Revista do Meio Ambiente 39

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revista do meio Acesse: www.portaldomeioambiente.org.br

Sorria, você está sendo

fotografado

39 ano V • agosto 2011

9772236101004

ISSN 2236-1014

AMbIente Rebia Rede Brasileira de Informação Ambiental

O consumismo como problemática ambiental O corpo e a ecologia do ser As hidrelétricas e o efeito estufa O brasileiro come veneno



Capa

24 Sorria, você está sendo fotografado

Conselho Consultivo e Editorial Aristides Arthur Soffiati, Bernardo Niskier, Carlos Alberto Muniz, David Man Wai Zee, Flávio Lemos de Souza, Keylah Tavares, Luiz Prado, Paulo Braga, Raul Mazzei, Ricardo Harduim, Rogério Álvaro Serra de Castro, Roberto Henrique de Gold Hortale (Petrópolis, RJ) e Rogério Ruschel Diretoria Executiva Presidente do Conselho Diretor: Vilmar Sidnei Demamam Berna, escritor e jornalista Presidente do Conselho Deliberativo: JC Moreira, jornalista Presidente do Conselho Fiscal: Flávio Lemos, psicólogo Moderadores dos Fóruns Rebia Rebia Nacional (rebia-subscribe@ yahoogrupos.com.br): Ivan Ruela, gestor ambiental Rebia Norte (rebianorte-subscribe@ yahoogrupos.com.br) – Rebia Acre: Evandro J. L. Ferreira, pesquisador do INPA/UFAC • Rebia Manaus: Demis Lima, gestor ambiental • Rebia Pará: José Varella, escritor Rebia Nordeste (rebianordeste-subscribe@ yahoogrupos.com.br) – Coordenador: Efraim Neto, jornalista ambiental • Rebia Bahia: Liliana Peixinho, jornalista ambiental e educadora ambiental • Rebia Alagoas: Carlos Roberto, jornalista ambiental • Rebia Ceará: Zacharias B. de Oliveira, jornalista, mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente • Rebia Piauí: Dionísio Carvalho, jornalista ambiental • Rebia Paraíba: Ronilson José da Paz, mestre em Biologia • Rebia Natal: Luciana Maia Xavier, jornalista ambiental Rebia Centro-Oeste (rebiacentrooestesubscribe@yahoogrupos.com.br): Eric Fischer Rempe, consultor técnico (Brasília) Rebia Sudeste (rebiasudeste-subscribe@ yahoogrupos.com.br) - Rebia Espírito Santo: Sebastião Francisco Alves, biólogo Rebia Sul (rebiasul-subscribe@ yahoogrupos.com.br) - Coordenador regional: Paulo Pizzi, biólogo • Rebia Paraná: Juliano Raramilho, biólogo • Rebia Santa Catarina: Germano Woehl Junior, mestre e doutor em Física. Pessoa Jurídica A Rebia mantém parceria com uma rede solidária de OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que respondem juridicamente pela finanças dos veículos de comunicação e projetos da Rebia: • Associação Ecológica Piratingaúna CNPJ: 03.744.280/0001-30 • Sede: R. Maria Luiza Gonzaga, nº 217, Ano Bom - Barra Mansa, RJ • CEP: 27323-300 • Utilidade Pública Municipal e isenta das inscrições estadual e municipal • Prima – Mata Atlântica e Sustentabilidade (Ministério da Justiça - registro nº 08015.011781/2003-61) – CNPJ: 06.034.803/0001-43 • Sede: R. Fagundes Varela, nº 305/1032, Ingá, Niterói, RJ CEP: 24210-520 • Inscrição estadual: Isenta e inscrição Municipal: 131974-0 www.prima.org.br “A Revista do Meio Ambiente é distribuída gratuitamente para compor o acervo de bibliotecas de escolas e organizações comunitárias e conta com o apoio das empresas EDIOURO.”

por Conservação Internacional (CI)

Consumo responsável

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12 O consumismo como problemática ambiental, por Christiane R. Donato e Adauto S. Ribeiro

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Ecologia interior

28 O corpo e a ecologia do ser por Maurício Andrés Ribeiro

Energia

30 As hidrelétricas e o efeito estufa por André Alves

Entrevista

34 O brasileiro come veneno por Aline Scarso

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• Descompasso verde • A fervura da sustentabilidade • Alta da fé • Por que bicicleta? • Desapropriação não sustentável: a visão da comunidade • Carbono zero e outras balelas • Contribuição da América Latina para uma geosociedade • Nosso planeta Terra • Para onde? Para quê? Para quem? • Sustentabilidade: o fim do planeta econômico • Como reduzir a escassez de água • Motosserra vs Amazônia • Poluição em casas e escritórios de SP é inaceitável • Aquecimento global poderá aumentar desigualdades • Porque devemos agir contra o aquecimento global? • A polêmica do licenciamento em Porto Açu • Segunda sem Carne: descobrindo novos sabores • Animais silvestres de volta para casa • Aniversário sem grandes mudanças • A arte do encaixe com plástico reutilizável • Ongs se aliam a companhias polêmicas Revista ‘Neutra em Carbono’ • Meu filho, você não merece nada

Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da Rebia.

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Editor e Redator-chefe: Vilmar Sidnei Demamam Berna, escritor e jornalista. Em 1999 recebeu o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas www.escritorvilmarberna.com.br http://escritorvilmarberna.blogspot.com/ Contatos: vilmar@rebia.org.br • Celulares (21) 9994-7634 e 7883-5913 ID 12*88990 Editor Científico: Fabrício Fonseca Ângelo, jornalista, mestre em Ciência Ambiental, especialista em Informação Científica e Tecnológica em Saúde Pública • (21) 2710-5798 / 9509-3960 • MSN: fabricioangelo@hotmail.com Skype: fabricioangelo • www.midiaemeioambiente.blogspot.com Produção gráfica: Projeto gráfico e diagramação: Estúdio Mutum • (11) 3852-5489 Skype: estudio.mutum • contato@estudiomutum.com.br Impressão: Imprinta Express Gráfica e Editora Ltda. Portal do Meio Ambiente www.portaldomeioambiente.org.br Webmaster: Ricardo Paes • ricpaes@gmail.com • (21) 9475-3844 Comercial Linha direta com o editor: vilmar@rebia.org.br • Celular (21) 7883-5913 ID 12*88990 e 9994-7634 • Telfax: (21) 2610-2272 Diretor: Maurício Cabral • (21) 7872-9293 ID 10*96559 • mauriciocabral@ revistadomeioambiente.org.br e mauriciocabral@rebia.org.br Representação em Brasília: Minas de Ideias Comunicação Integrada (Emília Rabello e Agatha Carnielli • Brasília (61) 3408-4361 / 9556-4242 Rio de Janeiro: (21) 2558-3751 / 9114-7707 • brasilia@minasdeideias.com.br Skype: agatha.cn • www.minasdeideias.com.br

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Foto da capa: Jaguatirica (Leopardus pardalis), em Volcan Barva, Costa Rica. Créditos: Organização para Estudos Tropicais, integrante da Rede TEAM (www.teamnetwork.org), no primeiro estudo “Global Camera Trap Mammal”.

Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental: organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, dedicada à democratização da informação ambiental com a proposta de colaborar na formação e mobilização da Cidadania Ambiental planetária através da edição e distribuição gratuita da Revista do Meio Ambiente, Portal do Meio Ambiente e do boletim digital Notícias do Meio Ambiente. CNPJ: 05.291.019/0001-58. Sede: Trav. Gonçalo Ferreira, 777 - casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba - Niterói, RJ - CEP 24370-290 www.rebia.org.br

Macaca nemestrina, uma espécie vulnerável. Foto do Wildlife Conservation Society, membro do TEAM network http://www.teamnetwork.org

nesta edição 3

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Um dos maiores instrumentos da cidadania ambiental para a defesa do meio ambiente é o acesso à informação, pois não basta ter direitos se não se tem acesso ao conhecimento sobre eles. Apesar de existirem leis que asseguram a democratização da informação ambiental, na prática, elas existem mais no papel, o que é natural num sistema democrático ainda em construção como o nosso. No meio ambiente existe o bloco dos ´amigos da natureza’ que às vezes não mede os riscos ao atravessar o samba do bloco dos ‘amigos do progresso a qualquer preço’. Alguns chegam a ser eliminados do espetáculo. Entre os problemas dos ´amigos da natureza´ está a dificuldade em cantar o mesmo samba juntos. Os ‘amigos do progresso a qualquer preço´ adoram isso, por que ganham com a confusão. Entre os ´amigos da natureza´ tem alguns que também adoram uma confusão, por que o negócio é aparecer e assim aumentar as chances de ganhar alguns minutos de fama, ou mesmo uma boquinha, um carguinho ou verbinhas para seus projetos. Às vezes criam dificuldades para negociar facilidades e exageram nas gorduras dos gestos, dos gritos e das reivindicações para na hora do reparte não ter de cortar nas carnes. Tem outros que acreditam tanto no consenso que acabam flertando com o ‘inimigo’. Quando descobrem que foram enganados – geralmente tarde demais para o meio ambiente -, migram para o bloco dos ‘ressentidos’, ou do ´Vai dar m...`, ou do ´Eu avisei´. A plateia costuma assistir ao espetáculo entre uma mastigada e outra no jantar, entre uma ou outra noticia de bala perdida, sequestro relâmpago, nada que tire o sono, pois logo a seguir vem a novela, depois o futebol ou o BBB. Quando a turma dos ‘inimigos do meio ambiente’ atravessam o samba logo entra em cena o bloco do “Deixa Comigo que já estou cuidando de tudo”, e tem a turma da ‘Diretoria’ que aposta no quanto pior para o meio ambiente melhor, por que significa que mais um TAC vai ser negociado entre um vôo de jatinho e outro, e sempre sobra uma vantagenzinha para engordar o caixa ou o prestigio eleitoral. Audiência publica nem precisa, pois só serve para que os que vão sofrer as consequências saibam o tamanho do desastre ambiental que irá se abater sobre eles. Afinal, não é uma perereca ou um bagre ridículo, ou algum índio emplumado ou meia dúzia de plantadores de alface que irão atrapalhar o espetáculo do progresso a qualquer preço pelo bem do Brasil e dos brasileiros! Claro, sempre dá para descolar uma almofada como medida mitigadora para aliviar a dor das tragédias.

ago 2011 revista do meio ambiente

Descompasso

verde E o meio ambiente atravessou o samba do progresso a qualquer preço

Alfredo Camacho (sxc.hu)

texto Vilmar Sidnei Demamam Berna* (www.escritorvilmarberna.com.br)

editorial

Azar é quando uma das alegorias do bloco do ´progresso a qualquer preço´ quebra no meio da avenida. É um corre corre para abafar a situação e não deixar que o incidente atrapalhe o espetáculo do crescimento. Nessa hora, entra na avenida a tropa de choque dos foliões dos blocos dos ‘Nada a Declarar’, ‘Fica tranquilo que o problema já foi resolvido’, ‘Já abri um inquérito para apurar as responsabilidades’, ‘Já multamos em milhões e estamos negociando um TAC’. Tudo perfeitinho como manda o figurino. E aí é só apostar para que o problema suma logo das vistas do público por que aí a mídia vai se desinteressar rapidamente e assim, tudo volta ao normal, e o samba pode retomar o ritmo do ‘vamos em frente enquanto tem meio ambiente’. Os únicos chatos que não esquecem são alguns ´amigos da natureza´ biodesagradáveis, mais conhecidos por ecochatos, que deveriam ser coerentes e voltar a andar nus, morar em cavernas e usar a luz das fogueiras. Mas não, essa gentinha gosta mesmo é de reclamar e atrapalhar, e é ajudada por um tipo de imprensa que só gosta de noticia ruim! Parece quem tem uma especial predileção para o que não dá certo. Não adianta imprimir relatórios de sustentabilidade em papel reciclado, neutralizar as emissões de carbono plantando árvores, nada parece deixar esse ´pessoalzInho´ satisfeito. Ainda bem que existe o bloco dos ‘contentes’ para animar o Carnaval do ´progresso a qualquer preço´. Não importa quanto aumente o desmatamento ou o aquecimento global, derrame óleo nos mares, ou vaze radiação nuclear, vai ficar tudo numa boa. O ‘bloco dos contentes’ tem fé na ciência e na tecnologia salvadoras e que logo logo darão um jeito em tudo, e ainda farão poluição e destruição ambiental dar lucros com máquinas maravilhosas transformando lixo e esgoto em energia e devolvendo recursos naturais ao Planeta! Quem tiver um lixão que o guarde bem, pois valerá seu peso em ouro! Água poluída, então, nem se fala! Com o reuso vai até sobrar dinheiro no caixa das empresas que não precisarão mais comprar água para resfriar processos! Os engarrafamentos se transformarão numa das novas maravilhas desse novo mundo, com carros emitindo apenas vapor d’água, verdadeiras ilhas de conforto com ar-condicionado movidos a energia solar e equipamentos de som e vídeo de dar inveja a qualquer discoteca das mais. *Vilmar é escritor e jornalista, fundou a REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental

(www.rebia.org.br) e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente (www.portaldomeioambiente.org.br). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas.


A fervura

Hagit Berkovich (RGBStock)

da sustentabilidade

Vivemos novos tempos, novos desafios, em que somos convocados a ser agentes ativos no processo da mudança para a sustentabilidade Entre estes desafios está o de ter e manter a chama acesa da esperança. Veja por exemplo o processo que ocorre quando colocamos uma água para ferver. O aquecimento começa gradual até que a fervura apareça ao atingir os 100 graus Celsius. A fervura é apenas a parte visível de um processo que passou antes por diversos outros graus de temperatura. Se colocarmos pouca água, ferve mais rápido, se for muita, o processo demora mais tempo. A sustentabilidade é um processo com muita água, pois requer mais que apenas mudar tecnologias, requer mudar visões de mundo. Os mais pessimistas, podem achar que a temperatura subiu pouco, os mais otimistas, que já subiu muito. Mas sob qualquer ângulo que se olhe, ainda vai faltar muito para que a fervura se torne visível, embora já estejamos vendo alguns sinais numas bolhas aqui e ali. E aí, como a acontece com a água, quando menos se espera, a ebulição irrompe da superfície, quase instantaneamente, por todo o lugar. O principal combustível da fervura é a esperança. É ela que nos dá a motivação para transformar sonhos em ações, paciência para persistir, mesmo quando os resultados ainda não são tão visíveis! A esperança se alimenta também de informação e do diálogo. Nos animamos quando descobrimos outros, como nós, que não desistiram de lutar, quando recebemos notícias sobre bons resultados e boas práticas no rumo da sustentabilidade. Mas também nos animam as más notícias, no sentido que nos tirar da inércia e lembrar o quanto a luta ainda é grande e somos necessários. Precisamos reconhecer que a sustentabilidade ainda está mais no campo da utopia que da realidade, e que por isso precisamos exercitar a capacidade do diálogo e do entendimento, a fim de negociar, democraticamente, a sustentabilidade do possível, que talvez não seja a dos nossos sonhos, nem a dos sonhos do outro. A boa noticia é que o processo de mudança para a sustentabilidade já esta em andamento, a chama já está acessa nas milhares de pequenas ações, projetos, resultados, aquecendo essa fervura. Cada novo projeto que se inicia e que toma o rumo da sustentabilidade, cada nova pessoa que toma consciência da importância da sustentabilidade, ou que renova suas esperanças nela, a temperatura aumenta. Talvez não seja ainda para a nossa geração ver a fervura, mas sem nossas ações, sem nossos sonhos, o processo de mudança seria ainda mais lento. O que pode enfraquecer a chama – e até mesmo apagá-la – são os corruptos, os folgados, os indiferentes, os cruéis, os mal-educados, os maus

cidadãos, os maus políticos, os violentos, os gananciosos, os egoístas, os vigaristas. Eles já nos tiram tanto ao tornarem este mundo pior do que poderia ser que se não formos capazes de – enquanto nos defendemos deles –, conservarmos a esperança, o amor, a bondade em nós, então a sustentabilidade poderá ser apenas mais uma boa ideia que não deu certo. A pior perda que podemos sofrer não é a de um bem material, ou uma cicatriz no corpo físico, mas é quando deixamos de acreditar no próximo, no amor, que um mundo melhor seja possível, que mudar irá valer a pena, e aí o cinismo, a indiferença, a descrença, a falta de gentileza toma o lugar da esperança. E em momentos assim, corremos o risco de nos tornar como os maus, pois ao tentar nos proteger do mundo, proteger nossa vulnerabilidade, podemos construir muros em torno de nos em vez de pontes, muros de desencanto, ressentimento, amargura, culpa por não tentar. As novas gerações que começam em cada criança que nasce e cresce sob nossas responsabilidades é uma espécie de grito de socorro da vida pelo nosso bom senso e comprometimento. As crianças confiam nos adultos, incondicionalmente, de que terão um futuro, e que este futuro deverá ser melhor, por que cobramos delas que sejam pessoas melhores. Falhar com nossas crianças não deveria ser uma opção válida para nós. Para cada mau adulto que pode estar irremediavelmente comprometido com a insustentabilidade e se contenta com desculpa e argumentos para não mudar e para deixar este mundo pior do que encontrou, adultos devem se levantar, responsáveis e comprometidos com a mudança para um mundo melhor, para estimular e envolver, sensibilizar e motivar as crianças, pois assim como precisam de nós para crescer saudáveis, precisamos delas para ter um futuro. Esta nova geração de crianças e jovens e pouco tempo estarão nos substituindo na gestão dos negócios, nos cargos públicos, onde farão escolhas, e é melhor que façam escolhas diferentes das que conduziram a humanidade à beira deste colapso que não é só ambiental, mas principalmente moral, ético e civilizatório. Trata-se de um enorme desafio que muitos de nos já está enfrentando, mas não é fácil, pois tudo à nossa volta conspira para que as novas gerações se tornem consumidores vorazes antes de se tornarem cidadãos conscientes. Não podemos permitir que os maus nos tirem a esperança, pois poderemos falhar na tarefa de educar filhos melhores para um mundo melhor. E se isso acontecer, deixaremos que os maus nos derrotem completamente.

texto Vilmar Sidnei Demamam Berna

artigo

revista do meio ambiente ago 2011


RESERVE JÁ SEU ESPAÇO PUBLICITÁRIO NA EDIÇÃO ESPECIAL DA REVISTA DO MEIO AMBIENTE QUE CIRCULARÁ ENTRE OS PARTICIPANTES DO IV CBJA > Fóruns de Debates > Oficinas de Capacitação > Mostra Científica > Mostra de vídeos ambientais > Estandes > Eventos Paralelos:

(Encontro da RedCalc • Red Latino • Americana de Periodismo Ambiental > Iº Encontro Nacional da REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental) > REALIZAÇÃO: Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA), Rede Brasileira de Informação Ambiental (REBIA),Instituto Envolverde e Ecomídias > CURADORIA: Dal Marcondes(Envolverde e RBJA) e Vilmar Berna (REBIA e RBJA) > SECRETARIA EXECUTIVA: Instituto Envolverde • Jornalismo & Sustentabilidade 11 3034-4887 • anamaria@envolverde.com.br

XI Encontro Verde das Américas * GreenMeeting 2011 *

20, 21 e 22/09/2011 Brasília DF - Brasil

* Local: Museu Nacional da República, Esplanada dos Ministérios

www.greenmeeting.org



Martin Boulanger (sxc.hu)

texto Caio Ferretti

ecologia interior

Alta da

O cientista indiano Amit Goswami acredita que o capitalismo está perdendo espaço para o que chama de “economia espiritual” Chaplin foi visionário quando fez Tempos Modernos, em 1936. O sistema econômico esqueceu das pessoas e se estabeleceu no materialismo e no consumismo. Mas ainda há quem questione o modelo vigente com pensamentos que vão além de lucros e porcentagens. Para o cientista indiano Amit Goswami, o capitalismo como conhecemos está perdendo espaço para o que chama de “economia espiritual”. Não se trata de comércio de indulgências, oferta e demanda de crucifixos ou da cotação de budas de porcelana, e sim de um sistema que atenda não só às nossas necessidades materiais, mas às espirituais e ao bemestar pessoal. “Enquanto o capitalismo leva em conta a satisfação das necessidades mais egocêntricas das pessoas, a economia espiritual leva em conta o bem-estar, as necessidades mentais e da alma”, explica Amit. Para isso acontecer, é preciso que o ambiente de trabalho também seja reformulado. O cientista ago 2011 revista do meio ambiente

acredita que uma empresa que atende às necessidades espirituais de seus funcionários maximiza os lucros. “A diretoria de uma corporação inserida na nova onda capitalista não só procura aumentar os lucros materiais de seus acionistas, como contribui, literalmente, para os lucros em energia vital.” Sem perder mais funcionários nas engrenagens. Para saber mais sobre as teorias de Amit Goswami, veja aqui dez frases* do cientista que mostram como é possível pensar no futuro de uma maneira diferente. “Nossa política tem que mudar de política do poder para uma de significados. Nossas instituições educacionais têm que parar de se preocupar com o treinamento profissional e renovar o significado e a alma em sala de aula. Nossas religiões têm que parar de dizer às pessoas como votar e de influenciar políticos, e voltar à busca da divindade e ensiná-la as pessoas. E assim por diante.” “Tem que haver uma mudança no paradigma da economia, do capitalismo para o que eu chamo de ‘economia espiritual’. Enquanto o capitalismo leva em conta a satisfação das necessidades básicas mais egocêntricas das pessoas, a economia espiritual leva em conta o bem-estar.” “Não precisa ser um gênio para perceber que a economia capitalista, tal como praticada hoje, também se encontra num ponto de crise. Em primeiro lugar, o capitalismo hoje é baseado no crescimento e na expansão contínuos, que requerem recursos ilimitados. Isto não pode ser sustentável num planeta finito.” “A partir da sustentabilidade ecológica, o próximo passo é a conscientização do movimento evolucionário da consciência. Não só demandamos uma sustentabilidade ecológica, mas também questionamos se nossos negócios estão contribuindo positivamente para o movimento da consciência, ou pelo menos não o estão prejudicando.”


