Revista do Meio Ambiente 67

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Onça pintada 67 ano VIII • janeiro 2014

9772236101004

ISSN 2236-1014

aMbiente Rebia Rede Brasileira de Informação Ambiental

pode desaparecer da mata atlântica

“Açúcar é a droga mais perigosa do nosso tempo” Pesquisadores anunciam a extinção do Rio São Francisco Fábricas de filhotes Raízes ecológicas das insatisfações sociais



nesta edição 3

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18 capa Sede e Redação Tv. Gonçalo Ferreira, 777 - Jurujuba (Cascarejo, Ponta da Ilha) - Niterói, RJ - 24370-290 • Telfax: (21) 2610-2272 • vilmar@rebia.org.br • CNPJ 05.291.019/0001-58 A instituição A Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com a missão de contribuir para a formação e o fortalecimento da Cidadania Sociambiental Planetária, ofertando informações, opiniões, denúncias, críticas, com ênfase na busca da sustentabilidade, editando e distribuindo gratuitamente a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente, entre outros produtos e ações. Para isso, a Rebia está aberta à parcerias e participações que reforcem as sinergias com demais parceiros, redes, organizações da sociedade civil e governos, e também com empresas privadas, que estejam comprometidas com os mesmos propósitos. Fundador da Rebia A Rebia foi fundada em 01/01/1996, pelo escritor e jornalista Vilmar Sidnei Demamam Berna, que em 2003 recebeu no Japão o Prêmio Global 500 das Organizações das Nações Unidas de Meio Ambiente. www.escritorvilmarberna.com.br • (21) 9994-7634 Conselho Editorial A missão da Rebia só se torna possível graças a uma enorme rede de parceiros e colaboradores, incluindo jornalistas ambientais e comunicadores comunitários, e de seus mais de 4.000 membros voluntários que participam dos Fóruns Rebia, democratizando informações, opiniões, imagens, críticas, sugestões e análises da conjuntura, um rico conteúdo informativo que é aproveitado para a atualização diária do Portal e para a produção da Revista. São estes colaboradores que representam o Conselho Editorial e Gestor da Rebia, participando ativamente no aperfeiçoamento e na divulgação do Projeto. A Rebia na web • Facebook: facebook.com/REBIA.org.br Fórum REBIA SUL: www.facebook.com/groups/rebiasul/ Fórum REBIA SUDESTE: www.facebook.com/groups/ rebiasudeste/ Fórum REBIA CENTRO-OESTE: www.facebook.com/ groups/rebiacentrooeste/ Fórum REBIA NORDESTE: www.facebook.com/groups/ rebianordeste/ Fórum REBIA NORTE: www.facebook.com/groups/ rebianorte/ • Twitter: twitter.com/pmeioambiente • Linkedin: www.linkedin.com/company/rebia---redebrasileira-de-informacoes-ambientais?trk=hb_tab_ compy_id_2605630 • RSS: www.portaldomeioambiente.org.br/component/ ninjarsssyndicator/?feed_id=1&format=raw

Onça pintada pode desaparecer da Mata Atlântica por Karina Toledo

8 saúde & meio ambiente

“Açúcar é a droga mais perigosa do nosso tempo”

10 água

Pesquisadores anunciam a extinção do Rio São Francisco

16 animais

Fábricas de filhotes

28 artigo

Raízes ecológicas das insatisfações sociais

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4 • A fervura da sustentabilidade 5 • Baixe e leia 6 • Quintais verdes da capital mineira estão livres do IPTU 7 • Casa é construída com R$ 18 mil reais em apenas seis semanas 9 • Rio Amazonas “respira” dióxido carbônico da floresta 11 • Rio de Janeiro teme perda de água do Paraíba do Sul 12 • Cadastro Ambiental Rural passará a ser obrigatório em todo o país 14 • Novas espécies descobertas

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20 • Extremos de frio e calor podem estar indicando o novo normal com a mudança climática

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21 • Desastres naturais custaram US$ 125 bilhões em 2013, aponta relatório 22 • Ser ou não ser mercadoria: eis a questão! 25 • Viver perto de áreas verdes aumenta sensação de bem-estar 26 • Rio 50ºC 26 • Você sabia disso?

Imune/Isenta de Impostos A Prima (www.prima.org.br) é a pessoa jurídica responsável pela publicação do Portal do Meio Ambiente e da Revista do Meio Ambiente (termo de parceria assinado com seu editor e fundador, escritor Vilmar Sidnei Demamam Berna, e com a proprietária Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental) e por ser uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) registrada no Ministério da Justiça sob o nº 08015.011781/2003-61 é Imune/Isenta de Impostos (art. 15 da Lei nº 9.532 de 10 de dezembro de 1997). Razão Social: Prima – Mata Atlântica e Sustentabilidade • CNPJ 06.034.803/0001-43 • Rua Fagundes Varela, 305/ 1032 - Ingá, Niterói, RJ • 24.210.520 • Inscrição estadual: Ienta • Inscrição Municipal: 131974-8 • Conta Bancária: CEF ag. 3092 - OP 003 - C/C 627-5 • Contato: Ricardo Harduim • (21) 9962-1922 • harduim@prima.org.br • Renúncia Fiscal: Os patrocínios e doações de empresas tributadas por lucro real aos projetos da Rebia através da Oscip Prima poderão ser abatidos em até 2% do imposto devido declarado (ISSQN, do IRPJ, da CSLL, da COFINS e da contribuição para o PIS/PASEP, a que se refere o art. 64 da lei nº 9.430, de 27/12/1996).

30 • 5 formas de cultivar a felicidade nas escolas 32 • Não dá mais para ir de carro nas grandes cidades 34 • Ilha de plástico no Pacífico é maior que os EUA 36 • Guia do Meio Ambiente

Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas veiculados através dos veículos de comunicação da rebia expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da rebia.

Revista ‘neutra em Carbono’

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Foto de capa: Tambako The Jaguar (Flickr)

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revista do meio ambiente jan 2014


A fervura da

Cada nova pessoa que toma consciência da importância da sustentabilidade, ou que renova suas esperanças nela, a temperatura aumenta

sustentabilidade

Vivemos novos tempos, novos desafios, em que somos convocados a ser agentes ativos no processo da mudança para a sustentabilidade. Entre estes desafios está o de ter e manter a chama acesa da esperança. Veja por exemplo o processo que ocorre quando colocamos uma água para ferver. O aquecimento começa gradual até que a fervura apareça ao atingir os 100 graus Celsius. A fervura é apenas a parte visível de um processo que passou antes por diversos outros graus de temperatura. Se colocarmos pouca água, ferve mais rápido, se for muita, o processo demora mais tempo. A sustentabilidade é um processo com muita água, pois requer mais que apenas mudar tecnologias, requer mudar visões de mundo. Os mais pessimistas, podem achar que a temperatura subiu pouco, os mais otimistas, que já subiu muito. Mas sob qualquer ângulo que se olhe, ainda vai faltar muito para que a fervura se torne visível, embora já estejamos vendo alguns sinais numas bolhas aqui e ali. E aí, como acontece com a água, quando menos se espera a ebulição irrompe da superfície, quase instantaneamente, por todo o lugar. O principal combustível da fervura é a esperança. É ela que nos dá a motivação para transformar sonhos em ações, paciência para persistir, mesmo quando os resultados ainda não são tão visíveis! A esperança se alimenta também de informação e do diálogo. Nos animamos quando descobrimos outros, como nós, que não desistiram de lutar, quando recebemos notícias sobre bons resultados e boas práticas no rumo da sustentabilidade. Mas também nos animam as más notícias, no sentido que nos tirar da inércia e lembrar o quanto a luta ainda é grande e somos necessários. Precisamos reconhecer que a sustentabilidade ainda está mais no campo da utopia que da realidade, e que por isso precisamos exercitar a capacidade do diálogo e do entendimento, a fim de negociar, democraticamente, a sustentabilidade do possível, que talvez não seja a dos nossos sonhos, nem a dos sonhos do outro. A boa noticia é que o processo de mudança para a sustentabilidade já está em andamento, a chama já está acessa nas milhares de peque-

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Olga (Flickr)

texto Vilmar Sidnei Demamam Berna* (www.escritorvilmarberna.com.br)

4 editorial

Esta nova geração de crianças e jovens em pouco tempo estará nos substituindo na gestão dos negócios, nos cargos públicos, onde farão escolhas, e é melhor que façam escolhas diferentes das que conduziram a humanidade à beira deste colapso que não é só ambiental, mas principalmente moral, ético e civilizatório

nas ações, projetos, resultados, aquecendo essa fervura. Cada novo projeto que se inicia e que toma o rumo da sustentabilidade, cada nova pessoa que toma consciência da importância da sustentabilidade, ou que renova suas esperanças nela, a temperatura aumenta. Talvez não seja ainda para a nossa geração ver a fervura, mas sem nossas ações, sem nossos sonhos, o processo de mudança seria ainda mais lento. O que pode enfraquecer a chama – e até mesmo apagá-la – são os corruptos, os folgados, os indiferentes, os cruéis, os mal-educados, os maus cidadãos, os maus políticos, os violentos, os gananciosos, os egoístas, os vigaristas. Eles já nos tiram tanto ao tornarem este mundo pior do que poderia ser que se não formos capazes de – enquanto nos defendemos deles –, conservarmos a esperança, o amor, a bondade em nós, então a sustentabilidade poderá ser apenas mais uma boa ideia que não deu certo. A pior perda que podemos sofrer não é a de um bem material, ou uma cicatriz no corpo físico, mas é quando deixamos de acreditar no próximo, no amor, que um mundo melhor seja possível, que mudar irá valer a pena, e aí o cinismo, a indiferença, a descrença, a falta de gentileza toma o lugar da esperança. E em momentos assim, corremos o risco de nos tornar como os maus, pois ao tentar nos proteger do mundo, proteger nossa vul-


ecoleitura 5 nerabilidade, podemos construir muros em torno de nós em vez de pontes, muros de desencanto, ressentimento, amargura, culpa por não tentar. As novas gerações que começam em cada criança que nasce e cresce sob nossas responsabilidades é uma espécie de grito de socorro da vida pelo nosso bom senso e comprometimento. As crianças confiam nos adultos, incondicionalmente, de que terão um futuro, e que este futuro deverá ser melhor, por que cobramos delas que sejam pessoas melhores. Falhar com nossas crianças não deveria ser uma opção válida para nós. Para cada mau adulto que pode estar irremediavelmente comprometido com a insustentabilidade e se contenta com desculpa e argumentos para não mudar e para deixar este mundo pior do que encontrou, adultos devem se levantar, responsáveis e comprometidos com a mudança para um mundo melhor, para estimular e envolver, sensibilizar e motivar as crianças, pois assim como precisam de nós para crescer saudáveis, precisamos delas para ter um futuro. Esta nova geração de crianças e jovens em pouco tempo estará nos substituindo na gestão dos negócios, nos cargos públicos, onde farão escolhas, e é melhor que façam escolhas diferentes das que conduziram a humanidade à beira deste colapso que não é só ambiental, mas principalmente moral, ético e civilizatório. Trata-se de um enorme desafio que muitos de nós já estão enfrentando, mas não é fácil, pois tudo à nossa volta conspira para que as novas gerações se tornem consumidores vorazes antes de se tornarem cidadãos conscientes. Não podemos permitir que os maus nos tirem a esperança, pois poderemos falhar na tarefa de educar filhos melhores para um mundo melhor. E se isso acontecer, deixaremos que os maus nos derrotem completamente.

* Vilmar é escritor e jornalista, fundou a Rebia - Rede Brasileira de Informação Ambiental (rebia.

org.br), e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente), e o Portal do Meio Ambiente (portaldomeioambiente.org.br). em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas

Comentário Akatu

Para que a sustentabilidade saia do campo da utopia e seja, cada vez mais, uma realidade consubstanciada nas ações das pessoas, é preciso que o tema seja apropriado, por meio de informação e diálogo, pelas pessoas em geral, levando à percepção do enorme poder transformador contido nos seus atos cotidianos de consumo. Ao ser praticada em atos diários concretos, a sustentabilidade toca diretamente na realidade da vida das pessoas, e, com isso, pode ser melhor compreendida e ter maior possibilidade de mobilizar outras pessoas, criando um grupo cada vez maior voltado a contribuir para a sustentabilidade. Passar de consumidor comum a consumidor consciente obedece a essa lógica. Por exemplo, quando escolhemos comprar a quantidade de alimentos apenas suficiente para um determinado período, de forma a garantir que não haverá qualquer desperdício, nós estamos concretamente trabalhando a favor da sustentabilidade. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 1/3 dos alimentos produzidos por ano no mundo é desperdiçado. Anualmente, uma família média brasileira joga 255,5 kg de comida no lixo. Se poupasse o valor do alimento jogado fora, a mesma família acumularia mais de R$ 800 mil ao longo da vida! Milhares de pequenas ações de consumo consciente, multiplicadas ao longo do tempo, tem como resultado uma grande contribuição à sustentabilidade, além de, por outro lado, incentivar outras pessoas a agirem da mesma forma, levando a mitigar os problemas e a possibilitar caminhos mais sustentáveis Fonte: WWW.AKAtU.oRg.BR/teMAs/sUstentABIlIDADe/posts/A-FeRVURA-DAsUstentABIlIDADe#sthAsh.4XXnV11A.DpUF.

baixe e

leia

documentos importantes disponibilizados pela rebia para download gratuito

Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente http://bit.ly/1fawHQS O Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente explica diversos termos usados em Agronomia, Astronomia, Biologia, Botânica, Cartografia, Climatologia, Cristalografia, Ecologia, Engenharia Florestal, Física, Fitogeografia, Geologia, Geomorfologia e Silvicultura. Ele tráz mais de 2.800 verbetes e um amplo espectro de termos técnicos relacionados à área ambiental, principalmente aqueles de uso mais corrente.

Manual de Reeducação Ambiental http://bit.ly/1i95SPR O meio ambiente deixou de ser um assunto restrito a entusiastas e cientistas. Visto como árduo no passado, o tema agora ocupa as manchetes de jornais e até colunas sociais. Empresas, mídia, governos, bancos, artistas de todo o mundo passaram a discutir com urgência o que fazer para salvar o homem do aquecimento global e melhorar a qualidade de vida na Terra. Mas o que podemos fazer a respeito? As dicas e informações que você vai ler aqui podem ser aplicadas no seu dia-a-dia agora mesmo, em casa, no trabalho, nos espaços públicos e em sua vida pessoal. Mas em todas elas será preciso mudar alguns hábitos. Este manual pretende provar que é possível promover pequenos gestos que podem conduzir a grandes mudanças, se forem adotados por todos nós. Um bom começo é praticar os “três R’s”: reduzir, reutilizar e reciclar.

