Almanaque NÓS PROJETOS DE CONTEÚDO • ANO 11 • NÚMERO 21
MEDICINA EM UBERLÂNDIA, PASSADO, PRESENTE E FUTURO!
MAIO • 2022
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Nossa capa Uma visão histórica da medicina em Uberlândia por meio das ilustrações do artista José Ferreira Neto, da dona Chiquinha parteira, do dr. Domingos Pimentel Ulhoa, primeiro diretor da Faculdade de Medicina e do dr. Adib Jatene, que lançou a telemedicina aqui em Uberlândia Historiadores Antônio Pereira da Silva e dr. Oscar Virgílio Pereira Direção editorial Celso Machado Pesquisas e reportagens Carlos Guimarães Coelho e Celso Machado Agradecimentos especiais Osvaldo Teixeira, Eleusa Oliveira Colaboração Ady Torres, Ademir Reis, Camila Araujo, Gustavo Lazzarini, Maria Eduarda Cunha, Maria Eduarda Esteves, Orley Moreira, Taisa Ferreira Machado Finalização, ilustrações e tratamento de imagens José Ferreira Neto Fotografias Ascom PMU, Acervos Arquivo Público, Acervos Antonio Pereira, Oscar Virgilio, Close Comunicação, Acervos pessoais familiares e das empresas citadas Revisão Clarice Vitorino Impressão Editora Gráfica Cortes Projeto editorial Nós Projetos de Conteúdo (34) 3236.8133
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ela primeira vez na história desta publicação, decidimos produzir uma edição do Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre totalmente focada na história e memória da saúde em nossa cidade. Diferentemente das demais edições, como Uberlândia está vivendo um momento ímpar com os principais hospitais sendo adquiridos por grandes grupos, incluímos um esboço sobre o impacto dessas mudanças e as perspectivas quanto ao futuro desse segmento na cidade. Tivemos o apoio da Sociedade Médica e de outras instituições que nos permitiram produzir um almanaque que certamente é um registro valioso do trabalho notável de pessoas abnegadas. Como não localizamos nenhuma linha do tempo sobre a trajetória da saúde em Uberlândia, ousamos em tentar elaborar uma, que certamente está incompleta e pode ser até que equivocada em alguns dados, mas que será muito útil para ser aprimorada e complementada por estudiosos e historiadores. Difícil entender como não conseguimos identificar dados aparentemente básicos por falta de registros. Ou também por incompetência nossa de localizá-los. Mas o fato é que não obtivemos duas informações que buscamos em diferentes fontes: a primeira mulher e o primeiro negro que clinicaram em Uberlândia. Interessante ainda constatar que uma cidade do interior chegando aos 134 anos de existência teve apenas um médico como prefeito. Foi trabalhosa e desafiadora esta iniciativa, bem mais que as edições anteriores. Tivemos colaboração de muitos e, como não deveria ser, mas já nos acostumamos, o descaso e desinteresse de quem poderia contribuir muito. CELSO MACHADO Engenheiro de histórias
SUMÁRIO: 12. Faculdade de Medicina, 16. Dona Chiquinha, a parteira do bem; 30. Dr. Marcelo Simão Ferreira, um médico infectologista de renome mundial; 40. A história da Unimed; 44. O desafio da saúde pública; 56. A saúde hoje e no futuro; 58. Zaire Rezende, o médico prefeito
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LINHA DO TEMPO
1850 - Miguel Jacintho de Mello instala a primeira farmácia de São Pedro do Uberabinha. 1857 - Instala-se no arraial de São Pedro do Uberabinha o primeiro boticário licenciado: Antonio Maximiano Ferreira Pinto; 1889 – José Teixeira de SantÁnna, vindo de Uberaba, instala farmácia no Largo da Matriz. 1895 - Com apoio da Câmara Municipal, o povo de Uberabinha contrata o dr. Carlos Gabaglia, primeiro médico a clinicar na cidade. O contrato foi por um ano e os munícipes auxiliados pelo município pagaram seis contos e seiscentos mil reais. 01/01/1908 – Empossada a primeira diretoria da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, criada por iniciativa de Custódio da Costa Pereira. 1918 - Fundada pelo dr. Carlos Wutke, iniciam as atividades da primeira Clínica Veterinária especializada para cães e gatos de alta linhagem, na avenida João Pinheiro 768. 1918 - Inaugurada a Santa Casa de Misericórdia, iniciativa dos vicentinos. 1923 - Ainda na época de Uberabinha, um grupo de italianos e brasileiros fundou a Sparta Brazileira, primeira academia de ginástica e práticas esportivas da cidade. 1940 - Médico José Virgilio Mineiro, a partir de Uberlândia, liderou campanha contra a hanseníase que, na época, era doença incurável e discriminatória. 1942 - Criado o Sanatório Espírita de Uberlândia. 1945 - Fundada a Sociedade Médica de Uberlândia, em 16 de novembro, a partir de uma reunião de médicos no interior da Santa Casa de Misericórdia. 1949 - Fundada a Casa de Saúde e Maternidade Santa Clara pelo dr. Ruy Cotta Pacheco. 1950 - Foi a época de ouro dos laboratórios que distribuíam medicamentos na região. Nesta década, Uberlândia chegou a ter mais de 20 laboratórios. A taxação de impostos que começou na década de 60 praticamente fez desaparecer todos eles por aqui. 1952 - Chega à cidade, recém-formado, dr. Abdalla Miguel, que inaugurou a Policlínica Uberlândia onde hoje é a Casa da Cultura no Fundinho. 1958 - Entra em funcionamento o primeiro prédio projetado especialmente para funcionar como Hospital, o Santa Catarina. O trio responsável por isso: Abdalla Miguel, Bolivar Alves e Duarte Ulhoa Portilho. 1963 - Depois de se formar e atuar no Rio de Janeiro, volta para Uberlândia o médico José Olympio de Freitas Azevedo, um dos principais responsáveis pela criação da Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia. Foi o primeiro cirurgião plástico da cidade com foco em cirurgia reparadora.
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1968 - Fundada a Faculdade de Medicina e Cirurgia de Uberlândia. 1970 - Criadas as Faculdades de Odontologia, Medicina Veterinária e a de Educação Física. 1971 - maio - Criada a Unimed, que inicialmente teve o nome Mediminas Uberlândia. 1972 - Criado o curso de Serviço Social pela ABRACEC. 1973 - Formada a primeira turma da Faculdade de Medicina e Cirurgia de Uberlândia. Tinha 95 alunos, dos quais apenas 8 eram mulheres. 1975 - outubro - Surge o Hospital Santa Genoveva. 1982 - Eleito o único médico a ser prefeito de Uberlândia, dr. Zaire Rezende. Seu primeiro mandato foi até 1988, com ênfase no social, o que lhe deu popularidade. Voltou em 2000 para um segundo mandato, que foi até 2004, mas que não teve boa receptividade, tanto que na disputa pela reeleição sequer chegou a disputar o segundo turno. 1982 - outubro – Uberlândia elege o primeiro vereador médico negro, dr. Sebastião Eurípedes dos Santos.
Maternidade Municipal dr. Odelmo Leão Carneiro. 2018 - julho - Primeira cirurgia cardíaca realizada no Hospital Municipal. 2019 - maio - O grupo Onco Clínicas compra o COT Centro Oncológico do Triângulo. 2019 - 29/agosto - UMC é o primeiro a receber robô para cirurgias. 2020 - março - Reaberto o Hospital Santa Catarina por iniciativa da Prefeitura Municipal de Uberlândia. 2021 - setembro - O grupo Hapvida adquire o Hospital Madrecor. 2021 - outubro - O grupo Onco Clínicas adquire o Uberlândia Medical Center - UMC. 2021 - novembro - O grupo Mater Dei adquire o Hospital Santa Genoveva. 2022 - maio - O grupo Mater Dei assina contrato com o Hospital Santa Clara, para sua aquisição, sujeita à aprovação do CADE.
1989 - outubro - Criada a Uniodonto. 1993 - Constituída a Unicred Aliança. 1996 - junho - Criado o grupo Luta pela Vida, responsável pela construção e por equipar o Hospital do CâncerUberlândia. 1998 - setembro - Fundado o Centro Oncológico do Triângulo – COT - que se tornou referência no tratamento do câncer. 1998 - Fundado o ISO Olhos. 2000 - Entra em funcionamento o Hospital do CâncerUberlândia. 2005 - Fundado o hospital Madrecor. 2010 - novembro - Inaugurado o Hospital Municipal e
Observação: Estes dados esboçam a tentativa de uma linha do tempo. É um levantamento da equipe responsável pelo Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre visando destacar principais pontos da história da saúde em Uberlândia. Está sujeita a erros, equívocos e complementos, para os quais antecipadamente pedimos desculpas.
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O dr. João Fernandes de Oliveira foi o primeiro presidente da Fundação Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia, entidade mantenedora da Faculdade de Medicina Rondon Pacheco, outras autoridades e médicos em obras em 1968. Abaixo, lançamento da pedra fundamental em 1966 FACULDADE DE MEDICINA
SONHOS DE ALGUNS LUTA DE MUITOS
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processo da criação da Fundação Escola de Medicina de Uberlândia (FEMECIU), hoje Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) se deu em junho de 1966. O médico e professor dr. Domingos Pimentel Ulhoa foi escolhido pelo grupo como primeiro diretor. Em dezembro de 1966, foram iniciadas as obras. Em 1967, fazendeiros ligados ao Sindicato Rural se prontificaram em doar um boi
cada um para a construção da escola. Um grupo de trabalho composto, entre outros, por dr. José Olympio de Freitas, Ismael de Freitas, Renato de Oliveira Grama, Hermilon Correa, João Fernandes de Oliveira, Amélio Marques arrecadou mais dinheiro por meio de bingos, barraquinhas e rifas. Arnaldo Godoy de Souza, Simão de Carvalho Luz, Durval Garcia e outros lecionavam sem receber qualquer remuneração.
