Revista do Meio Ambiente 18

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Novo Livro: O Desafio de Escolher Vilmar Berna Escreveu O DESAFIO DO MAR, que está em sua 17ª edição, e oferece agora aos leitores a possibilidade de refletir sobre o direito que temos de escolher o que é melhor para nossa vida. O autor defende que não temos de ser marionetes ou vítimas do destino, de nossa própria natureza humana ou das circunstâncias, por mais que elas exerçam influência sobre nós. Escolher inclui riscos, alerta o autor, e por isso é preciso aprender a escolher com cuidado, desde as mais simples decisões sobre nosso cotidiano, até decisões que nos seguirão por toda a vida, como a profissão, um novo relacionamento, a educação dos filhos, a relação com o mundo, com o outro, com o meio ambiente.

Como Fazer Educação Ambiental 3ª Edição - Ed. Paulus “Apresenta uma reflexão de diversas práticas possíveis em nossas vidas.” Michèle Sato - professora e pesquisadora em Educação Ambiental do Instituto de Educação da UFMT e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFSCar.

Leia, recomende e adote os livros de Vilmar Berna

A Consciência Ecológica na Administração Ed. Paulinas “A administração à qual o autor se refere aqui não é apenas numa empresa, mas também numa escola, organização, até mesmo em casa.”

O Tribunal dos Bichos 8ª Edição - Ed. Paulus “Através de uma fábula com animais, ricamente ilustrada, o autor aborda numa linguagem simples, nossa relação com os animais em temas polêmicos como caça, experimentação científica, maltrato e abandono, etc.”

Parábola da Felicidade 10ª Edição - Ed. Paulus “Através da parábola envolvendo quatro amigos que reúnen-se ao final do curso embaixo de uma velha jaqueira, tem início uma hostória que leva os leitores a refletirem sobre sucesso profissional, felicidade, valores.”

Pensamento Ecológico Ed. Paulinas “Vilmar conhece os diferentes aspectos que permeiam a questão ambiental com a autoridade de quem já esteve nos mais diversos campos de batalha em favor da vida.” André Trigueiro - Apresentador da TV Globo e Globonews.

A Criação e a Ação Humana 5ª Edição - Ed. Paulus “Mescla o texto bíblico da criação com informações atuais sobre o atual estado das coisas. O livro contém um glossário para o leitor conhecer mais sobre efeito estufa, poluição, erosão do solo, seca, desmatamento, etc Tem belíssimas ilustrações.” - Cecília Iwashita Iwashita.

O Desafio do Mar 17ª Edição - Ed. Paulus “Compara a construção de um navio ao desenvolvimento humano onde nosso corpo é comparado ao casco, a parte mais visível do navio, a primeira e a que demora menos tempo para ficar pronta.”

Compre estes livros numa livraria em sua cidade ou ligue grátis para a Paulus (0800 557880) ou - Paulinas (0800 7010081)



Editorial

Por Vilmar Sidnei Demamam Berna*

Pela regulamentação do TAC – Termo de Ajuste de Conduta Com a palavra os parlamentares comprometidos com o meio ambiente que já passaram da hora de regulamentar o TAC, urgentemente.

Sobre a capa: Na primavera todas as coisas se renovam, diz o provérbio chinês. Alheio ao trânsito de Brasília e aos vôos rasantes da Esquadrilha da Fumaça, durante a “Parada de 7 de Setembro”, o ipê branco (Tabebuia roseo-alba) florescia altaneiro, bem ao lado da Catedral e ao Museu da República, em Brasília, onde aconteceu o VIII Encontro Verde das Américas. Um privilégio para assistir maravilhado! Lembrei do quadro de Vincent Van Gogh e de suas palavras: “Amamos a arte para que ela nos ajude a ver e amar a natureza, mais e mais.” (Os ipês de Brasília são Patrimônio Ecológico do Distrito Federal e, por isso, imunes ao corte - decretos nºs. 14.783, 17/06/1993 e 23.585, 05/02/ 2003).

m levantamento inédito feito pelo jornal O Globo revelou que, nos dez anos da lei de Crimes Ambientais, menos de 1% do valor total de multas administrativas aplicadas pelos órgãos ambientais estaduais no Estado do Rio de Janeiro foi pago. Mesmo quando elas caem na dívida ativa, com cobrança judicial, o percentual se mantém baixo: 12%. No Ibama, a situação é parecida:

U

a União recebeu, desde 1998, apenas 10% das multas emitidas no período. Chamo a atenção para a necessidade de regulamentar o TAC – Termo de Ajuste de Conduta por que um dos motivos da má vontade em cobrar o dinheiro das multas pode estar numa estratégia de não deixar mesmo o dinheiro das multas entrar no caixa do governo. Primeiro por que, se entrar, esse dinheiro dificilmente volta para

beneficiar o meio ambiente e acaba perdido nos caixas únicos, e, depois, por que, na hipótese de entrar, vira dinheiro público e, para gastálo, será preciso obedecer todos os trâmites e exigências da Lei 8.666 de licitações, se submeter a auditorias de tribunais de contas, etc. Então parece melhor reverter o valor das multas em TAC – Termo de Ajuste de Conduta. O dinheiro das multas passa a ser empregado em projetos negociados entre o infrator e o órgão fiscalizador. O problema é a falta de regras claras para esta negociação. Além disso, não existe uma valoração econômica ecológica entre o dano causado e os projetos de ajuste de conduta. Então alguns maus empresários podem estar descumprindo a legislação de crimes ambientais de propósito, tomando a iniciativa logo em seguida de confessar o crime e propor um TAC através de seus advogados especializados no assunto, beneficiando-se das atenuantes previstas na Lei para

aqueles que se auto-denunciam. Outro problema é que, ao propor o TAC, o mau empresário pode habilmente propor a execução de projetos ambientais que absolutamente não reparam o dano e que de qualquer forma estariam fazendo como parte de sua Política de Responsabilidade Social ou como parte das medidas compensatórias de licenciamentos. Para sensibilizar o agente do governo, tais projetos do TAC podem com habilidade contemplar alguma ONG ou universidade da simpatia do agente ou mesmo projetos do interesse do agente. Como não se trata de dinheiro público, mas do infrator, nada impede que o agente indique pessoas ou instituições de seu interesse, confiança ou relacionamento para executar os referidos projetos ou compor as equipes. O fato é que não existe T R A N S PA R Ê N C I A n a s n e g o c i a ç õ e s d o TA C o que pode abrir uma larga avenida para interesses escusos.

* Vilmar é escritor com 15 livros publicados. Na Paulus, publicou “Como Fazer Educação Ambiental”, “O Desafio do Mar”, “O Tribunal dos Bichos”, entre outros, e nas Paulinas, “Pensamento Ecológico” e “A Administração com Consciência Ambiental”, transformados em curso à distância pela UFF – Universidade Federal Fluminense. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente. É fundador e superintendente executivo da REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental (www.rebia.org.br ) e editor do Portal ( www.portaldomeioambiente.org.br ) e da Revista do Meio Ambiente (www.revistadomeioambiente.org.br ). Mais informações sobre o autor: (http://www.rebia.org.br/VilmarBerna/ ). Contatos: vilmar@rebia.org.br 2 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 018 - SETEMBRO - 2008


Dia da Árvore

Expediente REBIA – REDE BRASILEIRA DE INFORMAÇÃO AMBIENTAL - ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL, SEM FINS LUCRATIVOS, DEDICADA À DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO AMBIENTAL COM A PROPOSTA DE COLABORAR NA FORMAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DA CIDADANIA AMBIENTAL PLANETÁRIA ATRAVÉS DA EDIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DA REVISTA DO MEIO AMBIENTE, PORTAL DO MEIO AMBIENTE E DO BOLETIM DIGITAL NOTÍCIAS DO MEIO AMBIENTE (CNPJ 05.291.019/0001-58) http://www.portaldomeioambiente.org.br/rebia/conheca.asp FUNDADOR DA REBIA E EDITOR (voluntário) Escritor e jornalista VILMAR Sidnei Demamam BERNA - Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e Prêmio Verde das Américas http://www.portaldomeioambiente.org.br/VilmarBerna/ Contatos: vilmar@rebia.org.br (021) 9994-7634 Telfax: (021) 2610-2272 DIRETORIA DA REBIA Presidente do Conselho Deliberativo: JC Moreira, jornalista Presidente do Conselho Diretor: Ricardo Harduim, biólogo Presidente do Conselho Fiscal: Flávio Lemos, psicólogo

Antonio Vasques

Eugênio Neves

Guazzelli

Vila Nova

CONSELHO CONSULTIVO DA REBIA http://www.portaldomeioambiente.org.br/rebia/conselho.asp Amyra El Khalili, Aristides Arthur Soffiati, Bernardo Niskier, Carlos Alberto Muniz, David Man Wai Zee, Flávio Lemos de Souza, Keylah Tavares, Paulo Braga, Ricardo Harduim, Roberto Henrique de Gold Hortale (Petrópolis, RJ), Rogério Álvaro Serra de Castro, Raul Mazzei, Rogério Ruschel.

REDAÇÃO Trav. Gonçalo Ferreira, 777 - casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba - 24370290 Niterói, RJ - Telfax.: (21) 2610-2272 vilmar@rebia.org.br MARKETING E PUBLICIDADE RIO: Murilo Continentino (21) 9142-9101 - comercial@rebia.org.br BRASÍLIA: Emília Rabelo (061) 9114-6769 / (21) 9114-7707 emilia@minasdeideias.com.br http://www.portaldomeioambiente.org.br/anunciar/anunciar.asp ASSESSORIA Gustavo da Silva Demamam Berna, biólogo marinho (21) 9719-3974 gustavo@rebia.org.br Leonardo da Silva Demamam Berna – (21) 9952-0304 leonardo@rebia.org.br Inês Santos de Oliveira, bióloga – (21) 2610-7365 – ines@rebia.org.br PESSOA JURÍDICA A REBIA mantém parceria com a OSCIP ASSOCIAÇÃO ECOLÓGICA PIRATINGAÚNA para a administração financeira da Revista do Meio Ambiente: CNPJ: 03.744.280/0001-30 - Rua Maria Luiza Gonzaga, nº 217 - no bairro Ano Bom - Barra Mansa, RJ CEP: 23.323.300 Representante: Presidente EDUARDO AUGUSTO SILVA WERNECH Tels: (24) 3323-4861 (ACIAP), Celular: (24) 8814-3066 eduardo.wernech@uol.com.br ASSINATURAS A distribuição dirigida é gratuita, mas para assegurar o recebimento pelo correio é preciso pagar os custos de envio e postagem. Na página http:/ /www.portaldomeioambiente.org.br/JMA-Assinar/JMA-Assinar.asp você pode assinar agora pagando apenas R$ 70,00 por ano através de depósito à ASSOCIAÇÃO ECOLÓGICA PIRATINGAÚNA no Banco Itaú agência 6105-1 c/c 12.983-4 - CNPJ: 03.744.280/0001-30 IMPRESSÃO : Grafmec (21) 2577-5221 PRODUÇÃO GRÁFICA: LL Divulgação Editora Cultural Ltda. www.lldivulga.com.br – comercial@lldivulga.com.br / Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da REBIA.

Santiago Mais informações: a Grafar é uma associação de cartunistas, chargistas, caricaturistas, ilustradores e quadrinistas gaúchos (http://grafar.blogspot.com)

Fontes Mistas

Grupo de produto provenientede de florestas bem manejadas e fontes controladas - www.fcs.org Cert. nº SWCOC002641 - 1996 Forest Stewardship Council

A Revista do Meio Ambiente foi impressa em papel certificado proveniente de reflorestamentos da Votorantim. Certificados pelo FSC de acordo com os rigorosos padrões sociais e ambientais.

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Fórum dos Leitores A Rede Brasileira de Informação Ambiental – REBIA mantém seis fóruns de debates que reúnem hoje cerca de 3.000 cidadãos ambientais que trocam informações e debatem temas de interesse socioambiental. Para participar basta acessar o Portal do Meio Ambiente (www.portaldomeioambiente.org.br) e se inscrever. É gratuito. Selecionamos alguns dos temas que foram debatidos pelos leitores neste período.

REBIA NACIONAL

Desertos Brasileiros Caros, estou fazendo pesquisa e gostaria de seguintes dados: Quais os desertos e em desertificação no mundo? em km 2 ? porcentagem de área desértica em relação a área de cada país ? Quanto ao Brasil, Quais os locais e a área (km2) de regiões desérticas e degradadas no país ? em km2 e % ? Sei que em RS, há uma área desertificada, caso alguém souber favor informar-me o local e a área. Obrigado, Márcio K Iizuka (iizuka.mk@gmail.com)

Olá meu caro Márcio! Aconselho a você ler essa matéria muito boa feita pela jornalista Tânia Martins do Piauí: Gilbués: o deserto vermelho - Mineradora contribui até hoje com a terrível desertificação de Gilbués (http://www.folhadomeio.com.br/ publix/fma/folha/2008/06/gilbues189.html) Dionísio Carvalho Rede Ambiental do Piauí – REAPI dionisiojornalista@yahoo.com.br

REBIA SUL

Por causa do Complexo Madeira, governo é duramente criticado em reunião do Conama e recebe censura internacional “Houve de fato o parecer dos técnicos, mas depois o parecer do diretor foi outro” reconheceu o presidente do IBAMA, Roberto Messias Franco, após ser questionado repetidamente pelo plenário do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) a respeito das razões pelas quais - apenas três dias após receber parecer contrário à concessão da Licença de Instalação para a usina de Santo Antônio - a mesma foi liberada sem explicações a respeito da mudança de opinião do órgão. A afirmação de Messias Franco se deu no contexto de uma sessão especialmente dedicada a esclarecer as alegadas irregularidades no processo de licenciamento das duas usinas do Rio Madeira, para a qual foram convocados IBAMA, FUNAI, Ministério da Saúde, MPF e a OSCIP Amigos da Terra – Amazônia Brasileira. Na mesma sessão, o representante do MPF leu um ofício encaminhado pelo procurador Heitor Alves Soares que anuncia ter instaurado inquérito para apurar as razões pelas quais foi desrespeitado o laudo técnico conclusivo.” - Fonte: http://www.amazonia.org.br ”O Tribunal Latinoamericano da Água (TLA), reunido na Guatemala nos últimos dias 11 e 12 de setembro, proferiu uma resolução censurando o governo brasileiro pela construção das Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, em Rondônia. O TLA decidiu depois de analisar a denúncia feita pela Associação de Defesa Etno-Ambiental Kanindé e considerou que as usinas implicam em uma destruição ambiental de magnitude imprevisível, colocando em risco o bem-estar

físico e social das populações das regiões afetadas pelas obras. Além disso, a sentença também censurou o governo brasileiro por ignorar os direitos indígenas e por não considerar os impactos dos empreendimentos fora das fronteiras do país.” Fonte: http://www.amazonia.org.br Silvânio, foi um verdadeiro circo dos horrores. O Sr. Messias - O profeta da HECATOMBE do rio Madeira, não explicou nada, passou os 10 minutos estipulado pela presidência da mesa Sra. Isabela, tentando enrolar os conselheiros, demonstrou não conhecer o que estava no Parecer da equipe técnica do IBAMA. Telma Monteiro que vem assessorando a Kanindé e a APROMAC (vale lembrar que voluntariamente), questionou baseada no Parecer o por que a LI foi concedida se as condicionantes não foram cumpridas e que não havia tempo hábil para tanto. Leu um trecho do Parecer onde trata de que haverá uma hecatombe no Madeira (mostrou inclusive fotos de áreas completamente secas com navios encalhados), bem como o texto final do parecer onde não recomenda o empreendimento. Pasmem! Não houve resposta, ficando de ser encaminhada por escrito. Isto porque Zuleica e eu pedimos formalmente. Também, foi dito por Messias que havia ouvido falar em violação dos direitos dos ribeirinhos, mas que não tinha nada confirmado. Fiz a manifestação dizendo que realmente estava havendo a violação dos direitos e entreguei ao mesmo o documento da ADA e a denúncia feita pelo ribeirinho e protocoladas no MPE. Portanto, estes

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documentos devem constar no relatório do CONAMA e deverão ser respondido pelo IBAMA. A FUNAI de forma vergonhosa apresentou que deu o OK para o empreendimento, devendo as empreiteiras bancarem as ações da coordenação de índios isolados, e banca ações de saúde na Karitiana, Karipuna e isolados. Ou seja, vendeu os índios. Fiquei tão revoltada com a fala da FUNAI que os acusei de serem responsáveis pelo genocídio dos índios isolados, e disse a eles que a proposta do Jirau fica a 14 km de uma das áreas de ocupação dos isolados, e que os índios morreram com os efeitos dos acampamentos, alagamento, etc. Fiquei tão revoltada de ver que o órgão que deveria proteger os direitos indígenas os condena a morte, que muitos questionamentos que tinha pensando em fazer, não foram feitos. Entreguei a FUNAI e à presidência da mesa a publicação do GTA “O fim da floresta”, pois ficou claro que a FUNAI não sabe nada sobre a situação indígena em Rondônia, se não for coisa pior. Zuleica fez uma série de questionamentos, mas infelizmente a mesa não nos deixava falar. Era como se houvesse uma blindagem em torno da hidrelétrica. Tínhamos no dia anterior tido uma reunião com o embaixador da Bolívia, que nos pediu ajuda para que pudéssemos fazer os questionamentos sobre os impactos no lado Boliviano, pois eles estavam muito preocupados. Durante sua fala a Telma fez o questionamentos sobre os impactos na Bolívia. Mais uma vez ficamos sem resposta. O Brent, que estava assistindo, pode dar um relato melhor, pois fiquei tão transtornada com o que ouvi da FUNAI, que não conseguia pensar como aquilo podia esta acontecendo. Até agora estou meio tonta e com uma dor imensa no pescoço, pensei que iria ter um troço. O livro do Glenn “Águas turva” foi entregue a mesa e ao Sr. Messias pela Telma. Sai daquele lugar com uma certeza: este Governo não se importa com a vida dos índios, dos ribeirinhos e nem com a do povo de Porto Velho e das cidades que serão impactadas! Só nos resta a via judicial, se quisermos impedir que vidas e o meio ambiente sejam destruídos. Precisamos cada vez mais nos unir e buscarmos recursos para entrar na justiça, talvez assim tenhamos algum sucesso. Meus sinceros agradecimentos ao Brent e a Telma, Cristina, Yvi, Osorio, Zuleica, Esmeraldi, Marcio que estiveram lá nos dando todo apoio e defendendo nossas propostas. Vamos aguardar as respostas e ver o que podemos fazer, pois certamente o Governo e o setor privado estão andando de mãos dadas para em nome do desenvolvimento para destruir o meio ambiente


e os povos indígenas. Abraços, Neidinha (Ivaneide Bandeira Cardozo) ivaneide@kaninde.org.br Quando leio relatos como este eu sinto tão somente - repulsa. E não consigo entender como os nossos ambientalistas - abne-

gados, inteligentes, cultos - ainda insistem em participar de um conselho que não lhes dá o devido valor, que não lhes ouve, que os trata como lixo. Esse “circo de horrores”, como bem disse a nossa Neidinha, sempre existiu, gente! E até quando vamos partici-

par disso? Até quando vamos ter a ilusão de que poderemos mudar as regras deste jogo???? - Ana Echevenguá - Coordenadora do Programa Eco&ação www.ecoeacao.com.br - (48) 84014526 Florianópolis, SC.

