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Expediente FUNDADOR / JORNALISMO VILMAR Sidnei Demamam BERNA PRÊMIO GLOBAL500 DA ONU

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Flávio Lemos, psicólogo CONSELHO EDITORIAL Amyra El Khalili , Aristides Arthur Soffiati, David Man Wai Zee, Flávio Lemos de Souza. Ricardo Harduim, Rogério Ruschell

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Editorial

O meio ambiente não vota.Vote você por ele.

Por Vilmar Sidnei Demamam Berna* vilmar@rebia.org.br

Este ano teremos eleições para vereador e prefeito. Não jogue seu voto no lixo!

ada eleição municipal é uma boa hora para colaborar com o meio ambiente de sua cidade por que muitos dos problemas sócio-ambientais que conhecemos têm origem em legislações e ações do poder público, ou podem ser solucionados por eles. Os maus políticos e os corruptos não caíram de pára-quedas no poder, mas foram colocados lá pelo voto e pelo voto podem ser trocados por outras pessoas, mais honestas e também mais competentes e comprometidas com o interesse público.

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Algumas dicas para votar melhor 1. Só vote em quem você conhece. Se não conhece, procure conhecer antes, e não apenas no dia da eleição. 2. Só vote em quem tem idéias iguais ou melhores que as suas. Faça uma relação de perguntas e envie na forma de e-mail ou de carta à coordenação de campanha de seus potenciais candidatos. Na sua men-

sagem, fale de suas preocupações sócio-ambientais com a cidade ou seu bairro e faça perguntas sobre temas, idéias e problemas específicos que considera relevantes para a decisão do seu voto. Se não houver resposta, é melhor excluir este nome de sua lista de potenciais candidatos ao seu voto. Quem quer manter o distanciamento dos eleitores agora, quando está em campanha, imagine depois de eleito! 3. Convide seus potenciais candidatos para uma reunião em sua casa ou outro local apropriado a fim de debater as questões do interesse da comunidade e da cidade e convide alguns familiares, amigos e vizinhos de sua confiança e relacionamento para ajudarem na sabatina ao candidato, lembrando ao político que isso não significa nenhum compromisso eleitoral nem seu nem de seus convidados. Este contato direto irá mostrar que existem candidatos bons, mas há muitos que são completamente vazios. Só fala bonita. Às vezes, nem isso. Nesses, você não deve votar. 4. Só vote em quem tem força para lutar pelas idéias que tem. Nenhum político, por melhor que seja, faz nada sozinho. O prefeito precisa de maioria na Câmara. Os vereadores precisam de maioria para aprovar seus projetos. Maioria é uma conquista que depende de

capacidade de convencimento, articulação e diálogo com quem pensa e tem interesses diferentes dos nossos. Seu candidato deve demonstrar esta habilidade, caso contrário, ficará isolado e pouco poderá fazer, entretanto, deverá demonstrar também seus compromissos éticos, até onde estará disposto a ir para conseguir adesões. 5. Não vote em candidato que só faz propaganda. Ou que faz muita propaganda. Pode estar fazendo qualquer negócio para ganhar a eleição, comprometendose com interesses privados que o afastarão depois de eleito do interesse público. Como fazer propaganda custa caro, é importante questionar a origem dos recursos que estão financiando a campanha do candidato. 6. Não vote só pelo partido do candidato.Você pode ter preferência por algum partido, mas não se esqueça de que o mais importante são as idéias e a cabeça do próprio candidato. 7. Seja autêntico.Vote em candidato de oposição, se você achar que as coisas estão erradas e que os que estão hoje no poder não são ou não foram capazes de promover as mudanças necessárias. Vote num candidato da base de apoio ao governo, se você achar que o poder deve continuar nas

mesmas mãos. O importante é você votar por sua cabeça e não pela cabeça dos outros. 8. Se o candidato já é vereador não vote nele só pelos projetos que apresentou. Há os que apresentam bons projetos, mas que não sabem ou não se interessam em lutar para tirá-los do papel. Verifique o histórico dos votos e apoios do candidato e compare como votou em votações estratégicas para o meio ambiente de sua cidade, que emendas apresentou ao orçamento. Durante essas votações, seu candidato esteve presente ou ausente, se omitiu ou votou em favor de bons projetos e contra os maus? Vilmar é escritor com 15 livros publicados. Na Paulus, publicou “Como Fazer Educação Ambiental”, “O Desafio do Mar”, “O Tribunal dos Bichos”, entre outros, e nas Paulinas, “Pensamento Ecológico” e “A Administração com Consciência Ambiental”, transformados em curso à distância pela UFF – Universidade Federal Fluminense. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente. É fundador da REBIA – Rede Brasileira de Infor mação Ambiental (www.rebia. org.br ) e editor do Portal (www. portaldmeioam biente.org.br ) e da Revista do Meio Ambiente. Mais informações sobre o autor: (http://www.rebia.org.br/ VilmarBerna/ ). Contatos: vilmar@ rebia.org.br

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Amazônia Por Leonel Rocha

Contra o "boi pirata" Embrapa revela crescimento “assustador” da pecuária na Amazônia. Ministério do Meio Ambiente diz que parte do rebanho ocupa áreas de derrubadas ilegais e estuda duro pacote de medidas para criadores m dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter afirmado que não se poderia “culpar ninguém” pelo crescimento do desmatamento na Amazônia no último semestre do ano passado, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e os principais assessores da área apontaram a pecuária extensiva como a grande vilã das derrubadas. Técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão responsável pela fiscalização das florestas, estudam a adoção de medi-

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das duras pelo governo para impedir a comercialização do que eles chamam de “boi pirata”, o animal criado nas fazendas formadas em áreas de desmate ilegal. “O que está acontecendo é uma rapina. Mais de 70% dos desmatamentos foram para a formação de pastos para a pecuária”, disse Marina. Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) utilizados pelos assessores do Ministério do Meio Ambiente mostram que a criação de gado na Amazônia registrou um crescimento muito acima das demais regiões do país nos últimos anos (leia arte). Entre 1995 e 2005 o percentual do rebanho bovino criado na Amazônia cresceu de pouco mais de 20% para cerca de 37% do total de cabeças do país. As maiores taxas foram registradas no Mato Grosso, no Pará e em Rondônia, onde ocorreram as mais extensas derrubadas de florestas. No Centro-Oeste, região onde desde 1990 pasta o maior rebanho brasileiro, o número de cabeças também cresceu e hoje e s t á em segundo lugar em exemplares, perdendo apenas para a Amazônia Legal. Nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste, o rebanho encolheu. Idéias polêmicas Para tentar manter sob controle as taxas de desmatamento, os assessores de Marina Silva já sugeriram à ministra a suspensão de financiamentos de bancos oficiais à pecuária. Os créditos para custeio e investimento do setor passariam a ser exceções. Além disso, estuda-se a adoção de embargos de fazendas localizadas em áreas de corte ilegal da floresta e bloqueio na comercialização de carnes produzidas em

“O que está acontecendo é uma rapina. Mais de 70% dos desmatamentos foram para a formação de pastos para a pecuária” - Marina Silva, ministra do Meio Ambiente.

regiões de derrubada clandestina. Segundo os técnicos, os frigoríficos que colaborarem com a fiscalização não serão responsabilizados pela carne sem origem identificada. Outra idéia em estudo é informar aos maiores exportadores brasileiros uma lista de pecuaristas instalados ilegalmente em áreas embargadas. Além disso, os técnicos do Ibama estão sugerindo o monitoramento da origem das carnes compradas pelos maiores supermercados. “Vamos responsabilizar todos os envolvidos na cadeia de produção ilegal de carne”, avisou o diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, Tasso Azevedo. A intenção é fechar uma parceria com as maiores redes de supermercados para que elas também exijam do fornecedor uma espécie de certificado de origem da carne bovina que revendem. Azevedo também sugere que o governo exija de todos os pecuaristas a implantação de plano de manejo nas fazendas. Crise anunciada Além das medidas repressivas de curto prazo, o Ministério do Meio Ambiente também estuda mudanças na lei que cria os critérios para o cálculo do índice de produtividade das fazendas de gado. Pela legis-

lação atual, fazenda produtiva é a que tem um boi por hectare, em média. A idéia é aumentar o número de cabeças para três por hectare. Segundo Tasso Azevedo, essa mudança reduziria a um terço a necessidade de área para a produção de carne, acabando com a pressão por novos pastos. As medidas para reprimir o desmate ilegal e o controle da produção de carne bovina podem ser tomadas tendo como base o decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conter a devastação da Floresta Amazônica, acreditam os ambientalistas. O maior problema será conseguir dobrar o Ministério da Agricultura e a bancada ruralista no Congresso sobre a necessidade dessas medidas, quase todas fora da alçada do Ministério do Meio Ambiente — principalmente depois que o próprio presidente da República deu declarações amenizando as primeiras acusações da área ambiental do governo contra produtores de soja e pecuaristas. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, não quis se pronunciar sobre as informações divulgadas por Marina. Fontes: Amazônia.org.br / Correio Braziliense

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OPINIÃO Por Maurício Thuswohl (jornalista da Carta Maior)

É hora de acusar alguém

É hora de exigir que o agronegócio, que jamais deixou de exercer pressão sobre a floresta sempre que isso lhe foi vantajoso, assuma responsabilidades públicas para evitar a destruição do maior patrimônio ambiental do país. o presenciar o embate verbal entre os ministros Mar ina Silva (Meio Ambiente) e Reinhold Stephanes (Agricultura) durante a reunião de cúpula que analisou na semana passada o aumento do desmatamento na Amazônia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou:“Não é hora de acusar ninguém”. O mais provável é que a intenção presidencial tenha sido simplesmente a de acalmar os ânimos da discussão, mas parte da mídia já se apropriou das palavras de Lula, dando a elas significado de severa advertência à Marina. O pecado da ministra foi apontar a expansão da pecuária e da soja como o principal fator de aumento do desmatamento no segundo semestre do ano passado, além de exigir um compromisso dos grandes produtores rurais para reverter essa expansão. Não sei qual teor quis dar a sua advertência o presidente, mas peço licença para apresentar aqui minha discordância. Acho que, se o governo federal não quiser perder as rédeas da luta contra o desmatamento na Amazônia, é hora, sim, de “acusar” alguém. É hora de exigir que um setor da sociedade brasileira, o chamado agronegócio, que jamais deixou de exercer pressão sobre a floresta sempre que isso lhe foi vantajoso, assuma responsabilidades públicas junto à sociedade brasileira para evitar a destruição do

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maior patrimônio ambiental de nosso país. No dia 15 de janeiro, o ministro Stephanes anunciou exultante que a balança comercial do agronegócio fechou o ano de 2007 com o saldo recorde de US$ 49,7 bilhões (resultado da diferença entre US$ 58,4 bilhões em exportações e US$ 8,7 bilhões em importações). O aumento do preço inter nacional de algumas commodities agrícolas, destacou o ministro, foi fundamental para esse brilhante desempenho. Em primeiro lugar, a soja, que contribuiu com US$ 11,4 bilhões nas vendas externas. Logo atrás, as carnes, sobretudo a bovina, com US$ 11,3 bilhões em vendas. Em meio ao clima de euforia causado no governo pelos três anos consecutivos de redução do desmatamento, algumas organizações ambientalistas alertavam que o aumento do preço da soja e da carne ainda em 2006 fatalmente se traduziria em novo ciclo de devastação em 2007. Dito e feito. Nesse sentido, os números das exportações apresentados pelo Ministério da Agricultura e os dados da destruição da floresta captados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) são desgraçadamente complementares. O ministro disse à imprensa que a área plantada com soja no país foi reduzida nos últimos dois anos e garantiu que não é esta a cultura que ameaça o bioma amazônico. Parafraseando Elio Gaspari, eu diria que o ministro está subestimando a inteligência da patuléia. Até o mais singelo uirapuru da floresta já sabe que a soja nunca é a primeira a entrar em cena neste ciclo de destruição. Primeiro, vem a exploração da madeira em si, depois o gado, em seguida uma outra cul-

tura para “acertar o terreno” e, aí sim, a soja com suas máquinas. Por mais que se fechem os olhos, não há como negar que as grandes empresas do agronegócio estão por trás de todo esse processo de devastação. Reinhold Stephanes é do PMDB, mas ocupa um ministério que, desde a nomeação de Roberto Rodr igues (PP) em 2003, sempre pertenceu politicamente à bancada ruralista do Congresso Nacional. O rei da soja no Brasil também é aliado do governo.Trata-se de Blairo Maggi, governador do Mato Grosso e dono do império industr ial Maggi, não necessariamente nessa ordem. Segundo os dados do Inpe, o PR, partido do qual Maggi é presidente de honra, governa um quarto das 36 cidades apontadas pelos satélites do Inpe como campeãs do desmatamento da Amazônia. São esses aliados que Lula deve chamar agora ao compromisso público com toda a Nação, com toda a sociedade brasileira, pela preservação da Amazônia! Nas mãos de pouquíssimas famílias, o agronegócio sempre foi um dos setores que mais se beneficiou do poder público. Exporta quase tudo o que produz. Quando obtém lucros, fica com eles. Quando tem perdas, sempre as empurra para os cofres públicos. Os financiamentos de safras são infinitos e, quando alguma coisa não sai como o desejado, lá estão os caminhões fechando as rodovias e os tratores invadindo a Esplanada dos Ministérios. Pelo que se sabe nos rincões desse país, poucos benefícios ao povo trouxeram os senhores do agronegócio. Sem falar naqueles “patrões” que são chegados a “contratar” um trabalho escravo.

Será que os 98% restantes do povo brasileiro são favoráveis a que esses senhores do agronegócio destruam a Amazônia para manter seus lucros? O governo voltou a falar agora em cortar os financiamentos que Banco do Brasil, BNDES, Caixa Econômica Federal e outras instituições públicas concedem aos proprietários que desmatam. Mas, ora bolas, isso já não deveria ter sido feito há muito tempo? Essa discussão existe desde o primeiro dia do governo Lula, mas parece não ter avançado muito. O governo deveria abrir essa discussão e revelar quais são os interesses que impedem o andamento dessas soluções. Outro problema que segue sem solução política é a linha de ação do Banco da Amazônia que continua concedendo crédito para plantio de soja e até mesmo para a construção de frigoríficos na região! Como evitar o desmatamento se o que se faz é incentivar com dinheiro público as principais atividades que ameaçam a floresta? O agronegócio é um dos pilares da economia brasileira, e nada indica que Lula vá tirá-lo do trono que ocupa em nossa estrutura social desde que o Brasil “se modernizou”. Ainda assim, nesses tempos em que se discute o aquecimento global e suas conseqüências, seria interessante para o governo e didático para o povo expor as coisas como elas realmente são no que se refere ao desmatamento da Amazônia. Fazer isso é apontar claramente os setores da sociedade brasileira responsáveis pela derrubada incessante de árvores em nossa maior floresta, nosso maior patrimônio natural. É hora de acusar alguém, como o fez de forma muito oportuna a ministra Marina Silva.