Fonte: http://revistatrip.uol.com.br

*As frases foram retiradas dos artigos O caminho para uma economia espiritual e Como os negócios estão mudando, escritos por Amit Goswami, disponíveis em www.mercadoetico.com.br

Mude sua atitude

texto Instituto Parada Vital

“Um outro fator-chave no desenvolvimento dos negócios é o green business, que cresceu com o movimento ecológico. O green business tem dois componentes. O primeiro é a conscientização que as considerações ecológicas podem ser empregadas para se obter ganhos econômicos e lucros. O segundo é a conscientização que, no longo prazo, a sustentabilidade ecológica é um excelente objetivo a ser alcançado. Mais cedo, ou mais tarde, isso será uma imposição dos governos, ou da própria natureza.” “A partir da ecologia, só é necessário um pequeno salto para o conceito que a conexão da vida com o meio ambiente é bem mais profunda. Não só apenas por sinais materiais e locais, mas também através da energia vital, e da própria consciência, via uma conexão não local quântica.” “A produção de energia vital pode ser alcançada de diversas maneiras. Uma delas é pelo estabelecimento de florestas, já que as plantas têm abundante energia vital. Outra forma é pelo cultivo da saúde positiva na sociedade, uma vez que as pessoas com saúde positiva irradiam energia vital. No entanto, a melhor maneira de se garantir a produção de energia vital é estimular que os locais de trabalho, frequentados por pessoas comuns, disponibilizem estruturas que permitam aos seus funcionários praticar a saúde positiva, como yoga, Tai Chi e meditação.” “As corporações começaram a perceber que seus funcionários se desempenham melhor se sua estrutura de valores não está em conflito com a estrutura de valores da empresa.” “O que acontece quando uma corporação estimula a criatividade interna de todos os seus funcionários, permitindo a eles que abram suas almas? O meio corporativo, como um todo, torna-se mais feliz, e cheio de vitalidade e de significado. Mais ainda, a criatividade interna pode aumentar a criatividade externa de pessoas já abertamente criativas, e espinha dorsal de uma corporação inovadora.” “O capitalismo, e sua expansão econômica contínua, produz padrões de vida e de remunerações cada vez maiores que não têm como serem mantidos, a não ser através da produção de inflação. Para suprir as demandas dos altos padrões, aliados aos altos custos, as pessoas se vêem forçadas a abrir mão de necessidades mais fundamentais. Assim, as promessas básicas do capitalismo são invariavelmente substituídas pela natureza agressiva do mesmo.”

Kzenon (veer)

comportamento 9

Por que

bICICletA?

1. Pela economia: Bicicleta não paga imposto de circulação, não usa combustível, as públicas não geram gastos em manutenção, e tem sempre estacionamento gratuito. 2. Pelo tempo: Está mais do que comprovado que em deslocamentos urbanos o meio de transporte mais eficiente é a bicicleta, principalmente nos horários de pico, principalmente numa cidade em que a gente se esforça para criar uma pedalada de mais de 30 km. 3. Pela saúde: A prática regular de exercícios trazem benefícios físicos e mentais. E para quem tem peso extra, como eu, ou quem tem problemas de hipertensão, diabetes, etc (ou quer evitar ter), é uma forma gostosa de unir o útil ao agradável! 4. Pelo meio ambiente: Se 15% das viagens feitas em transportes motorizados fossem cumpridas em bicicleta, a poluição sonora e do ar nas cidades seria reduzida a metade. Colaborando para a diminuição da degradação ambiental. Já ajudaria a limpar o ar, e melhorar a qualidade de vida em nossa ensolarada capital! 5. Pela diversidade: Poucas pessoas não podem usar esse meio de transporte que não necessita habilitação ou qualquer documento, não há limite de idade nem condições físicas especiais. 6. Pela eficiência: A possibilidade de integrar a bicicleta com outros meios de transporte (metrô, trem, ônibus…) tornam as magrelas o modo mais eficaz e versátil. 7. Pelo clima: O inverno brasileiro torna a circulação em bicicleta ainda melhor. 8. Pelo futuro: Se buscamos um futuro com mais qualidade de vida, devemos considerar o uso racional como parte fundamental para alcançar esse objetivo. 9. Por nossos filhos: Se o tráfego já está saturado agora, o que será daqui a 20 anos? Pense neles que tudo acima faz muito mais sentido! Sem falar que você estará dando o exemplo certo e contribuindo para criar hábitos saudáveis e formar melhores cidadãos, mais conscientes e ambientalmente responsáveis. 10. Por nossos netos: No andar desta carruagem, tráfego doido, aquecimento global, falta de consciência generalizada, será você ainda espera ter netos? Bem, se espera, atue. Se não espera, pelo menos pense naqueles que já tem netos e naqueles que ainda querem netos! Fonte: http://www.paradavital.org.br

Do original Buenas razones para circular en bicicleta, traduzido pelo blog Transporte Ativo (http://blog.ta.org.br)

revista do meio ambiente ago 2011


texto Lilian Reis*

10 ecologia humana

Desapropriação não sustentável: a visão

dA CoMunIdAde

Sebba8 (sxc.hu)

Incredulidade, falta de confiança no poder público e na justiça, desconhecimento sobre a mecânica da desapropriação. Esses são os principais problemas detectados por quem trabalha diretamente com comunidades afetadas por obras e projetos

Muitas vezes, despejados à própria sorte, essas pessoas encontram a solidão em vez da solidariedade. Infelizmente, o bem maior e o benefício à coletividade, sacrifica duramente alguns. Idosos, casais, crianças, parentes de diversos graus dividem o mesmo espaço por anos. Ali constroem suas vidas, suas histórias e lembranças. Os frutos de anos de trabalho são ali empregados, promovendo melhorias contínuas para garantir mais conforto e segurança à família. Seria então possível imaginar tudo isso virando pó sob a força de um trator? Só quem vive essa situação é capaz de entender o que significa ter de deixar seu lar de maneira compulsória, abandonando todos os seus sonhos e desejos para trás. Talvez esta seja uma das dores do crescimento. O Brasil está no centro dos holofotes mundiais, como uma grande nação em desenvolvimento. O país que receberá os dois eventos esportivos mais importantes do mundo e vive um boom imobiliário está se transformando num verdadeiro canteiro de obras. Situação que tem aumentado o número de pessoas expostas a dilemas como esse. Mas a perda da propriedade por desapropriação e sua indenização justa está prevista no Código Civil art. 1275,V. o art. 1228. Lá está assegurado que o proprietário pode ser privado de seu bem, mesmo que seja contrário a essa decisão. Porém, quando somos finalmente surpreendidos por essa decisão, surge uma série de perguntas. Vou receber o valor justo? Conseguirei comprar outro imóvel nas mesmas condições antes de desocupar? As pessoas em processo expropriatório merecem, no mínimo, o direito à informação. Merecem apoio, pois não desejaram esta situação. Cabe ao empreago 2011 revista do meio ambiente

endedor desempenhar este papel, seja ele público ou privado. A incredulidade reflete o medo, a insegurança de não se ter para onde ir. Lamentavelmente, muitos não conseguem fazer valer seus direitos. Por não terem dado importância à regularização de seus bens, acabam não recebendo um valor justo pelo imóvel. Afinal, não basta ser proprietário do bem em questão, é preciso ter a posse dele, ou seja, uma escritura e um registro. Entretanto, valendo-se da informação pontual e das técnicas de relacionamento, é possível estabelecer um vínculo de confiança com comunidades afetadas por processos expropriatórios ou reintegrações de posse. É necessário que desde o início da elaboração dos projetos, a sustentabilidade seja garantida. Isso quer dizer que é preciso levar em conta custos e critérios sociais, socioambientais, criar canais de comunicação adequados e utilizar suas ferramentas por profissionais habilitados para que estes processos sejam menos dolorosos à população e mais tranquilos ao empreendedor. Exemplos de desocupação pacífica existem apenas quando a informação chega antes, possibilitando que as pessoas tenham tempo para se organizar e se sintam valorizadas. É quando os trâmites judiciais, o porquê do processo expropriatório e da razão da contratação de um advogado foram minimamente detalhados em diálogos francos e transparentes com as comunidades. Obviamente não é possível agradar a todos, mas é necessário minimizar angústias e realizar a ação social de forma justa. Para isso, é primordial que o ser humano seja respeitado. Coisa que, infelizmente, não tem sido vista com grande frequência. * Lilian Reis é relações públicas e associada da

Communità Comunicação Socioambiental. Contato: lilian@communita.com.br / www.communita.com.br Informações para a imprensa: Marília Cardoso (marília@informamidia.com.br), (11) 8491 3527


Carbono zero e outras balelas No rastro dos debates das grandes questões ambientais, como sempre acontece, logo surgem os oportunistas surfando a onda com criativos produtos e belas campanhas de marketing.

Como a bola da vez é o aquecimento global e as mudanças climáticas, a onda agora é prometer compensar (ou neutralizar) as emissões de carbono e gases do efeito estufa com o “mágico” plantio de árvores. Como slogan, é muito bonito e reconfortante dizer que o plantio de árvores neutralizará totalmente as emissões de carbono de um evento ao público ou as emissões dos gases de efeito estufa do carro ou do avião que o transporta. Mas será que é verdade? Ainda que essas promessas possam ter-lhe convencido, e trazido algum alívio para a consciência pesada, pare por alguns instantes e pense. Resgate seu bom-senso. Em primeiro lugar, tenha a exata noção da seguinte premissa: se todos nós quisermos seguir esse mesmo caminho “preservacionista”, não haverá área suficiente para plantar todas as árvores necessárias. O que significa dizer que essa não é uma solução viável para o Planeta. Mas tudo bem, vamos admitir que somente um parte seguirá esse caminho. Nesse caso, qual é a garantia que você tem de que a empresa responsável irá plantar as mudas das árvores? Quais espécies serão plantadas e

em que áreas? Quem delas irá cuidar durante os longos 20 ou 30 anos que levarão para tornar-se adultas? Ou você não sabia que no cálculo que aponta o número de árvores necessárias para neutralizar suas emissões gasosas, ou seja, para concretizar a prometida compensação, utiliza-se o coeficiente de captura de CO2 da árvore adulta? E mais; dependendo da espécie, esse coeficiente será bem diverso. Quem lhe garante também que suas árvores chegarão à vida adulta? Aliás, quem lhe garante que a empresa responsável (contratada) pelo plantio estará viva e cuidando das suas árvores daqui há 20 ou 30 anos? Infelizmente, você não obterá respostas satisfatórias a todas essas dúvidas. Não está-se falando aqui, e é bom que fique bem claro, de empresas e projetos sérios nessa área e dos programas de recomposição da mata nativa e de reflorestamento. A recuperação das áreas degradadas, especialmente nas encostas dos morros e entornos de rios e mananciais, e o replantio feito pela indústria de papel e celulose são ações que devem sempre ser incentivadas e apoiadas. Entretanto, se até o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) critica o forte apelo de marketing das campanhas de Carbono Zero, o caminho não pode ser o insidioso discurso: “continue consumindo e gerando emissões de carbono sem preocupações; nós limparemos sua barra plantando árvores”. Seria ótimo para todos nós se pudesse ser assim. Mas não é. Não há outro caminho sustentável de longo prazo senão o consumo consciente, a preservação dos recursos naturais e a reciclagem dos materiais e resíduos. Pense nisso! Não se deixe levar por soluções oportunistas e milagrosas. Associe-se, contribua e participe de ações, entidades e projetos atuantes e respeitados por seu longo e verdadeiro trabalho em favor da Natureza.

texto Marcelo Szpilman*

Darryl Smith (sxc.hu)

mudanças climáticas 11

* Marcelo Szpilman, Biólogo Marinho formado pela UFRJ, com Pós-Graduação Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela Coppe/UFRJ, é autor do livro Guia Aqualung de

Peixes, editado em 1991, de sua versão ampliada em inglês Aqualung Guide to Fishes, editado em 1992, do livro Seres Marinhos Perigosos, editado em 1998/99, do livro Peixes Marinhos do Brasil, editado em 2000/01, do livro Tubarões no Brasil, editado em 2004, e de várias matérias e artigos sobre a natureza, ecologia, evolução e fauna marinha publicados nos últimos anos em diversas revistas e jornais e no Informativo do Instituto Aqualung. Atualmente, Marcelo Szpilman é diretor do Instituto Ecológico Aqualung, Editor e Redator do Informativo do citado Instituto, diretor do Projeto Tubarões no Brasil (Protuba) e membro da Comissão Científica Nacional (Cocien) da Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos (CBPDS). revista do meio ambiente ago 2011


texto Christiane Ramos Donato e Adauto de Souza Ribeiro*

12 consumo responsável

O CONSUMISMO

Henk L (sxc.hu)

como

O consumo não está perdido e sozinho na nossa sociedade, ao contrário, ele está vinculado diretamente com a produção, pois quanto mais se produz mais matéria-prima deve ser consumida para alimentar o mercado. De tal modo, a produção e o consumo se retroalimentam, numa interação na qual o consumo também produz a produção, indicando o que e quanto é necessário ser fabricado. Dessa maneira, podemos inferir que a produção em geral é uma abstração, pois mais do que a produção material ocorre a produção dos indivíduos, os quais são moldados para adquirirem os bens capitalistas através do consumo (MARX, 1987). Ao passar do tempo, a mediação produção-consumo aumentou e diversos impactos ambientais foram gerados e seus efeitos foram trazidos a tona como a redução de muitas terras antes cultiváveis, a desertificação, o aumento do efeito estufa, o aumento do buraco da camada de ozônio e a diminuição de espécies animais (CAMARGO, 2003). Nesse momento devemos então nos perguntar: como atingir a sustentabilidade numa sociedade em que o progresso é entendido como resultado de uma maior produção e de um maior consumo de bens? Estamos diante de uma mudança de paradigma e de sociedade. Essa situação deixa evidente a limitação do trabalho como principal meio de identidade e integração social, pois estamos em presença de uma mudança no sistema de trabalho, a qual substitui a produção como principal núcleo da atividade social pela interação social, que passa a ser a categoria matricial da sociabilidade. Dessa maneira, nos alienamos também através do sistema de consumo, já que o trabalhador busca nele a satisfação que perdeu no trabalho. E essa situação acarreta numa grande dificuldade de diminuir esse consumo, pois além da cidadania ganhamos com ele também felicidade e satisfação. São esses sentimentos os anunciados pelas propagandas comerciais, pois hoje não se vende mais um simples produto, mas um sentimento a exemplo de um refrigerante que gera felicidade e de um perfume que encanta e seduz homens e mulheres (PORTILHO, 2005). Atualmente vivemos numa sociedade, na qual cada vez mais a felicidade e a qualidade de vida são associadas, reduzidas e dependentes da quantidade ago 2011 revista do meio ambiente

de consumo. Essa dependência gera um círculo vicioso, no qual há necessidade de se trabalhar mais para poder consumir mais, o que reduz o tempo que deveria ser disponível ao lazer e aos outros tipos de relações sociais e afetivas. Essa situação levou à recente grande critica ao consumismo, o qual além de ser socialmente injusto é ambientalmente insustentável. Com isso, iniciou-se um processo paulatino de internalização do discurso ambiental nos meios de produção capitalista (PORTILHO, 2005). Como Portilho (2005) explicitou, não existe uma crise ambiental única, mas uma pluralidade de formas de definição e problematização da mesma e uma disputa por proposições e tentativas de solução em diferentes setores sociais e políticos. Assim sendo, a necessidade de criação de formas mais sustentáveis de produção com energia limpa e utilização de menos matériasprimas e mesmo reutilização de excedentes industriais começaram a fazer parte das mudanças pouco a pouco implantadas na sociedade. Entretanto, notou-se que essas mudanças ainda não eram suficientes para reduzir mais consistentemente os problemas ambientais. Pois em contrapartida o consumo vinha sempre aumentando com a criação de mercados específicos para certos grupos, a exemplo dos homossexuais, idosos e crianças e restringindo a cidadania a quem participava das atividades de consumo. Como então diminuí-lo? Ideias de como resolver a problemática ambiental atual e atingir uma verdadeira sustentabilidade Estamos em um momento em que é necessário um aprendizado social coletivo sobre como “sustentar” a natureza, sendo esse aprendizado caracterizado como um processo de reflexão que informa e direciona a ação coletiva. Todavia, muitas vezes para se criar essa necessidade de aprendizado a sociedade humana necessita vivenciar injustiças sociais ou catástrofes naturais, articulando uma norma emergente que irá influenciar as ações do coletivo naquela situação e que poderá se expandir para uma redefinição da sua condição, revisão da justiça e normas sociais coletivas (HANNIGAN, 2000). Contudo, há ainda uma grande dificuldade para essa situação ocorrer de forma mais concisa: as


13

Os meios para o desenvolvimento sustentável já existem, bastam eles serem orientados para este fim. As gerações futuras irão agradecer muito por isso

problemática ambiental injustiças e catástrofes não são generalizadas, mas sim pontuais. Situação essa que dificulta uma mudança global de atitude. Então como proceder para diminuir os impactos ambientais causados pelo sistema capitalista? Seria através do desenvolvimento sustentável? Desde a década de 1980 começou-se a falar de desenvolvimento sustentável e esse está hoje no núcleo de todo o discurso ecológico oficial sem que haja um consenso quanto ao seu real significado. Existem várias conceituações diferentes para desenvolvimento sustentável o qual é considerado por muitos um termo ambíguo, ideológico ou mesmo um mito, todavia, geralmente, as várias concepções dele expressam a necessidade de uma relação de homeostase entre o homem e todo o planeta atualmente e até um futuro distante (CAMARGO, 2003). Partindo da premissa que desenvolvimento sustentável é “um processo que permite satisfazer as necessidades da população atual sem comprometer a capacidade de atender as gerações futuras” (LEFF, 2007, p.19) essa sustentabilidade deve internalizar as condições ecológicas de suporte na economia, o que acarretaria numa situação para também sustentar o processo econômico como um todo. Com isso bastava-se melhorar as fontes de energia, reciclar e reutilizar insumos e criar produtos “verdes”. Destarte, devemos ter cuidado com o discurso do desenvolvimento sustentável, o qual simplifica a natureza e as identidades culturais para se apropriar delas como meio de produção e fonte de riqueza. Essa apropriação é “solicitada” pelo neoliberalismo, o qual atribui preço e direito de propriedade da natureza para que as leis do mercado se encarreguem de ajustar os desequilíbrios (ambientais e sociais) para alcançar um desenvolvimento sustentável com equidade e justiça. Dessa forma, não seria o desenvolvimento sustentável o principal aliado para modificar a relação homem-natureza, mas sim uma nova racionalização, como as ecosofias, a ecologia social e o ecodesenvolvimento (LEFF, 2007). É válido lembrar que não se pode antecipar o futuro, pois há muitos detalhes obscuros que podem diminuir a precisão e o desafio maior não é a ultrapassagem, mas sim como sobreviver às crises ambientais reduzindo o crescimento, o consumo de recursos e a poluição.

