna total de vertebrados da Mata Atlântica, entre 6 e 8% dela está ameaçada de extinção. O documento alerta para a possibilidade de essas estatísticas serem ainda mais preocupantes, pois sabe-se muito pouco sobre aspectos biológicos e ecológicos de muitas espécies de vertebrados. Para Ângela Branco, coordenadora do projeto, o que ficou claro com o levantamento foi a falta de informação com que trabalham o Ibama e outros ór-

ma das agressões ambientais mais severas é a captura de espécimes em áreas naturais, praticada para alimentar o tráfico de seres vivos. Esse intenso ataque à biodiversidade é praticado de forma compulsória nos biomas brasileiros. E com o objetivo de conhece melhor a situação para poder combater esse tipo de crime nasceu o projeto Diagnóstico do Tráfico de Animais Silvestres nos Corredores Central e Serra do Mar da Mata Atlântica e a Implicação dessa Atividade para a Conservação do Bioma. Idealizada pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), com patrocínio do Critical Ecosystem Partnership Fund (CEPF) e apoio da Aliança para a Conservação da Mata Atlântica, a iniciativa pretende colher informações detalhadas sobre o tráfico de animais silvestres nos municípios localizados na áreas de abrangência dos Corredores de Biodiversidade Central e da Serra do Mar da Mata Atlântica.

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gãos de conservação. Ela explica que, além do diagnóstico do tráfico de animais nessa região, foi criada uma ferramenta para gerenciar um banco de dados que pode ser acessado por organizações autorizadas.“Essa ferramenta é indispensável, porque não há como combater uma atividade criminosa sem informação. Um serviço de inteligência é necessário para buscar o início da cadeia do tráfico. Para que o crime seja reprimido, é preciso um trabalho integrado entre as polícias rodoviária, civil e militar”, afirma. Para Ângela, essa ferramenta deve ser administrada pelo Ibama. “Fizemos um projeto-piloto e esperamos que o órgão abrace essa idéia e a aplique em biomas de todo o país”, diz a coordenadora. Segundo ela, apesar da dificuldade para colher informações nos órgãos oficiais, os workshops realizados com representantes do Ibama, polícias, Ministério Público e ONGs foram muito bem recebidos. “Muitas vezes, as pessoas do Ministério Público não conheciam quem era o responsável no

Ibama, e vice-versa”, conta. Um das questões que chamam a atenção no levantamento é a relação entre pobreza e tráfico de animais. “Acreditamos que é uma questão relacionada à educação. Não há como provar essa relação, pois há cidades muito pobres onde o tráfico não é praticado. Não há dados suficientes, mas subentende-se que as pessoas mais pobres tiram animais da natureza por não terem como obter uma renda complementar”, avalia Ângela. Segundo a coordenadora, a construção da ferramenta foi um passo importantíssimo para o combate ao tráfico e para a formulação de um diagnóstico mais preciso no futuro.“Para quem trabalha com fiscalização, é importante para saber se uma determinada espécie está em extinção ou não naquela área. Para estudantes, também pode ser de grande valia para trabalhos escolares. É uma ferramenta que ajuda a conhecer melhor a grande diversidade da fauna brasileira. Fonte: http://rets.rits.org.br

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Amazônia I Por Iracema Sodré, de Londres

ONG britânica pede patrocínio para ‘proteger’ Amazônia aquecimento global, protegendo florestas ameaçadas e os animais selvagens que lá vivem, e criando empregos sustentáveis para as comunidades locais”, diz uma declaração emitida pela Cool Earth. Projeto ambicioso Os detalhes do projeto podem ser vistos no site da ONG, que explica que a Cool Earth “comprará ou arrendará terras de proprietários locais - tanto privados quanto governamentais” para criar áreas de preservação. A ONG também dá os nomes das áreas em que vai focar a iniciativa: Teles Pires, Ataninga, Madeira, Atauara e Awacachi. O plano, ainda de acordo com o site, é que estas propriedades sejam passadas a fundações locais, em nome dos moradores da região. A Cool Earth arrendaria as terras por dez anos ou mais e depois deste período o local se tornaria uma reserva. Quando as áreas compradas já são classificadas como reservas ambientais, mas não há recursos para mantê-las, o dinheiro das doações seria usado para a administração das terras pela Cool Earth pelo período mínimo de dez anos. A iniciativa foi lançada pelo parlamentar trabalhista Frank Field e o milionário sueco Johan Eliasch, que causou polêmica em 2005, quando comprou um terreno de 160 mil

A recém-lançada organização nãogovernamental britânica Cool Earth comemorou o Dia do Meio Ambiente, em 5 de junho, com uma campanha que incentiva as pessoas a patrocinarem a preservação de terrenos na Floresta Amazônica para ajudar a combater o aquecimento global.

