Ed.17- Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre

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Almanaque NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO • ANO 9 • NÚMERO 17

AGOSTO • 2019

TEATRO MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA

TUDO PARA TODOS




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Pra começar...

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sta edição número 17 do Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre apresenta uma série abordagens com ênfase principalmente em personagens marcantes da vida uberlandense. Começa pela capa, trabalho especialmente criado pelo cartunista Valtênio, que magnificamente transmite o significado que o Teatro Municipal de Uberlândia representa. Infelizmente, veio a falecer antes de ver sua obra publicada. Com certeza, tanto ela quanto a entrevista que deu ao jornalista Carlos Guimarães Coelho, que estamos publicando, foram suas últimas manifestações. Fica o registro e o significado tão especial de sua genialidade e talento. Neste número trazemos outras figuras notáveis, marcantes e tão relevantes na história da nossa cidade. José Rezende Ribeiro, mais conhecido como Juquita, que participou de várias entidades fomentadoras do nosso desenvolvimento e dentre tantas realizações, foi o responsável pela construção do majestoso e inconfundível Uberlândia Clube, merecidamente denominado “Palácio Encantado”. Ubirajara Zacharias, o incrível Bira, popular e carismático que foi um pioneiro e grande nome do basquete uberlandense. Jogador excepcional que acumulou vitórias e prestígio mesmo sendo “baixinho”. Edmundo Paulino de Carvalho, empresário do segmento da construção civil que teve notável papel na vida econômica, política e social de nossa cidade. Vilibaldo Alves, um dos maiores nomes do radio esportivo mineiro, que ficou famoso por “adivinhar” o gol que iria narrar. O médico Salah Daud, fundador da Unimed Uberlândia, da Escola de Medicina e Cirurgia e do Hospital Santa Genoveva, que tem uma vida toda ela dedicada à medicina pediátrica uberlandense. O radialista Vilibaldo Alves que não nasceu em nossa cidade, mas foi aqui que consolidou sua carreira radiofônica e se tornou uma referência esportiva na capital do estado. Sua relevância no radialismo esportivo mineiro foi tão grande que ficou perpetuada no Memorial, que leva seu nome e ocupa a parte térrea da sede do Clube Atlético Mineiro no bairro de Lourdes. Todos merecedores do nosso respeito e reverência. Outras matérias também relevantes compõem o cardápio desta edição, que, prazerosamente, estamos oferecendo a todos que amam nossa cidade. Boa leitura. CELSO MACHADO Engenheiro de Histórias



Almanaque NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO • ANO 9 • NÚMERO 17

ISSN 2526-3129

AGOSTO • 2019

6 TEATRO MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA

TUDO PARA TODOS

Sumário CULTURA

NOSSA CAPA

Última obra de Valtênio Spíndola, produzida especialmente para esta edição HISTORIADORES

• Antonio Pereira • Jane de Fátima S. Rodrigues • Julio Cesar de Oliveira • Oscar Virgílio Pereira DIREÇÃO GERAL

Celso Machado EDIÇÃO E PROJETO GRÁFICO

Antonio Seara

PESQUISA E REPORTAGEM

Carlos Guimarães e Cristiane de Paula COLABORAÇÃO

TEATRO MUNICIPAL, 7 ANOS

ESPORTE

BASQUETE, CENTENÁRIO DO PIONEIRO A PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA EM UBERLÂNDIA NIZA, MULHER DE MUITAS LUZES

FOTOGRAFIAS

MEMÓRIA

REVISÃO

TRATAMENTO DE IMAGEM

José Ferreira Neto IMPRESSÃO

Gráfica Breda Finalização e ilustrações: José Ferreira Neto AGRADECIMENTOS

• Ady Torres • Ana Cristina Neves • Carlos Roberto Viola • Lucas Capra • Pedro Eduardo Machado • Ricardo Batista dos Santos • Rosilei Ferreira Machado • Taísa Ferreira Machado• Pascoal Lorecchio • José Oscar Bredariol • Paulo Henrique Petri • Laura Domingos

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ENTREVISTA

ARTISTA DA CAPA

Ilma de Moraes

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REGISTRO

• Ademir Reis • Adriana Souza • Arquivo Câmara Municipal • Carlos Magno d’Armada • Edelweiss Teixeira Junior • Gilberto Gildo • Neivaldo Silva (Magoo) • Ubirajara Zacharias Neto • Acervos pessoais • Arquivo Público Municipal • Acervo Antonio Pereira • Acervo João Quituba • Acervo Atlético Mineiro • Acervo família Salah Daud • Acervo família Bira Zacharias • André Mauricio • Clayton Mota • Close Comunicação

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VALTÊNIO, HUMOR E AFETO VILIBALDO, O LOCUTOR DOS MINEIROS

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MEDICINA

SALAH DAUD, APAIXONADO PELA PEDIATRIA

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LAZER

CAJUBÁ COUNTRY CLUBE, 55 ANOS

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ENSINO

JERÔNIMO ARANTES, LIÇÕES INESQUECÍVEIS

PROJETO EDITORIAL

Patrocínio:

Apoio:

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UBERLÂNDIA E O VATICANO Desiludido, torcedor manifestou com ironia sua decepção

VAMOS, VERDÃO

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m 1986, dois anos após a maior conquista da sua história, o Uberlândia Esporte Clube participou de um campeonato brasileiro paralelo, organizado pela CBF disputado por 36 equipes divididas em quatro grupos, que tinha o objetivo de definir o acesso de quatro clubes para a Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol desse mesmo ano. Totalmente desorganizada, a atuação do time foi um desastre. Perdeu todos os jogos, menos um. O falecido Carrara, que era massagista da equipe, nas suas memórias, relembrou esta passagem. “O nosso time tinha perdido todas as partidas e a última seria aqui com o Ubiratan de Dourados, do Mato Grosso do Sul, que estava na mesma situação. Para evitar gastos desnecessários e com a anuência da CBF, ficou acertado que a equipe mato-grossense não precisa-

ria vir. Só que o Uberlândia Esporte teria que entrar em campo no horário previsto, aguardar 20 minutos quando então seria decretada sua vitória por W.O. Evidente que ninguém foi ao Estádio Parque do Sabiá. Ninguém não, um gaiato não se sabe como conseguiu entrar no estádio e, durante uns 15 minutos, ficou correndo de um lado para outro com a bandeira do time, gritando bem alto: “vamos Verdão, que hoje vai dar. De um jeito ou de outro, hoje vamos ganhar!” Os jogadores em campo ficaram irritados com aquela gozação e só aguardavam o apito do juiz para dar uma coça no engraçadinho. Só que este foi mais esperto e, 5 minutos antes do apito, fugiu sem que ninguém pudesse pegá-lo. Ganhamos o jogo, mesmo assim ficamos em último lugar. E tendo ainda que aguentar a ironia desse torcedor e dos comentários que seu gesto provocativo causou.

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s irmãos Francisco e Oswaldo Moya foram doadores de grandes áreas para iniciativas do prefeito Virgílio Galassi. Para citar algumas: a do Camaru que abriga o Parque de Exposições do Sindicato Rural, a do Sesi Gravatás com seu complexo poliesportivo, inúmeros terrenos que viabilizaram o término da construção do Estádio Parque do Sabiá. Uma passagem pitoresca exemplifica como o ex-prefeito era um “pedinte” insaciável. Certa vez esteve aqui o presidente da Cia. City para definir o lançamento do loteamento City Uberlândia. Ao sair do encontro com o prefeito, comentou: “se esse prefeito de vocês fosse padre, Uberlândia já estaria maior que o Vaticano, do tanto que ele pede”. Só que tinha uma coisa, faz questão de salientar Oswaldo Moya que foi um dos grandes doadores de áreas para a cidade, “tudo que ele pedia era para Uberlândia, para realizar o seu sonho de fazer tudo do melhor para a cidade. Nunca pediu nada para ele”. Virgílio Galassi, amor por Uberlândia


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2ª PARTE

Família Martins Esta matéria é sequência da que foi publicada na edição 15 Por ANTONIO PEREIRA DA SILVA

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aximino Martins da Silva, o tio Cimino, talvez seja o primeiro Martins a chegar no distrito. Ninguém sabe ao certo, mas há quem diga que foi Joaquim Martins. Um ou outro, os Martins que foram chegando se assentaram numa vasta região que ficou conhecida como “Fazenda velha dos Martins”. Emerenciano Cândido da Silva (Capitãozinho) e outros reuniram-se para cuidar do melhoramento da região. Ergueram uma capela nas terras de Hypólito Martins em torno da qual nasceu o distrito de Martinópolis, nome dado em homenagem à família. O desdobrar da família retalhou a velha fazenda em pequenos sítios que, juntos, mantiveram o nome tradicional de “Fazenda dos Martins” para a área total.Guido José do Nascimento e Sebastiana Maria de Jesus tinham ali o seu sítio. Seus filhos, Maria das Dores de Jesus, Ernesto José do Nascimento, Joaquim Martins da Silva, Ivo Martins da Silva, Cândida Martins Gonçalves, Maria Abadia de Jesus e Luíza Maria de Jesus eram lavradores e pecuaristas. Martinópolis mudou de nome. Passou a ser Martinésia. O

Antonino Martins da Silva com esposa e filhos lugar era bem movimentado. Tinha umas cem residências, grandes casas comerciais, como as de José Jacob Sales e Manoel Caetano Machado, farmácia, bilhar, agência de correios. Luíza Maria de Jesus casou-se com Antonino Cornélio da Silva. Tiveram um filho, Antonino Martins da Silva que, ao nascer, em 6 de maio de 1916, já era órfão de pai. Antonino estudou no Grupo Escolar da Martinópolis. Cavalgava quase três léguas para chegar à escola. Por ser estudioso, foi chamado para lecionar nas fazendas vizinhas ao terminar o curso Primário. Aos 12 anos, dava aulas aos filhos

de Braz Martins da Silva e, depois, aos de Orozimbo Fernandes. Ganhava oito mil réis por aluno, por mês. Dona Luíza trouxe-o para Uberlândia, para estudar no Liceu. O diretor, professor Milton Porto, notando que eram pobres, deu o ensino de graça. Antonino ficou numa pensão onde, depois, foi a Loja das Bandeiras e atualmente é uma loja de móveis. Daí até o Liceu, era um matagal, sulcado por uma trilha. De noite, estudava; de dia, trabalhava na Loja Glória, de José Tachian, na avenida Afonso Pena. Com dois anos na cidade, desistiu de tudo e voltou para a roça. Foi lecionar


“ O desdobrar da família retalhou a velha fazenda em pequenos sítios que mantiveram o nome tradicional de Fazenda dos Martins para a área total”

numa escola pública instalada na fazenda do Orozimbo. Era 1932. Ganhava 160 mil réis por mês. Em 1934, foi para a Escola José Augusto, na Fazenda do Buriti. Foram seus alunos Sincero Borges, José Borges, dr. João Fernandes, Ayrton Borges e outros. Pouco depois, foi para Martinópolis trabalhar no Cartório, assumindo em 1937 a titularidade.Antonino casou-se com a professora Maria de Paula Silva, filha do agente do Departamento dos Correios e Telégrafos, Zacarias de Paula Silveira. Aprendeu música com o maestro Cássio Fuczato, organizador da “Lyra Coração de Jesus” e, um dia, assumiu a banda. Tocava baixo de chave. Dona Maria nasceu em 17 de dezembro de 1916 e faleceu com a doença de Chagas em 7 de fevereiro de 1967. Lecionou em Martinésia durante 14 anos. O Grupo

Escolar de lá recebeu muitas doações do Antonino. Numa das gestões de Virgílio Galassi, sendo secretária da Educação a professora Irmã Ilar Garotti, a escola recebeu o nome de Escola Municipal Antonino Martins da Silva, a pedido da comunidade. Falecendo José Cupertino, titular do Cartório de Registro Civil de Uberlândia, Antonino prestou concurso, foi aprovado, nomeado, e mudou-se para cá, em 1952. Já tinha os filhos Antonino, nascido em 1939, Maria Luíza, nascida em 1941, e Janine nascida em 1944. Permaneceu nessa atividade até 1987 quando se aposentou. Além de músico, teve algumas veleidades literárias publicando crônicas e poemas nos jornais locais.Antonino e Maria de Paula são responsáveis por uma geração de mestres: - Antonino Martins da Silva Júnior

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fez seus primeiros estudos em Martinésia. Formou-se engenheiro de minas, metalurgia e civil pela Universidade de Ouro Preto, em 1964. Trabalhava na mina de cassiterita, em Ipameri quando, instado por alunos, assumiu, em 1967, a cadeira de Materiais de Construção Mecânica da Faculdade de Engenharia de Uberlândia. Lecionou Mineralogia, Geologia, Petrografia e Materiais de Construção Civil. Voltou-se inteiramente para o ensino e, hoje, detém um currículo extenso e invejável na área da educação, valendo destacar que foi diretor da Faculdade de Engenharia em 1975, vice-reitor da UFU por eleição de 1976 a 1980, reitor da Universidade de Rondônia, que organizou e instalou definitivamente, e reitor da Universidade Federal de Uberlândia. Casou-se com Luíza


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“Antonino era uma pessoa dotada de muito conhecimento, cultura e sabedoria. Conversar com ele era como assistir a uma aula de um professor emérito”

Terezinha. Possuem os filhos Flávio Lúcio, Fernando Augusto e Luciana. Após a reitoria da UFU, aposentou-se. Flávio Lúcio é administrador de empresas, diretor geral do Grupo Martins (CEO). Fernando Augusto é médico, formado na UFU. Luciana é advogada formada na UFU. Exerce a profissão e leciona. - Maria Luíza Martins da Silva é casada com Paulo Alberto V. Guimarães, engenheiro metalúrgico. É professora de História Natural para os 1º e 2º graus, em Belo Horizonte. Foi professora na UFMG. Lecionou a vida inteira. Seus filhos são: Paulo Roberto, Marcos Augusto e Luiz Gustavo. Paulo Roberto é administrador de empresas e trabalha com fazendas. Luiz Gustavo também é administrador. Marcos Augusto é engenheiro civil. - Janine Martins da Silva é casada com Djalma de Castro Santos. Tiveram os filhos: Cristiane, Sérgio Eduardo e Patrícia. Poeta e pedagoga, exerceu o Magistério por 27 anos na UFU, na qual se aposentou. Mestra em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba - SP, participou da obra Movimento Lírico da Editora Assis. Publicou o livro “Espaço Aberto: um lugar de poder e competência”. Foi presidente do IAT-Instituto de Artes, Cultura e Ciências do Triângulo e da Academia Leonística Mineira e Brasiliense de Letras. Preside o Clube Soroptimista Internacional Uberlândia e o Lions Clube de Uberlândia 21 de abril. Participou de vários projetos poéticos. Sua filha Cristiane é historiadora e

advogada, mãe de três filhos. Seu filho Sérgio Eduardo é professor de geografia e tem um filho. A caçula, Patrícia, é jornalista, professora universitária, empresária na área de comunicação e mãe de uma menina. É atualmente presidente do IAT-Instituto de Artes, Cultura e Ciências do Triângulo. - Marco Túlio Martins da Silva é casado com Maria de Fátima. Engenheiro eletrônico pela Universidade de São Paulo (USP) foi docente do Departamento de Engenharia Elétrica da UFU e diretor da Pró Reitoria Estudantil e de Extensão. Posteriormente fez Direito na UFU e exerceu por alguns anos a advocacia. Foi docente na Faculdade de Direito da UFU. Atualmente é titular, por concurso, do Cartório de Registro de Títulos, Documentos e Civil da Pessoa Jurídica, de Araguari, que assumiu em 2004. Seus filhos são: Helena, Lúcia e Mariana. Helena é médica obstetra e ginecologista e docente na Faculdade de Medicina da UFU. Lúcia fez Direito na UFU e exerce a profissão. Mariana também fez Direito, mas na USP. Fez mestrado em Ciência Política na IUBERJ e faz doutorando em North Western, nos Estados Unidos. - Márcio Martins da Silva foi casado com Maria Teresa. Faleceu aos 20 anos e deixou os filhos Marcelo e Maria Paula. - Carlos Henrique Martins da Silva é médico pediatra pela Universidade de São Paulo, solteiro e professor do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de Uberlândia. É atualmente

Antonino Martins da Silva Jr, que viria ser reitor da UFU, com sua avó Luiza Maria de Jesus diretor da Faculdade de Medicina, eleito em primeiro turno. Além de médico fez também Filosofia pela UFU. - Marisa Martins da Silva é casada com Ricardo Alves do Prado. Os dois são cirurgiões-dentistas pela UFU. Ela foi professora da Escola Técnica de 2º Grau da Universidade Federal de Uberlândia. Possuem dois filhos: Edmundo, que é advogado formado na UFU e músico; e Marília, que fez medicina pela UFU e é professora.


