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Editorial

Por Vilmar Sidnei Demamam Berna*

Que tipo de cidadão ambiental é você?

umenta dia a dia o número de pessoas preocupadas com o meio ambiente, e muitas vão além da boa intenção e da simples reclamação e estão agindo, colocando a mão na massa em ações concretas, o que renova nossa esperança de que a espécie humana ainda terá chances de sobrevivência. O problema é que, apesar de mais e mais pessoas estarem conscientes e mais ativas, ainda permanecem enfraquecidas em sua capacidade de fazer pressão e defender os seus direitos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Um dos motivos desse enfraquecimento nasce da falsa idéia de que para defender a natureza temos de ter conhecimentos técnicos. A cidadania ambiental não requer capacitação, não é um atributo apenas para especialistas. Claro que capacitação e conhecimentos técnicos ajudam e muito, por que a questão ambiental é de enorme complexidade, entretanto, as pessoas podem – e devem – estabelecer parcerias entre si para complementar suas limitações. Qualquer pessoa que toma consciência da crise ambiental e resolve agir pode ser considerado um cidadão ambiental, seja criança, jovem, adulto ou idoso, empregado ou empregador, analfabeto ou doutor. Nos Clubes de Amigos do Planeta, por exemplo, conheci crianças mais comprometidas e mais ativas que muitos adultos e professores, também conheci pessoas analfabetas ou sem qualificação técnica inteiramente comprometidas com a defesa do meio ambiente, assim como conheci pessoas altamente qualificadas, mas indiferentes à crise ambiental. Outra falsa idéia que contribui para a desmobilização da sociedade é de que existem ações ambientais mais importantes que outras. As pessoas

esquecem que não existe um único tipo de ação ambiental. Tem cidadãos e cidadãs que escolhem agir na defesa da fauna, da flora, defendem a criação de parques e reservas, combatem o desmatamento e o tráfico de animais silvestres, lutam pela defesa dos animais domésticos, etc. Outros preferem agir no ambiente de trabalho, associando cidadania ambiental com exercício profissional, adotando técnicas de ecoeficiência, controlando melhor os processos e resíduos, reciclando e reaproveitando materiais, etc. Outros, ainda, agem nos aspectos sociais da questão ambiental, defendendo os mais pobres e excluídos, os povos tradicionais, os indígenas, os operários que se contaminam no ambiente do trabalho, etc. Não são ações antagônicas. Muito pelo contrário, são complementares, pois a questão ambiental é de tamanha complexidade que nenhuma corrente de pensamento e ação, por mais poderosa que seja, conseguirá dar conta sozinha da enormidade da tarefa. Não é verdade que a luta pela fauna e flora, ou pelos animais domésticos, seja me-

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nos importante que outras lutas ambientais. Graças à biodiversidade e aos ciclos da natureza recebemos oxigênio e descartamos gás carbônico, encontramos alimentos e remédios, temos acesso à água e a recursos naturais fundamentais para nossa sobrevivência. Também não é verdade que seja desprovido de mérito a ação ambiental de empresas e profissionais em busca da sustentabilidade nos processos industriais, da gestão ambiental ecoeficiente, etc. Assim como dependemos da natureza também dependemos do setor produtivo que transforma recursos naturais em bens de consumo para atender as necessidades das pessoas. Infelizmente, sérias distorções no modelo econômico, motivado pela ganância, têm gerado concentração de renda e corrupção, que por sua vez resultam em miséria, pobreza, violência. Tão importante quanto à preservação da natureza e a ecoeficiência nas empresas é ainda a luta de cidadãos e de organizações

Vilmar Sidnei Demamam Berna - Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente

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por justiça social e melhor distribuição de riquezas, especialmente naqueles segmentos da sociedade que dependem do meio ambiente preservado para sua subsistência, como os pescadores, agricultores, e também os indígenas, entre outros. Nossa espécie também faz parte da Natureza. A pobreza, a fome, a violência, extinguem seres humanos. É preciso reconhecer que o fato de nos tornamos mais conscientes dos problemas ambientais não nos torna também mais democráticos, fraternos, justos. Existem pessoas devotadas sinceramente à causa ambiental, mas que permanecem arrogantes, autoritárias, tramam umas contra as outras, infelizmente. Os motivos podem ser vários, desde de culpa pelo tempo em que estiveram indiferentes antes de tomar consciência da questão ambiental, ou pelo sentimento de urgência, ou por interesse de aparelhamento partidário, ou por que pretendem obter visibilidade para si ou para sua organização, ou por inveja mesmo, etc. Apesar disso precisamos seguir em frente, pois a crise ambiental não pode esperar até que nos tornemos seres humanos melhores.

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Expediente FUNDADOR Vilmar Sidnei Demamam Berna - Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente CONSELHO EDITORIAL Amyra El Khalili ,André Trigueiro,Aristides Arthur Soffiati, David Man Wai Zee, Flávio Lemos de Souza. Ricardo Harduim, Rogério Ruschell PROGRAMAÇÃOVISUAL Leonardo Ciannella -VX STUDIO Soluções Criativas - leonardo@vxstudio. com.br WEBMASTER Leandro Maia Araújo - leandromaiaaraujo @hotmail.com - Tel.: (021) 96062126 CORRESPONDENTES • Juliana Radler (Internacional) - (21) 2210-2192 - julianaradler@hotmail.com

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REBIA SUL - rebiasul-subscribe@ yahoogrupos.com.br Moderadores: Paulo Pizzi * Os artigos assinados não traduzem necessariamente a opinião da Revista.

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tivos, CNPJ: 05.291.019/0001-58 Inscrição estadual e municipal: isentas - sede à Trav. Gonçalo Ferreira, 777 - Casarão da Ponta da Ilha, Bairro Jurujuba , Niteró , RJ - Brasil - Telefax: (21) 2610-2272 / Presidente do conselho diretor: Sérgio Ricardo F e r r e i r a H a r d u i m , b i ó l o g o e Educador Ambiental editada em parceria com a ASSOCIAÇÃO ECOLÓGICA PIRATINGAÚNA - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP, (Proc. nº 08015.000703/2003-31 Secretaria Nacional de Justiça, 10 de março de 2003, Diário Oficial da União de 17/ 03/ 2003 / Utilidade Pública Municipal ( LEI 3.283 de 04 de março de 2002) / CNPJ: 03.744.280/0001-30 / Rua Maria Luiza Gonzaga, nº 217 - no bairro Ano Bom - Barra Mansa, RJ CEP: 23.323.300

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Uma opinião: Desmatamento na Amazônia Por Adriano Ceolin / Grace Perpétuo

Taxa de desmatamento na Amazônia cai 25%

taxa do desmatamento na Amazônia Legal caiu 25% entre agosto de 2005 e julho de 2006, de acordo com os números finais do Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia (Prodes). E a queda deverá ser ainda maior - em torno de 10% - a partir deste ano, segundo nova estimativa do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Os dados foram anunciados em Brasília, numa coletiva de imprensa com a presença dos ministros do Meio Ambiente, Marina Silva; de Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel; da Agricultura, Reinhold Stephanes; e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Esta é a segunda queda no índice desde março de 2004, quando o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia (PPCDA) foi lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Coordenado pela Casa Civil, o plano conta com a participação de 13 ministérios. Desde então, a taxa de desmatamento caiu 49%. Em 2004-2005, a área desmatada na Amazônia foi 18.793 km2; em 2005-2006, foi 14.039 km2. Dos nove estados da região, sete tiveram seus índices de desmatamento reduzidos. Um aumento foi verificado em apenas dois estados: Amazonas e Roraima. O Pará foi o estado que teve maior área desmatada no período. Mesmo assim, o território paraense registrou uma queda de 4,48% em relação a 2005. Em 2006, a área total desmatada no Pará foi de 5.005 km2. O segundo mais desmatado foi o Mato Grosso, ainda que a taxa de desmatamento no estado tenha apresentado queda de 39,36% - dos 7.145 km2 registrados em 2005 aos a 4.333 km2 de 2006. O município que registrou o maior crescimento nos índices de desmatamento foi Novo Repartimento, no Pará: a área total desmatada cresceu de 214 km2, em 2005, para 446 km2, em 2006. Em contrapartida, o município de São Félix do Xingu, também no Pará - que havia apresentado a maior área desmatada em 2005, com 1.406 km2, e foi objeto de intensa fiscalização por parte do Ibama e da Polícia Federal -, registrou a maior queda em 2006, com 764 km2 desmatados.

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Nas unidades de conservação (UCs) federais, a variação na queda do desmatamento foi de 56%. Em 2005, o total de área desmatada ficou em 689 km2; em 2006, o total desmatado em UCs foi de 306 km2. Esses dados mostram que a criação de UCs, uma das principais políticas do MMA, tem sido fundamental para o combate ao desmatamento. Da mesma forma, a evolução do desmatamento em terras indígenas também diminuiu, passando de 441 km2, em 2005, para 190 km2, em 2006. Nos assentamentos, também houve queda na área desmatada de 4.406 km2 para 2.054 km2. “Retrocedemos ao cenário da década de 70”, disse a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, referindo-se a um período em que a floresta sofria menos pressão. O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Gilberto Câmara, apresentou os dois sistemas atualmente implementados pelo Inpe: “O Prodes calcula a taxa anual consolidada de desmatamento da Amazônia; o Deter dá estimativas sobre as grandes áreas desmatadas da Amazônia com a maior rapidez possível”. “Três eixos temáticos têm sido essenciais neste processo: o ordenamento fundiário territorial, o monitoramento e controle ambiental e o fomento a atividades produtivas sustentáveis”, reiterou a ministra Dilma Rousseff.“O Brasil talvez seja um dos poucos países do mundo a ter a oportunidade de implementar um plano consistente que, ao mesmo tempo em que protege e preserva a rica biodiversidade da Amazônia, reduz de forma expressiva e rápida sua contribuição ao processo de aquecimento global”, completou. A maior presença do Estado brasileiro na Amazônia se deu por meio de ações de comando e controle, como a fiscalização e o combate ao comércio ilegal de madeira. A Polícia Federal comandou 20 grandes operações, entre as

Anúncio Índices de Desmatamento 2006. Foto:Jefferson Rudy/MMA.

Variação do Desmatamento por Estado (Km²)

quais ao menos 14 na região amazônica; o Ibama realizou 446 operações de fiscalização integrada, fora as operações de rotina realizadas pelas superintendências. Foram presas cerca de 600 pessoas, 115 delas servidores do Ibama. Ao todo, foram apreendidas cerca de 1 milhão de m3 de madeira - transportados em 40 mil caminhões que ocupariam a extensão entre o Rio de Janeiro e São Paulo, ou 480 km. Além disso, foram expedidos R$ 3,3 bilhões em multas. O ordenamento territorial fundiário permitiu a criação de aproximadamente 20 milhões de hectares de áreas protegidas - o que corresponde a quatro vezes o território do es-

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tado do Rio de Janeiro - e a homologação de cerca de 10 milhões de hectares de terras indígenas. “Tudo isso demonstra que quando há planejamento e esforço integrado - é possível, sim, reverter qualquer quadro”, resumiu Marina Silva, ao final da coletiva. E completou:“Queremos dividir esta conquista com toda a sociedade brasileira”. Fonte: Ministério do Meio Ambiente - Assessoria de Comunicação Social 55-61 - 4009-1165 / 1227 - Fax - 55-61 - 4009-1997.Visite a nossa página http://www.mma. gov.br


Outra opinião: Desmatamento na Amazônia Por Beatriz Camargo

Menos intenso, desmatamento se concentra em pontos isolados

Menos intenso, desmatamento se concentra em pontos isolados. Mapa do desmatamento evidencia nova dinâmica marcada por frentes menores e difusas, como no Amazonas e em Roraima. Queda do preço de produtos primários ajuda a explicar desaceleração do desflorestamento. e acordo com o coordenador do núcleo de Amazônia da secretaria executiva do MMA, André Lima, a intensificação do desmatamento em Roraima está relacionada ao deslocamento de produtores de arroz do estado. “A expulsão dos arrozeiros [da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol, homologada em abril de 2005] levou a uma abertura de novas áreas”. Um dos coordenadores da campanha Amazônia da ONG Greenpeace, engenheiro florestal Marcelo Marquezini identifica uma migração do movimento de grilagem. “Os grileiros estão pensando lá na frente, em qual terra pública pode ser grilada hoje. Essas áreas desmatadas passam à condição de fazenda de soja ou de gado depois”. Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, acrescenta que a dinâmica de avanço do desmatamento está mudando. “Antes, a tendência de avanço do desmatamento era mais homogênea em relação a grandes fronteiras [agrícolas]. Hoje, há o que chamamos ‘vazamento’, fenômenos localizados, com grandes inversões de tendências. É um comportamento mais fragmentado e difuso”, define. Esse movimento de desmatamento não pode ser concebido, porém, como um fenômeno “avulso”, adverte Roberto. Existe uma previsibilidade de ocorrência dessas frentes, que obedecem a especulações de natureza local, como uma promessa de pavimentação ou o lançamento de grandes obras de infra-estrutura. Corrobora para esse fenômeno de previsibilidade a ampliação da malha de “pequenas es-

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Os dados do desmatamento mostram uma redução de 60% da área desmatada de 2005/2006 nos 20 municípios que haviam sido recordistas na pesquisa anterior de 2004/2005 (áreas em amarelo no mapa). O ritmo de desflorestamento caiu em sete estados da Amazônia Legal no mesmo período; houve aumento da área devastada neste mesmo período apenas no Amazonas e em Roraima. Assim, Lábrea (AM), no Sul do Estado do Amazonas, e outros municípios que ocupam a região que fica próxima à capital Boa Vista (RR) estão na lista dos que apresentaram maior aumento de área desmatada (áreas pintadas de vermelho no mapa).

tradas pioneiras” ilegais, abertas pelas madeireiras, “que quase sempre trazem como conseqüência muito desmatamento”. Fator econômico A área de 14.039 km2 é o menor desflorestamento registrado desde 1988, quando o Inpe começou a fazer o monitoramento dos dados por satélites. Desde o lançamento do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia (PPCDAM) pelo governo federal, em 2004, o índice caiu 49%, segundo o MMA. “É a terceira queda do índice de desmatamento em três anos. Muita coisa levou a isso, inclusive uma melhor fiscalização”, considera Marcelo, do Greenpeace. “Mas o governo não cogita o preço baixo de commodities (produtos primários padronizados com preço definido pelo mercado internacional) como boi e soja, que fazem pressão sobre a floresta”. Ele explica que, entre 2004 e 2005, houve queda dos preços dessas commo-

dities e, na pesquisa que compreende de de agosto de 2005 a julho de 2006, o desmatamento diminuiu. “Agora os preços estão subindo de novo... O que ninguém consegue determinar é o peso da influência desse fator”, completa. Roberto Smeraldi frisa a necessidade de se analisar em especial o Estado do Mato Grosso, que apresentou uma queda de 7.145 km2 para 4.333 km2 devastados e contribuiu sobremaneira para a queda total do índice. “Nas medições de 2001/2002, 2002/2003 e 2003/2004, mais de 30 mil km2 de floresta [Amazônica] foram desmatados, mais outros tantos de Cerrado”. Nas contas dele, algo em torno de 50 e 60 mil km2 de novas áreas foram disponibilizadas para a agricultura e a pecuária de 2001 a 2004. “É uma Bélgica inteira a mais de áreas convertidas para a agropecuária”. O desmatamento registrado à época no Mato Grosso, de acordo com o diretor da Amigos da Terra, se deve ao anúncio de investimen-

tos como o asfaltamento da BR163, a Cuiabá-Santarém, e de trechos da BR-158, que liga Santana do Livramento (RS) a Altamira (PA). “As expectativas não se concretizaram. Isso coincidiu com a crise súbita dos grãos, que fez com que a área plantada diminuísse. Então, quem desmatou [durante o intervalo de 2005 a 2006], tinha que ter boas razões para isso, porque já havia muita oferta de terra [desmatada]”, expõe. Para André Lima, do MMA, a importância da redução específica no Mato Grosso precisa ser relativizada. Segundo o representante do governo, há um conjunto de fatores que se aplicam de forma distinta nas diferentes regiões do próprio estado. “Os municípios [no MT] têm várias culturas, como soja, algodão e pecuária, que estão sob influências diferentes”, observa. Fonte: Repórter Brasil http:// www.reporterbrasil.org.br/