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ontribuintes podem acompanhar lote pela Internet

Os pedidos de patrocínio foram anunciados no site da instituição com valores que vão de 35 a 50 libras (aproximadamente R$ 133 a R$ 190 reais) por meio acre (cerca de 2 mil metros quadrados ou um quarto de um campo de futebol) de floresta no Brasil ou no Equador. O site promete que, depois de feita a transação, o terreno a ser protegido poderá ser acompanhado constantemente por meio de mapas virtuais feitos com imagens de satélites. Aos doadores também são prometidos boletins informativos de guardas ambientais locais, empregados pela organização, sobre a preservação da área. “Se um milhão de pessoas fizerem isso (patrocinarem um acre de floresta), haverá um enorme impacto no combate ao

hectares na Floresta Amazônica de uma madeireira americana. Não está claro no site, e a assessoria de empresa da organização não soube esclarecer, quanto dos recursos arrecadados irão para a preservação de áreas e quanto para a compra de novas terras. Também não está claro se a área comprada por Eliasch fará parte do projeto. Polêmicas Desde que anunciou a compra dos 160 mil hectares de floresta, o milionário tem atraído atenção e polêmica. Depois do anúncio, o Incra (Instituto nacional de Colonização e Reforma Agrária) afirmou que estava investigando irregularidades na propriedade das terras compradas – parte da propriedade teria títulos irregulares e parte estaria em litígio na Justiça. Críticos afirmaram ainda que as pessoas que vivem na região ficaram sem emprego e que o empresário estava praticando “colonialismo verde”. Em conversa com a BBC Brasil Eliasch se defendeu. “Isso não é ‘colonialismo verde’ porque não queremos ameaçar a soberania do país, nem prejudicar comunidades locais. Estamos trabalhando com os moradores e cooperando com os governos locais”, disse. “Ninguém sugeriu que se compre a floresta. Esse é terri-

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tório brasileiro e os outros países não devem se envolver. Estamos falando de desenvolver esquemas de compra e arrendamento em que, de fato, o resto do mundo pague pelos ‘serviços ambientais’ providos pela floresta”, afirmou. “Trabalhar com as populações nativas, fazendo com que elas se sintam donas da floresta, é muito mais eficiente que apenas empregar guardas para evitar o desflorestamento”, defendeu Eliasch. A organização diz que, a cada ano, a destruição de florestas tropicais em todo o mundo gera 6 bilhões de toneladas de CO2, mais que todo o gás carbônico produzido nos Estados Unidos. “Todos nós sabemos do aquecimento global, mas a maioria das pessoas se sente impotente para lidar com algo numa escala tão grande. Esta é a oportunidade ideal para que cada um de nós tenha um papel importante em mudar o mundo”, diz o parlamentar Frank Field. Depois dos projetos-piloto no Brasil e no Equador, a Cool Earth pretende criar iniciativas semelhantes na África e na Ásia. Fonte: http://www.bbc.co .uk/portuguese/reporterbbc/ story/2007/06/070605_ amazonialotes_is.shtml


Amazônia II Denize Bacoccina, de Brasília

Para especialistas, comprar terra na Amazônia ‘é ingenuidade’ fica o escritório regional do Greenpeace que cuida da Amazônia. Grilagem Ele diz que o processo de grilagem de terras públicas na região foi tão intenso que hoje em dia é muito difícil conseguir grandes extensões de terras com documentação legal. “Não existem grandes áreas de terra à venda com documentação razoável.A questão da propriedade de terras na Amazônia é um pesadelo”, afirmou. “A compra de áreas privadas pode alimentar a indústria da grilagem e levar a mais desmatamento”, diz Maretti. Além disso, o endurecimento da legislação tornou mais difícil a regularização de terras de origem duvidosa e impede a venda de terras em áreas de floresta. Segundo Adario, do Greenpeace, apenas 23% da área total da Amazônia são de propriedade privada regularizada, e 18% do total já foram desmatados. Outros 41% são terras públicas com destinação já definida, como reservas indígenas e assentamentos. “Os 37% restantes são terras públicas que estão sendo disputadas”, diz Adario. O ambientalista Marcio Santilli, coordenador da campanha ‘Y Ikatu Xingu do Instituto Socioambiental, também considera o método inadequado e teme que a compra de terras, mesmo

Organizações ambientalistas que trabalham na região amazônica criticam a proposta da Cool Earth de comprar terras na região, pela dificuldade em se estabelecer a propriedade legítima de muitos desses terrenos.