Com relação a isso, tem quem acredite que não ocorrerão maiores problemas futuros para a humanidade e outros que creem em catástrofes que mudarão completamente a vida na Terra. Para esses últimos os bens comuns tendem a ser destruídos, já que ninguém se responsabiliza por eles, para tanto é necessário superar a resistência social, econômica e política. Entretanto também são vários os cenários futuros sustentáveis possíveis, como a geração de uma bioética global; a diminuição da população humana e da taxa de consumo dos recursos naturais; o gerenciamento do planeta, com soluções diferentes para cada região; e a necessidade de uma economia ecológica (ODUM, 2007). Nessa nova perspectiva, o ecodesenvolvimento apresenta-se como uma boa saída para os atuais problemas ambientais e crises da sociedade, pois entre suas diversas características ele objetiva a utilização de mais recursos renováveis e evitar o desperdício; diminuir os impactos negativos das atividades humanas e usar os dejetos para fins produtivos; além de reduzir o consumo de energia de fontes comerciais. Nesse ecodesenvolvimento, que consiste um tipo de desenvolvimento particular e regional, as ações devem se voltar para o local com suas próprias condições e características inibindo a imitação, por exemplo, dos países ricos pelos países periféricos. Com isso, ocorrerá a valorização dos recursos específicos de cada região, e o homem contribuirá para sua realização ao mesmo tempo em que surgirá um novo estilo tecnológico, social e educacional a partir de uma autoridade horizontal com a qual a população local participará efetivamente engajando uma educação preparatória e sensibilizadora para a manutenção dessa nova dimensão de desenvolvimento (SACHS, 2006). No entanto, é importante frisar que o ecodesenvolvimento não é algo simples de ser implantado, já que é necessária uma mudança de mentalidade antes da mudança comportamental para se efetivar esse tipo de desenvolvimento. No geral, para um futuro sustentável, as desigualdades em todos os sentidos devem ser diminuídas e as mudanças tecnológicas devem ocorrer de forma gradual para haver acomodação e sustentabilidade efetiva. Para ocorrer isso Odum (2007) explicita que é necessário

Devemos ter cuidado com o discurso do desenvolvimento sustentável, o qual simplifica a natureza e as identidades culturais para se apropriar delas como meio de produção e fonte de riqueza

O sistema econômico é um sistema aberto do ecossistema, precisando desse último como espaço para jogar dejetos das atividades produtivas e de consumo revista do meio ambiente ago 2011


14 consumo responsável um capitalismo dual; uma análise dos pontos negativos e uma criação de contratecnologias para as tecnologias; reduzir os resíduos antes mesmo de reduzir o descarte do resíduo; e “restaurar a heterogeneidade e os padrões de paisagem alterados pela perturbação humana” (ODUM, 2007, p. 471). Considerações finais Sabe-se que o conceito de natureza não é natural, pois é criado dentro de um contexto histórico e de uma cultura. E que a cultura é algo intrínseco ao homem, já que por natureza a produzimos. Pode-se dizer então que existe a necessidade de uma revolução cultural, na qual cada cultura agiria em cima da situação atual da dívida ecológica, da justiça social e da humanidade como sujeito de direito, sendo o principal desafio uma gestão política engajada para resolver as problemáticas naturais (GONÇALVES, 2006). Com isso, podemos entender que existem três dívidas a serem pagas para que ocorra uma real sustentabilidade, são elas: a financeira, na qual ocorre dos países pobres para com os países ricos, incidindo uma submissão dos primeiros aos segundos; a ecológica, em que acontece a subvalorização dos recursos naturais pelos países do Hemisfério Norte ou desenvolvidos; e a da razão, que é devido à dívida externa e sua consequente alienação e o reendividamento constante dos países pobres ou subdesenvolvidos (LEFF, 2007). Para cessar essas dívidas surge um novo paradigma, o da economia ecológica, o qual ressignifica o discurso da sustentabilidade ao “dialogar” com a diversidade biológica, o equilíbrio ecológico do planeta e a diversidade étnico-cultural. Para tanto, há a necessidade de uma racionalidade ambiental que leva ao amadurecimento e envolvimento das comunidades locais em detrimento da racionalidade atual, a qual não valoriza a natureza, a cultura local e a ética. Uma das propostas dessa racionalidade ambiental é combater o padrão homogêneo do bem-estar e focar os elementos extra-econômicos, como a cultura e a etnia local, formando diferentes traduções de bem-estar e qualidade de vida. Além dessa nova racionalidade também objetivar o direito difuso a um ambiente saudável e equilibrado para garantir o futuro das próximas gerações (LEFF, 2007). De forma mais ampla, o que deve ser levado em consideração é que o condicionamento ecológico regula tudo o que o homem faz e pode fazer e que o meio ambiente e a sociedade são naturais. Para o caminho da obtenção da sustentabilidade é necessário exercer procedimentos em homeostase e com prudente geago 2011 revista do meio ambiente

ração de entropia. Pois o sistema econômico é um sistema aberto do ecossistema, precisando desse último como espaço para jogar dejetos das atividades produtivas e de consumo. E a escassez ambiental ascendente é a limitação de atividade econômica por não fornecer suficientemente recursos ou pela diminuição da capacidade de absorver lixo. Portanto, a perspectiva de sustentabilidade é “como um fator condicionante positivo a ser levado em conta na tarefa de satisfação das necessidades do homem a partir do estoque de recursos disponíveis.” (CAVALCANTI, 1996, p.323). Para um modelo biofísico da economia Cavalcanti (1996) defende ainda que a economia da natureza e das pessoas existe fora do mecanismo de mercado e possui auto-regulação homeostática. Já a economia – criação humana é insustentável, excluindo o princípio da homeostase. “Em suma, o caminho para se formularem os predicados de uma sociedade ecologicamente sustentável não pode ser calcado em um sistema como o do mecanismo de mercado” (CAVALCANTI, 1996, p.328), mas sim através da prudência ecológica, da frugalidade e da economia de recursos, matéria e energia de baixa entropia. A transição para a sustentabilidade ocorre junto a um saber ambiental e a uma nova racionalidade. Para isso, é necessário aliar a qualidade de vida à racionalidade ambiental, observar de forma geral e não fragmentária. Dessa forma, os direitos ambientais deverão ser agora de um ser coletivo, em detrimento do direito positivo, o que ocorrerá na medida em que os movimentos sociais ganharem seu reconhecimento jurídico e direito coletivo, os quais não podem ser resumidos à indenização e aos lucros repartidos (LEFF, 2007). Conclui-se então que a complexidade do mundo requer uma nova visão, a ecossistêmica, pois integra as dimensões ambiental, econômica e social para sair das atuais crises ambientais e da civilização. E deve-se buscar a racionalidade ambiental, a ética e a valorização da cultura local, o que implica em um novo saber para se alcançar uma verdadeira sustentabilidade ambiental. * Christiane Ramos Donato é mestranda em

Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe (Prodema/UFS), Membro dos Grupos Biologia da Conservação - Biose/UFS/CNPq e no Grupo de Pesquisa em Tecnologias Intelectuais, Mídias e Educação Contemporânea - Seminalis/UFS/CNPq. E-mail: christianecrd@yahoo.com.br. Adauto de Souza Ribeiro é professor Doutor do Departamento de Biologia/UFS, Coordenador do curso de pós-graduação em Ecologia e Conservação da Caatinga, um dos coordenadores do Grupo de Pesquisa em Biologia da Conservação – Biose/UFS/CNPq. E-mail: adautoead@gmail.com.

Referências bibliográficas

• BRANCO, S.M. O meio ambiente em debate. São Paulo: Moderna, 1998. (Coleção Polêmica). • CAMARGO, A.L. de B. Desenvolvimento sustentável: dimensões e desafios. Campinas, SP: Papirus, 2003. (Coleção Papirus Educação). • CAVALCANTI, C. Desenvolvimento e respeito à natureza: uma introdução termodinâmica à economia da sustentabilidade. In: FERREIRA, L. da C; VIOLA, E. (org.). Incertezas de sustentabilidade na globalização. Campinas/SP: Ed. Unicamp, 1996. p.319-331. • DREW, D. Processos Interativos: Homem-Meio Ambiente. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. p. 193-198. • GONÇALVES, C.W.P. Os (Des)caminhos do Meio Ambiente. 14.ed. São Paulo: Editora Contexto, 2006. • HANNIGAN, J. Em direção a um modelo “emergente” de meio ambiente e sociedade. In:______. Sociologia ambiental. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. p. 197-217. • LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade e poder. 9.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. • MARX, K. Introdução à crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultura, 1987. p. 3-23. • ODUM, E.; BARETT, G.W. Fundamentos de Ecologia. (tradução Pégasus Sistemas e Soluções). São Paulo: Thomas Learning, 2007. p. 460-509. • PORTILHO, F. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. São Paulo: Cortez, 2005. • SACHS, I. Ambiente e estilos de desenvolvimento. In: _______ Rumo à ecossocioeconomia. Teoria e prática do desenvolvimento. São Paulo: Cortez, 2006. p. 54-76. • WOOD, E. M. A origem do capitalismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.


Contribuição da América Latina para uma

geosociedade

Mulher boliviana das ilhas de Uros, da cultura aymara

texto Leonardo Boff

artigo 15

MartinT11 (Wikimedia CC 3.0)

Da periferia do mundo para um planeta possível

Por todas as partes no mundo cresce a resistência ao sistema de dominação do capital globalizado pelas grandes corporações multilaterais sobre as nações, as pessoas concretas e sobre a natureza. Está surgindo, bem ou mal, um design ecologicamente orientado por práticas e projetos que já ensaiam o novo. A base é sempre a economia solidária, o respeito aos ciclos da natureza, a sinergia com a Mãe Terra, a economia a serviço da vida e não do lucro e uma política sustentada pela hospitalidade, pela tolerância, pela colaboração e pela solidariedade entre os mais diferentes povos, demovendo destarte as bases para o fundamentalismo religioso e político e do terrorismo que assistimos nos EUA e agora na Noruega. Entre muitos projetos existentes na América Latina como a economia solidária, a agricultura orgânica familiar, as energias alternativas limpas, a Via Campesina, o Movimento Zapatista e outros queremos destacar dois pela relevância universal que representam: o primeiro é o “Bem Viver” e o segundo a “Democracia Comunitária e da Terra”, como expressão de um novo tipo de socialismo. O “Bem Viver” está presente ao longo de todo o continente Abya Yala (nome indígena para o Continente sulamericano), do extremo norte até o extremo sul, sob muitos nomes dos quais dois são as mais conhecidos: suma qamaña (da cultura aymara) e suma kawsay (da cultura quéchua). Ambas significam: “o processo de vida em plenitude”. Esta resulta da vida pessoal e social em harmonia e equilibrio material e

espiritual. Primeiramente é um saber viver e em seguida um saber conviver: com os outros, com a comunidade, com a Divindade, com a Mãe Terra, com suas energias presentes nas montanhas, nas águas, nas florestas, no sol, na lua, no fogo e em cada ser. Procura-se uma economia não da acumulação de riqueza mas da produção do suficiente e do decente para todos, respeitando os ciclos da Pacha Mama e as necessidades das gerações futuras. Esse “Bem Viver” não tem nada a ver com o nosso “Viver Melhor” ou “Qualidade de Vida”. O nosso Viver Melhor supõe acumular meios materiais, para poder consumir mais dentro da dinâmica de um progresso ilimitado cujo motor é a competição e a relação meramente de uso da natureza, sem respeitar seu valor intrínseco e sem se reconhecer parte dela. Para que alguns possam viver melhor, milhões têm que viver mal. O “Bem Viver” não se identifica simplesmente com o nosso “Bem Comum”, pensado somente em função dos seres humanos em sociedade, num antropo-e-sociocentrismo inconsciente. O “Bem Viver” abarca tudo o que existe, a natureza com seus diferentes seres, todos os humanos, a busca do equilíbrio entre todos também com os espíritos, com os sábios (avôs e avós falecidos), com Deus, para que todos possam conviver harmonicamente. Não se pode pensar o “Bem Viver” sem a comunidade, a mais ampliada possível, humana, natural, terrenal e cósmica. A “minga” que é o trabalho comunitário, expressa bem este espírito de cooperação. Essa categoria do “Bem Viver” e do “Viver Bem” entrou nas constituições do Equador e da Bolívia. A grande tarefa do Estado é poder criar as condições deste “Bem Viver” para todos os seres e não só para os humanos. Esta perspectiva, nascida na periferia do mundo, com toda sua carga utópica, se dirige a todos, pois é uma tentativa de resposta à crise atual. Ela poderá garantir o futuro da vida, da humanidade e da Terra. A outra contribuição latinoamericana para um outro mundo possível é a “Democracia Comunitária e da Terra”. Trata-se de um tipo de vida social, existente nas culturas da Abya Yala, reprimida pela colonização mas que agora, com o movimento indígena resgatando sua identidade, está atraindo o olhar dos analistas. É uma forma de participação que vai além da democracia clássica representativa e participativa, de cunho europeu. Ela as inclui, mas aporta um elemento novo: a comunidade como um todo; esta participa na elaboração dos projetos, de sua discussão, da construção do consenso e de sua implementação. Ela pressupõe já uma vida comunitária estabelecida na população. Ela se distingue do outro tipo de democracia por incluir toda a comunidade, a natureza e a Mãe Terra. Reconhecem-se os direitos da natureza, dos animais, das florestas, das águas, como aparece nas constituições novas do Equador e da Bolívia. Faz-se uma ampliação da personalidade jurídica aos demais seres, especialmente à Mãe Terra. Pelo fato de serem vivos, possuem um valor intrínseco e são portadores de dignidade e direitos e por isso são merecedores de respeito. A democracia será então sócio-terrenal-planetária, a democracia da Terra. Há os que dizem: tudo isso é utopia. E de fato é. Mas uma utopia necessária. Quando tivermos superado a crise da Terra (se a superarmos) o caminho da Humanidade seria este: globalmente nos organizarmos ao redor do “Bem Viver” e de uma “Democracia da Terra”, da “Biocivilização”(Sachs). Já existem sinais antecipadores deste futuro. revista do meio ambiente ago 2011


fotos Wikimedia Commons, sob Creative Commons

16 nosso planeta Terra

Não é a Terra que é frágil. Nós é que somos frágeis. A natureza tem resistido a catástrofes muito piores do que as que produzimos. Nada do que fazemos destruirá a natureza. Mas podemos facilmente nos destruir. [James Lovelok]

Nós não herdamos a Terra de nossos pais, mas a pegamos de empréstimo de nossos filhos. [Henry Brown]

Mila Zinkova

A Terra tem o suficiente para a necessidade de todos, mas não para a ganância de uns poucos [Mahatma Ghandi]

Cratera do vulcão de Santa Margarida, na região catalã de Garrotxa , Espanha. No centro da cratera fica a ermida de Santa Margarida ago jul 2011 revista do meio ambiente


Archiesteel

17

Gêiser do Parque Nacional de Yellowstone, EUA. É o mais antigo parque nacional no mundo, e Patrimônio Mundial da Unesco

Costa rochosa perto do mar em Darnah, Líbia

Feichtnerc

Koperczak

Cachoeira em Bursa, Turquia

Archiesteel

Ahmet Baris Isitan

Lagoa Miscanti, a 4.200 m do nível do mar, em São Pedro de Atacama, Chile

Aurora Boreal em Batsjord, Noruega revista do meio ambiente jul ago2011 2011


Para onde? Para quê?

Para quem? Modelo que vigora no mundo globalizado expõe sistema produtivo predador, ignora direitos e gera exclusão

Varmamukul (sxc.hu)

texto Adriano de Lavor e Katia Machado

18 sustentabilidade

O foco na produção e no consumo alija pessoas e gera mais um fenômeno — o da informalidade

Regimes de trabalho com foco apenas na produção, sem considerar o trabalhador e as demandas sociais; populações que são deslocadas ou atropeladas por conta de grandes empreendimentos; mau planejamento das cidades e as catástrofes urbanas daí decorrentes; a produção voltada cada vez menos a atender necessidades e cada vez mais a gerar mais riqueza; alimentos e até mesmo pessoas tomados como commodities. São marcas do modelo de desenvolvimento hoje em vigor no mundo globalizado, um modelo que autoriza a exploração do ser humano e a busca por se dominar a natureza, ainda que daí resulte exclusão, pobreza, desigualdade e um futuro incerto para as próximas gerações. Vislumbrar essas consequências, no entanto, não tem sido suficiente para frear essa trajetória, o que tem levado pesquisadores, cientistas sociais, gestores e detentores de cargos políticos a levantar as questões: para onde caminha o desenvolvimento? Para quê? Para quem? Esse mundo pautado pela ideologia do capital, movimenta-se pela concorrência entre as grandes corporações, como aponta o sociólogo Ricardo Antunes, professor titular de Soago 2011 revista do meio ambiente

ciologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. “As corporações não se contentam mais com os nichos nacionais. Querem amplitude global e, para isso, reduzem direitos e salários e amplificam intensidade e ritmo do trabalho”, analisa, dando clara pista para as respostas às questões que abrem esta reportagem. Competição global Antunes explica que, no cenário de competição global, as empresas não somente se apropriam da dimensão manual do trabalho, como ocorria no taylorismo e no fordismo, como do seu caráter intelectual. No livro O caracol e sua concha — ensaios sobre a nova morfologia do trabalho, entre tantos que escreveu sobre o tema, ele diz que o trabalho assumiu uma forma completamente diferente daquela de 40 ou 50 anos atrás. Sua tese é que hoje o mundo do trabalho oscila entre as dimensões perene e supérflua. “Perene, na medida em que uma parcela da população consegue se manter no mercado de trabalho, cumprindo jornadas cada vez maiores e realizando múltiplas atividades. E, supérfluo, dado que cada vez mais pessoas vivem a condição do desemprego estrutural, em que a vaga do trabalhador foi substituída por máquinas ou processos produtivos mais modernos, ou foram empurradas para a informalidade e a precariedade”, escreve. Antunes aponta um “padrão chinês” de produção, sintonizado com a ideologia do capital, que vigora na China e que vem sendo exportado para o mundo. “Esse padrão se caracteriza por baixíssima remuneração da força de trabalho, alta intensificação da sua exploração e, se possível, pela exigência de qualidade da mão de obra”, observa. “Não pode haver desastre maior do que uma sociedade que viveu uma revolução socialista ser hoje modelo de exploração do trabalho”.


19 A ampliação das empresas, o processo de criação dos monopólios e a conversão dos monopólios em organizações transnacionais caracterizam uma hipertrofia do mundo privado, em detrimento do público, aponta Antunes. “As instituições públicas deveriam ter como princípio o atendimento das necessidades públicas, coletivas e sociais. São públicas aquelas instituições que não podem ter a parcialidade restritiva do mercado”, entende. Ele atenta que, dos anos 70 para cá, a instituição pública foi contaminada pela privada. “Não há sociedade capitalista hoje em dia onde as transnacionais não tenham o controle de setores fundamentais do Estado e mantenham-no sob sua condução”, observa. “É imperioso que tenhamos clara percepção de que as instituições privadas são a parte decisiva desse mundo destrutivo e que, em contrapartida, é preciso resgatar o sentido público das instituições”. Modelo predatório A ideologia do crescimento pelo crescimento, em si, é estruturada a partir do pressuposto de que a vida humana é uma extensão ilimitada da produção e do consumo, observa a pesquisadora Raquel Rigotto, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante da Rede Brasileira de Justiça Ambiental. Essa visão, que vem se conformando ao longo dos séculos, se viabiliza através da exploração do trabalho humano e da dominação da natureza, e se manifesta no modelo de desenvolvimento que pauta o país e o mundo, hoje. Segundo ela, é um modelo que se caracteriza pela ocupação de territórios com a produção de commodities, incluindo-se riquezas naturais como a terra, a água e a biodiversidade, tendo-se, ainda, a força de trabalho, tratada hoje “como um exército de reserva, sedento pelo que se chama de emprego e não trabalho”, alerta. O “modelo predatório de desenvolvimento”, como identifica o filósofo e teólogo Roberto Malvezzi, Agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), é histórico e data da chegada dos portugueses ao Brasil. “Começou com o primeiro pau-brasil e parece não ter fim até a última castanheira da Amazônia”, observa ele, identificando como características deste “pecado original” o retorno da exportação de produtos primários, particularmente os agrícolas, e um avanço da economia em busca de novas áreas para a produção, mesmo que sejam florestas ou as chamadas áreas frágeis, como encostas, solos mais pobres e matas ciliares. “As alterações no Código Florestal são a prova dos nove dessa economia”, diz Roberto

Implicações problemáticas Entre o pós-guerra e a ditadura militar se concentrariam sementes de um nacional-desenvolvimentismo, que privilegia o crescimento econômico por meio do fortalecimento da economia nacional e do mercado interno como elementos de geração de renda e emprego, que teria como embasamento teórico as ideias do economista Celso Furtado e de um conjunto de pesquisadores da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), na análise do jornalista Edemilson Paraná, militante do grupo Brasil e Desenvolvimento. Ele localiza “implicações políticas e sociais problemáticas” no fato de o Brasil ainda ser dependente da produção e exportação de commodities como minério de ferro, carne bovina e soja. “É a produção e exportação desses produtos primários que, infelizmente, tem ancorado o crescimento econômico brasileiro”, diz. A expansão da fruticultura no Ceará, a partir dos anos 2000, exemplo trazido por Raquel Rigotto, ilustra as consequências dessa via de desenvolvimento. Ela observa que as empresas transnacionais se estabeleceram no estado cearense praticando a monocultura de frutas para exportação, um modelo gerador de “um grupo de patologias relacionadas à segurança alimentar, resultado da falta de acesso da população à terra, água, alimentos e biodiversidade”. Identificam-se no rol de agravos a mortalidade infantil, as mudanças no perfil nutricional da população e a ocorrência de doenças infectocontagiosas. Além de problemas associados, como a interferência no desempenho escolar das crianças. Outro grupo de doenças diz respeito ao risco tecnológico. A mecanização do cultivo, sem treinamento e proteção, por exemplo, aumenta o número de acidentes de trabalho, enquanto o foco na intensificação do ritmo de trabalho concorre para o aumento de problemas ósteomusculares. Os trabalhadores da região pesquisada por Raquel, no Ceará, apontam, ainda, o uso indiscriminado de fertilizantes químicos e agrotóxicos, responsáveis por intoxicações agudas, ainda mal identificadas pelo SUS — “os profissionais ou não são preparados para o diagnóstico ou têm compromisso com as grandes empresas”. Ela adverte para os efeitos crônicos do uso destas substâncias, mais raramente percebidos, como os distúrbios endócrinos, infertilidade e câncer. Os processos de deslocamento compulsório por conta de empreendimentos que têm como foco a produção, não as demandas sociais, gerando a migração para outros espaços e instalação em regiões periféricas das cidades, também trazem problemas urbanos, como uso de drogas, contato com diversos tipos de violência, riscos de gravidez precoce e das doenças sexualmente transmissíveis. Somem-se aí os sofrimentos psíquicos. Ambiente e saúde Os problemas detectados na região do Semiárido são exemplos expressivos dos frutos que se colhem quando produção e consumo são postos em primeiro lugar. Roberto Malvezzi aponta os altos índices de câncer em algumas comunidades na borda do lago da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, em Juazeiro (BA). “Quando o lago vaza, as comunidades entram plantando cebola e usando agrotóxicos nos solos de vazante. Quando o lago volta a encher, as comunidades utilizam aquela água até para beber”, conta ele. “Não seria difícil fazer uma pesquisa e estabelecer a relação entre a água contaminada e os índices de câncer”. Para Roberto, os problemas ambientais relacionados à saúde se tornaram mais graves onde chegou a irrigação, como no dipolo Juazeiro (BA)-Petrolina (PE), na região do Rio São Francisco. “O índice de câncer se agravou. Já houve tentativas de fazer pesquisas, estabelecer o nexo causal, responsabilizar e punir os responsáveis. Mas a pesquisa não avançou”. Outro problema que cita é o acesso à água potável. “As cisternas têm diminuído a veiculação de doenças por água, avanço testemunhado por agenrevista do meio ambiente ago 2011