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Ecoturismo Por Heloisa Dallanhol*

Parque Nacional dos Lençóis é eleito maravilha natural do Brasil

Lençóis obtiveram 30% dos votos; Fernando de Noronha ficou em segundo lugar

Celebridades Em uma das últimas edições da revista “Próxima Viagem”, o Parque dos Lençóis Maranhenses foi eleito como um dos me-

Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses foi eleito a mais bela maravilha natural do Brasil. Com a eleição, o parque disputará o título das Sete Maravilhas Naturais do Mundo, concurso que está sendo promovido pelo mesmo grupo suíço que organizou a eleição das Sete Novas Maravilhas do Mundo. A votação é feita pela Internet no sítio www.natural7wonders.com A escolha da maravilha natural brasileira foi feita numa enquete realizada pela revista Época, da Editora Globo. A votação ocorreu entre os dias 28 de julho até a quinta-feira última (2). 4.040 internautas votaram. Os Lençóis ficaram com a primeira colocação, obtendo 30% dos votos. Em segundo lugar ficou Fernando de Noronha, com 19%. Além do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses e de Fernando de Noronha, disputaram o título a Floresta Amazônica, a Gruta do Lago Azul (Bonito), a Chapada Diamantina e o Pantanal.Agora, os Lençóis Maranhenses disputarão com outros 20 atrativos naturais selecionados em todo o mundo a escolha das Sete Maravilhas Naturais do Mundo. O concurso é promovido pela Fundação New 7 Wonders, da Suíça, que também patrocinou a última eleição na qual o Cristo Redentor foi incluído entre as Sete Maravilhas do Mundo Moderno. A nova votação para selecionar os sete monumentos naturais do planeta se estenderá até 8 de julho de 2008.

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lhores lugares para se visitar, em todo o país. A eleição do parque aconteceu em cima de opiniões de mais de 100 celebridades nacionais, entre elas a modelo Gisele Bündchen e o jogador de futebol Ronaldo Fenômeno. O Parque dos Lençóis Maranhenses foi criado em 2 de junho de 1981 e atrai turistas do mundo inteiro. Com seus 155 mil hectares,

o local ocupa uma área de 270 quilômetros de dunas, formadas a partir da combinação dos ventos, que chegam a atingir 70 quilômetros por hora. No clima quente da região, com temperaturas que variam entre 38º C (máxima) e 16º C (mínima), as dunas atingem até 40 metros de altura, proporcionando aos turistas a impressão de um imenso lençol.

Resultado final 1º Lençóis Maranhenses 30% 2º Fernando de Noronha 19% 3º Floresta Amazônica 17% 4º Cataratas do Iguaçu 14% 5º Gruta do Lago Azul 9% 6º Pantanal 6% 7º Chapada Diamantina 5% Fonte: O ESTADO DO MARANHÃO

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Educação Ambiental Energia

Reutilizar óleo de cozinha, agora, é lei cia ecológica. Entre os produtos mais difíceis de se degradarem no meio ambiente estão as gorduras, como azeite, óleo, banha e outros. Os brasileiros utilizam, em

“A Orla Rio está sempre investindo em ações que minimizem o impacto ambiental, como a coleta seletiva, a reciclagem do lixo e, agora, o reuso do óleo”, afirmou o vicepresidente da Orla Rio, João Marcello Barreto.

média, três bilhões de litros de óleo por ano e a maior parte do resíduo do produto é descartado no sistema de esgoto. Estimativas indicam que apenas 1% do óleo

Reuso na orla carioca Desde maio deste ano, cerca de 250 quiosques da orla carioca, entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca, passaram a coletar o óleo utilizado em frituras e cozimentos. A coleta é realizada uma vez por semana e os quiosqueiros recebem R$0,50 por cada litro de material. “A Orla Rio está sempre investindo em ações que minimizem o impacto ambiental, como a coleta seletiva, a reciclagem do lixo e, agora, o reuso do óleo”, afirmou o vicepresidente da Orla Rio, João Marcello Barreto. Segundo Erlon Pereira, gerente administrativo da M.B.R., empresa que faz a coleta do resíduo, somente no mês de julho, foram recolhidos 570 litros de óleo nos quiosques, o que gerou a produção de 1.140

Deputada Jane Cazzolino, autora do Projeto de Lei

rática que vem tornando-se cada vez mais comum no diaa-dia das donas de casa e estabelecimentos comerciais, a reutilização do óleo de cozinha, agora, virou lei no estado do Rio de Janeiro. De autoria da deputada Jane Cazzolino, do PTC (RJ), a proposta foi aprovada em julho e institui o Programa Estadual de Tratamento de Reciclagem de Óleos e Gorduras de Origem Vegetal e Animal e Uso Culinário. A iniciativa prevê a fiscalização em indústrias de alimentos, hotéis e restaurantes, além de exigir a participação das empresas em projetos como instalações de postos de coletas e conscientização da sociedade sobre os danos ambientais causados pelos resíduos e as vantagens da prática de sua reutilização. O Governo também vai apoiar as iniciativas não-governamentais voltadas à reciclagem do óleo. Muito se discute sobre o destino mais adequado do lixo, mas há um consenso de que é preciso minimizar os impactos ambientais causados pela falta de planejamento na gestão dos resíduos. Não é à toa que aumenta, a cada dia, o número de campanhas voltadas para essa consciên-

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kg de sabão pastoso utilizado para lavar louças. “O número ainda é baixo por causa do inverno, período em que a praia está mais vazia. Mas, no verão, a estimativa é que esse número triplique e che-

gue a dois mil litros de óleo recolhido”, diz. Nos 30 estabelecimentos que atende, a M.B.R. recolhe cerca de 450 mil litros de óleo por mês.

Saiba mais sobre a reciclagem O óleo é um dos mais agressivos poluidores do meio ambiente. Um litro do detrito é capaz de contaminar um milhão de litros de água. A reciclagem do óleo de cozinha contribui para amenizar uma série de danos ao meio ambiente, como impedir que a substância chegue aos rios e mares, o que dificultaria as trocas gasosas e a oxigenação, já que o óleo não se mistura com a água. Além disso, também impede a obstrução das canalizações ou qualquer interferência na operação do sistema de esgoto. Além dos benefícios ao meio ambiente, Eron garante que o processo de reuso de óleo é um grande gerador de renda e emprego.“Em média são gerados 15 empregos diretos com a nossa coleta consciente, além dos em-

pregos na fábrica de sabão”, diz. O gerente da M.B.R. não recomenda que as pessoas reciclem o óleo de cozinha em casa, pois as substâncias químicas podem ocasionar danos na pele. A coleta também é feita em residências, basta guardar o material em garrafas PET de dois litros. Quando três garrafas estiverem cheias, é só entrar em contato que a empresa recolhe. “É importante que se tenha alguns cuidados na hora de armazenar o resíduo, como não despejar o óleo quente nos recipientes plásticos e evitar que elementos sólidos sejam descartados junto ao óleo”, explica Eron. Serviço: M.B.R. Comércio de Materiais Recicláveis - (21) 36543128

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utilizado no mundo é tratado. Além de sabão, a reciclagem também pode ser útil no processo de fabricação de tintas, cosméticos, detergentes e do biodisel.

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Energia Fonte: www.oeco.com.br Por Gustavo Faleiros e Andreia Fanzeres*

Fogo Amigo

As grandes ONGs internacionais - Bingos (Big International Non Governamental Organizatios), na sigla em inglês - têm estratégias falhas na proteção do meio ambiente e prejudicam a atuação de pequenas instituições de países em desenvolvimento.

de fundos, mas não tão efetivos na conservação da biodiversidade. Houve um incremento de 40% a 100% nos orçamentos destas ONGs nos Estados Unidos entre 1998 e 2005, e na opinião dos autores, os conceitos ambientais utilizados não resguardam os ecossistemas em perigo. “Embora estas marcas sejam derivadas das ciências da conservação, elas são vulneráveis à crítica científica. Por exemplo, planos previamente concebidos que miram áreas fixas para conservação (Hot Spots e Ecoregions) são insuficientes para lidar com ameaças repentinas como doenças ou espécies invasoras, a alteração do leque de espécies graças ao aquecimento global, ou a dinâmica espacial de ecossistemas marinhos”, descreve o artigo. A presidente do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Suzana Pádua, é uma das autoras do artigo na Science e explica que há algum tempo existe um sentimento entre pesquisadores de que as Bingos, com a grande quantidade de dinheiro que têm, ditam os rumos da conservação em todo mundo, mas não acertam o foco onde a biodiversidade está mais necessitada. Para aumentar a eficiência das ações de proteção aos ecossistemas, Suzana observa que a Wildlife Trust Alliance defende que as pequenas organizações locais tenham mais voz. Segundo ela, ONGs de menor porte que dependem unicamente de parcerias e recursos das grandes “perdem identidade.” “Estamos propondo um exercício para que trabalhemos com respeito e

m artigo publicado na mais recente edição da revista Science, o semanário científico mais influente do mundo, está causando um pequeno terremoto na cena em que atuam as organizações não-governamentais ambientalistas. Entitulado “A Globalização da Conservação” e assinado por pesquisadores de diversas nacionalidades reunidos na Wildlife Trust Alliance, o texto sustenta que as grandes ONGs internacionais - Bingos (Big International Non Governamental Organizatios), na sigla em inglês - têm estratégias falhas na proteção do meio ambiente e prejudicam a atuação de pequenas instituições de países em desenvolvimento. Os pesquisadores buscam demonstrar que a forma de atuação de organizações como Conservation Internacional (CI), The Nature Conservancy (TNC) e World Wildlife Fund (WWF) se assemelha a de grandes empresas multinacionais. Isso se dá através da criação de programas genéricos, que servem como marcas para a obtenção de recursos financeiros. O texto cita as campanhas ‘Hot Spots’ da CI e ‘200 Ecoregions’ da WWF como casos extremamente bem sucedidos na arrecadação

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cooperação de fato”, diz a presidente do IPÊ. O ponto-chave de “Globalização da conservação” parece ser a questão de que ao mesmo tempo em que os recursos das Bingos não param de crescer, a verba oficial de governos e organismos multilateriais para a proteção da biodiversidade caiu 50% na última década. É a partir deste desequilíbrio que as grandes ONGs passam a comandar as políticas domésticas de meio ambiente. Uma das consequências, sustenta o artigo, é uma estrutura de decisões de cima para baixo que não considera o conhecimento de instituições e especialistas locais. “Organizações pequenas e localmente focadas, trabalhando na linha de frente da perda da biodiversidade são frequentemente as mais eficazes”, ponderam os autores. Outra consequência negativa da influência das Bingos, aponta Suzana, é a deficiência na preparação de profissionais locais em práticas de conservação. Um dado no artigo revela que dos 3,2 bilhões de dólares aplicados entre 1990 e 1997 na proteção de ecossistemas na América Latina, apenas 4% foram destinados à “capacitação”. “Hoje, só 30% dos artigos científicos sobre biodiversidade na Amazônia são escritos por brasileiros. Nós estamos fazendo parcerias, mas o conhecimento está ficando no primeiro mundo”, reclama a ambientalista. A volta do ‘small is beautiful’

A representante da TNC no Brasil, Ana Cristina Barros, vê uma preocupação legítima sob

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os argumentos de “Globalização da Conservação”: a de que as ONGs de países em desenvolvimento tenham um papel maior no desenho dos projetos e na captação direta do dinheiro internacional. Por outro lado, ela acha que o artigo, quando afirma que “organizações locais são mais eficazes”, traz uma apologia ao velho conceito de que o grande por ser grande não vale, a volta da filosofia “small is beautiful” do teór ico alemão Er nst Schumacher. Para Ana Cristina essa é uma “afirmação política” sem comprovação científica no texto. Sua opinião é de que as abordagens das pequenas e grandes organizações de conservação são complementares. “O valor da grande organização é poder atuar localmente, mas quando for preciso também atuar em nível internacional”, diz. Na mesma linha argumenta Cláudio Maretti, superintendente de conservação de programas regionais do WWF-Brasil. “Não vemos o WWF-Brasil do jeito que eles descrevem”, diz. Para ele, cuidar da natureza exige uma postura ativa da sociedade civil local, com quem, garante, a ONG firma parcerias em todos os projetos que desenvolve. Segundo Maretti, essas parcerias podem ser com grupos sociais, empresas, governos e outras ONGs. Essa interface ampla de relacionamentos permite que as grandes organizações se unam na hora de cobrar atitudes do governo e se separem para cada uma continuar desenvolvendo seus projetos localmente. “Hoje os problemas são globais também. Não adianta


Fonte: www.oeco.com.br

rano enviou uma carta à Science contestando o artigo. Devido às regras estabelecidas pela revista para publicação de qualquer texto, ele não pode dar entrevista sobre o assunto, e, procurado por O Eco, preferiu ficar calado. Contudo, sua exper iência como representante da área de Ecologia e Meio Ambiente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), fundação do governo federal de apoio à pesquisa científica, o credencia para discordar dos argumentos levantados pelos autores do artigo sobre a falta de apoio dado pelas Ongs internacionais à formação de recursos humanos. Ao menos no caso brasileiro, a CI e a WWF têm tido importância no apoio à realização de pesquisas científicas por profissionais locais, apontara o acadêmico em sua carta.

acreditar que só a atuação local vai resolver”, afirma. Para o vice-presidente de Ciência da CI, José Maria Cardoso da Silva, o artigo publicado na Science cometeu diversas injustiças. O conceito de Hot Spot, um dos mais criticados pelos pesquisadores, tem como base a constatação de que ecossistemas que estão à beira de um colapso devem receber investimentos em conservação. “Para provar que as ações não estão funcionando, deveria haver uma pesquisa científica feita com espécies fora dos Hot Spots”, frisa Cardoso. Entretanto, o argumento que ele refuta com mais ênfase é o de que as Bingos não contribuem para a profissionalização das instituições locais. A CI, conta Cardoso, sustenta pesquisas de campo de universidades e institutos no Brasil. “A medida de sucesso de um projeto nosso é ver uma entidade local andar com as próprias pernas”, conclui. Tudo indica que a defesa feita pelas Bingos de suas estratégias de conservação receberá apoio da academia brasileira. O professor do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Fabio Sca-

Parcerias locais

A crítica à internacionalização das políticas de conservação está em voga no Brasil e em outros países da América Latina. O próprio artigo publicado na Science relata o crescente movimento na Bolívia para expulsar a TNC e o WWF da gestão de parques nacionais. Por aqui, na recente campanha do Ibama contra a criação do Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade, os técnicos do órgão sugeriram que por trás das mudanças institucionais residia o perigo da entrega da Amazônia às grandes ONGs internacionais. Citaram como exemplo estudos e planos de manejo que estão sendo realizados pelo WWF em várias unidades de conservação no Norte do País. Em especial, incomoda os funcionários do Ibama a presença da ONG no Parque Nacional do Juruena, entre Amazonas e Mato Grosso, onde no ano passado foi feita uma expedição de reconhecimento. Mas lá, a WWF firmou uma parceria com o Instituto Centro de Vida (ICV) para que, com recursos inter nacionais, a ONG brasileira execute uma avaliação estratégica da região, estudo que dará base para a elaboração do plano de manejo do parque. “Essa parceria com o WWF tem nos fortalecido, pois conseguimos ampliar nossa equipe e nosso conhecimento técnico”, diz o coordenador da ONG Sérgio Guimarães, para quem a ajuda é muito vantajosa, mas poderia ser oferecida em maiores cifras

a muitas outras entidades. Em Mato Grosso, poucas são as organizações que conseguem, com sucesso, tocar projetos de conservação na fronteira do desmatamento. O ICV tem se aproximado de populações locais para trabalhar com agroecologia, unidades de conser vação, monitoramento de desmatamento e desenvo l v i m e n t o d e p o l í t i c a s públicas. Boa parte de seu êxito se deve à captação de recursos estrangeiros, apenas 30% dos recursos para projetos do ICV provêm de fontes nacionais, como o governo. Guimarães concorda com o argumento do artigo da Science de que há mais eficiência na solução de questões ambientais quando entidades loc ais têm condições de atuar. Mas acha que, no caso do desmatamento, não existe uma relação de competição. “Eu vejo ONGs nacionais e estrangeiras pedido uma só coisa: governança, mais presença do governo em áreas como o norte de Mato Grosso”. * Colaborou Eric Macedo.