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6 sustentabilidade

Quintais verdes da capital mineira

estão livres do IPTU “A presença de árvores interfere no microclima de uma região. Melhora a qualidade do ar, embeleza, ameniza ruídos. É uma iniciativa louvável” Sancionada há mais de 20 anos, somente agora uma lei municipal que garante a preservação do meio ambiente na cidade poderá ganhar eficácia real. Um aviso na próxima guia do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) informará aos moradores de Belo Horizonte que, caso tenham uma extensa área verde preservada no quintal de casa, poderão ser premiados com isenção da taxa. Na teoria, a medida existe desde 1993. Mas é desconhecida pela população: apenas oito donos de chácaras e sítios foram beneficiados pela lei em todo esse tempo. Junto à prefeitura, criaram Reservas Particulares Ecológicas (RPEs), comprometendo-se a cuidar da natureza por pelo menos 20 anos. Outros quatro terrenos estão em análise, podendo integrar o grupo nas próximas semanas. Menos que o ideal A própria prefeitura admite que o número atual de reservas não faz jus ao tamanho da capital. Na tentativa de mudar o cenário, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) iniciou um amplo projeto de divulgação, afirma Márcia Moura, gerente de gestão ambiental do órgão. Além da veiculação nos boletos do IPTU, foi feito um mapeamento aéreo de BH que identificou os pontos onde há resquícios de vegetação. “Mais de 20 áreas têm potencial para se tornar RPEs. Já existe um cronograma de visitas que devem começar ainda em 2013. Um trabalho corpo a corpo, batendo na porta do proprietário para tentar convencê-lo a fazer parte do projeto”. A meta é a de que pelo menos uma nova reserva seja criada a cada ano. Não é tão fácil, porém, atingir o objetivo. “Os critérios são muito rigorosos. Além disso, a especulação imobiliária é muito forte hoje, podendo impedir que jan 2014 revista do meio ambiente

algumas pessoas se disponham a cuidar de uma área que poderia ser vendida”, comenta Kênio de Souza Pereira, presidente da Comissão de Direito Imobiliário da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais. Por outro lado, ele vê na lei uma saída para conter o avanço desenfreado de desmatamentos que, pouco a pouco, acaba com as áreas verdes remanescentes na capital. Vantagens “Belo Horizonte já teve o título de ‘cidade jardim’. Hoje, salvo alguns parques, não temos espaços significativos onde a natureza foi preservada”, lamenta Aluizio Durço Bernardino, mestre em turismo e meio ambiente e professor da faculdade Una. Mas quem tem o privilégio de viver próximo a uma área protegida, mesmo que pequena, usufrui dos benefícios que o verde traz. “A presença de árvores interfere no microclima de uma região. Melhora a qualidade do ar, embeleza, ameniza ruídos. É uma iniciativa louvável” Santuários guardam espécies de fauna e flora Conhecido como Condomínio Veredas, um terreno no bairro Nova Pampulha, na zona Norte, foi pioneiro na iniciativa. Há 19 anos, a área de 15 mil metros quadrados se tornou reserva particular ecológica que abriga nascentes, rica flora e diversas espécies de animais. Os guardiões são os próprios moradores. Dentre eles, Jairo Rômulo da Silva. Em 1979, ele comprou o terreno com 11 amigos. Parte do lote foi usada para construir casas e área de convivência. Décadas depois, faz questão de cuidar do verde que ainda existe no local. “No ano que vem, vamos renovar o contrato. Já recebemos a visita de técnicos da prefeitura, que ficaram impressionados com o trabalho de preservação que fazemos aqui”, afirma Luiz Henrique França Alves da Silva, filho de Jairo. Com 80 anos, Priscila Freire também mantém, sozinha, uma área de 50 mil metros quadrados no bairro São Bernardo, também na zona Norte. Dona da Chácara Santa Eulália desde a década de 70, ela viu matas vizinhas serem destruídas para dar lugar a casas e prédios, mas não abriu mão de preservar o ambiente que tinha perto de si. “Meu pai plantou muitas árvores quando comprou o terreno, nos anos 30. Desde que moro aqui, plantei outras 200. É o meu refúgio”. Critérios específicos As leis municipais 6.314 e 6.491, de 1993, dispõem sobre a instituição de reservas particulares ecológicas e os benefícios que os moradores ganham como contrapartida por preservar o meio ambiente. Será reconhecido como reserva ecológica o imóvel com condições naturais primitivas ou semiprimitivas recuperadas ou cujas características justifiquem ações de recuperação, pelo aspecto paisagístico. Donos de terrenos assim devem procurar a Prefeitura de BH. Após uma visita, será emitido parecer técnico informando se a área atende às exigências previstas em lei. O Conselho Municipal de Meio Ambiente é responsável pelo parecer final.


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Os prédios da cidade de Buenos Aires pagarão menos impostos por ter jardins no telhado, de acordo com uma lei recém-sancionada pelo governo local. A redução do ABL (equivalente ao IPTU brasileiro) será de até 20% para o edifício de “telhado verde” de acordo com a nova medida, que contou com ampla maioria dos votos da situação e da oposição, na votação realizada no fim do ano passado. O secretário de Desenvolvimento Urbano portenho, Daniel Chain, disse que a medida vale para os edifícios já existentes. O objetivo, afirmou, é “cuidar o meio ambiente” a partir de uma “mudança cultural”. “Nossa meta é ambiental. E entendemos também que devemos ser os primeiros a aplicar a iniciativa. Por isso, desde o ano passado, começamos a construir escolas com vegetação nos telhados. E o mesmo faremos em outros edifícios públicos”, disse o secretário à BBC Brasil. Segundo ele, seis escolas em construção na cidade terão jardins nos telhados e o mesmo ocorrerá, disse, no terraço do Teatro San Martín, no centro da cidade, que tem 50 anos e será reformado. Arquiteto com especialização em economia urbana, Chain lembrou que Buenos Aires integra o grupo chamado C40 (Climate Leadership Group, que reúne cidades que debatem saídas para preservação do meio ambiente) e que a nova meta de Buenos Aires será a exigência de que os novos edifícios já sejam erguidos com os jardins no telhado. “A medida sancionada é optativa e pretende estimular a criação destes pontos de vegetação. Mas neste ano enviaremos outro texto à Legislatura com a exigência de que novos prédios já tenham esses espaços verdes”, afirmou. A ideia, afirmou, é que a medida seja aplicada nos bairros onde são registradas as concentrações de construções na cidade. “Quanto maior o número de construções, maior a necessidade (de áreas verdes) para vivermos melhor”, afirmou. FontE: Estadão / BBC Brasil / Yamaguishi Orgânicos para a Felicidade

Casa é construída com R$ 18 mil reais em apenas

seis semanas http://www.steveareen.com

Prédios argentinos pagarão menos imposto por ter jardins no telhado

Ah! A casa própria. Passando de carroças e motorhomes (nossas favoritas, como bons nômades que somos) até casas de palha e barro, de fundações básicas até grandes sucessos da engenharia sustentável, frutos da mais fina inspiração humana, um misto futebolístico de técnica e beleza, a sintetização da capacidade da natureza, de nos prover tanto em criatividade como em material, a casa própria pode e deve ser pensada para favorecer a habitabilidade sustentável, alcançada com observações acerca da exposição aos ventos e a luz solar até aos materiais a serem utilizados, como tintas ecológicas, materiais de longa duração e, é claro, sem gastos absurdos ou desnecessários. E nosso desejo vai além de nosso próprio jardim e se estende a quem mais puder pegar no ar, e os exemplos estão espalhados pelo globo, do Brasil a Tailândia, conheça um deles: Steve Areen, além de ex-comissário de bordo, é um fotógrafo e músico que já viajou praticamente o mundo todo. Ele teve a oportunidade de construir uma pequena casa em uma fazenda de mangas, propriedade de um amigo, na Tailândia. E realizou o projeto em apenas seis semanas, gastando pouco mais de US$ 8 mil dólares (R$ 18 mil reais). Steve construiu uma pequena cúpula, utilizando tijolos de concreto local e com ajuda de apenas dois ajudantes. Depois, adicionou detalhes pessoais como portas, prateleiras, um lago e um mirante, que foram construídos utilizando material conseguido com a vizinhança. Apesar de ser abastecida por fontes convencionais de eletricidade e água, a casa é naturalmente aquecida e iluminada por grades janelas e o quarto tem um telhado verde. Já o banheiro, parece um pátio grego, com plantas e água corrente. Agora, Steve quer construir uma casa semelhante nos Estados Unidos, usando material sustentável. O desafio maior é conseguir manter o preço baixo e a velocidade da obra, pois as leis americanas para construção são mais severas. Fonte: JARDIM DO MUNDO.

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“Açúcar

é a droga mais perigosa do nosso tempo”

Velpen afirmou que é “tão difícil de largar [o açúcar] quanto o cigarro”. Segundo ele, quando as pessoas comem gorduras e proteínas, param quando se sentem satisfeitas, mas, no caso do açúcar, ingerem por mais tempo, até que o estômago comece a doer. A solução, na opinião do especialista, é tributar o açúcar da mesma forma que o álcool e o cigarro. Também sugeriu que a quantidade de açúcar que pode ser adicionada aos alimentos processados deve ser regulamentada. Açúcar em excesso é perigoso para o coração Há duas coisas que as pessoas que sofrem de doenças do coração e dos vasos sanguíneos ou que correm risco de desenvolvê-las devem controlar em especial: a gordura, que caracteriza os alimentos que contêm abundante colesterol e outros lipídios que se acumulam nas artérias; e os salgados, aqueles produtos ricos em sódio, um mineral que eleva a pressão sanguínea. Menos conhecidos, no entanto, são os efeitos nocivos de um terceiro “saboroso inimigo” da saúde cardiovascular: o doce. Disso não só se deduz que é preciso fechar a boca para batatas fritas, manteiga, carnes e produtos précozidos, mas também para aqueles abundantes em açúcares. Uma dieta saudável para a circulação não só deve ser moderada em sódio, o que eleva a pressão sanguínea, mas também em doces, de acordo com as últimas recomendações da Associação do Coração dos Estados Unidos, que aconselha reduzir o consumo de açúcar porque muita gente supera os 25 gramas diários aconselhados para a mulher e os 37,5 recomendados ao homem. Os pesquisadores da American Heart Association (AHA, na sigla em inglês) apontam especialmente para as bebidas gasosas e refrescos: A fonte número um de açúcar acrescentado na dieta, nos EUA e também uma das principais fontes de açúcares adicionais em muitos outros países onde estes refrescos são amplamente consumidos. “Pela primeira vez fazemos recomendações específicas sobre a quantidade desta substância que pode ser consumida, porque não só torna as pessoas mais obesas, mas é culpado de diabetes, tensão arterial elevada, doenças coronárias e ataques cardíacos”, assinalou a médica Rachel Jonsson, autora da pesquisa em que se baseiam as novas recomendações da AHA. Segundo Rachel, os rótulos na comida empacotada nos EUA não distinguem entre os açúcares naturais e os acrescentados, embora qualquer produto etiquetado como “xarope” na lista de ingredientes provavelmente tenha açúcar acrescentado. O excesso de açúcar não só influi na obesidade, mas também tem parte de responsabilidade no diabetes, na pressão arterial elevada, nas doenças coronárias e nos ataques cardíacos, de acordo com relatório publicado na revista Circulation. Açúcar com moderação desde a juventude Segundo outra pesquisa da Universidade de Emory (EUA) também publicada em Circulation, um consumo elevado na adolescência de açúcares acrescentados (qualquer adoçante calórico que se acrescenta a alimentos ou bebidas durante sua produção ou pelo próprio consumidor) jan 2014 revista do meio ambiente

Para os apaixonados por doces, um alerta: “açúcar é a droga mais perigosa do nosso tempo”, de acordo com Paul van der Velpen, chefe do serviço de saúde de Amsterdã, na Holanda. Ele explica que o seu uso deve ser desencorajado porque é viciante e que os produtos açucarados deveriam vir com alertas de saúde, assim como os maços de cigarro. Os dados são do jornal Daily Mail http://www.louisedocker.com.au

texto Paulo André Vieira

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poderia elevar o risco cardíaco quando se chega à vida adulta. Os adolescentes que consomem quantidades altas de açúcares acrescentados nas bebidas e nos alimentos são mais propensos a ter perfis de colesterol e triglicerídeos que podem levar a uma doença cardíaca em anos posteriores da vida, de acordo com o trabalho de Emory. O trabalho americano também mostrou que os adolescentes com sobrepeso ou obesidade e que consomem abundante açúcar acrescentado têm maiores sinais de resistência à insulina, uma situação metabólica que costuma preceder ao diabetes. “O açúcar às vezes está presente nos lugares mais surpreendentes e em alimentos que aparentemente não o contêm”, explicou Adoración Rodríguez García, especialista em gastronomia e nutrição e diretora de conteúdos do portal especializado Nutriguía, em referência ao chamado “açúcar oculto”. “Por exemplo, é pouco conhecido que, grama a grama, os molhos para churrasco e o ketchup, podem ser mais doces que um sorvete de creme e que cada colherada de qualquer destes dois condimentos contém o equivalente a pelo menos uma colher de chá acumulada de açúcar”, prosseguiu Adoración. “Um iogurte de baunilha com framboesas com baixa gordura pode conter mais de dez colherinhas de açúcar, um suco engarrafado pode conter a mesma quantidade de açúcar que uma barrinha de cereal. Se consumimos estes e outros produtos similares com açúcar oculto podemos receber dezenas de calorias extras em nossa dieta diária de forma despercebida”, segundo a especialista. “E isso, levando em conta só o açúcar acrescentado, sem considerar outros alimentos como os sucos de frutas espremidos, que possuem açúcar de forma natural. Se lhes acrescentar açúcar refinado, ou adoçar com frutose, mel ou açúcar mascavo, muitos produtos escondem uma boa quantidade de calorias vazias”, acrescentou a especialista da Nutriguía. Por isso, Adoración aconselhou ler os rótulos dos produtos com atenção, inclusive daqueles alimentos que não são doces, para comprovar seu conteúdo em açúcar, levando em conta que “as palavras terminadas em ‘ose’ indicam a presença de açúcares, os quais estão presentes com outros nomes em uma centena de substâncias para adoçar”. “Não se trata de desenvolver uma fobia ao açúcar nem eliminá-lo de nossa vida, porque ele não é um monstro nutricional, mas de consumilo com moderação”, finalizou a especialista.

rio amazonas

“respira” dióxido carbônico da floresta

texto Natasha Romanzoti

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Pesquisadores da Universidade de Washington (EUA) concluíram que as bactérias no rio Amazonas podem quebrar quase todos os materiais de árvores e plantas na água, e este processo é o grande gerador do dióxido de carbono respirado pelo rio Um novo estudo publicado na revista Nature Geoscience descobriu que as bactérias que vivem no rio Amazonas podem digerir materiais lenhosos vindos da floresta circundante, transformando esses pedaços de casca de árvore e galhos em dióxido de carbono conforme chegam à água. O rio, por sua vez, respira o dióxido. As descobertas reforçam a reputação da bacia do Amazonas como sendo o pulmão do planeta – e não a floresta amazônica –, absorvendo o dióxido de carbono e liberando oxigênio. Os pesquisadores da Universidade de Washington (EUA) concluíram que as bactérias no rio Amazonas podem quebrar quase todos os materiais de árvores e plantas na água, e este processo é o grande gerador do dióxido de carbono respirado pelo rio. “Rios já foram pensados como tubos passivos”, explica um dos coautores do estudo, Jeffrey Richey, professor de oceanografia da Universidade de Washington em Seattle. “O estudo mostra que eles estão mais para grandes centros metabólicos”. Anteriormente, acreditava-se que grande parte dessa matéria vegetal flutuava pelo rio Amazonas até o oceano, onde, finalmente, ficava enterrada no fundo do mar. Uma década atrás, os cientistas da Universidade de Washington descobriram que os rios exalavam grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, mas ainda não se sabia se – ou como – as bactérias podiam quebrar tais materiais. Um composto chamado lignina constitui a parte principal do tecido lenhoso de uma árvore, e é o segundo componente mais comum em plantas terrestres. Mas ao invés de fluir para os oceanos e acabar no fundo do mar por séculos ou milênios, o estudo observou que as bactérias no rio Amazonas podem quebrar lignina dentro de duas semanas. Segundo os cientistas, apenas 5% do carbono à base de plantas da floresta amazônica acaba chegando ao oceano. Embora estes resultados tenham implicações importantes para os modelos globais de carbono, também lançam luz sobre a ecologia da Amazônia, bem como a de outros ecossistemas fluviais. “É uma surpresa o mecanismo e o papel dos rios no ciclo global do carbono”, disse Richey. A partir da análise dos pesquisadores, eles determinaram que cerca de 40% da lignina da Amazônia cai nos solos, 55% é digerido por bactérias no sistema do rio, e 5% é levado para os oceanos, onde se decompõe ou se acumulam no fundo. FontE: livescience

Fonte: Cantinho Vegetariano / Terra.