A

mazônia vive caos fundiário, segundo ambientalista

Eles chegam a classificar a proposta de ingênua e dizem que a melhor maneira de uma organização estrangeira ajudar a preservar a floresta é se aliar ao governo para colocar em prática os vários projetos de “reservas de papel” que já existem na região e precisam de recursos para ser efetivados. “Há uma falsa impressão de que não se pode confiar no governo, mas na verdade uma área privada pode dar uma instabilidade maior”, diz o supervisor de Conservação da WWF, Claudio Maretti. O ambientalista Paulo Adario, coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace, considera a medida “ingênua, embora bem intencionada”. “É uma visão de pessoas bem intencionadas, mas que desconhecem a complexidade e dificuldade do local”, afirmou Adario, que vive em Manaus, onde

para preservação, pode aumentar ainda mais a grilagem na região. “Existe um caos fundiário nesta região, e isso só vai colocar dinheiro na mãos dos grileiros”, afirmou. Santilli diz que a proteção ambiental por meio da compra de terras enfraquece o idéia que eles consideram mais correta, de regularização das terras públicas através de instrumentos como áres de proteção e reservas extrativistas. Neste caso, pessoas que são da região podem continuar vivendo no local e explorar economicamente a floresta – por exemplo, com a colheita de castanhas – mas não podem desmatar, não têm títulos de propriedade e portanto não podem comercializar as terras. “Já temos instrumentos legais para lidar com isso. A privatização seria um capitalismo selvagem”, afirmou. A melhor maneira de ajudar a preservar a floresta, na avaliação do Greenpeace, é se aliar ao governo brasileiro na vigilância de áreas que já foram destinadas a projetos de conservação, mas que não saíram do papel por falta de recursos. Marcio Santilli, do Instituto Socioambiental, também defende a atuação das ONGs estrangeiras em cooperação com o governo brasileiro. “Vale mais a

pena investir nisso, num jogo casado com o Poder Público, do que tentar áreas privadas”, diz ele. Essas áreas protegidas estão, por exemplo, na divisa entre os Estados de Mato Grosso e Amazonas, e ao longo da Rodovia BR 163, que liga Cuiabá a Santarém. Estima-se que 80% das áreas desmatadas estejam numa faixa de 100 quilômetros ao longo das rodovias que cortam a região. A WWF participa junto com o governo brasileiro, o governo alemão e o Banco Mundial de um fundo para a conservação de uma área que nos próximos seis anos deve chegar a 50 milhões de hectares, o equivalente a 12% do território amazônico. “O que nós dizemos é: se você que proteger, compre virtualmente uma área, ajudando com este fundo”, afirmou Maretti. Este fundo já tem US$ 50 milhões e a meta é chegar a US$ 400 milhões em dez anos. Os recursos devem ser usados para projetos de manejo florestal que além de conservar a floresta também oferecem uma alterantiva de trabalho e renda para a população que vive na floresta – cerca de 22 milhões de pessoas. Fonte: http://www.bbc.co.uk /portuguese/reporterbbc/story/ 2007/06/070605_amazo nialotes_is.shtml

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Ecoleitura

Dicionário de Termos Ambientais ublicações como a atual são importantes no esclarecimento das variadíssimas terminologias utilizadas na vasta área ambiental, bem como para seu uso verbal e/ou escrito de fato expressem os objetivos de quem as utiliza e que, dependendo das circunstâncias envolvidas, sua indevida utilização pode causar de meros constrangimentos a expressivos impactos ambientais. É uma publicação importante para todos aqueles que se interessam de fato com a vida e qualidade da mesma em nosso planeta.” - Mário Moscatelli - Biólogo, Professor Titular de Gerenciamento de Ecossistemas do Centro Universitário da Cidade - RJ. O “Dicionário de Termos Ambientais” constitui-se numa eficiente ferramenta para todos aqueles que atuam na área ambiental, pois é um dicionário que colecionou os termos mais usados em jornais e revistas especializadas em meio ambiente.” - Antonio Carlos Gusmão Consultor e Ambientalista