REBIA NORTE

O legado tupi na flora e na fauna acreanas No Acre predominam palavras derivadas da língua tupi para a denominação de animais e peixes. Isso se justifica não apenas pela riqueza das espécies nesse campo, mas, sobretudo, pelo gosto alimentar e pela forma de sobrevivência dos acreanos: caça e pesca. O Brasil, com sua diversidade cultural singular, é um país fértil em palavras nascidas na língua tupi, vocábulos que provavelmente não existem em outros países lusófonos. São palavras tidas como brasileirismos de origem tupi, outras regionais e/ou locais, como se mostram nos exemplos: capim, tajá, tiririca, samambaia, cipó, abacaxi, araçá, abiu, açaí, ananás, mandioca, aipim, macaxeira, sapé, ipê, imbuia, capeba, jucá, carnaúba, peroba, cumarú, paxiúba, cajarana, jacarandá, araticum, cipó, pitanga, maracujá, jabuticaba, jatobá, jenipapo, jerimum, maniva, tucumã, taioba, urucum, caju, capivara, quati, tatu, sagüi, urubu, sanhaçu, pipira, araponga, urubu, curió, sabiá, caboré, curica, jaçanã, jacamim, socó, caninana, cutia, cutiara, guariba, tracajá, maracajá, jaguatirica, paca, pacu, jacaré, tambaqui, surubim, bodó, cará, curimatã, sarapó, jacundá, jundiá, lambari, mandim, mapará, piaba, piau, pirarara, pirarucu, piranha, piranambu, tambaqui, traíra. Jane de Castro Nogueira, Professora do Departamento de Letras da Universidade Federal do Acre, desenvolveu, durante a realização de sua dissertação de mestrado, um estudo sobre o legado da língua tupi na flora e fauna acreanas. Em suas palavras, “descrever o legado tupi, dentro das regiões acreanas, no campo da flora e da fauna é caminhar no sentido de ter uma maior compreensão da comuni-

dade regional e, assim, abrir uma trilha para que outros estudiosos retomem e alarguem esta tarefa que não se esgota aqui, e leguem às futuras gerações dados que podem se perder no tempo, por força do rolo compressor do chamado “progresso”. O estudo faz uma descrição de palavras da flora e da fauna acreana, com verbetes abonados com fragmentos colhidos no uso corrente e dispostos por campos semânticos ou idéias afins: flora alimentícia, medicinal, madeireira, artesanal e silvestre... Para ler o artigo na íntegra:http://ambiente acreano.blogspot.com/2008/03/o-legado-tupina-flora-e-na-\fauna.html - Evandro Ferreira: evandro ferreira@hotmail.com Olá Evandro, o legado tupi na biogeografia e na cultura brasileiras é considerável sim. Porém, os pesquisadores devem estar atentos àquilo que se chamou de tupimania: a tendência dos intelectuais brasileiros explicar toda palavra de origem indígena pelo tupi-guarani. Eu sou apenas um diletante, nativo da ilha do Marajó; e passei a vida escutando como tradução deste nome “barreira do mara”, “aquele que aparece”, “o que se levanta”, etc. Indiscutivelmente étimo tupi-guarani será melhor traduzido, talvez, como “homem malvado” (“marã” (mau, o mal) + “yu / ió / jó = gente, povo). Explicação que tem por apoio a etno-história do conflito hereditário entre tupinabás e “nheengaíbas” (falandes da língua ruim”, bárbara; o aruaque). Como vê, neste simples exemplo, a complexidade e controvérsia estão presentes. Na Amazônia, a língua geral ou Nheengatu (in-

REBIA SUDESTE

REBIA CENTRO-OESTE

Assine abaixo assinado para o Zoneamento Sócio-Econômico Ecológico – ZSEE Amigos, está em jogo não apenas a defesa ambiental do vizinho estado de Mato Grosso - o que já é um imenso motivo para apoiar uma proposta de Zoneamento Socio-conômico Ecológico para a região - mas também a garantia da participação democrática e do exercício da cidadania para todos os segmentos da população. Vamos colaborar assinando a petição! http://www.petitiononline.com/ gtms2008/petition.html - abraços, Liana Márcia Justen - lianajusten@uol.com.br

REBIA NORDESTE

Animais perdidos Olá! Um serviço muitíssimo interessante às pessoas que querem localizar seu animal (cão ou gato) caso ele se perca. Somente será cobrada uma taxa única de R$ 13,00, para se adquirir o kit Anjo da Guarda. Sem mensalidade ou anuidade. Mais informações visite: www.bayerpet.com.br/anjodaguarda O Anjo da Guarda é o serviço do Bayer Pet que ajuda a localizar o cão ou gato cadastrado caso eles se percam. Para aderir a este serviço é necessário adquirir o Kit Anjo da Guarda (cartão, medalha e folder explicativo) que é comercializado através da loja virtual. O usu-

ventado pelos missionários jesuítas baseado no tupi-guarani) foi, na verdade, um esperanto formado de diversas línguas tapuais, aruaques e caribes. Segundo Armando Levy Cardoso, em “Toponímia brasílica”, o nome do rio Acre, p. ex., se deve á corruptela em português do aruaque Aquiri. Seria interessante que a UNAMAZ (Associação de Universidades Amazônicas) incentivassem suas filiadas ao estudo, ensino e difusão de linguas amazônicas, tal como a UERJ realiza, no Rio de Janeiro, com a cátedra do prof. José Ribamar Ferreira Bessa, autor do apreciado livro .”Rio Babel”. Atenciosamente, José Varella www.unilivre.org / www.museudomarajo.com.br

ário pode também criar Álbum de fotos para o amigo de estimação, além da Agenda do Amigo, além de acessar informações e outros serviços como Correio Sentimental e Adote um amigo. Este serviço está à disposição para quaisquer esclarecimentos ou sugestões, no setor de Atendimento ao Cliente – TELEBAYER DDG 0800 701 55 46, discando a OPÇÃO 2, de Segunda à Sexta, das 7:45 até 16:45 ou através da internet no endereço: bayerpe@bayerhealthcare.com Atenciosamente, Walter Ribeiro - Técnico Ambiental walteira@yahoo.com.br

Mídia, Ecologia e Sociedade Olá pessoas, quero abrir aqui um debate. Como vocês sabem, Natal sediará o XXXI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, em setembro deste ano, o qual tem como tema “Mídia, Ecologia e Sociedade”. Na opinião de cada um de vós, qual a importância desse debate sobre “Mídia, Ecologia e Sociedade?” Abraços, F. Hippólyto (intercomnatal@gmail.com

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Entrevista Por Vilmar Sidnei Demamam Berna*

Carlos Alberto Muniz: para cada R$ 1 colocado no sistema de água e esgoto, há uma economia de até R$ 4 em saúde. Comprometido com o meio ambiente, o economista Carlos Alberto Muniz (PMDB) exerceu os cargos de presidente da Fundação estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema), de 87 a 90, e presidente da Serla, em 96. Vice agora na chapa do candidato Eduardo Paes à prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Muniz coloca sua longa experiência tanto ambiental quanto nas lutas pela democracia no Brasil à disposição dos cariocas. Fale um pouco de sua trajetória na luta pela democratização do Brasil. Muniz – comecei antes do golpe militar de 1964 quando já participava do movimento estudantil como presidente do grêmio do Colégio Pedro II. Durante os chamados anos de chumbo, presidi o Diretório da Faculdade de Engenharia da então Universidade do Universidade do Brasil (atual UFRJ), o Diretório Central de Estudantes, e por fim, presidi a União Estadual dos Estudantes, de 1968 a 1969, que esteve à frente da organização das grandes passeatas contra a ditadura e pelas liberdades democráticas, como a passeata dos 100 mil. Com o Ato Institucional n° 5 e o recrudescimento do regime, fiz parte da geração que resistiu ao que se convencionou chamar de “golpe dentro do golpe” e passei a viver na clandestinidade, ajudando a organizar a resistência à ditadura. Minha foto era estampada em cartazes de “procura-se” em toda parte: aeroportos, estações ferroviárias e rodoviárias e outros lugares. Também exerci tarefas de contato internacional em países como Argélia, França, Cuba e Chile e vivi neste último país até 1973 quando o presidente Salvador Allende também foi derrubado por um golpe militar. Em seguida, fui viver na França onde fiz doutorado na área de economia e administração. Todo esse período conturbado fez com que eu não pudesse concluir a faculdade de engenharia no Brasil. Na ocasião minha mulher, Ângela, esteve presa no Brasil e só fomos nos reencontrar no Chile, onde nasceu Pedro,

nosso filho mais velho, hoje com 35 anos. Já o caçula André, hoje com 33, nasceu na França. Quando foi o seu retorno ao Brasil? Muniz - Em 1976, mas ainda tive de viver na clandestinidade, com outra identidade. A situação só mudou com o decreto de anistia do então presidente João Figueiredo, assinado em setembro de 1979. Naquele mesmo dia, saí da clandestinidade e me filiei-me ao MDB num ato na Assembléia Legislativa. Queria explicitar uma atitude política que a maneira de prosseguir a luta pelas liberdades democráticas passava pela organização de um partido político forte. No MDB, que depois passaria a se chamar PMDB, exerci diversas funções partidárias e há muitos anos ocupo o cargo de secretário-geral do partido no Estado do Rio e integro o diretório nacional da sigla. Como vice, qual será o seu papel? Muniz – pretendo ajudar na administração do município a exemplo mais ou menos do que o Luiz Fernando Pezão, vice do governador Sérgio Cabral, tem feito no Estado. Não afirmo que serei isso, mas é um modelo de como ajudar o Eduardo Paes que será o futuro prefeito. Como presidente da SERLA você ajudou a implementar diversos programas e obras que melhoraram o sistema de drenagem. Caso eleito, Eduardo Paes já assumiu o compromisso de retomar o projeto Guardiões dos Rios.

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Como será isso? Muniz – de fato, Eduardo Paes anunciou durante visita ao Rio do Anil, em Jacarepaguá, a retomada do projeto Guardiões dos Rios. A idéia é contratar mão-de-obra comunitária para atuar na limpeza dos rios da cidade. A situação de nossos rios é uma questão que nos preocupa especialmente diante das inevitáveis chuvas de verão, no início de cada ano, em que a cidade vê se repetir ano após ano situações de calamidade pública provocadas por enchentes, deslizamentos, transtornos de todo o tipo para a cidade. Falta manutenção, dragagem e chamar atenção para o período da chuva de verão no Rio. Não podemos deixar repetir a situação que aconteceu, por exemplo, em 1996, quando os cariocas assistiram uma das cenas mais tristes da cidade com as enchentes na região de Jacarepaguá que provocaram mais de 100 mortes. A cidade do Rio de Janeiro terá recursos para a limpeza dos rios? Muniz - a situação financeira do município não é boa e será necessária a ajuda do Governo Federal para dragar os rios da cidade. Temos que chamar a atenção agora para esse problema, pois o verão é a época em que essas tragédias acontecem. A atual administração municipal não teve empenho para obter financiamento de US$ 200 milhões, já aprovado pelo J-Bank, para a despoluição dos rios e lagos da Baixada de Jacarepaguá, por exemplo. O projeto prevê o replantio da vegetação original da região, que é restinga; a


dragagem e canalização dos rios e o realocamento das comunidades que vivem na beira dos rios. O Eduardo Paes conhece bem esse projeto e vamos investir pesado nisso. A cidade do Rio de Janeiro possui a maior floresta urbana do mundo localizada no Parque Nacional da Tijuca. Como será a relação da Prefeitura com este rico patrimônio natural? Muniz - Vamos renegociar um convênio com o Ministério do Meio Ambiente para que a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro volte a administrar e cuidar da Floresta da Tijuca com já aconteceu em passado recente. Isso será fundamental para que possamos administrar de maneira equilibrada e buscar solução para os problemas fundiários, a questão do crescimento das favelas para cima da Floresta e garantir segurança aos turistas e usuários do Parque. E o saneamento do Rio? Muniz – Investir em saneamento é fazer prevenção na saúde. Eduardo Paes

lembra sempre com razão que para cada R$ 1 colocado no sistema de água e esgoto, há uma economia de até R$ 4 em saúde. Entre as propostas que defendemos está o desenvolvimento de um projeto, em parceria com a Cedae e o Governo Federal, que garanta a evolução progressiva do volume de esgoto que é efetivamente tratado na cidade: 40%, em 2009; 50%, em 2010; 60%, em 2011; e 70%, em 2012. O foco inicial será Jacarepaguá, Barra e o entorno da lagoa Rodrigo de Freitas. Também em parceria com a Cedae, municípios da Região Metropolitana e Ministério do Meio Ambiente, pretendemos fazer uma ampla reestruturação do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), visando a definição de novas fontes de recurso e de um cronograma mais realista para o projeto. O governo do estado já retomou, através da Cedae, o PDBG, mas há tarefas da prefeitura que não são cumpridas. As línguas negras, por exemplo, não são esgoto da Cedae, mas ligações clandestinas que caem nas galerias pluviais da prefeitura, que está sendo omissa em fiscalizar e mapear essas ligações. No ano pas-

sado, por exemplo, por solicitação da prefeitura, a Cedae transferiu para o município a responsabilidade do saneamento na Zona Oeste e nas comunidades carentes. Entretanto, nem as obras e nem a manutenção da rede foram feitas pela atual administração. Pretendemos levar saneamento básico a 100% da Zona Oeste em parceria com o governo do Estado através de uma parceria que fortaleça a Fundação Rio-Águas. O mesmo está acontecendo com os rios e lagoas, cuja responsabilidade também foi transferida à prefeitura, mas que nada vem sendo feito. Infelizmente, o que eu e o Eduardo Paes estamos vendo são canais assoreados, ocupações irregulares nas margens, perda da vegetação e excesso de lixo, colocando em risco as populações dessas regiões. Com a chegada do verão, os riscos das enchentes aumentam. Vamos ter que entrar com um programa forte de dragagens de canais para impedir que as pessoas corram risco de vida no verão. Mais informações: http://www.eduardopaes15.can.br


Notícias do Meio Ambiente A Rede Brasileira de Informação Ambiental – REBIA envia gratuita e diariamente um boletim digital para cerca de 30.000 leitores cadastrados atualizado com 10 novas notícias ambientais por dia. Para receber o boletim basta acessar o Portal do Meio Ambiente (www.portaldomeioambiente.org.br) e se inscrever. É gratuito. Selecionamos algumas notícias que foram destaque neste período. Por Gustavo da S. D. Berna*

Governo lança pacote de medidas para fomentar turismo nos parques nacionais O presidente Lula juntamente com o ministro de Meio Ambiente (MMA) Carlos Minc, o ministro de Turismo (Mtur) interino Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho e o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Rômulo (ICMBio) Mello lançaram o Programa de Turismo nos Parques - pacote de medidas que irá investir R$ 28 milhões na estruturação de seis parques nacionais, sendo R$ 10 milhões investidos pelo MTur e R$ 18 milhões pelo MMA. Estatísticas do setor demonstram que o impacto do turismo nos parques nacionais, quando bem planejado e estruturado, pode trazer resultados benéficos para a gestão da visitação e principalmente

para o desenvolvimento da cadeia do turismo regional e local. Portaria assinada, no evento, criou o Grupo de Trabalho de Fomento aos Investimentos no Turismo com Sustentabilidade Ambiental. O GT deverá apresentar no prazo de três meses, proposta de alternativas para a avaliação de impacto ambiental dos projetos e empreendimentos do setor turístico e propor mecanismos normativos e institucionais para o aperfeiçoamento dos procedimentos para o licenciamento ambiental de projetos de investimentos do setor, inclusive no que tange a adoção de parâmetros tecnológicos ambientais a serem observados nos projetos de empreendimentos turísticos. (http://www.icmbio.gov.br)

Manifesto em defesa da reforma tributária ambiental Membros do Ministério Público Federal e dos Ministérios Públicos dos Estados que promovem a defesa ambiental na Amazônia Legal estão divulgando o Manifesto em Defesa da Reforma Tributária Ambiental. Trata-se de um documento que defende a aprovação das alterações na PEC da Reforma Tributária apresentada pelo Governo Federal, a fim de contemplar normas que direcionem a tributação à proteção ambiental, incentivando atividades – públicas ou privadas – que proporcionem ganhos ambientais e deses-

timulando as atividades socio-ambientalmente inadequadas. O objetivo principal do Manifesto é sensibilizar os legisladores, encaminhando proposições a serem agregadas à Proposta de Emenda Constitucional 233/2008. Por isso, o manifesto será entregue a todos os deputados e senadores dos Estados da Amazônia Legal, além de diversas associações e organizações não-governamentais que trabalham na defesa do meio ambiente. A íntegra do Manifesto pode ser conseguida pelo site: www.prac.mpf.gov.br

Atlas da Economia Solidária O Ministério do Trabalho e Emprego preparou esta ferramenta para que você possa encontrar informações georreferenciadas dos Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) que estão registrados no Sistema de Informações em Economia Solidária (SIES). Acesse: http://www.mte.gov.br/sistemas/atlases/

Amazônia já sofre mudança no clima

O primeiro relatório regionalizado sobre as alterações climáticas na Região

Amazônica, feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), sob encomenda da Vale, comprova o que estudos menos específicos já diziam: está havendo um processo acelerado de aumento dos extre-

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mos climáticos na região, com elevação da temperatura geral, aumento da mínima e da máxima, maior concentração de chuvas em menor número de dias, resultando em alternância de fortes precipitações com longos períodos de seca. O trabalho, específico para os Estados do Maranhão e do Pará, que concentram as atividades da Vale na região, prevê que a temperatura média pode subir até 2 graus Celsius do

leste do Pará até o Maranhão de 2010 a 2040, quando em todo o século passado o aumento da temperatura terra foi de apenas 0,8 grau Celsius. O resultado até o fim deste século pode ser a transformação de toda a área que vai do leste do Amazonas até o Maranhão em uma vegetação rala, semelhante à savana da África. Fonte:www.amazonia.org.br (Valor Econômico)


WWF alerta para baixos níveis de gelo no Ártico

Decreto ameaça cobrança de multas ambientais

O Fundo Mundial para a Natureza (WWF, em inglês) advertiu sobre o baixo nível de gelo no Ártico e das conseqüências que isso pode ter. Segundo nota distribuída pela instituição, os últimos dados mostram que este ano a cobertura de gelo no Ártico pode ser igual ou inclusive menor que a do ano passado, quando alcançou um mínimo histórico de apenas 4,13 milhões de quilômetros quadra-

Norma que aumenta mil vezes número de recursos a serem analisados pelo Conama preocupa ambientalistas, que temem por inadimplência. Uma iniciativa do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, para acelerar o trâmite de recursos e eliminar o excesso de instâncias recursais administrativas para multas ambientais corre o risco de provocar efeito contrário ao pretendido. A discreta mudança trazida pelo polêmico decreto de crimes ambientais (Decreto 6.514/08) aumenta em mil vezes o nú-

dos. Martin Sommerkorn, coordenador do programa do Ártico advertiu de que a perda de gelo afetará a Terra em geral, já que “se o gelo desaparece, as águas absorverão o calor dos raios do sol, o que contribuirá ao aquecimento global. Além disso, esse calor liberará mais gases do efeito estufa que antes estava bloqueado no gelo”, alertou. (Fonte: Agência EFE – Terra)

Acordo entre MMA e Caixa antecipa sonho da “água limpa” em rios do Sudeste

A Caixa Econômica Federal antecipará os recursos da cobrança pelo uso da água para financiar grandes projetos de saneamento urbano e despoluição de águas nas bacias dos rios Paraíba do Sul e Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A presidente da Caixa, Maria Fernanda Coelho, o ministro Carlos Minc e o presidente da ANA José Machado assinaram acordo de cooperação técnica para formatar a nova carteira que, na definição do ministro, “antecipará o sonho” dos habitantes da região de terem novamente água limpa correndo naqueles rios. (Fonte: Imprensa MMA)

Programa Petrobras Ambiental 2008 O Programa Petrobras Ambiental 2008 investe em iniciativas que visam à proteção ambiental e à difusão da consciência ecológica. Apóia projetos que colaboram com a criação de soluções e alternativas para a preservação ambiental. Com o tema “Água e Clima: contribuições para o desenvolvimento sustentável”, a Seleção Pública de Projetos 2008 vai destinar R$ 60 milhões a projetos ambientais. As inscrições já estão abertas, e vão até 24 de setembro. Para maiores informações, acesse http://www2.petrobras.com.br/minisite/programaambiental/index.asp

mero de recursos a serem julgados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), um órgão consultivo e deliberativo que se reúne ordinariamente apenas quatro vezes ao ano. Em vez dos atuais 40 recursos que analisa em média por ano, o Conama passará a emitir parecer sobre aproximadamente 40 mil pedidos de revisão de multa. O volume é estimado pelo próprio diretor-geral do órgão, Nilo Diniz, que anuncia a criação de uma Câmara Técnica Recursal de Infrações Ambientais.