revista do meio ambiente jan 2014


10 água

Pesquisadores anunciam a ‘extinção inexorável’

do rio são francisco É equivalente a dar oito voltas na Terra – ou a andar 344 mil quilômetros – a distância percorrida por pesquisadores durante 212 expedições ao longo e no entorno do Rio São Francisco, entre julho de 2008 e abril de 2012. O trabalho mapeia a flora do entorno do Velho Chico enquanto ocorrem as obras de transposição de suas águas, que deverão trazer profundas mudanças na paisagem. Mais do que fazer relatórios exigidos pelos órgãos ambientais que licenciam a obra, o professor José Alves Siqueira, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Petrolina, Pernambuco, reuniu cem especialistas e publicou o livro Flora das caatingas do Rio São Francisco: história natural e conservação”(Andrea Jakobsson Estúdio). A obra foi lançada em Recife este mês. Em 556 páginas e quase três quilos de textos, mapas e muitas fotos, a publicação é o mais completo retrato da Caatinga, único bioma exclusivo do Brasil e extremamente ameaçado. O título do primeiro dos 13 capítulos, assinado por Siqueira, é um alerta: “A extinção inexorável do Rio São Francisco”. “Mostro os elementos de fauna e da flora que já foram perdidos. É como uma bicicleta sem corrente, como anda? E se ela estiver sem pneu? E se na roda estiver faltando um raio, e quando a quantidade de raios perdidos é tão grande que inviabiliza a bicicleta? Não sobrou nada no Rio São Francisco. Sinceramente, não sei o que vai acontecer comigo depois do livro, mas precisava dizer isso”, desabafa o professor da Univasf. “Queremos que o livro sirva como um marco teórico para as próximas décadas. Vou provar daqui a dez anos o que está acontecendo”. Ao registrar o estado atual do Rio São Francisco, o pesquisador estabelece pontos de comparação para uma nova pesquisa, a ser feita no futuro, medindo os impactos dos usos do rio. Além do desvio das águas, há intenso uso para o abastecimento humano, agricultura, criação de animais, recreação, indústrias e muitos outros. Desaguam no Velho Chico mijan 2014 revista do meio ambiente

Glauco Umbelino (Flickr)

Livro escrito por cem especialistas traça o mais completo perfil sobre a vegetação da região e prevê o fim de um dos mais importantes rios brasileiros

Por-do-sol no rio São Francisco quase na sua foz. No fundo, o estado do Sergipe. Detalhe: a foto apresenta uma ligeira inclinação para mostrar o lado que o rio corre. Nesse caso, o barco está subindo o rio

lhares de litros de esgoto sem qualquer tratamento. Barramentos – sendo pelo menos cinco de grande porte em Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso e Xingó – criam reservatórios para usinas hidrelétricas. Elas produzem 15% da energia brasileira, mas têm grande impacto. Alteraram o fluxo de peixes do rio e a qualidade das águas, acabaram com lagoas temporárias e deixaram debaixo d’água cidades ou povoados inteiros, como Remanso, Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado e Sobradinho. Com o fim da piracema, uma vez que os peixes não conseguiam mais subir o rio para se reproduzir, o declínio do número de cardumes e da variedade de espécies foi intenso. Entre as mais afetadas, as chamadas espécies migradoras, entre elas curimatá-pacu, curimatá-pioa, dourado, matrinxã, piau-verdadeiro, pirá e surubim. Não foram as barragens as únicas culpadas pelo esgotamento de estoques pesqueiros do Velho Chico. Programas de incentivo da pesca, que não levaram em consideração a capacidade de recuperação dos cardumes, aceleraram a derrocada da atividade. Espécies exóticas, introduzidas no rio com o objetivo de aumentar sua produtividade, entre elas o bagre-africano, a carpa e o tucunaré, se tornaram verdadeiras pragas, sem oferecer lucro aos pescadores.


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Leia a matéria completa em: http://bit.ly/1l7lWq0

Rio de Janeiro teme perda de água do

Paraíba do Sul O governo de São Paulo estuda aumentar a captação de água de afluentes do rio nas próximas duas décadas

OS2Warp (Wikimedia Commons)

A região do São Francisco, que já foi considerado um dos rios mais abundantes em relação a pescado no país, precisa lidar com a importação em larga escala de peixes, sobretudo os amazônicos, para suprir o que não consegue mais fornecer. Uma das espécies mais comercializadas na Praça do Peixe, a 700 metros do rio, é o cachara (surubim) do Maranhão ou do Pará. Nos restaurantes instalados nas margens do Rio São Francisco, o cardápio oferece tilápias cultivadas ou tambaquis importados da Argentina. A mudança provocada pelo homem tanto nas águas do Velho Chico quanto na vegetação que o circunda foi drástica e rápida. Tendo como base documentos históricos disponíveis, entre eles ilustrações de expedições de naturalistas importantes, como as do alemão Carl Friedrich Philipp von Martius, é possível ver a exuberância do passado. Um desenho feito há 195 anos mostra os especialistas da época deslumbrados com árvores de grande porte, lagoas temporárias, pássaros em abundância. Ou seja, uma enorme biodiversidade, que hoje não existe mais. Menos de dois séculos depois, restam apenas 4% da vegetação das margens do Rio São Francisco. Desprovidas de cobertura verde, elas sofrem mais com a erosão, que assoreia o rio em ritmo acelerado. Os solos apresentam altos índices de salinização e os açudes ficam com a água salobra. Aumentam as áreas de desertificação. O Velho Chico está praticamente inviável como como hidrovia. Espécies foram extintas e ecossistemas estão profundamente alterados. Diante da expectativa da “extinção inexorável do Rio São Francisco”, o livro ressalta a importância de gerar conhecimento científico. Não apenas os pesquisadores precisam se debruçar mais sobre o bioma como também o senso comum criado sobre a Caatinga a empobrece. Por isso o título do livro optou por Caatingas, no plural, chamando a atenção para sua enorme diversidade. “O processo que levará ao fim do Rio São Francisco não começou hoje. Basta olhar a ilustração para ver o que aconteceu em tão pouco tempo, menos de 200 anos. A imagem nos mostra um bioma surpreendente: o tamanho das árvores, a diversidade de animais, a exuberância”, ressalta Siqueira. “Observamos que ocorre um efeito em cascata. Tanto que, se algo não for feito agora, de forma veemente, o impacto do aquecimento global na Caatinga, que é o local mais ameaçado pelas mudanças climáticas, será dramático”.

Rio Paraíba do Sul em Jacareí (SP)

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea), órgão ambiental fluminense, vai encaminhar, nos próximos dias, ofícios à Agência Nacional de Águas (ANA) e ao governo paulista propondo discussão pública sobre os planos de São Paulo para o abastecimento de água nos próximos 20 anos. O estado pôs fim a uma série de estudos técnicos sobre o tema. De dez arranjos propostos, cinco reduziram a vazão do Rio Paraíba do Sul, que fornece água a 70% da população do Rio de Janeiro. Três deles estão entre os mais bem avaliados pelo governo paulista, nos critérios financeiro, ambiental e energético. Marilene Ramos, presidente do Inea, diz que o assunto tem de ser tratado pela ANA e pelo Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP), que inclui a União e os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. “Há um decreto dos anos 1970 que estabelece as vazões do Paraíba do Sul para abastecimento de água e geração de energia. São Paulo, hoje, entende poder decidir sozinho sobre captação de água de afluentes do rio. Mas qualquer mudança na vazão do Paraíba do Sul afetaria o Rio”, alerta. Num dos cenários, seriam retirados 8,22m³/segundo de água. É muito, destaca Marilene, quase 5% da vazão mínima do rio. As intervenções em São Paulo passariam por três corpos de água na Bacia do Paraíba no estado: a Represa Paraibuna, o reservatório do Rio Jaguari e o próprio Paraíba do Sul. No melhor arranjo, a captação seria de 1,45m³/segundo. 93% do abastecimento É quanto o Paraíba do Sul representa do fornecimento de água para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O sistema Guandu recebe, em Barra do Piraí, dois terços da vazão do rio. De 25 a 29 de Novembro o Inea fez consultas públicas sobre o caso. Fonte: Agevap / Jornal O Globo

revista do meio ambiente jan 2014


texto Maurício Andres Ribeiro*

12 meio ambiente rural

cadastro ambiental rUral

passará a ser obrigatório em todo o país

a ferramenta já contribui para melhoria do controle do desmatamento na amazônia uma ferramenta que tem contribuído para a redução do desmatamento em estados como o pará e o mato grosso, o cadastro ambiental rural (car), deVe se tornar obrigatória em todo o país nos próximos dias. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a ministra Izabella Teixeira está em vias de assinar uma Instrução Normativa que oficializará o CAR como condição para que uma propriedade esteja de acordo com a legislação ambiental. A partir da assinatura do documento, passará a valer o prazo de dois anos previsto pelo Código Florestal para que todos os proprietários de terras e posseiros do Brasil regularizem sua propriedade. O CAR é uma espécie de carteira de identidade ambiental das propriedades rurais. Ele é composto por um mapa da propriedade, construído a partir de imagens de satélite, e de dados sobre a situação da vegetação na propriedade. Ele mostra, entre outras informações, o tamanho da propriedade, a porcentagem de área preservada (Reserva Legal) e se as Áreas de Preservação Permanente (APPs) estão de acordo com as exigências da legislação. São consideradas APPs, por exemplo, os trechos às margens de rios e nascentes, além das encostas de morros. Desde que o novo Código Florestal entrou em vigor, o CAR tornou-se obrigatório e passou a ser o primeiro passo para que uma propriedade se regularize ambientalmente. As informações contidas no CAR ajudam os governos e o próprio produtor rural a saber se uma propriedade precisa recuperar áreas de vegetação degradada e onde exatamente elas estão. O CAR também é um mecanismo de identificação das responsabilidades individuais pela conservação da floresta. Como passa a haver um registro da ocupação dos territórios rurais, que pode ser cruzado com os dados de desmatamento, dá para saber quem está desmatando e quem está conservando a terra. Por fim, o CAR também permite o planejamento do uso do espaço por parte do produtor e, em uma escala mais ampla, por parte das prefeituras e dos governos estaduais.

jan 2014 revista do meio ambiente

Desmatamento caiu com o CAR Exemplo do impacto do CAR na redução do desmatamento são os municípios de São Félix do Xingu e Santana do Araguaia, ambos no sudeste do Pará. Desde que o CAR começou a ser implantado massivamente na região, em 2009, Santana do Araguaia saiu da lista dos municípios que mais desmatam a Amazônia, elaborada anualmente pelo Ministério do Meio Ambiente. Em São Félix do Xingu, que já foi o campeão nacional em área desmatada e ainda hoje é o município com maior rebanho bovino do Brasil, com mais de 2 milhões de cabeças de gado, o desmatamento caiu 68%, entre 2009 e 2012. A expansão do cadastro na região norte de Mato Grosso também contribuiu diretamente para a saída de dois municípios da lista do MMA: Brasnorte e Feliz Natal. Além do CAR, diversas outras medidas de incentivo à produção sustentável contribuíram para a redução do desmatamento nesses municípios. Porém, a ampliação do CAR certamente é uma das medidas mais importantes para aumentar a capacidade dos governos de monitorar a situação ambiental e para ajudar o produtor a aumentar sua produtividade, segundo o gerente de conservação do Programa Amazônia da organização ambiental The Nature Conservancy, Marcio Sztutman. “O CAR contribuiu para melhorar a vida de muitos produtores e para facilitar a transição para uma produção mais responsável em municípios onde a situação do desmatamento era alarmante. Em nível nacional, é uma ferramenta fundamental para que o Código Florestal seja cumprido efetivamente”, afirma Sztutman. A TNC foi uma das responsáveis pela expansão do CAR nos dois municípios e em pelo menos outras oito cidades paraenses. Em conjunto com prefeituras, governo estadual e sindicatos de produtores rurais, a organização cadastrou mais de 2 mil propriedades só em 2012, em um total de 554 mil hectares – área equivalente à das nove maiores capitais brasileiras somadas. Fonte: CICloVIVo.

saiba mais sobre o em: http://portugues.tnc.org/tnc-no-mundo/americas/brasil/ projetos/car-cadastro-ambiental-rural.xml

Livreto explica como aplicar o Código Florestal

A Iniciativa Verde lançou o livreto Sustentabilidade: Adequação e Legislação Rural publicado por meio Ambiental no Meio Rural, do projeto Plantando Águas, este patrocinado pela Petrobras. A publicação é um roteiro simplificado que resume o “novo” Código Florestal (Lei 12.651/12) e aborda diversas questões relativas à aplicação desta e de outras leis. Escrito pelo engenheiro agrônomo Roberto Resende, presidente da Iniciativa Verde, a publicação tem 40 páginas. O livreto trata de temas relativos ao novo Código Florestal e de aspectos técnicos para a adequação ambiental como bacias hidrográficas, Mata Atlântica, recomposição florestal, uso e conservação do solo e licenciamento ambiental. saiba mais e baixe o livro em pDF em: http://bit.ly/Mrm9VZ



texto Bruno Calzavara

14 biodiversidade

Novas espécies Confira o top 20 de novas espécies descobertas em 2013

descobertas

O ano que passou foi cheio de novidades para a ciência. Além de descobertas tecnológicas, também encontramos novas espécies – dentre elas um tubarão que anda, um caracol com concha semitransparente, um crustáceo venenoso, um esquilo voador e um vírus gigante. E o Brasil passou longe de ser coadjuvante: nosso top 20 traz vários bichos descobertos em 2013 em terras tupiniquins. 1) Hemiscyllium halmahera, o tubarão que “anda” da Indonésia O tubarão Hemiscyllium halmahera pertence à família Hemiscylliidae. Ele chegou até a nossa lista porque, ao invés de nadar, estes tubarões “andam” contorcendo seus corpos e o empurrando com a sua barbatanas peitorais e pélvicas. Fonte: www.youtube.com/watch?v=4RJPeV_eT0Q

2) Tapirus kabomani, uma nova espécie de anta das florestas e cerrado do Brasil e Colômbia A Tapirus kabomani é a menor anta que vive atualmente. Os adultos pesam cerca de 110 kg. Da sua pata até o ombro, mede cerca de 0,9 m, enquanto o comprimento do corpo pode atingir 1,3 m. 3) Porco-espinho Baturité (Coendou baturitensis), uma nova espécie de porco-espinho de cauda preênsil do Brasil O porco-espinho Baturité foi encontrado apenas na Faixada Baturité, que fica no Ceará e é conhecida entre ufólogos por suas supostas atividades extraterrestres. A característica mais proeminente destes animais é a sua cauda longa e invertebrada. Eles a utilizam como uma quinta mão que os ajuda a segurar em ramos à medida que sobem através do dossel da floresta. 4) Leopardus guttulus, uma nova espécie brasileira de gato-do-mato Gatos-do-mato, também conhecidos como gatos-selvagens, gatos-do-mato-pintados ou gatos-do-mato-pequenos, são leopardos de porte semelhante ao de gatos domésticos najan 2014 revista do meio ambiente

tivos de áreas de montanha e florestas tropicais da Costa Rica, Brasil e Argentina. Os cientistas pensavam que havia uma única espécie de gato-domato, o Leopardus tigrinus. No entanto, um estudo de DNA mostrou que as populações destes animais no nordeste comparadas às do sul do Brasil são completamente separadas, sem evidência de cruzamentos entre elas. 5) Sphyrna gilberti, uma espécie de tubarão de águas da costa da Carolina do Sul O “tubarão-martelo Carolina” é um tubarão inofensivo, com uma coloração que fica entre cinza e marrom, pertencente à família Sphyrnidae – que tem como característica principal a cabeça em formato de martelo. O comprimento estimado de um adulto da nova espécie é de cerca de 3 a 4 metros. 6) Sousa sp. nov., uma nova espécie de golfinho jubarte de águas australianas Golfinhos jubarte – que receberam esse nome por causa de uma corcunda peculiar logo abaixo da nadadeira dorsal – pertencem ao gênero de golfinhos Sousa. Estes animais medem de 5 a 8 metros de comprimento e variam entre cinza escuro, rosa ou até mesmo a cor branca. Eles são encontrados por toda a extensão dos oceanos Índico e Pacífico, chegando à costa da Austrália. A nova espécie de Sousa, que ainda precisa ser identificada, ocorre no alto mar do norte da Austrália. 7) Speleonectes tulumensis, o primeiro crustáceo venenoso conhecido Speleonectes tulumensis é um tipo de crustáceo conhecido como remípede. Remípedes são um grupo de crustáceos cegos, aquáticos e habitantes de cavernas, primeiro descritos em 1981. Estes crustáceos têm corpos longos e segmentados, com a maioria dos segmentos equipados com pernas nadadoras (são ligeiramente semelhantes às centopeias terrestres). Eles podem ser encontrados em cavernas submarinas na América Central, no Caribe, nas Ilhas Canárias e na Austrália ocidental. O Speleonectes tulumensis é encontrado em cavernas em Quintana Roo (México) e Belize. A neurotoxina destes remípedes é muito semelhante às neurotoxinas presentes no veneno da aranha. 8) Saltuarius eximius, uma nova espécie de lagartixa rabo-de-folha da Austrália Lagartixas rabo-de-folha são lagartos grandes e impressionantes que são altamente camufláveis contra rochas e troncos de árvores. O “Geco Cape Melville” é conhecido apenas na vizinhança do tipo de localidade das terras altas do Melville Range, conhecida como Cape Melville. Ele mede cerca de 12 cm de comprimento e pesa cerca de 20 g. Tem cabeça curta e olhos muito grandes. 9) Zospeum tholussum, um caracol das cavernas com concha semitransparente da Croácia O Zospeum tholussum é um pequeno e frágil caracol com uma concha semitransparente, maravilhosamente moldada como uma cúpula. Biólogos encontraram apenas um espécime vivo em uma grande câmara sem nome no sistema de cavernas Lukina Jama-Trojama, à notável profundidade de 980 metros.


