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Campanha Da Rebia

Campanha pela democratização da informação ambiental no Brasil

O objetivo é recolher o maior número possível de votos para colocar a democratização da informação ambiental na agenda e prioridade de autoridades, empresas, agências de publicidade e or-

ganizações do Brasil inteiro. O manifesto estará permanentemente disponível na forma de enquete no www.portaldo meioambiente.org.br para que autoridades e a iniciativa privada tomem pro-

vidências para implementação de políticas que assegurem recursos e mecanismos para a ampla e irrestrita democratização da informação ambiental em nosso país.

MANIFESTO PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO AMBIENTAL A cidadania ambiental precisa de maior diversidade informativa e de amplo direito à comunicação ambiental. Sem informação ambiental acessível, de qualidade e independente, a Sociedade terá ainda mais dificuldades para fazer escolhas melhores entre um estilo de vida predatório e poluidor e outro, ambientalmente sustentável e socialmente justo. Para que isso se torne realidade, é necessário modificar a lógica que impera no setor de comunicação e que privilegia os interesses dos grandes grupos econômicos comprometidos com um modelo de desenvolvimento predatório, poluidor e concentrador de renda. Não se pode mais aceitar que os movimentos socioambientais, que conquistaram muitos dos avanços democráticos no campo ambiental, continuem sem condições de também informar suas idéias e ações de um novo modelo econômico ambientalmente sustentável e socialmente mais justo com o mesmo alcance à disposição dos que defendem a continuidade do atual modelo ambientalmente insustentável e socialmente injusto. Um país democrático precisa assegurar que os mais distintos pontos de vista tenham expressão pública. E isso não ocorre no Brasil. A democratização da informação ambiental em nosso país tem sido defendida e viabilizada apenas por um pequeno número de veículos especializados em meio ambiente cujas tiragens e acessos estão entre 1 e 3 milhões de leitores e internautas, uma ínfima parcela de uma população com mais de 170 milhões de brasileiros.

É preciso existir um amplo e diversificado sistema público de comunicação ambiental que ofereça à sociedade informações ambientais para além da lógica do mercado. Os que votam esse manifesto apresentam a seguir algumas propostas e idéias. Nós nos declaramos a favor de que: • Os governos, em seus três níveis, estabeleçam políticas públicas no sentido de garantir a mais ampla diversidade de veículos informativos especializados em meio ambiente ou que tratem adequadamente da complexa pauta ambiental; • A inclusão digital seja tratada com a prioridade que merece e que o investimento nela possibilite o acesso a canais em banda larga a toda a população, para que isso favoreça redes comunitárias ambientais e faixas em espectro livre; • As verbas de publicidade e propaganda, especialmente das empresas públicas ou mistas, sejam distribuídas levando em consideração toda a ampla gama de veículos de informação e a diversidade de sua natureza; que os critérios de distribuição sejam mais amplos, públicos e justos, para além da lógica do mercado; e que ao mesmo tempo o poder público garanta espaços para os veículos da mídia ambiental nas TVs e nas rádios públicas, nas suas sinopses e outros meios semelhantes; • O Estado brasileiro atue no sentido de apoiar as iniciativas das rádios e tevês comunitárias e não o contrário, como vem acontecendo nos últimos anos; • A Universidade dê sua contribuição para a democratização da informa-

ção ambiental, em seus cursos de graduação e pós-graduação em Comunicação Social, formando profissionais críticos que possam compreender a problemática ambiental e contribuir para a produção e distribuição de informação ambiental cidadã; • A sistematização e divulgação de demonstrativos das despesas realizadas com publicidade pelo Judiciário, pelo Legislativo e pelo Executivo, nas diferentes esferas de governo, demonstrando o percentual aplicado na mídia ambiental; • A definição de linhas de financiamento para o aporte tecnológico e também para a constituição de empreendimentos da mídia ambiental e sem fins lucrativos com critérios diferentes do que as concedidas à mídia corporativa e comercial; e que isso seja realizado com ampla transparência do montante de recursos, juros e critérios para a obtenção de recursos. A Rede Brasileira de Informação Ambiental – REBIA não autoriza ninguém a comercializar nenhum tipo de material promocional em nome desta Campanha ou ainda coletar qualquer tipo de doação. Trata-se de um movimento livre e independente da cidadania ambiental e não tem fins lucrativos. A Rede Brasileira de Informação Ambiental – REBIA não autoriza ninguém a comercializar nenhum tipo de material promocional em nome desta Campanha ou ainda coletar qualquer tipo de doação. Trata-se de um movimento livre e independente da cidadania ambiental e não tem fins lucrativos.

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Editorial

O poder, os poderosos e a democratização da informação ambiental

Por Vilmar Sidnei Demamam Berna* vilmar@rebia.org.br

"Jornalismo é publicar o que alguém não quer que seja publicado; todo o resto é publicidade." - George Orwell

Brasil tem tido a sorte de ter ministros do meio ambiente competentes e comprometidos com a causa socioambiental, como o Sarney Filho, o José Carlos Carvalho, a Marina Silva, entretanto, o que pode fazer um ministério para preservar e cuidar do meio ambiente se praticamente todos os outros querem fazer o contrário? A senadora Marina Silva tentou implantar a transversalidade, uma forma de todos no Governo se sentirem também responsáveis pelo meio ambiente, combateu o bom combate, ganhou algumas vezes, perdeu muitas outras. Nossas esperanças e nosso olhar se voltam agora para o novo ministro,Carlos Minc, com tradição na militância ambiental carioca, também Prêmio Global como o Chico Mendes, o Betinho, o Fábio Feldmann, entre outros. Numa democracia não vence quem tem mais armas,mas quem tem mais argumentos. E de todos os talentos do Minc, talvez o que mais se destaque é a sua capacidade de dialogar com os contrários sem abrir mão de princípios, seu jogo de cintura diante das situações difíceis e, especialmente, sua habilidade em falar com a imprensa, transformando temas áridos e de difícil entendimento em frases e conceitos claros para a população. É preciso encontrar formas e maneiras de chegar ao povo, de mostrar que a destruição ambiental muito longe de assegurar o progresso e o atendimento às necessidades humanas tem significado a perda dos serviços da natureza que mantém a fertilidade do solo, o regime de chuvas, os mananciais de abastecimento, etc. Precisamos muito de alguém que consiga traduzir o ecologês para uma linguagem que chegue até ao povo e o Minc sabe fazer isso. Entre os desafios que o Minc terá de enfrentar está um tipo de visão de progresso que na verdade é retrocesso ambiental e social.O governador de Mato Grosso,Blairo Maggi, por exemplo, afirmou à Folha, em 24/04 que “não há como produzir mais comi-

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da sem fazer a ocupação de novas áreas e a derrubada de árvores”. Trata-se na verdade de um mito como se a destruição da natureza fosse o preço amargo a pagar para que a população tenha atendidas suas necessidades. Nada mais falso. Se cruzarmos os mapas aonde houve maior degradação ambiental no Brasil com os mapas do IDH (Índice do Desenvolvimento Humano), constata-se que aonde a natureza foi mais agredida é aonde também existe maior número de pessoas passando fome e necessidades. O pesquisador Carlos E. F.Young, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) fez a experiência. Entre 1985 e 1996, nos estados do Sul e do Sudeste, a mata atlântica perdeu mais de 1 milhão de hectares enquanto, no mesmo período e região, houve a redução de 2,4 milhões de postos de trabalho na agropecuária. Se os lucros desse saque sobre a natureza não foram destinados ao atendimento das necessidades das pessoas, então onde foram parar? Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apenas 10% dos brasileiros mais ricos concentram 75,4% da riqueza do país! Por isso quando se fala em sustentabilidade, é importante também perguntar‘sustentável para quem?’Na prática,o atual modelo de progresso tem usado a natureza para concentrar a riqueza e o poder na mão de poucos e não para atender a necessidade de muitos, como diz no discurso. A guerra pela opinião pública Sabemos que um novo modelo de desenvolvimento e de consumo, mais sustentável e responsável e também mais justo depende fundamentalmente da sociedade saber escolher melhor seus governantes e adotar novos hábitos de consumo. Entretanto, só é possível escolher melhor se a população tiver acesso às informações democráticas e adequadas sobre a gestão dos seus governantes e sobre o real impacto dos produtos que consome. Estas relações ocultas entre o poder e a imprensa são mais comuns do que se imagina, difícil é descobri-las e mais difícil ainda, quando descobertas, é conseguir onde

divulgá-las. O vídeo ( www.novae.inf.br/ site/modules.php?name= Conteudo&pid=1033 ) que revela o acumpliciamento entre o Governo de Minas Gerais e a imprensa, para só divulgar o que for positivo e esconder o que for negativo, teve de ser feito e divulgado a partir do exterior. Em outro exemplo, contatouse que os políticos de direita são os “donos da mídia” nacional, segundo pesquisa do EPCOM (Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação) que cruzou os dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) com a lista de prefeitos, governadores, deputados e senadores.Ao total, 271 políticos são sócios, proprietários ou diretores de emissoras de rádio eTV. Este número, porém, corresponde apenas aos políticos que possuem vínculo direto e oficial com os meios de comunicação – não estão contabilizadas as relações informais e indiretas (por meio de parentes e laranjas), que caracterizam boa parte das ligações entre os políticos e os meios de comunicação do país. Enquanto os donos do poder político e econômico comprarem a mídia para que só divulgue o que for positivo e oculte o que for negativo, estarão negando à sociedade o direito de escolha democrática sobre o que é melhor para ela, em outras palavras, praticam estelionato eleitoral. *Vilmar é escritor, jornalista e ambientalista,editor da Revista e do Portal do Meio Ambiente e Prêmio Global 500 da ONU Pra o Meio Ambiente.

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Artigo Por Altamiro Borges *

Brasil - ‘Mídia livre’ e a publicidade oficial

debate sobre as verbas públicas para a publicidade será um dos eixos temáticos do 1º Fórum de Mídia Livre, que ocorrerá na UFRJ em 14 e 15de junho. O estado brasileiro sempre estimulou, com o dinheiro arrecadado dos tributos do povo, o nocivo processo de concentração dos meios de comunicação. GetúlioVargas foi um dos poucos que desafiou os barões da mídia ao investir pesado na Rádio Nacional e ao bancar a publicidade para o jornal nacionalista Última Hora. Já o governo Lula, que criou certa expectativa de que estimularia a diversidade informativa, não teve coragem para enfrentar a ditadura midiática e se vergou diante das bravatas do “deus mercado”. Em 2006, o governo Lula e as empresas estatais desembolsaram R$ 1.015.773,83 - mais de um bilhão de reais - em publicidade. O recorde anterior de gastos se deu no governo FHC, em 2001, que torrou R$ 953,7 milhões em anúncios. A quase totalidade destes recursos beneficiou os nove grupos empresarias que controlam mais de 85% dos meios de comunicação no país. No caso de FHC, a “bondade” com o dinheiro público serviu para criar uma blindagem ao seu governo. Já para o presidente Lula, a ilusão da sedução foi efêmera e a verba oficial serviu para alimentar as cobras, com a mídia virando o “partido da direita” e pedindo a sua degola o seu impeachment.

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Veículos independentes à míngua Do montante das verbas publicitárias no governo Lula, 62% foram para as emissoras privadas de televisão, 12% para as rádios, 9% para os jornais, 8% para as revistas, 1,5% para a internet, 1,5% para outdoors e 6% para outras mídias. Somente a onipotente TV Globo abocanhou mais de 60% dos recursos da televisão. Já os três principais jornalões do país (Folha, Estadão e Globo) ficaram com o grosso da verba publicitária do setor. A ditadura midiática, que prega o “estado mínimo” e critica os gastos públicos, iria à falência sem os recursos ofi-

ciais, como já reconheceu em artigo insuspeito o colunista Fernando Rodrigues, homem de confiança da família Frias. Enquanto os poderosos grupos privados mamam nas tetas do estado, os pequenos produtores de mídia e os movimentos sociais enfrentam um calvário para manter seus veículos. Publicações de qualidade correm o risco de fechar. É o caso da Adital, que faz uma das melhores coberturas da América Latina, segundo relata Ermanno Allegri. Já a Agência Carta Maior, que se notabilizou por suas reportagens e análises de fôlego, teve que dispensar boa parte de sua excelente equipe. A revista Fórum só se mantém graças ao heroísmo da redação. Sindicatos, entidades estudantis, associações de moradores e rádios comunitárias não têm recursos para difundir as suas idéias. A “covardia” do governo Lula No campo popular e democrático da mídia, há enorme decepção com o governo Lula - inclusive de históricos petistas. O adjetivo trivial é o de “covarde” diante da ditadura midiática. Ninguém agüenta mais percorrer os corredores burocráticos do governo para solicitar verbas publicitárias. A desculpa apresentada é dos critérios do mercado, da audiência e tiragem. Na prática, o governo incentiva a monopolização do setor com recursos públicos e castra a possibilidade de estímulo à diversidade e à pluralidade informativas. Repetindo: o governo Lula alimenta cobras! Diante deste cenário angustiante, o 1º Fórum de Mídia Livre deve adotar uma postura incisiva de crítica ao uso nefasto da verba publicitária. Mais do que isto, deve apresentar propostas concretas no sentido de romper este cerco e de superar a lógica mercadológica. Não dá para vacilar neste terreno. Afinal, a publicidade oficial é oriunda dos tributos da sociedade. Ela deveria servir para incentivar e multiplicar as publicações independentes. Nada mais justo de que ela seja usada para fortalecer os veículos dos movimentos sociais e dos pro-

dutores alternativos. É urgente mudar a legislação sobre o tema, o que só ocorrerá com forte pressão da sociedade. Na Europa, por exemplo, vários países adotaram leis de estímulo à diversidade informativa como forma de enterrar os vestígios do nazifascismo e de aprimorar a democracia. Uma parte da verba publicitária do estado é carimbada para apoiar veículos independentes e para conter o processo de monopolização capitalista do setor. Até nos EUA, país venerado pelos neoliberais, existem leis para evitar a propriedade cruzada e para financiar publicações independentes. O 1º Fórum de Mídia Livre, unido as energias, deve fazer chegar ao presidente Lula este apelo democrático! * Jornalista, editor da revista Adital ( http:/ /www.adital.com.br ) 2008 - JUNHO - EDIÇÃO 016 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 3

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Expediente FUNDADOR / JORNALISMO VILMAR Sidnei Demamam BERNA PRÊMIO GLOBAL500 DA ONU Editor (voluntário) - vilmar@rebia.org.br Redação: Trav. Gonçalo Ferreira,777 – casarão da Ponta da Ilha, bairro Jurujuba, Niterói, RJ CEP 24370-290 – Telefax: (021) 2610-2272 DIRETORIA DA OSC REBIA • Presidente do Conselho Deliberativo: JC Moreira, jornalista • Presidente do Conselho Diretor: Ricardo Harduim, biólogo • Presidente do Conselho Fiscal: Flávio Lemos, psicólogo CONSELHO EDITORIAL Amyra El Khalili ,Aristides Arthur Soffiati, Bernardo Niskier, Carlos Alberto Muniz, David Man Wai Zee, Flávio Lemos de Souza, Paulo Braga, Ricardo Harduim, Roberto Henrique de Gold Hortale (Petrópolis, RJ), Rogério Alvaro Serra de Castro e Rogério Ruschell. PROGRAMAÇÃOVISUAL Leonardo Ciannella - 21 2608-7227 VX STUDIO Soluções Criativas leonardo@vxstudio. com.br

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resse Público – OSCIP, (Proc. nº 08015.000703/2003-31 - Secretaria Nacional de Justiça, 10 de março de 2003, Diário Oficial da União de 17/03/ 2003 / Utilidade Pública Municipal ( LEI 3.283 de 04 de março de 2002) / CNPJ: 03.744.280/000130 / Rua Maria Luiza Gonzaga, nº 217 - no bairro Ano Bom - Barra Mansa, RJ CEP: 23.323.300 / Representante: Presidente EDUARDOAUGUSTO SILVAWERNECH -Tels:(24) 3323-4861 (ACIAP) - Celular:(24) 8814-3066 - eduardo. wernech@uol.com.br

CARTA DO LEITOR om satisfação vemos que a nossa REDE BRASILEIRA DE INFORMAÇÃO AMBIENTAL, os Fóruns Regionais de debates, o Portal do Meio Ambiente, a Rede Internacional BECE-REBIA e várias outras iniciativas estão cada vez mais em destaque na área ambiental, em especial nos sites e blogs da Internet. Na semana passada destacamos que a REBIA aparecia como principal parceira do Blog que a Gisele Bundgen (http://giselebundchenblog.blogspot. com/ ), a mais badalada modelo internacional lançou em defesa do meio ambiente. Visitando o BLOG DO AZENHA - AMÉRICAS http://luizazenha. blog.terra.com.br que é “um jornalista renomado e um cidadão respeitado” (segundo Mino Carta, sobre Luiz Carlos Azenha), verificamos que o PORTAL DO MEIO AMBIENTE aparece como primeiro Blog Favorito. Parabéns e obrigado AZENHA ! VAMOS SALVAR OS NOSSOS RIOS ? VAMOS DEFENDER O NOSSO MEIO AMBIENTE?