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Consumo Responsável Por João Meirelles Filho*

Uma receita insustentável: como destruir a Amazônia sem sair de casa

O que efetivamente causa desmatamento? Na Amazônia a resposta é muito clara: a pecuária bovina extensiva, que responde por mais de 3/4 do estrago, e bem depois, muito depois, vem as outras causas, a soja (que cresce rapidamente), a retirada de madeira (que financia as novas derrubadas e pastagens), e muitas outras que, claro, juntas, são terrivelmente devastadoras. e você acha que a culpa do desmatamento é do governo, você tem razão. Claro que é culpa da inoperância dos órgãos públicos, que não conseguem controlar desmatamentos, queimadas, e nem a lenha que garante o seu pãozinho de cada dia nas padarias da região e de boa parte do Brasil. Será que a culpa é só daqueles a quem você emprestou seu voto e sua confiança, daqueles a quem você passou procuração para decidir, em seu nome, o que você consome nos super-mercados? Ou será este um problema da Nação a que você e eu pertencemos, ou fingimos pertencer? Como você se sente diante do circo anual quando o chefe da Nação esbraveja ao ver as taxas de desmatamento fora de controle e solta decretos a torto e a direito, esperando que sejam cumpridos? Você acha que seus chefes realmente levam a sério este assunto? O que eles pensam quando servem seu George (o Bush) um churrasco para ele na Granja do Torto? Até quando você vai acreditar nesta novela? Nesta conversa de que medir desmatamento e queimadas serve para alguma coisa? Só serve para dizer o que você já sabe muito bem: a coisa vai muito mal, cada vez pior.Afinal, medir desmatamento e queimada é medir conseqüência e não causa. É como medir a febre do doente, certificar-se que ele tem mesmo febre e, ir dormir, ir fazer churrasco, nada fazer, esperando, que, se tudo der certo, um dia, o

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doente, se sobreviver, irá melhorar. É assim que age o governo que você elegeu, porque, você, cidadão brasileiro, não liga a mínima para as causas que provocam desmatamento e queimada. Ou melhor, não está muito interessado em saber que quem causa a destruição da Amazônia é você mesmo, ao comer o seu bifinho de cada dia, o seu churrasquinho de fim de semana, o seu pãozinho de cada dia. O que efetivamente causa desmatamento? Na Amazônia a resposta é muito clara: a pecuária bovina extensiva, que responde por mais de 3/4 do estrago, e bem depois, muito depois, vem as outras causas, a soja (que cresce rapidamente), a retirada de madeira (que financia as novas derrubadas e pastagens), e muitas outras que, claro, juntas, são terrivelmente devastadoras. Aliás, esta é a história do Brasil.A história da pata do boi.Assim, seus tataravôs engoliram a Mata Atlântica e a Caatinga, e seus pais e você devoram o Cerrado e a Amazônia. Só se cria boi porque há consumidor de carne. O pecuarista só existe porque ganha mais dinheiro com o boi. Se outra coisa (legal) fosse mais lucrativa, mudaria de ramo. E o pecuarista só cria boi porque há cada vez mais consumidor querendo comer carne, carne barata. Quem consome a carne da Amazônia é tanto quem mora na região (menos de 10% da produção), como os brasileiros das outras regiões (mais de 80%). A participação das exportações ainda é pequena, inferior a 10%, mesmo se considerar os 600 mil bois vivos que despachamos, sem pagar impostos, para a desabastecida Venezuela e o violento Líbano em guerra. Hoje, na Amazônia, é possível produzir carne muito barata porque o alto preço social e ambiental não são considerados. O pecuarista raciocina: por que se preocupar em conservar as matas, as águas, as populações tradicionais e as milenares culturas? Por que seguir a lei trabalhista, pagar impostos, legalizar as terras, se não há fiscalização? O Brasil decidiu (e você participa desta decisão como eleitor e consumidor) transferir 1/3 de seu

rebanho para a Amazônia. Na década de 1.960 eram 1 milhão de bois na região, hoje, menos de meio século depois, são 75 milhões. Mais que em toda a Europa! Há muita gente envolvida, não são apenas aqueles 21 mil médios e grandes pecuaristas (com propriedades acima de 500 hectares). Há também 400 mil pequenos pecuaristas, em sua maior parte economicamente inviáveis. Resultado: em menos de 40 anos, somente com a pecuária, destruímos mais de 70 milhões de hectares do mais complexo e desconhecido conjunto de florestas tropicais do Planeta. É pouco, você dirá, menos de 20% da região, ou, se preferir, meros 8% do território do Brasil. No entanto, esta superfície é superior à soma das áreas do estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro somados. Destruídos. Para que? Para você comer picanha, picadinho e croquete mais baratos. Será que alguém realmente se beneficiou com isto? Será que os filhos dos pecuaristas realmente terão uma vida melhor porque estão na Amazônia desmatada? Dificilmente. A pecuária não consegue garantir nem a rentabilidade de uma aplicação trivial em um banco, como a poupança ou um CDB. É o pior negócio que existe, só sobrevive porque é ilegal. De cada três bifinhos que você come, um vem da Amazônia.Você não pergunta para o seu Zé açougueiro nem para o seu Diniz do Pão de Açúcar ou para o presidente do Carrefour, ou para outro dono de supermercado de onde vem a carne.Você também não pergunta de onde vem a soja, o arroz, e tantos outros produtos. Enfim, como consumidor você sabe muito pouco sobre o que você consome, qual o seu impacto no planeta, quantos quilos de carbono, de água, de suor foram gastos para produzir o seu luxo do momento. Seu fornecedor também não se interessa por educá-lo, informá-lo, orientá-lo. Para ele responsabilidade social é comprar meia dúzia de cestinhas e docinhos de comunidades “em alto risco social” e ganhar comenda e prêmio

de associações empresariais. E se você efetivamente perguntasse ao dono do estabelecimento? E se você fosse às últimas conseqüências, abandonasse o produto na prateleira? E se, de agora em diante, você fosse 100% coerente em relação a sua responsabilidade como cidadão, cidadão comedor das Amazônias? Das Matas Atlânticas? Você deixaria de comprar a carne que vem com gosto de Amazônia queimada, devastada e escravizada? A carne que saiu do norte de Mato Grosso, do sul do Pará, do Marajó, do centro de Rondônia, do sul do Acre e do Amazonas? Você deixaria de comer a Amazônia? Você seria capaz de abandonar seu antigo fornecedor de alimentos se ele não levasse a sério a sua pergunta: de onde vem esta carne? Ou melhor, esta carne vem da Amazônia? Se sua resposta é: tanto faz, então sugiro que desligue a televisão, vá curtir o seu quente verão de aquecimento global e tome tudo isto como conversa para boi dormir. Se, entretanto, achar que vale a pena seguir adiante, então, tome uma atitude. Pilote com mais atenção o seu carrinho de compras. A cada passo que você dá no supermercado, é você quem decide o futuro do planeta (e não o dono do reluzente estabelecimento, ou o diretor de marketing da empresa, ou o gênio da agência de propaganda que ainda insiste em usar crianças ou em desrespeitar as mulheres para vender mais). Se você quer entregar algo da Amazônia a você mesmo, ou a seus descendentes, deixe este olhar bovino de lado, abandone seu comportamento de consumidor passivo. O mundo todo já percebeu que o Brasil está transformando a Amazônia em um imenso curral. É isto que você quer? Você acha que o mundo vai mesmo ficar de braços cruzados vendo o Brasil fazer churrasquinho da Amazônia? Pois então, vamos agir, enquanto é tempo, antes que sejamos obrigados, envergonhados, a sofrer sanções internacionais hoje inimagináveis.Vamos enviar o boi de volta para o zoológico e para o presépio, de onde jamais deveria ter saído.

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Você pode mudar a Amazônia a partir de agora. A sua decisão de consumo afetará profundamente o que se produz na Amazônia Ao nível individual: • Se você come carne, pergunte a quem lhe vende, de onde vem a carne para saber se você está comendo ou não a Amazônia? • Se você mora fora do Brasil – pergunte se é mesmo imprescindível vir carne da Amazônia e das outras florestas tropicais (muitas vezes você come a Amazônia na forma de soja, que ao invés de alimentar pessoas é dado a porcos, galinhas e vacas). Que medidas o poder público pode tomar agora por meio de decreto: • Aumentar a taxa do imposto territorial rural das áreas de pastagens; • Modificar a fórmula de cálculo do imposto de renda dos fazendeiros; • Fiscalizar com seriedade as questões ambientais, trabalhistas e

tributárias da cadeia produtiva da carne na Amazônia. Ao nível coletivo nacional: • Não seria oportuno discutir uma moratória de alguns anos, digamos, quatro anos, onde nenhuma autorização de desmatamento fosse concedida. Não seria este um tipo de compromisso que um novo presidente da República deveria assumir? • Não seria oportuno organizar um amplo programa de re-educação para fazendeiros e suas famílias, permitindo que fossem capacitados em técnicas sustentáveis de convivência com a floresta? Afinal, eles são pessoas como nós, que só querem ter uma vida digna para si e seus familiares. A pecuária é apenas o meio de vida que se lhes coube e que sabem trabalhar.

Ao nível coletivo internacional: • Não está na hora de efetivamente discutir a relação entre a destruição das florestas tropicais do globo e a pecuária e o consumo de madeiras tropicais? Teremos que olhar a Amazônia de outra forma, não através dos olhos bovinos que esmagaram o futuro nos últimos cinco séculos. É preciso que aceitemos que não somos bois-de-presépio nem boisde-piranha. Somos seres capazes de decidir o que queremos. E queremos justiça social, ambiente saudável, emprego e renda com eqüidade. Queremos entregar às futuras gerações a Amazônia com a etnodiversidade, a biodiversidade e a

diversidade cultural melhor ou igual àquela que recebemos. * João Meirelles Filho vive em Belém, Pará, na região do estuário do rio Amazonas. Trabalha numa entidade sem fins lucrativos, o Instituto Peabir u – www.pea biru.org.br - e se dedica ao fortalecimento institucional de organizações sem fins lucrativos da Amazônia. É autor do Livro de Ouro da Amazônia (3a edição, Ediouro, Rio de Janeiro, 2004). Décima geração de pecuaristas que abriram as fronteiras pioneiras do Brasil, deixou de comer carne bovina em 2.000. (Fontes: Blog - Jornalista Altino Machado (Acre) e http:// www.consciencia.net/2006/0128meirelles-filho-amazonia.html

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ESPECIAL DIA MUNDIAL DA ÁGUA

DIA MUNDIAL DA ÁGUA

Falta de água é tão crítica quanto a mudança climática

s crises globais geradas pela crescente demanda de água doce combinada com a falta de oferta são tão urgentes quanto os trabalhos para enfrentar as mudanças climáticas – embora mais problemáticas e complicadas –, como mostrado na Reunião Anual 2008 do World Economic Forum. Um painel que contou com a presença do Secretário Geral das Nações Unidas Ban Ki-moon, informou aos CEOs e líderes da sociedade civil em Davos que o estresse causado pela falta de água representa um risco para o crescimento econômico, para os direitos humanos, para a saúde e para a segurança nacional. “O desafio é assegurar água potável e em quantidades suficientes para todos”, afirma o Secretário Geral, “é um dos maiores desafios que o mundo terá de enfrentar”. “A solução para falta de água é mais complexa que a discutida para as mudanças climáticas”, destaca Peter Brabeck-Letmathe, Pre-

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sidente e CEO, Nestlé, Suíça. Os membros do painel concordaram que o desafio pode ser solucionado por meio de abordagens cooperativas, vontade política, estratégias de marketing e tecnologias inovadoras como algumas das encontradas para diminuir o aquecimento global. As forças de mercado podem funcionar bem dentro de um sistema de limites e comércio, semelhante ao utilizado para o dióxido de carbono, sugeriu com Fred Krupp, Presidente, Environmental Defense, EUA. “A tragédia começou com a remoção de uma grande quantidade de água dos rios. Se não cuidarmos do aquecimento global e continuarmos a jogar gases poluentes na atmosfera sem filtrá-los, vamos enfrentar uma gigantesca falta de água.” Os membros do painel concordaram que nenhum indivíduo, empresa ou nação consegue escapar das conseqüências da falta de água. Enquanto isso, os esforços para extrair mais fontes de

energia alternativa, como petróleo de xisto ou biocombustíveis, aceleram as necessidades de abastecimento. Este recurso também é desperdiçado, porque não possui valor econômico, apesar de ser o mais escasso e precioso de todos, destaca Brabeck-Letmathe. “Se permitirmos que o mercado defina um valor comercial para a água, podemos dar um grande passo”, afirma. O painel concluiu que um volume determinado de água potável para todos os indivíduos deve ser visto como parte dos direitos humanos. A África do Sul e o Omã demonstraram algumas maneiras originais e antigos de garantir a disponibilidade de água. Os palestrantes também discutiram que a água utilizada por fazendeiros, indústrias, piscinas ou jardins deve ser comprada para evitar desperdício e o uso inadequado. Ban Ki-Moon apontou como exemplo a luta armada em Darfur, no Sudão, que resultou em falta de água.“As lutas começaram en-

Bono Vox - Vocalista da banda U2

tre fazendeiros e agropecuaristas depois da falta de chuva, e, então, a água se tornou escassa.” Aproximadamente 200 mil pessoas morreram. Alguns milhões fugiram de suas casas. “Porém quase sempre esquecemos do evento que deu início a tudo – a seca. Falta do recurso mais precioso do mundo.” Mais informações: http://www.weforum.org/annualmeeting/webcasts

Líderes mundias em busca da paz

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Por Leonardo Aguiar Morelli (*)

Democratização da água

água desconhece fronteiras, corta territórios, une e divide nações. É o principal elo entre as civilizações desde o princípio da humanidade. Símbolo de fertilidade e prosperidade, deu lugar no século 20 ao petróleo como principal indicador de riqueza de uma nação. No início do século 21, economistas, empresas, políticos e lideranças comunitárias voltam a levar em conta a água como determinante para o progresso de um país. Patrimônio natural e essencial a todas as formas de vida, a água transformou-se em um recurso econômico, fonte de lucro e razão para conflitos. Sua escassez atinge mais de 2 bilhões de pessoas e, se não forem adotadas medidas para racionalizar sua exploração, em algumas décadas 4 bilhões de pes-

A

soas não terão água para as necessidades básicas. Na América Latina, onde se concentram as principais reservas estratégicas de água e biodiversidade, a soberania dos povos está no centro da geopolítica mundial, exigindo um plano urgente para sua preservação. As águas da Amazônia integram nove países e têm a maior riqueza de biodiversidade do planeta. As águas do Prata interligam outros quatro, cruzando as regiões mais industrializadas do continente, que contaminam as águas marinhas. O Aqüífero Guarani é a maior reserva subterrânea do mundo, com capacidade para abastecer mais de 700 milhões de habitantes. Localizado entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, vem sendo vítima de um ciclo de cobiça e colonização de suas terras, a partir do investimento de grandes grupos econômicos estrangeiros no local.