Zospeum tholussum, caracol das cavernas com concha semitransparente da Croácia

J. Bedek; Alexander M. Weigand (wikipedia cc 3.0)

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10) Esquilo voador gigante laosiano (Biswamoyopterus laoensis), uma espécie de esquilo voador de Laos O esquilo gigante voador laosiano pesa 1,8 kg e mede cerca de 1,1 m de comprimento total. Biólogos acidentalmente encontraram o único exemplar conhecido deste esquilo em um mercado de carne de caça na Central da República Democrática Popular do Laos. 11) Pristiophorus lanae, uma espécie de tubarão-serra das Ilhas Filipinas Os tubarões-serra são um pequeno grupo de tubarões do fundo do oceano, facilmente distinguidos pelos seus focinhos parecidos com serras e um par de barbilhões longos. Por causa de seu focinho, tubarões-serra às vezes podem ser confundidos com peixes-serra. O Pristiophorus lanae é um tubarão-serra de corpo delgado, com cinco guelras, que chega a medir entre 8085 cm de comprimento. 12) Olinguito (Bassaricyon neblina), um novo mamífero da Colômbia e do Equador O animal pertence à família Procyonidae, a qual partilha com guaxinins, quatis, kinkajous e olingos. É a primeira espécie de carnívoros descobertos no Hemisfério Ocidental em mais de três décadas. O olinguito, o menor membro da família dos guaxinins, parece um cruzamento entre um gato doméstico e um ursinho de pelúcia. 13) Lêmure Anão Lavasoa (Cheirogaleus lavasoensis), uma nova espécie de lêmure de Madagascar O Lêmure Anão Lavasoa mede entre 50-55 cm e pesa até 0,3 kg. Esta espécie está extremamente ameaçada de extinção. “Os dados do censo estão indisponíveis. Nossa estimativa preliminar é de que menos de 50 indivíduos permanecem”, relataram os cientistas. 14) Pandoravirus salinus, um novo vírus gigante O Pandoravirus salinus foi encontrado em uma amostra de sedimento coletada na costa da região central do Chile. A sua espécie irmã, a Pandoravirus dulcis, foi coletada em uma lagoa de água doce superficial perto de Melbourne, na Austrália. Além de ser enorme – cerca de 1 μm de comprimento e 0,5 μm de diâmetro –, estes vírus têm genoma em tamanhos enormes. O genoma de Pandoravirus salinus tem 2.473.870 bases de DNA de comprimento, enquanto Pandoravirus dulcis possui 1.908.524 bases.

15) Bothriechis guifarroi, uma víbora verde de Honduras Bothriechis guifarroi é uma cobra arborícola altamente venenosa. Foi descoberta no Texiguat Wildlife Refuge, uma das mais florestas montanhosas mais ricas em endemismos e diversificada da Mesoamérica. 16) Enyalioides azulae, uma nova espécie de lagarto do Peru O Enyalioides azulae, juntamente com outra espécie nova, a Enyalioides binzayedi, foi descoberto em áreas pouco exploradas das selvas peruanas. 17) Abscondita cyatta, uma nova espécie de formiga-cortadeira brasileira Formigas-cortadeiras que vivem em mutualismo com fungos são noturnas e devastam restos orgânicos para aumentar seus jardins de fungos. Os fungos que elas cultivam provavelmente não são completamente dependentes de seus parceiros para sobreviver e se reproduzir. As formigas, no entanto, são obrigatoriamente dependentes deles. 18) Rhacophorus helenae, uma espécie de sapo voador do Vietnã A rã verde brilhante de 10 cm de comprimento, com uma barriga branca, foi encontrada apenas em duas manchas de floresta de várzea no meio das terras agrícolas, não muito longe da cidade de Ho Chi Minh. Tem mãos com membranas entre os dedos e pés como pára-quedas para planar de árvore em árvore. 19) Lêmure-rato Marohita (Microcebus marohita), uma nova espécie de lêmure de Madagascar Lêmures-rato são primatas onívoros e noturnos nativos de Madagascar. O lêmurerato Marohita tem pelagem cinza e marrom e pesa de 65 a 85 gramas. 20) Calotes bachae, um lagarto espetacularmente colorido do Vietnã Calotes bachae mede até 10 cm de comprimento e tem espinhos nas costas. Os machos desta espécie impressionam pela sua coloração surpreendentemente rica. Durante a época de acasalamento, as cabeças azuis brilham como em um concurso, só para impressionar as fêmeas. Calotes bachae também podem reduzir a sua gama de cores, de forma semelhante ao que fazem os bem conhecidos camaleões. Por exemplo, à noite, eles se tornam animais discretamente escuros e marrons. Fonte: hypescience/Sci news

revista do meio ambiente jan 2014


Marcelo Pereira

James Lee (Flickr)

texto Marcelo Pereira* (marcelo@publicnet.com.br)

16 animais

Por que não comprar animais

Fábricas de

As “Fábricas de filhotes” são lugares destinados à reprodução para o comércio de animais em massa, estando o lucro em um patamar mais elevado que o bem estar do animal em questão. Os animais procriadores vivem em terríveis condições. Geralmente passam a vida em gaiolas pequenas e sujas, sem contato com pessoas. Passam fome, não recebem atendimento veterinário e são vistos como coisas, vivendo em situação deplorável. As fêmeas procriam a cada cio e quando não conseguem mais atender a demanda são descartadas como lixo, e outro animal é colocado em seu lugar. Tenho uma prova viva disso em casa. Há anos atrás resgatei, de uma criadora, uma cadela que seria descartada por não estar mais procriando e estava atrapalhando a produção dessa fábrica. É inacreditável, mas é uma realidade. A venda de animais por si só, seja ela em pet shops ou canis/gatis, transforma animais em mercadoria, em objeto negociável. Não apenas cães e gatos, mas quaisquer animal merece ser tratado como um ser senciente, e não como fonte de lucro. Uma “fábrica de filhotes” pode começar bem perto de você, com um amigo ou vizinho que esteja “precisando” de dinheiro e então usa uma cadela para acasalar em todo cio. É claro que ele não tem condição e nem interesse em levá-la no veterinário para ver como estão as condições da mesma, e então os filhotes começam a carregar uma ou mais doenças hereditárias, ou seja, além de prejudicar a fêmea que está parindo sem descanso e cuidados médicos, ainda os filhotes sofrem com problemas de saúde ao longo de sua vida. jan 2014 revista do meio ambiente

Alguns motivos para NÂO comprar animais Péssima saúde: devido ao fato da maioria dos cães vir de fábricas de filhotes (e donos sem experiência alguma que resolvem cruzar seus cães em casa), esses filhotes não são o resultado de uma criação cuidadosa e normalmente eles não são bem cuidados antes de irem para a venda. Alguns dos problemas mais comuns são problemas neurológicos, oculares, de pele, sanguíneos e parvovirose. Nenhuma socialização: os filhotes que são vendidos em pet shops e nas ruas das cidades ou mesmo os filhotes de criadores leigos, são desmamados muito cedo, às vezes até com 1 mês de idade. Um cão deve ficar com a mãe até os 90 dias, nunca menos de 70 dias. Tirar um cachorro da ninhada com menos de 70 dias significa que ele não vai aprender com a mãe e com os irmãos o básico do comportamento canino. Vendas nas ruas das cidades Em diversas cidades pelo país a prática de vender animais nas ruas aumenta a cada dia, cães e gatos ficam expostos ao calor em minúsculas caixas e até mesmo dentro de sacolas. Leis estaduais proíbem a venda em logradouros públicos, mas ainda falta fiscalização. Recentemente na cidade de Niterói, estado do Rio de Janeiro, uma ação da Secretaria de Meio Ambiente em conjunto com Polícia Civil acabou com essa prática que já durava há anos em um ponto da cidade, que já era um “shopping” a céu aberto de venda de animais. Se você deseja um animal, a atitude ideal é procurar um abrigo de animais abandonados ou uma campanha de adoção. Lá você encontrará vários cães carentes e doidos para ter um lar. Em várias cidades do país podemos encontra esses abrigos e essas campanhas. Em Niterói a Secretaria de Meio Ambiente promove a campanha de adoção “Adotar é o Bicho” no segundo domingo do mês no Campo de São Bento e no terceiro domingo do mês no MAC. Em Maricá acontece todo primeiro sábado do mês, na praça Orlando de Barros Pimentel, no Centro da cidade, a campanha de adoção “Adotar é Legal, porque Amigo não se compra”.

* Marcelo Pereira é diretor de proteção animal da Secretaria de Meio Ambiente de Niterói (RJ)



Onça pintada

texto Karina Toledo

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pode desaparecer da Mata Atlântica De acordo com alerta feito por pesquisadores brasileiros na revista Science, restam no bioma 250 animais adultos distribuídos em oito populações isoladas e apenas 50 estão de fato se reproduzindo

A Mata Atlântica está na iminência de perder um de seus mais ilustres habitantes: a onça-pintada (Panthera onca). O alerta foi feito na revista Science, em carta publicada por um grupo de pesquisadores brasileiros membros do Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade (Sisbiota). “Uma recente reunião de especialistas em vida selvagem concluiu que a Mata Atlântica, que no passado se estendia por toda a costa brasileira e também por parte da Argentina e do Paraguai, pode em breve ser o primeiro bioma tropical a perder seu principal predador, a onça-pintada”, relataram os cientistas na carta. “Pesquisadores estimaram menos de 250 animais adultos vivos em todo o território, distribuídos em oito populações isoladas. Ainda pior, análises moleculares demonstraram que o tamanho da população efetiva local (número de animais que estão de fato se reproduzindo e deixando descendente, um parâmetro crítico para a manutenção da diversidade genética) está abaixo de 50 animais”, destacaram. De acordo com Ronaldo Gonçalves Morato, coautor do texto e chefe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), entre as causas do declínio estão a perda de habitat resultante do desmatamento e da fragmentação da mata e também a caça. Estimase que, atualmente, reste apenas entre 7% e 12% da cobertura original da Mata Atlântica. O impacto do desaparecimento da onça-pintada para o ecossistema local é difícil de prever, mas certamente o saldo será negativo. “Quando um grande predador desaparece, pode haver explosão nas populações de herbívoros, como veados, catetos e queixadas. Em excesso, esses animais acabam consumindo todo o sub-bosque da floresta e isso implica em perda da capacidade de recomposição e perda de estoque de carbono. Em longo prazo, pode levar à quebra da dinâmica da floresta”, avaliou Morato. Pedro Manoel Galetti Junior, professor do Departamento de Genética e Evolução (DGE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coautor do texto, lembrou que o desaparecimento da onça-pintada pode ainda causar aumento desmedido nas populações de predadores intermediários, como jaguatiricas e outros carnívoros. Por sua vez, isso poderá levar a um aumento na predação de ninhos e, potencialmente, à extinção local de muitas aves, importantes dispersoras de sementes, e alterar a estrutura da vegetação. “O predador de topo de cadeia tem um papel de regulação do ecossistema e, quando ele desaparece, um jan 2014 revista do meio ambiente

distúrbio é criado. Isso pode causar a extinção de algumas espécies, até que o ecossistema encontre um novo equilíbrio”, disse Galetti, que coordena pesquisa apoiada pela Fapesp e realizada no âmbito do Sisbiota – programa lançado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 2010 que reúne pesquisadores de diversos Estados e, em São Paulo, conta com financiamento da Fapesp. Plano estratégico para conservação A iniciativa de enviar o alerta para a revista Science, contaram os cientistas, surgiu após uma reunião promovida em setembro de 2013 pelo Cenap com o objetivo de elaborar um plano estratégico para a conservação da onçapintada na Mata Atlântica. “Na semana anterior ao evento, havia sido publicado também na Science um artigo sobre a recuperação da população de carnívoros no Hemisfério Norte graças a medidas adotadas há mais de 20 anos, como reflorestamento, reintrodução e translocação de indivíduos. Alguns fatores de manejo utilizados por lá permitiram que algumas espécies praticamente extintas voltassem a ocupar certos espaços. Nossa carta tinha o intuito de fazer um contraponto a esse artigo”, contou Morato. O evento promovido pelo Cenap reuniu diversos membros da rede Sisbiota. O objetivo do grupo é fomentar e ampliar o conhecimento não apenas sobre predadores, mas sobre toda a biodiversidade brasileira, bem como melhorar a capacidade preditiva de respostas às mudanças de uso e cobertura da terra e às mudanças climáticas. De acordo com os especialistas, a medida mais urgente a ser tomada para salvar a onçapintada seria o aumento da fiscalização para evitar a perda de indivíduos tanto pela caça quanto pela redução do ambiente causada pelo desmatamento ilegal. “Primeiro precisamos estancar a perda para então pensar em trabalhar para recu-


Irwin-Scott (Flickr cc 2.0)

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perar as populações. Estamos discutindo a possibilidade de fazer a translocação de indivíduos (colocar novos animais em uma população existente para trazer informação genética nova para o grupo), pois as análises têm mostrados que geneticamente muitas dessas populações remanescentes estão comprometidas. Mesmo se a perda de animais cessar, será necessário recompor essas populações”, afirmou Morato. Outra possibilidade, contou o pesquisador do Cenap, é recorrer a ferramentas de reprodução assistida. “Podemos coletar sêmen de um indivíduo de uma região e inseminar uma fêmea de outra população, por exemplo. Esse mecanismo pode ser mais prático do que fazer a translocação”, contou Morato. De acordo com o plano em elaboração pelo Sisbiota, nenhum animal seria solto sem um sistema de monitoramento 24 horas e sem um programa prévio de educação e conscientização com as comunidades do entorno. “É necessário um trabalho forte para que essas comunidades aceitem o retorno do animal. É preciso orientação para que não haja risco no contato com a população humana e para que haja um manejo de reba-