ções Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento Rio-92, con-tendo compromissos para mudança do padrão de de-senvolvimento global. AGENDA 21 LOCAL processo participativo multisetorial de construção de um programa de ação estratégico dirigido às questões prioritárias para o desenvolvimento sustentável local. Como tal, deve aglutinar os vários grupos sociais na sua confecção. AGROTÓXICO - produtos com a finalidade de alte-rar a composição da fauna ou da flora que seja consi-derada nociva para as atividades produtivas à saúde do homem ou dos animais domésticos, exemplo: inseticidas, herbicidas, fungicidas, germicidas, etc. AMAZÔNIA LEGAL - a Amazônia Legal foi criada por Lei 1.806. de 6/01/1953. Nessa época, o Estado de Mato Grosso tinha apenas a porção localizada a 16 graus de latitude norte incluída na Amazônia Legal. Posterior-mente, esse Estado foi totalmente incluído na Amazônia Legal através da Lei Complementar n° 31 de 11/10/1977. Hoje, com extensão aproximada de 5 milhões de quilômetros quadrados (53% do território brasileiro) totaliza 762 municípios e engloba os Estados da região Norte do País (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, Mato Grosso, parte do Maranhão (a 44 graus de longitude Oeste) e uma pequena porção de Goiás (acima de 13 graus de latitude sul). AMBIENTALISTA - termo criado para traduzir enviromentalist surgido na última década para nomear a pessoa interessada ou preocupada com os problemas ambientais e a qualidade do meio ambiente ou engajada em movimentos de defesa do meio ambiente. Também usado para designar o es-

P

Alguns termos na letra A

ADICIONALlDADE termo utilizado em projetos que visam a redução das emissões de gases do efeito estufa, mediante a conservação das florestas. A adicionalidade está diretamente relacionada com a li-nha de base. ela é a diferença entre as emissões de uma determinada linha de produção industrial com combustível fóssil, por essa mesma produção usan-do no caso o combustível de natureza renovável. AGENDA 21 - documento aprovado pela comuni-dade internacional, durante a Rio-92 que contém compromissos para mudança do plano de desenvol-vimento no século XXI. AGENDA 21 GLOBAL documento aprovado em 1992, durante a conferência das-Na-

Sobre o autor

pecialista em ecologia humana. AMBIENTE - conceito que engloba todo um conjun-to de fatores físicos, sociais, culturais, econômicos e estéticos que afetam os indivíduos e as comunidades e determinam a sua forma, caráter, relacionamento e sobrevivência. Tais fatores abrangem a qualidade da água e do ar, controle de erosão, perigos naturais, planejamento urbanístico, desenvolvimento parcelar, proteção da vida animal e vegetal, congestionamento urbano, aglomeração populacional excessiva, desloca-ção e recolocação resultante de uma ação pública ou privada ou de desastre natural, poluição sonora, po-luição urbana, infrações à lei e abandono de edifícios, crescimento urbano desordenado, política de cresci-mento urbano, preservação dos recursos culturais, arquitetura paisagística urbana, qualidade do meio construído, impacto do ambiente nas pessoas e ativi-dades. O ambiente pode ser considerado como parte de tudo o que gera benefícios e alguns danos de valor inestimável para as comunidades, a par de bens e ser-viços disponibilizados pelo poder de compra, habitação, infra-estruturas, transportes e outras pessoas. ANTRÓPICO - relativo à humanidade, à sociedade hu-mana, à ação do homem.

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Antônio Leal, carioca nascido em 03/10/1970 na Zona Oeste do Rio, formado em Administração de Empresas com especialização em Gestão Ambiental, é desenhista projetista na LIGHT, empresa de energia elétrica do Estado do Rio de Janeiro, onde também participa de trabalhos ligados ao meio ambiente como auditorias e coleta seletiva. Mais do que objeto de trabalho, o meio ambiente, para ele, é uma temática de vida.

Ter mo de cr iação recente em-pregado por alguns autores para qualificar um dos setores do meio ambiente. O meio antrópico compreende os fa-tores políticos, éticos e sociais: um dos subsistemas do sistema ambiental. O subsistema antrópico. ANTROPOCENTRISMO - doutrina que considera a espécie humana o centro do universo fazendo com que todas as questões incluindo a administração ambiental, sejam equacionadas em função do atendimento exclusivo dos valores humanos. APICUM - termo usado para os terrenos de brejo na zona costeira. Corresponde algumas vezes às zonas marginais de lagunas costeiras parcialmente colmatadas que sofrem inundações produzidas pelas marés. O apicum também ocorre em manguezais que se caracterizam pela ausência ou redução de vegetação em função da alta salinidade. Mais informações: Otacilio C. França - Letras e Magia Editora - comercial@letras emagia.com.br / www.letras emagia.com.br


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