Epidemia de ebola: emergência de saúde internacional Rodovias: 450 milhões de animais silvestres mortos por ano O nebuloso cenário dos agrotóxicos no Brasil
revistadomeioambiente.org.br
9772236101004
74 ISSN 2236-1014
ano IX • agosto 2014
Plantio como compensação de emissões na Copa falhou
Brasil é o segundo país no mundo que
mais desmata
A vida é uma viagem com dois momentos comuns a todos:
nascimento e morte BRYAn ROsEnGRAnt/fLiCkR CC 2.0
A instituição A Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com a missão de contribuir para a formação e o fortalecimento da Cidadania Sociambiental Planetária, ofertando informações, opiniões, denúncias, críticas, com ênfase na busca da sustentabilidade, editando e distribuindo gratuitamente a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente, entre outros produtos e ações. Para isso, a Rebia está aberta à parcerias e participações que reforcem as sinergias com demais parceiros, redes, organizações da sociedade civil e governos, e também com empresas privadas, que estejam comprometidas com os mesmos propósitos. Fundador da Rebia A Rebia foi fundada em 01/01/1996, pelo escritor e jornalista Vilmar Sidnei Demamam Berna, que em 2003 recebeu no Japão o Prêmio Global 500 das Organizações das Nações Unidas de Meio Ambiente. • escritorvilmarberna.com.br • (21) 9994-7634 Conselho Editorial A missão da Rebia só se torna possível graças a uma enorme rede de parceiros e colaboradores, incluindo jornalistas ambientais e comunicadores comunitários, e de seus mais de 4.000 membros voluntários que participam dos Fóruns Rebia, democratizando informações, opiniões, imagens, críticas, sugestões e análises da conjuntura, um rico conteúdo informativo que é aproveitado para a atualização diária do Portal e para a produção da Revista. São estes colaboradores que representam o Conselho Editorial e Gestor da Rebia, participando ativamente no aperfeiçoamento e na divulgação do Projeto. A Rebia na web • Facebook: facebook.com/rebia.org.br Fórum Rebia Sul: facebook.com/groups/rebiasul/ Fórum Rebia Sudeste: facebook.com/groups/rebiasudeste/ Fórum Rebia Centro-Oeste: facebook.com/groups/rebiacentrooeste/ Fórum Rebia Nordeste: facebook.com/groups/rebianordeste/ Fórum Rebia Norte: facebook.com/groups/rebianorte/ • Twitter: twitter.com/pmeioambiente • Linkedin: www.linkedin.com/company/ rebia---rede-brasileira-de-informacoes-ambientais?trk=hb_tab_compy_id_2605630 • RSS: www.portaldomeioambiente.org.br/component/ injarsssyndicator/?feed_id=1&format=raw
por VILMAR SIdNEI dEMAMAM BERNA*
e,
quando as cortinas se fecham, o espetáculo da vida continua – sem nós –, do mesmo jeito, como já acontece a bilhões de anos. Para a sociedade, um indivíduo a mais ou a menos não faz a menor diferença, assim como para a Natureza, uma espécie a mais ou a menos, também não faz. Conhece-te a ti mesmo, disse Sócrates. Parece simples, mas nascemos só uma casca, um corpo frágil e cheio de limitações e perdemos a maior parte da vida, enquanto nos tornamos adultos, girando em torno do próprio umbigo, como se o mundo existisse apenas por que existimos. No fundo, ninguém se conhece de verdade. A vida, de tão dinâmica, muda as perguntas antes mesmo de entendermos as respostas. Viver é de improviso e a vida não vem com manual. O problema não é errar. O problema é desistir de tentar fazer melhor outra vez, outra vez, outra vez. Não pertencemos a este mundo, nem ele a nós. Aqui é apenas um palco em que temos o privilégio de exercer o papel de viver e ser feliz – nos personagens que melhor conseguirmos escolher para nós –, e nada nos impede de trocar de papel se o enredo não agradar. O mundo é um moinho, dizia Cartola, e vai triturar nossos sonhos. Entretanto, precisamos deles, das utopias, para rompermos com a inércia, enfrentarmos o pessimismo, abrir a porta por dentro.
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O que acontece, no meio, são variáveis e incertezas
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* Escritor e jornalista, fundou a Rebia - Rede Brasileira de informação Ambiental (rebia.org.br), e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente), e o Portal do Meio Ambiente (portaldomeioambiente.org. br). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da Onu para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio verde das Américas
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Revista ‘Neutra em Carbono’ prima.org.br
Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas veiculados através dos veículos de comunicação da Rebia expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da Rebia. Para acessar a Revista do Meio Ambiente online ao vivo com o código QR é só escanear o código e ter acesso imediato. Se não tiver o leitor de QR basta abaixar o aplicativo gratuito para celulares com android em http://bit.ly/16apez1 e para Iphone e Ipads em http://bit.ly/17Jzhu0 foto DeSta Capa: fROntPAGE / shuttERstOCk
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editorial / expediente
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notícias do meio ambiente
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Apoio da Rebia A Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) estará presente, sempre que convidada a contribuir na democratização da informação socioambiental, especialmente no fortalecimento do diálogo inter-redes e na difusão de novas tecnologias e soluções ambientais para a sustentabilidade.
Referência em meio ambiente O Portal do Meio Ambiente foi o 4º colocado no ranking dos mais acessados sobre meio ambiente no Google
O biólogo Gustavo Berna (gustavo@rebia.org.br) esteve em Brasília, entre 27 e 28/05 representando a Rebia durante o XIII Encontro Verde das Américas, coordenado por Ademar Soares Leal, em parceria com várias organizações, como a Associação Ecológica Piratingaúna
• XVI FIMAI – Feira Internacional de Meio Ambiente Industrial e Sustentabilidade: 11, 12 e 13 de novembro de 2014, Pavilhão Azul do Expo Center Norte, em São Paulo, SP, das 13h00 as 20h00. A entrada é gratuita! Reúne as principais empresas e consultorias das mais diversas áreas ambientais do mercado nacional e internacional e oferece uma vitrine importante para quem procura tecnologias, soluções, equipamentos, consultorias e muito mais em prol da sustentabilidade dos seus negócios. A Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) estará presente representada pelo biólogo Gustavo Berna. Mais informações: Tel. (11) 3917-2878 • E-mail: rmai2@ rmai.com.br • Site: www.rmai.com.br • VIII Fórum Brasileiro de Educação Ambiental: Belém de 3-6 de dezembro. A coordenação do evento está atendendo a todos os consensos estabelecidos pela Facilitação da Rebea. Mais informações: Fidelis Paixao (fidelispaixao@yahoo.com.br) – Coordenação executiva VIII FBEA – Rede Paea/Geam UFPA/ Rebea e Jacqueline Guerreiro (jacguerreiro@ gmail.com). Durante o evento, será lançado o livro Paradigmas Metodológicos em Educação Ambiental organizado por PEDRINI, A. de G (UERJ); SAITO, C. H.(UnB) editado pela Vozes, abrangendo educadores experientes de todas as regiões do Brasil.
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Agenda Setembro • IV Congresso Brasileiro de Educação Ambiental Aplicada e Gestão Territorial – Água e Agricultura Familiar - SENAC, Porto Velho (RO). De 03 a 05 de Setembro de 2014. www.congressoambiental-ro.com.br • Green Nation Fest – Sustentabilidade em todos os sentidos - 6 a 14 de setembro, com entrada gratuita. A segunda edição do Green Nation Fest levará para o Museu da República, no Catete, uma série de atividades interativas que prometem estimular o público visitante a contribuir de forma sustentável por um mundo melhor. O Green Nation Fest é realizado pelo CIMA- Centro de Cultura, Informação e Meio Ambiente. Outubro • 2º Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente, de 19 a 23/10, em Belo Horizonte (MG) - A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), por meio de seu Grupo Temático Saúde e Ambiente, propõe este evento para compartilhar diferentes saberes, discutir modelos de Estado e desenvolvimento que permitam os ideais de justiça ambiental, contrapondo-se aos modelos comumente analisados, espelhados na realidade estrangeira e não na brasileira. www.sibsa.com.br/site/capa
funkz/flickr CC 2.0
Especial Amazônia
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O papel vital da
Pan-Amazônia
Parque Nacional del Manu, em Cuzco, Peru
Declaração de Lima conclama governos a reconhecer o papel vital da Pan-Amazônia para regular o clima e garantir a segurança climática para a humanidade
I
ntitulada Chamado da Pan-Amazônia, a Declaração de Lima, lançada na capital do Peru no dia 07 de agosto, conclama os governos dos nove países amazônicos que formam o bioma e todos os países do mundo a reconhecer a importância da Pan-Amazônia como oportunidade e solução para fazer frente às mudanças climáticas por sua contribuição para a regulação do clima e por sua imensa diversidade. A declaração também chama o governo do Peru a assumir um papel essencial na Conferência das Partes (UNFCCC CoP 20), a ser realizada em dezembro, em Lima, no sentido de posicionar a região como vital para o alcance dos objetivos e metas da Convenção de Clima, evidenciando a necessidade de valorização da Amazônia e a urgência em proteger as suas florestas e rios e os serviços que os seus ecossistemas prestam às sociedades para fazer frente às mudanças climáticas. Para isso é preciso agir de forma integrada para interromper o desmatamento e garantir o funcionamento equilibrado do sistema ecológico. A declaração é o resultado do 3º Encontro Pan-Amazônico, que reuniu cerca de 200 pessoas, entre representantes governamentais, de organizações não governamentais e de movimentos sociais e indígenas e empresas para discutir o papel da Amazônia e acordar recomendações para atores sociais em vários países. As recomendações do encontro serão entregues ao ministro do Meio Ambiente do Peru e presidente da CoP 20, Manuel Pulgar-Vildal nos próximos dias e depois difundida e endereçada a atores importantes, como a França, sede da CoP-21 de Clima, bancos, empresas, Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), entre outros. Ao mesmo tempo, o Chamado da Pan-Amazônia traça uma rota para as organizações envolvidas atuarem e difundirem a importância da Amazônia em outros eventos, como a Cúpula dos Povos Frente às Mudanças Climáticas. Realizado em Lima, o 3º Encontro Pan-Amazônico apresentou o estudo O Futuro Climático da Amazônia, elaborado pelo cientista Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), que explicou o papel fundamental da região para estabilizar o clima regional e global,
manter o ar úmido da América do Sul e exportar rios aéreos de vapor que no verão transportam matéria prima para as chuvas que irrigam a região e produzem um terço das chuvas que alimentam a terra. As florestas armazenam entre 90 e 140 bilhões de toneladas métricas de carbono, cumprindo um papel vital na luta contra o câmbio climático. “Estamos pensando e atuando para defender o futuro da humanidade, fazendo algo pela região mais importante e pela vida dos que estão aqui no planeta hoje e os que ainda virão. Mas precisamos trabalhar mais e melhor com os outros setores e fazer com que essa discussão sobre a responsabilidade que temos pela Amazônia seja ampliada”, comentou Claudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva da Rede WWF. Organizado pela Articulação Regional Amazônica (ARA), e co-promovido pelo Ministério do Meio Ambiente do Peru (Minam) e por organizações como WWF e Aliança Clima e Desenvolvimento (CDKN), o 3º Encontro Pan-Amazônico representou um espaço de diálogo para discutir e definir uma agenda prioritária e uma linha de trabalho colaborativo com vistas à CoP20. A Pan-Amazônia se estende por cerca de 6,7 milhões de km2, alcançado partes de nove países – Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa/França. Aproximadamente 33 milhões de pessoas e 350 grupos indígenas vivem na Amazônia, 60 dos quais em isolamento voluntário. É na Amazônia que se encontram mais de 40% das florestas tropicais úmidas remanescentes no planeta e pelo menos 10% da biodiversidade conhecida. FONTE: wwf
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Especial Amazônia
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Divulgação/Global Forest Watch
Desde fevereiro, Google disponibiliza mapa do desmatamento em tempo real
De olho na mata por TASSIA MORETZ
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Google possui uma ferramenta chamada Global Forest Watch, um mapa online que permite o acompanhamento da situação das florestas e do desmatamento no mundo todo via satélite e em tempo real, com navegação semelhante ao Google Maps. O Global Forest Watch apresenta uma visão global e também por regiões específicas das florestas pelo mundo, inclusive do Brasil. É possível acompanhar a evolução do desmatamento no planeta por meio de uma linha do tempo que fica em uma barra no canto inferior da tela, que vai do ano 2000 ao ano de 2013 – em vermelho estão as áreas desmatadas; em azul estão as áreas reflorestadas e recuperadas. A partir do mapa é possível acompanhar as mudanças, a cobertura e o uso das florestas pelo globo, bem como encontrar áreas de conservação, aspectos populacionais e contextos históricos de áreas florestais. Entre os recursos disponíveis no site estão a opção de selecionar a situação das florestas em países específicos. Ao clicar no Brasil, por exemplo, o usuário tem acesso a informações como o total em hectares da cobertura florestal; o que isso representa economicamente para o país; o número de pessoas empregadas no setor florestal; entre outros dados curiosos sobre a nossa Amazônia. Há, ainda, uma seção de histórias com acontecimentos sobre as florestas pelo mundo, como o incêndio florestal em Minnesota, nos Estados Unidos, e os impactos da mineração que acontece no Vale de Huatanay, no Peru.
