Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre (Ed. 7)

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Sumário NOSSA CAPA

Desenho de LILIAN TIBERY DIREÇÃO EDITORIAL

MEMÓRIA

Celso Machado

TITO TEIXEIRA

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EDIÇÃO E PROJETO GRÁFICO

Antonio Seara

OSCAR VIRGÍLIO

PESQUISA E REPORTAGEM

A Síndrome de Bonsai

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Núbia Mota

COLABORAÇÃO

Ademir Reis Adriana Faria Anaisa Toledo Antônio Pereira Carlos Guimarães Gilberto Gildo Jane Silva Rodrigues José Ferreira Neto Júlio César de Oliveira Léo Crosara Oscar Virgílio

FOTOGRAFIA

Acervos pessoais Arquivo Público Municipal CDHIS (UFU) Close Comunicação Correio de Uberlândia

REVISÃO

Ilma de Moraes

BUTANTÃ

TRATAMENTO DE IMAGENS

Luciano Araújo

O reduto das cobras HISTÓRIA • 1930

IMPRESSÃO

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A cidade e a revolução

Gráfica Breda

AGRADECIMENTOS

Ady Torres Carlos Roberto Viola Close Comunicação Cora Pavan Caparelli Durval Teixeira Hélvio de Lima Lincoln Repeza Moinho Cultural Odival Ferreira Ricardo Batista dos Santos Stefane Gontijo

MEMÓRIA DA IMPRENSA

Uberlândia Ilustrada PATRIMÔNIO

A casa de Uberabinha FUTSAL

O Bola de Ouro

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PROJETO EDITORIAL

NÓS PROJETOS

(34) 3229-0641 Rua Eduardo de Oliveira, 175 384000-068 Uberlândia, MG

PATROCÍNIO

PROPONENTE

Paulo Henrique Petri

ENTREVISTA

MOACYR FRANCO INCENTIVO PROJETO EXECUTADO POR MEIO DA LEI ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA DE MINAS GERAIS

22 PRODUÇÃO


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Carta ao Leitor PODER DOS TAMBORES

CONGADO

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UM NOME PARA A CIDADE

Crônica da mudança 34 TV INTEGRAÇÃO

50 ANOS 36

FUTEBOL

XV de Novembro 40 ARTES

Lilian Tibery 42 CAJUBÁ 50 ANOS

O Clube da Colina 44 HISTÓRIA

Escola de Medicina 62

BACALHOADA

ORA POIS! 56

MODERNIDADES

Quatro Rodas 60 SECRETARIA DE CULTURA

30 anos 64

U

Celso Machado Engenheiro de histórias

berlândia é uma cidade maravilhosa. Que encanta por infindáveis razões. Dentre elas considero sua história uma das mais cativantes. Porque explica, justifica e ensina o que a torna tão especial não só para quem nasceu aqui como também para quem a escolheu para adotar. Evidente que tem muito que melhorar. E em todos os aspectos. Um deles que me chama atenção e confesso que causa um certo constrangimento é a pouca valorização que é dada aos talentos locais. Considero esta uma boa causa para defender, porque nas mais diferentes áreas Uberlândia conta com artistas de nível que merecem ser reconhecidos, valorizados e prestigiados. Ainda que de uma forma bastante singela temos procurado fazer isso nas edições deste almanaque. Todas as capas foram criadas por artistas radicados em nossa cidade. E o cuidado do Seara na montagem é fundamental para que elas ganhem o merecido realce. Isto tem contribuído para que cada um tenha na sua apresentação uma obra de arte. Reconheço que apenas divulgar o trabalho e trajetória desses artistas nos almanaques é pouco diante do que acrescentam. Mas é uma maneira sincera de manifestar nosso reconhecimento e gratidão. E de demonstrar o tanto que são talentosos. Fico orgulhoso quando percebo o impacto que a capa de cada edição provoca. Outra forma tem sido as homenagens que prestamos em cada evento de lançamento. Que beleza ter podido prestar uma homenagem tão singela mas igualmente sincera ao Marley de Freitas, dona Julieta Cupertino, Virgilio Galassi (in memorian) e Clarimundo Campos. Gente nossa cujas trajetórias de vida são referência da grandeza do nosso povo. Como é bom fazer isso, mostrar para quem gosta de Uberlândia quem tanto fez e faz por nossa cidade.


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Ao lado: Corso de rua no carnaval de 19??. Hipopota, à direita, segue o desfile

Acima: Tito Teixeira e a 1ª bicicleta que entrou em Ituiutaba

1885-1984 MEMÓRIA

TITO TEIXEIRA A

Da aviação à telefonia, a vida de um empreendedor pioneiro no Brasil Central

rua, com cerca de um quilômetro e meio, onde fica a estação de trem no bairro Custódio Pereira, leva o nome de Tito Teixeira. Uberlandense de coração, não nasceu na cidade por falta de recursos médicos na São Pedro de Uberabinha, onde moravam seus pais Arlindo Olindo de Oliveira Teixeira e Filomena Augusta Rosa Terra. Foi preciso buscar assistência na vizinha Uberaba, onde Tito nasceu em 4 de janeiro de 1885. Na idade escolar, frequentou o Colégio Uberabense. Na juventude, foi trabalhar no Rio de Janeiro. Em 1901, regressou ao Triângulo Mineiro, para São José do Tijuco, hoje Ituiutaba, empregando-se na casa

comercial de Arlindo & Vilela, da qual passou a ser sócio 4 anos depois. Em 1908, em sociedade com Hilarião Rodrigues Chaves, comprou a filial de Teixeira, Chaves & Companhia e constituiu a firma Tito, Chaves & Companhia, em Ituiutaba. Em 1909, passou a fazer parte da empresa também em Uberabinha. Uberabinha Em 1912, foi eleito vereador em Uberabinha, reeleito por duas legislaturas consecutivas. Entre seus projetos, está a construção do edifício da municipalidade na praça Clarimundo Carneiro, onde hoje funciona o Museu Municipal. Em 1919, com o irmão Arlindo

Teixeira, fundou a Empresa Telefônica Teixeirinha, transformada mais tarde em CTBC, hoje Algar Telecom. Continuando a tradição de pioneiro, inaugurou, em 1º de janeiro de 1920, a primeira estrada para automóveis de Goiás, entre Itumbiara e Goiânia. A obra, iniciada em 1917, com 225 km, foi custeada com seu dinheiro. Em 1922, Tito Teixeira foi eleito primeiro presidente do Uberabinha Esporte Clube, hoje Uberlândia Esporte Clube (UEC). Foi reeleito de 1930 a 1933 e em 1935. Em 1930, iniciou a construção das arquibancadas do campo de futebol, inauguradas em 1935, com o célebre “jogo das ripas” com o Operário Esporte Clube de Araguari. Em 1924, fez parte da


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Tito (ao centro) com os colegas do Aero Clube de Uberlândia

Tito Teixeira prestou serviço durante a Revolução de 30

comissão que criou a Associação Comercial Industrial e Rural de Uberlândia, hoje Aciub. Em 1937, com o sonho de instalar uma escola de aviação na cidade, ao lado de companheiros, construiu um campo de pouso na Vila Osvaldo, hoje bairro Martins. A escola recebeu o nome de Escola de Aviação Marinceck, em homenagem a Antônio Marinceck, recém-brevetado em Ribeirão Preto e que havia mudado para Uberlândia. Marinceck era proprietário de um pequeno avião Taylor Cub, de 40 HP, com o qual iniciou as atividades da escola. Tito Teixeira se formou na primeira turma ao lado de 12 pessoas. Em 1938, obteve Licença de Piloto Privado, homologada pelo então Departamento de Aeronáutica Civil. Foi na época, com 53 anos, o piloto mais velho do Brasil a receber a licença. Em 25 de abril de 1938, ao lado de Levindo da Costa Pereira, criou o Aero Clube de Uberlândia, filiado ao Aero Clube do Brasil, o primeiro no interior do Brasil. “Ele tinha um

carinho especial comigo. Falava ‘vamos voar’ e eu fui piloto com 15 anos”, diz Durval um dos quatro filhos de Tito. Durante a 2ª Guerra Mundial (1942 a 1945), o empresário foi ainda interventor do Aero Clube. Era o homem da mais alta confiança do escalão superior da República, por ter prestado relevantes serviços na Revolução de 1930 no governo de Getúlio Vargas. Em 1964, foi um dos fundadores do Cajubá e o primeiro presidente do clube. Assim como o xará, Tito Lívio - autor da obra “Desde a fundação da cidade”, em que relata a história de Roma também registrou a história de Uberlândia. Os dois volumes do livro “Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central”, com informações preciosas sobre a cidade e região, foi publicado em 1970 e até hoje são fontes de pesquisa. Tito Teixeira faleceu em 30 de outubro de 1984, três meses antes de completar 100 anos. Fonte: Durval Teixeira, “Asas, Risos e Lágrimas – História do Aero Clube de Uberlândia”.


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Uberabinha não tinha importância econômica para ser final de ferrovia

O

s primeiros dirigentes de Uberlândia, e vários após eles, identificaram e combateram uma doença que ataca as cidades, cujo nome mais apropriado penso que deveria ser “síndrome de bonsai”. É um mal curável, mas sujeito a recaídas. Bonsai, como se sabe, é aquela técnica chinesa que consiste em segurar o crescimento da planta, que chega à idade adulta sem sair do tamanho de muda. Dá flores, dá frutos e tem folhas, lindas miniaturas, mas tudo de tamanho reduzido. Precisa de pouca água, pouca luz, não apresenta problemas, é fácil de se levar e administrar, pois isto não requer imaginação. Uberabinha tinha de tudo para ser uma linda cidade bonsai. Ao contrário de outros núcleos regionais, ficava mais longe de São Paulo, o grande centro do progresso e do comércio. Os paulistas já vinham chegando com a estrada de ferro. Chegaram a Uberaba, com o olho no transporte da produção agropecuária de Sacramento, Conquista e toda a margem do Rio Grande no rumo de Oeste. Uberabinha ficava lá em cima, longe, muito longe do Rio Grande. Uberabinha teve a visão do futuro que a esperava. Não tinha importância econômica para ser o ponto final da ferrovia. Talvez chegasse a ser uma pequena estaçãozinha se a estrada de ferro, que já chegara até Uberaba, avançasse em busca de Goiás, trazendo mercadorias e levando a produção

ARTIGO

A SÍNDROME DE

BONSAI Uberabinha tinha tudo para ser mais uma vítima da doença que ataca muitas cidades Por OSCAR VIRGÍLIO

Estradas boiadeiras livraram Uberabinha de se tornar cidade bonsai da terra. Quem chegasse primeiro conquistaria os mercados. O que os antigos vereadores pensaram e fizeram, sob a direção do primeiro Agente Executivo Augusto Cezar Ferreira e Souza, está registrado nas atas da primeira e pobre Câmara. Uma corrida contra o tempo, competindo com a ferrovia, com

apoio financeiro dos comerciantes. Celebraram um convênio com a Câmara de Morrinhos, que assumiu a construção de uma estrada carreira, de lá até a margem goiana do Rio Paranaíba. Uberabinha assumiu a pesada obrigação de fazer a estrada no lado mineiro até aquele rio, cabendo-lhe também


9 Balsa usada para transportar carga na travessia do Rio Paranaíba Abaixo: Ponte Afonso Pena

Fernando Vilela construiu estradas de terra para passagem de carros comprar e manter em serviço uma balsa e canoas para transporte. De lá vinham até o porto da balsa, os produtos da fértil terra goiana. Daqui seguiam até lá o sal, encomendas e manufaturas, tudo conduzido em carros de bois. Assumiu-se uma dianteira poucas vezes igualada. A construção daquelas estradas,

chamadas salineiras e boiadeiras, foi o adubo que livrou Uberabinha, Morrinhos e seus desmembramentos, inclusive Itumbiara, de se tornarem cidades “bonsai”. Sobre as estradas de terra foram depois empreendidas as vias de automóvel, deste lado mineiro por Fernando Vilela e Inácio Paes Leme, e do lado goiano

por Sidney Pereira de Almeida e Ronan Rodrigues Borges. O progresso animou a Companhia Mogyana a vencer o trecho quase deserto, mais de cem quilômetros, entre Uberaba e Uberabinha. Por um novo traçado, transportando carga para Uberabinha, o novo centro distribuidor e dali para Goiás, não mais sobre a velha balsa do Porto de Santa Rita, e sim pela nova Ponte Afonso Pena . O conhecimento destes fatos desmente aquela expressão simplista, de que Uberlândia cresceu apenas graças a uma “localização privilegiada”. Esta não existia. Foi construída, a mui duras penas, e até mesmo contrariando forças negativas. “Se não vendo, tratando e pelejando“, como diria Camões. Nenhuma localização, boa ou má, vira causa bastante de nada. Um município é construído, não simplesmente fundado, nem nascido. Confira-se o que houve, com a leitura das atas das velhas Câmaras Municipais, as felizes autoras daquele vitorioso consórcio intermunicipal.


Acima: o Real era conhecido como o bar do “enjeitei”.

1950-2014... BUTANTÃ

O REDUTO DAS COBRAS

O Real Café é um ponto de reunião dos políticos de Uberlândia e de celebridades da vida nacional

Acima: Foto recente

O

primeiro registro na Junta Comercial é do ano de 1969, mas a história de um dos bares mais tradicionais de Uberlândia começou muito antes, nos idos dos anos de 1950. O Real Café, na esquina entre a avenida Afonso Pena e a rua Santos Dumont, é o ponto, que, segundo um antigo artigo do jornalista Jacy Caci da Silva, reúne os cobras da cidade. Por isso veio o apelido, Butantã, em uma referência ao instituto, em São Paulo, que cria vacinas para cobras venenosas. Pelo bar, já passaram nomes importantes da política brasileira como os expresidentes da República Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves, Itamar Franco e por último, Dilma Rousseff, quando ainda estava em período de campanha em 2010. Fotos guardadas com todo o cuidado pelo atual dono, Damião Ferreira Matos. “Quem vem aqui até hoje, pelo menos uma vez por semana, é o ex-governador Rondon Pacheco”, diz Damião. Segundo o historiador e advogado Oscar Virgílio Pereira, antes do Real Café, existiu outro Butantã em Uberlândia. Também na avenida Afonso Pena, anexo ao Cine Teatro Ao lado: Aécio, Alckmin e José Serra


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UM HOMEM DE BEM

Acima: Dilma em campanha em 2010. Abaixo: Odelmo Leão, Itamar Franco, Rondon Pacheco e Antonio Anastasia Uberlândia, o Café Imperial do comerciante Abdalla Attiê era onde os homens se reuniam para conversar. “Depois que o Cine Teatro fechou, o café Imperial fechou também e abriram outro na esquina, onde ficava a Confeitaria Brasserie, bem grande e cheia de mesas.”, afirma o historiador. O local também foi o reduto de saudosos políticos locais, cada um com horários diferentes de frequentação. O ex-prefeito Virgílio Galassi gostava de ir bem cedo, por volta das 6h30 e 7h. Já Renato de Freitas ia religiosamente às 11h, acompanhado do seu secretariado. Pagava café para todo mundo, enquanto conversava sobre política. Ali, várias campanhas políticas foram arquitetadas.