Agricultura brasileira pode perder R$ 7,4 bi com aquecimento em 2020, diz estudo O Brasil poderá ter prejuízos de até R$ 7,4 bilhões no seu PIB agrícola já em 2020 e ter sua geografia de produção desfigurada se não agir para mitigar os efeitos do aquecimento global, prevê um estudo realizado pela Embrapa e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “As mudanças do clima devem ser tão intensas a ponto de mudar a geografia da produção nacional. Municípios que hoje são grandes produtores poderiam não ser mais em 2020”, diz o estudo divulgado durante o Congresso Brasileiro de Agribusiness, em São Paulo. Com base no relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, os cientistas projetaram os impactos das mudanças climáticas em nove dos principais produtos agrícolas do país e concluíram que, à exceção da cana-de-açúcar e

da mandioca, todas perderiam área de cultivo. Principal produto agrícola exportado pelo país, a soja seria a mais prejudicada, podendo concentrar metade de todas as perdas em 2070. “No pior cenário, as perdas podem chegar a 40% em 2070, em decorrência do aumento da deficiência hídrica e do possível impacto dos veranicos mais intensos”, diz o estudo. Com base nesses dados, os pesquisadores afirmam que as estimativas do Ministério da Agricultura - de que o Brasil passará a responder por 33% da produção mundial de soja em 2017/2018, ultrapassando os EUA - “podem estar otimistas demais” e que a falta de ação frente às mudanças climáticas poderia “afetar a capacidade competitiva do país”. (Fonte: Carolina Glycério - Da BBC Brasil em São Paulo ).

* Gustavo é biólogo Marinho, pós-graduado em meio ambiente na COPPE/UFRJ, assessor científico da REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental – gustavo@rebia.org.br (21) 9719-3974. 2008 - SETEMBRO - EDIÇÃO 018 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 9


Jovens e Meio Ambiente Por Efraim Neto*

Ações juvenis destacam a importância do desenvolvimento das Metas do Milênio 4ª Congresso Mundial de Jovens destaca o desenvolvimento global liderado pela juventude. países participantes, construiu uma oportunidade efetiva para chamar a atenção de governos e agências de cooperação internacional para o tão importante segmento social que a juventude é para as questões que envolvem os MDG’s. om o título Regénération 2008 (Regeneração em português), o 4º Congresso Mundial de Jovens reuniu 500 jovens, escolhidos dentre mais de 15 mil candidatos, originados de 120 países, para compartilhar habilidades e experiências sobre as mais diversas atividades lideradas por jovens em todo o planeta. Realizado este ano na cidade de Quebec, Canadá, entre os dias 10 e 21 de agosto, o evento foi uma oportunidade para que os jovens, entre 12 e 30 anos, demonstrassem o seu potencial no que se refere ao cumprimento das Metas do Milênio (MDG), estipuladas pelas Nações Unidas. Debater os desafios do desenvolvimento sustentável, intercambiar boas práticas sociais, apresentar idéias inovadoras e, sobretudo, definir, junto aos representantes governamentais e profissionais do desenvolvimento, como contribuir efetivamente para o desenvolvimento da comunidade, foram algumas das atividades desenvolvidas pelos jovens delegados de cada país nos 13 dias de evento. Os jovens representantes estavam divididos nas seguintes categorias de atuação: Jovens Ativistas, Jovens Jornalistas, Jovens Educadores, Jovens Artistas e Observadores. Tendo como principal meta promover o desenvolvimento liderado por jovens, o Congresso, junto aos delegados dos

C

O Congresso O 4º Congresso Mundial de Jovens nasceu da interação da região de Quebec em ceder aos jovens um rol importante dentre as celebrações do 400º aniversário da Cidade de Quebec, assim como também, dar a oportunidade de se desenhar o futuro – tanto para a cidade, como para o resto do mundo. Por este motivo, este ano não foi somente uma ocasião para celebrar o passado e o presente dessa cidade, mas também um momento único para traçar metas para o futuro. Não existe maneira melhor de se preparar para o futuro do que realizando um encontro dos jovens mais ativos e idealistas do mundo, os quais dialogaram sobre os grandes desafios de suas gerações – erradicar a pobreza, lograr um equilíbrio entre o meio ambiente e as necessidades humanas e outros desafios enumerados nos MDG’s. O evento faz para da série “World Congress of Youth Series”, organizada a cada dois anos pela ONG britânica Peace Child International, e dá continuidade ao projeto após o cancelamento pelas Nações Unidas, e tem por objetivo promover o desenvolvimento sustentável e o empoderamento jovem (youth empowerment em inglês). As atividades em Quebec Os primeiros movimentos foram importantes para a apresentação das metas que congresso possuía para fortalecer a

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juventude que busca trabalhar com metas do milênio. Após dois anos de preparação, o congresso teve a oportunidade de juntar diversos jovens ativistas de todos os 5 continentes para cambiar experiência e traçar ações em conjunto. Durante o evento diversas personalidades importantes passaram pelos workshops, oficinas e debates. O presidente da International Youth Foundation, Wiliam Reese, aproveitou a oportunidade para sinalizar a importância de se desenvolver as atividades que envolvem a juventude. “A juventude é um bem da sociedade e por isso necessitamos aprender de forma podemos utilizá-la na construção de uma sociedade melhor. Reconhecer essa questão é a linha de atuação de diversas organizações, como a nossa, pois somente assim chegaremos ao desenvolvimento local e global”, disse Reese. Na noite abertura, o Sr. Reese recebeu o prêmio “Challenge of Youth”. David Woolkcombe, Diretor da Peace Child Internacional, salientou que a chave para a construção da sociedade é um solida parceria entre a juventude e os governos. “O estereótipo que muitas pessoas têm da juventude é de que ela é os jovens são medrosos, perigosos e perturbadores. Muitos os consideram um problema e não umas soluções por isso acreditam que seja necessário os inibir”, disse ele. David ainda apontou que os jovens precisam do lobby social para demonstrar aos governos que eles são dignos de tempo e investimento, logrando assim de conversas para ações de fato. Recomendações para o Governo: - Inclusão dos jovens nas tomadas de decisões políticas através da lei de cotas. - Democratizar e facilitar o acesso a fundos públicos, privados, nacionais e internacionais para o desenvolvimento liderados por jovens. - Cumprimento do acordo de Montrerey (PBI 0,7%), com destinação de uma porcentagem para as políticas jovens.


No dia 12 de agosto, dia internacional da Juventude, o congresso realizou uma marcha pela Paz. A manifestação contou com a participação de 2 mil jovens e sem dúvida alguma, marcou de vez a história da juventude global por sinalizar ao mundo que a juventude desempenha um papel muito importante no que se refere a redução da pobreza e de outras mazelas sociais.

Recomendações Gerais: - Renovação e adequação dos planos de estudos, por região e necessidades. - Apoio financeiro a organizações juvenis latinas para promover o empoderamento juvenil em matéria

de meio ambiente. - Que o governo assuma responsabilidade frente as problemáticas socioambientais. - Acessibilidade a informação através de um articulador políticas. - Que os países da região desenvolvam a cooperação internacional para o desenvolvimento regional. (0,7% e Agência de Cooperação) Brasil O Brasil, que participa desde a segunda edição do congresso, foi representado por nove jovens das mais diversas áreas. Os jovens brasileiros foram selecionados por desenvolverem trabalhos de destaque na promoção do desenvolvimento social e ambiental em suas regiões. Os delegados do país foram: Efraim

Pesquisa Ambiental

Só 17% dos jovens dizem que são comprometidos com o nosso planeta! Apenas 17% dos jovens brasileiros identificam- se como comprometidos com a sustentabilidade do planeta. Isso quer dizer que eles se acham conscientes, ajudam a conscientizar, tomam alguma atitude e valorizam as causas ambientais.

Sustentabilidade - Além dos 17% comprometidos, a pesquisa identificou outros quatro perfis em relação ao engajamento no tema sustentabilidade.

* Efraim Neto, 22 anos, é jornalista. É editor do ECOBlog (www.efraimneto.zip.net), membro da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiente, moderador da Rede Brasileira de Informação Ambiental (REBIA) para o Nordeste e membro da Rede de Comunicação Ambiental da América Latina e Caribe (RedCalc) efraimneto@rebia.org.br .

para a questão, mas sem ser apocalíptico” , ressaltou Cortella. “É um convite a transbordar, ir além da conformidade” , completou o filósofo.

Por Vivian Lobato, do Aprendiz/Envolverde

O dado é do Dossiê Universo Jovem 4. Produzido pela MTV Brasil desde 1999, a pesquisa busca conhecer os valores, as atitudes e o comportamento do jovem brasileiro. A edição deste ano teve como tema principal a sustentabilidade. Como a geração vai usufruir por mais tempo dos recursos naturais, como percebe o próprio planeta e até onde vai seu interesse pelo assunto foram algumas das questões abordadas pela pesquisa e que resultaram em um documentário com o mesmo nome da pesquisa. Para chegar aos resultados, o estudo escutou, entre abril e maio de 2008, quase 3 mil jovens de 12 a 30 anos das classes A, B e C de nove cidades (Belo Horizonte, Brasília, Manaus, Porto Alegre, Salvador, São Paulo, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro e Recife). O universo pesquisado representa 8 milhões de jovens nas nove cidades pesquisadas, 49 milhões de jovens no Brasil e 92% do Índice de Potencial de Consumo, considerando as classes pesquisadas.

Neto (Jovem Jornalista / Salvador-BA), Felipe Rebelo (Jovem Ativista / BrasíliaDF e Argentina), João Felipe (Jovem Ativista / Santos-SP e Inglaterra), Helena Gomes (Jovem Jornalista / Guaxupé-MG), Paulo Farine (Jovem Ativista / LondrinaPR), Ramatis Radis (Jovem Ativistas / Ubatuba-SP), Daniel Perini (Jovem Educador / Belo Horinzonte-MG), Cristiane Ciancio (Jovem Ativista / São Paulo-SP), Ionara da Silva (Jovem Jornalista / Brasília-DF).

Os eco-alienados (16%) são aqueles com menos conhecimento ecológico, os intuitivos (21%) gostariam de ter mais informações, os refratários (20%) não se importam com o tema, e, por fim, os teóricos (26%) têm consciência da relevância do tema, mas não tomam nenhuma atitude. Quando pensam no futuro, dois assuntos relacionados ao meio ambiente se destacam: o aquecimento global (34%) e a falta de água (24%). Com relação à sustentabilidade, o jovem brasileiro está mais atento à questão da poluição do ar (28%), utilizando como principais fontes de informação sobre o meio ambiente a televisão (71%), jornal (33%), Internet (29%) e escolas e faculdades (28%). Contudo, os jovens acreditam que a mídia poderia ter um maior papel mobilizador, trazendo mais conteúdo sobre o meio ambiente (53%) e incentivando o jovem na preservação (73%). O professor e filósofo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Mário Sérgio Cortella, presente na apresentação do vídeo, comentou os resultados da discussão e ressaltou a importância que o assunto tem atualmente. “O vídeo não é para dar lição de moral e sim para chamar atenção

Outros Resultados - De acordo com a pesquisa, 77% dos jovens são solteiros e 97% moram com os pais. 73% afirmam ter boa relação com a família, e apesar da maioria morar com os pais, 24% chefiam a renda familiar e 25% já têm filhos. 70% dos jovens têm algum tipo de renda mensal: 14% deles recebem mesada e 56% têm renda do trabalho. A cada 10 jovens, 3 buscam o sucesso financeiro a qualquer custo.61% dos entrevistados acima de 15 anos já experimentaram algum tipo de droga, sendo as mais comuns: álcool, cigarro e maconha. Quando questionados sobre os temas que causam maior preocupação, sete grandes assuntos assustam os jovens brasileiros. São eles: Violência (43%); desemprego (39%); drogas (32%); fome (26%); aquecimento global (24%); desigualdade social (23%) e poluição (20%). Os jovens também apontam como os principais problemas enfrentados pelo Brasil: corrupção (37%); violência (32%); desemprego (24%); desigualdade social (24%); fome (23%) e drogas (21%). Apesar da consolidação da Internet, que teve um salto no índice de acesso pelos jovens de 66% para 86% entre 2005 e 2008, a TV aberta e o rádio continuam sendo os meios de comunicação com maior penetração, somando 98%. Na TV, os jovens costumam assistir, principalmente, filmes (79%); jornalismo (64%); novelas, (59%); clips e programas musicais (46%); programas humorísticos (45%); esportes e seriados (45%).

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Energia e Meio Ambiente Por Bernardo Niskier*

Faça a sua Parte

Aprenda a economizar energia brincando Casa Eficiente é um jogo virtual criado para conscientizar as pessoas do impacto do desperdício de energia nas mudanças climáticas. O desafio de quem visita a Casa Eficiente é encontrar maneiras de economizar energia e diminuir os danos ao meio ambiente. Cada mudança de hábito garante mais pontos ao jogador. Vence o jogo quem diminuir ao máximo o nível de desperdício na casa. Ao navegar pela casa, você também vai encontrar dicas de como utilizar melhor os aparelhos eletrônicos para gastar menos energia e informações sobre o impacto de pequenos gestos no clima do planeta. O setor de energia, considerado o maior vilão das mudanças climáticas, é responsável por 37% de todas as emissões de gás carbônico no mundo. A cada ano, a indústria energética no planeta emite 23 bilhões de toneladas de CO2, o equivalente a mais de 700 toneladas por segundo. Por enquanto, a matriz energética brasileira é considerada uma das mais limpas do planeta. Atualmente, 75% da energia elétrica gerada no país vêm de hidrelétricas. Porém, produzir energia de forma sustentável não basta, precisamos consumir de maneira eficiente, diminuindo a pressão sobre os recursos naturais. (Acesse e brinque agora: http:// jogos.wwf.org.br/casaeficiente/ )

A

Espanha lidera no setor de energia eólica A Espanha é o segundo maior produtor de energia eólica do mundo, depois da Alemanha e à frente dos Estados Unidos, e pretende continuar aumentando sua infra-estrutura para em 2012 ter duplicado as cifras atuais. O aquecimento desigual da superfície terrestre pela radiação solar é a que causa o movimento do ar. Por isso a velocidade dos ventos não é igual e isto se reflete nas mudanças na produção de energia. Na Espanha, os ministérios do Meio Ambiente e da Indústria, Comércio e Turismo trabalham para promover um desenvolvimento da energia eólica marinha, instalando moi-

nhos de vento nem suas zonas marítimas, tanto na península Ibérica quanto nas Ilhas Canárias, localizadas diante da costa noroeste da África. Para este país esta energia não apenas lhe permite afastarse um pouco da dependência da importação de petróleo como também gera postos de trabalho e negócios, tanto na Espanha quanto no exterior. Fontes do Ministério do Meio Ambiente disseram que as energias renováveis criaram 180 mil postos de trabalho na Espanha e, destes, 96 mil foram no setor eólico. A comercialização vai além das fronteiras e um exemplo é a empresa Gamesa, que fabrica parques eólicos e tem como clientes seis das sete principais operadoras de parques eólicos no mundo. Outra empresa espanhola, a Iberdrola, tem em andamento a construção de quatro parques eólicos na França, onde já conta com outros 15 e consolida sua definição como a principal empresa eólica do mundo, com 7.9490 megawatts de capacidade instalada e em funcionamento, e possui nos Estados Unidos seu maior parque eólico, denominado Klindike III. Energias do Brasil defende produção local de equipamentos O presidente da Energias do Brasil, Antonio Pita de Abreu, defendeu a produção local de equipamentos utilizados em projetos eólicos, como forma de estimular o desenvolvimento do setor. A criação de um pólo de produção no mercado brasileiro substituirá a atual necessidade de importação desses equipamentos e diminuirá o custo de construção de futuros projetos eólicos, disse Pita de Abreu. “O Brasil tem água, sol, vento, todas as condições para desenvolver projetos eólicos na sua matriz energética”, disse o responsável pela subsidiária brasileira da Energias de Portugal (EDP). “A EDP está empenhada em colocar eólicas cá com todo o know how que tem”, frisou o presidente da empresa, durante um seminário sobre ener-

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gias renováveis, que reuniu dezenas de especialistas, em São Paulo. Pita de Abreu ressaltou que o grupo português tem a quarta maior potência mundial instalada para produção de energias renováveis, e que o Brasil tem um potencial de produção de 143 gigawatts de energia eólica. (Mais informações: http:/ /www.energiasdobrasil.com.br/energia/).