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Diretores da recém fundada Faculdade de Medicina nos estúdios da TV Triângulo. Abaixo, dr. Domingos Pimentel de Ulhoa, primeiro diretor da Faculdade de Medicina
HISTÓRIAS
EM 1967, FAZENDEIROS LIGADOS AO SINDICATO RURAL SE PRONTIFICARAM EM DOAR UM BOI CADA UM PARA A CONSTRUÇÃO DA ESCOLA
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Faculdade de Medicina tornou-se a maior reinvindicação da cidade. Nas doações para a construção da Escola de Medicina colaboraram executivos locais, os prefeitos Raul Pereira de Rezende, Renato de Freitas, Virgilio Galassi, com doação dos terrenos,
abastecimento de água e esgoto. O empresário Rui Santos fez doações dos terrenos no Umuarama numa área de 60.000 m2 para a construção da Escola de Medicina e do Hospital de Clínicas. O Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, Companhia Agrícola de Minas Gerais, e a CRUSA Construtora deram o nivelamento, terraplanagem e paisagismo da Escola. Ivan Cupertino Rodrigues doou o projeto arquitetônico do Campus e montou a maquete da obra para campanhas de arrecadação junto a empresários e a população. Os cálculos estruturais foram feitos pelo engenheiro Carlos Vilela Junior. Em 19 de março de 1968 foi a inauguração da Escola de Medicina e Cirurgia de Uberlândia.
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UM REGISTRO QUASE CIVIL Por: Antônio Pereira da Silva
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um surpreendente livro de Contas Correntes cujas primeiras folhas, que registravam lançamentos contábeis, foram arrancadas, José Teixeira de Sant’Anna escreveu, de próprio punho, com letra desenhada, uma peça de teatro intitulada “A Prudência e a Astúcia Vencem Tudo”, comédia em três atos. São treze personagens que se envolvem na trama de um noivado cheio de percalços, mas que chega a um final feliz. Uma espécie de paródia do seu próprio casamento. O livro tem 368 folhas e a trama se desenvolve
da 213 à 268. Pouco antes do falecimento do autor, cujas atividades vale a pena recordar, pois foi Agente Executivo, jornalista, farmacêutico, rábula, viajante, músico (um homem múltiplo), sua esposa, dona Francisca Augusta Teixeira, mais conhecida por dona Chiquinha do Bem, começou a anotar, no restante das páginas, os partos que fazia. Ela foi, sem dúvida, a grande parteira dos princípios do século XX, na velha São Pedro de Uberabinha. O Teixeira faleceu em 1918. As anotações de d. Chiquinha começam em 1916.
A 2 de fevereiro, ela atendeu “Elisa” e cobrou cinquenta mil réis. Foi o primeiro registro. Nesse ano, ela atendeu a vinte e três partos. Já no ano seguinte foram quarenta e cinco. Os preços variavam de cem mil réis (que cobrou da Mariquinha do Abdallah e da Doca) a dez mil réis, que cobrou da Nidica, da Maria do Guido e da Maria. Da Isaura, cobrou apenas cinco. É que ela cobrava de acordo com as posses das parturientes. Até 1918, os registros foram feitos com a mesma letra desenhada, certamente do Teixeira. A partir daí, eles passaram a ser feitos com letra muito ruim e muitos erros de grafia pela própria Chiquinha. Naqueles tempos, as moças estudavam até o quarto ano primário e já estava bom demais. O que elas precisavam de saber era: lavar roupa, cozinhar, remendar, varrer, fazer quitandas e cuidar de crianças. Pra que estudar mais, não é? Dona Chiquinha anotava nomes, ou apelidos, como eram conhecidas familiarmente suas pacientes, como a Sinhá do Orelio (14/04/18, fls. 271v), Féfe (10/04/18, fls. 271v), Santinha (05/11/18, fls. 271v). As variações de preço seguiam, semelhantes, mas a Dovica, atendida no dia 15 de julho de 1918, pagou duzentos mil réis. Há registros que não se referem a parto, como, por exemplo, “serviço na Gigi”, no dia 11 de julho. Gigi tinha dado à luz no dia 6 de junho e necessitou de algum atendimento extra. No dia 21 de abril, foi atendida “Anna do Thopilo”, que me sugere ser a Don’Anna, esposa do coronel José Theóphilo Carneiro. Eram parentes. Outras anotações curiosas: “Cinhá do João Viera”, “Colotides”. No dia 16/10/1919, Cornélia foi atendida de graça, o mesmo ocorrendo com a Anna do Sesinho em
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1º/01/1920. Mas a Maria Augusta inaugurou um novo preço em 18 de agosto: duzentos e cinquenta mil réis. No dia primeiro de agosto de 1920 foi atendida a Catuta Pepe, por cinqüenta mil réis. Tudo indica ser a mãe do prof. José Pepe Jr. Nesse ano, mais quatro são atendidas gratuitamente: Madalena, Amita, Vidica e Juvina. Em 1921, foram feitos 22 atendimentos. Dona Catuta do Pepe ainda foi atendida em 1922 e 1924. Dona Chiquinha não atendia só na cidade, não. Ela ia a todo canto do município: Douradinho, Buriti, Quilombo, Marimbondo e outras regiões. E anotava. No dia 27 de julho de 1925 ela atendeu de graça a “Maria Mulher do Soldado”. Outra parturiente que aparece nas páginas desse “registro” e que, para nós, uberlandenses, é particularmente de interesse histórico, é dona “Nicola do Raulino”. Esse casal, Nicola e Raulino, simplesmente são os pais do nosso mais expressivo homem público, o Ministro Rondon Pacheco. Pois o Rondon veio ao mundo pelas mãos da dona Chiquinha do Bem. Todo final de folha, dona Chiquinha puxava a soma dos rendimentos. Em 1943, ela resolveu parar e fechou as contas registrando: “Em 15 anos rendeu 5:100.633$000” – ou seja, cinco contos, cem mil, seiscentos e trinta e três mil réis. Como a clientela não lhe deu sossego, ela voltou aos partos, fez mais 19 e só parou pra valer em 1945, quando fez o último registro,
de dona “Fiúca do Salazar”, no dia 27 de julho. Dona Fiúca era a esposa do jornalista, estradeiro, comerciante etc, Pedro Salazar Pessoa Filho. A par dessas anotações, ela fazia outros registros domésticos pelos quais se nota que ela ajudava bastante o seu talentoso filho Ladário Teixeira, um dos maiores saxofonistas do mundo e o nosso mais respeitável músico. Esse curioso e histórico livro encontra-se protegido em arquivo da família, felizmente. Fonte: Livro de registros de dona Chiquinha, Bilá Salazar, José Peppe jr.
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Por: Antônio Pereira da Silva SÉCULO XIX
ACIMA, FARMÁCIA ESPÍRITO SANTO E O FARMACÊUTICO BERNARDO CUPERTINO
PRINCÍPIOS DA MEDICINA EM UBERLÂNDIA
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partir de 1852, talvez um pouco antes, começou a se formar um pequeno povoado em torno da capela de N. S. Carmo e S. Sebastião, num ponto da vertente direita do rio Uberabinha, onde havia um exuberante capão de mato e onde esteve, mais de um século depois, a Biblioteca Pública Municipal. Eram casebres humildes cobertos com palhas de buriti, sem qualquer alinhamento, apenas envolvendo o pequeno templo e o cemitério ao seu redor, e acompanhando o rego d’água que serviu à construção da pequenina igreja. O que era a infelicidade de se adoecer nesse tempo? Não havia médicos nem farmácias. O doente era atendido por raizeiros e benzedores e tomava as beberagens resultantes de infusões, chás e garrafadas, além das simpatias e benzeções que podiam levar a um bom final, mas que também podiam não chegar a nada. E o que fazer quando essas coisas não davam certo? Sant’Anna do Rio das Velhas (Indianópolis) era perto, mas também não tinha médicos. Uberaba tinha. Desde meados do século XIX que ela era uma das
maiores cidades do país. Para levar-se um doente a Uberaba, gastavase de quatro a sete dias, num carro de bois. Talvez fosse mais rápido e mais seguro trazer o médico. O que ocorria algumas vezes, é que o doente morria no meio do caminho, ou, quando o esculápio chegava, o doente já estava morto e enterrado. Quando estava vivo, o médico se aboletava em sua residência e ia ficando, ficando, até o doente sarar ou morrer. Enquanto isso, atendia eventualmente quem o procurasse. O primeiro socorro técnico que tivemos, veio com a chegada do farmacêutico prático Miguel Jacintho de Mello, em 1850, que também receitava. Sete anos depois, chegou o segundo, também prático, porém provisionado, ou seja, autorizado por quem de direito a exercer a profissão. Ficou conhecido. Era um profissional múltiplo: Antônio Maximiano Ferreira Pinto, conhecido por Pintão. Era também músico e até organizou nossa primeira banda, a “Banda
dos Pintos”. Foi também líder político. A família do Pintão é um dos troncos formadores dos Oliveira Pinto, com vários representantes na cidade, quase todos dedicados espíritas. Foi o Pintão quem construiu o primeiro sobrado da cidade, ali no Largo da Matriz (pr. Cícero Macedo). Embaixo funcionou uma escola oficial na qual lecionavam o próprio Pintão e sua esposa. O terceiro farmacêutico foi o filho do Pintão, que tinha o mesmo nome do pai. Por época da Guerra do Paraguai, o Pintão e o padre Almas aprontaram com os conservadores e foram ameaçados de expulsão da cidade. Em 1865, o padre Almas, pressionado, retornou para Uberaba. Substituiu-o o padre Joaquim Neiva, que ficou pouco tempo, talvez nem tenha sido provisionado. A fama desse pároco, era de que, além de salvar almas, dava jeito
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A Santa Casa inaugurada em 1918
O primeiro socorro técnico que tivemos veio com a chegada do farmacêutico prático Miguel Jacintho de Mello, em 1850, que também receitava no corpo também, porque era um excelente raizeiro. O pequeno povoado desenvolveu-se sem ter a proteção de uma medicina competente até que, na segunda gestão da Câmara Municipal (1895), o experiente Augusto Cesar apresentou um projeto de Lei autorizando a contratação, por um ano, de um médico itinerante. Havia disso antigamente. Eram médicos cujas famílias moravam num lugar, mas eles rodavam por aí, com ou sem contratos. Carlos Gabaglia foi contratado por seis contos e seiscentos mil réis. O povo se cotizou, mas conseguiu levantar apenas cinco contos e oitocentos. A Câmara se propôs a pagar o resto, mas também não tinha dinheiro e assinou uma promissória que o médico aceitou. Foi o primeiro médico na cidade. Veio, cumpriu o contrato e foi-se, ninguém sabe para onde. Sua família residia no Rio de Janeiro. Era 1896. Logo depois da chegada da Mogiana, chegou o segundo, o admirável Raphael Rinaldi, homem de bom coração que conviveu amistosamente com os raizeiros orientandoos. Era um sacerdote na arte de curar, por sua dedicação, sua caridade, seu carisma e por sua estranha personalidade. Usava
um capotão preto com os bolsos cheios de balinhas que distribuía à criançada. Não cobrava. Deixava que seus pacientes pagassem o que quisessem e como quisessem. Eram galinhas, ovos, leitões, cestas de verduras, quitandas etc. Para reforçar sua receita, fabricava queijos. Foi o primeiro a receitar e aplicar injeções – que o povo relutava em tomar. Faleceu em 1911 e seu enterro teve a concorrência de toda a cidade. Nessa época já estavam aqui os médicos Eduardo de Oliveira Martins, chegado em 1905, e Almeida Couto cuja propaganda se via nos jornais. Talvez, outros. O terceiro médico, que também era itinerante, mas acabou fixando-se aqui, foi esse dr. Eduardo de Oliveira Martins cuja clínica ficava onde está, hoje, uma agência do Banco Real, na esquina das avenidas João Naves de Ávila e Floriano Peixoto. Ao fundo de sua clínica, o dr. Oliveira Martins mandou erguer uma torre de madeira, que batizou de “torre hidroterápica”, com quase uns dez metros de altura, que era uma de suas técnicas curativas. Era uma enorme “ducha” que a cidade inteira via, de qualquer ponto. Era 1909.