Laerte Canêdo Porto, com os irmãos Paulo Ruben e Virgílio, e o pai Paulo Portilho, foram proprietários do Butantã por 20 anos, entre 1981 e 2001. Desde que vendeu o ponto e se mudou para Belo Horizonte, Laerte sempre que vem à cidade, não deixa de passar no café. “É uma parada obrigatória, onde tenho muitos amigos. Ex-funcionários meus ainda trabalham lá.” O ex-proprietário do café contou um segredinho: o outro apelido do ponto. “É também conhecido como a esquina do ‘Jaó’. Uma brincadeira bem machista: quando passava uma mulher na rua, alguém falava: “Essa aí, eu já ó.”O Real também era conhecido como o bar do “enjeitei” pelas histórias de negócios recusados por seus frequentadores.

Quando se candidatou a prefeito de Uberlândia em 1954, o comerciante Afrânio Rodrigues da Cunha mandou confeccionar santinhos no formato da cédula de 1 Cruzeiro, o dinheiro que circulava no país naquela época. No lugar da foto do Marquês de Tamandaré, patrono da marinha do Brasil, foi colocada a foto do candidato. Em vez da escrita República dos Estados Unidos do Brasil, foi impresso o nome de Afrânio, e embaixo da foto, onde estava por extenso o valor da nota, Um Cruzeiro, foi impresso: Um homem de bem. Além da cédula de 1 Cruzeiro ter sido a mais emitida neste período até a 1967, quando a moeda passou a se chamar Cruzeiro Novo, para depois voltar a se chamar Cruzeiro em 1970, o valor correspondia ao número do candidato. Afrânio acabou sendo eleito para o pleito de 1955 a 1958.

E O BANCO LEVOU... Nos idos dos anos 80 e 90, na avenida Rio Branco esquina com a rua Quintino Bocaiúva, no Centro de Uberlândia, existia um bar famoso entre os botequeiros de plantão, chamado “Barmerindus”, uma referência ao Banco Bamerindus, que até hoje é lembrando pelo jingle televisivo: “O tempo passa, o tempo voa, e a poupança Bame-rindus continua numa boa”. Acontece que a instituição financeira não gostou muito da ideia e entrou na justiça para que o nome do bar fosse mudado. Com a ação ganha pelo banco, o dono Salvador Maiolino mudou o nome para “E o banco levou”...


Reservistas voluntários protegem a fronteira entre os estados de Minas Gerais e Goiás, próximo a Itumbiara

D CIDADE APOIA 1930 HISTÓRIA

A REVOLUÇÃO DE 1930

Jornal criado por intelectuais da cidade é portavoz do movimento dirigido por Getúlio Vargas

urante a Revolução de 1930, iniciada em 3 de outubro sob a liderança civil de Getúlio Vargas; em Uberlândia, o movimento foi todo registrado em um periódico chamado “O Diário da Revolução”, em uma união de forças de quatro intelectuais: Nelson Cupertino, José A. Teixeira, Eurico Silva e Nelson Porto. Ainda foi formado em terras uberlandenses um Comitê Revolucionário e um acampamento com tropas do Exército, de onde saíram vários recrutas para proteger a fronteira de Minas Gerais do estado de Goiás, que reagiu contra Getúlio. Logo na capa da edição número 1 de O Diário da Revolução, publicado no dia 9 de outubro daquele ano, um pequeno texto, intitulado Nosso Fim, informava a finalidade do jornal que teve 43 números, distribuídos até 25 de novembro de 1930. “Surge hoje o Diario da Revolução que vae ser o porta-voz do movimento revolucionário em


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Uberlandia, movimento este que faz vibrar as cellullas mais distantes do gigante sul-americano. Noticiará todos os despachos radiotelegraphicos e as ordens do Governados Militar da cidade. Talvez de duração efêmera, será no emtanto, um documento de que Uberlandia soube agir com sobranceria deante da Grande Revolução. “ Major Persilva (2º) com Camillo Chaves (de terno) e outros apoiadores

Acima: reservistas de frente à Prefeitura. Abaixo: estação telegráfica

Em Uberlândia, o Ginásio Mineiro, conhecido também como Museu, foi transformado em um quartel general do Comando Geral Revolucionário do Triângulo Mineiro, chefiado pelo Senador Camillo Chaves e o Major José Persilva, da 2ª Companhia do 5º Batalhão de Infantaria da Força Pública de Minas Gerais. De lá saiu um grupo de homens, recrutado para defender a cidade e o Estado das tropas federais, já que na Revolução, Minas Gerais se uniu a Rio Grande do Sul e à Paraíba contra o restante dos estados. Os inimigos mineiros e goianos então ficaram lado a lado, separados apenas pela ponte Afonso Pena, localizada na fronteira. Foi, exatamente, nesse ponto, que parte dos recrutas montou uma trincheira, próximo a Santa Rita do Paranaíba, hoje Itumbiara (GO). Até os responsáveis pelo “O Diário da Revolução”, Nelson Porto e Nelson Cupertino, se fardaram e foram voluntários. As tropas mineiras, em menor número, enfrentavam com espingardas winchester os soldados goianos, famosos pela


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SAIBA MAIS

O que foi a REVOLUÇÃO DE 30

E Getúlio Vargas chega a Uberlândia para comemorar vitória

Desfile da tropa após a vitória na avenida Afonso Pena excelente pontaria, e armados com fuzis. Mas dois tiros do canhão Emílio, fabricado em Uberlândia pelo italiano Cesário Crosara, ajudaram a alterar essa desigualdade. O primeiro disparo derrubou uma das torres da igreja de Santa Rita dos Impossíveis na cidade goiana e o segundo tiro acertou o cabo de aço da ponte Afonso Pena. A ponte arriou e o grupo de Goiás levantou bandeira branca. Entre os combatentes, o único que morreu do grupo mineiro foi o Tenente Virmondes Ribeiro, aos 28 anos, no dia 19 de

outubro de 1930, quando levou um tiro certeiro na testa. No dia 20 de outubro, o sepultamento de Tenente Virmondes foi divulgado pelo “O Diário da Revolução”, assim como o ato do comandante e senador Camillo Chaves, que o promoveu a tenente. Naquele mesmo mês, houve um desfile na avenida Afonso Pena, com todos os combatentes montados em cavalos em comemoração à vitória. Getúlio Vargas veio à cidade a bordo do avião Cruzeiro do Sul, onde foi recebido com grande festa.

m 1930, um grupo político iniciou um movimento armado com o objetivo de derrubar o governo do presidente Washington Luís e impedir a posse do político paulista Júlio Prestes, eleito presidente da República em 1º de março. O movimento provocou um racha na política do café com leite, firmada entre as oligarquias estaduais e o governo federal durante a República Velha, para que os presidentes da República fossem escolhidos entre os políticos de São Paulo e Minas Gerais, revezando os mandatos. Em 1930, seria a vez de Minas assumir a presidência, pois o presidente Washington Luís, natural de Macaé (RJ), vivia em São Paulo. Mas Washington Luís apoiou Júlio Prestes, também de São Paulo, e não o candidato mineiro e então governador do Estado, Antônio Carlos, numa quebra do acordo firmado entre os dois estados desde 1898. Rio Grande do Sul, Paraíba e Minas Gerais se uniram contra os demais estados, venceram a disputa e conseguiram depor Washington Luís. Getúlio Vargas assumiu a chefia do Governo Provisório em 3 de novembro de 1930, data que marcou também o fim da República Velha.



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Capa da revista “Uberlândia Ilustrada”, 1939

1939 MEMÓRIA DA IMPRENSA

UBERLÂNDIA ILUSTRADA

Nossa cidade passada em revista

A

imprensa escrita sempre cumpriu um papel muito significativo em defesa dos interesses da cidade e também do registro de sua história. O “Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre” vai trazer, a partir desta edição, trechos de publicações, que constituem verdadeiras relíquias sobre nossa gente e nossa cidade. Começamos pela revista “Uberlândia Ilustrada”, dirigida por Jerônimo Arantes, que, na edição 4 de junho de 1939, trazia como destaque reportagem de capa sobre a história do abastecimento de água de Uberlândia.

“Sou natural de Fortaleza e fugindo do recrutamento para a guerra do Paraguay, dei com os costados aqui em 1865. Isto aqui era um sertão atôa. Tinha algumas casas melhores um pouquinho, ali perto da igreja, que era igreja e cemitério ao mesmo tempo. As gentes de mais importância eram sepultadas debaixo do soalho da sacristia. Os pobres eram enterrados

“No manancial que serve de nascente ao ribeirão São Pedro, ainda se vê o antigo açude do primeiro rêgo dágua que abasteceu longos anos a população do distrito de São Pedro de Uberabinha e que veio beneficiando a cidade até 1909. As primeiras providências tomadas pela Câmara Municipal, para o serviço de abastecimento dágua da cidade partem de 1909, quando naquela fase era agente executivo o senhor Alexandre Oliveira Marquez. Bastante moroso foi aquele trabalho de vulto, vindo a sua realização findar na administração municipal do dr. João Severiano Rodrigues da Cunha”.

Entre as preciosidades desta edição há uma interessante entrevista com João José de Souza (Carioca), nascido em 1840, sob o título “Revivendo o passado na voz de gente antiga”.

João José de Souza (Carioca)

sem caixão, embrulhados num papel preto, em redor da igrejinha. Toda vida gostei de caçar. Cacei muito bicho aí no Capão do Encargo (onde fica hoje as ruas Barão de Camargos, Augusto César e General Osório) e no cerradão onde fica hoje a cidade nova que eu não conheço. Quando colocaram aqui a estação da Mogyana era lá no meio do mato perto do Capão Seco. Quando era noite de lua, eu saía tocando minha flautinha e levava os cachorros tatuseiros. Era aquela conta: matava os cascudinhos na certa. Os primeiros homens que tinham mais valor aqui, há muitos anos era o padre João – bom padre, Deus o tenha. O Pintão, que era músico e professor, Jerônimo Martins França que era fogueteiro – castelo bonito e roda de fogo só ele é quem sabia fazer! Os comerciantes de mais movimento era o Pedro Flório, que foi patrão do Cel. Carneiro, uma pessoa que trabalhou muito por este lugar. Conheci também os comerciantes Pedro Lobo, Antonio Carvalho, Antonio Justino, José Cota, Antonio Gomes Moreira e depois o Arlindo Teixeira.” Ele descansou na posição que estava, estendeu a perna sobre o cabo da enxadinha e concluiu a entrevista com esta frase expressiva: “Parece que a morte já se esqueceu de mim!” Pousou contente para a objetiva e despedindo nos disse: “Mande um retrato para mim, que eu quero ver se ficou bonito a cara do velho!” A edição número 4 da revista “Uberlândia Ilustrada”, de junho de 1939, estará no museu virtual “uberlandiadeontemesempre” em fase de estruturação.



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“Era uma casa que não tinha nada, de pau a pique, piso de tábua. Ninguém queria essa casa não, então um dia ela foi pro chão. Mas era feita com esmero, lá no Fundinho, o marco zero.” Parafraseando a canção de Vinicius de Moraes, a construção que ficava na esquina da antiga rua das Pitangas, hoje rua Augusto César nº 101, com a Padre Anchieta, era considerada por especialistas em arquitetura a mais antiga da cidade, feita nos tempos de Uberabinha, no século 19. Era conhecida como a casa de Dona Adélia. O sonho de tombamento da pianista, que ali morou por toda a vida, foi ao chão em 2012, quando o imóvel foi demolido. Adélia França morreu em 2004, aos 76 anos, e morou no endereço por 66 anos. Em entrevista ao primeiro jornal “Fundinho Cultural” em 2002, editado pelo artista plástico Hélvio de Lima, a pianista disse que foi ali

1928-1972 BAIRRO FUNDINHO

A ÚLTIMA CASA DE UBERABINHA Dona Adélia, a pianista, sonhava em ver preservada a casa, demolida em 2012

onde ganhou seu primeiro piano. “Quando cheguei ao bairro, em 1938, Uberlândia era uma cidade pequena ainda. O Fundinho era o Centro, possuía um bom comércio e um grande movimento de pessoas. O meu amor pelo bairro se justifica pelas boas lembranças. A infância vivida num tempo de paz e liberdade, sem violência e com

fraternidade”, disse ela. A professora de piano chegou a dar início ao processo de tombamento da casa para não pagar mais IPTU, mas morreu antes da conclusão do processo. Depois disso, a Procuradoria do Município indeferiu o pedido de tombamento, justificado pela falta documentação e comprovação do valor


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Acima: imóvel que ficava na rua Augusto César, 101 Abaixo: casa foi demolida em 2012

2002 2012

histórico da edificação, bem como das condições precárias da casa. “Ela foi caindo aos poucos com o tempo e acabamos limpando o lote. Como não tínhamos condição de consertar, fizemos uma proposta para a prefeitura de nos dar outro imóvel em troca, mas eles não tiveram inte-resse”, disse o sobrinho de dona Adélia, que pediu para não ter o nome publicado. Dois anos antes de morrer, Dona Adélia falou sobre a importância das edificações do Fundinho. “Essa parte da cidade com seu conteúdo histórico e cultural e suas construções de aspecto simples representam para mim uma verdadeira relíquia e o povo do resto da cidade e de fora daqui há de reconhecer isto.”

QUEM FOI A PIANISTA Além do amor pela música, Adélia dos Santos França era amante da poesia. Gosto que herdou do pai, o poeta José de Lélis França, o Dedé, filho do 3º prefeito de Uberlândia entre 1895 a 1897, também chamado José de Lélis França, o Zeca Major . “Em cada um dos meus aniver-sários, meu pai me trazia uma poesia e uma flor.” Na música, dona Adélia fez aula de piano com o maestro Carlos Alcântara, da Orquestra Tapajós, a mesma em que foi crooner o cantor Moacyr Franco. Desde os 16 anos, ela deu aulas de música para mais de 400 alunos em Uberlândia.