Veículo que ajuda a manter o meio ambiente limpo As scooters eletrônicas Motor Z são dotadas de um conjunto de baterias, ligado a um motor elétrico acoplado à roda, que transforma a energia elétrica em força motriz. Para “abastecer” o scooter, basta conectar o cabo da bateria a uma tomada residencial comum (110v ou 220v), durante o tempo de 2 a 8 horas, o que rende uma autonomia média de 45Km. Os scooters são equipadas com um motor de corrente contínua, silencioso e que dispensa o uso de óleos lubrificantes e a manutenção comum de um motor a combustão. Sua aplicação é pensada principalmente para o uso no lazer, em pequenas e médias distâncias, principalmente no percurso plano ou com até 20% de inclinação. Na linha eletrônica Motor Z, o custo do quilômetro rodado equivale a R$ 0,02 (baseado no preço da energia elétrica cobrada no Estado de S.Paulo). Mais informações: www.motor-z.com.br * Bernardo é arquiteto e membro do Conselho Editorial desta Revista bernardo@niskier.com.br


Nuclear Manifesto do FBOMS contra o Programa Nuclear Brasileiro:

O Brasil é Renovável a véspera do 21º aniversário do acidente com o Césio-137 em Goiânia, um triste marco da insegurança nuclear no Brasil, o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) reafirma seu repúdio ao Programa Nuclear Brasileiro. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem anunciando, à revelia da sociedade e do Congresso Nacional e em flagrante desrespeito à democracia e à Constituição Federal, o licenciamento ambiental de Angra 3, acordos binacionais com a Argentina para fabricação de combustível nuclear, novos investimentos públicos em pesquisas de enriquecimento de urânio e metas de ampliar a mineração de urânio, bem como a construção de pelo menos outras quatro usinas nucleares no país. Com a ampliação do seu programa nuclear, o Brasil acelera na contramão do desenvolvimento sustentável investindo nessa fonte cara, insegura e suja. O orçamento para a construção de Angra 3 é estimado em pelo menos R$ 7,3 bilhões e a usina apresenta custos de geração maiores do que a hidroeletricidade e geração eólica. A conta do governo tampouco inclui recurso financeiro real para o descomissionamento das usinas nucleares após o término de sua vida útil, que é de cerca de 40 anos, ou mesmo para o gerenciamento futuro dos rejeitos radioativos. Usinas nucleares são perigosas, como comprovam o triste legado do acidente de Chernobyl e os recentes incidentes e vazamentos de urânio na França, país de amplo parque atômico, demonstrando as graves perdas humanas, físicas e financeiras e evidenciando os seus riscos incalculáveis e inaceitáveis. No caso da usina Angra 3, o plano de emergência previsto se torna inexeqüível para o caso de sinistro já que não considera, entre outros fatores, o alto índice de crescimento da população de Angra dos Reis, na casa de 5,9 % ao ano. Vale lembrar ainda que as usinas de Angra 1 e Angra 2 estão construídas sobre a areia, em terreno instável, e não foram incluídos dispositivos de segurança relacionados aos riscos de elevação do nível do mar, conforme cenários apresentados em 2007 pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU. Tampouco existe planejamento do governo federal sobre a capacidade de suporte para a região de Angra dos Reis absorver o fluxo migratório conseqüente das obras de Angra 3. O ciclo de vida da energia nuclear gera impactos ambientais e riscos desde a mineração do urânio até o armazenamento do lixo radioativo. A mineração e beneficiamento de urânio em Caetité (BA), de onde sai o concentrado de urânio que abastece as usinas nucleares de Angra dos Reis

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opera há 8 anos sob forte rejeição da população local, junto à ocorrência de acidentes, vazamentos e licenças controversas. Com a construção de Angra 3, o setor nuclear planeja dobrar a capacidade produtiva da mina baiana e já se mobiliza para iniciar a exploração de urânio em Santa Quitéria (CE). Assim, quanto maior a demanda por combustível nuclear, maiores os impactos sociais e ambientais da mineração e maior a freqüência de transportes de materiais nucleares que atravessam áreas densamente povoadas nos estados da Bahia e do Rio de Janeiro. O lixo radioativo resultante da geração nuclear continua a ser um grande problema sem solução. Como não existe tecnologia definitiva, os rejeitos precisam ser armazenados em depósitos e controlados por milhares de anos, criando grande pressão sobre a estrutura de Estado além de enormes custos financeiros que serão eternamente repassados aos contribuintes. O lixo de alta radioatividade de Angra 1 e 2 continua a ser estocado dentro do próprio vaso do reator, o que aumenta ainda mais o risco potencial da operação. Ao exigir, na licença prévia deAngra 3, uma solução definitiva para o lixo radioativo, o Ibama transformou em condicionante uma questão que deveria ter sido equacionada durante o Estudo de Impacto Ambiental do empreendimento. Resta agora saber como a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e a Eletronuclear responderão ao prazo de 60 dias estipulado pelo presidente Lula em reunião com 11 ministros em 18 de agosto passado para definição do destino dos rejeitos de Angra 3, e apresentar uma solução que não foi encontrada em nenhum lugar do mundo durante toda a história da energia nuclear. Desde o primeiro mandato do governo Lula, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) funciona de forma ilegítima, sem a devida nomeação de cidadão brasileiro especialista em energia e que teria direito a voto, conforme previsto em regimento. Exigimos a democratização imediata do CNPE para permitir um debate minimamente transparente sobre o planejamento energético brasileiro. É fundamental, ainda, que se cumpram as Resoluções nº 5 de 2001 e nº 8 de 2002 do CNPE, assim como a Moção nº 31 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) que ressalta que a avaliação da viabilidade ambiental do empreendimento Angra 3 só será possível mediante realização dos procedimentos do licenciamento ambiental previstos na legislação. Criticamos a proposta de criação de uma comissão de especialistas argentinos e brasileiros - o Comitê Binacional de Energia Nuclear (Coben) - para desenvolver um modelo de reator nuclear de geração de energia elétrica, assim como a criação de uma empresa binacional de enriquecimento de urânio. A cooperação com a

Argentina e os demais países do MERCOSUL e da América Latina deve fortalecer o desenvolvimento e a transferência de tecnologias para energias renováveis, reafirmando o compromisso de uma plataforma de 10% de energias renováveis na matriz energética regional. Questionamos a visão expressada em reunião do recém-convocado Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro, de que haveria consenso no governo de que a energia nuclear deve ganhar mais importância na matriz energética brasileira. As usinas de Angra 1 e Angra 2, juntas, respondem por menos de 2% da eletricidade gerada no Brasil. Construir novas usinas nucleares não afasta o medo de um novo apagão, estimulado através de informações errôneas sobre o potencial energético do Brasil, já que não muito provavelmente seriam concluídas antes de 2020 e teriam participação pouco significativa na matriz nacional. Não podemos, tampouco, comparar o Brasil em termos de recursos naturais com relação a outros países que utilizam esta fonte para gerar energia. O governo brasileiro não pode continuar ignorando o enorme potencial da eficiência energética e das fontes renováveis de energia, tais como a eólica, a biomassa e a solar e Pequenas Centrais Hidrelétricas, desde que sejam respeitadas todas as salvaguardas socioambientais que garantam a sustentabilidade de tais empreendimentos. Em Goiânia, o acidente com o Césio-137, elemento altamente radioativo, ocorreu no dia 13 de setembro de 1987, quando um aparelho utilizado em radioterapias foi furtado das instalações de um hospital abandonado. O instrumento roubado foi desmontado e repassado para terceiros, gerando um rastro de contaminação. Matou, até hoje, 60 pessoas, causando doenças como câncer de tiróide e de pulmões em dezenas de outras e contaminando mais de 6mil vidas, segundo a Associação de Vítimas do Césio -137. As vitimas do acidente lutam até hoje por amparo e reconhecimento apropriados. O aniversário do acidente de Goiânia deve ser um momento de reflexão. A sociedade brasileira não quer e não precisa conviver com ameaças nucleares e depósitos de lixo radioativo. O Brasil é renovável. Mais informações: Ivan Marcelo Neves - ISABI/ APEDEMA-RJ/Secretário Executivo do FBOMS - Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - SCS, Quadra 08, Bloco B-50 - Edifício Venâncio 2000, Sala 105 CEP 70333900 Brasília, DF – Brasil Fone: (61) 3033.5535 ou 3033.5545 www.fboms.org.br

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Silvicultura

Por Bernardo de Vasconcellos*

A madeira plantada, o déficit mineiro, a pressão sobre as nativas, o ovo e a galinha... capazes de capacitar Minas a ser o Estado mais competitivo do Brasil, e ao Brasil para ser o País mais competitivo do Mundo. Estamos discutindo em sociedade uma série de situações que são importantíssimas, e porque não dizer incômodas e alarmantes. A maioria voltada para o uso da madeira como fonte de energia, carvão vegetal, matéria prima para a celulose, para a construção civil, para a indústria moveleira, e todo este debate tem e não pode perder com enfoque em meio ambiente e relações sociais. Mas é preciso saber por onde começar, é preciso trabalhar causas, só com bom alicerce temos boas construções.

necessidade da sociedade pelo consumo de madeira é indiscutível, sua tendência de crescimento é inevitável, suprir esta demanda de forma social, econômica e ambientalmente correta e sustentada, é uma condição de modus operandi, essencial a nossa sobrevivência e a própria viabilidade da vida social em equilíbrio com o País e com o planeta, a situação de déficit de suprimento de madeira plantada é uma realidade posta, com as causas conhecidas. O espaço que o Brasil tem para, após atender sua demanda interna, se firmar como o maior país exportador de produtos de origem de madeira plantada no Mundo, é também muito visível e palpável, e pode e deve ser o grande motor impulsionador e orientador de nossas práticas e políticas, tanto no meio empresarial, quanto em nossas estratégias de governo. Partindo das premissas acima, tentemos fazer juntos uma análise sobre o quadro atual e as possibilidades de futuro. O cultivo de madeira com o objetivo de co-

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lheita e processamento da mesma é uma atividade agrícola como outra qualquer, na maioria de seus aspectos e características. Como itens comuns têm a tecnologia, a seleção genética de boas espécies, e as práticas de cultivo que evoluem mais a cada dia no objetivo de se alcançar índices de produtividade cada vez maiores, permitindo uma menor utilização de áreas para uma maior quantidade de produção, uma intervenção no solo cada vez menor mantendo sua integridade, evitando sua degradação e diminuindo assim necessidade de expansões de fronteiras agrícolas em áreas de matas nativas, e o conceito em todas as etapas de cultivo e colheita, de uma maior sintonia com as demandas sociais e ambientais. O conceito, que não pode virar clichê, de desenvolvimento sustentado Como peculiaridades específicas, temos, o longo prazo de maturação da cultura (sete anos para colheita), os altos custos de implementação e manutenção da mesma que em conjunto demandam de políticas de financiamento adequadas e

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“É fato que hoje a demanda energética por carvão vegetal é suprida por uma grande quantidade de carvão oriunda de mata nativa, é fato que existe um problema envolvendo carvão obtido e fabricado de forma ilegal, é notório que existem problemas com documentos ambientais inidôneos.” Também é fato a pressão que as matas nativas sofrem para a obtenção de madeiras para a indústria moveleira e para a construção civil. Mas devemos tratar de cada questão de forma específica e separada, para entendermos a sistemática que hoje vigora em nosso Estado, e separamos cada situação entendendo como cada uma é diferente entre si em todos os aspectos. Mas as dificuldades de obtenção sustentada desta matéria prima insubstituível e necessária para a humanidade, só é possível de ser enfrentada de uma forma, fomentando, incentivando e facilitando o cultivo da madeira. O resto é combater conseqüência, sem atacar a causa o combate é eterno e cada vez mais fracassado. É preciso adotar um novo modelo no País que permita o crescimento destes cultivos. É preciso desburocratizar, incentivar os produtos de origem de madeira plantada, e os cultivos realizados em áreas já desmatadas, ou seja, sem supressão


de mata nativa. O cultivo de florestas de rápido crescimento tem hoje tecnologias dominadas e aplicadas que permitem a recuperação de áreas degradadas e abandonadas, em cujas extensões não há proveito de nenhuma atividade. Pior do que isto, esta cultura de falta de técnicas, que redunda no mau uso dos solos atingindo em determinado ciclo a sua degradação e abandono, gera como efeito nefasto uma necessidade cada vez maior de expansão de áreas, buscando novas áreas produtivas com a supressão de florestas. Apenas na Amazônia temos mais de 16.000.000 (dezesseis milhões) de hectares abandonados, cuja recuperação poderia significar importante mecanismo de retenção de novos desmatamentos. “O cultivo de Florestas permite, em cada hectare aplicado, uma produção de madeira equivalente ao que se teria em dez hectares de mata nativa, o que pode diminuir sobremaneira a pressão sob os biomas naturais.” Além disso, a atividade não precisa excluir as demais. Importantes e bem sucedidos projetos de integração tem resultado em um cultivo de culturas agrícolas como o milho, o feijão e a soja nos dois primeiros anos de crescimento das florestas plantadas, e da utilização de pastagens, com capacidade de lotação muito superior a média nacional nos anos seguintes do cultivo florestal até a sua colheita. Hoje infelizmente temos um ordenamento legal que não separa de forma eficiente o cultivo e a colheita de madeira cultivada, da exploração de matas nativas. Em Minas Gerais o Poder legislativo está atento e vem construindo importantes discussões e debates, por via do trabalho competente da Frente Parlamentar da Silvicultura da Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais. A Associação Mineira de Silvicultura é uma entidade que congrega empresas que tem como sua política trabalhar com o cultivo de madeira (silvicultura). São empresas de produtos que tem na base de sua cadeia a madeira cultivada. Somos uma entidade que não tem obrigação de aceitar sócios, temos como sócios as empresas que entendemos responsáveis, sérias e que adotam as boas práticas sustentáveis. (social, ambiental e economicamente). Por isto temos orgu-

lho de ter em nossos quadros, representantes das melhores empresas do ramo de Celulose, Painéis de Madeira, Siderurgia a carvão vegetal e Metalurgia (ferroligas e silício metálico). São várias as empresas que se enquadram neste conceito e que ainda não estão associadas, mas elas estão se juntando cada vez mais em um esforço de unir forças para alçar o Brasil ao seu lugar de direito no mercado Mundial de produtos com base em madeira plantada. Esta união vem se dando tanto pela associação das empresas a nossa entidade, quanto pelo trabalho conjunto da AMS e outras entidades de classe. O resultado deste esforço vem apresentando cada vez mais frutos. Hoje, as empresas associadas da AMS já se utilizam de modernos conceitos de preservação ambiental, como a manutenção e adensamento das áreas de reserva legal e preservação permanente, a manutenção de corredores ecológicos que interligam estas áreas de reserva, colheita da madeira em mosaicos, alternando as áreas colhidas o que resulta em uma exposição de menor área contígua ao efeito da retirada da cobertura das florestas plantadas, plantio direto com intervenção mínima no solo, entre outras várias e importantes iniciativas. “As empresas associadas da AMS – Associação Mineira de Silvicultura são responsáveis hoje pela manutenção e preservação de mais de 500 mil hectares de matas nativas, o que é feito com o emprego das mais modernas técnicas e equipamentos de prevenção e combate a incêndio.” Apoiamos o Governo de nosso Estado no PREVINCENDIO, um programa ousado de prevenção e combate a incêndios em parques florestais e áreas de interesse ambiental, com combate aéreo e terrestre. No aspecto social os últimos levantamentos que apuraram a evolução de uma década nos índices de desenvolvimento humano, IDH, ficou assinalado que aquelas regiões que contam com as atividades de plantio de florestas, tiveram evolução nestes índices a níveis superiores em 34% (trinta e quatro por cento) da média de nosso Estado. Encaminhamos ao Governo de Minas, uma proposta que chamamos de pacto da

sustentabilidade e que visa criar um ambiente que possibilite e viabilize o inadiável esforço de incremento do cultivo da Madeira em Minas. O pacto prevê um maciço e cumulativo investimento, para que em dez anos alcancemos a sustentabilidade total, e teve sua importância e relevância reconhecidos com a concessão da Menção Honrosa à AMS, por seu trabalho em prol deste projeto, ocorrida durante o evento VIII Encontro Verde das Américas, realizado este ano em Brasília. O Governo de Minas sinalizou com a criação de uma Câmara Temática de Silvicultura, com a participação de todos os segmentos interessados e presidida pelo Secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Dr. Gilman Vianna Rodrigues. Nesta Câmara deverão ser discutidas, elaboradas e apresentadas às diretrizes da nova política de cultivo de madeira que precisamos implementar de forma urgente no Estado. Estes investimentos propostos no pacto, prevêem a utilização de áreas já utilizadas ou degradadas, com a aplicação da substituição da atividade atual por cultivo de florestas, a integração agrosilvopastoril, e a recuperação de áreas degradadas. “Não existe melhor forma de se alcançar o desmatamento zero do que produzindo e colhendo madeira de forma sustentável, e viabilizando ainda a recuperação de áreas degradadas para nelas se fazer expansão agrícola, sem necessidade de novos desmatamentos.” Para tanto é urgente criar um cenário que permita viabilizar a competitividade brasileira no setor, promover e incentivar o plantio de florestas de rápido crescimento e precisamos fazê-lo de forma urgente.

* Bernardo é presidente da AMS – Associação Mineira de Silvicultura.

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Política Ambiental Por Carlos Minc, Ministro do Meio Ambiente

Balanço dos primeiros 100 dias Caros amigos, companheiras, ambientalistas tentáveis (que depende de 8 ministérios) é muito lenta; o Ibama fecha uma serraria ilegal em uma hora, mas o governo não cria 50 empregos sustentáveis neste tempo, e o desempregado vai desmatar 5 km adiante. Relacionamos abaixo medidas executadas, suposições infundadas e os imensos desafios.

u não pedi para ser ministro, não queria e ainda coloquei condições para aceitar. Conhecia o tamanho do desafio, o que a ministra Marina Silva havia penado (sempre com o meu apoio, nas horas mais difíceis). Aqui vai um balanço e uma resposta às questões que foram deformadas por uma parte da mídia. É uma prestação de contas, sobretudo para aqueles que conhecem minha história e sabem que não permitirei que o Pantanal se transforme num canavial, que não pedirei adiamento das normas para redução do teor de enxofre no diesel, que não aceitarei que a floresta nativa da Amazônia se converta em plantação de exóticas. Neste período o presidente Lula assinou 10 decretos que preparamos, como o Fundo Amazônia, o decreto que regulamenta e reprime crimes ambientais, o Fundo Clima, 3 grandes unidades de conservação na Amazônia, o preço mínimo para os produtos extrativistas; assinei outras 3 portarias: a que agiliza o acesso de cientistas à biodiversidade, com co-responsabilidade, a que abre a Câmara de Compensação Ambiental (com direito a voto) às ONGs, universidades, Anama, Abema e empresários, e atos que incentivam a criação de

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RPPNs; assinamos 5 acordos públicos com setores produtivos e ONGs, como a Moratória da Soja e o Pacto pela madeira Legal e Sustentável; mas a crítica a mim dirigida não se baseia nestes 18 atos reais e publicados, mas sim em extratos de declarações na mídia, especulações, TODOS desmentidos, que não se sustentam em fatos. Nestes 100 dias estivemos em ações diretas na Amazônia, combatendo o desmatamento e as queimadas, em ações no Nordeste, defendendo o bioma Caatinga e destruindo 300 fornos ilegais de carvão (em Pernambuco), em reuniões com os 9 governadores da Amazônia (em Belém) onde conseguimos reverter a pressão e manter a resolução do Banco Central que corta o crédito aos proprietários que estejam na ilegalidade fundiária ou ambiental. Apreendemos e leiloamos gado ilegal em unidades de conservação na Amazônia. Obtivemos reduções substanciais nas taxas de desmatamento em 3 meses, com um resultado expressivo em julho, de queda de 60%. Estes números são instáveis e precários, apesar do imenso esforço, pois a pressão é enorme, agravado pelas eleições; o ritmo das ações do Arco Verde e de criação de empregos sus-