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Saudações eco-fluviais do Prof. Jarmuth Andrade - SOS RIOS DO BRASIL http://sosriosdobrasil.blogspot.com/ http://www.sosr iosdobrasil.blog spot.com/

ONU debate desmatamento, no Rio - 16/05/2008 Palestra de jornalista, Vilmar Berna (foto), no Centro de Informação, UnicRio, tratou do papel da cidadania na defesa ambiental. MônicaVillela Grayley, Rádio ONU em NovaYork. O Centro de Informação das Nações Unidas, Unic-Rio, realizou uma palestra para debater aquecimento global e desmatamento no Brasil. O evento, no Palácio Itamaraty, foi dirigido pelo jornalista e ambientalista,Vilmar Berna. Formação Ganhador do Prêmio Global 500 das Nações Unidas, Berna disse à Rádio ONU, do Rio de Janeiro, que a defesa do meio ambiente passa primeiro pela cidadania. "O prêmio que a ONU me concedeu foi em função de uma luta de quase 30 anos que eu faço pela democratização da formação ambiental com a proposta de formar cidadania ambiental. Ninguém vai conseguir equilibrar essa idéia de atender necessidade e preservar meio ambiente sem diálogo, sem boa vontade e sem informação", disse.

Castelos Ecológicos Segundo Berna, que é diretor da Revista Meio Ambiente, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para persuadir a população sobre proteção ambiental. "Se a gente não conseguir convencer a sociedade de que o meio ambiente é importante e precisa ser levando em conta junto com o progresso, a gente vai perder sempre. Não adianta ficar em nossos castelos ecológicos e ideológicos se não conseguir convencer a população. Este é o maior desafio, chegar ao povo. Nós não conseguimos chegar ao povo", afirmou. O evento sobre Mudanças Climáticas na sede do Unic-Rio contou com a parceria do Instituto Interamericano de Fomento à Educação, Cultura e Ciência, Ifec, e recebeu cerca de 40 professores universitários. Fonte: http://radio.un.org/por/detail/6154.html Mais informações: Valéria Schilling Assessora de Comunicação Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio) 21-2253-2211 / 21-8202-0171

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Artigo Por Najar Tubino*

Sociedade envenenada

São pelo menos 75 mil produtos químicos diferentes utilizados em agrotóxicos, farmacêuticos, plásticos, tintas, papéis, e subprodutos de petróleo.

tão badalado progresso tecnológico dos tempos atuais tem um custo, que ainda é pouco divulgado no mundo. No Brasil e em outros países considerados emergentes ainda mais. Cada produto industrializado, embalado, ilustrado com cores ou instrumentado com chips deixa uma carga de resíduos tóxicos. A complexidade da indústria é traduzida em números: pelo menos 75 mil produtos químicos diferentes utilizados em agrotóxicos, farmacêuticos, plásticos, tintas, papéis, e subprodutos do petróleo. Pelo menos mil novos produtos são registrados anualmente em todo o mundo. Os países industrializados, os ricos do planeta, acumulam entre 300 e 500 milhões de toneladas de lixo tóxico. Parte disso acaba nos países do outro bloco, da maioria. Eles chamam isso de política da chaminé alta, porque não podem fabricar determinados materiais em seus países, passam as plantas aos emergentes. Ou descarregam lixo tóxico, travestido de outras marcas. O professor João Roberto Penna de Freitas Guimarães, especializado em perícia ambiental, dá aulas de gestão ambiental para indústrias na Unisantos dá o alerta: “O uso indiscriminado e irresponsável de pesticidas vem colocando uma população maior de trabalhadores rurais sob risco. Koifman et al (2002) demonstram que em alguns estados brasileiros há uma correlação entre o consumo de pesticidas e manifestações endócrinas na população exposta, com efeitos diretos no aparecimento de infertilidade, câncer do testículo, câncer de mama, câncer de próstata e de ovário”. Na Baixada Santista o problema tem proporções assustadoras existem relatórios da Cetesb sobre a população do Estuário de Santos – Cubatão, indica a presença de diversos poluentes disruptores endócrinos nas águas dos rios e do estuário, além da contaminação do solo, em área de antigos lixões.” A Organização

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Mundial de Saúde calcula, desde o início da década, em três milhões o número de pessoas contaminadas por pesticidas no mundo. Se levarmos em consideração a lista completa dos poluidores tóxicos, esse número se multiplicará muitas vezes. O caso do cloro, subproduto químico usado como base em diversos ramos industriais, é altamente reativo com compostos orgânicos – baseados em carbono. E das substâncias extraídas do petróleo, entre elas, benzeno, etileno e propileno, fontes da indústria de plásticos. No Brasil, segundo levantamentos recentes, cerca de dois milhões de brasileiros vivem sob a ameaça de metais pesados, hidrocarbonetos e outros contaminantes. O pior não é isso. Na onda do aumento da população agrícola, agrocombustíveis, procura maior de fertilizantes – preço subiu de 200 dólares a tonelada em abril de 2007 para 700 dólares em abril 2008 (posto em Sinop, no Mato Grosso, 500 Km de Cuiabá). Um levantamento realizado em 2004, pelo engenheiro Elio Lopes dos Santos, representante do Ministério da Saúde, em empresas do interior de São Paulo, que misturam matéria-prima usadas nas fórmulas de fertilizantes, incluindo micronutrientes – metais usados em pequenas quantidades - constatou. Os fabricantes usaram restos de aciarias, metalúrgicas, siderúrgicas e fundições, onde são encontrados metais como magnésio, zinco, cobre e ferro (necessários ao solo), mas também cádmio e chumbo, altamente tóxicos. Uma questão de redução de custos de produção. Fazem isso com sal mineral de bovinos, usam fosfato agrícola, como fonte de fósforo, que é mais barato. O progresso da civilização envolve uma imensa montanha de lixo, cada vez aumenta mais. E uma dose minúscula de veneno, que pinga diariamente nas nossos veias.

ção de espécies, o funcionamento dos sistemas que compõem e movimentam a vida na Terra, com data-show e ilustrada com imagens de satélite da Nasa. Pode ser agendada pelo telefone: (51) 96720363, e-mail: najartubino@yahoo.com.br Fonte: http://www.ecoagencia.com.br

*Najar Tubino é jornalista e autor da palestra “Uma visão Holística e atual sobre a integração do planeta”, que trata das mudanças climáticas, aquecimento global, extin-

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Saúde e Meio Ambiente

Tomate, alface e morango são os produtos mais contaminados por agrotóxicos ma análise realizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em parceria com as secretarias estaduais de saúde indica que o tomate, o morango e a alface são os alimentos com maior índice de resíduos de agrotóxicos. De nove produtos avaliados (alface, batata, morango, tomate, maça, banana, mamão, cenoura e laranja), o índice de amostras colhidas em 2007 e consideradas insatisfatórias ficou em 17,28%. Os dois problemas detectados na análise das amostras foram teores de resíduos acima do permitido e o uso de agrotóxicos não autorizados para essas culturas. Os dados são do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), coordenado pela Anvisa.As amostras foram recolhidas em pontos de venda pelas vigilâncias sanitárias de estados e municípios.

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Tomate O caso que mais chamou a atenção foi o do tomate. Das 123 amostras analisadas, 55 apresentaram resultados insatisfatórios, o equivalente a 44,72%. Nessa cultura, os técnicos encontraram a substância monocrotofós, ingrediente ativo que teve o uso proibido em novembro de 2006, em razão de sua alta toxicidade.Também foi detectada a presença de metamidofós no tomate de mesa, ainda que em teores que não ultrapassaram os limites aceitáveis para a alimentação. Esse agrotóxico é autorizado apenas para a cultura de tomate industrial (plantio rasteiro), que permite aplicação por via área, trator ou pivô central, evitando assim a possibilidade de intoxicação do trabalhador rural. O metamidofós também foi encontrado no morango e na alface, culturas para as quais não é permitido o uso deste agrotóxico. A batata, que em 2002, primeiro ano de monitoramento do Programa, apresentava índice de 22,2% de uso indevido de agrotóxicos, teve o nível reduzido para 1,36%. A maçã, que chegou a apresentar índice de 5,33% neste perío-

do, fechou 2007 com incidência de 2,9%. “O aumento nos resíduos de agrotóxicos encontrados em tomate, alface e morango em 2007 pode ser correlacionável com o súbito acréscimo observado na importação de agrotóxicos por países da América do Sul, incluindo o Brasil”, segundo o documento. Na avaliação do pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Nozomu Makshima, o aumento da contaminação do tomate, que cresceu 42% em relação a 2006, se deve ao “uso pouco criterioso” dos agrotóxicos pelos produtores.“Eles aplicam [agrotóxicos] sem muito critério. Os resíduos permanecem por causa da freqüência com que o produtor aplica, ele não obedece o período de carência”, aponta. De acordo com Makshima, o alto índice de amostras de alface com resíduos de agrotóxicos merece atenção redobrada por se tratar de uma cultura “muito sensível” ao uso de defensivos, além do alimento ser consumido sem preparo, cru. “Normalmente o que a gente nota no caso de folhosas é contaminação por microorganismos, não por

resíduos químicos”, pondera o pesquisador da Embrapa Hortaliças. Encaminhamento A Anvisa irá encaminhar todos os resultados ao Ministério da Agricultura (Mapa), órgão responsável pela fiscalização das lavouras e ao qual cabe desencadear ações dirigidas aos produtores. O uso da substância monocrotofós, que está proibida, foi denunciado à Polícia Federal e ao Ministério da Agricultura, para que procedam à investigação. A Anvisa também informou que será formado um grupo de trabalho (GT) para elaboração de material educativo direcionado a produtores, distribuidores, profissionais de extensão rural e consumidores. O grupo contará com representantes do Mapa, da Associação Brasileira de Supermercados e do Ministério da Saúde. O Para passará a acompanhar oito novas culturas a partir deste ano. Os produtos selecionados são: abacaxi, arroz, cebola, feijão, manga, pimentão, repolho e uva. *Com informações da Agência Brasil

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Artigo

A Era Ecozóica

Por Maurício Andrés Ribeiro

“Todos nós temos nosso trabalho particular.Temos uma variedade de ocupações. Mas além do trabalho que desempenhamos e da vida que levamos, temos uma Grande Obra na qual todos estamos envolvidos e ninguém está isento: é a obra de deixar uma era cenozóica terminal e ingressar na nova Era Ecozóica1 na história do Planeta Terra. Esta é a Grande Obra”. - Thomas Berry

história natural define grandes eras, períodos e épocas da evolução da Terra. São as eras geológicas, os longos lapsos de tempo, medidos em milhões de anos. Nos primórdios havia a matéria e posteriormente surgiu a vida, com a dominância de algumas espécies, e com tipos de climas diferenciados. Em algumas dessas etapas, a vida surgiu nos oceanos; em outras dominaram os dinossauros e mais recentemente tiveram lugar os grandes mamíferos. Em seguida, surgiu o homo sapiens; a consciência humana passa a ser forte vetor na evolução. Na reflexão sobre a atual crise ecológica, é relevante suprir a lacuna conceitual referente a esses grandes ciclos do tempo e dar ressonância, divulgar e comunicar tais conceitos. Estamos numa transição de eras, na qual ocorrem mudanças climáticas e ex-

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tinções em massa de espécies. Transitamos da época recente (iniciada há 10.000 anos) do período quaternário da era cenozóica - iniciado há um milhão e 800 mil anos - para uma nova etapa: a era ecozóica. Estamos no início de uma era que depende de uma relação amadurecida com o meio ambiente, ancorada numa nova percepção e em nova consciência. A era ecozóica está em construção. Como no mito hindu da dança do Deus Shiva, estamos num processo de destruição criadora; a era cenozóica está em destruição, em demolição. Na era ecozóica considera-se que todo o universo é uma comunidade interativa de seres e sujeitos, com forte dimensão psíquico-espiritual; que o universo se encontra em evolução; que hoje a atividade humana é determinante nessa evolução. Que são necessários um mito unificador para todas as culturas humanas e a espiritualidade ecológica. Mulheres, povos indígenas, a ciência, as tradições humanísticas e religiosas tem um papel importante para redefinir conceitos de valor, sentido e realização, e para estabelecer normas de conduta para a Era Ecozóica. A era ecozóica depende da mudança de consciência e de comportamento humano. Nessa era, a espécie humana toma consciência de pertencer à natureza e de,

por meio de sua cultura, ciência e tecnologia, ser capaz de influir sobre o rumo da evolução, seja de forma construtiva, aprimorando geneticamente espécies existentes, seja de forma destrutiva, alterando o clima e os habitats, e causando assim a mortandade e a extinção em massa de espécies vegetais e animais. A espécie humana toma consciência de que é gestora da evolução.A era ecozóica é construída a partir da ecologização de tudo: o pensamento, as atitudes e comportamentos. Ecologizar significa aplicar os princípios das ciências ecológicas às situações da vida individual e coletiva. Ciências ecológicas que hoje se ramificam numa multiplicidade de campos, a partir de suas origens na biologia. 1

A Era Ecozóica é um termo cunhado por Thomas Berry em 1992. Ele se refere à promessa de uma era na qual os seres humanos vivam em um relacionamento mutuamente reforçador com a comunidade maior dos sistemas vivos. É um conceito processual, algo a ser criado. (*) Autor de Ecologizar www.ecologizar.comm.br mandrib@uol.com.br

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Ecoturismo Fotos: Louise Gumes