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Brasil: 2º lugar em desmatamento Para quem quer se profundar no tema, o Global Forest Watch tem ainda um blog com artigos sobre as florestas, e uma base de dados técnicos divulgados por instituições acadêmicas, ONGs, agências governamentais, entre outros. Ao clicar no link “países”, é possível selecionar a opção “visão global”. Nesse tópico há um panorama das nações que têm a maior perda de cobertura florestal no período de 2001 a 2012. O Brasil está no segundo lugar do ranking – com perda florestal de mais de 2,5 milhões de hectares em 2012 –, perdendo apenas para a Rússia, que desmatou mais de cinco milhões de hectares de florestas no mesmo ano. A Arábia Saudita está entre os que menos desmataram, com perda de apenas três hectares em 2012. O sistema de monitoramento do Global Forest Watch foi criado pelo World Resources Institute, pelo Google, e por um grupo de mais de 40 parceiros, entre eles NASA, Esri, UNEP e Greenpeace. Esses e outros dados – alguns disponíveis para download –, estão no site. O usuário pode fazer parte de uma comunidade, elaborar análises e enviar relatos locais sobre o desmatamento. O mapa virtual é útil para pesquisadores, estudantes, jornalistas, governos, instituições financeiras, ONGs, e todos aqueles que se preocupam com a questão ambiental. Vale a pena navegar. Para conhecer o projeto acesse: www. globalforestwatch.org. Fonte: techtudo.com.br
No Global Forest Watch, é possível ter acesso a dados específicos das florestas por país
COMUNICAÇÃO AMBIENTAL
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Mais fontes de informação socioambiental de Na edição anterior, publicamos uma relação de importantes fontes que oferecem que complementamos aqui. Existem muitas outras, e estaremos divulgando-as à medida que as informações nos forem chegando. Uma sociedade ambientalmente melhor informada e mais consciente tenderá a pressionar cada vez mais por políticas públicas e de mercado que levem em conta as questões ambientais em suas tomadas de decisão por Vilmar Berna Consumo Sustentável • Akatu: www.akatu.org.br/Noticias • Idec: www.idec.org.br/em-acao/noticiasconsumidores • Revista Atitude Sustentável: http://atitudesustentavel.com.br/blog/category/noticias/ • Motorista Sustentável: www.motoristasustentavel.com.br/site/ Ciência & Tecnologia • Hypescience: http://hypescience.com/?s= MEIO+AMBIENTE • Fapesp: www.agencia.fapesp.br/buscar?q= MEIO+AMBIENTE • Superinteressante: http://super.abril.com.br/ busca/?qu=meio%20ambiente • Revista Ciência Hoje: http://cienciahoje.uol. com.br/ • Portal do Jornalismo Científico: www.jornalismocientifico.com.br/index.htm • Inpe: www.inpe.br/resultado.php • Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis: http://rededecidades.ning.com/ • Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/made • Biota+10 Fapesp: www.biota.org.br/ ag o s to 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r
acesso grátis • USP - Núcleo de Economia Socioambiental: http://nesa.org.br/ • Revista Meio Ambiente e Saúde: www.faculdadedofuturo.edu.br/revista/ • Revista Ambiente e Sociedade (bilingue): http://lappes.iee.usp.br/lappes/ revista-ambiente-sociedade-vol-16-no1/ • Revista Cidadania e Meio Ambiente: www.latec.ufrj.br/portaleducacaoambiental/index.php?option=com_content&view=article&id=5&Itemid=6 • Revista Agroecológica: www.aba-agroecologia.org.br/revistas/index. php/rbagroecologia • Revista de Educomunicação Ambiental: www.latec.ufrj.br/revistas/index.php?journal=eduambiental Setor Governamental • Portal do Meio Ambiente de Sergipe: www.semarh.se.gov.br/ • Portal Brasil: www.brasil.gov.br/meio-ambiente • Agência Brasil: http://busca.ebc.com.br/sites/agenciabrasil/nodes? q=meio+ambiente • Radiobrás: www.ebc.com.br/noticias/meio-ambiente • MMA: www.mma.gov.br/ • Ibama: www.ibama.gov.br/publicadas • ICMBio: www.icmbio.gov.br/portal/comunicacao/noticias.html • ANA: http://boletimaguas.ana.gov.br/cadboletim/ • ONU: www.onu.org.br/index.php?s=not%C3%ADcias&x=8&y=12 • Ipea: www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=fro ntpage&Itemid=276 • Revista Saneas: www.aesabesp.org.br/noticias.html • Funai: www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias • Cetesb: www.cetesb.sp.gov.br/noticias • Jornal Olhar Verde: www.ambiente.sp.gov.br/publicacoes/jornal-olhar-verde/ • Ecocâmara: www2.camara.leg.br/responsabilidade-social/ecocamara/ boletins-mensais_novo COntinua na próxima edição. Confira a lista completa no Portal (portaldomeioambiente.org.br)
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Gabor Basch / Flickr cc 2.0
água
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Desmatamento Sistema Cantareira perdeu 70% de mata em duas décadas. Cobertura vegetal aumenta a vida útil dos reservatórios, além de prolongar tempo de abastecimento durante seca por Marina Estarque
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resultado da partida contra o organizado e depois de atingir o menor nível já registrado – apenas 8,4% da sua capacidade –, o sistema Cantareira, principal fornecedor de água da região metropolitana de São Paulo, vai em busca das últimas gotas. Em maio, a Sabesp iniciou uma operação emergencial para recuperar o chamado “volume morto” do reservatório. A crise no abastecimento de água não se deve apenas ao calor recorde e ao menor índice de chuvas já registrado nos últimos 84 anos. Especialistas defendem que o desmatamento em bacias hidrográficas contribui para diminuir a quantidade e a qualidade das águas, tanto superficiais quanto subterrâneas.
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agravou crise da água em SP “Nós temos apenas 30% de área com florestas preservadas nesse manancial [Sistema Cantareira]. O restante precisa ser recuperado ou têm uso inadequado de solo”, afirma a coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro. Resultados de um experimento feito pela ONG desde 2007 – que restaura uma floresta num centro em Itu, interior de São Paulo – comprovam essa relação. “Em 2012, apenas cinco anos depois, foi verificado que o nível dos lençóis freáticos subiu 20% e o dos reservatórios, 5%”, argumenta Ribeiro. Estudos apontam que a floresta atua como reguladora do ciclo hidrológico, atenuando os impactos de eventos climáticos extremos, como secas e enchentes. “A floresta aumenta a resiliência dos mananciais. O desmatamento não é causa da seca, mas, se houvesse maior cobertura vegetal, o esgotamento dos reservatórios poderia ser evitado”, diz Ribeiro. O problema, entretanto, não está restrito a São Paulo. De acordo com um levantamento inédito do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, os reservatórios considerados críticos pela Agência Nacional de Águas (ANA) perderam em média 80% de sua cobertura florestal. “Ainda estamos detalhando o estudo, mas já podemos perceber que uma das semelhanças entre os mananciais críticos em relação ao abastecimento de água é o desmatamento”, explica o coordenador geral do Pacto e diretor para Mata Atlântica da Conservação Internacional, Beto Mesquita. A pesquisa inclui as capitais do litoral do país, além de Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo, bem como cidades do interior paulista, como Sorocaba e Campinas.
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O papel da floresta A floresta tem uma série de funções no ciclo hidrológico. Quando a chuva cai num terreno com cobertura vegetal, a água infiltra lentamente no solo, até atingir os lençóis freáticos. Aos poucos, ela aflora nas nascentes e enche os rios, até chegar às represas. “A floresta quebra a energia da chuva, porque parte da água fica na cobertura das árvores e atinge o chão devagar. Além disso, o solo da mata é muito poroso, com matéria orgânica e raízes. Por isso, há mais espaço interno e maior capacidade de armazenamento”, explica Mesquita. Ele aponta também que, por essa característica, o solo da floresta libera um fluxo de água mais constante, mesmo durante uma estiagem. Malu Ribeiro ressalta que o desmatamento ao redor do Cantareira está prejudicando a oferta de água na região. “O sistema está localizado no fundo do vale do Rio Jaguari, que tem um conjunto de nascentes na Serra da Mantiqueira. O desmatamento no curso dos rios até o reservatório faz com que essas nascentes desapareçam e os cursos d’água não consigam se recuperar.” Enchentes e assoreamento Onde não há floresta, a infiltração da chuva no terreno é mais difícil. Num solo de pastagem, por exemplo, a quantidade de água escoada é até 20 vezes maior que em área de vegetação, segundo o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Philip Fearnside. Por esse motivo, em período de muita precipitação, áreas desmatadas estão mais sujeitas a enchentes. A água escoa rapidamente e em quantidade, enchendo os rios e represas, muitas vezes de forma desastrosa. Neste processo, a água carrega consigo muito material orgânico, erodindo o terreno e assoreando os reservatórios. “Esse é um problema grave no Brasil e principalmente no Sistema Cantareira, porque perdemos a capacidade de reservar água. Quando chove muito, o excedente acaba sendo jogado fora”, argumenta Ribeiro. Segundo Mesquita, por evitar o assoreamento, a floresta aumenta a vida útil do reservatório, além de prolongar o tempo de abastecimento durante uma seca. Umidade e qualidade da água Outra importante função da floresta é reter água da atmosfera. Na bacia do Rio Guandu, no estado do Rio de Janeiro, 30% da água é incorporada ao sistema por essa via, segundo estudo da Conservação Internacional. “Quando vêm a neblina e nuvens carregadas, quanto mais floresta tiver em regiões montanhosas, maior a retenção de água”, diz Mesquita. A floresta contribui para manter a umidade do ar, através da transpiração das plantas.