Para seu controle, inclusive militar, os EUA planejam uma base no Paraguai e propagandeiam o risco terrorista na Tríplice Fronteira, onde está Foz do Iguaçu, a mais importante área de recarga do manancial. Nesse contexto, é bandeira estratégica para a sobrevivência do planeta a criação de uma Organização Latino-Americana da Água, sob a liderança de Venezuela, Bolívia, Cuba, Equador, Nicarágua e governos populares, a partir do Fórum Social Mundial de 2009. A entidade teria a missão de promover a defesa da água como direito inalienável dos povos, como contraponto às políticas neoliberais preconizadas pelo Fórum Econômico Mundial e materializadas pela OMC (Organização Mundial do Comércio). Sua interface com as lutas sociais no campo da saúde pública (a partir do tratamento de esgoto, lixo e drenagem) e da economia (a partir de seu uso na geração de energia), cujos conflitos causados

pelo modelo dominante se agravam a cada dia, a colocará em posição decisiva para que a sociedade vença o caos do sistema e as lideranças humanistas e populares assumam seu papel na redefinição do modelo de desenvolvimento, em prol do futuro da humanidade. É nessa direção que o Movimento Grito das Águas lança a campanha pela água como direito fundamental e dever do Estado, no Rio de Janeiro, no dia 22 de março (Dia Mundial da Água), visando uma emenda constitucional que garanta fornecimento gratuito de 45 litros de água-dia por habitante, como estratégia de mobilização para o Fórum Social Mundial da Água, em janeiro de 2009, em Belém do Pará. *Leonardo Aguiar Morelli é ambientalista, coordenador do Movimento Grito das Águas e secretário-geral do Instituto para Defesa da Vida. E-mail: aguiarmorelli@hotmail.com / Site: www.defesadavida.org.br

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ESPECIAL DIA MUNDIAL DA ÁGUA

OPINIÃO


Transposição do São Francisco: uma opinião Fonte: O Globo (20/ 12/2007) Artigo de Ciro Gomes

Debate sobre a transposição do Rio São Francisco Carta de Ciro Gomes a Letícia Sabatella

Atriz Letícia Sabatella, integrante da organização Humanos Direitos, fala à imprensa sobre greve de fome de dom Luiz Flávio Cappio, que pede a suspensão das obras de transposição do Rio São Francisco. A atriz Letícia Sabatella foi visitar Dom Cappio e ver de perto as razões que o levaram a fazer mais uma greve de fome em protesto contra a transposição das águas do São Francisco. E depois de conversar muito com o bispo, passou a fazer parte das manifestações de apoio a sua causa e contra o projeto do governo Lula. (Foto: José Cruz/Abr)

Letícia, ando meio quieto por estes tempos, mas, ao ver você visitando o bispo em greve de fome no interior da Bahia, pensei que você deveria considerar algumas informações e reflexões. Poderia começar lhe falando de República, democracia, personalismo, messianismo... Mas, sendo você a pessoa especial que é, desnecessário. O projeto de integração de bacias do Rio São Francisco aos rios secos do Nordeste setentrional atingiu, depois de muitos debates e alguns aperfeiçoamentos, uma forma em que é possível afirmar que, ao beneficiar 12 milhões de pessoas da região mais pobre do país, não prejudicará rigorosamente nenhuma pessoa, qualquer que seja o ponto de vista que se queira considerar. Séria e bem intencionada como você é, Letícia, além de grande artista, peço-lhe paciência para ler os seguintes números: o Rio São Francisco tem uma vazão média de 3.850 metros cúbicos por SEGUNDO (!) e sua vazão mínima é de 1.850 metros cúbicos por SEGUNDO (!). Isto mesmo, a cada segundo de relógio, o Rio despeja

no mar este imenso volume de água. O projeto de integração de bacia, equivocadamente chamado de transposição, pretende retirar do Rio no máximo 63 metros cúbicos por segundo. Na verdade, só se retirará este volume se o rio estiver botando uma cheia, o que acontece numa média de cada cinco anos. Este pequeno volume é suficiente para garantia do abastecimento humano de 12 milhões de pessoas. O rio tem sido agredido há 500 anos. Só agora começou o programa de sua revitalização, e é o único rio brasileiro com um programa como este graças ao pacto político necessário para viabilizar o projeto de integração. No semi-árido do Nordeste setentrional, onde fui criado, a disponibilidade segura de água hoje é de apenas cerca de 550 metros cúbicos por pessoa, por ANO (!). E a sustentabilidade da vida humana pelos padrões da ONU é de que cada ser humano precisa de, no mínimo, 1.500 metros cúbicos de água por ano. Nosso povo lá, portanto, dispõe

de apenas um terço da quantidade de água mínima necessária para sobreviver. Não por acaso, creia, Letícia, é nesta região o endereço de origem de milhões de famílias partidas pela migração. Converse com os garçons, serventes de pedreiros ou com a maioria dos favelados do Rio e de São Paulo. Eles lhe darão testemunhos muito mais comoventes que o meu. Tudo que estou lhe dizendo foi apurado em 4 anos de debates populares e discussões técnicas. Só na CNBB fui duas vezes debater o projeto. Apesar de convidado especialmente, o bispo Cappio não foi. Noutro debate por ele solicitado, depois da primeira greve de fome, no palácio do Planalto, ele também não foi. E, numa audiência com o presidente Lula, ele foi, mas disse ao presidente, depois de eu ter apresentado o projeto por mais de uma hora (ele calado o tempo inteiro), que não estava interessado em discutir o projeto, mas “um plano completo para o semiárido”. As coisas em relação a este as-

sunto estão assim: muitos milhões de pessoas no semi-árido (vá lá ver agora o auge da estiagem) desejam ardorosamente este projeto, esperam por ele há séculos. Alguns poucos milhões concentrados nos estados ribeirinhos ao Rio não o querem. A maioria de muitos milhões de brasileiros fora da região está entre a perplexidade e a desinformação pura e simples. Como se deve proceder numa democracia republicana num caso como este? O conflito de interesses é inerente a uma sociedade tão brutalmente desigual quanto a nossa. Só o amor aos ritos democráticos, a compaixão genuína para entender e respeitar as demandas de todos e procurar equacioná-las com inteligência, respeito, tolerância, diálogo e respeito às instituições coletivas nos salvarão da selvageria que já é grande demais entre nós. Por mais nobres que sejam seus motivos - e são, no mínimo, equivocados -, o bispo Cappio não tem direito de fazer a Nação de refém de sua ameaça de suicídio. Qualquer vida é preciosa demais para ser usada como termo autoritário, personalista e messiânico de constrangimento à República e às suas legítimas instituições. Proponho a você, se posso, Letícia: vá ao bispo Cappio, rogue a ele que suspenda seu ato unilateral e que venha, ou mande aquele que lhe aconselha no assunto, fazer um debate num local público do Rio ou de São Paulo. Imagine se um bispo a favor do projeto resolver entrar em greve de fome exigindo a pronta realização do projeto. Quem nós escolheríamos para morrer? Isto evidencia a necessidade urgente deste debate fraterno e respeitoso. Manda um abraço para os extraordinários e queridos Osmar Prado e Wagner Moura e, por favor, partilhe com eles esta cartinha. Patrícia tem meus telefones. Um beijo fraterno do Ciro Gomes * CIRO GOMES é deputado federal (PSB-CE) e foi ministro da Integração.

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Transposição do São Francisco: Outra opinião Fonte: O Globo (21/ 12/2007)

Debate sobre a transposição do Rio São Francisco Resposta de Letícia Sabatella a Ciro Gomes

Caro deputado Ciro Gomes, antes de visitar frei Luiz Cappio em Sobradinho, tinha conhecimento desse projeto da transposição de águas do Rio São Francisco, através da imprensa, e de duas conferências sobre o meio ambiente, das quais participei a convite de minha querida amiga, a ministra Marina Silva. Há alguns anos, quieta também, venho escutando pontos de vista diversos de ambientalistas, dos movimentos sociais, de nossa ministra do Meio Ambiente e refletindo junto com o Movimento Humanos Direitos (MHuD), do qual faço parte. Acompanho a luta de povos indígenas e ribeirinhos, sempre tão ameaçados por projetos de grande porte, que visam a destinar grande poder para um pequeno grupo em troca de tanto prejuízo para esses povos, ao nosso patrimônio social, ambiental e cultural. Acredito que devam existir benefícios com a transposição, mas pergunto, deputado, quem realmente se beneficiará com esta obra: o povo necessitado do semi-árido ou as grandes irrigações agrícolas e indústrias siderúrgicas? Afinal, a maior parte da água (bem comum do povo brasileiro) servirá para a produção agrícola e industrial de exportação e apenas 4% dessa água serão destinados ao consumo humano. Sabendo do desgaste que historicamente vem sofrendo o rio, necessitado de efetiva revitalização, sabendo do custo elevado de uma obra que atravessará alguns decênios até ser concluída e em se tratando de interferir tão bruscamente no patrimônio ambiental, utilizando recursos públicos, por que razão, em sendo sua excelência deputado federal, este projeto não foi ampla e especificamente discutido e votado no Congresso? Por qual motivo essa obra tão “democrática” foi imposta como a única solução para resolver a questão da seca no semi-árido quando propostas alternativas, que descentralizam o poder sobre as águas, não foram levadas em consideração? No dia 19 de dezembro de 2007, o que presenciei na Praça dos Três Poderes, em Brasília, foi a insensi-

bilidade do Poder Judiciário, a intransigência do Poder Executivo, e a omissão do Congresso Nacional. Será que não precisamos mesmo falar mais sobre democracia republicana, representativa? Ou melhor, praticar mais? Quanto ao gesto de frei Luiz, sinto que o senhor não age com justiça, quando não reconhece na ação do frei uma profunda nobreza. Sinto muito que o senhor ainda insista em desqualificá-lo. Por tê-lo conhecido e com ele conversado, participado de sua missa na Capela de São Francisco junto aos pobres, pude testemunhar sua alma amorosa e plena de compaixão humana, pastor de uma Igreja que mobiliza e não anestesia, que ajuda a conscientizar e formar cidadãos. Ele vive há mais de trinta anos entre ribeirinhos, indígenas, trabalhadores rurais, quilombolas e é por eles querido e respeitado. Conhece profundamente as alternativas propostas pelos movimentos sociais, compostos por técnicos e estudiosos que há muitos anos pesquisam o semi-árido. Uma dessas alternativas foi proposta pela Agência Nacional de Águas, com o Atlas do Nordeste, que foi objeto de seu debate com Roberto Malvezzi, da Comissão Pastoral da Terra, cuja honestidade intelectual o senhor publicamente enalteceu em seminário realizado na UFF. Ele mostrou que o projeto da ANA custaria R$ 3,3 bilhões, metade do custo da transposição, beneficiando com água potável 34 milhões de pessoas, abarcando nove estados: então, por que o governo não levou em consideração esta opção mais barata e mais abrangente? Infelizmente, caro deputado, Dom Cappio não exagerou quando decidiu fazer seu jejum e fortalecer suas orações para chamar a atenção de todos à realidade do povo nordestino. O governo do presidente Lula optou por um modelo de desenvolvimento neocolonial que, dando continuidade à tradição de realizar grandes obras para marcar seus mandatos, sacrifica o povo com o custo de seus empreendimentos, enquanto o que esperávamos deste governo era a prática de uma verdadeira democracia.

NOTA OFICIAL DO MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL

Em atenção a sua preocupação com o tema da integração da bacia do rio São Francisco às bacias do Nordeste Setentrional, projeto também conhecido como “transposição do Rio São Francisco”, esclarecemos que várias ações estão em andamento, todas em favor da população e com as cautelas necessárias à preservação do meio ambiente. Primeiramente, cabe salientar que este projeto segue em paralelo com outro igualmente importante que trata da revitalização do rio, da preservação das áreas ribeirinhas e do amparo à população das áreas de abrangência dos projetos. Esses projetos vêm sendo discutidos exaustivamente ao longo dos anos em seminários, congressos e simpósios, tanto em nível federal e estadual, como municipal, e, ainda, nos últimos cinco anos foram intensificadas as discussões referentes à preservação ambiental em toda extensão do curso do rio. Este Ministério, responsável pela obra, teve o cuidado de, antes de colocar em prática qualquer ação, ouvir a população e especialmente as coordenadas do Comitê da Bacia do São Francisco que, após discussões com os interessados e os especialistas da matéria promoveram ajustes no projeto. Assim, toda a revitalização do rio está se desenvolvendo conforme as diretrizes estabelecidas pelo Comitê e é uma obra duradoura e continuada. O assoreamento do rio é fruto, em parte, da ação humana ao longo da história. A recuperação das águas e das margens do rio é um processo de longo prazo, que vai demandar atenção do governo por muitos anos. Antes do início dos trabalhos, foram realizadas consultas a todos os organismos competentes e o resultado foi a licença concedida pelo IBAMA e pela Agência Nacional de Águas – ANA, que, na condição de agência reguladora do uso das águas de domínio da União, concedeu ao empreende-

dor, o Ministério da Integração Nacional, o Certificado de Sustentabilidade Hídrica (Certoh) e a respectiva outorga de direito de uso das águas do Rio São Francisco para o propósito dos projetos que vem desenvolvendo. A ANA assegura, ainda, que a concessão desses dois diplomas legais foi cercado de “extremo zelo técnico, após detalhada análise e depois do cumprimento de exigências feitas ao empreendedor, seguindo processo decisório independente e transparente”. As obras só foram iniciadas após observar todos esses requisitos e ainda, rigorosamente, todas as recomendações e orientações do Tribunal de Contas da União – TCU e compreendem: • recuperação da mata ciliar, inclusive com a instalação de viveiros de plantas específicas para recuperar a vegetação nativa; • reflorestamento de nascentes, margens e áreas degradadas; • monitoramento da qualidade da água, coletando amostras e promovendo análise de sedimentos e, também, recuperação do barco escola; • construção de sistemas simplificados de cisternas, poços artesianos e outras alternativas de engenharia, para atender a população ribeirinha nos quinze quilômetros ao largo, tanto da margem esquerda como direita do rio; • esgotamento sanitário das cidades que se desenvolvem ao longo do rio e seus afluentes, visando controlar essa fonte de poluição. A título de exemplo, podemos citar alguns municípios que já estão sendo beneficiados com esse programa : Santa Maria da Vitória - BA; Santa Maria da Boa Vista - PE; Jaramataia - AL; Piumhi - MG, etc ; Mais informações: OUVIDORIA-GERAL - Ministério da Integração Nacional 0800 61 0021 - e-mail: ouvidoria@integracao. gov.br Nota do Editor: o texto integral da nota foi veiculado no www.portaldomeioambiente.org.br

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Especial

Crianças vivem experiências práticas de educação ambiental no Galo Vermelho Hotel Fazenda Galo Vermelho, em Vassouras (RJ) oferece às escolas programas especiais para que os alunos e professores possam entrar em contato direto com a natureza, num ambiente de conforto e segurança para as crianças. Educação ambiental se faz também na prática. Pensando nisso, o hotel fazenda Galo Vermelho oferece diversas possibilidades das crianças conviverem com a natureza preservada do lugar e também com a natureza transformada culturalmente. Na programação estão incluídas visitas à horta orgânica para que as próprias crianças colham cenouras e verduras que darão em seguida aos coelhos e outros animais domésticos do lugar. O hotel fazenda fica localizado a apenas oito quilômetros a partir do centro de Vassouras, cidade histórica do Vale do Rio Paraíba do Sul, fundada em 1833.Vassouras foi uma das cidades que mais produziu café, e sustentou o Império desde seu nascedouro até a Guerra do Paraguai e a Proclamação da República. A riqueza proporcionada pela economia do café resultou na construção de casarões das fazendas remanescentes desse período, incluída entre as mais belas do país. O nome da cidade é atribuído à existência abundante em seu solo de um arbusto muito utilizado, na época, para confecção de vassouras – tupeiçava.

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O livro "O Tribunal dos Bichos", do escritor Vilmar Berna, é usado no Teatro de Fantoches trazendo às crianças as diversas questões que envolvem nossa relação com os animais e a natureza. Tanto nos dias de sol quanto de chuva, o Hotel Fazenda dispõe de estrutura para abrigar com segurança e conforto as crianças, seus pais e professores, que viverão uma seqüência de experiências, jogos e atividades promovidos pela equipe de competentes recreadores. O hotel dispõe de uma completa estrutura de lazer que inclui bicicletas para uso livre, canoagem, passeio a cavalo ou em charretes, entre outros atrativos, e uma piscina de água natural de minas nascidas na própria propriedade que possui 140 hectares. Baseada na tradicional cozinha regional, com influência da culinária mineira, o Hotel Fazenda Galo Vermelho oferece um cardápio diversificado e com o inconfundível sabor de fazenda. As hortaliças e legumes são produzidas na própria fazenda sem agrotóxicos.

Além de passeio em carro de boi, as crianças também passeiam de charrete e de jardineira.

2º Encontro Sul Fluminense de Imprensa e Meio Ambiente O Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Região Sul Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, em parceria com a REBIA – Rede Brasileira de Infor mação Ambiental e a OSCIP Associação Ecológica Piratingaúna realizarão em 10 de setembro, Dia da Imprensa, o 2º Encontro Sul Fluminense de Imprensa e Meio

Ambiente, aproveitando a ampla estrutura para eventos proporcionada pelo Hotel Fazenda Galo Vermelho. O Hotel Fazenda Galo Ver m e l h o p o s s u i u m a completa estrutura para realização de eventos emp re s a r i a i s , wo r k s h o p e c o nve n ç õ e s c o m mu i t a tranqüilidade e exclusividade para os congressistas.