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Pantanal O IBAMA rastreou e multou em mais de R$ 400 milhões dezenas de carvoarias que estavam transformando áreas do Pantanal e do Cerrado em carvão para fornecimento de 60 siderúrgicas de Minas Gerais e do Espírito Santo. Carvoarias e siderúrgicas deverão replantar 11 mil ha devastados. Na discussão preliminar do Zoneamento Agro-Ecológico da Cana-deAçúcar defendemos que no bioma Amazônia e no bioma Pantanal não haja novas usinas de cana-de-açúcar. O Ministério da Agricultura defendeu que no planalto do Mato Grosso, fora do Pantanal, em áreas consolidadas, poderia haver expansão da cana. Explicamos ao governo que leis estaduais e resoluções do CONAMA (de 1985) interditam usinas de cana em toda a bacia hidrográfica do Pantanal, incluindo o Planalto Pantaneiro, pelo risco do vinhoto e dos agrotóxicos contaminarem a planície pantaneira. Obtivemos apoio de vários ministérios, mas devemos continuar atentos. Decreto de crimes ambientais e reserva legal Mais de 90% das multas ambientais não são pagas e os criminosos ambientais enriquecem com o produto de atos ilícitos. Preparamos e o presidente Lula assinou decreto de 162 artigos, que diminui as manobras de recursos, dá poderes ao Ibama de apreender e dar destino (doar, leiloar) produtos de crimes ambientais, como grãos, toras de madeira, gado. Leiloamos dezenas de lotes de soja, toras e o famoso boi pirata. Esta medida gerou forte reação da CNA, bancada ruralista, Fórum de secretários estaduais de agricultura. Depusemos por 4 horas na Co-


missão de Agricultura da Câmara Federal com transmissão pela TV. Os deputados alegaram que eram exíguos os prazos para averbar as reservas legais e recuperar APPs (Áreas de preservação permanentes) e que nas regiões Sul e Sudeste as áreas produtivas ocupavam mais de 90% das propriedades, e que a demarcação diminuiria a produção. Afirmaram que produções de maçã, uva, café ocupam há 30 anos encostas de mais de 45% , o que é considerado APP. Note-se que há 40 anos quase ninguém cumpre a demarcação de APPs e de Reserva Legal, e não são incomodados. Ao darmos prazo definido e multas, a grita foi geral. Abrimos diálogo, em curso, envolvendo ONGs, 4 ministérios e a Frente Parlamentar Ambientalista, que poderá definir prazos, com compromissos e cronogramas de cumprimento, e formas de restaurar a reserva legal fora das propriedades, nas bacias e no bioma, definidas por órgãos ambientais, que cumpram a função pretendida. Desmatamento Zero, Zee, preços mínimos para produtos extrativistas , manejo florestal e plantas exóticas Lutamos pela meta de desmatamento zero. Vamos concluir até final de 2009 todo o zoneamento ecológico econômico (ZEE) dos 9 estados da Amazônia – com apoio técnico e recursos do MMA. Ampliamos o combate ao desmatamento com a Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e com os estados, usando os dados dos satélites do INPE e dos satélites japoneses. Com a estiagem prolongada e com conivência de autoridades as queimadas continuam e os esforços deverão ser duplicados. Obtivemos uma MP que garante preços mínimos para 10 produtos extrativistas, como a castanha, a seringa, o babaçu. Isto para que os trabalhadores extrativistas possam obter crédito, ter carteira assinada, 13º e escapar da miséria em que se encontram e que os sujeitam a vender madeira ilegal e permitir a entrada ilegal de gado nas RESEX. Estimularemos o beneficiamento das cadeias produtivas, agregando valor a este setor. Depois de um ano de espera começamos a licitar áreas para o manejo florestal, ampliando a oferta de madeira legal, melhor forma de combater a madeira ilegal – base para o pacto da Madeira Legal de manejo, que assinamos no Pará em julho.

Exóticas Nas áreas completamente degradas (leste do Pará, p.ex) , depois de concluído o ZEE, deverá ser reconstituída a Reserva Legal das propriedades com plantas nativas do Bioma; a área produtiva (fora da reserva legal) poderá ser utilizada com plantação de palmáceas garantido renda, capturando carbono, desde que esteja previsto no ZEE. Fundo Amazônia Criado por decreto do presidente Lula em 1 de agosto, é um fundo privado, abrigado no BNDES, controlado por um conselho formado por 3 componentes: 5 ministérios (gov. federal) , 9 governos da Amazônia e a sociedade civil (universidade, sindicato, empresários, 3º setor) , onde os países doadores não tem assento. Os recursos financiarão atividades sustentáveis, reflorestamento, extrativismo, pagamento por serviços ambientais, para manter a floresta em pé e defender o bioma Amazônia. Garantimos a presidência por 3 anos para o MMA e participação relevante da sociedade civil, pois as decisões deverão ter o apoio dos 3 segmentos. Licenciamento Ambiental, concurso, fiscalização, pesca Com o Ibama agilizamos o licenciamento ambiental, aumentando o rigor e as compensações, como fizemos no Rio de Janeiro, na Secretaria Estadual do Ambiente. Reduzindo burocracias, encurtando prazos, informatizando processos reduzimos o tempo de tramitação, com critérios mais rigorosos, descartando empreendimentos inviáveis e obrigando os proponentes a investir no saneamento local, no custeio de parques nacionais e de reservas indígenas. No caso de Angra 3, encontramos o licenciamento 90% pronto. Somos contrários, como a ministra Marina, que perdeu a votação no Conselho Nacional de Política Energética, e deu continuidade, aceitando o Eia-Rima, realizando as audiências e preparando o relatório, ao longo de um ano. Acrescentamos exigências, como o monitoramento independente, a prévia definição do depósito do lixo atômico, adoção dos Parques da Bocaina e da Reserva Tamoios, e R$ 50 milhões em saneamento de Angra e Parati, declarando o apoio às energias renováveis, alternativas e à redução do desperdício, metas do 1º Plano Nacional

de Mudanças Climáticas, avançando em relação à posição anterior, mais conservadora. O licenciamento da hidroelétrica de Santo Antônio estava avançada; na gestão da ministra Marina se concedeu a LP (Licença Provisória) depois de 2 anos e da famosa luta pela defesa dos bagres e da ictiofauna, reduzindo em 70% a área inundada; a LI foi concedida pelo Ibama com rigor e compensações que incluíram o saneamento de Porto Velho, o custeio de 2 parques e de 2 reservas indígenas. Um documento técnico intermediário do Ibama referia à necessidade de apresentação de 2 documentos, que foram incluídos no dia seguinte ao processo. Reabrimos um processo de corrupção no licenciamento e fiscalização no Rio de Janeiro, que havia sido bloqueado por postura corporativa de um grupo. Garantimos um concurso para 400 analistas ambientais (Ibama e Instituto Chico Mendes) para novembro/2008, com prioridade para a fiscalização e o licenciamento. No processo de criação do Ministério da Pesca, que agora será por lei, e não por MP, realizamos 3 rodadas de discussões com o Ministro Gregolin e a Ministra Dilma Roussef para garantir que o MMA e o Ibama mantivessem o poder da fiscalização integral. Os ambientalistas devem estar atentos para impedir que emendas retirem esta competência necessária para evitar que espécies sobre-pescadas colapsem. Unidades de conservação, manejo e eco-turismo O Instituto Chico Mendes administra 299 UCs, com 78 milhões de ha. Encontramos 68 destas sem um gestor, 121 sem um fiscal, 54 das 56 RESEX sem planos de manejo, nenhuma das FLONAS (florestas nacionais) fornecendo madeira legal de manejo, apenas 26 Parques Nacionais (de 65) recebendo visitantes , sendo que 90% dos 3,5 milhões de visitantes concentrados em 2 parques: Iguaçu e Tijuca. Os parques nos EUA recebem 192 milhões de turistas e são mais bem cuidados. Dos R$ 550 milhões disponíveis para compensação ambiental, foram aplicados em 5 anos apenas R$ 52 milhões. Garantimos administradores para estas 68 UCs, estamos formando até novembro 180 fiscais , para que nenhuma UC fique sem fiscal, decidimos, com 60 lideranças dos trabalhadores extrativistas, realizar ou licitar planos de manejo para todas as

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RESEX até março 2009. Através do Serviço Florestal Brasileiro (do MMA) e do ICM Bio vamos dobrar a meta de 2009 para oferta de manejo florestal, incluindo manejo comunitário para assentamentos do Incra e RESEX. No dia 13 de setembro o presidente Lula lançará o plano de Turismo nos Parques, do MMA em conjunto com o min do Turismo; este define parques prioritários e recursos para sedes, centros de visitante, de pesquisador, trilhas sinalizadas, acesso. Mata Atlântica, artigo 23 , guardas parque , fundo clima O decreto do Guarda Parque viabiliza convênios com governos estaduais que receberão equipamentos para bombeiros e batalhões florestais; estes apoiarão a defesa das UCs federais e ações preventivas e de fiscalização do Ibama. O decreto que regulamenta a lei da Mata Atlântica estava atrasado em um ano; realizamos audiências, aperfeiçoamos artigos e ele será publicado em setembro. Aplicamos R$ 120 milhões em multas aos usineiros de Pernambuco, que arrasaram a Mata Atlântica, deixando apenas 2,7% da cobertura original. Ajuizamos ações e o TAC deverá ser assinado com o MP Federal até novembro. O artigo 23 da Constituição define as competências de estados, municípios e União no licenciamento; depois de 3 anos bloqueado, estabelecemos um diálogo, inclusive em reunião da Abema com 23 secretários estaduais de meio ambiente (fomos informados que foi a primeira vez que um ministro participa deste fórum); o PL deverá ir a voto em novembro. O presidente Lula enviou ao Congresso o PL que cria o Fundo de Mudanças Climáticas, que deverá receber recursos de até R$ 600 milhões da participação especial do petróleo, para aplicações em redução de emissões, tecnologia limpa, prevenção e mitigação.

para combater o desmatamento, sobretudo na Amazônia. Alguns estados tem colaborado, outros pouco. As operações do Ibama dobraram em junho e em julho, passando de uma média diária de 20 para 40 operações. Esta foi uma das razões da queda do desmatamento em julho. Houve uma desarticulação da Operação Arco Verde, de iniciativas sustentáveis, com outros ministérios, que será retomada. Faltam recursos, pessoal, viaturas. As pressões para derrubar a resolução do Banco Central que veda o crédito aos empreendimentos ilegais continuam, e a atenção deve ser redobrada. Existem também pressões de prefeitos e de governadores para o afrouxamento da operação Arco de Fogo no período eleitoral. Está havendo obstrução, e se verifica o incremento de queimadas. Apoiamos um novo modelo, com manejo florestal, extrativismo, preços mínimos, eco-negócios, recuperação de áreas degradadas, tecnologia limpa, pesquisa aplicada à floresta, acordos e rastreamento das cadeias produtivas (soja, madeira, carne, minério) e Fundo Amazônia. Isto exige um esforço de ministérios, governos estaduais e municipais e de toda a sociedade. O ritmo é insuficiente. Priorizamos a regularização fundiária, a conclusão do ZEE e o cadastramento; estamos trabalhando com o Incra, Institutos de Terra e secretarias estaduais de meio ambiente para concluir o trabalho até 2012. Esclareço que o PL que ampliou a legalização de terras públicas de 500 ha para 1500 ha foi preparado pelo MDA (Ministério de Desenvolvimento Agrário) antes da nossa chegada ao governo. Não participamos do processo de votação no Congresso, e posteriormente exigimos que antes da titulação haja a demarcação da reserva legal.

Combate ao desmatamento, regularização fundiária O Ibama, com apoio do MMA, do ICM Bio , da PF e da PRF tem se desdobrado

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Enxofre, diesel e ar Apesar das pressões não adiaremos a Resolução do Conama, de 2002, que estabelece padrão de emissão mais rigoroso em 2009. Propusemos adiantar a etapa seguinte, que estabelece o máximo de 10 partes de enxofre por milhão no diesel. Apresentaremos até o final do ano um Programa Nacional de Qualidade do Ar, incluindo vistoria veicular obrigatória (como aprovamos no Rio de Janeiro) e padrões de emissão atmosférica mais rigorosos para a indústria. Reforçar o diálogo Pouco tempo, muitos desafios, problemas crônicos, profundos, enfrentamentos dentro do governo, no parlamento, na sociedade; a eco-ansiedade de enfrentar tudo ao mesmo tempo prejudicou o diálogo constante e necessário com o setor ambientalista. Estive 8 vezes no parlamento, 3 com a Frente Ambientalista. Recebemos em 12 encontros ONGs e lideranças da Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, extrativistas, cooperativas. Há que construir planos conjuntos, com prioridades, metas, alianças, no governo e na sociedade. Saudações eco-libertárias do Carlos Minc * (Enviado por Gerusa Barbosa Assessoria de Comunicação do Ministério do Meio Ambiente +55 61 3317-1227/1165 Fax:+55 61 3317-1997 imprensa.mma@mma.gov.br


Política Ambiental Por Sérgio Leitão, diretor de Políticas Públicas do Greenpeace sergio.leitao@br.greenpeace.org

Cem dias de Minc: muita luz, muita sombra ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, chega ao seu centésimo dia de governo em clima de bandeira branca, buscando restabelecer a confiança inicial com os ambientalistas, abalada pelos controversos acordos com seu colega Reinhold Stephanes, da Agricultura. O tema da negociação entre os dois - negada em reunião de Minc com ONGs seria a recuperação da reserva legal com o plantio de espécies exóticas e a defesa de ajustes no decreto nº 6.514/08, que regulamentou a Lei de Crimes Ambientais. O encontro com as ONGs, realizado no último dia 25, ilustra precisamente esses primeiros dias, marcado pelo seu vai-e-vem pelos salões governamentais, dançando com diferentes parceiros. Minc condicionou o convite para assumir o ministério à não-alteração do Código Florestal, principalmente na parte que define a reserva legal de 80% na Amazônia; ao estabelecimento de políticas que levassem a zerar o desmatamento na região; e à destinação de recursos para o bom funcionamento do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Sinalizava com isso que não daria espaço para as mesmas pressões que derrubaram Marina Silva. A boa impressão inicial foi reforçada pelo apoio à Moratória da Soja, que estabeleceu a restrição da compra do produto quando oriundo de novos desmatamentos na Amazônia. Outro sinal positivo emitido por Minc foi a assinatura do decreto regulamentando a Lei dos Crimes Ambientais que, além de tornar mais rápida a tramitação dos processos de punição dos delitos ambientais, reforçou a exigência dos fazendeiros respeitarem a reserva legal. A disposição demonstrada por ele, naquele momento, levou os setores que pediram a cabeça de Marina a dizer que já estavam com saudades dela. Contrariando a impressão inicial, no entanto, o ministro passou a dar sinais de excessiva flexibilidade nas conversações com os setores que sempre reclamaram da política ambiental. Afrontando seu

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toda a polêmica causada pelo anúncio da transformação da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap) em ministério. Não se ouviu nenhuma frase do ministro sobre os problemas do setor. O ministro sequer questionou a política anunciada, voltada apenas para o aumento da produção, como se os mares fossem fontes inesgotáveis de pesca. Assim, iria faltar peixe para encher o balaio do Ministério da Pesca inventado por Lula, se a invenção tivesse dado certo. Qualquer análise do desempenho de Minc, no entanto, tem que levar em consideração que os rumos das questões ambientais do governo Lula não estão somente nas mãos do ministro. As decisões ambientais passam obrigatoriamente por Lula e Dilma Rousseff e, para a dupla, nada é mais importante que viabilizar o PAC. Os dois, juntamente com a bancada ruralista, conseguiram inviabilizar a permanência de Marina no governo. Mangabeira Unger também tem sua cota de contribuição no cenário de dificuldades políticas impostas ao MMA. O ministro de Assuntos Estratégicos trama abertamente a revisão de toda a legislação de proteção ao meio ambiente. Completamente afinado com a bancada ruralista, Unger tem reduzido as leis ambientais a meros entraves ao crescimento econômico brasileiro. Na ânsia de satisfazer seu antigo desejo de influir na política nacional, Unger, que já buscou os corpos de Brizola e Ciro Gomes para encarnar suas idéias, parece finalmente ter encontrado na bancada ruralista seu “cavalo-de-santo”. Se Minc quiser escapar do mesmo destino, precisa ser mais criterioso e fiel na seleção de seus parceiros. Ele precisa compreender que, para ganhar a confiança do agronegócio e dos setores do governo Lula que pretendem o desenvolvimento a qualquer preço, não existem limites nas concessões a fazer. A esperança é que ele entenda que é preciso priorizar a conquista da sua credibilidade pela afirmação do seu compromisso com a defesa do meio ambiente. Enquanto Minc dança em Brasília, na vida real agentes do IBAMA (INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIOAMBIENTE e dos Recursos Naturais Renováveis) em São Paulo fazem fiscalização a pé porque não têm dinheiro para abastecer os carros. Como se diz na China, onde existe muita luz, as sombras são mais profundas.

posicionamento histórico de opositor à energia nuclear, ele anunciou, então, a licença para a construção da usina nuclear Angra 3. A exigência de construção de um depósito definitivo para o lixo atômico feita por Minc parece inclusive que será suavizada em razão das pressões da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnem). Logo depois, Minc e Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes, anunciaram a concessão da licença para o asfaltamento da rodovia Manaus-Porto Velho (BR 319). Antes de ser um projeto de governo, a obra é uma aspiração política de Nascimento para pavimentar os rumos de sua candidatura ao governo do Amazonas. A negociação dos ministros atropelou os esforços do governo do Amazonas e da sociedade civil para substituir a estrada, hoje de terra, por uma linha férrea, menos impactante do ponto de vista ambiental. Só o anúncio do asfalto já trouxe uma onda de invasão de terras públicas, desmatamentos e aumento dos casos de malária nas imediações como nunca havia acontecido desde que a estrada foi aberta, nos anos 1970. Na gestão de Marina, quando o governo anunciou o asfaltamento da CuiabáSantarém, o MMA se mobilizou para, em conjunto com a sociedade civil da área de influência da estrada, construir o Plano BR163 Sustentável. Agora, durante a negociação entre Minc e Alfredo, a sociedade sequer foi consultada. Ainda na conta dos desacertos do MMA, está a decisão de não priorizar a criação de novas unidades de conservação até o final do governo Lula. Implantar as unidades de conservação já criadas, como quer o ministro, é importante, mas num país que tem apenas 0,4% de áreas marinhas protegidas e 80% dos estoques pesqueiros ameaçados de extinção, essa decisão é um desastre. A medida ganha contornos ainda mais preocupantes diante do silêncio do ministro em relação à proposta de criação do Ministério da Pesca. Contrariando seu estilo performático, Minc se calou diante de Fonte: Valor Econômico, 3 de setembro de 2008.