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CULTURA

Teatro Municipal: sete anos

Desde 2012, mais de 500 mil espectadores assistiram a espetáculos de qualidade

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oram mais de duas décadas para que o sonho se concretizasse. O arquiteto Oscar Niemeyer não imaginava quanta expectativa seria criada a partir do momento, ao final da década de 1980, em que doou seu projeto para o Teatro Municipal de Uberlândia. De lá para cá, muita coisa aconteceu até o teatro ser definitivamente inaugurado em dezembro

Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

de 2012, entrando efetivamente em funcionamento em meados do ano seguinte. Quem acompanhou esse percurso e viu as obras evoluírem, com alguns intervalos de estagnação, não pôde conter o entusiasmo quando o prefeito Odelmo Leão Carneiro e a secretária de Cultura, Mônica Debs, descerraram a placa, com a programação inaugural composta unicamente

de artistas locais. Seis meses depois, uma programação intensa seria consolidada, recebendo também grandes produções em turnê pelo país. Em seu primeiro ano de funcionamento, a obra ainda prosseguia com ajustes e finalizações. Para o início efetivo do funcionamento, Uberlândia recebeu pela primeira vez um dos principais grupos de dança do país, a

Teatro Municipal: uma obra que teve que superar desafios em diferentes aspectos


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Cia Deborah Colker, com três dos seus espetáculos na turnê comemorativa dos 20 anos do grupo. Vislumbrando uma excelente oportunidade para a cultura em Uberlândia, o TMU abriu suas portas para a companhia, que desembarcou na cidade toda sua espetacular estrutura técnica – aparelhagem de som, de luz e de projeções. Nessa etapa inicial, o TMU foi aberto para grupos convidados, que traziam seus próprios equipamentos e estrutura de pessoal. Status de capital A Cia Deborah Colker estava percorrendo apenas as capitais do país com esta turnê comemorativa. Uberlândia foi a única cidade do interior a recebê-la, o que se repetiu em outros momentos. Neste ano, por exemplo, o musical “Gota D´Água” [a seco], também em turnê pelo país apenas nas capitais, incluiu Uberlândia no roteiro. Também recentemente, a comédia “A Verdade”, com Diogo Vilela e elenco, fez na cidade sua primeira apresentação após bem-sucedida temporada de estreia no Rio de Janeiro. Pode parecer detalhe sem importância, mas é privilégio ter status de capital nas programações de turnês, assim como receber espetáculos na frente de outras cidades e, até mesmo, antes de entrar em cartaz em São Paulo, tradicionalmente o primeiro ponto de parada das produções brasileiras.


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Logo em seguida às apresentações da Cia Deborah Colker, aconteceu, no pátio do Teatro Municipal de Uberlândia, nos dias 3 e 4 de setembro, o “Festival de Viola do Sesc”, que trouxe como atração principal o violeiro Almir Satter, com entrada franca. Também no pátio do TMU, no dia 8, o show de Sérgio Reis, oferecido pela empresa Souza Cruz, teve entrada gratuita para o público. Para o Grupo Martins, um dos principais patrocinadores do TMU, foi cedida a data de 9 de setembro para o lançamento do livro sobre a vida e trajetória profissional do seu fundador, Alair Martins e, de 1 a 6 de outubro, para a realização do espetáculo “New York, New York”, como comemoração aos 60 anos da empresa. Três sessões foram abertas ao público e outras três com bilheteria. A partir de outubro, a ocupação passou a seguir um calendário com datas contempladas via edital de ocupação, resguardando o percentual legal de direito da Secretaria Municipal de Cultura. Com um orçamento aproximado de R$ 25 milhões apenas para as obras, desconsiderados os investimentos em equipamentos de som e luz, o Teatro Municipal de Uberlândia tem tido atividade permanente, inserindo a cidade na rota de passagem do teatro brasileiro. Estima-se que mais de 500 mil espectadores tenham passado por ele ao longo destes quase sete anos.

Teatro privilegia a diversidade

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secretária municipal de Cultura, Mônica Debs, foi a última das secretárias a cumprir a longa jornada de construção do Teatro Municipal de Uberlândia, inaugurando-o em dezembro de 2012, mesmo ele entrando efetivamente em funcionamento seis meses depois. Ela considera que o equipamento cultural fomenta a criação, produção, divulgação e circulação de produtos culturais da comunidade artística do município e de todo o país, incrementando o desenvolvimento cultural do município à altura da sua importância econômica. “Além desses importantes aspectos, o Teatro auxilia na difusão da diversidade cultural e incrementa o mercado cultural da região, favorecendo a geração de empregos e de renda em segmentos relacionados ao processo artístico. Esses fatores, agregados a uma estrutura logística significativa e um equipamento cultural moderno, favorecem a participação do município na rota dos maiores espetáculos do país”, disse Mônica.

Secretária Municipal de Cultura, Mônica Debs, em evento cultural


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Palco de estreia nacional

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lém da ocupação de artistas e grupos locais, o Teatro Municipal de Uberlândia, em uma perspectiva de formação de plateias, tem sido um espaço de variadas expressões artísticas. Grandes nomes das artes cênicas brasileiras passaram por lá ao longo destes quase sete anos de funcionamento do teatro. Nomes como Glória Menezes, Antônio Fagundes, Marieta Severo, Juca de Oliveira, Miguel Falabella, Mônica Martelli, Regina Duarte, Cia Debora Colker, Grupo Galpão, Marco Nanini, Eva Wilma, Suely Franco, Almir Satter, Betty Goulart, Elza Soares, Malvino Salvador, Lucinha Lins, Tânia Alves, Paulo Betti, Laila Garin, João Bosco, Tuca Andrada, Jane Duboc, Matheus Natchergaele, Vera Fischer, Toni Garrido, Mel Lisboa, Drica Moraes, Marília Gabriela, Lázaro Ramos, Taís Araújo, Débora Bloch, Renata Sorrah, Diogo Vilela, Christiane Torloni, Renato Borghi, Denise Fraga, Cissa Guimarães, entre centenas de outros grandes nomes, pisaram no palco do Teatro Municipal de Uberlândia. E, neste ano, um fato histórico marca a história do espaço. A atriz Claudia Raia estreará na cidade o seu novo musical, “Conserto Para Dois”, ao lado de músicos e do marido Jarbas Homem de Mello. Isso não é apenas um presente, é mérito, resultado do trabalho incansável para inserir Uberlândia na rota dos grandes espetáculos em turnê pelo país. E, claro, isso só é possível porque temos um espaço à altura, como é o Teatro Municipal de Uberlândia.


18 “Donde eu tô, pra onde eu vô” Cantando no Parque

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o final dos anos 70, início dos anos 80, quando a música sertaneja nem imaginava o sucesso que viria obter, os artistas faziam de tudo para mostrar seu trabalho. Uberlândia, que sempre teve afinidade com o gênero, graças à iniciativa do notável Waldyr Bonnas e ajuda do saudoso João Gomes, ganhou um dos primeiros programas independentes da TV local, o “Canto da Terra”. Exibido pela Paranaíba, que, na época, retransmitia a programação da Bandeirantes. Era gravado, semanalmente, num improvisado estúdio onde hoje é a cantina da Unimed, na rua Machado de Assis. Havia também gravações externas em locais como o Praia Clube, Parque do Sabiá, etc. Um dos registros mais antigos que pode ser acessado pelo Museu Virtual Uber-

lândia de Ontem e Sempre é uma gravação no Parque da Sucupira com o jovem Zezé di Camargo em início de carreira, cantando sozinho “A mais pura razão”, uma versão do grande sucesso “To sir whith Love”. “Canto da Terra” durou uns cinco anos e recebeu, além de Zezé, artistas bastante conhecidos atualmente como Leandro e Leonardo, Roberta Miranda, Fátima Leão, Felipe e Falcão, Gilberto e Gilmar, Mato Grosso e Mathias dentre outros.

O Praia e suas memórias

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ntre tantos diferenciais que o Praia possui, existe um que muitos não percebem: o cuidado em registrar e preservar sua história. Quem frequenta o clube certamente conhece bem a linha do tempo situada na lateral do ginásio Adalberto Testa no lado do rio Uberabinha. Lá estão registros, dados, fotos documentando os seus mais de 80 anos Mesmo quando o Praia estava muito longe de se tornar a agremiação que hoje é, já havia essa preocupação. Exemplo disso é esta revista publicada em 1958 com 98 páginas, toda ela dedicada às atividades do clube na época presidida por Décio Tibery.

Jornalista uberabense, Ataliba Guaritá Neto

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primeira emissora de tevê da região foi a Triangulo, iniciativa do empresário Edson Garcia Nunes, que iniciou suas atividades em 1964. No início, muito em virtude das limitações de equipamentos, a maioria da sua programação era praticamente uma versão do que era feito nas emissoras de rádio. “Estrelinha que canta”, com Nalva Aguiar, “Três nomes e uma melodia”, com Dantas Ruas, telejornais infantis e até novelas eram exibidas ao vivo. Não existia o vídeo-tape. Era tudo na base da improvisação. Um desses programas era conduzido pelo talentoso jornalista uberabense, Ataliba Guaritá Neto, mais conhecido como “Netinho”. Dono de uma voz marcante e de uma classe notável comandava o programa “Samba, Café, Futebol e Mulher”, temas que compunham os quadros dessa atração. Como a disputa entre Uberaba e Uberlândia era grande e em tudo, ele teve a genial ideia de sempre abrir o programa com a mensagem: Boa-noite, Uberaba, de onde eu vim. Boa-noite, Uberlândia, onde estou. Boa-noite, Triângulo, para onde vou”. Netinho marcou época na programação da TV Triângulo, hoje, TV Integração.


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Em pé, Baby Barioni (técnico), Branco, Catalão, Geraldão, Zé Hubaide, Bira e Boulanger Agachados, Paulo Carneiro, Bayron, Zico, Zenon, Adjardes

BIRA ZACHARIAS

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birajara Zacharias nasceu em Araguari, em 1919, o décimo primeiro filho do casal Emilia Elias Chaibub e Luiz Zacharias. O primeiro encontro com o basquetebol ainda foi na então provinciana Araguari. “Numa matine, apareceu num dos cinejornais que antecediam o filme uma partida de Bola ao Cesto, jogada nos Estados Unidos. Como era novidade e eu e alguns amigos desportistas ficamos fascinados e começamos a inventar uma maneira de jogar Bola ao Cesto. Para isso teríamos que achar um jeito de termos uma cesta. Naquela época as uvas vinham em barrilzinho de madeira leves, apelamos para o arco que rodeava os barris. Pregávamos o arco na parede como se fosse uma cesta e tentávamos encestar com as bolas de futebol, que na época eram de cobertão (capotão). Como os arcos eram frágeis, se curvavam com o peso da bola. E foi nessa luta danada que surgiu minha paixão pelo basquetebol.” Jovenzinho, foi com sua família para São Paulo. Lá, foi sócio do Espéria onde jogava no time de basquete. Nesse clube se praticavam várias modalidades. João Havelange era titular no polo aquático. No basquete havia atletas famosos. Depois que seu pai, Luiz Zacharias, faleceu, em 1935, sua mãe, Emília Elias Chaibub Zacharias montou, em Uberabinha, um comércio para os filhos Carlos e Bira. Aqui morava o terceiro irmão, Nazir, comerciante. Adquiriram um ponto na “praça dos bambus”, do Hermógenes Chaves. “Fui muito bem acolhido quando vim para Uberlândia, pois aqui tinha o Senhor Boulanger Fonseca, o treinador da turma de bola ao cesto. Ele já tinha

O centenário de um pioneiro do basquete uberlandense ACERVO MEMÓRIAS BIRA ZACHARIAS me visto jogar em São Paulo. Assim que ficou sabendo que havia mudado para cá, anunciou que tinha chegado um reforço para o time, na época era Associação Atlética Uberlândia. Os rapazes foram logo me visitar e incentivar para que fosse treinar com eles. Nasceram ali amizades inúmeras. Não decepcionei, pois jogava bonitinho e me entrosei radicalmente com os companheiros que eram: Byron Braierson , Zico, Helio, Zé Hubaide, Geraldão, Rubico, João Maia, Adjardes. Formamos um time de primeira grandeza, não perdendo para ninguém.” Só que a vida em Uberlândia não era só bola ao cesto, Bira dividia com o irmão as atividades da loja deles, um pequeno atacado. Enquanto o Carlos cuidava do balcão, o Bira saía com uma maletinha cheia de óleo Dirce, pó de arroz Lady, pedras para binga, linhas, tinta Guarany, Brilhantina, baralhos, batons e ia vender na periferia. Bira ficou muito conhecido por causa do comércio e do basquete. Frequentava o Praia Clube onde jogava futebol e basquete e o Uberlândia Clube que ficava na praça dos Bambus. Aí por volta de 1935, a Associação Atlética Uberlândia foi convidada para participar do Campeonato do Interior. A

sede seria Monte Alto. Bira tinha 17 anos. Foram e ganharam. Lembra: “A euforia da conquista do título de campeão do interior foi algo de assombroso. Fizemos uma viagem de volta empolgados, com medalha de ouro e platina e uma enorme taça gravada com nossos nomes. Ao chegarmos em Uberlândia, que surpresa bonita. Nossa recepção começou na Estação da Mogiana, com banda de música, fogos de artifícios, discurso do prefeito e outras honrarias. Descemos a av. Afonso Pena em carros abertos e, durante todo o percurso até a prefeitura, as pessoas formando uma passarela nos aplaudiam”. No ano seguinte, os Jogos Abertos do Interior do ano foram realizados em Uberlândia. “O Baby Barione veio morar aqui e junto ao Boulanger Fonseca treinava nossa equipe. Fora os que foram a Monte Alto, se juntaram a nós mais os atletas: Zenon, Adjardes, Paulo Carneiro, João Maia, Breno, Bruno e outros que não me lembro. Mas o time titular ficou sendo o mesmo de Monte Alto. Chegou então o dia dos jogos. A cidade toda enfeitada. Alojamento para todas as caravanas. Se não me engano, subiram para 12 cidades que vieram participar. Como sempre,


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Piracicaba era a grande favorita. Começou então o campeonato e ficamos nós e Piracicaba para disputar o 1º lugar. No time deles tinha um jogador, Edésio, que era da seleção brasileira. Por sinal um excelente jogador. Na noite da disputa, ao entrarmos na quadra, notei que Edesio estava pálido como cera e então convenci meus companheiros: vamos ganhar esta, pois eles estão com medo de nós. “Vamos jogar alegres e sem nos preocuparmos com o timão deles”. E foi o que fizemos. Ganhamos por 27 a 21 e eu por sorte e pela aplicação nos treinos fui o cestinha do campeonato. A quadra era na rua Santos Dumont, onde é hoje o Uberlândia Clube. Na mesma não cabia nem pensamento. Além das arquibancadas repletas, as mangueiras que circundavam a arquibancada estavam apinhadas de torcedores. Depois da conquista, lembro que, ao passar pelas ruas, as mocinhas me chamavam carinhosamente: “Birinha, Birinha”. A terceira edição dos Jogos Abertos foi realizada em Piracicaba. Justamente o time que era o principal adversário de Uberlândia. Eles montaram um time enxertado com jogadores semiprofissionais paulistanos. A decisão novamente foi entre nós e eles. Foi jogo tenso. Uma chuva pesada atrasou o início do jogo. A torcida não aluiu. No final, Uberlândia já vencendo, houve um lance livre que, batido, encerraria o jogo. Ao trilo do apito, a torcida invadiu o campo para agredir os uberlandenses. Em suas memórias, Bira, que era pequenino, registrou que Zé Hubaide, que era grande e muito forte, agarrou-o e levantou-o com um braço protegendo-o, enquanto, com o

outro, defendía-se dos arruaceiros. Bira e Carlos ampliaram a loja e começaram a vender também material esportivo. A vizinhança da Casa Zacharias era, pra cima, a loja de tecidos do Afrânio Rodrigues da Cunha e a Escolar, do Totó Marquez. Para baixo: A Cearense, do Militão, em seguida vinha a loja da mãe do dr. Adib Jatene e, depois, o Banco de Crédito Real de Minas Gerais, cujo gerente era o Sandoval Guimarães. No Natal, as lojas ficavam abertas até depois da Missa do Galo. Fechavam lá pelas 3, 4 horas da madrugada. Bira, nas memórias que escreveu contou um fato curioso numa época em que fazia parte da diretoria de praticamente

todas as principais entidades de Uberlândia: Rotary, Praia Clube, Associação Comercial e Industrial, e também do Tribunal de Justiça Esportista da cidade. “Me lembro de ter um atrito com um torcedor fanático de futebol, um conhecido fotógrafo da cidade que era técnico do time do Sal Tropeiro. Por ter agredido um juiz de futebol em uma partida, o TJD resolveu puni-lo, fazendo com que ele não pudesse, por três meses entrar em campo nos dias de jogos. O dito Senhor achou que eu era o culpado pela pena, (o que não era verdade, pois fora votação de toda diretoria) e então começou a anunciar que iria me matar. Mas foi só fogo de palha, porque após o vencimento da pena que cumpriu, veio me pedir desculpas.” Foi o primeiro grande sucesso do basquete uberlandense. Teve também destaque no tênis de campo, futebol, nataçao e outras modalidades esportivas. Foi casado por 65 anos com Áurea Firmino Zacharias, com quem teve 4 filhos: Cléa Dalva, Carmen Lucia, Clara Emilia e Luiz Antonio. Faleceu em novembro de 2004. Em novembro deste ano é o centenário de seu nascimento.


