Ed.18- Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre

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Almanaque NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO • ANO 9 • NÚMERO 18

ANTIGO FORUM

CENTRO MUNICIPAL DE CULTURA

AGOSTO • 2020




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Pra começar...

É

sempre estimulante e desafiadora a produção de um novo exemplar do almanaque “Uberlândia de Ontem e Sempre”. A escolha da capa, do tema que irá contemplar, do criativo que a irá elaborar pode parecer tarefa simples, mas dá trabalho. Produzir bom conteúdo exige muito esforço, dedicação e competência. Felizmente, bons parceiros não faltam e tenho o privilégio de tê-los sempre conosco. O que torna fascinante o trabalho de buscar um artista novo para a capa de cada edição é conhecermos, além do seu talento, que de uma forma ou outra a cidade reverencia, histórias de vida tão inspiradoras. É o caso do autor que produziu uma obra tão bonita especialmente para a capa deste número 18, Thiago do Santos, que quase ninguém conhece pelo nome, mas que admira os belos trabalhos de Dequete, pseudônimo com que os assina. A entrevista que irá ocupar o espaço maior da publicação é outra que demanda avaliações, ponderações e decisões. Nesta edição em particular, não foi fácil conseguí-la, pois o personagem, um mestre na arte de comunicar, é avesso a ser ele o alvo de uma pauta sobre sua vida. Valeu a pena pelo honroso privilégio de rendermos em nome da cidade de Uberlândia o reconhecimento ao jornalista Ivan Santos e também pela lucidez e ensinamentos de suas colocações. O médico homenageado desta edição é um ícone da Medicina de nossa cidade, José Olympio de Freitas Azevedo, o grande batalhador pela conquista da nossa Faculdade de Medicina. Um exemplo de vida e de tantas lições de vida. As demais matérias provocam igualmente esse trabalho criterioso de levantamento e seleção. O desafio continua e, numa escala ainda maior, na busca de apoio e patrocínios para viabilizar a produção de um novo exemplar. Aqui, o agradecimento aos que possibilitaram entregar esta nova publicação. Obrigado a todos e a Uberlândia por ser tão especial e querida! CELSO MACHADO Engenheiro de Histórias



ISSN 2526-3129

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Sumário CULTURA NOSSA CAPA

Obra do artista Dequete tendo como foco a transformação do antigo fórum no Centro Municipal de Cultura HISTORIADORES

• Antonio Pereira • Jane de Fátima S. Rodrigues • Julio Cesar de Oliveira • Oscar Virgílio Pereira DIREÇÃO GERAL

Celso Machado PROJETO GRÁFICO

A ARTE NO CONCRETO CINZA MÚSICA

CARLOS HUMBERTO DE OLIVEIRA, CAJU

TUBAL VILELA E O SERVIÇO DE ÁGUA ENTREVISTA

PESQUISA E REPORTAGEM

MESTRE IVAN SANTOS

COLABORAÇÃO

• Ademir Reis • Adriana Faria de Souza • Carlos Magno d’Armada • Edelweiss Teixeira Junior • Gilberto Gildo • Neivaldo Silva (Magoo) AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

• Marila Azevedo • Amir Cherulli • Maria Ester de Carvalho • Martha Pannunzio

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REGISTRO

Antonio Seara Carlos Guimarães Coelho e Celso Machado

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TRIBUTO

JOSÉ OLYMPIO, UM SENHOR DOUTOR!

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MEMÓRIA MOACIR LOPES, TALENTO

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POLIVALENTE

FOTOGRAFIAS

• Acervos Arquivo Público • Amir Cherrulli, Antonio Pereira • Ademir Reis • Close • Fausto Aguiar • Clayton Mota • Cleiton Borges/secom/pmu • Famílias José Olympio Freitas Azevedo • Moacir Lopes de Carvalho REVISÃO

ARTISTA DA CAPA

DEQUETE, GRAFFITEIRO SOCIAL

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REMINISCÊNCIAS

OS CINEMAS DE RUA

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Ilma de Moraes Finalização, ilustrações e tratamento de imagens José Ferreira Neto

HOMENAGEM

ÍDOLOS DE SEMPRE

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IMPRESSÃO

Gráfica Breda COLABORAÇÃO

José Geraldo Gomes AGRADECIMENTOS

• Ady Torres • Ana Cristina Neves • Carlos Roberto Viola • Hugueney Bisneto • Lucas Capra • Pedro Eduardo Machado • Taisa Ferreira Machado • Rosilei Ferreira Machado • José Oscar Bredariol • Pascoal Lorecchio • Paulo Henrique Petri PROJETO EDITORIAL

ERRATA: Na edição 17, lançada em agosto de 2018, a matéria sobre Jerônimo Arantes saiu como se tivesse sido produzida por Núbia Mota, sendo que ela é de autoria do prof. Julio César de Oliveira. Nossas desculpas.


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Pietro Carlo Palladini, melhor dirigente esportivo de Minas Gerais no ano de 1984

Presidente “pé quente”! O COMANDANTE DA MAIOR CONQUISTA DA HISTÓRIA DO UBERLÂNDIA ESPORTE CLUBE

Q

uando se comenta sobre a maior conquista do time do Uberlândia Esporte, a Taça de Prata de 1984, que hoje equivaleria ao Campeonato Brasileiro da Série B, muita gente lembra dos jogadores que foram destaque: Moacir, Batista, Zécão, Vivinho, Eduardo, Chiquinho, Geraldo Touro, Maurinho e Cia. que são realmente merecedores desse justo reconhecimento. O técnico Vicente Lage, “o 109” igualmente. Mas uma grande injustiça é não dar o mesmo destaque a quem teve um papel fundamental, o presidente “pé quente do Verdão”, Pietro Carlo Palladini.

Extrovertido, brigão, às vezes até mesmo inconsequente, estabeleceu uma relação de proximidade com os atletas e comandou a campanha com dedicação e empenho dignos de reconhecimento. Em todo jogo do “Periquito”, sua presença era marcante. Fosse na relação com dirigentes da FMF e CBF, fosse com juízes e bandeirinha, com a imprensa e, sobretudo, com a torcida. Pietro foi homenageado pela Federaçao Mineira de Futebol, como o melhor dirigente esportivo de Minas Gerais no ano de 1984. Tempos depois, em entrevista concedida ao programa Close, que pode ser assistida pelo site “museuvirtualdeuberlândia”, ele relembrou as passagens dessa fantástica conquista e deixou um recado para os novos dirigentes do time que vale a pena refletir: de que futebol não se ganha apenas no campo... Pietro, que havia sido empresário do segmento de produtos agropecuários, faleceu aos 66 anos, como servidor público municipal, lotado na Fundação Uberlandense de Turismo, Esporte e Lazer – Futel.

Equipe Carcará da Rádio Uberlândia, sentados Ophir Lopes e Paulo Cesar Martins; em pé, Luiz Alberto Tomé, Erlon Lima e Mauro Mendonça


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Família ANGELINO PAVAN Por ANTONIO PEREIRA DA SILVA

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ngelino Pavan nasceu em 25 de março de 1900 na cidade de Uberaba. Logo após perder o pai, aos 15 anos, veio para Uberlândia ainda nos tempos de São Pedro de Uberabinha. Começou a trabalhar na Livraria Kosmos. Fazia os serviços mais humildes: varria, limpava, arrumava. Já tinha o ginasial feito no Diocesano em Uberaba. Começou a praticar Contabilidade com o português Manuel Jacinto de Souza. Bom de caligrafia, fazia a escrita da livraria. Em 1924, trouxe a mãe e os irmãos, que haviam ficado em Uberaba. Casou-se com Adélia de Oliveira Marquez. Em seguida, montou seu próprio estabelecimento, a Livraria Pavan, e foi ampliando seus negócios. Montou tipografia e, por essa época, foi se dedicando também à comunidade. Ingressou na Loja Maçônica Luz e Caridade, na Associaçao Comercial e Industrial de Uberlândia, no Rotary Clube. Na Aciub, foi duas vezes presidente, gestões 1937/1938 e 1940/41. Foi produtor rural e fundador da Associação Rural, hoje Sindicato Rural.

Solidário e muito caridoso, Angelino, com alguns companheiros, fundou em Uberlândia o “dispensário dos pobres”, relevante serviço social que durou muitos anos. Participou também da organização da Santa Casa de Misericórdia, que oferecia serviços médicos gratuitos às classes necessitadas. Seu ingresso na vida política se deu pela nomeação em 1948, por convite do prefeito José Fonseca e Silva, como chefe do Serviço de Educação.

Cargo que também exerceu nos mandatos de Geraldo Ladeira e Raul Pereira de Rezende. Foi vereador por 25 anos, de 1951 até 1975. A tipografia Pavan, que Angelino fundou, funcionou até o final de sua vida, quando faleceu no dia 21 de abril, aos 67 anos, em decorrência de problemas cardíacos. Ele e a esposa Adélia só tiveram uma filha; Cora, casada com o médico Vitório Capparelli.

D. Cora com o esposo Vittório Capparelli e os filhos Silvio, Cristina Maria e Vittorio Amilcar


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Em 1971, quando da primeira visita do Dr. Rondon Pacheco a Uberlândia como Governador do Estado, Angelino Pavan ganha um abraço especial Cora nasceu nos fundos da Livraria Kosmos. Aos 9 anos, começou a estudar música com dona Amanda Carneiro. Em 1943, foi para São Paulo estudar Geografia e História na PUC; Canto e Piano no Conservatório Dramático e Musical. Depois de formada, retornou a Uberlândia onde começou a lecionar Música. Isso em 1947. Dez anos depois, com a ajuda do pai, fundou o Conservatório Musical de Uberlândia, que hoje tem seu nome e foi doado ao Estado. Cora e Vittório tiveram três filhos: Cristina, Vitório Amilcar e Silvio Demétrio. Cora Pavan Capparelli não mede esforços para ver multiplicados na cidade os profissionais nas áreas de Música e Artes Plásticas, dois cursos superiores que fundou em Uberlândia.

Graças às suas iniciativas, a área musical na Uberlândia se desenvolveu excepcionalmente e ganhou também projetos maravilhosos como o Festival de Cordas e o Pró-música em concerto, que há anos vêm sendo realizados na cidade.

Angelino Pavan foi vereador em Uberlândia por vários mandatos, sendo que em 1958 foi o mais votado pelo PR Partido Republicano


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Museu Virtual

UBERLANDICES

U

berlândia é uma cidade relativamente nova, vai fazer apenas 132 anos de emancipação e 90 que passou a ter esse nome. Por isso, sua história, suas memórias estão aí para serem registradas e compartilhadas. O registro do presente é a memória do futuro. A importância e relevância do Museu Virtual Uberlândia vai além. Não só registra como armazena e disponibiliza via internet todo seu acervo. O museu virtual é um verdadeiro tesouro que oferece gratuitamente toda riqueza da história de uma cidade diferenciada, Uberlândia. Seus objetivos são: • Assegurar a perenidade dos materiais do programa “Uberlândia de Ontem e Sempre”, que há 15 anos registra as memórias históricas de Uberlândia. • Preservar e recuperar materiais de excepcional valor. • Disponibilizar registros importantes de Uberlândia.

Primeira turma de formandos da Faculdade de Engenharia, predominantemente masculina

Faculdade

“casamenteira”

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enésio de Melo Pereira, fundador da Faculdade de Engenharia, que antecedeu a criação da nossa universidade teve que enfrentar todo tipo de desafio para alcançar essa conquista. Teve que negociar com políticos, com autoridades do Ministério da Educação, com os padres salesianos que eram donos do imóvel que viria abrigar a escola, com professores que começaram a lecionar sem ter salário e por aí afora. Dentre tantos desafios, conseguir dinheiro para cobrir os custos foi um dos maiores. Dr. Genésio tirou dinheiro do bolso, correu livro de ouro, promoveu rifas, enfim, fez de tudo.

Relembrando a criação da faculdade contou que, certa vez, ao pedir uma doação a um ruralista foi questionado sobre a razão de criar uma faculdade aqui, sendo que a maioria dos alunos seria de fora. Bem-humorado e calmo, como era o seu estilo, ele perguntou ao fazendeiro se tinha filhas. A resposta foi que tinha sim, duas. Aí ele arrematou: - Se não vier gente de fora com quem elas vão se casar?”. O argumento convenceu, a doação foi feita. E, para o bem de todos, vários alunos que vieram de fora constituíram família em Uberlândia e hoje têm vida ativa na cidade.

O museu virtual é organizado em salas com nomes de patronos da nossa história. A cada semana é aberta uma nova, cujo conteúdo pode ser acessado na íntegra no site “museuvirtualdeuberlandia.com.br”. É uma iniciativa que nenhuma outra cidade brasileira possui, porque, além de levantar registros históricos semanalmente, produz novos conteúdos baseados em memórias e documentos.


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CULTURA

A arte no concreto cinza Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

Centro Cultural dá novo significado ao antigo Fórum

Assim que se tornou público que o Fórum de Uberlândia se deslocaria do centro para o bairro Tibery, pessoas do setor cultural ventilaram a ideia da antiga sede ser transformada em espaço artístico. Impulsionada por este anseio, a ideia foi levada a cabo pela secretária municipal de Cultura, Mônica Debs, que teve total apoio do prefeito Odelmo Leão. Foi necessário um escambo entre os governos do Estado e do Município, e agora, a arte passa a pulsar também no coração da cidade.

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uem imaginaria que, depois de quase meio século, o lugar que mediava conflitos e alterava destinos, se tornaria espaço de fruição das artes? As sentenças proferidas durante décadas pelos juízes, gradualmente, seriam substituídas pelo rufar de tambores, pelos acordes vocais e instrumentais, pelas leituras cromáticas e monocromáticas das artes visuais, pelos sonhos e viagens das obras literárias e pelos corpos e vozes consonantes e dissonantes dos artistas cênicos. Assim, a muralha fria de concreto cinza passa a ser aquecida pelas cores quentes das artes integradas e pelo desejo constante de se dizer algo por meio da arte.


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Foto do antigo Fórum de Uberlândia, na Praça Tubal Vilela, que, lamentavelmente, foi demolido pelo próprio Estado

Para entender um pouco desse presente, faz-se necessária uma visita rápida ao passado. No final do século XIX, em 1892, o Fórum começou a funcionar na esquina entre as ruas Marechal Deodoro e Vigário Dantas. Ali permaneceu até 1922, quando foi transferido para um suntuoso casarão na atual praça Tubal Vilela, edificação centenária, de linhas neoclássicas, imponente e muito bonito, que a cidade, lamentando, viu ser demolido em 1981, para dar lugar a um edifício de 12 andares que passou a abrigar a Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais e hoje a Secretaria Estadual da Fazenda. A inauguração do “novo” Fórum, no fim da década de 1970, foi recebida de modo festivo na cidade. Era uma obra suntuosa, de arquitetura moderna, no contexto de uma cidade ainda pequena, muito provavelmente em torno de 25% da população estimada atualmente. O conceito arquitetônico da obra trazia a proposta de um prédio suspenso sobre uma espécie de praça, um aprazível espaço de convivência não somente para os usuários do Fórum, mas também para os transeuntes. Contudo, esse conceito perdeu-se na nova configuração do lugar. Para dar mais espaço aos veículos de juízes, promotores, advogados e serventuários, a praça foi toda cercada e transformada em estacionamento, tirando um pouco da beleza conceitual proposta.

Um dos autores da obra, o arquiteto belo-horizontino Roberto Manatta, lamentou essa alteração no projeto original. Decepcionou-se um pouco quando viu a obra do Palácio da Justiça Rondon Pacheco/Forum Abelardo Penna, anos depois de tê-la criado. Para ele, a obra perdeu o seu sentido a partir do momento em que foi fechada para que o seu espaço de convivência se transformasse em estacionamento. O arquiteto apreciou a transformação do lugar em um centro cultural. Aprecia bastante saber do espaço tendo essa nova destinação. “Certamente, é a ocupação ideal e espero que traga de volta o conceito proposto originalmente na obra”, afirmou Roberto Manata.

do evento uma carta de intenções, na qual destaca-se: “...Considerando que sua arquitetura, localização e simbolismo cultural nos levam a refletir sobre sua capacidade de acolher novos programas e novos usos públicos sem o prejuízo e o desaparecimento de suas qualidades formais, seja bemvindo - Centro Municipal de Cultura!”. O material foi apresentado também para a Secretaria Municipal de Cultura, CDL, OAB, UFU, entre outras instituições. E, surtiu efeito. Atualmente, o Fórum está em seu novo endereço na avenida Rondon Pacheco .

