Revista do Meio Ambiente 64

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10 árvores extraordinárias

ano VIII • outubro 2013

64 9772236101004

ISSN 2236-1014

AMbIENtE Rebia Rede Brasileira de Informação Ambiental

Agronegócio brasileiro contribui para aquecimento global Caça de botos para servir de isca preocupa autoridades Água contaminada em 20 capitais brasileiras Jornalismo na era das ODS



nesta edição 3

capa 16 As 10 árvores mais extraordinárias

facebook.com/pages/ListaVerde-a-Natureza-n%C3%A3ovota-Vote-voc%C3%AA-porela/280563695418657?ref=hl • Twitter: twitter.com/pmeioambiente • Google+: plus.google. com/109858586057074742261/posts • Linkedin: linkedin.com/company/ rebia---rede-brasileira-de-informacoesambientais?trk=hb_tab_compy_ id_2605630 Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental: organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com a missão de contribuir para a formação e mobilização da Cidadania Ambiental planetária através da democratização da informação ambiental e da educação ambiental com atuação em todo o território nacional, editando e distribuindo gratuitamente a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente. CNPJ: 05.291.019/0001-58. Sede: Trav. Gonçalo Ferreira, 777 - casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba - Niterói, RJ 24370-290 – Site: www.rebia.org.br Pessoa Jurídica A Rebia mantém parceria com uma rede solidária de OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que respondem juridicamente pela finanças dos veículos de comunicação e projetos da Rebia: Prima: Mata Atlântica e Sustentabilidade (Ministério da Justiça - registro nº 08015.011781/2003-61) – CNPJ: 06.034.803/0001-43 • Sede: R. Fagundes Varela, nº 305/1032, Ingá, Niterói, RJ CEP: 24210-520 • Inscrição estadual: Isenta e inscrição Municipal: 131974-0 www.prima.org.br

por Fábio Paschoal

mudanças climáticas 6 Agronegócio brasileiro contribui para aquecimento global por João Marcelo Intini

animais 15 Caça ilegal de botos

água 23 Água contaminada em

15

20 capitais brasileiras

jornalismo ambiental 26 Jornalismo na era dos ODS por Maristela Crispim

Redação: Tv. Gonçalo Ferreira, 777 - casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba - Niterói, RJ 24370-290 • Tel.: (21) 2610-2272 Editor e Redator-chefe (voluntário): Vilmar Sidnei Demamam Berna, escritor e jornalista. Em 1999 recebeu o Prêmio Global 500 da Onu para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas. www.escritorvilmarberna.com.br www.escritorvilmarberna.blogspot.com vilmar@rebia.org.br • Cel (21) 9994-7634 www.facebook.com/vilmar.berna www.facebook.com/escritorvilmarberna Produção gráfica: Projeto gráfico e diagramação: Estúdio Mutum • (11) 3852-5489 Skype: estudio.mutum www.estudiomutum.com.br Impressão: Grupo SmartPrinter (21) 3597-3123 / 9655-4860 / 24*6443 www.gruposmartprinter.com.br Webmaster: Leandro Maia – webmaster@rebia.org.br

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4 • Nossas cidades estão doentes, e produzindo pessoas doentes 5 • Os leitores, nossos editores 8 • Desperdício de alimento é terceiro maior emissor de CO2 do mundo 9 • O leilão do Campo de Libra 9 • Leilão de Libra ocorre sem plano de impacto ambiental 10 • O caso dos Beagles 12 • Por trás do desmatamento da Amazônia

Adalberto Marcondes, Aristides Arthur Soffiati, Bernardo Niskier, Carlos A. Muniz, David Man Wai Zee, Flávio L. de Souza, Keylah Tavares, Luiz A. Prado, Paulo Braga, Ricardo Harduim, Rogério Álvaro S. de Castro, Rogério Ruschel

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por Mariana de Assis Espécie, Carine Cristina Gonçalves Galvão, Rodrigo Hipólito Tardin e Sheila Marino Simão

14 • A mobilidade urbana não pode esperar mais Conselho Consultivo e Editorial

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Roger Kirby (sxc.hu)

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na natureza

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19 • Por quanto tempo a Terra permanecerá habitável? Menos do que você imagina 20 • Mudanças no clima podem tornar obsoletas as unidades de conservação do país 22 • Os 10 rios mais poluídos do Brasil 24 • Água de reúso: que é e onde pode ser utilizada 24 • As super sacolas 28 • Prédios ‘verdes’ 30 • Governo do Estado do Rio de Janeiro lança Inventário florestal 32 • Guia do Meio Ambiente Revista ‘neutra em carbono’

Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da Rebia.

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Capa: Baobá de Madagascar (Adansonia grandidieri) Autor: Bernard Gagnon (Wikimedia Commons)

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revista do meio ambiente out 2013


Nossas cidades estão doentes, e produzindo

pessoas doentes

“O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons.” – Martin Luther King Muitos sequer começarão a ler este texto, outros irão parar pelo caminho. É um risco que temos de correr diante dos que escolhem não querer saber, talvez uma tentativa de não sofrer. Não se pode condenar quem tenta evitar a dor. Entretanto, o custo pode ser enorme com o agravamento dos sintomas e das consequências, além de nos tornar insensíveis, embrutecidos, alienados. Ignorar a doença não nos livra dos sintomas e das consequências. Não querer saber não deveria ser uma opção, mas a desinformação, a oferta de informação mentirosa ou maquiada, ou que aliena, não resultam do acaso. Não é por acaso que poucas famílias no Brasil e em redor do mundo são donas dos maiores e principais veículos de comunicação, as mesmas famílias que são donas de várias empresas e nichos de poder econômico e político. O que pode fazer a Medicina, por exemplo, por um diabético que escolhe continuar ingerin-

Ramzi Hashisho (sxc.hu)

texto Vilmar Sidnei Demamam Berna* (www.escritorvilmarberna.com.br)

4 editorial

do açúcar, um obeso que escolhe continuar ingerindo gorduras, um ansioso que não se afasta do que lhe causa ansiedades? Pouco, a não ser receitar medicamentos para aliviar os sintomas, enquanto as doenças tendem em se agravar. Nossas sociedades, nossas cidades também adoecem e nos adoecem. Por exemplo, não nascemos para viver escravizados, mas como nos libertar se sequer nos percebemos escravos? O consumo é bom e desejável, mas a sociedade de consumo precisava ir além, precisava estimular esse consumo até não mais poder a fim de gerar lucros crescentes e desmedidos, criando a obsolescência planejada, montanhas de lixo e desperdício. Nossa sociedade de consumo criou uma nova legião de escravos, que exibem seus objetos de consumo como indicadores de inserção social, de sucesso e felicidade, e sequer se dão conta do quando perderam a liberdade, acorrentados a suaves prestações e à necessidade de trabalhar incessantemente para produzir numa ponta e consumir incessantemente na outra. A desigualdade social, a pobreza, a degradação ambiental, a violência são condenadas por todos numa sociedade que adoeceu, entretanto, como continuar explorando e usando o Planeta além de seus limites? Só se houver desigualdade socioeconômica, onde enquanto uns poucos tiram demais para acumular e desperdiçar, outros tiram de menos. Estamos mais ou menos como aquele suicida que pula do 15º andar, e ao passar voando pelo sétimo, rumo ao chão, pensa: “até aqui, tudo bem!” Nossa sociedade está num vôo cego e suicida rumo ao colapso socioambiental já anunciado. O meio ambiente não é tudo o que existe a nossa volta. O meio ambiente também somos nós! O que afeta o ambiente, nossas cidades onde vivemos, a maneira como nos organizamos em sociedade, também nos afeta. Por exemplo, não nascemos para viver enclausurados em caixas de concreto cada vez menores que chamamos de apartamentos; ou para perder horas e horas preciosas de vida entre a casa-trabalho-casa em transportes públicos de péssima qualidade, lotados, em ruas cada vez mais engarrafadas e poluídas. A violência nos agride tanto física quanto psicologicamente, gerando perdas de vida e de patrimônio, mas também de paz de espírito, gerando em nós medo generalizado e insegurança. Por exemplo, que sociedade é essa que teme suas próprias crianças, símbolo de nosso futuro, ao pararmos num sinal de trânsito, por exemplo? Não me preocupo com quem conseguiu chegar até aqui na leitura. Na verdade, é por causa desses que ainda perco o meu tempo, energia e algum talento em escrever. Eles conseguem me manter com esperanças. O que me preocupa são os que ficaram pelo caminho, ou nem se dispuseram a começar. * Vilmar é escritor e jornalista, fundou a Rebia - Rede Brasileira de Informação Ambiental (rebia.

org.br), e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente), e o Portal do Meio Ambiente (portaldomeioambiente.org.br). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas

out 2013 revista do meio ambiente


Editar é escolher entre o que deve ser lido, visto, ouvido pelo público a partir do que alguém ou um grupo considere como mais importante. E toda escolha é sempre parcial, tendenciosa, pois carrega consigo conceitos, preconceitos, cultura e visões de mundo, comprometimentos, etc. Na melhor das hipóteses, tais tendências podem ser para o bem - mas de boa vontade dizem que o inferno está cheio. Na pior, é manipulação mesmo da verdade – o que nossa midia também está cheia de bons e de maus exemplos. Então, nesta edição deixamos o leitor escolher, a partir do conjunto de informações que postamos diariamente no www.portaldomeioambiente.org.br e que encaminhamos através da Agência Rebia de notícias socioambientais para mais de 200.000 leitores cadastrados. Alguns dizem que o Facebook se compara a uma mesa de bar, onde todos falam de tudo e de qualquer jeito sem se preocupar com a verdade ou relevância. Pode ser que sim, para uma grande maioria, mas não é verdade para todos. Existe muita gente que usa as Redes Sociais para “jogar conversa fora” e relaxar, rir e se divertir um pouco – o que é muito bom, claro, melhor ainda é poder estar com amigos e amigas em algum lugar, do mundo físico, pois somos animais sociais e é melhor interagirmos uns com os outros – com todas as dores e delícias de ser humano – que interagir com um teclado e uma tela de computador ou celular – como faço agora. Mas escrever é um ato quase sempre solitário, e ler também. O que as redes sociais nos trazem de novo é poder reunir pessoas em torno de temas específicos com a facilidade de poder curtir, comentar, compartilhar, como nunca nenhuma mídia permitiu. É a verdadeira democratização do direito de informar e ser informado, não mais do ângulo de mero telespectador. Os profissionais da comunicação sempre tiveram que assumir um papel – digamos, com um certo exagero, de “babás dos leitores”. Agora, nosso público cresceu, e precisamos nos reinventar.

nossos editores Diante desta enorme Babel que pela primeira vez na história da humanidade tem a oportunidade de se ver, de se encontrar, o que é realmente importante para se ler? A opinião qualificada de pessoas de credibilidade comprovada passa a ser mais importante que a mera democratização da informação. Em nosso caso, o segmento de opinião de nosso interesse é o socioambiental e da sustentabilidade. Um segmento relativamente pequeno comparado como da torcida do Flamengo, por exemplo, mas grande o suficiente para influir em políticas públicas e empresariais. Ao contrário de um torcedor do Flamengo que influencia para dentro do universo do seu próprio time, aqui, os leitores são quase sempre cidadãos e cidadãs formadores e multiplicadores de opinião para fora do seu universo. Os profissionais do jornalismo ambiental que não se reinventarem podem acabar perdendo o jeito na escolha do que é realmente importante para tais leitores, o que estão lendo, curtindo, compartilhando. Claro, nem sempre a informação que o público quer comprar ou se dispõe a ler, pode não ser a que ele precisa, ou as revistas sobre a vida dos artistas, por exemplo, teriam menor importância que as de meio ambiente... Nós, da Rebia, demos uma mergulhada no universo do interesse dos nossos leitores e a primeira coisa que salta aos olhos é que as informações que escolhemos como mais importantes nem sempre foram as escolhidas por eles. E muito informação que considerávamos de menor importância, nos surpreenderam pela quantidade de acessos. Esta pesquisa se torna relativamente fácil com o Facebook, por exemplo. Escolhemos as notícias mais lidas entre as que veiculamos na nossa página da Rebia nos últimos 30 dias, sem outro juízo de valor a não ser a quantidade de vezes em que estas notícias foram lidas. Até escolhemos alguns comentários que consideramos mais relevantes, a fim de mostrar um pouco de como Rede Rebia está sendo “sentida”. Espero que gostem do resultado desta edição, escolhida pelos nossos leitores e leitoras.