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Asfaltamento da av. Afonso Pena, esquina com rua Goiás no ano de 1956

OSCAR VIRGÍLIO PEREIRA

A PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA EM UBERLÂNDIA

A

pavimentação das vias públicas de Uberlândia já passou por várias formas de execução. As primeiras obras desta natureza foram executadas sob a modalidade do calçamento com pedras basálticas, os paralelepípedos, nome difícil de pronunciar e material ainda mais difícil de moldar, por ser um trabalho artesanal e lento. As grandes explorações de basalto de Uberlândia eram localizadas na região do atual bairro Tabajaras, onde até hoje existem enormes pedras. Uma das grandes pedreiras era localizada no terreno hoje ocupado pela Escola Estadual René Gianetti. Em toda aquela região, afloram jazidas dessas pedras, que eram também muito usadas para a constru-

ção de alicerces das edificações. Com o início da industrialização nacional, o processo rudimentar de fabricação das pedras passou a sofrer a concorrência de outras modalidades, entre elas o uso de blocos de cimento, os chamados “blockrets”, que foram experimentados em Uberlândia no calçamento da avenida Rio Branco, sem muito sucesso. A pavimentação com asfalto era um luxo. Uberlândia, na década de 1940, havia asfaltado em pequeno trecho na avenida João Pinheiro, entre as ruas Goiás e Bernardo Guimarães, medindo cerca de 100 metros apenas, que eram apresentados como grande mostra do progresso da cidade. É que asfalto era um produto importado e ainda muito

caro; qualquer pedaço de rua tratado com betume dava status . Depois que o Brasil criou a Petrobras e iniciou a exploração de suas imensas jazidas de petróleo, a pavimentação asfáltica começou a ser difundida. Em Uberlândia, o prefeito Afrânio Rodrigues da Cunha asfaltou a avenida Afonso Pena, em meio a grande comemoração, mas o asfalto era um serviço muito caro. As pedras ainda continuaram sendo usadas e as retiradas da avenida Afonso Pena foram usadas na pavimentação de várias ruas, entre elas a rua Marques Póvoa, onde ainda estão até hoje. Em 1973, já sob condições melhores, o Município de Uberlândia, quando era prefeito Renato de Freitas, resolveu adotar o projeto chamado “plano comunitário” de pavimentação asfáltica em regiões onde pelo menos cinquenta por cento dos proprietários de imóveis contratassem diretamente com empreiteiras. Aquele modelo de contrato com o poder público era uma espécie de parceria público-privada ainda inédita em Minas Gerais que, além de capacidade técnica, exigia do empreiteiro estrutura especial para assumir e administrar riscos.


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poder público arcaria apenas com parte do custo de pavimentação de cada rua, promovendo o lançamento tributário à conta do proprietário beneficiado. O empreiteiro assumiria o risco sobre o custo da outra parte, ficando autorizado a cobrar e negociar o pagamento com quem o houvesse contratado. Foi instaurada pela Prefeitura uma concorrência pública para execução de 200 mil metros quadrados de pavimentação asfáltica, para a qual foram chamados empreiteiros de todo o pais. A empresa local C.C.O – Construtora Centro Oeste Ltda., cujos sócios eram Plínio Carneiro, Ilidio Francisco de Marcelo e Edmundo Paulino de Carvalho, especializada em pavimentação e grandes construções, habilitou-se e apresentou as melhores condições de preço e organização desejadas. A resposta do povo foi surpreendente e revelou enorme demanda reprimida de serviços de pavimentação urbana. Verificou-se grande adesão de proprietários ao modelo do “plano comunitário”. Em pouco tempo, as primeiras obras contratadas foram feitas e várias outras licitações foram realizadas, vencidas pela mesma C.C.O., que havia aperfeiçoado naquela modalidade um alto know-how, além de condições de trabalho, produtividade e preços imbatíveis. O aspecto das ruas da cidade e a circulação melhoraram consideravelmente. Hoje a pavimentação asfáltica é a única modalidade usada para pavimentação de vias públicas em Uberlândia. Cabe registrar o caráter pioneiro de sua implantação, não só como um exemplo de pioneirismo e inovação, como também de relação sadia entre uma empresa, o Poder Público e a população. Vem agora uma lembrança da atuação muito especial naqueles lances do sócio daquela construtora, dr. Edmundo Paulino de Carvalho, já falecido.

Acima o empresário Edmundo Paulino de Carvalho e, abaixo, o prefeito Afrânio Rodrigues, responsável pela iniciativa do asfaltamento da av. Afonso Pena


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Almiro José de Souza, Edmundo Paulino, Oswaldo de Oliveira, Plínio Carneiro, Marco Paulo (menino) e dr. Geraldo do DNER

O dr. Edmundo, naquela época, assumiu na empresa uma das tarefas mais delicadas na execução do contrato, que era a parte comercial, a motivação de clientes, recebimento das parcelas e a prestação de contas à prefeitura, compreendendo a medição das obras em cada rua, apresentação, em mapas, de cada lote beneficiado e indicação dos responsáveis pelos custos. Sob sua direção incansável, foi organizado o setor para administração daquela relação contratual inovadora. A sustentação da parte técnica executada pela equipe e da formulação contratual dependiam de seu bom desempenho na administração comercial. Os contratos com milhares de proprietários de imóveis foram cumpridos com absoluta correção. A Prefeitura nunca recebeu uma reclamação. O sucesso do ”plano comunitário” executado pela C.C.O. encorajou o surgimento de outros empreendimentos pioneiros e fortaleceu a estruturação do polo de Uberlândia. Quando se dirigia às pessoas, pessoalmente ou por telefone, Edmundo usava uma expressão muito característica. Sua

saudação inicial era assim: “Meus respeitos!”. E, de fato, sempre foi respeitoso no seu compromisso com a população. Depois que a Legislação Municipal passou a exigir que novos loteamentos fossem dotados de pavimentação, tornou-se menor a utilização do plano comunitário. Todavia, a implantação desse modelo possibilitou a urbanização das partes mais antigas da cidade. Os que conseguem inovar com seriedade não se tornam apenas autores de soluções para grandes problemas . Tão principal e importante como isto é impor e resguardar a credibilidade no modelo institucional proposto e na qualidade do produto oferecido. Os que conheceram Edmundo Paulino de Carvalho se lembrarão de sua preocupação em ser justo e enfrentar desafios, colocando, sem alarde, a serviço da cidade o seu espírito criativo e de enorme compromisso. Ninguém viu baquear a sua fibra diante das adversidades e amarguras da vida, que não lhe foram pequenas. Foi com a mesma expressão sua: “ Meus respeitos”, que sua cidade dele se despediu.


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AS MUITAS

MULHERES EM NIZA LUZ

Primeira e única mulher a ocupar a Prefeitura de Uberlândia teve a vida marcada pela política Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

Há muitas mulheres em Niza Luz e a mulher política é apenas uma delas. Aos 80 anos, celebrados em 20 de agosto, Niza cultiva a inquietude que a levou aos palanques, mas também a que alimentou sua paixão pelos esportes, pela moda, pelos bordados, pela música e pela arte. Ela lembra do pai, Cândido Ribeiro, falando sobre seu fascínio pela cidade quando veio de Campinas. Foi telegrafista e gerente da Mogiana, malha ferroviária importante para o desenvolvimento da cidade. “Nasci e vivi aqui a vida toda. Aqui estudei, casei, tive meus filhos. Me orgulho disso. O povo uberlandense é um povo trabalhador. Muita gente de fora vem pra cá porque é uma cidade boa de se viver, aberta a todos. Aqui tem gente de todo país.”


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Para Niza Luz, Uberlândia é uma terra de oportunidades. Ela se orgulha de ter nascido e criado sua família na cidade. Diz que Uberlândia é acolhedora com os forasteiros, hoje maioria da população, o que “confirma seu caráter progressista”.

Talento Em sua casa rústica e aconchegante, chamam a atenção os quadros, alguns abstratos, experimentais, vários em técnica mista de pintura e colagens com rendas de Veneza. Todos de sua autoria, revelando a aptidão artística. Exímia bordadeira desde a infância, Niza tem a pintura como hobby. Sua intimidade com a arte passa também pela música. Estudou piano no conservatório e, embora gostasse de tocar, não arriscou a profissionalização. Também gostava de moda e chegou a ser presença constante nas passarelas dos famosos “Desfiles Bangu”, promovidos pela fábrica de tecidos Bangu, que aconteciam no Praia Clube em um salão existente antes do Ginásio. Como a maioria das adolescentes da época, o sonho inicial de Niza Luz era ser aeromoça, a profissão mais

romântica e encantadora naquele tempo. Não chegou a concretizá-lo, mas esteve próxima disso: seu primeiro emprego, aos 17 anos, foi no Lloyd Aéreo e, em seguida, na lendária Vasp.

Esportes Mas, tinha mesmo predileção pelos esportes. Praticava natação, participava das corridas no atletismo e também jogava basquete e vôlei, chegando a integrar o time do Praia Clube, inicialmente o das solteiras e depois o das casadas. Muito provavelmente vem da prática esportiva a jovialidade e disposição que ela preserva aos 80 anos. Dos cinco filhos – Egle, Leonardo, Jayme, Ariel e Cláudia – apenas a primogênita Egle e a caçula Cláudia, seguiram os passos da mãe no esporte, cursando Educação Física e mantendo há 30 anos uma das principais escolas de natação da cidade. Os homens enveredaram para outras áreas. Leonardo é dermatologista como o pai, Simão de Carvalho Luz, com quem Niza se casou aos 19 anos. Jayme especializou-se em Administração de Empresas e Ariel é médico veterinário.

Niza ainda criança com os pais e irmãos Abaixo: fé e juventude nos Anos Dourados


“ Grande empreendedora e incentivadora dos que estão no início do fazer artístico”

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Poliana Alves, cantora

Política

Niza ao lado do marido e filhos

Os cinco eram crianças quando o pai faleceu, deixando Niza viúva aos 43 anos. E, com a viuvez, o surpreendente ingresso no mundo político. Não que a política fosse novidade para ela. A política esteve presente em sua vida desde a infância. Seu pai, o construtor Cândido Ribeiro, foi presidente do PTB e reuniões com políticos ilustres eram comuns em casa. Até mesmo Getúlio Vargas esteve reunido lá. Uma das famílias vizinhas tinha grande projeção política em Uberlândia: a do ex-prefeito Renato de Freitas. Ainda assim, a vida pública não esteve nos planos de Niza até o ano de 1983, quando recebeu um convite do prefeito Zaire Rezende para fazer parte de seu secretariado.

Prefeitura

Atleta integrou o time de voleibol do Praia

Niza passou 16 anos na atividade política. Foi secretária de Trabalho e Ação Social e vice-prefeita. Uma das fundadoras do PSDB em Uberlândia, chocou a opinião pública ao aceitar o convite do ex-prefeito Virgílio Galassi, opositor político com quem havia

concorrido à prefeitura em 1988, para continuar seu trabalho como secretária, função que assumiu por duas vezes em governos de Virgílio. Na última gestão de Galassi foi vice-prefeita e assumiu interinamente a prefeitura em várias ocasiões. Fato histórico: foi a primeira e única mulher a assumir o cargo de prefeita da cidade. Ela afirma que sempre foi movida, acima das coligações e das diretrizes dos partidos, pelas causas humanitárias e a oportunidade de promover o desenvolvimento social, premissa que a fez implantar a Secretaria Municipal de Trabalho e Ação Social. Não deixa de ser curioso, na trajetória de Niza, o fato de ela ter se colocado acima das questões político-partidárias locais em favor da competência técnica na área social, o que a levou a ter atuação em gestões municipais antagônicas. Esteve, por afinidade, em gestão de “centro-esquerda”, mas não deixou de participar, posteriormente, de governos de direita. O que se observa em seus depoimentos é o brilho nos olhos quando fala da “missão cumprida por ter conseguido melhorias para


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a população, independente das diferenças políticas”. Ela recorda também que, em sua primeira gestão na secretaria que ajudou a implantar, a premissa de trabalho “era a de uma democracia participativa, o contato com as pessoas era o mais importante”. E destacou uma “lembrança de sua memória afetiva”: o 7 de setembro de 1985, quando conseguiu mobilizar estudantes de todas as escolas de Uberlândia para que levassem seus pais a uma grande marcha, que ficou conhecida como a “Caminhada pela Independência”. “Conseguimos fazer um grande 7 de setembro, muito provavelmente o maior de todos.” Niza Luz se declara desiludida com o cenário político brasileiro, apesar do orgulho de ter feito parte dele. Para ela, “o que acontece hoje é desanimador. Sempre há esperanças, mas há muita confusão política, desentendimento total entre poderes, deixando a população sem saber o que acontece, confusa com reformas importantes para o desenvolvimento do país sendo questionadas. Na verdade, embora sejam necessárias, a gente não precisa de reformas, mas sim de mudanças”.

Mário Palmério: frequentador assíduo do Spa Equilíbrio

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Modelo na juventude desfilando no Praia

Histórica Caminhada da Indepedência

m grande amigo de Niza Luz foi Mário Palmério, político, literato e educador de grande prestígio e reconhecimento em nível nacional, radicado em Uberaba. Em seus últimos anos de vida, Palmério vinha a Uberlândia com frequência e passava temporadas inteiras no Spa Equilíbrio, mantido por Niza e sua filha, Cláudia, às margens do rio Uberabinha. Segundo Niza, Palmério se instalava lá por um mês em um ambiente de trabalho, com máquina de escrever e tudo o que necessitasse para escrever. Ela conta que conheceu Mário ainda muito jovem, quando ele atuava politicamente, em meados do século passado, pelo mesmo partido de seu pai, o PTB, portanto no círculo de suas relações familiares. “Eu gostava muito dele. Era uma pessoa interessante. Durante boa parte dos últimos anos de sua vida, ele passou muito tempo no Spa Equilíbrio. Gostava muito de lá. Lamentamos muito a morte dele.”



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Desenho de capa para Náufrago: um dos quatro livros de Valtênio

MEMÓRIA | VALTÊNIO SPÍNDOLA

Humor e afeto

Valt deixou na capa desta edição do Almanaque o desenho que pode ter sido sua última obra Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

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altênio Spíndola, o Valt, chargista atuante até maio deste ano, quando deixou o planeta Terra, foi uma dessas figuras que colecionam inúmeros e leais amigos pela potência artística e pela singularidade de ser humano expansivo em noites boêmias e festivas. Sua irreverência o consagrou como artista, mas também como alguém que não fazia concessões. Valtênio nasceu em Uberlândia no início da década de 1960 e iniciou sua profissionalização, no extinto jornal Primeira Hora. O caminho havia sido traçado alguns anos antes, quando ilustrava pequenos jornais para o movimento estudantil e criava cartazes para

shows e eventos. Seu coração pulsava pleno no jornalismo. Participou de uma das reformas gráficas do Correio de Uberlândia, no qual também foi editor de arte, cartunista e, por fim, autor da charge diária. Participou, também, da implantação do Jornal da Manhã e do Jornal de Uberaba. Teve mais de 8 mil desenhos publicados no Brasil e no exterior. Esteve presente nos mais tradicionais salões de humor e publicou quatro livros: “Ócios do ofício”, “Deus”, “Náufrago” e “O livro vermelho da coisa preta”, além de ter ilustrado obras em diversas áreas e colaborado em filmes de animação. Valtênio levava uma vida pacata, gostava mesmo de estar entre

amigos, em noites musicais e etílicas. Atento às podas desenfreadas e preocupado com a preservação do meio ambiente, fez bombar nas redes sociais vários desenhos sobre o tema. A ilustração da capa desta edição é provavelmente seu último trabalho. Concedeu entrevista ao Almanaque poucas semanas antes de sua morte. Valtênio foi um artista nato, inspirado, honesto, conectado pelo humor com a realidade brasileira. Era, sobretudo, muito amigo de seus amigos. Deixou uma legião deles. Confira a seguir nosso bate-papo com Valtênio e a repercussão de sua partida para algumas pessoas próximas e queridas.