Em novembro de 2017 foi realizado, pela Universidade Federal de Uberlândia, dentro do 12º Seminário Docomo Brasil (Documentation and Conservation Modern Movement), um worshop sobre a transformação do espaço no novo centro cultural, até mesmo com o propósito de provocar as iniciativas para viabilizá-la. A apresentação foi resultado de uma disciplina que teve este debate como tema, ao longo de um semestre, ministrado pelos professores Luiz Carlos Lu de Laurentiz e Maria Eliza Guerra. Com a participação de vários acadêmicos, arquitetos e afins, retirou-se

Primeira sede do Poder Judiciário em Uberlândia ficava na rua Vigário Dantas esquina com a rua Marechal Deodoro


15 Estrutura e funcionamento do novo espaço

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secretária de Cultura, Mônica Debs, explica que o Fórum permanece com parte do imóvel para o Arquivo do Acervo Processual e que a reconfiguração do espaço foi além da questão física para uma proposta conceitual diante da necessidade de uma mudança de visão sobre o local. Houve um esforço conjunto para a criação de ambientes de interação com a comunidade, como playground, academias populares, salas de oficinas práticas e teóricas, espaços para eventos externos, jardins com bancos para descanso e leitura, entre outros”, explicou. Mônica conta que a maior parte da administração da Secretaria Municipal de Cultura também está agora no novo espaço. A Secretaria foi com todos os servidores, além dos setores que antes estavam lotados em outros prédios da pasta como a Biblioteca Pública Municipal, a Diretoria de Cultura, o Gabinete da Secretaria de Cultura, a Banda Sinfônica Municipal de Uberlândia, a Diretoria de Memória e Patrimônio Histórico e a Diretoria de Igualdade Racial. Além desses setores, foram readequados os espaços para acomodar o Cine Teatro Nininha Rocha, Galeria de Arte Iolanda de Lima Freitas, Memorial da Cultura Afro-Brasileira Charqueada, Área Externa Pena Branca e Xavantinho. O espaço destinado às crianças conta com dois playgrounds, área externa e área interna com brinquedos e mesas para jogos (dama e xadrez) e, futuramente, uma pista de skate, lanchonete e um orquidário. A secretária informou que não houve nenhuma mudança na estrutura externa do prédio, fachada e volumetria, permanecendo os alambrados que cercam a edificação

e o acesso somente por pedestres, como era no antigo Fórum. Quanto à ocupação pelos artistas dos espaços expositivos de eventos no novo Centro Cultural, sua ocupação será realizada mediante Editais de Utilização, lançados periodicamente pela Secretaria Municipal de Cultura. Para Mónica Debs, o sentimento é de vitória, mediante tantos desafios, porque o processo de criação de um novo espaço esbarra em dificuldades de ordem financeira, estrutural e organizacional. “A ousadia dessa gestão em realizar esse feito permanecerá para toda a cidade, e em consequência, para o seu povo. Nosso orçamento acompanha a distribuição municipal e não deve haver alteração diferenciada por conta do espaço. Os novos espaços criados dentro do Centro Municipal de Cultura serão incorporados dentro da sistemática da Secretaria de Cultura.”

As expectativas sobre a ocupação do espaço A casa acabou de encontrar seus novos moradores. São múltiplos e de todas as vertentes culturais. Alguns fazem moradia permanente e de diário convívio, outros são apenas hóspedes esporádicos. Há desenhos que só surgem a partir da prática e da ocupação do novo espaço, que está sendo recebido com alegria e esperança pela população.

Aqui as expectativas de alguns destes sonhadores

“Acredito de verdade no potencial do novo Centro Cultural de Uberlândia. É a chance de ressignificar não só a história daquele lugar de tantos destinos marcados, mas também há

a chance de revitalizar a história da cultura em Uberlândia. O espaço fica no coração da cidade, dali podemos fazer florescer um movimento cultural nunca antes visto, e que o momento pede. Espero que o Teatro, das artes a mais completa, tenha um lugar de força ali, para fazer ecoar nosso corpo/voz/palavra.” Maria de Maria – atriz “O espaço é grande e imagino que mil coisas poderão ser lá. Torço que fique bonito, mais do que isso: um lugar coletivo e útil para a população.” Carlos Hugueney Bisneto jornalista “Um Centro Municipal de Cultura ao lado do terminal central é uma conquista muito expressiva que tem o caráter de suprir a lacuna de um espaço multiuso de acesso ao conhecimento, à produção cultural e à fruição das artes para a população em geral.” Marco Aurélio Querubim - Cia. Cultural EMCANTAR “Senti uma enorme satisfação por dois motivos: agregar novos espaços culturais é essencial para fazer da cidade um local mais prazeroso e sempre acreditei que turismo se cria. Sim, turismo! Acredito que esse objetivo também será atingido e ele é igualmente importante. Por que não agregar para nossos visitantes algo além de mesas de negócios e auditórios de palestras? E por que não fazer isso por meio do oferecimento de um espaço cultural em um prédio de tanta importância arquitetônica e histórica? Enfim, para além dos benefícios culturais, acredito que a cidade ganhou também um novo marco turístico.” Alexandre Henry - Juiz federal


16 “O prédio do antigo Fórum não poderia ter uma utilidade melhor do que a de se transformar em um Centro de Cultura. Primeiro, porque Uberlândia não tem nenhum lugar do tipo, depois, porque aquele imóvel é lindo, bem planejado, cheio de história, e, por último, porque vai ficar bem no coração da cidade, onde a arte deve pulsar.” Núbia Mota - jornalista

“Acho excelente a ideia de transformar o Fórum antigo da cidade em um espaço cultural com tantos talentos na cidade e região, com certeza vai ser um ponto de encontro dos amantes das artes e cultura.” Roberto Reis – empresário e apresentador de TV

“O Centro Municipal de Cultura é mais do que bemvindo nesse novo espaço onde funcionava o Fórum. Tem a capacidade para oferecer mais espaços cênicos em Uberlândia, o que é muito relevante num momento onde só há fechamento de espaços culturais e corte de projetos. E o mais importante, vai democratizar para a comunidade o acesso aos bens culturais. Bastará que haja vontade política de quem estiver trabalhando nesse novo espaço. Estou muito confiante nessa mudança.” Fernanda Bevilaqua – Artista/educadora, Studio Uai Q Dança

“Sempre é muito urgente termos novos espaços distribuídos para que toda a população seja atendida (sem privilegiados). Esse novo espaço é muito bem-vindo e que seja bem ocupado.” Eduardo Bernardt – produtor cultural

“A reunião de espaços variados e artes diversas em um centro cultural − no centro da cidade − é um modo de cultivar essa terra fértil chamada Uberlândia! Por meio da arte e sua habilidade singular de sensibilizar, alertar ou afagar, o centro cultural pode contribuir para que esta terra se fortaleça em sensibilidade e humanidade.” Valéria Martins - antropóloga

“Saber de um novo Centro Cultural em Uberlândia me enche de expectativa, pois é engrandecedor um espaço de fomento aos projetos locais, com as produções mais tempo em cartaz, contribuindo para a formação de público na cidade. Torço para que haja uma programação constante e diversificada, contemplando artistas e públicos distintos.” Guilherme Almeida – ator

“Tive contato com um texto escrito por Priscila Pacheco, “os espaços públicos, que preenchem com vida os hiatos urbanos, estão diretamente associados à construção do que chamamos de cidade e influenciam as relações que se criam dentro delas”, que se aplica muito bem à expectativa do pleno funcionamento do Centro Cultural.” Marcelo Mamede - gestor cultural

“A transformação do antigo Fórum de Uberlândia em um Centro Cultural não é apenas uma grande conquista da população e artistas da cidade, mas é também a legitimação da cultura como direito. Direito de acesso aos bens culturais e aos meios de produção desses bens. Além disso, esse novo equipamento cultural contribuirá para outras formas de ocupação do centro da cidade, gerando trabalho e renda para diversos profissionais.” Alexandre Molina - artista da dança e diretor de Cultura da UFU “Espetacular é a palavra certa para a junção de uma obra arquitetônica requintada e histórica com um espaço cultural. Nossa cidade precisa de espaços públicos para circulação da arte.” Susilene Feoli – atriz


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Caju, Carlos Humberto de Oliveira, atualmente se dedica à restauração de instrumentos de corda

PERSONAGEM

Carlos Humberto de Oliveira, CAJU Por JÚLIO C. DE OLIVEIRA

N

as décadas de 1940/50, consolidaram-se junto às camadas urbanas do Brasil diversos gêneros musicais estrangeiros. Nos shows e bailes do Cassino Oriental, Praia Clube, Uberlândia Clube, Flor de Maio e Caba-Roupa (Clube José do Patrocínio) tocava-se, ouvia-se e dançava-se bolero, rumba e cha-cha-cha.

Nos anos 1960, os veículos de comunicação de massa difundiram entre os jovens habitantes das cidades brasileiras novos gêneros musicais estrangeiros, em particular a produção musical dos Beatles e Rolling Stones. Em Uberlândia, as canções das bandas inglesas foram difundidas nos programas locais da antiga TV Triângulo, Canal 8: “Clube do Guri” e

“A Estrelinha Que Canta”, sendo esse último apresentado por Nalva Aguiar, naquela época, vendedora nas lojas Carlos Saraiva e cantora do Uberlândia Clube. A Rádio Bela Vista também corroborou nesse processo através de sua programação considerada, naquele período, de “pouca fala e muita música”. A esse respeito, o anúncio publicitário da Rádio no Jornal Tribuna de Minas, de 1966, é elucidativo: “Se você gosta de música estrangeira (The Beatles, Rolling Stones – Roberto Carlos – Byrds) sintonize a Bela Vista e ouvirá o dia inteiro”. Influenciado pelos Beatles e Stones, Carlos Humberto de Oliveira, vulgo Caju, apaixonou-se pela guitarra. Sozinho aprendeu a tocá-la. Como tantos garotos de seu tempo reproduzia “de ouvido” alguns riffs (pequena frase melódica que se repete constantemente) e solos de seus


“Em 1966, The Phantomas foi escolhido o melhor conjunto instrumental da cidade de Uberlândia”

guitarristas preferidos para depois tentar desenvolver suas próprias frases. Em 1962, Caju, Fausto Aguiar e os irmãos Sérgio e Gilberto Caixeta criaram o conjunto musical The Phantomas. Em Uberlândia, o grupo tocou inúmeras vezes na Vesperal Dominical do Caça e Pesca, Baile do Cometa do Praia Clube, Baile da Vespertina do Lions Clube, Baile do Colégio Inconfidência, no Hotel Presidente e nos programas locais da TV Triângulo acima citados. No entanto, era no Uberlândia Clube que a banda se exibia frequentemente. Segundo programação do clube, publicada no jornal Correio de Uberlândia de 1965, o conjunto apresentou-se no “Palácio Encantado” nas seguintes ocasiões: Soiré Dançante, com José Vicente E Seus Bossa-Blacks (Setembro/1965);

Caju ao lado de Serginho Caixeta e Fausto Aguiar, no ano de 1967, acompanhando a cantora Wanderléa em Uberlândia

Noite Festiva, com Nininha Rocha (Outubro/1965); na abertura do show de Cauby Peixoto (Outubro/1965). No Festival Música Popular Brasileira de 1966, promovido pela União dos Estudantes Secundaristas de Uberlândia (Uesu) e o Lions Carrijo, The Phantomas foi escolhido o melhor conjunto instrumental da cidade. Em 1969, o grupo se desfez. Nesse ano, Caju mudou-se para Brasília na doce esperança de sobreviver da música. Na capital do Brasil, percebeu que os artistas, em particular os que se dedicavam às atividades musicais, viam-se obrigados a trabalhar nas condições mais adversas para subsistir no mercado artístico. Diante dessa realidade, retornou a Uberlândia. Nos anos 1970, Caju tornou-se projetista, casou-se com Maria das Graças de Oliveira e com ela teve

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os filhos Cícerus, Rafael e Juliano. Entre 1978 e 1984, cursou Música e Artes Visuais na Universidade Federal de Uberlândia. Nas décadas seguintes, dedicou-se à produção do documentário Senhores Da Memória e a restauração de instrumentos de corda. Atualmente, Carlos Humberto de Oliveira toca esporadicamente sua guitarra nas festas de amigos e familiares. Contemporaneamente, continua sendo um cidadão que, ao lado de outros músicos, ajudou a compor o multifacetado cenário musical do Brasil e da Uberlândia dos anos 1960. Júlio César de Oliveira. Doutor em História Social pela PUC/SP. Autor do livro “Ontem ao luar: o cotidiano boêmio da cidade de Uberlândia (MG) nas décadas de 1940 a 1960”, Edufu, 2012.


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MOEDA EM ÓRBITA

O Estádio Municipal Parque do Sabiá foi palco de uma decisão inusitada e controversa

Por NEIVALDO SILVA, MAGOO

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o riquíssimo folclórico do futebol brasileiro, há um capítulo com cenário e roteiro improvisado no Estádio Municipal do Parque do Sabiá em Uberlândia, onde mesmo a cidade bem distante da Base de Alcântara e mais ainda do Cabo Canaveral (Base de Lançamento de Foguetes da Nasa – EUA), uberlandinos e uberlandenses acompanharam o lançamento de uma moeda, que desafiando a lei da gravidade, ao ser lançada para o alto, jamais caiu ou pousou no solo triangulino. Foi numa quinta-feira, exatamente, em 20 de outubro de 1983, que Brasil e Paraguai empataram pelo placar de 0 a 0, no Parque do Sabiá, pela Fase Semifinal da Copa América. O Brasil e o Paraguai tiveram um jogador expulso cada um: Andrade (Brasil) e Cabanas (Paraguai). Como as duas seleções haviam empatado no primeiro jogo em Assunção, o regulamento da competição determinava a realização de um sorteio imediato para a definição de quem iria adiante na competição. E ai entra o lado folclórico da história. O presidente da CBF à época era Giulite Coutinho, que convidara Castor de Andrade (presidente de honra do Bangu), um dos maiores bicheiros da história do país, para ser o chefe da delegação brasileira naquele jogo. Encerrado o jogo e com a necessi-

dade de se definir o finalista, jornalistas, dirigentes das duas confederações, representantes da Conmebol se aglomeraram na sala da administração do Parque do Sabiá, mais conhecida como a “Sala da Maria”, que era uma espécie de administradora do Estádio e onde ficava a parte burocrática do Sabiá e mais os braceletes, coletes de identificação distribuídos à imprensa e as chaves de todas as cabines de rádio e TV.

ram a tal moeda e tampouco se sabe se ela caiu com a “Cara” ou a “Coroa” voltada para cima. Só pra lembrar a seleção que levou a vaga no “Grito”.

Com Giulite e Castor posicionados na “Sala da Maria” e uma multidão de jornalistas se acotovelando em frente à porta, um dirigente da Conmebol apresentou uma moeda de 10 pesos argentinos, escolhida para ser um mecanismo imparcial envolvendo interesses de brasileiros e paraguaios. Ditas algumas palavras em bom “portunhol”, ele mostrou a moeda indicando que o Brasil seria “cara” e o Paraguai “coroa”.

Paraguai - Fernandez, Oscar Surián, Aldo Julian Florentín, Delgado e Toralez; Jacquet, Romerito, Carlos Cesar Olmedo e Gustavo Adolfo Benitez; Cabanas e Mendoza (Víctor Milcíades Morel)

Feito isso, ele lançou a moeda ao ar e até hoje ninguém sabe onde ela foi parar. Bem ao estilo “jeitinho brasileiro”, dois colegas de profissão; Cléber Leite (Rádio Globo) e Ronaldo Castro (Rádio Tupi), mal esperaram a moeda sair da mão do dirigente e quebraram o angustiante silêncio, berrando bem alto....”Deu Brasil, deu Brasil, deu Brasil!”. A plateia de jornalistas em coro saiu correndo, repetindo a classificação do Brasil e, até hoje, não encontra-

Brasil - Técnico Carlos Alberto Parreira, Emerson Leão, Mozer, Márcio Rossini, Leandro e Júnior; Andrade, Jorginho Putinatti e Éder Aleixo; Renato Gaúcho (Careca), Tita (Renato) e Roberto Dinamite

Árbitro: Juan Carlos Loustau (Argentina). Público: 48.433 pagantes

Apesar desta peripécia, o título daquela edição ficou com o Uruguai que venceu o Brasil por 2 x 0 no Estádio Centenário e arrancou um empate por 1 a 1 no jogo de volta na Fonte Nova em Salvador.


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A MULHER E A DISCRIMINAÇÃO Oscar Virgílio Pereira

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Município novo de Uberabinha trouxe do Império seus aspectos culturais, tradições e costumes. Entre os valores que aceitou e manteve como próprios do sexo masculino, veio o culto da valentia, da honestidade, do respeito, da ambição. ara lembrar aos munícipesa obediência religiosa devida, a transposição para a emancipação e para a República trouxe consigo uma grande e poderosa estrutura, movimentada nas celebrações rotineiras do dia a dia e nas ações solenes dos dias santificados. Para o sexo feminino, de modo especial, foi trazido o conjunto secular de normas que os doutores esculpiram, pelas quais a mulher deveria pautar a sua vida dentro da sociedade : a submissão, a resignação, a criatividade inibida, as ações contidas em receitas tão imutáveis como ainda são as receitas da cozinha e dos doces, que conservam os velhos ingredientes. A discriminação entre os sexos, no tocante à liberdade para agir dentro da sociedade conjugal, apesar de não estar formalizada em texto legal nenhum, era consagrada na doutrina e nos comentários dos juristas, em textos como este do renomado autor TRIGO DE LOUREIRA sobre uma natural submissão feminina à supremacia marital :

As mulheres restavam apenas trabalhos mais braçais e nada intelectuais “ Não poderia a sociedade conjugal subsistir regularmente se o poder de dirigir a família e reger-lhe os bens não estivesse concentrado em um só dos cônjuges. Sem esta criação surgiriam diariamente conflitos que, não achando solução pronta, entreteriam no seio da família perpétua perturbação. Desta necessidade resultou a formação do poder marital, cuja denominação provém de ter sido ele exclusivamente conferido ao marido, como o mais apto pelos predicados do seu sexo para exercê-lo.”