Acima: Neto entre o avô Dovenir Domingues e Fausto Barbosa, ex-diretor do Praia

2012 MUNDIAL DE FUTSAL DA TAILÂNDIA

NETO, NOSSO BOLA DE OURO Escolinha do Praia chegou a rejeitar o artilheiro

N

em todo mundo acredita em predestinação, mas o caso de Dovenir Domingues Neto é para deixar até os mais incrédulos, no mínimo, pensativos. Com apenas três dias de vida, o melhor jogador da Copa do Mundo de Futsal pela seleção brasileira foi levado a um Centro Espírita em Uberlândia. Chegando lá, assim que o médium viu o recém-nascido, disse “chegou o doutor jogador”. E não demorou muito para o menino mostrar a que veio. Com 5 anos, Neto tentou a

matrícula na escolinha de futebol do Praia Clube, mas foi rejeitado por ser ainda muito pequeno. “Foi rejeitado por causa do tamanho, até que viram o tamanho do futebol dele”, diz o pai Dovenir Domingues. Com a insistência do pai e da mãe, Rita, Neto pôde participar do treino sem ser matriculado e marcou três gols. A matrícula foi aceita. “Ele ganhou o primeiro tênis, um Adidas branco. Ganhou também um meião azul marinho que não deixava lavar nunca. De tão sujo, o meião parava em pé”, lembra a mãe do jogador. Além dos treinos na escolinha de futebol, as brincadeiras de rua, no bairro Liberdade,

praticamente se resumiam também à bola. Ele já chamava a atenção dos outros meninos que sempre queriam tê-lo em seu time, porque a vitória era garantida. “Eu gostava de andar de bike, brincar de roubabandeira, mas jogava mais futebol. Colocava dois chinelos ou duas pedras para servir de gol. Ia muito ao Praia, porque desde que nasci sou sócio do clube”, diz o fixo de 32 anos, filho de treinador e neto de Dovenir Domingues, que até hoje, aos 84 anos, organiza racha entre amigos no Praia. Uma vez, um grupo de crianças foi até a casa de Neto, quando ele ainda tinha 5 anos, convidá-lo para um jogo contra o Esperança. O jogo foi no Esperança e o time da casa perdeu de goleada por 7 a 1. “Ouvi um menino falar ‘vou ter que furar o baixinho, ele humilhou a gente’. Não entendi bem e falei pra ele ser amigo do Neto. Ele foi lá, o Neto o chamou pra jogar videogame em casa. Então o menino voltou e me entregou um canivete e falou “não vou furar ele mais não, tio”, lembra o pai do jogador. “Acho que a vida


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Os pais Dovenir e Rita têm uma galeria de fotos do filho em casa

do Neto foi decidida naquele dia.” O ex-aluno do Bueno Brandão e do Anglo também era estudioso, chegou a cogitar a possibilidade de ser médico, quando deu início ao ensino médio. “Morava em BH e só não fiz Medicina porque quebrei o braço e tive que fazer fisioterapia. Por causa da lesão, tive que optar entre o futebol ou a faculdade e escolhi o futebol, mas não foi uma escolha difícil”, afirma. CARREIRA

Camisa 11 durante a Copa do Mundo na Tailândia

Neto foi considerado pela Fifa o melhor jogador de futsal do mundo em 2012

Neto jogou em Uberlândia pelo Praia até 1997, ano em que o time foi campeão mineiro juvenil jogando contra potências como o Minas Clube e o Atlético Mineiro. “Foi quando recebi o convite para sair e ir para o profissional do Atlético. Depois disso, nunca mais voltei”, disse Neto. Do Atlético, o craque passou pelo Minas, quando foi convocado para seleção brasileira. De lá foi para o Ulbra, passou pelo espanhol Inter Movistar, Jaraguá, Santos e Krona de Joinville. Somente no clube europeu ganhou 17 títulos. Em 2013 até o início de 2014, morou na Rússia, onde fez parte da equipe do Gazprom-Ugra e ,desde junho, está de volta ao Brasil como jogador do Corinthians. Em 2012, na conquista do título da seleção brasileira na Copa do Mundo de Futsal, na Tailândia, Neto recebeu a Bola de Ouro, e foi considerado pela Fifa o melhor jogador de Futsal do mundo. Marcou sete gols no campeonato, dois na final contra a Espanha. Foi a primeira vez na história da premiação, dada de quatro em quatro anos, que um fixo foi escolhido, já que jogadores de ataque geralmente recebem maior destaque.


“MUITO PRAZER EM REVÊ-LO” Entrevista a ANAISA TOLEDO


23 ENTREVISTA MOACYR FRANCO

Moacyr iniciou sua carreira na Rádio Difusora de Uberlândia e como crooner da Orquestra Tapajós

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oacir de Oliveira Franco, grafado sem o Y, foi de tudo um pouco: vendeu galinhas, engraxou sapatos, entregou jornal e foi pintor. Nos últimos 54 anos, se transformou em Moacyr Franco, ator, humorista, cantor, compositor, autor, apresentador de TV, mas recorda com precisão detalhes dos tempos de menino, quando mudou da terra natal, Ituiutaba, para o centro de Uberlândia, onde descobriu e foi descoberto pela arte. Em entrevista ao “Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre”, o artista contou parte do que passou na cidade, quando estudou no Colégio Estadual, fez aula de natação do Uberlândia Tênis Clube (UTC) e se divertia andando de elevador no Hotel Colombo ou fazendo traquinagem na praça, mesmo com medo das broncas do Guarda Antônio. Foi, em Uberlândia, que Moacyr iniciou a carreira artística apresentando-se na Rádio Difusora de Uberlândia no programa “Astros e Estrelas de Amanhã” e como crooner da Orquestra Tapajós, do maestro Carlos Alcântara, até deixar a cidade e ganhar fama nacional.


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Quando você veio morar em Uberlândia? Acho que tinha 10 anos. Vim de Ituitutaba e fui morar na casa de uma senhora nos fundos do Colégio Estadual, o Museu. Ela se chamava dona Quitéria. O meu pai tinha um caminhão e trazia umas coisas da roça para vender. Trazia frangos, ovos, galinhas e eu saía de manhã cedo para vender. Amarrava as galinhas em um pau e ficava vendendo ali pela região. Eu lembro muito da rapaziada da escola caçoar de mim por vender galinhas. Depois disso, fomos morar em uma rua atrás da Fernando Vilela, chamada rua Particular.

Música: Moacyr Franco e o rei Roberto Carlos

Onde você estudou? Fui estudar no Colégio Estadual e lembro que o uniforme era cáqui, com umas correias de amarrar, igual ao do exército americano. Mas minha mãe cismou de fazer uma roupa cor de ovo, para não gastar dinheiro. Foi um horror. Ela levou meu irmão e eu para a sala de aula e foi uma risada só quando a gente entrou com aquela roupa. Lembra dos seus professores? Lembro da maioria. Tinha uma professora de Português, dona Iraci, que era terrível. Tinha o Leônidas, que era de Matemática. Castilho era de Física e Geografia. Eu me assustava, me doía a barriga quando ele falava “Moacyr Franco”. Tinha o professor Guinter. Ele não tinha um braço, só tinha o canhoto. Quando a gente conversava, ele pegava o apagador e atirava. Tinha a professora de Música que era a dona Alfredina. O professor Mário Godoy ensinava basquete e a nadar no Uberlândia Tênis Clube (UTC).

Moacyr Franco ainda nos tempos de rádio em Ribeirão Preto


“ Lembro da rapaziada da escola caçoar de mim por vender galinhas na rua”

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Era frequentador do UTC? Ficamos sócios militantes. Eu tenho fascínio pelo cheiro do cloro até hoje por causa da piscina do UTC, porque a gente ia lá só uma vez por semana. Dia dos pobres. Eu lembro que não tinha dinheiro para comprar a sunga e comprei a mais barata numa lojinha. Era cinza e a primeira vez que lavou, desbotou. Minha mãe teve que passar uma linha. Ficou uma marmota. Você fez muita amizade aqui? Tive bons e queridos amigos. Inclusive alguns que me acompanharam até o fim da vida. Um deles, Clayton Silva, também fez parte de “A Praça É Nossa”. O outro era Gilberto Garcia, que é pai da Isabela e da Rosana Garcia. Tinha um amigo chamado Merola, que era um gordão, tinha o Klinger e o Zé da Maria Bonita.

Acima: Moacyr Franco com a atriz Regina Duarte Ao lado: Moacyr abraça o ator e autor de teatro Procópio Ferreira

Além de vender galinhas, onde mais você trabalhou? Eu e Gilberto Garcia trabalhamos no Correio de Uberlândia. Ele colocava os endereços nos jornais e eu saía para vender de manhã cedo. Passava pela Afonso Pena, perto do Cine Uberlândia, gritando “Oh, o Correio de Uberlândia de hoje, Oh, o Correio de Uberlândia de hoje”. Tem um fato engraçado acontecido nessa época. Nós éramos adolescentes e o Gilberto arrumou uma namorada. Ele passava a noite ligando para a moça, porque o telefone era de graça, e não fazia o despacho dos jornais. Ele, então, jogava alguns jornais no forro da oficina onde ficavam as máquinas. Um dia deu uma chuvarada, os jornais pesaram e o forro caiu. Descobriram toneladas de jornais lá em cima.


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“ Minha cultura musical ficou assim melancólica, meio erudita, de tanto ouvir as orquestras do Vasconcelos ”

O que fazia para se divertir? Eu era engraxate perto da estação do trem, próximo a um bar chamado União, do lado do Cine Éden. A gente ia para dentro do bar, como quem vai fazer xixi, e pulava o muro para cair dentro do cinema em dia de seriado. Era lindo. Quando foi seu primeiro contato com a música? Quando fui pintor na oficina do Vasconcelos, no fundo da igreja do Monsenhor Eduardo. O Vasconcelos trouxe de São Paulo muitos discos, um monte de long-plays de orquestras, músicas melódicas. O pessoal da igreja curtia muito. Então, minha cultura musical ficou assim melancólica, meio erudita, de tanto ouvir as orquestras do Vasconcelos. Sua vida aqui foi sempre muito simples, não é mesmo? Foi sim. Tinha uma casa de frutas em frente ao Cine Uberlândia, chamada A Boca Larga. Eu tinha certeza que nunca poderia comer uma maçã daquelas. Mas como também engraxava sapato, consegui juntar um dinheirinho e experimentar a maçã. Meu complexo diminuiu um pouco porque achei maçã horrível. Tinha outros sonhos gastronômicos, além da maçã? Chegou em Uberlândia a Coca-Cola. Ninguém sabia o que era. Tinha um bar embaixo do Hotel Colombo. Fomos lá e fizemos uma vaquinha para comprar a Coca-Cola. Pedimos quatro copos. Cada um bebeu um pouquinho, mas eu também achei ruim. Adorava ir ao Hotel Colombo andar de elevador. Achava o máximo.

Acima: Moacyr (em destaque) como crooner da Orquestra Tapajós Ao lado: Cantor lendo o "Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre" A direita: Jeca Gay no programa “A Praça É Nossa” Histórico escolar do cantor no Colégio Estadual de Uberlândia entre 1949 e 1952


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Você e sua turma faziam muita bagunça pela cidade? Sim, mas tinha o Guarda Antônio. A garotada morria de medo dele. Tinha hierarquia e era bonito. Se a gente estivesse fazendo traquinagem na praça, falavam “lá vem o Guarda Antônio”. Sumia todo mundo. Lembro quando inauguraram o busto de Juscelino Kubitschek na praça. Fizemos uma brincadeira, mas essa não posso contar.

Moacyr ganhou fama nacional

Então, conte uma publicável. Embaixo da rádio tinha uma loja chamada Ritz, onde roubamos umas meias (risos). Apareceu a meia de espuma de náilon que era o máximo. Ninguém tinha, erámos todos pés rapados, andávamos de sapatos furados. Mas, éramos ladrões ingênuos. Um foi lá, roubou umas 10 meias e, no outro dia, a criançada favelada tava toda de meia de espuma de náilon. O dono da loja chamou a polícia, chamou pais, mães, foi um escândalo! Como a sua carreira musical começou em Uberlândia? Na rádio PRC-6 (Difusora), tinha um programa de calouros apresentado pelo Ari Novaes Rocha, que se chamava “Astros e Estrelas de Amanhã”. Minha mãe tinha uma pensão perto do Mercado, na rua Carmo Giffoni. Um dia, o pessoal todo da pensão se organizou para ir tocar no programa. Por uma baita casualidade, fui muito bem e fiquei em primeiro lugar. Ganhou algum prêmio? Ganhei uma lata de bala da Balas Imperial, mas fiz um charminho e dei a lata para a moça que ficou em


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“ Quando comecei a cantar, as pessoas pararam de dançar para me ouvir...”

segundo lugar, a Litória, que veio a ser a minha primeira mulher. A Litória era uma garotinha baixinha, bonitinha, e namorava todos os calouros. Eu nem acreditei no dia que ela resolveu me namorar. Você começou a cantar na noite? Comecei quando trabalhava como pintor no Cine Teatro Uberlândia com o Valim, Avalim Júnior, que era o pintor-chefe do cinema. Um dia chegou lá um maestro falando que precisava pintar as estantes da Orquestra Tapajós. Perguntou quanto custava, mas ele estava duro. Falei que se me deixasse cantar um dia com a orquestra, pintava de graça. Como foi a apresentação? Eu não cantei com a orquestra mesmo. Cantei só com bateria, baixo e com uma pianista que era filha do seu Vadico, dono do Colégio Estadual. A Sônia, irmã da Ione. Aconteceu uma coisa muito bonita. Quando comecei a cantar, as pessoas pararam de dançar para me ouvir. A orquestra decidiu me assumir como cantor, como crooner. Eu cantava fox, boleros.

Moacyr Franco também foi ator de televisão

Quando surgiu a oportunidade de ir embora da cidade? A Orquestra Tapajós ia sempre para Ribeirão Preto e o Toledo, que trabalhava na rádio, foi vender um piano em Ribeirão e eu fui com ele. Eu e o Gilberto Garcia. Chegando lá, fizemos teste em uma rádio profissional. Passamos e ficamos trabalhando na rádio. De lá, todo mundo já sabe o que aconteceu. O que sente por Uberlândia? Não tinha boas lembranças. Sofri muito. Hoje, as coisas bonitas da minha infância e juventude ficaram mais fortes que as mágoas. Até as frustrações têm lembranças boas. Tenho muita saudade até do tempo em que eu sofria.