O predador de topo de cadeia tem um papel de regulação do ecossistema e, quando ele desaparece, um distúrbio é criado. Isso pode causar a extinção de algumas espécies, até que o ecossistema encontre um novo equilíbrio. (Pedro Manoel Galetti Junior, professor do Departamento de Genética e Evolução da UFSCar)

nhos de modo a evitar a caça por perda econômica”, afirmou Morato. Para Galetti, antes que qualquer medida seja tomada, é preciso ampliar o conhecimento científico sobre a onça-pintada – o que inclui informações sobre a biologia, a ecologia, a genética e os sistemas em que ela está incluída, ou seja, os demais organismos que interagem com ela. “Não se pode pensar em translocar animais enquanto não se tem segurança e controle sobre os impactos da medida”, ponderou. Muitos dos estudos que embasam a discussão do plano de recuperação da onça-pintada foram conduzidos no âmbito do Sisbiota, que completa três anos. Parte dos dados foi apresentada nos dias 9 e 10 de dezembro, em São Carlos, durante o 1º Simpósio Brasileiro sobre o Papel Funcional de Predadores de Topo de Cadeia. Fonte: AgÊnCIA FApesp

o artigo Atlantic Rainforest’s Jaguars in Decline (DoI: 10.1126/science.342.6161.930-a), de Ronaldo Morato, pedro galetti e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org/co ntent/342/6161/930.1.full?sid=b8928fb9-3760-4f2e9188-23bc28d2dc2f revista do meio ambiente jan 2014


Extremos de frio e calor podem estar indicando o novo normal com a mudança climática O Nordeste vive a pior seca dos últimos 30 anos. Onde choveu para aliviar a seca houve fortes inundações. Inundações mataram no Espírito Santo e Minas Gerais e afetaram também o Rio, no finalzinho de 2013 Tremenda onda de frio produz situações dramáticas e letais nos Estados Unidos e no Canadá. Brutal onda de calor que eleva os termômetros no Rio de Janeiro para além dos clássicos 40 graus Celsius e na Austrália para a fronteira dos 50 graus Celsius. A sensação térmica no Rio anda batendo os 51 graus Celsius. São temperaturas mortais. O frio pode provocar queimadas severas na pele e hipotermia, muito rapidamente. O calor pode também causar queimaduras sérias e morte por desidratação e agravamento de cardiopatias. Riscos de extremos de temperatura que ameaçam principalmente pobres desabrigados, crianças e idosos. Esses extremos juntos são uma espécie de amostra do tipo de cenário “moderado” que os cientistas prevêem para o futuro, se não conseguirmos estancar as emissões de gases estufa e, posteriormente, reduzir reduzir sua concentração na atmosfera. Esse frio intenso no Hemisfério Norte tem explicação clara. Os cientistas sabem o que está acontecendo. Onde não há consenso é no que eles chamam de “questão da atribuição”. Em palavras simples, se é possível ou não atribuir esse cenário caótico ao aquecimento global e à mudança climática. Hoje, diferentemente do passado recente, cientistas experientes e reconhecidos, já dizem em público que os padrões alterados de tempo que têm se repetido nos últimos anos podem e devem ser atribuídos à mudança climática causada pela concentração de gases estufa que já está em curso. A redução do gelo no Pólo Norte causa aquecimento do Oceano Ártico no Hemisfério Norte e a difusão do calor latente pela atmosfera ártica. Esse aquecimento enfraquece os corredores de vento polar, o “jestream”, que passa a ter um padrão de circulação serpenteante, em velocidades mais baixas em algumas áreas e mais abrangente. Quando isso acontece o tempo fica caótico em boa parte dos Estados Unidos e em alguns pontos da Europa, como o Reino Unido. Afeta o padrão de tempestades de neve e chuva, de furacões e secas no Hemisfério Norte.

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Tina Li (Flickr)

texto Sérgio Abranches

20 mudanças climáticas

O Oceano Árctico está aquecendo em velocidade muito superior à de outras áreas. Neste período, a temperatura média ficou -17 grau Celsius. O aquecimento e a perda de gelo polar mudam dramaticamente a atmosfera superior. A forte corrente de ar polar na atmosfera superior, em situações antes normais de temperaturas mais baixas, ficava “fechada” em torno do Pólo Norte. Mas, sobrecarregada de calor do Oceano Ártico, ela se “solta” e avança na direção sul, adotando uma trajetória sinuosa e provocando situações climáticas extremas. Os cientistas mais convictos, como Michael Mann, autor do célebre gráfico conhecido como “taco de hóquei”, não têm mais problema em dizer que os extremos que temos experimentado nos últimos anos são parte do processo de mudança climática provocado pelas emissões humanas. Um processo já em curso. O aquecimento dos pólos tem sido apontado pela quase unanimidade (com as exceções pouco respeitáveis – a maioria – e alguns – muito poucos – sérios que ainda não se convenceram. Todos os sérios apontam a margem ainda significativa de indeterminação, que dificulta atribuir à mudança climática determinados fenômenos específicos. Mas isso nem toca na validade da hipótese de mudança climática por causas humanas em curso e com trajetória de alto risco. Os extremos do final de 2013 e início de 2014 são impressionantes. Nevascas violentas e temperaturas muito baixas, com sensações térmicas impressionantes atingiram os Estados Unidos e o Canadá. Pelo menos metade do EUA está coberta de neve e experimentando temperaturas de congelar. A sensação térmica em alguns lugares chegou a – 55 graus Celsius. Em Manitoba, no Canadá, as temperaturas chegaram aos níveis de Marte, incríveis – 52 graus Celsius, na passagem de ano. Em muitos lugares do EUA e do Canadá, as temperaturas estão muito abaixo das registradas no Pólo Norte nos últimos dias, que não passaram de bem comportados (para a época) – 21 graus Celsius.


Mas o EUA não está congelando por toda parte. Na Califórnia nem está tão quente, nem chovendo ou nevando significativamente. Ao, contrário, o estado vive intensa seca. Há um sistema de alta pressão parado na região, que desvia o corredor de ar polar para o norte, rumo a partes do Canadá e do Alaska. Como resultado, 85% do estado vive uma longa estiagem, com o a menor grau de umidade desde 1849, quando o índice começou a ser medido. Em Los Angeles a precipitação foi apenas 24% da média “normal”. Em São Francisco, 16% da média anual em 2013. Esse ondulante corredor de ar polar está também produzindo estragos no Reino Unido. Ondas de mais de 15 metros, ressacas violentas com marés muito elevadas e chuvas de enormes e destrutivas pelotas de granizo estão provocando inundações e destruição na costa britânica. Rodovias e estradas de ferro foram destruídas e a maré tem provocando inundações que avançam facilmente sobre os diques e barreiras. Já a Austrália está fervendo, como o Rio de Janeiro. A seca e as queimadas voltaram a atingir parte do país. O ano de 2013 foi o mais quente jamais registrado, com temperaturas chegando a 50 graus Celsius, no começo de 2014. Cá do nosso lado, a Argentina acaba de sair da pior onda de calor dos últimos 107 anos. Ela provou uma série de grandes apagões em boa parte do país. No Rio, temos uma onda de calor que nos últimos dias levou a sensação térmica a níveis de 50-51 graus Celsius, com temperaturas entre passando dos 42 graus Celsius nas partes mais quentes. O Nordeste vive a pior seca dos últimos 30 anos. Onde choveu para aliviar a seca houve fortes inundações. Inundações mataram no Espírito Santo e Minas Gerais e afetaram também o Rio, no finalzinho de 2013. Esse cenário de tempo enlouquecido é um retrato moderado do cenário futuro que pode ocorrer se não tomarmos medidas mais agressivas para conter a mudança climática, reduzindo a zero, em tempo hábil, nossas emissões de gases estufa. Por outro lado, é sempre bom lembrar que tempo não é clima. Esses eventos climáticos cíclicos vão e voltam, mas, aí sim, por causa do clima em mutação, de forma mais frequente e mais intensa, até deixarem de ser cíclicos e se tornarem, de fato, o “novo normal”. Por enquanto, vamos vivendo de anormalidade em anormalidade, com muitos políticos, grupos de interesses e cientistas de baixa qualificação, dizendo que tudo passará, e que vivemos tempos normais. Fonte: Ecopolítica

Climate and Ecosystems Change Adaptation Research University Network (Flickr)

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desastres naturais

custaram US$ 125 bilhões em 2013, aponta relatório

O custo total das catástrofes naturais em 2013 foi de US$ 125 bilhões, uma soma considerada moderada se comparada aos anos anteriores, de acordo com estudo publicado pela companhia de seguros Muniche Re. Nos últimos dez anos, as catástrofes naturais provocaram em média danos de US$ 184 bilhões no mundo, indicou o comunicado da empresa. Em 2013, as companhias de seguros cobriram US$ 31 bilhões, abaixo da média dos últimos dez anos, que foi de US$ 56 bilhões. No total, foram registradas 880 catástrofes naturais no ano passado que provocaram a morte de 20 mil pessoas, mais que em 2012. No entanto, o montante é menor que a média dos últimos 10 anos, que é de 106 mil mortos, aponta o relatório. Inundações na Alemanha tiveram gasto alto Em 2013, as “catástrofes naturais mais caras em termos econômicos foram as inundações no sul e no leste da Alemanha” em junho, segundo a Muniche Re. E os maiores danos foram provocados pelas catástrofes naturais na Europa e pelo tufão Haiyan no sudeste asiático. “As inundações no sul e no leste da Alemanha e nos países limítrofes” em junho passado provocaram danos de US$ 15,9 bilhões, sendo que US$ 3,1 bilhões foram cobertos pelas companhias de seguros. Do ponto de vista humano, a catástrofe mais severa foi o tufão Haiyan no sudeste das Filipinas no início de novembro. O tufão provocou a morte de 6.000 pessoas e deixou milhares desabrigadas. Fonte: G1

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texto Amyra El Khalili*

22 artigo

Ser ou não ser mercadoria:

eis a questão!

O debate sobre a “descomoditização” é antigo 1. Começou bem antes da fundação do Movimento Via Campesina (1992) e do slogan cunhado pelo ativista campesino José Bové: “O mundo não é uma mercadoria” (1999) Essa discussão desenvolveu-se em fins da década de 80 e início da década de 90 entre alguns operadores de commodities e de futuros desde a adoção pelos banqueiros e políticos da teoria neoliberal de Milton Friedman, da escola de Chicago2. A origem dos mercados futuros é também anterior ao capitalismo. Sua história tem registros há milênios na China e na Índia entre os povos nômades que levavam mercadorias de um lado para o outro atravessando os desertos da Ásia, da África e do Leste Europeu e combinavam o preço futuro (trocas) quando retornassem à porta da casa do freguês trazendo na volta suas encomendas. Os chineses são os maiores, em volume de negócios, e os mais agressivos operadores de commodities e de futuros do mundo. Mercados sempre existiram com ou sem o capitalismo, porém com o capitalismo as trocas se tornaram monetárias, ou seja, em vez de trocarmos as coisas por outras coisas, como, por exemplo, um pedaço de carne por pão, uma galinha por um quilo de farinha, passamos a trocar as coisas por moeda (dinheiro). Daí, o que era feito de forma limitada e por subsistência (para atender às necessidades básicas) passou a ter outra conotação e relação de valores. Poderíamos discutir as trocas de seres humanos por comida, de crianças por animais, entre tantas outras que também existiam antes do capitalismo e ainda persistem com todas as duras conquistas pelos direitos humanos e ambientais. O fenômeno de mercantilizar coisas e pessoas ou o que deve ou não ser mercadoria, a ética e que tipo de valores pautam essas atitudes, independentemente de ideologias e religiões, devem ser estudados à luz da ciência econômica, social, política, jurídica e sobretudo à luz da psiquiatria. Somente o ser humano mata por prazer. As outras espécies não agem desta forma. Voltemos para os mercados futuros e tomemos como exemplo o caso do matemático chinês David X. Li, cuja fórmula elegante, a Cópula de Gaussian, foi reproduzida pelos operadores de Wall Street3. O método de David X. Li, foi adotado por todos, desde os investidores em títulos, os bancos de Wall Street, agências de classificação de riscos (rating) e reguladores. E tornou-se tão profundamente enraizado no “modus operandi” do sistema financeiro que muitos fizeram dinheiro com este modelo matemático, porém ignoraram as advertências sobre as limitações do uso desta metodologia e seus potencias riscos. Não existe probabilidade zero nos mercados de futuros. Sempre haverá riscos proporcionais ao tamanho dos ganhos. Aliás, dependendo do volume financeiro da aplicação, os riscos podem ser também correspondentes à capacidade da alavancagem (velocidade e volume entre alta e baixa) destes mercados. Assim sendo, estima-se que, para cada grama de ouro, multiplicam-se em torno de 100 vezes a possibilidade de se realizar prejuízos. O modelo de David X. Li se desfez, produzindo falhas que apareceram desde o início da crise em 2008 com a quebra do Banco Lehman Brothers, engolindo trilhões de dólares e colocando em risco a sobrevivência do sisjan 2014 revista do meio ambiente

tema financeiro internacional, que, como papagaios, repete as mesmas práticas sem qualquer fundamento técnico quando se trata de ganhar dinheiro rápido com o mantra: “temos que aproveitar as oportunidades que as crises nos proporcionam!” Seriam uma fórmula matemática e seu autor os responsáveis pelo rombo de Wall Street? A tragédia encontra-se no subprime, o sistema multitrilionário que permitiu que os fundos de pensão, companhias de seguros e os fundos de hedge (cobertura) emprestassem trilhões de dólares para as empresas, países e compradores de casas. A responsabilidade, na verdade, é de quem usou a fórmula inadvertidamente, até porque, em um mercado desregulamentado, ninguém é obrigado a utilizar nenhuma metodologia, a não ser que seja imposta por força da lei ou por um lobby poderosíssimo como está ocorrendo com a adoção da TEEB (The Economics of Ecosystems and Biodiversity – A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade)4, cujo relatório foi coordenado pelo físico e economista indiano Pavan Sukhdev. Como usar a TEEB e interpretá-la também deve ser responsabilidade atribuída aos que dela se utilizam. Porém não significa que apartir do momento em que a ONU adota essa metodologia e, por isso, não deva ser questionada para o que e com que objetivos afinal, a TEEB foi concebida.5 Como economista brasileira de origem beduíno-palestina, recuso-me a aceitar fórmulas matemáticas e modelos econômicos impostos de cima para baixo e de fora para dentro, testando teorias financistas com seres humanos e o ambiente. Sou autora de uma fórmula matemática

…não será por que a palavra commodities está sendo demonizada com toda a razão que devemos omiti-la, ignorá-la ou mesmo substituí-la por outra que tente minimizar suas consequências sem discutirmos a essência do seu significado ou como podemos combater o sistema que a tornou um grande problema socioambiental


que ainda, por questões de segurança, noção de risco e por não subestimar a inteligência alheia, não revelei e não pretendo revelar tão cedo. Diferentemente de David X. Li, não a fiz para ganharem dinheiro com ela e também, a exemplo do executivo indiano egresso do Deutsche Bank, Pavan Sukhdev, não a fiz por encomenda dos banqueiros, das corporações e nem da ONU. Foi por convicção de que era necessário introduzir uma célula benigna no corpo da economia cancerígena que produz metástases, como a da crise de 2008 que a desenvolvi. Iniciei o desenho desta fórmula em 1990 motivada pela guerra Irã-Iraque, com a minha experiência prática como operadora nos mercados de commodities minerais, ouro e petróleo e derivativos (derivado de ativos ou futuros). Como disse anteriormente, a discussão sobre “descomoditização” se deu muito antes da fundação da Via Campesina e da notoriedade alcançada por José Bové com sua luta antiglobalização e antiindustrialização inspirando os Fóruns Sociais Mundiais. Sobre a fórmula que criei, trata-se da sequência numérica que decodifica as matrizes das “commodities ambientais”. É a “descomoditização” do padrão convencional que determinou o sistema que promove a “commoditização”. Como a palavra “descomoditização” é mais complicada e de difícil explicação, tornando-se uma expressão, tanto quanto a palavra commodity, cunhei a expressão “commodities ambientais”. Sobre este tema esclareço com o artigo Pós Rio+20 - Reflexões conceituais sobre a “comoditização” dos bens comuns 6. Compreendo a histeria dos ativistas indianos contra a “comoditização”, já que eles têm sido as principais vítimas destes modelos irresponsáveis e utilitaristas pelos alunos da escola neoliberal de Milton Friedman. Curiosamente, o executivo coordenador do controvertido e questionável relatório TEEB é um indiano. Porém, não será por que a palavra commodities está sendo demonizada com toda a razão que devemos omiti-la, ignorá-la ou mesmo substituí-la por outra que tente minimizar suas consequências sem discutirmos a essência do seu significado ou como podemos combater o sistema que a tornou um grande problema socioambiental. Quem disse que commodity tem que ser o que é? Aqui, em terras Brazilis, usamna há 513 anos sem traduzi-la e principalmente, sem ser contestada. Foram os europeus e estadunidenses os que nos fizeram “engoliremna” com seu jeito tecnológico de nos fazerem produzi-las pagando uma miséria por elas enquanto os produtores rurais ou agricultores, como queiram, correm todos os riscos de clima, safra, financeiros, além do risco de precificação.