Pescadores expulsam resort de praia no Ceará

A comunidade da praia de Ponta Grossa, no município de Icapuí (CE), há dez anos tomou uma decisão surpreendente: não vender nenhum terreno para pessoas de fora. Os representantes da comunidade foram convidados para mostrar sua experiência no II Seminário Internacional de Turismo Sustentável (http://www.sits2008.org.br/ ), que acontece nos dias 12 e 15 de maio, em Fortaleza.

em da praia vizinha – a famosa Canoa Quebrada – o exemplo do que ocorreu quando a especulação imobiliária atuou livremente. – Sabemos bem o que acontece com o turismo de massa. A comunidade de Canoa Quebrada vendeu tudo e hoje as pessoas, quando muito, são empregadas nas pousadas e restaurantes. Não queremos isso para Ponta Grossa – diz Eliabe Crispym da Silva, presidente da Associação de Turismo, Meio Ambiente e Cultura (Astumac). Como já sinaliza o nome da associação, a opção dos moradores foi por um turismo comunitário, mais equilibrado e com forte preocupação ambiental. “Justamente por morarmos em ambiente de falésias, qualquer vacilo podemos perder tudo”, ressalta Eliabe. Isolada por morros e falésias, Ponta Grossa é uma vila onde moram 64 famílias de pescadores, aproximadamente 200 pessoas. Foi lá, alegam, que o Brasil foi descoberto em fevereiro de 1500 (dois meses antes de Cabral), pelo navegadorVicenteYáñez Pinzon. Mais de 50% dos moradores já conciliam a atividade da pesca com o turismo comunitário, que se tornou uma das prin-

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cipais fontes de renda da comunidade. Antes, as pessoas hospedavam os turistas em casa mesmo. Agora, a comunidade já obteve financiamentos (inclusive da Suíça) que possibilitaram a construção de chalés e pousadas nos terrenos ao lado das casas dos pescadores. Hoje, têm 80 leitos para hospedar visitantes. - Tudo o que existe lá pertence à própria comunidade – diz Ana Paula Silva, representante da Fundação Brasil Cidadão para acompanhamento de projetos de turismo. A Fundação não apenas apóia a iniciativa da comunidade como está começando a disseminá-la por outros distritos de Icapuí. Para ir à Ponta Grossa, os visitantes têm que seguir um conjunto de regras, que incluem não tentar adquirir qualquer imóvel, não agredir o meio ambiente e não fazer barulho excessivo. Além disso, há um acordo tácito entre os pescadores para combater o turismo sexual. Distribuição da renda Ponta Grossa está sempre com lotação esgotada em feriados prolongados, além de 200 a 300 visitantes que visitam a praia diariamente, mas não dormem lá. A comunidade desenvolveu um mecanismo interessante para distribuir a renda vinda do turismo e garantir a sustentabilidade de todos os negócios da vila. A estadia dos visitantes é organizada de forma que eles consumam em vários locais, pertencentes a diferentes famílias. Podem, por exemplo, hospedarse na pousada de uma família, tomar café da lanchonete de outra e almoçar no

restaurante de uma terceira. Embora realmente não haja muitas opções de escolha, esses roteiros, claro, são sempre sugeridos aos visitantes e nunca obrigatórios. Há também o desejo que os turistas circulem e interajam com o máximo de moradores. Resort expulso Praticamente tudo o que é decidido em Ponta Grossa passa pelo coletivo. Decisões importantes, como a de não vender terrenos para “estrangeiros”, são tomadas em assembléias com grande participação. Foi justamente essa união que garantiu a criação de uma lei municipal transformando Ponta Grossa numa APA (Área de Proteção Ambiental). A integração entre os moradores, por outro lado, também impediu a instalação de um grande resort numa praia próxima. - Teve um caso que a gente reuniu toda a comunidade para impedir a instalação de um grande resort. Provocamos até uma audiência pública com a presença do prefeito e eles tiveram que desistir, conta, orgulhoso, o presidente da associação. Para Ana Paula, a comunidade está tão coesa em seus propósitos que qualquer interferência, mesmo a do poder público, tende a ser negativa.“A comunidade já se apropriou do processo. Daqui pra frente, se o poder público fizer alguma intervenção, ela não vai ser positiva”, diz. Fonte: http://iurirubim.blog.terra.com.br/ pescadores_expulsam_resort_de_praia_no_c 2008 - JUNHO - EDIÇÃO 016 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 9

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Amazônia I

“A Amazônia é dos brasileiros”, assegura o presidente Lula

Por Sônia Araripe

ara um auditório lotado de empresários, executivos, economistas e políticos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assegurou, no dia 26/05, na abertura do 20º Fórum Nacional, que a Amazônia tem dono, em resposta ao recente material (vídeo e editorial) divulgado pelo The New York Times alegando que diante do aumento do desmatamento na região, o Brasil não deveria ser o único a zelar pela imensa área. “O mundo precisa entender que a Amazônia brasileira tem dono e que o dono da Amazônia é o povo brasileiro, são os índios, os seringueiros, os pescadores, somos nós, que somos brasileiros, e que temos consciência de que é preciso diminuir o desmatamento, é preciso diminuir as queimadas”, Lula garantiu que vai convencer o mundo que o debate dos biocombustíveis está na mão errada. “Estaremos na reunião da FAO, na próxima semana, em Roma, para mostrar ao mundo que não é a produção do biocombustível que está

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causando ou aumentando a crise de alimentos”, afirmou. O presidente também criticou os subsídios dos países desenvolvidos aos produtores locais.“Não há o menor sentido para que Estados Unidos e Europa continuem com suas políticas restritivas no campo da agricultura, os subsídios e o protecionismo agrícola que semeiam obstáculos no caminho da Rodada Doha e são também os principais fatores que estimulam a inflação mundial de alimentos”, disse. Sobre a produção de combustíveis alternativos, Lula reiterou o papel relevante do Brasil, reduzindo a emissão de gás carbônico, enquanto outras nações desenvolvidas não cumprem seu papel. “O Protocolo de Kyoto já faliu. Nós estamos fazendo a nossa parte, retirando cerca de 800 milhões de CO2 do ar.” Na abertura do Fórum Nacional, coordenado pelo ex-ministro João Paulo dos ReisVelloso, que este ano completa 20 anos de debate intenso sobre o futuro do país, o presidente Lula destacou o

caráter social e de distribuição de renda de seus dois mandatos.“Não podem jogar nas nossas costas uma culpa que não é só nossa. Ninguém fez mais do que nós nestes 20 anos pela inclusão dos mais pobres.” Em um discurso lido, pontuado por frases de efeito e improvisos, Lula, bem humorado, brincou com os economistas. “São pessoas importantes. Mas a maioria erra. Errou nos últimos anos”, arrancanco risos da platéia e mesmo do convidado principal do evento, o Prêmio Nobel de Economia, o americano Edmund Phelps. O fim da CPMF voltou a ser criticado pelo presidente. “Tiraram cerca de US$ 40 bilhões da economia. E não vi nenhum produto cair de preço. Nem um centavo. Quem perde são os que precisam do Estado”. Lula voltou a defender uma presença forte do Estado na economia. Fonte: Carbono Brasil / Plurale em Site.

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Amazônia II Frei Pilato Pereira

De quem é a Amazônia? De quem é o Planeta? notório um ar de prepotência na reportagem do jornal estadunidense “The NewYork Times”, intitulada “De quem é esta floresta amazônica, afinal?” (18/05/08). Mas, penso que a questão colocada na reportagem é bem vinda para os dias de hoje. Realmente, nós humanos precisamos ter um diálogo franco, com o máximo possível de serenidade e nos perguntarmos sobre isto.Afinal, de quem a Amazônia? E o Planeta, é de quem mesmo? Quem é ou quem são “os donos” das florestas, dos rios, dos mares, das praias, das geleiras, das nascentes, dos mananciais, dos aqüíferos, das terras, das cidades? Enfim, precisamos questionar as apropriações que existem ao redor da Terra. É um tanto quanto contraditório um cidadão estadunidense, seja alguém da imprensa ou um líder político, como é o caso de Al Gorre, questionar a política de proteção da Amazônia, dada pelas nações que dividem seu território. Afinal, os Estados Unidos estão cercando seu país, impedindo a entrada de estrangeiros em suas cidades. Eles não têm uma política territorial fraterna, humana e civilizada. Não há dúvida de que o jornal fez bem em colocar este tema em questão, mas a forma como colocou é muito às avessas. Não parece nada sensato que alguns líderes internacionais e/ou a própria imprensa estrangeira venha a dizer como deve ser a política territorial dos países latino-americanos que dividem o território amazônico. O que é realmente necessário, é que a Comunidade Humana, através de seus legítimos organismos internacionais, faça um diálogo verdadeiramente democrático sobre a forma de como podemos melhor proteger todo o patrimônio natural da Humanidade. E diante disso, cabe discutir também sobre os mais diversos tipos de patrimônio, como por exemplo, o financeiro, o científico, o tecnológico, o intelectual e etc. Pois, as riquezas e toda a produção dos países são frutos da natureza e do trabalho humano. A produção das grandes indústrias e

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do agronegócio, o lucro de todas as empresas, dos bancos e dos mais diversos setores da economia mundial, de alguma forma, são frutos da exploração dos recursos naturais e da força de trabalho do ser humano. Isto significa que estas empresas deveriam reverter a maior parte de seus lucros para preservar o meio ambiente e melhorar a vida das pessoas em todas as partes do mundo. Porém, não é isto que fazem e ainda querem obter sempre mais lucro. Agem como se fossem os donos do mundo, como se o planeta fosse um quintal particular. É hora de pensar nisso. Será que as grandes indústrias e o agronegócio, o grande capital têm o direito de se apropriar tão vorazmente das riquezas do nosso planeta? O mundo é de todos os seres humanos e de todas as formas de vida. O planeta Terra é nossa

casa comum, é a morada desta geração e das futuras gerações. Para preservar a saúde da Terra e construir um futuro melhor é preciso que cada pessoa cuide bem da vida que está ao seu redor e que cada nação desenvolva políticas públicas de sustentabilidade. Também se faz necessário que os governos unam forças para preservar todo o patrimônio de vida que existe em nosso planeta. Porém, não se pode abrir a ferida do conflito com desrespeito a soberania de cada nação. No caso da Amazônia, é sensato que todos os países estejam preocupados e que realmente despendam esforços, empenhos para ajudar a cuidá-la. Mas, respeitando a política territorial de cada país. Fonte: www.olharecologico.blogspot.com

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Amazônia III

Estado de devastação

Por Andreia Fanzeres

ois dias depois da divulgação dos números do desmatamento na Amazônia referentes ao mês de abril pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Instituto Centro deVida (ICV) e o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) lançaram suas aferições para o estado de Mato Grosso, monitorado mensalmente pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) desde 2006. O estudo só veio reforçar que, independentemente da metodologia de análise, todos concluem que as derrubadas continuam em ritmo acelerado no estado campeão da soja, da carne e da devastação. De acordo com os números do SAD, em abril Mato Grosso registrou 99 quilômetros quadrados de desmatamento, 52% a mais do que no mesmo mês do ano passado. Isso pode parecer pouco para quem no inicio desta semana recebeu a notícia de que o Inpe havia visualizado 794 quilômetros quadrados de desmates para o mesmo período. Mas não é.Acontece que, entre outras diferenças, o sistema DETER está considerando degradação progressiva e corte raso. “A função do DETER é emitir um alerta de que está acontecendo algum distúrbio na floresta, já no SAD só trabalhamos com corte raso”, explica Carlos Souza, pesquisador do Imazon. Ele acrescenta que esta não é a única distinção entre essas duas formas de perceber o desmatamento.

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“Nós trabalhamos com uma seqüência de imagens do satélite MODIS adquiridas num determinado período e o DETER já usa o que considera a melhor imagem para um certo ponto”, exemplifica. Ainda segundo as análises do SAD para Mato Grosso, de março a abril deste ano o desmatamento aumentou 62%. Já o acumulado dos quatro primeiros meses de 2008 mostra alta ainda maior: de 117% se comparada ao desempenho no mesmo período de 2007. De janeiro a abril do ano passado, Mato Grosso varou com 114 quilômetros quadrados de florestas.Agora foram 248 km2. Feliz Natal liderou com folga o ranking dos municípios que mais desmataram em Mato Grosso, com derrubadas de 27 quilômetros quadrados em abril. Itanhangá (13) eTabaporã (9), seguem no páreo junto com Nova Canaã do Norte, São Felix do Araguaia, Gaúcha do Norte, Nova Ubiratã,Aripuanã, Confresa e Terra Nova do Norte. Sem sombra de dúvida Como na avaliação do DETER, as nuvens também atrapalharam as análises do SAD e cobriram cerca de 11% de Mato Grosso. Por esse motivo, os pesquisadores lembram que suas conclusões podem estar ligeiramente subestimadas. A propósito, para que diminuam ainda mais as dúvidas sobre a eficácia do SAD, eles começaram a conferir, com imagens

de maior resolução, alguns polígonos de desmatamento que mais chamaram atenção, como foi o caso do assentamento Tapurah/Itanhgangá.“Esta é uma característica nova do SAD. Se tivermos imagens disponíveis dos satélites Landsat e Cibers, que agora são gratuitos, a gente baixa e faz a verificação”, explica Carlos Souza, do Imazon.“É uma validação praticamente perfeita”, comemora. Para os dados de abril, ela pôde ser feita em 95% das áreas vistas pelo SAD em Mato Grosso, ou 78 dos 82 polígonos de desmatamento identificados no estado. E, mais do que nunca, isso se torna um instrumento forte para combater os questionamentos do governador Blairo Maggi sobre a veracidade dos números do desmatamento.“Essa polêmica toda dos números nos ajuda a reforçar as metodologias e aí conseguimos mais credibilidade. Estamos bastante confiantes. Sempre fizemos essa validação, mas ela era mais limitada. Agora, os dados ficam sem sombra de dúvidas”, diz Carlos Souza. Leia boletim completo do SAD Mato Grosso. Fonte: http://arruda.rits.org.br/oeco/ servlet/newstorm.ns.presentation.Navig ationServlet?publicationCode=6&pageCo de=67&textCode=27792&date=current Date&contentType=html

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Ártigo

Em legítima defesa Por MARINA SILVA

NICIO MINHA participação neste espaço com enorme sentido de responsabilidade. Tenho a oportunidade diferenciada de usar um dos bens culturais mais preciosos: a exposição de idéias, base para o diálogo. Gostaria de compartilhá-la com os leitores e de, juntos, pensarmos o Brasil e reunirmos forças para ajudar a transformá-lo. Para começo de conversa, trato de um entrave para o crescimento do país: a postura ambígua do Estado frente ao nosso incomparável patrimônio natural. O Estado brasileiro criou medidas de proteção ambiental, muitas vezes em situações difíceis. Esse acúmulo alcança hoje limiar estratégico de inserção da variável ambiental no coração do processo de desenvolvimento. A sociedade entende esse momento, apóia, demanda. Diante disso, o Estado não pode se encolher diante do ponto a que ele mesmo chegou. Movimentos retrógrados, saudosistas do tempo da terra sem lei, fazem pressões e