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Evento Ambiental Por Eliana Lucena

Ingrid Betancourt é homenageada no VIII Encontro Verde das Américas

(Foto: Vinícius Ramos –

ex-senadora colombiana, Ingrid Betancourt, recentemente libertada por guerrilheiros das FARC, foi homenageada com o Prêmio Verde das Américas, conferido pelo VIII Encontro Verde das Américas - Greenmeeting-, junto com a Maristela Kubstichek, filha do expresidente Juscelino Kubitschek. Ingrid receberá o troféu pessoalmente quando estiver no Brasil no fim deste mês. Ao receber o prêmio, Maristela defendeu a necessidade de uma ação mundial pelo meio ambiente e afirmou que os países que adotam o discurso de que o Brasil estaria “destruindo o pulmão do mundo”, no caso a Amazônia, no passado “ também foram pulmões do mundo, mas destruíram suas florestas Na abertura do evento, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, anunciou que a proposta de emenda à Constituição que inclui as áreas de Cerrado entre os patrimônios naturais do Brasil (PEC 524/02) e o programa de revitalização do Rio São Francisco (PEC 542/02) estão entre as prioridades de votação da Câmara até o fim do ano. Chinaglia afirmou que as PECs são as duas principais propostas relacionadas ao meio ambiente que estão em discussão na Casa. Segundo ele, essas propostas fazem parte de uma lista de matérias que serão discutidas com o Colégio de Líderes.”Não são as únicas propostas sobre esse tema, mas são dois exemplos relevantes que estão

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prontos para votação”, disse o presidente da Câmara. No encontro realizado no Museu Nacional da República, o ministro do Superior Tribunal de Justiça, Herman Benjamim, especialista em meio ambiente, defendeu a legislação ambiental aplicada no país, mas criticou o atraso em sua imFolha do Interior) plementação e a morosidade da Justiça. “Não pode mais o órgão público argumentar que não tem instrumentos para detectar os problemas, mas por outro lado, de nada adianta identificá-los se a resposta do Poder Público tarda”, criticou o ministro. O coordenador geral do Greennmeeting, Ademar Leal, defendeu uma ação global que garanta a proteção ao meio ambiente, mas que também busque soluções de combate à desigualdade social e às injustiças. O objetivo do evento é buscar soluções para os problemas ambientais locais e globais, envolvendo no debate instituições do Brasil e do exterior. O Greenmeeting conta com o apoio das Nações Unidas, da Organização dos Estados Americanos (OEA), de vários ministérios e órgãos do governo brasileiro e da REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental. Mudanças Climáticas Na primeira rodada de debates, mediadas pelo Coordenador da Frente Ambientalista da Câmara dos Deputados e líder do Partido Verde, Sarney Filho, os embaixadores do México, Andrés Valencia, e da Inglaterra, Petter Collecott, analisaram a questão das mudanças climáticas. O embaixador mexicano Andrés Valencia apresentou a proposta de um Fundo Verde, um mecanismo de financiamento mundial contra as mudanças climáticas, que teria cerca de US$ 1 bilhão para o

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desenvolvimento e suporte a ações de combate à liberação de gases do efeito estufa. Segundo o embaixador, na atualidade, há uma diversidade de fundos de alcance limitado e diferentes níveis de governança, o que não permite um financiamento adequado para o incentivo de práticas sustentáveis. Já o embaixador britânico Peter Collecott, vencedor do Prêmio Verde na categoria mudanças climáticas, frisou que a conservação do meio ambiente não impõe obstáculos ao crescimento econômico, mas é uma oportunidade para o desenvolvimento de outros setores sustentáveis. “A redução de emissões de gases poluentes não acompanha a diminuição da economia; os dois setores andam juntos”, disse o embaixador, ao lembrar que, na Inglaterra, as indústrias de energia renovável geram mais emprego do que as de combustível fóssil. Sobre a criação de um Fundo Verde multilateral, o deputado Sarney Filho defendeu que ele poderia se incorporar ao Fundo da Amazônia. “É importante discutir a participação internacional na resolução do problema da Amazônia, um bioma que presta serviço à humanidade e não só ao Brasil”, disse o deputado. Ele ressaltou o papel do Brasil na Agenda Verde Mundial. “Hoje somos o 4° maior emissor de gases do efeito estufa por causa do desmatamento na Amazônia, mas ao mesmo tempo temos ali um estoque importantíssimo para a humanidade de biodiversidade, de possibilidades de curas, de possibilidades de vida”, ressaltou. Ele também alertou para a importância da implementação da Agenda Marrom, voltada para as áreas urbanas, já que hoje, 90% da população do país vivem em cidades, que enfrentam problemas sérios com o lixo, com a poluição do ar, ocupação desordenada do solo e poluição dos rios. Mais informações: secretaria@greenmeeting.org / www.greenmeeting.org


Evento Ambiental Por Vinicius Ramos

Eduardo Wernech pede socorro ao presidente da Câmara dos Deputados Ambientalista participa do VIII Encontro Verde das Américas, em Brasília, e aproveita para cobrar ações do Senado e da Câmara Federal em relação à Bacia do Rio Paraíba do Sul Vilmar Berna (Prêmio Global 500 da ONU), como ferramenta de democratização da informação ambiental. “Senador, boa parte do que está sendo discutido aqui hoje faz parte do nosso projeto. O Vilmar Berna desenvolveu esse projeto que é realizado em parceria com a Oscip Piratingaúna”, comentou. ambientalista e presidente da Oscip (Associação Ecológica) Piratingaúna, Eduardo Wernech, reivindicou ao presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, uma maior atenção dos deputados aos problemas ambientais diagnosticados na Bacia do Rio Paraíba do Sul. Wernech se encontrou com o parlamentar durante o VIII Encontro Verde das Américas, em Brasília. O rio Paraíba do Sul é o vetor de ligação e desenvolvimento de uma das mais importantes regiões econômicas da América do Sul, e contribui com cerca de 5 bilhões de litros diários de água para consumo humano. Além disso, suas águas são utilizadas pelo setor industrial em cerca de 2,5 bilhões de litros por dia. É vital destacar que cerca de 15 milhões de pessoas dependem das águas do Paraíba, incluindo mais de 80 % da população da cidade do Rio de Janeiro. “Presidente, precisamos muito de sua ajuda. Um dos rios mais importantes do Sudeste está morrendo e contamos com os deputados”, disse. Wernech acertou com Chinaglia a entrega de uma série de documentos que irão fundamentar as discussões sobre o Rio Paraíba do Sul na Comissão de Meio Ambiente da Câmara e no plenário do Congresso Nacional. REBIA – Um dos argumentos de Eduardo Wernech para chamar a atenção de Chinaglia para o tema foi a utilização da REBIA (Rede Brasileira de Informações Ambientais), criada pelo ambientalista

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Garibaldi Alves e Mercandante também ouvem reivindicações sobre o Rio Paraíba do Sul Na visita que fez ao Congresso Nacional na quinta-feira, dia 11, o presidente da Oscip Piratingaúna, Eduardo Wernech, solicitou ao presidente do Senado, Garibaldi Alves, que leve para a pauta da Casa discussões sobre a despoluição da Bacia do Rio Paraíba do Sul, que engloba mais de 2,4 mil municípios e abastece mais de 14 milhões de pessoas. “Levem também essas reivindicações aos líderes dos partidos, para termos condições de discutir o tema e colocá-lo na pauta. Enviem-me a maior quantidade de dados e informações possíveis”, explicou Garibaldi. No encontro com o senador paulista Aloísio Mercadante, Eduardo Wernech reforçou o pedido feito anteriormente ao presidente do Senado. “Senador, o rio pede socorro. A situação é gritante e muito grave. Em alguns pontos, temos até peixes com deformação genética. São Paulo,

Minas Gerais e Rio de Janeiro precisam urgentemente do envolvimento dos senadores com a causa”, alertou o ambientalista. Paraíba é contaminado por metais pesados A Bacia do Rio Paraíba do Sul, que corta os estados de São Paulo (23,7%), Minas Gerais (39,6%) e Rio de Janeiro (36,7%), é uma das mais poluídas do Brasil. Essa é a constatação de um recente estudo feito por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), que identificou concentrações de cádmio, metais pesados e pesticidas em golfinhos e botos da região. “O médio Paraíba e a foz [da bacia] são os trechos mais poluídos”, explica o pesquisador da ENSP, Salvatore Siciliano. Por cortar regiões altamente urbanizadas, a bacia sofre com constantes processos de contaminação industrial e doméstica. Fonte: http://www.folhadointerior.com.br

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Educação Ambiental Por Juliano Roberto da Silva Raramilho*

Salas Verdes: Espaço de articulação e transformação

oje elas já são 390, espalhadas por todo o país, funcionam em Prefeituras, ONGs, barcos, escolas. Promovem ações educativas, de formação de educadores, fazem articulações com as estruturas já existentes relacionadas a Educação Ambiental em todo o país. Estamos falando das Salas Verdes, coordenado pelo Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (DEA/MMA) que consiste no incentivo à implantação de espaços socioambientais para atuarem como potenciais Centros de informação e Formação ambiental. A dimensão básica de qualquer Sala Verde é a disponibilização, a democratização da informação ambiental e a busca por maximizar as possibilidades dos materiais distribuídos, colaborando para a construção de um espaço, que além do acesso à informação, ofereça a possibilidade de reflexão e construção do pensamento/ação ambiental. Sala Verde é um espaço definido, vinculado a uma instituição pública ou privada, que poderá se dedicar a projetos, ações e programas educacionais voltados à questão ambiental. Deve cumprir um papel dinamizador, numa perspectiva

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articuladora e integradora, viabilizando iniciativas que propiciem uma efetiva participação dos diversos segmentos da sociedade na gestão ambiental, seguindo uma pauta de atuação permeada por ações educacionais, que caminhem em direção à sustentabilidade. São estruturas que fazem e procuram cada vez mais, promover o diálogo entre os coletivos educadores, com a promoção da Agenda 21, na articulação com as Conferências Infanto Juvenil, propostas de resgate histórico-cultural e ambiental, dentre outras. Essas Salas promovem a sinergia e potencializam os espaços propícios para a Educação Ambiental nas instituições que são proponentes delas. Além disso, buscam também a multiplicação de parcerias promovendo o acesso, debate, reflexão e ações prática em Educação Ambiental. A Sala Verde não é apenas uma biblioteca ambiental, é muito mais que isso, é uma estrutura que de acordo com algumas experiência nos mostra a capacidade de articulação e de transformAÇÃO. Mas num projeto grande como esse não é fácil o contato com todo ao mesmo tempo e no momento que é necessário. Para tanto os membros participantes do projeto promo-

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vem a interação entre as Salas e com a coordenação em Brasília, através de duas principais ferramentas de comunicação: 1- Lista de Comunicação no Yahoo Grupos. Dessa maneira em rede os membros cadastrados (e isso esta aberto para quem não participa do projeto também) podem ficar informados sobre o que esta acontecendo no projeto e também colocar alguns questionamentos na “roda” para a discussão e debate. Para entrar nesse grupo envie um e-mail para PROJETOSALAVERDEsubscribe@yahoogrupos.com.br 2- O Blog é a outra ferramenta de comunicação criada para agilizar o contato de experiência das Salas de todo o país. E além, proporcionar o contato com informações e oportunidades na área ambiental e da Educação Ambiental. No endereço www.salasverdes.blogspot.com é possível ter uma visão do que as Salas Verdes estão desenvolvendo. E claro, nem tudo acontece de forma virtual. Encontros presenciais foram realizados como a Oficina de Coletivos Educadores e Salas Verdes e que aconteceram em todos os Estados. Outros encontros específicos também ocorreram como é o caso de São Paulo, Rio Grande do Sul e recentemente do Paraná. É um projeto que como falamos tem seu surgimento a partir de proposta governamental do Ministério do Meio Ambiente, mas que ao poucos vem trazendo resultados grandiosos no que diz respeito ao envolvimento, a articulação, especialmente no local, onde as coisas acontecem, onde as pessoas precisam de informação, de formação e de motivação para a participação. Aqui nesse breve texto, não citamos nenhuma sala, pessoa ou experiência, pois seriamos injustos e a proposta é instigá-los a conhecer nossos canais de comunicação que já citamos e se não ficou satisfeito acesse a www.salaverde.cjb.net * Juliano Roberto da Silva Raramilho é formado em Ciências Sociais pela UNESP, professor no Colégio Agrícola Estadual de Cambará/PR, coordenador das Salas Verdes de Cambará/PR e Canitar/PR e moderador da REBIA Sudeste juliano.raramilho@gmail.com


Faça sua parte

Fazer sexo também pode ser de forma ecológica O Greenpeace México (http://www.greenpeace.org/mexico/news/c-mo-enverdecer-tuvida-sexu ) lançou um guia para quem quer levar as atitudes ecologicamente corretas para a cama. São dez mandamentos para a prática do “sexo ecológico”. 1. Apagarás as luzes - grande parte da energia consumida no planeta é produzida através da queima de combustíveis fósseis. Substitua a luz elétrica por velas de cera de abelha e parafina, fica muito mais romântico. Se você não consegue transar sem ver cada detalhe do seu parceiro, faça amor à luz do dia!

usadas para guardar os objetos da paixão: camisinhas, lubrificantes, brinquedinhos e lingerie. 5. Usarás ecolubrificantes - “Nada melhor do que a lubrificação natural. A língua é sempre um bom instrumento para

PVC/vinil devem ficar de fora. O PVC gera componentes químicos altamente tóxicos: dioxinas e furanos. Alguns países proibiram o uso desse material em brinquedos infantis, por ser cancerígeno. Prefira acessórios feitos de substâncias naturais como borracha, látex ou pele. 7. Economizarás água - Um banho compartilhado ajuda a economizar a água do planeta. Mais de 500 milhões de pessoas não têm acesso à água potável e corrente.

2. Consumirás alimentos afrodisíacos orgânicos e nãotransgênicos - Algumas frutas são conhecidas por seu poder afrodisíaco. Que tal optar por sua versão orgânica, livre de transgênicos e pesticidas? Dê preferência a produtores locais.

8. Deitarás em leito sustentável Se estiver na hora de comprar uma cama nova, verifique se ela tem o selo do FSC, que garante a produção com madeira sustentável. Comprar o objeto usado ou feito com madeira de demolição também é uma boa pedida.

3. Pouparás os seres marinhos As ostras e outros mariscos também são conhecidos por seu poder afrodisíaco. Entretanto, a pesca predatória está pondo em risco a vida nos oceanos. Sugere-se que você substitua essas iguarias por óleos e sabonetes biodegradáveis com aromas estimulantes, produzidos artesanalmente por comunidades cujo sustento seja obtido através de projetos sustentáveis. As ostras, eles informam, são biomonitores da poluição marinha, pois absorvem toda a contaminação da região em que vivem. Se você não abre mão dela, verifique a procedência.

isso, mas se precisar de alguma ajuda a mais, recomendamos que nunca use lubrificantes à base de petróleo, como óleos ou vaselina. Prefira aqueles à base de água.”

4. Reciclarás os objetos do amor - Embalagens que seriam jogadas fora podem ser decoradas com temas “sexy” e

6. Serás escravo do amor, não do petróleo - Se você gosta de apimentar a relação com brinquedinhos, acessórios de

9. Farás sexo verde - Se você curte uma prática sadomasô, veja se o chicotinho é feito de madeira certificada. Use óleo para massagem orgânico. Use roupas de baixo e pijamas feitos de algodão orgânico. O processo de fabricação e branqueamento do algodão convencional é um dos mais contaminantes que existem. 10. Farás amor, não guerra. Fonte: http://www.verbeat.org/blogs/ facaasuaparte/acoes-praticas/

Acesse: www.portaldomeioambiente.org.br 2008 - SETEMBRO - EDIÇÃO 018 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 23


Sustentabilidade

FGV-EAESP divulga finalistas do 4º Prêmio de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo GVcev - Centro de Excelência em Varejo da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGVEAESP) anunciou as iniciativas (projetos) finalistas do 4º Prêmio de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo. Veja relação abaixo. Em sua quarta edição, o Prêmio recebeu 104 iniciativas de responsabilidade social e/ou sustentabilidade, inscritas por empresas e entidades varejistas de todas as regiões do Brasil, dos mais diversos portes e segmentos do varejo brasileiro, como por exemplo, supermercados, farmácias, pa-

Relação dos finalistas em cada uma das categorias:

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pelarias, lojas de móveis e eletrodomésticos, restaurantes, entre outros. Promovido pelo GVcev, desde 2003, o Prêmio é uma iniciativa pioneira da FGV-EAESP com o intuito de reconhecer e incentivar projetos de responsabilidade social e sustentabilidade desenvolvidos por empresas e entidades varejistas de todo o Brasil. O Programa é patrocinado pela AES Eletropaulo, Philip Morris Brasil, Serasa, VisaNet e Whirlpool. Os inscritos concorrem nas categorias: Microempresa (até 20 funcionários), Pequena Empresa (de 21 a 100 funcionários), Média Empresa (de 101 a 500 funcio-

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nários), Grande Empresa (acima de 501 funcionários), Shopping Center e Entidade Varejista. (*) Excepcionalmente, foram escolhidos 4 finalistas nas categorias Pequena e Média Empresa, devido a um empate no processo de julgamento do Comitê Técnico. Observação: Não há distinção entre 1º, 2º e 3º colocados, em cada categoria. Os finalistas estão relacionados em ordem alfabética. Mais informações: 4º Prêmio de Responsabilidade Social no Varejo – www.fgv.br/cev/premio e Programa de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo: www.fgv.br/cev/rsnovarejo


Sustentabilidade Por Alfried Karl Plöger*

Indústria gráfica brasileira cria prêmio para estimular responsabilidade socioambiental

partir da revolução industrial, ao longo de todo o Século 19 e quase até o final do 20, a humanidade preocupou-se tão somente com a produção desenfreada, superestimando a capacidade do Planeta de assimilar a exploração ilimitada dos recursos naturais e o poder dos ecossistemas de se reciclarem ante a devastação. Somente algumas mentes mais lúcidas anteviam a armadilha em que se estava convertendo o modelo quase irresponsável de desenvolvimento. Uma delas era o filósofo, paleontólogo e teólogo francês Pierre Teilhard de Chardin. Em “O futuro do homem”, coletânea de textos escritos entre 1920 e 1952, ele já discutia a questão da sobrevivência. E esse futuro previsto pelo pensador chegou. Felizmente, a consciência sobre a sustentabilidade não é mais o alerta isolado de alguns cientistas e pesquisadores. Trata-se de desafio assumido por parte expressiva dos empresários, trabalhadores e organismos multilaterais, dentre eles instituições que, há algumas décadas, ninguém imaginaria que estivessem hoje dedicadas à equação da sobrevivência. Exemplo emblemático do comprometimento com os preceitos do desenvolvimento sustentável é o recente relatório do Banco Mundial relativo ao mercado internacional de carbono, estabelecido pelo Protocolo de Quioto. A comer-

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cialização de créditos cresceu mais de 100% em 2007, atingindo US$ 64 bilhões. Muito mais do que um bom negócio para empresas do mundo emergente ou em desenvolvimento que abdicam da emissão de gases do efeito estufa, convertendo sua quota em créditos de carbono, o número expressa um ganho para a humanidade. O Banco Mundial, contudo, assim como a ONU, o Fundo Monetário Internacional e a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), não está preocupado apenas com as mudanças climáticas. De modo muito correto, aliás, todos vêem a questão de maneira mais ampla e holística, focando, também, o uso racional dos recursos naturais, a recuperação e preservação de biomas e ecossistemas, a oferta de energia e de alimentos. Tais reflexões estavam muito nítidas no recente alerta do presidente do Banco Mundial, Robert B. Zoellick, quanto à necessidade urgente de se reagir às ameaças da escassez de alimentos e energia. Numa releitura do que dizia Teilhard de Chardin, salientou ser “necessário construir as bases para maximizar a oportunidade e a esperança para todos no longo prazo”. O universo corporativo, obviamente, não pode ficar alheio a esse movimento voltado à sobrevivência (com dignidade e um mínimo de qualidade de vida) da presente civilização. Todos têm de fazer a sua parte. É com essa meta que acaba de ser criado o Prêmio Abigraf de Responsabilidade Socioambiental, cuja primeira edição será realizada em 2009. É uma reposta consistente da indústria gráfica brasileira ao desafio da sustentabilidade. A indústria gráfica, como integrante da cadeia produtiva da comunicação, tem particular responsabilidade na difusão de

uma consciência universal sobre a importância do voluntariado e das práticas corretas nos aspectos social e ambiental. Livros, jornais, revistas, cadernos, manuais de distintos produtos, embalagens e numerosos outros impressos interagem no dia-a-dia com todos os cidadãos. Que sejam, cada vez mais, portadores da mensagem da sustentabilidade e da sobrevivência digna da presente civilização. *Alfried Karl Plöger é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf Nacional) e vice-presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca). De origem alemã, nascido em 1939, na cidade de Stettin, veio para o Brasil com sua família em 1948. Formado pela Escola Superior de Economia de Mannheim (Alemanha), ingressou em 1969 na Companhia Melhoramentos, onde, entre diversas funções, exerceu o cargo de presidente do Conselho de Administração até o ano de 2002. Atualmente é Conselheiro de Administração. abigraf@abigraf.org.br