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Baía de Guanabara

Petrobras poderá ser condenada a indenizar pescadores pelo maior acidente ecológico já ocorrido no Rio. A empresa recorreu ao STJ. reu no interior da Baía de Guanabara. “As conseqüências do acidente foram desastrosas. Houve uma redução enorme da produção pesqueira, milhares de pessoas tiveram um empobrecimento ao longo desses anos e houve também um desmantelamento cultural”, afirmou o ambientalista. Quando teve início o processo, há sete anos, a empresa admitiu o dano ambiental provocado pelo vazamento e pagou multa às autoridades governamentais. No entanto, a Petrobras não reconhecia o prejuízo social e econômico causado aos pescadores artesanais que trabalham na região. No início deste ano, a empresa tinha sido condenada e elaborou uma lista periciada com o

erca de 20 mil pescadores de seis municípios do Estado do Rio de Janeiro poderão receber indenização da Petrobras pelos prejuízos que tiveram com um vazamento do oleoduto que liga a refinaria de Duque de Caxias (Reduc) ao terminal da Ilha d´Água, dentro da Baía de Guanabara, em janeiro de 2000. A lista dos beneficiados começou a ser divulgada no último sábado (28), em algumas colônias de pescadores. De acordo com o coordenador da Rede de Lideranças da Pesca Artesanal da Baía, Sérgio Ricardo, mais de 1,3 milhão de litros de óleo derramaram na água, causando o maior acidente ambiental que já ocor-

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nome de 20.517 pescadores para o recebimento da indenização. O número de beneficiados pode ser ainda maior, já que os pescadores mais antigos não têm documentação e podem ter sido excluídos da lista. Por isso, na próxima semana, agentes da Rede de Lideranças de Pescadores comparecerão às comunidades pesqueiras no intuito de regularizar a situação dessas pessoas e inseri-las no processo. A indenização é de cerca de R$ 1,23 bilhão, o que corresponde a R$ 500 por mês durante dez anos para cada pescador ou família. “Essa indenização é histórica porque é um marco no direito ambiental brasileiro. É a maior indenização por dano ambiental e por impacto social

da história do país”, comemorou o ambientalista. A Petrobras ainda pode recorrer ao STJ. Fonte: www.ambientevital. com.br/noticia_ler.php? idnoticia=930 (Com informações da Radiobras)

GESTÃO AMBIENTAL Por Luiz Carlos Porto, Eng., MSc.*

A Participação da Sociedade no SGA da Empresa da empresa certificada. Felizmente, muitas empresas já perceberam o potencial de ganhos econômicos e ambientais ao incluir a sociedade no SGA. Esse movimento começou com a divulgação de Relatórios de Sustentabilidade, mas pode ir muito além disso. A revolução do trabalho em rede e da colaboração em massa chegou de modo tão decisivo que várias empresas já colocam problemas internos em blogs, fóruns de debates e sites tipo “wiki” (abrindo até segredos industriais) para que pessoas de todo o mundo as auxiliem na busca de soluções inovadoras. Don Tapscott criou o termo wikinomics, para definir esse novo modo de organização da produção nas empresas, marcado pela abertura, transparência, colaboração entre pares e ação global. Ele diz: “as empresas têm de deixar de se estruturarem como multinacionais e passarem a agir como em-

Quem ainda tem medo de “abrir” a empresa para a sociedade? Quem acha que informações da empresa, que afetam toda a comunidade não podem ser democratizadas, está deixando passar grande oportunidade para criar valor para sua empresa.

insistência das empresas em manter seus Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) fechados, sem participação da sociedade, impede a obtenção de ganhos econômicos e ambientais significativos. Se as questões ambientais têm características globais, sistêmicas e afetam toda a sociedade, como pode um SGA isolado, interno às empresas, produzir resultados expressivos? Neste ponto a Nor ma ISO 14001 é muito tímida, ao não exigir nem mesmo a divulgação dos resultados de desempenho ambiental

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presas verdadeiramente globais”. Imaginem o potencial de retorno para aquelas empresas que implantarem um processo de colaboração na questão ambiental. Considerando a importância que a sociedade dá à conservação ambiental, a facilidade de envolver muitas pessoas, inclusive técnicos altamente capacitados, e motivá-las a participarem da elevação do desempenho ambiental da empresa é enorme. A empresa passará a contar, além de seu pessoal interno, com um corpo de colaboradores adicional. E muitos deles profissionais altamente capacitados. Mas o que as empresas devem fazer? Sugerimos as seguintes ações iniciais:

des, centros de pesquisa, etc.);

a) Mapear todos os “stakeholders” (ONG’s, órgãos governamentais, Ministério Público, clientes, fornecedores, associações de classe, imprensa, universida-

* Luiz Carlos Porto, Eng., MSc. é diretor técnico da Silva Porto Consultoria Ambiental: silvaporto.consultoria @gmail.com

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b) Elaborar sistematicamente Relatórios de Sustentabilidade, com as políticas e comprimissos ambientais da empresa e os resultados obtidos. Enviar esse relatório aos stakeholders e disponibilizá-lo na internet; c) Criar alguma forma de participação da sociedade na gestão ambiental da empresa. Dar prioridade ao uso da internet. Um blog parece ser a solução mais simples e eficiente; d) Lançar desafios, instituindo prêmios para soluções ambientais inovadoras trazidas por pessoas externas à empresa;


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Água I

Aquífero Guarani, gestão integrada para a paz e a sustentabilidade Por Elizabeth Oliveira*

ma têm custo total de US$ 26,7 milhões. A maior parte dos recursos financeiros (US$ 13,4 milhões) é oriunda de doação do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF, na sigla em inglês) e de contrapartida de US$ 11,9 milhões dos quatro países.A agência executora internacional é a Organização dos Estados Americanos (OEA). Por serem consideradas áreas críticas de exploração do Sistema Aqüífero Guarani (SAG) foram selecionadas quatro áreas-piloto nos quatro países, onde estão em curso estudos das condições ambientais e socioeconômicas. Essas experiências iniciais estão sendo desenvolvidas em Santana do Livramento (Brasil) / Rivera (Uruguai); Concórdia (Argentina) / Salto (Uruguai); Encarnación-Ciudad del Este-Caaguazú (Paraguai); e, Ribeirão Preto (Brasil). Para todas as experiências-piloto, Amore destaca que haverá propostas de mitigação dos impactos da exploração dos recursos hídricos de forma participativa e envolvendo os atores sociais locais.

nquanto em algumas partes do planeta, o domínio dos recursos hídricos já sinaliza com o acirramento de conflitos entre povos e nações, na América do Sul, quatro países buscam fortalecer a união em torno de um objetivo comum:Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai estão empenhados em transformar a gestão do Aqüífero Guarani em um modelo de integração transfronteiriça calcado em uma cultura de paz, respeito à soberania, e na visão de longo prazo. Para atingir esse objetivo estão construindo a várias mãos, desde 2003, o audacioso Programa de Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani (PAG) que se propõe a nortear ações de uso racional, proteção e aprofundamento de conhecimentos científicos sobre essa reserva estratégica de água doce, provavelmente, a maior do mundo. “A água do aqüífero é uma arma poderosa para a paz”, afirma o secretário-executivo do PAG, Luiz Amore, ao destacar a importância da integração entre os quatro países para tratar de um tema extremamente complexo. “Existe uma compreensão de que a cooperação é uma única solução.Vamos seguir esse caminho e o sucesso será evidente”. Segundo ele, não se pode imaginar a execução de projetos isolados em relação a uma reserva hídrica tão importante e, ao mesmo tempo, desafiadora pela sua magnitude. “Há um entendimento de que as soluções são transfronteiriças”, acrescenta. O PAG prevê a implementação conjunta de ações de gerenciamento hídrico, a partir da construção de um modelo técnico, legal e institucional para apoiar os quatro países beneficiados pelo Aqüífero Guarani, reserva de água doce, cuja extensão é de cerca de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, dos quais 70% estão localizados no Brasil. Segundo Amore, no ano que vem deve ser apresentado um marco legal comum entre os quatro países, já como resultado de debates e ações conjuntas realizados na fase de execução do PAG (2003/2007), período para o qual as inúmeras atividades do progra-

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Diferencial para enfrentar as mudanças climáticas Diante do aumento dos alertas científicos sobre as perspectivas de alterações no regime de chuva global, em função das mudanças climáticas, Amore ressalta a relevância do aprofundamento de pesquisas e de sensibilização da sociedade, bem como, demonstra a importância estratégica do Aqüífero Guarani.“A água subterrânea mesmo em tempos de seca está mais protegida, não sofre evaporação. Em eventos catastróficos, esses mananciais garantem um abastecimento confiável”, explica. Amore compara o Aqüífero Guarani a uma conta bancária, onde poderão ser injetados recursos hídricos, em época de abundância, para ser usados em situações emergenciais. Essas medidas de gerenciamento são algumas entre inúmeras outras que poderão ser tomadas em conjunto pelos quatro países. “No contexto de mudanças climáticas, sem dúvida, o aqüífero nos dá evidentes vantagens comparativas”, acrescenta. Mas, para

compreender as questões chave, envolvendo os múltiplos usos dessa reserva hídrica estratégica, tanto no presente, como no futuro, há uma necessidade evidente do aprofundamento dos estudos científicos. “O PAG quer avançar em conhecimento sobre o aqüífero porque sem conhecimento não se faz gestão”, reforça. Segundo o secretário-executivo, outra questão estratégica, que se soma ao aprofundamento dos conhecimentos científicos, é a participação da sociedade na gestão hídrica. Ele reforça que o PAG leva essa premissa em consideração e incorpora a integração entre inúmeros atores sociais nos

Aqüífero Guarani

- Extensão: cerca de 1,2 milhão de quilômetros quadrados - Localização: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. - Divisão geográfica: 71% da área do aqüífero estão no Brasil (840 mil km²) 19% na Argentina (225,500 mil km²) 6% no Paraguai (71,700 mil km²) 4% no Uruguai. (58.500 km²) - Em cada um dos quatro países essas áreas representam: 19% da Argentina 10% do Brasil 6% do Paraguai 4% do Uruguai

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quatro países onde as iniciativas estão se desenvolvendo.“O projeto caminha nesse sentido. Nos quatro pilotos há participação da sociedade civil”. Para difundir os conhecimentos obtidos pelo PAG, traduzindo informação científica com qualidade para a sociedade,Amore destaca a importância dos profissionais de comunicação. Segundo ele, a mídia tem um papel fundamental até para ajudar a derrubar alguns mitos, entre eles, o de que o Aqüífero Guarani é um imenso lago subterrâneo que atravessa os quatro países de maneira uniforme. “O Aqüífero não é só água. É rocha e água”, explica.

- No Brasil: O Aqüífero atravessa os Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná - 930 poços já foram perfurados no Aqüífero em território brasileiro, beneficiando 68 municípios. - População no âmbito do Aqüífero: estimada em 15 milhões de habitantes. - Profundidade das águas: pode atingir até 1,8 mil metros - Temperatura: águas variam entre 50ºC e 85ºC - Volume: * As reservas permanentes são de 45.000 km³ (ou 45 trilhões de metros cúbicos) - Recarga anual: 166 km³/ ano ou 5 mil m³/s * (Um km³ representa 1 trilhão de litros de água) Fonte: Agência Nacional das Águas (ANA)www.ana.gov.br (*) Elizabeth Oliveira, do Jornal do Comércio, participou da Edição Guatemala 2007 da Iniciativa WaterReach.


Água II

Rio São Francisco: Incertezas da transposição pode ameaçar todo o rio”, alerta o professor do Instituto de Geociências (IG) José Elói Campos. De acordo com Campos, na divisa entre Bahia, Goiás e Tocantins, há uma área de agricultura irrigada com centenas de poços perfurados para uso das águas subterrâneas. Se os poços continuarem a ser escavados com alta vazão de água bombeada, em vez de elas correrem em direção ao rio para alimentá-lo, passarão a ir no sentido contrário, para alimentar os poços. “Desse jeito, em 20 anos o rio São Francisco poderá ter sua vazão do período seco do ano reduzida de forma significativa, e não haverá mais o que transpor”. Sobre a vazão do São Francisco, o professor do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental Nabil Joseph Eid observa que o valor de 26,4 m³/segundo autorizado para transposição não é suficiente para sustentar a agricultura irrigada. “Na época de seca, só a população das grandes cidades está garantida de receber água”, observa. Eid mostra que a perda de água por evaporação ou infiltração será de quase 7m³/segundo, o que representaria 26,5% do valor autorizado para transposição. De acordo com o projeto governamental, somente se a represa de Sobradinho, a 40 km de Juazeiro (BA), ultrapassar 94% de sua capacidade, o excedente também poderá ser usado na transposição até o limite de 127 m³/segundo. “Só assim o volume será suficiente para a agricultura, mas com o consumo crescente de energia, fica cada vez mais difícil Sobradinho chegar a esse nível. E, se chegar, é muito provável que todo o Nordeste esteja em período de chuva”, diz ele. Mesmo se a quantidade de água fosse suficiente para a agricultura, na visão do geocientista Geraldo Boaventura, não existem informações técnicas suficientes que garantam o sucesso da transposição. “O solo nordestino é desconhecido, não se sabe se a transposição irá salinizar a água, o que a deixaria imprópria para o consumo humano e para a agricultura”, observa. Sistema Biológico - Para ser

Falta de estudo pode comprometer gasto de R$ 4,5 bilhões e não resolve pobreza no São Francisco, alertam pesquisadores da UnB. esde que o início das obras de transposição das águas do rio São Francisco foi autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em abril de 2007, as incertezas sobre o sucesso do projeto voltaram a preocupar a comunidade científica nacional. Na Universidade de Brasília (UnB), seis especialistas da área procurados pela Assessoria de Comunicação garantem que, embora seja notória a necessidade de promover o desenvolvimento do interior nordestino castigado pela seca, a falta de estudos mais amplos sobre o rio São Francisco pode comprometer o investimento de R$ 4,5 bilhões. Pesquisadores da UnB acreditam que a quantidade de água a ser transposta não é suficiente para a agricultura. De acordo com eles, a transposição deverá ser acompanhada por um grande conjunto de obras para as quais não existem recursos financeiros assegurados. E para piorar, pode ser que o rio perca sua vazão em 20 anos. Confira abaixo as análises dos especialistas, divididas em três aspectos fundamentais: sistema físico, sistema biológico e sistema humano.