O Café Imperial é um momento imperdível de reviver a história do café no Brasil, ouvir um pouco da música que tocava na época e ainda degustar as delícias da culinária do Brasil Colônia.

Mais informações e reservas: (024) 2491-9501 / 9502 www.hotelfazenda galovermelho.com.br gv@hotelfazenda galovermelho.com.br JC Moreira As crianças visitam o estábulo e podem tirar leite da vaca. 12 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 014 - MARÇO - 2008

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Gestão Ambiental Por Ricardo Voltolini*

Os dez erros mais comuns da Responsabilidade Socioambiental

os próximos cinco anos, muitas empresas serão forçadas a reconhecer que seus programas de responsabilidade social impactaram menos do que deveriam nos negócios e não construíram o valor que deles se esperava. Esta é a opinião de especialistas da Anders & Winst Company, importante escritório internacional de consultoria em sustentabilidade. Um modo de evitar frustrações futuras –segundo os analistas – pode ser consertar hoje dez equívocos normalmente cometidos na gestão do conceito. Didático, e ao mesmo tempo provocativo, o roteiro “O que Não fazer” sintetiza várias reflexões apresentadas nessa coluna ao longo de 2007.Vamos a ele:

N

1) Falta de visão – Poucas são as companhias que estabelecem uma visão de futuro para a RSE, projetando o que desejam ser num horizonte de 10 anos. A maioria se concentra em respostas para mudanças no presente. Esta visão auto-centrada e de curto prazo, apesar de conveniente, prejudica a construção de um parâmetro mais amplo. Prega a velha sabedoria que quem não sabe aonde chegar acabará mesmo não chegando a lugar nenhum. 2) Resistências às mudanças – As empresas costumam realizar, sem receios, as modificações em práticas e as iniciativas simples demandadas pela RSE de RSE. Fazem bem, portanto, a mudança de pequena escala. O problema está em implantar as de grande escala, que exigem revoluções organizacionais e novas abordagens de gestão. É da essência da RSE buscar novas formas de gerar riqueza. As empresas, no entanto, preferem não deixar a zona de conforto mental, por entenderem que o risco de curto prazo da mudança pode não compensar o ganho negocial de longo prazo gerado por ela.

função de departamentos específicos, sem nenhuma conexão com a estratégia do negócio e a gestão da companhia. Se o conceito não se encontra no cerne do negócio, as tomadas de decisão focadas em sustentabilidade tendem a ser superficiais, frágeis e com pequeno alcance. Minimizam os efeitos mas não dão conta das causas das pressões sociais e ambientais que as empresas enfrentam hoje . 4) Visão pouco sofisticada do conceito – Muitas empresas conhecem o conceito até o capítulo dois. Na falta de uma compreensão mais aprofundada, não conseguem distinguir entre duas funções da responsabilidade social: proteger os ativos mediante a adoção de atitudes socioambientalmente responsáveis e criar valor por meio de inovação em produtos e serviços. Acabam preferindo a primeira, mais simples, menos desafiadora. Esquecem-se de desenvolver capacidade instalada para superar o desafio da segunda. 5) Inabilidade para ouvir stakeholders – Embora o relacionamento com as partes interessadas seja elemento comum nos discursos de RSE nem todas as empresas estão preparadas para fazêlo com a intensidade que a tarefa exige. Faltam, sobretudo, políticas mais claras, canais apropriados e instrumentos capazes de escutar, compreender e incorporar na gestão do negócio o que pensam e querem os stakeholders.

plantação do conceito no negócio exigem novas competências gerenciais, como, por exemplo, estabelecer interação produtiva com as partes interessadas. E elas andam em falta. Não é possível atender ás demandas do futuro usando habilidades, ferramentas e modelos de pensamento do passado. 7) Abordagem globalizada – No caso das empresas globais, a maioria dos programas obedece á agenda da matriz.A uniformização é um equívoco, tanto porque aposta na falsa idéia de que existe uma receita quanto porque atropela um dos conceitos inerentes à RSE: a diversidade. Sem respeito ás diferenças de cada país ou comunidade, os programas tendem a soar descolados da realidade na qual deveriam se inspirar. 8) Abordagem desigual – Em muitas companhias, as práticas de RSE funcionam bem para uma área e não para outras. É o caso, por exemplo, da empresa que faz controle de emissão de carbono mas continua lançando resíduos nos rios de uma comunidade ou fazendo vistas grossas para o trabalho infantil. Essas contradições sustentam uma percepção da sociedade de que as ações sustentáveis ocorrem por conveniência e não por convicção. 9) Orientação top-down – As empresas impõem seus programas

de cima para baixo, sem o envolvimento de funcionários e colaboradores no processo. Um dos efeitos mais ruins da gestão não-participativa é que ela afasta o compromisso, desperdiça a potencial energia de colaboração e desestimula a circulação de idéias necessárias para criar cultura interna de sustentabilidade. 10) Incapacidade de focar a inovação – A falta de visão de futuro, a abordagem sub-estratégica e a persistência de competências gerenciais empoeiradas acabam colocando a RSE muito mais no campo do risco (proteção de ativos) do que no da oportunidade (criação de valor). As empresas falham ao deixar de ver a sustentabilidade como processo contínuo de inovação de modelos de gestão e estratégias de negócio. Este é um equívoco presente que pode custar caro no futuro. * Ricardo Voltolini é publisher da revista Idéia Socioambiental e diretor de Idéia Sustentável. e-mail: ricardo@ideiasocioambiental.com.br Fonte: Envolverde/ #Revista Idéia Socioambiental.

6)Velhas competências gerenciais – Sustentabilidade significa construir o futuro no presente. As mudanças necessárias para a im-

3) Sub-estratégia – Nas corporações e que o conceito não foi adotado como valor pela principal liderança, a RSE acaba sendo 2008 - MARÇO - EDIÇÃO 014 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 13

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Prêmio I Por Renato Buarque, repórter

Sindjornal e Braskem lançam a 5ª Edição do Prêmio Octávio Brandão de Jornalismo Ambiental

conteceu em 11 de março, no hotel Maceió Atlantic, na orla de Jatiúca, em Maceió, Alagoas, o lançamento da 5ª Edição do Prêmio Octávio Brandão de Jornalismo Ambiental. O Prêmio é promovido pela ABES de Alagoas (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental) em parceria com o Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (Sindjornal) e o Núcleo dos Ecojornalistas de Alagoas, com o patrocínio da Braskem. A 5ª Edição do prêmio tem uma novidade; esse ano o veículo que tiver mais trabalhos na área de jornalismo ambiental concorrendo, também receberá uma premiação. Para essa edição poderão concorrer trabalhos jornalísticos que tenham sido veiculados, nas mais variadas vertentes midiáticas alagoanas dentre o período de 1° de Abril de 2007 até 31 de Março desse ano. A partir de agora, quem estiver interessado em concorrer aos prêmios pode se inscrever entrando em contato com o Sindjor nal, até o final desse mês. Além do café da manhã oferecido à imprensa local, a solenidade de lançamento do prêmio ainda contou com um dos “papas” do jornalismo ambiental,Vilmar Berna. Berna é presidente da Organização Não Governamental (ONG) Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia). Nela são discutidas maneiras de

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preservar o meio ambiente, escolhendo um modelo de desenvolvimento sustentável mais adequado à sociedade brasileira. Para Berna, o jornalista tem como principal objetivo, nesse prêmio, fazer com que a sociedade descubra a verdadeira importância em entender o que é o meio ambiente e tudo o que está relacionado a ele. Ainda segundo o presidente da Rebia, é mais importante anda desmistificar na sociedade, a idéia de que o meio-ambiente deve ser destruído em detrimento do

progresso capitalista. ‘Os jornalistas devem mostrar à sociedade que o desenvolvimento e o meio ambiente pode sim caminhar juntos e assim acabar com a idéia de que o progresso tem de superá-lo. Nem sempre a destruição da natureza está intimamente ligada ao avanço do desenvolvimento”, afirmou. O prêmio Octávio Brandão ainda conta com o apoio da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Sessão de Alagoas (Abes), do Sindicato

dos Jornalistas Profissionais do Estado de Alagoas e do Núcleo de Ecojornalistas de Alagoas. A Abes ainda pretende lançar no dia 31 de maio, quando acontece a solenidade do prêmio, um livro contando um pouco do ambientalista Octávio Brandão. A obra está sendo confeccionada pela Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal). Fonte: http://www.fonte noticias.com.br/lernoticia.php? area=10&id=44685

Iº Prêmio Brasileiro de Comunicação Ambiental / REBIA A Rede Brasileira de Infor mação Ambiental está buscando patrocinadores e apoios para lançar em 2009 o Prêmio REBIA de Comunicação Ambiental, inspirado no Prêmio Octávio Brandão de Jor nalismo Ambiental. O Prêmio da REBIA terá por objetivo principal estimular a democratização da informação ambiental em âmbito

nacional e incluirá, além da categoria Jornalismo Ambiental, também as categorias Publicidade Ambiental e Relação Pública Ambiental. Serão premiados, em dinheiro e troféu, os melhores trabalhos individuais e, em troféu e diploma, os veículos, agências e instituições governamentais e a iniciativa privada que apresentarem o maior número de inscr ições.

Também será concedido um Prêmio Especial Individual, a cada ano, na categoria “hors concours”, a uma pessoa especial que não tenha solicitado inscrição, mas cuja trajetória seja considerada pela Comissão Julgadora como excepcional. A Comissão Julgadora será constituída por pessoas de expressão e notoriedade na sociedade brasileira, ligados à causa da democrati-

zação da informação ambiental. Mais infor mações e adesões: Vilmar Berna – vilmar@rebia. org.br Tel.: (21) 2610-2272

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Prêmio II

Barra Mansa é destaque nacional no Meio Ambiente elas muitas ações desenvolvidas em Barra Mansa na área do meio Ambiente, a Prefeitura de Barra Mansa conquistou dois importantes prêmios. O primeiro foi oVI Prêmio Furnas Ouro Azul, pelo projeto de recuperação da mata ciliar do Rio Barra Mansa, e o II Prêmio Brasil de Meio Ambiente pelas várias ações de proteção ambiental. Ao todo Barra Mansa possui 25 programas e projetos ambientais. Entre eles estão o de Recolhimento de Pneus Inservíveis – Ecopneu, que também já foi premiado em anos anteriores, Programa de Dragagem de Corpos Hídricos, Programa de Recomposição de Mata Ciliar na Bacia do Rio Paraíba do Sul, Programa de Monitoramento da Qualidade do Ar, Programa de Limpeza de Córregos e Rios e Programa de Coleta Seletiva. - Barra Mansa constantemente é destaque na área ambiental. Já ganhamos vários prêmios pelo trabalho desenvolvido no município. É muito gratificante saber que nossa preocupação com o meio ambiente está sendo reconhecida nacionalmente – declarou o prefeito Roosevelt Brasil. COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Assessoria de Imprensa (24) 3325-3325 e 3325-3421 jornalismo@barramansa.rj.gov.br http://www.barramansa.rj.gov.br

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Projetos Ambientais de Barra Mansa: • Programa de Monitoramento da Qualidade do Ar • Projeto-Piloto de Controle de Erosão da Bacia do Rio Barra Mansa • Programa de Dragagem de Corpos Hídricos • Monitoramento Ambiental de Indústrias • Programa de Prevenção de Queimadas • Programa de Recomposição de Mata Ciliar na Bacia do Rio Paraíba do Sul • Programa de Arborização de Vias Públicas • Programa de Reflorestamento de Cocurutos de Morros do Entorno do Centro Urbano • Programa de Preservação de Fragmentos de Matas e Florestas • Programa de Criação Unidades de Conservação • Projeto Amigos dos Carnívoros • Projeto de Recuperação Ambiental de Áreas Públicas Urbanas Degradadas • Programa de Recolhimento de Pneus Inservíveis - Ecopneu • Fiscalização Ambiental • Monitoramento de Areais • Programa de Monitoramento de Ruídos • Agenda 21 • Programa de Educação Ambiental nas Escolas e Comunidade • Projeto Piloto de Proteção, Recomposição e Monitoramento por Geo-Referenciamento de Nascentes da Bacia Hidrográfica do Rio Barra Mansa • Horto Municipal de Barra Mansa • Programa de Limpeza de Córregos e Rios • Programa de Preservação e Manutenção do Parque Centenário • Programa de Coleta Seletiva • PAPATRECO

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Informativo Ecolméia Amigos da Ecolméia www.ecolmeia.com

Adote estes simples hábitos e colabore para preservação dos nossos recursos naturais!

De acordo com a Organização das Nações Unidas, cada pessoa necessita de 3,3 m³/mês (cerca de 110 litros de água por dia para atender as necessidades de consumo e higiene). No entanto, no Brasil, o consumo por pessoa pode chegar a mais de 200 litros/ dia.

Gastar mais de 120 litros de água por dia é jogar dinheiro fora e desperdiçar nossos recursos naturais. Veja algumas dicas de como economizar água - e dinheiro - sem prejudicar a saúde e a limpeza da casa e das pessoas. O consumo exagerado deve-se aos constantes desperdícios e descuido na

utilização da água. Devido à pressão da água, o consumo é maior em edifícios e apartamentos. Saiba como utilizá-la de forma inteligente para preservar os recursos hídricos e economizar na conta d’água.

No banheiro Banho de 15 minutos? Olha o Nível! O banho deve ser rápido. Cinco minutos são suficientes para a higienizar o corpo. A economia é ainda maior se ao se ensaboar fecha-se o registro. A água que cai do chuveiro também pode ser reaproveitada para lavar a roupa ou qualquer outra atividade da casa. Para isso, deve-se colocar um balde ou bacia embaixo para armazenar aquela água que não esquenta.

xe por mais 10 minutos, economizando o máximo de água possível. Você sabia que ao se utilizar um copo de água, são necessários pelo menos outros 2 copos de água para lavá-lo. Por isso, combata o desperdício em qualquer circunstância. Não jogue óleo de frituras ou restos de comida em pias ou na privada pois pode causar entupimentos e dificulta o tratamento do esgoto. A Sabesp orienta para colocar o óleo em um recipiente bem fechado para não vazar (garrafa) e depositar no lixo comum (orgânico). Outros especialistas afirmam que o ideal é procurar um posto de coleta próximo.

máximo três vezes por semana. Se na sua casa as roupas são lavadas no tanque, deixe as roupas de molho e use a mesma água para esfregar e ensaboar. Use água nova apenas no enxágüe. E aproveite esta última água para lavar o quintal ou a área de serviço. Ao lavar a roupa, aproveite a água do tanque ou máquina de lavar e lave o quintal ou a calçada, pois a água já tem sabão.