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Valtênio: traço firme, humor crítico e irreverência

BATE-PAPO | VALTÊNIO Conta aí, de onde surgiram seus primeiros traços? Eu meio que aprendi a ler com revistas em quadrinhos... minha mãe dizia que aquilo me fez realmente aprender a ler, a imagem e o texto se reforçam. Ela ficava ali do lado, lendo o conteúdo dos balões. Minha mãe e as imagens dos quadrinhos me levaram à alfabetização. Sua carreira foi algo que você perseguiu ou ela surgiu por acaso? Sempre rabisquei fundo de caderno, a última página era meu “ground”, meu espaço de manifestação... (rs). Lia tudo

que caía nas minhas mãos. Fui gostando cada vez mais e essa forma de comunicação tomou conta de mim. Na adolescência andei trabalhando com várias coisas que não se encaixaram. Fui office-boy, bancário... Até que um dia, com alguns desenhos na mão, tomei coragem e fui ao antigo Correio de Uberlândia tentar vender... sei lá... Mas não deu muito certo, na época, o Sergio Martinelli era proprietário e até disse que havia gostado, mas queria que eu pagasse pra publicar... Não era bem essa minha proposta... Saí e fui procurar alguma oferta séria e renumerada... Tempos depois surgiu o Primeira Hora. Acabei entrando no departamen-

to de arte e daí foi um pulo até começar a publicar. Na época, também fiz muita coisa pra movimento estudantil e até para algumas empresas. Foi uma época de muito aprendizado. Suas charges são quase sempre muito irônicas. Isso já lhe causou algum problema? Já se deparou com algum tipo de censura ou retaliação? A ironia é uma característica desse tipo de desenho. Em certos momentos junta-se o espírito libertário que faz esse cruzamento de espécies...(rs). A palavra charge refere-se a uma carga de cavalaria, de carregar pra cima...(rs). Aliás, a


34 “ Problemas sempre existem. Afinal, trabalhar com o ego humano é animal...”

despeito de qualquer leveza de ideia ou traço, o cartunista carrega um piano... (rs). Sintetizar texto, desenho, humor é muito pesado. Na redação o fechamento de edições dá agilidade, mas também exige muito do artista que cria na hora, chova ou faça sol. Problemas sempre existem, afinal trabalhar com o ego humano é animal... Todos adoram se ver retratados, mas não gostam de críticas ou de um olhar mais analítico. O problema da razão é coisa séria...(rs).

Quem são seus cartunistas prediletos? São muitos... e de épocas diferentes. No início, sofri muita influência da revista “Mad”, Don Martin, Spy versus Spy, Sergio Aragonés. Ainda nessa época Mordillo, Uderzo e Gosciny com Axterix, Iznogud... Mortadelo e Salaminho na Itália... no Brasil, Henfil, Ziraldo, Flavio Colin, Laerte, Luiz Gê. Um monte de gente, muitos nomes me escapam agora.

Toda charge é necessariamente política? O humor gráfico tem suas divisões e características. A caricatura evidencia os traços físicos e de personalidade. O cartum trabalha com um humor que pode ser atemporal e é mais livre. A ilustração retrata um texto e a HQ, ou quadrinhos, que trabalha narrativas com personagens em sequência. E há, também, a charge que normalmente é política e trata de fatos atuais, usando ou não a caricatura para retratar os personagens no contexto jornalístico.

Você acha boa a cena local para os artistas visuais? Acredito e sempre acreditei que está tudo por fazer. O problema é a descontinuidade e a falta de interesse. Entre os anos 1970 e o final do século, vivemos um período interessante nas artes plásticas, na música, na dança, na literatura, na fotografia, na dramaturgia. Surgiu uma geração de bons artistas. Nos botequins, na noite, dava pra sentir a coisa. Era outra rede social, e olha que não foi coisa do poder público, não... A verdade é que todo mundo lutava muito pra manter a coisa viva. Nos dias de hoje, está difícil, o artista tem que ir onde a subsistência está...

De uns tempos pra cá, surgiu muito humor chulo no Brasil? Qual seria o contraponto para isso? Nosso humor é muito sofrido a despeito de brincarmos com tudo. Rimos de nós mesmos a despeito da realidade cruel, que arranca sorrisos amargos. No Brasil, vivemos um período pra lá de chulo, a qualidade de tudo é questionável. A TV aberta, a música, as redes antissociais, o excesso de razão e práticas políticas irreais, num país com toda essa riqueza cultural e natural. Mas é difícil achar uma saída. Um povo que não aprende, que não lê, não tem o que repassar pras gerações futuras. Nosso trabalho é prejudicado por uma realidade cultural pobre e desnutrida de futuro. Fazemos um trabalho de resistência e esclarecimento, tentando fazer brotar uma semente na alma das pessoas.

A cidade carece de um olhar mais apurado para o processo criativo? Realmente está difícil. A crise dos jornais, a migração dos profissionais para outros tipos de atividades. Mesmo com o surgimento da nova geração de cartunistas, a coisa ainda está por se definir. Mas temos que tentar entender o fenômeno da falta de leitura, dos novos canais que surgem a cada dia na internet. Quanto ao poder público não fomentar, isso já vem de anos. Faz parte da cultura cultural... (rs). Há uns anos atrás alguém me falou que precisávamos aqui de uma crítica especializada. Na hora, fiquei pensando e me ocorreu que uma autocrítica já resolveria... (rs).


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Valtênio e Maurício Ricardo: “Foi um dos gigantes”

SOBRE VALTÊNIO “Valtênio e personagens se misturam. Ele está em cada tira, charge, traço, às vezes ácido, às vezes anarquista, mas sempre politicamente incorreto. Gozava de liberdade plena em suas atitudes e pagava um preço por isso. Jamais se traiu por uma charge ajustada. Um dos heróis da construção de minha personalidade. Ele estava ali ao meu lado, com personagens amontoados. Por isso, o considero um grande Don Quixote marginal. Quem o conhece, sabe que encontrar um desenho seu é como bater um bom papo com ele.” Alexandre Mafu, músico “Eu e o Valtenio nos conhecemos em um desses dias em que o mundo vai acabar, segundo uma teoria apocalíptica qualquer. Ele me deu dois filhos, que por sua vez me deram um parceiro de vida. Foi um pai presente, carinhoso - dele os meninos herdaram a sensibilidade e educação. Em 2018 realizamos nosso último projeto em comum: o lançamento do livro Náufrago. Valt, meu eterno, obrigada!” Ana Bivers, jornalista “Conheci Valtênio no extinto Primeira Hora, jornal precursor do offset, em Uberlândia, na década de 1980, época em que a virgindade era assunto feminista nas revistas locais. Dei entrevista sobre... (rs). Além de chargista, Valt era diagramador e com ele editei algumas centenas de páginas de jornais e projetos de educação ambiental. Ele era genial na ilustração e na programação visual. Valt representava um jornalismo aguerrido e esteticamente elegante. Somos, nesse aspecto, muito parecidos (muitas risadas).” Betânia Côrtes, jornalista “O Valtênio, além de uma pessoa extremamente bem-educada, era carinhoso e solidário com os amigos. Ele, que foi meu colega de redação, me recebeu em sua casa quando me separei da minha primeira esposa. Dividimos moradia durante cerca de três anos. Eu tinha casado jovem e era muito imaturo. Foi um período de amadurecimento em que, convivendo com o Valtênio, revi conceitos fundamentais da vida, como liberdade, amizade, acolhimento, ética, poética. Ele trazia tudo isso em si. Um ser humano de primeira grandeza. E um artista genial.” Beto Oliveira, fotógrafo “Valtênio e eu estreamos no cartunismo juntos. Literalmente: no mesmo dia, no mesmo veículo, na mesma página, assinando tirinhas no extinto jornal Primeira Hora. Depois, já no também extinto Correio de Uberlândia, fechamos muitas e muitas edições, ele como paginador e designer, eu como editor. Era uma época incrível do jornalismo: romântico, idealista. Parte desse

jornalismo morreu com a crise financeira das empresas e o imediatismo trazido pela Internet. Considero Valtênio um desses ‘últimos românticos’. Além do inegável talento, era uma alma inquieta e usava seu traço e humor pra denunciar os absurdos desse planeta injusto e desigual. Ele atuou em vários diários na região e sempre me convidava pra colaborar nesses projetos. Era um amigo generoso e um excelente papo, sempre. Nos últimos 20 anos seguimos, caminhos distintos, embora tivéssemos mantido a amizade e o carinho. Eu fui de cabeça pra animação por computador. Ele se dedicou a aprimorar a arte e o traço em papel e tintas, mas sem abrir mão da tecnologia: dominava com maestria também a pintura digital. Foi um dos gigantes. A cidade perdeu um grande artista. Eu perdi um amigo.” Maurício Ricardo Quirino, chargista, músico e jornalista “O Valtênio foi um extraterrestre encarnado de algum planeta superior. Sua visão das coisas terrenas, sua arte, era de um realismo topográfico, poético e crítico, enquanto sua humanidade era profunda, a ponto de causar incômodo nas pessoas. Um traço único, um coração enorme e um inconfundível ar de menino travesso.” Paulo Augusto, fotógrafo “Conheci o trabalho do Valtênio no extinto jornal Correio de Uberlândia e pelos espaços culturais da cidade. Fiquei fã logo de cara; o traço, o humor, as tiradas e a acidez crítica me fascinavam. Quando ele me convidou para editar seu álbum de HQs fiquei honradíssimo e assim aprofundamos relações e firmamos uma amizade. Valtênio fez em vida o que de mais importante alguém pode desejar: amigos, muitos amigos. Deixa saudades e uma vasta obra que merece ser bem-cuidada e divulgada para o público. Viva Valtênio!” Robisson Albuquerque, editor “O jornalismo regional deve muito a Valtênio Spíndola. Com seu humor ácido e olhar crítico, usou dos traços e das cores para mostrar a realidade e denunciar as injustiças sociais.” Solange Barros, jornalista “Quando eu era pequena, ele era meu tio Tininho. Depois que cresci, virou tio Valt. Tive a oportunidade de crescer ao lado dele e aprender com seu humor, suas cores, músicas e a loucura do seu modo de ver e viver a vida! Ficam a saudade dolorida, as lembranças doces e a gratidão por ter feito parte da vida dele! Das nossas conversas, transcrevo uma frase, dentre tantas que descrevem um pouco da alma do Valt: ‘Sou louco. Ando. Mas minhas ideias andam muito mais!’”. Taciana Spíndola, sobrinha

Valtênio com a irmã Vanilda também já falecida


As ruas do bairro Patrimônio foram umas das últimas a receber pavimentação asfáltica

HISTÓRIA

O BAIRRO PATRIMÔNIO Por ANTONIO PEREIRA DA SILVA

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ercada por fatos e lendas ergueu-se a História do velho bairro do Patrimônio, cujas origens refluem a tempos anteriores à emancipação do Município. As lendas ficam por conta de assombrações. Um velho óleo era tão preferido das almas penadas que nem o gado chegava perto; um cachorrão, que só aparecia de noite, vigiava a pinguela que passava por cima do córrego de São Pedro, e outras. O mestre Bolinho, que até hoje mora no bairro, conta : “Lembro da infância aqui no Património, o Patrimônio era muito assombrado. A gente tinha

muito medo de sair à noite aqui. Todas as casas tinham muitos cachorros. E o que acontecia a rua onde hoje é a avenida Francisco Galassi era funda. As casas chegavam a ficar até a um ou dois metros de altura dela. Os cachorros saíam na rua e pela diferença de nível em relação às casas ninguém os via. Quando os cachorros latiam, e não víamos bicho nenhum, a gente falava para mãe: “mãe, o bicho tá batendo nos cachorros, não abre a janela, não! Olha, na Quaresma, era na quaresma inteira com os cachorros.” Nossa, então a gente ficava naquele medo, né, sabe? Era escurecer na

Quaresma a gente ia deitar. E na rua não tinha luz, né?” Cinco anos depois da criação do Patrimônio da Abadia, em 1888, um manuscrito produzido pelo padre João da Cruz Dantas Barbosa e assinado por diversos cidadãos importantes do lugar, com o objetivo de conseguir a emancipação do distrito, informava que Uberabinha possuía 15 ruas, três largos e duas travessas. Havia em torno de mil habitantes, na zona urbana, abrigados em duzentas casas. Estariam entre esses habitantes os negros? Seus barracos de folhas e palmas estariam inclusos entre as casas?


37 Capitão da Folia dos formiguenses do Patrimônio, Nene Simplício

Para o historiador Luis Bustamante Augusto Lourenço, não. Primeiro, porque, não obstante, a abolição ocorrida no início do ano, existe uma tradição de que os negros da região, não só de Uberabinha, mas de todo o Triângulo, só tenham sabido disso a partir de 1899 ou 1900. Não há provas, mas os velhos negros do Patrimônio diziam isso Os negros, embora já fossem cidadãos de direito, de fato continuavam tratados como escravos. O centro de Uberabinha na época se comprimia ao redor dos três largos, o largo da Independência, que hoje é a praça Clarimundo Carneiro, o largo da Matriz, que hoje é a praça Cícero Macedo e o largo do Comércio que hoje é a praça dr. Duarte. Os negros e os pobres residiam na região onde futuramente se construiu o Colégio Estadual espalhando-se inclusive pela área onde é a

praça Adolpho Fonseca; ao longo da rua Cajubá, que depois teve seu nome mudado duas vezes: da primeira para Treze de Maio e, da segunda, para Princesa Isabel, o que é forte indício de concentração habitacional de negros naquela região. Residiam também na rua da Chapada, que atualmente é a avenida Rio Branco, e na descida do morro, a partir da rua Barão de Camargos. Havia também alguns residentes no Patrimônio. Após a Abolição, os negros começaram a procurar o Patrimônio por vários motivos: primeiro, porque eram excluídos da sociedade e não poderiam jamais residir em sua área; segundo, porque os custos de aforamento junto à igreja, no Patrimônio eram mais baratos. A igreja era dona dos dois patrimônios, o de N. S. do Carmo dentro do qual se formou a cidade e o de N. S. da Abadia, para

Terno, manifestação da cultura afro que o bairro preservou

“Pé de Ferro, destaque no carnaval da cidade

onde iam os pobres e os negros. Por último, porque, lá, estavam perto dos lugares de trabalho que eram as chácaras da vertente direita do córrego São Pedro e as lavouras das fazendas próximas. Logo, outros locais de trabalho, compatíveis com o grau social dos negros e pobres do Patrimônio, surgiram nas proximidades: o matadouro mandado construir pelo prefeito Augusto César em 1894 e a charqueada instalada por Nicomedes Alves dos Santos e João Naves de Ávila nos começos da década de 1920. Com a criação da charqueada, muitos magarefes transferiram suas residências para o Patrimônio. Essa nova oportunidade de emprego propiciou um aumento na população do bairro com a chegada de mais trabalhadores inclusive do distrito de Santa Maria, hoje Miraporanga.