20 sustentabilidade tes da saúde. Mas elas ainda são poucas para as necessidades da região. O desafio da água para o meio rural e urbano ainda é grande”. Ele lembra que o governo tem feito promessas com o programa Água para Todos, mas é preciso aguardar sua implementação. Informalidade O foco na produção e no consumo alija pessoas e gera mais um fenômeno — o da informalidade. “Para se produzir mais é preciso cada vez menos força de trabalho”, explica a assistente social Eliana Guerra, professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e coordenadora regional da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abeps). “Como as pessoas precisam sobreviver, recorrem à informalidade”. Empurrada do campo para as grandes cidades devido ao avanço das forças produtivas, essa população passa a viver em habitações precárias e é obrigada a aceitar qualquer ocupação, analisa Eliana. A pesquisadora indica o trabalho informal como subproduto do modelo de desenvolvimento, “uma estratégia de que o próprio capital lança mão para diminuir custos e aumentar sua circulação”. O resultado disso é a precarização das condições de trabalho e a restrição de direitos. “O padrão de desenvolvimento tem intensificado o adoecimento”, diz Eliana. Ela lembra que, além das doenças ocupacionais e dos acidentes, há também um incremento das doenças psíquicas (ver Radis 107, O SUS para o mundo) — resultado da pressão por cumprir rotinas e metas estipuladas e de um empobrecimento da sociabilidade. “O centro deste padrão não é a necessidade humana, mas gerar produto e lucro”, observa. O médico e sanitarista Pedro Reginaldo Prata, professor do Departamento de Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBa), atenta para a falta de uma política de ordenamento urbano. Não se investe em saneamento — favorecendo a proliferação de doenças como a dengue — nem no uso do transporte público — o que implica aumento da poluição atmosférica e doenças respiratórias. “A poluição nas grandes cidades é essencialmente dos transportes”, adverte. Estado atropelado Ele alerta para o que classifica como “vulnerabilidade urbana”: desastres ambientais frequentes e situações climáticas adversas, ocupação desordenada do solo e solicitação cada ago 2011 revista do meio ambiente

vez maior de equipes de socorro. “As cidades têm que se planejar”, advoga. A interferência nas áreas urbanas também em detrimento das pessoas vem se expressando, hoje, na preparação das cidades brasileiras para o Brasil receber dois importantes eventos esportivos internacionais — a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. Famílias e comunidades são removidas para construção ou ampliação de equipamentos esportivos ou estruturas relacionadas aos eventos. Pesquisadores já denunciam processo de maquiagem das cidades (Radis 107), com o intuito de melhor lucrar com os visitantes. Pedro Reginaldo se diz temeroso em relação a esses eventos, já que identifica tendência ao improviso nas obras em andamento. “É como se o Estado fosse atropelado”, diz ele, lembrando que o ideal seria se o Brasil conseguisse aproveitar a oportunidade para recuperar áreas degradadas e gerar qualidade de vida. “Seria uma boa oportunidade para ampliar os transportes públicos”, defende. Eliana Guerra chama atenção para a movimentação de fóruns e comitês da sociedade civil para questionar medidas e decisões de planejamento urbano. Ela alerta para a delicadeza da situação, que faz com que parte da população mais carente se sinta atraída pelas obras, considerando que pode tirar proveito dos empregos precários que os eventos gerarão e da possibilidade de vender produtos nas ruas. Postos de trabalho que não trarão grandes mudanças na vida dessas pessoas, pondera. Ao lado das remoções, há também o encarecimento do solo urbano — que deve gerar aumento de impostos e consequente aumento do custo de vida nas cidades. “Em nome do desenvolvimento, da criação de uma imagem de cidades modernas, a população será deslocada para cada vez mais longe, inclusive dos postos de trabalho”, antecipa. Inclusão cidadã Entender que desenvolvimento não se restringe a crescimento econômico é uma necessidade já bastante propalada. No entanto, pautar políticas e ações por esse entendimento ainda pouco ocorre na prática. “Para nós, pensar desenvolvimento é pensar modelos de inclusão cidadã, de empoderamento popular”, diz Edemilson Paraná, propondo um debate com toda a sociedade, com propostas que estejam assentadas na democracia, na liberdade e na ética. “Produção sustentável significa relações de trabalho justas, igualdade de condições e oportunidades, educação, saúde, novas maneiras de organizar o trabalho e a produção através de relações cooperativas, solidárias”. Mudanças profundas na relação homem-natureza devem ser implementadas para se pôr em prática pelo menos um consenso, na análise de Roberto Malvezzi: “Sem estabelecer uma relação de respeito para com a natureza, todos estarão condenados ao fracasso”. Papel da educação Para Ricardo Antunes, um projeto transformador impõe desafios. Nesse sentido, ele reconhece ser necessário romper com um desenho de formação para o mercado. “O papel da educação não pode estar voltado para a formação de incubadoras de monstros unilateralizados”, observa, lembrando-se de artigo do cientista político Antonio Gramsci sobre o papel das escolas. Em sua análise, a educação deve ser livre, humana e universal. “Sabemos que isso é muito difícil, pois sendo uma instituição controlada pelo Estado e, ao mesmo tempo, parte dessa sociedade, a escola é pressionada a adotar os valores desse mercado dominante”, avalia. No entanto, considera o sociólogo, uma formação pautada pela razão humano-social e emancipatória, em que escolas e instituições públicas não são puro prolongamento do mercado, pode levar, por exemplo, ao desenvolvimento da pesquisa científica pública, crítica e digna. Fonte: www4.ensp.fiocruz.br/radis/108/capa.html


SuStentAbIlIdAde: o fim do planeta econômico! Rafael Ortman (sxc.hu)

Sustentabilidade só será possível se a questão econômica não se sobrepuser às questões sociais e ambientais

Dias atrás uma pessoa indagou-me: há desenvolvimento social sem crescimento econômico? Acredito sinceramente que sim. Inclusive, creio que esta seja a única maneira para se chegar ao desenvolvimento social e ambiental. Sustentabilidade só será possível se a questão econômica não se sobrepuser às questões sociais e ambientais. Será preciso implodir o planeta econômico. As empresas deverão promover um equilíbrio em relação ao tripé da sustentabilidade. Qual é a porcentagem de empresas que está investindo nas questões sociais e ambientais, além das econômicas? Há equilíbrio do Triple Bottom Line? Existe um objetivo maior que o de obter lucro para seus acionistas? Perguntas difíceis! Não podemos chamar uma empresa de sustentável, ou socialmente responsável, se ela não tem equilibrado o seu tripé econômico, social e ambiental. Sabemos que equilibrar balanças não é uma expertise brasileira. Basta ver a distribuição de renda neste país. Sustentabilidade é qualidade de vida. É condição mínima para que as pessoas vivam dignamente. É preservar os bens naturais em benefício da humanidade. Portanto, e definitivamente, desenvolvimento social não é crescimento econômico. Para provar isso, basta olhar para os dois principais índices, o PIB – Produto Interno Bruto, que mede a riqueza de um país e o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, que mede o quanto um país é, de fato, desenvolvido. Somos o sétimo país mais rico do mundo! Nosso PIB cresceu 7,5% em 2010, a maior taxa desde 1985, e alcançou aproximadamente os R$ 3,5 trilhões. Estamos ricos! Não é bem verdade. Se dividirmos esses “trilhões” de reais por 190 milhões de brasileiros, daria o equivalente a 18.500 reais/ano, por brasileiro. Mas, para onde vai todo esse dinheiro? Sabe-se que 16 milhões de pessoas, 8,5% da população brasileira, vivem abaixo da linha da pobreza, com rendimento menor ou igual a R$ 70 por mês. Mal conseguem atender suas necessidades básicas, como comprar comida, por exemplo. Entretanto, desde 2000, o Brasil vem crescendo

economicamente, saltando da 9ª para a 7ª colocação entre os países mais ricos. Apesar dessa riqueza toda, o IDH em 2010, colocou o Brasil na posição 73, entre 169 países. Longe dos 10 países mais desenvolvidos do mundo, como: Noruega, Austrália, Irlanda, Canadá e Suécia. O IDH combina três dimensões: expectativa de vida, o acesso à escola e número de anos que irão estudar, e renda anual que permita a cada cidadão viver dignamente. É um índice claro e que nos ajuda a desviar o foco do crescimento da economia para políticas centradas em pessoas. Uma pena, mas desde 2001, quando o Brasil ficou na 69ª posição, não se viu nenhuma melhoria no índice de desenvolvimento brasileiro. O pensamento econômico não pode continuar norteando a vida no planeta – muito menos no Brasil. O que é economicamente viável não pode ser o fator determinante para as empresas continuarem a produzir seus bens e serviços para conforto da vida moderna e a gerar lucro para seus acionistas. Como alertou Leonardo Boff em relação à crise terminal do capitalismo, “as pessoas no mundo não aceitam mais a lógica perversa da economia, encostamos nos limites da Terra, ocupamos, depredamos e exaurimos todo o planeta a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado”. Portanto, sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável, é muito mais que investir em práticas de gestão que não agridam o meio ambiente. Não basta plantar árvores, separar lixo. É um novo modelo de desenvolvimento. As empresas precisarão promover uma quebra de paradigma em relação ao modelo de desenvolvimento econômico de hoje. Como fazer? Esse é o desafio!.

texto Backer Ribeiro (backer@communita.com.br)

artigo 21

* Backer Ribeiro é relações públicas e doutorando em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. Professor da Faculdade de Comunicação e Marketing da FAAP/SP e professor conferencista da ECA/USP. É diretor da

Communità, consultoria especializada em comunicação para a sustentabilidade.www.communita.com.br Informações para a imprensa: Marília Cardoso (marília@informamidia.com.br), (11) 8491 3527 revista do meio ambiente ago 2011


Investimento verde no setor hídrico poderia gerar grandes benefícios para a saúde humana, a segurança alimentar e o crescimento econômico

Como diminuir a escassez

de água

Criado pela comunidade para coletar água da chuva, os reservatórios estão vazios há cinco anos e já se tornaram um lugar onde as crianças brincam. Muitas dessas crianças nunca viram uma chuva verdadeira em suas vidas, e dependem da assistência nutricional que recebem na escola; o uniforme verde serve para identificar quem precisa receber a ração diária de mingau ago 2011 revista do meio ambiente

Irina Fuhrmann/Oxfam

texto Comunicação do PNUMA no Brasil

22 rio + 20 Segundo estudo lançado em 25/08/2011 pelas Nações Unidas, um investimento de 0,16% do PIB mundial no setor hídrico poderia diminuir a escassez de água e reduzir pela metade o número de pessoas sem acesso à água potável e a serviços de saneamento básico em um período inferior a quatro anos. Atualmente, a falta de investimentos em serviços hídricos, de coleta, tratamento e reutilização eficiente da água resulta na redução de reservas aquíferas em várias partes do mundo e contribui para uma situação em que a demanda global por água poderia ultrapassar a oferta num período de 20 anos. No capítulo dedicado à água no Relatório sobre Economia Verde, lançado durante a Conferência da Semana Mundial da Água em Estocolmo, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) apontou que o investimento em saneamento e água potável, assim como o fortalecimento dos sistemas locais de abastecimento hídrico, a conservação dos ecossistemas vitais para o abastecimento de água e o desenvolvimento mais eficiente de políticas, pode auxiliar na prevenção de altos custos sociais e econômicos resultantes do abastecimento inadequado de água. Camboja, Indonésia, Filipinas e Vietnã são alguns dos países cujas perdas causadas pela deficiência no serviço de saneamento básico alcançam cerca de US$ 9 bilhões por ano ou 2% do PIB total combinado. Segundo Achim Steiner, Sub-Secretário geral da ONU e Diretor Executivo do PNUMA, “otimizar o acesso à água potável e serviços de saneamento básico é fundamental para uma sociedade mais sustentável e de uso mais eficiente de recursos”. “O Relatório sobre Economia Verde revela que o investimento na gestão e infraestrutura hídrica, assim como em ecossistemas dependentes de água, combinado a políticas eficientes, pode contribuir e garantir a segurança da água e dos alimentos, melhorar a saúde e fomentar o crescimento econômico”, concluiu Steiner. Caso não haja êxito na promoção do uso mais eficiente da água, a demanda por água pode ultrapassar a oferta em 40% até o ano de 2030. O Relatório sobre Economia Verde aponta que a otimização na produtividade de água, assim como o aumento no seu abastecimento (por meio de novas represas, plantas dessalinizadoras e reciclagem) pode diminuir essa lacuna em até 40%. No entanto, os 60% restantes deverão ser compensados a partir de investimentos na infraestrutura, reformas na política de recursos hídricos e desenvolvimento de novas tecnologias.


23 Mike Young, da Universidade de Adelaide, principal autor do capítulo sobre água do Relatório sobre Economia Verde, afirma que sem investimentos e reforma política, a crise de abastecimento de água será um fato generalizado. Melhorar a eficiência e a sustentabilidade do uso da água também é vital para que a crescente demanda por energia seja abastecida. As passo que os países se tornam mais ricos e mais populosos, a demanda industrial por água deve aumentar. Na China, por exemplo, mais da metade do aumento da demanda por água nos próximos 25 anos deverá ser resultado de uma expansão significativa em seu setor industrial. Sob o cenário de investimentos verdes previsto no Relatório sobre Economia Verde, o uso global da água pode ser mantido dentro de limites sustentáveis e o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio de reduzir pela metade a proporção da população sem acesso sustentável à água potável e saneamento básico poderia ser alcançado até 2015. Com um investimento anual de US$ 198 bilhões, ou 0,16 por cento do PIB global até 2030, o uso da água poderia se tornar mais eficiente, permitindo um aumento sustentável da produção agrícola, de biocombustíveis e industrial. Sob esse cenário, o número de pessoas vivendo em regiões com carência de água seria quatro por cento menor do que no cenário habitual, e sete por cento menor em 2050. O relatório destaca vários estudos de caso onde os investimentos verdes em água estão produzindo benefícios econômicos e ambientais. Como parte de seu plano de cinco anos para o Crescimento Verde, a República da Coreia, por exemplo, anunciou, em 2009, um investimento de US$ 17,3 bilhões em seu Projeto de Restauração de Quatro Grandes Rios. Os cinco principais objetivos do projeto são proteger os recursos hídricos contra a escassez de água, implementar medidas de controle de enchentes, melhorar a qualidade da água e, ao mesmo tempo, restaurar ecossistemas de bacias hidrográficas, e desenvolver regiões locais e espaços de cultura e lazer em torno de grandes rios. No geral, espera-se que o projeto crie 340 mil empregos e gere um valor estimado em US$ 31,1 bilhões em efeitos econômicos positivos da restauração dos rios para a saúde. AS RECOMENDAÇÕES DO RELATÓRIO INCLUEM: • Abordagem holística e perspectiva de longo-prazo: Considerar o contexto para identificar o melhor uso para a água. Adotar uma abordagem de ciclo de vida, considerar interrelações com a necessidade de outros recursos e levar em conta toda a bacia hidrográfica. • Basear decisões em avaliações de impacto para assegurar um manejo sustentável da água: analisar sistemas de bioenergia a partir de uma perspectiva socioecológica compreensiva. Promover o uso sustentável da terra e da água. • Criar e implementar políticas efetivas relacionadas à água: Esses programas devem prever a produção de matéria-prima e conversão de energia e monitorar a concorrência entre os setores de uso da água. • Promover o desenvolvimento tecnológico: Novas tecnologias podem ajudar a aliviar a pressão sobre os recursos hídricos, mediante devida averiguação antes da implantação. • Conduzir pesquisas mais amplas, preencher lacunas de dados, desenvolver ferramentas regionais: Apoiar a cooperação internacional em pesquisas sobre os impactos da bioenergia sobre a água; abordar questões emergentes e pouco exploradas como o potencial e o risco de zonas costeiras / microalgas, microalgas terrestres e organismos geneticamente modificados; monitorar necessidades diárias para preencher lacunas de dados e verificar a conformidade com os regulamentos de produção sustentável; considerar que avaliações de impactos são inadequadas sem ferramentas regionais que avaliem os impactos no local.

Bioenergia bem planejada é chave para a Economia Verde O uso da água para produção de bioenergia é o assunto de outro novo relatório, também lançado na Semana Mundial da Água. O relatório trata da ligação entre bioenergia e água e foi produzido conjuntamente pelo PNUMA, a OekoInstitut e a Agência Internacional de Energia. Fontes sustentáveis e renováveis de energia são uma parte essencial da transição para uma economia verde de baixo carbono e eficiência de recursos. Todas as formas de energia têm, em maior ou menor grau, um impacto sobre os recursos hídricos, e a relação entre a água e a bioenergia (energia renovável derivada de materiais orgânicos, como a biomassa, madeira ou subprodutos agrícolas) é particularmente complexa. Este relatório conclui que a demanda da bioenergia por água é em grande parte relacionada com o cultivo e processamento de matérias-primas, que por sua vez têm implicações importantes para a agricultura sustentável, o uso da terra e a produção de alimentos. Em um mundo onde mais de 70 por cento da água doce mundial é utilizada para a agricultura, o relatório diz que o desenvolvimento de bioenergia deve ser cuidadosamente planejado para evitar uma pressão maior que a já existente. Esse planejamento deve refletir a crescente necessidade por matérias-primas para usos como alimentos, rações e fibras, considerando a estimativa de que a população mundial deve chegar a nove bilhões de pessoas em 2050. Em alguns casos, essas considerações podem até argumentar contra o desenvolvimento da bioenergia. No entanto, o relatório descreve as circunstâncias em que o desenvolvimento bem planejado da bioenergia pode melhorar práticas agrícolas – incluindo a promoção da eficiência hídrica e uso de fertilizantes sustentáveis – e até mesmo melhorar o acesso à água, graças ao bombeamento de água e limpeza com uso de bioenergia, assim como segurança alimentar, no caso de sistemas combinados de produção de alimentos com bioenergia. Para fazer o download do Relatório Economia Verde, acesse: http://www.unep.org/greeneconomy Para fazer o download do Relatório sobre a relação entre bioenergia e água (Bioenergy and Water Nexus report), acesse: http://www.unep.fr/energy/bioenergy Para maiores informações sobre o novo capítulo do Relatório Economia Verde: Amanda Talamonte, Comunicação do PNUMA no Brasil – Tel (55 61) 3038-9237 - E-mail: comunicacao@pnuma.org revista do meio ambiente ago 2011


texto Assessoria de imprensa da Conservação Internacional (CI)

24 capa

Sorria, 1

você está sendo fotografado

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Nas Montanhas Udzungwa, Tanzânia, foram clicadas a espécie vulnerável Elefante-africano (Loxodonta africana), o maior animal fotografado no estudo (3.940 kg), e o Búfalo-africano (Syncerus caffer). Em Bukit Barisan Selatan, Indonésia, registro do Urso-malaio (Helarctos malayanus), uma espécie vulnerável

Arlington, VA / EUA (16 de agosto de 2011) – O primeiro estudo global de armadilhas fotográficas para mamíferos, que documentou 105 espécies em cerca de 52 mil imagens em sete áreas protegidas nas Américas, África e Ásia, foi anunciado hoje por um grupo internacional de cientistas. As fotografias revelam uma incrível variedade de animais em seus momentos mais inocentes – de um diminuto rato a um enorme elefante africano, além de gorilas, pumas, tamanduás-bandeiras e – surpreendentemente – até mesmo turistas e caçadores. A análise dos dados fotográficos tem ajudado os cientistas a confirmarem uma conclusão fundamental que, até o momento, era compreendida apenas por meio de diversos estudos não coordenados: a perda de habitat e reservas com área restrita têm um impacto direto e negativo para a diversidade e a sobrevivência das populações de mamíferos, principalmente no que diz respeito ao tipo de dieta e tamanho dos animais (animais de pequeno porte e insetívoros são os primeiros a desaparecer), entre outros resultados apontados pelo estudo. A replicação dessas informações em períodos e áreas diferentes é fundamental para compreender os efeitos das ameaças globais e regionais em mamíferos que vivem em florestas tropicais e antecipar as extinções antes que seja tarde demais. Os resultados do estudo foram publicados no artigo “Estrutura de comunidade e diversidade de mamíferos tropicais: dados de uma rede global de armadilhas fotográficas” (Community structure and diversity of tropical mammals: data from a global camera trap network), no jornal Philosophical Transactions da Royal Society. O estudo foi liderado pelo ecologista Jorge ago 2011 revista do meio ambiente

Ahumada, do Programa de Ecologia, Avaliação e Monitoramento de Florestas Tropicais (Tropical Ecology Assessment and Monitoring Network - TEAM) da Conservação Internacional. Foram pesquisadas áreas protegidas no Brasil, Costa Rica, Indonésia, Laos, Suriname, Tanzânia e Uganda, tornando este estudo não apenas o primeiro sobre mamíferos com armadilhas fotográficas, mas também o maior do gênero sobre qualquer classe de animais. Para coletar os dados, 420 câmeras foram colocadas em diferentes regiões ao redor do mundo, sendo que 60 armadilhas fotográficas foram instaladas em cada local, com uma câmera a cada 2 km2, durante um mês. De posse das fotos reunidas entre 2008 e 2010, os cientistas categorizaram os animais por espécie, tamanho do corpo e dieta, entre outras características. Eles descobriram que as maiores áreas protegidas e florestas contínuas tendem a conter três atributos semelhantes: (1) maior diversidade de espécies; (2) maior variedade de tamanhos de animais, incluindo populações de mamíferos maiores, e (3) maior variedade de dietas entre esses mamíferos (insetívoros, herbívoros, carnívoros, onívoros). “Os resultados do estudo confirmam o que suspeitávamos: a destruição de habitat está, aos poucos, minando a diversidade de mamíferos no nosso planeta”, afirma Ahumada. “Podemos tirar duas conclusões fundamentais desta pesquisa. A primeira é a de que, quanto maior a floresta em que vivem, maior será o número e a diversidade de espécies, o tamanho do corpo e a variedade da dieta. E a segunda é a de que alguns mamíferos parecem ser mais vulneráveis à perda de habitat do que outros: mamíferos que se alimentam de insetos como tamanduás, tatus e alguns primatas, são os primeiros a desaparecer, enquanto outros grupos, como os herbívoros, parecem ser menos sensíveis”. Entre os locais pesquisados, a Reserva Natural de Suriname Central apresentou o maior número de diversidade de espécies (28) e a Área Protegida Nacional de Nam Kading em Laos apresentou o menor número de diversidade de espécies (13). O tamanho do corpo das espécies fotografadas varia de 26 g (cuíca-pequena de Linnaeus, Marmosa murina) a 3.940 kg (elefante africano, Loxodonta africana). Com cerca de 25% das espécies de mamíferos sob ameaça de extinção e diante da pouca informação quantitativa disponível globalmente, este estudo preenche uma lacuna muito importante sobre o que os cientistas sabem sobre a forma como os mamíferos vêm sendo afetados pelas ameaças locais, regionais e globais, como a caça excessiva, a conversão das terras para agricultura e a mudança climática.