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Gestão Ambiental

Programa Petrobras Ambiental busca alinhar crescimento com proteção aos ecossistemas

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conversam durante assinatura de acordos entre o Brasil e a Venezuela nas áreas energética, industrial, agrícola, tecnológica, ambiental e de educação (Foto: Marcello Casal Jr./Abr)

stão presentes no território brasileiro entre 10% e 20% das espécies da biodiversidade catalogadas no mundo, o que expressa nossa multiplicidade de biomas. O país também tem grande abundância de águas subterrâneas e a maior rede de bacias hidrográficas do planeta, o que representa 13,8% das reservas mundiais de água doce. Tudo isso atribui ao Brasil, ao mesmo tempo, grande responsabilidade no sentido evitar que os processos produtivos interfiram em áreas preservadas e venham a prejudicar seu patrimônio natural. Esse cenário torna crescente na sociedade a preocupação em relação à conservação do meio ambiente e à adoção de medidas que permitam o desenvolvimento em bases sustentáveis. São grandes as expectativas das comunidades e dos movimentos civis organizados em relação à contribuição

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das empresas para o crescimento econômico com igualdade social e preservação ambiental. O Pacto Global da ONU, do qual a Petrobras é signatária, tem sua estratégia estabelecida sobre dez princípios. E três deles tratam especificamente da questão ambiental. Como maior empresa do Brasil e da América Latina e responsável por 50% da matriz energética nacional, a Petrobras tem um importante papel de liderança para o desenvolvimento sustentável do país. Em 2007, a Petrobras investiu R$ 1,976 bilhão em meio ambiente, incluindo processos operacionais; melhoria da qualidade e desenvolvimento de produtos, como biocombustíveis e fontes de energia alternativas; gestão das emissões atmosféricas; redução do teor de contaminantes nos efluentes; e consumo eficiente de água e energia. Outros R$ 51,7 milhões foram destinados, no mesmo

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período ao patrocínio a projetos ambientais. As ações da Companhia em busca da ecoeficiência de processos e no desenvolvimento de soluções inovadoras geram reconhecimento, como a inclusão no Dow Jones Sustainability Index, da Bolsa de New York, e no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da Bovespa. Recentemente, a Petrobras também foi vitoriosa no segmento Petróleo e Gás do Anuário Valor 1000, publicação do jornal Valor Econômico sobre as empresas consideradas as mais eficientes em 25 setores da economia. Além disso, recebeu o prêmio “Empresa de Valor”, por seu desempenho em indicadores como finanças, governança corporativa e responsabilidade socio-ambiental. Gerenciamento integrado de patrocínios Em 2003, quando lançou o Programa Petrobras Ambiental, a Companhia teve o objetivo de gerenciar, de forma integrada, as ações de patrocínio ambiental realizadas em todas as unidades e nas subsidiárias. Com isso, está maximizando os resultados em favor do meio ambiente. Desde o lançamento, foram realizados dois editais de seleção pública de projetos: em 2004 foram destinados R$ 40 milhões a 30 iniciativas e, em 2006, o investimento foi de R$ 48 milhões em 36 projetos. O Programa é estratégico para a Petrobras em seu objetivo de contribuir para o desenvolvimento de uma agenda ambiental brasileira, reafirmando seu compromisso de

alinhar crescimento econômico com proteção aos ecossistemas nos locais onde atua. Esse compromisso se reflete na implantação de políticas corporativas; na gestão dos processos e atividades; no desenvolvimento de programas e ações de preservação ambiental; e pelo patrocínio a iniciativas que visem não somente à preservação, mas também à difusão da consciência ecológica. Os resultados obtidos pelo Programa entre 2003 e 2007 foram amplos e significativos. As ações desenvolvidas alcançaram cinco biomas – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal –, com mais de 5 mil espécies nativas estudadas. Três milhões de pessoas foram atendidas diretamente e 20 milhões, indiretamente. A execução de cerca de 2.200 cursos qualificou em torno de mil profissionais. As pesquisas já resultaram em 21 bancos de dados, com 14 Sistemas de Informação Geográfica (SIGs) e 150 publicações especializadas. Foram firmadas 432 parcerias, sendo 105 com órgãos públicos, 103 com ONGs, 158 com universidades e entidades de pesquisa e 66 com empresas e associações. Em 2006, os resultados do Programa Petrobras Ambiental foram reconhecidos pela Agência Nacional de Águas (ANA), que concedeu à Companhia menção honrosa pelo impacto e abrangência das iniciativas. Fonte: www.agenciapetrobrasdenotic ias.com.br/ materia.asp?id_editoria=12& id_ noticia=5362


Comunicação Ambiental Por Dal Marcondes*

O futuro passa por mídias sustentáveis A evolução do conceito de sustentabilidade empresarial já atingiu empresas industriais e de serviços, no entanto passa ao largo quando se fala em sustentabilidade das empresas de mídia.

s conceitos de sustentabilidade baseados no tripé econômico, social e ambiental estão permeando as atividades de todos os setores da economia. Isto tem acontecido principalmente porque as empresas estão em permanente disputa por mercados e por consumidores cada vez mais atentos às questões relacionadas à sustentabilidade. As bolsas de valores de Nova York e de São Paulo estão entre as primeiras a lançar indicadores de sustentabilidade em seus pregões, e os balanços socioambientais estão tornando-se companheiros inseparáveis dos balanços econômicos das empresas. Os bancos e as empresas seguradoras já descobriram que financiar ou segurar empresas “sustentáveis” é mais rentável e oferece menor exposição ao risco. Os mesmos conceitos de sustentabilidade que permeiam as relações entre empresas dos mais diversos setores com a sociedade (é claro que isto ainda não é um comportamento generalizado), ainda não chegaram às empresas de mídia. Jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão têm a sustentabilidade como coisa pontual. São raros os exemplos de incorporação dos conceitos de respeito social e ambiental na estrutura diária de cobertura da mídia, em todas as suas vertentes. Para muitos meios, ambiente ainda é pauta espe-

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cial e não uma transversalidade. Mesmo sendo vanguarda da sociedade em movimentos para a garantia de direitos fundamentais, a mídia é extremamente conservadora em relação à incorporação de comportamentos e conceitos que levem a transformações nos padrões de consumo e comportamento. Vem sempre a reboque de outros setores e normalmente refletem uma realidade institucional e social às quais se mantêm refratária em sua estrutura interna. É comum as páginas de jornais estamparem odes à modernidade empresarial enquanto em seus próprios balancetes os números não se harmonizam. Em se tratando de políticas de recursos humanos então, ai a desafinação é total. No quesito transparência e governança as empresas de mídias são modelo de opacidade. A lei exige que a propriedade de empresas de comunicação seja de pessoa física natural do Brasil. Mesmo com a abertura permitida para o capital estrangeiro, esta liberalidade atingiu apenas 30% do capital da empresa e não permitiu que este capital fosse captado em bolsa de valores, onde investidores poderiam tornar-se acionistas e, assim, com base nas regras impostas pelo mercado e pela Comissão de Valores Mobiliários, as empresas teriam de tornar públicos seus balanços e suas mazelas. Um dos requisitos maiores da sustentabilidade é a transparência e a coerência das ações das empresas nos mercados. E estes são os pontos onde as empresas de comunicação pecam. E o problema vem de longe, a quebra de empresas de comunicação de grande porte no Brasil é endêmica, no entanto muito pouco se sabe das causas das doenças que as atin-

gem, dos sintomas. Quando o público toma ciência de que há algum problema, o paciente já desfila em carro fúnebre. Diários Associados, com sua estrela maior, a TV Tupi, Grupo Visão, Grupo DCI, TV Excelsior, Grupo Manchete, Gazeta Mercantil, isto só para falar nos grandes. Não existe na mídia a noção de que sustentabilidade é um processo transversal.Assim como nas redações se acredita com muita força que as empresas de comunicação são expectadores privilegiados da realidade, com muita capacidade de influenciá-la, mas imune às suas emanações. Meio ambiente não está presente na grande mídia de forma consistente porque também não está presente na estrutura de gestão destas empresas. Grandes corporações nacionais e internacionais já elevaram o tema ambiente e sustentabilidade para seu coração administrativo. As gerências de meio ambiente dos anos 90 tornaram-se as diretorias de meio ambiente neste início de século XXI e, em breve, deixarão de existir para que a transversalidade ocupe todos os espaços ambientais nas estruturas de gestão. Medo e preconceito estão entre os motivos para que as empresas de mídia, principalmente aquelas que têm versões impressas possam abraçar os conceitos de sustentabilidade em seu cotidiano. Papel é a grande matéria-prima. Ou seja, elas pensam não existir sustentabilidade em seus processos industriais. Tintas com base em chumbo já foram abolidas, mas centenas de milhares de toneladas de papel são utilizadas diariamente para fazer jornais, revistas, encartes e toda a série de produtos ligados ao mercado editorial. Ora, as próprias empresas produtoras

de papel estão entre as que buscam se enquadrar nos processos de sustentabilidade, não há razão para as empresas de mídia sentirem-se acuadas neste quesito. Mas e os padrões insustentáveis de consumo apregoados desde a revolução industrial e entronizados como absolutos a partir do século XX? Estes sim podem ser a resposta mais coerente para o distanciamento da mídia dos processos de sustentabilidade. Afinal, segundo uma definição universalmente aceita e apregoada pela ex-primeira Ministra da Noruega, Groo Brutland, “ser sustentável é suprir as necessidades das gerações atuais garantindo os recursos naturais para que as gerações futuras consigam suprir suas próprias necessidades”. É também universalmente aceito que os padrões de consumo pregados pela mídia são insustentáveis para toda a população do planeta Terra e que vão esgotar os recursos naturais em um prazo de tempo muito curto. No entanto, o marketing rasteiro continua apostando na exaustão dos ecossistemas. O caso do descompromisso do marketing com a sustentabilidade e com a ética chega aos limites do absurdo e do crime. É o caso de uma publicidade de um aparelho de TV Samsung que mostra e incentiva um vizinho a roubar um aparelho de TV entregue por engano em sua casa. Mas este é apenas um caso entre milhares. Enquanto as mídias veicularem coisas como esta, certamente, por uma questão de coerência, não poderão falar em sustentabilidade, governança e ética com muito conforto. * O autor é jornalista e editor do site Envolverde http://dalmarcondes.blig.ig.com.br/#

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Visita Técnica

Por Inês Santos de Oliveira*

Visita à maior fábrica de papel reciclado da América Latina mostra processo de reciclagem da embalagem tetra pak s embalagens do tipo Tetra Pak surgiram como uma solução para economizar energia e proteger os alimentos. Possuem seis camadas de materiais, quatro de polietileno, uma de papel, e uma de alumínio, que criam uma barreira protetora contra a entrada de luz, água, ar e microorganismos. Essa combinação de matérias-primas asseguram segurança e higiene ao alimento, promovendo a preservação dos nutrientes e sabor e possibilitando o seu armazenamento por longo período, sem necessidade de refrigeração, o que significa economia de energia. As embalagens Tetra Pak são 100% recicláveis e foi isso que uma equipe de técnicos e jornalistas foram comprovar de perto através de uma visita técnica organizada no dia 26/08/2008 pela Envolverde em parceria com a Tetra Pak. A equipe visitou as indústrias Klabin e EET, em Piracicaba, e as indústrias Polares e Eco Futuro, em Campinas, no interior de São Paulo O papel responde por 75% da embalagem Tetra Pak, por isso visitamos a Klabin que desde 1970 faz reciclagens dessas embalagens. Fomos recepcionados pelo engenheiro químico Angelo Brustolin, gerente industrial da unidade de papel reciclado que informou que a Klabin possui quatro fábricas só para reciclagem de papel, constituindo-se na maior fábrica de papel reciclado da América Latina. Ele informou que a Klabin é responsável por fornecer todo o papel virgem das embalagens Tetra Pak, cerca de 50 mil toneladas por mês, e que a Política de Sustentabilidade da Klabin tem por meta a reciclagem de no mínimo 50% do papel novo que coloca no mercado. Angelo ressaltou que a legislação não permite o uso de material reciclado em embalagens que tenham contato com alimentos, por isso o papel das embalagens Tetra Pak é sempre novo, e o papel reciclado é destinado à fabricação de embalagens de papel corrugado. A Coordenadora de Comunicação Externa da Tetra Pak, jornalista Liliane Morales, explicou que a empresa tem apresentado ano a ano índices crescentes de reciclagem de suas embalagens, estando hoje em torno de 27%. Liliane frisou entretanto que a capacidade instalada para a reciclagem é muito maior que isso, revelando um enorme potencial para o

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O jornalista Adalberto Marcondes, do Envolverde, explica aos jornalistas como o roteiro da visita técnica foi organizado para dar um panorama de todo o ciclo de vida da embalagem Tetra Pak e de sua reciclagem.

A partir da esquerda, Angelo Brustolin, gerente industrial da unidadede papel reciclado e Fernando Torres, coordenador de produção, ambos da Klabin,e Fernando Von Zuben, diretor de meio ambiente da Tetra-Pak. Os três são engenheiros químicos.

Pulper

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negócio de reciclagem de embalagens Tetra Pak. Todo o processo da reciclagem da embalagem Tetra Pak só se torna possível por que a Klabin separa as lâminas que compõem a embalagem num equipamento denominado pulper, que através de agitação e adição de água em sistema fechado conseguindo que o papel se solte do plástico e do alumínio, podendo assim ser reaproveitado. Após a retirada do papel, sobra o plástico que vem colado ao alumínio que a Klabin envia para vários destinos. Um deles é a formação de pellet pela indústria Mercoplast, que fornece depois para a Polares para a fabricação de vassouras e escovas de roupa. Outra destinação ainda é a fabricação de telhas, na empresa Eco Futuro, que está com a sua produção toda vendida até o final do ano. Todo o processo da reciclagem da embalagem Tetra Pak só se torna possível por que a Klabin separa as lâminas que compõem a embalagem num equipamento denominado pulper, que através de agitação e adição de água em sistema fechado conseguindo que o papel se solte do plástico e do alumínio, podendo assim ser reaproveitado. Após a retirada do papel, sobra o plástico que vem colado ao alumínio que a Klabin envia para vários destinos. Um deles é a formação de pellet pela indústria Mercoplast, que fornece depois para a Polares para a fabricação de vassouras e escovas de roupa. Outra destinação ainda é a fabricação de telhas, na empresa Eco Futuro, que está com a sua produção toda vendida até o final do ano. Um processo mais nobre para o resíduo plástico colado ao alumínio é realizado pela indústria EET, estrategicamente instalada no terreno ao lado da Klabin, onde através de um processo inédito à base de Plasma e nitrogênio, onde as temperaturas podem chegar a 15.000 graus celcius, o plástico se separa do alumínio e vira parafina de alto grau de pureza usada na confecção de cosméticos e produção de madeira MDF. O sai na forma de pó para adição a certos tipos de tintas metálicas para automóveis, ou em lingotes. * Inês é bióloga e pós-graduando em MBE na COPPE/UFRJ. É assistente técnica da REBIA - inês@rebia.org.br


Consumo Sustentável

Por André Trigueiro*

Os nomes dos bois

Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) considerou insuficientes as informações dadas pelas três maiores redes varejistas do país – Carrefour, Pão de Açúcar e WalMart – a respeito da origem da carne bovina vendida nestes estabelecimentos. Através das respostas enviadas ao Instituto, chegou-se à conclusão de que os supermercados não dispõem hoje de meios seguros e isentos para aferir se a produção de carne causa desmatamento ou explora mão-de-obra escrava ou infantil. A rastreabilidade da carne é condição fundamental para a redução do desmatamento em uma região onde, de acordo com o IBGE, a população de bois dobrou nos últimos 10 anos, alcançando a marca de 73 milhões de cabeças de gado (três vezes superior à população de brasileiros que vivem na área da Amazônia Legal). Um terço da carne hoje exportada pelo Brasil tem origem na Amazônia. Considerando que 18% da maior floresta tropical úmida do mundo já foram destruídos, e que a derrubada de árvores na Amazônia para a abertura de novos pastos responde por 80% dessa devastação, o consumidor de carne tornase, na prática, um avalista dessa tragédia ambiental. A inexistência de carne certificada inviabiliza qualquer tentativa de privilegiar os segmentos do mercado que atuam na legalidade em toda a cadeia produtiva. Os bons pecuaristas têm a reputação abalada pela impunidade dos que atuam na clandestinidade, e tornamse competitivos apenas porque não recolhem impostos. Para piorar a situação, a construção de frigoríficos em áreas de floresta vem sendo financiada por bancos oficiais e privados sem qualquer estudo prévio

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que possa revelar com clareza os impactos ambientais causados pela aplicação desses recursos. Segundo o relatório produzido pela organização não-governamental Amigos da Terra (“O reino do gado – uma nova fase na Pecuarização da Amazônia Brasileira”), “a proliferação de abatedouros, assim como a compra de muitos deles por grandes grupos que os ampliam e equipam, é financiada principalmente com apoio financeiro do BNDES, e em certa medida de bancos multilaterais como o IFC (grupo ligado ao Banco Mundial) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e de bancos comerciais, entre os quais Itaú, Banco do Brasil e Bradesco”. O que deveria valer para a carne é igualmente importante para os mercados de soja e de madeira. A moratória da soja – renovada recentemente – assegura aos importadores europeus o fornecimento de grãos plantados em áreas onde não houve desmatamentos recentes (de 2006 para cá). Por que não ampliar essa exigência para o mercado interno? No mercado madeireiro, o exemplo também poderia vir de cima. Toda a madeira bruta ou processada comprada pelos governos (federal, estaduais e municipais) deveria ser certificada, priorizando-se nas licitações públicas os fornecedores que seguem à risca os planos de manejo. A certificação não está imune à fraude, e qualquer movimento nesta direção demandará novos esforços de fiscalização e controle. Mas é muito bem-vindo o compromisso do Ministério do Meio Ambiente de mobilizar os esforços necessários para identificar a origem desses produtos e dividir com o consumidor a tarefa de proteger a floresta.