“Cerca de 30% da água na atmosfera vêm das florestas. Num reservatório, se o ar está seco, isso também aumenta a evaporação na represa”, alerta o presidente e pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos, José Galízia Tundisi. A vegetação também participa no ciclo hidrológico, atuando como um filtro para manter a qualidade da água. “A floresta retém metal pesado em suas raízes e matéria em suspensão. Ela também filtra a atmosfera e diminui a quantidade de partículas que podem cair na água”, afirma Tundisi. Um levantamento deste ano da Fundação SOS Mata Atlântica em sete estados também comprova essa relação entre floresta e a qualidade da água. Dos 177 pontos avaliados, apenas 19 (11%), localizados em áreas protegidas e de matas ciliares preservadas, tiveram bons resultados. Desmatamento na Amazônia Não é apenas a perda de floresta nos mananciais que pode ameaçar a oferta de água em São Paulo. O desmatamento na Amazônia também impacta negativamente a quantidade de chuva que chega ao sudeste. Estudos revelam que até 70% da precipitação em São Paulo, na estação chuvosa, depende do vapor d’água amazônico. O meteorologista Pedro Silva Dias, da Universidade de São Paulo, também pesquisa o tema. “O desmatamento na Amazônia vem causando impacto, por exemplo, a produção de arroz no Brasil. Se houver um processo muito intenso de perda de floresta amazônica, as regiões sul e sudeste sofrerão um processo de desertificação”, defende Ribeiro. Philip Fearnside diz que esse desmatamento, em torno de 20%, não explica a seca atual em São Paulo. “Ainda tem 80% da floresta amazônica, isso não é suficiente para causar uma queda dramática na chuva de São Paulo de um ano para o outro”, diz o pesquisador, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2007, com outros cientistas, por alertar contra os riscos do aquecimento global. Fearnside ressalta, entretanto, que o impacto é gradual e progressivo. “Se continuar desmatando, como é o plano do governo com os projetos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), vai diminuir o fluxo de água para São Paulo, que já está no limite para o abastecimento. Cada árvore que cai, é menos água indo para lá.” Mentalidade do esgotamento Para os especialistas, há uma mentalidade voltada para o esgotamento dos mananciais, que prejudica a gestão dos recursos hídricos no Brasil. “É a falsa cultura da abundância, a ideia de que podemos esgotar os reservatórios, porque depois vem o período de chuvas e enche de novo. Só que há uma diminuição do volume de águas ao longo das décadas em vários reservatórios do sudeste. Em São Paulo, isso ocorre na bacia do Piracicaba e na bacia do sistema Cantareira”, afirma Ribeiro. José Galízia Tundisi chama esse pensamento de “aqueduto romano”. Consiste em usar o reservatório até esgotar e depois buscar água limpa em uma região mais distante. “É o que São Paulo está fazendo. Em breve vai ter que pegar água no Paraná”, afirma o pesquisador. Os pesquisadores alertam que é muito difícil recuperar um manancial depois de exaurido. O solo fica pobre e seco, funcionando como uma esponja. “Quando chover, o terreno vai chupar grande volume de água, até que ele recomponha os aquíferos subterrâneos. Em alguns casos é até impossível reverter a degradação”, diz Ribeiro. Com a retirada do “volume morto” do Cantareira, especialistas temem pela recuperação do reservatório. A reserva, que nunca foi usada antes, será puxada por bombas, já que fica abaixo do ponto de captação da represa. “Se usar todo o volume morto do Cantareira, vai levar anos para retornar ao que era antes”, lamenta Tundisi. Fonte: Deutsche Welle
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Saúde e Meio Ambiente
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A terrível força do
ebola por Cesar Grossmann
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ma criança de dois anos tem, no dia 2 de dezembro, sintomas de vômito e febre. Em seguida, falece no dia 6. Sua mãe falece poucos dias depois, no dia 11, seguida pela irmã da criança, de três anos, no dia 29. A avó falece em 1° de janeiro. A enfermeira e a parteira que cuidou delas adoecem mais tarde, naquele mesmo mês. A parteira consegue chegar a um hospital em Gueckedougou antes de falecer, mas no processo infecta o parente que a levou até lá. O doutor que a atendeu e outros pacientes em Gueckedougou sucumbem à doença e são transferidos para outro hospital na cidade de Macenta. Depois dele falecer, seu funeral foi feito na cidade de Kissidougou. No curso desta jornada, antes e depois de falecer, ele deu início a surtos em Macenta e Kissidougou. Em 10 de março, os centros de saúde pública de Macenta e Gueckedougou alertam o Ministro da Saúde da Guiné sobre a doença fatal, cujos sintomas eram diarreia, vômito e febre. Dois dias mais tarde, o grupo Médicos sem Fronteiras estava no caso. Amostras de sangue foram coletadas e enviadas ao Instituto Pasteur, em Lyon, onde a presença da variante Zaire do vírus do ebola foi descoberta. Em 23 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um alerta sobre o surto. Tudo que foi escrito acima parece um roteiro de um filme de terror, mas é a realidade. Isso tudo está acontecendo agora, na África Ocidental. As últimas notícias dão contam que o médico que estava à frente da equipe que enfrentava o surto em Serra Leoa, Dr. Sheik Umar Khan, havia contraído o vírus. Além disso, a doença já matou 206 dos 442 infectados em Serra Leoa, 310 dos 410 casos na Guiné, e 116 dos 196 casos na Libéria. Já é a pior epidemia de ebola registrada. Mas o que é o ebola? O ebola é um vírus, o que significa que ele não tem meios próprios de se reproduzir, e sim precisa infectar uma célula para isso. O ebola tem cinco variantes, nenhuma delas agradável. Do menos ao mais letal, são os seguintes tipos:
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Por que esta é a mais terrível epidemia de ebola de todos os tempos 5. Reston – o único que foi descoberto primeiro fora da África, vitimou macacos de um laboratório em Washington DC (EUA). Mais tarde, descobriuse que ele se originou nas Filipinas, e ocorre em porcos. Não há registros de que um humano tenha adoecido depois de ter contato com este vírus. 4. Floresta Tai – ataca os chipanzés no parque nacional Tai, onde uma das tribos de chipanzés foi reduzida de 80 a 32 indivíduos. Passa de macaco para macaco, mas um pesquisador foi infectado e se tornou o único caso desta doença em humanos, embora tenha se recuperado. 3. Bundibugyo – surgiu na Uganda em 2007 e até hoje matou 66 pessoas, desde sua descoberta. Sua taxa de mortalidade é de 25%, mas, em um surto recente, de 2012, apresentou 51% de taxa de mortalidade. 2. Sudão – foi encontrado no Sudão em 1976, mas passou para Uganda também, e tem uma taxa de mortalidade de 53%. O último caso relatado foi em 2011. 1. Zaire – variante mais letal do vírus, sua taxa de mortalidade era de 88% quando foi descoberto em 1976, e é o responsável pelo atual surto de ebola na África Ocidental. Como o vírus mata? Ele se aproveita de um mecanismo do nosso sistema imunológico. Normalmente, os capilares sanguíneos são “impermeáveis”, mas quando recebem sinais de infecção, se tornam permeáveis para permitir o tráfego de células do sistema imunológico para o tecido em volta. O vírus do ebola infecta células do sistema imunológico, obrigando-as a liberar as mensagens químicas que tornam os capilares permeáveis. O vírus então pode escapar do sistema sanguíneo e atacar outras células. Só que os capilares continuam permeáveis, e começam a perder sangue. Onde o sangue se acumula, formam-se coágulos. Onde o sangue deixa de chegar, os tecidos começam a morrer. O sangue começa a vazar para os intestinos e pulmões, causando diarreia, vômitos e tosse. Em alguns casos, os pacientes sangram até pelos olhos. Este sangue e fluidos estão cheio de vírus, e qualquer pessoa que entre em contato com eles pode ser infectado. De onde vem este vírus? Normalmente, os vírus estão adaptados a seus hospedeiros, e não os matam. Não é um bom negócio para o vírus matar seu hospedeiro. Como ele é tão letal a seres humanos quanto a macacos, isto indica que não são estes seus hospedeiros naturais, mas sim um morcego. Atualmente, acredita-se que morcegos frugívoros sejam os hospedeiros principais do ebola, passando-o a outros animais, como antílopes, veados e porcos-espinho, que por sua vez o passam para os humanos. Ou seja, caso uma pessoa entre em contato com a carcaça de um animal que morreu deste vírus, é infectado. A infecção de humano para humano ocorre através de fluidos, o que significa que você não vai morrer se tocar em alguém saudável, só em alguém que esteja vomitando sangue, suando sangue, com diarreia de sangue, ou tudo isso junto. A transmissão pode ocorrer também pelas roupas de cama que os doentes tocarem, móveis, utensílios, etc. O que está sendo feito para conter este surto? Várias organizações estão mobilizadas para conter este surto, incluindo o Ministério da Saúde da Guiné, os Médicos Sem Fronteiras, a Cruz Vermelha, o Crescente Vermelho (versão muçulmana da Cruz Vermelha) e a OMS. As estratégias de combate se baseiam em:
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Pessoas se preparam para ajudar as vítimas do Ebola em Guiné
• esclarecer as pessoas sobre o ebola, ensinandoas se proteger e a suas famílias; • encorajar as pessoas a relatar novos casos; quanto mais cedo o paciente recebe tratamento, melhores suas chances de sobreviver e menos eles espalham o vírus; • quarentenas para pacientes infectados e uso de equipamentos de proteção, como luvas e máscaras; • o hábito de lavar as mãos; • o estabelecimento de laboratórios móveis para identificar rapidamente novos casos, liberando pacientes de outras doenças sem expô-los ao vírus; • fornecer tratamento onde for possível, que consiste atualmente em reidratação do paciente; • o banimento do consumo de morcegos e de caça; assistência aos enterros, já que o contato com os fluidos corporais passa a doença adiante; • banimento de funerais, já que estes eventos proporcionam propagações em massa da doença. Infelizmente, o último ponto é o que mais tem causado problemas, já que é difícil acabar com velhos costumes, e o banimento de um que é tão caro para as famílias, os funerais dignos, tem causado revolta entre as comunidades. Por causa disso, até mesmo as equipes médicas têm sido atacadas. Pacientes que estavam em quarentena foram “libertados” por rebeldes, “afinal de contas, tudo não passa de uma conspiração do governo para matar as pessoas”, fazêlas desaparecer e só ressurgirem depois mortas, e serem enterradas sem que seus parentes possam confirmar que elas morreram.