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Praia Clube, primeira “invasão” dos brancos no bairro Patrimônio

MESTRE BOLINHO CONTA:

“O frigorífico era pertinho aqui do Praia Clube”

Igreja do Rosário, palco frequente de diversas manifestações culturais do bairro Patrimônio

O

matadouro oferecia um trabalho mais seguro que a charqueada, que era sazonal, reduzindo consideravelmente suas atividades na entressafra que ocorre no segundo semestre de cada ano. Matadouro e charqueada não ofereciam apenas trabalho. Além de tramar uma convivência amistosa que se projetava sobre o bairro e suas famílias, oferecia farturenta alimentação aos seus habitantes. Os açougues não comercializavam miúdos e os magarefes distribuíam a quem ia lá buscar: cabeças, pés, línguas, fígados, rins, buchadas. Na charqueada aproveitava-se do animal abatido, entretanto, eram dadas à população as carnes de pescoço e cabeças. Era tanta coisa que muita gente levava latas cheias para a cidade e lá vendiam a donos de cachorros e compravam os bens de que necessitavam, geralmente alimentos. Mestre Bolinho conta: “O frigorífico era pertinho aqui do Praia Clube. Um dos primeiros donos foi o Nicomedes Alves dos Santos, que era empresário muito forte aqui em Uberlândia. Ele empregava só o povo daqui do Patrimônio. Era um bom patrão, ele deu um terreno para cada um dos empregados mais chegados dele, né? Hoje cada um desses terrenos é um valor absurdo. Muita gente que ganhou terreno dele morreu mas os filhos, os netos ainda


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continuam morando neles. Meu pai, trabalhava lá no pesado para fazer os charques, né? Matava e escarnava os bois, que é desossar e jogar as peças no tanque de sal para curtir uns dois dias. Depois, tirava levava para o sol. Aqueles jabás de carne seca eram os melhores que tinha no Brasil. Eu trabalhei lá, meus parentes tudo trabalharam ainda na época que era Charqueada Ômega. Éramos muito felizes. Depois, passou para frigorífico. E começaram a exportar“. João Batista Felix conta que mora no Patrimônio desde 1973, quando tinha 8 anos. “aqui era considerada a terra do pé vermelho, porque a terra realmente pregava no pé do sujeito. Lembro que o pessoal quando ia para o centro, saía daqui de chinelo, ia calçar o sapato só quando chegava lá. Fosse homem ou mulher, punham o sapatinho dentro da sacolinha e carregavam na mão até lá. Chegava no centro, tirava o chinelo e calçava o sapato, senão , não tinha a mínima condição”. O Bairro foi um dos últimos a rece-

ber iluminação, a ser pavimentado, ter água e esgoto. O Patrimônio reune uma cultura popular inexcedível: congados, reisados, procissões, benzeções, festas típicas incluindo um incrível banquete, simples é claro, para a cachorrada vadia do bairro. Caio Franzolin ator do espetáculo “Enquanto Chão”, que conta a história de duas comunidades distantes, mas que têm muita coisa em comum, a de Canela, de Palmas (TO) e do Patrimônio, de Uberlândia comenta: . “Nós temos o Moçambique, tomando as ruas de Uberlândia. É uma manifestação incrível , o vigor, a energia que se coloca alí, os ternos desfilando . Três dias de festa em todos os bairros e muitos deles, voltando ao Patrimônio em honra a esse território aqui que é um território de luta, mas de vida, sobretudo.” Enercino João da Cruz, capitão Folia de Reis Pena Branca, no Patrimônio é um desses abnegados defensores desses movimentos de origem africana.

“Cheguei no Patrimônio ainda era novo, estou com essa festa no Patrimônio já tem 62 anos. Mas agora tenho dificuldade de até soltar foguete pra Santos Reis,e a gente fica chateado por causa disso, viu? Essa festa é herança de pai e mãe, eles tocavam a festa e morreram e eu peguei pra fazer a festa. A festa, o Pena Branca andou na minha folia 15 anos, e assim eles foram pra São Paulo e nós pusemos o nome na Folia de Pena Branca. Ele é falecido, mas nós seguimos o nome da folia. Eu tenho a viola que ele me deu, a minha viola foi um voto que eles fizeram”. Jeremias Brasileiro, historiador da cultura do bairro, acrescenta: “O Pena Branca participou da folia de Reis Pena Branca, aqui no bairro Patrimônio, ele tinha um envolvimento muito forte com essa folia. E a Folia, ela está com mais de sessenta anos de participação aqui no bairro. Eu acho que o nome Pena Branca engrandece enormemente, não só a história do Pena Branca, mas da Folia, da tradição cultural dos moradores do bairro Patrimônio e da cidade de Uberlândia.” O bairro Patrimônio é referência cultural e esportiva. Não é por acaso que a Escola de Samba Tabajara e o time de futebol amador Guarani sejam os mais antigos da cidade.

Antonio Pereira da Silva Fontes: - Luiz Augusto Bustamente Lourenço, Tito Teixeira, Almirzinho do Patrimônio e Dom Benedito.

Tabajara, escola de samba criada no bairro


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UBERLANDICES

Porta da paixão

Q

uem é ligado ao mundo das artes muitas vezes usa seu talento para manifestar a paixão por uma cidade querida. Seja por meio da música (quem não lembra de Maringá, Sampa, Aquarela do Brasil, etc), de livro, de filme, de um quadro ou de outra peça artística é a forma que o artista usa para eternizar sua paixão pela terra onde nasceu ou escolheu para viver e amar. A criatividade não tem limites e as mais diferentes formas são usadas para demonstrar esse sentimento de gratidão. Este é o caso da família Machado, responsável pela criação, desenvolvimento e produção das iniciativas de resgate, registro e divulgação da história e

memória local por meio da série de TV, almanaque e museu virtual “Uberlândia de Ontem e Sempre”. A mudança das instalações da produtora Close para novo local, obrigou uma série de ajustes para atender às necessidades de acessibilidade do imóvel. A principal delas uma plataforma sob uma fachada em aço cortenho. A primeira ideia foi colocar a logo da empresa, que depois foi modificada para colocar um texto homenageando Uberlândia. Assim foi feito. Hoje, a porta tem chamado a atenção de quem passa pelo local e elogios pela forma encontrada para registrar publicamente a paixão da empresa e seus proprietários por esta querida cidade.

Paletó no cinema

A

Uberlândia dos anos 60 ainda era provinciana, mas vaidosa. Ir a um baile, uma festa, um evento social ou empresarial exigia-se dos homens que fossem de terno ou pelo menos paletó. Como ainda não havia televisão, um dos programas mais chiques era ir ao cinema. Na entrada dos dois mais elegantes, o Regente e o Uberlândia havia bomboniere, cafeteria e outros serviços. O uso de paletó para os homens era obrigatório. Fizesse frio ou calor. Quem não gostava ou não queria usar tinha como alternativa ir no “puleiro”, que era a galeria do cine Uberlândia ou aos cinemas de bairro, Eden e Paratodos. Esse costume perdurou até o final dos anos 70, quando os cinemas de rua perderam seu charme. Hoje não só em Uberlândia como nas capitais e principais cidades, salas só mesmo nos shoppings centers.


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Dirceu Lopes foi um dos padrinhos do casal Creusa-Vilibaldo

U

berlândia sempre foi pródiga em locutores esportivos que fizeram história não apenas na cidade, mas também no meio esportivo brasileiro, notadamente na capital dos mineiros, Belo Horizonte. Teve um que marcou tanto o futebol das Alterosas que se tornou memorial na sede social e administrativa do Atlético Mineiro, Vilibaldo Alves Ferreira. Vilibaldo nasceu em Rifaina, São Paulo, em 20 de novembro de 1938, quando, por motivo de trabalho, sua família, residente em Uberlândia, se encontrava naquela cidade. Voltando a Uberlândia, onde foi criado, Vilibaldo Alves fez seus estudos de 1º e 2º graus. Sua vocação se manifestou logo na adolescência, dotado que foi por Deus com a facilidade da comunicação, fluente, clara e bonita. Ingressou, nos “anos 60”, na Rádio Educadora de Uberlândia, na qual logo despontou pela sua inteligência, bela dicção, carisma junto ao púbico e criatividade. Inicialmente, dedicou-se à locução comercial, depois comunicador de programas e, finalmente, à narração esportiva, com o qual transmitindo jogos do “Verdão”, fazia com que os torcedores do clube mais querido da

MEMÓRIA

Adivinheee?

Vilibaldo Alves Por OSCAR VIRGÍLIO

cidade, transbordassem de alegria nas memoráveis vitórias e de tristeza nas sofridas derrotas. Como radialista em Uberlândia, tornou-se muito conhecido e amado pelo povo, através de seus programas de utilidade pública e de entretenimento, transformando-se no portador das

esperanças dos menos favorecidos e necessitados, tornando-se assistente social de fato, mesmo não sendo de direito. Sua fama logo se propagou e Goiânia queria sua presença. Em dezembro de 1964, foi contratado pela Rádio Clube daquela capital, como


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Vilibaldo na equipe de radialistas uberlandenses em amistoso com seus confrades araguarinos narrador esportivo. Mais tarde, sempre disputado por várias emissoras, foi transferido para Anápolis, em Goiás, para exercer idêntica tarefa. Ali,tornou-se ídolo em pouco tempo. Sua carreira chegaria, entretanto, ao auge, quando foi convidado, em 1967, para trabalhar em Belo Horizonte que precisava de um locutor à altura dos seus grandes ídolos. Nesta época, o futebol mineiro encantava o Brasil com seus jogadores geniais, tais como: Tostão, Dirceu Lopes, Dário, Piazza, Raul, Reinaldo, etc. Vilibaldo Alves chegou à capital mineira, deslumbrou a torcida das Alterosas e dominou toda a cidade. Sua audiência era tão massacrante que ele “balançou” as emissoras concorrentes, que passaram a disputar, entre si, a sua contratação. Trabalhou na Itatiaia durante 15 anos transformando-se em uma das vozes mais festejadas de sua geração. Atuou também nas Rádios Guarani, Capital e Inconfidência, sempre como líder de audiência. Em Belo Horizonte Vilibaldo conheceu Creusa Leite Alves Ferreira , graças a uma carta que ela encaminhou pedindo para o acompanhar em uma transmissão. A emissora respondeu que senhoritas não podiam entrar na

cabine. Vilibaldo leu a carta e passou a ligar para ela. A história terminou em casamento com o craque cruzeirense Dirceu Lopes, como um dos padrinhos. D. Creusa, além de esposa, foi também uma dedicada e atenta zeladora da carreira dele. Gravava todas as transmissões. Posteriormente, eles conversavam e ela, que era professora, fazia observações, inclusive sobre eventuais erros de português para que ele corrigisse. Tiveram uma filha, Vilisa Beatriz Leite Alves Ferreira. Vilibaldo consagrou-se como locutor do “povão”, porque apelidava os jogadores com “chavões” que seriam sua marca registrada, a saber: - Dário, o peito de aço, - Toninho Cerezzo, o monstro da bola, - Rei, Rei, Rei, Reinaldo é o nosso Rei, ” e muitos outros. Participou, transmitindo para todo o Brasil e países sul-americanos, de todas as Copas do Mundo, de 1970, quando o Brasil foi campeão, até 1990. Infelizmente, a de 1994, quando já se encontrava com a credencial pronta para transmiti-la, faleceu. Levou a torcida mineira ao delírio quando transmitiu o 1º título nacional do Atlético em 1971, a Libertadores das Américas, pelo Cruzeiro, no Chile, em

Mesmo cruzeirense, foi homenageado pelo Atlético com seu nome no memorial do clube

1976, como campeão, a Taça Commebol, pelo Atlético, em Assunção, no ano de 92 e a Super Copa dos Campeões, pelo Cruzeiro, em Belo Horizonte, também em 1992. Transmitiu do Japão, em 92, o jogo final da Taça Mundial, com a participação do Cruzeiro, que infelizmente, não foi vencedor. Seu “slogan” ADIVINHEEEEEE; ...... que precedia os seus gols, levava ao delírio toda a torcida. Em 1976, elegeu-se vereador à Câmara Municipal de Belo Horizonte, como um dos mais votados. Faleceu, depois de breve enfermidade prematura, aos 55 anos de idade, no dia 1º de julho de 1994. Grande multidão de torcedores, jogadores, cronistas e políticos acompanhou seu enterro em Belo Horizonte, principalmente o povo humilde que tanto ajudou. Foi homenageado pelo seu clube do Coração, pós-morte, com o seu nome na sala de Troféus do Clube Atlético Mineiro. A Câmara Municipal de Uberlândia, por iniciativa dos vereadores Adalberto Duarte e Onofre de Oliveira através do projeto de lei 576 de 18 de abril de 1995 o homenageou com a denominação de uma rua no bairro Santa Luzia.


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Pediatra Salah Daud até hoje tem o maior prazer em dar plantão no Hospital Santa Genoveva

MEDICINA

Salah Daud Cinquenta e três anos dedicados à pediatria Por CELSO MACHADO

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vida tem seus desígnios. Muitas vezes, a pessoa sonha com uma profissão e acaba seguindo outra. E que bom que seja assim, pelo menos como foi neste caso. Se não fosse o próprio que tivesse contado, nem daria para acreditar, mas o dr. Salah Daud, um dos mais respeitados e reverenciados pediatras de Uberlândia, quando jovem, tinha intenção de cursar Engenharia. Hoje pensa bem diferente: “Não sei o que seria do Salah engenheiro. Não tenho a menor ideia. Mas a Medicina me encantou, encanta até hoje e essa paixão continua aumentando”.

vidou-me para ir para sua faculdade de origem no Rio de Janeiro fazer minha pós-graduação em pediatria e paralelamente, em anatomia. Dr. Jair Pereira Ramalho me colocou nos melhores serviços de pediatria do Rio de Janeiro. Me encantei! Aí defini meu futuro. Ao dr. Jair Pereira Ramalho, meu amigo, meu professor, minha gratidão eterna.” A família e Uberlândia também influenciaram na decisão de voltar: “Minha família e da minha esposa é toda daqui (ela é neta do Clarimundo Carneiro). Aí você chega aqui e não tem como voltar. Não tem lugar melhor para se viver”.

A PEDIATRIA

“Meu primeiro local de trabalho em Uberlândia foi próximo ao Hospital Santo Agostinho. Vivi ali a oportunidade de conhecer dr. Odelmo Leão

“Por acaso, tinha um professor de anatomia que também era pediatra. Con-

CONSULTÓRIO

Carneiro e dr. José Alves Ribeiro Jr. eles eram “papas” na pediatria aqui na região. Começamos a trabalhar juntos. Aprendi muito com eles. Devo muita gratidão”.


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Ligação com boas iniciativas “Participei da fundação de várias instituições em Uberlândia. Sou um dos fundadores da Unimed Uberlândia. Fui tesoureiro de sua 1ª diretoria, liderada pelo saudoso colega dr. Adelmo Oliveira Campos. Na época, há quase 50 anos, a classe trabalhadora de uma faixa grande da população não tinha assistência médica de qualidade. Nossa intenção ao criá-la foi motivada pela vontade de oferecer a quem não tinha acesso a hospital, nem como pagar consultas particulares, tratamentos e cirurgias mais caras um atendimento digno.

Dr Salah Daud, sempre procurou atualizar seus conhecimentos na área da pediatria

“A primeira reunião nossa foi na Sociedade Médica, uma enormidade de médicos participando. Tinha até economista, advogado nos ajudando.” A Unimed cresceu e a ideia prosperou.

Salah foi um dos fundadores da Cooperativa Unimed


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Juliana Daud Samora, Salah Daud, Lenice Póvoa Daud, Gustavo Daud e Leonardo Daud

P

articipei da compra da Santa Casa e da Fundação do Santa Genoveva. “Falou que tem desafios é comigo mesmo!” A Faculdade de Medicina mudou a história de nossa atividade. Uberlândia passou a ser polo médico de toda região. O dr. Salah Daud foi um dos primeiros a fazer parte do corpo docente local da Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia na qual ingressou em 1969. “Sou também torcedor apaixonado pelo Uberlândia Esporte Clube que vai ser o meu caminho para o Céu. Porque quem torce pelo nosso “Verdão” vai para o céu com certeza. Sofredor! “ Dr. Salah Daud cursou a Faculdade de Medicina da Unidade Federação de Goiás, 1ª turma de 1960 a 1965.

A FAMÍLIA “Sempre tive o apoio da minha querida esposa. É amiga e companheira. Tenho 2 filhos, 2 noras, 3 netas, 1 filha, 1 genro e 2 netos dos quais muito me orgulho. “ Para o bem da medicina de Uberlândia, felizmente o dr. Salah Daud, não seguiu a sonhada carreira de engenheiro que tinha na sua juventude. Porque nossa cidade ganhou um médico pediatra diferenciado...

A VIDA HOJE “Todo o meu trabalho se concentra no Hospital Santa Genoveva. Continuo na ativa. Eu sou um cara entusiasmado com tudo. Com tudo mesmo. Tenho orgulho de tudo que vivi e vivo e é isso o que carrega a gente. A cabeça é tudo, enquanto você tiver motivação e vontade, Apaixonado pela Pediatria e pela esposa querida Lenice não tem porque parar...