Em 1906, estabeleceu-se, enfim, o primeiro farmacêutico formado, o dr. Antônio Vieira Gonçalves. Em 1919 formou-se o dr. Olavo Ribeiro, primeiro cidadão residente em Uberabinha a concluir um curso de medicina (era de Uberaba). Em 1922, formou-se o dr. Antônio Marques da Silva, primeira pessoa nascida em Uberabinha a formar-se médico. Lentamente se fez um respeitável corpo clínico na cidade. Foram os médicos da Santa Casa que idealizaram e fundaram a Sociedade Médica de Uberlândia. No Livro de Atas do Corpo Clínico daquela instituição ficou registrado, no dia 16 de novembro de 1945, uma lacônica mas definitiva decisão: “Pela aprovação da totalidade de médicos presentes, fica fundada a Sociedade Médica de Uberlândia.” Assinaram esta ata os doutores: Arnaldo Godoy de Souza, Eduardo Velloso Vianna, Klauss Mirim Rudolph, Horácio Izeckson, Luiz Gonzaga Pimentel Arantes, Euclides Gonzaga de Freitas, Moysés de Freitas,. Mário Sauerbrow, Waldemar Veloso Soares, Caio Bardy, Longino Teixeira, Laerte Vieira Gonçalves, Mário Marques da Silva, Miron de Menezes, Octacílio Pessoa Mendes, Hélio Lima Santa Cecília, Jorge Muniz Ferreira, Tomé de Carvalho e Rubens de Carvalho. No dia 20 do ano seguinte foi eleita uma diretoria provisória encabeçada pelo dr. Klauss Mirim. O primeiro presidente oficial foi o dr. Longino Teixeira. Fontes: jornais da época, Ignácio Pinheiro, Tito Teixeira, dr. Longino Teixeira, atas da Câmara Municipal, atas da Sociedade Médica.
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A Sociedade Médica de Uberlândia conta atualmente com 870 sócios, entre ativos e aposentados
Por: Carlos Guimarães Coelho
SOCIEDADE MÉDICA
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o ano de 1945, no contexto do fim da Segunda Guerra Mundial, em uma cidade ainda pequena, quando a praça central foi rebatizada de Praça da República, em 16 de novembro, um grupo de abnegados médicos reunidos fundou a Sociedade Médica de Uberlândia (SMU), sendo o dr. Klauss Mirim Rudolph eleito o presidente da diretoria provisória, que seria responsável pela elaboração do primeiro estatuto, regimento interno, normas eleitorais e reuniões científicas, até ser empossado, em 18 de março de 1947, o médico Longino Teixeira, eleito o seu primeiro presidente oficial. Neste contexto, os assuntos pautados na primeira assembleia geral da SMU foram: “construção de um Hospital dos Médicos, preços mínimos, horário de trabalho, contratação de um advogado e transformação da SMU em Sociedade dos Médicos, Farmacêuticos e Odontólogos de Uberlândia”. A primeira palestra proferida, em 1˚ de junho do mesmo ano, foi pelo médico J. Medina, com o tema “Metropatias e Metrorragias, Amenorreias, Terapêutica Hormonal e uso dos Hormônios e suas Dores”. Esses primeiros acontecimentos foram na sede provisória da SMU, que fica na Associação Comercial. Nesse mesmo período, no início do ano seguinte, a SMU patrocinou o
primeiro Curso de Enfermagem para atendimento em consultório com a formatura de 24 profissionais. E, em setembro de 1948, organizou na cidade o II Congresso Médico do Triângulo Mineiro e Brasil Central. E, no início de 1949, foi reconhecida como utilidade pública pelo Município, tendo, seis anos depois, o mesmo reconhecimento pelo Estado de Minas Gerais. A década de 1950 foi marcante para a SMU. Logo no início da década, o então governador do estado, Juscelino Kubitscheck, veio à cidade lançar a pedra fundamental da Casa do Médico que estava sendo erguida, cuja primeira etapa foi concluída em 1953, com um ambulatório e salas de reunião, com a obra prosseguindo até 1965, com a inauguração do auditório. Segundo relatou o atual presidente da entidade, desde a sua fundação, em 16 de dezembro de 1945, até os dias atuais, a Sociedade Médica de Uberlândia se mantém fiel ao seu propósito de “Estimular a cultura médica, pugnar pela defesa e união da classe, prestar assistência moral e se possível, material aos associados, promover assistência e o congraçamento entre os profissionais de outras cidades, propugnar pelo incremento da assistência médico-social e educacional, contribuir para aproximação e congraçamento das famílias dos médicos e seus associados”.
Foram 77 anos de memoráveis eventos científicos, recreativos e sociais, além da construção da sede e o nascimento da SMU. Segundo Braga, a SMU vem cumprindo o seu papel institucional, científico, social e recreativo em prol da classe médica da cidade e de seus cidadãos de forma ininterrupta. A sede própria foi construída, congressos, simpósios científicos e cursos foram realizados e o seu salão de festas foi palco de bailes, aniversários, saraus, peças teatrais, concertos e despedidas. Ele ressaltou também que as lutas em prol da dignidade do trabalho médico, a justa remuneração e a qualidade assistencial sempre nortearam as ações da SMU ao longo de sua existência. Neste sentido, seus associados idealizaram e fundaram a Unimed Uberlândia no dia 15 de maio de 1971, com o intuito de garantir os princípios supracitados aos médicos. Sua primeira sede estabelecida foi em sala anexa à secretaria da SMU, avançando pelo seu próprio território e sedes e consagrando-se como uma das grandes cooperativas do sistema médico. Posteriormente, a SMU se empenhou também como comissão fundadora da Unicred Uberlândia, em 1995, sendo a Cooperada 001 desta instituição e detentora da primeira conta aberta. O objetivo era a autonomia na gestão dos recursos advindos dos honorários dos médicos, clínicas e hospitais em uma instituição financeira própria, onde o resultado das operações se constituiria em sobras para os cooperados.
RONDON PACHECO, OUTRAS AUTORIDADES E MÉDICOS EM 1968 JUNTO AS OBRAS DA SEDE DA SOCIEDADE MEDICA DE UBERLÂNDIA
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do Estado de Minas Gerais, a Associação dos Hospitais de Uberlândia, a secretaria da SMU e, em breve, uma representação da Aliança-Unicred.
Dr. Eduardo Braga, presidente da Sociedade Médica de Uberlândia
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m duas décadas, na de 1990 e na primeira dos anos 2000, a SMU atuou de forma decisiva na negociação dos convênios que chegavam à cidade com o objetivo de pactuar valores de honorários dignos e o credenciamento universal dos médicos. No processo de implantação da CBHPM em Uberlândia, a SMU esteve à frente do movimento através dos seus departamentos de convênios e especialidades, juntamente com a AMB, CFM, AMMG, CRMMG e Sindicato dos Médicos de Minas Gerais. “Obtivemos vitórias na implantação da CBHPM”, declarou Eduardo Braga. Braga destacou também o fato de a SMU se manter firme na execução do seu papel fundamental de representante legítima dos interesses éticos, morais e legais da classe médica de Uberlândia. “Atuamos de forma a termos a nossa representatividade em todas as áreas onde poderíamos contribuir para a Saúde na cidade, como Conselho Municipal Antidrogas, Conselho Segurança Pública Justiça e Cidadania, Conselho Municipal de Saúde, G7, Conselho de Desenvolvimento de Uberlândia, Observatório Social de Uberlândia, representações na AMB, AMMG, Conselho Nacional de Saúde e no Comitê Municipal de Enfrentamento ao Covid-19, dentre outros”, disse ele, destacando que, durante a pandemia, ao longo dos últimos dois anos, foram realizadas várias reuniões científicas virtuais de aprimoramento no tratamento da Covid-19, segundo ele, realizadas sob a coordenação do dr. Uilter Goulart de Oliveira, diretor da SMU, em parceria
com o Hospital Municipal e Maternidade Dr. Odelmo Leão Carneiro e o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, e abertas a toda classe médica da cidade. “Após quatro anos de reformas referentes ao projeto de combate a incêndios, acessibilidade e modernização das instalações, estamos plenamente habilitados ao retorno de nossas atividades de forma presencial. E agora, com o término da fase pandêmica do Covid, faremos em breve a reinauguração de nossos salões, colocando-os novamente à disposição dos associados; resultados estes fruto do apoio e confiança depositada pela classe médica de Uberlândia e suas instituições parceiras Unimed e Unicred. Os representantes dos departamentos de especialidades já serão convidados para as reuniões do retorno às atividades científicas, virtuais e/ou presenciais e às pautas inerentes a cada área”, informou o presidente. A Sociedade Médica de Uberlândia conta atualmente com 870 sócios, entre ativos e aposentados. A atual sede da SMU é composta por um prédio acessível de três andares, mais andar térreo e subsolo. Dispõe de escada de emergência externa, elevador para nove ocupantes e plataforma de elevação no anfiteatro. É composta de um auditório nobre com capacidade de 202 lugares sentados, sala de aula com 50 lugares, sala de reuniões com 30 lugares, salão de festas com capacidade para 380 pessoas, cozinha, vestiários masculino e feminino e banheiros acessíveis em todos os andares. Aloja em suas instalações a Delegacia Regional do Conselho Regional de Medicina
O presidente adiantou que, além do seu papel institucional na valorização do associativismo médico, a diretoria atual está focada em entrega de valor ao seu associado. “A volta da plena utilização de suas instalações em atividades sociais e científicas é, com certeza, o ponto o qual os seus sócios mais anseiam”, explicitou Braga. Ele relatou também que está em elaboração a composição de um serviço de orientação jurídica de forma ampla, envolvendo questões cíveis, tributárias, trabalhistas e éticas, a cargo de sua procuradoria jurídica representada. Esclareceu que é um formato inédito de serviço de pronta orientação ao sócio em situações emergenciais, aliado a cursos, palestras e webinários focados na gestão do consultório e clínica do associado, nos aspectos tributários e fiscais. O atual presidente disse também que estão em prospecção parcerias com concessionárias de veículos, agência de viagens, instituições de ensino, área da Tecnologia da Informação, agências de marketing e buffets, convidando associados a apresentarem sugestões de áreas de interesse e parceiros. Eduardo Braga é médico formado pela Universidade Federal de Uberlândia, com especialização em Urologia pela Faculdade de Medicina de São José Rio do Preto e Medicina do Trabalho pela Faculdade de Medicina de Itajubá, com curso de especialização em APS na Fundação Unimed e MBA em Gestão de Saúde na FGV. Foi oficial médico da reserva da PMMG, além de diretor adjunto do Interior da Associação Médica de Minas Gerais entre 2020 e 2023.