A rigor, quando a certificação obtida por meios confiáveis é entendida como algo elementar e referencial nas relações comerciais, todo e qualquer produto ou serviço – não apenas os da Amazônia – são passíveis de algum selo que ateste o cumprimento desse check-list sócioambiental. Imóveis, veículos, roupas, eletrodomésticos, tudo o que demanda uso de mão-de-obra, matéria-prima e energia, merece algum tipo de certificação. Entramos no século XXI experimentando uma crise ambiental sem precedentes, com direito à exploração de crianças e escravos em linhas de montagem abomináveis. Quem compra o resultado dessa lógica perversa é responsável por isso. A sociedade de consumo possui ferramentas sofisticadas e inteligentes de promover ajustes no mercado em favor da sustentabilidade. A disposição dos consumidores em comprar produtos e serviços sustentáveis já foi amplamente confirmada por pesquisas no Brasil, repetindo um fenômeno que já se consolidou na maioria dos países desenvolvidos. Entender o consumo como um ato político é um sinal de maturidade civilizatória, de respeito à vida e ao próximo. * André Trigueiro é jornalista com Pósgraduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, Professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/ RJ, autor do livro “Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação” (Editora Globo, 2005), Coordenador Editorial e um dos autores do livro “Meio Ambiente no século XXI”, (Editora Sextante, 2003). http://www.mundosustentavel.com.br/ andre.asp

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Petróleo I

Por Amyra El Khalili*

Água e petróleo, a mesma moeda

América Latina vive hoje uma guerra intestina, mas silenciosa, em pequenos focos espalhados pelo continente, mas que podem eclodir a qualquer momento num emaranhado de ações e convulsões sociais se não estivermos preparados para novos enfrentamentos econômicos e políticos. As águas da América Latina de hoje podem ser, no futuro próximo, objeto de disputas sangrentas, como é hoje o petróleo do Oriente Médio. Se o Oriente Médio sofre por ter seus recursos naturais espoliados, a América Latina sofre com a servidão ao sistema financeiro internacional. Sofre com a usura das altas taxas de juros, a especulação financeira, o endividamento e é vitimada pela corrupção endêmica. A América Latina detém a maior biodiversidade do planeta, as maiores reservas de água doce do mundo. É rica em minérios, abriga as maiores florestas tropicais, extensos litorais paradisíacos, solo e climas diversificados, que garantem o vigor da produção agropecuária nos 365 dias do ano. Construímos na América Latina a nossa cultura americana árabe, agregando valor à cultura miscigenada dos povos latino-americanos. O carisma, a vontade de trabalhar, a diplomacia e nossa maneira de ser deram a nós, árabes e descendentes, uma vantagem comparativa para negociar e realizar parcerias. É esse exemplo de integração que nos dá a certeza de que só com o apoio, a união dos vários países, árabes em especial, nos investimentos, parcerias, joint-ventures é que sairemos da servidão financeira que nos é imposta por um modelo econômico degradador e desumano pelos países ditos desenvolvidos. Não faz sentido que os recursos obtidos pela exploração do petróleo árabe funcionem como lastro para o sistema financeiro que hoje os bombardeia. Contra o capital excludente somente um novo capital inclusivo. Contra uma globalização que tenta extorquir nossos recursos naturais e estratégicos, somente uma nova globalização cultural, inter-racial e interreligiosa. A América Latina possui todos os recursos naturais estratégicos que os países desenvolvidos necessitam para produzir bens de consumo na indústria, comércio e serviços. O Brasil tem posição estratégica na América Latina por sua dimensão continental, miscigenação e por concentrar o sistema financeiro do continente. O mundo árabe tem sua economia centrada nos recursos energéticos não

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renováveis, um “privilégio” pago com milhares e milhares de vidas. Faz-se estratégico e vital migrar para a energia renovável, com todo conhecimento e tecnologia acumulados ao longo de décadas por aqueles produtores de petróleo. Por não ter água o mundo árabe não consegue produzir o que consome, nem gerar excedentes para exportação. Por isso é franco comprador de mercadorias in natura e industrializadas. Infelizmente, pouco exportamos em linha reta para o mundo árabe, pois as rotas de comercialização ou foram reduzidas ou foram fechadas para os países em desenvolvimento. Produzimos laranja no Brasil, exportamos in natura ou suco para a Itália, onde é reprocessada e embalada com a marca “made in Italy” e reexportada para os países árabes. Assim, ficamos com todos os riscos de produção, custos de financiamento, encargos e tributos, enquanto as indústrias estrangeiras ficam com a parte gorda dos lucros. Temos fortes laços culturais que, se aliados à capacidade e desenvolvimento de tecnologias, poderiam se traduzir em grandes operações de trocas entre os países árabes com um intercâmbio e, conseqüentemente, aquecer as economias árabe e latino-americanas. Os fundos islâmicos não aplicam em juros, mas podem muito bem financiar a produção de longo prazo, desde que tenhamos também nesses contratos, a contrapartida dos investimentos de base em educação, saúde, agricultura, ciência, cultura, cooperativas de produção, entre outros. Estudar uma estratégia para as rotas marítimas e aéreas é imprescindível para que as relações entre o Oriente Médio e América Latina se fortaleçam e intensifiquem, com ganhos para os dois lados. No âmbito nacional e continental, é vital que parcerias e acordos garantam a preservação e o uso público e social das bacias hidrográficas e águas subterrâneas transfronteiriças. Trata-se não só de uma questão ambiental e social, mas de soberania e segurança internacional. A crise hídrica mundial que se prenuncia pode transformar o ora pacífico continente no cenário de disputas cruentas como as que têm lugar hoje no Oriente Médio. Outro aspecto importante é aprofundar o estudo crítico das questões intrínsecas do Protocolo de Kyoto, recomendando cautela com negócios nos mecanismos de desenvolvimento limpo. O estabelecimento do merca-

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do de carbono, através de créditos compensatórios, simplesmente reproduz o modelo econômico que é alvo de nossas críticas. A alternativa é a estruturação de uma rede de investimentos, parcerias e comercialização, que garanta o monitoramento, a fiscalização e a orientação de negócios e projetos sócio-ambientais na América Latina. Para debater esta questão na América Latina criamos o Projeto RECOs – Redes de Cooperação Comunitária, que têm como objetivos o intercâmbio de experiências, a promoção e fomento da produção de bens e serviços das comunidades regionais. O projeto atende às reivindicações da Agenda 21 – Pense Globalmente e Aja Localmente, com a implantação da responsabilidade social empresarial, comércio justo e sustentabilidade em diversos programas educacionais. Estes são, em resumo, os principais pontos do pronunciamento elaborado por Amyra El Khalili, Eduardo Felício Elias e Além Garcia e encaminhado por Claude Fahd Hajjar ao Primeiro Congresso Fearab América-Liga de Estados Árabes, realizado no Cairo, Egito, entre 10 e 12 de julho de 2006. Esperamos que sirvam de ponto de partida para um amplo debate sobre o futuro deste nosso planeta. Fontes: Entrevista por Sandro C. Cardelíquio com Amyra El Khalili - Água e Petróleo, a mesma moeda - para a Revista Eco Spy - Ano 2, n. 07 - Novembro/2006. Editora Risc. www.ecospy.com.br. Misleh, Soraya. Entrevista com Amyra El Khalili. Do Oriente à América Latina, a cobiça por recursos naturais. Revista Al Urubat Sociedade Beneficiente Muçulmana de São Paulo. Fevereiro 2007 - nº 785. www.sbmsp.org.sp El Khalili, Amyra. Elias, Eduardo Felício. Garcia, Além. Boletim 0999 [BECE REBIA] Cúpula do Cairo: Tratado Água e Petróleo, a mesma moeda. Pronunciamento encaminhado por Claude Fahd Hajjar ao Primeiro Congresso Fearab – Federação das Entidades Árabes Americanas e Liga de Estados Árabes, realizado no Cairo, Egito, entre 10


e 12 de julho de 2006 (Documento BECE). 06 de Agosto de 2006. (*) Amyra El Khalili* é economista, presidente do Projeto BECE (sigla em inglês) Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais. É também fundadora e co-editora da Rede Internacional BECE-REBIA (www.bece.org.br),

membro do Conselho Gestor da REBIA Rede Brasileira de Informação Ambiental, do Conselho Editorial do Portal do Meio Ambiente (www.portaldomeio-ambiente.org.br ) e da Revista do Meio Ambiente (www.rebia.org.br). É professora de pós graduação com a disciplina “Economia Sócioambiental” na Faculdade de Direito de

Campos de Goytacazes, pela OSCIP Prima Sustentabilidade e MBA pela UNOESC, entre outras. Indicada para o “Prêmio 1000 Mulheres para o Nobel da Paz” e para o Prêmio Bertha Lutz. email: (bece@bece.org.br) Fonte: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/agua-e-petroleo-a-mesma-moeda/

Petróleo II

Da era petrolífera para a biocivilização Por Ignacy Sachs*

Vistos com uma ampla perspectiva, o encarecimento do petróleo e a recuperação dos preços dos alimentos se mostrarão positivos se nos ajudarem a nos libertarmos da dependência do petróleo e a melhorar a vida dos pequenos agricultores em lugar de beneficiar as multinacionais da alimentação. PARIS – A prolongada evolução conjunta do gênero humano e da biosfera foi marcada no passado por duas grandes transições. A primeira, ao passar da coleta e da caça para a agricultura e criação de animais, ocorreu muitos milhares de anos atrás. A segunda, a era dos abundantes e baratos combustíveis de origem fóssil (carvão, petróleo e gás) começou há poucos séculos. Agora estamos no umbral da terceira grande transição, que deixará para trás a era do petróleo e, esperamos, de toda a energia de origem fóssil. A transição levará décadas, mas, segundo muitos indícios, já começou, empurrada pela alta espetacular dos preços do petróleo e pela recuperação dos preços dos alimentos. Quando analisarem os acontecimentos de nosso tempo, os futuros historiadores verão a era da “energia fóssil” como um breve, mas acidentado, interlúdio que provocou um grande aumento da população mundial. Agora somos 6,7 bilhões de habitantes, e estima-se que seremos 9 bilhões em meados deste século, com a maioria da humanidade vivendo em áreas urbanas. Mas, apresentam-se dois grandes e iminentes desafios: o de uma potencialmente catastrófica mudança climática e o dilema de uma abismal desigualdade social, de mãos dadas com um crônico e severo déficit de oportunidades para a obtenção de trabalho decente. Para evitar o aquecimento do clima, devido às excessivas emissões de gases causadores do efeito estufa, devemos modificar drasticamente nossas pautas de uso da energia. Para conseguirmos isso são necessárias três coisas: redução do consumo de energia por meio de uma mudança nos padrões de consumo e de estilos de vida; melhoria da eficiência energética; substituição dos combustíveis fósseis pelas diferentes energias renováveis (solar, eólica, hidráulica, marinha e biomassa). Ao mesmo tempo, devemos reabrir a discussão sobre um novo ciclo de desenvolvi-

mento rural para evitar o beco sem saída da excessiva e prematura urbanização, como aponta Mike Davis em seu livro “Planeta de bairros marginalizados”. É fundamental criar oportunidades de trabalho decente para bilhões de pobres das áreas rurais. Estes objetivos podem ser conciliados mediante a promoção de modernas biocivilizações que sejam baseadas na energia solar aproveitada através da fotossíntese e que explorem os múltiplos usos da biomassa (alimento para seres humanos, forragem para animais, fertilizantes orgânicos, bioenergias, materiais de construção, fibras, plástico e outros produtos de química orgânica elaborados por bio-refinarias, indústrias farmacêuticas e de cosméticos). Os biocombustíveis são apenas um segmento de um todo mais amplo. Todas as grandes civilizações da antiguidade foram “civilisations du vegetal” (Pierre Gourou). As civilizações que virão serão diferentes das antigas, já que a humanidade se encontra em um novo e superior ponto da espiral do conhecimento. Deste modo, as modernas biocivilizações não devem ser vistas de modo algum como uma regressão, mas como um salto para o futuro. Para envolver os pequenos proprietários rurais na produção sustentável e no processamento de biomassa, deveremos recorrer a tecnologias que impliquem conhecimentos e trabalho intensivos e, ao mesmo tempo, economia de recursos. As soluções virão de sistemas integrados de produção de alimentos/energia agro-ecológicos adaptados aos diferentes biomas e realizados com os princípios da “revolução sempre verde”, segundo as palavras de M. S. Swarninathan, também conhecidos como os da revolução duplamente verde. Trata-se de um difícil desafio, já que se pretende transformar as ameaçadoras crises dos alimentos e da energia em uma oportunidade para avançar para civilizações mais justas e sustentáveis. Vistos com uma ampla perspectiva, o encarecimento do petróleo e a recuperação dos

preços dos alimentos se mostrarão positivos se nos ajudarem a nos libertarmos da dependência do petróleo e a melhorar a vida dos pequenos agricultores em lugar de beneficiar as multinacionais da alimentação. Naturalmente, neste momento são necessárias medidas urgentes para ajudar os pobres urbanos afetados pelo atual encarecimento dos alimentos. As apostas são altas, mas o resultado está longe de ser garantido. Os capitalistas de risco são rápidos para aproveitar as ocasiões para fazer dinheiro com as novas tecnologias para produzir energia que estão surgindo graças ao petróleo caro e para explorá-las sem transformação séria do tecido social e econômico. O começo da terceira grande transição coincide com o esgotamento dos mais importantes modelos de desenvolvimento, que dominaram o cenário desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O comunismo se desmoronou com a queda do Muro de Berlim. O reformado capitalismo do pós-guerra deu lugar ao neoliberalismo. Mas, para alguns observadores, a recente crise financeira anuncia o início do fim do neoliberalismo. Por sua vez, a social-democracia está presa na situação de “sim à economia de mercado, não à sociedade de mercado”. É por isso que, condenada a inventar novos modelos, a próxima geração se dirigirá a inexplorados e excitantes territórios. Uma coisa é certa: a emergência de biocivilizações, quando ocorrer, mudará a geopolítica mundial, pois favorecerá os países tropicais, qualificados por Pierre Gourou como “Terras da boa esperança”. Tanto mais se esses países conseguirem ampliar a vantagem que lhes dá o clima natural por meio da pesquisa, uma apropriada organização de sua produção e um efetivo desenvolvimento da cooperação Sul-Sul. (*) Ignacy Sachs é professor honorário na Escola de Altos Estudos em Ciência Sociais de Paris e na Universidade de São Paulo. Seu mais recente livro é La troisième rive — à la recherche de l’ècodéveloppement (Paris, 2008).

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Ecologia Humana Por João Guilherme Sabino Ometto*

Brasil desperdiça 64% do que se planta Numerosas pessoas compram muito mais do que consomem, e não há cuidado com o aproveitamento racional e reciclagem. No Brasil, 70 mil toneladas de comida, a cada ano, acabam no lixo.

ara uma área que se inclui entre as mais atingidas pela inflação dos produtos agropecuários, na qual 62 milhões de pessoas passam fome e nove milhões de crianças sofrem de desnutrição crônica, é um verdadeiro tapa na cara o novíssimo informe divulgado em agosto pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), no âmbito do “Projeto América Latina e Caribe sem Fome”: é maior do que se pensava o desperdício de gêneros alimentícios no Continente. O número relativo ao Brasil é, no mínimo, assustador. O desperdício chega a 64% do que se planta. O problema é semelhante em todas as nações do Continente. As causas não se limitam, como se podia supor, às deficiências de infra-estrutura, logística e armazenamento. Além desses graves e conhecidos fatores, os autores do estudo indicam a falta de consciência dos consumidores. Numerosas pessoas compram muito mais do que consomem, e não há cuidado com o aproveitamento racional e reciclagem. No Brasil, 70 mil toneladas de comida, a cada ano, acabam no lixo. No México, segundo a sua Associação de Bancos Alimentares, são desperdiçadas 23 mil toneladas anuais. Isto é uma verdadeira afronta aos 19 milhões de habitantes desse país que não têm asseguradas as refeições diárias minimamente recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Assim, são pertinentes as sugestões contidas no novo relatório da FAO: criar cooperativas de alimentos, estabelecendo-se adequado marco legal e estímulos fiscais; realizar campanhas de conscientização dos consumidores; e fomentar o desenvolvimento da agricultura familiar. Ante

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tais estatísticas, contribuição importante, que poderia ser multiplicada no Brasil e em toda América Latina, é o “Programa Alimente-se Bem”, criado e difundido pelo Sesi-SP, que visa exatamente a proporcionar o aproveitamento integral dos ingredientes, com a produção de pratos saudáveis, nutritivos e baratos. Por outro lado, é premente enfrentar causas históricas e graves do desperdício, como a infra-estrutura e armazenamento precários, bem como fatores políticos e conjunturais que provocam o aumento de preços e/ou a redução da oferta de alimentos, dentre eles a utilização significativa de grãos para a produção de etanol, no Hemisfério Norte, o preço elevado dos fertilizantes e do petróleo e os subsídios agrícolas nos Estados Unidos e Europa. Este último fator poderá até mesmo ser agravado após o retumbante fracasso das negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Para se ter uma idéia do problema, somente os subsídios agrícolas concedidos na Europa, que somam US$ 326 bilhões por ano, equivalem ao valor de 58% de toda a produção agrícola do Brasil. As providências são urgentes, pois a gravidade do problema cresce de maneira rápida, conforme atestam números de outros relatórios da FAO. Os preços da maioria das commodities agrícolas tiveram grande aumento nos últimos dois anos: arroz - 217%; trigo - 136%; milho 125%; e soja - 107%. Em 2008, o valor global de importação de alimentos deverá chegar a US$ 1,035 bilhão. É um crescimento de 26% em relação ao ano passado. Segundo alerta a organização, os países economicamente mais vulneráveis irão pagar a maior parcela da conta dessas importações. Seu gasto total com essas operações deverá crescer até 40% em relação a 2007. Dentre as nações incluídas no novo

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estudo da FAO, como em todo o mundo, o Brasil certamente é a que tem melhores condições de enfrentar o problema. O próprio organismo indica que o País terá colheita histórica na safra 2007/2008, com produção total de grãos de 143,3 milhões de toneladas, 8,7% maior do que no período 2006/07. Soja e milho terão a maior colheita, representando 82,6% do total, e se prevê que a produção de trigo em 2009 será 35% maior do que a anterior. Desfrutamos de alguns fatores favoráveis, como o atraente preço internacional das commodities agrícolas, boas condições meteorológicas e avanço da tecnologia rural. Além disso, a área de plantio de grãos aumentou 1,9%, significando a inclusão de mais 47,1 milhões de hectares. Tais números da agricultura brasileira ampliam ainda mais a responsabilidade de nosso País na questão da segurança alimentar. Não temos o direito de continuar jogando fora tanta comida, por mera negligência, vícios culturais e a persistência de problemas estruturais que deveriam ter sido solucionados há décadas. O povo brasileiro nunca sofreu quebras expressivas na oferta de alimentos, pois não passou por guerras e catástrofes naturais, que semeiam violência, medo e fome. Portanto, é fundamental que assimilemos a consciência dos imigrantes europeus e asiáticos e a sua disciplina de economia e produtividade na saga da sobrevivência. O Brasil, que grande e louvável esforço diplomático fez na recente e frustrada reunião da Rodada Doha, precisa impor suas posições pelo bom exemplo, que, no caso, valerá muito mais do que mil palavras. *João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (EESC/USP), é vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), presidente do Grupo São Martinho e membro do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP).




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