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Sistema Físico - Com 2,7 mil km de comprimento, o São Francisco nasce na serra da Canastra, em Minas Gerais, e tem sua foz na divisa entre Sergipe e Alagoas. Durante o período de seca, de junho a agosto, pára de chover em toda a extensão do rio e a única forma que ele tem de se manter perene é por meio das águas vindas do Sistema Aqüífero Urucuia, no oeste da Bahia. Estas alimentam o rio por drenagem.“O aqüífero é o pulmão do rio, mas em nenhum momento no Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (Rima) do Projeto São Francisco ele é citado. Qualquer impacto observado nas águas subterrâneas

um projeto completo de desenvolvimento regional, com reflexos econômicos e sociais, a transposição deveria vir acompanhada de investimentos na revitalização do rio e em educação ambiental. Esse trabalho, no entanto, começou com atraso. A revitalização deveria ter começado ainda em 1965, quando o Código Florestal foi editado. A professora do Departamento de Engenharia Florestal Jeanine Felfili, entretanto, alerta para as dificuldades de financiamento:“Da forma como se pretende conduzir essa revitalização, não fica claro de onde virão os recursos”. Segundo ela, o rio sofre atualmente com a construção de barragens, com a degradação das matas nativas e com a agricultura intensiva. “É preciso dar assessoria técnica aos produtores que atuam na bacia do São Francisco para evitar o assoreamento do rio”. Além disso, muitas pessoas chegam a confundir os conceitos de transposição e revitalização, usando-os como sinônimos. Mas enquanto o primeiro se atém ao deslocamento de parte das águas, o segundo busca manter o rio vivo para as gerações futuras, por meio de ações como reposição e não degradação da mata ciliar e

tratamento dos dejetos sanitários lançados no leito. Sistema Humano - Na visão do professor do Departamento de Economia da UnB Jorge Nogueira, a transposição é ineficaz para o objetivo a que se propõe. “As origens da miséria do sertão nordestino vão além da falta de água. Lá também falta qualificação profissional e acesso ao mercado de trabalho, coisas que não serão solucionadas com a água”, lembra o especialista. Para ele, se esse recurso fosse mesmo sinônimo de mais desenvolvimento, Belém e Manaus seriam capitais muito ricas.“Quando há água, as pessoas não ficam menos pobres. Talvez morram menos em decorrência da seca, mas a situação de miséria continua”. Por isso, ele questiona o custo de R$ 4,5 bilhões do projeto, referente apenas à construção dos canais de transposição. As obras complementares que garantirão o desenvolvimento regional não possuem recursos financeiros assegurados nem cronograma estabelecido. Fonte: Envolverde/UnB Agência

Entenda a Transposição

Os recursos de R$ 4,5 bilhões do governo federal se destinam à construção de mais de 600 km de canais para levar as águas do São Francisco às áreas secas do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. O eixo leste vai até o rio Paraíba (PB) e abran-

gerá 220 Km, distribuídos em 168 municípios com um total de 4,5 milhões de beneficiados. O eixo norte segue até os rios Jaguaribe (CE) e Apodi (RN) e cobre 400 Km, distribuídos em 223 municípios com um total de sete milhões de habitantes beneficiados.

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Ecologia Humana

Lista Suja do Trabalho Escravo

Organização Internacional do Trabalho, o Instituto Ethos e a ONG Repórter Brasil desenvolveram um sistema de este sistema de busca gratuito com base no Cadastro de Empregadores da Portaria 540 de 15/ 10/2004 - a chamada lista suja divulgada pelo governo federal. Dessa forma, as empresas signatárias do Pacto Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo podem consultar se determinada propriedade está na relação. A ferramenta é de grande importância tanto para que o setor empresarial cheque com rapidez quais fazendas devem ser suspensas das listas de fornecedores quanto para os consumidores que

podem assim boicotar os produtos destas fazendas. A ONG Repórter Brasil acompanha o problema do trabalho escravo contemporâneo desde 2001 informando à sociedade e desenvolvendo projetos que contr ibuem para a erradicação dessa prática. A organização é membro da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), criada em 2003 pelo Presidente da República e formada por ministérios, instituições da Justiça e do Ministério Público e entidades da sociedade civil.

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Acesse a lista completa em www.reporterbrasil.com.br/listasuja/listasuja.php?lingua=pt

Municípios mais violentos coincidem com os campeões em trabalho escravo

Cerca de 60% dos imóveis rurais onde é flagrado trabalho escravo não possuem registro no Incra. A grilagem de terras na Amazônia Legal é o carro-chefe de muitos crimes e problemas sociais, entre eles o trabalho escravo e a invasão de terras indígenas. Tomadas inicialmente para o desmatamento, as terras griladas dão prosseguimento à expansão da agricultura, da pecuária, do extrativismo mineral e da biopirataria na floresta, muitas vezes com ações de extrema violência. Em grande parte dos casos, o trabalho escravo na região é conseqüência direta da grilagem de terras, ou seja, da apropriação de terra pública mediante falsa escritura de propriedade.

Arco do desmatamento na Amazônia concentra municípios com maior índice de homicídios por habitante; região também é o maior foco de trabalho escravo. Regiões brasileiras com maior taxa de homicídos (número de homicídios a cada 100 mil habitantes entre 2002 e 2004) 16 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 010 - AGOSTO - 2007

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Ecologia Humana

Comparação entre a nova escravidão e o antigo sistema Anúncio

Anúncio http://www.oit.org.br/trabalho_forcado/index.php lônia e do Império, pelo menos do ponto de vista financeiro e operacional. O sociólogo norte-americano Kevin Bales, considerado um dos maiores especialistas no tema, traça em seu livro “Disposable People: New Slavery in the Global Economy” (Gente Descartável: A Nova Escravidão na Economia Mundial) paralelos entre esses dois sistemas que foram aqui adaptados pela Repórter Brasil para a realidade brasileira. Observação: As diferenças étnicas não são mais fundamentais para escolher a mão-de-obra. A seleção se dá pela capacidade da força física de trabalho e não pela cor. Qualquer pessoa miserável moradora nas regiões de grande incidência de aliciamento para a escravidão pode cair na rede da escravidão.

assinatura da lei Áurea, em 13 de maio de 1888, decretou o fim do direito de propriedade de uma pessoa sob outra, porém o trabalho semelhante ao escravo se manteve de outra maneira. A forma mais encontrada no país é a da servidão, ou ‘peonagem’, por dívida. Nela, a pessoa empenha sua própria capacidade de trabalho ou a de pessoas sob sua responsabilidade (esposa, filhos, pais) para saldar uma conta. E isso acontece sem que o valor do serviço executado seja aplicado no abatimento da conta de forma razoável ou que a duração e a natureza do serviço estejam claramente definidas. A nova escravidão é mais vantajosa para os empresários que a da época do Brasil Co-

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Contudo, apesar de não haver um levantamento estatístico sobre isso, há uma grande incidência de afrodescendentes entre os libertados da escravidão de acordo com integrantes dos grupos móveis de fiscalização, em uma proporção maior do que a que ocorre no restante da população brasileira. O histórico de desigualdade da população negra não se alterou substancialmente após a assinatura da Lei Áurea, em maio de 1888. Apesar da escravidão ter se tornado oficialmente ilegal, o Estado e a sociedade não garantiram condições para os libertos poderem efetivar sua cidadania. Por fim, as estatís-

ticas oficiais mostram que há mais negros pobres do que brancos pobres no Brasil. Outro fator a ser considerado é que o Maranhão, estado com maior quantidade de trabalhadores libertos da escravidão, é também a unidade da federação com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a que possui a maior quantidade de comunidades quilombolas. Fonte: http://www.repor terbrasil.com.br

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Denúncia

Ambientalistas em Perigo Quando os órgãos ambientais governamentais falham, se omitem,

ou se comprometem com os infratores, os cidadãos se expõem e

correm risco de vida para assegurar o direito de todos a um meio

ambiente ecologicamente equilibrado, como nestes dois exemplos.

Piauí

Rio Grande do Norte

Ambientalista recebe ameaças na internet

Rose Dantas ameaçada por denunciar o maior desastre ecológico do nordeste

Por Záira Amorim (zairaamorim@cidadeverde.com )

Ambientalista recebe ameaças pela internet. Segundo Judson Barros, as mensagens são enviadas por produtores rurais do cerrado piauiense.

ambientalista Judson Barros tem recebido ameaças de morte através de sua página na internet, no site de relacionamentos Orkut. Segundo o ambientalista, as mensagens são enviadas por produtores rurais do cerrado piauiense, que dizem que Judson atrapalha o desenvolvimento do Estado. Os recados foram intensificados após o início de um curso de educação ambiental promovido pelo ambientalista nesta mídia. Apesar de já ter sofrido ameaças por telefone, esta é a primeira vez que ele tem uma prova concreta de quem esteja intimidando.”Eu acredito que isso não seja brincadeira, já que a pessoa se expõe com seu nome e foto. Desta vez tenho a prova concreta que sofro ameaças”, relatou Judson. As pessoas que realizam as ameaças são identificadas como Rodrigo Castro, Marcos e Margá. Com estes registros o ambientalista pretende levar o caso à Polícia Federal e ao Ministério Público. “Tenho que me precaver contra as ameaças, mas mesmo assim irei dar continuidade ao trabalho de proteção ao meio am-

biente no Piauí”, finalizou.

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Confira os recados que ameaçam o ambientalista: “Marcos e Margá: agora quem vai incomoda você somos nos produtores espere e vera!!! ppp rsrsrsrs .Cara voçe entendeu o recado em e resolveu participa contra voce mesno. hahahahah. tem coragem em?ta certo quem não tem nada na cabeça é assim mesmo !!!! ppp rsrsrsrsrs “Rodrigo: preconceituoso, é tu o babaca cara de .......... eu não sou melhor que nimguem, mais eu tenho certeza que mais que tu eu sou. pelo menos eu trabalho , e não incomodo os outros. tua boca é preconceituoso, e que tipo de movimento que voce esta fazendo? em seu ambientalistazim de cabeça de vento!!!! hahaha essa te eu achei graça. presta atenção em !!!! que quem vai acabar com o piauí é voçe , ou vice verça” Fonte: CidadeVerde.com w w w. c i d a d e ve rd e. c o m / txt.php?id=2374 Veja também: http://reapi. zip.net/index.html

“Vilmar, por favor me ajuda. Estão na minha caça. Eles estão entrando na área varrendo tudo para esconder as provas, que ainda estão no sedimento, que são os bivalves. Estou sendo ameaçada e já me encontro foragida. Não sei o que farei de minha vida agora – Rose Dantas Toneladas de peixes e crustáceos morreram no final de julho no rio Potengi, naquele que pode ser um dos maiores desastres ambientais da história do Rio Grande do Norte. A causa da mortandade ainda é desconhecida, mas acredita-se estar relacionada ao despejo ininterrupto - muitas vezes clandestino - de dejetos no leito do rio. Os primeiros espécimes mortos começaram a surgir na sexta-feira passada (27), mas no domingo (29) toneladas de peixes, camarões e caranguejos apareceram boiando nas águas do rio Potengi. A bióloga Rose Dantas, que faz um trabalho permanente de monitoramento do Potengi, foi uma das primeiras a chegar ao rio neste domingo.“Eu sabia que isso iria acontecer.Venho alertando órgãos públicos sobre esse despejo indiscriminado de dejetos há anos, mas ninguém nunca valorizou minhas denúncias. Agora estamos diante de uma tragédia ecológica e social”, falou.A bióloga chegou a chorar quando viu a quantidade de animais mortos. O desastre atinge diretamente centenas de famílias que tiram seu sustento do rio Potengi. O pescador Francisco Alves de Vera, de 60 anos, disse que não sabe como vai “ganhar dinheiro daqui para frente”. “Minha vida toda sobrevivi

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graças ao que tiro todos os dias desse rio. Agora, com esses peixes mortos e com a água poluída, não sei como vou pôr comida na mesa para os meus filhos”, lamentou. A bióloga Rose Dantas disse acreditar que uma das prováveis causas do desastre ambiental é o despejo de esgotamento sanitário sem tratamento no rio, principalmente no trecho entre os municípios de Natal, São Gonçalo do Amarante e Macaíba. “Nesse setor, só uma empresa imunizadora tem licença para despejar dejetos, mas não tenho certeza se isso é feito da forma correta, com tratamento do material que vai ser lançado nas águas. O restante é jogado de forma clandestina, sem o menor cuidado ou preocupação com o rio”, denunciou. O manguezal que beira o rio Potengi está inserido em uma área de Proteção Permanente (APP) estabelecida pelo Governo Federal. Mas as licenças concedidas para o lançamento de dejetos, explicou Rose Dantas, são expedidas pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema). “Precisamos averiguar agora se essas licenças estão dentro do padrão exigido pela lei e se o material despejado no rio corresponde ao que foi licenciado”. Fontes: www.nominuto.com e http://tribunadonorte.com.br/ noticia.php?id=49797 Nota da redação: a REBIA procurou, na medida de sua possibilidade e escassez de recursos ajudar a Rose destacando a jornalista voluntária, Liliana Peixinho, fundadora do Movimento Voluntário AMA Amigos do Meio Ambiente (www.amigodomeioambiente.com.br ) e coordenadora da REBIA NORDESTE, que viajou 20 horas de ônibus, de Salvador, na Bahia, até Natal, no Rio Grande do Norte, para ficar ao lado da Rose, orientá-la e protegela neste momento difícil.


Coluna da Silvia Pereira

Por Silvia Pereira *

Projeto de lei prevê multa para uso de motosserras elétricas e eletrosserras vigor, a multa é menor – de R$ 500,00 – e só se aplica às motosserras. Mas os três tipos de equipamento – motosserras, motosserras elétricas e eletrosserras – são usadas para a mesma finalidade: extração de madeira e desmatamento. A diversificação na oferta de máquinas disponíveis no mercado contribui para que a lei seja contornada, já que não há controle sobre a venda e nem punição aos usuários das máquinas movidas a eletricidade. Para Rodrigo Dantas, a aprovação deste projeto de lei se constitui em mais um passo à diminuição do processo de aquecimento global. “É preciso não só criar leis, mas também analisar as existentes e tentar reduzir as brechas, que são

prática do desmatamento, uma das maiores vilãs no processo de aquecimento global, está prestes a esbarrar em mais um obstáculo. O projeto de lei 665 de 2007, em tramitação na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, prevê multa de R$ 1.500 por unidade de motosserra elétrica ou eletrosserra comercializada. A penalidade se estende também aos que utilizem as máquinas sem licença ou registro da autoridade ambiental competente. A proposição, de autoria do deputado estadual Rodrigo Dantas, líder do DEM na Alerj, complementa uma lei aprovada em 2000 pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. Na legislação em

A

Aplicação de Fundo Estadual de Conservação Ambiental Será Debatida de representantes da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) e da Fundação Super intendência Estadual de Rios e Lagos (Serla). Cr iado pela Lei 1.060/86 para financiar projetos ambientais e para o desenvolvimento urbano em todo o Estado do Rio, englobando diversas áreas, tais como reflorestamento, recuperação de áreas degradadas, canalização de cursos d´água, educação ambiental, despoluição de praias e saneamento, o Fecam busca atender às necessidades ambientais do estado, minorando seu passivo ambiental. Os recursos do fundo são or iundos, dentre outros, de 5% dos royalties do petróleo, atr ibuídos ao Estado do Rio de Janeiro, bem como do resultado de multas administrativas aplicadas e condenações judiciais por ir regular idade constatadas pelos órgãos fiscalizadores do meio ambiente.