“A VOLTA DA PLENA UTILIZAÇÃO DE SUAS INSTALAÇÕES EM ATIVIDADES SOCIAIS E CIENTÍFICAS É, COM CERTEZA, O PONTO O QUAL OS SEUS SÓCIOS MAIS ANSEIAM”
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Mais de 30 médicos compõem o quadro do ISO Olhos hoje, considerando oftalmologistas, anestesistas e residentes, são 4 unidades de atendimento e cerca de 100 colaboradores
ISO OLHOS, REFERÊNCIA
REGIONAL EM OFTALMOLOGIA
A diretoria do ISO Olhos com a equipe do programa social Reviver
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á 24 anos, três amigos que se conheciam desde os tempos do Ensino Médio e tinham cursado medicina decidiram empreender na área de saúde. Eram os médicos dr. André Rodrigues da Cunha, dra. Maria do Carmo Monte e dr. Mário Carvalho. Em um primeiro momento, buscaram especializações em áreas e lugares diferentes para, em seguida, se reunirem e colocarem em prática esse sonho. Oito anos depois, o oftalmologista dr. Gilberto Pereira Resende veio compor a sociedade e o trio virou um quarteto, em um hospital especializado em oftalmologia em constante expansão, o ISO Olhos – Instituto de Saúde Ocular. Para o diretor e oftalmologista dr. Mário Carvalho, a empresa vem cumprindo sua missão. “No que diz respeito à excelência tecnológica, temos em nosso hospital os equipamentos mais avançados da oftalmologia. Na área científica, a maioria dos médicos possui mestrado e doutorado e participam constantemente de congressos”, detalhou. “Somos persistentes na busca pela qualidade no atendimento, queremos que as pessoas se sintam bem aqui e colocamos isso em prática todos os dias”, diz dr. Mário. Uma das premissas do ISO Olhos é manter um bom
relacionamento com seus colaboradores. Segundo dr. Mário, esse é o principal caminho para manter o nível de engajamento elevado, o que resulta em uma repercussão positiva sobre o atendimento e satisfação do cliente. Para Diogo Freitas Pereira Gomes, que atua na área de Gestão de Pessoas e de Qualidade, foi construída uma sólida cultura organizacional, que tem como pilares o acolhimento, a valorização das pessoas, a melhoria contínua e o foco em resultado. Sobre o acolhimento, busca-se um atendimento com humanização, respeito e focado na satisfação. A valorização de pessoas diz respeito aos programas internos de reconhecimento da equipe e da manutenção de um ambiente de trabalho agradável para trabalhar. Inclusive, por dois anos consecutivos, a empresa participou de uma pesquisa em nível nacional, o GPTW - Great Place To Work, sendo premiada como uma das “Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil, no setor de saúde na categoria hospitais”. A melhoria contínua está ligada aos treinamentos técnicos e ciclos de melhoria de processos. E, por fim, o foco em resultado baseia-se na gestão por indicadores de desempenho e acompanhamento e monitoramento destes.
Para a gerente administrativa do ISO Olhos, Marlea Kátia Resende, o ISO Olhos teve um crescimento vertiginoso no decorrer dos anos. Do início com três especialistas, hoje mais de 30 médicos compõem o quadro, considerando oftalmologistas, anestesistas e residentes, são 4 unidades de atendimento e cerca de 100 colaboradores estão alocados nos diversos departamentos. O ISO Olhos apresenta expressivos diferenciais no mercado, incluindo projetos de responsabilidade social, como o Programa Social Reviver, que existe desde 2000 e era um desejo da diretoria desde a fundação da organização. As atividades do programa social são financiadas com recursos próprios; ele estimula o voluntariado entre colaboradores e corpo clínico e atende a comunidade de forma gratuita. Basicamente existem duas frentes de atuação: campanhas para alertar para a necessidade de acompanhamento médico especializado, com o intuito de conscientizar as pessoas e evitar problemas oculares que possam futuramente resultar em cegueira, e propiciar soluções em oftalmologia, como consultas, exames e cirurgias para pessoas de baixo poder aquisitivo, com reabilitação
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Dr. André Rodrigues da Cunha, Dra. Maria do Carmo Monte, Dr. Mário Carvalho e Dr. Gilberto Pereira Resende durante inauguração Unidade Jardim Patrícia – 2020 visual através de condutas médicas, proporcionando assim melhor qualidade de vida. Desde 2005, o ISO Olhos passou a atuar com o atendimento pelo Sistema Único de Saúde - SUS e, à medida que o volume de atendimento foi crescendo, surgiu a necessidade de uma unidade para atender exclusivamente pacientes encaminhados pelo SUS, chamada de unidade Martins, inaugurada em 2013. Esse serviço acabou trazendo para a empresa relacionamentos com as secretarias de saúde da região, não somente de Uberlândia mas também de Monte Carmelo, Campina Verde, Araguari, Ituiutaba e outras cidades vizinhas. Marlea explica que o hospital é credenciado como de alta complexidade junto ao SUS e, portanto, está autorizado a realizar procedimentos cirúrgicos, inclusive transplantes de córnea. Um outro diferencial competitivo é a consolidação da Unidade Araxá, inaugurada em 2006. A ideia na época era ampliar e disseminar o conhecimento tecnológico e científico de corpo clínico e atender a demanda por serviço de oftalmologia na região da Zona da Mata do Alto Paranaíba, no estado de Minas Gerais, visto que o deslocamento até o Triângulo Mineiro muitas vezes tornava-se inviável e oneroso. O trabalho na filial segue o intuito da instituição de ser reconhecida pelo profissionalismo e atendimento de qualidade a seus pacientes. Desde 2017, a instituição investe na área educacional com o Programa de Residência Médica, credenciado ao MEC, e Programa Fellowship em Subespecidalidades da Oftalmologia. As atividades são desenvolvidas na Matriz e Unidade Martins – ambas em Uberlândia e, desde então, já são 5 médicos residentes formados
e 3 médicos com fellowship. O ISO Olhos é o único hospital oftalmológico particular da região a oferecer esses programas em que residentes e fellowships têm sua rotina de estudos teóricos, atividades práticas, contato com aparelhos modernos para diagnóstico e tratamento, tudo sob supervisão direta do corpo clínico. Há pouco mais de dois anos, a empresa inaugurou mais uma unidade de atendimento localizada em Uberlândia, no bairro Jardim Patrícia, região Oeste da cidade. A unidade conta com consultórios, setor de lentes de contato, além de realização de exames com foco em consulta de prevenção. Exames de média e alta complexidade bem como cirurgias continuam sendo realizados. Segundo a diretora e oftalmologista do ISO Olhos, dra. Maria do Carmo Monte, o local escolhido para investimento é estratégico. “Queremos levar a excelência da Oftalmologia para outras regiões de Uberlândia. Estar mais perto dos moradores da região para oferecer mais comodida-de e segurança na realização de exames e consultas e, dessa forma, facilitar a realização de consultas preventivas e de cuidados com a saúde ocular. Os pacientes não precisarão gastar muito tempo no deslocamento”. O projeto de ampliação da matriz, em execução, começou a ser estruturado em 2015. A empresa foi crescendo, aumentando a complexidade do centro cirúrgico e as demandas das outras unidades e cidades da região. O início das obras estava agendado para 2020, mas foi adiado em função da pandemia, iniciando efetivamente em março deste ano. Na matriz, são 1.027 m2 de área construída que passarão a ser 3.058 m2. A previsão é que fique pronto em 18 meses. O principal objetivo é acomodar o paciente com maior segurança
e conforto, além de ampliar a capacidade produtiva para atender à crescente demanda da região. O ISO Olhos acaba de passar pela renovação da certificação da ONA - Organização Nacional de Acreditação, que é um sistema de avaliação da qualidade dos serviços de saúde com o intuito de promover a qualidade e a segurança da assistência no setor. A instituição foi certificada com o nível 2 – acreditado pleno em 2019 e, após auditoria realizada no final de 2021, foi recomendada a manutenção deste nível de certificação. O Nível 3 – acreditado com excelência, é a meta do ISO Olhos para os próximos anos. “Passar por todo esse processo tem sido uma experiência enriquecedora para colaboradores, corpo clínico e diretoria. Uma organização acreditada na metodologia ONA trabalha internamente a gestão de qualidade na assistência, a segurança do paciente e a avaliação de risco em vários processos”, diz Diogo Freitas. Quando uma instituição é certificada, transmite ao mercado segurança nessas questões, além disso, o ISO Olhos é o único hospital oftalmológico da região com essa certificação, o que deixa toda a equipe orgulhosa. O ISO Olhos tem se consolidado como referência em oftalmologia na região, promovendo assistência médica especializada, segura e acolhedora e preconizando uma oftalmologia cada vez mais sustentável, com mais qualidade, mais gestão, valorizando os médicos e colaboradores e colocando cada vez mais o paciente no centro do cuidado. “A gente se tornou um parâmetro em atendimento médico voltado para a saúde ocular. Muitos oftalmologistas seguiram por esse mesmo caminho e hoje podemos dizer que Uberlândia é um modelo de excelência nessa especialidade”, finaliza dr. Mário.
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Já atendi mais de 6.000 pacientes e nunca por convenio
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DR. MARCELO SIMÃO FERREIRA
COM TODO RESPEITO Por: Celso Machado
Ele tem um jeitão próprio que, para quem não o conhece, pode ser confundido como simplório. Mas não tem nada disso, pelo contrário: é um médico notável, conhecido e reconhecido internacionalmente na área das doenças infecciosas e gastroenterologia. Podia estar trabalhando em qualquer parte do mundo, mas prefere atuar aqui na sua cidade natal, inclusive assumindo tarefas complicadas e desgastantes, como fazer parte do comitê municipal de prevenção contra a COVID-19. Seu legado vai além da sua carreira, porque formou e tem formado seguidores igualmente competentes. Admirado e respeitado em todos os segmentos da vida uberlandense, principalmente pelos colegas médicos, só não é uma unanimidade, porque unanimidade não existe.