A edição 64 da Revista do Meio Ambiente será diferente. Os leitores é que editaram

texto Vilmar Sidnei Demamam Berna

Os lei t ores,

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Os profissionais do jornalismo ambiental que não se reinventarem podem acabar perdendo o jeito na escolha do que é realmente importante para tais leitores, o que estão lendo, curtindo, compartilhando revista do meio ambiente out 2013


texto João Marcelo Intini

6 mudanças climáticas

Agronegócio brasileiro contribui para o

Jack Arrington( sxc.hu)

aquecimento global

síntese de notícias veiculadas na imprensa (Ecopolítica, Scientific American, Revista Fapesp) acerca da relação do agronegócio com o aquecimento global e, em particular, do Brasil, baseado em estudos realizados pela Embrapa e pela Unicamp. Estudos confirmam as mudanças climáticas no Brasil Estudo da Embrapa Informática Agropecuária e do Cepagri/Unicamp, apresentado na primeira Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais (Conclima) em São Paulo de 9 a 13 de setembro, confirmou as evidências de que eventos climáticos extremos estão se acentuando no Brasil. Relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PMBC) confirma essa constatação e alerta para o agravamento do quadro climático do Brasil, caso persista o grau de emissão global de gases estufa. O coordenador do estudo, Eduardo Assad, agroclimatologista da Embrapa e membro do PMBC, conta que sua equipe avaliou nos últimos anos os máximos e os mínimos de temperatura no Brasil. Os pesquisadores constataram que os eventos extremos estão se acentuando. Nas temperaturas mínimas essa intensificação é muito clara, diz ele. “Frio intenso por pouco tempo.” Foram pesquisadas todas as estações meteorológicas do Brasil, para buscar “as máximas das máximas e as mínimas das mínimas”. O resultado obtido foi de tendência crescente dos extremos de frio e calor, em períodos mais curtos. Isto é, ondas de frio e calor intensos. Esses extremos climáticos estão afetando a produtividade da agricultura brasileira e seu agravamento pode pôr em risco a segurança alimentar brasileira, se nada for feito globalmente e no País. No Brasil, é preciso “reorganizar urgentemente o espaço agrícola brasileiro”, disse Eduardo Assad. A produtividade tem caído em algumas culturas e regiões, notadamente no café, soja e milho, diz Assad, que alerta ser “preciso agir já, para evitar que esse quadro piore”. Recomenda, ainda, investir em sistemas agrícolas mistos, abandonando a monocultura; aumentar a fixação biológica do nitrogênio no solo; aumentar rotatividade de culturas e reduzir o uso de pesticidas, dos quais somos hoje o maior consumidor mundial. out 2013 revista do meio ambiente

Estamos fazendo tudo errado “Temos de agir para evitar o pior”, comentou Eduardo Assad em abril, em uma conferência em São Paulo, ao apresentar as conclusões de um dos capítulos do primeiro relatório do PBMC. Os pesquisadores esperam que as informações do relatório sirvam para nortear a elaboração e a implantação de políticas públicas e o planejamento das empresas. Os desafios apontados no relatório brasileiro são muitos. “Temos de mudar a política agrícola, industrial e urbana, incluir a preocupação com a sustentabilidade e os eventos climáticos extremos, como as chuvas e as secas”, comenta Antonio Magalhães, assessor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “Precisamos ampliar os debates e superar a rigidez institucional, as resistências e os interesses de curto prazo.” A previsão de um estudo formulado pela Embrapa em 2008, confirmada no relatório do PBMC, é que as mudanças do clima devem prejudicar a produção de alimentos e causar perdas estimadas em R$ 7,4 bilhões em 2020 e R$ 14 bilhões em 2070, comprometendo o agronegócio, responsável por 24% do PIB nacional. A soja deve ser a cultura mais afetada, com perdas de até 40% da área de plantio. A produção de café arábica deve cair 33% em São Paulo e Minas Gerais, embora possa aumentar no Sul do país. As previsões indicam que, em 2020 e 2030, deve


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Monocultivo e concentração de terras agravam aquecimento e afetam produtividade agrícola do país. Cientistas recomendam mudanças imediatas

haver uma redução na produção de algodão, arroz, feijão, soja, milho e trigo – como efeito do provável aumento da temperatura. Cheias e secas mais intensas e frequentes, de acordo com o relatório do PBMC, devem também alterar a vazão dos rios e prejudicar o abastecimento dos reservatórios das hidrelétricas, acelerar a acidificação da água do mar e reduzir a biodiversidade dos ambientes aquáticos brasileiros. A diminuição de biodiversidade dos ambientes naturais brasileiros deve se agravar; alguns já perderam uma área expressiva – o Cerrado, 47%, e a Caatinga, 44% – a ponto de os especialistas questionarem se a recuperação do equilíbrio ecológico característico desses ambientes seria mesmo possível. As iniciativas e avanços são tímidos O grupo de trabalho coordenado por Assad e Magalhães sugeriu medidas de adaptação à inclemência do clima nas cidades. Entre essas, estão a implantação de parques lineares na margem de córregos, o controle da erosão nas cidades costeiras, onde vivem 85% da população do país, e o remanejamento dos moradores das áreas de risco, visando reduzir o impacto de cheias e evitar inundações como a da cidade de Petrópolis, há dois anos. “As incertezas não justificam o adiamento das decisões sobre mitigação de emissão de gases do efeito estufa”, comenta Mercedes Bustamante, professora da Universidade de

Brasília e coordenadora da equipe que examinou as perspectivas de redução dos impactos (mitigação) e de adaptação às mudanças climáticas. Emilio Rovere, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro que também esteve à frente da equipe que elaborou essa parte do relatório, reconheceu a “quase impossibilidade de estabilização da temperatura em apenas 2 graus acima do nível pré-Revolução Industrial e dos objetivos voluntários de limitação de emissões já aprovados pelo governo brasileiro – a redução de 36% a 38% na emissão de gases do efeito estufa até 2020, anunciada em dezembro de 2010, por meio da redução do desmatamento, recuperação de pastagens degradadas e da implantação de políticas agrícolas, ambientais e energéticas sustentáveis”. E conclui Rovere: “Caso não sejam aprovadas medidas adicionais de mitigação, certamente irá ocorrer a retomada do crescimento das emissões brasileiras após 2020”. Uma iniciativa é o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, que tem como resultado, a queda do desmatamento de 27 mil Km² para 4 mil Km² em menos de 10 anos. Mas os ajustes nas áreas de transportes, por exemplo, ainda são lentos. “Precisamos de mais trens, metrôs e ciclovias, não podemos nos basear mais nos meios de transporte individual, principalmente nas cidades”, diz Assad. No Brasil, foram dados alguns passos importantes. Hoje já existe uma Comissão Nacional sobre Mudanças Climáticas, um Fórum Nacional e Fóruns Estaduais, que incluem a sociedade civil, um Plano Nacional, e agora estão sendo elaborados planos setoriais de adaptação àquelas mudanças que já são inevitáveis. Vários ministérios e instituições já planejaram suas ações, mas ainda falta esforço e maior consistência nas respostas. O que deveria ser feito e as propostas barradas pelos ruralistas Diante dos argumentos apresentados, e observando-se, ainda, as práticas políticas adotadas pelos ruralistas, não é difícil detectar alguns dos fatores que estão contribuindo decisivamente para as mudanças climáticas, conflitos fundiários e degradação ambiental. É notória a articulação ruralista na Câmara dos Deputados, que conta com, no mínimo, 161 parlamentares (referenciado na composição da Frente Parlamentar da Agricultura). Nas relações do Governo Brasileiro com o Congresso Nacional, a delicada relação política que se estabelece pela manutenção da governabilidade acaba por reforçar, de forma inevitável, reforçando a influencia política dos ruralistas. Todas as mudanças assinaladas terão um efeito dramático nas colheitas das lavouras brasileiras, mas até agora os agricultores têm demonstrado pouca sensibilidade à percepção dos problemas futuros e, consequentemente, não começaram a se adaptar à mudança climática. Não há comprometimento com as gerações futuras. As monoculturas continuam a se expandir e a invadir a região Amazônica e tomam conta do Cerrado. Como exemplo da ação conservadora e imediatista do setor ruralista na Câmara dos Deputados, que vocalizam os interesses do agronegócio, temos o texto do Novo Código Florestal, eminentemente favorável aos desmatadores. Portanto, faz-se necessário que diferentes medidas sejam adotadas, tanto no que concerne ao sistema produtivo, quanto no que diz respeito às questões fundiárias e ambientais. Para a reversão do quadro descrito, sugerimos algumas medidas a serem adotadas nos sistemas produtivos: • investir intensivamente em sistemas agrícolas mistos e consorciados e abandonar a prática da monocultura; • aumentar a fixação biológica de nitrogênio no solo, ampliar o uso de insumos orgânicos, adotar a rotação de culturas e os manejos sustentáveis de produção; • reduzir o uso de pesticidas e fertilizantes químicos; revista do meio ambiente out 2013


texto João Marcelo Intini

8 mudanças climáticas • mudar radicalmente a concessão dos créditos agrícolas, que estimulam os sistemas químicos de produção e a transferência de recursos financeiros para as multinacionais de fertilizantes, máquinas e implementos, agrotóxicos e sementes; • ampliar fortemente as práticas orgânicas e agroecológicas de produção e, • utilizar sementes varietais, condenando as sementes transgênicas, que intensificam o uso de agrotóxicos. Reforma agrária Mas não basta atuar no sistema produtivo. A estrutura fundiária no Brasil e a concentração de terras, herdadas dos tempos imperiais, continua a produzir o cenário de conflitos fundiários, o favorecimento da monocultura e o desmatamento. Não obstante o Brasil ter a maior concentração fundiária do planeta, os ruralistas estão de olho nas terras indígenas e quilombolas, verdadeiros depositários da biodiversidade. A ganância pela expansão territorial e a truculência nos métodos de ação caracterizam a tradição colonialista dos ruralistas e grandes proprietários de terras. Para ampliar ainda mais seu poder político e econômico, soma-se aos ruralistas, o sistema judiciário que não pune, não condena e não educa, pois favorece flagrantemente a impunidade dos que cometem os crimes contra lideranças dos movimentos sociais rurais e que violam os direitos humanos, negam a existência do trabalho escravo e não respeitam a função social da propriedade. Com isso, sugere-se: • rever os índices de produtividade agrícola, que influenciam na avaliação produtiva das propriedades e no atendimento da função social da terra; • defender e preservar os territórios indígenas e quilombolas; • acelerar a criação de projetos de assentamento e fortalecer as políticas de reforma agrária; • estabelecer e implementar o tamanho máximo da propriedade da terra, combatendo a existência de grandes propriedades rurais e latifúndios; • combater o trabalho escravo, punindo os aliciadores e os empregadores que se valem desta prática; • ampliar as unidades de conservação, parques e reservas biológicas em todos os biomas. Essas sugestões vão ao encontro, certamente, do desejo de milhões de brasileiros, que compreendem que a injustiça social e a destruição ambiental estão intimamente ligados ao atual modelo de produção e de estrutura fundiária. Fonte: Reporter Brasil

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Desperdício

de alimento é terceiro maior emissor de CO2 do mundo A comida desperdiçada no mundo responde por mais emissões de gases causadores de efeito estufa do que qualquer país, exceto China e Estados Unidos, disse a ONU em um relatório Todos os anos, cerca de um terço de todos os alimentos para consumo humano, aproximadamente de 1,3 bilhão de toneladas, é desperdiçado, juntamente com toda a energia, água e produtos químicos necessários para produzi-la e descartá-la. Quase 30% das terras agrícolas do mundo, e um volume de água equivalente à vazão anual do rio Volga, são usadas em vão. No seu relatório intitulado “A Pegada do Desperdício Alimentar”, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e a Alimentação (FAO) estima que a emissão de carbono dos alimentos desperdiçados equivale a 3,3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano. Se fosse um país, seria o terceiro maior emissor do mundo, depois da China e dos Estados Unidos, sugerindo que um uso mais eficiente dos alimentos poderia contribuir substancialmente para os esforços globais para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e diminuir o aquecimento global. No mundo industrializado, a maior parte do lixo vem de consumidores que compram muito e jogam fora o que não comem. Nos países em desenvolvimento, a causa principal é a agricultura ineficiente e falta de instalações de armazenamento adequadas. “A redução de desperdício de alimentos não só evitaria a pressão sobre recursos naturais escassos, mas também diminuiria a necessidade de aumentar a produção de alimentos em 60 por cento, a fim de atender a demanda da população em 2050”, diz a FAO. A organização sugere que se melhore a comunicação entre produtores e consumidores para gerenciar a cadeia de suprimentos de forma mais eficiente, bem como investir mais na colheita, resfriamento e métodos de embalagem. A FAO também disse que os consumidores no mundo desenvolvido devem ser encorajados a servir pequenas porções e fazer mais uso das sobras. As empresas devem dar comida excedente para instituições de caridade, e desenvolver alternativas para o despejo de resíduos orgânicos em aterros sanitários. A FAO estima o custo do desperdício de alimentos, excluindo os peixes e frutos do mar, em cerca de 750 bilhões de dólares por ano, com base em preços de produção. O desperdício de alimentos consome cerca de 250 quilômetros cúbicos de água e ocupa cerca de 1,4 bilhão de hectares- grande parte de habitat natural transformado para tornar-se arável. Fonte: G1 / Reuters


política ambiental 9

do campo de libra dilma diz que leilão do campo de libra “é bem diferente de privatização” e que o meio ambiente e a adaptação às mudanças climáticas receberão recursos