Lavar o rosto Ao lavar o rosto em um minuto, com a torneira meio aberta, uma pessoa gasta 16 litros de água. A dica é não demorar. O mesmo vale para o barbear. Em 5 minutos gastam-se 80 litros de água. Com economia o consumo cai para 2 a 3 litros. Na cozinha Ao lavar a louça, primeiro limpe os restos de comida dos pratos e panelas com esponja e sabão e, só aí, abra a torneira para molhálos. Ensaboe tudo que tem que ser lavado e, então, abra a torneira novamente para novo enxágüe. Só ligue a máquina de lavar louça quando ela estiver cheia. Lavar louça num apartamento, com a torneira meio aberta em 15 minutos, são utilizados 243 litros de água. Com economia o consumo pode chegar a 20 litros. Na higienização de frutas e verduras utilize cloro ou água sanitária de uso geral (uma colher de sopa para um litro de água, por 15 minutos). Depois, coloque duas colheres de sopa de vinagre em um litro de água e dei-

Hora do banho Banho de ducha por 15 minutos, com o registro meio aberto, consome 243 litros de água. Se fechamos o registro, ao se ensaboar, e reduzimos o tempo para 5 minutos, o consumo cai para 81 litros. Ao escovar os dentes Se uma pessoa escova os dentes em cinco minutos com a torneira não muito aberta, gasta 80 litros de água. No entanto, se molhar a escova e fechar a torneira enquanto ensaboa os dentes e, ainda, enxaguar a boca com um copo de água, consegue economizar mais de 79 litros de água. Área de serviço Junte bastante roupa suja antes de ligar a máquina ou usar o tanque. Não lave uma peça por vez. Caso use lavadora de roupa, procure utilizá-la cheia e ligá-la no

Descarga e vaso sanitário Não use a privada como lixeira ou cinzeiro e nunca acione a descarga à toa, pois ela gasta muita água. Uma bacia sanitária com válvula com o tempo de acionamento de 6 segundos gasta de 10 a 14 litros. Bacias sanitárias de 6 litros por acionamento (fabricadas a partir de 2001) necessitam um tempo de acionamento 50% menor para efetuar a limpeza, neste caso pode-se chegar a volumes de 6 litros por descarga. Quando a válvula está defeituosa, pode chegar a gastar até 30 litros. Mantenha a válvula da descarga sempre regulada e conserte os vazamentos assim que eles forem notados. Lugar de lixo é no lixo. Jogando no vaso sanitário você pode entupir o encanamento. E o pior é que o lixo pode voltar pra sua casa. Jardim e quintal Ao lavar o carro use o balde com pano em vez de mangueira. Procure lavar menos o carro, principalmente na época de falta de chuvas. Não regue as plantas em excesso ou com mangueira. Use um balde ou um regador. Não regue nas horas mais quentes do dia

ou quando estiver ventando muito para evitar a perda de água pela rápida evaporação. Molhe a base das plantas e não as folhas. Não use mangueira para limpar a calçada e sim uma vassoura. Quando necessário, use um balde no final da limpeza. Procure aproveitar a água das chuvas. Capte-a na saída das calhas. Use para regar o jardim ou limpar a casa. Em vez de cimentar todo o quintal, deixe um espaço para jardim e ajude a água da chuva a infiltrar-se na terra. Mantenha a caixa d‘água limpa. Ela deve ser lavada pelo menos a cada 6 meses. Verifique os vazamentos Torneira pingando desperdiça muita água. Sempre que necessário troque o “courinho”.Verifique o vaso sanitário jogando cinzas no fundo da privada. Se houver movimentação é porque há vazamento na válvula ou na caixa de descarga. Para detectar vazamentos como canos furados, mantenha os registros abertos e feche todas as torneiras e saídas de água do imóvel, não use o sanitário e observe se o relógio de água (hidrômetro) se altera depois de uma hora sem uso de água. Observe se não há manchas de umidade nas paredes. Conserte os vazamentos de imediato, assim que forem notados. Adote estes simples hábitos e colabore para preservação dos nossos recursos naturais! Amigos da Ecolméia www.ecolmeia.com

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Legislação Ambiental Por Sílvia Franz Marcuzzo

Projeto de Lei ameaça licenciamento ambiental

stá para ser votado no plenário do Congresso Nacional um projeto que representa um grande retrocesso na legislação ambiental. É o Projeto de Lei N° 3057, conhecido como PL do Parcelamento do Solo. A proposta _ já aprovada pela Comissão Especial em dezembro de 2007 _ possibilita a perda da independência dos órgãos ambientais municipais na avaliação e na decisão sobre os processos de parcelamento do solo e regularização fundiária. O alerta foi feito por palestrantes dos painéis: “Regularização Urbana como Ferramenta para o Desenvolvimento das Cidades” e “Zoneamento e Licença Ambiental – Instrumentos Garantidores do Desenvolvimento Sustentável nas Cidades” do Congresso Mundial para Desenvolvimento das Cidades, que encerrou nesse sábado, dia 16 de fevereiro em Porto Alegre. O presidente da Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente (Anamma), Clarismino Luiz Pereira Júnior, acredita que o PL ameaça o licenciamento ambiental no país. “O PL 3507/ 2000 revogará a lei vigente de parcelamento do solo (6766/79) e traz uma exceção de licenciamento ambiental aos loteamentos”. Clarismino, que é presidente da Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia, explica que a proposta diz que o órgão público deverá emitir uma Licença Urbanística e Ambiental Integrada, isto é, um licenciamento único: urbanístico e ambiental.“Isso arranhará todo or-

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denamento jurídico ambiental”, opina. Além disso, o PL não define quem dará a licença, o que indica que o interesse pela execução prepondera sob a proteção ambiental e interesse público. “O licenciamento ambiental já é um rito processual consolidado, que avançou sob duras penas”, avalia. Clarismino lembra que com a aprovação do projeto acabarão também as compensações ambientais. E informou que o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) aprovou uma moção de repúdio ao PL 3507 na reunião de 14 de janeiro desse ano, por proposição da Anamma. O secretário de meio ambiente de Bauru (SP), Rodrigo Agostinho, que é ambientalista, fundador do Instituto Vidágua, também está preocupado com o projeto. Pois o PL prevê a regularização de ocupações em áreas de risco, a redução de Áreas de Preservação Permanente (APPs), como margens de rios, topos de morros, mangues e dunas. Ele diz que muitos condomínios, loteamentos fechados em área de Mata Atlântica seriam beneficiados. A Explicação da Ementa do PL diz que para o registro de loteamento suburbano de pequeno valor, implantado irregularmente até 31 de dezembro de 1999 e regularizado por lei municipal, não há necessidade de aprovação da documentação, por outro órgão. E o pior é que o movimento

ambientalista não está articulado para enfrentar o lobby de diversos segmentos. Ele acha fundamental a sociedade acompanhar o processo. Agostinho sugere que se acompanhe o andamento do projeto (http://www.camara.gov.br/sileg/ Prop_Detalhe.asp?id=19039), que se envie cartas, mensagens eletrônicas etc. para os deputados não aprovarem essa matéria. O ex-secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente e consultor da Anamma e da Associação de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema), Claudio Langone, que participou do painel Zoneamento e Licença Ambiental – Instrumentos garantidores do desenvolvimento sustentável nas cidades, a aprovação

da matéria também seria um retrocesso. Ele lembra que no próprio Congresso Nacional está tramitando outro projeto que contradiz o que pretende o PL de Parcelamento: a regulamentação do Artigo 23 da Constituição Federal - que determinará que a competência para licenciar os empreendimentos de impacto local, como condomínios, prédios e shoppings, é do município. * Silvia Franz Marcuzzo, é jornalista (especial para Ecoagencia Solidária de Notícias Ambientais)

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Evento

2008 - Ano Internacional do Planeta Terra Diversos eventos estão programados no Brasil este ano que foi dedicado ao Planeta Terra pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com apoio de 191 países.

O Estado do Planeta

objetivo é chamar atenção do mundo para a importância da difusão e das práticas das Ciências da Terra, visando à sobrevivência do planeta e das populações que o habitam. Essas ciências envolvem conhecimentos desde o núcleo da Terra até a alta atmosfera”, conforme explica o representante do Brasil para as comemorações, Carlos Oiti, coordenador-geral das unidades de pesquisa do Ministério de Ciências e Tecnologia (MCT). O Ano Internacional do Planeta Terra é um programa científico grandioso e seu lançamento congregou dezenas de organizações científicas importantes em mais de 44 países, com os objetivos de reduzir os riscos ambientais para a Sociedade; melhorar a sanidade do Habitat; determinar o grau de intervenção humana nas mudanças do Clima; compreender as condições da degradação dos Oceanos, extremamente relevantes para a evolução da vida; estimular nas sociedades, em especial nos jovens, o interesse pelas ciências, através da difusão dos conhecimentos atuais e do investimento nas pesquisas aplicadas. No Brasil, este Programa já gerou importantes iniciativas, recebendo as adesões imediatas do Ministério da Ciência e Tecnologia, da Academia Brasileira de Ciências, da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência e da Petrobrás. Na iniciativa privada, por exemplo, o Banco Bradesco, em campanha publicitária recente, lançou o “Banco do Planeta” já dispensando 70 milhões para a criação da Fundação da Amazônia Sustentável, aliada ao Governo de Estado do Amazonas. O Congresso Nacional realizará uma Sessão Solene em abril, para destacar o apoio legislativo nacional ao Programa. Fazem parte dos estudos a Geosfera, que é o solo onde pisamos; a

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Hidrosfera, onde estão as águas territoriais e oceânicas; a Biosfera, que compreende a vida que existe na terra e a Atmosfera, com o ar e a camada de ozônio. As atividades sobre os quatro grandes ambientes do Planeta já começaram em janeiro deste ano e vão continuar até dezembro de 2009, com maior concretação no próximo ano. O evento vai ser lançado oficialmente em fevereiro, em data a ser definida, na sede da Unesco em Paris, com a presença de chefes de Estado de todo o mundo e de outras autoridades. Os países que vão participar realizaram concurso público sobre o assunto escolhendo trabalhos de 350 estudantes entre 18 e 22 anos. São textos, edições de CDs, vídeos, poemas, músicas, pinturas, e desenhos relacionados a dez temas que envolvem as Ciências da Terra. Do Brasil, foram selecionados trabalhos de três estudantes: Igor Kestemberg Marino, estudante de Geofísica da Universidade Federal Fluminense (UFF), apresentou um vídeo sobre oceanos; Francisco Ferreira de Campos, do curso de Ciências da Terra na Unicamp, foi o segundo escolhido, com desenho sobre recursos subterrâneos, principalmente água; e Thamirez Nogueira Magalhães, também da UFF, teve foi vencedor com um desenho sobre mega-cidades. Alguns dos 350 trabalhos escolhidos vão ter apresentação oral que será transmitida para o mundo inteiro durante o lançamento do Ano Internacional do Planeta Terra. Os trabalhos premiados do Brasil foram escolhidos entre cinco, acatados em concurso ocorrido em novembro organizado pelo Comitê Nacional para o AIPT, tendo sido presidido pelo professor Diógenes Campos, da Academia Brasileira de Ciência. (Agência Brasil)

Relatório da ONU sobre mudança climática, elaborado por 2.500 especialistas ao longo de cinco anos indica que a temperatura média da Terra elevou-se em 1 grau nos últimos 120 anos e que a concentração de gás carbônico na atmosfera cresceu 30 % nos últimos 150 anos. Algumas conseqüências do aquecimento global sobre o Planeta: • O Ártico está derretendo – A cobertura de gelo da região no verão diminui ao ritmo constante de 8% ao ano há três décadas. No ano passado, a camada de gelo foi 20% menor em relação à de 1979, uma redução de 1,3 milhão de quilômetros quadrados, o equivalente à soma dos territórios da França, da Alemanha e do Reino Unido.

Brasil foi varrido por um forte ciclone em 2004. De lá para cá, a chegada à costa de outras tempestades similares, ainda que de menor intensidade, mostra que o problema veio para ficar. • O nível do mar subiu – A elevação desde o início do século passado está entre 8 e 20 centímetros. Em certas áreas litorâneas, como algumas ilhas do Pacífico, isso significou um avanço de 100 metros na maré alta. Um estudo da ONU estima que o nível das águas subirá 1 metro até o fim deste século. Cidades à beira-mar, como o Recife, precisarão ser protegidas por diques. • Os desertos avançam – O total de áreas atingidas por secas dobrou em trinta anos. Uma quarto da superfície do planeta é agora de desertos. Só na China, as áreas desérticas avançam 10.000 quilômetros quadrados por ano, o equivalente ao território do Líbano.

• Os furacões estão mais fortes – Devido ao aquecimento das águas, a ocorrência de furacões das categorias 4 e 5 – os mais intensos da escala – dobrou nos últimos 35 anos. O furacão Katrina, que destruiu Nova Orleans, é uma amostra dessa nova realidade.

• Já se contam os mortos – A Organização das Nações Unidas estima que 150.000 pessoas morrem anualmente por causa de secas, inundações e outros fatores relacionados diretamente ao aquecimento global. Em 2030, o número dobrará.

• O Brasil na rota dos ciclones – Até então a salvo desse tipo de tormenta, o litoral sul do

Fonte : Revista veja Edição 1961 . 21 de junho de 2006 e edição 1926, 12 de outubro de 2005

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DOCUMENTÁRIO ESPECIAL Por André Pinto

Na trilha do Paraíba do Sul uso de suas águas, promessa de recursos para redimí-lo, começou há quatro anos, depois de discutida durante 40. O total arrecadado até 2006, acrescido de contrapartidas dos projetos e injeção de recursos federais, alcança aproximadamente R$68 milhões, segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA). Estima-se que seja necessário investir R$3 bilhões para vencer os problemas somados em quatro séculos.

Quem conhece bem o rio sabe que ainda é possível salvá-lo, apesar de todas as agressões que o transformaram em um grande depósito de esgoto e ameaçam a sobrevivência de 15 milhões de pessoas. uem olha de frente a imensa boca de 600 metros que o rio Paraíba do Sul abre ao encontro do mar no delta de São João da Barra, na região Norte Fluminense, não pode imaginar que aquele colosso de águas venha de um fiozinho gelado que brota, com o nome de Paraitinga, num tufo de vegetação da Fazenda da Lagoa, a 1.280 metros de altitude, na Serra da Bocaina, divisa dos municípios de Silveiras e Areias, Estado de São Paulo. Na serra em que nasce, próximo ao Pico da Boa Vista, o rio já enfrenta um cenário devastado. Das grandes florestas da mata atlântica, restam alguns vestígios aqui e ali, entremeados por plantações de eucalipto, proibidas por legislação ambiental, mas que florescem diante de quase absoluta ausência de fiscalização. Até o final de seu curso, 1.150 quilômetros abaixo, também não se fiscalizam as muitas agressões que ameaçam condenar o rio à morte: desmatamento, mineração de areia, pesca predatória, esgotos sem tratamento, lixo, acidentes ambientais. O rio é límpido da nascente até Paraibuna, 200 quilômetros abaixo,

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Esgoto – O grande vilão

onde foi represado na década de 70. A partir daí passa a chamar-se Paraíba do Sul. Ao entrar na zona industrial mais rica do País, logo abaixo da represa da Companhia Energética de São Paulo (CESP) – a primeira de uma série de cinco , o rio muda de cara, de cor, de conteúdo. Depois do chamado cotovelo de Guararema, quando o rio encontra os contrafortes da Serra da Mantiqueira e faz uma curva de 180 graus, tomando a direção do rio de Janeiro, desaparecem os peixes – principalmente a piabanha e o dourado, espécies em extinção – sobrevivem apenas algumas espécies de quase nenhum valor comercial, como o mandi. Sem peixes, estão sumindo também os pescadores. Grandes espécimes, só quando o rio se aproxima da foz, depois de uma seqüência saudável de encachoeiramentos, responsáveis por intensa oxigenação de

Ana Celina Tibúrcio com planta da bacia em alto relevo

suas águas. A degradação consentida está bebendo lentamente as águas do Paraíba, que ainda assim permite a vida de 15 milhões de pessoas em três estados, e abastece o País com energia elétrica extraída de represamentos que roubam sua saúde, criam barreiras intransponíveis para os peixes de piracema, facilitam o acúmulo de sedimentos e a proliferação de algas danosas. Mas o rio tem salvação, concordam ambientalistas, biólogos, engenheiros sanitaristas e pescadores. Desde que haja vontade dos governos de controlar principalmente o esgoto doméstico, responsável por 90% da carga poluente despejada sem tratamento em milhares de pontos ao longo de seu curso. Cerca de um bilhão de litros de esgoto são lançados diariamente na bacia do rio Paraíba do Sul, mas o tratamento é feito em apenas 10 % dos 180 municípios. A cobrança pelo

Pindamonhangaba, na região central do Vale do Paraíba paulista, tem 140 mil habitantes, trata 100% de seu esgoto. Quarenta quilômetros abaixo, Aparecida do Norte (SP), meca de peregrinos, 36 mil habitantes (aos quais se somam 170 mil nos fins de semana), não trata um só litro de esgoto. E o que é pior, o lançamento se faz numa imensa boca fétida 20 metros acima do ponto de captação de água que se bebe na cidade. - Mas a água é boa – garante, reservadamente, um engenheiro do serviço municipal de água e esgoto, que admite custos elevados no tratamento químico para permitir transformar a água cheia de dejetos que sobe para a estação de tratamento. O rio ali está tão assoreado que, por ocasião das festas da cidade, em outubro, os organizadores têm de pedir à Cesp que abra as comportas da represa de Paraibuna para elevar o nível das águas e permitir a passagem da procissão dos pescadores.