A aquisição de conhecimentos culturais, cercada de inibição, era permitida tão somente a algumas poucas filhas da classe dominante. Cultura sempre significou estímulo ao pensamento e a anseios de liberdade. Além disto, havia o receio de que as meninas alfabetizadas se comunicassem com namorados através de cartas e bilhetes, burlando a vigilância paterna e a materna. Os conteúdos de educação permitidos e acessíveis, relativos ao bom comportamento feminino, vinham expostos em obras doutrinadoras, que passavam de geração a geração, lembradas na escola, na


22 A discriminação era tanta, que não se viam mulheres nas ruas, na época ainda de Uberabinha

catequese, relembradas nos sermões e exaltadas nos solenes discursos que não faltavam em nenhuma cerimônia ou reunião festiva. As mulheres pobres, de um modo geral eram confinadas no cárcere escuro do analfabetismo. Sob a inspiração republicana, o primeiro dirigente municipal de Uberabinha, Augusto Cezar Ferreira de Souza instituiu salas de ensino para meninas e incentivou a matrícula destas, adotando um conteúdo comum e igual ao dos meninos, ao invés do que vigorava no Império, voltado para formação de moças donas de casa e submissas aos futuros maridos. Mesmo assim, sob inovador regulamento do ensino, a sociedade ainda se mostrava resistente. A modificação dos velhos costumes não aconteceria automaticamente, apenas por força de lei. Há que se identificar no cenário em que aconteciam essas transformações o exacerbado clima de confronto entre republicanos, monarquistas saudosos e católicos inconformados com o novo caráter de público e laico dado ao ensino no Brasil, clima este que se refletia intensamente em Uberabinha. Durante muito tempo após a emancipação do Município, qualquer conduta que se desviasse do trivial limitador ainda era punida com rigor exemplar, através de castigos absurdos, mas aceitos como normais pelas autoridades. Assim, por exemplo, entre outros tantos, foi o caso da velha benzedeira Maria Rosária de Jesus, ex-escrava, que por suspeita de feitiçaria, foi espancada barbaramente por jagunços a mando de um fazendeiro, no ano de 1893. Outro fazendeiro,

João Borges de Araujo, cidadão de prestígio, tomou as dores da ofendida e exigiu que os agressores e o mandante fossem punidos. Devido a essa pressão, um processo foi instaurado e o agressor levado ao Conselho que Sentença, que, simplesmente, considerou os envolvidos todos inocentes. Temendo por sua vida, a ofendida fugiu de Uberabinha. Fato muito significativo na aplicação de conceitos republicanos à instrução pública foi a presença feminina nas instituições de ensino , tanto públicas como particulares. A partir de 1906 surgiu esta regra estadual : “as escolas públicas primárias serão de preferência regidas por professoras e sempre por estas as do sexo feminino e mixtas”. A “feminização” do ensino primário na formação de mestres foi depois reafirmada quando o Decreto n° 2.836, de 1910, determinou que “as escolas normaes, sob a forma de externatos, serão frequentadas exclusivamente por alunas”. Como já foi muito bem lembrado por autores abalizados, as razões dessa escolha do Governo, aparentemente concedendo um privilégio à mulher mineira, foram na verdade uma sagaz discriminação conservadora, aliada a conveniências econômicas, visando atribuir às professoras salários menores que seriam os dos homens.1 Talvez seja por isto que até hoje a remuneração das mestras do ensino básico é mantida em níveis incompatíveis com a importância da tarefa. Esta tem sido a contribuição da mulher ao benefício de sua inclusão no mercado de trabalho ... O certo é que a regra se firmou em todo o Estado de Minas Gerais, tanto assim que em 1913 a proporção entre homens e mulheres no magistério

primário era assim : MULHERES : 75,1 % HOMENS : 24,9 % Em Uberabinha os princípios da feminização do magistério primário foram acatados e bem cumpridos, e sua implantação se deu com apoio não só do Poder Público Municipal, como tiveram até formulação jurídica e filosófica bem desenvolvida pelo maçom Professor Honório Guimarães. O povo, destinatário de tudo, não se manteve alheio a essas reminiscências conservadoras mantidas pelas cúpulas dirigentes : assim como acontecera na abolição de escravatura, surgiram questionamentos sobre ser ou não justa a manutenção da supremacia masculina sobre a mulher. Assim brotou não somente a consciência feminista, não aqui, mas em várias regiões Estado. O desabafo da jovem Bianca Adjuto Botelho, poetisa de Paracatu retratou o sentimento geral feminino perante os costumes opressores: Idéias pequenas, Vida apequenada. Preconceito. Malícia. Horizonte pequeno – Tudo horrivelmente pequeno. Curto. Abafado. Que vontade de respirar o ar do alto, O vento dos horizontes abertos Voa, minha alma! Voa! Voa alto! por cima de tudo ! Queria que você se destendesse como um elástico. E crescesse, Crescesse até abarcar o mundo. (Bianca Adjuto Botelho, poema “Cidade pequena...”, in Simplicidade, Paracatu, 1937)


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Ainda não foi estudado o efeito, sobre a condição feminina, do incentivo de acesso das jovens uberabinhenses à instrução dentro de um processo executado por mulheres. Sabe-se que a proibição de estudar foi abrandada com o correr do tempo, tanto no meio urbano como no rural. Muitos pais passaram a apreciar o status trazido pela condição das mestras e passaram a ver com bons olhos o despertar da vocação de suas filhas : todas queriam ser professoras! Ao mesmo tempo, começaram por várias formas e em toda parte ações isoladas típicas do sentimento libertário que se formava e que em poucos anos deixaria o âmbito individual para concepções maiores, como exigir o direito de voto, o que seria alcançado na década de 1930. As protagonistas de certos acontecimentos provavelmente não se deram conta de como foram importantes e decisivas suas atitudes para demolição daqueles costumes seculares que oprimiam a mulher, nem de como foi grande a dimensão da coragem e da sensibilidade das pioneiras insurgentes. Alguns episódios iniciais que mereceram registro indicam forte identificação do ensino com o progresso, gerando várias formas de enfrentamento que passaram dali por diante a abalar a discriminação medieval. Um caso notável foi o de D. Maria Constância de Novais Bino : ela desafiou os poderes locais, quando os fiscais da Câmara, no dia 20 de maio de 1899, apreenderam uns carneiros seus que pastavam na rua. Sentindo-se discriminada por ser mulher e viúva, pois os animais de outros donos andavam livremente pela vila, ela chamou algumas companheiras e

juntas arrombaram o portão do curral do Conselho e recuperaram os carneiros. O Coronel Severiano Rodrigues da Cunha, Agente Executivo, requereu ao Delegado de Polícia abertura de processo, tendo sido logo realizado por peritos o laudo pericial. Foram ouvidas testemunhas que confirmaram o arrombamento e a soltura dos bichos. O Promotor ofereceu denúncia no dia 26 de junho, pedindo a condenação da ré. Esta, em clara postura de desafio, nem sequer atendeu as intimações e não compareceu a nenhuma audiência. Uma das testemunhas , fiscal da Câmara, declarou: “a ré disse a ele depoente que ele tinha apreendido os carneiros dela mas que tinha mandado soltar e mandaria soltar quantas vezes fossem presos.” O Juiz de Paz, substituindo o titular da Comarca, lavrou seu despacho em 22 de setembro. Entendeu que a infração não configurava o crime invocado na denúncia, e que “só seria a denunciada passível de pena por infração de posturas municipais, cujo processo segue outro curso que não o do caso vertente.” Assim sendo, o magistrado considerou a denúncia improcedente e recorreu de seu despacho para o titular, Dr. Manoel Lacerda, que anulou o processo por inteiro e ainda condenou o Estado ao pagamento das custas . Aquele desfecho teve caráter emblemático e foi um recado que o Poder Judiciário mandou aos homens do arraial: a Justiça não seria sustentáculo do costumeiro tratamento de culpa presumida que ali se costumava dar às mulheres e sempre de razão presu-

mida dado aos homens . A presença feminina na edição de produções literárias foi uma forma de competição com os autores masculinos, invadindo um espaço dentro da sociedade considerado tradicionalmente como exclusivo do sexo masculino. Conforme apurou com muito brilho a Profa. Jane de Fátima Silva Rodrigues 2, o movimento feminista trouxe lideranças femininas de outras plagas para fortalecer a campanha : em 1906 a visita da executiva Camilla Jeudy, representante da Companhia de Seguros Sul América; em 1912 veio para um recital a poetisa goiana Leodegéria de Jesus; e em 1923 veio a romancista gaucha Andradina de Oliveira, feminista militante, que, falando de improviso, empolgou a platéia lotada do Cinema com uma palestra intitulada “A Mulher não é Inferior ao Homem”. Através de produções em prosa e poesia no conquistado território dos homens, elas resolveram construir as suas próprias fortalezas. Criaram sociedades e grêmios, como o Grêmio Feminino e Literário de Uberabinha, o Grêmio Recreativo e Literário de Uberlândia, a Sociedade Musical de Uberabinha, onde pontificaram muitos talentos locais. Todas essas manifestações femininas – tanto as de ordem prática, quanto as literárias e os questionamentos – tiveram seu nascedouro no ensino de primeiro grau da República, quando elas passaram a ter liberdade para pensar. *Do livro em preparo “ PENSAMENTOS Proibidos, Política e Repressão na Uberlândia Republicana - Fontes : Processos n° 318(1893) e n° 113 (1896) da Comarca de São Pedro de Uberabinha


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REGISTRO

TUBAL VILELA EO SERVIÇO DE ÁGUA Por JORNAIS DA ÉPOCA, JOSÉ PEREIRA ESPÍNDOLA

Os gritos da oposição, os jornais achando que o gasto era demais, nada tirou o prefeito do seu propósito

Início das operações das caixas d’água do bairro Aparecida, próximo ao antigo Estádio Juca Ribeiro, em 1954, último ano do governo municipal de Tubal Vilela da Silva

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O sistema de abastecimento de água da cidade, implantado pelo prefeito Tubal Vilela da Silva (1951/1954) foi considerado, à época, o maior e mais perfeito do Estado de Minas Gerais. A remodelação e ampliação do sistema antigo foi a plataforma do candidato. Eleito e empossado, Tubal enviou projeto de lei à Câmara pedindo autorização para um empréstimo inicial de 29 milhões de cruzeiros para cumprir sua promessa. O abastecimento suficiente sempre andou pela cabeça dos nossos governantes, desde Augusto César, o primeiro prefeito, que

já imaginava um desvio da água do Uberabinha, à altura da Fazenda da Estiva para suprir a cidade. José Fonseca e Silva percebeu que o abastecimento não andava bem e tentou fazer alguma coisa. Não conseguiu dinheiro e as máquinas que o governador Milton Campos lhe enviou para furar poços artesianos não fizeram nada. Tubal tomou o pião na unha Os gritos da oposição, os jornais achando que o gasto era demais, nada tirou o prefeito do seu propósito. Quem mais o atacava era o “Correio de Uber-


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Tubal Vilela, com o então vereador Geraldo Ladeira, (ambos de terno branco), entrega água aos moradores do Centro de Uberlândia

lândia”, órgão explicitamente udenista. Tubal era do PSD. Autorizado o empréstimo, a prefeitura abriu concorrência, entregou o serviço ao vencedor e, quase no fim do seu governo, Tubal inaugurou a obra que marcou sua administração. Antes dele, captava-se água apenas no córrego Jataí. Obra do prefeito Vasco Giffoni. A captação era de 2 milhões de litros por dia com um reservatório de 360.000 litros. Tubal captou no Lagoinha, no Jataí e no São Pedro. Chegou a ponderar o uso do Uberabinha, mas o custo subiria demais. Trocou a canalização antiga e construiu mais dois reservatórios elevados entre as avenidas Floriano Peixoto e Cesário Alvim. Foi obrigado a tomar mais oito milhões emprestados e suportar a gritaria do “Correio”. O córrego Jataí continuou sendo básico no fornecimento da água. Ele possuía três vezes mais capacidade que os outros dois juntos. O novo serviço previa atendimento a uma população de até 100 mil habitantes. Como a cidade possuía em torno de 30 mil apenas, calculou-se que o sistema resistiria 30 anos. Mas Uberlândia costuma transformar previsões de desenvolvimento em largos equívocos. Com apenas quatro anos,


26 O reservatório elevado, que era para 360.000, com a construção dos outros dois, saltou para quatro milhões e trezentos e sessenta mil litros

No cruzamento da rua Olegário Maciel com a av. Afonso Pena, povo de Uberlândia vibra com a chegada da água do Tubal em 1954 o sistema necessitou do reforço do Glória, implantado pelo prefeito Geraldo Ladeira. O que não invalidou o trabalho do Tubal. O sistema implantado por Tubal quadruplicou a captação que saltou de 2 para 8 milhões de litros/dia. O reservatório elevado, que era para 360.000, com a construção dos outros dois, saltou para quatro milhões e trezentos e sessenta mil litros. Antes da inauguração fizeram testes e algumas tubulações arrebentaram. A oposição dizia que era serviço malfeito. Inaugurou-se o novo serviço em 25 de setembro de 1954, ainda não totalmente concluído. Naquele dia, a cidade acordou espantada pelas fortes bombas que estouraram a partir das três e meia da madrugada. Em seguida, um foguetório incessante que se

estendeu por toda a manhã. Depois, veio a inauguração oficial em que Tubal falou na possibilidade de instalar hidrômetros. Houve desfile escolar e passeata mostrando os equipamentos adquiridos. A cidade forrou-se de uns papeizinhos coloridos que saudavam o novo serviço. Por fim, Tubal mandou abrir as torneiras dos elevados para que a água escorresse pelas ruas, providência esta que, 20 e tantos anos depois, Renato de Freitas repetiria para inaugurar a captação na Sucupira. O “Correio”, como não tinha nada a criticar, disse que escorreu mais barro do que água pelas ruas. No entanto, era o maior e melhor serviço de água do Estado. Os seus elevados, bem como o menor, construído pelo Vasco Giffoni, estão lá, úteis até hoje...



MESTRE

IVAN

O decano do jornalismo polĂ­tico na cidade


ENTREVISTA IVAN SANTOS Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

O

jornalista Ivan Santos não é apenas um nome na lista dos profissionais que fizeram história na imprensa de Uberlândia. Ele trabalhou na maioria dos veículos de comunicação da cidade e tornou-se referência no setor de comunicação social. Ágil e articulado nos bastidores políticos, é capaz de prever acontecimentos com meses de antecedência. Com a humildade e modéstia que todo jornalista deveria ter, nunca gostou de aparecer. Em tempos de instantâneas celebridades jornalísticas foi ainda mais difícil fazer de Ivan Santos um entrevistado, pois ele sempre acreditou que jornalista não é notícia. Acompanhando de perto a evolução do jornalismo, é um homem conectado às redes sociais e atento aos acontecimentos, sobretudo os políticos. Seu olhar crítico, às vezes ácido, não raro desagrada à direita, à esquerda e quase sempre a ambas, na defesa inflexível do exercício da profissão com ética, bom senso e responsabilidade. Conheça a seguir um pouco do pensamento deste jornalista exemplar.


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Quando o senhor começou eram tempos mais difíceis para os jornalistas? A imprensa da época tratava principalmente de comentários sociais. Os representantes das famílias tradicionais locais eram temas dominantes nos jornais. Cheguei no Triângulo Mineiro em 1972. Desembarquei em Uberaba, cidade recomendada pelo jornal O Estado de São Paulo para ser minha base operacional. A missão: acompanhar a implantação do projeto Polocentro, idealizado pelo governo de Rondon Pacheco para transformar terras improdutivas de cerrados em campos de produção agropastoril. Um professor da Escola Agrícola Luiz de Queiroz (SP) disse, na ocasião, que tecnicamente era possível reduzir a acidez das terras de cerrados, mas que era economicamente inviável. O então secretário de Agricultura de Minas Gerais, Alysson Paulinelli, garantiu que a produção nos cerrados não teria prejuízo. Descobri Uberlândia em março de 1973 e percebi que o centro das operações econômicas do Triângulo não era Uberaba. Em maio de 1973, mudei-me para a cidade. Acompanhei a chegada dos paranaenses e paulistas que compraram terras de cerrado em Araguari, Monte Carmelo e Patrocínio a US$ 20 o hectare, para plantar café. Depois vieram os gaúchos que se instalaram em Iraí de Minas para plantar soja. Foi uma reforma agrária capitalista, comandada e executada pela equipe econômica do governador Rondon Pacheco. O reboliço cresceu em Uberlândia

Ivan Santos na redação do Correio de Uberlândia

Acima: Mestre Ivan Santos ladeado pelos jornalistas Wallace Torres, Cesar Honório, Manoel Serafim, Dolores Mendes, Arthur Fernandes, Pedro Popó, Antonio Pereira e atrás, Rick Paranhos. Ao lado: Na redação do Correio com Helcio Laranjo, Liza Prado e jornalistas


“ O Polocentro e a UFU mudavam a cidade e a imprensa local permanecia em um conservadorismo mórbido”

com a implantação da universidade. A chegada de professores e técnicos foi importante para mudar o modelo de sociedade conservadora da cidade. Os jornais nada perceberam e continuaram a destacar cenas sociais sem mais importância. Só a TV Triângulo dava sentido profissional às informações. Também tinha qualidade o “Jornal Falado Educadora”, da Rádio Educadora.