By David Shankbone (Wikimedia Commons)

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No início da crise em 2008 a quebra do Banco Lehman Brothers engoliu trilhões de dólares e colocou em risco a sobrevivência do sistema financeiro internacional, que, como papagaio, repete as mesmas práticas sem qualquer fundamento técnico

Assim como a bula de um médico prescreve tomar “diclofenaco de sódio”, nome técnico-científico, e fala-se biodiversidade, ecossistemas, biomas no biologês, sirvo-me dos nomes técnicos e científicos em economia e finanças para prescrever o receituário de um remédio, mas não me atrevo, no entanto, a aplicá-lo sem antes analisar com a sociedade se terá efeito positivo ou negativo o tal remédio. Nem tenho também a pretensão de produzi-lo sozinha, pois considero essa alquimia um conjunto de muitos fatores, sendo necessário o envolvimento de diversos atores socioambientais nesta longa empreitada. Quanto a conceituá-la, ainda é algo que, para ter o efeito desejado, deve ser assimilado por um considerável grupo de mentes pensantes. Do contrário, não será conceito, podendo ser apenas um amontado de ideias interessantes ou não. Concordo com a ecofeminista e cientista Vandana Shiva sobre sua afirmação: “alimento não é commodity” 7. De fato, alimento não pode se resumir aos cinco principais produtos da pauta de exportação brasileira, por exemplo: soja, cana, boi, pinus e eucaliptos. A palavra commodity não encontra tradução ao pé da letra em português, fato este que está registrado na literatura financeira apenas em inglês por se tratar de uma expressão mundial de finanças e de comércio exterior. Como seres humanos, nos alimentamos com muitos outros produtos, e melhor e mais saudável seria que não fossem produzidos com veneno, como adubos e agrotóxicos. Infelizmente, essa maneira de produzir ainda faz parte de nossa alimentação urbana fastfood. São esses os ditos “alimenrevista do meio ambiente jan 2014


texto Amyra El Khalili*

24 artigo tos” que compramos no supermercado e nas feiras livres, com poucas ou raras exceções, com a agroecologia disputando espaços restritos nas prateleiras dos supermercados e nos poucos guetos a preços inacessíveis para a maioria dos mortais sem poder de compra. A cientista Vandana Shiva diz algo que deve ser considerado à luz da ciência econômica, já que a produção de commodities nem nos alimenta e nem nos sustenta financeiramente. Há muito tempo, deixou de ser alternativa econômica, gerando emprego e renda no campo, para ser concentração de capital na mão dos mesmos capitalizados com a “oportuna” falta de política agropecuária, de soberania e segurança alimentar que estão diretamente ligadas às mais das emergências reinvindicações de campesinos, sem terra, comunidades tradicionais e povos da floresta: a reforma agrária e o direito à terra. No entanto, não poderíamos afirmar que “alimento não é mercadoria”, usando a palavra em português sem explicá-la no financês. A afirmação “alimento não é mercadoria” não encontra respaldo na realidade e no imaginário das pessoas comuns (não politizadas). Pode ser palavra de ordem, uma expressão derivada da frase cunhada a partir da justa e necessária luta de José Bové, que encontrou apoio na Via Campesina, que, essa sim, encontra respaldo na realidade em que vivemos nesta economia de mercado ao afirmar que “o mundo não é uma mercadoria” – seja em português como em inglês – “o mundo não é uma commodity”. Senão vejamos: alimento é mercadoria sim, porque ainda temos que comprar alimento no supermercado, na padaria, nas feiras livres, nos hortifrutigranjeiros, nos mercados, nas quitandas, entre outros cantos. Também o Estado não nos proporcionará alimento gratuito. Mera ilusão achar que o Estado vai dar comida grátis para todo o contingente dos mais de 7 bilhões de seres humanos neste Planeta, sem contar, é claro, os demais seres vivos. De fato, como defende Vandana Shiva – “alimento não é commodity”, porque, afinal, não nos alimentamos com monocultura intensiva (uma única cultura), sendo apenas cinco produtos da pauta de exportação, e nem podemos deixar de nos alimentar com outras variedades que são mais importantes e garantem a segurança alimentar, como raízes, verduras, frutas, temperos, condimentos, leite, ovos, farinhas, carnes diversas (não somente a de gado, frango e suíno), peixes, e por aí vai afora, sem contar com as plantas que curam. Medicamentos podem ser tradicionais ou alternativos. Por que estamos nos matando na medicina convencional com drogas que viciam e provocam efeitos colaterais? Assim sendo, proponho adotar outra frase, que compreendo ser mais adequada ao que se pretende comunicar: “alimento é direito humano e dos demais seres vivos”. Não deixarei os outros seres vivos de fora desta pendenga, considerando o aprendizado adquirido com o ecohistoriador e ambientalista Arthur Soffiati, que nos apresenta o desafio do novo paradigma naturalista organicista contemporâneo: “O paradigma mecanicista continua impregnado no ser humano ocidentalizado, agora de forma prática. Por outro lado, emerge um novo paradigma, que poderíamos chamar de naturalista organicista contemporâneo. Em lugar do “penso, logo existo”, coloca-se agora o “computo, logo existo”. Computar é processar as informações e transformá-las em conhecimento para a vida. Todos os seres vivos – unicelulares ou pluricelulares – computam. Logo, todos podem ser considerados sujeitos e objetos” Se entendermos que “alimento é direito humano e dos demais seres vivos”, estaremos empunhando uma bandeira que encontrará respaldo no imaginário das pessoas e levantará um questionamento fundamental: por que temos que comprar alimentos caros e ruins nos supermercados? Se é que o que está no supermercado pode se considerar “alimento”. Dar uma papinha da Nestlé para seu bebê é estar alimentando-o? Com estas indagações, entre outras, provocamos inquietudes e, desta forma, promovemos uma discussão filosófica e mais eficiente nas mentes, nos

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corações e nos estômagos, conscientizando as pessoas sobre o que afinal estamos produzindo e consumindo. Podemos começar filosofando como o poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare: “Ser ou não ser mercadoria: eis a questão!”

*Amyra El Khalili é economista, autora do e-book

“Commodities Ambientais em Missão de Paz: Novo Modelo Econômico para a América Latina e o Caribe”. São Paulo: Nova Consciência, 2009. Acesse gratuitamente www.amyra.lachatre.org.br

Notas: 1

Descomoditização – ação de não produzir mercadorias

com padrão industrial, mantendo critérios diferenciados, como as produções artesanais e tradicionais de doces, queijos, farinhas, entre outros alimentos e produtos. 2

Milton Friedman, foi um dos mais destacados

economistas do século XX e um dos mais influentes teóricos do liberalismo econômico. Principal apóstolo da Escola Monetarista e membro da Escola de Chicago, além de defensor do laissez faire e do mercado livre. Friedman foi conselheiro do governo chileno de Augusto Pinochet e muitas de suas ideias foram aplicadas na primeira fase do governo Nixon e em boa parte do governo Ronald Reagan. Era pai do teórico David Friedman. In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Milton_Friedman 3

Salmon, Felix. Recipe for Disaster: The Formula That

Killed Wall Street. In: www.wired.com/techbiz/it/ magazine/17-03/wp_quant?currentPage=all 4

TEEB: A iniciativa The Economics of Ecosystems

and Biodiversity (A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade) nasceu em 2007 durante o encontro de ministros do Meio Ambiente do G8+5 em Potsdam, na Alemanha, e começou a funcionar em 2008 sob coordenação do executivo Pavan Sukhdev, do Deutsche Bank. O objetivo era abarcar o valor econômico dos serviços dos ecossistemas e da biodiversidade, a fim de protegê-los de mais destruição e ações predatórias. O relatório final do estudo foi lançado em 2010 durante a 10ª Conferência das Partes (COP 10) da Convenção sobre Diversidade Biológica em Nagoya, no Japão. 5

Barbara Unmüßig, presidente da Fundação Henrich Boell,

entrevista Pavan Sukhdev “Ninguém pretende colocar etiquetas com preços na natureza”. In: http://br.boell.org/web/50-1433.html 6

El Khalili, Amyra. Pós RIO+20 - Reflexões conceituais sobre

a “comoditização” dos bens comuns. In: http://port.pravda. ru/cplp/brasil/12-12-2012/34094-reflexoes_rio-0/ 7

Oliveira, Péricles de. Agronegócio, um modelo esgotado.

Entrevista Vandana Shiva. In: www.brasildefato.com.br/node/15564


saúde & meio ambiente 25

Viver perto de áreas verdes

aumenta sensação de bem-estar Os pesquisadores, da Universidade de Exeter, constataram que passar a morar em um local com áreas verdes gera um efeito positivo duradouro, enquanto que aumentos de salários ou promoções no trabalho, por exemplo, fornecem apenas efeitos positivos de curto prazo. Para os autores da pesquisa, os resultados mostram que o acesso a parques urbanos traz benefícios à saúde pública. Mathew White, do Centro Europeu para o Desenvolvimento e Saúde Humana da Universidade de Exeter, um dos autores da pesquisa, explicou que o estudo se baseia nas descobertas de um outro levantamento, que mostrou que as pessoas vivendo em áreas urbanas mais verdes tinham menos sinais de depressão e ansiedade. Ele diz que isso ocorre “por várias razões”. “Por exemplo: as pessoas fazem todo tipo de coisas para ficarem mais felizes, elas lutam por uma promoção no trabalho, aumento de salário, até se casam. Mas o problema com todas estas coisas é que, depois de seis meses a um ano, elas voltam aos níveis originais de bem-estar. Então estas coisas não são sustentáveis, elas não nos fazem felizes no longo prazo”, afirmou. “Descobrimos que em um grupo de ganhadores da loteria, que tinham ganho mais de 500 mil libras (quase R$ 2 milhões), o efeito positivo definitivamente estava lá, mas depois de seis meses a um ano, eles tinham voltado aos níveis normais.” As descobertas foram publicadas na revista especializada Environmental Science and Technology. Dados A equipe de pesquisadores usou dados da Pesquisa de Residências Britânicas (que mudou o nome para pesquisa Compreendendo a Sociedade) e que começou a ser feita na GrãBretanha em 1991 pela Universidade de Essex.

www.uniqraphy.de (SXC)

Pesquisa se baseou em levantamento que mostra que essas pessoas têm menos sinais de depressão e ansiedade

“É uma amostra enorme e representativa da população britânica (atualmente cerca de 40 mil residências pesquisadas por ano), em que são respondidas várias perguntas, sobre renda, estado civil, etc”, disse White. “Mas também inclui algo chamado Questionário Geral de Saúde, que é usado por médicos para diagnosticar depressão e ansiedade.” “O que você vê é que, mesmo depois de três anos, a saúde mental ainda é melhor (para quem vive perto de áreas verdes), o que é improvável com as muitas outras coisas que achamos que nos farão felizes”, disse. Mais pesquisas O pesquisador acrescentou que a equipe quer fazer mais pesquisas para examinar uma possível ligação entre qualidade de relacionamentos conjugais e a vida em areas verdes. “Há provas de que as pessoas dentro de uma áreas com espaços verdes são menos estressadas e, quando você é menos estressado, você toma decisões mais razoáveis e se comunica melhor”, afirmou White. “Não vou falar que é uma poção mágica que cura todos os problemas do casamento, claro que não é, mas pode ser que (o fator do cenário) ajude a pender a balança na direção das decisões mais razoáveis e diálogos mais maduros.” Com as crescentes provas de ligação entre espaços verdes nas cidades e o impacto na saúde pública, há também o crescente interesse das autoridades e governos pelo assunto, segundo White. Mas, o pesquisador afirma que não será fácil decidir de onde deve vir o dinheiro para investir em áreas verdes nas cidades. “Por exemplo: autoridades ligadas ao meio ambiente irão dizer que se é bom para a saúde das pessoas, então o investimento deveria ser feito pelo serviço de saúde.” “Então, há muitas pessoas interessadas, mas o que realmente precisamos no nível de políticas, é decidir de onde virá o dinheiro para apoiar áreas verdes locais de qualidade”, acrescentou. Fonte: BBC Brasil

revista do meio ambiente jan 2014


rio

50ºc

denúncia

Você sabia trabalho escravo? mas é friboi, pode confiar

disso? Cheryl Leinonen (SXC)

26 saúde & meio ambiente

rio de janeiro registra as temperaturas mais altas do mundo a cidade do rio de janeiro registrou as temperaturas mais altas do planeta, de acordo com as medições do centro de preVisão de tempo e estudos climáticos (cptec). Seis das dez estações meteorológicas que apresentavam os termômetros mais elevados estavam no Rio – em Jacarepaguá, por exemplo, a sensação térmica chegou a 52ºC. O ranking foi coordenado pelo meteorologista Giovanni Dolif, do CPTEC, com base em informações prestadas por 4.232 estações de medição espalhadas por todo o mundo e acessadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). De acordo com o jornal O Globo, mais quatro municípios brasileiros registraram as temperaturas mais altas do mundo ontem: Joinville (SC), Cabo Frio (RJ), Jacareacanga (PA), Bauru (SP). O especialista disse que é preciso desconsiderar as temperaturas registradas no Hemisfério Norte, que encontra-se no inverno, e também relevar as medições da Austrália – já que, enquanto o Brasil passa pelo período da tarde, está de madrugada no país da Oceania. Mesmo assim, a situação é bem preocupante, pois as temperaturas registradas nas estações meteorológicas do Brasil foram bem mais altas que as encontradas na África. O CPTEC comparou os dados com outras localidades no planeta, mas as medições realizadas pela equipe ocorreram apenas em cidades brasileiras e no município de El Vigia, na Venezuela. De acordo com o Dolif, o calor vai persistir nos próximos dias no Rio de Janeiro, mesmo com a previsão de chuvas. Fonte: CICloVIVo

jan 2014 revista do meio ambiente

de seis em seis meses, o goVerno brasileiro atualiza uma lista chamada “lista suja”, que mostra os donos de empresa que mantÉm trabalhadores em condições totalmente degradantes, semelhante a Velha e conhecida escraVidão. A maioria do trabalho escravo flagrado por Procuradores do Trabalho em parceria com a Polícia Civil mostra empregados vivendo em condições precárias, sem alimento ou água adequados e com salários atrasados. Só pra você ter ideia do que tá pegando por aí, uma das empresas investigadas e apontadas nesta “lista suja” pertence a João Bertin Filho, herdeiro do Grupo Bertin, e que hoje integra o grupo JBS-Friboi. Quando a equipe chegou na fazenda que pertence à João Bertin, chamada Alta Floresta, no Mato Grosso, encontrou sete pessoas isoladas numa mata trabalhando constantemente para ampliação dos pastos. Bertin cria cerca de 18 mil bois e gerencia a extração de madeira em cerca de 35 mil hectares. De acordo com a investigação, os trabalhadores se alimentavam de comida estragada e não tinham as mínimas condições favoráveis como moradia adequada ou água potável. A história se repete em centenas de fazendas pelo Brasil. Segundo manda a lei, uma vez na “lista suja”, o empresário é impedido de conseguir crédito em bancos públicos e não pode vender sua produção à instituições estatais. Mas, isso funciona? O que você acha? Então, aí que vem o problema. Além de estar “fora da lei”, a criação de gado, ainda mais nestas condições, não possui o planejamento de impacto ambiental que a expansão do pasto trará. Na verdade, poucos, ou nenhum, produtor de carne se importa com isso. É uma pena, porque o cultivo desenfreado deste tipo de produção ajuda a agravar os impactos das Mudanças Climáticas. Segunda sem Carne Quer ajudar? E não ser radical? Já ouviu falar da Segunda Sem Carne? Que tal começar por ela? Uma maneira fácil e sem grandes impactos em sua alimentação, mas de grande impacto ao meio ambiente. Ele e seu corpo agradecem! Fonte: ClíMAX BRAsIl