Além disso, entre os que acreditam no ebola, há os que acham que se trata de bruxaria e que os sobreviventes são zumbis, com casos de pacientes sendo rejeitados e expulsos de suas comunidades. Ainda há os que simplesmente desistem, acham que se trata de uma sentença de morte (em mais de 90% dos casos é), e preferem passar seus últimos momentos com suas famílias – o que não é bom para a família. Em quê isto me afeta? Bom, além do aspecto do sofrimento humano, existe a possibilidade de um surto mundial de ebola – uma pandemia. Quanto maior o surto local, maiores as chances de pandemia. Até agora, não apareceu nenhum caso fora da África e, se acontecer, ele pode ser rapidamente contido, desde que os grupos antivacinação não se tornem também grupos de negadores do ebola. Esperamos que isso nunca aconteça, já que até agora não foi possível ensinar a todo mundo sequer a importância de lavar as mãos. Além disso, no caso de uma epidemia de ebola, não vão faltar os paranoicos para dizer que se trata de uma trama de [insira qualquer tipo de organização, instituição ou grupo aqui] para dizimar a humanidade, ou do governo [de qualquer lugar] para se livrar de gente incômoda e coisas do tipo. Pode parecer – e é – besteira, mas as pessoas vão fazer de tudo para evitar que alguém do governo, vestido de jaleco branco e acompanhado do Exército, venha para levá-los a uma quarentena da qual só uma pessoa em 10 retorna e as outras desaparecem sem deixar traço. Se você quer ajudar de alguma maneira, faça doações para o Médicos Sem Fronteiras, ou para a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e incentive outros a fazer também. Parte das dificuldades para conter este surto devem-se às condições precárias de infraestrutura, materiais e pessoal. Fonte: HYPESCIENCE
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Yasmin Pinheiro/Flickr cc 2.0
Saúde e Meio Ambiente
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Em 16 anos, poluição do ar matará até
256 mil em SP
Segundo estudo da USP, no mesmo período, a concentração de material particulado no ar provocará ainda a internação de 1 milhão de pessoas por Adriana ferraz
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ma criança de dois anos tem, no dia 2 de dezembro, sintomas de vômito e febre. Em seguida, falece no dia 6. Sua mãe falece poucos dias depois, no dia 11, seguida pela irmã da criança, de três anos, no dia 29. A avó falece em 1° de janeiro. A enfermeira e a parteira que cuidou delas adoecem mais tarde, naquele mesmo mês. A parteira consegue chegar a um hospital em Gueckedougou antes de falecer, mas no processo infecta o parente que a levou até lá. A poluição atmosférica vai matar até 256 mil pessoas nos próximos 16 anos no Estado. Nesse período, a concentração de material particulado no ar ainda provocará a internação de 1 milhão de pessoas, e um gasto público estimado em mais de R$ 1,5 bilhão, de acordo com projeção inédita do Instituto Saúde e Sustentabilidade, realizada por pesquisadores da USP. A estimativa prevê que ao menos 25% das mortes, ou 59 mil, ocorram na capital paulista. Os resultados indicam que, no atual cenário, a poluição pode matar até seis vezes mais do que a aids ou três vezes mais do que acidentes de trânsito e câncer de mama. A população de risco, ou seja, as pessoas que já sofrem com doenças circulatórias, respiratórias e do coração, serão as mais afe-
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Entre as causas mais prováveis de mortes provocadas pela poluição, o câncer poderá ser o responsável por quase 30 mil casos até 2030
tadas, assim como crianças com menos de 5 anos que têm infecção nas vias aéreas ou pneumonia. Entre as causas mais prováveis de mortes provocadas pela poluição, o câncer poderá ser o responsável por quase 30 mil casos até 2030 em todos os municípios de São Paulo. Asma, bronquite e outras doenças respiratórias extremamente agravadas pela poluição podem representar outros 93 mil óbitos, já contando a estimativa de crianças atingidas no período. Doutora em Patologia pela Faculdade de Medicina da USP e uma das autoras da pesquisa, Evangelina Vormittag afirma que a magnitude dos resultados obtidos pela projeção, que tem como base dados de 2011, comprova a necessidade de o poder público implementar medidas mais rigorosas para o controle da poluição do ar. Nessa lista estão formas alternativas de energia, incentivo ao transporte não poluente, como bicicleta e ônibus elétrico, redução do número de carros em circulação e obrigatoriedade de veículos a diesel utilizarem filtros em seus escapamentos. O programa de instalação de faixas exclusivas de ônibus e de ciclovias na capital, desenvolvido pelo prefeito Fernando Haddad (PT), é indicado como bom exemplo, ainda que os resultados para a saúde pública não estejam mensurados. Fonte: o estado de s. paulo
Atropelamento de animais silvestres em rodovias chega a 450 milhões por ano no Brasil
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s índices de atropelamentos de fauna silvestre nas rodovias brasileiras são alarmantes e a morte causada pelo choque com veículos é considerada um dos fatores que impactam diretamente a conservação da biodiversidade no País. Os atropelamentos atingem 450 milhões de animais anualmente, segundo estimativas do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de Lavras. Isso quer dizer que a cada segundo, 17 animais são mortos vítimas de atropelamentos no Brasil. Um exemplo dos atropelamentos como ameaça a espécies acontece no Mato Grosso do Sul. Pesquisadores do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, relataram que, de abril de 2013 a março de 2014, em apenas três trechos de rodovias do Mato Grosso do Sul (pouco mais de 1 mil quilômetros nas BRs 262, 163 e 267), foram encontradas 1124 carcaças de 25 espécies diferentes de animais silvestres de médio e grande porte, como a anta brasileira, com 36 registros. Nesta pesquisa, a grande vítima desses acidentes foi o cachorro do mato, com 286 indivíduos mortos (confira lista completa ao final). Tais números são extremamente relevantes para algumas dessas espécies que se encontram ameaçadas de extinção na natureza (IUCN Red List of Threatened Species e Lista Vermelha Nacional do ICMBIO – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), como a anta, listada como Vulnerável à Extinção especialmente por causa de seu ciclo reprodutivo muito longo (cerca de dois anos). A pesquisa identificou ainda que diariamente uma ou até duas antas são mortas a cada 1000km de rodovias no Estado. “O problema é de fato muito grave e acontece por uma série de razões, entre elas, a negligência do motorista, que muitas vezes ultrapassa a velocidade permitida ou ainda atropela por fatores culturais, de superstição, por exemplo”, afirma Patrícia Medici, coordenadora da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (IPÊ). A pesquisadora ainda relata que em alguns casos, pequenas medidas podem fazer a diferença para solucionar o problema. “Em 2006, no Pontal do Paranapanema no Estado de São Paulo, na SP-613 [que corta o Parque Estadual Morro do Diabo], foram instaladas placas educativas e ra-
Especialistas criam a Rede Estrada Viva para combater o atropelamento de animais silvestres e a perda de biodiversidade no País dares a fim de reduzir os atropelamentos de fauna. Apenas com essas medidas, a mortalidade de antas por atropelamento foi reduzida de uma média de seis antas por ano para uma anta a cada três anos”, afirma Patrícia. Rede Estrada Viva Para combater os atropelamentos de fauna no Estado do Mato Grosso do Sul, foi criada a Rede Estrada Viva, composta por profissionais de diferentes áreas e diversas organizações socioambientais. A Rede vai atuar junto a diversos atores direta ou indiretamente envolvidos com as tomadas de decisão para a proteção de espécies da fauna nas estradas. De 29 a 30 de julho, esses profissionais reuniram-se em Campo Grande (MS) para desenvolver um planejamento estratégico que contempla: compilação de dados já existentes sobre o tema, comunicação e sensibilização dos mais diversos públicos para o problema, e sistemas de mitigação dos impactos das estradas na vida de animais silvestres. Algumas das ações já estão pautadas para serem implementadas nos próximos meses. A ideia da Rede Estrada Viva é também divulgar o tema para o Brasil, fazendo com que aumente o interesse por informações e soluções para o problema dos atropelamentos em todos os Estados. “O problema não é só com a fauna silvestre, mas com toda a sociedade. Um atropelamento de espécie de médio a grande porte, por exemplo, além de afetar o animal, causa perda de vidas humanas. Há também o dano material que geralmente esses atropelamentos causam. Por essa razão, medidas mitigatórias são urgentes”, afirma Alex Bager, coordenador do CBEE e um dos criadores do Urubu Mobile, aplicativo para celular que permite que qualquer pessoa colabore com a redução da mortalidade de fauna silvestre por atropelamento. Dia de Urubuzar Uma das ações já planejada com o apoio da Rede Estrada Viva, e que acontecerá no dia 15 de Novembro, é o Dia Nacional de Urubuzar. A proposta vem do CBEE/UFLA com o objetivo de fazer com que as pessoas se mobilizem, por meio de qualquer atividade, para lembrar a importância do tema para a conservação da biodiversidade brasileira. Vale fazer palestra, distribuir informações sobre o problema dos atropelamentos da fauna nas estradas, utilizar o aplicativo Urubu, entre outras ações. Quem participar poderá divulgar as ações no Facebook do evento: www.facebook.com/groups/urubuzar. Fonte: ipe.org.br
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vilmar berna
por Paula Piccin
Em nome da sobrevivência Bryan Rosengrant/Flickr cc 2.0
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Todos nós somos importantes porque contribuímos para fazer com que o mundo esteja como está por francisco milanez*
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uando a maioria de vocês ainda não tinha nascido, há 40 anos surgia o movimento ecológico brasileiro, em Porto Alegre, na Agapan – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. Até então já havia pessoas que lutavam pelo conservação da natureza, por admiração e respeito. Pessoas como estas criaram o movimento ecológico numa luta, que não era mais só para proteger a natureza, mas para permitir a sobrevivência da humanidade também. Hoje De lá para cá, muita coisa mudou, inclusive as pessoas que participam do movimento. No começo a luta era quase que exclusivamente para impedir a destruição de árvores, morros, rios e parques. Hoje, a luta ambiental quer também encontrar formas melhores de fazer as coisas, reaproveitar os restos de nossa sociedade e discutir se algumas coisas são realmente necessárias para o nosso bem-estar. Hoje, estamos em um momento interessante, que envolve toda a sociedade, na busca de soluções para viver melhor. Todos nós somos importantes porque contribuímos para fazer com que o mundo esteja como está. Existem duas maneiras de atuar na nossa sociedade: a forma ativa e a passiva. Os ativos são em menor quantidade. Alguns defendem ativamente a natureza. Outros, a destroem desmatando, poluindo e explorando-a de forma agressiva. Os passivos são a maioria e, aparentemente, não fazem nada, mas isto não é verdade. Todos nós compramos coisas e temos uma forma de viver que é a nossa. Isto, embora não pareça, é muito importante e também pode ajudar ou atrapalhar a questão ambiental.