Ivan com o jornalista Luiz Fernando Quirino

No ar. Ivan foi editor e apresentador do “Bom dia Triângulo” por oito anos

Foi então o jornalismo que fez o senhor permanecer? Quando o Estadão determinou minha volta a São Paulo, não quis voltar porque decidira me acomodar por aqui. Gostei da cidade. Trabalhei como vendedor de seguros, vendedor comercial e voltei ao jornalismo num jornal artesanal, a “Tribuna de Minas”. Consegui também trabalho em “O Triângulo” onde iniciei, em Uberlândia, a cobertura de fatos políticos com viés crítico. Fui censurado várias vezes e até identificado como “comunista perigoso”. Os dirigentes do jornal decidiram me manter na redação e assim comecei a me fixar como jornalista. O Polocentro estava mudando radicalmente; a matriz econômica da região e da cidade, a universidade promovia uma revolução na cultura, mas os jornais e emissoras de rádio locais nada percebiam e permaneciam movidos por um conservadorismo mórbido. O que mais o impressionou desde que chegou a Uberlândia?

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A transformação social impulsionada pela implantação da universidade e a chegada à cidade de outras faculdades isoladas. O ensino superior atraiu gente de classe média do Brasil inteiro para Uberlândia. O movimento mudou o modo de ser dos uberlandenses e criou uma sociedade “uberlandina” democrática e progressista. Como foi editar e apresentar o “Bom Dia Triângulo”? Para mim foi uma experiência impressionante. Transformeime, sem segurança própria, depois de muito esforço, longas horas de treinamento e experimentações, em redator, editor e apresentador de um telejornal por oito anos. Fui aproveitado pelo conhecimento e experiência que tinha em coberturas de fatos políticos. A TV Triângulo, por meio da revelação de várias lideranças regionais no “Bom Dia Triângulo” e em outros telejornais, foi parceira ativa para que o Triângulo e o Alto Paranaíba elegessem 17 deputados constituintes e um senador, a maior setorial em toda a história de Minas Gerais. Como foi conviver com o fim do Correio? Fui para o jornal convidado pelo jornalista Tão Gomes Pinto para organizar uma “cobertura política leve”. Fiquei muitos anos como freelancer até a publicação fechar. O Correio tornou-se um empreendimento deficitário e não oferecia perspectiva de mudanças no futuro porque os leitores


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mudaram rapidamente para a internet e para a comunicação nas redes sociais. Era um modelo condenado a desaparecer. Quando deixou de circular, não me surpreendi... Senti como a perda de um ente querido. Como se deu sua relação com a Aciub? Foi simples. Luiz Fernando Pucci, então presidente da Associação, lançou um programa de incentivos econômicos, monitorado pela Universidade de Montpellier (França), conhecido como Tecnópolis. O projeto foi mantido pelos presidentes seguintes, Dilson Dalpiaz e Geraldo Caixeta. A intenção era divulgar a Tecnópolis de Uberlândia no Brasil. Fui convidado para esta missão. Com o tempo, a ideia de globalização da economia substituiu a Tecnópolis – que era uma sofisticada incubadora de empresas – por startups. Os outros presidentes da associação me mantiveram como assessor para Assuntos Políticos. O senhor acompanha a evolução da tecnologia e hoje é bastante conectado ao mundo virtual... O jornalismo brasileiro, para mim, está em transição. Vejo esta mutação nas principais empresas jornalísticas que já perceberam que não tem mais sentido gastar com papel, tinta e logística de distribuição para publicar jornais impressos. Todos os grandes jornais fazem hoje experiências editoriais com o desenho do modelo impresso para levar leitores tradicionais

Acima: Ivan Santos e Odelmo Leão, prefeito de Uberlândia

Ao lado: Lançamento do livro “Texto, Contexto e Entrelinhas”: registro da atividade de colunista político


“ Quando o Correio de Uberlândia deixou de circular, não me surpreendi... Senti como a perda de um ente querido”

para a internet. É um exercício, uma experiência fascinante. Os textos virtuais ainda se parecem com os formatos analógicos clássicos: extensos, densos e com expressões obscuras para a geração de leitores com menos de 40 anos. Mas, muita gente já se acostumou com os 140 caracteres do Twitter.

Ivan Santos: “Não consigo imaginar como será o jornalismo nos próximos dez anos”

O que o senhor acha da obrigatoriedade do diploma e das faculdades para a formação de jornalistas? Sou defensor dos cursos de Jornalismo, indispensáveis para a formação profissional, mas acho que os currículos precisam ser mudados e adequados à transformação por que passa o relacionamento humano em todo o mundo. Considero a exigência de diploma uma reserva de mercado para diplomados em Jornalismo. Sempre defendi uma formação superior qualquer e uma especialização em editoração para o exercício do jornalismo, sem a necessidade de diploma específico. Mas o registro no Ministério do Trabalho,criado para controlar jornalistas pelos governos militares, foi extinto recentemente de forma intempestiva pelo presidente Bolsonaro. Sempre defendi o fim desse registro, mas apenas depois da criação de uma Ordem Profissional dos Jornalistas, como é hoje a OAB dos advogados. Como fez o presidente Bolsonaro, por Medida Provisória, foi uma aberração. Se o Congresso não revogar esta

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MP a profissão de jornalista não existirá mais. E a sensação de produzir um livro? Não produzi um livro. “Texto, Contexto e Entrelinhas” não é uma criação literária. Reuni alguns dos textos que escrevi para o “Correio de Uberlândia” e os publiquei em formato de livro. Foi uma republicação de fatos, ocorrências ou vivências divulgadas na forma de comentários jornalísticos. Para mim, o “livro” recém-publicado é apenas o registro de um momento da minha atividade profissional. Há um jeito novo de se fazer jornalismo ou mudou apenas o formato e a dinâmica do tempo de recepção da notícia? Percebo que a comunicação social está em transição em todo o mundo. As pessoas não prestam mais atenção ao noticiário de televisão, de rádio ou impresso. Todas as atenções estão voltadas para a internet. O encanto das pessoas mais jovens (de menos de 40 anos), é por ocorrências fantásticas, verdadeiras ou não, veiculadas nas redes sociais. Também não comentam consequências de ocorrências e misturam alho com bugalho, com opiniões e conclusões pessoais. Alguém já disse que o modelo de comunicação jornalística no Brasil está fossilizado. Ou muda ou morre. O jornalismo está numa transição e não consigo imaginar como ele será nos próximos dez anos.


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Dr. José Olympio de Freitas Azevedo, ícone da medicina uberlandense

TRIBUTO

JOSÉ OLYMPIO DE FREITAS AZEVEDO, um senhor doutor! Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

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e uma família de marcante atuação na política e na vida de Uberlândia e região, José Olympio de Freitas Azevedo é unanimidade como um dos maiores responsáveis pela conquista da Faculdade de Medicina de nossa cidade. Rondon Pacheco, autor da ementa da sua constituição, reconhecia isso: “Muitos foram os que ajudaram nessa conquista tão desejada pelo povo uberlandense, mas, dentre eles, sem a menor dúvida, o dr. José Olympio merece um reconhecimento especial”. Nasceu em Uberaba (MG), no dia 24 de agosto de 1936. Formou-se na cidade do Rio de Janeiro pela Universidade Federal Praia Vermelha. Em 1960, casou-se com Línia Rezende Azevedo. Tiveram quatro filhos, Marila, Murilo, Viviane e Flávio, que lhes deram dez netos: Carolina, Luana, Sasha, Igor, Ana

Isa, Pedro Henrique, Julia, Ana Flávia, Antonio Murilo e João Murilo e dois bisnetos, Tomaz e Maria Tereza. Começou a carreira médica no Rio de Janeiro atuando como cirurgião geral em 1962 no Hospital Souza Aguiar e no Hospital de Clínicas. Em 1963, fez especialização em cirurgia plástica com o prof. Ivo Pitangui. Em 1969, com o prof. Malbec, em Buenos Aires e, em 1972, no Queen’s Victoria Hospital na Inglaterra. É mestre pelo Centro de Formação Superior de Administradores da Câmara do Comércio e da Indústria – Paris, desde 1983. O dr. José Olympio é cofundador da Maternidade, hoje Hospital Santa Clara. Em 1966, foi escolhido presidente da comissão coordenadora para implantação da Faculdade de Medicina em Uberlândia. É um dos principais

responsáveis por sua existência. Afirmou na ocasião:“Agradeço a confiança em mim para presidir esta comissão e tenho fé na concretização desse empreendimento. Espero contar com todos por ser esta uma campanha de toda a cidade, de todos os médicos, sem espírito de grupo, sem intenção de proveito pessoal, com a finalidade única de servir à cidade, servir o Brasil”. O médico, também fundador da Faculdade de Medicina, Hermilon Correa tinha a maior admiração por ele: “o dr. José Olympio é uma figura extraordinária. Um médico da maior dignidade; um ser humano admirável, de uma integridade ímpar”. O pediatra dr. Norival Gomes Rodrigues também é só elogios a seu respeito. “Conheci o José Olympio quando era garotinho e sua família morava na rua Santos Dumont. Era aquele menininho que sempre tive vontade de ser. Hoje posso afirmar que não há médico e pessoa mais digna, mais honrada do que ele.” O dr. José Olympio exerceu os cargos de diretor da Faculdade de Medicina de Uberlândia, do Hospital Universitário, pró-reitor de extensão, pró-reitor de planejamento da Universidade Federal de Uberlândia e atuou também na Secretaria de Educação da Prefeitura de Uberlândia.


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Houve várias situações de cuidados com outras pessoas que só vim saber depois que ele adoeceu Sua filha Marila Rezende Azevedo descreve, com carinho e sensibilidade, essa figura notável da vida de nossa cidade. “Pensar no meu pai é fácil, é acolhedor, suscita em nós filhos as melhores sensações. Sua mentalidade, suas crenças eram de muita positividade, porém ele se ocupava em demasia com o transcorrer dos fatos. Ele era muito intenso. Mergulhava em cada projeto, em cada decisão. Nos ensinou a importância de dar significado às coisas, aos atos, a ser apaixonado pela natureza, pelas crianças, pelos idosos. Quando crianças, eu e meus irmãos Murilo, Viviane e Flávio, éramos levados por ele para apreciar as cores do pôrdo- sol. Ele então nos mostrava a beleza desse horário para a melhor fotografia. Gostava de sentar no banco em frente à casa da fazenda ao entardecer pra receber aquela cor laranja, que dourava tudo a sua volta. Estava ali, lindo, forte, pleno, tranquilo, um pé apoiado no chão e outro no banco, as costas encostadas na parede branca descascada. Nossa, esse é meu pai, eu pensava. Coração da gente latejava. Hoje entendo realmente o processo de quando se sente o amor, o coração aumenta o volume de sangue literalmente, biologicamente e incha de felicidade. Isso era a paz. Ele conseguia encantar séquitos de crianças, sobrinhos, amigos constantes a sua volta, e a

Com a esposa Línia, amor que teve começo e permanece cada vez mais forte melhor forma que encontrava para desacelerar-nos era contar ou pedir uma contação de história, ou então cantar, ou pesquisar a evolução, os movimentos dos insetos, da rã, dos girinos no córrego, das flores e frutos do cerrado, catar vagalume e guardar na caixinha de fósforo preparada antes do anoitecer e depois abrir a caixinha para soltar todos juntos de uma vez pra vê-los acender a luz fosforescente em contraste ao breu. Encantamento!!!! Ele e tia Martha eram encantadores de criança. Sempre havia uma observação vinda deles importante a se escutar. Eles estimulavam pesquisa de campo, procurar borboleta, bruxa, mariposa; ué mas não é tudo igual.??? Lembro do papai se rastejando com todo seu corpo estendendo seus braços dentro de buraco de cobra num esbarrancado pra tentar salvar um carneirinho. A meninada chorando em volta, até poder urrar de alegria ao sinal do rabinho dele frenético surgindo do barro. Que alegria! Assunto pra semana, mês, anos….muita história pra contar. Tinha o sonho de morar em frente à praia e escrever livros e receber a netaiada nas férias…. Havia várias situações de cuidados com outras pessoas que só vim saber depois que ele adoeceu. Cuidador da família. Um agregador.

Um lutador e defensor do outro com uma característica marcante de ter o grau de empatia polivalente. Ele fluía em multitarefas sem problemas por estar num nível de um ser humano extraordinário. Sem pequenez. Nunca tolerou a injustiça e isso o fazia enfrentar os debates, defender a verdade e a quem dela precisasse. Com conteúdo e muito espirituoso. Alegre, cativante. Voz grave como a do meu irmão, a noção da estrutura da oratória, Homem de retidão, sonhador com inúmeras realizações. Realizações silenciosas e retumbantes. Ele pra mim era superlativo. Um homenzarrão. Expressivo com a palavra certa, articulado com vocabulário extenso. Fazia questão de deixar claros seus compromissos profissionais, mas que


37 José Olympio, a esposa Línia e os filhos Murilo, Flávio, Viviane e Marila

podíamos (família) ficar tranquilos que ele sempre seria o primeiro a chegar em qualquer circunstância para aliviar nosso fardo. Lutou sempre pelo outro. Pra mim e meus irmãos e minha mãe um porto seguro de muito aconchego e luz. Nunca desistiu de nós. Deu exemplos concretos do valor do outro, para que fizéssemos o bem não importasse a quem. Temos inúmeros casos de experiência extraordinária com ele. Como nos levar para visitar as crianças no Hospital Santa Clara, no centro de queimados da UFU, ver um parto normal. Levar eu e meus irmãos Murilo e Viviane às visitas na obra da construção do hospital escola, desde sua fundação. Meu pai foi um visionário e sabia muito bem executar. Foi um excelente mediador, dedicado e teve um período da história de Uberlândia em que ele teve ressonância com a comunidade numa confluência de energia e vontade de transformar a cidade. Torná-la independente na questão de formação no ensino superior, queria possibilitar à região o acesso à educação formal. Sonhou durante o Curso de Medicina com uma Faculdade de Medicina e hospital-escola para os jovens de Uberlândia e região se formarem médicos para promover e distribuir saúde aos seus cidadãos. Sonhou e concretizou seu sonho junto a amigos, colegas de profissão, comunidade e empresários que acreditaram na realização desse projeto. Surgiu, então, a Faculdade de Medicina de Uberlândia.

Proporcionava tempos maravilhosos de aprendizado informal, leitura, viagens, passeios. Só planejava viagens incluindo os filhos onde quer que fosse. Ainda hoje para os que com ele convivem, todos os dias são de aprendizagem. São dias de emoção, de lágrimas escorrendo em seus olhos, de bocejos, de sorrisos identificados quando um neto bebê fica a seu lado, quando seus olhos se direcionam e alcançam os nossos. Entendemos, então, que ele ainda está muito vivo entre nós e em nós. Com certeza se cada irmão, amigo, paciente ou aluno sentar pra relatar um caso extraordinário das atitudes de meu pai, um livro seria pouco. Somos democráticos, cada qual fala mais alto. “Nossa família é muito unida, mas também muito ouriçada. Briga por qualquer razão e acaba pedindo perdão.” Somos plurais como um mundo. Brinco que somos um minimundo, rico e animado, trágico e cômico. Temos nossas dores e dúvidas, como meu pai que nos demonstrou a importância de limites que é algo difícil de ser interpretado. Nos deu exemplo de compostura, postura, de como cuidar do outro sem distingui-lo, sem constrangêlo. Pra se ter uma ideia de sua seriedade, ele começava assim, quando observava uma alteração dos ânimos ou quando escutava uma típica fofoca: “Sou dono do meu silêncio e escravo das minhas palavras!! “ Retirava-se do local. Daí era um silêncio, todo mundo mudo, entreolhando-se sem graça...

Meu pai é primo de primeiro grau de Renato de Freitas (o pai, tio Aristides, era irmão mais velho da minha avó Joaninha), os dois com espírito empreendedor foram companheiros de metas, meu pai era seu admirador. Foi influenciado e deve sua formação na graduação ao tio Josias, médico e professor da Faculdade de Medicina da UERJ. Morou com ele e com ele aprendeu técnicas cirúrgicas, aprendeu abordagens humanísticas para conectar com seu paciente, seus alunos. Aluno do professor Ivo Pitangui, papai foi o primeiro cirurgião-plástico de Uberlândia, com foco em cirurgia reparadora. Escreveu contos de sua vida no Rio. O melhor de tudo pra nós é ter a garantia que sempre fomos amados com intensidade e segurança. Ele sabia escutar as dores. Muito lúcido e entendedor dos sinais. Amigo de Chico Xavier desde criança, amigo de Divaldo Franco (fez o casamento de meus pais). Mas toda essa trajetória só foi possível pela abnegação e amor incondicional de minha mãe. Expressados a ele todos os dias pelo seu carinho e amor nos olhos e no coração. Até hoje, se entendem com o olhar. Tiveram suas vidas rodeadas por família numerosa, muitas comemorações, contendas, perdas, ausências, conflitos, mas a característica da solidariedade em nossa família é muito forte. Dentre os irmãos o vejo como o mais coerente e conciliador, inclusive com sua posição sobre a realidade conflitante dos fatos. Numa certa etapa da vida, ainda jovem, fez uma reavaliação, um retrospecto e teve a certeza de seu caminho do bem pelo bem sem a necessidade do poder que aniquila mentes e sonhos.