Moacyr Franco e Jair Rodrigues



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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE

Igreja do Rosário, ponto alto da festa do Congado e em frente à igrejinha no bairro Fundinho

1896 CONGADO

O PODER DOS TAMBORES

Terno de Congo Sainha, o mais antigo de Uberlândia, há 118 anos mantendo a tradição

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Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

al aprendeu a andar, Mário Antônio da Silva, de 61 anos, já saiu em desfiles e procissões do Congado. Ele estreou como congadeiro aos 2 anos e integra o Terno Sainha desde 1954. Para ele, estar neste terno significa muito. Aprendeu muito ali, sobre a vida, a fé e as várias formas de comunicar que o Congado ensina. “O Sainha ainda é o único terno que mantém as tradições. Ao longo de todo

esse tempo vi que muitos ternos perderam a essência da festa”, conta. Em Uberlândia, a Festa do Congado acontece desde 1876, mas foi registrada apenas em 1916. O evento atrai turistas, pesquisadores e um público variado em torno de 40 mil pessoas. Há 25 ternos de Congado vinculados à Irmandade Nossa Senhora do Rosário, reunindo cerca de 4.600 soldados congadeiros. A festa acontece no segundo domingo do mês de outubro na Igreja do Rosário, antecedida de novenas com leilões e toma todas as imediações da praça

Rui Barbosa, no Centro. Os ternos de Congado descem pela avenida Floriano Peixoto, se apresentam um por um com cânticos, ritos, ritmos e a musicalidade dos tambores, patagongas e gungas, sua maior sonoridade. Há levantamento de mastros dos dois santos pelos moçambiqueiros, trança-fitas pelos marinheiros, que culmina com a coroação de Nossa Senhora do Rosário pelo Terno Congo Sainha. Na segunda-feira seguinte, dia de encerramento da festa, há um desfile de despedida diante da Igreja do Rosário. A festa do Congado foi registrada, em 2008, como Patrimônio Imaterial Municipal, por meio do Decreto nº 11.321, e inscrita no Livro das Celebrações. O Congo Sainha. Na segunda-feira seguinte, dia de encerramento da festa, há um desfile de despedida diante da Igreja do Rosário. A festa do Congado foi registrada, em 2008, como Patrimônio Imaterial Municipal, por meio do Decreto nº 11.321, e inscrita no Livro das Celebrações.


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INÍCIO

AS ORIGENS DA FESTA

Desfile de cores toma conta das ruas da cidade

TRADIÇÃO

SAINHA É O MAIS ANTIGO DA CIDADE O Terno de Congo Sainha tem cerca de 140 integrantes e está em atividade desde 1896, época em que Elias, Abadir e Vicente fundaram a Irmandade. Sua história oral antecede os registros oficiais. Atualmente, está no comando do Terno Eustáquio Marques, o Zezão. O nome Sainha veio pelo fato de os integrantes usarem saias, confeccionadas em tecidos leves. As cores predominantes do terno são o azul claro, rosa e branco, remetendo à eternidade, à paz e

ao perdão. Outra singularidade do terno Sainha é a tradicionalidade musical dos pandeiros, violões, cavaquinhos, banjos, caixas baixas, caixas grandes, chocalhos, afoxés e sanfonas, que harmonizam o arranjo. Segundo o historiador Jeremias Brasileiro, o Terno Sainha é um dos poucos ou o único que, em decorrência das transformações urbanas e sociais, tem conseguido manter a percussividade originária do Congo.

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origem do Congado tem uma história curiosa e remonta ao ano de 1200, quando muitas pessoas não sabiam ler os salmos, e rezavam um determinado número de Pai-Nossos e Ave-Marias servindose de pedrinhas para os contar. No início, a devoção foi chamada Saltério de Maria. O fundador da Ordem dos Dominicanos, São Domingos, se encarregou de incentivar a prática e divulgá-la. Em meio às Cruzadas, São Domingos, com seu rosário, lançava-se aos pés de Maria e pedia a intervenção divina em favor dos cristãos. Para explicar a devoção dos negros a Nossa Senhora do Rosário, conta-se que uma estátua da virgem desaparecia com frequência de uma igrejinha e retornava ao local onde fora encontrada. Os brancos se reuniram com violas e a levavam de volta, mas ela desaparecia. Os congadeiros, com as caixas, cantaram, ba-teram caixa e levaram a imagem e para a igreja. Desta vez, ela não mais saiu. Nossa Senhora, no que seria a origem da Festa do Congado, teria adotado o som dos tambores.




João Pinheiro: foto tirada há exatos 100 anos mostra São Pedro de Uberabinha nos primórdios

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urante duas décadas, a população de Uberlândia, a imprensa, as instituições sociais, políticas e econômicas, incluindo os seus líderes incontestes, estiveram às turras com a mudança do nome do município. Nascida Arraial de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro de Uberabinha, nas primeiras décadas do século 19, Uberlândia suscitou debates acalorados e apaixonados em torno da escolha de um novo nome que pudesse exprimir a sua pujança e grandeza. Em 1907, houve a primeira iniciativa que viria, mais tarde, concretizar a mudança do nome do município, indicada por João de Deus Faria, que se estendeu até o fim dos anos de 1920, quando, em 1929, se efetuou a mudança definitiva do nome. Os prós e os contras estão registrados nas crônicas jornalísticas, com inúmeras manifestações transcritas, ao lado de um rol exaustivo de nomes sugeridos por meio de consulta pública encabeçada pelo jornal “A Tribuna” e o recolhimento de assinaturas entre a população. A mudança do nome implicava em duas razões básicas. A primeira devido à proximidade com Uberaba o que originava confusões prejudiciais, e a segunda, o diminutivo, cujo cres-

1929 NOVO NOME

CRÔNICA DE UMA MUDANÇA ANUNCIADA

Há 85 anos, Uberabinha passou a se chamar Uberlândia por sugestão de João de Deus Faria Por JANE DE FÁTIMA SILVA RODRIGUES cimento da cidade não o justificava mais e, na realidade, não exprimia o que realmente era o município. Em 1907, o médico Pedro Correa Netto sugeria o nome de Heliópolis, a “Cidade da luz”. A proposta do Sr. K, assim assinada no jornal “O Brazil”, em 18 de novembro de 1915, era trocar o nome indígena por um equivalente em português, ou seja, Rio Brilhante. Na década de 1910, nas rodas políticas e sociais da cidade, nos bares, pensões e armazéns, o assunto sempre voltava à baila. O major Pirahy debatia por Minas Altiva, Leôncio por Petrolândia, ou seja,

a Terra de Pedro, já que o padroeiro de Uberabinha era São Pedro. Para Francelino, Theópolis, Cidade de Deus, seria um nome perfeito. Mas os opositores argumentaram dizendo que se Uberabinha não é uma terra de anjos, de demônios é o que não é. LISTA DE SUGESTÕES E assim crescia a lista com Geceaba (terra entre dois rios), Icatú (água boa), América (em homenagem ao navegador Américo Vespúcio), Novo Horizonte, Tingahy (águas claras), Vista Alegre, Paraíso, Fidelidade...


Telégrafo Nacional na avenida Afonso Pena em 1912

Hildebrando Pontes sugeriu Caitubirim, uma combinação de palavras tupis, que significava quedas d’ água. Na década de 1920, “A Tribuna” reiniciou a campanha para a mudança do nome, de forma organizada, com direito a cédulas de votação. Algumas famílias ilustres tiveram os nomes estampados pelo jornal dentre aquelas favoráveis à mudança. Cartas de várias localidades do Triângulo Mineiro e de outros estados foram enviadas à redação do jornal emitindo pareceres. Pindorama foi sugerido por João Teixeira, de Uberaba, que explicou que, quando Pedro Álvares Cabral descobriu Brasil, o chamou de Pindorama. O ex-agente executivo Joanico Severiano Rodrigues da Cunha (1912-1923), que se opôs no passado à mudança do nome, se mostrava a favor por considerar Uberabinha um entrave ao progresso. Joanico então sugeriu Gardênia, a Cidade das flores, das árvores e dos jardins. Da vizinha Araguari, Alfredo Lima Júnior sugeria Hortópolis, que significa Cidade Jardim. Com a assinatura X, o senhor ou a senhora discordava dos nomes Gardênia e Hortópolis e sugeria Anthopolis, Cidade das Flores. Na tentativa de agilizar o processo de escolha do nome e encontrar “um

Agência dos Correios de 1920

bonito”, “A Tribuna” sugeriu alguns para votação, como Nubiara (Caminho do Campo), Iguapera (Cabeceira d’água), Aratama (Terra do Sol ou Luz), Alcandora (Região Alta), que não fizeram adeptos. Para o jornal, era necessário que o nome soasse bem, não fosse longo ou curto demais e fácil para formar a denominação dos habitantes. De Jathay (GO), o conterrâneo Osvaldo Rodrigues da Cunha indicava Canaan. A professora Julinda Alvim, Itaiçá. Miralta, Iberamirim, Ibicoaracy, Adamantina, este uma sugestão de Antônio Costa de Conquista (MG), Bupeva (terra plana), Arapiranga (clarão ou dia vermelho), Itacyra (enxada), Triangulina, sugestão do General Eduardo Sócrates, de Juiz de Fora. De Tupaciguara (MG), escreveu Sebastião Barcellos sugerindo Columbia, em memória ao descobridor da América Cristóvão Colombo. Bernardo Knychala, fazendeiro do município de Uberabinha arriscou Aracytaba e Jurity Sampaio queria Edênico. Jorge Macário de Mello, proprietário do Salão Oriente, indicava o nome de Dalvanópolis. Um anônimo aconselhava Esplanada. Entraram os anos de 1926, 27, 28 e nada. A cidade não chegava a um consenso. No início de 1929, o coronel José Teófilo Carneiro em visita às

dependências do jornal “A Tribuna”, levava um nome, Maravilha. Maravilhosos, maravilhenses, maravilhados, como seriam denominados os habitantes da cidade? Maravilha não seria melhor para nominar uma vaca?, diziam alguns. Mas o coronel encasquetou com o nome e o levou até a capital mineira para apreciação do então presidente do Estado, Antônio Carlos de Andrada. O DESFECHO Em 19 de outubro de 1929 a Lei Estadual 1.126, referendava o nome de Uberlândia (uber = fértil, land = terra, portanto, terra fértil), sugerida por João de Deus Faria. Durante as décadas seguintes, a cidade ganhou vários codinomes como Éden em Miniatura, Princesa do Triângulo, Morada da Alegria, Cidade Jardim, Athenas Mineira, Metrópole do Triângulo, Terra Moça, Noiva do Sol e das Flores, Terra dos Sonhos Dourados, Estrella Candente do Sertão Central, e outros não menos lisonjeiros como Moscou Mirim, Sucursal de Havana, mas tudo isto é outra história. Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (1995). Autora de “O Baia”, sobre Anísio Jorge Hubaide, Edufu, 2007.


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Aparelhagem no início da TV Triângulo

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á 50 anos, entrava no ar, em Uberlândia, a TV Triângulo, canal 8, prefixo ZYA 724, com a razão social Rádio e Televisão Uberlândia. Desde 1997, conhecida como TV Integração, era uma união de esforços iniciados com o sonho do técnico Adib Chueiri com o apoio financeiro do empresário Edson Garcia Nunes. Na época, o sinal de televisão da TV Tupi, Canal 4, havia chegado a Uberaba. Em 1962, quando várias empresas de renome já haviam se instalado em Uberlândia, Chueri procurou os empresários para convencê-los da possibilidade de instalação de uma emissora de televisão na cidade. Ele tinha todos os meios e informações necessárias para conseguir um canal, inclusive, o apoio do então Ministro da Justiça, Alfredo Nasser, de quem era amigo. Nenhum empresário acreditou na ideia. “No fim de 1962, me encontrei com o Adib Chueiri na praça Tubal Vilela. Estava bastante aborrecido porque

Fundador: Edson Garcia Nunes

1964 TV INTEGRAÇÃO

50 ANOS DE HISTÓRIAS

A primeira emissora, afiliada da Rede Globo foi criada em Uberlândia com o nome TV Triângulo havia oferecido um canal de televisão a uma empresa e ela havia recusado. Naquela época, eu fazia parte do corpo de vendas e contatos da CEGEB (Companhia de Empreendimentos Gerais do Brasil) e falei: ‘Vamos até o doutor Edson Garcia Nunes, na CEGEB. Tenho certeza de que ele aceitará o desafio”, relembra Durval Teixeira, que tornou-se um dos encarregados das vendas das cotas e televisores. Naquele mesmo dia, Edson Garcia os aten-

deu. A reunião foi até a noite, com a exposição do plano de Chueiri. “Foi uma noite memorável”, diz Durval Teixeira. Garcia gostou da ideia, mas achou que seria melhor se dedicar a retransmissão do sinal da TV Tupi, assim como acontecia em Uberaba e para isso, trabalhar a venda de aparelhos de televisão para levantar um fundo financeiro e, mais tarde, instalar a emissora local ou inserir o equipamento na torre de retransmissão do sinal, atendendo publici-


“ Começamos a vender aparelhos de televisão em Uberlândia, Araguari e depois nas outras cidades da região”

tariamente à cidade e região. Assim foi criada a TV Triângulo, tendo como sócios Edson Garcia Nunes, Juarez Garcia Nunes, Adib Chueiri e Durval Teixeira. “Começamos a vender aparelhos de televisão em Uberlândia e Araguari e depois nas cidades da região. Iniciamos também as pesquisas para a captação do sinal que já estava sendo transmitido para Uberaba. Este foi o período de ‘caça ao sinal’, porque implicava necessariamente em pesquisar os locais em que o sinal transmitido pela estação retransmissora de Buritizal para Uberaba, chegava com mais clareza”, diz Durval Teixeira que curiosamente vendeu a primeira cota de participação nas instalações das torres de retransmissão para o atual dono e diretor da TV Integração, Tubal Vilela de Siqueira, no valor de Cr$15,00 (Quinze cruzeiros). A “caça ao sinal” era feita no período em que a TV Tupi estava no ar, das 17h às 23h. O trabalho era feito por uma equipe técnica a bordo de uma Kom-