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Estudo inédito com armadilha fotográfica registra 52 mil imagens que permitem traçar a primeira análise global sobre o declínio de populações de mamíferos. Fotos de três continentes e sete países destacam a importância das áreas protegidas e a abordagem coordenada para a diversidade e a conservação dos mamíferos

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No Parque Nacional Impenetrável de Bwindi, Uganda, Gorila-da-montanha com filhote (Gorilla beringei beringei), uma espécie em extinção. Em Manaus, Brasil, foram registradas as espécies vulneráveis Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e Anta-brasileira ou Tapir (Tapirus terrestris)

“O que torna esse estudo cientificamente inovador é que nós criamos, pela primeira vez, informações comparáveis e consistentes sobre os mamíferos em uma escala global, definindo uma linha de base efetiva para monitorar as mudanças. Usando essa metodologia única e padronizada nos próximos anos, e comparando os dados recebidos, poderemos ver as tendências nas comunidades de mamíferos e realizar ações direcionadas e específicas para salvá-las”, explica Ahumada. Ele acrescenta que, desde 2.010, câmeras adicionais foram instaladas em novos pontos (Panamá, Equador, outro local no Brasil, dois locais no Peru, Madagascar, Congo, Camarões, Malásia e Índia), expandindo a rede de monitoramento para um total de 17 sítios. “Sem uma abordagem global e sistemática para monitorar esses animais e garantir que os dados cheguem às pessoas que tomam decisões, estamos apenas registrando sua extinção, sem realmente salvá-los”. Os mamíferos servem como indicadores da saúde do ecossistema e têm papéis importantes na natureza que, por fim, beneficiarão as pessoas, como o controle do crescimento de plantas, a reciclagem de nutrientes e a dispersão de sementes. Por exemplo, alguns cientistas argumentam que a remoção de mamíferos de grande porte por meio da caça excessiva reduz a capacidade das florestas de armazenarem carbono, pois esses animais são responsáveis pela dispersão de sementes de plantas de alta densidade de carbono. A diminuição da capacidade das florestas de armazenar carbono significa a diminuição da capacidade das pessoas de mitigar os efeitos da mudança climática. “Esperamos que esses dados contribuam para um melhor gerenciamento das áreas protegidas e a conservação dos mamíferos em todo o mundo, bem como para um uso mais disseminado de estudos padronizados que utilizam armadilhas fotográficas para monitorar esses animais de grande importância,” conclui Ahumada. O Programa de Ecologia, Avaliação e Monitoramento de Florestas Tropicais (Tropical Ecology Assessment and Monitoring Network - TEAM) é uma parceria entre a Conservação Internacional, o Missouri Botanical Garden, o Smithsonian Institution e a Wildlife Conservation Society. O estudo foi financiado parcialmente por essas instituições e pela Fundação Gordon & Betty Moore. Os parceiros locais do estudo são: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), no Brasil, a Conservação Internacional do Suriname, a Organização para Estudos Tropicais, o Museu Tridentino di Scienze Naturali e o Institute of Tropical Forest Conservation.

Créditos das fotos*: 1 e 2 - Museo delle Scienze 3 e 4 - Wildlife Conservation Society 5 e 6 - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia * Todas as instituições fazem parte do TEAM Network Partnership (www.teamnetwork.org)

Veja alguns dados de onde e como o estudo foi feito:

• Em três continentes: América, África e Ásia, e em sete áreas protegidas: > Floresta de Bwindi (Uganda) > Parque Nacional das Montanhas de Udzungwa (Tanzânia) > Parque Nacional de Bukit Barisan Selatan (Indonésia) > Área Protegida Nacional de Nam Kading (Lao PDR) > Reserva Natural de Suriname Central (Suriname) > Manaus (Brasil) > Transecto do Vulcão Barva (Costa Rica) • Câmeras: 420 usadas, sendo 60 por local, 1 câmera a cada 2 km2. . As câmeras foram instaladas por um mês em cada local • Prazo dos dados analisados: 2008 a 2010 • Número de locais monitorados hoje: 17 •Contato com a assessoria de imprensa da Conservação Internacional (CI): > CI-EUA - Patrícia Yakabe Malentaqui, gerente de comunicação, +1 (703) 341-2471 / pmalentaqui@conservation.org > CI-Brasil - Gabriela Michelotti, gerente de comunicação - (61) 3226-2491 / gmichelotti@conservacao.org revista do meio ambiente ago 2011


Wilson Dias/ABr

26 amazônia

Motosserra vs Desmatamento na Amazônia aumenta 35% e já supera 2010

Amazônia O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante e a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, comentam os dados do Deter sobre desmatamento na Amazônia

O desmatamento na Amazônia neste ano deverá superar a taxa anual medida no ano passado. O primeiro sinal claro aparece nos alertas de desmatamento e degradação da floresta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O sistema Deter acumulou em 11 meses do período de coleta da taxa anual uma área maior do que a captada entre agosto de 2009 e julho de 2010. Até junho, o Deter registrou 2.429,5 quilômetros quadrados de florestas abatidas. Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve um aumento de 35% no ritmo das motosserras. No mês, o aumento foi de 28%. Os dados de julho, que completarão os 12 meses da taxa oficial, só serão divulgados no final do mês. Mas os dados até aqui já superaram os 2.294 quilômetros quadrados de desmatamento medido até julho de 2010, o menor da série histórica do Inpe. O anúncio da taxa oficial está previsto para o final do ano. Mauro Pires, diretor de Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, prefere não especular sobre a nova taxa. “Vai ficar muito próxima da taxa de 2009 e de 2010”, disse. Em 2009, o sistema Prodes indicou o abate de 7.464 quilômetros quadrados de desmatamento. No ano seguinte, o Prodes mediu o corte de 6.451 quilômetros quadrados de floresta. ago 2011 revista do meio ambiente

Qualquer número acima do recorde registrado no ano passado significará a interrupção de uma queda do desmatamento que vem sendo registrada desde 2008. E pode comprometer os compromissos de redução das emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. O desmatamento ainda é a maior fonte de emissão de carbono no país. Sistemas O diretor do Inpe, Gilberto Câmara, chama a atenção para a diferença entre os dois sistemas do instituto. O Deter é responsável pelos alertas de desmatamento. Mais rápido, é menos preciso, não alcança pequenas áreas. O Prodes, no qual se baseia a taxa oficial anual de desmatamento, alcança áreas pequenas, mas só considera o corte raso de árvores. Câmara confirma o aumento de 35% nos alertas de desmatamento do Deter no período de 11 meses. Mas não autoriza o mesmo tipo de projeção para a taxa oficial anual. “Ainda é cedo para extrapolar estes dados para o computo anual do Prodes. Ainda faltam os dados de junho de 2011 para fazer uma avaliação melhor. Se os dados de julho deste ano forem muito inferiores aos de julho de 2010, como resultado da intensa fiscalização do governo, não irá se configurar um cenário de aumento forte do desmatamento”, afirmou o diretor do Inpe. Em maio, o governo criou um gabinete de crise, com a participação da Polícia Federal (PF) e da Força Nacional de Segurança, para conter o aumento de desmatamento registrado no começo do ano, sobretudo no Mato Grosso. “Diante do que poderia acontecer, a tendência que temos hoje é de contenção”, insiste Mauro Pires. Em junho, o Pará foi recordista em desmatamento. O Estado foi responsável por 38% do abate de árvores registrado nos seis Estados da Amazônia. Em parte, o recorde pode ser justificado pela menor presença de nuvens na região no período de passagem dos satélites. Fonte: Agência Estado


texto Márcio Pinho (O Estado de S. Paulo)

qualidade de vida 27

Poluição em casas e escritórios de SP é 392% pior

que A ACeItável PelA oMS Medição do ‘’Estado’’ em dez pontos da capital detectou alta presença de partículas inaláveis em consultórios, empresas e apartamentos Kriss Szkurlatowski (sxc.hu)

Engana-se o paulistano que pensa que, ao entrar em casa, no escritório ou em um consultório se livra da poluição: paredes e janelas não conseguem deixar o ar saudável. Com um aparelho do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo (USP), o “Estado” visitou ambientes internos de dez pontos da capital e constatou a presença de partículas inaláveis em índices até 392% superiores ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Poeira fina formada em até 80% pela queima de combustíveis, esse material particulado é um dos principais poluentes da cidade, onde a frota de veículos já supera os 7 milhões. As partículas ficam em suspensão no ar – especialmente em dias secos e frios – e circulam normalmente em ambientes internos, o que colabora para a sensação de que um piso que acabou de ser limpo, por exemplo, fique imediatamente sujo. Além disso, penetram pelo nariz e chegam ao pulmão e ao sangue, aumentando o risco de doenças. O pior resultado encontrado foi na Avenida República do Líbano, em Moema, na zona sul – bem ao lado do Parque do Ibirapuera, mas perto de vias com grande circulação de veículos. Em um consultório médico, o medidor apontou 123 microgramas de partículas por metro cúbico, quase quatro vezes mais do que as 25 consideradas ideais pela OMS para medição de 24 horas – ou 392% acima do ideal. No local, apenas uma janela entreaberta facilitava a entrada de poluentes do exterior, onde a medição mostrou ar pior – 162 microgramas (veja abaixo). Em outros ambientes fechados, contudo, o mau desempenho se repetiu. Foi o caso de um prédio de escritórios na Rua Flórida, no Brooklin, zona sul, perto da Marginal do Pinheiros e da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini. Nem mesmo o filtro de ar-condicionado que havia sido limpo recentemente, segundo funcionários, conseguiu conter a poluição. Na medição feita às 18 horas, no 9º andar, o ar tinha 77 microgramas de partículas – 208% acima do ideal. Do lado de fora, eram 166. O problema se repetiu em apartamentos residenciais. Em um deles, nos Jardins, também na zona sul, a vista do 18.º andar permite à oftalmologista Ruth Vita observar uma nuvem escura sobre a cidade em manhãs de inverno. A medição descobriu por que sua residência também é bastante poluída – um imenso carpete adorna a sala. “Mando passar aspirador duas, três vezes por semana. É impressionante como suja rápido”, afirma a médica, que vê o número de pacientes com olhos vermelhos crescer nesta época do ano. Apenas a medição interna feita às 13h45 na Radial Leste, zona leste, teve resultados adequados ao padrão da OMS. Nesse horário, a poluição tende a ser menor em razão do trânsito mais leve e da maior umidade em relação ao resto da tarde. Duas medições internas, porém, tiveram resultados piores do que o das vias. Caso de um escritório da própria Faculdade de Medicina da USP, mais poluído do que o ar na Avenida Doutor Arnaldo, na zona oeste. Para o professor Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, os índices achados pelo Estado são absurdos para uma cidade como São Paulo. “Avenidas de Nova York e Boston não são tão poluídas quanto ambientes internos aqui”, afirma. Ele explica que são vários os riscos para a saúde. “Tudo o que o cigarro faz, essa poluição vai fazendo lentamente.” Dependendo da predisposição pessoal, pode favorecer aparecimento de asma, pneumonia e infarto do miocárdio – já que partículas atuam na corrente sanguínea.

PARA ENTENDER

O material particulado – ou poeira fina – entra no sistema respiratório sem que a pessoa perceba. Cientificamente, é conhecido como MP 2,5 (grandeza microscópica de partículas desse diâmetro ou menor). MP 10 é a medida usada pela Companhia de Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb), que hoje considera normal 150 microgramas dessas partículas por m³ – o triplo do recomendado pela OMS. Mas isso deve ser revisto. A Cetesb, dará início a projeto que, nos três primeiros anos, terá como meta baixar seu parâmetro aceitável de material particulado a 120 microgramas. Fonte: estadao.com.br revista do meio ambiente ago 2011


O op

Menno Groenmen (sxc.hu)

texto Maurício Andrés Ribeiro (mandrib@uol.com.br)

2 ecologia interior

Nesse período da história da Terra em que ocorrem a grande 6ª extinção e as mudanças climáticas, o ser humano é um grande causador dessas transformações. Conhecê-lo a partir da abordagem ecológica – seu corpo, mente, energia, consciência, sentimentos, emoções, suas motivações e desejos – é essencial para compreender as relações ecológicas do ser que está transformando o planeta nesse período antropoceno e dar respostas à crise evolucionária atual. Neste texto focalizamos a dimensão corporal da ecologia do ser. Na perspectiva ecológica, o corpo humano é um ecossistema que se relaciona com os demais corpos e com o ambiente em que vive. Temos dentro do corpo um sistema circulatório análogo à rede fluvial; a flora intestinal é como as florestas internas de corais; a combustão da digestão é o efeito estufa interno. No ecossistema que é o corpo humano vivem vírus, bactérias, germes, além de parasitas, lombrigas, vermes, fungos, amebas, que mantêm com ele relações ecológicas harmônicas ou desarmônicas. No ciclo da vida, o corpo se transforma da concepção ao nascimento, do nascimento à infância, da juventude à fase adulta e até a velhice. O feto e a criança têm grande quantidade de água; recém-nascidos são mais vulneráveis que adultos a variações no meio ambiente. Na criança, há desenvolvimento da massa corporal e ocorrem grandes transformações na puberdade. Os corpos adultos e dos idosos têm menor percentual de água em seus órgãos. Na velhice, há redução de resistência física, perda da capacidade de percepção, um apagamento dos sentidos surdez, cegueira, perda de sensibilidade tátil, gustativa. Nessa idade, é preciso tomar cada vez mais cuidado com a manutenção do corpo e com a saúde física. O corpo necessita alimentar-se, tem necessidade de abrigo e de se proteger contra as intempéries; apresenta necessidades fisiológicas de respiração, comida, água, sexo, sono, excreção. Tais necessidades são sacia-

ago 2011 revista do meio ambiente

Há muito de verdade no dito de que o homem se torna aquilo que come. Quanto mais grosseiro o alimento tanto mais grosseiro o corpo. (Gandhi)

das com a roupa, o abrigo, cuidados médicos preventivos e curativos, escolas, transportes. Da primeira inspiração ao último suspiro, o corpo interage com a atmosfera. A respiração é a atividade vital por excelência e por meio da consciência da respiração focaliza-se a atenção no agora. O corpo é parte da hidrosfera e tem sede: 2,5 litros de água por dia. Os corpos vivos contêm água, encontrada na seiva dos vegetais, nos humores dos corpos animais e humanos. 70% do peso de um corpo humano adulto é água, o restante é mineral, parte da lito e da geosfera. O corpo tem fome e sede e interage com a biosfera, a hidrosfera e a geosfera ao se abastecer de alimentos e água. Gandhi dizia que “Há muito de verdade no dito de que o homem se torna aquilo que come. Quanto mais grosseiro o alimento tanto mais grosseiro o corpo.” Cristo identificou o corpo com o alimento ao repartir o pão: “Tomai e comei, esse é o meu corpo.” “Nós somos o ambiente e o ambiente somos nós” sintetizou Jiddhu Krishnamurti. As atividades cotidianas influenciam a forma de gerir o corpo. Variam o consumo de alimentos para nutri-lo e as dietas: enquanto um jóquei deve comer o mínimo para controlar seu peso e não sobrecarregar o cavalo, um lançador de discos precisa comer muito para ter força para arremessá-lo. O sobrepeso e a obesidade resultam de uma dieta maior do que a necessidade do corpo, que precisa então malhar para queimar o excesso ingerido. Há, então, um duplo desperdício de energia: ao ingerir alimentos a mais e ao exercitar-se para livrar-se do excesso de gordura. A propaganda de alimentos infantis influencia a mente das crianças e exerce pressão sobre os pais. Dietas alimentares inadequadas levam ao aumento da obesidade em geral e, em particular, a infantil. Os sentidos são um dos caminhos para se expandir a consciência ecológica. Quando agredidos, despertam reações, movimentos sociais ou coletivos para que se controle a fonte da agressão. Muitas das lutas do ativismo ecológico foram deflagradas a partir de sinais captados pelos sentidos como, por exemplo, o ar


“Conhece-te a ti mesmo” (inscrição na entrada do oráculo de Delfos)

e a ecologia do ser esfumaçado e poluído; um barulho incômodo; um esgoto ou depósito de lixo mal cheiroso. Em nossa sociedade, a visão é o sentido mais valorizado: a harmonia da paisagem acalma e melhora a qualidade de vida, enquanto a poluição visual agride e estressa. Por meio do olfato sentimos os aromas agradáveis das flores e os odores nauseantes do esgoto, do lixo, dos efluentes industriais. A audição se deleita com a música e a poluição sonora prejudica a saúde mental. O tato nos faz sentir na pele a experiência do calor e do frio que podem ser agradáveis ou produzirem desconforto térmico e ambiental. O arquiteto, ao projetar com vistas ao conforto ambiental proporciona relação confortável com o calor e o frio, com a luminosidade, com o nível de barulho. A roupa, a segunda pele, agasalha o corpo do frio e o mantém ventilado e protegido no calor. Mas nossos sentidos são limitados e não percebem grandes faixas do espectro eletromagnético e tampouco a radioatividade. No espectro da luz e do som, percebemos as faixas de onda do vermelho ao violeta. Tudo o que é infravermelho ou ultravioleta demanda o uso de instrumentos para ser percebido. Essa limitação dos sentidos nos expõe a riscos tais como, por exemplo, no acidente com o césio em Goiânia. Os problemas climáticos que ameaçam a vida humana no planeta também são conhecidos a partir de instrumentos tecnológicos e do cálculo científico. As sensações de dor, de mal estar, de frio, fome, sede, são impressões físicas no corpo, deflagradas pelos órgãos dos sentidos, conduzidas ao sistema nervoso central. As sensações são um local de interface dos aspectos físicos com os emocionais. Assim, a sensação de fome pode ser tanto uma necessidade física corporal quanto uma compulsão, resultante de frustração, desejo ou outra motivação com origem emocional e mental. Por meio de sua sensibilidade, o organismo vivo percebe as modificações do meio e reage a elas, adaptando-se e protegendo-se. Assim por exemplo, nas regiões altas da Bolívia e dos Himalaias, onde o ar é rarefeito, o corpo se adapta e a capacidade torácica dos

que ali habitam se expande. O corpo mantém fluxos de entrada e saída com o ambiente externo, no qual lança seus dejetos, suas fezes e urina, suor, lágrimas e outros humores: para os esquimós que vivem no extremo frio, chorar ao ar livre é um perigo, pois as lágrimas podem se congelar. Já as estratégias de sobrevivência dos Tuaregues na aridez do deserto exigem se manterem quietos, sem movimentos, para conservar a água no corpo. A astrologia estuda a influência da cosmosfera sobre o corpo, bem como as da magnetosfera e das ondas que vêm de outros corpos celestes, como o sol. A lua interfere no corpo, o que é especialmente perceptível nos ciclos menstruais das mulheres e nos efeitos de atração da lua cheia sobre a água das marés e aquela contida nos corpos vivos. A saúde do corpo depende da saúde ambiental. Ele adoece quando o ar, a água, os alimentos que recebe do ambiente externo estão poluídos e afetam sua saúde. A morte reintegra seus elementos na natureza. Quando morre, o corpo de um animal ou vegetal serve como alimento para outros na cadeia alimentar e devolve ao ecossistema a água e minerais que o constituíram. O corpo individual se dissolve no coletivo da Terra, onde estão as matérias dos mortos. Durante algum tempo, um corpo inanimado alimenta as bactérias que o decompõem e que realizam seu trabalho de reintegrá-lo ao corpo do planeta. No contexto da atual crise climática e ecológica, ocorrem mudanças aceleradas no ambiente externo. Tais transformações demandam crescente capacidade de adaptação dos corpos humanos, animais ou vegetais. Há riscos crescentes à segurança no ambiente externo, derivados das mudanças climáticas, de transformações ambientais, do buraco de ozônio, além da grande quantidade de elementos químicos tóxicos. Assim, o corpo deve se proteger contra os riscos ambientais novos de contrair doenças, tais como o câncer de pele devido ao buraco de ozônio; ou o câncer devido a poluições de vários tipos e a vibrações eletromagnéticas. Organismos incapazes de se adaptar às aceleradas transformações ambientais tendem à extinção. Ser capaz de adaptar-se a elas é um dos desafios a serem enfrentados por nosso corpo e por seus sistemas de abastecimento, na atual etapa da evolução. *www.ecologizar.com.br

Tenzin Senge (sxc.hu)

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texto André Alves*

30 energia

As hidrelétricas e o

Efeito estufa

Considerada por muitos ambientalistas como a fonte de energia mais limpa do mundo, a hidrelétrica polui quatro vezes mais do que o estimado, revela estudo realizado pelo Instituto Catalão de Ciências do Clima – IC3 e pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa, do Brasil. As usinas construídas em áreas tropicais, como a da floresta amazônica, “são as que mais emitem gases de efeito estufa”, informa Philip Fearnside em entrevista à IHU On-Line concedida por telefone. Philip Fearnside é graduado em Biologia pelo Colorado College, nos Estados Unidos, e especializou-se em Sistemas de Informações Geográficas, pela USP. Possui mestrado em Zoologia e doutorado em Ciências Biológicas, pela University of Michigan, nos Estados Unidos. Atualmente, é professor da Universidade Federal do Amazonas e pesquisador do CNPq e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa.