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recebem acenos de possíveis flexibilizações. Mas a sociedade bloqueia e restringe esses acordos. A Amazônia é o maior exemplo. A opinião pública mantém o debate, banca o combate ao desmatamento, dá suporte para a manutenção da lei do licenciamento e para a não-flexibilização da legislação ambiental. O certo é que o Estado, em todos os seus níveis, não consegue utilizar o grande capital político de que dispõe para acompanhar o pique da sociedade. Ela cresceu, passou a perceber seus problemas de maneira mais complexa. O Estado cresceu, mas não amadureceu. Há agora uma discussão importante que resume tudo: é preciso dinheiro para implementar as medidas e normas criadas, porém a relatoria ambiental do Orçamento que está sendo discutido no Congresso foi entregue à bancada ruralista, cuja oposição às medidas de combate ao desmatamento é conhecida. Talvez tenha havido uma negociação para

assegurar aos aliados a relatoria das agendas de aceleração do crescimento. E o meio ambiente parece não ter tido a mesma prioridade. Boa parte do Estado ainda vê na política ambiental um mal necessário. Fala-se em compatibilizar desenvolvimento e meio ambiente, como se fossem adversários a serem conciliados. O Brasil não tem que compatibilizar, tem que buscar um crescimento econômico cuja concepção já contenha a conservação ambiental. Que não veja as áreas preservadas como partes "retiradas da produção" e, sim, como imprescindíveis à produção equilibrada e com alguma noção de bem público. Isso é possível? Se não for, para um país que ainda tem 60% do seu território com florestas, então é mesmo hora de aumentamos, em legítima defesa, nosso estado de alerta. Fonte: http://www1.folha.uol. com.br/fsp/opiniao/fz0906200806.htm

Nota do MST sobre a saída da Marina Silva ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, entregou em 13/ 05 uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na qual pede o seu desligamento do cargo, em caráter irrevogável. Na nossa avaliação, o governo Lula está em dívida com o povo brasileiro, com os movimentos sociais e ambientalistas em relação à sua política ambiental, especialmente com o apoio ao modelo do ag ronegócio. Abaixo, elencamos nove pontos sobre o tema nos último período:

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1. Foram aprovadas variedades de milho transgênico, que vão trazer enormes prejuízos para toda a agricultura familiar e camponesa. O milho tem uma fertilização aberta, com o pólen viajando a distâncias grandes, o que representa um risco de contaminação de um enorme estoque de sementes crioulas, com base genética ancestral dos povos indígenas. 2. Foram liberadas uma série de obras dentro do chamado PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), especialmente de usinas hidrelétricas, sem levar em consideração os impactos ambientais e sociais, como planos para o re-

assentamento das famílias atingidas por barragens. 3. A aprovação da MP-422 legaliza a grilagem de terras na Amazônia em propr iedades controladas de for ma irregular até 1.500 hectares, quando a Constituição Federal determinada apenas até 100 hectares. 4. O projeto de transposição do Rio São Francisco desconsidera as precauções com a preservação e ignora os impactos ambientais no leito do rio e nos canais. 5. As empresas de papel e celulose implementam projetos para a expansão da monocultura do eucalipto em imensas áreas, desde o Espírito Santo até o Rio Grande do Sul, desrespeitando a legislação brasileira com a instalação de desertos verdes. 6. A expansão da monocultura da cana-de-açúcar, para a produção e exportação do etanol, trará enormes prejuízos para o meio ambiente, em especial no estado de São Paulo e na região do Cerrado no centro-oeste do país. 7. Não há uma posição clara do governo contra o projeto do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), que reduz a área de floresta mínima por imóvel para 50% na re-

gião da Amazônia, sendo chamado pelos movimentos sociais de “Floresta Zero”. 8. O governo não se empenhou na fiscalização para garantir a aplicação da lei que determina que todos os alimentos transgênicos sejam rotulados com um símbolo para identificação e uma advertência. Com isso, poucas empresas cumprem a determinação legal. 9. As linhas da política para as florestas brasileiras não são claras e, com isso, diversos setores têm duvidas sobre sua eficácia, avaliando que algumas iniciativas podem contribuir para a desnacionalização e privatização de um patrimônio do povo brasileiro e da Nação. O MST avalia que a ministra do Meio Ambiente Marina Silva tinha posições pessoais contrárias a determinadas posições do governo. Não cabe ao Movimento julgar pessoas, mas analisar com profundidade as medidas tomadas nos últimos seis anos. Nesse sentido, o governo Lula está em dívida com o povo brasileiro em relação à sua política ambiental. Direção Nacional do MST www.mst.org.br

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Perfil

Carlos Minc: prós e contras

Por Vilmar Sidnei Demamam Berna

inc foi um dos mais brilhantes deputados estaduais do Brasil, com importantes conquistas na área ambiental. Ele foi um ótimo secretário de Ambiente para o Rio de Janeiro. Teve um excelente esforço de reformulação institucional, algo válido para a natureza.” - ex-secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Fábio Feldmann. (Fonte: O Eco)

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“O ponto mais importante da gestão do Minc como secretário, a meu ver, é a criação do Instituto Estadual do Ambiente, que deve sair em setembro. Neste órgão, estarão reunidos a Feema, a Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF). O trabalho será racionalizado, assim como o processo de licenciamento ambiental.”- Lizst Vieira, presidente do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. (Fonte: O Eco) “O governo promete a continuidade da linha adotada por Marina no Ministério do Meio Ambiente, mas não entregará a mercadoria, pois agirá como lhe convier. Além de não ter a força nem o simbolismo da antecessora, Carlos Minc responde politicamente ao governador Sérgio Cabral, cujo propósito primeiro é não desagradar ao presidente.” - Dora Kramer - Noção de limite (O Estado de S. Paulo - 15/5/2008) “Carlos Minc não é só -ou até aqui não foi só- um político/administrador de atividade ininterrupta, determinada e rápida. Minc conhece o seu assunto e nele tem idéias consolidadas. Se também tem disposição para concessões, ou não, é o que veremos agora.A ida de Carlos Minc para o governo federal segue uma regra que já se torna tradição: de um jeito ou de outro, o Rio perde. Secretário estadual de Meio Ambiente há um ano e quatro meses, Minc fez trabalho bom e assim reconhecido, inclusive pela disposição com que iniciou a recuperação de áreas ambientais maculadas por invasores ricos, sobretudo no litoral mais valorizado. Não era mes-

mo uma atividade que prospere no Rio.” - Janio de Freitas, jornalista “O licenciamento do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) realmente foi muito rápido, apesar do local não ser considerado o mais adequado para uma estrutura de tal porte. Mas a permissão tinha que sair de qualquer jeito, já que o presidente Lula viu o terreno do helicóptero e garantiu que o complexo seria instalado ali. A licença, nesse caso, foi basicamente abolida. O que Minc podia fazer era criar o máximo de restrições ecológicas possíveis. E isso ele fez.” - Dora Negreiros, do Instituto Baía de Guanabara (Fonte: O Eco) “O Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc deixou como legado de sua gestão no Estado do Rio de Janeiro a Lei Moto-serra que reduziu a área de mata atlântica de parque estadual beneficiando a especulação imobiliária, a lei que autoriza a implantação do deserto verde fluminense, a privatização de praias e dunas por resorts estrangeiros de alto luxo,o aumento das áreas de exclusão de pesca artesanal nas baías de Guanabara e de Sepetiba, a concessão de mais de 2 mil licenças sem critérios técnicos e legais transparentes e adequados, a facilitação do licenciamento de usina nuclear angra e a criação de política de licenciamento ambiental “fast food” entre outras mazelas e irregularidades que se espera não se espalhem pelo território nacional. Lamentavelmente, optou-se por substituir a Ministra seringueira Marina Silva por um midiático e pirotécnico vendilhão da natureza.” - Sérgio Ricardo é ambientalista fluminense, membro da Rede Alerta contra o deserto verde fluminense. “Carlos Minc Baumfeld, mais conhecido como Carlos Minc, é autor de uma importante lei que limitava em todo o território fluminense as plantações de eucalipto por considerar este plantio prejudicial ao meio ambiente.Tão logo foi nomeado pelo Governador Sergio Cabral para ocupar a Secretaria do Meio

Ambiente, Minc deu uma guinada de 180 graus e passou a apoiar a revogação da legislação de sua autoria que havia sido aprovada pela Assembléia Legislativa. Por este seu procedimento recebeu duras críticas dos defensores do meio ambiente, que não se conformaram com o fato de que graças ao próprio Minc a compensação com o reflorestamento baixou de 30 hectares para 10 hectares de mata nativa para cada cem de eucaliptos, permitindo que a Aracruz Celulose ingressasse com toda a força no Estado do Rio de Janeiro.” Mário Augusto Jakobskind é jornalista e escritor. Atualmente é correspondente do semanário uruguaio Brecha e membro do conselho editorial do Brasil de Fato. “O ministro Carlos Minc entrou para a reunião com Lula com uma arrogância verdadeiramente amazônica. Saiu do tamanhinho da mata ciliar do São Francisco. Pediu RS$ 1 bilhão. O presidente não deu. Pediu para afastar Mangabeira Unger do PAS (o PAC da Amazônia). O presidente não afastou. Pediu a ajuda das Forças Armadas no combate aos crimes ambientais. O presidente não topou. O novo ministro fez lá algumas performances e deu no pé, não sem dizer uma frase avassaladora: na sua gestão,“sim é sim” e “não é não”. Huuummm... No governo Lula, o triunfo da tautologia não deixa de ser um avanço... Uma verdadeira crônica de irrelevâncias e desatinos. Quando não se sabe aonde ir, qualquer lugar serve. O importante é que seja sempre com muito barulho.” - Reinaldo Azevedo, jornalista

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Ecoleitura

O desafio de escolher: uma proposta de projeto pedagógico

Por Beatriz Tavares de Souza

escritor e ambientalistaVilmar Sidnei Demamam Berna oferece agora aos leitores um tema ligado à difícil tarefa de escolher, na perspectiva do que pode ser melhor ou pior para a nossa vida, permitindo fazer, com os alunos, reflexões sobre os diversos tipos de decisões que muitas vezes temos de tomar, desde as mais simples do nosso cotidiano, até aquelas que envolvem o nosso futuro profissional, familiar e tudo mais que existe no mundo. O autor procura destacar a importância que há em nossas atitudes decisivas e as conseqüências que elas poderão trazer para algum momento da vida ou até mesmo para a vida inteira, por isso, mostra que diante de uma escolha é necessário que se faça com consciência e com muita cautela. Justificativa: Livro cuja abordagem temática se refere à prática social e suas relações, que propicia desenvolver atividades onde se pode explorar conhecimentos sobre sentimentos, crescimento e a capacidade humana de sofrer mudanças. Projeto Pedagógico: Como superar, de modo consciente, o desafio de escolher os nossos diversos caminhos. Temas Secundários: Sentimento, liberdade, decisão/atitude, vida, mudança, relacionamento, profissão, família e futuro. Temas Transversais: Ética, meio

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ambiente, pluralidade cultural, saúde, orientação sexual e trabalho. Indicação das séries: Ciclo 2: indicado para alunos do 6º ao 9º ano. Objetivos: Levar o aluno a ser um leitor capaz de produzir seus próprios textos orais e escritos, dando sentido e relacionando expressões, cores e paisagem ao tema abordado; Estabelecer relação entre texto da obra e a realidade individual de cada um; Levar o aluno a compreender e atuar de maneira crítica e reflexiva diante de debates sobre valores e regras sociais, por meio de conhecimentos e orientação pedagógica, em que possam eleger – de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – princípios e se pautar por eles. Portanto, leválos a reconhecer a presença desses valores morais na vida individual e coletiva, sob o ponto de vista de que são considerados como fundamentais na realização do bem comum. Com isso, procura também levar os alunos a ter respeito próprio, sabendo reconhecer a sua capacidade de escolher e de realizar seu projeto de vida, bem como a assumir, de acordo com seu próprio juízo de valor, posições de repúdio às injustiças e discriminações em relação às diferenças entre as pessoas e a degradação socioambiental. Proposta de Atividades: Antes de trabalhar a leitura com os alunos, sugerimos que o professor selecione diferentes textos de jornais ou revistas ligados ao conteúdo temático da obra. Programe visitas à biblioteca da escola ou do município com a turma Durante a leitura Sugerimos que leia com os alunos em voz alta, faça paradas estratégicas para explicar conceitos. Ensine compreensão textual, ajudandoos a relacionar o título, a capa com o conteúdo da obra. Permita que eles levantem hipóteses, antecipando com questionamentos do que possa estar escrito no livro com esse título e suas ilustrações. Amplie essa leitura buscando no interior das páginas o sentido das imagens que estão ilustrando o texto. Pergunte: Quais as imagens das ilustrações do livro

que mais se aproximam do “desafio de escolher”? Procure outra imagem, a que mais te chamou a atenção, e quais os sentidos que essa imagem desperta em você? Atividades Comente e relacione diferentes textos de reportagens extraídos de jornais e de revistas – com diferentes linguagens, verbal, visual – e escolha aqueles ligados ao meio ambiente e propicie condições para leitura desses textos e debates sobre nossas atitudes em relação às questões ligadas à saúde, preservação ambiental, crime etc. Sugerimos que forme grupos de três ou quatro alunos e dê um tema para cada grupo, concedendo um tempo para eles discutirem sobre quais foram até agora as atitudes de escolha para desenvolver mudanças em relação, por exemplo: ao desperdício de alimento, de água, de material etc. no seu convívio social. Sugerimos orientar os alunos desse grupo a desenvolver uma atividade de atuação no meio, que visem resultados voltados para a vida comunitária, seja no interior da classe, no âmbito da escola ou da comunidade. Algo que envolve a questão do lixo e do desperdício. Propicie espaço para os alunos mostrar projetos baseados em nossas atitudes de escolha como cidadãos. Projetos para o reaproveitamento de materiais ou de alimentos e de água.Também os incentive a desenvolver plantio de árvores, mostrando que elas podem propiciar maior qualidade ambiental. Crie condições para que os alunos mostrem resultados significativos, que mostre também o que isso representa para nós diante dessas decisões. Essas emoções deverão servir de exemplo para que se tornem práticas executadas também por outros alunos e por outros envolvidos no contexto da escola. Nas questões ligadas à profissão, outro grupo poderá discutir sobre como a ética é fundamental no exercício profissional, e, ainda, questionar como a nossa sociedade atualmente está se comportando em relação ao seu compro-