eM proNuNciaMeNto eM cadeia de rádio e televisão aberta, a presideNte dilMa rousseff coMeMorou eM 21/10 o “sucesso do leilão do caMpo de libra”, classificaNdo coMo “uM Marco Na história do brasil”, e fez questão de respoNder às críticas de vários setores que vão da oposição aos próprios fuNcioNários da petrobras. Dilma reagiu ainda às acusações de que o leilão representava uma privatização do petróleo brasileiro. “Pelos resultados do leilão, 85% de toda a renda a ser produzida pelo campo de libra vão pertencer ao Estado brasileiro e à Petrobras. Isto é bem diferente de privatização”, desabafou a presidente Dilma. “O Brasil é – e continuará sendo – um país aberto ao investimento, nacional ou estrangeiro, que respeita contratos e que preserva sua soberania”, avisou a presidente, reagindo a outras críticas de que o País não contém regras jurídicas claras em seus processos de concessões. Segundo a presidente Dilma, com o sucesso do leilão, “começamos a transformar uma riqueza finita, que é o petróleo, em um tesouro indestrutível que é a Educação de alta qualidade”. E emendou: “estamos transformando o pré-sal no nosso passaporte para uma sociedade futura mais justa e com melhor distribuição de renda”. A presidente Dilma listou os valores que Libra pagará ao Estado brasileiro: R$ 270 bilhões em royalties; R$ 736 bilhões a título de excedente de óleo sob o regime de partilha; R$ 15 bilhões, pagos como bônus de assinatura do contrato. E emendou: “isso alcança um fabuloso montante de mais de R$ 1 trilhão. Repito: mais de R$ 1 trilhão. Só para vocês terem ideia do que isso significa, basta lembrar que a produção total do Brasil, em 2014, deverá ficar próxima de 2 milhões e 100 mil barris de petróleo diários, enquanto o Campo de Libra vai alcançar, no seu pico de produção, 1 milhão e 400 mil barris de óleo por dia. Ou seja, daqui a uma década, Libra pode representar, sozinha, 67% de toda produção atual de petróleo do Brasil.” leia matéria completa em http://bit.ly/17m8Gvn

Tânia Rêgo / Agência Brasil

o leilÃo

manifestação contra o leilão do campo de libra, na Barra da tijuca, Rio de Janeiro

leilão de libra ocorre sem plano de

impacto ambiental lei de 2000 obriga a elaboração de um plano de contingência contra vazamentos

o leilão da área de libra, o priMeiro do prÉ-sal sob o regiMe de partilha e Maior área já licitada No país, coM reservas estiMadas eNtre 8 e 12 bilhões de barris de petróleo, acoNteceu eM 21/10 seM que o goverNo teNha uM plaNo de coNtiNgêNcia aprovado para MiNiMizar o iMpacto de uM possível desastre ecológico eM caso de vazaMeNto de petróleo No Mar. Há mais de um ano permanece em alguma gaveta do Palácio do Planalto um relatório elaborado com a participação de 16 ministérios carregando os princípios básicos a serem adotados nesses casos, sem que a análise tenha sido concluída e o plano aprovado. Em abril de 2012, o Ministério de Minas e Energia (MME) apresentou na Câmara dos Deputados um desenho completo de como funcionaria o Plano Nacional de Contingência (PNC), previsto para ser implementado pelo governo desde a sanção da Lei 9.966, em 2000. Isso significa que há 13 anos o governo descumpre a lei federal. A audiência pública ocorreu após os acidentes no campo do Frade, na Bacia de Campos, em novembro de 2011 e março de 2012, e o megavazamento no campo de Macondo, do Golfo do México, em 2010. Coordenador da proposta, o MME informou que “os estudos sobre o PNC foram concluídos pelos ministérios responsáveis e estão sob a avaliação da Presidência da República”. A Casa Civil informou, porém, que o tema ainda está “em discussão” no governo, mas não soube informar quando ocorreu a última reunião. O último debate no governo sobre o plano de contingência de que se tem notícia ocorreu em 10 de maio de 2012. O PNC deve definir os papéis de entidades federais como Marinha, Ibama e Agência Nacional do Petróleo (ANP) – que seriam os coordenadores operacionais do PNC – em caso de acidentes de grandes proporções. Depois do vazamento de Frade, o plano foi ampliado para incorporar procedimentos até então não previstos em casos de vazamentos menores. De acordo com o professor Segen Estefen, especialista em engenharia oceânica da Coppe/UFRJ, falta ao Brasil uma melhor estruturação dos sistemas de proteção ao oceano já existentes, o que inclui o estabelecimento do PNC. “O Brasil tem a oportunidade de liderar questões ambientais em águas profundas”, diz. Para ele, além da tecnologia de exploração do pré-sal, o Brasil poderia também consolidar e até exportar essas tecnologias de mitigação de riscos que estão espalhadas por empresas, universidades e institutos de pesquisa no país, com equipamentos, de satélites a laboratórios. “O tempo de exploração de Libra, que vai durar quatro ou cinco anos, é estratégico para estruturarmos o sistema de proteção aos oceanos, com desdobramentos internacionais”, observa. Apesar de o Plano Nacional de Contingência não existir, o governo alega que alguns de seus princípios já foram postos em prática. Por exemplo, os sistemas de interlocução entre Marinha, ANP, Ibama, na forma proposta do PNC, já foram adotados no segundo vazamento de Frade, em março de 2012. Fonte: http://bit.ly/1igo5Eh

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O caso dos

beagles

T. Rolf (sxc.hu)

texto Dener Giovanini

10 animais

O dia que os latidos fizeram a caravana perder o rumo

Confesso que tive que exercitar muito o domínio da paciência antes de sentar e escrever essas linhas sobre o “Caso dos Beagles”. Conforme ia lendo as notícias que pipocavam nas redes sociais e na imprensa, sentia-me muito tentado a emitir uma opinião, a tomar uma posição. Achei mais prudente esperar um pouco para ter uma visão mais consolidada a respeito. Passado o impacto inicial, porém ainda distante de um desfecho para o caso em questão, é possível analisar com mais imparcialidade e cautela os fatos que ocorreram na cidade de São Roque. A ação dos “ativistas” – como assim classificou a mídia às pessoas que adentraram no Instituto Royal, com o objetivo de retirar de lá alguns animais que estavam sendo utilizados para pesquisas científicas – causou comoção e revolta. Alguns, ao verem os simpáticos Beagles saindo do laboratório no colo dos manifestantes, de imediato aplaudiram a ação e endossaram o coro dos que acusaram o centro de pesquisa de praticar tortura, extermínio e maus-tratos aos animais. Outros, ao contrário, condenaram a ação e a taxaram, inclusive, de terrorismo. De um lado e de outro, tudo foi sendo temperado com emoções carregadas, inverdades e acusações infundadas. Para termos uma ideia mais próxima da realidade dos fatos, é necessário responder a algumas perguntas básicas. São elas: a) O laboratório praticava maus-tratos a animais? Depende. E esse depende é um ponto crucial nesse debate, pois o que é maus-tratos para alguns, para outros não o é. Para os pesquisadores que trabalhavam no laboratório, não existiram maus-tratos. Para os ativistas sim. Utilizar animais em pesquisas científicas – sem aqui entrar no mérito da sua validade ou eficácia, sejam elas quais forem – não é crime. Crime se configura quando essas pesquisas são realizadas sem conhecimento e consentimento dos órgãos de fiscalização e controle. Nesse caso, faz-se necessária uma segunda pergunta: b) O Instituto Royal dispunha de autorização dos órgãos governamentais que fiscalizam as práticas científicas envolvendo animais? out 2013 revista do meio ambiente

Sim, tinha. O Instituto Royal é uma Oscip (Organização Social Civil de Interesse Público), uma espécie de ONG (Organização Não Governamental) que testa a segurança de medicamentos para uso humano e, como tal, se reporta ao Ministério da Saúde, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e ao Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), órgão subordinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Respondidas essas duas questões iniciais temos, de pronto, uma primeira conclusão: a ação das pessoas que adentraram nos recintos do Instituto Royal foi, no mínimo, uma ilegalidade. Uma instituição de pesquisa, devidamente credenciada e autorizada a funcionar em território nacional não pode, sob que pretexto for, ser alvo de invasão e depredamento. O próprio Ministério Público estava investigando a mais de um ano a instituição e, até aquela data, não havia apresentado provas de que eram praticados maus-tratos naquela organização. Portanto, sem provas materiais, deduz-se que as possíveis ameaças aos animais naquele recinto não passavam de suposições. Suposições que serviram de argumento para justificar a invasão do local. E mesmo que tais provas existissem, cabia única e exclusivamente a polícia e a justiça a apuração dos fatos e a punição dos responsáveis, se o caso assim exigisse. O Instituto Royal também pecou. Principalmente pela falta de transparência e pela ausência de uma política interna de comunicação, que mostrasse ao público que as acusações eram equivocadas. Logo após o incidente em São Roque, o laboratório retirou o seu site do ar, indicando com isso que, no mínimo, está desqualificado para lidar com a opinião pública. Sua obrigação institucional era divulgar, o mais rápido possível, uma resposta às críticas e demonstrar a importância do trabalho que ali se realizava, se a verdade fosse essa. Por omissão, a instituição de pesquisa acabou ajudando ainda mais a proliferação da indignação pública, acarretando inclusive em manifestações mais violetas, que culminaram com incêndios de veículos em via pública. Independente do desfecho desse caso, onde se espera que sejam apontadas as responsabilidades de todos os envolvidos, deve-se atentar, desde já, para alguns pontos que são fundamentais nesse episódio: Primeiro, que é um grande equívoco satanizar a ciência. O Brasil está lutando há anos para o desenvolvimento do seu conhecimento tecnológico e, infelizmente, devido aos parcos recursos humanos e materiais, ainda está muito longe de um cenário ideal. Os cientistas brasileiros produzem ciência de forma quase heroica e, em muitos casos, colocando dinheiro do próprio bolso para custear suas pesquisas. Poucos são aqueles que dis-


11 põem de laboratórios de ponta ou de salários condizentes com as suas responsabilidades. Ações como as que ocorreram em São Roque só complicam ainda mais esse quadro, pois afastam investimentos e financiamentos nacionais e estrangeiros, uma vez que contribui para aumentar a insegurança jurídica e patrimonial sobre as pesquisas. Segundo, as pessoas que participaram e incentivaram a libertação dos cães do Instituto Royal foram, além de tudo, inconsequentes. Se mal tinham provas das acusações de maus-tratos, muito menos deviam saber que tipo de pesquisa se realizava lá. Aqueles cães poderiam estar infectados por patógenos que poderiam ter causado um sério risco para a saúde pública. Muitas pesquisas sobre malária, raiva, toxoplasmose ou outras doenças infecciosas, por exemplo, em algum momento do seu desenvolvimento podem utilizar animais confinados. Retirar esses animais de um ambiente controlado e espalhá-los num grande centro urbano, como São Paulo, é no mínimo uma enorme irresponsabilidade. Terceiro, ninguém – por mais nobre que seja seu objetivo – pode se colocar acima da lei e invocar o direito de julgar e executar uma punição. Tomar para si a missão de decidir o que é certo ou errado para a coletividade, sem a devida competência técnica ou legal para isso é, no mínimo, afrontar a democracia e desrespeitar o Estado de direito. Quem assim age, se descredencia para defender qualquer tipo de reivindicação, seja para humanos, seja para animais. Quarto, todo e qualquer tipo de maus-tratos a animais deve ser combatido. Ponto. A necessidade de se usar animais em pesquisas científicas deve sim ser questionada. Existem alternativas? Onde elas estão? Se existem, por que no Brasil continuamos utilizando animais? E o melhor lugar para um debate sério e aprofundado é no Congresso Nacional e não através da mídia ou das redes sociais. Se a legislação é boa ou ruim, cabe unicamente aos representantes do povo reformá-la ou aprimorá-la. O que não se pode

é agir como se elas não existissem. A Câmara dos Deputados acabou de criar uma comissão externa para averiguar se existiram maus-tratos no Instituto Royal. Essa Comissão pode dar uma grande contribuição ao país se pontuar a sua atuação com base na isenção e, principalmente, se criar um canal de diálogo entre a sociedade e os fazedores das leis. E acima de tudo, deve imperar a razão e o equilíbrio. Os fatos que notabilizaram a cidade de São Roque para o Brasil e para o mundo, podem abrir um precedente muito perigoso. Definir o que é maus-tratos em se tratando de animais é uma tarefa árdua e complicada, pois estamos falando de muitas outras atividades, que vão muito além dos espaços destinados à pesquisa científica. Para muitas pessoas, rodeio é sinônimo de maus-tratos, para outras, os zoológicos também. Galinhas confinadas em granjas idem. Assim como para muita gente, o simples fato de comer carne também o é. Quem aprovou a ação “em favor” dos beagles também aprovaria para os demais casos aqui citados? Precisamos de respostas. E rápido. Antes que o Brasil se torne uma terra onde se fazer justiça se confunda com o se fazer o que se quer. Se assim for, será realmente o início do fim. Fonte: http://blogs.estadao.com.br/dener-giovanini