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no planeta Como modificamos Quando compramos um veneno para matar baratas em casa, estamos atuando sobre o meio ambiente. Através das baratas, aquele veneno vai começar a fazer parte do meio ambiente. Se ele for um veneno que não é biodegradável, vai entrar no ciclo da vida e acabará voltando para nós, através dos alimentos. O que um dia esteve em uma barata ou formiga, amanhã poderá estar na gente. Além do perigo imediato do veneno, quando compramos, estamos também estimulando a indústria a produzir mais veneno. Afinal, o que não é vendido não é produzido. Quando ligamos uma luz desnecessária ou qualquer outro aparelho elétrico, estamos aumentando o consumo de energia e, para isto, vai ser queimado mais carvão ou vão ser inundadas mais terras com barragens para produzir a energia que gastamos. Quando compramos um alimento para comer ou beber, cheio de produtos químicos, estamos consumindo algo que não é saudável ao invés de alguma coisa natural e estamos incentivando a produção dessas coisas. Quando desperdiçamos papel, estamos desperdiçando as árvores das quais o papel é feito. Quando jogamos na terra produtos químicos, estamos envenenando a terra e a água que são as fontes da nossa alimentação. Tudo o que vai para a terra, a chuva leva também para os rios ou para as nascentes destes rios. A lição da ecologia Através da ecologia, o homem descobriu que a vida não é apenas um somatório de acontecimentos isolados. Ao contrário, tudo está relacionado. É muito bonito ver como somos ligados e dependentes da natureza. Tudo o que ela faz influi sobre a gente. O veneno que o vizinho usou no jardim, amanhã poderá estar no nosso organismo produzindo uma doença. A poluição das fábricas, que incentivamos comprando, torna a vida pior. Tudo influi sobre tudo. E por isto, quando se fala em consciência ecológica, se fala em ver o mundo de uma forma global. Isto é porque o que os países estão poluindo em seu território já está matando os animais lá longe, no pólo, através da água dos rios que acaba no mar e através do ar poluído que também chega lá. Tudo isto não significa que tenhamos que tornar a vida algo desagradável, onde não se possa fazer nada de bom. Pensar assim, ao contrário, é libertar a humanidade de toda a mentira que ela mesma criou. A mentira de ficar comprando os alimentos pelas embalagens, sem se preocupar com o conteúdo. Quando comprarem as coisas, pensem no que elas vão causar para sua saúde ou quanto as embalagens delas podem vir a sujar o mundo. Pensem sempre sobre os efeitos de cada uma das ações de vocês no dia-a-dia. É exatamente o ato de pensar que pode libertar o homem da destruição do nosso planeta que é único. Abraçar um amigo, sorrir para a namorada, conversar, caminhar, aprender-ensinar, são as coisas verdadeiramente boas, não poluem e tornam o mundo mais belo. O resto é enfeite. Fonte: franciscomilanez.com *Professor, arquiteto, urbanista, biólogo, escritor e terapeuta. Atual coordenador do Plano Rio Grande do Sul Sustentável do Governo do Estado do RGS, ex- presidente da Agapan - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural
O nebuloso cenário Entrevista especial com Robson Barizon
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pesar de o Brasil ser o maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2008, é preciso “gerar muito mais informação para entender como está o cenário de uso de agrotóxicos no país”, diz Robson Barizon, um dos autores do estudo “Panorama da contaminação ambiental por agrotóxicos e nitrato de origem agrícola no Brasil: cenário 1992/2011”, realizado pela Embrapa neste ano. Segundo ele, ainda são produzidas poucas pesquisas em relação às implicações do uso de fertilizantes na agricultura. “A restrição orçamentária talvez seja o principal ponto a ser desenvolvido, porque ainda não temos programas de monitoramento, como seria o ideal. Todos os estados deveriam ter um programa de monitoramento, considerando suas culturas e as moléculas mais utilizadas na região, e a partir das conclusões dos monitoramentos regionais/estaduais, deveriam ser tomadas as medidas para mitigar os impactos levantados por esses monitoramentos”, pontua, em entrevista por telefone à IHU On-Line. Entre as preocupações envolvendo o uso de agrotóxicos no país, Barizon chama a atenção para a contaminação da água, “já que a falta de saneamento de esgoto é um problema sério no Brasil. Esse esgoto tem níveis altos de nitrato, além de outros problemas microbiológicos, e níveis altos de nitrogênio. Em pontos próximos às áreas urbanas, é possível observar níveis maiores de nitrogênio, mas em bacias hidrográficas, onde a influência maior é só da área agrícola, os níveis de nitrogênio ainda são considerados baixos. Tendo a agricultura como fonte de contaminação, ainda não constatamos um problema que leve a ações maiores”. Entre as culturas que contaminam a água, está a produção de arroz irrigado. “Pelo fato de o arroz irrigado ser produzido com lâmina d’água, a qual retorna aos corpos d’água, existe, sim, um risco maior de contaminação nessa cultura do que em outras. Isso foi constatado em alguns estudos que nós levantamos. Então, nesse sentido, há, sim, uma preocupação com a cultura do arroz e deve ser dada mais atenção ao manejo desse produto”, adverte. Robson Barizon é graduado em Engenharia Agrônoma pela Universidade Federal do Paraná – UFPR e doutor em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade de São Paulo – USP. Atualmente é pesquisador da Embrapa Meio Ambiente de São Paulo. Confira a entrevista cedida ao IHU Online.
IHU On-Line: Quais são as principais conclusões do estudo sobre contaminação por agrotóxicos no Brasil, intitulado “Panorama da contaminação ambiental por agrotóxicos e nitrato de origem agrícola no Brasil: cenário 1992/2011”? É possível dar um parecer sobre o uso de agrotóxico nas regiões analisadas? Os níveis de uso de agrotóxicos são aceitáveis ou ultrapassam o limite permitido? Robson Barizon: A principal conclusão a que chegamos com esse trabalho foi a de que ainda há muita informação a ser gerada para que consigamos ter uma posição mais assertiva sobre a condição do meio ambiente em relação à contaminação por agrotóxicos no Brasil. Pelos trabalhos que conseguimos levantar [1], os níveis de resíduos ainda são considerados aceitáveis e estão de acordo com os padrões internacionais estabelecidos. De todo modo, não foi possível uma conclusão assertiva sobre o panorama do uso de agrotóxicos no país, considerando a quantidade restrita de trabalhos encontrados sobre o tema. ag o s to 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r
dos agrotóxicos no Brasil
Neil Palmer/CIAT/Flickr cc 2.0
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IHU On-Line: Quais são os avanços em relação à análise da toxicologia dos agrotóxicos? Robson Barizon: A ciência e os métodos estão avançando, inclusive a sensibilidade analítica dos equipamentos está evoluindo com o tempo. Então, moléculas que antes não eram detectadas passam a ser detectadas com métodos mais modernos e com equipamentos mais sensíveis. IHU On-Line: Um dos objetivos do estudo foi identificar e avaliar o cenário de uso e presença de agrotóxicos e fertilizantes nitrogenados no Brasil. Quais são as principais constatações acerca desse ponto? Quais as ocorrências de agrotóxicos e de nitrato nas cinco regiões brasileiras analisadas e em quais culturas esse fertilizante é utilizado? Robson Barizon: Hoje a produção agrícola brasileira é quase que completamente pautada pelo uso desse insumo. Nesse trabalho não foi abordada a intensidade de uso de cada uma das culturas produzidas no Brasil, mas de forma geral podemos dizer que os grãos utilizam agrotóxicos em uma intensidade menor, e culturas com valor agregado maior, como hortaliças e espécies frutíferas, usam agrotóxicos com uma intensidade maior. Com relação ao nitrato, os níveis encontrados em áreas agrícolas foram baixos e não eram preocupantes. Talvez a preocupação maior seja realmente com a fonte urbana de contaminação, que
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aos corpos d’água, existe, sim, um risco maior de contaminação nessa cultura do que em outras. Isso foi constatado em alguns estudos que nós levantamos. Então, nesse sentido, há, sim, uma preocupação com a cultura do arroz e deve ser dada mais atenção ao manejo desse produto. IHU On-Line: É alto o índice de uso de agrotóxicos na produção de arroz? Robson Barizon: É alto, sim, o índice de uso de agrotóxico nessa cultura. Mas nós só incluímos na pesquisa os trabalhos que encontramos, os quais já mostram que existe um potencial de contaminação. Existem algumas iniciativas do Estado do Rio Grande do Sul para acompanhar a situação, porque realmente é necessário, uma vez que existe um uso intensivo de agrotóxicos na produção de arroz e a água utilizada para a irrigação retorna aos rios, aos corpos d’água.
é o esgoto não tratado. Então, no que se refere ao nitrato, há tensão com a fonte urbana de contaminação, já que a falta de saneamento de esgoto é um problema sério no Brasil.
como os esgotos no Brasil têm um percentual de tratamento muito baixo, uma parte do esgoto gerado é lançada diretamente nos rios. Esse esgoto tem níveis altos de nitrato, além de outros problemas microbiológicos, e níveis altos de nitrogênio robson barizon
IHU On-Line: Então o problema não está na quantidade de nitrato utilizado nas culturas agrícolas, mas na falta de tratamento da água? Robson Barizon: Sim, porque como os esgotos no Brasil têm um percentual de tratamento muito baixo, uma parte do esgoto gerado é lançada diretamente nos rios. Esse esgoto tem níveis altos de nitrato, além de outros problemas microbiológicos, e níveis altos de nitrogênio. Em pontos próximos às áreas urbanas, é possível observar níveis maiores de nitrogênio, mas em bacias hidrográficas, onde a influência maior é da área agrícola, os níveis de nitrogênio ainda são considerados baixos. Tendo a agricultura como fonte de contaminação, ainda não constatamos um problema que leve a ações maiores. IHU On-Line: Quais são as principais observações a serem feitas em relação ao uso de agrotóxicos na cultura de arroz, por exemplo, no RS? Há risco de contaminação dos corpos d’água que recebem a água da lavoura? Robson Barizon: Pelo fato de o arroz irrigado ser produzido com lâmina d’água, a qual retorna
IHU On-Line: O estudo aponta que na região Nordeste o uso de agrotóxicos é intenso por conta da produção de frutas para exportação. Quais são as frutas cultivadas a base de agrotóxicos? Nesse caso há um controle do uso de agrotóxico por conta da fiscalização do mercado externo? Robson Barizon: A produção de frutas lá é praticamente feita de forma irrigada e basicamente é feita no Vale do Rio São Francisco. As principais culturas ali cultivadas são mamão, uva de mesa e melão. Só que nesse caso os níveis de agrotóxico são bastante controlados porque os países importadores têm normas rígidas de controle. Então, pelo menos nessas áreas existe um cuidado com o uso de agrotóxicos para que não ultrapassem os limites aceitáveis no fruto, porque os países que importam, geralmente países da Europa e do Hemisfério Norte, também fazem o controle. IHU On-Line: Alguns aquíferos já apresentam indícios de contaminação por conta do uso de agrotóxicos? A pesquisa menciona uma preocupação com os aquíferos de Serra Grande e Poti-Piauí, no Piauí? Robson Barizon: Nesse caso nós levantamos a informação e o cuidado preventivo que deve existir com esses aquíferos. Muitos aquíferos estão protegidos por uma camada de rocha impermeável, que funciona como uma barreira, mas os de Serra Grande e Poti-Piauí são aquíferos livres, ou seja, eles chegam até a superfície do solo, então o potencial de contaminação deles é alto. Porém, isso não quer dizer que eles já estejam contaminados. Nas áreas desses aquíferos existe o uso de agrotóxicos, mas apenas o uso não indica que haja contaminação, porque se podem selecionar moléculas – essa é uma das formas de se evitar a contaminação – que tenham menor solubilidade em água. r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > ag o s to 2 0 1 4
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Existe uma variedade muito grande de moléculas, de propriedades físico-químicas de moléculas. Se, nessas situações, forem selecionadas moléculas que não sejam muito solúveis em água, que não vão ser transportadas junto com a água, que vão ficar retidas na superfície do solo, onde se precisa fazer o controle do fungo, da planta daninha, do inseto, então o risco de contaminação é bastante reduzido. Portanto, trata-se mais de um alerta para que sejam tomadas medidas de prevenção em relação aos aquíferos. No Brasil ainda não há indicativo de que qualquer aquífero esteja contaminado. IHU On-Line: Na região Centro-Oeste, chama a atenção na pesquisa a redução entre 40 e 50% dos teores de matéria orgânica dos solos cultivados em relação aos solos virgens. Quais as implicações do uso de agrotóxico para o solo? Robson Barizon: Principalmente onde a vegetação natural era mata, com grande porte de biomassa, quando foi feita a retirada dessa mata e foi introduzida a atividade agrícola, os níveis de material orgânico diminuíram. Isso aconteceu no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, quando se reduziu a Mata Atlântica para a expansão da agricultura, ou seja, os níveis de carbono foram reduzidos. Como um dos mecanismos de retenção dos agrotóxicos do solo é a retenção pela matéria orgânica, se o nível de matéria orgânica é reduzido, a retenção é menor. O plantio direto, que foi adotado a partir da década de 1990 e se expandiu no Brasil, vai no caminho contrário; ele aumenta novamente os níveis de carbono. Então, medidas como essa, utilizadas na agricultura onde houve decréscimo dos níveis de matéria orgânica de carbono, possibilitam que se atinjam novamente os níveis iniciais de matéria orgânica ou, pelo menos, que se elevem esses níveis. IHU On-Line: Como tem se dado o processo de recolhimento das embalagens de agrotóxicos? Qual a situação do Brasil em relação à logística reversa? Robson Barizon: Esse é um motivo de orgulho para o Brasil, porque o país é referência mundial em logística reversa. Foi criado o Instituto para o Desenvolvimento Social e Ecológico – Idese, o órgão responsável pela organização e execução dessa atividade. O Brasil recolhe acima de 80, 90% das embalagens e é o líder mundial nesse quesito, ou seja, é o país que consegue recolher o maior índice de embalagens de agrotóxicos que, se ficarem na propriedade, no campo, têm um potencial alto de contaminação tanto para o trabalhador quanto para o meio ambiente. IHU On-Line: Na pesquisa vocês mencionam que apesar de o uso de agrotóxico ter crescido consideravelmente no país, ainda há pouca pesquisa sobre o assunto. Quais as razões? ag o s to 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r