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Ecoleitura misso de cumprir seu dever com seu trabalho em relação ao outro. Sugerimos explorar a ausência da ética no meio econômico, na saúde, buscando fatos que mostram o número expressivo de erros médicos, de condutas hospitalares, de descaso em relação às doenças contagiosas, por exemplo,AIDS, ou a proliferação do mosquito da dengue; dos lucros exorbitantes dos bancos, dos juros altos cobrados na esfera comercial etc. Também a ausência de valores morais nos meios de comunicação em massa, lembrando de alguns quadros apresentados por novelas nos quais sugerem sexo, nudez, consumo. Os setores político e jurídico têm mostrado falta de ética, trazendo, como exemplo, pagamentos de propinas, subornos, casos de não condenação de criminosos, etc. Lance pergunta para abrir um debate:“Em sua opinião, a escolha desta ou daquela profissão, nos dias de hoje, está baseada no talento/vocação ou na possibilidade de ganhar muito dinheiro?” No Brasil, com base nas notícias sobre questões políticas, judiciárias, segurança de pública, em sua opinião, qual o critério utilizado para um cidadão se tornar um homem público, por exemplo, um prefeito, deputado, senador etc.?Você considera a política no Brasil vista como uma profissão? Por quê? Com base nesta frase “O povo só terá uma nação justa se e tão – somente prevalecer a ética naqueles que a governa”, comente algum fato político recente que mais lhe chamou a atenção e faça uma relação com esta frase. Sobre questões ligadas à saúde, em outro grupo, os alunos poderão desenvolver um trabalho sobre a imprudência de não preservar o corpo, baseada em nossas atitudes, como: fazer sexo sem as devidas precauções do uso de preservativos; ou fazer uso indiscriminado de bebidas alcoólicas, fumo ou outros tipos de drogas; ou ainda dirigir sem estar habilitado, ou com velocidade em excesso, ou avançar um sinal de trânsito etc. Como sugestão, explore com o grupo a imprudência que há de não se preservar quando escolhemos uso de roupas que ferem o próprio pudor e quais as conseqüências que poderão nos acarretar. Mostre aos alunos que o modo de se vestir, bem como o de se comportar,

tanto em gestos como em linguagem, traz muita influência para a nossa vida e isso, de modo implícito ou não, se tornou ponto importante no critério de seleção das empresas durante o pleito de um emprego. Assim como também sabemos que esses comportamentos estão ligados ao relacionamento social, sem deixar de mencionar que de algum modo também se faz valer em questões de defesa ou condenação ligadas ao abuso e assédio sexual. Leve também exemplos de jovens da música, do cinema, da televisão e do esporte que por terem decidido escolher os caminhos dos vícios, como a velocidade, o álcool, ou outras drogas, se tornaram derrotados com perdas de emprego, profissão, família ou até pagando o preço com a própria morte. Em muitos casos, se tornando inválidos, com seqüelas pelo resto de suas vidas. Lance, como sugestão, estas perguntas como desafio: Em sua opinião, e sob o ponto de vista de que todos têm a liberdade de decidir e escolher, o que levaria uma garota ou um garoto a posar nu para as revistas, como a PLAYBOY? No mesmo sentido, o que levaria uma garota ou um garoto a se prostituir? Quais as “doenças sexuais” transmissíveis de que você já ouviu falar? Para outro grupo, sugerimos que busquem nas reportagens assuntos que abordam a criminalidade. Solicite aos alunos que relacionem o que leram no jornal/revista ao texto da página 10 do livro.Também os ajude a explorar o sentido interpretativo dos textos das páginas 6 e 7. Na página 25, o autor, de modo implícito, nos faz recordar de algumas pessoas da atualidade, que morreram por causa da degradação ambiental, da exclusão social e da miséria, escolhendo dizer “não” aos interesses poderosos e ao modelo predatório. Propomos, então, que os alunos deste grupo busquem na história da humanidade fatos que mostram mudanças na ciência, na política e na religião, como resultado da escolha de alguns, mesmo correndo o risco de ser preso ou condenado morte. Solicite que pesquisem sobre a vida, por exemplo, de Chico Mendes, da Irmã Doroth e relacione a vida deles,

sob a perspectiva de suas escolhas, a alguma reportagem que fala sobre outro tipo de criminalidade. Lance um desafio: Proponha que o grupo faça relação entre o tema criminalidade, a vida de Chico Mendes e Irmã Doroth às seguintes frases:“A mesma mão que cumprimenta também pode desferir um soco” ou “Quem semeia ventos, colhe tempestades”. Depois dessas Leituras e Reflexões Nota-se que o autor mostra, em toda a sua obra, a difícil tarefa de escolher, pois segundo ele, a atitude de escolher é também a de correr risco. Então, a partir das discussões desenvolvidas por cada grupo, sugerimos que propicie debates entre os alunos, levando-os a elaborar sentido para o texto da página 37 e a refletir sobre as seguintes questões: Qual seria, em sua opinião, o melhor caminho para mudar uma difícil situação: Colocar a culpa nos outros? Enfrentar sozinho uma luta? Unir-se às outras pessoas? E quais são os principais agentes que estão sempre influenciando as decisões das nossas escolhas: Aquilo que todo mundo faz? O que está na moda? O modo que as estrelas de TV agem? O que os nossos pais pensam? Assim, com base no que foi lido e discutido sobre o desafio de escolher, qual seria então o principal fator que hoje impede alguém de mudar de atitude? E como posso saber se minhas escolhas me conduzirão ao que é considerado bom para a vida? Sugestões para avaliação: Participação nas atividades, atendimento às propostas de trabalho, desempenho nos trabalhos em grupo, debates e criatividade. Ressaltamos que as atividades aqui propostas têm por objetivo cooperar oferecendo subsídios para a mediação do trabalho pedagógico com a obra O desafio de escolher, da PAULUS Editora, e que não pretendem ser determinantes do trabalho desenvolvido em sala de aula, tendo em vista que somente o professor conhece as necessidades específicas de sua turma. Fonte: www.paulus.com.br/servicos/detalha_professor.php?id=2756 www.portaldomeioambiente.org.br/ vilmarberna/

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ECOLOGIA HUMANA

Desigualdades: a ameaça da Vida

“O homem senhor e dono da natureza não é uma definição ocidental que se contraporia a todas as outras, é uma figura provisória que define por um tempo esta cultura entre outras, na qual viveram nossos pais, e na qual não viverão nossos filhos” (LATOUR, 1998).

e acordo com o manifesto ecossocialista (1991) vivemos numa sociedade que gera riqueza (questionável) para poucos, miséria para muitos e degradação ambiental para todos, pondo em risco, inclusive, a própria sobrevivência do planeta. A partir de uma visão da Terra como um sistema auto-regulador James Lovelock (2006) expõe a teoria de Gaia, que vê o sistema dotado de um objetivo: a manutenção do equilíbrio das condições de superfície para que sejam sempre as mais favoráveis possíveis a vida atual. Neste sentido discutiremos neste texto de maneira sucinta a relação do ambiente e a da sociedade, de forma que a consciência e a cidadania planetária sejam despertadas para enfim acordar e caminhar rumo a transformação da sociedade. Partimos da discussão que Bruno Latour, desenvolve na atualidade acerca do conceito de meio-ambiente, apresentando-o como paradoxal, pois dele se pode extrair dois sentidos: o meio-ambiente como união entre conjunto e seu complementar designa tudo que não nos diz respeito – a infinita reserva ou depósito infinito de nossas ações – e designa tudo que deixou de nos cercar para passar a nos invadir e a nos dizer respeito. O exemplo clássico de Latour é a camada de ozônio: a camada de ozônio era uma parte de nosso meio-ambiente, enquanto estava afastada do ato prático de apertar o aerosol; agora ela faz parte do nosso ambiente, pois temos a percepção de que apertar o aerosol traz conseqüências e, por este motivo, nós ficamos incomodados. Devido à polarização de natureza e cultura, os modernos não en-

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xergavam as misturas, as hibridações. A visão fragmentada e reducionista contemporânea deve ser questionada acerca de efetivar uma articulação entre a comunidade científica, o movimento ambientalista e o movimento social e sindical, responsabilizando a sociedade como os agentes da transformação social. Para Gonçalves, 1999, o movimento ecológico, como todo movimento social e político, não é um movimento neutro. Nele também, como movimento complexo e pluralista, se manifestam os interesses das grandes corporações. É nesse sentido que Moacir Gadotti destaca que o “discurso ecológico” pode ter sido por muitas vezes manipulado pelo capital, mas a luta ecológica não. Ela não é elitista. E exemplifica por meio do texto escrito sobre a Carta da Terra em 1994 por Hebert de Souza, o Betinho, que chama a atenção para que a discussão da Carta não fique num plano puramente idealístico ou idealista, mas procure tornar-se um instrumento de luta em favor daqueles que não têm nada e que, principalmente não tem terra (GADOTTI, 2000). Os fatos apontam para a insustentabilidade do planeta e longe das políticas paliativas, assistencialistas e/ou (como se convencionou chamar pelo sistema estabelecido) de responsabilidade social, as mudanças nas atitudes da sociedade são urgentes. Principalmente no que diz respeito ao consumo, aos modelos de produção, ao grau de dependência nas relações intersetoriais, enfim aos fatores que compõe este processo de modernização imposto pela hegemonia do capital os quais ocasionam a destruição do meio ambiente. Segundo Leonardo Boff, 1999, existem dois modos de ser-no-mundo: o trabalho, pelo qual modelamos e intervimos no mundo, e o cuidado, pelo qual nos sentimos responsáveis por ele. O cuidado exige ternura, carinho, afeto, compaixão e renúncia ao seu domínio e serve de crítica à nossa civilização agonizante e também de princípio inspira-

dor de um novo paradigma de convivialidade. O desequilíbrio mental e o desequilíbrio do meio-ambiente remetem a descrença no futuro, como se o imediatismo do sistema capital tivesse sido incorporado quase que naturalmente pelos povos. As futuras gerações dependem deste nosso despertar em relação ao compromisso que assumimos enquanto ser humano, e nesse sentido amplo, distante do reducionismo contemporâneo, podemos dizer que a Terra está gritando e quem grita com ela são seus filhos que buscam alternativas para que de fato um outro mundo seja possível.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Por Natalia Freire Bellentani natfbe@gmail.com

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BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano, compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 1999. GADOTTI, M. Pedagogia da Terra. São Paulo: Peirópolis, 2000. GONÇALVES C. W. P. Os (des)caminhos do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 1999. GONÇALVES C.W. P. Os efeitos do capitalismo no meio ambiente. 2006. LATOUR B., SCHWARTZ C. & CHARVOLIN (1998) Crise dos meios ambientes, desafios às ciências humanas. In: ARAÚJO, H.R (Org.).Tecnociência e cultura: ensaio sobre o tempo presente.São Paulo: Estação Liberdade, pp. 91-125. LATOUR, B. (1994) Jamais fomos modernos. São Paulo: Editora 34. LOVELOCK, J. A vingança de gaia. Rio de Janeiro:intrínseca, 2006.


Água

Mais de 34 milhões vivem sem acesso à coleta de esgoto nas cidades ma pesquisa divulgada em 04/ 06, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que 34,5 milhões de brasileiros vivem sem acesso à coleta de esgoto nas áreas urbanas. O número é o resultado de um crescimento de 3,2% na cobertura dos serviços de saneamento no país, em relação a 2001. No entanto, coloca o país longe de alcançar o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que busca reduzir à metade a proporção da população sem acesso permanente a esgotamento sanitário até 2015. Já a meta de reduzir, em 50%, o número de pessoas sem acesso a água potável deve ser alcançado em breve, segundo a pesquisadora do Ipea, Maria da Piedade. “Considerando que a proporção da população urbana com cobertura pelos serviços de abastecimento de água por rede geral canalizada no interior do domicílio era, em 1992, de 82,3%, a meta para 2015 é alcançar 91,2% da população urbana. Com o ritmo de crescimento, de 0,61%, entre 1992 e 2006, o Brasil logo deverá atingir a

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meta referente ao acesso à água potável nas áreas urbanas”, disse Piedade. Mas, também segundo o Ipea, o governo brasileiro busca alcançar, em quatro anos, a meta relativa a saneamento dentro do objetivo de garantir a sustentabilidade ambiental, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (Onu) como um dos Objetivos do Milênio. A falta de saneamento adequado expressa, tanto em relação à região, quanto em relação à raça, as desigualdades e o preconceito no Brasil. De acordo com o Ipea, a falta de saneamento básico atinge seis vezes mais pessoas das cidades do Norte, e quatro vezes mais as do Nordeste, se comparadas à população do Sudeste. Mas foi na região Norte que houve o maior avanço no número de pessoas com acesso a saneamento básico: passando de 66,8% - em 2001 -, para 59,5%, em 2006. Apesar dos 3,2% de avanço na cobertura dos serviços de saneamento terem sido, em maior parte, entre a população negra, é ela ainda que sofre “em uma proporção quase 2 vezes maior com a

oferta insuficiente desses serviços, quando comparados com os brancos. De modo que as desigualdades também se fazem notar sob a perspectiva racial”, acrescentou o estudo. Os dados da pesquisa apontam que 73,2% dos brasileiros têm acesso simultâneo aos serviços de saneamento. Enquanto, os serviços de água canalizada chegam à taxa de 91%, os serviços de esgotamento sanitário alcançam 77,8% e a coleta de lixo beneficia 97,1% da população urbana brasileira. Em relação à habitação, a pesquisa do Ipea disse que, para 13,2 milhões de pessoas, a razão de pessoas por dormitório é de três pessoas. Assim, há uma superlotação nos domicílios urbanos.Além disso, parte da população brasileira tem ônus excessivo com aluguel, porque mais de cinco milhões de indivíduos gastam mais de 30% da renda em aluguel. Enquanto a irregularidade fundiária atinge 7,6 milhões. Fonte: Adital - Notícias [agencia@adital.com.br]

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Pesquisa I

Brasileiro sente-se incapaz de mudar crise ambiental Estudo da Market Analysis aponta que 52% dos cidadãos não vêem mudanças climáticas como problema grave enquanto 46% se preocupam com a situação

Market Analysis, instituto de pesquisa e opinião pública, apresenta os resultados do estudo “Os Brasileiros Diante das Mudanças Climáticas – Imaginando o Impacto do Aquecimento Global”. Foram entrevistados 802 adultos, pessoalmente no domicilio do entrevistado. Constatou-se que as pessoas sentem-se mais alarmadas do que informadas, enquanto o discernimento entre o que pode e deve ser feito está sujeito a ambigüidades e dúvidas Para se chegar a esta conclusão, foi analisada a visão da população diante do quadro de conseqüências cotidianas, propondo reflexão sobre a percepção do fenômeno ambiental e a capacidade de mudar esta situação. A inquietação sobre os prováveis efeitos negativos derivados do aquecimen-

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to global fica clara quando se expõem questões como problemas de saúde humana, secas e escassez de recursos como água potável, perda de flora e fauna com a extinção de várias espécies, aumento do nível do mar e padrões climáticos extremos.Além de apontar para a combinação de alguns destes pontos ou de todos eles juntos, o fator mais temido e esperado pelo brasileiro é a seca com a escassez de água (23%), seguido pela extinção de espécies (16%) e um clima cada vez mais radical (14%). Segundo Fabián Echegaray, diretor da Market Analysis, os consumidores do país revelam um quadro misto de certezas e conflitos sobre o desafio da sustentabilidade ambiental. “Apesar de as opiniões estarem divididas, – 52% não acreditam que as mudanças climáticas sejam um problema tão grave, enquanto 46% apresentam real preocupação com o assunto –, os brasileiros emergem como o povo mais autoconfiante sobre o tema entre os que pertencem a socie-

dades em desenvolvimento”, afirma Echegaray.“Existe uma fraca associação entre perceber o fenômeno ambiental como crítico no plano pessoal e se sentir capaz de mudar a situação”, contrapõe. No Brasil, 40% das pessoas sentemse suficientemente competentes para realizar mudanças pessoais que ajudam a alterar a desordem ambiental. Porém, ao focar naqueles que exibem fortes percepções sobre o assunto, a incidência atinge apenas 16,1%, considerados como a minoria consciente e efetivamente mobilizada. Este grupo se diferencia dos demais pelo maior nível de informação sobre o aquecimento global, e por seu alinhamento favorável com as ações de ONGs, especialmente se ambientais ou filantrópicas. Para mais informações, acesse: www.s2.com.br ou www.marketanalysis.com.br.

Co2 na atmosfera bateu novo recorde!

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Pesquisa II

Jovens brasileiros são mais otimistas em relação ao aquecimento global Pesquisa realizada em 20 países mostra que adolescentes estão preocupados com as mudanças climáticas, e muitos acham que ainda é tempo de frear o aquecimento global.