A Comissão de Saneamento Ambiental da Assembléia Legislativa do Rio, presidida pelo deputado Pedro Paulo (PSDB), realizou em 22/08 audiência pública para debater o uso do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e D e s e nvo l v i m e n t o U r b a n o (Fecam). “Estamos discutindo os investimentos específicos na área de saneamento feitos com dinheiro do Fecam em 2006 e o que está sendo realizado este ano”, afir mou o presidente da comissão. Para esclarecer à comissão de que for ma o fundo está sendo aplicado, participaram como convidados a subsecretár ia de Estado de Política e Planejamento Ambiental, Izabella Mônica Vieira Teixeira, além

Mais infor mações: Geiza Rocha - Coordenadora de Comunicação Social da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) - Tel: (21)2588-1627/ 81233297/ 9400-1959

muitas. O mercado está em constante atualização para driblar a legislação. Precisamos acompanhar esse processo”, diz o parlamentar.

Mais infor mações: www. rodrigodantas.com.br

Parque da Tiririca tem limites definidos pela Alerj O Parque Estadual da Serra da Tiririca, que teve seus limites delimitados através de lei estadual aprovada Assembléia Legislativa (Alerj), vai receber investimentos de R$ 300 mil e inicia em breve a elaboração do seu Plano de Manejo, que vai estabelecer o zoneamento e as normas de uso da área. Situado entre Niterói e Maricá, numa área de expansão urbana o parque tem mais de 2 mil hectares e sua delimitação encerra um longo período de conflitos socioambientais. A diretora de Conservação da Natureza do Instituto Estadual de Florestas (IEF/RJ), Alba Simon, lamentou que os limites definitivos do parque tenham resultado em perda de áreas importantes para a biodiversidade da região, que abriga espécies em risco de extinção como o ouriço-cacheiro, tucano de bico preto e a preguiça. “- É importante que a população da região saiba que as áreas que faziam parte da delimitação proposta pelo Instituto em 1993 e que foram retiradas após a análise dos deputados continuam parte da área de amortecimento do parque. Por isso, várias atividades continuarão a depender de anuência do IEF” – explicou. As áreas retiradas na proposta votada pela Alerj em votação úni-

ca, em regime de urgência, reúnem cerca de 4 mil moradores, principalmente no bairro Jardim Fazendinha. Segundo a proposta aprovada, a área do parque foi reduzida em 5,3%, passando de 2.195 hectares para 2.077 hectares. Toda uma região adjacentes, o Morro das Andorinhas, agora integra o Parque da Serra da Tiririca, com exceção da região em torno do condomínio Village Itacoatiara. Mais informações:Ascom/IEF - Ricardo Goothuzem - (21) 2299-3088/9572-1503

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Entrevista Enviado por Adriane Alice Pereira adriane@dialetto.com.br

Na busca pelo consumo consciente dem mudar a forma de consumir a fim de evitar problemas de poluição e aquecimento global, por exemplo, e perceberem que isso é uma maneira de interferir e fazer com que a mesma força do consumo que está gerando todos esses problemas ajude a gerar soluções. Quando falamos em consumo consciente, estamos falando em primeiro olhar os impactos – positivos ou negativos – sob quatro dimensões: indivíduo, sociedade, meio-ambiente e economia.

Há seis anos, o Instituto Akatu faz ações para conscientizar e mobilizar o consumidor brasileiro para o seu papel protagonista na construção da sustentabilidade da vida no planeta. Criado no âmbito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, para educar e mobilizar a sociedade para o consumo consciente, a organização busca disseminar o conceito de consumo consciente. Para sensibilizar empresários de todo o país, o instituto foi convidado para participar da mesaredonda “Comércio justo, consumo consciente e sustentabilidade”, que foi realizado em 16 de agosto, em Florianópolis, como parte da programação do Encontro Brasileiro de Responsabilidade Socioambiental. Nesta entrevista, o gerente de projetos especiais do Instituto Akatu, Aron Belinky, fala sobre o tema da sua apresentação.

Qual é a proposta do Instituto Akatu? Queremos que o consumidor, ao tomar suas decisões no cotidiano, perceba que o seu ato de consumo gera impactos que podem ser positivos ou negativos tanto na sociedade, como no meioambiente, como na economia, como na própria vida da pessoa. Queremos que o consumidor perceba os impactos dos seus atos. Esses impactos vão acontecer antes do momento da compra e depois que ele tomou a decisão e o consumo aconteceu. Temos que levar em conta esses dois momentos.

ual é o conceito de consumo consciente? Aron Belinky: A idéia do consumo consciente é exatamente que as pessoas apropriem da sua ação como consumidores para exercer a cidadania; que as pessoas, no seu cotidiano, percebam que as decisões individuais que cada um toma tem um efeito sob o coletivo. As pessoas precisam perceber que po-

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Como funciona o impacto antes do momento da compra? Um exemplo é você comprar produtos de empresas que tenham responsabilidade social ou comprar produtos que venham de um comércio justo.Ao fazer isso,

o consumidor irá ajudar a ampliar e manter a lógica do comércio justo. Ao mesmo tempo, um consumidor que desconsidera o compromisso social do fornecedor, eventualmente vai sustentar um processo de expansão insustentável ou agressivo à sustentabilidade.Ao escolher o produto ou ao tomar sua decisão de compra, o consumidor deve ver da onde o produto veio e a quem o fato dele estar comprando e usando aquilo vai beneficiar: se é algo que ajuda a sociedade e o meio-ambiente ou se é uma coisa que prejudica. E como funciona o impacto depois da decisão do consumo? Por exemplo, quando você compra um produto que tenha embalagens em excesso. Você vai ter aquelas embalagens, vai destinar isso para o lixo ou para reciclagem – que também consome energia – e, portanto, como consumidor, você vai gerar um impacto no meio-ambiente. Ou quando você descarta um produto – uma roupa ou um celular – antes que a vida útil dele tenha terminado. Ao utilizar o produto por mais tempo ou ao destinar a quem precisa, você estará gerando um impacto positivo. Como o Brasil se coloca diante dessa temáticas? De acordo com uma pes-

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quisa do Instituto Akatu de 2006, 33% dos brasileiros tem uma percepção como consumidores que vai além daquela economia imediata na hora de consumir. O Brasil está num nível intermediário. Nosso consumidor tem já certo engajamento, mas não tão grande quanto em outros países. Outro dado é em relação à disposição do consumidor a premiar ou punir empresas através da sua decisão de compras. Perguntamos para os consumidores se alguma vez eles já tomaram a decisão de compra levando em consideração a vontade de prestigiar uma empresa que faz uma coisa certa ou, pelo contrário, de não comprar uma coisa ou falar mal da empresa porque acha que ela fez uma coisa errada. No Brasil, temos um percentual de 30% que disseram que já fizeram ou pensaram em fazer isso alguma vez. Esse número é menor do que em outros países como Austrália, França, Alemanha onde se chega próximo a 50%. Como aliar em crescimento econômico, sustentabilidade e comércio justo? Não existe uma incompatibilidade nesse sentido. Hoje, temos um percentual enorme da população mundial com um consumo muito abaixo daquilo que as pessoas poderiam esperar. Por outro lado, a humanidade consome 25% mais do que


Entrevista

produtivo de modo que você consiga gerar menos impacto, com menos desperdício, com menos excesso na outra ponta.A nossa idéia não é que as pessoas não consumam, mas sim, que pensem na maneira como o consumo pode acontecer. Isso é o que torna a proposta de sustentabilidade e consumo consciente algo que não é incompatível com o crescimento econômico.Temos que trabalhar em duas pontas: desenvolver novos padrões de expectativas das pessoas e diminuir o desperdício.

a Terra é capaz de sustentar. Estamos indo além do que é sustentável. Se todas as pessoas do Planeta passassem a consumir no padrão de consumo e desperdício dos habitantes dos países ricos, precisaríamos de quatro planetas Terras. Precisamos trabalhar de maneira que o crescimento econômico una essas pessoas todas que estão fora do mercado ou que tenham um consumo mínimo aquém daquele essencial para a sobrevivência e, ao mesmo tempo, ele tem que ser mais

Como as empresas podem contribuir nesse sentido? As empresas têm um papel enorme. Hoje, vemos o aquecimento global, o problema da poluição e percebemos que o excesso no uso de recursos naturais não é uma questão de valores ou uma questão das pessoas acharem certo ou errado. É uma questão matemática, econômica e de sobrevivência. Por isso, tem que haver um consenso - tanto na sociedade, como no meio empresarial, como no governo - da necessidade de se estabelecer um consumo susten-

tável.As empresas têm como um dos seus fundamentos a sobrevivência a longo prazo. Hoje, para uma empresa ser reconhecida como alguém que de fato contribui para a sociedade, não basta só pagar impostos, gerar empregos, fazendo aquele papel tradicional que a gente sempre viu como sendo o papel das empresas. O que se deseja atualmente das empresas é que, além de terem esse papel econômico de operar corretamente, gerar empregos, pagar impostos e mover a economia, contribuam ativamente para a construção de uma sociedade mais ética e mais sustentável.

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Marketing Ambiental

Por Amyra El Khalili e Flávio Gut*

Educação, informação e comunicação: Case Parceria BECE-REBIA

O conceito que norteia o Projeto BECE nasceu no Brasil; mais precisamente em 1990 com o Projeto CTA na gestão de Dorival Rodrigues Alves para a BM&F – Bolsa de Mercadorias & de Futuros.

que há no caminho para transformar a Sumaúma, árvore mãe da floresta, em madeira compensada. É assim que funciona lá fora o mercado de commodities ambientais. E não esqueça que lá é Eco. Quanto aos números, dados estatísticos, tabelas, gráficos e curvas, perguntem à CIA, ao Pentágono, aos militares. Eles têm tudinho que você precisa – logística também é com eles. Essas “commodities” são assunto de segurança nacional. Ou melhor: internacional.

O mercado de commodities ambientais Muitos nos perguntam como funciona este mercado lá fora. Bem, lá fora funciona assim: No Oriente Médio bebem, comem e tomam banho com água desalinilizada. A água potável é vendida em potinhos de iorgute com preços iguais ou superiores ao da coca-cola, refrigerante lá não entra por questões culturais – mas até isso os marketeiros estão conseguindo inverter. Na França, os hotéis controlam os banhos dos hóspedes, da torneira sai mais vinho do que água. Em Londres, na Suécia e em outros cantos do mundo durante o inverno escurece às 15h – a indústria de depressivos fatura alto. E dá-lhe horário de verão no Brasil! Em Kyoto, no Japão, os parceiros – se é que podemos dizer isso – fazem encontros e conferências para discutir o ar que se deveria respirar. Na Costa Rica, as florestas são tombadas e nos Estados Unidos patentearam o chá do Santo Daime para a indústria farmacêutica, enquanto orquídeas são tão caras quanto tulipas nos tempos da febre holandesa, quando a flor chegou a ter o mesmo valor que uma mansão. Sem contar que nos EUA, a reciclagem reduz em torno de 70% o custo de matéria-prima da indústria. Na Malásia detonaram as florestas vendendo insumos para a construção civil e hoje compram qualquer palito de dente que estiver pela frente. As madeireiras asiáticas compraram extensas áreas na Amazônia a preço de banana e hoje estão arrebentando com tudo

Mas o que é commodity? Segundo o minidicionário Michaelis, “commodity” é artigo ou objeto de utilidade, mercadoria padronizada para compra e venda; conveniência. Neste caso, as duas primeiras alternativas, segundo a definição do mercado financeiro de forma simplificada: contratos à vista e futuros negociados nas bolsas de mercadorias ou balcões (fora dos mercados organizados de bolsas), assim sendo: contratos a termo, futuros e opções, ou também contratos spot, ou seja, mercados de ativos físicos, negociados com pagamento e entrega à vista. Quais são as matrizes das commodities ambientais? São: água, energia, controle de emissão de poluentes (água, solo, ar), madeira, biodiversidade (plantas medicinais e ornamentais, animais exóticos e em extinção etc), reciclagem e, sem contar o minério que é ativo financeiro desde a idade da pedra. Não é por acaso que o ouro é a rainha das commodities. Não subestime essa matriz (ouro) somente pelo silêncio dos últimos sete anos. Está provado historicamente que ela costuma causar um baile entre uma década e outra. Saber das coisas do ouro é como o saber sobre o mundo, já dizia Michel Foucault, estudio-

so do comportamento humano. Estamos falando da cadeia produtiva, do complexo que envolve todas essas matrizes. Experimente viver sem elas, você morre. Não precisa ir muito longe, fique apenas um dia sem água, luz ou gás, você enlouquece. Com os seqüestradores do empresário Abílio Diniz1[1][1] aprendemos mais uma: greve de fome não mata, pelo menos não no curto prazo, mas greve de água líquida com o sujeito rapidinho. Mídia também é cultura além de marketing. O que são negócios sócio e agro-ambientais? E da água vive a agricultura. As matrizes das commodities ambientais são os insumos vitais para a produtividade agrícola, que é o insumo da pecuária, é elementar meu caro Watson. O elementar nem sempre é visível. Pela ótica mercadológica do Projeto BECE, a agricultura brasileira está estrangulada pelas taxas de juros, pelo descrédito, resultado da falta de planejamento financeiro, monopólio de compradores de produtos agrícolas, logística de continente mal administrado e cultura de senzala fazendo do pequeno e médio produtor rural cabresto de escravo. Por outro lado, com a desenfreada ocupação do cerrado e da colonização do “Brasil Fazenda”, a agricultura passou a ser a maior inimiga do meio ambiente, derrubando árvores, queimando matas, assoreando os rios, salinizando o solo, causando erosões e desertificação, empesteando o ar com um turbilhão de drogas, pesticidas e adubos, muito mais eficientes no combate à vida humana do que das pragas provocando o caos do descontrole biológico. Onde está o dinheiro que o gato não comeu? Enquanto isso, no mercado

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internacional flutua algumas fortunas párias, dinheiros sem pátria, valores adquiridos de negócios espúrios, outros de operações produtivas à custa da mão-de-obra barata de crianças e jovens, sangue e suor de adultos e velhos, procurando desesperadamente a redenção, a remissão. O milagre santeiro são os valores destinados aos investimentos em pesquisas e projetos sócio-ambientais. Esta grana toda está por aí, em busca de projetos, fundos, pesquisas e estudos que se credenciem e se enquadrem em suas exigências de investimentos, suas crenças, que perdoem seus pecados. É dinheiro esperto, cheio de manhas e não entra fácil não. Não dorme 24 horas em conta corrente, não vem para taxas de juros, não quer saber de bolsa, corre de especulação e, principalmente pelas referências de suas origens não investe em degradadores do meio ambiente, ou seja, o agricultor brasileiro. Assim sendo, produzindo a agricultura sustentável, de preservação e manejo florestal, de proteção de mananciais, casando a produção agrícola com a utilização de parte das terras para plantio e pecuária e outra parte para reflorestamento, pesquisa de plantas ornamentais e medicinais, piscicultura, apicultura, criação de animais e aves exóticas e em extinção; explorando conscientemente o turismo rural/ecológico, com planejamentos de educação e treinamentos agro-ambientais para o agricultor, seus filhos e comunidades nos mais diversos níveis, desde a infância até o idoso estimulando-os e abstraindo-lhes a total produtividade e experiência. Enfim, valorizando a natureza e o ser humano. Fará muito bem ao espírito e ao bolso. As abençoadas relações entre e intra-mercados Veja o exemplo da cana-deaçúcar; dela deriva o álcool e