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Amazônia

texto Elton Alisson

12 denúncia

© Greenpeace / Daniel Beltra

Por trás do desmatamento da

Fumaça proveniente das queimadas para limpar a terra para pecuária. O crescimento da atividade é responsável pela maior parte do desmatamento do país e também a maior fonte de emissão de gases do efeito estufa

Mais de 50% das emissões de gases de efeito estufa do bioma são causados pela demanda do restante do país e do exterior por insumos produzidos na região, aponta estudo feito na USP O consumo interno do Brasil e as exportações de soja, carne bovina e outros produtos primários provenientes da Amazônia são responsáveis por mais da metade das taxas de desmatamento e, consequentemente, das emissões de gases de efeito estufa (GEE) registradas pelo bioma. A avaliação é de um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da Universidade de São Paulo (USP), no âmbito de um Projeto Temático, realizado no Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG). Os resultados do estudo foram apresentados no dia 12 de setembro durante a 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais (Conclima), realizada pela Fapesp em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC), em São Paulo. “Mais da metade das emissões de GEE da Amazônia acontecem por conta da demanda de consumo fora da região, para abastecimento interno do país ou para exportação”, disse Joaquim José Martins Guilhoto, professor da FEA e um dos pesquisadores participantes do projeto. De acordo com dados apresentados pelo pesquisador, obtidos do segundo Inventário Nacional de Emissões de Gases de Efeito Estufa – publicado no final de 2010, abrangendo o período de 1990 a 2005 –, em 2005 o Brasil emitiu mais de 2,1 gigatoneladas de CO2 equivalente. A Amazônia contribui com mais de 50% das emissões de GEE do país. A fim de identificar e entender os fatores econômicos causadores do desmatamento e, por conseguinte, das emissões de GEE na Amazônia naquele out 2013 revista do meio ambiente

ano, os pesquisadores fizeram um mapeamento das emissões diretas por atividade produtiva separando a Região Amazônica do restante do Brasil e calcularam a parcela de contribuição de cada um na emissão de CO2 equivalente, assim como a participação das exportações. Os cálculos revelaram que as exportações diretas da Amazônia são responsáveis por 16,98% das emissões de GEE da região. Já as exportações do resto do país são responsáveis por mais 6,29% das emissões da Amazônia, uma vez que há produtos provenientes da região que são processados e exportados por outros Estados brasileiros. O consumo interno, por sua vez, responde por 46,13% das emissões amazônicas, sendo 30,01% pelo consumo no restante do país e 16,12% pelo consumo dentro da própria Região Amazônica, aponta o estudo. “A soma desses percentuais demonstra que mais de 50% das emissões de GEE da Amazônia ocorrem por conta do consumo de bens produzidos na região, mas consumidos fora dela”, afirmou Guilhoto. “Essa constatação indica que os fatores externos são mais importantes para explicar as emissões de GEE pela Amazônia.”


13 Segundo o estudo, a pecuária, a produção de soja e de outros produtos agropecuários são os setores produtivos que mais contribuem para as emissões de GEE pela Amazônia. Mas, além deles, há outros setores econômicos, como o de mobiliário, entre outros, que são fortemente dependentes de insumos produzidos na região. “Os dados obtidos no estudo mostram que, de modo geral, apesar de haver uma dependência muito maior da Amazônia pelos insumos produzidos pelo resto do Brasil, a pouca dependência que o resto do Brasil tem do bioma se dá em insumos fortemente relacionados com a emissão de GEE na região”, resumiu Guilhoto. Redução do desmatamento Em outro estudo também realizado por pesquisadores da FEA, no âmbito do Projeto Temático, constatou-se que entre 2002 e 2009 houve uma grande expansão da área de produção agropecuária brasileira e, ao mesmo tempo, uma redução drástica das taxas de desmatamento da Amazônia. A cana-de-açúcar, a soja e o milho responderam por 95% da expansão líquida da área colhida entre 2002 e 2009, enquanto o rebanho bovino teve um acréscimo de 26 milhões de cabeças de gado. Nesse mesmo período a Amazônia registrou uma queda de 79% do desmatamento. A fim de investigar os principais vetores do desmatamento no país, uma vez que boa parte dos eventos de expansão agropecuária ocorre fora da Amazônia, os pesquisadores fizeram um estudo usando análises espaciais integradas do território brasileiro, incluindo os seis biomas do país. Para isso, utilizaram dados sobre desmatamento obtidos do Projeto Prodes, do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), além de imagens georreferenciadas obtidas dos satélites Landsat, da agência espacial norte-americana Nasa. O estudo revelou que, no período de 2002 a 2009, foram desmatados 12,062 milhões de hectares da Amazônia, 10,015 milhões de hectares do Cerrado, 1,846 milhão de hectares da Caatinga, 447 mil hectares do Pantanal, 375 mil hectares da Mata Atlântica e 257 mil hectares do Pampa. “A soma desses números indica que o Brasil desmatou em sete anos o equivalente ao Estado de São Paulo mais o Triângulo Mineiro ou uma Grã-Bretanha”, calculou Rafael Feltran-Barbieri, pesquisador da FEA e um dos autores do estudo. De acordo com o pesquisador, uma das principais conclusões do estudo foi que os

outros biomas estão funcionando como uma espécie de “amortecedor” do desmatamento da Amazônia. “Quando consideramos a expansão agropecuária do Brasil como um todo, vemos que boa parte da redução das taxas de desmatamento da Amazônia se deve ao fato de que os outros biomas estão sofrendo essas consequências [registrando aumento no desmatamento]”, afirmou. Outra conclusão do estudo é de que há um impacto espacial sinérgico dos vetores do desmatamento no Brasil, uma vez que a expansão das diversas atividades agropecuárias – como o cultivo da cana e da soja ou a criação de gado – ocorre de forma concomitante e disputa território. No caso da cana-de-açúcar, uma das constatações foi que, no período de 2002 a 2009, a cultura passou a ocupar áreas desmatadas por outras atividades agropecuárias, embora ela própria não tenha vocação para desmatar. “Estamos percebendo que existe uma formação quase complementar entre as expansões [nos diferentes biomas] e isso faz com que os efeitos de desmatamento sejam altamente correlacionados”, disse Feltran-Barbieri. “Essa constatação leva à conclusão de que, se o Brasil pretende assumir uma posição de fato responsável em relação às mudanças climáticas – e disso depende a agropecuária –, é preciso fazer planejamento estratégico do território, porque o planejamento setorial não está dando conta de compreender esses efeitos sinérgicos”, avaliou.

…mais de 50% das emissões de GEE da Amazônia ocorrem por conta do consumo de bens produzidos na região, mas consumidos fora dela. (Joaquim José Martins Guilhoto, professor da FEA)

Fonte: Agência FAPESP

Voluntários plantam 20 mil árvores no nordeste do Japão

Cerca de 3 mil voluntários plantaram 20 mil mudas de árvores em um dique construído recentemente na costa da cidade de Minamisoma, província de Fukushima, nordeste do Japão, no dia 6 de outubro. O evento, organizado por grupos e voluntários de Minamisoma, também contou com a participação das meninas membros do grupo pop AKB48. Os participantes foram divididos e plantaram mudas em montes de cerca de 200 metros a costa. O dique contém entulhos, madeira e outros detritos resultantes do terremoto e tsunami de março de 2011. O prefeito da cidade, Katsunobu Sakurai, disse que espera que as mudas protejam a população de tsunamis. As mudas devem chegar a 10 metros de altura em cerca de 10 anos. As informações são da rede NHK. Fonte: Mundo Nipo

revista do meio ambiente out 2013


Marcelo Camargo/ABr

texto Washington Novaes

14 artigo

Manifestação em São Paulo atraiu cerca de 30 mil pessoas

a mobilidade urbana

Serão extremamente úteis para o País, qualquer que seja o desfecho, as conclusões do atual debate que se trava em toda parte sobre mobilidade urbana, a partir das recentes manifestações de rua, assim como da criação de faixas exclusivas para ônibus na cidade de São Paulo. A discussão adequada do problema, a adoção de políticas principalmente nas regiões metropolitanas, poderá talvez evitar ou reduzir custos imensos e hoje progressivos. Um dos estudos recentes, do professor André Franco Montoro Filho, da USP, ex-secretário de Planejamento de São Paulo e ex-presidente do BNDES, afirma que o valor monetário de 12,5% da jornada de trabalho perdidos com uma hora nos congestionamentos de trânsito (além de uma hora, que seria “normal”) chega a R$ 62,5 bilhões anuais. E cada trabalhador, assim como cada condutor de veículos particulares, pagaria por esse “pedágio invisível” R$ 20 por dia (Folha de S.Paulo, 4/8). Não surpreende, assim, que a questão da mobilidade tenha ocupado a segunda posição no total de reivindicações nas 35 audiências públicas para discussão do plano de metas da atual administração da cidade de São Paulo (Estado, 27/6) – uma exigência da Lei Orgânica do Município. Em editorial (Uma aposta duvidosa, 9/8, A3), o jornal O Estado de S. Paulo já apontou a insuficiência das novas estratégias se limitadas à criação de faixas exclusivas para out 2013 revista do meio ambiente

não pode esperar mais O usuário terá que repensar o uso do carro. Não é simples mudar uma cultura – se fosse, alguém já teria feito

ônibus – embora aumentem a velocidade destes. Principalmente porque não há reordenação de linhas, faltam coletivos em muitos lugares, sobram em outros. E a reordenação enfrenta a oposição das empresas concessionárias de ônibus, que têm alta rentabilidade nos formatos atuais. Pode-se acrescentar ainda que não há uma política nesse setor que englobe toda a área metropolitana. Tudo pode ter efeito apenas momentâneo – basta ver que as restrições que tiraram das ruas milhares de ônibus fretados e caminhões, assim como a implantação de novas pistas na Marginal do Tietê, “já perderam o efeito”. A necessidade de políticas mais abrangentes fica à mostra quando se veem números sobre grandes cidades brasileiras e sua influência no planejamento urbano – em geral, problemática. No Rio de Janeiro, o recente mapeamento das redes subterrâneas feito pela prefeitura carioca estimou haver 10.200 quilômetros de redes de esgotos no subsolo – “equivalentes à distância entre Brasil e Alemanha” – e 19 mil quilômetros de rede de cabos elétricos. Em São Paulo, a fiação elétrica chega perto de 40 mil quilômetros e só 3 mil são enterrados nos 17 mil quilômetros de ruas. Há mais de 30 afluentes sepultados sob o asfalto só nas imediações do Rio Tietê. As redes de drenagem também se estendem por milhares de quilômetros, embora ainda insuficientes, dadas as suas estreitas dimensões – e, entupidas, contribuem decisivamente para inundações. Que planejamento se fará para a mobilidade, em que tudo isso interfere – e sabendo ainda que mais de 1 milhão de pessoas “entram e saem da capital diariamente”? E de onde virão os recursos? Estudo da ONU calcula que a “transição para cidades sustentáveis” no mundo não ficará abaixo de US$ 40 trilhões até 2030 (Rádio ONU, 7/5). Quanto será em São Paulo? Seria, entretanto, muito proveitoso reconfigurar essas infraestruturas urbanas numa cidade como São Paulo, onde só a perda de água nas redes


Fonte: Planeta sustentável / O Estado de S. Paulo.