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eu nome é Marcelo Simão Ferreira, nasci em 26 de janeiro de 1955 aqui em Uberlândia no Hospital Santa Clara. Meu pai, João Tomé Ferreira, era Otorrinolaringologista, e a minha mãe, Guiomar Simão Ferreira. Eles se casaram em 1953 e eu nasci em 55. Eu era para nascer em São Paulo, onde eles moravam porque o papai fazia residência médica lá, mas minha mãe queria ter o parto do lado da minha avó: Laíla Simão. Insistiu tanto que meu pai a trouxe para dar à luz aqui. Fiz o vestibular para Medicina em Ribeirão Preto e não passei. Fiz aqui e passei em primeiro lugar num ano que tiveram mais de mil candidatos. Minha infância foi toda aqui em Uberlândia. Entrei aos sete anos de idade no Externato São José, que tinha como diretora D. Cornélia, que era muito amiga da minha mãe. Interessante é que naquela época você só entrava na escola a partir dessa idade. Hoje não, com dois anos, três anos a criança já está na escola. Fiz o primário lá, depois fiz o exame de admissão no Colégio Estadual. Tirei o primeiro lugar no exame de admissão e meu pai ficou muito orgulhoso. Lembro que o diretor era o Sr. Vadico. Fiz o ensino médio lá. Depois fiz o cursinho no Galileu dos saudosos Eduardo Andrauss e do Luiz Humberto Carneiro, meus amigos do peito. Eu prestei o vestibular em dois lugares apenas, porque não era fácil você sair de Uberlândia. Na época, morar fora era difícil. Mas aceitei fazer o exame em Ribeirão Preto. Fui com o meu pai, cheguei lá e não passei. Você vê como é o destino das pessoas,
acredito muito nisso, fiz o vestibular para medicina aqui em Uberlândia e tirei o primeiro lugar numa disputa com mais de mil candidatos. Foi no final de 1972 e comecei na Faculdade de Medicina em 1973. Eu tinha 17 anos e existia uma lei na época que a pessoa só podia entrar na Faculdade se tivesse 18 anos. Mas, como passei em dezembro com 17 anos e fiz 18 em janeiro, não houve problema. Fiz medicina até o quinto ano em Uberlândia. Prestei concurso para fazer o sexto ano no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Aí me mudei e foram vários amigos comigo, o que tornou menos traumática a saída de Uberlândia. E acabou que São Paulo se tornou uma paixão. Adoro São Paulo. Fiquei em São Paulo durante cinco anos. O sexto ano do curso de Medicina e mais quatro anos de residência, que fiz no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Fiz residência em doenças infecciosas. Na época não existia essa especialidade infectologia: chamava-se doenças infecciosas e parasitárias.
Meu pai queria que eu fosse Otorrino para seguir a carreira dele Meu pai queria que eu fosse Otorrino para seguir a carreira dele. Ele era amigo de um dos maiores otorrinos do mundo, o dr. William House, da Universidade de Los Angeles, e me falou que eu ia fazer a residência com ele lá nos EUA.
Meu pai, que não era mau professor, deu aula para mim de otorrino, mas detestei. Era uma especialidade cirúrgica e eu não tinha mão para cirurgia. Eu queria ser um clínico. No início pensei em ser Dermatologista, meu pai quase surtou, você está ficando louco, falou. Depois, quando fiz doenças infecciosas, passei a gostar muito. Aí meu pai surtou pela segunda vez. Outra especialidade que me balançou foi a gastroenterologia, que conheci no quarto ano de residência. Fiquei um ano na Gastro, mas focando mais na parte do fígado em que hoje sou referência. Assim, eu fiz as duas especialidades que havia gostado e meu pai depois ficou muito feliz porque me dei muito bem na minha profissão. Quando chegou no último ano de residência, fiquei na dúvida, se eu ficava
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O Odelmo sofreu muita pressão, mas ele aguentou o tranco e nós evitamos muitas mortes aqui, muitas Dr. Marcelo junto com a mãe Guiomar e com o pai, também médico, João Tomé Ferreira em São Paulo ou se eu voltava para Uberlândia. Fiquei na dúvida, por quê? Porque ao terminar a residência os meus professores me ofereceram para ficar nos serviços deles, de manhã em um e à tarde em outro. E eu fiquei muito balançado com aquilo porque gostava muito de São Paulo, achava a sétima maravilha do mundo. E aí apareceu um concurso aqui e vim prestar. Prestei e passei. Na hora de vir embora, eu me lembro que foi umas das piores semanas da minha vida. Pensava que vindo para Uberlândia não ia crescer profissionalmente. Essa era uma ideia minha, ideia errônea, né. Mas isso é porque Uberlândia era pequena ainda e a faculdade era recente. Mas depois eu pensei que aqui eu ia ser dono de mim mesmo. Lá eu ia ser empregado. Aí pensei, vou experimentar, se eu não gostar, peço demissão e volto para São Paulo. Vim trabalhar na Faculdade em 1982. Logo na primeira semana que cheguei meu pai arrumou uma sala no consultório dele e eu comecei a atender os pacientes. De 82 até 2020 foram 38 anos atendendo no meu consultório. Agora também estou fazendo consultas online. Já atendi mais de 6.000 pacientes e nunca atendi convênio. Sempre pacientes particulares. Eu não pensei que fosse crescer profissionalmente aqui em Uberlândia. Mas à medida que Uberlândia foi
desenvolvendo, foram surgindo oportunidades de criar serviços novos. E aí apareceu a Aids que impactou muito, assim como agora o Covid, que fez nossa especialidade ter um valor enorme. Criei uma equipe dedicada e competente. Todo mundo que trabalha comigo hoje fui eu que formei: alunos que foram para USP em Ribeirão Preto para especializar e voltaram para trabalhar comigo. Quando formamos essa equipe, decidimos como íamos crescer: publicando trabalhos. E nós começamos a publicar. Hoje, temos cerca de 80 trabalhos publicados numa plataforma que é a mais importante do meio, sobre patologia tropical. Tive e tenho colaboração de várias pessoas dentro da Universidade e fora. Eu era tão aficionado e ainda continuo sendo que uma vez peguei o caso de uma doença muito rara por aqui, levei o material para o EUA e encontrei o cara que mais entendia do assunto para ele identificar. Ele ficou meu amigo: quando veio ao Brasil, ele veio a Uberlândia. Então é isso que fazia a gente se animar, ver que as coisas estavam dando certo. Aí abriu a Pós-graduação aqui na escola onde lecionei durante muitos anos. Formamos vários mestrandos e doutorandos, o que para mim é uma satisfação muito grande. Um levantamento em 2020 da Universidade de Stanford na California nomeou pessoas que dentro da ciência
influenciaram a pesquisa, o ensino. No Brasil em 2020 havia 600 nessa lista, meu nome está lá. Sou o único médico da Universidade Federal de Uberlândia que entrou nessa lista. O único. Em 2021, estou novamente nessa lista. Isso foi uma coroação da carreira que deixa a gente muito feliz. Eu não saio aí divulgando, não gosto disso. Na minha cabeça é a recompensa de uma vida em que trabalhei e me dediquei muito. Hoje sou hoje reconhecido internacionalmente. Como pode, né? Já dei aula em todos os estados do Brasil e ultrapassei suas fronteiras. Sou professor na Faculdade em Assunção no Paraguai. Já dei aula no Uruguai, na Argentina, no Chile, no Equador, no México. E, também Portugal, onde o pessoal gosta muito de mim. Tanto em Lisboa quanto no Porto e em Coimbra. Antes da pandemia estava indo três a quatro vezes por ano a Portugal, eu queria mudar para lá. Em 2018 me ofereceram um cargo de alto nível em Lisboa, para chefiar o Estudo Tropical de Lisboa. Não aceitei por causa do meu pai que estava demente, precisando muito de mim e do meu irmão. Nós é que estávamos cuidando dele e eu achei uma sacanagem ir embora do Brasil e largar ele aqui. E ele acabou morrendo em 2019. Agora estou querendo comprar um imóvel e passar uma parte do ano lá.
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O desafio de fazer parte do Comitê de enfrentamento a pandemia do COVID-19 foi difícil, porque nem todos concordavam comigo. Meu olhar é pelo lado da ciência, e no comitê tem vários representantes dos lojistas, da indústria, dos serviços que olham para suas atividades que foram muito prejudicadas. Nós ficamos em lockdown durante muitas semanas. Mas como íamos fazer? Morriam 30, 40 pessoas por dia. Um colega falou que numa madrugada que estava de plantão a perua da funerária foi mais de vinte vezes buscar cadáver. Como que nós íamos deixar a coisa avançar? Muitas dessas pessoas não entendiam isso. E você sabe que existem os negacionistas, aqueles que falam que a pandemia não era nada, que era uma bobagem, que estávamos quebrando a população e tal. Nesse ponto tenho que fazer um elogio para o Odelmo, porque primeiro ele escutou, a mim e ao Professor Gladstone. Ele sofreu muita pressão, mas aguentou o tranco muito bem. Com isso nós evitamos muitas mortes aqui, muitas. Tiveram embates muito grandes com empresários que exigiam a minha saída do comitê. Mas o Odelmo foi firme comigo: olha, eu vou escutar o senhor, eu não vou escutar mais ninguém. Depois, com a vacinação, a coisa foi melhorando. Mas a pressão foi grande.
Toda pessoa doente é uma pessoa muito fragilizada A medicina me ensinou que o paciente é um ser humano que está precisando de alguma coisa e você pode ajudar. Acho esse o maior ensinamento da medicina: cuidar e ajudar as pessoas. De qualquer forma, às vezes o paciente vai no meu consultório e não tem nada na parte orgânica dele. A saúde dele está perfeita, mas ele está estressado, precisa conversar. Então, se ele está com medo e você esclarece o medo dele, isso já é uma ajuda muito grande que o médico dá para o paciente. Porque toda pessoa doente é uma pessoa muito fragilizada, extremamente fragilizada. E um dos papéis do médico é tentar fortalecer ao máximo essa pessoa, não só com as medidas médicas, mas também com as psicológicas, que são muito importantes.