Programa infantil ao vivo

bi, formada por Otávio Jacinto de Melo e o filho Edgar de Melo, Jorge Simão, Mário Rodrigues, o professor Pardal, e Durval Teixeira. “Fomos nós que instalamos a torre no posto da Matinha. Depois resolvi fabricar os televisores”, disse Jorge Simão, que montou na cidade a fábrica de televisores Halley e chegou a vender 3 mil aparelhos. A aparelhagem, segundo o advogado Wilson Ribeiro, um dos primeiros diretores da TV Triângulo, foi comprada de segunda mão e pertencia a Geraldo Ladeira, dono da Rádio Difusora. “Nós compramos também uns transmissor em Pouso Alegre, onde tinha, faculdade de Engenharia Elétrica. Como ainda estávamos construindo o edifício Valentina, levamos este transmissor para o último andar do prédio e fizemos a primeira imagem, de uma forma muito precária”, disse Wilson Ribeiro, que nesse dia entrevistou Dom Almir Marques Ferreira, o primeiro bispo da Diocese de Uberlândia. As primeiras tentativas de transmissão não

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foram exatamente como o esperado e as imagens chegavam distorcidas e sem muita definição. COTAS DE PARTICIPAÇÃO As cotas de participação na retransmissão não tiveram muita aceitação e acabaram incluídas no preço de venda dos televisores. Vender televisão sem o sinal era ato de extrema capacidade de venda por parte da equipe, e, mesmo assim, vendeu-se um número de aproximadamente 1.600 televisores. O sucesso estimulou os comerciantes da cidade a acreditar no empreendimento e iniciar suas próprias vendas. Em decorrência disso, surgiram na cidade três fábricas de televisores. A primeira foi a Morsi, em homenagem a Morum Simão, depois a Halley, de Jorge Simão, irmão de Morum, e, no mesmo período, a Tuffan, dos irmãos Tuffi e Antônio Issa. Iniciou-se a instalação das torres de retransmissão e

As primeiras câmeras transmitindo em preto e branco


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Não havia ninguém com experiência de programação ou de funcionamento de TV”

da emissora local, cuja concessão já havia sido aprovada. Mas o sinal, ainda preto e branco, continuava com deficiências na qualidade, gerando insatisfação entre os cotistas e donos de televisores. Percebendo que o empreendimento poderia fracassar, Edson Garcia Nunes decidiu partir para a instalação imediata da emissora local. Um pequeno transmissor de 100 watts foi instalado no último andar do edifício Valentina e, experimentalmente, a TV Triângulo entrou em operação no final de 1963. INÍCIO No dia 10 de junho de 1964, a TV Triângulo iniciou as operações em caráter definitivo na rua Buriti Alegre. “Neste dia, não havendo quem pudesse desempenhar a função de diretor de TV como era chamada, tive que pessoalmente assumir a responsabilidade, embora, de início, sem saber realmente o que fazer. Mas deu certo. A TV foi ao ar com sucesso e estava iniciada sua trajetória histórica. Uberlândia foi uma das primeiras cidades do interior do Brasil a ter uma emissora de TV local. Fomos realmente pioneiros, e antecedemos a TV Globo em cinco anos”, afirma Durval Teixeira. Como não havia ninguém com experiência de programação e funcionamento de televisão, não houve outro recurso senão aproveitar quem tinha experiência de rádio. Todo o trabalho, durante um bom período de tempo, foi feito por tentativas, erros e acertos, mas foi-se adquirindo experiência. Nascia, como disse Edson Garcia, a oitava televisão do interior do Brasil. No logotipo de abertura, vinha a bandeira que defendia a separação do Triângulo Mineiro do restante do Estado. Em 1971, a TV foi vendida para Tubal Vilela de Siqueira, Rubens de Freitas, seu irmão Renato de Freitas e Rubens Leite. Em 1997, passa a se chamar TV Integração como é conhecida até hoje .

Torre da TV Integração já no atual endereço no bairro Umuarama

Wilson Ribeiro entrevista Rondon Pacheco



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Em pé: Paulo César Martins, Valtinho, Wilson, Renê, Beto, Jair, Tim, Paulão, Paulo Gomes, Jânio e Pedro Maia. Agachados: Adval, William, Juracir, Barão e Estevão Real

1984 FUTEBOL PROFISSIONAL

O AZULÃO DA VILA OPERÁRIA

Uberlândia já teve dois times disputando a Primeira Divisão do Campeonato Mineiro

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segunda maior cidade de Minas Gerais também já foi a segunda com o maior número de times na 1º divisão do Campeonato Mineiro. Atrás de Belo Horizonte, que é sede do Cruzeiro, Atlético e América, em 1985 e 1986, Uberlândia teve dois times disputando a série A do Campeonato Estadual. Além do Uberlândia Esporte Clube (UEC), que passava por uma ótima fase depois de se sagrar campeão da Taça de Prata em 1984 e garantir também uma vaga na elite do Campeonato Brasileiro, o XV de Novembro conseguiu subir para a 1ª divisão do Mineiro depois de três

anos no futebol profissional. O time azulino terminou 1984 como vicecampeão da 2ª divisão, posição que a partir daquele ano dava direito de ascensão. O Azulão da Vila, como era conhecido o XV de Novembro por ter surgido na Vila Operária em meados da década de 1960, conseguiu se profissionalizar depois que se vinculou à Universidade Federal de Uberlândia (UFU), graças ao esforço de um grupo de professores e servidores da instituição de ensino. “O XV era umas das equipes mais antigas e tradicionais do Amador de Uberlândia, ao lado do Vasco, do Floresta e Ipiranga. Ainda nem existia a universidade e um

conjunto de pessoas que comandaram o XV foi trabalhar na Engenharia. Os alunos e funcionários eram jogadores. Então criamos um quadro social para ajudar o time a se profissionalizar”, disse o engenheiro e na época professor da UFU Renato Alves Pereira, que também era presidente do XV. Esse contato entre XV e UFU se deu graças a Justino Pereira de Oliveira, que era chefe da seção de limpeza da UFU, e nas horas vagas ia aos pequenos campos da cidade observar possíveis craques. “Ele era olheiro, já levou alguns jogadores para times grandes. Ele era tudo no XV no início, roupeiro, dirigente, treinador”, disse Ângela de Oliveira, que é filha de Justino falecido em outubro de 1988. “Ele chegou a ver o XV na primeira divisão e ficou muito feliz. Quando morreu, foi velado com a bandeira do time sobre o caixão”, lembrou Ângela. PROFISSIONALIZAÇÃO Em 1982, quando se profissionalizou, o time disputou a 2ª divisão do Mineiro pela primeira vez, mas a competição, segundo o


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então supervisor, Paulo César Martins, o Martolli, serviu mais como experiência para se organizar o grupo para os próximos anos. Já em 1983, o Azulão só não subiu para a 1ª divisão porque foi prejudicado pela arbitragem durante o jogo decisivo contra a Alfenense, em Alfenas. A partida acabou em 1 a 0 para o time da casa, porque o árbitro anulou um gol marcado por Sérgio Branco e marcou um pênalti duvidoso para o Alfenense no fim do jogo. “Meu irmão foi comigo, invadiu o campo e deu um murro no juiz. Quase que ele sai de lá preso”, disse Paulo César Martins.quando colocou um fim na equipe profissional. Em 2014, um grupo tendo como presidente o cantor Fernando Pires renovou a licença do Azulão. Segundo o conselheiro do agora Uber XV, Claiton Lima, o novo nome faz a ligação com a cidade e com o extinto time e está se preparando para disputar a 2ª divisão do Mineiro em 2015. EXPERIÊNCIA Já em julho de 1984, mais experiente, o Azulão da Vila entrou com tudo para subir para a 1ª divisão. Espelhando em grandes times europeus, vendeu os ingressos antecipados das partidas para levantar verba e contratar bons jogadores. Na estreia da série B, perdeu para a Ituiutabana de 1 a 0, no Airton Borges desperdiçando a chance de empatar com o pênalti mal batido por Robertinho. Na outra disputa, goleou a URT, de Patos de Minas, por 3 a 0 com dois gols de Orciano e um de Estevão Real. No

início, o técnico do Azulão era Fernando Sobreira, mais conhecido como Fernando Diarara, ex-jogador do time, que depois foi substituído por Pedro Maia, já falecido. “Fazer parte do XV foi um degrau bem grande na minha vida. Já posso me aposentar desde 2011 pela UFU e todas as amizades que fiz, que são nossa maior riqueza, conquistei no XV”, disse Diarara. O Azulão da Vila confirmou o ingresso na 1ª divisão ao vencer por 2 a 1 o Araguari, na casa do adversário no dia 12 de dezembro de 1984. A essa altura, o Uberlândia Esporte já estava desclassificado do Mineiro na 1ª divisão, mas sem chances de rebaixamento. O XV se sagrou vice-campeão do Módulo 2 depois de perder o título para o Fabril, de Lavras. CONSAGRAÇÃO Em 1985, o Verdão da Mogiana e o Azulão da Vila então tiveram a chance de se enfrentar de igual para igual na 1ª divisão do Mineiro em turno e returno no estádio do Parque do Sabiá. Na primeira partida, em 4 de agosto daquele ano, o XV derrotou o UEC por 2 a 1, com gols de Ivan e Willian e um de Eduardo do Uberlândia. O público presente foi de mais de 20 mil pagantes. No returno, a partida ficou empatada por 1 a 1. “O Uberlândia, naquela época, tinha um time muito bom. Na torcida, 70% eram do UEC e o resto do XV, que venceu a primeira partida com mérito. O jogo foi no domingo. Os jogadores do XV moravam em uma casa atrás da UFU e

comemoraram a vitória até segunda a noite. Só voltaram a trabalhar na terça. Dizem que eles ganharam uma mala cheia de dinheiro que foi mostrada antes do jogo, ainda no vestiário”, disse o jornalista Luis Antônio Figueira, que cobriu a partida LICENCIAMENTO O time permaneceu mais um ano na série A e caiu para a 2ª divisão em 1987, quando se licenciou, colocando fim no time profissional e, cerca de 3 anos depois, também no amador. Nesse ano, aproveitando a documentação pronta, um grupo da cidade, tendo como presidente o cantor Fernando Pires, renovou a licença do Azulão, mas por problemas burocráticos não entrou na disputa da Terceirona em 2014. A intenção agora é participar da competição em 2015.

1º Jogo entre o XV e o UEC na 1ª Divisão do Mineiro. Azulão venceu por 2x1. Na foto, à frente, mostra: Barão (XV), Vivinho (UEC) e Tim (XV)


Lilian: “Quando perguntam se sou pintora, digo que sou desenhista. Minha pintura tem o desenho como base”

ARTISTA DA CAPA

O DESENHO DE LILIAN TIBERY Artista cresceu em meio a lápis e tintas e não imagina como seria sua vida longe das artes Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

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ilian Tibery cresceu no meio de lápis e pincéis. Seu pai militar, o uberlandense Hécio Tibery, tinha por hobby o desenho. Sua mãe, Lya Schmidt, era pintora. E isso era herança do avô materno, o alemão Carlos Henning Schmidt, que também era pintor. O mundo pictórico da arte, portanto, estava presente com ela desde a primeira infância. Essa infância foi iniciada no Rio Grande do Sul, onde ela nasceu. E continuou no Rio, para onde se mudou aos 3 anos e começou efetivamente o seu envolvimento profissional com as artes. Fazendo a Escola de Desenho Industrial por lá, os próprios professores, ao perceberem o seu talento, a incentivaram a fazer o curso de desenho artístico, o que aconteceu quando ela mudou-se para Uberlândia, aos 25 anos, e transferiu–se para o curso de Decoração, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com várias disciplinas do curso de Arte. Posteriormente, chegou a ser professora de Desenho e Pintura, por


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Ponto Azul: “Espaço independente”

um período de quase dois anos, na UFU. O trabalho de Lilian Tibery é bastante gráfico e sedimentado praticamente no desenho. “Se perguntarem se sou pintora, digo que sou desenhista. A minha pintura tem sempre o desenho em primeiro plano. A cor é uma consequência. Pintura independe da tinta e do pincel. Pode ser feita com dedo e pigmento natural e até mesmo com computador. São diferentes linguagens”, afirma a artista. Confessa também que ainda anseia por um trabalho: a litogravura. Segundo ela, a iniciativa ainda não aconteceu pela dificuldade de acesso à matéria-prima (a litogravura, geralmente, é realizada com uma pedra vulcânica). “É uma técnica com a qual me identifico muito, pois é totalmente embasada no desenho. Ainda vou tropeçar nesta pedra a qualquer momento”.

PONTO AZUL Se “a terra é um pequeno ponto azul no universo”, Lilian Tibery quer o Ateliê Galeria Ponto Azul na mesma relação com a cidade. “Conceber um espaço expositivo a essa altura da vida é porque meu processo artístico é contínuo.” O Ponto Azul, que fica na rua da Carioca, 1.581, na Morada da Colina, embora seja um espaço particular, tem atuado com exposições temporárias, individuais e coletivas. De acordo com Lilian, a resposta do público tem sido surpreendente, com até mesmo a visita de escolas públicas às exposições. Lilian considera também que ”as pessoas, de um modo geral, ficam mais felizes com espaços independentes, que fujam aos moldes academicistas e burocráticos e as restrições de alguns espaços ligados aos poderes públicos”.