38 “ De Martha para Jofa com todo carinho” Jofa é José Olympio de Freitas Azevedo, meu irmão mais velho. Ciumento e mandão

S

abe uma criança que já nasceu adulta? Ele.

Nós éramos cinco. Quatro levados, arteiros, curiosos, irrequietos. Ele, obediente, compenetrado, poeta, cientista. Havia uma guerra horrorosa em algum lugar do mundo, e havia umas pessoas adultas, bandidas, que vendiam gasolina, no câmbio-negro, aqui mesmo. Nós ouvimos meu pai comentar irritado. Então, José Olympio (6 anos) teve uma ideia. Mário Augusto e eu (4 anos), e Afrânio Marciliano (3 anos) arrancávamos as flores vermelhas da bougainvillia, para que ele as esmagasse no espremedor de batatas, tentando fazer gasolina. Foi uma produção intensa durante muitas semanas. Enchemos latas e latas com nossa gasolina cor-de-rosa. Não sobrou sequer um cacho até onde nós conseguimos alcançar. Tempo de racionamento, 2a Guerra Mundial. O mundo era uma bola redonda que ficava na sala, chamada globo terrestre. A guerra era longe e fazia dona Mariana chorar pela morte do filho expedicionário. E o câmbio-negro era uma coisa vergonhosa que gente grande

fazia escondido. Mas o menino Zezé e sua equipe tinham descoberto a fórmula da gasolina tão necessária, capaz de acabar com os bandidos e a guerra. Me lembro disto e me emociono. Ele, aos 6 anos, buscando solucionar os problemas do mundo! Meninos criados da porta pra dentro, nos quintais enormes, com os primos e primas da mesma idade, amadurecendo à força, antes da hora. José Olympio era capaz de pequenas renúncias e grandes sacrifícios. Aos 9 anos parou de comer chocolates e bala Fruna. Negociou esta penitência com seu anjo da guarda. Você cura minha mãe e eu juro que só depois comerei bombom Armida. A doença da mãe não cedia e a gaveta do Zezé, de um em um, de dois em dois, foi se enchendo de chocolates guardados para depois do milagre. Vó Augusta descobriu e permutou a promessa com Monsenhor Eduardo. Assim mesmo, ele manteve a palavra até a adolescência. Nasceu responsável. Adulto. De opinião. Solidário. Quando o coleguinha Cássio morreu afogado nas águas do rio Uberabinha, ele, 12 anos, convenceu os estudantes do primeiro ano ginasial a aprender natação no UTC. E o professor Mário abriu um horário especial para aquele monte de crianças. Algumas mães ajudavam nossa mãe a levar e trazer a meninada desde o Colégio Estadual até o UTC, que naquele tempo parecia longe demais.

José Olympio com o tio Josias, que o influenciou na carreira médica

Tio Josias, novidadeiro, trouxe do Rio de Janeiro uma vitrola de manivela e uns dez bolachões de vinil preto. Dentro desta engenhoca moravam Tião Carreiro e Pardinho, Cascatinha e Inhana, Zé Carreiro e Carreirinho e tantos outros... que cantavam modas de viola bem roceiras, bem chorosas. Vovô Olympio, cuja caduquice avançava rapidamente, se aquietava na sua cadeira de balanço, as lágrimas desciam mansas pela camisa e ele acabava adormecendo no embalo da MULA PRETA, do CAVALO ZAINO, do CHICO MINEIRO, do LUAR DO SERTÃO, TRISTEZA DO JECA... Alguém colocava cada disco na sua capa, fechava a vitrola, guardava-a na cristaleira e ia, pé-ante-pé, avisar na cozinha: “vovô dormiu. Quem fazia isto? Zé Olympio”. “Vai dar um passeinho com seu avô, Zezé!”, pedia vó Augusta. E o neto largava tudo na hora: tarefas da escola, futebol de botões, a irradiação do Fla x Flu, a colecção de figurinhas, o prato de comida... A gente olhava pela janela do sobrado, lá iam os dois de mãos dadas, devagarinho, dobrando o quarteirão. Era tanta a afinidade entre estes dois Olympios, apesar dos quase 100 anos que os separavam, que o velho avô resolveu deixar para este neto predileto a sede da fazenda Água Limpa, a mais amada. E isto ninguém contestou.


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Com os irmãos Afrânio e Martha, e abaixo com a esposa, Línia Seu maior compromisso, assumido consigo mesmo enquanto estudava no Rio, foi voltar para casa e lutar, pelo resto da vida, por uma escola de medicina em Uberlândia. E a este sonho se entregou de corpo e alma, mesmo depois dela pronta, pelo resto da vida. Todos os irmãos nascemos em Uberlândia. Ele, em Uberaba. Num dos meus mandatos de vereadora, eu quis lhe dar um título de cidadania. Ele riu. “Para trabalhar por Uberlândia, basta amar Uberlândia”, ele disse. E completou: Martha, você não tem nada mais útil para fazer, não? Se eu soubesse, não teria votado em você. A areia de nossas ampulhetas vai chegando ao fim. Eu desconheço alguém que tenha se dedicado tanto a Uberlândia como ele, com ou sem a honraria do título de cidadania. O melhor de nossas vidas é que sempre fomos muito amigos, cúmplices, respeitando hierarquicamente a autoridade moral do primogênito. Jofa, muitas saudades de você! Acorda, meu irmão! Martha Pannunzio - 23/02/2020


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41 Moacir Lopes de Carvalho é o autor das letras do Hino de Uberlândia e do Uberlândia Esporte Clube

MOACIR LOPES DE CARVALHO

Ilustre cidadão de múltiplos talentos Pioneiro da era do rádio em Uberlândia “não sabia esconder sua admiração por uma coisa bem-feita” Por MARIA ESTER Colaboração de ADEMIR REIS e CELSO MACHADO

D

e estatura baixa, voz mansa, elegantemente educado, Moacir Lopes de Carvalho foi uma daquelas figuras que ficam eternizadas na vida da cidade pela riqueza de sua jornada. Ele marcou o rádio uberlandense. Marcou igualmente a política, o teatro, a música, a literatura, o jornalismo e a ação social com um talento raro. Moacir nasceu em outubro de 1913, em Barbacena, onde fez o curso primá-

rio. Fez o curso secundário em Bonfim de Goiás, com padres salesianos, e ainda bastante jovem, com apenas 23 anos, transferiu-se para Uberlândia em setembro de 1936, como funcionário do Banco Hipotecário. Exerceu diferentes e variadas atividades na vida política da cidade. Destacou-se como vereador combativo de 1959 a 1962 pelo partido da União Democrática Nacional (UDN). Em 1962, foi um dos articuladores da vitoriosa campanha a

prefeito de Raul Pereira contra Renato de Freitas, do PSD, quando apoiou o amigo e correligionário Virgílio Galassi, eleito como vereador mais votado. Mas foi na imprensa que se tornou mais conhecido. Uma paixão que “fez-se uma constante na minha vida. Na mocidade estive ‘sujando o nariz na tinta’. No decorrer dos anos, militei em diversos órgãos: O Fantoche; Jornal Humorístico de Estudante; O Momento, jornal de orientação religiosa, os jornais Cidade de Barbacena e Jornal de Barbacena. Aqui em Uberlândia colaborei na Tribuna, no Repórter, na Voz do Triângulo, em algumas revistas e outros jornais”. Em 1955, assumiu a direção da Rádio Educadora, onde foi responsável por grandes transformações e pelo lançamento de radialistas que fizeram época. Foi ele quem trouxe para Uberlândia talentos como Dantas Ruas, Luiz César, Dely Azevedo, Sérgio Martinelli e garimpou jovens da cidade que mais tarde vieram a fazer parte das melhores equipes do rádio uberlandense, como Paulo Henrique Petri, Ademir Reis, o “deputado do sertão” Alfredinho e outros. Em 1966, por ocasião do seu aniversário, Luiz César registrou na crônica diária na Rádio Educadora: “Moacir não sabe esconder sua admiração por uma coisa bem-feita. Lá do seu escritório, supervisiona todas as atividades, acompanha o desempenho de cada um e faz questão de elogiar pessoalmente, ou através de memorandos, aquele que, destacado para uma missão, dá a ela um desempenho brilhante.


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Sabe reconhecer e valorizar o talento de cada um. Conseguiu formar uma equipe que trabalhava com entusiasmo, Moacir Lopes de Carvalho fazia questão que fôssemos um porta-voz de nosso povo, que estejamos identificados com todos os problemas da cidade, vivendo os anseios da população, transformados na sua tribuna de debate e no arauto de suas conquistas. Sua excelente formação intelectual, seu dinamismo incomum permitiram a evolução do rádio em nossa terra”. Um caso de amor É de sua autoria a letra do Hino de Uberlândia, do Hino do Uberlândia Esporte e o do 36º Batalhão de Infantaria Mecanizado. Escreveu a peça “Isto é Uberlândia”, em que relata fatos e acontecimentos marcantes da cidade, e teve sua estreia em 10 de outubro de 1953 no Cine Teatro Uberlândia. Fez parte do Lions Clube de Uberlândia Centro e foi um dos grandes incentivadores e colaboradores da União dos Viajantes e Representantes Comerciais do Brasil Central. Recebeu o título de Cidadão Uberlandense (lei 1.495, de 12 de março de 1967), em homenagem proposta pelo vereador Reinaldo Cazabona, com a qual e sentiu-se muito honrado: “Estou certo de que recebo mais do que aquilo que, modestamente, pude dar. Mas o valor da dádiva sempre esteve mais em relação à nobreza do doador do que os méritos do premiado. Receber o título de Cidadão Uberlandense, cidade que tanto amo, é honra que não apenas aceitei, mas que realmente almejei e veio ao encontro do meu desejo de dizer: Uberlândia, eu já era seu filho de fato, agora o sou de direito”.

Moacir com a esposa Julieta e os três filhos, Maria Ester, Elisa Maria e Francisco José

Na inauguração das novas instalações da Rádio Educadora no edifício do Banco Mercantil na av. Afonso Pena, o auditório ganhou o seu nome e uma fotografia. No microfone, Coronel Hipopota. Ao lado, o radialista e vereador Ary Novaes Rocha e, ao seu lado, Sérgio Martinelli


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Moacir Lopes de Carvalho com a equipe que comandava na Rádio Educadora quando era seu gerente

Moacir Lopes ao lado do radialista Luiz Cesar com o capitão da seleção Russa que veio jogar em Uberlândia no estádio Juca Ribeiro Moacir faleceu em 22 de setembro de 1969 com apenas 56 anos, deixando viúva Julieta Silva Carvalho e os filhos Maria Ester, Elisa Maria, Francisco José, Moacir José e Letinha Carvalho Santos. Sua morte comoveu a cidade, como revela trecho do editorial do Correio de Uberlândia: “Morreu Moacir Lopes de Carvalho, o velho capitão, deixando um legado à classe da qual foi líder. Valorizou o homem do rádio. Defendeu a imprensa em todos os momentos e a ele se deve o crescimento do rádio uberlandense. Bons valores ele plantou e

fez grande para servir a terra que ele amou até os últimos segundos de sua vida. A cidade de Uberlândia lhe deve muito em vários de seus setores.” O amigo, radialista e jornalista Marçal Costa escreveu em sua coluna Vitrine: “Temperamento difícil de ser entendido e muito mais de ser explicado, Moacir era homem que ia da ternura à ira num segundo. Não andava muito para ganhar um desafeto, desde que isto demonstrasse sua posição e opinião. Perdoava com facilidade quem o ofendia. Trocadilhista incorrigível glosava os assuntos

mais sérios, ria das situações mais importantes. Gostava de impor um ambiente alegre à sua volta, desde que não estivesse trabalhando. Aí, era severo, importava-se com pequeninos detalhes. Nem piscava os olhos para dispensar um funcionário da rádio pela menor falta. Depois o chamava de volta. Na direção da Educadora, Moacir implantou um regime novo. Deu dignidade à profissão de radialista pagando bem a seus funcionários. O rádio que ele fez foi de alta categoria, de autêntica participação comunitária. Oferecia arte, cultura, divertimento e informação. Seus programas políticos eram polêmicos e levavam a marca do seu temperamento inquieto e irreverente”. Sua fama e prestígio alcançavam todas as camadas da população. Era culto, mas de uma capacidade de comunicação simples que chegava a todos. Profundamente sensível, valorizava e gostava das pessoas. No carnaval de 1970 foi tema da escola de Samba Princesa Izabel. Moacir Lopes de Carvalho teve uma vida curta, mas larga pelo legado que deixou. Uma vida que marcou Uberlândia com talento e muita dedicação.


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MÚSICA

Cristal Líquido Uma história de rock´n roll daqui... Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

E

ram apenas quatro rapazes adolescentes, na casa dos 15 anos que estudavam na Escola Estadual Bueno Brandão. O que os unia, além da amizade, era o amor à música. Tetto Bononi, Fabiano Fonseca, Neto Fog e, pouco tempo depois, Holger Ribeiro Poli, foram mais ousados do que os amigos da mesma faixa etária. Juntaram-se em torno do propósito de um futuro musical. E conseguiram. A banda durou pouco, mas teve seus momentos de glória. E garantiu que o futuro de cada um fosse moldado a partir dessa experiência musical. Nos primórdios, o QG da Cristal Líquido era o quarto de Holger, logo adaptado com materiais acústicos pra não incomodar a vizinhança. Os garotos brincavam com raquetes de tênis, dublando o grupo britânico Queen, um dos mais importantes das décadas de 1970 e 1980. Para eles, ali já se despertava o desejo de formar uma banda. Talvez fosse esse o momento embrionário do grupo Cristal Líquido. Chegaram a vender uma bicicleta achando que o dinheiro arrecadado daria para comprar uma bateria. Foi suficiente apenas para

Holger, Fabiano, Neto e Teto, integrantes do Cristal Líquido, quatro amigos unidos pela música desde a adolescência

dois pratos, mas também alimentou o sonho que eles concretizariam pouco tempo depois. Tetto conta que a banda Cristal Líquida surgiu em 1987. O nome veio em decorrência do que se vivia na época. É uma referência aos anos de 1980, o momento mais embrionário de toda essa tecnologia que vivemos hoje e está ao alcance de todos na palma da mão. Um nome moderno para a época. O Brasil inteiro, naquela década, respirava rock. . Em Uberlândia, não era diferente. Um bar que se destacava mais por suas mesas de sinuca e cervejas geladas ia aos poucos se consolidando como o templo do rock na cidade, uma rádio FM conquistava legião de fãs tocando músicas de bandas locais e por aqui também reinavam grupos, como Patrulha Cogumelo, entre outros. Neste contexto, o grupo adolescente Cristal Líquido surgiu com impressionante verve para o rock´n roll, surpreendendo até mesmo os mais velhos. O compositor e integrante da banda Patrulha Cogumelo, talvez a mais famosa na ocasião, José Rubens Simarro, compôs para eles a música “Cristal.” O Patrulha era meio como o RPM da região e conquistava espaços como a abertura do lendário show

dos Titãs no ginásio do UTC, entre outros. Além da oferta da música, houve também a participação especial em sua gravação. Tetto conta que gravar em estúdio, naqueles anos, era algo muito caro. Um doss melhores da cidade era o Avlan Estudio, da cantora Nalva Aguiar. Os rapazes economizaram e conseguiram gravar a música. Ela entrou para as “paradas de sucesso”e emplacou o nome da banda para a cidade. As pessoas cantavam músicas do grupo, “Como um Sonho”, “Mosaico” e “Páginas.” A primeira foi uma explosão e reverbera até hoje. Tetto conta que ela foi interpretada por vários artistas e tocada em eventos como casamentos, formaturas, encontro de jovens etc. O grupo conquistou um público fiel. Chegou a lotar várias vezes o London Bar, que, nessa época começava a se posicionar como um espaço voltado para o rock´n roll. Para os quatro integrantes da Cristal Líquido, os momentos mais marcantes foram a apresentação no evento Rock de Graça, promovido pela Visão FM na praça Tubal Vilela e, em seguida, em 1989, a banda ter sido classificada, com a música Pictures, para o festival 89FM, em São Paulo, constando na lista das oito melhores bandas iniciantes do país. No corpo