Temos muito a avançar no controle biológico, no uso de agentes biológicos para controlar outras pragas, quer dizer, se usa um inseto para controlar outro inseto, se usa um microrganismo para controlar outro inseto. Esse tipo de prática deveria ser mais estudado e desenvolvido no Brasil robson barizon
E que tipo de estudo e monitoramento deveria ser feito para se ter um panorama do uso de agrotóxicos no país? Robson Barizon: Esse é um processo lento e gradual. A legislação que trata da regulamentação do uso de agrotóxicos no Brasil tem avançado, inclusive nos últimos 20 anos. Mas o acompanhamento acerca do uso de agrotóxicos exige investimento, porque são análises caras. Então, a restrição orçamentária talvez seja o principal ponto a ser desenvolvido, porque ainda não temos programas de monitoramento, como seria o ideal. Todos os estados deveriam ter um programa de monitoramento, considerando suas culturas e as moléculas mais utilizadas na região, e a partir das conclusões dos monitoramentos regionais/estaduais, deveriam ser tomadas as medidas para mitigar os impactos levantados por esses monitoramentos. IHU On-Line: Qual é a alternativa aos agrotóxicos? É possível pensar no desenvolvimento agrícola sem o uso desses produtos? Robson Barizon: Uma agricultura sem o uso de agrotóxicos não é possível; seria uma perspectiva utópica. Mas podemos avançar muito mais para reduzir o uso desses produtos. Nesse sentido, devese trabalhar em duas frentes: constatado o fato de que é preciso fazer uso dessa substância, então temos de controlá-la e monitorá-la; além disso, podemos fazer o uso racional dessas substâncias, utilizando-as somente quando for necessário. Temos muito a avançar, por exemplo, no controle biológico, no uso de agentes biológicos para controlar outras pragas, quer dizer, se usa um inseto para controlar outro inseto, se usa um microrganismo para controlar outro inseto. Esse tipo de prática deveria ser mais estudado e desenvolvido no Brasil. Em relação à tecnologia de aplicação, é importante usar equipamentos com a regulagem correta para aquela condição de uso, para que se evitem perdas para a atmosfera, para que se evite a contaminação de áreas que não aquelas onde a lavoura está instalada. Então, há uma série de práticas que podem reduzir a quantidade de agrotóxico utilizada. Hoje, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, tomando o posto que antes era ocupado pelos Estados Unidos, e a tendência é de alta. Então, todas essas medidas poderiam reverter essa tendência de aumento de consumo e trazer a agricultura brasileira para níveis mais sustentáveis. NOTA [1] O estudo Panorama da contaminação ambiental por agrotóxicos e nitrato de origem agrícola no Brasil: cenário 1992/2011 foi realizado com base na análise de pesquisas acadêmicas sobre o uso de agrotóxicos no período de 1992 a 2011. Fonte: ihu online
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Ambientalistas apresentam aos presidenciรกveis
carta com 14 metas
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educação ambiental
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Casa das
estrelas Um professor colombiano passou dez anos coletando definições de seus alunos e, como resultado, obteve um dicionário com verbetes ao mesmo tempo puros, lógicos e reais
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Feira do Livro de Bogotá, que aconteceu no final de abril, teve como maior sucesso um livro chamado Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças. Mais especificamente, uma parte dele: um dicionário feito por crianças que traz cerca de 500 definições para 133 palavras, de A a Z. Apesar de lançado originalmente em 1999, o livro foi reeditado neste ano. Javier Naranjo, o autor, conta que compilou as informações durante dez anos enquanto trabalhava como professor em diferentes escolas do estado de Antioquía, região rural do leste do país. A ideia surgiu quando, em uma comemoração do Dia das Crianças, ele pediu que seus alunos definissem a palavra “criança”. O resultado encantou o professor – uma das definições era “uma criança é um amigo que tem o cabelo curtinho, não toma rum e vai dormir mais cedo”. A partir daí foram surgindo novas definições, que eram sempre anotadas e guardadas. Para ele, as crianças têm uma lógica diferente, uma maneira própria de entender o mundo e de revelar muitas coisas que os adultos já esqueceram. É assim que, no peculiar dicionário, o adulto é uma “pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro de si”, água é uma “transparência que se pode tomar”, um camponês “não tem casa, nem dinheiro. Somente seus filhos” e a Colômbia é “uma partida de futebol”. Confira abaixo alguns dos verbetes encontrados no livro.
Livro fez sucesso durante a Feira do Livro de Bogotá
Ecoalfabetização: manual de sobrevivência em um planeta em extinção
Fonte: catraca livre, Com informações da BBC Mundo
Água: Transparência que se pode tomar. (Tatiana Ramírez, 7 anos) Camponês: um camponês não tem casa, nem dinheiro. Somente seus filhos. (Luis Alberto Ortiz, 8 anos) Céu: De onde sai o dia. (Duván Arnulfo Arango, 8 anos) Dinheiro: Coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos. (Ana María Noreña, 12 anos) Escuridão: É como o frescor da noite (Ana Cristina Henao, 8 anos) Lua: É o que nos dá a noite (Leidy Johanna García, 8 anos)
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planeta Terra está em extinção? Ainda é possível salvá-lo? O que é possível realizar concretamente e o que é mais urgente? O que cada um pode fazer? Eu posso ser um ecologista? O debate dessas questões é apresentado pelo ecologista Francisco Milanez em textos curtos, com linguagem simples e direta. O livro também propõe questões para debate e sugestões de atividades.
Mãe: Mãe entende e depois vai dormir (Juan Alzate, 6 anos) Tempo: Coisa que passa para lembrar (Jorge Armando, 8 anos) Universo: Casa das estrelas (Carlos Gómez, 12 anos)
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Leia uma amostra em: www.mundojovem. com.br/arquivos/downloads/ ecoalfabetizacao_sumario_160.pdf.
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PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ) COM ÁTILA NUNES E ÁTILA ALEXANDRE NUNES
Jaime Quitério, Átila Alexandre Nunes, Renata Maia e Átila Nunes
O programa Reclamar Adianta é transmitido durante a semana das 10 horas ao meio dia através da Rádio Bandeirantes AM 1360 (RJ), podendo também ser acessado pela internet: www.reclamaradianta.com.br Se desejar, envie a sugestão de um tema para ser abordado. Aqui os ouvintes participam de verdade. Abraços, Equipe do programa Reclamar Adianta
Ao lado do deputado está o filho dele, Átila Alexandre Nunes
PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA
RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)
De 2ª à 6ª feira, entre 10h e meio dia. Com Átila Nunes e Átila Alexandre Nunes Ouça também pela internet: www.reclamaradianta.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5588 twitter: @defesaconsumo www.emdefesadoconsumidor.com.br (serviço 100% gratuito) atilanunes@reclamaradianta.com.br atilanunes@emdefesadoconsumidor.com.br
PROGRAMA PAPO MADURO
RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ) De 2ª à 6ª feira, ao meio dia. Ouça pela internet: www.papomaduro.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5144 E-mail: ouvinte@papomaduro.com.br r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r > ag o s to 2 0 1 4
As 8 reivindicações mais polêmicas do por Najla Passos
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esponsável por 23% de toda a riqueza gerada no país, o setor do agronegócio sabe que seu apoio pode ser decisivo tanto na eleição quanto na governabilidade de um presidente. Por isso, no dia 6 de agosto, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) convocou os três candidatos melhores posicionados nas pesquisas para uma espécie de sabatina. Ao final, cada um deles recebeu o documento O que esperamos do próximo presidente 2015-2018, que condensa as expectativas dos grandes produtores rurais para o próximo mandato. O setor reconhece que, na última década, o agronegócio cresceu como nunca. A produção, hoje, é 70% maior do que na época em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o poder. As commodities agrícolas responderam por 44% das exportações brasileiras nos primeiros quatro meses deste ano. Mas os grandes produtores querem muito mais. As palavras de ordem deles são competitividade e segurança jurídica. E é em nome delas que reivindicam obras de logística, mais crédito rural, desonerações, investimentos públicos e redução do custo da folha de pagamento. E investem contra as demarcações de terras indígenas e as regularizações fundiárias de áreas quilombolas e de proteção ambiental. Confira a seguir as 8 reivindicações mais polêmicas do setor: 1 - Mais “dinamismo” na concessão de crédito rural No último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, o volume de crédito para o agronegócio foi de R$ 15,7 bilhões. Em maio passado, a presidenta Dilma Rousseff lançou o maior Plano Safra da história, com a liberação de R$ 156 bilhões e a promessa que, se for necessários, liberará mais recursos para o setor. Agora, os produtores ainda querem menos burocracia para colocar as mãos no dinheiro. No documento entregue aos presidenciáveis, afirmam o crédito rural é “complexo, com alto custo operacional, com exigência de certidões em papel e fiscalização sem efetividade”. Entre as medidas que apontam para reverter o problema, consta a aprovação, até o final de 2015, de um novo marco legal para a política agrícola, que transforme os grandes investimentos no setor em política de Estado e dinamize sua concessão.
agronegócio Presidenciáveis receberam documento que condensa as expectativas dos grandes produtores rurais para o próximo mandatário
Maria Hsu/Flickr cc 2.0
Especial Eleições
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A criminalização dos movimentos sem-terra é uma das reinvidações feitas
2 – Proteção da renda do produtor Além de crédito farto e fácil, os produtores também querem seus lucros protegidos da volatilidade da economia capitalista que eles mesmos apoiam. Reivindicam intervenção estatal para assegurar que não saiam no prejuízo, caso ocorra, por exemplo, uma crise que derrube os preços de determinado produto no mercado internacional. Segundo eles, “é inadmissível que no Brasil só 8,74% da área plantada seja segurada”. 3 - Reformulação do Mercosul Para o setor, a participação do Brasil no Mercosul prejudica negociações bilaterais que podem aumentar o faturamento do agronegócio. Contrários à política que privilegia as relações Sul-Sul como forma de quebrar a hegemonia global, o que os produtores querem é fechar grandes acordos com os ricos, como os Estados Unidos e a União Europeia. Conforme o documento, é necessária a “definição de uma estratégia de política comercial clara e objetiva, que resgate a autonomia do Brasil para negociar acordos comerciais independente do Mercosul”. 4 - Redução do “custo do trabalho” Como os empresários, os produtores rurais querem reduzir a proteção social dos trabalhadores para obterem mais lucros. No documento entregue aos presidenciáveis, a questão é colocada de forma tão imperativa que soa quase como ameaça: “a saída tem sido a mecanização massiva das operações, reduzindo a mão de obra em atividades que, há bem pouco tempo, eram as que mais geravam empregos no campo”. Eles reivindicam, por exemplo, a revisão das normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho para a atividade rural. Entre elas está a NR 31, que exige banheiro ou barraca sanitária para atender aos trabalhadores rurais e a proíbe o transporte dos mesmos em pé. E também a NR 15, que normatiza o tempo e o nível de exposição do trabalhador ao sol. Os grandes produtores rurais também se somam aos empresários para exigir a regulamentação total das terceirizações. 5 – Relativização do conceito de “trabalho escravo” Inconformados com a Lei nº 10.803/2003, que tipifica a condição de trabalho análogo ao escravo no Código Penal, os grandes produtores rurais querem relativizar esse conceito. A justificativa é que não se pode identificar com clareza uma situação de condição análoga a escravo, em razão do que eles classificam como “excessiva subjetividade” dos termos “jornada exaustiva” e “trabalho degradante”.