é possível conferir a “lista suja” completa no portal do Ministério do trabalho e emprego aqui: http://bit.ly/1fYppMz


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Valter Campanato/ABr

texto Maurício Andres Ribeiro* (www.ecologizar.com.br / ecologizar@gmail.com)

28 artigo

Manifestantes protestam no Congresso Nacional, em Brasília, contra gastos na Copa, corrupção e por melhorias no transporte, na saúde e educação

Raízes ecológicas

das insatisfações sociais

Entre 2006 e 2013 ocorreram 843 protestos pelo mundo, em 87 países, na esteira dos desdobramentos da crise econômica e financeira global. Em 2012 e 2013 houve protestos no Brasil, na Turquia, no Egito, na Tunísia bem como revoltas na Espanha, Grécia, França, EUA A maioria dos movimentos foi liderada por jovens, sem medo e autonomamente. Em todos os países os manifestantes dos movimentos de protesto são pessoas comuns da classe média, bem educadas e com expectativas crescentes. Sindicalistas, ativistas sociais em geral e idosos também constituiram parte significativa de tais manifestações. 1 Os métodos de protesto consistiram majoritariamente de marchas pré-agendadas em grandes cidades e ocupação de ruas, bloqueio de vias, pequenos incêndios e barricadas, desobediência civil e ação direta de vazamento de informações por hackers, com amplo uso das redes sociais. Os protestos foram acelerados pelo uso da internet e muitos desapareceram de repente, do mesmo modo como apareceram. Especialistas mostram as diferenças e semelhanças entre eles. Moisés Naim 2 escreveu que os protestos na Tunísia, Chile, Turquia e Brasil jan 2014 revista do meio ambiente

revelam seis aspectos surpreendentemente semelhantes: pequenos incidentes se tornam grandes, os governos reagem mal aos movimentos, não há líderes ou cadeia de comando, não há ninguém nem grupo específico com quem negociar ou a quem prender, e é impossível prever conseqüências. A prosperidade nesses países não se fez acompanhar da estabilidade. Naim citou a observação de Samuel Huntington, segundo a qual, nos países em desenvolvimento, as demandas por serviços públicos crescem mais rápido do que a capacidade dos governos para satisfazê-las. Ademais, os protestos foram mais ativos nas democracias do que em regimes autoritários, que os reprimem e inibem. Aventa-se que a gestão das democracias tornou-se mais difícil devido às dificuldades para obter e alocar os recursos entre grupos com interesses concorrentes. A maior parte da violência nas manifestações sociais ocorreu nos países de menor renda. Violência e vandalismo ocorreram em 9% das manifestações. Entretanto, sua percepção é amplificada e parece que a violência é mais generalizada. Aqueles que perdem a paciência com a prática de métodos pacíficos apelam para a destrutividade como forma de dar visibilidade mais rápida a suas causas. Assim, não é incomum nestes contextos que tais atores queiram tornar-se visíveis por meio da quebradeira, da agressividade e da destruição. A radicalização e a polarização tornam-se métodos para se fazer ouvir, para se fazer enxergar, exigir cuidado, obter atenção.


29 No Brasil, por mais de vinte anos não se viam movimentações nas ruas como as que aconteceram em junho de 2013. Em geral elas foram pacíficas, mas em vários episódios, grupos maiores ou menores de manifestantes provocaram a violência com incêndios de veículos, depredações de bancos, invasões e pichações de prédios históricos, saques em lojas. Eventos tão díspares como a insatisfação de grupos com a gestão de uma universidade, o ativismo de libertação animal, a comemoração da vitória de um time no futebol, ou até mesmo contra a intervenção policial bem sucedida no sentido da coibição do tráfico de drogastêm levado a um desfecho comum: a destruição do patrimônio público e privado. Não faltaram, portanto, razões locais e globais para a indignação, a insatisfação social e a revolta. Em outras palavras, não se trata da movimentação de “rebeldes sem causa”. Os motivos para iniciar os protestos variaram: no Brasil, o aumento nas tarifas de ônibus teve o papel importante de detonar o início dos movimentos de protesto; na Turquia, foi a ameaça de destruição de um parque urbano; na Indonésia, o preço dos combustíveis; na zona do euro protestou-se contra a imposição do regime de austeridade. Na Índia, a corrupção e a falta de proteção para as mulheres.. Nos países árabes, protestou-se contra tudo. Contra os governos nacionais; contra a austeridade imposta em períodos de crise econômica; contra o Fundo Monetário Internacional, contra as corporações e as elites, contra as desigualdades, contra os altos preços de alimentos e de energia, contra a corrupção, a falência da justiça. Demanda-se mais transparência, mais justiça econômica e melhoria nos serviços públicos; mais justiça fiscal, mais trabalho e emprego, mais moradia. Demanda-se também mais liberdade de expressão, mais justiça ambiental e mais direitos para grupos indígenas, étnicos, das mulheres, de minorias como as LGBT, de imigrantes, de população carcerária. Luta-se pela reforma da previdência, pela reforma agrária e por outras reformas. Os protestos, de modo geral, evidenciaram e denunciaram a crise de legitimidade e o esgotamento do modelo de representação política. Eles condenaram a falta de ética na política e a corrupção, como uma relação desarmônica de parasitismo social e de predação. Condenaram também a ineficiência e a arrogância das autoridades. Todos demandaram politicas para prover mais emprego, serviços públicos decentes e politicas sociais efetivas. Os protestos de 2013 mostraram que há crise de representação política tanto em governos autoritários como na democracia representativa, que estaria falida. Muitas pessoas em vários países do mundo não se sentem mais representadas nem pelos representantes eleitos, nem pelos partidos políticos existentes. Os manifestantes perderam a esperança e a confiança na democracia representativa e nas instituições democráticas do modo como existem hoje. Há a percepção crescente de que os políticos não priorizam as demandas da população; há grande frustração com a política usual. Protestou-se em toda parte contra a falta de democracia real, que impede que as demandas econômicas e sociais sejam atendidas. Os governantes, de sua parte, tentam manter a ordem e apaziguar os conflitos mas, em muitos casos, há carência de instrumentos e de métodos não violentos de processar os conflitos sociais. Esta geração de jovens manifestantes parece pressentir o peso que terá que suportar, trabalhando duro para sustentar uma previdência social cada vez mais cara, considerando o crescente envelhecimento da população. Presencia a implementação de políticas econômicas de curto prazo que geram uma dívida ambiental e climática crescente que lhes dificultará a vida, tornando-a mais pesada, com menor qualidade e sem facilidades a desfrutar. Pode ser valioso situar a insatisfação social num contexto de longo prazo e de encadeamento de causas e efeitos. Aos motivos mais visíveis e manifestados expressamente das insatisfações sociais é oportuno explicitar que em sua origem, muitas remontam a fatores ambientais e climáticos. Jared Diamond, em seu livro Colapso, mostrou que a instabilidade politica e a insatisfação social em muitas sociedades decorreram de desequilíbrios

ambientais, de destruição da base natural que sustenta as sociedades, da exaustão de recursos naturais. O encadeamento de problemas que leva ao colapso começa com a sobrecarga no ambiente, o esgotamento de recursos e da capacidade de suporte, mudanças climáticas, tensão social, empobrecimento econômico, conflitos políticos e finalmente o colapso. A escassez e encarecimento dos alimentos, por exemplo, frequentemente tem origem em secas e eventos climáticos extremos, que tendem a se tornar mais intensos e frequentes. Muitas sociedades estãose tornando incapazes de relacionar-se, de modo duradouro, com a infraestrutura física na qual vivem. Tal incapacidade empobrece a base de riqueza natural, o que, por sua vez, resulta no empobrecimento econômico e no acirramento de conflitos políticos e sociais. Esses processos desagregadores provocam a decadência e o colapso. A cegueira e a surdez dos governantes decorre em boa medida da falta da compreensão sobre esses encadeamentos de problemas. A ecoalfabetização pode, portanto, ser um modo eficaz de reduzir esse déficit de entendimento. As revoltas nas ruas se assemelham a terremotos oriundos do ajustamento das placas tectônicas, com liberação de forte energia. Em tsunamis, tal energia resulta na produção de uma grande onda e de sucessivas ondas menores. Os anos de 1848 (levantes na Europa), 1917 (revolução russa) e 1968 (maio em Paris) são historicamente rememorados como períodos de explosão de insatisfação social com violência. A independência da Índia em 1947, as lutas pela igualdade racial lideradas por Martin Luther King nos Estados Unidos, a conciliação promovida por Nelson Mandela na África do Sul e o fim do apartheid, são, em contraste, referências relevantes de transformações realizadas de forma não violenta durante décadas. Procurar compreender as raízes ecológicas profundas das insatisfações sociais, situá-las como sinais e sintomas de uma crise maior no contexto da evolução social e política da humanidade, pode ser valioso para se participar ativamente ou como observadores conscientes nesses processos que se desenvolvem em nosso tempo. * Maurício é escritor, autor dos livros Ecologizar, Tesouros da Índia e Meio Ambiente & Evolução humana

Notas: 1

Ver Ortiz, I., S. Burke, M. Berrada and H. Cortes. 2013.

World Protests 2006-2013. Initiative for Policy Dialogue and Friedrich-Ebert-Stiftung New York.

2

http://internacional.elpais.com/internacional/2013/06/22/

actualidad/1371901704_006203.html revista do meio ambiente jan 2014


30 educação ambiental

5 formas de cultivar a felicidade nas

No ambiente pedagógico, mesmo sem a inclusão da “felicidade” na grade curricular das escolas, o assunto vem sendo cada vez mais colocado pela sociedade por organizações sociais. No ambiente pedagógico, mesmo sem a inclusão da “felicidade” na grade curricular das escolas, o assunto vem sendo cada vez mais colocado pela sociedade por organizações sociais. No Porvir, já falamos de pesquisas como a do Instituto Akatu e de instituições de ensino como a Escola Caminho do Meio, que ao basear-se no budismo, coloca o sentimento como base de suas práticas. Além disso, com a discussão atual da importância do desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como a empatia e a solidariedade, dentro das práticas pedagógicas, o tema também vem ganhando cada vez mais destaque. Ciente de tamanha importância, Elena Aguilar, especialista norte-americana em educação, resolveu detalhar algumas dicas “simples e práticas” que podem estimular professores a cultivarem a felicidade nas escolas. Em depoimento ao portal Edutopia, Aguilar, que tem experiência como docente em escolas da Califórnia, detalha alguns pontos sobre o assunto. Confira a compilação que o Porvir fez sobre as principais ideias da especialista: são sugestões de colocar mais música nas salas de aulas até de estimular a prática da meditação entre os membros da comunidade escolar. 1. A ordem é desacelerar Há uma correlação direta entre os níveis de satisfação física e psicológica e o ritmo em que as pessoas vivem suas respectivas vidas. Assim, quando os indivíduos desaceleram um pouco a velocidade em que executam as atividades rotineiras, eles conseguem desenvolvê-las de forma mais cuidadosa. No universo escolar não é diferente. Dessa forma, tanto alunos como professores podem se beneficiar desse “abrandamento” para que dessa maneira ambos possam melhor lidar com suas relações interpessoais, com seus objetivos de vida e também nos processos de aprendizagem. Na prática, os docentes, por exemplo, podem estimular esse ambiente menos acelerado do mundo contemporâneo propondo atividades que estimulem uma maior integração com e entre os alunos, além de sugerir momentos de relaxamento e descontração. Para tanto, o professor pode dedicar um tempo extra para uma conversa aberta entre os estudantes durante parte da aula ou propor um jogo lúdico para os alunos que recém ingressam às salas depois do recreio. 2. Vá lá para fora Estar do lado de fora da sala durante a aula, mesmo que por apenas alguns minutos, pode aumentar o estado de bem-estar dos alunos. As pessoas quando respiram ar puro e entram em contato com o calor do sol, o cheiro do vento, a umidade da chuva acabam se conectando mais com o mundo natural. Se o clima estiver agradável, por que não propor uma aula ao ar livre? Caso contrário, se o ambiente externo estiver muito frio ou quente, é possível que uma caminhada rápida e silenciosa pelo pátio da escola, por exemplo, possa estimular momentos de satisfação. jan 2014 revista do meio ambiente

escolas Roel Kuik (SXC)

Tratar de um tema tão subjetivo como a felicidade não é nada fácil. Pela própria diversidade que tal sentimento representa na vida de qualquer indivíduo, discuti-lo exige, ao menos, certa dose de tolerância

Atividades extraclasse e excursões também são válidas. Nessas situações, torna-se mais fácil conversar, aproximar-se dos alunos e aprender mais com eles durante essas saídas. 3. Aperta o play O efeito da música pode ter o poder de fazer as pessoas (incluindo os alunos) de se sentirem mais felizes. Isso porque, o efeito do relaxamento produzido pela audição de uma canção, por exemplo, pode estimular o melhor funcionamento da pressão arterial, diminuindo assim a ansiedade e tendo repercussões até no sistema imunológico dos indivíduos. Sendo assim, deixar uma música sendo tocada enquanto os alunos chegam à sala logo no início das aulas pode ser uma alternativa para que o professor consiga criar um atmosfera acolhedora e positiva entre o grupo. 4. Sorria mais Mesmo que você não seja uma pessoa sorridente, tente sorrir com mais frequência. “Caso encontre dificuldades em produzir um sorriso mais genuíno, tente, ao menos, fingir um sorriso mais autêntico”, sugere Aguilar. Segundo ela, até o mais “fake” dos sorrisos tem o poder de inspirar um melhor estado de espírito no ambiente em que ele é produzido. 5. Tá na hora de meditar De acordo com Aguilar, já há uma “abundância de evidências” sobre como a meditação pode estimular sentimentos de calma e bem-estar entre os praticantes. As escolas podem buscar incorporar a meditação dentro do ambiente educacional. “A ideia é propor que tal prática possa ser incorporada na rotina de professores e estudantes. Tudo isso para estimular ainda mais a criação de um ambiente mais tranquilo propício à aprendizagem e ao bem-estar na rotina diária dos praticantes.” Fonte: Mercado Ético/Provir


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A Norma NBR-ISO 14001:2004 – Sistema de Gestão do Meio Ambiente Data: sábado, dia 22 de fevereiro de 2014 Professor: José Aurélio S. Ferreira - Engenheiro Mecânico; Mestrando em Engenharia de produção - Estratégia Empresarial (COPPE/UFRJ); Pós Graduado em Engenharia Econômica e Gestão Industrial (POLI-UFRJ), Pós Graduado em Ciências Ambientais (NADC - UFRJ); Auditor Líder Certificado no IRCA no A008076 ; trabalhou como auditor e consultor para implantação de sistemas de gestão pelo IBQN; atualmente é Engenheiro de Logística de Materiais de Furnas Centrais Elétricas S/A; Professor e Coordenador de Cursos presenciais do Instituto Ecológico Aqualung.