Hidrelétricas construídas em áreas tropicais emitem mais gases de efeito estufa. Entrevista especial com Philip Fearnside

Como ocorre a emissão de gases de efeito estufa a partir das hidrelétricas? Os gases de efeito estufa são liberados de várias maneiras. O metano é liberado pela água que sai das turbinas. O gás carbônico é emitido quando folhas e plantas apodrecem na beira dos rios. Esses gases são responsáveis por cerca de 20 a 30% das emissões.

mas em nível menor. Dados de pesquisas demonstram que a água que sai das turbinas da hidrelétrica de Balbina, próxima a Manaus, emite muitos gases de efeito estufa. Outra pesquisa averiguou que hidrelétricas da Guiana Francesa também emitem poluentes, especialmente uma que foi construída em 1994 e que é monitorada constantemente. Os dados mostram que houve grande emissão de gases nos primeiros anos de funcionamento da usina, a qual foi diminuindo com o passar do tempo. Entretanto, toda a vez que o lago enche, ocorre um pico de emissão de gases. Isso demonstra que a hidrelétrica continua emitindo gases de efeito estufa ao longo dos anos. No Brasil, a hidrelétrica de Três Marias, construída em 1962, em Minas Gerais, é a campeã de emissões de metano, de acordo com o primeiro relatório brasileiro de efeito estufa, elaborado em 2004. Essa hidrelétrica foi construída em área de Cerrado e, embora seja antiga, ainda emite muitos gases de efeito estufa. Entre o nível de água mais alto e o mais baixo da hidrelétrica de Três Marias, há uma distância de nove metros. Em função disso, forma-se, em volta do lago, um lamaçal onde crescem gramíneos e ervas. Quando o nível da água do lago sobe, todas essas plantas ficam no fundo do lago, onde apodrecem e se transformam em metano. Segundo o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, cada tonelada de metano tem 25 vezes mais impacto do que uma tonelada de CO2. Uma pesquisa mais recente indica que o metano é 104 vezes mais poluente que o gás carbônico.

A emissões de gases de efeito estufa dos reservatórios das hidrelétricas foram identificadas nas usinas brasileiras? Sim. Estudamos as hidrelétricas brasileiras nesta pesquisa. Há diferença na emissão de gases de uma hidrelétrica construída em um lago e de uma hidrelétrica construída em uma floresta. As hidrelétricas construídas em áreas tropicais, como a Amazônica, são as que mais emitem gases de efeito estufa. Hidrelétricas instaladas fora da Amazônia também emitem poluentes,

É possível estimar que percentual de gases de efeito estufa será emitido por Belo Monte? Nos anos 2000 foi feito um levantamento e constatado que existiam 217 hidrelétricas no Brasil, as quais ocupam uma extensão de 33 mil km², ou seja, uma área do tamanho da Bélgica ocupada apenas por água.

IHU On-Line – Segundo o resultado do estudo que o senhor realizou, as hidrelétricas emitem quatro vezes mais gases de efeito estufa do que se imaginava. O que o estudo revela sobre a sustentabilidade das hidrelétricas? A pesquisa mostra que os cálculos da Eletrobrás tinham erros matemáticos e um deles era em relação à quantidade de metano emitido das superfícies dos reservatórios. Os cálculos matemáticos demonstravam que a emissão de metano estava diminuindo, quando, na verdade, estavam aumentando. O primeiro inventário brasileiro sobre as consequências dos gases de efeito estufa, apresentado na conferência do clima, demonstrou que uma grande quantidade de gases de efeito estufa está concentrada na água e que os gases são emitidos pelas turbinas das hidrelétricas. O metano é um gás mais poluente do que gás carbônico e se forma em locais onde não há oxigênio como, por exemplo, nos niveladores das hidrelétricas. Se formos fazer uma comparação entre a poluição e a geração de energia, é possível dizer que as hidrelétricas da Amazônia emitem mais gases de efeito estufa do que geram energia. A estimativa é de as hidrelétricas de Belo Monte e Babaquara, em Altamira, demorarem 41 anos para começar a gerar benefícios industriais, mas, até lá, as usinas emitirão muitos gases. O governo brasileiro está investindo em hidrelétricas e argumenta que o setor produz energia verde. Na verdade, não se trata disso. A emissão dos gases de efeito estufa precisa ser controlada imediatamente, porque a floresta amazônica está em risco.

ago 2011 revista do meio ambiente


Antônio Cruz/ABr

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Brasília - Manifestantes em um dos mais recentes protestos contra a construção da Usina de Belo Monte

Calculo que Belo Monte, mais a barragem de Babaquara, na primeira década de funcionamento, emitirão o equivalente a 11,2 milhões de toneladas de carbono em forma de CO2 por ano. As duas usinas poluirão mais do que a cidade de São Paulo. O senhor teve acesso ao projeto original de Belo Monte? Que impactos prevê com a construção da usina? Belo Monte será um problema econômico para o Brasil. Explico: durante o ano, a quantidade de água do rio Xingu varia consideravelmente. Nos picos de enchente, o rio enche 60 vezes mais do que no período de secas. Entretanto, durante quatro meses do ano, o rio enche pouquíssimo e não há água suficiente para rodar a turbina de 11 mil megawatts. As turbinas são as peças mais caras de uma hidrelétrica. Portanto, deixá-las inativas durante quatro meses acarreta um custo oneroso. Em função dos meses de seca, Belo Monte não será suficiente para gerar energia e, portanto, o governo terá de construir outras hidrelétricas no curso do rio, as quais causarão impacto nas áreas indígenas e nas florestas tropicais, além de gerarem mais gases de efeito estufa. A construção de novas hidrelétricas não fazia parte do Plano de Belo Monte. Entretanto, o governo e as construtoras estavam fingindo que seria construída apenas uma usina hidrelétrica. As 20 mil páginas do projeto de Belo Monte viraram uma obra de ficção. No Plano de Expansão Energético de 2020, o governo estima construir 48 novas hidrelétricas na Amazônia. Como vê a posição do Brasil de expandir a energia hidrelétrica, especialmente em áreas florestais? Essa política de expansão energética está muito mal pensada, pois não considera os impactos ambientais, sociais e econômicos. Essas novas hidrelétricas causarão danos às pessoas que vivem nas áreas florestais. Outra polêmica é em relação ao uso dessa energia. Ela servirá para favorecer a fabricação e exportação de lingotes de alumínio. Belo Monte é o caso mais emblemático, porque fábricas de alumínio serão beneficiadas com a construção da hidrelétrica. O Brasil produz alumínio suficiente para a demanda interna. Portanto, ao expandir a produção do produto e vendê-lo como commodity, o país estará exportando energia elétrica e não minério. O Brasil poderia exportar aviões fabricados pela Embraer, que são feitos de alumínio, em vez de vender a matéria-prima. Isso geraria empregos no país e essa é uma decisão polí-

tica. Os 30 bilhões destinados à construção de Belo Monte, se investidos adequadamente em outros setores da economia, poderiam gerar mais emprego no Brasil, já que a construção das hidrelétricas cria poucos empregos: são 2,7 empregos para cada gigawatts/hora de energia. Portanto, são muitas as razões que nos levam a repensar esse projeto de ampliação das hidrelétricas na Amazônia. O senhor defende uma mudança na economia amazônica a partir do desenvolvimento de serviços ambientais na floresta. Em que consiste sua proposta? Os serviços ambientais são benefícios proporcionados pela floresta, os quais favorecem a manutenção da vida no planeta: a biodiversidade, o ciclo de água, que é importante para as chuvas, o ciclo dos ventos etc. Esses serviços trazem mais benefícios sociais e econômicos do que a destruição da floresta. É preciso pensar em mudanças econômicas para transformar esses serviços ambientais em fluxo monetário e, assim, manter a floresta em pé. Quais são os principais erros e acertos da política ambiental brasileira? Houve muito progresso ao longo dessas duas décadas. Criou-se o Ministério do Meio Ambiente e outras estruturas governamentais de defesa à sustentabilidade. A sociedade civil também se manifestou e foram criadas centenas de organizações não governamentais em defesa da Amazônia e das florestas tropicais. Por outro lado, intensificaram-se a destruição e o desmatamento do meio ambiente. Nos últimos 35 anos, tempo em que moro na Amazônia, já desmataram uma área florestal maior que a do território francês. A extensão da floresta amazônica brasileira é aproximadamente a mesma da Europa Ocidental. Então, dá para se ter uma ideia do que aconteceu. Belo Monte também é um equívoco, especialmente porque atropelou e ignorou todo o sistema de licenciamento brasileiro: quarenta condicionantes do Ibama e 26 condicionantes da Funai. Para que valem as condicionantes, se é possível fazer as obras de qualquer forma? A aprovação do novo Código Florestal pela Câmara dos Deputados também é um erro. É importante que o debate sobre o tema continue para reiterar o conhecimento científico sobre os impactos ambientais deste projeto, e para que a sociedade não perca a floresta, os rios, as áreas de preservação, que têm um valor ambiental muito mais valioso do que o valor ganho no curto prazo pela exploração ambiental. Fonte: IHU - Instituto Humanitas Unisinos

revista do meio ambiente ago 2011


texto Redação CNA (noticiasdodia@cna.org.br)

32 mudanças climáticas

Aquecimento global

poderá aumentar desigualdades regionais e de renda

Inacio Pires (Fotolia)

Professora Carolina Dubeux coordenou o trabalho que projeta a economia brasileira impactada pelas mudanças climáticas

“A gente precisa oferecer mecanismos para estimular os produtores rurais a deixarem as árvores em pé e a melhor maneira é remunerá-lo por isso”, defende Carolina Dubeux

As mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global aprofundarão as desigualdades regionais e de renda no Brasil. Na Região Nordeste, vai chover menos; no Sul do País, as chuvas serão mais intensas e as geadas diminuirão, enquanto no CentroOeste o clima ficará mais quente. Essas foram as principais conclusões do estudo Economia da Mudança do Clima no Brasil: Custos e Oportunidades, apresentado pela pesquisadora do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carolina Dubeux, que também coordenou o levantamento. A apresentação do estudo encerrou o ciclo de palestras sobre mudanças climáticas que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) promoveu na sede da entidade, em Brasília, no começo de agosto. O estudo projeta um cenário otimista e outro pessimista para a realidade da economia brasileira deste século, afetada pelos efeitos do aquecimento global. “Quando se constroem cenários, é possível imaginar qual o caminho a humanidade vai seguir e, dessa forma, medir os impactos dessa escolha”, explica a pesquisadora, que também integra o Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC, sigla em Inglês). Apesar dos problemas climáticos associados ao aquecimento global serem de longo prazo, o levantamento adotou o ano de 2050 como marco para o aumento da percepção dos efeitos das mudanças climáticas. De acordo com o estudo, a agricultura será uma das atividades econômicas que mais sofrerão mudanças com os efeitos do aqueciago 2011 revista do meio ambiente

mento global. Segundo Carolina Dubeux, a área propícia para o plantio de soja, em 2050, será 34% menor e as perdas anuais com essa redução são estimadas em R$ 6,8 bilhões. O milho é outro produto que será fortemente atingido, revela o estudo. Estão previstas perdas de até R$ 1,5 bilhão por ano até 2050, por causa da retração de 15% da área plantada de milho. Com exceção da cana-de-açúcar, que deverá ter um aumento da área cultivada de até 147%, todas as outras culturas sofreriam redução de área até a metade deste século. “A produtividade cairia principalmente nas culturas de subsistência do Nordeste”, explica Carolina. No Nordeste, diz o estudo, as chuvas tenderiam a diminuir 22,5 mm por dia até 2100, causando perdas agrícolas em todos os Estados da região. O déficit hídrico reduziria em 25% a capacidade de criação de bovinos de corte e, assim, provocar um retrocesso à pecuária de baixo rendimento. Oportunidades O levantamento também apontou medidas que ajudarão a mitigar os efeitos do aquecimento global. Entre elas, a taxação do preço médio da tonelada do carbono na Amazônia em US$ 3, ou US$ 450 por hectare. “A gente precisa oferecer mecanismos para estimular os produtores rurais a deixarem as árvores em pé e a melhor maneira é remunerá-lo por isso”, defende Carolina Dubeux. A substituição dos combustíveis fósseis também é apontada no estudo como uma forma para mitigar o impacto das emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE). O uso de biocombustíveis poderia evitar emissões de 92 milhões a 203 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) pelo Brasil até 2035. O crescimento da área plantada de 17,8 milhões a 19 milhões de hectares não causaria substituição de áreas destinadas às culturas de subsistência em nenhuma região brasileira, nem pressionaria o desmatamento da Amazônia, diz o estudo. A professora Carolina Dubeux, que coordenou o estudo, participará da mesa-redonda “Oportunidades para a agricultura na economia do clima”, no Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para o Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED 2011), promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), nos dias 5 e 6 de setembro, no auditório da Fecomércio, em São Paulo. Falará sobre o tema “Buscando uma economia verde com a agricultura”. Fonte: agrolink.com.br


10 indicadores-chaves que mostram que o aquecimento global está acontecendo e é, cientificamente, inegável

texto Leandro Salvático de Freitas*

Marshall Faulk (sxc.hu)

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Porque devemos agir

contra o aquecimento global?

O planeta está se aquecendo, pois estão aumentando: 1- a temperatura do ar próxima à superfície continental; 2- a temperatura do ar próxima à superfície dos oceanos; 3- a temperatura sobre os continentes e os oceanos; 4- a temperatura sobre os oceanos; 5- a temperatura dos oceanos como um todo; 6- a umidade específica do ar; 7- o nível do oceano; Além disso, está havendo diminuição: 8- da cobertura de neve no inverno do hemisfério norte; 9- das geleiras nos topos das montanhas; 10- das geleiras oceânicas dos pólos norte, sul e Groenlândia. Os 10 indicadores acima, simultaneamente analisados, são uma prova científica difícil de ser contestada, sendo assim, na ausência de dados que os contraponham, não deveríamos agir, e agir agora, para evitar um desastre maior no futuro? Na minha opinião sim, sem dúvida. Existe uma necessidade eminente de agirmos de forma rápida e eficaz contra o aquecimento global, mesmo que, neste momento, não tenhamos 100% de certeza com relação a sua causa (a probabilidade atual da causa do aquecimento global ser antropogênica é de 90%, segundo o 4º Relatório do IPCC), pois quando se trata de Meio-ambiente, devemos sempre optar pelo Princípio da Precaução. A definição do Princípio da Precaução foi formulada em uma reunião realizada em janeiro de 1998 em Wingspread, sede da Joyhnson

Foundation, em Racine, estado de Wisconsin, Estados Unidos, com a participação de diversos cientistas, advogados, legisladores e ambientalistas, e baseia-se no princípio de que “Quando uma atividade representa ameaças de danos ao meio-ambiente ou à saúde humana, medidas de precaução devem ser tomadas, mesmo se algumas relações de causa e efeito não forem plenamente estabelecidas cientificamente.” Dentre os principais elementos do Princípio da Precaução figuram: a precaução diante de incertezas científicas; a exploração de alternativas a ações potencialmente prejudiciais; a transferência do “ônus da prova” aos proponentes de uma atividade e não às vítimas ou vítimas em potencial daquela atividade; e o uso de processos democráticos na adesão e observação do Princípio - inclusive o direito público ao consentimento informado. Quando falamos em alternativas para geração de energia limpa, inventário de emissões, projetos para redução de emissões de gases de efeito estufa (com ou sem receita proveniente de créditos de carbono), pegada hídrica, relatórios de sustentabilidade corporativos, sistema de gestão ambiental e outras ferramentas voltadas à melhoria da gestão ambiental governamental e corporativa, falamos também em uma oportunidade única de desenvolvimento com transparência e inclusão, pois estas ferramentas fazem com que todos os envolvidos nos processos produtivos, direta ou indiretamente, produtores, consumidores e reguladores sejam beneficiados e quando não forem beneficiados, garantimos, pelo menos, que ninguém será prejudicado. O custo de oportunidade desta mudança (que podemos transformar em ganho) é extremamente grande para deixarmos passar, pois se não tomarmos uma atitude agora, amanhã poderá ser tarde demais. Os consumidores perceberam isto e estão cada vez mais exigentes na compra de produtos que tenham baixo impacto sócio-ambiental no seu ciclo de vida e isto irá direcionar suas escolhas, que por sua vez, selecionará quais empresas se manterão no mercado e quais serão extintas nos próximos anos. Sendo assim, afirmo sem hesitar que devemos agir agora contra o aquecimento global, enquanto temos chance de evitar uma possível grande catástrofe anunciada e antes que os impactos do aquecimento global sejam grandes demais para fazermos qualquer coisa. * Engº Leandro Salvático de Freitas, Consultor na área de Carbono e Mudanças Climáticas da empresa WayCarbon/KeyAssociados (lsalvatico@waycarbon.com) revista do meio ambiente ago 2011


texto Aline Scarso (jornal Brasil de Fato)

34 entrevista Silvio Tendler é um especialista em documentar a história brasileira. Já o fez a partir de João Goulart, Juscelino Kubitschek, Carlos Mariguela, Milton Santos, Glauber Rocha e outros nomes importantes. Em seu último documentário, Silvio não define nenhum personagem em particular, mas dá o alerta para uma grave questão que atualmente afeta a vida e a saúde dos brasileiros: o envenenamento a partir dos alimentos. Em O veneno está na mesa, lançado no fim de julho no Rio de Janeiro, o documentarista mostra que o Brasil está envenenando diariamente sua população a partir do uso abusivo de agrotóxicos nos alimentos. Em um ranking para se envergonhar, o brasileiro é o que mais consome agrotóxico em todo o mundo, sendo 5,2 litros a cada ano por habitante. As consequências, como mostra o documentário, são desastrosas. Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Silvio Tendler diz que o problema está no modelo de desenvolvimento brasileiro. E seu filme, que também é um produto da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, capitaneada por uma dezena de movimentos sociais, nos leva a uma reflexão sobre os rumos desse modelo. Confira. Brasil de Fato: Você que é um especialista em registrar a história do Brasil, por que resolveu documentar o impacto dos agrotóxicos sobre a agricultura e não um outro tema nacional? Silvio Tendler – Porque a partir de agora estou querendo discutir o futuro e não mais o passado. Eu tenho todo o respeito pelo passado, adoro os filmes que fiz, adoro minha obra. Aliás, meus filmes não são voltados para o passado, são voltados para uma reflexão que ajuda a construir o presente e, de uma certa forma, o futuro. Mas estou muito preocupado. Na verdade esse filme nasceu de uma conversa minha com [o jornalista e escritor] Eduardo Galeano em Montevidéu [no Uruguai] há uns dois anos atrás, em que discutíamos o mundo, o futuro, a vida. E o Galeano estava muito preocupado porque o Brasil é o país que mais consumia agrotóxico no mundo. O mundo está sendo completamente intoxicado por uma indústria absolutamente desnecessária e gananciosa, cujo único objetivo realmente é ganhar dinheiro. Quer dizer, não tem nenhum sentido para a humanidade que justifique isso que está se fazendo com os seres humanos e a própria terra. A partir daí resolvi trabalhar essa questão. Conversei com o João Pedro Stédile [coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], e ele disse que estavam preocupados com isso também. Por coincidência, surgiu a Campanha permanente contra os Agroago 2011 revista do meio ambiente

veneno O brasileiro come

O documentarista Silvio Tendler fala sobre seu filme/denúncia contra os rumos do modelo adotado na agricultura brasileira

tóxicos, movida por muitas entidades, todas absolutamente muito respeitadas e respeitáveis. Fizemos a parceria e o filme ficou pronto. É um filme que vai ter desdobramentos, porque eu agora quero trabalhar essas questões. Então seus próximos do cumentários deverão tratar desse tema? Pra você ter uma ideia, no contrato inicial desse documentário consta que ele seria feito em 26 minutos, mas é muita coisa pra falar. Então ficou em 50 [minutos]. E as pessoas quando viram o filme, ao invés de me dizerem ‘está muito longo’, disseram ‘está curto, você tem que falar mais’. Quer dizer, tem que discutir outras questões, e aí eu me entusiasmei com essa ideia e estou querendo discutir temas conexos à destruição do planeta por conta de um modelo de desenvolvimento perverso que está sendo adotado. Uma questão para ser discutida de forma urgente, que é conexa a esse filme, é o agronegócio. É o modelo de desenvolvimento brasileiro. Quer dizer, porque colocar os trabalhadores para fora da terra deles para que vivam de forma absolutamente marginal, provocando o inchaço das cidades e a perda de qualidade de vida para todo mundo, já que no espaço onde moravam cinco, vão morar 15? Por que se plantou no Brasil esse modelo que expulsa as pessoas da terra para concentrar a propriedade rural em poucas mãos, esse modelo de desenvolvimento, todo ele mecanizado, industrializado, desempregando mão de obra para que algumas pessoas tenham um lucro absurdo? E tudo está vinculado à exploração predatória da terra. Por que nós temos que desenvolver o mundo, a terra, o Brasil em função do lucro e não dos direitos do homem e da natureza? Essas são as questões que quero discutir. Você também mostrou que até mesmo os trabalhadores que não foram expulsos do campo estão morrendo por aplicar em agrotóxicos nas plantações. O impacto na saúde desses agricultores é muito grande... É mais grave que isso. Na verdade, o cara é obrigado a usar o agrotóxico. Se ele não usar o agrotóxico, ele não recebeo crédito do banco. O banco não financia a agricultura sem agrotóxico. Inclusive tem um camponês que fala isso no filme, o Adonai. Ele conta que no dia em que o inspetor do banco vai à plantação verificar se ele comprou os produtos, se você não tiver as notas da semente transgênica, do herbicida, etc, você é obrigado a devolver o dinheiro. Então não é verdade que se dá ao camponês agricultor o direito de dizer ‘não quero plantar transgênico’, ‘não quero trabalhar com herbicidas’, ‘quero trabalhar com agricultura orgânica, natural’. Porque para o banco, a garantia de que a safra vai vingar não é o trabalho do camponês e a sua relação com a terra, são os produtos químicos que são usados para afastar as pestes, afastar pragas. Esse modelo está completamente errado. O camponês não tem nenhum tipo de crédito alternativo, que dê a ele o direito de fazer um outro tipo de agricultura. E aí você deixa as pessoas morrendo como empregadas do agronegócio, como tem o Vanderlei, que é mostrado no filme. Depois de três anos fazendo a tal da mistura dos agrotóxicos, morreu de uma hepatopatia grave. Tem outra senhora de 32 anos que está fican-