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6 – Fim das demarcações das terras indígenas e quilombolas As terras indígenas e quilombolas representam hoje a fronteira agrícola para o avanço do agronegócio. Por isso, o setor investe contra elas com toda a sua força. Na questão indígena, os principais alvos dos ataques são a Funai, que avalia atualmente a criação de 128 novas áreas, e organizações da sociedade civil como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que reivindica as demarcações de outras 339. Na quilombola, as investidas são contra a Fundação Palmares, que estuda o reconhecimento de 220 quilombos. 7 - Criminalização dos movimentos sociais de luta pela terra Os produtores rurais sabem que, no Brasil, a reforma agrária só avança com luta dos movimentos sociais do campo, que pressupõe a ocupação dos latifúndios improdutivos e terras públicas ilegalmente usurpadas. Por isso, insistem na criminalização dos movimentos sem-terra, exigindo a “exemplar punição dos responsáveis por tais ilícitos”. “É preciso estabelecer, com urgência, que a invasão é e sempre será um ato ilegal. Invasões, como mecanismos de pressão dos ditos movimentos sociais sobre o governo, para realizar a reforma agrária, são atos ilegais e não reivindicatórios”, diz o documento. 8 – Meio Ambiente como modelo de negócio Na área de Meio Ambiente, os produtores querem a imediata implementação do novo Código Florestal, já amplamente debatido pela sociedade até sua sanção pela presidenta Dilma, em 2012. Mas também pedem uma série de medidas adicionais que ajudem o setor a melhorar seu desempenho. Entre elas a maior margem para emissão de CO2, a adoção de um marco legal que impeça a cobrança pela utilização de recursos genéticos e conhecimentos tradicionais, a regulamentação dos biomas de modo a não frear a atividade produtiva e até a privatização das reservas de água.
Consumo de carne bovina é 10 vezes mais custoso para o ambiente, diz estudo
Quanto custa este
O
churrasco?
gado bovino demanda 28 vezes mais terra e 11 vezes mais irrigação que os suínos e as aves, e uma dieta com sua carne é dez vezes mais custosa para o meio ambiente, segundo um estudo publicado pela revista Proceedings da National Academy of Sciences. O estudo foi conduzido por Ron Milo do Instituto Weizmann de Ciência, em Rehovot (Israel), com a colaboração de pesquisadores do Centro Canadense de Pesquisa de Energias Alternativas, do Conselho Europeu de Pesquisa, e Charles Rotschild e Selmo Nissenbaum, do Brasil. A equipe observou as cinco fontes principais de proteínas na dieta dos americanos: produtos lácteos, carne bovina, carne de aves, carne de suínos e ovos. O propósito era calcular os custos ambientais por unidade nutritiva, isto é uma caloria ou grama de proteína. A composição do índice encontrou dificuldades dada à complexidade e variações na produção dos alimentos derivados de animais. Por exemplo, o gado pastoreado na metade ocidental dos Estados Unidos emprega enormes superfícies de terra, mas muita menos água de irrigação que em outras regiões, enquanto o gado em currais e alimentado com ração consome, principalmente, milho, que requer menos terra, mas muito mais água e adubos nitrogenados. A informação que os pesquisadores usaram como base para seu estudo proveio, majoritariamente, dos bancos de dados do Departamento de Agricultura. Os insumos agropecuários levados em consideração incluíram o uso da terra, da água de irrigação, das emissões dos gases que contribuem ao aquecimento atmosférico, e do uso de adubos nitrogenados. Os cálculos mostraram que o alimento humano de origem animal com o custo ambiental mais elevado é a carne bovina: dez vezes mais alto que todos os outros produtos alimentícios de origem animal, inclusive carne suína e de aves. “O gado requer, na média, 28 vezes mais terra e 11 vezes mais água de irrigação, emite cinco vezes mais gases e consome seis vezes mais nitrogênio que a produção de ovos ou carne de aves”, indica o estudo. Por seu lado, a produção de carne suína ou de aves, os ovos e os lácteos mostraram custos ambientais similares. Os autores se mostraram surpreendidos pelo custo ambiental da produção de lácteos, considerada em geral menos onerosa para o ambiente. Se for levado em conta o preço de irrigação e os adubos que se aplicam na produção da ração que alimenta o gado bovino para ordenha assim como a ineficiência relativa das vacas comparadas com outros bovinos, o custo ambiental dos lácteos sobe substancialmente. Fonte: uol/Agência efe
Fonte: carta maior
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biodiversidade
Entre outras medidas, o setor reivindica a revogação da instrução normativa 91/11, que faz exatamente isso e, a partir daí, compõe a lista suja dos empregadores que praticam trabalho escravo. “É preciso reformular o processo de inclusão de empregadores na lista, de forma a garantir a ampla defesa e evitar que meras irregularidades trabalhistas sejam confundidas com a prática do trabalho escravo “.
Steve Johnson/Flickr cc 2.0
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Ações de sustentabilidade propostas pelos Governos para as Olimpíadas Rio 2016 Quanto mais o público souber, melhor poderá cobrar os resultados. Confira detalhes de cada linha de trabalho por Juliana Machado Ferreira
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egundo o Portal da Transparência (http:// www.portaltransparencia.gov.br/rio2016/ meioambiente/) o programa de sustentabilidade e de meio ambiente dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos 2016 se propõe a atuar nas três esferas de governo – Federal, Estadual e Municipal – em um comprometimento conjunto para atender às exigências do Comitê Olímpico Internacional (COI) e às necessidades do município do Rio de Janeiro e de sua região metropolitana. As ações de sustentabilidade estarão focadas em quatro frentes centrais de trabalho: conservação da água, energia renovável, jogos neutros em carbono e gestão do lixo e responsabilidade social. Gestão e tratamento da água Ações propostas pelo Rio 2016 • Uso de equipamento de águas cinzas e uso secundário de água de chuva para irrigação para o Programa de Construções Verdes Rio 2016. • Instalações do Centro Olímpico de Treinamento (COT), da Vila Olímpica e Paralímpica e do Parque Radical com unidades independentes de tratamento de esgoto. • Restauração do curso do Rio Maringá, na Zona Deodoro, através de um programa comunitário. Compromissos de Governo • Assegurados pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (2008) do Governo Federal que define os alvos do tratamento no nível nacional, estadual e municipal, com investimentos de US$ 4 bilhões que já foram alocados aos programas de restauração (Programa de Despoluição da Baía de Guanabara e da Barra – Jacarepaguá) que irão resultar na coleta e no tratamento de 80% de todos os esgotos até 2016. • US$ 165 milhões alocados pelo setor privado e pela CEDAE para completar a renovação completa da Lagoa Rodrigo de Freitas, que receberá as competições de Canoagem (Velocidade) e Remo e da Lagoa de Jacarepaguá na Zona da Barra para melhorar a capacidade de dragagem e a qualidade da água para uso dos banhistas.
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Tânia Rêgo/ABr
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Alunos da rede municipal de educação do Rio na Praça do Conhecimento, no Complexo do Alemão, durante evento de apresentação da Bandeira Olímpica
Educação e conscientização ambiental Ações propostas pelo Rio 2016 • Programa de Eco-Cidadania Olímpica para promover a sustentabilidade de todos os grupos civis do Rio. • Novos Eco-museus: um centro para a educação e a cultura ambiental dentro do Parque Olímpico do Rio, para aumentar a conscientização sobre o legado e medidas dos Jogos para a sustentabilidade ambiental, com apoio das ONGs locais. Compromissos de Governo • Programas ambientais escolares aumentarão a conscientização sobre os impactos das mudanças climáticas e as maneiras com que indivíduos e comunidades podem combater este fenômeno global, outros programas focarão na proteção das lagoas. Reservas e conservação de energia, uso e gestão de energia renovável Ações propostas pelo Rio 2016 • Construções temporárias com geradores autoalimentados por etanol para as operações de radiodifusão. • Piscinas com painéis solares para aquecimento da água no COT e nas instalações de Pentatlo Moderno. • Células fotovoltaicas nos halls do COT para diminuir a demanda de energia para iluminação. • Tecnologia Brasileira de ponta de célula de hidrogênio, a etanol, em todas as estruturas temporárias para a iluminação de todas as áreas operacionais. • Sistema de Gestão de Energia nos prédios novos para complementar a economia e conservação de energia. • Dentro do Programa de Coleta de Óleo Vegetal do Governo Estadual, o óleo coletado na Vila Olímpica e Paralímpica, do IBC/MPC e das instalações será reciclado em biodiesel.
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Compromissos de Governo • O Programa Nacional para a Produção e a Utilização de Biodiesel no mercado local provocando uma redução considerável da importação de combustível e a melhoria da matriz nacional de energia renovável. Qualidade do ar e Transporte Ações propostas pelo Rio 2016: • 100% da frota de T1-T3 funcionando com etanol. • 100% da frota de ônibus públicos com alto uso percentual de combustível limpo (biodiesel etanol). Compromissos de Governo • Um programa de Qualidade do Ar será inaugurado em todo o território nacional pelo Governo Federal, em 2009. Isso levará ao aumento do número de estações de controle, ao aumento do controle das partículas de NO2, SO2 e ozônio, compromissos com o Plano Estadual de Ação pela Redução de Emissões de Gases de efeito estufa, melhorias do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automóveis e redução dos níveis de enxofre no combustível. Proteção do ecossistema e do solo Ações propostas pelo Rio 2016 • Análise da contaminação do solo a cada nova obra de construção. • Aumento das áreas verdes na cidade através da criação de novas instalações para os Jogos, para eventos culturais e lazer ao ar livre. • No COT, no Parque Radical, na Marina e na Lagoa Rodrigo de Freitas, um estudo preventivo será feito para garantir a preservação das regiões naturais da fauna e da flora. Compromissos de Governo • Uma série de programas e leis integradas: o Plano Nacional de Mudanças Climáticas, a aprovação da Lei Mata Atlântica, o Programa “Zero Desflorestamento Ilegal”, o Fundo de Compensação Ambiental e da Descentralização de Licença Ambiental. • Criação do Parque do Carbono onde mais de 24 milhões de árvores serão plantadas. Gestão do Lixo Sólido Ações propostas pelo Rio 2016 • 100% das novas construções enviando entulho para novas usinas de reciclagem. • Usinas de reciclagem independentes para fluxos separados (recicláveis e orgânicos) nas grandes instalações para reduzir o lixo enviado para os lixões e provocar uma visão de lixo zero. • Rio 2016 e as ONGs criarão juntos um programa para reciclar o material dos Jogos tais como o look dos Jogos, o que poderá gerar um lucro adicional para as comunidades envolvidas.