Habbo Hotel (www.habbo. com.br), comunidade virtual teen, descobriu que os adolescentes brasileiros estão muito conscientes dos perigos das mudanças climáticas no planeta. Por meio de uma pesquisa realizada pela internet no começo do ano com cerca de 50 mil jovens em 20 países, os usuários do jogo manifestaram suas opiniões sobre questões relacionadas com o aquecimento global, ações que praticam para ajudar na resolução do problema e as percepções sobre quem seriam os grandes culpados por esta situação. Cerca de 1.500 usuários da comunidade em português do Habbo Hotel responderam às questões e revelaram que as crianças brasileiras e portuguesas são incisivas quanto às questões levantadas e mais otimistas quando o assunto é a possibilidade de reverter os problemas climáticos. Brasil é a nação mais preocupada com o aquecimento global; 73% acreditam que ainda é possível reverter o processo O jovem brasileiro se destaca quanto à seriedade com a qual vê o problema climático. Enquanto a média global no assunto é de 56%, 92% dos brasileiros

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se dizem preocupados com o aquecimento global, e 91% com a poluição e outras questões ambientais. 76% afirmam que o aquecimento global é um problema sério. Quando perguntados sobre como cada governo vê a situação, 56% dos nossos jovens afirmaram que eles se preocupam, enquanto a média dos outros países não ultrapassa os 33%. Os jovens mais conscientes do papel de seu próprio país na emissão de poluentes são os japoneses, seguidos dos franceses e dos americanos. 33% dos nossos jovens concordam plenamente que o Brasil polui muito, e 61% discordam que o fenômeno vai poupar o país (72% acreditam que serão afetados de maneira negativa). Quando a questão é a medida do conhecimento, os brasileiros disparam: 72% afirmam que sabem o suficiente sobre o assunto e sobre como preveni-lo, enquanto apenas 56% do resto do mundo pode afirmar o mesmo. E é no otimismo que se manifesta a maior vantagem do brasileiro: 73% dos adolescentes acreditam que ainda é possível frear o aquecimento global, ao passo que 64% das outras nacionalidades têm a mesma opinião. Muita conversa sobre o assunto: a família brasileira é a que mais age em prol do meio-ambiente. Os brasileiros se mostraram dispostos a mudar suas atitudes que influenciem diretamente na mudança climática. Em todo

o mundo, os jovens já estão acostumados a desligar a TV quando não estiver em uso (87% no Brasil) e a apagar a luz ao sair de uma sala (81% no Brasil), e nosso país também se destacou na utilização de lâmpadas frias -mais econômicas- em casa, estando 15% acima da média mundial. O estudo também mostrou que, apesar de apenas 53% dos brasileiros afirmarem que praticam a reciclagem, 74% estariam dispostos a fazê-lo pelo bem do meio-ambiente. Nós também somos o país que mais discute sobre o assunto: 62% dos brasileiros afirmam que conversam com os amigos no sentido de conscientizá-los, enquanto a média mundial é apenas de 45%. Esses dados mostram que, tanto na escola como em casa, os adolescentes estão cada vez mais familiarizados com o tema. É por isso que 22% dos pesquisados brasileiros consideram a escola como ambiente adequado para reunir informações sobre o assunto – a segunda maior incidência da resposta, ficando atrás apenas do Canadá. Quanto à atitude dos pais, 60% das crianças brasileiras afirmam que eles se preocupam com o meio ambiente. A média geral, em relação à mesma pergunta, computou apenas 48%. Mais informações: Linhas&Laudas Comunicação www.linhaselaudas.com.br Tiago Agostini, tiago@linhaselaudas. com.br , Tel. (11) 3801-1277

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Comunicação Ambiental

A visão dos jornalistas engajados no movimento ambiental

Por Rafaela Lobato Fernandes

jornalismo ambiental surge de uma necessidade real: a sociedade cobra informação correta sobre os acontecimentos ambientais. Neste caso, a cobertura ambiental terá, assombrosamente, um papel ainda maior, que certamente influenciará as mais importantes decisões dos próximos anos. “O jornalismo ambiental é uma especialização do jornalismo e ao contrário do que parece, não se restringe a preservação do meio ambiente. Ele vai tratar assuntos variados desde ecossistemas à economia”. Para o jornalista e escritor Sérgio Villas Boas o jornalismo ambiental tem o papel de despertar consciências: “O meio ambiente é um setor de cobertura jornalística que trafega entre a economia, a política, a ciência e a cultura. O tema exige visão sistêmica e habilidade para quebrar a frieza dos fatos, estabelecer nexos, despertar consciências. Os autênticos jornalistas dessa área alimentam, no fundo, um ideal: defender todas as formas de vida.”

ser mais freqüente devido ao trabalho dos ecologistas”. (BELMONTE, 2004) No Brasil, o jornalismo ambiental chegou recentemente às universidades, a disciplina foi integrada aos cursos de graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Para o jornalista Wilson Bueno da Costa o jornalismo ambiental atravessa um momento de transição: “A migração das novas gerações para a Internet, o fortalecimento das rádios comunitárias e o surgimento de vigorosos jornais locais; a ampliação do debate nas escolas de jornalismo, o aumento da consciência dos consumidores, a competência das ONGs e a inevitável necessidade de compatibilizar desenvolvimento e respeito ao meio ambiente farão surgir alternativas novas para o jornalismo ambiental.” Hoje, a informação ambiental está disponível em diversos veículos, nos programas de tv, rádio, jornais, revistas e sites que podem ser especializados ou não, tais como Repórter Eco (programa de TV), Conexão-Verde (programa de rádio),Terramérica (jornal impresso e digital), Eco 21 (revista especializada), Agência Envolverde (sites com notícias ambientais), dentre muitos outros. Há uma crescente oferta de sites especializados no tema ambiental: www.portal domeioambiente.org.br (Portal do Meio Ambiente), www.ecoagencia. com.br (Eco Agência), www.oeco. com.br ( O Eco), www.riosvivos.org.br (Rios vivos), www.estacaovida.org.br (Estação Vida), www.amazonia.org.br (Amazônia) e centenas de outros.

A atuação das organizações não governamentais (ONGs) e dos ecologistas é fundamental para a maior freqüência das notícias ambientais. Eles desempenham um papel fundamental porque estão em contato direto com as comunidades locais e conhecem o dia-a-dia da região. “Nos lugares onde ONGs ambientalistas são mais atuantes e organizadas, o noticiário ambiental tende a

Jornalistas engajados na causa ambiental O engajamento é um assunto polêmico entre os jornalistas ambientais.Até que ponto o jornalista pode estar envolvido nesta importante causa, o fato de participar do movimento ambiental não turvaria demais sua visão? Confira trechos da entrevista realizada com os alguns dos expoentes profissionais do

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jornalismo ambiental: É possível fazer jornalismo e ao mesmo tempo lutar por uma causa? Lúcio Flávio Pinto: Sim é possível. No caso ambiental é desejável. A gravidade dos problemas exige uma tomada de posição do jornalista e de toda a sociedade. Na verdade, não deve ser uma causa apenas do jornalista, também dele, mas de todos.Acho, no entanto, que a palavra não é lutar por uma causa, mas cooperar e tecer uma rede de apoio para construir uma outra maneira de olha o mundo, mais holística e sistêmica, mais integrada, menos dual. Regina Scharf: Trata-se de um paradoxo: no momento em que você decide lutar ativamente, torna-se tendencioso e soa proselitista. Portanto, não convence ninguém. Por outro lado, se for ético e buscar ouvir todas as partes envolvidas (não apenas aquelas que são fáceis e óbvias), fornecerá suficiente informação ao leitor para que ele se torne mais consciente e engajado, de modo que terá mais equilíbrio e solidez para lutar por uma causa justa. Vilmar Berna: Precisamos nos engajar nas lutas de setores de nossa sociedade para, por meio da democratização da informação ambiental, contribuir para inverter a rota suicida e injusta de nossa sociedade sobre o planeta. Qual deve ser o papel do jornalista ambiental? RobertoVillar Belmonte: O ponto de vista de qualquer jornalismo deve ser o da polifonia. Quanto mais gente falando melhor. Esta é a teoria. Na prática é que são elas. Como ouvir várias fontes, e não os especialistas de sempre, se falta repórter na redação, se não tem diária pra viagem, se não tem tempo para apuração? E quando existem as condições necessárias, como organizar de maneira interessante uma longa reportagem sem que ela fique com cara de um relatório burocrático? A narrativa tem que ser humana, recheada de vida e emoção. Como fazer? Acho que as res-

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Comunicação Ambiental postas estão nas técnicas literárias. Regina Scharf: Sobretudo expor os vários lados do problema, as várias forças envolvidas e a informação que leve à conscientização. Lúcio Flávio Pinto: Perguntar, ler, falar, perguntar mais, criticar, concordar, discutir, narrar, contar história. Este é o papel de qualquer jornalista. É possível lidar com esse segmento sem se tornar um ativista? Vilmar Berna: Tudo se resume a escolhas e valores. Como é possível a um correspondente de guerra constatar atrocidades contra civis inocentes e fazer de conta que não é com ele, que não pode fazer nada para ajudar, que deve permanecer “neutro” diante das agressões? Regina Scharf: Acho que sim. Lúcio Flávio Pinto: Todos temos que fazer todo o possível. Estou convencido que cada um de vocês se pergunta o que fazer. Eu lhes digo, façam o máximo que puderem. Eu tenho plantado árvores nas últimas três décadas.

ente, ou desqualificada, a percepção do público também estará prejudicada. E, sem informação como pode haver diálogo entre diferentes, como se estabelecerão parcerias em direção a um novo modelo de desenvolvimento sustentável, como será possível implementar a Agenda 21? Roberto Villar Belmonte: A Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental chegou ao seu limite. Ela precisa passar de uma rede informativa, com notícias e análises (a sua alma), mas que também possa efetivamente realizar ações e projetos. O financiamento da mídia ambiental é outro.A pesquisa também é fundamental. A criação de um Instituto Brasileiro de Comunicação Ambiental parece ser um desafio acadêmico que também precisa ser pensado para a consolidação do campo. Lúcio Flávio Pinto: Conseguir tempo, dinheiro e espaço para fazer reporta-

gens de campo. Estudar muito, e em diversas fontes, os problemas ambientais globais: mudanças climáticas, extinção de espécies, falta de saneamento, poluição atmosférica, saúde alimentar. Regina Scharf: Cavar espaço nos veículos que efetivamente cheguem ao público, esse é o maior desafio do jornalismo ambiental, não adianta escrever coisas maravilhosas num blog que ninguém lê, por mais nobre que seja. NOTA DO EDITOR: Trecho da pesquisa sobre a relação do jornalista ambiental com seu principal objeto de trabalho, o meio ambiente, apresentada ao Regime de Iniciação Científica do Centro de Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu. O texto integral poder ser lido no www.portal domeioambiente.org.br

O engajamento colabora, dificulta o trabalho jornalístico? Thais Teixeira da Silva: O engajamento realmente interfere.Acredito que para melhor, pois aprendemos a conhecer, a buscar para informar. Há muito desconhecimento pelos profissionais que trabalham na grande imprensa. Já o contrário acontece na mídia especializada. Lúcio Flávio Pinto: Ajuda, pois nos dá força para enfrentarmos as dificuldades do dia-a-dia que são muitas. Por outro lado dificulta, pois há muitos lugares que tem preconceito com as questões ambientais. Regina Scharf: Se for excessivo, definitivamente atrapalha. Se for inexistente também. O meio termo é o caminho. Vilmar Berna: é relativo. O engajamento profissional não deve prejudicar o seu entendimento da realidade. Qual os desafios para o jornalismo ambiental? Vilmar Berna: A democratização da informação é um deles. As pessoas se mobilizam para exercer a sua cidadania, ou procuram estudar e se qualificar melhor, ou procuram mudar de comportamento a partir da informação. Se esta chega deturpada, em número insufici2008 - JUNHO - EDIÇÃO 016 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 23

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Pesquisa

Avaliação da percepção ambiental da sociedade frente ao conhecimento da legislação ambiental básica esquisa estruturada pelo Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA e realizada em junho de 2008 por 26 estudantes do curso de Direito da UNIVIX sob a coordenação do NEPA

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1. - Conhecimento Ambiental, preparo para o mercado de trabalho: 69,1% optaram por “As informações sobre Meio Ambiente são importantes para melhorar a formação”, evidenciando que ainda há segmentos que percebem, de forma diferente a importância dos assuntos ligados ao meio ambiente. 2 - Organização Não Governamental atuante na área ambiental no Município: apenas 7,2% afirmam “conhecer alguma Organização NãoGovernamental” no município onde residem. Fica claro que existe um significativo distanciamento entre as ONG’s ambientalistas e a sociedade. 3 - Credibilidade das Organizações Não Governamentais ligadas ao Meio ambiente: apesar do grande distanciamento entre as ONG’s e a sociedade, percebe-se um elevado nível de

confiança chegando a 73,7% da população pesquisada,, apesar de não conhecêlas. 4 - Hábito de navegar em sites ligados à Temática Meio Ambiente: apenas 12% indicaram que sim, sendo essa informação um possível outro indicador do distanciamento da sociedade em relação aos temas ambientais. 5 - Acesso a leitura de jornais: apenas 24,5% dos entrevistados, têm acesso diário a jornais, valendo ressaltar que uma parcela considerável da amostra pesquisada, 14,2%, afirmam não ter o costume de ler jornais. 6 - Responsabilidade de cuidar/ zelar pelo Meio Ambiente: nesse quesito tem-se um bom nível de percepção por parte da sociedade, onde 72,2% dos entrevistados afirmam que “todos” são responsáveis por zelar pelo Meio Ambiente 7 - Criação de Leis para proteger o Meio Ambiente: para 48,9% indicaram que a solução para a proteção do Meio Ambiente está em “aplicar as Leis existentes”, com 14,4% indicando que “precisamos de mais Leis.

8 - Preocupação das Associações Comunitárias com os Problemas Ambientais: as respostas evidenciam um baixo índice de avaliação (6,6%) do desempenho das lideranças comunitárias em termos do envolvimento com temas ligados ao Meio Ambiente. 9 - Participa ou já participou de atividades ligadas ao Meio Ambiente junto a comunidade: apenas 8,4% dos entrevistados percebem a importância da participação em atividades diretamente com ações ligadas ao Meio Ambiente em suas comunidades. 10 - Participação em Audiência Pública específica às relações do Meio Ambiente: apesar da importância do instrumento, apenas 10,6% admitem já ter participado de uma Audiência Pública. 11 - O Governo atua eficazmente em relação ao Meio Ambiente: 8,1% da amostra percebe positivamente as ações do governo na área ambiental 12 - Nível de percepção da poluição em relação à saúde da população local: 67,8% percebem que as doenças relacionadas à população podem ter correlação com a poluição.