Caça ilegal de

botos

Caça de botos para servir de isca em pesca preocupa autoridades do Amazonas

Chem 7 (Wikipedia)

subterrâneas de distribuição, por furos e vazamentos, não está muito abaixo de 40% do total, que é a média brasileira – calcule-se o prejuízo financeiro e o custo para os cidadãos. E pouco se avança em obras abaixo do solo no País (São Paulo ainda vai à frente). Os recursos para investimentos em mobilidade urbana mínguam, em lugar de crescerem. Obras que estavam previstas para até 2014, na Copa do Mundo, foram retiradas da lista das prioritárias (O Globo, 25/6). Em um ano reduziram-se em R$ 2,5 bilhões. E não se consegue “abrir a caixa-preta dos custos do transporte público, revisar contratos, promover de forma transparente o debate público sobre regras dos contratos de concessão” (blog da professora e urbanista Raquel Rolnik, relatora da ONU para o “direito à moradia adequada”, 24/6). E a questão não é só de mobilidade ou econômica, pode ser de saúde também. Estudo de cardiologistas do Hospital do Coração de São Paulo alerta (9/8) que “a tensão gerada por fatores do cotidiano como trânsito, violência e excesso de trabalho” – todos relacionados com a mobilidade – “causa aumento da pressão arterial e a liberação de hormônios que podem comprometer seriamente a saúde cardíaca (...), o estado de tensão e alerta contínuo pode levar à liberação de altos níveis de hormônios, que geram instabilidade no organismo e podem provocar espasmos na artéria coronária que irriga o coração, além de lesionar células cardíacas, conhecidas como miócitos, por causa do aumento dos radicais livres”. O cortisol e a adrenalina podem aumentar os batimentos cardíacos e elevar a pressão arterial. Pessoas já predispostas “podem sofrer infartos e até vir a óbito”. A questão vai chegando a níveis tais que o prefeito de São Paulo já diz que “o usuário terá que repensar o uso do carro” (Folha de S.Paulo, 8/8). Para ele, “não é simples mudar uma cultura – se fosse, alguém já teria feito”. Mas terá de fazer. E aceitar – como já foi discutido tantas vezes neste espaço – prioridades para o transporte público, sobre o transporte individual. E isso pode traduzir-se também em zonas de pedágio urbano, investimentos maciços e prioritários em metrô e trens urbanos, etc. Teremos, todos, de mudar nossos hábitos e visões. E trabalhar com otimismo em novas direções urbanas, principalmente os administradores públicos. Como disse o filósofo G. K. Chesterton (Doze tipos, Editora Topbooks, 1993, coordenação de Ivan Junqueira), “o homem que goza de popularidade deve ser otimista a respeito de tudo, ainda que seja apenas otimista em relação ao pessimismo”.

texto Mariana de Assis Espécie, Carine Cristina Gonçalves Galvão, Rodrigo Hipólito Tardin e Sheila Marino Simão

animais 15

Os pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) detectaram redução da população de botos-vermelhos, conhecidos popularmente como botos cor-de-rosa. O índice chega a 10%, por ano, em áreas específicas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá. A diminuição dos número de animais foi encontrada na área de atuação do Inpa dentro da reserva, que corresponde a 12% de local que tem 1,1 milhão de hectares. A informação consta no Dossiê Vermelho, um documento produzido pela Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa). Segundo o diretor-executivo da Ampa, Jones César, o lugar é monitorado há 19 anos pelo Inpa, órgão parceiro da associação. A queda no número de animais ocorreu pela primeira vez em 2006, apontada pela pesquisadora Vera da Silva, no Subcomitê de Pequenos Cetáceos da Comissão Internacional da Baleia (CIB). A matança do mamífero ocorre principalmente porque a carne é utilizada na pesca do peixe piracatinga, também conhecido por douradinha. O peixe é apreciado na culinária colombiana e sua aceitação cresceu no mercado brasileiro. O piracatinga é chamado, ainda, de urubu-d’água. O peixe alimenta-se de carne putrefata de outros animais. A caça de botos é terminantemente ilegal. De acordo com o Dossiê Vermelho, a produção do pescado de piracatinga é enviado para venda, sem fiscalização, através do porto de Tabatinga (a 1.108 quilômetros de distância de Manaus). Os frigoríficos de Fonte Boa (676 quilômetros) são um dos principais pontos de comercialização do peixe, segundo Jones César. Ainda de acordo com o documento, a extensão geográfica da cadeia de comercialização da piracatinga abrange os rios Madeira, Purus, médio Solimões, Japurá e a região da tríplice fronteira Brasil-Peru-Colômbia. Contudo, um levantamento mais atualizado e detalhado pode revelar um aumento desta área devido a aparente expansão da pesca. Fonte: Portal do Barés / Inpa, Ampa e Prefeitura de Tapauá

revista do meio ambiente out 2013


texto Fábio Paschoal

16 capa Bernard Gagnon (Wikimedia Commons)

as 10 árvores

mais extraordinárias na natureza A mais alta, a mais larga, a mais antiga: descubra algumas das plantas mais incríveis da Terra

Árvores estão constantemente competindo por comida, lutando para deixar descendentes, escapando de predadores. Elas podem escalar as outras para chegar à luz, enganar animais para dispersar suas sementes, e, em último caso, chegam até a matar. Assim como os animais, as árvores precisam se alimentar, e fazem de tudo para chegar à sua principal fonte de comida: a luz. As sequoias são as maiores árvores do mundo e podem ter mais de 100 metros de altura. General Sherman, uma sequoia de aproximadamente 2.100 anos possui um peso equivalente a dez baleias-azuis. Na tentativa de chegar ao topo, algumas espécies foram ao extremo e podem até matar. A figueira mata pau começa a crescer em cima de outras plantas. No processo acaba abraçando sua hospedeira, que não consegue mais transportar água e nutrientes, e acaba morrendo. Algumas delas estão na Terra há tanto tempo que presenciaram o nascer do sol mais de um milhão de vezes. As bristocne pines têm mais de 4.600 anos, e já estavam aqui quando as pirâmides do Egito foram erguidas ou quando Cristóvão Colombo chegou à América. Outras, como as cerejeiras e os ipês, não vivem tanto, mas possuem flores vistosas que embelezam os campos e as cidades pelo mundo. Infelizmente a maior ameaça a esses seres vivos é o desmatamento. Mas, na luta pela sobrevivência, as árvores desenvolveram estratégias extraordinárias e farão qualquer coisa para continuar existindo.

Jrbouldin (Wikimedia Commons)

Fonte: National Geographic Brasil ONLINE

out 2013 revista do meio ambiente

Baobá, um ecossistema em uma única árvore

O baobá pode sustentar a vida de incontáveis criaturas. Dos minúsculos insetos que perambulam por suas cavidades até o elefante, o maior mamífero terrestre, que procura a água estocada no tronco para sobreviver às duras condições dos desertos da África. Aves fazem seus ninhos nos galhos, babuínos devoram suas frutas, morcegos bebem o néctar de suas flores. É um mundo em forma de planta.

Bristocone pine, a árvore mais antiga

Bristocone pine é uma espécie de pinheiro que vive no limite. Localizados a três mil metros de altitude, nas California’s White Mountains, nos Estados Unidos, suportam temperaturas congelantes e ventos tão fortes que só conseguem crescer durante seis semanas por ano. São as árvores mais antigas da Terra. O indivíduo mais velho, Methuselah, foi descoberto em 1957 e acredita-se que tenha aproximadamente 4.600 anos. A localização dessa relíquia é mantida em segredo para evitar vandalismo.


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Mike Murphy (Wikimedia Commons)

A floração das cerejeiras anuncia o início da primavera no Japão. Entre março e maio o país é tomado por diferentes tons de branco e rosa que transformam a paisagem de forma deslumbrante. As árvores ficam floridas durante uma semana aproximadamente, e suas flores simbolizam a beleza e a fragilidade da natureza e da própria vida.

Figueira mata pau, a árvore assassina

A figueira mata pau é dispersa por aves e macacos. Quando eles defecam, as sementes frequentemente caem em um galho de outra árvore e começam a se desenvolver. As folhas procuram a luz enquanto as raízes buscam o solo. Durante o processo a árvore hospedeira é envolvida em um abraço mortal. A pressão exercida pela figueira é tão grande que a outra planta não consegue mais transportar seiva e acaba perecendo. Ela pode ser encontrada em regiões tropicais pelo mundo, incluindo o Pantanal, a Mata Atlântica e Amazônia.

Wolfhardt (Wikimedia Commons)

M. A. P. Accardo Filho (Wikimedia Commons)

Pikaridayo (sxc.hu)

Cerejeira, a beleza e a fragilidade da natureza

Sequoia gigante, a maior árvore do mundo

Cajueiro, o gigante de Piragi

O Cajueiro de Piragi é o maior do mundo. Uma mutação genética faz com que sua copa cresça sem parar. Hoje seu tamanho é equivalente a um campo de futebol. A árvore dá cerca de 70 mil frutos ao ano e é uma atração imperdível em Natal, Rio Grande do Norte.

General Sherman é o nome da maior árvore do mundo em volume segundo o Guinness, o livro dos recordes. A sequoia de 82,6 metros de altura, 25,9 metros de diâmetro, 1.814 toneladas e aproximadamente 2.100 anos se encontra no Sequoia National Park, Califórnia, Estados Unidos. Teria madeira suficiente para a produção de cinco bilhões de fósforos. Mas convenhamos, seria um desperdício cortar esse gigante só para acender o fogão de casa. revista do meio ambiente out 2013


Carolina Almeida / Estúdio Mutum

Nando Cunha (Wikimedia Commons)

texto Fábio Paschoal

18 capa

Ipê, uma explosão de cores

O fruto da castanheira (do Pará), chamado de ouriço, abriga sementes ricas em gordura e nutrientes em seu interior. No entanto, sua casca é tão dura que é impossível de ser aberta pela maioria dos animais. Porém, um pequeno mamífero de dentes fortes é capaz de fazer um buraco nessa armadura impenetrável. A cutia pode encontrar até 30 castanhas lá dentro, o que é muito para comer de uma vez só. As sobras são enterradas na terra, para uma refeição posterior. Mas a memória do pequeno roedor não é perfeita: algumas sementes são esquecidas no solo da floresta amazônica e darão origem a uma nova geração. O ouriço é deixado no chão e, quando começa a temporada de chuvas, se enche de água – a partir do buraco deixado pela cutia – e se transforma em um berçário para sapos e insetos. Nada é desperdiçado.

Cipreste mexicano, a árvore mais larga

A planta mais “gordinha” do planeta é um cipreste mexicano. Com 36 metros de cintura, a Árvore de Santa María del Tule, localizada no Estado de Oaxaca, México, ganhou um lugar no Guinness, o livro dos recordes, como a árvore com maior circunferência do mundo. out 2013 revista do meio ambiente

Michelle Reback (Wikimedia Commons)

Castanheira, a prova de que tudo na natureza está conectado

A floração dos ipês anuncia a primavera no Brasil. No final de agosto ou começo de setembro, as cidades e os campos são tomados por uma sucessão de cores. Primeiro são os roxos, depois os amarelos, brancos e finalmente os rosas. Cada árvore fica florida durante uma semana, aproximadamente. Então as flores caem, dando um colorido especial ao chão.

Embaúba, a pioneira

Quando uma clareira é aberta na floresta, as embaúbas são as primeiras árvores a ocupar o espaço. Possuem folhas largas, capazes de captar muita luz, aumentando a taxa de fotossíntese e, consequentemente, de crescimento. Seus frutos são atraentes para muitas espécies de aves e macacos. Na base de cada folha existe uma glândula de açúcar, um atrativo para formigas, que acabam se instalando no tronco oco da planta. Em troca, o exército de pequenos insetos irá proteger a planta contra os herbívoros. A embaúba é encontrada desde o México até o norte da Argentina.


Por quanto tempo a Terra permanecerá habitável?

Menos do que você imagina Até o momento, nenhum planeta semelhante à Terra foi encontrado no Universo conhecido De acordo com astrobiólogos da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, as condições de habitabilidade da Terra estão garantidas por mais cerca de 1,75 bilhão de anos. Mas isso não é tanto assim como você imagina. As descobertas, que foram publicadas este mês na revista Astrobiology, revelam o “prazo de validade” para a vida no planeta Terra com base em diversas variáveis, incluindo a distância do nosso planeta até o Sol e a variação de temperatura em que é possível ainda haver água líquida por aqui. A equipe de pesquisa observou as estrelas em busca de inspiração. Usando planetas recentemente descobertos fora do nosso sistema solar (os chamados exoplanetas) como exemplos, os cientistas investigaram o potencial desses mundos para abrigar vida. A pesquisa foi conduzida por Andrew Rushby. “Para fazer essas estimativas, nós usamos o conceito de ‘zona habitável’, que é calculado por meio da distância de um planeta da sua estrela em que as temperaturas ainda são propícias para haver água líquida na superfície”. “Usamos modelos de evolução estelar para estimar o final da vida útil habitável do planeta, determinando quando ele deixará de estar nessa zona habitável. Nós estimamos que a Terra deixará de ser habitável daqui a um período entre 1,75 e 3,25 bilhões de anos. Após este momento, a Terra entrará na ‘zona quente’ do sol, onde as temperaturas serão tão elevadas que os mares se evaporariam. Nós veríamos um evento de extinção catastrófico e terminal para todas as formas de vida”, completa Rushby. De acordo com o pesquisador, porém, as condições do ambiente para seres humanos e outras formas de vida complexas se tornarão impossíveis muito mais cedo, por conta das mudanças climáticas antropogênicas. “Os seres humanos estariam em apuros mesmo com um pequeno aumento na temperatura da Terra. Perto do final, apenas micróbios muito resistentes seriam capazes de suportar o calor”, disse. A evolução da vida complexa “Se olharmos para trás, percebemos que já havia vida celular na Terra há muito tempo. Tivemos insetos há 400 milhões de anos, os dinossauros surgiram 300 milhões de anos atrás, enquanto as plantas e as flores são de 130 milhões de anos atrás. Os humanos anatomicamente modernos apareceram apenas nos últimos 200 mil anos”, lembra. “Daí você consegue ver que é preciso muito tempo para a vida inteligente se desenvolver”, comenta Rushby. Ele afirma que a quantidade de tempo habitável de um planeta é muito importante porque nos conta sobre o potencial do local para a evolução da vida complexa – o que exige um longo período de condições de habitabilidade. “Isso nos permite investigar o potencial que outros planetas possuem para hospedar vida, além de compreender o estágio em que a vida pode já estar em outro lugar na galáxia”. “É claro que uma grande parte da evolução é uma questão de sorte – e isso não é concreto –, mas sabemos que espécies complexas e inteligentes como os seres humanos não poderiam surgir depois de apenas alguns milhões de anos do surgimento de qualquer vida em um determinado planeta, porque levamos