Laura Daud Samora, Salah Daud, Enzo Braga Daud e Luca Daud Samora Abaixo: Giovana Souza Daud e Yasmin Braga Daud


48 Juquita em família com filhos, noras e netos

PERSONAGEM

Juquita, doces lembranças! Por SANDRA RIBEIRO

S

e fosse vivo José Rezende Ribeiro, Juquita, teria completado 100 anos em março. Ele nasceu em 24 de março de 1919 na cidade de Uberlândia, filho de José Nonato Ribeiro e Maria Rezende Ribeiro, também conhecida como Dna. Zica. De uma prole de 13 filhos, Juquita era o 11º. Ficou órfão de pai aos 9 anos e, aos 16 anos, já viajava para o interior de Goiás, vendendo artigos de couro da loja de seu irmão, Mário Ribeiro. Tornou-se arrimo da família. Casou-se aos 23 anos, em 1º de setembro de 1942, com Regina Achcar Ribeiro, e dessa união nasceram seustrês filhos. A primogênita Sandra, Paulo Roberto e José Eduardo. Sempre teve uma vocação para contribuir em questões ligadas ao desen-

volvimento de Uberlândia e à vida pública. Participou com o governador Rondon Pacheco, seu colega e amigo dos tempos do Colégio Mineiro, de todas suas campanhas, sendo carinhosamente chamado por este de “seu fiel escudeiro”. Os dois e mais Nicomedes Alves dos Santos participaram ativamente da política de Uberlândia. Seus correligionários os chamavam de “Santíssima Trindade” da política uberlandense. Em 1951 foi eleito vereador em Uberlândia. Exerceu a presidência da Câmara Municipal no ano de 1953. Juquita sempre foi idealista e empreendedor. O filho Paulo Ribeiro recorda disso com carinho: “Uma coisa que aprendi com ele foi sua visão focada no novo. Ele nos falava o seguinte: se

funciona já é obsoleto. Essa frase mostra bem a busca dele pelo moderno, pelo novo, por todas as novidades que surgiam em equipamentos, peças, tecnologia, processos”. Sem ter curso superior supria isso com uma inteligência e capacidade de enxergar e criar oportunidades raras. Acrescenta o filho Paulo Ribeiro: “o diploma para ele não fez falta, o aprendizado que ele teve na vida foi fantástico e o qualificou para a trajetória de vida notável que cumpriu.” O neto Carlos Augusto Braga, o Guto, atual presidente do Praia vai além: “Conviver com ele foi uma faculdade que eu tive de vida e de espírito público”. Ao longo dos anos, a oportunidade de servir crescia dentro de seus princípios, demonstrando sua coragem e perseverança. Com isso, os cargos políticos e sociais foram se sucedendo em sequência. Alguns dos principais deles: - Presidente do Praia Clube em 1948, administrou a entidade até 1950, realizando diversas obras, destacando a construção do campo de futebol que recebeu seu nome; -Presidente do Uberlândia Clube eleito em 1952. Elaborou o projeto da construção da sede atual. Durante cinco anos, com dedicação ímpar administrou toda sua construção, entregando à sociedade uberlandense em janeiro de 1957, o charmoso “Palácio Encantado da Cidade”, denominação dada pelo jornalista Marçal Costa para um dos prédios icônicos de nossa arquitetura. - Nomeado pelo prefeito Raul Pereira, com Cícero Diniz, para escolher o local onde hoje se instala o nosso Distrito Industrial de Uberlândia; - Em 1962, assumiu a vice-presidência da Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (Aciub) e foi o respon-


49 Juquita plantou sementes em diversas áreas da cidade

sável pela construção do Pavilhão das Indústrias de Uberlândia; - Indicado pelo ministro da Casa Civil Rondon Pacheco, nomeado pelo presidente Costa e Silva, assumiu a Presidência da Caixa Econômica Federal de Minas Gerais em 1967, onde permaneceu até 1970.. - Exerceu a Presidência da Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais, de 1971 a 1975, onde revolucionou a aplicação do crédito no Estado, tendo tornado Minas Gerais o maior produtor de café do Brasil, tirando a hegemonia que pertencia ao estado de São Paulo. - Foi membro do Conselho da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) na década de 70; - Constituiu em 12/06/1956 a Fábrica de Balas e Bombons Erlan, em local onde era industrializado o macarrão Erlan. Foi uma das primeiras Indústrias de Uberlândia a atuar no mercado externo. No começo dos anos 60 construiu a sede própria da fábrica na avenida Rio Branco. Como, na época ela ficava um pouco distante do centro, diariamente tinha uma Kombi da empresa que buscava e levava os funcionários do escritório em suas residências. Demonstração do quanto valorizava seus colaboradores. Foi o criador de todos os produtos da marca Erlan, produtos esses que ficaram famosos como a bala Mentinha, a bala Toffee Bombom e o bombom Olho de Sogra, vendidos em todo território nacional. O neto Guto recorda: “Ele trouxe um técnico suiço aqui na década de 50/60 para desenvolver a tecnologia da fábrica e implantar a produção da

propôs para que procurássemos as empresas da cidade, a fim de que elas colaborassem na solução do problema que se se agravava cada vez mais. Então, fomos a todas as grandes e pequenas empresas que já despontavam na cidade, para investir em ações da Cia. Prada, para que essa obtivesse o recurso necessário para o investimento. A compreensão foi total e as ações forma subscritas, conseguindo-se o levantamento dos recursos necessários, e logo as turbinas foram importadas do Japão. “Concluído o trabalho, a Cia. Prada ofereceu-me a comissão de 3% do valor levantado, o que era de praxe JUQUITA E A no lançamento de ações no mercado. Recusei a comissão, pois minha inENERGIA ELÉTRICA tenção foi a de servir Uberlândia. O próprio Juquita, em um de seus reEntretanto, solicitei ao presidente da gistros, deixou escrita para seus fami- Cia. Prada, que fizesse a doação de liares a sua intensa participação no equipamentos para o novo prédio da equacionamento do problema de ener- Santa Casa de Misericórdia, que acagia elétrica de Uberlândia. bara de ser construído, mas sem as “Na década de 50, a limitação de capa- condições viáveis para ser equipado cidade da única usina hidroelétrica de de aparelhos, devido à falta de recurUberlândia tinha chegado ao ponto de sos financeiros.” 6h/diárias de racionamento de energia. Vinha gerando desemprego e prejuízos às empresas que dela dependiam. A Cia. Prada de Eletricidade, responsável pelo fornecimento, criou um projeto para aumentar de 1500 Kva para 12000 Kva, através de turbinas a serem importadas. Mas como não dispunha de recursos necessários para o investimento, lançou ações no mercado, mas a iniciativa não teve êxito. Meu amigo, Hermes Fonseca Carneiro, filho de José Teófilo Carneiro, (que foi quem instalou a primeira usina elétrica em Uberlândia), veio falar comigo e

bala toffee bombom. que até hoje é o carro-chefe da Erlan”. Depois de 30 anos, decidiu vendê-la na década de 80 e com mais de 65 anos criou uma nova indústria; - Surgiu então a Fábrica de Sorvetes e Chocolates Tarumã, em 11/07/1986, chocolate que ainda hoje adoça a boca de muitos brasileiros. Depois de 10 anos e já com 75 anos, decidiu a venda da empresa de sorvetes, passando a Indústria de Chocolates para sua filha Sandra. - Não satisfeito com a monotonia,criou então a rede de lojas de sorvetes chamada de “Sorvete Italiano”.



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Clube da Colina, expressão criada pelo jornalista Marçal Costa, que até hoje identifica o Cajubá

CAJUBÁ COUNTRY CLUBE

BONITO E AMADO Por CELSO MACHADO

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uem vê o Cajubá Country Clube, hoje, aconchegante e imponente localizado numa das mais nobres áreas da cidade, não imagina a luta que foi para construí-lo. Uberlândia, ali pelo início dos anos 60, contava com clubes recreativos muito bem estruturados, o Praia com uma completa infra-estrutura recreativa, o Uberlândia Clube com sua elegância e beleza, o Caça e Pesca com sua imensa área. Não era fácil nesse cenário, lançar um empreendimento que conseguisse adesão para se viabilizar. O mais

Bênção – Monsenhor Eduardo com Tito Teixeira e Oscar Moreira nas bênçãos que antecederam a inauguração

difícil no entanto não foi isso, mas sim enfrentar uma realidade ainda mais desafiadora: o descrédito dos uberlandenses com relação a novos projetos nessa área. É que mais ou menos nessa mesma na época veio um grupo de empresários de fora, muito bem falantes e apessoados que anunciaram um novo clube na saída para Monte Alegre, perto do km 6, numa área de um conhecido e respeitado empresário local. Em cima do prestígio desse senhor, deram ações para algumas outras pessoas bem conceituadas na cidade, fizeram uma

série de eventos com pompa e conseguiram vender muitos títulos. E da noite para o dia, desapareceram causando uma frustração enorme dentro da sociedade uberlandense. Foi redobrado o esforço para convencer que o projeto do Cajubá Country Clube, além de diferenciado, era conduzido por gente séria, idônea e altamente qualificada. À credibilidade do dr. Oscar Moreira Junior, do seu filho Aloysio Moreira da Costa, proprietários da ICOM S/A, empresa responsável pela iniciativa e do apoio de renomadas figuras como Tito Teixeira, Virgílio Galassi,


Localização: quando foi construído, o Cajubá era distante do centro da cidade Abel Santos, Hermilon Correa, Simão de Carvalho Luz, Araimitan Penha Paes Leme, Osvaldo Teixeira, Ary de Castro Santos, Walmor Ribeiro, Hélio Alves Franco dentre outros foram viabilizadas a incorporação e construção do Cajubá Country Clube, conforme deliberação assinada em 14 de agosto de 1964. O local escolhido foi um dos mais bonitos da cidade, 36 mil metros quadrados no alto dos bairros “Vigilato Pereira e Altamira”, área esta adquirida de Nicomedes Alves dos Santos e Galeno Andrade Santos. Sua localização inspirou o jornalista Marçal Costa a o chamar de “Clube da Colina”, denominação com que é carinhosamente identificado. Tito Teixeira, que também era historiador, narra em seu livro “Pioneiro e Bandeirantes do Brasil Central”: A ICOM soube cercar-se de pessoal honesto. O projeto arquitetônico foi do renomado Fernando Graça, de quem são também os projetos da Estaçao Rodoviária e Sede da Associação Comercial e Industrial. Como administrador das obras, o engenheiro dr. Carlos Vilela Junior a toda prova. Na direção geral dos trabalhos estava o diretor administrativo Aloysio Moreira da Costa, tendo como seu auxiliar e substituto o jovem acadêmico de Ciências Econômicas,

Ricardo Roberto Santos. No dia 30 de outubro de 1966 acontecia a inauguração do Cajubá Country Clube com um baile animado pelo mais afamado conjunto musical de então, Modern Tropical Quintet. Seu primeiro presidente foi Tito Teixeira.

O CAJUBÁ

HOJE

Dois mil e quinhentos associados compõem o quadro social, todos contribuindo com o seu custeio.

Familiar e aconchegante, o Cajubá tem uma proposta diferenciada oferecendo a seus frequentadores inúmeras opções de lazer e principalmente aconchego e liberdade. A inadimplência é praticamente zero e seus títulos cada vez mais valorizados e disputados pelos uberlandenses. Seus eventos tradicionais como a Feijubá, a Festa Junina, a Costelada e ainda os “Happy-hours” das sextas feiras recebem grande presença de associados. Outro destaque é para o serviço de bar e restaurante, de excelente qualidade e preços bem razoáveis.



Prédio principal da Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia

O cinquentenário da resistência rural Colégio Agrícola teve importante papel para conter o êxodo rural e manter o equilíbrio entre o campo e a cidade Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

O

cenário de Uberlândia cinco décadas atrás era de uma cidadezinha. Próspera, mas ainda uma cidadezinha. Promissora também. A população começava a crescer de maneira vertiginosa, já desenhando a sina de quase dobrar o número de habitantes a cada década. Mas, por trás desse progresso acelerado, continha uma ameaça, um risco para qualquer desenvolvimento: a evasão da comunidade rural para a área urbana. Diante disso, com a premissa de fixar o homem do campo em seu lugar de origem e não comprometer o abastecimento da cidade, é que surgiu o Colégio Agrícola, cujo início de funcionamento se deu em 4 de agosto de 1969.

Essa tendência, de capacitar tecnicamente os jovens para o trabalho no campo, já existia em nível nacional em meados do século passado. Mesmo o Colégio Agrícola, apesar de efetivamente funcionar a partir do fim dos anos de 1960, teve suas obras iniciadas na década anterior. Sua data de criação é 21 de outubro de 1957. Por falta de recursos, elas se arrastaram por quase 10 anos. As instalações ficaram prontas em 1967, mas a primeira turma começou dois anos depois. A escola, que já nasceu federal, foi instalada em uma área rural histórica Fazenda Sobradinho, região onde era localizada também a Estação de Trem Sobradinho, pertencente à Companhia Mogiana de Estradas de

Ferro. Contudo, a Fazenda Sobradinho, de propriedade de Antônio Crescêncio, foi desmembrada e criada a Fazenda das Sementes, estação experimental do governo federal com vistas à instalação do Colégio Agrícola. Durante muitos anos, a escola manteve muitos alunos internos, talvez a maioria. Hoje, um percentual de 5% a 10% dos estudantes permanece no colégio com moradia integral e 70% em regime integral. O atual diretor geral do IFTM, Campus Uberlândia, Ednaldo Gonçalves Coutinho, teve como parte de sua tese de doutorado a história da formação e funcionamento da escola . Para a pesquisa, ele retornou às origens de Uberlândia e ao seu desenvolvimento econômico e agrícola até chegar à ativação da escola. Segundo o diretor, antes a maioria dos alunos era de outras cidades da região, mas, já há alguns anos, foi “descoberta” também pela cidade. Fundada como Colégio Agrícola, a escola passou por várias reconfigurações. Com essa nomenclatura, funcionou até abril de 1979, quando passou a ser chamada de Escola Agrotécnica Federal de Uberlândia, até dezembro de 2008, quando ampliou o leque de atuação e passou a compor o Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM).


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O IFTM tem nove campi em Minas Gerais, sendo dois em Uberlândia – um na fazenda e outro no bairro Patrimônio . Ednaldo não esconde a empolgação ao falar sobre o Colégio Agrícola. Debruçou-se muito tempo sobre arquivos públicos e pessoais para compor a sua tese de doutorado, além da longa atuação na escola. Já ouviu relatos surpreendentes de ex-alunos e ex-professores sobre o lugar. Conta de pessoas que saíram dali e se destacaram no Brasil e também em nível internacional. Mesmo preocupado em não omitir histórias importantes de outras pessoas, puxa pela memória e menciona Danilo Biasi, que ocupou vários cargos administrativos na UFU ; Wagner Mendes, que tornou-se diretor de escola da rede pública de ensino e superintendente Regional de Educação, Milton Custódio, gerente Regional da Emater, e outras pessoas que se destacaram na área após concluir o curso. Lembra com carinho de um ex-aluno, falecido ano passado, Socratis Martins, que foi integrante da primeira turma do Colégio Agrícola, onde também tornou-se

professor até a aposentadoria, sendo um dos maiores guardiões da memória histórica do lugar. De sua coleção de relatos e lembranças, o diretor traz também momentos engraçados, a maioria oriunda da imaginação fértil da juventude, como histórias de assombrações e de aventuras juvenis que se perpetuaram no Colégio. São muitas e não caberiam relatar aqui, envolvendo mistérios, cobras, fogos, etc. Como toda história fascinante, a do Colégio Agrícola também tem os altos e baixos. Houve períodos sombrios, como o do ano de 1971, quando faltou dinheiro e a escola ficou com suas atividades pedagógicas comprometidas por mais de dois meses por falta de repasses para pagamentos de salários dos servidores e a manutenção da fazenda. Um aspecto curioso do Colégio Agrícola era a mistura de classes no corpo discente. Havia desde filhos de trabalhadores rurais e de pequenos produtores até herdeiros de latifúndios. Segundo Ednaldo, o perfil dos alunos mudou bastante ao longo destas cinco décadas. Se antes eram em maioria os campone-

Assinatura do termo de acordo de criação do Colégio Agrícola

ses, hoje o público é bastante eclético, inclusive com grande presença feminina, menos comum em décadas passadas, uma vez que a instituição expandiu e passou a oferecer também formação e capacitação em áreas diversas, como Engenharia Agronômica, Tecnologia em Alimentos, Técnicos em Meio Ambiente, Alimentos, Manutenção e Suporte em Informática, Agropecuária e a Aquicultura, além de um curso Latu Sensu na área de Processos Alimentícios. Para o ex-diretor Ruben Carlos Benvegnú Minussi, esses 50 anos foram marcados por muitos fatos e feitos, e destaca o surgimento do ensino fundamental com a implantação da Escola Municipal do Sobradinho em parceria com a Prefeitura de Uberlândia e, por último, a implantação da unidade urbana do instituto, como uma unidade avançada, hoje campus Uberlândia Centro. Ele conta que, ao longo dos anos, foram oferecidos cursos e treinamentos como a Semana da Família Rural, já na sua trigésima edição. “A nossa instituição deu suporte para implantação do Conselho de Desenvolvimento Rural de Sobradinho, que funcionou durante vários anos nas suas dependências. O trabalho e a dedicação de todos os seus servidores e alunos foram muito importantes para o crescimento e desenvolvimento da nossa instituição”, disse o ex-diretor, que se orgulha de ter trabalhado ali por 38 anos. Surgido, portanto, como o ponto de equilíbrio para a convergência entre comunidades agrícolas e urbanas, o Colégio Agrícola atravessou as adversidades e se reinventou, por essas cinco décadas, numa demonstração clara de que, no campo ou na cidade, reinventar-se é sempre o melhor caminho.