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Pesquisa 13 - A atenção da mídia em relação aos assuntos ligados ao Meio ambiente: 15,8% acreditam que jornais, rádios e tv’s, dedicam atenção a assuntos relacionados ao Meio Ambiente. 14 - Primeira palavra associada ao termo “indústria”: quando perguntado sobre a primeira palavra que vem a cabeça quando se pensa em “Indústria”, entre as opções “Desenvolvimento”, “Lucro”, “Poluição”, “Emprego” e “Responsabilidade Social”, apesar 52,9% indicaram a opção “Poluição”. 15 - Critérios que orientam as compras: entre as opções “Preço”, “Qualidade”,“Embalagem”,“Preocupação Ambiental” e “Marca”, apenas 7,1% evidenciaram preocupação com as questões ambientais. 16 - Ação pró ativa - Identificação de ações ligadas ao ambiente: 44,5% admitem não identifica nenhuma ação que poderia ajudar e contribuir de forma positiva para o Meio Ambiente. 17 - Interesse em assuntos relacionados com Meio Ambiente: apenas 48,6% se interessam em buscar informações sobre assuntos ligados à temática ambiental. 18 - Grau de incômodo em relação a problemas ambientais: quando perguntado em relação ao município onde mora, o incomodo relacionado à poluição das águas e do ar, uso abusivo de agrotóxicos, esgotos não tratados, desmatamento, lixo não acondicionado adequadamente, poluição

visual e sonora, percebe-se que o que mais incomoda é a “poluição do ar” seguido “dos esgotos não tratados”. 19 - Ação adotada para mudar a situação de incômodo ambiental identificado: entre as opções “participaria de um abaixo-assinado”,“pediria ajuda a políticos”, “pediria ajuda as instituições de ensino”,“participariam de manifestação de rua”, “participaria de uma audiência pública”,“procuraria informar a imprensa”,“participaria de reunião convocada pela comunidade”, “faria filiação a um partido político envolvido com a causa ambiental”, “faria filiação a uma ONG’s”, observando-se a predominância da opção (38,2%) “participaria de abaixoassinado”. 20 - Interesse por informações sobre problemas ambientais específicos: entre os problemas ambientais apresentados, “efeito El Niño”, “engenharia genética”,“mudanças climáticas”,“desmatamento e desertificação”,“degradação das zonas costeiras”, “aumento dos níveis dos oceanos”, “emissão de gases dos veículos automóveis”, “redução da camada de ozônio”, “aumento da poluição do ar”, “exploração dos recursos hídricos”,“pobreza”, “poluição dos mares”, “exploração dos recursos marinhos”, “emissão de gases pelas indústrias”,“consumo de energia”, “perda de biodiversidade”,“disperdício de recursos naturais”, “poluição do solo”, percebe-se um equilíbrio entre os tópicos, mas chama a atenção os 35,3% interessados em conhecer um pouco mais sobre e”engenharia genética”. 21 - Maior responsável pela geração de impactos ambientais:

entre as opções, “Governo”, “Industria”, “Agricultura”, “Pecuária”, “Comércio” e “População”, o maior causador do impacto ambiental no município residente, são as “indústr ias”(50,8%). 22 - Pode haver desenvolvimento econômico e social sem impactos ambientais: 42,8% acreditam que sim. 23 - Aumento do nível de poluição em troca de mais empregos: 78,6% assinalaram a opção “não”. 24 - Coleta seletiva de lixo: apenas 34,4% adotam coleta seletiva do lixo, mostrando que muito se “fala” sobre coleta seletiva, porém pouco se “pratica”. 25 - O que é Agenda 21: apenas 4.2% sabem o que é do que se trata. Perfil dos Entrevistados Gênero: 59,6% do sexo feminino Idade: O valor médio de idade ficou entre 30 e 31 anos, com limites extremos entre 18 e 84 anos. Amostra: 1.028 pessoas dos municípios de Vitória,Vila Velha, Serra, Cariacica, Viana Cachoeiro de Itapemirim, Domingos Martins, Montanha e Aracruz. Distribuição da amostra: 856 questionários na Região da Grande Vitória, e 172 no Interior do Estado. Grau de escolaridade: 6,5% com Ensino Fundamental, 3,9% com Ensino Médio Técnico, 16,1% com Ensino Médio, 42, 5% com Ensino Superior Mais informações: Roosevelt S. Fernandes NEPA / UNIVIX roosevelt@ebrnet.com.br

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Energia

A miopia do debate energético

Por Heitor Scalambrini Costa*

debate energético brasileiro sofre um bloqueio praticamente impenetrável contra qualquer iniciativa a favor de fontes de energia elétrica, que não sejam geradas pelas mega-hidrelétricas. Por outro lado, não faltam ainda aqueles que consideram a opção nucleoelétrica limpa (?), por não emitir gases de efeito estufa, desconsiderando os efeitos de eventuais acidentes e do “lixo” produzido pelos reatores nucleares. O que se constata é que o mundo inteiro está investindo em energia eólica e fotovoltaica (eletricidade solar). O mercado de energia eólica cresceu 30%, em 2007. Na China, ele triplicou. No EUA, dobrou. Na Espanha cresceu 30%, com adição de 3.500 MW à rede. Na Alemanha, cresceu 8%, representando a adição de 1.700 MW ao parque eólico, totalizando quase 22.500 MW, o maior do mundo. No Brasil não chega a 250 MW de potência instalada. O setor de eletricidade solar cresce 45% ao ano, em média, no mundo, desde 2002. No ano passado, cresceu 50%, em relação a 2006. Significa que ele dobra de tamanho a cada dois anos.Também os investimentos em novas tecnologias para energia solar fotovoltaica crescem a ritmo acelerado. O custo da potência instalada da eletricidade solar caiu 9%, em termos reais, entre 2000 e 2006. Sua participação no total da capacidade elétrica instalada ainda é pequena, em comparação às fontes tradicionais, mas tem uma curva exponencial de crescimento que justifica cenários futuros que projeta uma fatia expressiva no sistema elétrico mundial. Cresce, também, o tamanho das usinas de eletricidade solar, e o número de casas conectadas à rede elétrica, que, atualmente, corresponde a mais de 1,5 milhões de unidades. Enquanto, no Brasil, se desqualifica qualquer referência ao uso da eletricidade de origem solar e eólica, no resto do mundo, esses dois setores estão entre os que mais crescem, os custos caem e

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as instalações se expandem. Em qualquer ambiente do setor, público ou privado, que se fale em energia solar ou eólica, como opção para aumentar a oferta de energia elétrica, é visto com preconceito, como uma excentricidade ambientalista. Os argumentos são sempre os mesmos: não dão escala - escala é uma das palavras mágicas do paradigma elétrico dominante - são muito caras. Como se as hidrelétricas fossem baratas, e que seus reservatórios não emitissem gases de efeito estufa, e nem atingissem as populações ribeirinhas. A realidade é que elas existem em um sistema que mistura subsídios cruzados, sem nenhuma transparência e com custos não contabilizados - entre eles o ambiental. O lobby hidrelétrico se baseia no fato que a maioria absoluta dos engenheiros e técnicos do setor é especializado em hidreletricidade e deve sua carreira profissional à indústria, que se formou, historicamente, em torno dos mega-projetos, desconsiderando as alternativas e com argumentos técnicos e econômicos, que parecem totalmente persuasivos, de que devemos continuar sendo assim para sempre. A outra força do poder hidrelétrico são as empreiteiras especializadas em grandes obras. Ambas as forças deste lobby se baseiam em uma mentalidade de grandes obras, legitimada por uma ideologia de desenvolvimento pela qual devemos fazer tudo grande, para ter um Brasil grande. O paradigma das mega-hidrelétricas nunca foi rompido, não apenas como centro do processo de constituição da indústria elétrica no Brasil, mas como proposta para o futuro, para o médio e longo prazo. Daí os resultados pífios do PROINFA, o Programa de Incentivo de Fontes Alternativas de Energia, que é gerenciado pela Eletrobrás como um projeto marginal vis-à-vis da política energética tradicional. Apesar de suas metas modestíssimas, produção de 3.300 MW a partir de biomassa, eólica e hídrica

(PCH´s), está empacado. Em cinco anos não realizou nem 40% das suas metas originais e jamais é mencionado como opção para enfrentar a crise do setor hidrelétrico. O debate energético, monopolizado pelo lobby hidrelétrico, não admite que o modelo atual está baseado em premissas antigas e equivocadas, precisando ser substituído por um projeto energético diferente, contemporâneo dos desafios e possibilidades do século XXI, para que tenhamos segurança energética de longo prazo, que diversifique e complemente a matriz energética nacional com fontes renováveis (energia eólica, solar, pequenas centrais hidrelétricas e biomassa),e que leve em conta um modelo de desenvolvimento sustentável tanto no aspecto econômico, como social e ambiental. Estamos na contra mão da historia. As estratégias energéticas hoje estão definidas, tendo como objetivo central buscar uma matriz energética com baixas emissões de gases que causam o efeito estufa, que leve em conta a diversificação com fontes renováveis de energia e livres dessa mentalidade das grandes obras, que centralizam a geração elétrica. É este debate que deve ser realizado pela sociedade brasileira. * Bacharel em Física , Instituto de Física “ Gleb Wattaghin” da UNICAMP com Mestrado no Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco – Recife, UFPE e doutorado na Commissariat à l’Energie Atomique-CEA, Centre d’Etudes de Cadarache et Laboratoire de Photoelectricité Faculté Saint-Jerôme/AixMarseille III, France. Possui mais de 50 trabalhos publicados em congressos, encontros, workshops e revistas. É coordenador do Núcleo de Apoio a Projetos de Energias Renováveis - NAPER da UFPE e da ONG Centro de Estudos e Projetos Naper Solar (filiada a ASA, RENOVE e a RTS) - heitorscosta @terra.com.br

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Comunição Ambiental

Novos rumos para a sustentabilidade e publicidade

Por Fabio Feldmann

pós denúncia formulada por um amplo grupo de autoridades governamentais e representantes da sociedade civil organizada, o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (CONAR), em histórica Sessão de Julgamento ocorrida semana passada, recomendou a sustação da veiculação de anúncios da Petrobras em que estão presentes as expressões “revolução ambiental” e “ambientalmente responsável”. Esta denúncia foi assinada pelas secretarias estaduais de meio ambiente de São Paulo e Minas Gerais, Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade, Secretaria do Verde e Meio Ambiente do Município de São Paulo, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Fundação SOS Mata Atlântica, Greenpeace, Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, Instituto Akatu, o Instituto Brasileiro de Advocacia Pública (IBAP) e o Movimento Nossa São Paulo: Outra Cidade e questionava junto ao Conselho a inconsistência existente entre a prática empresarial da Petrobras e seu apelo “ambientalmente responsável”, exposto recorrentemente em suas campanhas publicitárias. Os autores se fundamentaram no fato de que a Petrobras descumpre a legislação referente à etapa P-6 do Programa de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), que determina que o teor de enxofre no diesel deva ser de 50 partes por milhão de enxofre (ppm S) para veículos pesados a partir de 1º de janeiro de 2009. A Lei federal n. 8.723/93 e a Resolução CONAMA 315/02 determinam que o combustível de referência para os testes já deveria estar disponível desde 1º de janeiro de 2006 - o que não foi feito - a fim de possibilitar a adequação tecnológica da indústria automobilística.Trata-se de um

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cronograma de mais de seis anos, que além do prazo viável foi negociado com os atores envolvidos, como as montadoras, Petrobras e Agência Nacional do Petróleo (ANP). Atualmente o diesel fornecido e distribuído pela Petrobras contém entre 500 e 2000 ppm S em sua composição (metropolitano e interior, respectivamente), muito acima dos padrões ideais para a saúde humana e daqueles permitidos nos Estados Unidos (15 ppm S) e países europeus (10 ppm S a partir de 2009), por exemplo. Para se ter uma idéia, o óleo diesel é o principal responsável pela emissão de material particulado fino, um dos principais responsáveis por mortes e doenças cardio-respiratórias nas cidades do país e do mundo. No âmbito nacional, um estudo feito pelo Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP demonstrou, em estimativas conservadoras, que as partículas atmosféricas emitidas por motores diesel estão associados à mortalidade prematura de 6.100 brasileiros ao ano nas capitais avaliadas: São Paulo, Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte. O CONAR, sensível à questão e guardião da ética publicitária, analisou o tema em face de diversos artigos de seu Código, tanto em seu espírito tanto quanto na sua letra: que todo anúncio deve respeitar as leis do país, além de ser honesto e verdadeiro; deve ser preparado com o devido senso de responsabilidade social; que não devem abusar da confiança do consumidor ou explorar sua falta de conhecimento; que o anúncio deve conter uma apresentação verdadeira do produto oferecido; e que a publicidade não pode ficar alheia às atuais e prementes preocupações com a poluição do ar, águas e meio ambiente urbano. A partir dessa importante decisão do

CONAR pode-se esperar claramente que a sustentabilidade socioambiental tão anunciada por inúmeras empresas deva possuir uma correspondência com sua atividade, não bastando que se diga ser sustentável apenas a partir de poucas ações que não fazem parte de seu principal produto. A partir de agora, tem-se um precedente histórico na medida em que a sustentabilidade pode ser questionada em decorrência de comportamentos insustentáveis da empresa. Com a decisão, o CONAR deu um importante passo na direção de coibir a chamada “maquiagem verde”, além de sinalizar que há um patamar mínimo e comum que empresas e agências publicitárias devem respeitar se quiserem ser lembradas como “sustentáveis”. A decisão do CONAR é extremamente positiva, na medida em que criará um novo patamar sob o qual as empresas devem sustentar suas ações. Para dizer-se sustentável será necessário que realmente o seja, que tenha políticas e programas responsáveis e que todas as suas ações sejam pautadas por uma estratégia de sustentabilidade clara e transparente. O fato é simples: dizer-se sustentável é um caminho sem volta. * Fabio Feldmann é consultor, advogado, administrador de empresas, secretário executivo do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade e fundador da Fundação SOS Mata Atlântica. Foi deputado federal, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Dirige um escritório de consultoria, que trabalha com questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável. Fonte: http://terramagazine.terra.com.br/ interna/0,,OI2768381-EI11351,00. html

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Opinião Por Luiz Carlos Azenha

Ambientalista diz que com esse sistema econômico o mundo está a caminho do abismo

odem acrescentar o “ismo” que vocês quiserem. Na Venezuela dizem que é o socialismo do século 21. No Paraguai há tons de “cristianismo comunitário”. Idéias díspares que pipocam aqui e ali, a busca de uma saída, a constatação de que do jeito que está não dá. É óbvio que reproduzir o sistema econômico existente - em que a “liberdade individual” foi promovida com o objetivo de tornar uma criança de seis anos uma consumidora integral - não tem futuro. Nem o sistema, nem a criança. Aliás, no Brasil o cãozinho de estimação é um consumidor voraz e mesmo que ele não peça o dono às vezes gasta mais com ele do que com a “criadagem”. É só extrapolar o que vivemos hoje nas grandes cidades brasileiras para o mundo como um todo. É só pensar no “direito” de cada chinês e indiano a ter um automóvel cada. É só casar esse objetivo com a escassez de energia. É só constatar do que é capaz o capitalismo