texto Bruno Calzavara

biodiversidade 19

75% de todo o tempo de vida habitável deste planeta para evoluirmos até este ponto. Acreditamos que, provavelmente, esta história está se repetindo em outro lugar neste momento”. Quase mil planetas fora do nosso sistema solar já foram identificados pelos astrônomos. A equipe de pesquisa analisou alguns deles como exemplos e estudou a natureza evolutiva de sua habitabilidade ao longo do tempo, tanto astronômico quanto geológico. “Curiosamente, não haviam muitas outras previsões baseadas nas zonas habitáveis disponíveis, razão pela qual decidimos trabalhar no desenvolvimento de um método específico para isso. Outros cientistas usaram modelos complexos para fazer estimativas apenas para a Terra, mas estes não são adequados para se analisar a situação de outros planetas”, relata. Os cientistas compararam a Terra a oito planetas que estão atualmente em sua fase habitável, incluindo Marte. Eles descobriram que os planetas que orbitam estrelas de menor massa tendem a ter zona habitável mais longas. “Um dos planetas no qual aplicamos nosso modelo foi o Kepler 22b, que tem uma vida útil habitável de 4,3 a 6,1 bilhões de anos. Ainda mais surpreendente é o Gliese 58d, cuja vida útil habitável está entre 42,4 e 54,7 bilhões de anos. Ou seja, este planeta ainda estará quente e agradável para acolher vida durante um espaço de tempo mais de 10 vezes maior do que a idade do nosso sistema solar”, explica Rushby. Até o momento, porém, nenhum verdadeiro planeta análogo à Terra foi detectado. “Mas é possível que haja um planeta habitável e parecido com a Terra dentro de um raio de 10 anos-luz de nós, o que é muito próximo em termos astronômicos. Entretanto, chegar lá levaria centenas de milhares de anos com a nossa tecnologia atual”. “Se realmente precisássemos nos mudar para outro planeta, Marte provavelmente seria a nossa melhor aposta. O planete está muito perto daqui e permanecerá na zona habitável até o final da vida útil do sol – ou seja, até daqui a seis bilhões de anos”, conclui. Fonte: Hype Science / Science Daily

revista do meio ambiente out 2013


texto Noêmia Lopes

20 unidades de conservação

mudanças no clima podem tornar obsoletas as unidades de conservação do país

Thomas Ruedas (Wikimedia Commons)

Deslocamento de animais em busca de melhores condições climáticas deve mudar a distribuição da fauna brasileira – e colocá-la fora de áreas protegidas

Rhaebo guttatus (ou Bufo guttatus) é uma espécie amazônica de sapo e a primeira registrada academicamente de anfíbio brasileiro capaz de lançar veneno das glândulas, localizadas nas costas do animal. É uma das espécies ameaçadas por perda do seu habitat natural

Os efeitos do aquecimento global no Brasil provocarão deslocamentos de aves, mamíferos, anfíbios e outros animais em direção a regiões com temperatura e umidade mais compatíveis às suas necessidades, indicam estudos da Rede Brasileira de Pesquisa e Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) em diferentes biomas. “Em consequência dessa movimentação, nosso atual sistema de unidades de conservação pode ficar obsoleto ou não muito eficiente”, afirmou Alexandre Aleixo, coordenador da sub-rede Biodiversidade e Ecossistemas da Rede Clima e pesquisador do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), durante a 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais (Conclima), ocorrida em São Paulo. Um dos grupos vinculados à sub-rede, formados por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), debruçou-se sobre a situação de 431 espécies de anfíbios que habitam a Mata Atlântica e fez projeções para o futuro (até 2080) a partir de três modelos climáticos. Os resultados, publicados em artigo na revista PLoS One, projetam uma redução de 72% na área atual de distribuição desses anfíbios e a extinção regional de 12% das espécies. “Nesse cenário, muitos dos animais terão de se dispersar para outros locais, uma vez que as condições de temperatura e umidade já não lhes serão adequadas”, explicou Aleixo. O artigo também indica quais seriam os pontos prioritários do bioma em termos de inclusão nos sistemas de conservação, a fim de oferecer proteção às espécies que forem forçadas a se deslocar por conta das mudanças climáticas. Ainda sobre o bioma Mata Atlântica, uma segunda pesquisa apresentada por Aleixo – um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com base em análises estatísticas para 2050 – revela o impacto das alterações no clima sobre a riqueza de espécies de aves. Considerando apenas o aumento de temperatura, 117 espécies podem perder área de distribuição, seis podem entrar no grupo de espécies ameaçadas e uma espécie pode ser extinta. Considerando o aumento de temperatura out 2013 revista do meio ambiente

e a ocorrência de desmatamento, os números sobem para 120, 14 e dois, respectivamente. “Também deve ocorrer movimentação entre as aves. Mas fica bastante claro que não são somente os deslocamentos que preocupam – a possibilidade de mais espécies ficarem ameaçadas requer atenção”, afirmou Aleixo. De acordo com o pesquisador, a situação é semelhante para outros grupos de animais, em diferentes regiões do país, como exemplifica um segundo estudo da UFG, que também resultou em artigo publicado na PLoS One. Desenhando cenários sobre o impacto das mudanças climáticas na distribuição das 55 espécies de marsupiais que ocorrem no Brasil, concluiu-se que em 2050 a maioria das espécies pode ter uma redução significativa de habitats adequados. As taxas de movimentação, nesse caso, também seriam relativamente altas, mas com variações ao redor do país. Os locais com clima atrativo seriam alguns pontos da região dos Pampas, a porção sul da Mata Atlântica, o norte do Cerrado e da Caatinga e o noroeste da Amazônia. Já para o bioma Amazônia, diversos modelos climáticos preveem que o setor de menor umidade, próximo a Tocantins, vai se tornar ainda mais seco. “As nossas previsões para 2020 e 2050 também apontam para um impacto muito maior das mudanças climáticas no sul da Amazônia do que ao norte da região, em função de variáveis ambientais e de altas taxas de desmatamento. Podemos ter um colapso do sistema florestal no sudeste da Amazônia, com imensos prejuízos para a biodiversidade”, disse Aleixo. Esses e outros resultados da sub-rede Biodiversidade e Ecossistemas contribuem para responder uma das questões norteadoras do grupo: historicamente, ao longo da evolução das espécies, outras modificações climáticas teriam contribuído para a aquisição de uma resiliência natural por parte de alguns animais? “Por enquanto, não temos indícios disso”, afirmou Aleixo. “As evidências mostram que a fauna sofre com as grandes modificações – no caso amazônico, particularmente com os processos de secamento da floresta.” Fonte: Agência FAPESP



Os 10 rios mais poluídos

do brasil

A qualidade da água dos rios e represas brasileiros está longe do ideal. Dados do IDS (Indicadores de Desenvolvimento Sustentável), do IBGE, revelam quais bacias de água doce estão em situação mais crítica. Os IQAs (Índice de Qualidade da Água) mais baixos são os dos altos cursos dos rios Tietê e Iguaçu, que atravessam, respectivamente, as regiões metropolitanas de São Paulo e Curitiba. • 10º lugar – Rio Doce, Minas Gerais: Com um percurso total de 853 km, drena os Estados do Espírito Santo e Minas Gerais, sendo a mais importante bacia hidrográfica totalmente incluída na Região Sudeste. Sem controle ambiental, a contaminação química e urbana ameaça a saúde dos moradores das cidades às suas margens e a escassez de água nos afluentes agrava a cadeia de problemas. • 9º lugar – Rio Paraiba do Sul, Rio de Janeiro: Formado pela confluência dos rios Paraitinga e Paraibuna, o rio nasce na Serra da Bocaina, no Estado de São Paulo, fazendo um percurso total de 1.120Km, até a foz em Atafona, no Rio. Pode-se citar como fontes poluidoras mais significativas as de origem industrial, doméstica e da agropecuária, além daquela decorrente de acidentes em sua bacia. • 8º lugar - Rio Caí, Rio Grande do Sul: A bacia hidrográfica do rio Caí equivale a 1,79% da área do Estado do Rio Grande do Sul e possui municípios com atividade industrial bastante desenvolvida. Destacam-se os municípios de Caxias do Sul e Farroupilha, localizados na Serra, com indústrias de alto potencial poluidor, principalmente do ramo de metalurgia e metal - mecânica. • 7º lugar - Rio Capibaribe, Pernambuco: Nasce na serra de Jacarará, no município de Poção, em Pernambuco, e banha 42 cidades pernambucanas. O rio recebe carga de resíduos de uma população estimada em 430 mil habitantes em seu entorno. O crescimento urbano desordenado foi responsável pela deterioração dos recursos ambientais que circundavam o rio, comprometendo a qualidade de vida das populações ribeirinhas. • 6º lugar - Rio das Velhas, Minas Gerais: Com nascentes na cachoeira das Andorinhas, município de Ouro Preto (MG), é o maior afluente em extensão do rio São Francisco. A presença de arsênio, cianeto e chumbo reflete a interferência do diversificado parque industrial da Região Metropolitana de Belo Horizonte. • 5º lugar - Rio Gravataí, Rio Grande do Sul: Separa as cidades de Canoas e Porto Alegre. São apontados como motivos para a poluição o esgoto que é jogado no rio sem tratamento, os resíduos sólidos largados por comunidades que trabalham com reciclagem e criam porcos e a poluição gerada por empresas, notadamente de adubo e areia. • 4º lugar - Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul: Repleto de curvas, o rio nasce nos morros do município de Caraá e percorre um percurso de cerca de 190 km, desembocando no delta do Jacuí. A alta carga poluente é proveniente de esgotos e indústrias, o que, além de provocar a mortandade de milhares de peixes, causa a proliferação de mosquitos. • 3º lugar - Rio Ipojuca, Pernambuco: Corta vários municípios de Pernambuco, inclusive nomeando um. O Ipojuca nasce em Arcoverde, no Sertão, e deságua em Suape, ao Sul do Grande Recife. O lixo e o esgoto, que são despejados no rio acabam aumentando os riscos de contaminação de doenças como leptospirose, casos de hepatite A e diarreia.

out 2013 revista do meio ambiente

Ao se poluir um rio, prejudica-se toda a vida. Conscientização é o começo: importante mesmo é mudar atitudes para melhorar nossas águas Ana Paula Hirama (Wikimedia Commons)

texto Assessoria de Comunicação/Abrampa

22 água

Apesar do projeto de despoluição, o rio Tietê, no Estado de São Paulo, é o mais poluído do país, segundo o IBGE

• 2º lugar - Rio Iguaçu, Paraná: Segundo rio mais poluído do país, ele é o maior do Estado do Paraná e faz divisa natural com Santa Catarina. Segundo biólogos, dois fatores podem explicar o elevado nível de poluição: passivo ambiental, presente há algumas décadas, com falta de investimento no saneamento ambiental, e o alto número de habitantes em volta do rio. • 1º lugar - Rio Tietê, São Paulo: Com 1.010 km², nasce em Salesópolis, na serra do Mar, e atravessa o Estado de São Paulo, banhando 62 municípios. Ocupa o topo do ranking por receber o esgoto doméstico e industrial no trecho da capital – menos da metade dos moradores da bacia do Alto Tietê têm esgoto tratado. A mancha de poluição do rio que, na década de 1990, chegou a cem quilômetros, tem se reduzido gradualmente no decorrer das obras do projeto Tietê. Fonte: ABES


água contaminada Uma população estimada em 40 milhões de pessoas, residentes em 20 capitais do país, está passível de contaminação por elementos que podem alterar o sistema hormonal do corpo. O alerta é do INCTAA (Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que publicou estudo que aponta um total de aproximadamente 800 “interferentes endócrinos”, que também podem agir sobre o organismo de animais. Falhas no sistema endócrino comprometem não apenas o bom desenvolvimento do corpo, mas até a capacidade de reprodução. Um dos elementos contaminantes detectado nos mananciais em todo o país é a cafeína. As capitais com os maiores índices dessa substância são Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Belo Horizonte e Vitória. No fim da lista, com os menores índices de contaminação, estão Manaus, Salvador, São Luís, Recife e Fortaleza. Os pesquisadores da Unicamp explicam que a quantidade de substâncias encontradas nos mananciais – que acabam indo parar no abastecimento – vem do próprio consumo humano. Produtos de higiene são as principais fontes, e muitos desses elementos vão parar nos esgotos que, pela falta de tratamento adequado, acabam sendo despejados diretamente nos mananciais. Como as leis que regem o abastecimento de água não mencionam essas substâncias, elas são ignoradas pelos procedimentos de limpeza, fazendo com que retornem ao consumo humano. Problemas A falta de cuidado no Brasil com esses elementos não reflete o cenário fora do país. Entidades internacionais demonstram preocupação com esse tipo de contaminação. No ano passado, por exemplo, a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) publicaram um relatório conjunto alertando para os possíveis riscos dessas substâncias, que podem comprometer os sistemas endócrinos humano e animal. Além disso, já existem estudos no Brasil que apontam alterações significativas nos organismos de sapos e peixes, frutos de contaminação por essas substâncias. Em alguns países, como o Canadá, já foram identificados problemas de contaminação por hormônios presentes em pílulas anticoncepcionais – fato que levou ao colapso da população de peixes: os machos passaram a apresentar características de fêmeas, impossibilitando a reprodução. No caso brasileiros, os pesquisadores alertam ainda para o fato de que o processo de tratamento de água não passou por grandes avanços, o que contribuiu muito para a deterioração da qualidade da água em todo o país. Com leis atrasadas, ignorando esse tipo de contaminação, a qualidade da água sempre aparece em boas condições nos testes regulamentados pelas portarias do Ministério da Saúde. Ainda não há casos graves de saúde constatados, mas os pesquisadores da Unicamp explicam que mudanças substanciais podem levar anos para aparecer, até mesmo uma geração. O poder da cafeína No levantamento do INCTAA foram coletadas amostras de água de mananciais e da água já tratada que chega à população de 19 capitais de Estados brasileiros e no DF (Distrito Federal). O nível de cafeína na água foi usado como indicador da presença de contaminantes que têm ação estrógena, isto é, um efeito semelhante ao do hormônio feminino. Segundo os