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de jurados, estavam celebridades como Kiko Zambianchi e Paulo Ricardo, do grupo RPM. Como chegaram à final, gravaram uma faixa no disco de vinil, que deu projeção nacional à banda, e chegaram a tocar com os ídolos da época, como a Banda Gueto e Capital Inicial. A banda chegou a mudar para Campinas, para ficar perto de São Paulo, centro fonográfico do país. Mas, as coisas não eram tão fáceis como sonhavam e a banda foi se dissolvendo aos poucos. Hoger foi a primeira baixa, teve de retornar para Uberlândia. Permaneceu o trio, que tinha uma química musical muito forte. Depois, foi a vez de Neto, o vocalista do grupo. Com a saída dele, essa química começou a desfalecer. Como agravante, no início dos anos de 1990, outros estilos musicais começaram a invadir o país, e a época de ouro do rock brasileiro desaqueceu. Sem condições de se manterem com o sonho de alçar voo em São Paulo, todos acabaram retornando. Com o fim da banda, Holger foi tocar com outros músicos da cidade, participando de grupos como o Diamond Dogs . Em meados da década de 1990, foi morar em Curitiba, onde participou de uma banda chamada Funk You, especialista em Soul e Black Music. Retornou a Uberlândia no fim de 2001 e entrou para a banda Dogma, atual Venosa. Depois participou

da banda Mata Leão e, atualmente, integra a Veneno Vivo. Tetto vive na Europa, e passa temporadas prolongadas no Brasil. É personagem de destaque na música eletrônica mundial. No velho continente, usa o codinome Natema, que o consagrou como um DJ universal, apresentando propostas inovadoras de música nas plataformas virtuais. Sua interpretação é única na paisagem sonora da house music. Lá atrás, quando a banda Cristal Líquido se dissolveu, ele foi trabalhar no London Pub, onde permaneceu por 15 anos, como produtor musical e coordenador técnico. Hoje, a sua música reverbera por todo o planeta, mas, segundo ele, a cada acorde, bate o coração de sua banda de origem. Fabiano tornou-se um dos guitarristas mais populares e admirados da cidade. Ele, que sempre esteve na música, desde a infância, até por influências familiares, uma grande referência, deslocou-a para outros portos. Tornou-se publicitário. Ela estava presente nos jingles. Fez o curso de Cinema. Focou na questão das trilhas sonoras. Considera que foi a partir do convívio com a banda Cristal Líquido que teve contato com a música dentro de uma estrutura profissionalizante, tendo o seu lado artístico moldado a partir dela. Hoje, ele é um dos protagonistas da cena musical em Uberlândia, acompanhando os principais intérpretes da cidade, além de compor trilhas

“ As pessoas cantavam as músicas do grupo: Como Um Sonho, Mosaico e Páginas” sonoras exuberantes para os documentários e filmes que os cineastas e as produtoras locais realizam. Neto achava sua voz ruim na época. Acredita que foi convidado para ser vocalista mais por amizade do que por talento. Para ele, o que parecia uma grande brincadeira, acabou virando algo sério. Hoje ele tem esse início como o seu parâmetro. Da trajetória da banda, ele considera inesquecível a gravação do primeiro videoclipe, entre os outros momentos gloriosos que a banda viveu. “O Cristal Líquido, na minha trajetória, foi a base de tudo. O que sou hoje como vocalista aprendi ali”, resumiu o cantor. Com o fim da banda Cristal Líquido, Neto integrou a banda Tâmisa, depois a Reverendo Jones, retornando em seguida à Tâmisa e, mais recentemente, o grupo Os Semi Novos, ao lado de Maurício Ricardo Quirino e de Luciano Camargo, o Tchana da banda Tâmisa. Com Os Semi Novos viveu alguns momentos marcantes, de reconhecimento do grupo em nível nacional, participando do “Programa do Faustão” e do ”Jô Soares” e ganhando, inclusive o MTV Video Music Brasil, de 2009, premiação musical realizada pela MTV Brasil, de Melhor Música do Ano.


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“ É preciso desenhar sem borracha. Não é preciso ensinar a desenhar, mas a educar o olhar. Erros não se apagam”

ARTISTA DA CAPA

Dequete: “Graffiti é projeto social” Escrita urbana jovem é um “grito silencioso da existência” contra a invisibilidade

A

s ruas da cidade têm significância. Muitas vezes podem ser ressignificadas com propriedade e consistência por artistas urbanos como Dequete, um dos mais importantes grafiteiros de Uberlândia, que já foi Thiago dos Santos e também The Cat. Nome que teve origem nos seis tiros que recebeu em uma briga, aos quais sobreviveu como um gato com sete vidas. Os tiros foram também um divisor de águas, uma forma de renascimento que dominou a violência fora e dentro de si e transformou em arte sua indignação diante do mundo. Dequete nasceu em Belo Horizonte marcado pela marginalidade. Ele

Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

lembra que, desde os 10 anos, observava as ruas da periferia da cidade e ficava bastante impressionado com as pichações. As ruas eram a válvula de escape para a violência do padrasto a que ele, a mãe e quatro irmãos eram submetidos em casa. Quando a família mudou da periferia para uma ocupação na zona norte na capital, ele conheceu a galera da escrita urbana, do graffiti. Com talento e habilidade passou a ganhar notoriedade. Eram os anos 1990 e o graffiti dava seus primeiros passos. Os desenhos eram a expressão da rebeldia dos jovens, das torcidas organizadas de times de futebol – Dequete pertencia à Máfia Azul do Cruzeiro –, dos con-

flitos de grupos de diferentes bairros. Foi também o início do seu mergulho na criminalidade: era preciso praticar pequenos furtos e andar armado para ser aceito nos grupos. Até que atuando como mediador entre dois grupos rivais em uma disputa, por ter relacionamento com ambos, foi baleado seis vezes por um colega do mesmo bairro, da mesma rua. Quando despertou no hospital, sentiu-se também acordando para a vida e a espiritualidade, através de uma experiência extrassensorial que diz ter vivido. Passou a refletir mais sobre a existência e a frequentar a igreja católica, o espiritismo e a igreja evangélica. Hoje, não frequenta

Sempre questionadores, os desenhos do artista revelam desejos de liberdade e de livre expressão


Com traços marcantes, Dequete se firmou como um dos artistas de rua mais expressivos da cidade

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nenhuma delas, embora mantenha a fé inabalada. Diz que não quer se prender às liturgias religiosas e que professa a fé ajudando as pessoas. Quando saiu do hospital, Dequete mudou de bairro e foi fazer o curso de artes visuais na Escola Guignard. Foi o primeiro da família a entrar em uma universidade e tornou-se professor. O desenho trouxe uma nova perspectiva de vida: aprendeu a “desenhar sem borracha”. “Não é preciso ensinar desenho, mas a educar o olhar. Erros não se apagam”, explicou Dequete, que, além de lecionar, passou a usar o graffiti como ferramenta em projetos sociais. Uberlândia Dequete casou-se e, com a esposa, tornou-se missionário em um trabalho evangélico em Capão Redondo, São Paulo. Lá encontrou uma realidade social ainda mais chocante do que a que conhecera em Belo Horizonte. Permaneceu um ano e decidiu “chutar o balde”, quando percebeu que as pessoas envolvidas no projeto “tinham mais interesses financeiros do que espirituais”. Sentiu-se usado e rompeu com as igrejas. Voltou para Belo Horizonte, onde permaneceu até 2013. Como boa parte da família da esposa havia mudado para Uberlândia, fizeram o mesmo. Tinha um filho com 3 anos e queria oferecer a ele qualidade de vida e a presença paterna que não teve. Trabalhava no programa Fica Vivo, do governo estadual, voltado para jovens em situação de risco. Conseguiu em Uberlândia uma vaga. Quando Dequete chegou, Uberlândia tinha poucos grafiteiros. Na

Para o autor, os espaços são conquistados com diálogo e cooperação


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A trajetória de Dequete foi marcada por infortúnios e arrependimentos. Para ele, sua salvação veio por meio da arte

cidade, ele selou a marca do pioneirismo. Difundiu a arte, organizou grupos, abraçou iniciativas coletivas e viveu aquilo que considera uma transição estética e conceitual em sua obra. A cidade era um muro aberto para um momento determinante: dedicação quase exclusiva à arte e a seu único filho. A ele dedicou um painel, chamado Super Pai, que existe até hoje na entrada do bairro Alvorada. Grito silencioso O graffiti é uma arte efêmera e o próprio Dequete fica surpreso com a longevidade de alguns de seus trabalhos e feliz com os retornos que

recebe. No bairro Martins, desenhou um pássaro libertando-se da gaiola com a frase “Não aceite gaiolas em sua vida”. De acordo com ele, um ex-craqueiro contou ter sido este desenho o gatilho para que abandonasse o vício. Dequete tem essa marca bem particular de inserir frases em seus trabalhos, o que não é uma característica do graffiti. E acaba resumindo suas ideias sobre a arte do graffiti em uma só frase: “é o grito silencioso da existência”. Cita o exemplo de um grafiteiro norte-americano, entrevistado pelo New York Times. Sua marca, o nome artístico, era Taki 183. Todos queriam saber o que significava. Nada mais era do que o endereço

do artista: Taki o nome da rua e 183 o número da casa. O graffiti não é um ato de vandalismo, como muitos pensam, mas sim uma forma de expressão urbana, uma escrita artística que nada mais pretende do que passar por cima da invisibilidade. Dequete tem um projeto coletivo em andamento e está se organizando para ele. Trata-se de pintar, com outros artistas, muros das casas de moradores do bairro Patrimônio. A proposta, batizada de Reduto Negro, tem como objetivo registrar a resistência dos fundadores do bairro majoritariamente de população negra, e ressaltar a importância da sua permanência na vida da cidade, apesar do avanço da especulação imobiliária na região.


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50 ESPORTE MEMÓRIA

NORMA VAZ O VÔLEI COMO ARTE E PAIXÃO Por JANE DE FÁTIMA SILVA RODRIGUES

É a atleta mais completa que Uberlândia teve “O fim para que os homens inventaram os livros foi para conservar a memória das coisas passadas contra a tirania do tempo e contra o esquecimento dos homens, que ainda é maior tirania.” Esta frase de Padre Antônio Vieira, em “Os Sermões”, ilustra o esquecimento a que muitos (as) uberlandenses foram relegados (as).

S

ua carreira nos esportes desenvolveu-se a partir de meados da década de 1940 até fins de 1960, período em que já havia percorrido inúmeros países tanto na América quanto na Europa. O Jornal francês ‘L’ Equip’, um dos mais famosos e conceituados em matéria de esporte, à época a considerou entre as seis melhores do mundo. O Jornal “aponta a cortadora brasileira, Norma Rosa Vaz, de jogo espetacular, atacante de grande classe, sabendo igualmente defender e construir o jogo”. Entre as demais jogadoras citadas, estavam duas russas (Tchoudiná e Moisserva), duas romenas (Doina e Natalia) e uma búlgara (Dimtcheva). O Jornal as denominou como o maior sexteto do 2º Campeonato Mundial de Voleibol, realizado em Paris, no ano de 1956

(Jornal Tribuna da Imprensa/RJ, 18/10/1956, nº 2068, p. 5).

Talento raro – No momento atual em que o voleibol, merecidamente, tem apaixonado os uberlandenses graças ao desempenho da equipe Dentil/ Praia Clube, é bom relembrar Norma Vaz, a uberlandense que foi referência nessa modalidade


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Da esquerda para direita – Dalva, Norma, Dorly, Elaine, Lourdes

Para Niza Luz, Uberlândia a viu nascer (25/04/1930**) e florescer adolescente quando, em 1948, passou a integrar a seleção de Vôlei Mineira e, a partir daí alçou voos para os clubes do Rio de Janeiro, como o Regatas de Icaraí, em Niterói, o Vasco da Gama e o Flamengo, integrando a seleção brasileira em vários campeonatos nacionais, mundiais e pan-americanos. “Minha infância foi maravilhosa, muito amor, muito carinho, com muita alegria. Nós éramos uma família grandiosa, havia muita paz. Acho que melhores pais e irmãos não poderia ter”, nos disse em entrevista realizada em 14/05/1994. No final da década de 1940 juntamente com a equipe uberlandense de vôlei composta por Dorly Raniero, Dalva Santos, Lourdes Santos, Aparecida de Freitas, Luzia Bedê, Idália Vaz, Wilma Carrara, Dulce Silva, dentre outras, começou sua jornada desportiva. No ano de 1949, ao integrar a seleção Mineira de Vôlei ao lado de Dalva e Dorly, sagrou-se vice-campeã brasileira. A participação em vários certames nacionais possibilitou-lhe um merecido reconhecimento de suas habilidades com a bola. Em 1950, foi convidada a integrar a seleção do Clube Regatas de Icaraí, quando se consagrou em um quadrangular na cidade de Montevidéu. Nos Jogos da Primavera de 1954, realizados no Rio de Janeiro, Norma foi considerada uma das atletas mais completas da temporada, competindo

na categoria atletismo: arremesso de pêso***, obteve o 1º lugar com a marca de 10,73m; arremesso de disco, 2º lugar, com 34,98 m; arremesso de dardo, 1º lugar, com 37,64 m. (Jornal A Noite/RJ, 05/05/1955, nº 14.998, p. 15. www.memoria.bn.br>docreader). Nestes mesmos Jogos, foi campeã nas provas iole a 2, a 4 a 8, baleeira e na primeira prova extra feminina na Lagoa, no 1º Campeonato a Remo para Mulheres (Jornal Correio da Manhã/ RJ, 14/12/1954, nº 18.933, 2º caderno, p. 3). O Jornal Correio da Manhã/RJ, 03/03/1955, nº 18.997, p. 15, em reportagem com o título “Rumo ao México, esta manhã, a segunda turma da delegação brasileira”, anuncia dentre as atletas, Norma Vaz. Nos Jogos Pan-Americanos do México, ganhou a medalha de bronze. O 3º lugar para a equipe feminina em 1955, no México, foi atribuído a um fator preponderante: a altitude. A falta de oxigênio parece ter sido o grande vilão sempre que as moças alcançavam o quinto set das partidas, geralmente após 2h ou 3h de duelo. Vera, Norma, Sônia, Hilda, Celma e Marlene foram verdadeiras batalhadoras e, pela adversidade de vários fatores, merecedoras da medalha de bronze. Marcante foi o périplo para chegarem aos destinos tanto na ida quanto na volta. Pousos e decolagens por 12 aeroportos: Ida: Bom Jesus da Lapa, Carolina, Belém, Caiena, Georgetown, Trinidad, Porto Rico, Guantánamo,

Mérida, Havana, Santa Cruz, México. Volta: México, Mérida, Havana, Santiago de Cuba, Porto Rico, Martinica, Trinidad, Caiena (?), Belém, Carolina, Belo Horizonte, Rio de Janeiro. (www. procrie.com.br › História do Voleibol). Nos Campeonatos Sul-Americanos de 1956, em Montevidéu e, em Lima, 1961, a equipe de Norma Vaz trouxe a medalha de ouro para o Brasil. Em relação ao Sul-Americano de 1956, o Jornal A Noite/RJ, nº 15.304 de 05/07, p. 4, 3º caderno, comentou que a estrela Norma Vaz mostrava-se satisfeita com o título de campeã sul-americana “a minha ida, as minhas esperanças e as do Flamengo compensaram o sacrifício ... o meu grande sonho de conquistar o título de campeã sulamericana de voleibol conseguido. Minha alegria é ainda maior porque consegui contribuir com um pouco para trazer para a nossa terra o bicampeonato”, disse Norma ao jornalista. Sobre este fato, o jornalista e comentarista desportivo, Teixeira Heizer, em seu livro “A Outra História de Cada Um. Esporte e Tudo o Mais – gente, tragédia e epopeias”, (editora Mauad, Rio de Janeiro, 2016), escreveu: “narrei os dois campeonatos na capital Uruguai, em 1956, exaltando o brilho de jogadores do porte de Lúcio, Urbano, Zé Carlos, Alexandre, Martha Miraglia, Lilian Poetcher, Maria Lília, Marly, Lia, Norma Vaz, Liliam Cólier e outros de expressão equivalente”.