Compromissos de Governo • Os governos Municipal e Estadual introduzirão sistemas integrados de gestão de lixo sólido para garantir a reciclagem máxima e lançarão uma nova perspectiva para a reutilização de materiais em todas as fases do evento: através da instalação de bombas de metano nos lixões para produção de energia e produção de crédito carbono, o uso de usinas de construção e de demolição, a destruição de todos os lixões ilegais na cidade até 2010 e a melhoria do Movimento Nacional de Cooperativas de Reciclagem. Reflorestamento, biodiversidade e proteção do meio ambiente e legado cultural Ações propostas pelo Rio 2016 • O programa de compensação dos Jogos Neutros em Carbono em um “Parque do Carbono” de 1.360 hectares no Parque Nacional da Pedra Branca onde 3 milhões de árvores serão plantadas em associação com o Instituto Estadual de Florestas, das 24 milhões que serão plantadas no total até 2016. • O Parque Radical será inteiramente reconvertido num parque público protegido com um plano intensivo de reflorestamento, reintroduzindo várias espécies da floresta tropical. Este plano indicará residentes locais para manter a sustentabilidade do parque a longo prazo. • A reforma paisagista e o reflorestamento do Parque Olímpico do Rio sobre 40 hectares, através de um esforço conjunto entre as comunidades vizinhas, residentes locais e comunidades carentes. • Alimentação para a Vila Olímpica e Paralímpica – 100% composta por produtos orgânicos para melhorar a biodiversidade. Compromissos de Governo • Os trabalhos da Educação pela Sustentabilidade da Agenda 21 nas instalações coordenadas pelos Eco-museus não serão apenas concentradas nos esportes integrados e nas atividades ambientais; elas promoverão também as tradições culturais da sociedade multicultural do Rio, a integração de espetáculos de arte (Samba e Capoeira), de tecnologias modernas, de arte de rua criativa e contemporânea através da reciclagem de materiais, o que abrirá novas possibilidades criativas sem comprometer as tradições autênticas. Exerça sua cidadania. Denuncie irregularidades. Colabore com a Controladoria-Geral da União (CGU) na fiscalização do uso do dinheiro público. Envie suas denúncias relativas à defesa do patrimônio público, ao controle sobre a aplicação dos recursos públicos federais, à correição, à prevenção e ao combate à corrupção, às atividades de ouvidoria e ao incremento da transparência da gestão no âmbito da administração pública federal. Use o “Formulário de Denúncias” disponível no site cwww.cgu.gov.br/Denuncias/ A identidade do denunciante e todas as informações pessoais fornecidas são protegidas, nos termos da Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/11), e não podem ser acessadas por terceiros, incluindo servidores públicos não autorizados, a não ser mediante consentimento expresso do autor ou decisão judicial. E, de acordo com o artigo 126-A, da Lei nº 8.112/90, o servidor público que fizer uma denúncia não pode ser penalizado por informar sobre a prática de crimes ou improbidade de que tenha conhecimento, à autoridade superior ou – quando houver suspeita de envolvimento desta – a outra autoridade competente para apuração, ainda que em decorrência do cargo, emprego ou função pública. Para melhor eficácia na apuração da denúncia, envie por Internet ou carta, ou ainda mediante entrega pessoal. Se possível, anexe documentos ou imagens que ajude a comprovar os fatos denunciados por correspondência.
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Plantio de árvores como compensação de emissões na Copa
ficou na promessa Entrevista com Magno Castelo Branco, responsável pelo Departamento Técnico da Iniciativa Verde, para a newsletter Clima e Floresta, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) por Maura Campanili
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esponsável pelo Departamento Técnico da Iniciativa Verde – organização não governamental que trabalha para a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas por meio de recomposição florestal –, Magno Castelo Branco diz que a organização da Copa do Mundo no Brasil acertou na gestão de resíduos, mas decepcionou na compensação de emissões. “Tivemos promessas de plantio de até 34 milhões de árvores, coisa que não ocorreu”. Também consultor do Banco Mundial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Embaixada Britânica sobre assuntos relacionados à mudança do clima, Castelo Branco acredita que a opção por chamar empresas para doarem créditos de carbono – adotada pelo governo e pela Fifa –, tenha pouco valor. “Foi uma atitude desesperada para cumprir de qualquer jeito uma promessa”. Na sua avaliação, é preciso incorporar de maneira significativa iniciativas de compensação de gestão de grandes eventos, buscando mecanismos de compensação que contribuam de maneira significativa para a realidade local. Clima e Floresta: Você acompanhou as medidas de sustentabilidade anunciadas pelo governo brasileiro para a Copa do Mundo? Podemos dizer que foram eficazes? Magno Castelo Branco: Sim, acompanhei as medidas de sustentabilidade anunciadas, mas também as que foram efetivamente implementadas. Posso dizer que fiquei bem impressionado com a gestão de resíduos recicláveis durante o evento. Foram contratados 1,5 mil catadores que coletaram mais de 180 mil toneladas de resíduos. Essa foi uma iniciativa importante, principalmente por criar e incentivar a cultura de coleta e reciclagem nas cidades sedes. Sobre a certificação dos estádios, considero que seja uma obrigação, pois hoje é inadmissível pensarmos em construir arenas dessa magnitude sem considerarmos formas de torná-las mais eficientes. Apenas seis das 12 arenas foram certificadas com o selo LEED ag o s to 2 0 1 4 > r e v i s ta d o m e i oa m b i e n t e .o rg . b r
tivemos promessas de plantio de até 34 milhões de árvores antes do evento, coisa que não ocorreu. Nem ouvimos mais falar sobre o assunto. Essa era uma oportunidade única de incentivar projetos de grande impacto positivo, pois a visibilidade era muito grande Castelo Branco
(Leadership in Energy & Environmental Design). Minha experiência mostra que a certificação das obras não necessariamente aumenta os custos de implantação e sempre reduz os custos durante a operação. Um ótimo exemplo é a Arena Castelão, que foi a mais barata da Copa mesmo sendo certificada. Porém, sobre os estádios ainda tenho outra preocupação. Observando que quase todos os estádios custaram mais do que deveriam e tiveram suspeitas de superfaturamento, tenho certeza que essas ineficiências de gestão significaram também um aumento do consumo de recursos e nas emissões de gases de efeito estufa. Talvez seja difícil mensurar, mas é certo que uma gestão ineficiente acarreta maiores desperdícios financeiros e, consequentemente, de materiais. Clima e Floresta: E em relação à compensação de emissões de gases de efeito estufa, houve iniciativas importantes? Castelo Branco: Sobre a compensação de emissões fiquei decepcionado, pois tivemos promessas de plantio de até 34 milhões de árvores antes do evento, coisa que não ocorreu. Nem ouvimos mais falar sobre o assunto. Essa era uma oportunidade única de incentivar projetos de grande impacto positivo, pois a visibilidade era muito grande. Era uma chance de dar visibilidade a projetos de recuperação da Mata Atlântica – uma das grandes riquezas de nosso país –, além de muitas outras iniciativas espalhadas pelo Brasil. O que vimos foi um ato desesperado de tentar, de última hora, “zerar’ as emissões do evento com a doação de créditos de carbono. Infelizmente, o que aconteceu foi muito menos significativo do que poderia. Clima e Floresta: Em relação especificamente às emissões, que tipos de emissões um evento desse porte, realizado em doze diferentes cidades, pode causar? É possível calcular as emissões realizadas? Como? Castelo Branco: Todos os eventos podem ter as suas emissões calculadas. Para tanto, são utilizadas metodologias consagradas, como por exemplo o GHG Protocol. Por mais que a metodologia seja voltada para o cálculo de emissões corporativas, é possível adaptá-la para um evento, avaliando as fontes de emissão existentes. Em eventos de qualquer porte, a principal fonte de emissão é geralmente o transporte. No caso de um grande evento como a Copa do Mundo, isso fica muito
Nacho/Flickr cc 2.0
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Castelo Branco: Acredito que chamar empresas para doarem créditos seja uma ação com pouco valor, pois sugere que o governo e a FIFA pouco fizeram para tanto. Foi uma atitude desesperada para cumprir de qualquer jeito uma promessa. Muitos outros projetos poderiam ter sido incentivados. Clima e Floresta: Pelo sistema adotado, as empresas doariam as suas Reduções Certificadas de Emissões (RCE) em troca de ter seus nomes veiculados nos eventuais relatórios de gestão e resultados do Projeto e publicados no Diário Oficial da União. Você poderia explicar o que são essas RCE e como funcionam? Castelo Branco: RCE são reduções de emissões certificadas dentro do Protocol de Kyoto. Uma tonelada de CO2 reduzida e certificada é o que chamamos de RCE, ou crédito de carbono. Essas reduções podem ser obtidas por diversos projetos que utilizam metodologias aprovadas na Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e são registrados nesse órgão.
evidente. No inventário realizado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), chegou-se a conclusão que 83% das emissões do evento estão relacionadas ao transporte dos espectadores. Mas é importante ressaltar que há sim outros diversos impactos como, por exemplo, a construção das arenas. Acho que foi um erro da Fifa e do MMA optarem por não incluir essas emissões no escopo do inventário da Copa. Pela minha experiência na Iniciativa Verde com a execução de inventários de emissões de empreendimentos, posso deduzir que este impacto seria bastante representativo no total. Pelo fato de termos 12 cidades sedes, tivemos um impacto relativo ao transporte ainda mais significativo. Os deslocamentos são maiores também pelas distâncias entre as cidades. Além do transporte, são consideradas as emissões relacionadas a realização de todos os eventos relacionados com a Copa, incluindo nos cálculos fontes de emissão como: Consumo de energia, consumo de materiais, transporte de staff, consumo de combustíveis, entre outras. Clima e Floresta: No site oficial da Copa (http://www.copa2014.gov.br/), o governo afirma que o Brasil compensou sete vezes mais do que o estimado para as emissões diretas de gases de efeito estufa geradas pela realização da Copa do Mundo. Esses índices teriam sido alcançados em decorrência da chamada pública para empresas interessadas na doação de créditos de carbono, lançada pelo Ministério do Meio Ambiente. Esse é um bom sistema para compensar emissões?
Clima e Floresta: A Iniciativa Verde trabalha com a compensação de emissões por meio de projetos de recomposição florestal, de proteção às águas e de auxílio aos proprietários rurais para adequação ambiental. As iniciativas da Copa do Mundo contemplaram essas áreas? Castelo Branco: Não fomos contemplados nas ações oficiais da Copa do Mundo. Algumas empresas nos buscaram e acabamos realizando projetos relacionados com a Copa. Porém, oficialmente, não fomos procurados pela organização do evento. Também não temos notícias de outras instituições que foram convidadas a fazer essas atividades no âmbito oficial do evento, ou seja, as iniciativas da Copa não envolveram esse tipo de trabalho. Na realidade, pelo que vimos, projetos de recomposição florestal não estiveram envolvidos com as atividades de compensação de emissões do evento. Clima e Floresta: Há outras questões relacionadas à sustentabilidade e à pegada de carbono da Copa do Mundo que podemos destacar? Que lições ficam para eventos semelhantes, sobretudo as Olimpíadas que acontecem no Rio de Janeiro daqui a dois anos? Castelo Branco: A principal lição é que precisamos incorporar de maneira significativa essas iniciativas de compensação na gestão desses grandes eventos, dando a mesma importância que atribuímos às obras em si, buscando mecanismos de compensação que contribuam de maneira significativa para a realidade local e regional. E em se falando de Brasil, nada supera, a meu ver, os projetos de restauro florestal no âmbito do bioma da Mata Atlântica. Fonte: ipam.org.brv
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