Vinte capitais do país têm água contaminada por cafeína e produtos de limpeza

Eurico Zimbres (Wikimedia Commons)

em 20 capitais brasileiras

texto Gilberto Simon

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pesquisadores, existem uma dificuldade química em achar, medir os compostos que têm atividade estrogênica, porque são vários hormônios, vários detergentes, pesticidas que têm essa atividade de confundir o sistema hormonal humano. Os cientistas explicam ainda que essas substâncias podem interagir entre si, de modo que o efeito estrógeno seja uma propriedade da mistura. “A toxicologia clássica não lida bem com misturas”. Experimentos em laboratório mostraram que a presença de cafeína na água coletada tem uma correlação com a atividade estrógena, tal como detectada em experimentos. segundo os pesquisadores da Unicamp, a cafeína presente na água é quase toda excretada pela atividade humana. Como as pessoas consomem muita cafeína, seja junto a medicamentos, refrigerantes, energéticos, sua concentração também permite determinar quanto de esgoto foi lançado na água. Grande parte dos estrógenos em zonas urbanas, onde não se usam pesticidas, vem do esgoto. Por isso, os pesquisadores tentaram encontrar uma impressão digital química, que não seja destruída na cloração, que possa ser parcialmente removida na estação de tratamento da água, mas que ainda permaneça em quantidades mensuráveis. A caféina acabou se mostrando um excelente indicador, dizem os cientistas da Unicamp. De acordo com eles, algumas estações de tratamento são capazes de remover até 99% da cafeína da água, por isso, mesmo quantidades muito pequenas podem indicar se o estresse do manancial por esgoto é alto. Fonte: Blog Porto Imagem / Jornal GGN

revista do meio ambiente out 2013


24 água

lixo & reciclagem

água de reúso:

o que é e onde pode ser utilizada Valter Campanato/ABr

Recurso é obtido por meio do tratamento dos esgotos e seu uso, além de racional, ainda gera redução de custos

As super

sacolas Cientistas desenvolveram uma nova forma de transformar sacolas plásticas em um supermaterial por Adam Clark Estes

Unaí (MG) - Cidade foi destacada em relatório de ONG britânica como exemplo mundial de abastecimento público de água: 100% das casas têm água tratada. Na foto, a estação de tratamento de esgoto da cidade

A água de reúso, obtida por tratamento dos esgotos, pode ser usada nas situações que não requerem água potável, mas que seja segura sanitariamente. A medida gera redução de custos e é uma opção racional de consumo. Cada litro utilizado representa um litro de água conservada nos mananciais. Embora tenha aparência semelhante à da água potável, a água de reúso não pode ser consumida para beber, cozinhar ou tomar banho. Seu uso é indicado como geração de energia, refrigeração de equipamentos, em processos industriais, lavagem de ruas e combate a incêndios. O recurso é vetado em piscinas ou descarga sanitária. O assunto é tão importante que faz parte da Estratégia Global para Administração da Qualidade das Águas, proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), para preservação do meio ambiente. É uma maneira inteligente e capaz de assegurar que as gerações futuras tenham acesso a água potável, esse recurso tão precioso e essencial à vida.

Água de reúso: onde pode? Onde não pode? • Limpeza de pisos, pátios, ruas ou galerias de águas pluviais; • Assentamento de poeira em obras de aterros e terraplanagem; • Preparação e cura de concreto em canteiros de obra; • Estabelecer umidade em compactação e solos; • Desobstrução de rede de esgotos e águas pluviais; • Combate a incêndios; • Geração de energia e refrigeração de equipamentos em diversos processos industriais.

Fonte: Rede Cluster de Educação Ambiental / Sabesp out 2013 revista do meio ambiente

• Irrigação de hortas (somente sob avaliação de técnicos da Sabesp); • Descargas de banheiro; • Lava-rápidos (somente sob avaliação de técnicos da Sabesp); • Piscinas, exceto para testes de estanqueidade (impermeabilização, detecção de vazamentos), desde que a área passe por desinfecção posteriormente.

Você certamente conhece alguém que acumula várias sacolas plásticas de mercado em casa para quem sabe um dia achar uma forma de reutilizá-las. Agora, graças a engenheiros australianos, essas sacolas podem não apenas ganhar um novo propósito como podem se tornar a tecnologia do futuro. Uma equipe da Universidade de Adelaide recentemente desenvolveu um método para transformar sacolas plásticas em nanotubos de carbono. Para ser mais específico, eles cresceram nanotubos em membranas de alumina a partir da vaporização dos sacos plásticos em um forno, e então mergulharam as moléculas isoladas de carbono nas membranas. Nanotubos de carbono estão entre os materiais mais fortes e duros conhecidos pelo homem e podem ser usados para tudo, desde eletrônicos a turbinas eólicas. E esse novo processo cria nanotubos ao mesmo tempo que ajuda a minimizar o problema do lixo. Esta não é a primeira vez que cientistas desenvolveram nanotubos de carbono a partir dos restos de sacolas plásticas. Em 2009, uma equipe do Laboratório Nacional de Argonne, em Illinois, nos EUA, criou um processo para converter os sacos em nanotubos de carbono usando um catalisador de acetato de cobalto. Eles então usaram os nanotubos para produzir baterias de íon-lítio. O problema com este método, no entanto, era que o cobalto usado era bastante caro, e apenas um quinto do material das sacolas plásticas era convertido para ser usado nos nanotubos. O novo método australiano é mais barato e mais eficiente. E ambos transformam o lixo em algo que pode ser útil, em vez de simplesmente ocupar espaço no armário da sua cozinha. Fonte: Gizmodo / PhysOrg



texto e fotos Maristela Crispim

26 comunicação ambiental

ods

Jornalismo na era dos Na abertura do V CBJA, a Ministra Izabella Teixeira destacou que os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) representam um avanço na área ambiental

O V Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (V CBJA) foi encerrado no sábado (19 de outubro), no Centro Universitário de Brasília (Uniceub), em Brasília, com algumas questões lançadas para reflexão entre jornalistas que cobrem a área ambiental; profissionais de comunicação que assessoram governos, organismos governamentais e não-governamentais; assim como estudantes presentes, membros ou não da Rede Brasileira de Jornalistas Ambientais (RBJA), promotora do evento. Na última palestra do Congresso, o jornalista Claudio Angelo reconheceu que a cobertura diminuiu nos últimos quatro anos. Lembrou do fechamento da editoria de meio ambiente do New York Times, no ano passado; que o acordo do clima ficou para 2015, possivelmente pra 2020; que as condições internacionais são desfavoráveis. Disse também que vivemos no Brasil um momento desenvolvimentista, onde a área do meio ambiente ocupa-se de administrar a vantagem da queda do desmatamento da Amazônia e licenciar obras; que o sistema de unidades de conservação foi atingido, as terras indígenas estão ameaçadas, a credibilidade do governo cai, os conflitos políticos e ambientais são muito mal cobertos. A despeito de todo esse pessimismo com uma ponta de ironia em cada frase, que lhe é peculiar, afirmou que a crise ambiental mais aguda já passou: “o desmatamento, que era de 19 mil km² ao ano, após decreto do Lula de 2007, foi reduzido a 6 mil km² ao ano. Mas ninguém lembra, no auge da época canavieira, que durou um século e meio, entre os séculos XVIII e XIX, que o desmatamento da Mata Atlântica era de 7 mil km² ao ano. “A história precisa ser contada. É preciso descobrir o ângulo certo para fazer essa história se tornar mais atraente”, ressaltou. out 2013 revista do meio ambiente

Fundada no segundo semestre de 1998, a Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA) é uma plataforma de interação entre jornalistas, estudantes, assessores de imprensa e acadêmicos interessados em discutir temas que envolvam jornalismo e meio ambiente. Para a interação entre seus membros e debates sobre temas referentes ao jornalismo ambiental, a Rede possui uma lista no Yahoo Grupos (http:// br.groups.yahoo.com/group/jorn-ambiente/)

Para ele, a cobertura do lançamento do relatório 5 do IPCC foi pífia se comparada com 2007. “Já que o relatório em si não foi superquente, a diferença maior é de contexto que de conteúdo. A cobertura é como o Dia da Marmota: já se sabe o título da primeira à última matéria previamente”, refletiu. Na opinião do jornalista, não é apenas o profissional de imprensa que sofre, mas as fontes também: “Os ambientalistas não tinham se recuperado do fracasso de Copenhague quando veio o baque do Código Florestal. A dependência financeira do governo tirou a capacidade crítica. Discurso da sustentabilidade é corporativo, é governamental e convenientemente sem sentido. Que pedaço do tri-


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Alguns dos bons momentos do V CBJA. Mais fotos no Facebook (http://on.fb.me/17JtzHp)

pé convém para cada um?” Para ele, o discurso pode ser usado de um extremo ao outro. Apesar de tudo isso, acredita que o jornalismo ambiental não morreu: “ele se mistura à pauta geral, como nos protestos de junho. Precisamos de bons jornalistas com enfoque para o meio ambiente. Eles precisam entender também de economia”, sugeriu. Reapropriação social da natureza O professor de Ecologia Política e Políticas Ambientais na Pós-Graduação da Universidade Nacional Autônoma do México Enrique Leff foi uma das grandes atrações do V CBJA. Tratou do tema “Rumo a um futuro sustentável: a economia verde e a reapropriação social da natureza”. Ele destacou que vivemos um momento de queda de interesse pela luta ambiental, de reflexão sobre saídas, de reconstrução, processo gerado por uma dinâmica construída do ideal de crescimento econômico sem limites, que não considera a natureza da vida. Falou sobre a responsabilidade do jornalista em relação à verdade: “Mas qual é a verdade? Da crise ambiental, da Economia Verde? O mundo não se mostra com essa transparência. Estamos frente a essa verdade incômoda que aparece para mudar nossas concepções”. Para ele, Economia Ecológica é um termo mais “friendly”, mas é preciso reconverter à lógica do crescimento econômico, crescer incorporando a lógica ecológica, com desmaterialização da produção, o reconhecimento da conexão da Economia com o desenvolvimento do Planeta. Leff citou a Lei da Entropia, que explica que na transformação da natureza em recursos naturais, por meio os processos produtivos, toda a matéria e energia utilizados geram também resíduos, mesmo com as melhores tecnologias. “Qualquer processo de transformação de energia gera degradação, que transforma toda a complexidade”, alertou.