O que me levou a escolher as doenças infecciosas é porque era a especialidade que eu mais poderia curar
Já houve casos em que eu falei “isso aqui não tem jeito vai morrer” e a pessoa não morreu. Eu os considero como verdadeiros milagres. Muitas vezes eu falo com a família: “reza. Tem religião? Então reza, a reza vai ajudar bastante”. Eu me lembro muito bem de um garçom, de um restaurante eu não vou falar que restaurante que é, em que os outros garçons amigos dele vieram falar comigo que ele estava em casa à morte. Eu pedi para transportar ele lá para a Medicina. Ele estava em pele e osso, morrendo realmente. Descobri que ele era HIV positivo. Ele internou, eu falei “ele não vai resistir, ele vai morrer”. A mãe dele falou comigo e eu falei: “olha, está muito grave, ele chegou muito tarde eu não sei se ele sobrevive”. Mas ele sobreviveu, foi uma doença grave, uma infecção grave, nós tratamos tudo e ele está trabalhando no restaurante até hoje. Toda vez que eu vou lá, ele vem e me agradece. Então é isso que dá, satisfação para gente, entendeu. É isso que dá satisfação. Você nunca deve desistir do paciente. Eu não deixo os meus residentes fazerem isso. O residente às vezes chega para mim e fala: “doutor, isso aqui não tem mais jeito, a gente não precisa fazer mais nada, vamos esperar ele morrer”. Eu falo “não faça isso. Tudo o que você puder fazer para minorar o sofrimento dele nós vamos fazer, entendeu”. Uma das coisas que me levaram a escolher as doenças infecciosas é porque eu notei uma coisa muito importante: era a especialidade que eu mais poderia curar.
Eu me fiz aqui: Uberlândia é a cidade que eu gosto, que eu amo Uberlândia significa tudo na minha vida. Estudei aqui, me formei aqui. A família nossa é muito pequena, mas é toda daqui. Meus pais morreram, meus tios também, mas meu irmão e sobrinhos estão aqui. Eu tenho muitas amizades em Uberlândia, amizades fraternais. Me perguntaram várias vezes se eu mudaria de Uberlândia. Falo que quero morar em Portugal. Mas não mudar, fico uns dois meses por ano lá e o restante aqui. Eu nasci e fui criado aqui. Eu me fiz aqui, entendeu. Uberlândia é a cidade que eu gosto, que eu amo.
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O que notabilizou D. Teresa foi sua grande habilidade em tratar casos de reabilitação física, tanto em casos de acidentes vasculares como em casos de traumatismos
A ALEMÃ UBERLANDENSE D. TERESA Por: Oscar Virgílio Pereira
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uando se fala na medicina de Uberlândia, no passado, é de inteira justiça que sejam lembradas pessoas que deram muito de si para ajudar a aliviar o sofrimento do povo que mourejava para criar esta cidade. Quem descreveu, de forma bem-humorada, como foram os princípios da assistência médica nas épocas mais antigas foi o farmacêutico Américo SaintClair de Castro, em depoimento que fez no ano de 1906, em um processo como testemunha de defesa do também farmacêutico Bernardo Cupertino: “que seria longo mencionar o nome das pessoas que sem título legal receitam e tratam de doentes exercendo assim a profissão de curandeiros; que afirma sem medo de errar que nesta cidade e seu termo existem atualmente mais de cem pessoas que aplicam remédios e que de momento cita os seguintes nomes: em primeiro lugar o Doutor Raphael Rinaldi, Delegado de Higiene que exerce medicina e cirurgia sem nunca ter defendido tese assim como é lei do país; o farmacêutico Antonio Thomaz Ferreira de Rezende, o farmacêutico Antonio Vieira Gonçalves, ele depoente, Major Bernardo Cupertino, cidadão João Pereira da Costa Branco, cidadão Francisco de Paula Ferreira, Dona Maria dos Santos Couto, Dona
Francisca Roza de Assis, Dona Maura Pontes, cidadão José de Moraes, Manoel Ribeiro de Vasconcelos, Anicesio de Oliveira Barros, Emigdio Marques da Silva, cidadão Antonio Carlos de Araujo, Antonio Vieira do Rego, Antonio Feolieu de Macedo, Jonas Antonio da Silva, Leopoldino Ramos, Aureliano Tavares de Macedo, Antonio Ferreira Batista e uma infinidade mais, que curam ou matam pelo uso da medicina halopata, homeopatia, espírita, hidropatia e até feitiçaria e bruxaria.” (1) Na década de 1930, o mundo acompanhava o surgimento do nazismo na Alemanha e do fascismo na Itália. Já existia a União Soviética, tentando implantar o socialismo. Uberlândia também, juntamente com o Brasil, viveu tempos agitados: passou pela Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas assumiu o Poder Federal. Naquele tempo aconteceram a Revolta Comunista de 1935 , a Revolução Constitucionalista de São Paulo, de 1932, e a Revolta Integralista de 1938. Em meio a tantos acontecimentos conturbados, quando até foram feitas aqui inúmeras prisões por motivos políticos, a pequena cidade fazia um grande esforço para superar a carência de serviços públicos, especialmente na área da saúde. Ideias e propostas eram produzidas sem cessar, mas a falta de recursos oficiais
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impossibilitava a construção de um hospital público, como o que foi projetado pelo arquiteto João Jorge Coury. A Santa Casa de Misericódia, com enorme dificuldade, é que atendia a pobreza, mas não havia um plano geral de assistência à população. A pequena classe médica existente, mesmo se desdobrando, carecia de apoio técnico e faltavam profissionais em todas as áreas. Dentro daquele contexto, a cidade contava com algumas poucas pessoas para desempenhar o importante papel auxiliar da prática da medicina, não somente nas rotinas de aplicação de remédios, mas ainda o acompanhamento pós-operatório, especialmente no tratamento de acidentados e de pacientes de AVCs, trabalhos estes que exigem incessantes cuidados. Não existiam ainda especialidades como hoje; toda espécie de serviço, inclusive fisioterapia, era feita por enfermeiras. Todos conheciam quem eram as pessoas capazes de dar esse apoio e a elas recorriam, a maioria sem poder pagar pelos serviços. O que lhes garantia um pequeno orçamento eram os clientes de fora, atraídos por anúncios na imprensa. Pois foi para este cenário exigente de muita abnegação e valor espiritual que os fados trouxeram de muito longe para Uberlândia, em 1935, um casal com uma história de vida extraordinária, portadores de imensa riqueza intelectual e solidariedade, que se ajustaram com espantosa naturalidade ao espírito da cidade. Com eles veio a menina Edith. Eram pessoas muito discretas, mas soube-se que o Professor Guenther Brune era um veterano alemão da Primeira Guerra Mundial, que perdera em batalha seu braço direito. Ele foi contratado para ministrar a disciplina de Francês no Ginásio Mineiro e exerceu esta função por muitos anos, até a aposentadoria. Sua esposa, Teresa, logo se soube que era uma
enfermeira muito competente e experiente, e ela passou a ser chamada para atender pessoas em domicílio. A chegada daqueles estrangeiros foi recebida com natural reserva e desconfiança, com a cidade passando os agitados efeitos das revoltas da Aliança Nacional Libertadora e depois os da Ação Integralista. Mas o casal, apesar de ser gente muito reservada e modesta, em pouco tempo se tornou conhecido e estimado. Dona Teresa, como ela passou a ser conhecida por todo mundo, em pouco tempo falava com fluência a língua portuguesa, com forte sotaque alemão, e entrou no espírito da classe: atendia com carinho quem pudesse e quem não pudesse pagar. A menina Edith foi criada como as meninas brasileiras. Sua residência era uma casa modesta, no estilo alemão, construída em um grande terreno que compraram nos altos da cidade, no loteamento da Vila Brasil, local afastado e pouco habitado, onde plantaram inúmeras plantas ornamentais e frutíferas. O que notabilizou D. Teresa foi sua grande habilidade em tratar casos de reabilitação física, tanto em casos de acidentes vasculares como em casos de traumatismos. Com sua ajuda, por muitos anos, pessoas sem conta em Uberlândia voltaram a andar e a se movimentar, graças à habilidade da enfermeira alemã, muito recomendada por ortopedistas e cardiologistas. Ela fazia questão de se manter atualizada, adquirindo equipamentos modernos e acompanhando as novidades, para o que mantinha contatos com fabricantes e especialistas. Consta que, com seu gosto pelas novidades, foi D. Teresa que introduziu em Uberlândia a primeira máquina de lavar roupas, uma das grandes novidades do pós-Guerra. Quando o Brasil declarou guerra ao Eixo, em 1942, aqui não aconteceram atentados nem
agressões contra alemães, como em várias cidades. O Delegado Especial da Polícia, Tenente Coronel João Lima, que veio fazer uma investigação sobre o integralismo, chegou a sugerir a demissão do Professor Guenter de sua função no Ginásio Mineiro, juntamente com os professores Nelson Cupertino e Antônio de Macedo Costa, sem ter apresentado nenhum fundamento, apenas por preconceito (2): “Tenho, pois a impressão de que deviam ser afastados de seus cargos aqueles dois professores, e mais um alemão nato – o Professor Günter que também é catedrático no Gymnasio Mineiro, mutilado da conflagração de 1914 e cuja família não fala nenhuma palavra de Portuguez, afim de que a nossa mocidade tivesse educadores genuinamente brazileiros e que só eles incutissem no espirito ideias e principios brasileiros.” “Não vai nisso nenhuma insinuação às autoridades superiores que muito bem sabem o que fazem, mas apenas uma opinião pessoal de quem vive no ambiente da cidade lhe conhece os homens e as coisas, por dever de ofício.” A cidade, no entanto, não deu atenção alguma ao que lhe era sugerido, pois conhecia muito bem aqueles mestres e também já dera aos Guenther acolhida completa. Na gestão do Prefeito Renato de Freitas de 1973/1976, aquele setor em redor da “chácara do alemão” já estava muito bem desenvolvido e tornou-se o local ideal para implantação de um complexo escolar estadual. Foi exigido pela Secretaria Estadual de Educação que a Prefeitura entrasse com o terreno, com urgência, sob pena de ser desviado o projeto para outra cidade. Um processo de desapropriação foi iniciado com o dono da área mais apropriada
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Ela, a menorzinha, com sua mãe Charlottte Saleck, suas duas irmãs, de nome Paula e Christa, e seu irmão, Josef