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Gabriela Nehring

vai ser um monge recluso, plantando sua hortinha e sua terrinha, ou se você é uma pessoa que vai ficar exposta a isso e será obrigada a consumir.

do totalmente paralítica por conta do trabalho dela com agrotóxico na lavoura do fumo. A impressão que dá é que os brasileiros estão se envenenando sem saber. Você acha que o filme pode contribuir para colocar o assunto em discussão? Eu acho que a discussão é exatamente essa, a discussão é política. Eu, de uma certa maneira, despolitizei propositadamente o documentário. Eu não queria fazer um discurso em defesa da reforma agrária ou contra o agronegócio para não politizar a questão, para não parecer que, na verdade, a gente não quer comer bem, a gente quer dividir a terra. E são duas coisas que, apesar de conexas, eu não quis abordar. Eu não quis, digamos assustar a classe média. Eu só estou mostrando os malefícios que o agrotóxico provoca na vida da gente para que a classe média se convença que tem que lutar contra os agrotóxicos, que é uma luta que não é individual, é uma luta coletiva e política. Tem muita gente que parte do princípio ‘ah, então já sei, perto da minha casa tem uma feirinha orgânica e eu vou me virar e comer lá’, porque são pessoas que têm maior poder aquisitivo e poderiam comprar. Mas a questão não é essa. A questão é política porque o agrotóxico está infiltrado no nosso cotidiano, entendeu? Queira você ou não, o agrotóxico chega à sua mesa através do pão, da pizza, do macarrão. O trigo é um trigo transgênico e chega a ser tratado com até oito cargas de pulverizador por ano. Você vai na pizzaria comer uma pizza deliciosa e aquilo ali tem transgênico. O que você está comendo na sua mesa é veneno. Isso independe de você. Hoje nada escapa. Então, ou você

Como você avalia o governo Dilma a partir dessa política de isenção fiscal para o uso de agrotóxico no campo brasileiro? Deixa eu te falar, o governo Dilma está começando agora, não tem nenhum ano, então não dá para responsabilizá-la por essa política. Na verdade esse filme vai servir de alerta para ela também. Muitas das coisas que são ditas no filme, eles [o governo] não têm consciência. Esse filme não é para se vingar de ninguém. É para alertar. Quer dizer, na verdade você mora em Brasília, você está longe do mundo, e alguém diz para você ‘ah, isso é frescura da esquerda, esse problema não existe’, e os relatórios que colocam na sua mesa omitem as pessoas que estão morrendo por lidar diretamente com agrotóxico. [As mortes] vão todas para as vírgulas das estatísticas, entendeu? Acho que está na hora de mostrar que muitas vidas não seriam sacrificadas se a gente partisse para um modelo de agricultura mais humano, mais baseado nos insumos naturais, no manejo da terra, ao invés de intoxicar com veneno os rios, os lagos, os açudes, as pessoas, as crianças que vivemem volta, entendeu? Eu acho que seria ótimo se esse filme chegasse nas mãos da presidenta e ela pudesse tomar consciência desse modelo que nós estamos vivendo e, a partir daí, começasse a mudar as políticas. No documentário você optou por não falar com as empresas produtoras de agrotóxicos. Essa ideia ficou para um outro documentário? É porque eu não quis fazer um filme que abrisse uma discussão técnica. Se as empresas reclamarem muito e pedirem para falar, eu ouço. Eu já recebi alguns pedidos e deixei as portas abertas. No Ceará eu filmei um cara que trabalha com gado leiteiro que estava morrendo contaminado por causa de uma empresa vizinha. Eu filmei, a empresa vizinha reclamou e eu deixei a porta aberta, dizendo ‘tudo bem, então vamos trabalhar em breve isso num outro filme’. Se as empresas que manipulam e produzem agrotóxico me chamarem para conversar, eu vou. E vou me basear cientificamente na questão porque eles também são craques em enrolar. Querem comprovar que você está comendo veneno e tudo bem (risos). E eu preciso de subsídios para dizer que não, que aquele veneno não é necessário para a minha vida. Nesse primeiro momento, eu quis botar a discussão na mesa. Algumas pessoas já começaram a me assustar, ‘você vai tomar processo’, mas eu estou na vida para viver. Se o cara quiser me processar por um documentário no qual eu falei a verdade, ele processa pois tem o direito. Agora, eu tenho direito como cineasta, de dizer o que eu penso. Esse filme será lançado somente no Rio ou em outras capitais também? Eu estou convidado também para ir para Pernambuco em setembro, mas o filme pode acontecer independente de mim. Esse filme está saindo com o selinho de ‘copie e distribua’. Ele não será vendido. A gente vai fazer algumas cópias e distribuir dentro do sentido de multiplicação, no qual as pessoas recebem as cópias, fazem novas e as distribuem. O ideal é que cada entidade, e são mais de 20 bancando a Campanha, consiga distribuir pelo menos mil unidades. De cara você tem 20 mil cópias para serem distribuídas. E depois nós temos os estudantes, os movimentos sociais e sindicais, os professores. Vai ser uma discussão no Brasil. Temos que levar esse documentário para Brasília, para o Congresso, para a presidenta da República, para o ministro da Agricultura, para o Ibama. Todo mundo tem que ver esse filme. A expectativa é boa então? Sim. Eu sou um otimista. Sempre fui. Fonte: http://brasildefato.com.br/node/6965

O filme pode ser visto em http://www.youtube.com/user/contraosagrotoxicos revista do meio ambiente ago 2011


texto Arthur Soffiati (as-netto@uol.com.br)

36 denúncia

A polêmica do licenciamento em

Porto Açu Empreendimento industrial-portuário do Açu, capitaneado pelo grupo empresarial EBX, do empresário Eike Batista: ponto e contraponto

O empresário Eike Batista, do Grupo EBX, e o Secretário de Estado do Ambiente – RJ, Carlos Minc

Recebi de um colega e amigo os esclarecimentos que Carlos Minc, Secretário de Estado do Ambiente – RJ, Luiz Firmino, Subsecretário de Estado do Ambiente – RJ e Marilene Ramos, Presidente do Instituto Estadual do Ambiente – RJ prestaram a críticas formuladas ao empreendimento industrial-portuário do Açu, capitaneado pelo grupo empresarial EBX, do empresário Eike Batista. Tais esclarecimentos foram postados na lista do professor José Eli da Veiga, da Universidade de São Paulo. Como os comentários alcançaram um nível público, não vejo restrições em apresentar uma visão diferente dos signatários, a minha visão. Os esclarecimentos das autoridades estaduais começam com o título “A realidade do licenciamento em Porto Açu”, acompanhado pela seguinte observação: “Alguns veículos de comunicação divulgaram insinuações sobre supostas facilidades e irregularidades na concessão de licenças ambientais para o projeto Porto Açu, do Grupo EBX, do empresário Eike Batista, no Norte Fluminense. É necessário que a população seja informada dos fatos”. Vêm, então, as considerações, que comento logo abaixo de cada uma. Minc (Secretário de Estado do Ambiente – RJ): “Soffiati é velho companheiro. Foi consultado em todas as etapas, e vibrou quando criamos os parques e RPPNs, enfrentando a força do Grupo X. Nos deu apoio e assessoria ao André Ilha para fundamentar a criação de UCs na totalidade da área inicialmente comprada pelo grupo para ser o distrito industrial.” Soffiati: Minc tem razão em parte. Se pedirem minha colaboração para a instalação de Unidades de Conservação, estou sempre pronto, ainda que ago 2011 revista do meio ambiente

elas tenham apenas um hectare. Defendo as pequenas Unidades de Conservação onde as grandes não cabem, seguidor que sou do biólogo norte-americano Edward O. Wilson. Acontece que, no Açu, um grande Parque entre as Lagoas de Gruçaí e do Açu foi sendo empurrado para o sul e reduzido em suas dimensões pelo grupo EBX. Quando Minc retornou à Secretaria Estadual do Ambiente, o distrito industrial não permitia mais a continuidade territorial do Parque Estadual de Gruçaí. Então, ele foi dividido em três UCs: o Parque Estadual do Açu, abaixo do distrito industrial; a Reserva Particular do Patrimônio Natural de Caroara e a Área de Proteção Ambiental de Gruçaí. Ajudei o Instituto Estadual de Ambiente a planejar as três e vou continuar ajudando, mas não é esta a minha intenção original, tampouco a do INEA. O estaleiro, proibido em Santa Catarina e transferido para o Açu, é a obra mais impactante do complexo industrial-portuário. Ele cortará ao meio a parte íntegra da Lagoa do Veiga por um canal de 300 metros de largura por 18 metros de profundi-


Wilson Dias/ABr

37 dade. Nem a foz do Rio Paraíba do Sul tem tais dimensões. O acesso ao mar será feito por um canal submarino que se ligará ao canal principal da ilha-porto numa costa que não conta com uma ilha sequer. A abertura de ambos os canais no fundo do mar já está causando danos à vida marinha, pois a areia retirada por uma enorme draga flutuante e lançada em outro ponto do mar mata animais marinhos e muda profundamente as condições ambientais no ponto de retirada e no ponto de botafora. Quanto às Unidades de Conservação, os limites iniciais do Parque de Gruçaí foram drasticamente reduzidos em função dos interesses do grupo EBX. Hoje, ele se reduz ao Banhado da Boa Vista, à Lagoa do Açu e à parte da Lagoa Salgada. A Reserva Particular do Patrimônio Natural de Caroara, pertencente ao grupo, não pode se comparar, em extensão e importância, aos Parques Nacional da Restinga de Jurubatiba, no norte fluminense, e Estadual de Setiba, no Espírito Santo, ambos protegendo ecossistemas de restinga. De mais a mais, a situação crítica de Santa Catarina foi transferida para o Estado do Rio de Janeiro. Lá, o estaleiro não pôde se instalar por ameaçar três Unidades de Conservação já existentes. Aqui, para poder se instalar o estaleiro, o grupo terá de arcar com os custos de três Unidades de Conservação, que também serão ameaçadas mais que por um estaleiro, porém por um conjunto de empreendimentos impactantes. Trata-se de um contrasenso. Minc: Houve embates duros com o grupo para garantir a preservação de restingas e lagoas, com a mudança da localização inicial do empreendimento, e pela adoção das tecnologias mais modernas e menos poluentes, entre 2007 e 2011. Portanto, nada foi feito a toque de caixa, como insinuado. Soffiati: Apesar dos duros embates, o pecado original do grande empreendimento, como já mencionado, é operar com recursos naturais não-renováveis intensivos em carbono e ter sido autorizado o estaleiro pelo INEA a rasgar uma lagoa alongada, paralela à costa, por um canal que vai colocar o mar dentro do continente. Cabe salientar, ainda, que uma termelétrica e uma siderúrgica do empreendimento vão captar água do Rio Paraíba do Sul, já tão combalido, nas proximidades da foz, depois de todos os seus afluentes. Há motivos para suspeitar da lisura dos licenciamentos do INEA num momento em que as relações entre o governador Sérgio Cabral e o empresário Eike Batista se mostram tão suspeitas. Este é o DNA do grupo, como dizem seus representantes.

A abertura de dois canais no fundo do mar já está causando danos à vida marinha, pois a areia retirada por uma enorme draga flutuante e lançada em outro ponto do mar mata animais marinhos e muda profundamente as condições ambientais no ponto de retirada e no ponto de bota-fora

Minc: “Nenhum ambientalista, em hora alguma, em lugar algum se posiciona a favor de um grande empreendimento, independentemente do rigor da licença, e até de suas próprias demandas serem, em boa parte, incorporadas.” Soffiati: Noto que os ambientalistas estão se tornando muito pragmáticos, a ponto mesmo de não pleitear áreas protegidas. Não é o meu caso. Se não posso derrotar a economia de mercado, que ela pague ao Estado compensações para a criação de UCs. Minc: “Quanto às audiências públicas, como se sabe, em todo o país, elas não têm poder deliberativo de impedir um licenciamento. Eu mesmo fiz a lei das audiências, à época a mais avançada. Agora sairá uma deliberação CONEMA com ainda mais participação e espaço para questionamentos, com acesso on line do EIA-RIMA, e outros pontos, a pedido também do Ministério Público Estadual. As audiências servem para transparência, questionamento, obrigação de responder todos os pontos. Não é levantar a mão, contar os votos (de quem? De quem leva mais gente pró ou contra??). Estas audiências, especificamente, e enfrentando resistências, levaram à total mudança do local inicial, entre restingas e lagoas – uma raridade no licenciamento ambiental do país. Ou seja, funcionaram de fato!” Soffiati: Pena que, agora, a parte pesada e suja do grupo EBX já foi aprovada. E sobre a maior restinga do Estado do Rio de Janeiro. Minc: “Quanto a recursos naturais, ferro, gás etc., concordo que não é a tecnologia do séc. XXI, mas a do século passado. Sairá em poucas semanas o Decreto RJ de mudanças do Clima, com critérios, metas, instrumentos. Há 2 semanas editamos o guia de compras e construções sustentáveis RJ, pioneiro.” Soffiati: Como sempre, o Brasil está atrasado, com sua legislação chegando tarde para impedir o megaempreendimento do Açu, intensivo em carbono. Carlos Minc corrobora minha opinião de que o atraso não está conosco, mas com o grupo EBX. Minc: “É interessante que este pólo industrial não seja na região metropolitana, como inicialmente pensado. Nesta há saturação das bacias aéreas e muito congestionamento. Criar alternativas de emprego no Norte, em região pobre e sem alternativa, e menos saturada, é o correto. Aprovamos agora uma nova lei de eliminação progressiva de queimadas que afeta o Norte Fluminense, e com a mecanização, quebra empregos na cultura da cana.” revista do meio ambiente ago 2011


38 denúncia Soffiati: A restinga do Açu está destinada a um porto off shore desde que Garotinho foi governador do Estado do Rio de Janeiro. Claro que o grupo EBX daria preferência a uma área não congestionada. Assim, foi o otimista e desenvolvimentista Wagner Victer, membro do PCdoB e presidente da CEDAE, quem apresentou a área do Açu a Eike Batista. Para mim, esta é a razão verdadeira. Nunca soube que, no início, o grupo EBX pretendesse instalar seu complexo na área metropolitana do Rio de Janeiro. Mesmo assim, o porto Sudeste será instalado na região metropolitana do Rio de Janeiro. Fui consultor do Programa de Microbacias do Estado do Rio de Janeiro, o Rio Rural. Minha proposta é que os trabalhadores substituídos pelas ceifadeiras mecânicas no corte de cana crua fossem alocados no Rio Rural ou num programa, que também propus, para restaurar o ambiente no norte-noroeste fluminense. O reflorestamento de áreas críticas no noroeste fluminense, principalmente, geraria empregos estáveis e socioambientalmente úteis. Mas, agora, o complexo industrial-portuário do Açu aparece como solução para os desempregados da lavoura canavieira. Considero pura ilusão que o grupo EBX absorva trabalhadores que saíram do corte de cana queimada. Minc: “Vetamos o porto off-shore em Arraial do Cabo, para preservar a pesca artesanal e o ecoturismo, mostrando que seria mais interessante ao Norte, na bacia de Campos-Macaé. Mas nenhum ecologista (ou não ecolo) aceita um aterro sanitário, uma Estação de Tratamento de Esgoto ou um polo na sua região.” Soffiati: Os moradores e frequentadores da Região dos Lagos estão politicamente mais organizados que os do norte-noroeste fluminense. Se o grupo EBX pretendesse lá se instalar, a grita seria muito grande. No norte fluminense, o falso desenvolvimento proposto pelo grupo EBX cria expectativas de emprego para os pobres e de desenvolvimento para a elite política e econômica, desde que não contrarie os interesses dela. Enquanto ecologista assumido, ainda acreditando que a filosofia ecologista proposta na década de 1970 é a crítica mais radical da Modernidade e a melhor proposta alternativa de civilização, recebo com entusiasmo aterros sanitários verdadeiros, associados a usinas de reciclagem, bem como Estações de Tratamento de Esgoto, sempre lembrando que não basta criar áreas para dar solução adequada aos rejeitos do consumismo. É preciso criar novos padrões de consumo. Quanto a polos, enago 2011 revista do meio ambiente

Deve-se considerar que a aparência do conjunto empresarial impressiona em suas plantas e maquetes, mas todo ele representa um atraso muito grande face às tendências atuais. Suas empresas vão trabalhar intensivamente com recursos naturais não renováveis e com carbono, tais como ferro, carvão mineral, petróleo e gás natural

tendo que se trata de uma concepção ultrapassada de desenvolvimento. Minc: Ao contrário do insinuado, não houve facilidades. Pesadas compensações ambientais foram impostas ao grupo para dotar toda a região de adequada infraestrutura de saneamento, para suportar o crescimento devido à instalação do projeto. Foi elaborada uma AAE (Avaliação Ambiental Estratégica) para verificar a sinergia das atividades que se implantarão, com visão de planejamento ambiental da região dentro dos conceitos modernos de gestão. Soffiati: Por mais que o INEA tenha sido exigente com o grupo EBX, todos os empreendimentos foram licenciados até agora. Pela legislação vigente, o licenciamento de um distrito industrial deve levar em conta o conjunto dos empreendimentos. No entanto, cada empreendimento está sendo licenciado isoladamente. Ainda não se tem ideia do conjunto dos empreendimentos a serem instalados no distrito industrial. Portanto, de nada valem uma avaliação ambiental estratégica ou um grupo de gestão integrada do território. Qualquer planejamento pode ir a pique com um novo empreendimento não previsto, como foi o caso do estaleiro da OSX. Minc: As condicionantes ambientais para a aprovação do projeto foram algumas das maiores do país já estabelecidas. Apenas para obter duas licenças prévias, foi exigido investimento de R$ 60 milhões para obras de saneamento na região, R$ 7 milhões para implantar um corredor verde de Mata Atlântica que é berço do macaco Muriqui, que será símbolo das Olimpíadas de 2016, e R$ 3 milhões para pescadores e aquicultura. Soffiati: De fato, uma ninharia para o oitavo empresário mais rico do mundo. Ele deve recuperar, de forma exponencial, o que despendeu em termos de compensações ambientais. Deve-se considerar que a aparência do conjunto empresarial impressiona em suas plantas e maquetes, mas todo ele representa um atraso muito grande face às tendências atuais. Suas empresas vão trabalhar intensivamente com recursos naturais não renováveis e com carbono, tais como ferro, carvão mineral, petróleo e gás natural. Sua contribuição para o aquecimento global ainda não foi devidamente calculada, mas, sem dúvida, o empreendimento, em seu conjunto, comprometerá as metas de redução dos gases do efeito-estufa assumidas pelo Brasil em compromissos internacionais. Fonte: Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, julho de 2011