52 Seleção feminina de Vôlei de Uberlândia no ano de 1947

Com o título “Norma Vaz, uma verdadeira campeã”, o Jornal Correio da Manhã/ RJ, de 26/10/1958, nº 20.119, p. 3, (www.memoria.bn.br>docread) dedicou-lhe uma página inteira. Assim, inicia-se a reportagem: “Pelos clubes que passou, a môça atleta, desde os primeiros mergulhos no esporte, em Uberlândia, sua terra natal, aos atuais e magníficos lançamentos de dardos, disco e peso, nos Jogos da Primavera deste ano, foi seu valor sendo reconhecido e sua atuação disputada... é môça simples e sem vaidade. Querida pelos clubes a que pertenceu e pertence, por onde passa deixa e traz saudades”. Nesta matéria, Norma rememora sua carreira como atleta. A conselho médico (era magrinha e comprida) e por motivos de saúde foi nadar no Uberlândia Tênis Clube e acabou campeã na modalidade peito nos 200m 4x100. Pela compleição física foi chamada para o vôlei sendo tricampeã nos Jogos Abertos do Interior de São Paulo e depois extra campeã por Minas, na seleção Mineira. Foi nos Jogos de 1950 que o então chefe da Delegação Fluminense, presidente do Clube de Regatas de Icaraí a conheceu e a convidou para o clube para disputar o quadrangular de Montevidéo. Norma era a caçula de 11 irmãos e, os pais tiveram uma resistência para que ela se mudasse de

Uberlândia. Através do irmão, Vasco Vaz estudante em Niterói, conseguiu a permissão para morar e jogar no Clube Regatas de Icaraí. Este clube, defendido por Norma, durante alguns anos, onde conquistou vários títulos no atletismo, foi deixado para acompanhar o irmão que transferiu residência para o Rio de Janeiro. Em 1954, logrou o 2º lugar em arremesso de disco, pelo Clube Regatas Vasco da Gama com a marca de 33,90 m (Jornal Correio da Manhã/RJ, 14/12/1954, nº 18.933, 2º caderno, p. 3). E, como não bastassem tantos títulos foi ainda considerada a atleta mais eficiente entre os clubes em 1953. O Anuário do Esporte Ilustrado/RJ, de 1954, nº 6, p. 83, (www.memoria.bn.br>pdf>per182664) escreve sobre a sua performance: “a figura mais destacada da competição foi a vascaína, Norma Vaz”. Ao iniciar a prática do chamado esporte básico, arremesso

de peso, foi ainda pelo Icaraí que Norma concorreu, nos Jogos da Primavera em 1955, sagrando-se, como de hábito, campeã. Ao deixar o Icaraí pelo Vasco, na prova de estreantes, é recordista em dardo, disco e peso, batendo o recorde carioca nesta modalidade com a marca de 11,06m. (Anuário do Esporte Ilustrado/RJ, de 1956, nº 7, p. 83). Em 1956, acumula troféus e títulos ao ser bicampeã carioca, bicampeã Troféu Brasil durante dois anos e campeã em provas por equipe. Na mesma matéria publicada em 1958 pelo Jornal Correio da Manhã (op. cit.), Norma disse que o que mais a impressionava era o sentimento de ouvir de longe da pátria, o hino do seu país. “Quando saímos para um campeonato mundial, pan ou sul-americano, defendendo a seleção brasileira, para mim, é como se o Brasil estivesse em guerra. Cada um defende o seu país como pode, eu defendo no esporte e para todo atleta, seu maior ideal é botar a camisa do Brasil”. No XIX Jogos Abertos de Cambuquira de 1959, Norma, pelo Flamengo, venceu nas quadras, mas a jogadora estava impossibilitada de jogar a final por ter seu polegar da mão direita quebrado e, por ter sido o jogo um dia após o seu aniversário, “foi o presente que ela pediu às suas companheiras de Clube” (Jornal Correio da Manhã/RJ, 26/04/1959, nº 20.270, p. 4). Norma Vaz foi escalada para o Pan-Americano


Norma Vaz foi considerada uma das atletas mais completas do Brasil e uma das maiores jogadoras de vôlei do seu tempo

de 1959 que ocorreu em Chicago onde ganhou a medalha de ouro. Em entrevista de 1994 (op. cit.), comoveu-se ao falar do Pan nos Estados Unidos. “... me emocionou muito vendo minha bandeira subindo no 1º lugar, tocando o Hino Nacional... este é o orgulho..., assim como o de São Paulo”, onde também foi medalha de ouro. No livro “The Pan American Games – Los Juegos Panamericanos: a estatistic history 1951/1999” - de Steven Olderer, à página 289 (North Caroline: McFarland & Company Inc., 2003), está imortalizado o nome da atleta Norma Vaz, com o ouro nos Jogos de PanAmericanos na categoria vôlei de 1959 e 1963. Em uma declaração feita pela jogadora Maria Alice dos Santos Ricciardi, considerada uma das atletas mais eficientes do voleibol tricolor e dona de 24 títulos, ela disse: “a seleção ideal de vôlei seria formada por Vera Trezoitko, Marta Miraglia, Marli, Norma Vaz, Lúcia Mendes e a gaúcha Margot” (Jornal A Noite/RJ, 17/051961, nº 15.730, p. 11). Um ano antes desta entrevista, o Jornal Correio da Manhã/RJ, 03/08/1960, nº 20.661, p. 13, declarava ser Norma Vaz uma das vedetes do Flamengo, “considerada cinco estrelas”. De fato, as palavras de Maria Alice se concretizaram e Norma Vaz é convocada juntamente com outras jogadoras para o Pan-americano de 1963 que ocorreu na capital paulista, conforme anunciou o Jornal Correio da Manhã/RJ, de 28/03/1963, nº 21.466, p. 7, (www.memoria.bn.br>docreader) “segundo os dirigentes da seleção feminina, o ‘escrete’ tem amplas possibilidades de vir a conquistar o bicampeonato, pois, além de bem preparada, atuará em seus domínios”. A seleção brasileira ganhou a medalha de ouro e Norma Vaz, sobe ao pódio com o título de bicampeã pan-americana. Em 1966, no V Troféu Brasil de Atletismo, realizado no Rio de Janeiro, na modalidade atletismo, Norma classificou-se no 2º lugar em arremesso de dardo, 32,06m e, 3º lugar em arremesso de peso, com 10,81m (Jornal Correio da Manhã/RJ, 12/06/1966, nº 22.449, p. 26), sendo o Clube Regatas do Flamengo campeão,

o seu time. Norma Vaz encerra a sua carreira esportiva em fins da década de 1960 depois de ser considerada uma das atletas mais completas do Brasil e uma das maiores jogadoras de vôlei do seu tempo, na posição de cortadora, vestindo a camisa nº 4 pela Seleção Brasileira e a sexta melhor do mundo no vôlei. Tinha uma paixão incondicional pelo esporte. “Fui muito feliz, porque eu tive Deus e Jesus no meu coração em qualquer combate e, eu me dei bem e me preparei ... era uma alegria, uma realização, não só minha, mas uma realização da mulher brasileira lá fora”, nos disse em entrevista de 1994. Trabalhou durante anos no Instituto Brasileiro do Café no Rio no Janeiro na parte contábil, pois gostava muito do “universo da matemática” e, posteriormente no Ministério da Fazenda, embora gostasse também muito de Belas Artes. Em seu depoimento afirmou: “... eu gosto muito de arte, eu acho que o esporte é uma arte, uma física diferente. Se você botar no vôlei feminino uma música, você vai ver que tem compasso, você vai ver que tem uma dança, você sobe, gesticula, se levanta em velocidade maior ... o esporte tem cadência, tem música”. Em seu depoimento rememorou com prazer e saudades as amigas do vôlei de Uberlândia: Dalva, Lourdes, Dorly e Nancy. Como trabalhava e estava sempre

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em campeonatos no exterior onde passava semanas e, também nos nacionais, vinha pouco a Uberlândia que a marcou muito na infância. “Os meus amigos, aqueles amigos verdadeiros, você fica com lembrança, aquela recordação. Você tem necessidade de aspirar desse ar, sentir as pessoas, para mim é sentimental.” Relembrou também de seus professores: Benedita Pimentel de Ulhôa, Dª Odete, José Ignácio, Henckmar Borges, dentre outros, a quem declarou agradecimento e devia a sua evolução a seus mestres e pelas escolas pelas quais passou em Uberlândia: Externato Rio Branco, Colégio Nossa Senhora das Lágrimas, Ginásio Mineiro, Escola Normal, onde cursou apenas um ano e Academia de Comércio Mário Porto. Para além da prática esportiva, Norma leu vários romances dentre ele, Dostoieviski e Shakespeare e grandes poetas brasileiros. Recordava-se “... a gente tinha leituras, nós tínhamos aula de cultura para o desenvolvimento, porque você tem que alcançar uma esfera superior ...”. Leu também vários romances de Chico Xavier “... me preocupei muito com as coisas que aconteciam comigo. Eu fiz muita meditação transcendental. Procurei evoluir, não só na matéria, não só a parte física, mas eu sabia que o espírito estava vivo. Um livro que me marcou muito e que me marca é a Bíblia”.


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Conforme depoimento sua adolescência de uma maneira muito feliz e um período bastante agradável. Ia a cinemas, a bailes no Uberlândia Clube que situava-se na av. Afonso Pena, assim como o carnaval do Praia Clube. Disse: “eu acho, eu tenho a impressão que fui a primeira a botar short curto para dançar no Praia. Eu acho que a liberdade é uma coisa tão maravilhosa quando você faz aquilo que gosta, sem ser tolhida pela sociedade ... pois, às vezes, ela impõe certos dogmas, certas normas, que até distorcem a personalidade do ser humano...”. Perguntei a ela, nesta mesma entrevista se ganhara dinheiro como desportista. Com risos respondeu: “... não, nós éramos atletas amadoras, não tinha essas fortunas em dólar que tem agora, senão eu seria arquimilionária. Mas não é isto, eu fui muito feliz porque eu consegui um amor à arte, nós chegamos lá, tem que ter os primeiros, os outros virão e terão muito mais que os primeiros”. Para se ter a dimensão desta atleta, simples e humilde, o ator Toni Garrido na novela “Totalmente Demais” (exibida pela Rede Globo entre novembro de 2015 e maio de 2016), interpreta o treinador de atletismo, Montanha que frequentava colégios em busca de novos talentos. Disse ele: “Montanha teve a vida transformada pelo esporte, assim como eu. Agora quero modificar a vida dos outros. A vida inteira eu tive ajuda. Para me criar, minha mãe teve a participação da família da Norma Vaz (atleta campeã de vôlei e basquete). Ela, que considero uma tia, me fez entender essa coisa de conversão pelo esporte”, disse ao Extra (https://www.otvfoco.com.br/espereipor-esse-momento-diz-toni-garrido-

sobre-personagem-em-totalmentedemais/). Em depoimento Luiz D (saudadesdoriodoluizd.blogspot.com › 2017/11 › 15-de-novembro) refere-se ao Clube Flamengo e relembra a figura de Norma: Logo após a entrada, à esquerda ficava o velho ginásio, sob a arquibancada do campo de futebol. Ali assisti a jogos de basquete do espetacular time do Algodão, do Waldir Boccardo, do Godinho, treinado pelo Kanela. No time feminino destacavam-se a Norminha, a Angelina, a Luci, a Didi. Também o vôlei era imperdível, com o Lucio, o Feitosa, o técnico Sami Meliskhi, além do Jonjoca, que foi meu técnico no juvenil. E o time feminino comandado pela Leila, Norma Vaz, Marina, Rosinha O´Shea”. Norma Pinto de Oliveira, chamada de Norminha, grande atleta do basquete nacional dos anos de 1960, em depoimento à Revista Raízes, (dezembro de 2001, São Caetano do Sul, nº 24, p. 101) para Alexandre Toler Russo, fez “questão de ressaltar a ajuda que lhe prestou Norma Vaz, ex-jogadora da Seleção Brasileira Feminina de Voleibol, na época funcionária do IBC. Foi ela que localizou para mim onde estava o arquivo morto”, uma vez que necessitava de documentação para sua aposentadoria e que trabalhara por um tempo no Instituto Brasileiro do Café. Participou também dos Campeonatos Carioca de Basquete Feminino nos anos de 1965 e 1966, sendo campeã nas duas edições. Por onde passou Norma Vaz**** deixou uma legião de fãs sendo venerada pela torcida do Flamengo e considerada um mito (http://mitosdoflamengo.blogspot.

com/2009/07/). Pela seleção brasileira defendia a camisa nº 4. No ano de 1970, Tito Teixeira, em seu livro “Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central” (v. 2, denominado ‘Biografia de Personagens Identificadas com a História de Uberlândia nos Diversos Ramos de Atividade – 1818/1968’, 503 p., Uberlândia Gráfica Ltda), ao biografar 172 personalidades, apenas duas mulheres receberam a sua atenção: Norma Vaz e Dª Olívia Pereira Marques, conhecida como Sinhá do Marquinhos (Marcos de Freitas Costa). Não poderia terminar este artigo sem citar novamente Padre Antônio Vieira, em Os Sermões: “O efeito da memória é levar-nos aos ausentes, para que estejamos com eles, e trazê-los a nós, para que estejam conosco”. *Doutora em História pela Universidade de São Paulo e bacharel em Direito. **Encontramos três datas de nascimento de Norma: 1930, 1934 e 1936. O Clube Regatas do Flamengo, em sua ficha oficial, traz a de 1930. A data de sua morte é apontada por Antonio Pereira em 31/08, no entanto não mencionou o ano, em um artigo publicado na Revista Almanaque de fevereiro de 2014. ***Algumas transcrições estão no português da época e, por isso foram preservadas. ****Infelizmente, apesar de vários contatos, não consegui depoimentos mais recentes sobre Norma Vaz, com os seus parentes em Uberlândia para sabermos como viveu o final de sua vida e a destinação e guarda de suas medalhas, troféus, recortes de jornais; enfim da sua memória.


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O Cine-Teatro Uberlândia, tinha esse nome porque também promovia espetáculos ao vivo como peças de teatro, musicais e eventos de formatura. Sua capacidade era de 2.200 lugares

Os cinemas foram e ainda são fontes importantes de entretenimento. Houve época em que, mais do que lazer, eram os mais requintados programas que Uberlândia disponibilizava

CULTURA

O cartaz dos cinemas

Por CARLOS GUIMARÃES COELHO Colaboração: ANTONIO PEREIRA

N

esse tempo, e não faz tanto tempo assim, os cinemas eram nas ruas centrais e nos bairros. Diferentemente de hoje, quando só estão acessíveis nos shoppings centers. Qualquer pessoa com mais de 30 anos há de se lembrar da atmosfera bucólica de uma ida às salas de cinema em Uberlândia.. Havia os Cines Avenida, Vera Cruz, Capri, Windsor, Eden, Paratodos, Brasil, Bristol, It, entre outros. E num patamar de alto nível, os luxuosos Cine Teatro Uberlândia e Regente. Para situar, o acesso dos homens nesses dois mais elegantes, só era permitido com uso de paletó e gravata.

Logo após a bilheteria, havia ampla e sofisticada sala de espera onde os frequentadores aguardavam a liberação para acessar as poltronas acolchoadas, forradas em couro, saboreando as guloseimas de refinadas bomboniéres. Bomboniére e Lanterninha eram destaque Para as novas gerações, isso deve ser difícil de imaginar. Mas, o espaço do chamado “flerte” precedia, às vezes por anos, o ritual do acasalamento. E era assim que funcionava, primeiros os flertes, depois o namoro, sempre vigiado por irmãos mais novos e, às

vezes, pelos próprios pais e, por fim, o casamento. Essas convenções sociais davam o tom romântico e ingênuo para a época. O cenário? Um dos principais era a sala de cinema. O cronista Antonio Pereira, um guardião da memória local, relata este período. Ir ao cinema, para a rapaziada, não era apenas para assistir a um belo faroeste farto em tiroteio e pancadaria ou ver a continuação de um empolgante seriado. O bom era o flerte, o início de um namoro. Naqueles fins de anos 40 e começo dos 50, do século passado, havia uma bomboniére onde as moças compravam balinhas, por uma janelinha. antes de entrarem para a sala de projeção.


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O Cine Regente era conhecido como “Palácio Azul” e suas poltronas cobertas com couro vermelho brilhavam de tão bem cuidadas

“Pouco antes do início do filme, a rapaziada circulava pelos corredores trocando olhares e sinais com as mocinhas. Se houvesse alguma correspondência, mal as luzes se apagassem, o rapaz assentava-se na poltrona ao lado. Deixava o seu braço encostar-se no dela. Se ela não se afastasse, tentava pegar na mão. E... Calma. Naquele tempo, ficava por aí. Daí para frente, era jogar conversa fora: elogiar-lhe a elegância, o perfume, a beleza e convidá-la para um sorvete depois do cinema e passear na avenida. No meio do papo, se prometia um namoro sério. Não era muito fácil, assim, não. Isso custava muitos ingressos e muitos passeios no vaivém, em que, geralmente, se iniciava o flerte”, relata Antônio Pereira. O vaivém na avenida Afonso Pena (da praça Tubal Vilela até a rua Goiás) era o charme daqueles tempos. Nessa fase, a troca de olhares era fundamental. Quanto mais discretos, mais promessas emocionantes ofereciam. Na avenida, a moçada ia e vinha. Os casais de namorados, já firmados, também participavam do ir e vir. Os mais idosos e os casados, passeavam sobre a calçada, parando nas vitrines a ver as novidades, as coisas interessantes da Casas Pernambucanas, da Goyana - o Templo da Moda (do Cyro Avelino), do Mundo Elegante (do Alcides Helou), da loja Glória. A criançada rodeava os pipoqueiros à espera de ser servida. Os preconceitos, entretanto, faziam limitações. Os negros passeavam do

Homens só tinham acesso as sessões do Cine-Teatro Uberlândia de terno e gravata outro lado. Para eles não havia o flerte dentro do cinema porque eles só eram admitidos no poleiro, uma galeria que ficava na parte de cima do cinema. A sessão preferida da moçada era a de domingo às seis da tarde. Todo mundo se vestia com a melhor roupa, os rapazes com os sapatos lustrados, brilhando. Lotava. Os casais que namoravam escondido (porque os pais não queriam) se encontravam no cinema, depois que começava o filme. As meninas

guardavam os lugares. Se, eventualmente, se acendessem as luzes no meio do filme, eles pulavam fora da cadeira e fingiam que iam lá fora. Era comum pai ficar no meio do povo que passeava na avenida, ao fim da sessão, para ver com quem saiam suas filhas. No Cine Uberlândia, o mais concorrido, o lanterninha apelidado “Mãozinha” punha pra fora do cinema os rapazes mais atiradinhos e os que punham os pés nas poltronas da frente.