56 Condessa Lucy é a manchete do Jornal A Tribuna*** de 08/11/1931, nº 574

JANE DE FÁTIMA SILVA RODRIGUES**

Mulheres que visitaram Uberlândia: um olhar jornalístico 1930/1940*

E

ntramos na década de 1930. Condessa Lucy é a manchete do Jornal A Tribuna*** de 08/11/1931, nº 574, para a apresentação da “primorosa soprano e nossa collega**** de imprensa que percorre o nosso hinterland visando reconhecer os nossos sertões”. Em uma única apresentação a Condessa Piera Lucy Mattioda Augusti, que também é poetisa, acompanhada da pianista Sahara Vieira, escolheu um repertório de óperas. “O nosso commercio, a rapaziada da nossa Linha de Tiro e a colônia italiana patrocinarão o sarau artístico da sra. Condessa Augusti, a quem esta folha almeja um ruidoso sucesso.”

Como foi o concerto? Teve o sucesso desejado? As famílias uberlandenses compareceram? Tivemos acesso ao Jornal Diário da Manhã (Vitória-ES), de 08/01/1932, nº 2.802 (memoria.bn.br/docreader/ WebIndex/WIPagina/720933/338), anunciando um “grande concerto-vocal pela festejada cantora condessa Piera Lucy Mattioda Augusti. Nos meios cultos onde se tem feito ouvir, recebeu a condessa Mattioda as melhores deferências da crítica.” O Jornal A Tribuna, referido acima, asseverava: “toda a imprensa brasileira tem-se ocupado dessa exímia soprano, cuja arte virá, certamente, despertar

em nosso meio culto um dos acontecimentos proveitosíssimos”. Em 1933 é a vez da pianista Nair Santos, anunciada pelo Jornal A Tribuna de 1º/02, nº 662: “a distinta pianista, que vae residir entre nós, a instância de vários paes de família que desejam dar às suas filhas uma completa educação musical”. A sua apresentação ocorreu antes do dia 22 de fevereiro, uma vez que neste dia, o citado jornal, nº 668, publica: o “Gymnasio Mineiro, onde se realizara o concerto não estava cheio, mas lá esteve o que há de mais espiritual e mais sinceramente amante da arte em Uberlândia”. Por que não houve o esperado comparecimento de pessoas? A pianista fixou residência em Uberlândia? Quais moças uberlandenses estudaram com ela? Localizamos no Jornal Correio Paulistano (SP), de 06/11/1934, nº 24.116 (www.memoria.bn.br/docreadesr/) uma notícia sobre a referida pianista: “Amanhã no salão Dr. Gomes Cardim, a pianista Nair dos Santos, 1º prêmio Gomes Cardim de 1930, dará um recital em homenagem à Directoria da Liga das Professoras Cathólicas”.

Nair dos Santos, pianista


57 Marilita Pozzolli

A

poetisa e declamadora goiana, Marilita Pozzolli, foi destaque em dois artigos do Jornal A Tribuna (04 e 08/04/1934, nºs 781 e 782. Sua arte e beleza motivaram inúmeros elogios, incluindo sua agenda em todo o país e Triângulo Mineiro. Entretanto, o público foi reduzido “quase ninguém foi ver essa ‘diseuse’ vibrante”, escrevera o Jornal. Marilita foi apresentada ao público pelo advogado dr. Alfredo de Freitas Macedo, “que em poucas palavras teceu ao talento da nossa hóspede um formoso elogio, revelando os seus dotes oratórios e conhecimentos litterários”. Constava na programação da declamadora, algumas poesias, como: Confidência, de Vicente de Carvalho; Marroeiro, de Catulo da Paixão Cearense e Corvo, de Põe, “que empolgaram a platéa”. Por que não houve público? Quais registros ficaram sobre a apresentação da poetisa? Marilita Pozzoli nasceu em 1902 em Campina Grande (PB) e faleceu em São Paulo em 1988. Era casada e teve um filho. No ano de 1942, na noite de 26 de março foi fichada pelo DOPS/PE, quando se encontrava em Recife para um recital em que declamaria poesias suas e de outros autores. O Jornal Diário da Manhã escreveu: “Um recital de poesia numa época estúpida como esta em que estamos vivendo é um refúgio para o espírito atormentado”. (www.obscurofichario.com.br/fichario/marilita-pozzoli/). Em 1950, o Jornal A Classe (Crato/PB) de 26/03 mencionou a sua visita: “Esteve em nossa cidade a poetisa Marilita Pozzoli, uma das melhores declamadoras que tive já o ensejo de conhecer. Á elegância dos seus gestos, a sua voz alternada

de sublimidade e exaspero, os seus êxtases e as modulações que dava à poesia, tudo de beleza da sua arte” (cehttp://memoria.bn.br/pdf/830178/ per830178_1950_00022). Marilita legou à literatura brasileira as seguintes obras: Aleluia do Agreste (1955); Galera das Almas (1957); Enquanto espero as Rosas (1969); Atire a Primeira Flor (1973); Poças da Lua (1981); Mãe (1983), dentre outras. O mês de maio de 1937 recebeu a cantora goiana Santinha Marques que se apresentou no salão do Gymnasio e, no Cine Avenida. A notícia foi veiculada no Jornal O Estado de Goyaz, 19/05, nº 210. Tivemos acesso a um trabalho de pesquisa realizado por Pedro e Luana Otto intitulado “A jornada heroica de Santinha Marques: Uiara de Goiás, um canto que o amor findou”, publicado em 2018 (www.balaio.pros/Tesoura-Passarinheiro). Nascida como Agta Antruza Marques, cujo pai era um músico polivalente de onde herdara o talento. Para a grande imprensa,

Helena de Magalhães Castro

Livro de Poesias Marilita Pozzolli, Aleluia do Agreste (1955)

(a do Rio de Janeiro e São Paulo) se apresentava como Uiara de Goyaz, tendo sido aplaudida pelo presidente Getúlio Vargas e sua esposa. Sua ascensão como cantora a levou a um casamento com um milionário italiano de uma família tradicional de São Paulo, Armando Vasone, com o qual teve um único filho, Armando Marques Vasone. Posteriormente, se separou e nunca mais viu a criança, conforme os seus biógrafos. Contraiu segunda núpcias com um inglês, Harold Emerson e mudou-se para Londres onde faleceu em novembro de 1993, conforme nota veiculada pelo Jornal O Popular de Goiânia. Teria Santinha seguido a carreira artística em Londres? Teve relacionamento com o seu filho deixado aos cuidados do pai no Brasil? O que fez durante sua permanência na capital inglesa? Helena de Magalhães Castro, esteve em Uberlândia em duas ocasiões: março de 1938 e outubro do ano seguinte, de acordo com as notícias dadas pelos jornais O Estado de Goyaz, nº 267 e o Correio de Uberlândia, nº 443, respectivamente. Conforme pesquisa da historiadora Marcelle de Andrade (bonavides75. blogspot.com/2018/09/helena-de-magalhaes-castro-116-anos.html), Helena de Magalhães Castro nasceu em 1902 em São Paulo. Formou-se professora na Escola Normal Caetano de Campos na capital paulista. Ligada à música desde pequena, era pianista, mas optou por acompanhar-se ao violão em seu primeiro concerto, realizado no Theatro Municipal de São Paulo, wem 1924. No ano de 1931, ao lado do poeta Guilherme de Almeida e do maestro João Souza Lima, fundou a Instrução Artística


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do Brasil (IAB). Helena de Magalhães Castro gravou vários discos na RCA Victor, porém só foram comercializados três deles, em seis músicas no total, “Saia de Chita” e “A Volta do Bambalelê”, de 1930, seus maiores sucessos. Helena lecionou declamação e música até meados de 1980, em sua residência na Alameda Barão de Limeira e ainda conduzia a antiga farmácia de homeopatia da família, iniciada por seu pai. Solteira e sem herdeiros, em 1987 propôs a doação de sua casa e de todo o seu acervo, incluindo a farmácia de seu pai, ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico de São Paulo (Condephaat), da Secretaria de Estado da Cultura. Mesmo sendo considerado um bem de grande interesse cultural, as negociações não prosperaram e, após sua morte, seus bens foram se dispersando, restando apenas alguns documentos e fotografias recolhidas por técnicos do Condephaat e se encontram informalmente depositados nesse órgão. Em 1995, sofreu um derrame e ficou bastante debilitada, vindo a falecer de causas naturais nesse mesmo ano. Na sua primeira apresentação em Uberlândia, O Jornal O Estado de Goyaz, de 27/03/1938, nº 267, assim se referiu a ela “... a feiticeira da arte de dizer, cujos predicados, cultas platéas de nosso paiz e do extrangeiro a ouviram sobre delirantes aplausos ....”. O Jornal O Repórter de 27/03/1938, nº 210, referenda as qualidades da artista “... a excelsa ‘diseuse’, cuja fama transpõe as fronteiras do nosso paiz, é um nome que dispensa referências ... tal o seu valor, as suas qualidades ... intérprete perfeita que é da poesia e da canção brasileira”. Janeiro de 1939 abre-se com a

Santinha Marques

apresentação artística de Zenaíde Villalva no Uberlândia Clube. Os jornais Correio de Uberlândia (22/01, nº 250) e O Repórter (22/01, nº 249), anunciam o recital “... artista de grandes méritos, que tem feito através do coração do Brasil, uma peregrinação de arte, levando-a às mais remotas cidades mineiras...”, escreveu o Correio de Uberlândia. Encontramos alguns dados sobre a educadora e declamadora Zenaíde Villalva. Nasceu em 1902 na cidade de São Paulo e faleceu em 1971. Fundou o Colégio Villalva, na capital paulista, onde lecionou até 1934 e a Academia Paulista de Educação em 1970, “sendo um exemplo de entusiasmo pelo ensino, desprendimento pelas recompensas materiais e trabalho consciente. Pertenceu a várias associações, como a Sociedade de Psicologia de São Paulo, a Associação de Psicólogos Brasileiros e a Sociedade Rosch de São Paulo” (www.apedu.org.br › Home › Institucional › Cadeiras). Ana Laura Godinho Lima, em seu livro “A Criança-Problema na Escola Brasileira: uma análise do discurso pedagógico” (2018) menciona um artigo escrito por Villalva, intitulado “Califasia e Ortofonia e sua importância na Escola Primária”, publicado na Revista de Educação, SP, 1961, nº 66, p. 143151 (https://books.google.com.br/ books?isbn=8547316256). A pesquisadora Ana Clara Bortoleto Nery aponta a atuação de Zenaíde na criação da Sociedade de Educação de São Paulo, em 1922: “... nota-se a primeira e única mulher a pertencer aos quadros de dirigentes da entidade. Sua importância justifica-se pelo fato de pertencer ao ensino particular e ser diretora do Colégio Villalva

de sua propriedade” (A Sociedade de Educação de SP: embates no campo educacional – 1922-1931, 2008, p. 30-31, (https://books.google.com.br/ books?isbn=8571399468). Um artigo escrito por Simone Ballmann de Campos mostra que Zenáide aplicava de modo consistente, desde 1927, a metodologia montessoriana no Colégio Villalva, e a sua atuação como secretária da Sociedade de Educação, permitiu que ela evidenciasse a importância das adaptações de Froebel e Montessori para os jardins de infância. A análise realizada pela professora interferiu na organização de sua escola privada e tornou-se símile ao que foi apresentado no Estado de São Paulo, no que se refere ao uso de materiais montessorianos associados ao método froebeliano, nos anos de 1924 e 1925. Outra evidência de seu prestígio no campo educativo é que em novembro de 1923, assumiu a presidência da Sociedade de Educação de São Paulo. Foi a única mulher na direção desta entidade (O viés americano do método Montessori em São Paulo: Ciridião Buarque e Mary Buarque - Revista Inter-Ação, Goiânia, v. 43, n. 3, p. 864-880, set./dez. 2018, http://dx.doi. org/10.5216/ia.v43i3.50764>). Uberlândia recebe em outubro de 1939 a cantora Dilú Melo que se apresentou no dia 21/10, no Cine Uberlândia sob o patrocínio do Rotary Club. Os jornais O Repórter e o Correio de Uberlândia elogiaram a sua voz e sua presença no palco. Quando aqui esteve já era reconhecida nacionalmente e nos países da América do Sul. Era multi-instrumentista e, além do acordeom e do violino, Dilú tocava piano, gaita, harpa paraguaia, violão e viola caipira. Compôs mais de cem músicas e artistas como, Nara Leão, Clara Nunes, Marlene, Dóris Monteiro e Fagner gravaram músicas de sua


Dilú Mello

autoria (www.recantodasletras.com. br/biografias/4853455). Entre suas composições mais famosas destacam-se: “Fiz a cama na varanda”, “Saudades do Maranhão”, “Meu Cariri”, “Sapo Cururu”, dentre outras. Registrada como Maria de Lourdes Argolo, Dilú Mello, nasceu em Viana (MA), 1911 e faleceu no Rio de Janeiro aos 88 anos. Casou-se em 1930 com o engenheiro Carlos Rodrigues de Melo, união que durou pouco mais de dois anos e, na década de 1940 contraiu núpcias com o médico George Moniz de Aragão Oliveira, conhecido como Óliver. Atuou no Cassino Atlântico, foi contratada pela Rádio Nacional e, apresentou-se no Teatro Municipal no Rio de Janeiro (https://sites. google.com/site/acriticaopequenonotavel/fundacao-dilu-mello). Em 2003, em São Luís do Maranhão é criada a Fundação Dilú Melo que abriga a sua produção musical com o objetivo de ser um espaço para as manifestações artísticas do Estado (www.gentedeopiniao.com.br). Ao longo da década de 1930, os jornais de Uberlândia anunciavam a apresentação de vários (as) artistas, entretanto, sem dedicarem comentários, como: Quita Costa; Manolaque Antonieta; a dançarina Zuzu; Cia. Lírica Dora Solima; Linda Oriental; Haydée Menezes; Aurélia Vergara; Annita Cora; Dora Brasil; Geralda Nascimento, dentre outras. Encontramos notícias esparsas de Aurélia Vergara, Dora Brasil e Haydée Menezes. O Jornal O Município (Caratinga/MG), de 09/10/1932, veicula a apresentação da pianista e cantora Aurélia Vergara “... dotada de grandes recursos, perfeita conhecedora da techina do piano e possuindo uma voz maravilhosa, que tem sido o enlevo de platéas mais cultas, entre as quaes a da capital do Paiz” (memoria.bn.br/

Helena de Magalhães Castro

pdf/761907/per761907_1932_00133. pdf impresso). Em 1936, a artista se apresentou em São Paulo sendo destaque no Jornal Correio de S. Paulo, de 18/12 “... interpretando um programma de grande responsabilidade, a gentil musicista conseguiu fartos applausos do público.... Uma noitada de verdadeiro encanto artístico a que nos proporcionou a jovèn laureada do Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro. Os muitos aplausos e as flores que recebeu ao finalizar o seu bello concerto, exprimiam, significativamente, a satisfação e o agrado da platéa” (memoria.bn.br/pdf/720216/ per720216_1936_01382.pdf). A presença da artista também foi registrada no Clube Sete de Setembro de Catanduva/SP, fundado em 1917 e que recebera inúmeros pianistas, dentre eles, Aurélia Vergara (Nelson Bassanetti, (www.catanduvacidadefeitico.com.br/exibemateria. php?noticia_id=729). Reportagens, notas e fotografias de jornais dos anos 1930 e 1940 destacavam o talento de uma pianista barretense que fizera sucesso pelos diversos cantos do país: Haydée de Oliveira Menezes. Em 1938 (ano em que esteve em Uberlândia) percorreu o país em concertos, tendo se apresentado no Teatro Amazonas em Manaus. Retornou consagrada, de acordo com a profª Karla Armani Medeiros, em seu artigo “Haydée Menezes e a “IAB”, publicado no Jornal O Diário de Barretos de 19/03/2019 (karlaarmani.blogspot. com/2019/03/haydee-menezes-e-iab.htm). A cantora Dora Brasil esteve em Uberlândia em 1938 tendo, em 1929, gravado as músicas “Nega Prosa” e “Gosto Muito de Ti”, pela Parlophon. O Jornal A Batalha (RJ), de 05/01/1930 veicula sua foto e uma nota: “.... Graciosa, alegre, cheia de

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Dora Brasil

vivacidade, com a intuição do ‘morenismo’ meio canalha e meio sentimental da canção nacional e da música típica destes Brasis, Dora, que numa adivinhação maravilhosa, também é ‘Brasil’ ... faz de todos os seus números um sucesso ...” (http://memoria.bn.br). Sem dúvida, todas estas mulheres que estiveram em Uberlândia já eram reconhecidas nacionalmente e, portanto, a cidade estava na rota do que havia de melhor em termos de apresentações artísticas nos grandes centros do país. Qual teria sido o impacto de suas exibições no imaginário da cidade? Por que algumas delas durante o sucesso foram esquecidas a ponto de não conseguirmos informações sobre elas? Casaram-se? Tiveram filhos? Por que abandonaram suas carreiras? Como uma pessoa que recebe um prêmio tão cobiçado e noticiado pela grande imprensa, como Nair Santos é relegada ao esquecimento? Nem fotos nos deixaram! Das artistas aqui citadas somente duas retornaram a Uberlândia: as declamadoras Helena de Magalhães Castro, em 1945, e Marilita Pozzoli, em 1953. A recuperação da memória feminina é uma tarefa hercúlea, sobretudo nas primeiras décadas do século 20. Somente através de uma pesquisa meticulosa, o que demandaria tempo, seria possível trazer à tona o seu legado, principalmente para o desenvolvimento artístico, cultural e educacional de Uberlândia e do país. Nosso reconhecimento a essas mulheres fantásticas.