do Bairro, mas faltava um pedaço para completar a área exigida, exatamente um pedaço da chácara vizinha de D. Teresa. Os alunos do atual Colégio Estadual José Inácio de Souza talvez nem saibam disto, mas foram imensos o entusiasmo e a alegria de D. Teresa em ceder uma parte de seu terreno para a instalação da escola em 1973, mas não como desapropriação. Ela fez questão, no melhor espírito do bom uberlandense, de que o caso fosse uma simples compra e venda a preço justo e sem exigência alguma. E até autorizou a ocupação do terreno mesmo antes de ser lavrada a escritura e antes do pagamento, o que foi fundamental para a implantação do projeto. O autor destas linhas é testemunha deste fato, porque teve o privilégio, como Secretário Municipal de Administração, de conduzir as providências sobre o assunto. Esta memória inspira outras indagações sobre o casal Brune e em especial sobre a personalidade tão singular de D. Teresa. Pergunte-se: o que teria trazido o casal para Uberlândia? Das informações que recolhemos, consta que o Professor Guenter Brune chegou ao Brasil como imigrante e que se casou, em 1935, com uma jovem de nome Therese, também imigrante. Dele não foi possível descobrir mais, a não ser que veio atraído pela fama de Uberlândia, uma cidade nova, embora distante de outros centros no Sul do Brasil, onde havia mais alemães; aqui ninguém perguntaria sua raça, se judeu ou ariano. De Dona Teresa foi possível saber mais. Informações surpreendentes foram registradas pelo escritor alemão Peter Stocker. Ela era a filha caçula de Johan Breitbach, diretor de uma escola primária, e de Charlottte Saleck, habitantes da região da Alemanha conhecida por Koblenz-Ehrenbreinstein. Tinha duas irmãs,
de nome Paula e Christa, e um irmão, Josef. Seu nome de solteira era Therese, conhecida com o apelido carinhoso de Rezy. Em sua juventude, na Alemanha, fora conhecida e admirada como uma jovem de espírito atilado. Peter Stocker reuniu e publicou a correspondência que ela manteve no período 1925/1932 com o famoso escritor alemão Robert Walsers. O assunto tratado em dezenas de cartas versava sobre aspectos profundos e complexos da criação literária. (3) Seu irmão, Josef, desde cedo um promissor intelectual, viria a se tornar, na idade madura, nada menos que um dos mais famosos escritores alemães, autor de obras importantes e fundamentais. No início da Grande Guerra, ele deixou o nome Josef, alemão, e passou a se chamar Joseph, nome francês, quando fugiu à perseguição nazista. Deixou um legado literário de importância fundamental para a cultura alemã, incluindo romances, contos e centenas de ensaios premiados. Participou de importantes gestões políticas e atividades diplomáticas de caráter humanitário no pósGuerra. É apreciável o número e importância das condecorações que recebeu: Cavaleiro da Legião de Honra, Cruz Federal do Mérito, Prêmio Combat, Medalha Goethe, Prêmio de Arte do Estado da Renânia-Palatinado, Grande Cruz de Mérito da República Federal da Alemanha com Estrela. Em Vladuz existe a FUNDAÇÃO JOSEP BREITBACH, por ele criada, que destina anualmente um prêmio ao autor do melhor trabalho do gênero literatura. Quanto a Rezy, depois de trabalhar como enfermeira em Rhielaud e se tornar mãe da menina Edith, é que, também como imigrante, conheceu Guenter, com quem se casou e veio parar na distante Uberlândia. O escritor famoso Joseph Breitbach e sua irmã tão querida, a enfermeira-massagista Therese,
desde que o destino os enviou para rumos tão diversos e distantes, se viram apenas mais uma vez na vida: foi quando Joseph veio visitá-la no Brasil, em 1938, permanecendo vários dias. Ele faleceu em maio de 1980 em Munique. E aqui temos a conclusão final desta história: para a Alemanha e para a França, Rezy, Therese, ou simplesmente a nossa D. Teresa, era a irmã predileta de seu grande intelectual Joseph; para Uberlândia, não existiu Rezy nem Therese; quem viveu aqui foi D. Teresa, a enérgica mas jovial enfermeira e massagista, mãe, cidadã e exemplo de criatura humana, que até sua morte, em 12 de agosto de 1996, nunca se vangloriou de suas habilidades e de sua origem tão gloriosa. Até na adversidade, quando ela foi processada por exercício ilegal de profissão, na terra que ajudara a construir, mostrou-se grande figura humana: nenhum protesto, nenhum ataque a ninguém. Apenas lhe bastaram o silêncio, a resignação e o sentimento do dever cumprido. Referências 1. PEREIRA, Oscar Virgílio, in Das Sesmarias ao Polo Urbano, Capítulo VII, tópico “Agenciadores, Boticários e Escrivães, p. 177; 2. V. in PEREIRA, Oscar Virgílio, op. cit., no Capítulo 7.2.1. o tópico “Apurações Policiais Sobre o Integralismo” 3. STOCKER, Peter, In: Robert Walsers Ambivalenzen (Bern) Chapter Adressierungsambivalenzen in Robert Walsers Briefen an Therese Breitbach (1926) Pages: 131–141 Purchase instant access (PDF download and unlimited online access)
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INSTITUTO SÃO LUCAS
SEMPRE NA VANGUARDA! Por: Carlos Guimarães Coelho
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década de 1960 marcou nossa cidade como época promissora. E baseado em espírito empreendedor, foi criado o “Instituto São Lucas”, clínica projetada pelo arquiteto Ildes Vieira de Moura, cuja construção iniciou em 1965. Foi a primeira clínica de Otorrinolaringologia e Oftalmologia no Triângulo Mineiro. Os fundadores eram médicos idealistas conceituados e bem-sucedidos na região: dr. Amilson Tannus (o idealizador deste projeto), dr. Antenor Vieira, dr. Adelmo de Oliveira Campos, dr. Edhair Gonçalves e dr. Eduardo Velloso. O Instituto São Lucas foi inaugurado em maio de 1968 e, à exceção do dr. Eduardo Velloso, todos os fundadores já faleceram.
Com o passar dos anos, novos médicos e novas especialidades alusivas à área foram surgindo, quando alguns destes profissionais tornaram-se sócios do Instituto: dr. Érico Otaviano Brandão, dr. Ricardo Mauricio de Oliveira Novaes, dr. Flávio Jaime da Rocha, dr. Magno Antônio Ferreira, dr. Edimar Tiago França e dr. Alexandre Freitas Meneses. dr. Velloso comenta ter presenciado várias transformações no local, que mantém a sua fachada original, porém passou por várias alterações e ampliações na parte interna. A aquisição de aparelhos tecnológicos avançados e a atualização constante sempre foram exigência preponderante da equipe médica. Diz-se impressionado com as inovações do local, sobretudo com a implantação de novas áreas, como
Dr. Ricardo Mauricio Novaes a Odontologia e a Dermatologia, com avanços no campo do implante capilar, revelando que ambas ocuparam espaços inusitados nas alterações do local. O relato de suas lembranças não esconde a emoção guardada sobre o tempo vivido ali e admiração que mantém pelas pessoas que lá estão. Não economiza elogios ao dr. Ricardo Maurício, a quem, por ser parente e conhecê-lo desde criança, destaca o quanto se sobressaiu como empreendedor e forte espírito de liderança desde que começou a atuar na clínica. Ricardo Maurício Novaes, hoje um dos coordenadores do Instituto, passou a fazer parte da empresa em 1985 e ajudou a elevar o nível existente desde os seus primórdios, colaborando para que as pessoas acreditassem ainda mais no potencial da cidade e da região, com uma clínica que dispõe de tecnologia de ponta projetada para dar segurança e conforto para os pacientes. O Instituto São Lucas sempre priorizou a ética, honestidade e vanguarda em tecnologia, atuando nas especialidades fundadoras, Otorrinolaringologia e Oftalmologia, como também na Dermatologia (Tricologia) e Odontologia para
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bebês, crianças e adultos jovens. Para dr. Ricardo Maurício, boa parte dos gestores do local vieram de formação consistente e específica das melhores escolas nacionais e internacionais, inclusive mestrados, doutorados e pós-doutorados, em locais como Unicamp, USP, Escola Paulista de Medicina, Harvard, Cambridge, entre outros. O otorrinolaringologista relatou também que a clínica foi sede do movimento embrionário da Unimed em Uberlândia. Integrantes do original Instituto São Lucas, como o dr. Antenor, dr. Adelmo e dr. Edahir, foram fundadores da cooperativa. Segundo dr. Ricardo, o que a clínica trazia a Uberlândia era algo de alto grau de especialidade. Cirurgias otológicas com microscopia, Otoneurologia e Audiologia passaram a ser feitas ali, assim como outras vanguardas na medicina de Uberlândia. De alguns anos para cá, as demandas do Instituto São Lucas foram expandidas, trazendo inovações no tratamento e implante capilar com o mais alto profissionalismo na área da Dermatologia. Assim também continuaram na vanguarda os diagnósticos de alterações auditivas e labirínticas, destacando-se também no tratamento e distúrbios do sono.
A CLÍNICA PROJETADA EM 1968 PELO ARQUITETO ILDES VIEIRA DE MOURA, MANTÉM BÁSICAMENTE SEU PROJETO INICIAL, MODERNIZADO E REVITALIZADO
Outra questão bastante contemporânea no Instituto São Lucas é o diagnóstico da alteração e distúrbios respiratórios em crianças, incluindo o ronco e apneia. O médico Ricardo Maurício, paralelamente a todo o tempo vivido ali, também foi atuante em várias instituições médicas da cidade, como a Unimed, a coordenação do departamento de Otorrinolaringologia da Universidade Federal de Uberlândia, onde foi professor e até mesmo vice-presidente da Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediatria, entre outras ocupações ao longo de seu percurso profissional. Hoje a Oftalmologia é coordenada pelo sócio dr. Flavio Jaime da Rocha, com formação sólida, mestrado, doutorado e pós-graduação em Harvard; contando com uma equipe de oito oftalmologistas, bem como equipamentos de última geração, e ao mesmo tempo coordena o departamento de oftalmologia da UFU. A Odontologia, coordenada por dra. Myrian Stella de Paiva Novaes, também se tornou referência. Ela própria, além de Professora Titular em Odontopediatria, foi coordenadora da Odontologia Pediátrica da Universidade Federal de Uberlândia, onde desenvolveu na Instituição projetos e serviços odontológicos relevantes à população da nossa cidade e região.