Espécime de robalo capturado em rede de “minjuada” em ilha sanjoanense durante o Carnaval 2008

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DOCUMENTÁRIO ESPECIAL Existem projetos para a construção de quatro estações de tratamento de esgoto, a um custo de R$8 milhões. Por enquanto, a agência que administra a Bacia do Paraíba (Agevap) adiantou cerca de R$200 mil. -Dá no máximo para comparar o terreno e fazer o projeto – diz o engenheiro sanitarista Nathan Barile Neves, diretor do Laboratório Ambiental de Resende, que estuda o Paraíba há mais de 30 anos. No Geral – diz ele - as cidades servidas pela Sabesp (a Companhia Estadual Paulista de Saneamento, caso de Pindamonhangaba) chegam a tratar até 80% do esgoto. Mas os serviços municipais, que têm menos recursos, tratam em torno de 5%. Em Campos, surge outro componente ainda mais danoso que esgoto, o vinhoto, subproduto do processamento da cana-de-açúcar. Nos fundos da Usina Santa Cruz, a 15 quilômetros do centro da cidade, duas imensas bocas entornam o caldo pardacento que é veneno mortal para os peixes. É crítico o assoreamento neste trecho. E as águas rasas dificultam a subida dos peixes de mar para desova. Tainhas e robalos têm grande dificuldade de chegar até a Cachoeira do Salto, em São Fidelis, onde se reproduzem. Joaci Gonçalves, pescador há mais de 50 anos, diz que os pescadores de São João da Barra estão cercando a boca do rio e impedindo a subida dos peixes. Os pescadores da foz do rio confirmam: ! Se não tem peixe no rio, temos de pegar no mar”, diz o pescador Francisco Rodrigues Filho, de Atafona. -Não, o Paraíba tem salvação. É só pedir desculpa pelo estrago e mudar de atitude – diz o engenheiro sanitarista Nathan Neves.

-Temos de montar uma comissão multidisciplinar de técnicos para esboçar uma série de ações com prazo determinado – afirma. Há bons exemplos de mudança, como o de Resende, região do Médio Paraíba, que hoje trata apenas 8% de seus esgotos, mas está construindo, com recursos da cobrança de água, uma estação de tratamento que elevará o volume tratado para 58%. Enquanto no Estado de São Paulo a média de esgoto tratado antes do lançamento está em 40%, no Estado do Rio de Janeiro tratamento é igual a zero. O que salva as águas do Paraíba, alerta o ambientalista Guilherme de Souza, da ONG Projeto Piabanha, de Itaocara (Noroeste Fluminense), é a longa seqüência de corredeiras e encachoeiramentos, responsáveis por intensa oxigenação da água, além de baixa densidade populacional, que limita o volume de esgoto. O que não salva o trecho do Paraíba que cruza Cambuci, 20 quilômetros abaixo, onde o esgoto do hospital da cidade é despejado um pouco antes do ponto de captação da água que bebe a população de 15 mil habitantes. -É esgoto que está matando o rio - diz Joaci Ferreira Gonçalves, 50 anos, Presidente da Colônia de Pesca de São Fidelis (Noroeste Fluminense). - O esgoto representa 90% dos problemas de poluição do Paraíba – garante Ana Celina Tibúrcio, monitora de educação ambiental da ONG Vale Verde, de São José dos Campos (SP). O trecho de Itaocara a São Fidelis, de 90 quilômetros , é um paraíso piscoso em relação ao curso inteiro do rio. Situado abaixo do trecho rochoso e encachoeirado que começa em Além Paraíba tem

um conjunto de ilhas com muita vegetação de mata ciliar, responsável por boa parte da alimentação da fauna. Embora tenha recebido em 2003, através do afluente Pomba, grande descarga tóxica de soda cáustica em acidente ambiental ocorrido na Cataguases Celulose, em Minas Gerais, o rio salvou-se pouco tempo depois porque o agente causador não tem características de remanescência diluindose ao encontro do mar. Mas o estrago foi grande. - Eu vi as lagostas e os caximbaus (cascudos) tentando fugir desesperados pela beira do rio – conta o pescador Luiz Carlos Damasceno, de São Fidelis, onde a lagosta local, uma espécie de pitu de grandes dimensões, desapareceu das gaiolas dos pescadores durante dois anos. Quando reapareceu, tinha algumas gramas a menos. Mas a pesca foi proibida em 2004 e a proibição vigora até 2009. Por desinformação ou má-fé, muitos pescadores com suas gaiolas foram vistos ao longo do rio pescando lagostas. Não Há fiscalização. - O Ibama apreendeu 200 gaiolas de lagosta recentemente, mas não é sempre que isso acontece conta Lulu Assunção, guia de turismo que promove passeios de barco entre São Fidelis e São João da Barra. Biólogo: hidrelétricas dividem o rio em compartimentos O biólogo Guilherme de Souza é Presidente da mais importante das ONGs que atuam em defesa do Rio Paraíba do Sul, o Projeto Piabanha. Desde 1991, ele está a frente do maior programa de repeixamento do rio, em parceria

com a Pesagro, a empresa estadual de pesquisas agrícolas. É um dos muitos conhecedores que atribuem às hidrelétricas (cinco em operação, duas em projeto, uma em obra) a responsabilidade pela redução das espécies de peixes. - O represamento está transformando o Paraíba em uma seqüência de grandes tanques, em vários compartimentos que isolam a comunicação da fauna e impedem a troca de material genético- garante Guilherme. Ele diz que a eutrofização, processo de multiplicação de microorganismos nos lagos das barragens, alimentaas algas nocivas, especialmente a capituva, que está tomando o trecho médio super ior do r io. Guilher me teme também o que considera uma ameaça ainda maior, que estaria nos dois projetos de hidrelétr icas logo abaixo de Itaocara, na barra do r io Pomba e em Cambuci, 20 quilômetros abaixo. O primeiro irá inundar o maior conjunto de ilhas da bacia, de exuberante vegetação, o chamado Ninhal das Garças, berçár io de aves e local de grande piscosidade. E nem mesmo a garantia de que serão feitas escadas para os peixes de piracema tranqüiliza o presidente do Projeto Piabanha. - Aqui bem perto mesmo, em além Paraíba, só as espécies exóticas conseguem subir a escada – afirma Guilherme. Fonte: Revista da Alerj – Ano I, n.º 01 – Dezembro de 2007 Colaboração enviada por André Pinto ( http://andreambiental. blogspot.com ) tels: (22) 99346379 cel./ (22) 2741-1893 - res. / (22) 2741-7878 r: 313 Trab.

São João da Barra dá exemplo de repeixamento do Paraíba: A Prefeita Carla Machado, de São João da Barra, juntamente com as Secretarias de Pesca, Meio Ambiente e IBAMA / Campos realizou em 2007 soltura no rio Paraíba de alevinos e espécies adultas de diversos peixes que estavam prestes a morrer em alagadiços formados pelas enchentes de janeiro e fevereiro de 2007 e que foram resgatados em uma mega operação de salvamento.

Funcionários da Sec. Mun. de Meio Ambiente, fazendo a soltura de alevinos no rio Paraíba do Sul, por detrás do CIEP 265.

Prefeita Carla Machado no Píer do Pescador em Atafona realizando a soltura de alevinos em 2007.

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Transgênico I

Brasil aprova plantio de duas variedades de milho transgênico ÃO PAULO (Reuters) - O Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) aprovou em 12/02 o plantio e a comercialização de duas variedades de milho transgênico no Brasil. As variedades aprovadas são da Bayer CropScience e da Monsanto. O milho transgênico é o terceiro produto agrícola alterado geneticamente a receber autorização de plantio no Brasil, depois da soja e do algodão, ambos com patente da Monsanto. “Do ponto de vista da ciência e tecnologia, o que se considera é que as sementes liberadas são seguras para o consumo humano, para o consumo animal e para o meio ambiente”, afirmou o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, a jornalistas. A aprovação se deu em meio a manifestações em frente ao Palácio do Planalto, de acordo com a Agência Brasil. Alguns movimentos, como aVia Campesina, protestaram contra os transgênicos, afirmando que não há estudos completos que garantam que as variedades de milho são seguras à saúde e ao meio ambiente. O conselho, formado por 11 ministros, analisa questões de bi-

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ossegurança sob o ponto de vista sócio-econômico.As duas variedades receberam sete votos favoráveis no órgão. Representantes de quatro ministérios votaram contra. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que se opõe aos transgênicos, está em viagem à Guiana Francesa, acompanhando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda assim, o Ministério do Meio Ambiente esteve representado no conselho, mas o ministro da Ciência e Tecnologia avaliou que a decisão do CNBS não teria sido diferente se Marina estivesse presente no encontro. A CTNBio, o órgão científico do governo para transgênicos, já havia autorizado essas variedades no ano passado e a liberação dependia ainda da decisão do CNBS. O milho da Bayer, denominado Liberty Link, é resistente ao herbicida glufosinato de amônio. Já o da Monsanto, o MON 810, é resistente a insetos. Essa variedade da Monsanto, aprovada nos EUA e na União Européia, é alvo de críticas da França, que quer proibi-la no país. Segundo fontes do setor produtivo que defendem o uso de grãos geneticamente modificados, os transgênicos poderiam elevar a produtividade ao mesmo tempo em que reduziriam custos de produção. O milho MON 810, segundo comunicado da Monsanto, proporciona uma redução do uso de inseticidas e consequente diminuição da contaminação do solo e de len-

çóis freáticos por resíduos químicos. Outra vantagem, afirmou a empresa, tem relação com o controle seletivo a insetos, pois a “tecnologia só é eficaz a pragas que atacam a lavoura, sem que as demais comunidades do bioma sejam afetadas, como pássaros, joaninhas ou outros insetos não-alvo”. Com a aprovação do CNBS, caberá agora ao Ministério da Agricultura registrar essas variedades transgênicas, um procedimento burocrático que não deve se prolongar por muito tempo, até porque o ministro Reinhold Stephanes, o relator do processo no CNBS, foi favorável à aprovação do milho geneticamente modificado. Se nenhuma decisão judicial barrar o processo, o que já aconteceu durante o trâmite para a aprovação do milho transgênico, haveria sementes disponíveis para plantar o cereal geneticamente modificado na segunda safra do ano que vem (2008/09), segundo uma fonte do governo. Com a autorização, as empresas detentoras das patentes dos produtos fariam a multiplicação das sementes na safra de verão 08/09 e depois poderiam oferecê-las em um volume maior para a safrinha. Ficou para uma próxima reunião a aprovação de uma variedade de milho da Syngenta, que já foi aprovada pela CTNBio.

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Transgênico II

Liberação do milho transgênico deixa clara irresponsabilidade do Governo Mesmo com oposição da ANVISA e IBAMA Conselho de Ministros aprova liberação de milho transgênico oje, 12/02, o Conselho Nacional de Biossegurança votou pela primeira vez recursos apresentados pela ANVISA e IBAMA questionando liberações comerciais aprovadas pela CTNBio. A reunião decidiu, por 7 votos a 4, pela liberação do milho Liberty Link e MON 810, cujas liberações foram solicitadas por Bayer e Monsanto, respectivamente. As duas variedades foram recentemente proibidas em países da Europa, como França (2008), Austria (2007) e Hungria (2006). A ANVISA e o IBAMA basearam seus recursos em questões fundamentais da análise de risco de organismos transgênicos: os estudos apresentados pelas empresas quanto à toxicidade e alergenicidade foram completamente inadequados e insuficientes para garantir a segurança destes produtos para a saúde humana; não estão garantidas as condições para impedir a contaminação das variedades tradicionais ou crioulas de milho, não foram realizados estudos de impacto ambiental no Brasil. A posição destes dois órgãos governamentais demonstra o cumprimento de dever legal de cada um. No entanto, lamentavelmente, a decisão política do governo Lula, de colocar o agronegócio

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acima da saúde da população, do meio ambiente e da agrobiodiversidade, é uma grande irresponsabilidade que marcará seu mandato. A sociedade civil seguirá mobilizada contra os transgênicos e as irresponsabilidades do governo. Ainda pende de julgamento a liberação dos referidos milhos no Poder Judiciário e certamente prevalecerá o respeito à Lei. “A decisão do Conselho é aburda. As duas autoridades competentes para avaliar os impactos à saúde humana e ao meio ambiente se posicionaram contra as liberações comerciais. É muito contraditório que os outros ministros, que não têm competência sobre a saúde e o meio ambiente tenham passado por cima desta decisão. Essa decisão atenta contra o direito dos agricultores que perderão suas variedades tradicionais e crioulas e dos consumidores que não terão opção de uma alimentação saudável e não transgênica já que não haverá controle da contaminação”, declara Isidoro Revers, da Via Campesina e membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Rosângela Cordeiro, também da Via Campesina e membro do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), acrescenta:“A liberação comercial do milho transgênico coloca em risco as variedades crioulas de milho, que são patrimônio dos agricultores brasileiros. O Governo não tem o direito de colocar em risco nossa agrobiodiversidade.Vamos continuar lutando contra em campo contra as

liberações de milho”, afirma. Sobre os riscos ao consumidor, Andrea Salazar, coordenadora do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) considerou um “absurdo que as empresas de biotecnologia continuem negando-se a realizar os estudos exigidos pelas autoridades da área de saúde”. “Vamos continuar alertando os consumidores brasileiros sobre os riscos do milho transgênico. A ANVISA deixou bem claro que estas variedades não são seguras à saúde humana”, disse. Histórico No último dia 29 de janeiro, a Comissão Nacional de Biossegurança adiou a decisão sobre a liberação das variedades da Monsanto e da Bayer para hoje, dia 12/02. No mesmo dia, o bispo emérito de Goías e membro da CPT, Dom Tomás Balduíno entregou uma cesta de alimentos agroecológicos aos ministros em protesto contra a liberação do milho trasngênico mesmo sob as ressalvas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama). “A ANVISA apresentou questões muito sérias que comprovam que o milho transgênico pode causar danos à saúde e que não foram consideradas pela CTNBio”, diz Isidoro Revers, membro da CPT. No caso do milho MON 810, da Monsanto, a Anvisa pediu ao CNBS a suspensão imediata da liberação por avaliar que os dados apresentados pela empresa “não

permitem concluir sobre a segurança de uso para consumo humano do milho MON 810”. Para o Ibama, a liberação do milho Liberty Link da empresa Bayer deve ser anulada “em razão dos inúmeros vícios de que padece o processo”, entre eles, “a inexistência de estudos ambientais”. Assim como a soja transgênica Roundup Ready, este milho também é resistente a um herbicida e da mesma forma criam problemas ambientais e agronômicos. Prova disso, diz o Ibama, que seus dados “indicam que para cada quilo de princípio ativo [de herbicida] reduzido no RS, houve um aumento de 7,5 kg de glifosato no período de 2000 a 2004, época de expansão da área da soja RR” resistente ao glifosato. O Ibama também aponta que, caso a liberação comercial do milho transgênico ocorra, a contaminação das variedades crioulas, orgânicas e ecológicas ocorrerá inevitavelmente. Mais informações: Mayra Silva (ASSESSORIA DE IMPRENSA) - 61 9966 4842 Maria Rita Reis (Terra de Direitos) - 41 9916 4189 Rosângela Cordeiro (Via Campesina) - 61 9105 3980 Maria José (Via Campesina) 61 8153 5794 Andrea Salazar (IDEC) - 11 8298 3322 Gabriel Fernandes (AS-PTA) 21 8124 0095

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COMUNICAÇÃO AMBIENTAL Por Rodrigo de Loyola Dias

TV GLOBO: Como alienar o povo sobre ecologia e economia

omo o Paulo Henrique Amorim gosta de enfatizar em seu blog Conversa Afiada: “Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil”. A Rede Globo mantém o trono não só pela qualidade técnica de sua produções de entretenimento, como pela ligação que mantém com os donos do poder ao não informar o povo das discussões e polêmicas por trás das notícias, ou ao informar, fazendo-o quase sempre de maneira superficial e tendenciosa. A TV Cultura, por exemplo, apresenta o programa Roda Viva, que abriga discussões entre intelectuais e jornalistas a respeito de questões que faríamos bem em debater ao menos de vez em quando, se não fôssemos uma sociedade de analfabetos funcionais que não lêem livros por falta de tempo, já que não dá para perder o capítulo de hoje da novela. Infelizmente, o alcance da Cultura não chega perto da vasta maioria do eleitorado alcançado pela Globo e filiais. Ao contrário, a líder incontestável de audiência mantém no ar, durante o chamado horário nobre, um telejornal que divulga as notícias com o mesmo descompromisso com que um funcionário do rei afixaria uma notícia de aumento de impostos do lado de fora do castelo e voltaria andando para o interior dos altos muros, rodeados de guardas, impune e em silêncio. Ou, quem sabe, talvez até assobiasse, indiferente aos gritos de indignação.