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desvairado: o Reino Unido exporta 20 toneladas de água engarrafada por ano para a Austrália e importa outras 20 toneladas. Fonte: NewYork Times. Quanto custa em termos de energia essa viagem maluca da água “comoditizada”, como diz a Amyra (*)? Gus Speth, um ambientalista americano que é professor deYale e criou dois grupos importantes de defesa do meio ambiente - o Natural Resources Defense Council e o World Resources Institute - escreveu o livro “The Bridge at the Edge of the World” em que basicamente diz que não tem jeito. Ele escreve:“Metade das florestas tropicais e temperadas sumiram. Cerca de metade das wetlands também. Estimase que 90% dos peixes predadores grandes sumiram.Vinte por cento dos corais também.As espécies estão desaparecendo em um ritmo mil vezes mais rápido que o normal. Químicos tóxicos per-

sistentes podem ser encontrados às dúzias em cada um de nós.” Não li o livro, ainda. As resenhas dizem que ele propõe uma “mudança transformadora do próprio sistema.” Speth afirma que o pragmatismo e o incrementalismo dos ecologistas não leva a lugar algum.Talvez ele tenha visto uma edição recente da National Geographic. Na capa, o perigo do aquecimento solar. Na contracapa, um anúncio do gigante SUV da Chevrolet que foi escolhido “carro verde do ano”, uma banheira que queima 1 litro de gasolina a cada cinco quilômetros na cidade mas, se o dono achar uma bomba, pode ser abastecido com o álcool de milho. O triste é notar que no Brasil, da extrema-direita à extrema-esquerda, com raríssimas exceções, essas idéias não fazem parte do discurso político. Não são articuladas. O desenvolvimentismo com dinheiro do BNDES é o que temos de mais avançado. É nossa idéia de “progresso”. Progresso rumo a quê? Fonte: Blog do Azenha (http://www.viomundo.com.br/)

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Comentários do leitor: Ney Gastal

Rápida passagem da espécie humana pelo Planeta Terra om o fastio e o pessimismo de quem há anos escreve textos neste tom, quero apenas acrescentar um comentário: não creio que haja solução. Mais. Não creio que haja porque haver solução. Todas as espécies tem seu tempo. Os dinossauros sobreviveram em paz com a terra por milhões de anos. O homem preferiu domá-la, transformá-la, subordiná-la, destruí-la. Foi a mais forte espécie que já passou pelo planeta - até onde se saiba - e fez uso desta força para envenenar tudo.Vai ser uma das mais rapidamente extintas (e levando outras de roldão) que já passou pelo planeta. É lógico o processo do planeta - de Gaia, se quiserem - para se desintoxicar.A febre existe para combater agressões ao nosso corpo. O planeta está com febre (e não me refiro necessariamente ao aquecimento global) para nos combater. Porque luta para sobreviver e poder continuar abrigando formas de vida menos agressivas. E nós o agredimos. Em meus momentos mais otimistas, também gosto de imaginar soluções. Mas elas não passam por ajustes e sim por uma mudança conceitual tão grande que me parece impossível. Ongs e Oscips Acreditei muito no conceito das ONGs enquanto elas eram exatamente isto, ONGs. Organizações Não Governamentais. Infelizmente, ao mesmo tempo que algumas poucas tentaram mudar as coisas através da mudança de mentalidades,outras tantas aderiram ao“projetismo”. É projeto pra cá, é projeto pra lá, e projeto, se sabe, precisa de financiamento. Então começou a rolar dinheiro, primeiro de grandes empresas “conscientizadas”, depois dos grandes governos e por fim de todo mundo. No Brasil chegou-se a cúmulo de criar as tais OSCIPs, que em última instância são um jeito do governo privatizar tudo o que dá trabalho. Em um país “oscipizado”, o governo se livra das áreas de cultura, meio-ambiente, destas “frescuras”, e as repassa à sociedade. Se exime. Lava as mãos. Cai fora. E os idealistas da sociedade (geralmente os mais moços, como sempre) alegremente acreditam que isto é um avanço e botam mãos à obra. Pouco tempo depois ou estão de-

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siludidos ou foram cooptados. E a conseqüência disto é que as OSCIPs serão a ponte para a privatização das coisas que mais caracterizam uma nação enquanto tal: o meio ambiente onde ela existe e sua cultura. Duas coisas que devem ser de obrigação do Estado cuidar e proteger, e que estão sendo lentamente privatizadas. Sou presidente de uma ONG que ano que vem vai fazer 20 anos e que já foi muito ativa. NUNCA pedimos nem aceitamos um único centavo de qualquer governo, mesmo quando oferecido. NUNCA. Um único.Trabalhamos muito tempo na área de unidades de conservação, mas NUNCA pretendemos substituir, complementar ou fazer parte dos órgãos oficiais. Nos limitamos a auxiliar sua atividade no que fosse possível, sempre subordinados aos administradores locais. Brigando quando necessário, é claro, mas geralmente em brigas que reforçavam as chefias locais contra as burrocracias centrais.Cansamos.E,aos poucos, fomos percebendo que quando um assunto é comandado à distância por gente, concursada ou não,que não conhece a realidade, o fracasso é inevitável. O Brasil e o mundo,atualmente,são governados e manipulados a partir de centros de poder que desconhecem ou,pior,querem ignorar a realidade. Os interesses das capitais e/ou matrizes do poder estão completamente dissociados dos interesses das pessoas que fazem a sociedade. Mas mesmo estas, em grande parte, querem mesmo é participar dos confortos do poder. Por isso acontece o que se vê, quando alguém “chega lá”: sucumbe. Se adapta. Se ajusta. Cala. Mas o planeta não quer nem saber.Por isso,o caminho do fim (deste ciclo de vida, da dominação humana, sei lá de que) me parece inevitável. Esta história de que o “social” deve prevalecer ao individual é puro blefe. O individualismo altruísta seria o único caminho pelo qual a Humanidade poderia ser salvo. Um tipo de individualismo onde as pessoas não se importariam nem tanto consigo próprias, nem tanto com o “social”. Um tipo de individualismo onde todos se preocupariam com os outros indivíduos enquanto tal, e não como massa. Um jeito de viver onde todos tivessem rosto, personalida-

de. Onde o menininho que pede esmolas na sinaleira mereceria, sim, ajuda de cada um de nós e não que fosse deixado a cargo do governo porque é um “problema social”. Não existe problema social. Existem problemas individuais, de milhões de pessoas, de bilhões de indivíduos. Quem se preocupa com indivíduos pode, sim, vir a mudar de atitude frente a tudo. Quem só se preocupa com o “social”, com a “coletividade”, com os “consumidores” ou os “eleitores”, não vê pessoas nestes grupos, só massa de manobra. E estes - que formam a grande maioria - não estão nem aí para o que está acontecendo ao planeta. Porque vivem apenas para o presente, para o poder, para o lucro, para si em nome de todos. É isto que está nos conduzindo ao fim. Muito bom o texto do Azenha. (*) NOTA DO EDITOR: Amyra El Khalili é economista, presidente do Projeto BECE (sigla em inglês) Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais. É também fundadora e coeditora da Rede Internacional BECEREBIA (www.bece.org.br ), membro do Conselho Gestor da REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental, do Conselho Editorial do Portal do Meio Ambiente (www.portaldomeioam biente.org.br ) e da Revista do Meio Ambiente (www.rebia.org.br ). É professora de pós-graduação com a disciplina “Economia Socioambiental” na Faculdade de Direito de Campos de Goytacazes, pela OSCIP Prima Sustentabilidade e MBA pela UNOESC. Indicada para o “Prêmio 1000 Mulheres para o Nobel da Paz” e para o Prêmio Bertha Lutz. Amyra tem procurado contribuir com o desenvolvimento ambientalmente sustentável, socialmente justo e viável economicamente no Brasil, estimulando e estruturando mercados de “commodities ambientais” e “space commodities” a serem controlados pela sociedade brasileira e baseados na democratização da informação. Mais informações sobre os Núcleos BECE onde este debate está ocorrendo: http://br.groups.yahoo. com/ group/nucleosbece/

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Reflexão

O Universo em um Átomo

Por Dalai Lama

assei muitos anos refletindo sobre os incríveis avanços da ciência. Em meu curto tempo de vida, o impacto da ciência e da tecnologia sobre a humanidade foi tremendo. Embora meu interesse pela ciência tenha começado com a curiosidade sobre o mundo - estranho a mim naquela época -, governado pela tecnologia, não demorou muito até que o significado colossal da ciência para a humanidade como um todo começasse a me surpreender - especialmente depois que parti para o exílio, em 1959. Hoje, não existe praticamente nenhuma área da vida humana que não seja tocada pelos efeitos da ciência e da tecnologia. Ainda assim, não temos dúvidas sobre o lugar da ciência na totalidade da vida humana - o que exatamente ela deveria fazer e de que maneira deveria ser governada? Este último ponto é crucial porque, a menos que a direção da ciência seja guiada por uma motivação conscientemente ética, especialmente compaixão, seus efeitos podem não produzir benefícios. Podem, de fato, causar um grande dano. Enxergar a grande importância da ciência e reconhecer seu inevitável domínio no mundo moderno alterou fundamentalmente a minha atitude para com ela, de uma curiosidade para uma espécie de comprometimento urgente. No budismo, o mais elevado ideal espiritual é cultivar a compaixão por todos os seres sencientes e trabalhar por seu bem-estar até o máximo grau possível. Desde muito cedo na minha infância, fui condicionado a valorizar este ideal e tentar cumpri-lo em cada ação. Portanto, quis entender a ciência porque ela me dava uma nova área a explorar em minha busca para entender a natureza da realidade.Também quis aprender porque reconheci na ciência uma maneira irresistível de comunicar as percepções coligidas da minha tradição espiritual. Portanto, para mim, a necessidade de me dedicar a esta poderosa força de nosso mundo tornou-se também uma

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espécie de injunção espiritual. A questão central - central para a sobrevivência e o bem-estar do nosso mundo - é como podemos transformar os maravilhosos desenvolvimentos da ciência em algo que ofereça um serviço altruísta e compassivo para as necessidades da humanidade e de outros seres sencientes com quem compartilhamos esta terra. Teria a ética um lugar na ciência? Acredito que sim. Em primeiríssimo lugar, assim como qualquer instrumento, a ciência pode ser colocada em bom ou mau uso. É o estado de mente da pessoa que maneja o instrumento que determina com que finalidade seja usado. Segundo, as descobertas científicas afetam o modo como entendemos o mundo e nosso lugar nele. Isto tem conseqüências em nosso comportamento. Por exemplo, o conhecimento mecanicista do mundo levou à Revolução Industrial, na qual a exploração da natureza tornou-se a prática convencional. Existe, contudo, uma premissa geral de que a ética é relevante somente para a aplicação da ciência, não para sua busca. Neste modelo, o cientista como um indivíduo e a comunidade científica em geral ocupam uma posição moralmente neutra, sem qualquer responsabilidade pelos frutos daquilo que descobriram. Mas muitas descobertas científicas importantes, e particularmente as inovações tecnológicas a que elas levam, criam novas condições e expõem novas possibilidades que dão origem a novos desafios éticos e espirituais. Não podemos simplesmente privar o empreendimento científico e os cientistas da responsabilidade de contribuir para a emergência de uma nova realidade. Talvez o ponto mais importante seja garantir que a ciência nunca se divorcie do sentimento humano básico da empatia com nossos companheiros. Assim como o dedo de uma pessoa só pode funcionar se relacionado com

a palma da mão, também os cientistas devem estar cientes de sua conexão com a sociedade como um todo. A ciência é vitalmente importante, mas é apenas um dedo da mão da humanidade, e seu maior potencial só poderá ser realizado desde que tenhamos o cuidado de nos lembrar disso. Do contrário, arriscamo-nos a perder o senso de prioridades. A humanidade pode acabar servindo aos interesses do progresso científico, em vez do inverso. A ciência e a tecnologia são ferramentas poderosas, mas devemos decidir como fazer o melhor uso delas. O que importa, acima de tudo, é a motivação que governa o uso da ciência e da tecnologia, em que, idealmente, o coração e a mente estão unidos. Para mim, a ciência é, antes de mais nada, uma disciplina empírica que proporciona à humanidade um acesso poderoso para entender a natureza do mundo físico e vivo. É, essencialmente, um modo de investigação que dá seu conhecimento fantasticamente detalhado do mundo empírico e das leis básicas da natureza, que inferimos a partir de dados empíricos. A ciência avança por meio de um método bem específico que envolve medição, quantificação e verificação interindivíduos por meio de experimentos que podem ser repetidos. No mínimo, é esta a natureza do método científico tal como ela existe dentro do atual paradigma. Neste modelo, muitos aspectos da existência humana, entre os quais os valores, a criatividade e a espiritualidade, bem como as questões metafísicas mais profundas, situam-se fora do alcance da investigação científica. Embora existam áreas da vida e do conhecimento fora do domínio da ciência, percebo que muitas pessoas defendem uma premissa de que a visão científica do mundo deveria ser a base de todo o conhecimento e de tudo que é cognoscível. Isto é materialismo científico. Embora eu não tenha conhecimento de uma escola de pensamento que proponha explicitamente essa

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Reflexão noção, parece ser uma pressuposição comum que não é examinada. Esta visão defende uma crença num mundo objetivo, independente da contingência de seus observadores. Pressupõe que os dados em análise dentro de um experimento são independentes de preconcepções, percepções e experiência do cientista que os analisa. Por trás desta visão está a premissa de que, na análise final, a matéria, da forma como pode ser descrita e é governada pelas leis da física, é tudo o que existe. Conseqüentemente, esta visão defenderia que a psicologia pode ser reduzida à biologia, a biologia à química e a química à física. Minha preocupação aqui não é tanto argumentar contra esta postura reducionista (embora eu mesmo não a tenha), mas chamar atenção para um ponto vitalmente importante: que estas idéias não constituem o conhecimento científico; pelo contrário, representam uma postura filosófica, de fato, metafísica. O ponto de vista de que todos os aspectos da realidade podem ser reduzidos à matéria e suas várias partículas é, na minha mente, uma postura metafísica tanto quanto o ponto de vista de que uma inteligência em organização criou e controla a realidade. Um dos problemas mais importantes no materialismo científico radical é a estreiteza de visão resultante e o potencial para o niilismo que pode encetar. O niilismo, materialismo e reducionismo são, acima de tudo, problemas de uma perspectiva filosófica e, em particular, humana, já que podem empobrecer a maneira como vemos a nós mesmos. Por exemplo, nos vermos como criaturas biológicas aleatórias ou como seres especiais dotados da dimensão da consciência e capacidade moral terá um impacto em como nos sentimos sobre nós mesmos e tratamos os outros. Nesta visão, muitas dimensões da realidade plena do que é ser humano - arte, ética, espiritualidade, bondade, beleza e, acima de tudo, consciência - ou são reduzidas às reações químicas de neurônios ativados ou são vistas como uma questão de constructos puramente imaginários. O perigo, então, é que os seres humanos sejam reduzidos a nada mais que máquinas biológicas, os produtos do puro

acaso na combinação aleatória dos genes, sem nenhuma outra finalidade além do imperativo biológico da reprodução. É difícil enxergar como perguntas como a do significado da vida ou do bem e do mal podem ser acomodadas em tal visão de mundo. O problema não está nos dados empíricos da ciência, mas na defesa de que esses dados, por si só, constituem o campo legítimo para o desenvolvimento de uma visão de mundo abrangente ou uma maneira adequada de responder aos problemas do mundo. Há mais na existência humana e na pró-

pria realidade do que o acesso que a ciência algum dia poderá nos oferecer. Pelo mesmo raciocínio, a espiritualidade deve ser temperada pelas concepções e descobertas da ciência. Se, na qualidade de praticantes espirituais, ignorarmos as descobertas científicas, nossa prática será bem pobre, já que este modo de pensar poderá levar ao fundamentalismo. Esta é uma das razões pelas quais estimulo meus colegas budistas a abraçar o estudo da ciência, para que as concepções científicas possam ser integradas à visão de mundo budista.

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