Marketing Ambiental é palha, que produz calor. Então, quando você transforma aquele mesocarpo do babaçu, que é carbono praticamente puro, em carvão vegetal de altíssima qualidade, altíssima resistência mecânica, você tem uma quantidade enorme de produtos químicos, quer dizer, do coco do babaçu você pode construir um gigantesco complexo petroquímico e energético jamais visto no mundo, e para sempre, mantendo a floresta. Na visão perspicaz e matuta do professor Bautista Vidal, grande especialista em energia, nacionalista convicto e assumido, estamos executando a pior estratégia agro-ambiental: devolvendo o país para os portugueses, vendendo-o para o americanos, distribuindo-o para os japoneses indelicadamente e sem pedir desculpas pelos estragos, usando como papel de embrulho (reciclado) os juros do FMI. Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem. O Professor Bautista Vidal sabe e prova o que diz.

seu subproduto o bagaço, energia substitutiva de combustíveis fósseis. Assim sendo, a cana pode ser candidata à commodity agro-ambiental que possibilita a realização de estratégias e negócios com relações entre - mercados e intra-mercados. Ou seja, o cruzamento de produtos agrícolas com produtos ambientais, a troca de insumos agropecuários com insumos industriais, esta commodity estará apta a receber os investimentos necessários para tornar competitiva a operação de gaseificação do subproduto bagaço, desde que os usineiros se enquadrem nas normas e exigências de projetos agro-ambientais comprometidos com a geração de empregos e investimentos sócio-educacionais. Evidentemente elaborados por técnicos e engenheiros financeiros de confiabilidade. Vamos mais adiante. Verifique as potencialidades dos óleos vegetais brasileiros, o dendê e o coco do babaçu, segundo o Professor Bautista Vidal em entrevista para a revista Caros Amigos: ... Além das centenas de óleos vegetais, a mamona, o girassol, a colza, a soja, etc... Só o dendê na região amazônica são 70 milhões de hectares com baixíssima produtividade de floresta, sem nenhuma tecnologia – são 4 toneladas por hectare por ano. Dá para produzir 6 milhões de barris/dia de óleo diesel. Isso é praticamente a produção de petróleo da Arábia Saudita. Mais do que a Arábia Saudita, porque o babaçu, esse coquinho, tem várias partes. Tem a amêndoa central da qual você extrai óleo e substitui o diesel; depois tem uma parte dura de celulose pura, que é o excepcional carvão natural, sem nenhuma poluição. Nós estávamos desenvolvendo tecnologias de grandes siderúrgicas baseados nesse coque do babaçu, com resistência mecânica espetacular. Depois você tem outra camada que é amido, no mesmo coco. Com esse amido você faz o álcool. Da amêndoa você faz o substituto do diesel, do amido faz o substituto da gasolina e ainda tem a parte externa, que

Os geradores de negócios sócio-ambientais nos mercados de commodities Batizados de Consultants, Traders and Advisors – CTA’s são os geradores de negócios sócio-ambientais nos mercados de commodities, paridos da urgente necessidade de depurar e pulverizar o mercado financeiro que separou o trigo do joio e ficou com o joio; foram inspirados nos Commodities Trading Advisors – CTA’s das bolsas internacionais, a sigla idêntica é proposital, mas o conteúdo é bem diferente. Será gerador de negócios sócio e agro-ambientais entre outros business e são verdadeiros soldados treinados dos mais diversos setores da economia, armados até os dentes com um arsenal de instrumentos financeiros, estratégias, operações e marketing agressivo em defesa do patrimônio econômico desta tribo que vai do Oiapoque ao Chuí, ou o que resta dela. Para não corrermos o risco de uma recaída no moral das

tropas, baixas, súbitos ataques e ofensivas do lado inimigo, o nosso “front” de batalha será permanentemente monitorados pelos Fóruns BECE REBIA! A chancela BECE-REBIA Com o objetivo de proteger este incrível “Exército de Brancaleone” de predadores de idéias, cursos e projetos, de oportunistas, batedores de carteira, estelionatários, entreguistas, entre outros e defender o fomento de mercado, a OSC CTA registrou a marca OSC CTA, a Marca BECE e os selos “Commodities Ambientais” , e a OSC REBIA a Marca REBIA no Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, protocolou através de seu Conselho Jurídico o “Dossiê BECE” na pessoa de Amyra El Khalili na Faculdade de Direito de Campos de Goytacazes (RJ), fundou os Núcleos de Estudos da Parceria BECEREBIA para produzir estudos sobre projetos, estratégias e operações sócio e agro-ambientais. A OSC CTA realiza acordos, protocolos, propostas conjuntamente com diversas entidades através da Parceria Comunidade & Educação BECE-REBIA firmada com universidades, ONGs, associações etc. Está formando o Conselho Técnico Científico com representantes de diversas instituições nacionais e internacionais para realizar a implantação dos mercados emergentes, promover a fiscalização conjunta com diversas entidades representativas. A propósito, os Geradores de Negócios Sócio-Ambientais, tupi guaranis estarão fechando no momento oportuno, contratos de parceria com os geradores internacionais intermediados pelo Projeto RECOS - Redes de Cooperação Comunitárias, é o inevitável efeito da globalização, pleiteando o reconhecimento desta categoria multidisciplinar nos fóruns financeiros.. *Artigo escrito em parceria com o jornalista Flávio Gut e apresentado durante eventos comemorativos da Semana do Meio Ambiente, realizados

pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco Central do Brasil, no dia 7 de junho de 2005, em Brasília (DF). Texto revisado e atualizado publicado no site da ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing em Fevereiro de 1999. Fonte: Livro inédito A Mais Pura Fonte dos Manan-ciais - de Amyra El Khalili - A responsabilidade sócio-ambiental do sistema financeiro – novas commodities no marketing ambiental. Organizador Antonio Carlos Teixeira. Editora Virtual BECE-REBIA (no prelo). (*) Amyra El Khalili* é economista, presidente do Projeto BECE (sigla em inglês) Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais. É também fundadora e co-editora da Rede Internacional BECE-REBIA (www.bece.org.br ), membro do Conselho Gestor da REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental, do Conselho Editorial do Portal do Meio Ambiente (www.portaldo meioambiente.org.br ) e da Revista do Meio Ambiente (www.rebia.org.br ). É professora de pós graduação com a disciplina “Economia Sócioambiental” na Faculdade de Direito de Campos de Goytacazes, pela OSCIP Prima Sustentabilidade e MBA pela UNOESC. Indicada para o “Prêmio 1000 Mulheres para o Nobel da Paz” e para o Prêmio Bertha Lutz. email: (ongcta@terra.com.br)

N. do O.: Abílio Diniz, empresário do Grupo Pão de Açúcar, seqüestrado no dia 11 de dezembro de 1989 por dez integrantes de uma quadrilha internacional, composta por cinco chilenos, dois argentinos, dois canadenses e um brasileiro, pertencentes ao Movimento de Izquierda Revolucionaria (MIR), do Chile. Em 1998, os nove seqüestradores estrangeiros fizeram greve de fome em protesto pelo não cumprimento das promessas feitas pela justiça e governo brasileiros de conceder regime semi-aberto da pena e de transferi-los para seus países de origem.

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Coluna do JC Moreira

Famosos na luta pelo Planeta Mais de cem grandes nomes da música, entre eles Madonna, The Police e Kanye West, e intérpretes da realidade virtual, participaram em sete continentes do concerto mundial Live Earth, apresentado pelo ex-vice-presi-

dente dos Estados Unidos Al Gore, com o objetivo de alertar sobre os riscos das mudanças climáticas e propor medidas para combatê-las. Gore, cuja campanha internacional contra o aquecimento global inspirou a série de

concertos, fez um discurso de Washington para abrir o primeiro espetáculo, em Sidney, do outro lado do mundo. Mais tarde, se valeu da tecnologia mais atual para aparecer num cenário de Tóquio, projetado num hologra-

ma, para dar sua mensagem. A organização computou 2 bilhões de pessoas ligadas ao megashow (contabilizando os que foram aos estádios e os que assistiram por meio das mídias que transmitiram a festa).

Foto de Marcos Faber

cantou “Até onde vai” e “Além do horizonte”, entre outros hits. Astrid Fontenelle e Murilo Rosa pediram para as pessoas trocarem o carro por uma bicicleta. “Se todo mundo no Rio usasse, durante oito dias, bicicleta ao invés de carro nós reduziríamos 100 mil toneladas de gás carbônico”, disse Murilo a Astrid, que brincou. “ Nossa é por isso que você está com esse corpão, você está andando muito de bicicleta”, afirmou Astrid olhando o ator de cima a baixo.“É gente vamos acabar com a poluição. Eu sou da época que se caçava tatuí na praia de Copacabana para comer com arroz.Vamos dar carona também para as pessoas, quem sabe as moças não conhecem um gato maravilhoso

por aí”, completou a apresentadora. A contribuição dos famosos na luta pela preservação da natureza não se resume só a participação no Live Earth. “Eu comprei uma terra pequena na chapada dos veadeiros e consegui pelo Ibama, que ninguém faça nenhuma alteração nessa área nos próximos oitenta anos”, disse Maria Paula, do Casseta & Planeta. “Eu economizo água e energia”, contou Mariana Ximenez outra apresentadora da noite. “E eu comprei uma bicicleta para andar no Rio para não poluir o ambiente”, disse Astrid Fontenelle. A última atração nacional no palco do Live Earth no Brasil, Jorge Benjor pediu ao público, “Protejam a Terra, pelo amor de Deus”.

Na véspera, Xuxa participou do lançamento do evento, no Copacabana Palace, ao lado do ex vice-presidente norte-americano Al Gore. Na ocasião a apresentadora comentou a iniciativa:“Achei fantástico o que acabei de ouvir. Sempre acreditei que não se chega sozinho a lugar nenhum. Ao longo de 23 anos trabalhando para crianças, percebi que a saúde da criança e da natureza se encaixam. Vejo que tenho muito o que aprender.A gente sempre acha que os outros é que têm que fazer. Hoje de manhã, quando fui escovar os dentes, a Sasha fechou a torneira.‘Mãe, pare de gastar água’. Somos o 4º país em destruição da camada de ozônio. Esse evento é “dar um grito”, mas o que mais podemos fazer? Fico feliz em estar engajada. Não consigo falar o que vocês, adultos, gostariam de ouvir, mas as crianças, que são o futuro, me entendem e me respeitam.Tô fora de mudar a cabeça dos adultos, mas estou dentro dessa causa. Vou continuar colocando sementinhas no coração das crianças. Pode deixar comigo.Tudo bem que eu acredito em duende e Papai Noel, mas também acredito nisso. Sei que a gente vai chegar lá, afirmou a Rainha dos Baixinhos.” O apresentador Serginho Groisman falou sobre consciência ambiental e anunciou Guilherme Arantes, que interpretou a música “Planeta água”. Depois foi a vez dos atores Cristiane Torloni e Victor entrarem em cena para anunciar os meninos do Jota Quest, que

LEONARDO DICAPRIO foi um dos apresentadores

No Brasil, o Live Earth levou cerca de 400 mil à Praia de Copacabana numa tarde de céu sem nuvens na praia de Copacabana. Pois o show do Live Earth no Brasil começou por volta das 16h.

Xuxa abriu o evento com crianças representando bichinhos e bandeiras brancas da paz. Antes de cantar um pot-pourri com sucessos como Ilariê e Xuxalelê, a apresentadora deixou seu recado em prol da ecologia. “Todos nós somos culpados.Vocês acham que eu não faço nada de errado? Estamos levando uma vida de desperdício, de água, papel, energia e muitas outras coisas”, disse Xuxa. Ao final da breve apresentação, a loura completou: “Esse show não é dos americanos, esse show é do nosso planeta. Esse show é para a gente reaprender a viver e viver melhor . Que a gente consiga resolver isso da melhor forma: juntos.”

Orquídeas: a paixão de Lenine Cantor, que cultiva 500 espécies de orquídeas, conta ser apaixonado por essa flor rara e diz que quer conhecer produtores na 3ª Orquivárzea, emVárzea Paulista Há cerca de seis anos Lenine se tornou um apaixonado por orquídeas. Foi num sítio que comprou, na Serra das Araras (RJ) que o cantor, compositor, arranjador, músico e produtor começou a observar as flores que brotavam em uma das árvores. “Eram duas catasetum. Tirei foto e corri pesquisar no Google”, relembra. Hoje Lenine se define como “orquidoido”. Fala com muito conhecimento sobre o cultivo dessa planta tão rara. “Tenho mais de 500 espécies em meu sítio. Escolhi as tropicais, que gostam de muita luz e água. São flores raras, mas que duram muito tempo. Precisa judiar demais para matar essa florzinha”, explica. Em seu site oficial, o cantor mostra fotos de seu orquidário. Dentre as várias espécies ele cultiva cattleias, encyclias, phalaenopsis, entre outras. Lenine se apresenta na 3ª Orquivárzea no dia 1 de setembro,

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junto com o amigo Zé Geraldo. “Como orquideiro e orquidoido, vai ser uma possibilidade de conhecer os produtores de Várzea Paulista e da região. Já ouvi muito sobre o Biorchids e sei que se trata do maior matrizeiro do país”, disse, se referindo ao maior orquidário de Várzea Paulista. “Como músico, acho importante que os governos ofereçam essa oportunidade de levar música de graça para o povo. E eu vou ter também a possibilidade e a função social de dar meu depoimento sobre o que penso. Sobre o que vejo”, reflete. Questionado sobre se já teria composto alguma música para as orquídeas, ele brinca. “Não confundo prazer com trabalho”. A escolha de Lenine e Zé Geraldo para a festa das orquídeas em Várzea tem recebido elogios da população e de muitos músicos da região. “Acho importante que se ofereça arte de qualquer maneira. O Brasil é continental. Todas as músicas são verdadeiras. O Brasil deve conhecer o Brasil. Porque tudo o que compreende o Brasil é bom”, conclui.