ODS Ainda na abertura do Congresso, a titular do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Izabella Teixeira, que reservou um espaço em sua apertada agenda para os jornalistas que cobrem a área, destacou que os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) representam um avanço na área ambiental, não devidamente contemplada pelos seus antecessores Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM). Disse que um ano depois da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), caminhos de negociação da agenda do Desenvolvimento Sustentável estão sendo traçados em três frentes: primeiro o governo, se aproveitando da estrutura montada para a Conferência; depois o Centro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+), que começou a operar em junho este ano; e a sociedade civil. E, para ela, a mídia tem que fazer parte desse multilateralismo. Destacou, ainda, que a mobilização vem crescendo nos países em desenvolvimento. Embora tenha reconhecido que a negociação do clima tem avançado em uma tendência conservadora, com presença maior na lógica de negócio. Disse, também, que são esperados novos caminhos para a discussão urbana na sociedade brasileira, já que a maioria esmagadora da nossa população vive nas cidades. Falou de perspectivas sobre produção de alimentos, geração de energia limpa, segurança hídrica e erradicação da pobreza. “Todas as sociedades do mundo estão buscando isso, mas o Brasil vive em circunstâncias muito melhores”, afirmou, para mais adiante dizer que, sem mudança de mentalidade por parte dos parlamentares, “não dá” e que a discussão é de “adoção de modelo de larga escala” para atender a convocação da Organização das Nações Unidas (ONU) pós-2015. Encerrou sua fala destacando: “O Brasil tem condição de sair na frente. Mas só se houver uma pressão social muito grande”. Economia Verde A discussão sobre Economia Verde foi uma das mais animadas do Congresso. No painel – moderado pelo jornalista Carlos Tautz, coordenador Instituto Mais Democracia – Transparência e Controle do Cidadão e Governos e Empresas – estavam o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Eduardo Viola; a pesquisadora independente Camila Moreno; Luisa Madruga, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma); e Pecy Soares Neto, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O professor Viola destacou o que designou de “vetores técnico econômicos da transição para o baixo carbono”. Alertou para o cuidado com a simplificação. “Vivemos num grupo, aberto, incerto. Não é um grupo conserrevista do meio ambiente out 2013


texto e fotos Maristela Crispim

28 comunicação ambiental vador, mas sim a sociedade”. Ele destacou a “função histórica extraordinária do Pnuma”, mas disse que falta a Economia Política e prevalece uma visão de economia tecnocrática, de discurso moderado. “A utopia rosa de que todos ganham debilita o documento”. Luisa Madruga destacou, por sua vez, a necessidade de um modelo de Economia que resulte no bem-estar da sociedade e apresentou o Green Economy Initiative (GEI), o documento rumo à Economia Verde com caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a erradicação da pobreza. “Não podemos mudar o mundo de um dia para o outro. Mas alguma coisa tem que ser feita”, argumentou. Essas reações se deveram ao discurso de Camila Moreno, que fez uma análise bem crítica sobre a Economia do Carbono. Para ela, o discurso da Sustentabilidade não resiste a uma leitura aprofundada. Já Pecy Soares, que chegou em meio a essa discussão, disse que há setores que ganham e setores que perdem com transição e sugere que não se deve cair no risco de analisar o setor dos negócios como um bloco homogêneo. Tautz, por sua vez, encerrou a discussão dizendo que essa não e uma discussão trivial, que o jogo de forças é intenso e que a Economia Política precisa ser debatida. Segurança Alimentar Exatamente um dia após o Dia Mundial da Alimentação, eu moderei o painel “Uso e Manutenção dos Recursos Naturais e a Segurança Alimentar”. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) emitiu um alerta global para reduzir o desperdício de comida no mundo. Nele, a constatação de que 842 milhões de pessoas passam fome e que 1,3 bilhões de toneladas de limentos vão anualmente para o lixo, o que representa 1/3 de tudo o que é produzido. Destacou, ainda, que seria necessário elevar em 32% a produção mundial para alimentar a população mundial até 2050. Na situação atual seria necessário aumentar em 60%. Participaram Gustavo Kuark Chianca, assistente do representante da FAO, que falou sobre “Necessidades da Humanidade e do Planeta”; Fabrício Campos, diretor da Unidade Footprint da consultoria ecosSISTEMAS, sobre “Equilíbrio entre Produção e Conservação”; André Lima, pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), com o tema “Avanço da Fronteira Agrícola X Desmatamento/Código Florestal. O tema “Tecnologias Locais de Conservação e Restauração da Agrobiodiversidade” ficou a cargo do pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Daniel Vieira. Chianca falou sobre o monitoramento da insegurança alimentar no mundo. Fabrício, por sua vez, mostrou imagens do livro “Hungry Planet” para promover, a partir do alimento de famílias de várias partes do mundo para uma semana, uma reflexão sobre a nossa própria pegada ecológica. Falou sobre diminuir o consumo e aumentar a biocapacidade. André Lima disse que a nossa política agrícola é menos social e mais macroeconômica; mais associada ao PIB e não voltada à segurança alimentar; que busca aumentar a produtividade com uso intensivo de agroquímicos e baixa produtividade por área; e onde menos de 25% do Plano safra vai para a agricultura familiar, que é responsável por mais de 70% do que vai para a mesa dos brasileiros. Daniel Vieira se mostrou preocupado com a abordagem da mídia a temas como Código Florestal, com a criação de memes e paradigmas. “Restauração virou plantar muda, contar e replantar”, disse. O V CBJA foi um momento muito rico em trocas de experiências, que não ficaram apenas nos auditórios, painéis e oficinas, mas e estenderam pelos corredores do Uniceub e ainda ecoa em registros jornalísticos, trocas de e-mails, mensagens e posts que devem continuar até o VI CBJA, em 2015, a ser realizado em uma capital brasileira ainda por ser definida. Aguardemos as próximas notícias. puBlIcAdo Em 22/10/2013 – dIáRIo do noRdEstE

out 2013 revista do meio ambiente

prÉdios

“verdes”

construções movimentam mais de r$13 bilhões no brasil texto Vanessa Barbosa

o Mercado da coNstrução susteNtável teM passado ileso pelo deseMpeNho errático da ecoNoMia brasileira Nos últiMos aNos. De acordo com um estudo realizado pela EY (antiga Ernst & Young), em 2012, os prédios verdes movimentaram R$ 13,6 bilhões no país. A pesquisa, feita a pedido do GBC Brasil, braço local do americano Green Building Council, entidade que concede o selo Leed de construção sustentável, indica que o valor dos imóveis que reivindicam a certificação alcançou 8,3% do total do PIB total de edificações em 2012, que foi de R$ 163 bilhões. De acordo com a consultoria, a demanda do consumidor por esse tipo de edifício e a crescente evidência de que eles conferem vantagens de mercado quantificáveis – que vão da economia de energia e corte de custos operacionais à valorização imobiliária – contribuem para a alta desse mercado. “Percebemos que a certificação desperta interesse dos investidores, principalmente em empreendimentos comerciais de alto padrão”, diz Luiz Iamamoto, gerente sênior da EY. Certificações A pesquisa levou em conta projetos registrados para o selo Leed. Mas além das certificação americana, é possível pleitear o selo Aqua de construção sustentável, concedido pela Fundação Vanzolini. Entre 2009 e 2012, o número de certificações de prédios segundo padrões ecológicos cresceu 412% no Brasil. São Paulo é o Estado com mais edifícios certificados, seguido do Rio de Janeiro e do Paraná. FontE: sustEntABIlIdAdEs / EXAmE

selos das certificações mais utilizadas


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30 política ambiental

Governo do Estado do Rio de Janeiro lança Inventário

A Secretaria do Ambiente, em parceria com o Serviço Florestal Brasileiro do Ministério do Meio Ambiente, lançou em 16 de setembro o Inventário Florestal Nacional no Estado do Rio de Janeiro, em solenidade no município de São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, em que foi também criado o Parque Natural Municipal da Mata Atlântica Aldeense. O inventário consiste em levantamento das espécies vegetais existentes em uma determinada área verde, através de coleta de materiais botânicos, com a finalidade de conhecer a situação atual da Mata Atlântica no Rio de Janeiro e dos ecossistemas associados, como, por exemplo, restingas e manguezais. As informações ajudarão a consolidar uma ferramenta de monitoramento da cobertura florestal do Estado do Rio de Janeiro. Na mesma cerimônia de lançamento do inventário, o prefeito de São Pedro da Aldeia, Cláudio Chumbinho, assinou decreto criando o Parque Natural Municipal da Mata Atlântica Aldeense, com 268 hectares e abrangendo os morros dos Milagres e do Frade, duas importantes áreas verdes da cidade. Ao acompanhar o início dos trabalhos do inventário, na sede do novo parque municipal, secretário do Ambiente, Carlos Minc, destacou a importância do estudo, cujo trabalho de campo deve durar oito meses. “O inventário florestal conta com recursos de R$ 2 milhões do Fundo de Compensação Ambiental (FCA), e será realizado em parceria com os municípios e com o Instituto Jardim Botânico. O Rio já foi o Estado que mais desmatou a Mata Atlântica e, atualmente, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é o que menos desmata. O inventário vai orientar as políticas públicas, como, por exemplo, quais espécies vamos plantar em hortos e em viveiros, onde vamos construir os corredores de biodiversidade, onde faremos parques e unidades de conservação”, explicou Minc, acrescentando que as folhas e os galhos coletados serão levados para análise no Instituto Jardim Botânico. As equipes – compostas por profissionais como engenheiros florestais e biólogos – coleout 2013 revista do meio ambiente

florestal Luiz Morier

Iniciado em parque de São Pedro da Aldeia, estudo levantará situação da Mata Atlântica no território fluminense

taram as primeiras amostras de material botânico (folhas, frutos e flores) e do solo no alto do Morro do Frade, no bairro São João, em São Pedro da Aldeia. Os dados sobre a coleta foram feitos de forma digital (via tablet). O Inventário Florestal inclui o levantamento da saúde e vitalidade das florestas e das espécies vegetais de determinadas áreas, por meio de coletas de materiais botânicos e mediações dos indivíduos arbóreos. Ao todo, 283 pontos do Estado do Rio de Janeiro serão visitados, principalmente as regiões de manguezais, restingas e demais formações florestais. Também serão coletados materiais botânicos (folhas, frutos e flores) e amostras de solo. As equipes percorrerão o território fluminense para realizar um trabalho de campo que deve durar cerca de oito meses, levantando informações sobre a vegetação nativa, usos da terra, altura e diâmetro de árvores, presença de epífitas (plantas que vivem sobre as árvores, como orquídeas e bromélias) e quantidade de serrapilheira (matéria orgânica sobre o solo). Além disso, farão levantamento socioambiental com moradores e proprietários rurais para identificar como estes utilizam as florestas e seus mais variados recursos. Os levantamentos da vegetação serão efetuados em unidades de conservação (federal, estadual e municipal) e em áreas particulares. O Inventário Florestal no Estado do Rio de Janeiro é um dos instrumentos da Política Estadual sobre a Mudança Global do Clima e Desenvolvimento Sustentável (artigo 7º, da lei Estadual 5.690/2010), e se tornou uma ação pública obrigatória pela Lei Federal 12.651/2012 (artigo 71), que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa no Brasil. Reflorestamento da Lagoa de Araruama Depois do evento, foi realizado o plantio de mudas em Faixa Marginal de Proteção (FMP) da Lagoa de Araruama com pescadores de São Pedro da Aldeia que foram beneficiados com ajuda de custo, no valor de R$ 500, das concessionárias Águas de Juturnaíba e Prolagos Serviços Públicos de Água e Esgoto. Foram beneficiados os pescadores que não tiveram direito ao seguro-defeso e estão sem poder trabalhar na pesca, que está proibida na Lagoa de Araruama devido ao período de defeso, de 1º de agosto a 31 de outubro, para favorecer a reprodução e o crescimento de inúmeras espécies de peixes. Como contrapartida a esse auxílio financeiro, esses pescadores se comprometeram a participar de ações ambientais, como, por exemplo, o reflorestamento das margens da lagoa. Atualmente, existem 16 espécies catalogadas na Lagoa da Araruama, dentre as mais comuns, a tainha, a perumbeba, o robalo e o camarão. Fonte: imprensa rj


PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ) COM ÁTILA NUNES E ÁTILA ALEXANDRE NUNES

Jaime Quitério, Átila Alexandre Nunes, Renata Maia e Átila Nunes

O programa Reclamar Adianta é transmitido durante a semana das 10 horas ao meio dia através da Rádio Bandeirantes AM 1360 (RJ), podendo também ser acessado pela internet: www.reclamaradianta.com.br Se desejar, envie a sugestão de um tema para ser abordado. Aqui os ouvintes participam de verdade. Abraços, Equipe do programa Reclamar Adianta

Ao lado do deputado está o filho dele, Átila Alexandre Nunes

PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA

RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)

De 2ª à 6ª feira, entre 10h e meio dia. Com Átila Nunes e Átila Alexandre Nunes Ouça também pela internet: www.reclamaradianta.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5588 twitter: @defesaconsumo www.emdefesadoconsumidor.com.br (serviço 100% gratuito) atilanunes@reclamaradianta.com.br atilanunes@emdefesadoconsumidor.com.br

PROGRAMA PAPO MADURO

RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ) De 2ª à 6ª feira, ao meio dia. Ouça pela internet: www.papomaduro.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5144 E-mail: ouvinte@papomaduro.com.br


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ano VIII • ed 64 • outubro 2013

A Revista do Meio Ambiente (revistadomeioambiente.org.br) é elaborada a partir das colaborações da Rede Rebia de Colaboradores e Jornalistas Ambientais Voluntários (RebiaJA – rebia.org.br/ rebiaja) e é distribuída de forma dirigida e gratuita, em âmbito nacional, em duas versões: 1) versão impressa – distribuída em locais estratégicos e durante eventos ambientais importantes que reúnam formadores e multiplicadores de opinião em meio ambiente e demais públicos interessados na área socioambiental (stakeholders) diretamente em stands, durante palestras, ou através de nossas organizações parceiras, empresas patrocinadoras, etc.; 2) versão digital – disponível para download gratuito no site da Revista bastando ao interessado: a) estar cadastrado na Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) – rebia.org.br (cadastro e associação gratuitas); b) estar logado no momento do download; c) preencher o campo do formulário com o comentário sobre o porque precisa da Revista do Meio Ambiente. Quem patrocina a gratuidade? A gratuidade deste trabalho só é possível graças às empresas patrocinadoras e anunciantes, às organizações parceiras e à equipe de voluntários que doam seu esforço, talento, recursos materiais e financeiros para contribuir com a formação e o fortalecimento da cidadania ambiental planetária, no rumo de uma sociedade sustentável.

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