* Este artigo é uma continuação do artigo anterior que abrangeu os anos de 1900 a 1930. * Doutora em História pela Universidade de São Paulo e bacharel em Direito. *** Os jornais A Tribuna, O Estado de Goyas, O Repórter e Correio de Uberlândia, foram publicados em Uberlândia. **** Algumas transcrições estão no português da época e, por isso foram preservadas.


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DE NORMALISTA A MISS UBERLÂNDIA 1960 Por ILMA DE MORAES

F

A estudante Cília dos Santos, de origem humilde, viveu momentos de glória ao conquistar o título de a mais bela da cidade

inal dos anos 50 e início da década de 60. Os Anos Dourados deixaram a marca do desenvolvimento científico, econômico e político. Os EUA, com suas constantes inovações tecnológicas, geraram uma época de revolução social e crescimento financeiro das famílias americanas com evidentes transformações para a sociedade moderna. O surgimento do rock’n’roll com Elvis Presley e Bill Haley e o jeito rebelde do ator James Dean, do filme “Juventude Transviada”, ditaram o estilo da juventude. A atriz Brigite Bardot era o modelo de beleza para as mulheres. Ninguém mais seria o mesmo! No Brasil, a TV Tupi, primeira televisão da América Latina, e a criação da Bossa Nova foram importantes conquistas. Os compositores Tom Jobim, Vinícius de Morais e João Gilberto imortalizaram pelo mundo o novo estilo musical brasileiro. Em 1958, a seleção canarinho, com Pelé e Garrincha, ganhou a Copa do Mundo de Futebol. Uberlândia, a Cidade que era Menina, cresceu e não deixava a desejar. Os empresários tomavam gosto pelo desenvolvimento e os jovens, pela ascensão profissional. O município abrigava, nos fins de semana, uma juventude alegre

que tomava conta da avenida Afonso Pena repleta de rapazes apaixonados pelo andar das mocinhas esguias, com suas cinturas bem traçadas em vestidos de poás.

Silva - irmã do radialista Cleto Silva -, Ydê Queiroz e Terezinha Barbosa. “A gente passeava, mas às 22h, em ponto, já estávamos em casa”, disse. Também havia as “brincadeiras”, sempre lotadas de jovens, no Clube Sírio Libanês e no Sindicato dos Bancários. “No baile, mesmo se a gente não fosse com a cara do rapaz, não podíamos recusar uma dança. Ficava feio”, afirmou. Segundo Cília, foi, em um desses dias, que o dr. Tomaz Rezende e o Leãozinho, sócios do Praia Clube e proprietários do jornal Folha do Triângulo, tiraram uma foto dela e publicaram no jornal.

JUVENTUDE

SONHOS

Cília dos Santos era uma destas mocinhas uberlandenses, entre 16 e 17 anos. Ela não sabia, que, mais tarde, entraria para a história, sendo a jovem mais famosa da cidade. Identificada com as garotas da época, tranquila, passeava ao lado das amigas, ia aos bailes do Praia Clube e frequentava a Confeitaria da Hora. Lembra, hoje, que o point da juventude era o vaivém desde o Bar da Mineira, na avenida Afonso Pena, até a praça Tubal Vilela. A vida era difícil para ela, que era normalista e trabalhava num magazine de cama, mesa e banho no centro da cidade. Cília morou, com a mãe Maria dos Santos Nunes e a irmã Célia, na rua Johen Carneiro, quando era criança, depois mudou-se para a rua Joaquim Cordeiro (antiga), onde passou a juventude. Fez o curso Normal no Colégio Anchieta e sempre estava com as fiéis amigas, Cleone

A beleza da modelo valorizou a foto e isso lhe rendeu o convite para se candidatar à Miss Uberlândia 1960. Ela relembra como tudo foi difícil e muito diferente dos dias de hoje. Não havia grandes patrocinadores e os comerciantes da cidade ajudavam com campanhas e permutas de vestimentas. “Não havia prêmio em dinheiro!”, disse. O gran desfile seria realizado no salão nobre do Uberlândia Clube em junho de 1960. Cília conta que uma loja parceira forneceu o traje. Ansiosa e sempre ao lado da mãe, ela escolheu seu vestido e foi maquiada. “Meu vestido era preto e tinha uma faixa prata para marcar bem minha cintura, pois era o meu ponto forte!”, afirmou. A atração principal da noite foi o cantor Jair Rodrigues, muito famoso nos hits do país. Como destacou a concorrente, as candidatas desfilaram


Desfile, ao lado junto com o prefeito da época Raul Pereira Abaixo: desfilando no Uberlândia Clube e hoje continua presente em eventos sociais

com graça e beleza pela passarela aos aplausos do público. Os jurados eram gente da cidade. Sérios e compenetrados, marcavam os mínimos detalhes. A bela Cília, com simpatia e medidas precisas, desbancou todas as concorrentes. Arrebatou o primeiro lugar. Era a Miss Uberlândia 1960! “Ganhei um anel de ouro com pedra de ametista.” Mas, apareceu outro convite: a miss uberlandense iria disputar o título Miss Minas Gerais no Automóvel Clube em Belo Horizonte. A mocinha do interior ganhou roupas, sapatos e bijuterias para a

viagem à capital do estado. Na mala, deslumbramento total e emoção à flor da pele. Coração batendo forte, a miss de Uberlândia concorreu ao título maior do estado com as mais belas candidatas das cidades mineiras. A cada passo no tapete vermelho, Cília lembra que levava na cabeça um milhão de sonhos. “Não ganhei o título, mas, mesmo assim, foi a glória! Quando voltei para a cidade, muitas pessoas iam até a loja só para me conhecer”, afirmou. Ficou classificada entre as quatro primeiras colocadas de Minas.

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Cília seguiu a vida em Uberlândia e casou-se, em 1969, com o radialista José Luis Monteiro, que comandava o programa “Show da Meia-noite”, na Rádio Educadora. Em 70, mudaram-se para Marília – SP. Lá trabalhou na Prefeitura de Marília, biblioteca pública municipal e chefiou a Divisão da Secretaria da Cultura. Hoje é aposentada e afirmou ter vivido uma empolgante história de glamour e sonhos. “De vez em quando, volto a Uberlândia para visitar a família e os bons amigos”, disse. Ela tem três filhas: Fabiana, Flávia e Fernanda e os netos Giuliana, Thiago, Giovana, Thalita, Isadora, Rafaela e Bruna.


62 NOSSA GENTE

Jerônimo Arantes

Aos 25 anos de idade - Acervo Delvar Arantes

Por NÚBIA MOTA

P

rocurando algum motivo para continuar no Magistério, releio a tese de doutorado da professora Sandra Cristina Fagundes de Lima (Memória de si, História dos outros: Jerônimo Arantes, educação, história e política em Uberlândia nos anos de 1919 a 1961) sobre a trajetória do professor, funcionário público (inspetor municipal de Educação e chefe do Serviço de Educação e Saúde do Município), memorialista e jornalista Jerônimo Arantes (1892-1983). Segundo o trabalho realizado, Jerônimo Arantes nasceu em Monte

Alegre/MG em 1892, mudando-se para Uberlândia em 1918. No ano seguinte fundou, na própria residência, a escola primária Colégio Amor às Letras. A escola funcionou até 1933, quando a convite do prefeito Lúcio Libânio, foi nomeado para a Inspetoria da Instrução Pública Municipal. Em 1937, Arantes foi nomeado, pelo Decreto nº. 21, membro de uma comissão, não remunerada, cuja função era organizar o serviço de estatística e propaganda do município. Um ano após formação da referida comissão, foi criado o Diretório Municipal de Geografia,

Arantes e alunos do Colégio Amor às Letras. Uberlândia, 1919. Acervo Delvar Arantes

subordinado respectivamente ao Diretório Regional do Conselho no Estado de Minas Gerais e ao Conselho Nacional de Geografia. A partir do primeiro recenseamento local realizado pelo diretório, Jerônimo Arantes escreveu uma monografia histórico-corográfica sobre a região e a cidade. Quanto ao trabalho investigativo realizado por ele o jornal A Tribuna, em 1942, teceu o seguinte comentário: “O conhecido historiador da nossa vida, desde as primeiras penetrações pelos sertões da Farinha Podre, professor Jerônimo Arantes, diligente inspetor municipal, foi encarregado pelo ilustre prefeito Vasco Giffoni de elaborar a Monografia histórico corográfica do nosso município. (...) Em cada um daqueles setores o prof. Arantes, como verdadeiro douto, demonstrou a segurança dos seus conhecimentos, que pudemos apreciar desfolhando o seu magnífico trabalho, que estamos convictos, será um dos melhores apresentados”. Embora tenha se dedicado ao jornalismo por aproximadamente 40 anos, escrevendo, dentre outros, textos relativos à história de Uberlândia, Arantes não colaborou de forma regular com nenhum jornal da cidade. Sua atuação mais duradoura nesse ramo ocorreu na concepção e edição da revista Uberlândia Ilustrada (1935 a 1961), cujas matérias abarcavam conteúdos referentes à literatura, história, comércio, indústria, agricultura, pecuária, estatística, viação, instrução


Em seu escritório, aos 73 anos de idade. Uberlândia, 1965. Acervo Delvar Arantes

Arantes era responsável pela produção, administração e circulação da revista Uberlândia Ilustrada (1935)

e genealogia. Distante das capitais e, por conseguinte, das editoras e gráficas aparelhadas para a produção de uma revista com este perfil, Jerônimo Arantes executou grande parte das etapas implicadas na publicação, a saber: pesquisar documentos e datilografá-los, redigir artigos, selecionar as fotos ilustrativas das matérias e conceber as capas das revistas. Em 1953, o jornal Correio de Uberlândia reconheceu os esforços empreendidos por Arantes na produção, administração e circulação da revista Uberlândia Ilustrada: “a revista utilíssima que o prof. Jerônimo Arantes vem mantendo nesta cidade com o devotamento de um crente dos nossos destinos e com as dificuldades que são conhecidas de todos que se abalançam a empreendimentos dessa natureza, principalmente no interior, onde a incompreensão é maior do que nos grandes centros”. Entre tantas ocupações, como salienta a pesquisadora, Jerônimo Arantes teve a educação como a principal, sobretudo a educação escolar. Nessa área trabalhou, entre 1907 a 1933, tanto na esfera particular quanto na pública municipal. No início da carrei-

Ao lado, Uberlândia Ilustrada, n. 3, maio de 1939 e n. 9, abril de 1941

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ra, dedicou-se à docência no ensino primário particular, foi professor e proprietário de escola. Na escola pública, atuou na escolarização das crianças, na alfabetização de adultos e na fiscalização das escolas mantidas pela prefeitura. Na condição de servidor público, fiscalizou e organizou os trabalhos escolares no município, primeiramente, como inspetor municipal de ensino (1933-1946) e, posteriormente, como chefe do Serviço de Educação e Saúde do Município de Uberlândia (1946-1959). Após a releitura da tese de doutorado sobre a trajetória de Arantes, tenho todos os motivos para seguir na docência e para continuar lutando pela liberdade de ensinar, pesquisar e aprender. Júlio César de Oliveira. Doutor em História Social pela PUC/SP. Autor do livro “Ontem ao luar” : o cotidiano boêmio da cidade de Uberlândia (MG) nas décadas de 1940 a 1960, Edufu, 2012.


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NOITE INESQUECÍVEL

O

s eventos de lançamento das edições do Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre são sempre agradáveis, alguns, entretanto, por razões muito especiais, se tornam inesquecíveis. Foi o que aconteceu no dia 15 de março de 2019 quando foi feita a entrega do número 16. Pessoas muito queridas e especiais como dona Cora Pavan Capparelli, Mônica Debs, nossa secretária de Cultura; os homenageados, o médico dr. Melicégenes Ambrósio, a pianista Maria Célia Vieira e a diretoria do

Hospital Santa Clara, dentre outros, lá estiveram. Entretanto o toque de magia que tornou o momento inesquecível foi a presença do médico Hermilon Correa, verdadeiro ícone da medicina de Uberlândia. Aos 95 anos foi um dos primeiros a chegar e um dos últimos a ir embora. Menos de um mês depois, mais precisamente no dia 10 de abril, ele veio a falecer. Sua última presença num evento público ter sido no lançamento do almanaque é um presente que guardaremos para sempre.

O médico homenageado da noite, Dr. Melicégenes ao lado do dr. Hermilon

A pianista Maria Celia recebendo de d. Cora o quadro homenagem pintado pelo artista José Ferreira Neto


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ISO OLHOS TEM SOLUÇÕES PARA VOCÊ MUDAR SEU JEITO DE VER. Um hospital oftalmológico completo que dispõe de técnicas e tecnologias de ponta para correção e tratamento de alterações visuais.

CONHEÇA AS NOVAS TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS

F-Lasik

F-Ring

Inovação nos tratamentos de erros refrativos. Um avanço da já consagrada técnica Lasik. O flap na córnea é realizado pelo laser, que substitui a lâmina de metal. Oferece maior precisão no procedimento e segurança para o paciente.

Opção eficiente de tratamento para portadores de Ceratocone. Com o uso do Laser de femtosegundo, não há corte com bisturi, fazendo com que a incisão seja criada a partir de uma fotodisrupção das lamelas da córnea, conforme planejado pelo cirurgião, conferindo uma maior previsibilidade e eficiência na cirurgia. O implante deixa a superfície anterior da córnea mais regular, aproximando-se da sua curvatura normal.

RESULTADO: maior conforto visual e nitidez de imagem. Quer saber mais? Acesse o QR Code abaixo.

RESULTADO: correção ou diminuição do astigmatismo e da irregularidade corneana. Quer saber mais? Acesse o QR Code abaixo.

Lente Intraocular Trifocal Prótese com diferentes materiais, formas e finalidades, indicada para pacientes de cirurgia de catarata, que após implantada restabelece a visão de perto, de longe e intermediária. RESULTADO: menor dependência de óculos ou lentes de contato, mais liberdade e qualidade de vida para o paciente. Quer saber mais? Acesse o QR Code abaixo.


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Lensectomia Refrativa Procedimento que substitui o cristalino por lente intraocular trifocal e melhora a visão em todos os estágios (perto, intermediário e longe). Elimina de uma só vez a catarata e os problemas refrativos.

iStent

E-Eye IRPL

Método inovador para tratamento do Glaucoma por meio de implante de um dispositivo minúsculo para restaurar a capacidade do olho em drenar o humor aquoso através da via natural e fisiológica, que é a via trabecular.

Nova tecnologia de luz pulsada regulada de alta intensidade para tratamento da síndrome do olho seco. Manuseio minimamente invasivo, indolor, inofensivo e com efeito rápido.

RESULTADO: menor dependência de óculos para longe e perto de forma definitiva, mais qualidade de vida para o paciente.

RESULTADO: reduz com eficácia a pressão intraocular e diminui a dependência de medicamentos para glaucoma, a critério do oftalmologista.

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RESULTADO: conforto visual, melhora na qualidade da lágrima, reduz a vermelhidão dos olhos e a necessidade de colírios ou lubrificantes. Quer saber mais? Acesse o QR Code abaixo.


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