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texto Daniel Barros

32 mobilidade

Não dá mais para ir de carro

nas grandes cidades

Como as cidades do mundo inteiro estão se movendo para resolver os problemas de transporte Quem diria? Chicago, Las Vegas e Los Angeles, nos Estados Unidos, estão copiando cidades como Curitiba, Goiânia e a colombiana Bogotá. Pelo menos na criação em suas ruas de faixas especiais para ônibus, o chamado BRT (do inglês Bus Rapid Transit), que começou a ganhar o mundo com base na experiência latino-americana. O conceito não é novo. É uma tentativa de emular as características boas do metrô usando ônibus – e investindo um décimo do necessário para fazer um trem subterrâneo. A solução reúne faixas segregadas fisicamente do trânsito, estações fixas, embarque em nível, pagamento da passagem antecipado e veículos mais longos do que o normal. A novidade é que, nos últimos dez anos, o número de cidades que usam o BRT no mundo aumentou de 50 para 166 e essa opção se tornou quase unanimidade entre especialistas em transporte urbano. “O BRT de Bogotá acabou com o mito de que o sistema não pode ser usado como transporte de massa, pois ele movimenta mais gente do que 95% das linhas de metrô”, disse o consultor colombiano Oscar Edmundo Diaz no EXAME Fórum Sustentabilidade, evento que discutiu em São Paulo, no dia 19 de novembro, soluções para a melhoria da mobilidade urbana — e, por consequência, da qualidade do meio ambiente. Diaz é sócio da consultoria GSD Plus e colaborou na gestão de Enrique Peñalosa como prefeito de Bogotá, no fim da década de 90, perío­do em que o Transmilênio, o BRT local, e dezenas de quilômetros de ciclovias foram feitos. A decisão política de Peñalosa seguiu um raciocínio simples: priorizar o transporte público em vez do individual, representado principalmente pelos carros. “Hoje, não vejo muita perspectiva de melhorar o transporte individual motorizado na cidade de São Paulo”, disse Fernando Haddad, prefeito da capital paulista, no encerramento do Fórum. Pouco mais da metade da população mundial mora em cidades. Em 2050, a concentração será de 70%. No Brasil, a proporção de população urbana já é de 84%. Nos últimos anos, as cidades brasileiras vêm registrando um enorme aumento no número de carros. A consultoria Ernst&Young fez um estudo que projeta dois cenários para o transporte nas cidades até 2050. jan 2014 revista do meio ambiente

A notícia ruim é que a mobilidade pode piorar muito. Hoje, metade do transporte de pessoas no mundo é feita por carro. Se a evolução se mantiver constante, em 40 anos quase 70% dos deslocamentos serão feitos em automóveis. O resultado seria que cada pessoa perderia, em média, 106 horas anuais em engarrafamentos — o dobro de hoje. Mas, se as metrópoles usarem os mecanismos disponíveis para incentivar alternativas ao carro, a proporção pode mudar para 40% de pessoas se movendo com carros e 60% com transporte público, compartilhado ou a pé. O gasto com transporte seria reduzido de 12% do PIB global para 6% e 180 mil mortes no trânsito seriam evitadas todos os anos — é uma Araçatuba, do interior de São Paulo, salva por ano. “O mundo precisa de cidades compactas, integradas e includentes”, disse no fórum Elkin Velasquez, coordenador do Habitat, programa das Nações Unidas dedicado aos assentamentos humanos. A escolha de tirar espaço dos carros e entregar aos ônibus é um símbolo disso. Mas vai ser preciso muito mais para dar um salto qualitativo. Sistemas como BRT e metrô miram atender o maior número possível de pessoas. Quando Velasquez diz que as cidades precisam ser compactas, refere-se ao adensamento das áreas que têm mais acesso a esse tipo de transporte: o de massa. É o que o Rio de Janeiro vem tentando fazer. Parte da cidade está sendo cortada pela via Transcarioca, um BRT que irá até a Barra da Tijuca, bairro nobre da zona oeste e um polo econômico de importância crescente. A inauguração da Transcarioca está prevista para o início de 2014. Em 2016, a zona norte receberá o Transbrasil, uma ligação até o centro. Hoje, o metrô também já atravessa essa parte da cidade, onde há um grande número de casas. “Como a zona norte terá uma infraestrutura de transporte muito melhor, queremos aprovar um projeto para aumentar o gabarito de construção da região”, diz o prefeito do Rio, Eduardo Paes. “O objetivo é adensar ainda mais o entorno das estações de BRT e metrô.” O Plano Diretor que a Câmara Municipal de São Paulo está discutindo parte da mesma premissa e avança em outro ponto vital para melhorar a mobilidade no longo prazo: o uso misto dos bairros. Melbourne, na Austrália, foi eleita pela consultoria Economist Intelligence Unit nos últimos três anos como a cidade mais “habitável” do mundo. Um dos principais quesitos é o equilíbrio entre prédios comerciais — onde estão os empregos — e residenciais, o que diminui a necessidade de mover as pessoas. “Medellín, na Colômbia, também dá exemplo de uso variado dos bairros”, diz Velasquez, da ONU. “O trânsito é disperso por vias paralelas e há um número crescente de parques e espaços públicos ao ar livre.” Medidas de curto prazo Mas também há um conjunto de medidas de curto prazo que podem melhorar o transporte público. “Eu não consigo entender por que ainda não é difundido no Brasil o uso da Onda Verde nos semáforos para ajudar o fluxo dos ônibus nos horários de pico”, diz Gilberto Peralta, presidente da GE, fabricante de sistemas de controle e equipamentos elétricos. Ele se refere à solução que dá prioridade à passagem dos coletivos em cruzamentos e que é usada corriqueiramente em cidades pequenas, médias e grandes lá fora. Pelo mundo, costuma ser parte fundamental dos sistemas de BRT, para garantir que os ônibus não percam tempo nos cruzamentos. Mas a tecno-


Mario Roberto Duran Ortiz (Wikimedia Commons)

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“Ligeirões” na Estação Marechal Floriano, do sistema BRT de Curitiba

logia também pode ser utilizada em linhas de ônibus normais: um dispositivo “avisa” quando o ônibus está se aproximando do sinal para que seja aberto. Na lista de medidas simples também estão o piso baixo, no nível das calçadas, e as portas largas dos ônibus. Eles permitem que mais pessoas entrem com rapidez. “A redução do tempo de viagem com essas melhorias pode chegar a 30% do total”, diz Adalberto Maluf, diretor para São Paulo da Rede C40, grupo das cidades líderes no tema das mudanças climáticas do mundo. Uma contribuição igualmente valiosa que a tecnologia pode dar está na difusão de informações. Que combinação de meios de transporte é mais apropriada para ir de um ponto a outro? É uma questão frequente para quem habita os grandes centros urbanos. São, afinal, dados que deveriam estar à mão. Londres, Singapura, Hong Kong e Seul oferecem isso com eficiência e em tempo real. Essas cidades mapeiam as opções e indicam como o cidadão pode usar combinações de metrô, trens urbanos, ônibus, bicicleta, táxis, caminhada e até estações de compartilhamento de veículos. “Quando as prefeituras mapeiam as opções de transporte em detalhe, além de comunicar melhor aos usuários quais são as rotas possíveis, elas descobrem onde estão os pontos subatendidos”, diz Susan Zielinsky, diretora do centro de pesquisa sobre mobilidade urbana Smart, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Usar informações em tempo real pode ser determinante para planejar o controle do tráfego e acionar rapidamente órgãos do governo quando acidentes acontecem. O Centro de Operações que a IBM montou para a prefeitura do Rio de Janeiro já é sincronizado com o aplicativo Waze, em que usuários compartilham informações sobre o trânsito. A ideia é que, quanto mais informações são coletadas, mais previsível se torna a forma como pessoas e veículos se movem. “Os dados coletados por GPS anônimos em carros e celulares permitem análises cada vez mais profundas”, diz Ulisses Mello, diretor de operações da IBM no Brasil. Com as tecnologias de hoje, já é possível saber que pontos de ônibus são mais utilizados a cada hora e, assim, modificar o trajeto dos coletivos. Mas toda essa tecnologia não resolve uma questão inerente a qualquer rede de transporte complexa: a capilaridade. Os sistemas de informação sofisticados devem indicar e fomentar a integração e o uso de mais opções. A boa e velha caminhada, por exemplo, não deve ser subestimada. “A cidade não pode ser feita só para veículos motorizados”, diz Oscar Diaz, da GSD Plus. “É preciso estudar o pedestre.” O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, parece ter entendido isso. Durante seu mandato de 12 anos, tomou várias medidas para tornar mais agradável a vida de quem anda pela cidade. Na intervenção com melhor custo-benefício, Bloomberg ampliou o tamanho das calçadas na região da Times Square e melhorou a sinalização. Conseguiu elevar 11% o número de pedestres da área e cortar 63% dos acidentes. Mesmo tirando faixas do trânsito, a fluidez dos carros no bairro aumentou 18%. O custo: 1,5 milhão de dólares.

“Se você der às pessoas um ambiente adequado para andar, elas vão escolher andar”, diz Helle Soholt, presidente do Gehl Architects, escritório que auxiliou a prefeitura de Nova York na tarefa de dar mais espaço aos pedestres. Atualmente, o Gehl está elaborando um projeto para o centro de São Paulo com a prefeitura. Estima-se que 25% dos deslocamentos de pessoas na cidade são de, no máximo, 3 quilômetros. Caminhar ou pedalar seriam saídas ideais. A mesma lógica do espaço para caminhadas, portanto, pode se aplicar ao uso de bicicletas. Em Bogotá, 370 quilômetros de ciclovias foram construídos desde a gestão de Enrique Peñalosa. Hoje, 5% da população se locomove diariamente com as bicicletas. O espaço para os ciclistas em Bogotá é mais do que o dobro do disponível em São Paulo, onde as ciclovias são usadas basicamente para lazer. Se Bogotá já avançou, o que dizer de Amsterdã, onde a proporção dos que pedalam é de 60% da população todos os dias? É a prova de que a ideia de que as pessoas podem ir trabalhar todos os dias de bicicleta não é utópica. “Uma forma de incentivar é garantir que as estações de metrô, trens e BRT tenham bicicletários”, diz Adalberto Maluf, da C40. O sistema de aluguel de bicicletas que já funciona em capitais brasileiras inspirou o setor automotivo, que também não quer um cenário de imobilidade maior ainda, mas que espera dobrar suas vendas nos próximos 30 anos. Sistemas de compartilhamento de veículos estão proliferando pela Europa e pelos Estados Unidos. O usuário pega um carro perto de uma estação de transporte público e o devolve em vagas especiais perto de casa. É uma aposta de algumas montadoras. “O aluguel de carros para trajetos curtos é uma das saídas para completar a última milha dos trajetos, e acreditamos que essa solução pode pegar”, diz Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz no Brasil. A empresa alemã criou o sistema Car2go, de aluguel de carros em pequenas estações espalhadas por pontos estratégicos e já oferece o serviço em 25 cidades — a maioria na Alemanha e nos Estados Unidos. Cidades do mundo inteiro estão se movendo para resolver os problemas de transporte e a ordem do dia é conseguir o melhor custo-benefício. “As cidades vão gastar bilhões tentando criar novos espaços públicos, como grandes avenidas e elevados, ou vão se empenhar em usar melhor o que já existe?”, diz Paulo Custódio, consultor de transporte do Banco Mundial. A conclusão do EXAME­Fórum é que a segunda opção é a que faz sentido. Fonte: Mundo da sustentabilidade / Exame.

revista do meio ambiente jan 2014


ilha de plástico

no Pacífico é maior que os EUA

É verdade que existe uma mancha gigante de lixo plástico no oceano?Uma não, duas. Elas ficam no meio do oceano Pacífico e, juntas, têm o dobro do tamanho dos Estados Unidos! Nesses depósitos de lixo flutuante já foram encontrados os mais bizarros resíduos, de cones de trânsito a brinquedos, tênis e malas de viagem. Metade dessa sujeirada toda é lançada no mar por navios e plataformas de petróleo. A outra parte deságua nos oceanos trazida por rios espalhados pelo mundo. O pior é que o desastre ecológico só aumenta: o volume de plástico no Pacífico mais que triplicou nos últimos dez anos. “O isolamento poderia fazer desse lugar um paraíso para os animais. Mas eles rondam a linha do lixo e só têm plástico para comer. Já encontramos todo tipo de objeto no estômago dos bichos”, diz o pesquisador Charles Moore, da Algalita Marine Research Foundation, entidade americana que trabalha na proteção da vida marinha. Corrente comntínua Pacífico tem “redemoinhos que prendem lixo de todos os oceanos. Correntes marítimas como a Círculo Polar Antártica ligam os três oceanos da Terra. Assim, grande parte dos resíduos do Atlântico e do Índico acaba se dirigindo para o Pacífico, mesmo que leve décadas percorrendo os mares do mundo. Em algumas regiões do oceano Pacífico, as correntes marítimas se movimentam em círculos, formando enormes “redemoinhos”. O lixo que entra nessas áreas, após vagar pelos oceanos de todo o planeta, fica preso nas correntes, formando as duas manchas gigantes de plástico. O pior é que o lixo boiando na superfície é só uma pequena parte da sujeira. Com o passar dos anos, pedaços menores de plástico se diluem, formando uma espécie de sopa nojenta. Resultado: as manchas têm camadas com até 10 m de profundidade de lixo. Efeitos colaterais Lixo das manchas detona dieta dos animais. Cardápio impróprio Pesquisadores já encontraram tartarugas que comeram isqueiros, peixes engasgados

jan 2014 revista do meio ambiente

www.nlarchitects.nl

texto Sonaira San Pedro / Dominique

34 lixo

As correntes no Oceano Pacífico tendem a acumular plástico flutuando em uma área restrita. Em 2008, imenso arquipélago de lixo já formava uma ilha flutuante do tamanho da Espanha, França e Itália juntas

com linhas de pesca e pássaros marinhos mortos com o estômago lotado de plástico ingerido na região das manchas. Alteração hormonal O lixo forma resíduos tóxicos que confundem os receptores hormonais de alguns animais. Há espécies que tiveram queda na produção de esperma e nascimento de mais fêmeas. Intoxicação à mesa Ao comer peixes que passaram por essas regiões, o ser humano ingere também os produtos tóxicos absorvidos pelos animais. Solução difícil Problema maior é eliminar “sopa plástica” abaixo da superfície. Pesquisadores ainda quebram a cabeça para encontrar um jeito de se livrar desse lixo. Apesar de trabalhoso, retirar os resíduos da superfície seria a parte mais fácil. O problema é o que está abaixo dessa camada. Como o plástico se quebra em pedaços quase microscópicos, remover essa “sopa plástica” significaria tirar também a água do mar com micro-organismos vivos, o que causaria um impacto ambiental ainda maior. Uma possível saída seria criar uma substância que fizesse uma faxina na região. Grandes navios soltariam milhões de litros de um solvente especial. Essa substância teria que ser biodegradável e atóxica, para não interferir na vida marinha local. O solvente quebraria as moléculas dos microscópicos pedaços de plástico, transformando os em partículas inofensivas para a natureza, como átomos de carbono. Mas há um problema: o excesso de átomos de carbono poderia alterar a vida marinha – até mesmo provocando mais mutações em algumas espécies. Fonte: Teorias e Verdades/Mundo Estranho.


PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ) COM ÁTILA NUNES E ÁTILA ALEXANDRE NUNES

Jaime Quitério, Átila Alexandre Nunes, Renata Maia e Átila Nunes

O programa Reclamar Adianta é transmitido durante a semana das 10 horas ao meio dia através da Rádio Bandeirantes AM 1360 (RJ), podendo também ser acessado pela internet: www.reclamaradianta.com.br Se desejar, envie a sugestão de um tema para ser abordado. Aqui os ouvintes participam de verdade. Abraços, Equipe do programa Reclamar Adianta

Ao lado do deputado está o filho dele, Átila Alexandre Nunes

PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA

RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)

De 2ª à 6ª feira, entre 10h e meio dia. Com Átila Nunes e Átila Alexandre Nunes Ouça também pela internet: www.reclamaradianta.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5588 twitter: @defesaconsumo www.emdefesadoconsumidor.com.br (serviço 100% gratuito) atilanunes@reclamaradianta.com.br atilanunes@emdefesadoconsumidor.com.br

PROGRAMA PAPO MADURO

RÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ) De 2ª à 6ª feira, ao meio dia. Ouça pela internet: www.papomaduro.com.br Central telefônica 24h: (021) 3282-5144 E-mail: ouvinte@papomaduro.com.br


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ano VIII • ed 67 • janeiro 2014

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