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“Crescimento robusto e sustentável” A edição de 12 de dezembro do Jornal Nacional trouxe ao ar, logo no primeiro bloco, uma seguida da outra, duas notícias típicas da falta de reflexão daquilo a que a Globo se habituou chamar de informação – uma notícia supostamente positiva, sobre o alto crescimento da economia, e outra claramente negativa, sobre a previsão do derretimento da calota polar para logo agora, em 2012.

Na primeira notícia, o crescimento da economia é, como sempre, recebido com otimismo, ao menos até certo ponto. As pessoas estão consumindo mais, as indústrias estão se expandindo, produzindo e vendendo mais. Na lógica global do capitalismo, poucas notícias poderiam ser melhores. Mas ao mesmo tempo, para que se mantenha um crescimento sustentado (ou seria sustentável? A reportagem não deixa claro), o país precisa se equipar com infra-estrutura (leiase Angra 3 e novas hidrelétricas) para evitar um apagão como o de 2001. Talvez o mais interessante na reportagem nem seja a forma como a Globo é incapaz de estimular uma discussão sobre os limites que deveríamos nos impor quando falamos sobre crescimento. Que as taxas atuais de crescimento são insustentáveis a longo e médio prazo (e até a curto prazo, como mostra a segunda reportagem), disso já estamos conscientes. .. não estamos? Mas a fala da repórter, explicando como um maior crescimento da economia permitiria um crescimento sem inflação para o país, “sem sobressaltos, de maneira sustentada, como dizem os economistas” , apenas nos confunde sobre o que a economista Zeina Latif tem a dizer logo a seguir: “Para que a gente não tenha surpresas lá adiante, de ter problemas do tipo de 2001, que foi um apagão de energia, é muito importante a agenda do governo estar focada para evitar esses gargalos de infra-estrutura, que é para que a gente realmente tenha um crescimento robusto e sustentável.” “Amazônia será destruída” Das duas, uma: ou a economista em questão, como aliás a própria Globo, não entendeu ainda o conceito de sustentabilidade (que, a propósito, significa vivermos de maneira tal que os recursos renováveis do planeta, como a água, os solos e as florestas, não se esgotem), ou estão fazendo de propósito para confundir o telespectador a respeito de um termo que já devia estar claro há muito tempo. Na segunda notícia, cientistas da Nasa afirmam que as previsões de

derretimento da calota polar, no Pólo Norte, estavam equivocadas. A previsão anterior colocava o degelo total entre os anos 2040 e 2100, longe demais dos olhos e corações dos capitalistas de hoje. Agora, os cientistas chegaram à conclusão de que a calota inteira deverá desaparecer ainda no verão de 2012, ou seja, em meros quatro anos e meio. Contudo, talvez não haja razão para pânico, já que o Brasil reduziu em 60% o desmatamento nos últimos três anos, o que equivale a meio bilhão de toneladas de CO2, ou 14% de tudo que teria que ser reduzido pelos países “desenvolvidos” até 2012. (Alguma vez a mídia brasileira questionou o conceito de desenvolvimento? Ou citou o Nobel da Paz Amartya Sen, para quem o desenvolvimento deve ser a ampliação das liberdades, e não das indústrias?) A boa notícia parece dar esperanças aos telespectadores, mas a emoção dura pouco. Em seguida a repórter esclarece que o Brasil ainda derruba o equivalente ao estado de Sergipe a cada dois anos, e que salvar a floresta e o planeta depende não só do Brasil, mas também dos países ricos. Não é mentira, mas também é verdade que a nossa imprensa majoritária adora depreciar o mérito de países que tentam uma realidade mais independente daquela ditada pela elite financeira mundial. E se ficarmos esperando que eles dêem o exemplo, talvez seja melhor mesmo abrir mão de qualquer tentativa. No final da reportagem, um entrevistado, gaguejando, afirma que não adianta salvarmos a floresta se países como Estados Unidos, Japão e Arábia Saudita não aderirem ao protocolo de Kyoto. Segundo ele,“se o aquecimento global continuar, a Amazônia será destruída”. Afirmação temerária O crescimento da nossa economia deve, pelos parâmetros globais, ser recebido com festas, mas com um alerta: para continuar, precisamos não economizar nossos recursos (a WWF previu que poderíamos economizar até 40% de energia, caso a utilizássemos racionalmente) , mas melhorar nossa

infra-estrutura, construir mais hidrelétricas, consumir mais, de preferência jogando fora e trocando toda a mobília e utensílios domésticos o mais rápido que pudermos, já que é assim que os norte-americanos fazem. Pensando bem, é isso mesmo que nossas indústrias também fazem, ao produzir produtos cada vez mais descartáveis. E, de fato, o desperdício aquece mesmo a economia, e não apenas as calotas polares. O Pólo Norte está derretendo, os países ricos não dão a mínima, de forma que o aquecimento global sozinho destruirá o que tiver sobrado da floresta Amazônica. Como ouvi o jornal pelo rádio (tenho a felicidade de não possuir um aparelho de TV), não pude saber quem foi o “especialista” que chegou a tão fantástica conclusão e, ainda que ela não possa ser descartada de antemão, não creio que saibamos o bastante para mantermos uma afirmação tão temerária. A verdade está lá fora e é dolorosa, seja pelo bem ou pelo mal. Ou continuaremos a trilhar o caminho do capitalismo consumista e irresponsável, de recordes sucessivos na economia e da conversão das riquezas naturais em números imediatos para apresentar nas boas notícias dos telejornais, ou reduziremos imediatamente nossa necessidade desse tipo de notícia. Em outras palavras, ou paramos de crescer além do estritamente necessário, dado o aumento populacional (e começamos logo a desestimular até este), ou pagaremos pelas conseqüências cedo ou tarde. Segundo os cientistas da Nasa, cedo. Passou da hora de economistas e ecologistas começarem a se entender. E que a mídia, políticos e profissionais façam seus mais persistentes esforços nesse sentido. Será tão difícil assim? Fonte: http://observatorio . u l t i m o s e g u n d o. i g . c o m . b r / artigos.asp?cod=466FDS004 Nota do Editor: o texto integral foi veiculado no www.portal domeioambiente.org.br

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Energia Da Redação

Energia do Pau ou da Pedra?

e forma inovadora, a ABIDES, com apoio da Eletronuclear S.A., Instituto Marcionila Crisóstomo e do Antigo Museu do Índio, realizou o evento “Impactos Energéticos Sobre o Aquecimento Global no Brasil”, versando sobre os aspectos ambientais das diversas formas de geração de energia. A inovação teve seu ponto alto na escolha do cenário, no salão principal do antigo Museu do Índio onde a decoração principal foi uma Oca Indígena, simbolizando a presença de diversas lideranças das populações tradicionais de origem indígena, afro-brasileiras (Quilombolas) e comunitárias, além de técnicos e empresários. De acordo com o Engenheiro Everton Carvalho, Presidente da ABIDES, o Brasil carece do aprofundamento do debate sobre as nossas condições energéticas de modo que possamos ter nossa própria referência das melhores opções face ao grave problema do aquecimento global. O Presidente da ABIDES afirmou que a iniciativa visa envolver a base da sociedade nesta discussão de modo que as decisões tomadas no setor energético possam estar sintonizadas com as aspirações das comunidades afetadas pelos empreendimentos, de forma a minimizar os impactos negativos e potencializar os aspectos positivos das diversas opções energéticas. Falando para um público atento, Everton comparou simbolicamente as gerações de energia “do Pau ou da Pedra”, na qual, num extremo estão as energias geradas a partir dos recursos naturais não renováveis e no outro a extração de energia do urânio, a geração nucleoelétrica. Nesta comparação ficou claro para a platéia que, embora mal compreendida, a nucleoeletricidade apresenta vantagens significativas em relação a outras formas de geração quanto à emissão de gases causadores do aquecimento global, fenômeno que tanto vem preocupando a comunidade internacional. O Dr. Eduardo Schwartz da Eletronuclear, respondendo a questionamentos de lideranças indíge-

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nas, apontou que a questão do rejeito radioativo é um ponto central desta discussão e destacou que este tipo de rejeito (comumente chamado de Lixo Atômico) vem sendo tratado de forma satisfatória e que mesmo passado mais de 500 anos, a indústria nuclear veio para ficar, o que garante que os padrões de identificação controle e deposição adequada dos rejeitos estão garantidos. Eduardo apontou que, por ser uma forma de energia que dispõe de abundantes reservas minerais como fonte de combustível, a energia nuclear, diferente dos combustíveis fósseis, não irá subsistir por apenas mais 30 ou 40 anos, mas sim por mais de 500 anos, sem agravar o problema do aquecimento global. Ele apontou que o planeta precisa resolver hoje o grave problema representado pelas emissões dos gases causadores deste fenômeno, pois este pode levar a graves problemas ambientais e a verdadeiras catástrofes, conforme o IPCC. O evento contou também com a participação de debatedores que abordaram outras formas de geração de energia, como a biomassa, eólica, solar, pequenas centrais hidrelétricas e resíduos sólidos urbanos. O Dr. Felipe Gori da BBT energia anunciou uma revolução

na geração hidrelétrica, apresentando as pequenas turbinas produzidas pela empresa de baixíssimo impacto ambiental, pois necessitam de baixas quedas e não causam o alagamento de grandes áreas, pois utiliza a energia das correntes, a hidrocinética, evitando com isto as grandes barragens. Felipe apontou que a China já gera 55.000 MW por pequenas centrais hidrelétricas, ou seja, metade de tudo que se gera de energia elétrica no Brasil por todas das fontes. Para ele o Brasil tem o potencial de geral mais 25.000 MW em PCHs, o que equivale a duas Itaipu’s. Roberto Carvalho, da Mundo Limpo S.A. apresentou tecnologia genuinamente nacional capaz de eliminar os chamados “lixões”, processo inteligente e socialmente amigável de tratamento do “lixo urbano”, no qual se reduz 80% do volume do lixo, sem emitir gases para a atmosfera, gerando emprego e renda e biomassa com múltiplas aplicações. Na avaliação das lideranças comunitárias presentes, a harmonia entre as diversas formas de geração é a principal meta energética a ser buscada pelo Brasil, revelando extrema sensibilidade quanto ao problema dos impactos ambientais. Os saberes tradicionais que estas comunidades aplicam no seu co-

tidiano também podem contribuir de forma construtiva com a preservação da natureza, principalmente com a revitalização e preservação dos recursos hídricos, essenciais para todas as formas de geração de energia. O evento contou com a participação do Prêmio Global da ONU para o Meio Ambiente, Jornalista Vilmar Berna que abordou os aspectos éticos da geração de energia, destacando as desigualdades sóciais existentes, denunciando os extremos do consumismo em alguns países que alimentam a cadeia da degradação ambiental. Para Vilmar, a natureza irá sempre sobreviver, pois ela própria encontrará as soluções para os impactos que a humanidade vêm promovendo, e o que está de fato sob risco é a sobrevivência desta própria humanidade. Com este evento, a ABIDES dá continuidade a sua missão de integrar a sociedade brasileira na busca do verdadeiro desenvolvimento sustentável. Linha direta: Engº. Everton Carvalho - Presidente da ABIDES e diretor de Tecnologias Ambientais da ASA ( www.abides.org.br / www.asaambiental.org.br ) 021 94931005

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Projeto Agenda 21

Niterói sedia encontro internacional e cria a ACTA 21, uma agência de cooperação intermunicipal que estabelecerá uma rede permanente de intercâmbio de serviços e comércio ambientalmente sustentável o dia Mundial do Voluntariado, em 5 de dezembro, em Niterói, no Museu de Arte Contemporânea (MAC), teve início o processo de formalização da ACTA 21-Agência de Cooperação Territórios e Agenda 21. A agência está aberta à participação de cidadãos e organizações interessados em se unirem a este processo para a integração de fato dos povos da América Latina. O evento foi uma iniciativa do SIMAAS (Sistema de Integração Municipal América Área Sul) em parceria com diversas organizações e reuniu prefeitos e parlamentares de diversas cidades latino-americanas, além de representantes de universidades, empresas, organizações governamentais e não-governamentais. O dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho de 2008, foi escolhido como a data para a instalação oficial da sede da nova agência na Universidade Federal Fluminense - UFF. A criação da ACTA 21 é uma idéia amadurecida há quase 20 anos pelo SIMAAS (Sistema de Integração Municipal América Área Sul) para que as cidades passem a participar com mais intensidade e possam aproveitar melhor os benefícios dos diversos indutores de desenvolvimento que ocorrem junto ou próximo de seus territórios, buscando e promovendo o entrosamento entre as cidades e as diferentes realidades. O instrumento proposto, moderno e eficiente, porém pouco utilizado, é a Agenda 21. Entre as metas prioritár ias estará a implantação de uma Agenda 21 Local específica para cada região, com base nos preceitos da Carta da Terra e dos Objetivos do Milênio (ONU) para que se assegure o caráter de sustentabilidade do processo. A proximidade do bicentenário da emancipação americana propõe um marco excepcional de “encontro” entre nossos Povos Irmãos e a oportunidade para se recuperar o verdadeiro espírito daqueles acontecimentos históricos que comoveram o mundo ocidental há duzentos anos. Esta perspectiva nos permite repensar nosso Continente desde suas entranhas e orientar

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a construção de um verdadeiro paradigma civilizatório, da mesma forma como o fizeram, desde estas mesmas latitudes, os pais da nossa história contemporânea.

Ricardo Harduim - Coordenador Geral da Unidade de Gestão Contínua - UGC SIMAAS e Prudenciana Rangel - Representante do Prof. Cídio Werdes Pró-Reitor de Extensão da Universidade Federal Fluminense – UFF assinam a ata de fundação da ACTA 21.