Esquerda: Modern Tropical Quintet tocou na inauguração

Direita: baile de Carnaval

1964-2014 CAJUBÁ CLUBE

O CLUBE DA COLINA

No dia 14 de agosto, o Cajubá Clube comemorou os 50 anos do lançamento da pedra fundamental

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á nos altos divisórios dos bairros Altamira e Vigilato Pereira, entre os córregos São Pedro e Lagoinha, surgiu o Cajubá Country Club. O Clube da Colina, como dizia o jornalista Marçal Costa, é fruto do sonho e do trabalho de uberlandenses empenhados no crescimento da cidade. Um empreendimento que, no dia 14 de agosto deste ano, completou, 50 anos do lançamento da pedra fundamental. A inauguração foi dois anos mais tarde, em outubro de 1966. A ideia, segundo o arquiteto responsável pela obra, Fernando Graça, era criar um clube para o lazer, com piscinas menores e salão de festa, com uma proposta inédita para a cidade. “O Praia, por exemplo, era mais voltado para o esporte. As piscinas têm raias e lá não tem salão de festas. Já no Cajubá, fizemos piscinas não oficiais, mais rasas, para as pessoas andarem de um ponto ao outro. Tem salão de festa. ”, afirma Fernando Graça. O investimento foi do jovem uberlandense Aloysio Moreira da Costa, com a ajuda do pai, o médico e


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Walmor Ribeiro sócio fundador no baile do Havaí com familiares

deputado estadual Oscar Gomes Moreira Filho, que deixou a indústria em Belo Horizonte e montou a Incorporações e Construções Oscar Moreira (Icom S/A) no térreo do Uberlândia Clube. O terreno onde foi construído o Cajubá, uma área de 36 mil m2 , foi comprado de Nicomedes Alves dos Santos e Galeno de Andrade Santos. Para iniciar a construção da sede, foi necessária a formação de um conselho deliberativo, mais tarde transformado em uma sociedade. No dia 14 de agosto de 1964, se reuniu o grupo de 48 homens que definiu a fundação do novo clube e o estatuto de funcionamento. “ A reunião foi na casa do doutor Oscar, na praça Clarimundo Carneiro e fui eu que redigi a ata ”, diz o economista Ricardo Santos. Entre os presentes nesta reunião em que foi eleita a diretoria do clube, estavam os ex-prefeitos Virgílio Galassi, Renato de Freitas e Geraldo Ladeira. A ideia do nome Cajubá foi de Luciano Fonseca, Hermilton Corrêa e Tito

Teixeira. Este último empossado como presidente do Conselho Fiscal. A Icom doaria o terreno recémcomprado, construiria o clube e, em troca, receberia 1,5 mil cotas para vender. As primeiras 400 foram colocadas à venda por 300 cruzeiros e acabaram em 25 dias. O segundo lote foi vendido a 400 cruzeiros e o último a 500 cruzeiros, e acabaram a tão rápido quanto o primeiro. Naquela época, ainda não havia a avenida Rondon Pacheco e uma ponte foi construída pela Prefeitura para ligar a avenida Afonso Pena até o outro lado do córrego São Pedro. BAILES DE INAUGURAÇÃO Dois anos depois, cumprindo o prazo estipulado para a entrega do novo empreendimento, aconteceu a solenidade de entrega das obras. O coquetel aconteceu em 20 de outubro de 1966. No discurso, o presidente do Conselho Deliberativo, Tito Teixeira, se referiu ao idealizador do projeto, Aloysio Moreira da

Tito Teixeira discursa durante solenidade de inauguração Costa, como “símbolo da mocidade uberlandense no campo da luta pelo engrandecimento de sua terra natal”. Quatro dias depois, foi eleita a diretoria executiva para gestão 1966 e 1967. O presidente escolhido foi o advogado Antônio Jorge Tannus. Para inaugurar a piscina, após a eleição, os eleitores tomaram nos braços o novo presidente e o atiraram na água. Nos dias 29 e 30 de outubro, houve dois bailes animados pela banda Modern Tropical Quintet, muito conhecida na época tanto no Brasil como na Europa, formada por Plínio Metropoulos (piano), Wilson Ribeiro (guitarra), Edgar Teixeira (bateria), Waldemar Ribeiro (contrabaixo) e a vocalista holandesa Sara. “Eu que organizei esses bailes com a ajuda do Paulo Henrique Petri. No primeiro dia foi traje de gala e no segundo foi traje passeio”, disse Ricardo Santos. Os convidados passaram a noite em 300 mesas ao som de um misto de jazz moderno, bossa nova e outras misturas psicodélicas. “Os bailes


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ficaram lotados e acabaram às 7 da manhã. Lembro que caiu uma chuva forte e os carros ficaram encravados ”, lembra o empresário Ivaldo Naves. Naves ainda se recorda das festas realizadas no Cajubá. De terça a sábado, ao lado do salão de festas, os jovens se reuniam na boate Kambotta, a primeira do interior mineiro com luzes estroboscópicas (brancas) e psicodélicas (coloridas e que piscam). “Buscamos a aparelhagem em São Paulo. Cabiam umas 60 pessoas e ainda tinha sistema de som com eco e decoração de tecido.”, diz Ivaldo Naves. INÍCIO DO FUNCIONAMENTO O Cajubá tinha um pavilhão com duas pistas de boliche, outro para o escritório, sede com mobiliário em madeira de imbuia, salão de festa, banheiros, piscina, uma quadra de futebol de salão, duas de basquete, duas de tênis, uma de vôlei e duas de peteca. Um estrutura muito parecida com a

Tradicionais bailes reuniam a sociedade uberlandense

Vista aérea do Cajubá Coutry Club em seus primórdios que é vista hoje. “Era um projeto arrojado. O que funciona ainda muito bem ainda. ”, disse o arquiteto Fernando Graça, responsável por outras grandes obras em Uberlândia como o Terminal Rodoviário, a sede da Aciub e a Holding da Algar HISTÓRIAS DE VIDA O atual presidente do Cajubá, o dentista aposentado Paulo Roberto Ribeiro Franco, frequenta o clube desde criança. “O clube era um pouco diferente. Eu me lembro da pista de boliche e de um outro jogo que chamava bolão, no estilo da bocha. Depois foi ampliando e ganhou uma piscina semiolímpica. Frequentei essa região antes do clube. Era mato e havia uma lagoa, onde morreu muita gente afogada”. O Cajubá foi o primeiro e único registro em carteira do empresário Ivaldo Naves, que há 44 anos montou a Rodoban Segurança e Transportes e Valores. “Fiquei lá três anos. O Cajubá me ajudou muito, porque foi onde eu conheci as

melhores famílias de Uberlândia”, afirma o empresário. RÉVEILLON DO DIA 1º Na década de 70, o Réveillon mais famoso de Uberlândia era o do Cajubá. Em 1976, Antônio Naves era presidente do clube e aconteceu um imprevisto na noite do dia 31: um acidente com a rede da Cemig interrompeu o fornecimento de energia. O reparo iria durar a noite e a madrugada. Sem energia não tinha como ter festa. E o que fez Antônio Naves? Mandou comprar gelo e estocou as frutas, bebidas e comidas nos vestiários. Negociou com o conjunto musical para tocar no dia seguinte. E foi assim que a festa entrou para a história, pois é o primeiro Réveillon que aconteceu no dia 1º de Janeiro e não no dia 31 de Dezembro. A festa foi um sucesso, mas gerou confusão saudar a chegada do ano novo com um dia de atraso...



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Ao lado: ilustração de Lilian Tibery

1944 MERCADO MUNICIPAL

70 ANOS E UMA NOVA VOCAÇÃO

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Espaço público, inaugurado na década de 1940, guarda histórias saborosas da vida da cidade

Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

omo era a vida em nossa cidade no meio do século passado? Quais seriam as opções de lazer e os hábitos gastronômicos daquele período? Para perceber o ambiente por aqui na década de 1940, é só dar uma passeada pelo Mercado Municipal de Uberlândia, que traz consigo as histórias, a atmosfera e o tempero

daqueles anos. Antes disso, o comércio que se realizava era feito, por exemplo, por ambulantes que colocavam sobre os ombros as gamelas com a “carne verde” ou empurravam pelas ruas seus carrinhos de mão com frutas e verduras. Foi, em 13 de janeiro de 1923, que um decreto autorizou a construção do Mercado em Uberlândia. Mas, apenas duas décadas

depois, em 1944, durante o mandato do prefeito Vasconcelos Costa é que o sonho se tornou realidade. Inicialmente, a estrutura do Mercado estava ocupada por lojas, sanitários e bares no corpo central e no pavimento superior da sede da Banda Municipal. Toda área lateral, dividida em vários boxes, destinava-se aos depósitos e, por fim, no pátio central, comerciali-za-


Ao lado: Mercado antes da construção do anexo

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Abaixo: reforma realizada a partir de 1995

FEIRA REÚNE A COMIDA DO BRASIL E DO MUNDO

va-se a produção hortifrutigranjeira no atacado. Ou seja, o Mercado Municipal ocupou a função que hoje é do Ceasa. Isso aconteceu por três décadas, até 1977. CRESCIMENTO Nos anos de 1940, o crescimento da cidade e a falta de feiras livres nos mais diversos bairros justificavam a necessidade de um mercado central. Ao longo dos anos seguintes, na mesma medida, era preciso expandir para atender às necessidades da cidade. Por isso uma série de anexos foi construída no Mercado. Na gestão do prefeito Tubal Vilela (1951-1955) foi erguido o prédio anexo que serviria de estufa para o amadurecimento de verduras. Entretanto, o fracasso do projeto levou o prédio a ser ocupado por lojas e, no pavimento superior, pela União dos Estudantes Secundaristas de Uberlândia (Uesu) até o ano de 1964 e, posteriormente, foi ocupada por instituições como a Escola de Música e a Associação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas. A Uesu, desativada no período do regime militar, seria reconstituída na segunda metade da década de 1980 e voltaria a ocupar seu lugar no Mercado até 1991. Nas décadas seguintes, novas reformas foram realizadas como, por exemplo, a

construção de um cômodo para depósito de frutas em 1972; a criação, em 1985, de um anexo para receber a administração (Programa Nacional de Voluntários – Pronavt), além das restaurações dos prédios centrais, laterais direitos e dos fundos, realizadas a partir de 1995, nas administrações dos prefeitos Paulo Ferolla da Silva e Virgílio Galassi. Em 2009, o prédio do Mercado Municipal passou por um novo processo de restauração. Hoje, o Mercado Municipal de Uberlândia, além do comércio tradicional, se tornou palco para shows musicais, apresentações teatrais, exibições de filmes, exposições de artes visuais e performances. Estas atividades estavam previstas no projeto de revitalização do espaço interno e externo da construção. Entre as novidades foi criado o Espaço Cultural do Mercado, diretoria vinculada à Secretaria Municipal de Cultura, que coordena também os eventos artísticos desenvolvidos em todo o Mercado. O prédio do Mercado Municipal de Uberlândia é um bem público, tombado como Patrimônio Histórico Municipal pela Lei 8.130 de 29 de outubro de 2002. Quem vai ao Mercado hoje não pode deixar de reconhecer a importância do tombamento. Em vários boxes, é ainda possível sentir a presença do passado.

Há 12 anos, em julho de 2002, acontecia, no Mercado Municipal de Uberlândia, a primeira Feira Gastronômica, evento que reúne representações das várias correntes migratórias na cidade, além de atrações musicais que atraem os frequentadores. Segundo a cozinheira Letícia Viana, especialista em culinária baiana e integrante da feira, “a feira surgiu com donos de bares e comerciantes, mas também com mulheres que não trabalhavam com culinária e eram donas de casa”. De acordo com a cozinheira, nem mesmo a organização do evento esperava pela repercussão obtida. “Naquela época, ninguém esperava a proporção tomada. Foi muito bom. A feira veio para melhorar o pátio do Mercado, tanto é que o evento foi pensado para ser naquele local”, disse. O evento tornou-se rotina na vida de quem o frequenta. “As pessoas já fixaram: toda terceira quinta-feira do mês tem Feira Gastronômica no Mercado. É no Mercado que estão as nossas raízes”, afirma Letícia.


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Aula de anatomia

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processo da criação da Fundação Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia (Femeciu), hoje Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), se deu em 1966, tendo à frente um grupo de médicos e outros profissionais, que deixaram de lado interesses particulares para se dedicar a esse sonho, que foi concretizado dois anos mais tarde, com muitas dificuldades, como a escassez

1968 FACULDADE DE MEDICINA DE UBERLÂNDIA

O IDEAL VENCE A RESISTÊNCIA Faculdade de Medicina e Cirurgia foi criada graças ao empenho de alguns médicos e Rondon Pacheco

Primeira Turma da Faculdade de Medicina de Uberlândia se formou em 1973 com 95 alunos


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Diretores da Faculdade de Medicina em entrevista à TV Triângulo de verbas e até a resistência de alguns médicos da cidade. Idealistas como Primo Crosara, já haviam tentado criar a Faculdade de Medicina. Na visita a Uberlândia do presidente Castello Branco, Crosara fez um pedido para que se implantasse a escola. Na época, a ideia não foi para a frente porque não era projeto do Governo criar mais escolas públicas de nível superior. Em 1966, em uma conversa entre os médicos José Bonifácio Ribeiro e José Olympio de Freitas Azevedo, a ideia voltou à tona. “No mesmo dia, José Bonifácio entrou em contato com o então deputado Rondon Pacheco que se prontificou a dar apoio para a criação de uma faculdade de Medicina particular, já que o governo não permitia a criação de escolas públicas. Não fosse o prestígio do Rondon com Costa e Silva, não teríamos hoje o curso de Medicina”, lembra José Olympio de Freitas Azevedo. O interesse e a expectativa positiva eram grandes. O sucessor

de Castelo, marechal Costa e Silva, veio durante a campanha a Uberlândia. Recebido com um banquete, prometeu autorização para instalação da escola. Em 1967, Rondon Pacheco passou a chefe da Casa Civil de Costa e Silva. Em entrevista publicada na primeira edição do “Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre” falou sobre a criação da faculdade de Medicina. “Costa e Silva criou duas faculdades de Medicina ao mesmo tempo, em Uberlândia e outra em Rio Grande. Sairia frustrado se como ministro não tivesse conseguido isso, tendo convívio diário com Tarso Dutra e Jarbas Passarinho”. O Curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia surgiu em 1968. Em fevereiro de 1968, o Conselho Federal de Educação autorizou o funcionamento da escola, que, no dia 19 de março de 1968, foi inaugurada. O primeiro vestibular aconteceu em abril de 1968 e a primeira turma da faculdade se formou em 1973 com 95 alunos.

QUATRO MIL BOIS PARA AS OBRAS

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m junho de 1966, um grupo de médicos deu início aos estudos para a implantação da Faculdade de Medicina. O médico e professor Domingos Pimentel de Ulhôa foi escolhido pelo grupo como diretor da escola, fundada em 21 de julho de 1966. Em dezembro de 1966, foram iniciadas as obras. Em 1967, 4 mil fazendeiros ligados ao Sindicato Rural se prontificaram a doar um boi cada um para a construção da escola. Um grupo de trabalho, composto por Virgílio Galassi, Ismael de Freitas, Renato de Oliveira Grama, arrecadou mais dinheiro por meio de bingos, barraquinhas e rifas. O terreno onde fica hoje o campus Umuarama foi doado por Rui Santos e a planta foi também doada pelo arquiteto Ivan Cuper-tino Rodrigues. O Hospital Infantil foi doado pela Loja Maçônica Luz e Caridade e o Ambulatório por Amélio Marques.