Coluna do JC Moreira

CARTA ABERTA DE ARTISTAS Amigos do Planeta BRASILEIROS SOBRE A DEVASTAÇÃO DA AMAZÔNIA Acabamos de comemorar o menor desmatamento da Floresta Amazônica dos últimos três anos: 17 mil quilômetros quadrados. É quase a metade da Holanda. Da área total já desmatamos 16%, o equivalente a duas vezes a Alemanha e três Estados de São Paulo. Não há motivo para comemorações. A Amazônia não é o pulmão do mundo, mas presta serviços ambientais importantíssimos ao Brasil e ao Planeta. Essa vastidão verde que se estende por mais de cinco milhões de quilômetros quadrados é um lençol térmico engendrado pela natureza para que os raios solares não atinjam o solo, propiciando a vida da mais exuberante floresta da terra e auxiliando na regulação da temperatura do Planeta. Depois de tombada na sua pujança, estuprada por madeireiros sem escrúpulos, ateiam fogo às suas vestes de esmeralda abrindo passagem aos forasteiros que a humilham ao semear capim e soja nas cinzas de castanheiras centenárias. Apesar do extraordinário esforço de implantarmos unidades de conservação como alternativas de desenvolvimento sustentável, a devastação continua. Mesmo depois do sangue de Chico Mendes ter selado o pacto de harmonia homem/natureza, entre seringueiros e indígenas, mesmo depois da aliança dos povos da floresta “pelo direito de manter nossas florestas em pé, porque delas dependemos para viver”, mesmo depois de inúmeras sagas cheias de heroísmo, morte e paixão pela Amazônia, a devastação continua. Como no passado, enxergamos a Floresta como um obstáculo ao progresso, como área a ser vencida e conquistada. Um imenso estoque de terras a se tornarem pastos pouco produtivos, campos de soja e espécies vegetais para combustíveis alternativos ou então uma fonte inesgotável de madeira, peixe, ouro, minerais e energia elétrica. Continuamos um povo irresponsável. O desmatamento e o incêndio são o símbolo da nossa incapacidade de compreender a delicadeza e a instabilidade do ecossistema amazô-

nico e como tratá-lo. Um país que tem 165.000 km2 de área desflorestada, abandonada ou semi-abandonada, pode dobrar a sua produção de grãos sem a necessidade de derrubar uma única árvore. É urgente que nos tornemos responsáveis pelo gerenciamento do que resta dos nossos valiosos recursos naturais. Portanto, a nosso ver, como único procedimento cabível para desacelerar os efeitos quase irreversíveis da devastação, segundo o que determina o § 4º, do Artigo 225 da Constituição Federal, onde se lê: “A Floresta Amazônica é patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais” Assim, deve-se implementar em níveis Federal, Estadual e Municipal A

O ator Marcos Palmeira representa um papel muito importante fora dos palcos. Sua militância em prol do meio ambiente já lhe rendeu os títulos de Ecocidadão pela ONU e Guardião da Floresta pelo Greenpeace. É dono também da Fazenda Vale das Palmeiras, em Teresópolis, onde cultiva cerca de 35 tipos de hortaliças e criação de animais em projeto que se preocupa com o meio ambiente. Ele se apaixonou pela agricultura orgânica há cerca de oito anos, quando adquiriu a fazenda de 150 hectares em Teresópolis. “Percebi que havia alguma coisa estranha porque os trabalhadores não queriam levar para casa as coisas que produziam na terra”, lembra. Foi então que ele descobriu – e se encantou com – as novas técnicas de cultivo que procuram respeitar as características do ecossistema onde estão sendo introduzidas. Hoje, além de plantações, ele tem uma fábrica de processamento de verduras e leMarina Person filiou-se recentemente ao Greenpeace

INTERRUPÇÃO IMEDIATA DO DESMATAMENTO DA FLORESTA AMAZÔNICA. JÁ! É hora de enxergarmos nossas árvores como monumentos de nossa cultura e história. SOMOS UM POVO DA FLORESTA! Mais infor mações sobre a Campanha:AMAZÔNIA PARA SEMPRE - Idealização e Projeto - CHRISTIANE TORLONI ctorloni@amazoniapara sempre.com.br - VICTOR FASANO - - vfasano@amazoniapara sempre.com.br Texto: JUCA DE OLIVEIRA -joliveira@amazonia parasempre.com.br - Endereço para Correspondências: CAIXA POSTAL 90.301 CEP 25.620-971

AsVJs Didi Wagner e Marina Person se filiaram ao Greenpeace e fizeram fotos com a camiseta oficial e, a partir de agora, irão ajudar a divulgar a filosofia e as causas da entidade internacional. Marina Person já simpatizava com o Greenpeace há muito tempo. “Desde antes de eles virem para o Brasil, na época da campanha a favor das baleias. No meu dia-adia, sou uma pessoa preocupada com as questões ecológicas. Eu reciclo lixo em casa e uso produtos que não agridem ou agridem menos o meio ambiente”.

gumes e um galpão onde são embalados os produtos vendidos in natura. Em suas terras, mantém 100 cabeças de gado e 120 galinhas criadas soltas pelos pastos, tratados com homeopatia. “Aqui todo mundo é livre”, afirma Eleni Campos, gerente da fazenda. Na Vale das Palmeiras, porcos, galinhas, cavalos e vacas convivem no mesmo espaço, coisa que deixaria de cabelo em pé um fazendeiro convencional. O aspecto das plantações também é diferente. A horta orgânica não tem uma aparência tão asséptica e organizada quanto a da tradicional. Não se costuma tirar todo o mato do terreno. “A nossa alface é que está invadindo o ecossistema”, diz Ângela Thompson, do Sítio do Moinho. A diversidade e a rotação de culturas são outros pontos-chave para manter em baixa o risco das pragas. “A praga é um sinal de desequilíbrio”, ensina Fábio Ramos.

Elba Ramalho sempre esteve envolvida em projetos benéficos a pessoas com poucas condições financeiras, e também tem defendido o meio ambiente. Recentemente, subiu ao palco montado no Paço Municipal de Mauá, em São Paulo, para animar a edição do Acorde para o Meio Ambiente, que lembra à população da importância de preservar a natureza. Gisele Bündchen lançou campanha em defesa das nascentes do Rio Xingu - ameaçadas pelo desmatamento em suas cabeceiras – depois de uma viagem ao local em 2004, quando ainda namorava o ator Leonardo DiCaprio,outro bem conhecido por lutar pela preservação do meio ambiente. No seu site www.gisele bundchen.com.br os fãs da modelo recebem informações ambientais e dicas de educação ambiental.

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Sustentabilidade Por Heloisa Dallanhol*

Fazenda marinha: além de fonte de renda para pescador pode ajudar na preservação ambiental

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ma nova fonte de renda pode ajudar a quem antes dependia só da pesca a ganhar mais e ainda preservar o meio ambiente. O cultivo de uma espécie nativa de vieiras em fazendas marinhas tem vantagens adicionais: estimular a gastronomia e até o turismo em Santa Catarina, pois somente neste estado e no Rio de Janeiro cultivam-se os moluscos internacionalmente conhecidos pela denominação “coquille de Saint-Jacques”. Os franceses não só o batizaram, como fizeram dele um quitute – incluindo também a ova em seus pratos. Por sua vez, os japoneses consomem todas as partes internas das vieiras, enquanto os norte-americanos preferem somente um músculo que se resume a menos de 10 gramas do peso total do molusco (entre 70 e 200 gramas). Além de pequeno, o animal existe na natureza em pontos isolados do planeta, geralmente em pouca quantidade, e coletá-lo para venda poderia causar sua extinção. O único modo de aproveitamento econômico dessa iguaria é a aqüicultura. No ano passado foram produzidas quase 24 mil unidades, principalmente nos arredores de Florianópolis (11.508), Porto Belo (8 mil), Penha (2.250), São José (1.500) e Balneário Camboriú (480).“A atividade de cultivo de vieiras está apenas iniciando em Santa Catarina, e de acordo com os resultados que temos até agora, as perspectivas são as melhores possíveis”, analisa Guilherme Sabino Rupp, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). “Os produtores estão entusiasmados”. É o que confirma o dono da empresa Ostraviva Comércio de Mariscos, Rafael Westphal. Ele emprega 8 trabalhadores no Ribeirão da Ilha, em Florianópolis, e fala da empolgação da equipe: “A gente está vendo que a produção é viável”.Westphal entrega aproximadamente 180 vieiras por semana para compradores paulistas, ao custo de 50 reais por dúzia - 15 a 30 reais a mais do

que o preço obtido por competidores limitados às vendas locais. A longo prazo, sua ambição é exportar o produto industrializado - in natura não seria possível, por causa da legislação que proíbe importar ou exportar qualquer animal vivo.“Congelado, ele é bem aceito no mercado”, pondera, lembrando que diversos viajantes pagam 82 reais para levar, do aeroporto da capital, bandejas com três vieiras importadas do Chile précozidas e congeladas. “Elas são muito apreciadas pelos chefs de cozinha e tem tudo para ser um diferencial da gastronomia local.”

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Pioneirismo A exemplo do que ocorreu com a ostra, cujo cultivo na Ilha de Santa Catarina originou inclusive um festival gastronômico anual, a Fenaostra, as fazendas marinhas de vieira podem crescer e se multiplicar, caso prossiga a aplicação de verbas em estudos, como os conduzidos pela Epagri, Univali (Universidade do Vale do Itajaí) e UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). “É interesse da Fapesc apoiar esse projeto pois é uma atividade que ainda há aspectos tecnológicos não totalmente dominados”, explica Zenório Piana, diretor de Pesquisa Agropecuária da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina. A Fapesc investe não só em pesquisas sobre cultivo de vieiras, mas também de mariscos e ostras, por meio do projeto Geração e Transferência de Tecnologia em Malacocultura (produção de moluscos), em parceria com o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Finep (Financiadora Nacional de Estudos e Projetos). “Temos de aplicar recursos em atividades que dêem retorno social”, diz Piana. Tal suporte econômico resultou na produção de 14.900 toneladas de ostras, mariscos e vieiras no Brasil em 2005, segundo dados da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP). Quase 95 % deste volume veio de Santa Catarina. O estado inclusive foi pioneiro na malacocultura brasileira

em escala empresarial.Atualmente, 14 municípios litorâneos geram moluscos, por meio de 767 produtores, organizados em 18 associações e quatro cooperativas, de acordo com a Epagri. O mexilhão Perna perna continua sendo a espécie mais comum nas fazendas marinhas locais, porém a UFSC também pesquisa a produção de sementes de ostras e vieiras. O estado dispõe de baías e regiões protegidas de fortes ondas, correntes e marés, o que propicia a instalação de estruturas a custos relativamente baixos. Além disso, o território catarinense fica perto da região mais populosa do país, o sudeste – com quase 100 milhões de habitantes –, o que representa um grande mercado consumidor em potencial. A isso se soma a proximidade com nações do Mercosul, atualmente atendidas pelas vieiras cultivadas no Chile. Em âmbito mundial, há que se vencer a competição com a China, maior produtor do molusco no planeta, ganhando até do Japão, segundo Guilherme Búrigo Zanette, engenheiro de aqüicultura com mestrado na mesma área, realizado na UFSC.“O Brasil chegou a exportar outra espécie nativa de vieira, mas pela intensa extração, os bancos ficaram escassos e ocorreu o colapso total da atividade.” Cultivo contribui para limpeza do mar Também conhecida como “pata de leão” ou “concha da Shell” - devido à forma similar ao logotipo da multinacional –, a espécie Nodipecten nodosus aparece naturalmente em pontos isolados da Colômbia, do Brasil, da Venezuela e do Caribe, na maioria em ilhas costeiras. A despeito de sua raridade, o animal é caçado e vendido a preços exorbitantes. O problema é ainda pior quando criminosos coletam vieiras nos ambientes que mais precisam ser mantidos intactos. Esse é o caso da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, localizada a 11 quilômetros da Ilha de Santa Catarina, onde está vedado qualquer tipo de caça ou pesca. Isso não impede a captura

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O Instituto de Ecodesenvolvimento de Ilha Grande (Rio de Janeiro) tenta conscientizar pescadores sobre os benefícios da malacocultura, cujo negócio depende da saúde ambiental do mar. No primeiro sinal de poluição da água, os próprios pescadores reagem e denunciam ao poder estabelecido na região que algo está errado, além de exigir das autoridades iniciativas no sentido de implantar sistemas de tratamentos de esgotos. A preservação do meio ambiente aumenta na mesma proporção da implantação do número de fazendas marinhas, pois elas funcionam como atratores de peixes e camarões, os quais procuram os locais de cultivo para se protegerem, na opinião do Instituto.

clandestina de vieiras. Como inexistem estudos e ações eficientes de fiscalização, ninguém se atreve a dizer quantos indivíduos sobraram na região. “O que posso afirmar é que em outras ilhas, como o Xavier, encontrávamos vieiras no passado. Entretanto, em mergulhos recentes para avaliação da população, não encontrei nenhum exemplar”, afirma Guilherme Rupp, que também é membro do Conselho Consultivo da Reserva do arvoredo. “Se parar a extração logo, os estoques devem se recompor, ainda que estejam bem reduzidos”, acredita o produtor Rafael Westphal, cujo trabalho final no curso de aqüicultura da UFSC analisou a taxa de sobrevivência de vieiras na baía sul de Florianópolis e descobriu que ela morre menos do que as ostras, por exemplo, porque é nativa da área e está


Sustentabilidade econômica de se produzir outras espécies, geralmente em águas frias, mas nada tinham feito sobre a espécie tropical que ocorre em nossas águas. “Na verdade, as pesquisas em relação à produção de sementes da vieira Nodipecten nodosus em laboratório, começaram como parte da minha dissertação de mestrado, em 1993”, diz Guilherme Rupp, do Centro de Desenvolvimento em Aqüicultura e Pesca da Epagri (CEDAP).“Nesse trabalho, pela primeira vez foi obtido sucesso na produção de sementes em laboratório, abrindo belas perspectivas em relação ao cultivo dessa espécie. A partir daí, temos realizado várias pesquisas em diversas

bem adaptada às condições ambientais do lugar. Posteriormente, abriu uma empresa no Ribeirão da Ilha e incluiu a vieira no cardápio de novidades gastronômicas. “Hoje tenho mil dúzias prontas para o comércio e mais alguns lotes em desenvolvimento”, comemora. Mais de uma década de pesquisas O êxito que 50 produtores comemoraram em 2006, quando o cultivo comercial da vieira teve início em Santa Catarina, deve-se a estudos iniciados há mais de 13 anos. Anteriormente pesquisadores de outros países só tinham investigado a viabilidade

etapas do ciclo reprodutivo.” O cultivo integral da vieira compreende várias etapas: obtenção e maturação de reprodutores, desova, larvicultura, assentamento e metamorfose, cultivo berçário, cultivo intermediário e cultivo final ou engorda. “Enquanto não tivéssemos conhecimentos sobre todas estas etapas e uma produção de sementes em quantidades adequadas, tratamos de não estimular o desenvolvimento da atividade, para evitarmos frustrar expectativas dos produtores”, pondera Rupp. Muitos produtores têm apostado na diversificação de suas atividades, mesmo que continuem vendendo mais mariscos que

qualquer outro molusco.”Hoje o carro-chefe é o mexilhão, pelo volume de produção que alcança”, explica o chefe do CEDAP, Francisco Manoel de Oliveira Neto. O passo seguinte é conseguir exportar parte da produção, mas isso não depende apenas dos pesquisadores. “É uma prioridade do governo federal e do estadual garantir a segurança do consumidor e a competitividade a nível exterior. Temos todo um mercado aberto.” * jornalista com doutorado ligado a biologia marinha e trabalho na Fapesc (helodall @hotmail.com ]

Workshop de Fotografia no Mamirauá

Fotos: Luiz Claudio Marigo

carioca Luiz Claudio Marigo, um dos maiores mestres da fotografia de natureza, prepara workshop sobre o assunto, tendo como cenário um de seus locais prediletos para fotografar: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, localizada no coração da Amazônia. O workshop acontece na semana de 7 a 14 de outubro, durante a estação da seca. Com um menor volume de água, os animais se concentram à beira dos lagos e rios e a paisagem oferece um verdadeiro espetáculo de plantas, peixes, jacarés, macacos (guaribas, macacos de cheiro e uacari branco), aves e até onças. As trilhas são planas e as caminhadas leves duram cerca de 2 horas. À noite o passeio de voadeira para a avistagem de jacarés leva 1 hora. Aos 54 anos, 32 deles dedica-

dos à fotografia de natureza, Marigo já publicou em 15 países e teve suas imagens nas principais revistas especializadas, como National Geographic, Natural History, International Wildlife, BBC Wildlife. O "Wildlife Photographer of theYear" foi o principal prêmio que recebeu. Também publicou diversos livros no Brasil, tendo com parceiros autores como Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade e Thiago de Mello. Além de aprender muito sobre fotografia, está é uma excelente oportunidade de se hospedar em um dos melhores hotéis de floresta e conhecer a rica biodiversidade da várzea amazônica, acompanhado por um especialista conhecedor das espécies.