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História e recordações Jesus Borges da Paixão, hoje com 66 anos, tinha pouco mais de 20 quando chegou à cidade. Ele veio a convite do sogro, Benedito Comotti, para trabalhar na empresa de Cinemas São Paulo Minas, proprietária da maior parte das salas existentes na época em Uberlândia. Do tradicional tripé que compunha o cinema antigo “Produção-distribuição-exibição”, ele aprendeu a dominar as duas últimas áreas. Por aqui, o seu grande mestre foi Antônio Ronaldo Aguiar. Aposentando, Jesus hoje vive em Brasília, mas, na década de 1970, foi gerente do Cine Vera Cruz, do Cine IT, quando ainda exibiam filmes do circuito convencional (anos mais tarde, o IT tornou-se sala especial para exibição de filmes eróticos), e do Cine Avenida. Na década de 1980, foi alçado à gerência regional dos cinemas. Em Uberlândia, os cinemas que compunham a rede eram o Cine Avenida, após a reforma transformado em Cine Bristol, o Cine Capri, no alto da avenida Floriano Peixoto, no bairro Aparecida, o Cine Vera Cruz e o Cine Regente. Criou-se também o Cine Windsor, no centro da cidade, na

A luxuosa sala de espera do Cine-Teatro Uberlândia com a bomboniére à sua esquerda

avenida Floriano Peixoto, próximo à rua Santos Dumont. Das lembranças que Jesus carrega, algumas conta com entusiasmo e refletem a ingenuidade e o teor ritualístico que os cinemas representavam para a população. Ele conta, por exemplo, de uma ocasião em que decidiram, como forma de divulgação, projetar slides com imagens de um dos filmes da franquia 007 em uma das saídas de emergência do Cine Avenida. Mesmo com o padrão de qualidade baixo na época, os transeuntes paravam em frente ao cinema e assistiam à projeção como se fosse mesmo a exibição do filme. Jesus relembra também de quando receberam imenso painel para a divulgação do filme” Inferno na Torre”. Precisavam escolher um local para instalá-lo e também da autorização da prefeitura para isso. Como era algo inédito na cidade, ficaram perambulando entre as repartições públicas, de sala em sala, e ninguém sabia quem poderia liberar tal autorização. Foi quando o sogro lhe disse: “vamos instalar assim mesmo, se nos procurarem, pelo menos teremos uma sala pra reunir e saberemos quem pode liberar”. E assim foi feito. O painel com 12m de altura encontrou lugar no via-

duto da avenida Afonso Pena, próximo à praça Sérgio Pacheco, quando ainda não tinha o acabamento que tem hoje. Ninguém os procurou e o local ainda foi usado para divulgação de outros filmes. Mas, a história mais inusitada que Jesus conta foi a do projetor, movido a carvão, que tinha duas lâmpadas. A película passava pelo tambor de tração, depois pelo tambor guia e por fim pelo movietone, que era de onde saía o som. Uma ocasião, no Cine It, quando era exibido o filme “A Colina do Amor Eterno”, o tambor de guia quebrou e ele teve de ficar ao lado do projecionista, com o dedo substituindo a peça, durante toda a exibição do filme. Ele relatou que, nessa época, era comum ter três sessões diárias. E todas praticamente lotavam. Jesus lembra também como a divulgação dos filmes era artesanal e, portanto, criativa. Ele se recorda do Senhor Valim, um “retratista” que pintava painéis dos filmes em cartaz. Um de seus “aprendizes” foi um jovem que queria aprender a pintar e depois acabou trocando a carreira de pintor pela de cantor. Era Moacir Franco. O Senhor Valim pintava os cartazes em


59 Cine It, o último dos cinemas de nossa cidade, teve um final melancólico exibindo filmes pornográficos

uma pequena oficina montada no fundo do Cine Bristol. Depois, ele foi substituído por outro pintor, de nome Jaci, que trabalhava no corredor do Cine Regente. Um dos colegas de trabalho de Jesus era Pedro Naves, que veio de Campinas trabalhar na empresa São Paulo-Minas para o Cine Scorpions, um Drive In que a rede instalou por alguns anos em Uberlândia. Pedro também permaneceu na rede e tornou-se gerente-geral dos cinemas de Uberlândia, na década de 1980, até montar o seu próprio negócio, a rede Astor, no recém-inaugurado Center Shopping. Começou com três salas: Astor 1, Astor 2 e Astor 3, ampliando depois para um número maior de salas, com a rede rebatizada de Cinemais. Posteriormente, vendeu para a rede Cinépolis, atualmente à frente do empreendimento. O jornalista e colunista social Hugueney Bisneto também tem belas recordações dessa época: “Assisti a muitos clássicos quando o cinema não tinha lugar marcado e, muitas vezes, vendiam mais ingressos que a capacidade. A gente tinha que sentar nos corredores. No Cine Avenida, tinha um lustre redondo e a luz ia diminuindo e antes de começar a sessão tocava um gongo, tom, tom, tom três vezes. Depois fizeram um fumódromo, acarpetado que cheirava a alcatrão e nicotina. Era assim para fazer gênero, porque era o maior fedor. No Capri, tinha uma cortina e uma cascata que mudava de cor. Assisti a milhares de películas: Noviça Rebelde, E o vento levou, também Terremoto em surround, cheio de caixas de som, um barulhão danado que até tremia o cinema. A gente saía de lá e

ia na sorveteria Rivoli comentar sobre os efeitos especiais. No Regente, assisti ao Grease, o povo levantava, dançava e cantava com a Olivia Newton John e o John Travolta. Também se falava que depois que o Cine It virou pornô, uma menina tinha ficado grávida só de sentar na poltrona”. O imponente Cine-Teatro Uberlândia foi demolido e no local construído as instalações do Banco Bradesco. O Regente permaneceu fechado alguns anos, virou igreja, retornou à função de cinema por mais duas vezes, fechou novamante e, por fim, foi demolido em 2003. No local, foi erguido um prédio de apart-hotel que leva seu nome. O Cine Windsor, quando fechou, virou igreja. O Cine Vera Cruz transformou-se em teatro, mudou de nome anos depois para Grande Otelo e hoje encontra-se em ruínas. O Cine Bristol, que antes fora Cine Avenida foi transformado em um bingo. Depois o imóvel foi alugado e hoje recebe um grande magazine. O Cine It, mesmo decadente e exibindo exclusivamente filmes pornográficos, foi o último cinema de rua que a cidade teve. Foi demolido no final de 2015 e no local está sendo construído outro estabelecimento bancário. Os cinemas de rua não existem mais. Permanecem deles apenas as lembranças de tantos romances e histórias de uma época em que um dos programas mais elegantes de Uberlândia era frequentar suas concorridas sessões. Apenas prédio do Cine Vera Cruz não foi demolido Localizado na av. João Pinheiro nº 1.789, no bairro Aparecida, a sala de ci-

nema integrava um amplo processo de urbanização da Vila Operária, ocorrido na década de 1960. O antigo Cine Vera Cruz, atual Teatro Grande Otelo , teve o tempo áureo como cinema, posteriormente como cine-teatro e, por fim, como teatro. Construído em 1966, projetado pelo engenheiro Nelson Gonçalves Prado, não obedeceu a nenhum estilo arquitetônico específico. Na época, o Teatro foi construído no bairro Operário, quando a maioria das casas de espetáculos estava situada no centro da cidade. Em 1984 foi criada a Secretaria Municipal de Cultura, que promoveu a aquisição do prédio do antigo Cine Vera Cruz, desativado desde 1977. A reforma conferiu ao prédio condições mínimas para o funcionamento de um teatro. As obras foram concluídas em 1985. Em 1993, recebeu o nome de Teatro Grande Otelo, em homenagem ao ator uberlandense, ícone da cultura brasileira. O prédio, embora em ruínas, é o único cinema de rua da cidade que ainda não foi demolido ou alterado em sua concepção original.

O Cine Vera Cruz depois virou Teatro Grande Otelo, atualmente interditado


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HOMENAGEM

No dia 31 de outubro de 2019 foi realizada a 8ª edição do Racha dos Velhos Malandros, evento de congraçamento que reúne apaixonados e personagens marcantes da vida esportiva uberlandense

Ídolos

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de sempre Mairon César, o craque endiabrado

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dealizado e promovido pelo jornalista Celso Machado, além de resgatar e valorizar trajetórias que deram tantas alegrias aos torcedores locais, acabou por se transformar numa das mais expressivas homenagens a ídolos inesquecíveis que fizeram história em Uberlândia. A partir desta 8ª edição, além de um craque do futebol, passou a homenagear também um do esporte especializado. Os ídolos homenageados em 2019 foram Mairon Cezar, que teve passagem brilhante defendendo as cores do Uberlândia Esporte Clube e que também jogou pelo Guarani de Campinas, Goiás, Vila Nova, Rio Branco de Andradas e Seleção Mineira. Mairon Cezar ficou conhecido pelo “baile” que dava no lateral direito do Cruzeiro e da Seleção Brasileira, Nelinho todas as vezes que jogava contra ele. Abrindo a homenagem, a um grande nome do esporte especializado, o escolhido foi o joga-

O craque Paulo Luciano, o jornalista Magoo entregam o quadro homenagem ao craque Mairon Cesar que tem ao seu lado, sua mãe dor de basquete Rubens Guilherme, Rubão. Ele, juntamente, com Marden, Sérgio Santos, Leone e Pico, fez parte do “dream team” responsável, em 1963 pelo primeiro título estadual de basquete da cidade de Uberlândia.

O início “Comecei jogando na equipe do Vasquinho, time do amador aqui de Uberlândia. Com 13 anos, fui para Campinas onde joguei no Guarani e na Ponte Preta. Voltei para Uberlândia com 16 anos e já me profissionalizei. Joguei no Uberlândia, Guarani de Campinas, Goiás, Vila Nova, Valério, Rio Branco de Andradas e Seleção Mineira. Foram 15 anos atuando.”

A história com Nelinho “Fiquei muito conhecido por essas atuações que fizeram com que ele fosse expulso três vezes aqui no Juca Ribeiro e duas vezes no Mineirão jogando contra mim. Era difícil me marcar porque pesava 64 quilos, era muito veloz e quando eu o enfrentava, olhava que estava diante de um cara da seleção brasileira pensava assim: tenho que fazer o melhor. E graças a Deus, na maioria das vezes, levei a melhor. Tenho orgulho disso, inclusive dele ter dito uma vez no Programa do Faustão que o ponta esquerda mais difícil que ele marcou foi um magrinho de Uberlândia.” Nota: Certa vez, ainda no Estádio Juca


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“ A edição 2019, além de um craque do nosso futebol também homenageou um ídolo do esporte especializado”

Ribeiro, depois de ser driblado e apelado com uma falta violenta, Nelinho foi expulso e na saída do gramado chutou uma câmera da TV Triângulo que estava cobrindo o jogo.”

O jogo que ficou marcado Tenho vários jogos marcantes, mas dentre eles tem um que lembro com muito carinho. Foi o jogo Goiás e Anapolina pela decisão do Campeonato Goiano de 1983. Faltando dois minutos para terminar o jogo, marquei o gol do título, que inclusive naquele domingo, foi considerado o gol mais bonito pelo Fantástico. Joguei ao lado de muitos craques aqui no Uberlândia como Neiriberto, Dante e o Dirceu Lopes, que estava no final de carreira, mas ainda jogava muito. Turmas muito boas que corro até o risco de esquecer o nome de muitos deles. Antigamente havia mais craques mesmo, daria para formar verdadeiras seleções com jogadores que passaram pelo Uberlândia Esporte.” “Encerrei a carreira profissional em 92 jogando pelo Valério. Ainda jogo minhas peladas e não me afasto do futebol.

Rubão, o craque em todos os sentidos O jornalista esportivo especializado na cobertura de jogos de basquetebol, Luiz Alberto Tomé, define muito bem quem foi e a importância de Rubens Guilherme (Rubão) para a história desse esporte em Uberlândia. “O Rubão fez parte de um time que proporcionou grandes alegrias na minha juventude. Rubão, Sérgio

Rubão, ao lado da esposa Guilhermina, mostrando o quadro homenagem desenhado pelo artista José Ferreira Neto Santos, Mardem, Leone e o saudoso Pico formaram o dream team do Uberlândia Tenis Clube – UTC. O Rubão se destacou de tal maneira que passou algum tempo na forte equipe de Franca ao lado de Hélio Rubens e Anjinho.” Além de extraordinário atleta Rubens Guilherme é uma figura muito querida e com atuação de destaque em vários segmentos da vida uberlandense. Ele relembra algumas passagens de sua trajetória no basquete de nossa cidade.”

Campeão Mineiro de Basquete “Na década de 60, o Campeonato Mineiro era disputado em duas fases, interior e capital. O campeão do interior disputava a final com o campeão

da capital. Vários anos não teve essa disputa porque o Minas quando ganhava nunca aceitava vir jogar aqui. Em 1963, o Ginástico que havia sido vencedor nessa fase da capital aceitou. Perdemos uma partida por 54 a 38, mas ganhamos as outras duas por 41 a 40 e 55 a 41 e, finalmente, fomos campeões estaduais. Em 1972, o Leone montou novamente um time aqui muito bom. Naquele ano, eu morava em Belo Horizonte e ele me ligou falando que ia fazer um amistoso e ganhar do Minas lá. Falei pra ele não faz isso, vence primeiro o Campeonato do Interior e só depois vem jogar com eles aqui. Ele teimou, levou o time e ganhou do Minas dentro de Belo Horizonte. Adivinha se teve campeonato naquele ano? Não teve!.


63 Celso Machado, com Sérgio Santos e Rubens Guilherme

Motivo de orgulho “Meu maior orgulho é a minha família, meus amigos. A convivência maravilhosa com essas turmas todas do basquete e de outros segmentos. É muito bom quando a gente, de vez em quando, é parado por alguém e se ouve: eu te conheço, você fez isso, fez aquilo. Isso é muito bom. É uma grande satisfação você ter feito alguma coisa, cumprido seu trabalho e ainda ter coisas pela frente para fazer.”

Os quadros homenagens foram entregues no restaurante do clube que recebeu mais de uma centena de presenças. Dentre elas, os presidentes de três clubes recreativos da cidade, Fernando Antônio de Freitas do Cajubá, Carlos Augusto Braga-Guto do Praia Clube e Reginaldo Eduardo Ferreira do Clube Caça e Pesca. Também compareceram o atual presidente e o ex-presidente do clube Ginástico, de Belo Horizonte.

O evento das homenagens Como acontece todo ano, o Cajubá Country Clube abriu suas instalações para esse grande acontecimento esportivo. Um disputado “racha” reunindo ex-atletas e “boleiros” proporcionou momentos de rever bons lances daqueles atletas que, mesmo com o passar dos anos, mostraram que não perderam o talento e a classe.

Em cima: O presidente do Praia Clube, Guto Braga prestigiou o evento Ao lado: Outro homenageado, desta vez pelo Cajubá, foi José de Paula Abaixo: Craques de várias gerações participaram do tradicional racha anual


64 FINALMENTES

Merecidas homenagens numa noite feliz

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Dr. Salah Daud, com a esposa, recebendo o quadro homenagem

Niza Luz, com familiares

stava bem longe do Natal, porque foi no dia 20 de agosto, mas quem compareceu viveu uma noite muito feliz no lançamento da edição 17 do Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre. O local foi o salão do Cajubá Country Clube que também comemorava seus 55 anos de fundação. Como em todos os demais eventos, foram prestadas merecidas homenagens às figuras marcantes da vida de nossa cidade. As duas primeiras foram para os ex-presidentes mais antigos do Cajubá vivos, respectivamente Paulo Régis da Silva e Wilno Roberto de Souza. Ambos há tempos não frequentavam o clube e ficaram agradecidos pela lembrança e reconhecimento. Em seguida foi a vez da ho-

menagem surpresa ao médico Salah Daud, um dos fundadores da Unimed-Uberlândia e do Hospital Santa Genoveva. Pediatra com mais de 50 anos de exercício, Salah é apaixonado pelo trabalho, amor que compartilha com a família e o time do coração, o Uberlândia Esporte Clube. Sua família, colegas do Santa Genoveva, da Unimed e amigos estiveram presentes compartilhando desse reconhecimento merecido e necessário. A última homenagem da noite foi dirigida a uma pessoa bastante atuante na vida política, social e assistencial de Uberlândia, Niza Ribeiro Luz. Primeira mulher a disputar uma eleição para Prefeito; também a única que exerceu esse cargo por um breve, mas importante período.

Niza Luz, com a filha Cláudia


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Por feliz coincidência do destino, a data de 20 de agosto é também a que ela estava completando 80 anos de vida. Foi emocionante compartilhar de sua presença e poder homenageá-la numa data tão marcante de sua existência. Figuras queridas de diversos segmentos da cidade estiveram presentes prestigiando mais um lançamento do Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre, desfrutando de uma noite feliz para todos os aspectos.

Dr. Salah Daud, com familiares, antes de saber que seria o homenageado da 17ª edição do Almanaque

No lançamento do Almanaque, o Cajubá homenageou os dois ex-presidentes mais antigos do clube

O casal Clodoaldo Penha Paes Leme, ladeado por dr. Luiz Alberto Garcia e José Antonio Sobreira

Paulo Regis, ex-presidente do Cajubá, recebendo abraço do vice-presidente Puaia

A diretora adjunta Vanessa Zago dando as boas-vindas aos convidados


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