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Lançamento da pedra fundamental da Faculdade de Medicina em 1966

PROFESSORES DAVAM AULAS SEM SALÁRIOS

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Visita ao terreno da nova faculdade por uma caravana de médicos

Ambulatório: demoraram três meses para o 1º paciente se internar

rnaldo Godoy abriu mão da clínica que tinha para se dedicar exclusivamente à Faculdade de Medicina. Além dele, outros professores como Simão Carvalho e Durval Garcia lecionavam sem remuneração. A Faculdade de Medicina de Uberaba e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) cederam professores para ajudar o início do curso. Em 1970, médicos contrários à escola afirmavam que não existiam cadáveres na cidade para ministrar os cursos. Segundo Freitas Azevedo, demoraram três meses para o primeiro paciente se internar, porque as pessoas tinha medo de serem mortas para que o corpo fosse utilizado nas aulas de Anatomia. Estudantes de Uberaba faziam passeata contra a criação da nova escola. A primeira turma de 95 médicos formada em 1973, ficou cerca de dois anos sem saber se o curso seria reconhecido. “Até que, em 1975, o Ministério da Previdência e Assistência Social, passou a remunerar os hospitais de ensino de forma privilegiada. Fomos o segundo a assinar o novo tipo de convênio. Fomos reconhecidos e, em 1978, finalmente nos federalizamos”, lembra Gladstone Rodrigues.



Seresteiro Silvio Caldas encantava o público com suas canções românticas

1908-1998 SÍLVIO CALDAS

VOZ MORENA NA CIDADE

Cantor passou temporadas e apresentou shows de sucesso em Uberlândia

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ono de um timbre inconfundíboemia, Sílvio Caldas sempre encontrava vel, conhecido por todo o Brasil um tempo para se apresentar na cidade. com apelidos carinhosos como Em um dos seus shows, em 1942, na praça caboclinho querido, titio e a voz Tubal Vilela, cantou acompanhado da morena da cidade, o cantor Sílvio Caldas pianista Carolina Cardoso Menezes. Entre não teve “compromisso com a saudade”, os sucessos, Sílvio cantou o belíssimo como dizia o título de umas das músicas mais cantadas por ele em quase 70 anos de carreira. No auge da fama, na década de 1940, passou muitas temporadas em Uberlândia hospedado na casa de Manoel Latrilha Vieira, na esquina da avenida Floriano Peixoto com a rua Santos Dumont. O alfaiate João Batista da Silva, o JB, ainda era menino na época, mas lembra de ver o cantor seresteiro na cidade. “Ele gostava de cozinhar e também ia pescar em Cachoeira Dourada. Seu Manoel tinha um Armazém e a casa onde morava ficava em cima. Nos fundos havia uma mesa onde quase, todas as noites, eles se sentavam para ouvir violão e beber. O Sílvio Caldas cozinhava o peixe que tinha pescado." Além das amizades, pescarias e Vinil de Sívio Caldas lançado em 1962

samba de Ary Barroso, “Faceira”, que o projetou na carreira artística. “Ele era o cantor preferido de Ary Barroso. Gravou todos os sucessos dele”, diz JB. Muitos anos depois, na primeira metade dos anos 1980, o alfaiate já adulto lembra de ter ido a um dos últimos shows de Sílvio Caldas na cidade, na extinta Churrascaria do Becão, na rua Quintino Bocaiúva. Na ocasião, ele tocou o violão que havia recebido de presente do ex-presidente Juscelino Kubitschek em 1957, quando se apresentou para os pracinhas da Força Internacional da ONU, no Canal de Suez, no Egito. “Ele foi na nossa mesa e sentou conosco depois do show. Contou muitas piadas e causos. Entramos pela madrugada. Era uma pessoa fora de série. Ficou uns dias na casa do professor Günther para matar as saudades de Uberlândia”, diz JB. Sílvio Caldas morreu em 3 de fevereiro de 1998, aos 89 anos, no sítio em Atibaia (SP), onde passou os últimos anos da vida lutando contra crises de depressão e anorexia.



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Maria Eduarda, filha de Lincoln Repeza vestida de portuguesa

DÉCADA DE 60 UMA CASA PORTUGUESA

UBERLÂNDIA ORA POIS!

A tradicional bacalhoada dos sábados no Clube Português marcou época e deixou saudades

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berlândia teve fortes influências estrangeiras que contribuiram muito para seu desenvolvimento. Entre as colônias, a portuguesa, sem dúvida, teve uma presença expressiva na vida da cidade. Principalmente no comércio. Ali pelos anos 50, praticamente, todas as concessionárias de veículos pertenciam a empresários lusitanos. Em 1958, um grupo de imigrantes

portugueses criou o Centro da Colônia Portuguesa de Uberlândia, onde se reunia para integrar a comunidade lusitana, jogar “sueca”, relembrar costumes, hábitos e histórias da “terrinha”. A primeira sede foi bem no começo da avenida Afonso Pena, em um dos imóveis de Ângelo Naghettini, que de português não tinha nada. Era italiano de Verona. No fim da década de 60, como a iniciativa encontrou respaldo e

adesão, tomaram uma decisão ousada: comprar a residência de Toninho Rezende, na avenida Floriano Peixoto, 757. Com a mudança de endereço, o Centro da Colônia Portuguesa sofreu uma reformulação e mudou o nome para Clube Recreativo Português de Uberlândia. Para se adequar ao novo uso, o imóvel comprado, passou por diversas mudanças. Mesmo sendo muito espaçoso, foi preciso pavimentar o terreno para receber portugueses e convidados para as bacalhoadas, regadas com bastante vinho. As bacalhoadas, além de preservar e divulgar os costumes portugueses, eram promovidas com o objetivo de arrecadar dinheiro para saldar a dívida da aquisição do imóvel. Dívida generosamente parcelada pelo credor, Antônio Thomaz Ferreira Rezende, que tinha enorme simpatia pela colônia. Os encontros, segundo o comerciário aposentado e neto de portugueses, Lincoln Repeza, aconteciam a cada dois meses. Começavam ao meio-dia dos sábados e se estendiam até a noite. “Qualquer um podia ir, além dos sócios que pagavam a mensalidade. Era só comprar ingresso”, diz Lincoln. Além da comida, havia apresentações de música e dança. As crianças, filhas dos sócios, geralmente se vestiam a caráter para o fado, tocado pelo Regional do clube. O quinteto era formado por Lincoln Repeza no violão e voz, Mozart Ferreira, no violão, o autor do Hino de Uberlândia e do


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Bacalhoada preservava e divulgava os costumes lusitanos Verdão, Alyrio França, no violino, Edson Cardoso, o Toti, no acordeom e Vicente Onatino Ferreira na percussão. “As música mais pedidas eram ‘Uma casa portuguesa’, ‘Coimbra’ e ‘Madragoa’. Eu levava minhas filhas para dançar o fado”, lembra Lincoln, um uberlandense criado pelos avós portugueses Eduardo de Oliveira e Rosária de Oliveira Robalo, naturais de Vila Nova de Gaia, município português do Distrito do Porto. As bacalhoadas fizeram fama e eram ansiosamente aguardadas pela sociedade uberlandense.

Era interessante ver empresários muito bem-sucedidos trabalhando como garçons, servindo as mesas, revezando nos caixas, limpando banheiros ou ajudando na cozinha comandada pelo casal Cacilda e Eduardo Machado. Tradicionais famílias uberlandenses sempre se faziam presente. Os Guimarães, Garcia, Junqueira, Freitas, Pereira e outras. E quem não perdia uma era o cônego Afonso, junto do qual sempre se formava uma animada mesa completada por Simão, Arnaldo, Denilson Oliva, Ítalo Felice, Ronan Borges, Major

A cozinha do Clube Português era comandada por Cacilda Machado

Nonato e outras figuras expressivas. Diferentes vertentes políticas também se faziam presentes, como João Edson de Melo, Raul Pereira, Homero Santos, Mário Pacheco, Valdir Melgaço, Jairo Fonseca e André Fonseca. Entre os portugueses responsáveis pela criação do clube estavam Alexandrino Garcia, Oswaldo de Oliveira, Diogo de Oliveira, Adelívio Peixoto, Delerman Basteiro, José Guimarães, Manoel Serralha, Tinoco, Joaquim dos Santos e Eduardo Machado. A viúva do vice-cônsul de Portugal Adelívio Peixoto, portuguesa natural de Ovar, Rosa Rezende Peixoto, ia sempre às bacalhoadas para socializar com as outras senhoras. “Sempre fui muito retraída, mas ia para participar”, diz Rosa. Adelívio Peixoto, como grande parte dos empresários da época, veio para Uberlândia para trabalhar em uma máquina de beneficiar arroz. Era sócio da Soares Bastos e Cia. e foi transferido para a cidade para administrar duas beneficiadoras que ficavam onde é hoje o Via Centro, na rua Martinésia com a avenida João Pinheiro. Peixoto montou depois a Motomaq, que vendia tratores e carros da Volks. Com o passar dos anos, o Clube Português foi perdendo a função de integração da colônia portuguesa e passou a alugar o salão para outras comemorações. As bacalhoadas deixaram de ser realizadas e Uberlândia perdeu uma das mais autênticas manifestações da presença portuguesa. Ainda hoje são relembradas com saudade por aqueles que tiveram a oportunidade de desfrutar de uma comida maravilhosa e de um ambiente sempre muito alegre e descontraído. Em meados dos anos 80, o Clube Português de Uberlândia encerrou suas atividades e sua sede foi vendida.


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Bar da Mineira se destacava pelo ambiente familiar

“Antigos edifícios, cinemas, bares e casas foram destruídos. Outros tiveram suas fachadas modificadas ou encobertas por placas publicitárias. O footing dominical foi substituído pela correria cotidiana e a delicadeza banida de suas calçadas.”

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partir da década de 1930, o centro comercial da cidade, até então localizado no Fundinho, foi gradativamente transferido para a área central. Na avenida Cipriano Del Fávero, em particular na João Pinheiro, foram construídas mansões consideradas modernas, de bom gosto e preço elevado pela imprensa local: “Com uma iluminação em moderno estilo, a primeira impressão, que se tem, é de uma avenida de grande metrópole. Os caprichosos canteiros revestidos de esmeraldina vegetação, congregando ao requintado gosto arquitetônico das luxuosas vivendas que margeiam a artéria ‘chic’ da cidade, a avenida João Pinheiro”. (Correio de Uberlândia, 1940, n. 503, p. 3-4). Nos anos 1940, consolidaram-se nas avenidas Floriano Peixoto e Afonso Pena instituições

DÉCADA DE 1940 AS AVENIDAS DA CIDADE

LEMBRANÇAS E ESQUECIMENTO Por JÚLIO CÉSAR DE OLIVEIRA

Praça da República, hoje Tubal Vilela, era ponto de encontro das pessoas


Acima: avenida Afonso Pena, conhecida como o “coração da cidade” Abaixo: avenida Floriano Peixoto financeiras, confeitarias, restaurantes e o comércio varejista. Quanto aos cafés e bares nelas localizados, destacavam-se “pelo ambiente familiar e o mais rigoroso preceito de higiene” o Bar da Mineira, Bar e Café Okey; Bar, Café e Pastelaria Ritz; Bar Líder (depois Lusitano) com seus aperitivos, sorvetes e refrescos. Graças ao dinamismo comercial, a avenida Afonso Pena era concebida por alguns moradores como o “coração da cidade”. Os jornais chegavam a compará-la às principais avenidas de São Paulo e Rio de Janeiro: “a avenida Afonso Pena é, para Uberlândia, o que é a av. São João para São Paulo e a av. Rio Branco para o Rio. (...) Se ela tornou-se majestosa, é o que hoje representa para a cidade, nada deve aos poderes públicos e, sim, a iniciativa privada”. (Correio de Uberlândia, 1947, n. 2119, p. 01). Nas calçadas da avenida, entre a praça da República (atual, Tubal Vilela) e o Bar da Mineira, era realizado o principal footing dominical da cidade com a seguinte

configuração: no passeio da direita flanavam os brancos, e no esquerdo, os negros. Nesse trajeto, os rapazes ficavam perfilados nas esquinas, em frente aos bares e lojas, enquanto as moças subiam e desciam a avenida sob o olhar atento dos admiradores. Depois de muitos olhares e acenos, encontros amorosos eram marcados no Cine Theatro Uberlândia. Fundado em 1937 por Aníbal Saglia, o cinema, localizado na Afonso Pena 273, ocupava uma área de 1.800m2, com capacidade para acomodar 2.200 pessoas. Nesse espaço destinado ao entretenimento, eram exibidos filmes, encenadas peças teatrais e realizados shows, como o noticiado pelo jornal “Correio de Uberlândia” em 1949. “Constitui sucesso absoluto a apresentação da dupla radiofônica que ora nos visita, composta do sambista Sady Nolasco e da cantora Lídia Figueirôa. Hoje Sady Nolasco e Lídia Figueirôa apresentar-se-ão no

palco do Cine Teatro Uberlândia”. Nas últimas décadas, as avenidas João Pinheiro, Cipriano Del Fávero, Floriano Peixoto e Afonso Pena, tornaram-se vias com o objetivo apenas de acelerar o movimento das pessoas e veículos. Antigos edifícios, cinemas, bares e casas foram destruídos. Outros tiveram suas fachadas modificadas ou encobertas por placas publicitárias. O footing dominical foi substituído pela correria cotidiana e a delicadeza banida de suas calçadas. Dessas avenidas, sobraram as lembranças daqueles que as conheceram e as fotografias estampadas nos jornais da época, cujo tom sépia de suas folhas informa que os anos transcorreram vertiginosamente.

JÚLIO CÉSAR DE OLIVEIRA é doutor em História Social pela PUC/SP. Autor do livro “Ontem ao luar: o cotidiano boêmio da cidade de Uberlândia (MG) nas décadas de 1940 a 1960”, Edufu, 2012.