Paralelo 20 – Trópico de Capricórnio As cidades que irão compor a ACTA 21 localizam-se ao longo do trópico de Capricórnio, o que propõe uma metáfora do Século XXI para nossa região. A linha do paralelo 20 faz um corte histórico-geográfico no Brasil, Chile e Bolívia, passando por uma pontinha do Paraguai. Partindo-se do Chile, já na Bolívia, está Potosi, de onde foi retirada a prata para financiar a revolução industrial na Europa. Pelo lado brasileiro, em distância equivalente, está Ouro Preto, de onde saiu muito ouro para o mesmo propósito. Santa Cruz de la Sierra, Cochabamba e Oruro, na Bolívia, são outras grandes cidades do corredor.As cidades de Iquique e Arica ficam ali pelo paralelo 20, onde também, no Brasil, está Vitória pouco mais abaixo, Rio de Janeiro e Santos - fortes áreas portuárias, portais para o Atlântico, leia-se África e Europa. O Trópico atravessa literalmente o coração do nosso Continente e indica as maiores reservas subterrâneas de água doce do Mundo, a oriente o Aquífero Guarani e a oeste os lagos que se escondem sob o Deserto de

Entre os participantes, destacaram-se, a partir da esquerda, o gaúcho Júlio Braga - Presidente de Honra da OSCIP PRIMA; Eduardo Vischi Prefeito de Paso de Los Libres, Argentina; Alejandro Ratti - Diretor da Unidade de Gestão Contínua - UGC SIMAAS; Luis Levin - Diretor Executivo da Rede Argentina de Cooperação para a Educação Tecnológica e Formação Profissional; Adriana Mofacto, membro do PRIMA; Silvina Campisi - Assessora do Instituto de Tecnologia Industrial da Argentina; Geraldo Majela - Presidente da ONG GBV Grupo Brasil Verde, Minas Gerais; Fernando Guida - Secretário de Relações Institucionais da Prefeitura de Niterói; Ricardo Harduim – Diretor da FESP – Fundação Escola de Serviço Público, ladeado por dois biólogos da ONG GBV, Anderson Rezende Pedrosa, diretor financeiro e Wanderlei Jorge Silveira Junior, secretário executivo.

Atacama. Já sobre a terra, divide as regiões hidrográficas mais importantes do hemisfério e assinala as jazidas de gás e petróleo do Alto Bermejo e de lítio do Salar de Uyuni. No Brasil, a rota direta passa por Belo Horizonte e Campo Grande, cidades de importância política e econômica relativamente equivalentes às bolivianas citadas. Interesses em comum entre elas e muitas outras poderão ser complementados com operações intermunicipais, internacionais ou não, de todos os tipos. Trata-se de um complexo rodo-ferroviário-fluvial que inclui os diversos corredores transversais que se complementam e não de uma estrada em linha reta. O Trópico de Capricórnio enriquece este imaginário de integração física ao identificar em seus extremos os portos mais emblemáticos de cada costa. No Atlântico, Sepetiba se situa no sudeste do Estado do Rio de Janeiro, por onde circulam mais de 70% do PIB do Brasil. Pelo poente, o futuro mega-porto chileno de Mejillones promete ser um centro vital de exportações regionais até importantes países banhados pelo Pacífico. Entre ambos se instala

um grande desafio que vai muito além de se construir um eixo articulador dos dois grandes blocos econômicos regionais: integrar um sistema de cooperação entre as economias regionais do Mercosul, criando uma imensa cadeia de serviços e comércio intermunicipal. As cidades-porto do litoral chileno e peruano são as portas naturais que se abrem no Oceano Pacífico - o caminho mais curto até a Austrália, China e Índia, para citar apenas três gigantes - para a Bolívia e o Brasil, mas também para o Paraguai e a Argentina, pela posição física no mapa, e deverão associar-se em um “complexo portuário” que facilite uma estratégia exportadora adequada. Linha direta e mais informações: territorios.sin.fronteras@gmail.com * Fernando Guida - Presidente da Assembléia Constituinte da ACTA21 * Alejandro Ratti - Diretor da Unidade de Gestão ContínuaUGC, do SIMAAS * Jonas Rabinovitch - ONUConselheiro de Governança Econômico-Social

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Áreas Úmidas I

Dia Mundial ressalta importância das Áreas Úmidas Dia Mundial das Áreas Úmidas 2008 (DMAU) comemorado no dia 2 de fevereiro tem importância fundamental já que as necessidades em matéria de saúde se multiplicam enquanto permanecem existindo altos níveis de pobreza nos países em desenvolvimento, os mais afetados pelos impactos das mudanças climáticas globais. E são precisamente as áreas úmidas que cumprem funções insubstituíveis tanto para enfrentar doenças como para encontrar soluções sanitárias que assegurem bens essenciais como água doce, pescado ou plantas medicinais”, disse Julieta Peteán, da Fundação Proteger, com sede na Argentina, em comunicado da instituição alusivo ao DMAU. Para assinalar a data a Convenção Ramsar (acordo mundial para conservação e preservação desses ecosssistemas) vem destacando, através de casos concretos, os benefícios diretos e positivos para a saúde humana de manter áreas úmidas preservadas - como provisão de alimentos, água limpa, produtos farmacêuticos, etc., e os efeitos negativos diretos de um mau manejo destas áreas, o que se traduz na deterioração da saúde e inclusive em perda de vidas, devido a enfermidades relacionadas com a água, incêndios, inundações ou contaminação da água.

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Um dos objetivos do DIA MUNDIAL DAS ÁREAS ÚMIDAS 2008 é ressaltar a forte relação que existe entre estes ecossistemas quando funcionam de forma adequada e a saúde humana, assim como alertar para a importância de contar com estratégias de manejo que apóiem tanto a saúde dos ecossistemas como a saúde das pessoas. As estimativas indicam que a cada ano mais de 3 milhões de pessoas morrem devido a problemas de má conservação ou perda de áreas úmidas em todo o mundo.Por isto o lema deste ano é Áreas Úmidas Preservadas (sãs) Pessoas Sadias. A questão dos Alimentos Um requisito essencial para que as pessoas tenham boa saúde é contar com alimentos adequados e de qualidade, e nesse sentido a contribuição das áreas úmidas é fundamental, pois proporcionam pescado (incluindo mariscos), frutas e plantas comestíveis. Um bilhão de pessoas dependem da pesca como sua principal ou única fonte de proteínas. Em termos de plantas cultiváveis das áreas úmidas, o arroz é a mais importante globalmente, proporcionando 20% do suprimento mundial de alimentos energéticos. O cultivo de vegetais nas áreas úmidas é uma importante fonte de alimentos para uso local e para os mercados internacionais. De forma indireta, as plantas das áreas úmidas desempenham um papel essencial como alimento para o gado do qual depende a saúde de outras bilhões de pessoas.

Uma boa gestão destes ecossistemas garante alimentos que ajudam a manter a saúde. Mas há muitas atividades humanas que afetam negativamente a capacidade das áreas úmidas para seguir proporcionando bem-estar. A contaminação, a extração excessiva de água, o saneamento deficiente, a super-exploração de seus recursos e a destruição de áreas úmidas são fatores que reduzem ou destróem a capacidade delas de oferecer alimentos para o consumo humano. Água limpa As áreas úmidas continentais (rios, arroios, lagos, mangues, banhados, pântanos, etc) cumprem uma função vital ao filtrar e purificar a água doce, devolvendo-a em boas condições para ser potabilizada para o consumo humano. Este serviço jamais havia sido tão valioso para as populações humanas como hoje, quando mais de 1 bilhão de pessoas carecem de acesso à água segura. Mas quando elas são deterioradas ou aterradas perde-se essa fonte de água limpa e segura bem como todos os demais serviços dos ecossistemas que elas oferecem. Contaminação da água Mesmo que as áreas úmidas de água doce tenham capacidade para purificar a água, esta é limitada. Só podem tratar uma certa quantidade de resíduos agrícolas e despejos domésticos e industriais. E a espécie humana é capaz de acrescentar muito mais: produtos químicos tóxicos (como bifenilos policlorados como PCB, DDT ou dioxinas), re-

síduos de antibióticos procedentes do gado, águas residuais humanas não tratadas e praguicidas que atuam como disruptores endócrinos. Em todo o mundo essa capacidade de purificação das áreas úmidas tem sido ultrapassada de forma que essas fontes de água doce e os alimentos que proporcionam se tornam inapropriados para o consumo e se convertem em um perigo para a saúde humana. Particularmente preocupante é o fato de que ainda existam 2,6 bilhões de pessoas que carecem de acesso a um saneamento adequado; e quando ele é deficiente se acrescenta a contaminação microbiana da água proporcionada pelas áreas úmidas, resultando em doenças e às vezes, perdas de vidas. O poder medicinal das áreas úmidas Muitas plantas de áreas úmidas e espécies de animais vêm sendo utilizadas há milhares de anos como remédios tradicionais.Também fornecem princípios ativos largamente utilizados na farmacologia moderna. A superexploração, as técnicas de coleta destrutivas e a perda e alteração de habitats ameaçam a capacidade das espécies de áreas úmidas de continuar cumprindo essas funções. Mais infor mações: www. ramsar.org.

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Áreas Úmidas II

Desaparecimento de manguezais atinge nível alarmante Os danos econômicos e ambientais causados pela alarmante perda de manguezais em muitos países são questões que devem ser abordadas com urgência, advirtiu hoje a FAO em um chamado em prol de uma melhor proteção e programas de gestão para os manguezais. O planeta já perdeu cerca de 3,6 milhões de hectares de mangues desde 1980, o que equivale a uma perda alarmante de 20 por cento de sua área total pré-existente, segundo um recente estudo de avaliação de manguezais da FAO titulado como “Los manglares del mundo 1980-2005”. Segundo o informe, a área total de manguezais diminuiu de 18,8 milhões de hectares em 1980 para 15,2 milhões de hectares em 2005. Entretanto, ocorreu uma diminuição no ritmo de perda de mangues: de uns 187.000 hectares destruídos anualmente nos anos 80 à 102.000 hectares anuais entre 2000 e 2005, reflexo de uma maior concientização do valor destes ecossistemas. “Os manguezais são importantes zonas de bosques húmidos e a maioría dos países proibiram seu uso para aquacultura e avaliam o impacto ambiental antes de utilizar estas áreas para outros fins”, afirmou Wulf Killmann, Diretor da Divisão dos Produtos e Economía Florestal da FAO, devido ao Día Mundial das áreas Húmidas (2 de fevereiro de 2008). “Eles vêem conduzindo uma melhor proteção e gestão de manguezais em alguns países. Mas em conjunto, a perda destes bosques costeiros continua sendo alarmante. A taxa de desmatamento dos manguezais é significativamente mais alta que a perda de qualquer outro tipo de ecossistema. Se continuar assim, sua destruição poderá gerar graves perdas na subsistência da biodiversidade, além da intrusão salina nas áreas costeiras e a acumulação de sedimentos nos recifes de coral, portos e rotas de navegação. O turismo também sofrerá muitas consequências. Os países devem comprometer-se a uma conservação mais eficaz, a gestão sustentável dos manguezais e

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outros ecossistemas húmidos”, acrescentou Killmann. A destruição contínua A Ásia sofreu a maior diminuição dos manguezais desde 1980, com mais de 1.9 milhões de hectares destruídos, fundamentalmente devido à mudanção no uso da terra. A América do Norte, América Central e África também contribuiram significativamente para esta diminuição dos mangues, com perdas de aproximadamente 690.000 e 510.000 hectares respectivamente nos últimos 25 anos. A nível nacional, Indonesia, México, Pakistão, Nova Guiné e Panamá registraram as maiores perdas de manguezais durantes os anos 80. Neste grupo de países desapareceram cerca de um milhão de hectares destas áreas: uma extensão comparável a da Jamaica. Nos anos 90, Pakistão e Panamá conseguiram reduzir sua taxa de perda, porém, Vietnan, Malásia e Madagascar sofreram uma maior devastação e passaram a formar parte dos cinco países com maiores perdas de manguezais da década de 90 e no período entre 2000-2005. A FAO citou a alta pressão demográfica, a transformação em grandes escalas das regiões de manguezais para a criação de peixes e

camarões, a agricultura, a indústria civil e o turismo, além da poluição e dos desastres naturais, como as principais causas da destruição dos manguezais. Bem protegidos “Positivamente, uma serie de países vem experimentado um aumento das regiões de manguezal com o passar do tempo, incluindo Bangladesh”, disse Mette Wilkie, Oficial Superior Florestal.“Parte da maior área de mangues do mundo – acrescentou -, a reserva florestal de Sundarbans em Bangladesh, está bem protegida, e não vem sofrendo grandes alterações em sua extensão nas últimas décadas, mesmo que tenha se registrado alguns danos nos mangues decorrido ao ciclone ocorrido em 2007. No Equador, o abandono dos tanques e as estruturas destinadas a críação de camarões e a produção de sal conduziu a reconstrução de várias áreas de manguezais”, relatou. Os manguezais são bosques perenes resistentes ao sal que se extendem ao longo dos litorais, lagoas, rios e desembocadura de rios em cerca de 124 regiões e países tropicais e subtropicais, protegendo a área costeira da erosão, dos ciclones e dos ventos. Os manguezais são ecossistemas importantes

que fornecem água, comida, forrajeio, medicina e mel.Também são habitats para muitos animais como crocodilos e serpentes, tigres, cervos, lontras, golfinhos, pássaros, além de uma ampla variedade de peixes e mariscos que dependem destes bosques para a reprodução. Os manguezais também ajudam a proteger os recifes de coral dos sedimentos das terras altas. Indonesia, Austrália, Brasil, Nigéria e México representam conjuntamente 50 por cento da área total de manuezais de todo o planeta. A avaliação sobre os manguezais do mundo realizada entre 1980 - 2005 foi preparada em colaboração com especialistas de todo o mundo e foi financiada pela Organização Internacional das Madeiras Tropicais (OIMT). A FAO e a OIMT estão trabalhando atualmente com a Sociedade Internacional de Ecossistemas de Manguezais e outras organizações associadas para produzir um Atlas Mundial dos Manguezais que se publicará neste mesmo ano. Fonte: http://www.onubrasil.org.br Tradução: colaboração de Karen Dutra, da KM Traducciones kmtraducciones@gmail.com

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Educação Ambiental

Coleta seletiva na praia

Por Ricardo Voltolini*

e olho na preservação ambiental, a concessionária Orla Rio implementou um projeto de coleta seletiva nos novos quiosques localizados nas praias de Copacabana e do Leme que está atraindo cada vez mais a participação dos quiosqueiros. Desde outubro do ano passado, já foram recolhidos 3 toneladas de lixo reciclável. Se, no início do projeto, em 2005, eram recolhidos cerca de dois quilos de latinha por mês, hoje, esse número alcançou a marca de 700 quilos. Os detritos são separados pelos quiosqueiros em quatro recipientes, de acordo com o tipo: papel, plástico, metal e vidro. Os materiais mais recolhidos são vasilhames pet, latinhas, papelão das embalagens e vidro. Entre os meses de dezembro e fevereiro, a coleta foi realizada pela Associação de Seleção e Comercialização de Materiais Recicláveis dos Catadores da Rocinha, que recolheu 2.200 quilos de resíduos nos quiosques. Agora, a responsável pela coleta é a empresa Copama, que percorre os quiosques recolhendo o lixo toda terça-feira. “Os quiosques antigos ainda não têm os contêineres apropriados para realizar a coleta, mas alguns quiosqueiros demonstraram interesse e já estamos providenciando para que eles possam fazer parte do

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projeto e ter seus materiais recolhidos para reciclagem”, garante o vice-presidente da Orla Rio, João Marcello Barreto. João Marcello ressalta que o sucesso da coleta seletiva está diretamente associado à sensibilização e conscientização da população e, no caso dos quiosques, dos operadores do empreendimento “Quanto maior a participação voluntária em programas de coleta se-

letiva, maior a quantidade de material arrecadado e mais ampla a preservação ambiental”, afirma. Desde 1999, quando foi realizada a concorrência pública para exploração comercial dos 309 quiosques da orla durante 20 anos, a Orla Rio é a responsável pela administração dos quiosques localizados entre o Leme e a Prainha com exceção da Eco Orla (Reserva) e Macumba.

Mais informações: http://www.orlario.com.br/ Contatos: orlar io@orlar io. com.br Enviado por Carol Oliveira Assessora de Imprensa Monte Castelo Idéias (21) 3239-4600 carololiveira @montecastelo-ideias.com.br Foto:Clarice Castro

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Ano II - Edição nº 014 - 2007

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