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Maiores informações no endereço: www.lcmarigo. com.br/ workshop

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Jornalismo Ambiental

Abertas as inscrições de oficinas e trabalhos científicos para o 2º. Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental Se as sugestões excederem o horário disponível no local será feita uma seleção pela comissão organizadora. Uma preocupação da organização é evitar o excesso de atividades simultâneas, que concorram entre si e dificultem o comparecimento dos participantes do congresso.

Propostas devem ser encaminhadas até 1º. de setembro à comissão organizadora.Também podem ser inscritos cases e palestras para a programação paralela. comissão organizadora do 2º. Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental informa que está recebendo sugestões de oficinas, palestras e cases para a programação paralela no Plenarinho do evento, programado para acontecer nas dependências da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. As propostas devem ser formalizadas e enviadas pelo e-mail do congresso 2cbja@cemcerimonia. com.br com título, tema, entidade promotora, ministrante/palestrante, infra-estrutura necessária, contatos para confirmação (e-mail e telefones) e um resumo da atividade proposta.

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Trabalhos Científicos O congresso também abrirá espaço para apresentação de trabalhos científicos desenvolvidos por professores, pesquisadores, estudantes e profissionais de comunicação participantes do evento. Serão selecionados 20 trabalhos a serem apresentados pelo(s) autor(res) em horário a ser informado pela Comissão Organizadora. Os trabalhos acadêmicos serão apresentados nas tardes do dia 11 e 12 de outubro no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – Sala II. O autor deve encaminhar o

texto completo, que deve conter entre 20 mil e 35 mil caracteres (com espaço), já inclusas as referências bibliográficas. São obrigatórios os seguintes itens: título, resumo de até 10 linhas, 5 palavras-chave, resumo do currículo do autor em até 3 linhas (incluindo sua vinculação institucional). Os trabalhos serão recebidos de até o dia 1º. setembro de 2007, através do e-mail trabalhos@cbja2007.com.br . Não haverá prorrogação de prazo e não há taxa específica para apresentação dos trabalhos. Grandes conferências As manhãs estão reservadas para as conferências a respeito dos grandes temas ambientais do momento, no auditório principal da Reitoria da Ufrgs, ficando as tardes para as discussões específicas do jornalismo ambiental, outros temas de meio ambiente, a apresentação de trabalhos científicos, vídeos, filmes e as oficinas, cases e palestras.

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Também haverá uma área de exposições e estandes para as ONGs, entidades e instituições interessadas. Mais detalhes podem ser conferidos no site do Congresso: www.cbjca2007.com.br . Mais informações: EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais - Núcleo de Ecojornalistas do RS ecoagencia @ecoagencia.com.br / www.ecoagencia.com.br


Manifesto de Repúdio Por Marcelo Szpilman*

O Massacre dos Botos no Amapá animais para a obtenção de partes de seu corpo para produzir produtos cujos benefícios apregoados não têm qualquer fundamento antropológico, social ou científico válido e comprovado. Gananciosamente, mata-se o animal para obter uma parte valiosa e muito rentável de seu corpo, descartando-se todo o resto. São aberrações predatórias e criminosas que demonstram o total desprezo pela vida de outro ser vivo. É a mesma crendice que gera a caça para obtenção das barbatanas dos tubarões, pênis de tigres, patas de gorilas, olhos de primatas e chifres de rinocerontes. Supostos efeitos curadores ou afrodisíacos geram perseguições e práticas pertubadoras insustentáveis que tendem a levar essas espécies à extinção. Recebi essa semana um e-mail denunciando um documentário que mostrava um facão em formato de roda cortando os pés de cavalos vivos. Não é muito diferente das raposas, na Rússia, e das focas, no Canadá, escorchadas ain-

m mais um flagrante desrespeito à Natureza, vemos a ganância humana sobrepujando a dignidade. Mais uma vez constatamos que quando há falta de educação e de bom-senso não se pode ter consciência ambiental. A crueldade e a covardia perpetradas contra os animais, algo inadmissível nos tempos atuais, continuam a ocorrer ao redor do mundo e no Brasil. Em julho, o Fantástico, da Rede Globo, mostrou cenas chocantes de pescadores no litoral do Amapá capturando 83 botos, mortos após terem seus olhos e dentes arrancados. Se a motivação para a captura dos botos fosse o consumo da carne, ainda que altamente discutível e desnecessário, faria algum sentido, mas não foi por isso. Foi pela tradição e pela crença de que os olhos e os dentes dos botos e golfinhos são “amuletos” com poderes especiais. É a antiga e imbecil crendice popular motivando a morte de

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da vivas ou dos tubarões que têm suas nadadeiras extirpadas e são devolvidos vivos ao mar. Independente da questão moral-econômica-ecológica, as imagens sangrentas depõem contra qualquer argumento plausível a favor da matança onde a crueldade é absolutamente desnecessária. Como advertiu o filósofo inglês Edmund Burke (1729-1797): “A única coisa necessária para que o mal triunfe é que os bons homens nada façam”. Não se cale diante das atrocidades contra os animais! Proteste! Dê seu apoio às causas ambientais e aos projetos ecológicos! Instituto Ecológico Aqualung Rua do Russel, 300 / 401, Glória, Rio de Janeiro, RJ. 22210-010 | Tels: (21) 2558-3428 ou 25583429 ou 2556-5030 | Fax: (21) 2556-6006 ou 2556-6021 | Email: instaqua@uol.com.br Site: www.institutoaqualung. com.br *Marcelo Szpilman, Biólogo Marinho formado pela UFRJ,

com Pós-Graduação Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela COPPE/UFRJ, é autor do livro GUIA AQUALUNG DE PEIXES, editado em 1991, de sua versão ampliada em inglês AQUALUNG GUIDE TO FISHES, editado em 1992, do livro SERES MARINHOS PERIGOSOS, editado em 1998/99, do livro PEIXES MARINHOS DO BRASIL, editado em 2000/01, do livro TUBARÕES NO BRASIL, editado em 2004, e de várias matérias e artigos sobre a natureza, ecologia, evolução e fauna marinha publicados nos últimos anos em diversas revistas e jornais e no Informativo do Instituto. Atualmente, Marcelo Szpilman é diretor do Instituto Ecológico Aqualung, Editor e Redator do Informativo do citado Instituto, diretor do Projeto Tubarões no Brasil (PROTUBA) e membro da Comissão Científica Nacional (COCIEN) da Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos (CBPDS).

Animais

Faculdade de Medicina do ABC é a primeira no País a proibir experimentação com animais vivos na graduação delos. Atendemos solicitações de diversos docentes e alunos e resolvemos tentar, para posteriormente termos opinião definitiva. Quanto à pesquisa, as práticas continuam inalteradas. Nesse caso, até que se prove o contrário, o modelo animal é insubstituível”, explica o Diretor da Faculdade de Medicina do ABC, Dr. Luiz Henrique Paschoal. A substituição de animais por métodos alternativos chega a 71% em instituições de ensino superior da Itália. Além disso, 68% das escolas médicas norte-americanas não usam animais em cursos de farmacologia, fisiologia ou cirurgia. “Usar animais vivos é prática cruel e desestimula o aluno. O estudante de graduação aprende e incorpora informações sem necessidade de subjugar outro ser vivo”, acrescenta a professora da FMABC e membro do CEEA, Dra. Odete Miranda. As alternativas para substituição de animais vivos vão desde softwa-

Prática é proibida por lei, porém comum em todo o País A Faculdade de Medicina da Fundação do ABC proibiu o uso de qualquer animal vivo nas aulas de graduação. Portaria em vigor desde 17 de agosto coloca a instituição como primeira no País a abolir completamente essa prática, que agora fica liberada somente para pesquisas inéditas, com relevância científica e previamente aprovadas pelo CEEA - Comitê de Ética em Experimentação Animal da FMABC. Apesar de comum em faculdades e universidades com graduações em saúde, a experimentação animal é proibida por lei “sempre que existirem recursos alternativos”. Nos Estados Unidos, instituições de renome como Harvard,Yale, Stanford e Mayo Medical School há tempos não utilizam animais no ensino médico.“Existe movimento mundial para substituição do uso de animais na graduação por outros mo-

res (programas de computador) e bonecos até auto-experimentação, uso de animais quimicamente preservados e incorporação dos cursos básicos à prática clínica – quando o aluno passa a aprender com casos reais, em seres humanos. “Nossa missão é formar médicos humanos, mais envolvidos com o paciente e sensíveis à dor do próximo. Evitar que o aluno seja coadjuvante da morte ou do sofrimento de animais melhora o aprendizado, pois elimina o estresse do sentimento de culpa, além de incentivar a valorização e o respeito por toda forma de vida. Isso certamente será refletido na relação médico/paciente após a formação acadêmica”, completa Dra. Nédia Maria Hallage, professora da FMABC e membro do Comitê de Ética em Experimentação Animal. Para a Dra. Odete Miranda, a continuidade da experimentação animal no País tem como principais motivos tradição e resistência

a mudanças, desconhecimento de métodos substitutivos e atraso tecnológico: “O Brasil está quase dois séculos atrás de países europeus e dos Estados Unidos”, garante. Em relação à economia, a Dra. Nédia Maria Hallage considera mito achar mais barato a morte de animais: “É comum pensar que matar animais sai mais barato que investir em tecnologia alternativa. Para utilizar animais no ensino é necessária manutenção ética, que implica em alimentação digna, funcionários habilitados, controle de zoonoses e estrutura própria no biotério para cada espécie. No caso do investimento em bonecos ou softwares, são todas técnicas duráveis, que abrangem maior número de alunos e que substituem animais em diversos temas de aulas”, completa Dra. Nédia. Mais informações: MP & Rossi Comunicações - (11) 4992-6379 / 8163-5265 - www.mprossi.com.br

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Dia de Hiroshima

Greenpeace e SOS Mata Atlântica enviam carta ao Presidente Lula contra o nuclear rasília, 08 de agosto de 2007. Ao Excelentíssimo Senhor Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva, Aos Excelentíssimos senadores e deputados federais,

sável pelo Programa Nuclear Paralelo, responsável pela tal perfuração. Aliás, a falta de transparência e de debate público continua sendo a marca registrada do setor nuclear no país. Outro fator de extrema preocupação é que o Estado brasileiro está longe de ter a estrutura necessária para garantir a segurança das atividades e instalações nucleares. Relatório da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados publicado em 2006 apontou graves falhas na fiscalização e monitoramento do setor nuclear no Brasil, destacando, entre outros problemas, a duplicidade de funções da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear).A CNEN atua, ao mesmo tempo, como Requerente, Operadora, Prestadora de Serviços, Licenciadora e Fiscalizadora de si própria. Vale lembrar que, em setembro, completam-se 20 anos da contaminação com Césio 137 em Goiânia, que vitimou milhares de pessoas e ficou conhecido como o maior acidente radiológico do mundo. Apesar dos renovados esforços da indústria nuclear em apresentar-se como segura, acidentes em instalações nucleares em diversos países continuam a demonstrar que esta tecnologia é perigosa, oferecendo constantes riscos ao meio ambiente e à sociedade. O exemplo mais recente foi acidente pós-terremoto na maior usina atômica do mundo, localizada em Kashiwazaki-Kariwa, no Japão.

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Na semana em que as explosões das bombas nucleares sobre as cidades japonesas de Hiroshima (6 de agosto de 1945) e Nagasaki (9 de agosto de 1945), completam 62 anos, a sociedade civil brasileira manifesta-se em repúdio à intenção do governo federal de expandir o Programa Nuclear Brasileiro. Lembramos que as bombas atômicas lançadas sobre o Japão causaram mais de 300 mil mortes. A tecnologia empregada nestas armas atômicas foi fruto do conhecimento adquirido com o primeiro reator nuclear do mundo, o Chicago Pile 1. Desde então, a utilização da energia nuclear se multiplicou: centenas de reatores e milhares de bombas atômicas foram construídos em vários países. No Brasil, historicamente, a relação entre o uso da energia nuclear para fins energéticos e para fins militares também é muito estreita. O Programa Nuclear Brasileiro surgiu durante a ditadura militar e até hoje atende demandas de alguns setores das forças armadas. Um episódio emblemático desta relação foi a descoberta, em 1986, de uma perfuração de 320 metros de profundidade em uma base da Aeronáutica na Serra do Cachimbo, no Pará. Com todas as características de um local para teste de bombas atômicas, até hoje este fato não foi devidamente explicado. Coincidência ou não, o atual presidente da Eletronuclear,Almirante Othon Pinheiro, era o respon-

Outro problema que continua sem solução no Brasil e no mundo é o armazenamento do lixo radioativo gerado pelas usinas. Os rejeitos de Angra 1 e 2 estão provisoriamente armazenados nas usinas, sem solução definitiva à vista. Angra 3 só agravará esta situação. É justamente neste contexto de falta de debate e insegurança que o governo federal anuncia a retomada do Programa Nuclear Brasileiro, fundamentado em tecnologias ultrapassadas e que exige enormes investimentos de recursos públicos. Exmo. Sr. Presidente e senhores deputados: é fato conhecido que a energia nuclear não garante segurança energética ou elimina o risco de um apagão. Caso o governo realmente decida construir Angra 3, a obra não estará concluída antes de 2014 e gerará apenas 1350 MW de energia. Com os mesmos R$ 7,4 bilhões previstos para a usina nuclear, é possível gerar o dobro de eletricidade a partir dos ventos em, no máximo, dois anos. Ou seja, um terço do prazo necessário para colocar Angra 3 em funcionamento. Em termos econômicos, investir em eficiência energética traria muito mais retorno. Um bom exemplo é o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), também do governo federal, que investiu R$ 850 milhões e obteve uma economia de 5.124 MW. Com apenas 12% do custo estimado para Angra 3,

Enviada por Guilherme Leonardi - Campanha Clima-Energia / Climate-Energy Campaign Greenpeace Brasil - Rua Alvarenga, 2.331 - Butantã - 05509-006 São Paulo - SP (11) 30351185guilher me.leonardi @br.greenpeace.org / http:// www.greenpeace.org.br/

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foi disponibilizado o equivalente a quase quatro vezes a capacidade da usina atômica (1.350 MW). Países como Alemanha e Espanha já iniciaram o fechamento das suas usinas nucleares, ao mesmo tempo em que aumentam seus investimentos em energias limpas e seguras, como eólica e solar. A taxa anual de crescimento da indústria de renováveis no mundo, inclusive em países como China e Índia, chega aos 35%. Com a abundância de recursos renováveis disponíveis em território brasileiro, o aproveitamento deste potencial é estratégico e lógico para o Brasil. Nosso país pode e deve assumir a vanguarda no uso das fontes limpas e renováveis de energia. Os impactos de Hiroshima e Nagasaki (Japão), Three Mile Island (Estados Unidos), Chernobyl (Ucrânia), Goiânia, Krümmel (Alemanha) e Kashiwazaki (Japão) não podem ser desconsiderados. A sociedade civil brasileira, que repetidamente repudia a retomada do programa nuclear, não pode ser desconsiderada. O potencial de energias limpas e renováveis do Brasil não pode ser desconsiderado. Por todos os motivos detalhados acima, nós, entidades abaixoassinadas, reiteramos nosso compromisso com um país justo, pacífico e renovável e nos colocamos, mais uma vez, contrárias à construção de Angra 3 e à expansão do Programa Nuclear Brasileiro.

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27/8/2007, 15:08


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