60 Veículos automotores e de tração animal dividiam o mesmo espaço

arte. Como o comércio dependia dos carros de boi por causa do transporte de mercadorias vindos das fazendas e povoados, os carreiros podiam circular por outras vias da cidade para transportar os produtos. Para o transporte de pessoas eram usados os troles, chamados de carros de praça. Outra opção, mais barata, eram as charretes. Na década de 1920, havia na cidade DÉCADA DE 1910 MODERNIDADES cerca de 20 automóveis particulares e 40 de aluguel. Os caminhões eram em número muito maior e iam substituindo lentamente os carros de bois. Eram tão poucos veículos automotivos, que, segundo o historiador AntôO primeiro carro chegou a Uberlândia em 1912 nio Pereira, quando o Custódio Pereira, figura importante da história polítim 1912, entrou o primeiro cidade por Fernando Vilela, trafegava pe- ca, econômica e esportiva da cidade, carro em Uberabinha, las estradas que a empresa ia abrindo ia cruzar uma rua com um velho autodirigido pelo engenheiro com grandes sacrifícios e custo, e os anti- móvel, parava um pouco antes da esIgnácio Paes Leme pelas gos carreiros também teimavam em pas- quina, descia e ia ver, a pé, se não viruas arenosas e esburacadas da cisar, provocando estragos. Até que, em 21 nha vindo uma carroça, um carreiro, dade, causando espanto aos cidade outubro de 1913, os vereadores aprova- um cavaleiro ou outro carro no sentidãos que nunca tinham visto um ram a Lei nº 155, restritiva ao tráfego de do do cruzamento. Se não vinha, ele carro que não fosse puxado por carros de boi. A partir de então, os carrei- voltava, assumia a direção do veículo bois. Não havia na região estradas ros não podiam passar pelas estradas e fazia o cruzamento tranquilo. para onde os automóveis pudesconstruídas pela empresa, sob pena de sem transitar com velocidade. Até multa de 50 mil réis. Mais: não podiam Fonte: “Das Sesmarias ao Polo Urbano: que chegou a Uberabinha, Fernancircular pela avenida Floriano Peixoto na Formação e transformação de uma cidade” de Oscar Virgílio Pereira. do Vilela de Andrade, que conquislinha da Mogiana até a praça Doutor Dutou fama como administrador de joviano Morais era chofer de praça Vila Platina, hoje Ituiutaba. Em 1911, ele convenceu o governo do Estado a lhe outorgar concessão para construção de estrada que ligasse Uberabinha à Vila Platina, com a ajuda de Paes Leme. Em 8 meses, o trecho até Monte Alegre de Minas estava pronto. No dia da inauguração, Paes Leme e Aristides Pereira, a bordo de um Overland, fizeram a primeira viagem na nova via. Ainda em 1913, começaram as hostilidades contra os carros de bois. O automóvel usado pela Companhia Mineira de Auto-Viação Intermunicipal, criada na

QUATRO RODAS

E



Almanaque

UBERLÂNDIA

Pavilhões da fábrica de tecidos foram transformados em armazéns No detalhe: ilustração do empresário Armante Carneiro

1881-1972 MEMÓRIA

ARMANTE CARNEIRO

Empresário foi o primeiro presidente da Aciapu

N

Por ANTÔNIO PEREIRA

ão sei de outra homenagem que se tenha prestado a Armante Carneiro, além de nomear o prédio construído onde era a sede da Associação Comercial, Industrial e Agro Pecuária de Uberlândia (Aciapu). Nem uma travessa. Sua passagem por Uberlândia ficou marcada por ser um dos fundadores da Associação Comercial e seu primeiro presidente. Ele nasceu em Uberaba no dia 29 de julho de 1881 e era filho de Antônio da Costa Carneiro, médico, e Rita Otília Carneiro. Fez os primeiros estudos na cidade natal e foi concluí-los em Ouro Preto. Seguiu a família para São Paulo onde estudou na Politécnica e na Escola de Farmácia. Formou-se agrimensor e farmacêutico. Voltou para Minas. Foi contratado pela Estrada de Ferro Goiás para trabalhos topográficos. Em seguida, voltou-se para a agrimensura e foi para o sul de Goiás. Aí foi bastante feliz, porque teve um bom salário e ainda ganhou terras em total de 85.000 hectares no vale do Paranaíba. Casou-se com Percília de Carvalho e fixou-se em Goiás onde montou far-

mácia em sociedade com um cunhado. Foi um daqueles estradeiros que surgiram depois de Fernando Vilela arrastando linhas para o interior do Centro-Oeste. Ele construiu a estrada ligando Rio Verde a Mineiros e a ponte sobre o rio dos Bois. Depois de desfazer a sociedade com o cunhado que se mudou para o Rio de Janeiro, Armante veio para Uberlândia e foi morar na casa que comprou de Américo Zardo, na esquina da rua Lusitânia (Olegário Maciel) com a avenida João Pinheiro. Ele pretendia montar uma grande fábrica de tecidos. Associou-se ao senador Francisco Antônio de Sales e a José Maria dos Reis. O senador foi o presidente da Companhia Industrial de Tecidos Uberabinha. Os outros dois sócios eram diretores. A inauguração se deu no dia 15 de novembro de 1923. Ao fundo, a Companhia construiu um conjunto de pequenas casas destinadas aos operários. Esse pequeno conjunto chamou-se Vila Operária sendo, talvez, o embrião do futuro e populoso bairro, hoje absorvido pelo bairro Aparecida. A inauguração da firma foi uma festa

entusiasmada com o povo acreditando no impulso que ela traria para o desenvolvimento do município. Dizia-se que era a maior tecelagem de Minas. Mas, apesar de todo o aparato técnico, a fábrica não deslanchou. O capital que se esperava atingir por meio do prestígio do presidente não apareceu. As dívidas cresceram, Armante avalisou vultosos empréstimos bancários e o empreendimento entrou em crise. As máquinas foram arrematadas por preço baixo por uma fábrica de Uberaba e os pavilhões e o conjunto habitacional foram adquiridos pela Imobiliária de Tubal Vilela (ITV) por 120 contos de réis. Os pavilhões foram transformados em armazéns. Como último meio de superar seus tropeços, Armante montou escritório de representações, com compra e venda de cereais, seguros e outras atividades. Católico fervoroso, foi o primeiro Presidente da Ação Católica. Fundou-se por essa época o Partido Católico e ele foi convocado para a Presidência. O que marcou sua passagem por aqui foi a fundação da Associação Comercial, idealizada por José de Oliveira Guimarães. Foi seu primeiro presidente numa gestão que durou pouco mais de um ano e marcou-se por seu trabalho na área das comunicações. No dia 23 de dezembro de 1934, renunciou ao mandato porque tinha planos de mudar-se e estabelecer em Barretos. Foi o que fez. Aí, e em outros locais paulistas, continuou por várias atividades empresariais. Faleceu no dia 29 de março de 1972 e deixou os filhos, o advogado Ubaldo, as donas de casa Elza e Nice, o médico Walton, o também advogado Armante José e o economista Luiz.



LINHA DO TEMPO

OS SECRETÁRIOS

1984-2014 30 ANOS

CULTURA EM TRÊS DÉCADAS

A gestão da cena cultural de Uberlândia

O

Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

s anos de 1980 foram importante vitrine e ferramenta de anos de grandes transtrabalho para os artistas da cidade. formações no país e tam- Maria José Torres pensou bastante bém em Uberlândia. Foi antes de aceitar o convite da primeinesse período que o setor cultural ra secretária municipal de Cultura, da cidade começou a se organizar Iolanda de Lima Freitas. Com ela rumo à profissionalização. Nessa entrou no primeiro dia e ali permaperspectiva é que surgiu a Secretanece até hoje. “Vão-se os anos ficam ria Municipal de Cultura (SMC), que as memórias. Devo muito de tudo o completa 30 anos de atividades. que sou e aprendi aos gestores, arAté 1983, todos os assuntos pertitistas e colegas de trabalho que me nentes à cultura eram tratados em ensinaram muito do que acumulo uma gestão compartilhada com a hoje”, disse Maria José. Para ela, os pasta municipal de educação, por si 30 anos de secretaria servem para já bastante comprometida com tan- refletir o quanto um órgão público tas demandas. Na primeira gestão deve exercer seu papel de garantir do ex-prefeito Zaire Rezende, atenos direitos do cidadão. Além dos dendo às reivindicações de grupos fundamentais, os culturais”, afirma. de artistas de várias modalidades, O atual secretário de Cultura, é que houve a Gilberto Neves, foi acertada escolha nomeado em 2013 de criar uma sepelo prefeito Gilmar cretaria exclusiva Machado. Neves para assuntos culconcluiu o Teatro Muturais. De lá pra nicipal de Uberlândia cá, muita coisa e abriu-o à comuniaconteceu, muitas dade. Recentemente, conquistas viefinalizou o Plano Muram e a pasta da nicipal de Cultura e cultura tornou-se aprovou-o na Câmara. Secretário Gilberto Neves

Iolanda de Lima Freitas (1984-1988) Primeira gestão da SMC, consolidou projetos e equipamentos que permanecem até hoje. Municipalizou o Festival de Dança do Triângulo. Foi iniciada a adminis-tração municipal do Teatro Rondon Pacheco e houve a aquisição da Casa da Cultura e as suas primeiras restaurações, assim como de outros patrimônios da cidade. Criou o Museu de Ofícios e também o Teatro Vera Cruz, rebatizado depois de Grande Otelo.

Manuel Andrada Prieto (1998) Permaneceu apenas dois meses como secretário, tendo a principal responsabilidade de garantir a realização do 12º Festival de Dança do Triângulo.


Terezinha Aparecida Magalhães de Lima (1989-1992 e 1998-2000) Entre outras realizações, é mérito de suas duas gestões o projeto do Teatro Municipal de Uberlândia, cujo desenho arquitetônico foi doado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, em sua primeira gestão. As obras do Teatro Municipal foram iniciadas em sua segunda gestão.

Creusa Resende (1993-1996)

Myrthes Linhares Lintz (1997-1998)

Foi responsável pela aquisição do antigo prédio da Cemig para a instalação da Oficina Cultural de Uberlândia. Realizou um projeto ousado de formação teatral, trazendo vários profissionais de prestígio em nível nacional para ministrar oficinais em todas as áreas do fazer teatral, com duração de seis meses, culminando com uma montagem.

Com um mandato de pouco mais de um ano, entre outras ações, realizou o evento Panorama Plástico Visual, de grande visibilidade, com disseminação das artes visuais pela cidade. Em sua gestão, transformou o Festival de Dança do Triângulo em uma mostra.

Lidia Maria Meirelles (2001-2003)

Alcides Melo da Silva (2003-2004)

Mônica Debs Diniz (2005-2012)

Sob sua gestão deu-se início à Feira Gastronômica, no Mercado Municipal de Uberlândia, evento que se tornou tradicional e reúne comidas típicas de vários estados brasileiros e de outros países. Ela também é a grande responsável pela implantação do Programa Municipal de Inventivo à Cultura (Pmic), sendo considerada “Mãe do Pmic”.

Com mandato de um ano, entre outras ações, criou o projeto Ferroviarte, que propunha uma ocupação artística de eclético repertório em nossa ferrovia.

Entregou o Teatro Municipal de Uberlândia, realizando, ao final do segundo mandato, sua inauguração com artistas locais. Iniciou o processo de discussão do Plano Municipal de Cultura e aprovou o Sistema Municipal de Cultura. Implantou a Biblioteca Sesi Indústria do Conhecimento e o projeto Viva Mansour, entre outros. Realizou a segunda restauração da Casa da Cultura, reinaugurando-a.


N

Cartas dos Leitores

o lançamento da edição 6 , Clarimundo Campos foi homenageado pelo jornal Correio e também pelo almanaque “Uberlândia de Ontem e Sempre”. No registro o momento em que Antônio José Ferreira Campos, filho do cronista recebia das mãos de Rosilei Machado o quadro desenhado pelo artista José Ferreira Neto. Clarimundo Campos não pode comparecer mas gravou mensagem em que justificava sua ausência. Dizia que a esposa nunca iria saber mas que, como ela estava impossibilitada de locomover, ele jamais poderia estar presente recebendo uma homenagem sem a presença dela. Mais um gesto que demonstrou toda beleza de sua alma poética: ele transformou uma ausência num gesto mais bonito do que teria sido sua presença! “Foi de caso pensado que dei uma espingarda de fogo retardado: não quis, simplesmente, telefonar para os amigos que destacaram no batuta Almanaque deste ano e de sempre, uma invenção do Celso Machado, o mais edificante colunista do CORREIO de Uberlândia. Neste meu pálido agradecimento, distingo as equipes do Celso e do CORREIO. De tais equipes, duas beldades enfeitam nossa casa com suas presenças, a Núbia e a Anaisa. Aqui ficam meus agradecimentos a todos que me encheram de graveto no Almanaque do Celso Machado” CLARIMUNDO CAMPOS,

Nota – O cronista Clarimundo Campos foi homenageado no lançamento da edição 6 do almanaque, em 20 de fevereiro deste ano. Depois de 3 meses ele faleceu. Eu estava em viagem e não pude estar na sua derradeira homenagem. Mas a jornalista Nubia Mota esteve lá e me mandou este email que merece ser compartilhado. “Celso, Hoje, 30 de junho, fui me despedir do seu Clarimundo. O quadro que o Neto pintou estava ao lado do caixão e o

Almanaque nos pés, ao lado dos 3 livros que ele escreveu. Dizem que a nossa homenagem fez muito bem a ele nos últimos dias de vida. Levei uns exemplares, que ele me pediu, para distribuir entre os familiares de Cachoeiro do Itapemerim. Fiquei emocionada e achei que gostasse de saber”.

passado, Estudei no Liceu, comprei pães na Padaria Mecânica, trabalhei no andar tereo do Hotel Colombo, fiz o tiro de guerra em 59, conheci pessoalmente o Coronel Hipopota” ODOMIRES MENDES DE PAULA Presidente da Abrampe/Tangara Clube

MAURILIO CATITO Radialista

“ Após o lançamento do Almanaque , na semana passada, ao chegar em casa, tinha duas opções: a cama ou a leitura. Ainda bem que fiquei com a segunda opção, pois valei muito a pena a viagem que o periódico me proporcionou. Hoje, de manhã, finalizei a leitura de todo o Almanaque. É muito bom ver como o material está, a cada dia, mais consistente, maduro e muito agradável. São passagens e “causos” muito interessantes que montam o dia a dia a história da cidade. Pessoalmente, o que mais me agrada é o estilo literário, pois a leitura é gostosa e fora dos padrões pré-montados de textos. Parabéns a toda equipe e, principalmente, a você por idealizar e produzir uma revista com um conteúdo editorial para tão importante.”

“Obrigado pela edição numero 6 do Almanaque “Uberlândia de Ontem e Sempre”. Você me fez voltar ao

ANA CRISTINA REIS FARIA NEVES Consultora de TH

NÚBIA MOTA Jornalista “ Terminei de ler a edição número 6 do almanaque “Uberlândia de Ontem e Sempre”. Estou orgulho pelo crescimento visível desta publicação. Desafiadora meta superada! Emocionei com o Maximiano Carneiro – cel. Hipopóta e o maior executivo do rádio local, Moacyr Lopes de Carvalho. Visionário, arrojado, polemico sim, mas humano! Celso, Paulo, Equipe... amizade, admiração. Orgulhoso de suas conquistas. Crescimento!!!”




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