SegundA SeM CArne: descobrindo novos sabores Pelas pessoas, pelos animais e pelo planeta A campanha Segunda Sem Carne, uma campanha da Sociedade Vegetariana Brasileira, se propõe a conscientizar as pessoas sobre os impactos que o uso de carne para alimentação tem sobre o meio ambiente, a saúde humana e os animais, convidando-as a tirar a carne do prato pelo menos uma vez por semana e a descobrir novos sabores. Há vários motivos pelos quais se opta por não consumir carne. Veja abaixo alguns deles: Pelas pessoas: Uma alimentação centrada em vegetais favorece a prevenção de doenças crônicas e degenerativas como doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, obesidade, diversos tipos de câncer e diabetes. Por apresentar tantos benefícios, dietas sem carne são estimuladas pela Associação Dietética Americana e Nutricionistas do Canadá, bem como por renomadas instituições como o American Institute for Cancer Research, American Heart Association, FDA (Food and Drug Administration), Universidade de Loma Linda, Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e Clínica Mayo. Pelos animais: Hoje, mais de 67 bilhões de animais terrestres são criados no mundo a cada ano, com a justificativa de que precisamos nos alimentar. O reino vegetal, porém, é plenamente capaz de encher nossos pratos, com muitas vantagens. Privação aos animais dos seus comportamentos naturais básicos, aceleração do crescimento, procedimentos mutilatórios e outros maus tratos são rotina na indústria da carne. Animais são seres sencientes (capazes de sofrer e experimentar alegria) e merecem o nosso respeito. A tortura e a morte de animais para alimentação é incompatível com uma cultura de paz. A alimentação sem carne é uma forma de praticar a não violência. Pela sociedade: Grande parte dos grãos produzidos mundialmente vai para a alimentação de animais, incluindo 60% do milho e da cevada e até 97% do farelo de soja. E a maioria destes produtos animais é consumida pelos povos mais ricos. Em um planeta com um bilhão de pessoas passando fome, as carnes apresentam-se como uma fonte de alimentos extremamente ineficiente, demandando recursos escassos como água e terras agriculturáveis – que poderiam ser usados para alimentação humana direta. Pelo planeta: Já há quase 7 bilhões de pessoas na Terra e, para produzir carne para esta população, é preciso criar bilhões de animais que consomem água, comida e recursos energéticos, demandam espaço, produzem grande quantidade de excrementos, contaminam os mananciais, causam erosão e geram poluição atmosférica. A criação de animais para abate é uma forma ineficiente de produzir alimentos: para cada quilo de proteína animal são necessários de 3 a 15 kg de proteína vegetal (milho, soja e outros). No Brasil três cidades já estão participando da campanha oficial são elas: São Paulo, Curitiba e Niterói. Mais detalhes: www.svb.org.br/segundasemcarne. Site da campanha em Niterói: www.niteroisegundasemcarne.com.br

texto Marcelo Pereira (marcelo@publicnet.com.br)*

animais 39

Marcelo Pereira, coordenador da campanha “Niterói, Segunda sem Carne”, Dr. Daniel Braga Lourenço, advogado e palestrante sobre direito dos animais e Marly Winckler, presidente nacional da Sociedade Vegetariana Brasileira)

Sucesso também nos Estados Unidos O sucesso da campanha Segunda sem Carne chega aos Estados unidos, cerca de 50,22% dos americanos conhece a campanha Segunda Sem Carne, é o que aponta uma pesquisa divulgada pela FGI Research. O dado aponta uma alta de 30% em relação a uma pesquisa feita anteriormente, há 6 meses atrás. O fato de conhecer a campanha faz com que os americanos passem a mudar seus hábitos. Entre os que conhecem a Segunda Sem Carne, cerca de 27,47% disseram que a campanha passou a influenciar nas suas decisões de diminuir o consumo de carne. O Instituto Americano da Carne também já nota uma mudança no comportamento: um estudo feito em novembro de 2010 constatou que 18% dos entrevistados estavam aderindo à Segunda Sem Carne. A divulgação da campanha foi amplamente difundida por pessoas ou empresas influentes mundialmente, porém com maior destaque nos Estados Unidos. A apresentadora Oprah Winfrey, por exemplo, seguiu uma dieta vegana junto de seus 378 funcionários ao longo de uma semana. Depois da experiência, o restaurante de sua empresa não serve mais carnes às segundasfeiras. Outras inúmeras vezes ela ainda deu destaque em seu programa para a dieta vegana e o tratamento dado aos animais. * Marcelo Pereira é integrante do Partido Verde,

coordenador da campanha “Niterói, Segunda sem Carne”, coordenador da SVB Sociedade Vegetariana Brasileira em Niterói e ativista dos direitos dos animais revista do meio ambiente ago 2011


texto e fotos Cetas Porto Seguro/Ibama

40 animais

Animais silvestres

Maior centro de triagem de animais silvestres da Bahia inicia trabalho de reabilitação de animais apreendidos

de volta para casa

Papagaio-chauá recebe microchip eletrônico, que permite sua identificação e rastreamento

Papagaios utilizando ninho artificial construído pelo Ibama ago 2011 revista do meio ambiente

Inaugurado em novembro de 2010, o novo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama em Porto Seguro têm apostado alto na conservação da fauna silvestre brasileira. Construído em parceria com a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira e localizado no interior da Estação Ecológica do Pau-Brasil/Ceplac, no interior de um dos maiores remanescentes de mata atlântica do país, o centro em Porto Seguro é um “Cetas tipo A”, o maior tipo de unidade de manejo de animais silvestres operado pelo Ibama no Brasil, recebendo tanto os animais resgatados por outras forças policiais quanto aqueles entregues pela própria população. O município de Porto Seguro foi escolhido para receber esta nova unidade não apenas devido a sua riqueza de espécies animais, mas por se tratar de um destino turístico estrategicamente localizado próximo à muitas unidades de conservação, universidades, aeroportos, rodovias e unidades policiais especializadas, facilitando assim o resgate dos animais, seu estudo, transporte, devolução a natureza em locais protegidos, aliada à ampla divulgação social dos resultados alcançados. Em todo o Brasil, os animais silvestres apreendidos costumam chegar ao Ibama muito debilitados, desnutridos, com cicatrizes e ferimentos provocados por correntes e com as asas cortadas ou atrofiadas pela falta de uso, o que pode dificultar bastante sua devolução à natureza, muitas vezes obrigando seu encaminhamento para jardins zoológicos. Em Porto Seguro, esta realidade está começando a mudar graças aos investimentos em equipamentos modernos, que permitem não apenas a identificação e rastreio de cada animal, mas sua recuperação em unidades de tratamento aquecidas, de onde são transferidos para grandes unidades de exercício, recebem alimentos semelhantes aos que encontrarão na natureza e passam a se relacionar com outros indivíduos de sua própria espécie, ampliando suas chances de sobrevivência. Inaugurando suas atividades, o Cetas Porto Seguro lançou o chamado Projeto-Chauá, nome dado ao primeiro de uma série de projetos voltados para a reabilitação de animais silvestres e que tem como símbolo o papagaio-chauá, ave gravemente ameaçada de extinção que ocorre na Mata Atlântica no sul da Bahia. Este primeiro trabalho, apoiado por empresas como a Veracel Celulose, Grupo Terravista e Viação Expresso Brasileiro e ONGs como o Projeto Amiga Tartaruga, está voltado para a recuperação, soltura e monitoramento de papagaios nativos, animais ameaçados devido à destruição de seu habitat, além de sua captura e comercialização como animais de companhia. Segundo Lucas Mota, biólogo do Cetas, as aves silvestres são os animais mais procurados pelas pessoas interessadas em comprar animais de companhia, o que estimula os traficantes a continuar retirando estes animais da natureza. Entre as aves, a situação dos papagaios-chauá é especialmente preocupante, tanto devido à pequena sua pequena taxa reprodutiva quanto pelo fato de suas populações ocorrerem apenas em alguns poucos fragmentos isolados de mata atlântica, dificultando a sua renovação populacional e intensificando os prejuízos causados pela ação de traficantes de animais silvestres.


Aniversário

sem grandes mudanças

Política Nacional de Resíduos Sólidos: um breve balanço sobre primeiro aniversário

Funcionário do Cetas construindo ninhos artificiais que serão usados pelos animais reabilitados

Funcionária do Cetas posiciona armadilha fotográfica em um dos pontos de alimentação usados pelos animais

Graças à construção do Cetas Porto Seguro, os papagaios e muitos outros animais receberão um tratamento antes só disponível em países do exterior, sendo medicados, identificados através de microchips eletrônicos inseridos sob a pele, e então transferidos para viveiros móveis montados nos próprios locais de soltura, onde, uma vez livres, passarão a ser monitorados à distância através de antenas e câmaras digitais automáticas instaladas nos locais de alimentação e abrigos montados pelo próprio Ibama para auxiliar os animais nos primeiros dias após a sua libertação. Para Ligia Ilg, coordenadora do Cetas, este tipo de iniciativa, em que tecnologia de ponta e procedimentos modernos são empregados à serviço da conservação de espécies ameaçadas, demonstra não apenas uma maior preocupação do poder público com a proteção dos animais, mas o avanço das estratégias de conservação da fauna silvestre no Brasil. Fonte: Ascom/Cetas Porto Seguro/Ibama

texto Diogo de Melo Ferreira*

lixo e reciclagem 41

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) completa seu primeiro aniversário ainda sem proporcionar mudanças significativas no que diz respeito ao assunto. Embora o fato possa parecer desanimador, não é, pois sua implementação vem seguindo os cronogramas previstos pela PNRS e por seu decreto regulamentador nº 7.404/2010. Naturalmente, a PNRS necessitará de certo período de maturação e discussão na sociedade para que seja implementada com eficácia, principalmente por envolver temas polêmicos e relativamente novos para a maioria das pessoas. Entre eles a responsabilidade pós-consumo e suas ferramentas principais, como a coleta seletiva e os sistemas de logística reversa. Sob este aspecto, dois grandes Comitês de implantação da lei foram criados no âmbito da PNRS: i) o Comitê Orientador para a Implantação de Sistemas de Logística Reversa, com a atribuição específica de regulamentar e detalhar toda a complexidade deste assunto, tais como fixar o cronograma para a fixação de sistemas de logística reversa e propor medidas de desoneração tributária às cadeias de produção que estejam obrigadas nos moldes do artigo 33 da PNRS, por exemplo e; ii) Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos, com uma atribuição mais genérica, mas tão importante quanto de zelar pela PNRS. Entre as suas atribuições, que não são poucas, está a de criar mecanismos de incentivo econômico de fomento a lei e a elaboração do plano nacional de resíduos um dos pilares da lei. Até o momento, as atenções se voltam para a apresentação da primeira versão do Plano Nacional de Resíduos, que definirá diretrizes, metas e mecanismos para o manejo adequado de resíduos em todo o País, o que deverá ocorrer até o começo do mês de agosto. A versão, que será baseada em um estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) deverá ser a referência para a elaboração dos planos estaduais e municipais de resíduos. A aprovação do plano deverá selar, enfim, o primeiro passo para a efetiva implementação da PNRS. Sobre a logística reversa, embora ainda pairem preocupações do setor empresarial sobre os reais custos de sua implementação, existe certo consenso de que a medida beneficiará o meio ambiente e por isso terá apoio. Também é importante dizer que o assunto, apesar de ser tratado como um tema relativamente novo pela maioria, já é uma realidade há um bom tempo para alguns dos segmentos que foram obrigados a implementar sistemas de logística reversa, como os setores de pneus, pilhas e baterias, por exemplo, que já se deparam com resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). O que se espera com a logística reversa, atualmente, é o estabelecimento de uma regra geral e justa para todos os setores envolvidos. O Comitê Orientador ainda não apresentou nenhuma diretriz, o que se espera acontecer até o fim do segundo semestre de 2011. Por fim, passados 12 meses da promulgação da PNRS, o que se vê é que o tema foi aprofundado e que está caminhando conforme o previsto. Ainda é cedo para comentar se serão efetivos ou inconstitucionais, pois sequer chegaram ao conhecimento público. O que importa, neste momento, é avaliar se a PNRS “sairá ou não do papel”, o que parece ser que sim. *Diogo é advogado especialista em Direito Ambiental do escritório L.O. Baptista Advogados

revista do meio ambiente ago 2011


texto Mariana Montenegro fotos www.sayakaganz.com

2 lixo e reciclagem

A Arte do enCAIXe

com plástico reutilizado

Sayaka se inspira de acordo com a espiritualidade tradicional antiga do Japão: “o Xintoísmo Japonês acredita que todos os objetos e organismos possuem espírito e quando são descartados antes do tempo, choram dentro das latas de lixo” Inspirada por simples utensílios de cozinha, geralmente usados por pouco tempo e jogados no lixo, a japonesa Sayaka Kajita Ganz mostrou sensibilidade e criatividade para elaborar esculturas feitas desses materiais. Em formato de animais, as obras parecem estar vivas! As peças utilizadas são recolhidas em postos de reciclagem, lixões, brechós ou recebidas por doações de amigos e fãs da artista. São usadas colheres, garfos, espátulas, conchas e uma infinidade de utensílios que usamos diariamente. Sayaka chega a utilizar até 500 objetos em uma única escultura, que chegam a medir até 30 metros de altura. A artista só utiliza materiais que já foram usados e descartados, com o objetivo de dar um novo significado a eles com o processo de reaproveitamento e regeneração. Segundo divulgado no site Coletivo Verde, Sayaka se inspira de acordo com a espiritualidade tradicional antiga do Japão: “o Xintoísmo Japonês acredita que todos os objetos e organismos possuem espírito e quando são descartados antes do tempo, choram dentro das latas de lixo”. “Construindo estas esculturas eu tento entender as situações e os relacionamentos humanos que me rodeiam. É uma maneira de contemplar e lembrar que, mesmo que haja um conflito, existe uma maneira de todas as peças se encaixarem”, completa. Fonte: http://style.greenvana.com

ago 2011 revista do meio ambiente

No alto: Walker (2008, 50 x 91 x 30 cm), Jaws (2008, 23 x 53 x 15 cm) e Forest (2011). À esquerda: Emergence (2008), instalação com duas peças – Night (183 x 127 x 43 cm) e Wind (160 x 198 x 66 cm); e Japonica (91 x 69 x 79 cm, sem pedestal) À esquerda a peça Nova, descrita pela artista: “Esta é uma peça que verdadeiramente renasceu. A cabeça, pescoço e costas são de minha primeira escultura em plástico (Lemon, o cisne amarelo), que foi feita a partir de objetos que algum estudante de arte deixou de um projeto de escultura (uma girafa de vassouras de plástico e cesta)”


ONGs se aliam a companhias Cada vez mais, ambientalistas formam parcerias com empresas de setores considerados poluentes, como mineradoras e petroleiras

polêmicas

São cada vez mais comuns as alianças entre ONGs ambientais e empresas de setores considerados poluentes – como exploração de petróleo e mineração – ou polêmicos – como produtoras de agrotóxicos ou sementes transgênicas. O dinheiro do exterior está mais escasso, pois o País enriqueceu e a ajuda antes destinada ao Brasil tem sido entregue a países da África e do Sul da Ásia. E as ONGs estão mais pragmáticas e abertas a se associar a quem antes era visto como “inimigo”. Por outro lado, há o risco de as empresas usarem essas parcerias para marketing ou maquiagem verde, sem comprometimento ambiental. A WWF, por exemplo, foi citada em pesquisa do grupo investigativo Global Witness numa situação constrangedora. O documento diz que a Rede Global de Floresta e Comércio (GFTN, em inglês), programa da WWF que apoia o comércio de madeira legal e sustentável, tem padrões de filiação pouco rigorosos. Dessa forma, permite que empresas suspeitas de desmatar ilegalmente utilizem seu selo de sustentabilidade. E relata que a madeireira malaia Ta Ann Holdings Berhad, contribuinte do GFTN, destrói 20 campos de futebol de floresta por dia, incluindo o habitat de orangotangos dentro de um projeto da própria WWF. Carlos Scaramuzza, superintendente de Conservação da WWF-Brasil, diz que no País os procedimentos da ONG são mais restritivos. Ele conta que um comitê avalia os riscos das parcerias e, nos casos que envolvem muito dinheiro, é solicitada às empresas uma análise sobre seus passivos ambientais. “Atuar com as corporações é uma forma de atingir também fornecedores e consumidores. Mas há a necessidade de avaliação cuidadosa. Posso iniciar uma conversa no marketing, mas se não passar de lá não me interessa. Quero conversar com a área de produção, com a diretoria”, afirma. O objetivo maior é tornar a maneira como se produz no País mais sustentável. Segundo Scaramuzza, a WWF não faz parceria com empresas de petróleo e evita as do setor de mineração e grandes empreiteiras. Os maiores parceiros da ONG no País são HSBC

Seguros, Fundação Banco do Brasil e Ambev. “Temos 50 anos de existência. A credibilidade é um dos nossos maiores valores”, ressalta.

texto Afra Balazina (O Estado de S. Paulo)

terceiro setor 43

Combustível fóssil Recentemente, a Fundação Amazonas Sustentável (FAS) firmou parceria com a HRT, empresa brasileira de petróleo e gás que atua na Amazônia. A HRT se comprometeu a destinar à Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uacari R$ 4 milhões em dois aportes de 50%, entre 2011 e 2012. Os recursos irão para o programa Bolsa Floresta e outros projetos de apoio voltados para educação e saúde. E, quando começar a produzir petróleo na Bacia do Solimões, no segundo semestre, a empresa doará R$ 1 de cada barril comercializado para a conservação da floresta e a melhoria da qualidade de vida de seus moradores. Para Eduardo Freitas, gerente do projeto Solimões da HRT, apesar de toda a sociedade se beneficiar da produção de energia, a empresa considera viável colaborar com projetos de sustentabilidade. E afirma que o melhor é se associar com quem entende do assunto – no caso, a FAS. O superintendente-geral da FAS, Virgilio Viana, diz que é preciso ser pragmático, por isso defende parcerias com empresas. E argumenta que seria hipócrita não aceitar ajuda de empresas do petróleo, “já que dependemos de carros e usamos plásticos”. Complexo industrial O grupo EBX, de Eike Batista, comprometeu-se a investir R$ 2,3 milhões no Corredor Ecológico do Muriqui, com 400 mil hectares (duas vezes e meia a cidade de São Paulo), para tentar proteger o maior primata das Américas. O corredor fica entre os parques estaduais do Desengano, dos Três Picos e a Reserva Biológica União, no Rio. Estima-se que existam na natureza apenas 1,3 mil representantes do macaco, um dos candidatos a mascote dos Jogos Olímpicos de 2016. A ação se dará por meio de parceria com o Instituto BioAtlântica (Ibio) e a empresa Brasil Florestas. O corredor fica perto do complexo industrial do Porto do Açu, projeto polêmico de Batista. Mas Paulo Monteiro, diretor de sustentabilidade da EBX, explica que esse investimento não é uma compensação pela obra. André Guimarães, presidente da Brasil Florestas, considera esse tipo de ação importante não para amenizar culpas, mas para tentar aliviar os impactos que elas causam. “É uma obrigação de todos os empresários tentar mitigar os impactos.” Por isso, ele diz que as ONGs têm de se despir de ideologias. Transparência Mario Mantovani, da Fundação SOS Mata Atlântica, ressalta que a entidade nunca recebeu recursos da Petrobras ou de empresas de Batista. “Não tem um projeto dele que não está associado a uma desgraça ambiental”, critica. Sua principal fonte de recursos é o Bradesco. Segundo ele, o mais importante nas parcerias é a transparência. Se a ONG receber recursos de uma empresa do setor agropecuário, por exemplo, não deve se envolver na discussão da reforma do Código Florestal. revista do meio ambiente ago 2011


nada

texto Eliane Brum

44 educação ambiental

Meu filho, você não merece

São, talvez, algumas das mais perturbadoras imagens que já vi na minha vida de jornalista e ativista pró-animais. Sujeira, miséria e degradação – social e moral, deixemos bem claro – de um país que, volta e meia, entra no pacote da ‘sabedoria oriental’, que tantos incautos angaria aqui no Ocidente. Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor. Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade. Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não ago 2011 revista do meio ambiente

David Garzon (sxc.hu)

A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada

acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste. Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes. Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade. É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais? Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina.


45 Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país. Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”. Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer. A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão. Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude. Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças

que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa. Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir. Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando. O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa. Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande. Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito. Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência. Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba. Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua(Globo). E-mail: elianebrum@uol.com.br / Twitter: @brumelianebrum revista do meio ambiente ago 2011


PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA

RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ) COM ÁTILA NUNES FILHO E ÁTILA NUNES NETO Permitir que dezenas de ouvintes diariamente entrem no ar para reclamar, protestar, denunciar, sem censura. Essa é a fórmula do sucesso de audiência do Programa Reclamar Adianta que vai ao ar de segunda à sexta feira pela Rádio Bandeirantes AM 1360 (RJ). Na verdade, esse sucesso é um resultado, e não o objetivo. O objetivo sempre foi – e é – de dar voz aos cidadãos que não têm acesso aos veículos de comunicação para externar seus pontos de vista.

PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA De 2ª à 6ª feira, entre 10h e meio dia Acesse pela internet: www.reclamaradianta.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5588 www.emdefesadoconsumidor.com.br atilanunes@reclamaradianta.com.br



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SIM, quero ser assinante-colaborador da REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental, uma organização sem fins lucrativos, assegurando meu livre acesso ao conteúdo do PORTAL DO MEIO AMBIENTE (www.portaldomeioambiente.org.br) e o recebimento da versão impressa e gratuita da REVISTA DO MEIO AMBIENTE sempre que for editada.Declaro concordar com o pagamento de R$ 100,00 (cem reais) referentes às despesas de manuseio e de postagem de 12 (doze) edições impressas, que receberei uma a uma, independente do tempo que dure. Farei o pagamento através de depósito bancário na Caixa Econômica Federal, Agência 3092 OP 003, C/C 627-5, em favor da PRIMA – MATA ATLÂNTICA E SUSTENTABILIDADE – CNPJ nº 06.034.803/0001-43, parceira da REBIA neste projeto pela democratização da informação socioambiental no Brasil. Após o pagamento, informarei pelo e-mail vilmar@rebia.org.br a data, hora e valor do depósito e os dados completos (nome completo, endereço completo) a fim de receber meus exemplares.

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Revista do Meio Ambiente Redação: Trav. Gonçalo Ferreira, 777 Casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba, Niterói, RJ CEP 24370-290 Telefax: (21) 2610-2272


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