Hoje, atua no Instituto São Lucas fortalecendo a Odontopediatria regional, com um olhar preventivo e atuação precoce, vislumbrando uma Odontologia sempre inovadora. O dermatologista dr. Vinícius de Paiva Novaes, após retornar há cinco anos para Uberlândia, fez pósgraduação em São Paulo, vários cursos nacionais e internacionais. Disse ter se dedicado ao estudo de técnicas ideais para que os fios capilares consigam voltar a brotar, povoem e fiquem densos no couro cabeludo, minimizando a calvície com muita naturalidade. Com a Dermatologia/Tricologia e transplante capilar, a clínica tornou-se referência em nível nacional, o que, para, o dr. Vinicius, devolve aos clientes a autoestima e faz com que eles sintam, por meio dessa restauração, o bem-estar confiante que almejam. Mesmo com mais de 50 anos de existência, o Instituto São Lucas é uma prova de vanguarda em Uberlândia na área da saúde e na capacidade de seus profissionais continuarem prestando serviços de qualidade e altamente inovadores, mas priorizando sempre o conhecimento, o estudo e a ética, a serviço do bemestar do público que o busca.
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Dr. José Ribeiro, primeiro presidente da Unimed Uberlândia
UNIMED: UM POUCO DE HISTÓRIA
“DEU CERTO: ERA MÉDICO ADMINISTRANDO MÉDICO”
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m 1º de abril de 1971, a Associação Médica de Minas Gerais, depois de avaliar experiências pioneiras do cooperativismo, que já dava frutos no Estado de São Paulo, reuniu 152 médicos em Belo Horizonte e criou a Medminas, o embrião da Unimed. A cooperativa chegou a Uberlândia pouco mais de um mês depois, em 15 de maio. Essa foi a saída que os médicos da cidade encontraram para conseguir a própria defesa econômica e social, pois, até então, as clínicas particulares cobravam caro dos pacientes e passavam parte pequena para os profissionais. Segundo o historiador Antônio Pereira, uma das primeiras regiões mineiras a se interessar pelo novo sistema foi o Triângulo. Com isso foi criada a Medminas do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Na luta por abrigar a
sede regional, Uberlândia e Uberaba se desentenderam e só Uberlândia criou a cooperativa, que foi constituída depois de uma assembleia com a presença de 52 profissionais, na Sociedade Médica, onde também ficou funcionando a Unimed por muito tempo.
PRIMEIRO MÉDICO COOPERADO
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primeiro médico cooperado foi Reny Curi, que lembrou dos problemas antes da Unimed surgir. “As clínicas eram particulares. Cobravam muito e passavam pouquinho para os médicos. Éramos uma classe explorada”. No início do funcionamento da Unimed, Reny Curi também ajudou a aprimorar o serviço. “Estabelecemos um preço por mês que compensasse para o usuário e o médico”.
PRIMEIRO PRESIDENTE O primeiro presidente eleito na entidade foi o médico José Ribeiro. Na sua avaliação, a cooperativa era a melhor alternativa para a população e, também para os próprios médicos: “Era uma forma de congregar o pessoal todo, prestar uma assistência médica melhor, sem onerar o trabalhador. Era médico administrando médico e isso deu muito Dr. Reny Curi, primeiro médico certo”. cooperado
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Em seu processo evolutivo, a cooperativa definitivamente trouxe à cidade o conceito de pertencimento proposto em seu processo de atuação. De cuidar de gente
UNIMED, DE UBERLÂNDIA PARA UBERLÂNDIA
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esmo tendo uma trajetória de notável crescimento e aceitação nos seus primeiros cinquenta anos de existência, a Unimed nunca se acomodou. Nos anos 2000, a configuração progressista de nossa cidade multiplicou o número de médicos, clínicas e hospitais. Nesta época, a Unimed Uberlândia iniciou a mudança de foco de uma instância atuante no mero tratamento das doenças para o trabalho focado em cuidados integrais e na expansão de seus espaços físicos. A concepção do Centro Integrado de Atenção à Saúde (CIAS) foi um marco nesta revolução. A inauguração da unidade permitiu ainda melhor acolhimento e acompanhamento de pacientes através da assistência multidisciplinar, levando em consideração necessidades individualizadas, priorizando ações de promoção da saúde. Assim, a
operadora foi substituindo gradativamente o antigo padrão de atenção baseado na demanda espontânea por um modelo de atenção integral, aprimorando o acompanhamento do Percurso Assistencial de Clientes e a incorporação progressiva de ações de prevenções de riscos. A partir desta fase, a proposta de cuidar amplamente de seus clientes, não só em momentos de agravamento das condições de saúde, ganhou força na Unimed Uberlândia. A operadora investiu em outros serviços próprios como o Espaço Viver Bem (EVB), que veio para ampliar os programas de promoção e prevenção de forma complementar, trazendo melhores resultados à atividade médica e da cooperativa. Mais recentemente a operadora inaugurou sua unidade própria de Oncologia e Terapia Infusional
para prestar um atendimento especializado, com uma estrutura física planejada, excelente localização e equipe técnica altamente qualificada. A entrega desta unidade solidificou o processo de evolução constante que tem sido estabelecido pela Unimed Uberlândia, sempre objetivando a qualidade e segurança da assistência dos serviços prestados.
RESPONSABILIDADE SOCIAL NO AUGE DA PANDEMIA Durante a pandemia do coronavírus, no momento em que o sistema de saúde dava sinais de saturação com a superlotação registrada em hospitais e unidades de saúde, a Unimed Uberlândia, por iniciativa de seus médicos cooperados, mobilizou-se para ajudar. Para
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Dr. Cristhian Bertarini Marques, presidente do Conselho de Administração isso, a sua Central de Orientação em Saúde (COS) foi disponibilizada gratuitamente para toda a população da cidade, clientes e não clientes da empresa, para prestar orientações sobre a covid-19. Ainda como forma de contribuir na batalha contra a doença, a cooperativa efetuou doações de equipamentos, como monitores multiparamétricos e outros acessórios à Prefeitura Municipal, reforçando as frentes de tratamento nas unidades municipais de saúde.
GOVERNANÇA CORPORATIVA Para manter o posicionamento de liderança e excelência no atendimento médico, a Unimed Uberlândia implantou o novo e moderno modelo de governança corporativa, cujos preceitos básicos são: equidade, prestação de contas, transparência e responsabilidade corporativa. A decisão permitiu aos conselheiros dedicarem mais foco na estratégia da empresa, podendo exercer, entre outras funções, a de analisar expansão, desenvolver novos negócios e cuidar da estrutura de capital da empresa. Com a determinação, a cooperativa passou também a atuar com o modelo de administração recomendado pela Agência Nacional de Saúde às operadoras, visando trazer mais segurança jurídica e operacional ao negócio. O método escolhido permitiu que a empresa passasse a ser dirigida e monitorada em processo que envolve acionistas, conselhos de administração, comitê técnico e especialidades médicas, comitê de auditoria, comitê de conduta, comitê de inovação, auditoria externa, conselho fiscal e diretoria executiva, entre outras partes de interesse da instituição. Os médicos que conduzem os rumos da cooperativa têm olhos bastante otimistas para o futuro próximo. Para os conselheiros, a Unimed não se deve ater exclusivamente a uma medicina que dê apenas
resultado financeiro satisfatório. Importam-se muito em como é feita a medicina. Isso fez com que a empresa, até mesmo pela concorrência que está chegando a Uberlândia, pense em novas formas de negócios e novas infraestruturas para trazer a medicina ética e eficiente para o dia a dia das pessoas. É essencial comunicar esses avanços à sociedade, para que todos saibam separar a medicina que está sendo oferecida ou negociada por números daquela que é oferecida por resultados não somente econômicos. Todo esse esforço é reconhecido publicamente. A cooperativa já foi contemplada, inúmeras vezes, por premiações e honrarias. Chegou a receber o prêmio Mérito 2021 por relevante contribuição à comunidade uberlandense durante o período mais crítico da pandemia da covid-19. Outro reconhecimento relevante foi a confirmação da manutenção do Selo Unimed de Governança e Sustentabilidade na categoria Ouro. O feito atesta que a empresa conseguiu resultados sustentáveis, por meio de uma gestão eficiente e que alcançou o equilíbrio entre saúde ambiental, social e econômica.
desenvolvimento de pessoas, nosso arrojo com o mercado, parcerias que estamos fazendo, essa nova relação com os clientes pessoas jurídicas, tudo isso resulta na nossa meta de fazermos a gestão do cuidado”. E afirma: “saúde é um conceito que envolve uma sensação de bem-estar e a Unimed quer entregar isso para seus clientes. Junto a esse novo jeito de cuidar, esse novo jeito de propor os nossos entregáveis, vem agora essa transformação tecnológica, toda essa modernidade. Sou naturalmente muito ambicioso: quero que a Unimed Uberlândia seja uma referência para todo o sistema Unimed no país, desde a governança até a entrega para o cliente final. A Unimed é uma empresa de Uberlândia para Uberlândia. Toda vez que a cidade precisar, estejam certos que a Unimed vai cumprir seu papel social para com os uberlandenses”.
SUPERAR DESAFIOS ESTÁ NO DNA DA UNIMED Poucas atividades tiveram mudanças disruptivas como a área da saúde, uma revolução extraordinária em termos tecnológicos, científicos, comportamentais. Os desafios estão postos e a Unimed Uberlândia segue os próximos 50 anos tendo alcançado um patamar de bem público, mesmo se tratando de uma cooperativa privada. Em seu processo evolutivo, a cooperativa definitivamente trouxe à cidade o conceito de pertencimento proposto em seu processo de atuação. De cuidar de gente. O novo presidente do Conselho de Administração, dr. Cristhian Bertarini Marques, mesmo reconhecendo a dimensão dos novos desafios, é bastante otimista com o futuro da Unimed. “Acho que a implementação da governança corporativa, a melhoria dos nossos processos, reestruturação da nossa operação, o nosso programa de desenvolvimento de colaboradores, nosso plano de
O prefeito Virgilio Galassi inaugurando o novo prédio da Unimed Uberlândia junto com o então presidente, Carlos Oberto Tosta
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E a cidade pode se orgulhar de ter dentre suas várias unidades de saúde o Hospital e Maternidade Municipal Dr. Odelmo Leão Carneiro (HMMDOLC), que é referência em atendimento público hospitalar
O DESAFIO DA SAÚDE PÚBLICA
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ara cuidar da saúde de sua população é preciso que a cidade, além de questões como equipamentos, serviços e estruturas médicas tenha quesitos fundamentais como saneamento básico, educação e políticas abrangentes de saúde. Com 100% de água e esgotos tratados, Uberlândia é conhecida e reconhecida como uma das mais desenvolvidas do país, com índices de IDH que refletem o cuidado que a cidade tem com sua gente. E a cidade pode se orgulhar de ter dentre suas várias unidades de saúde o Hospital e Maternidade Municipal Dr. Odelmo Leão Carneiro (HMMDOLC), que é referência em atendimento público hospitalar. Certificado em nível 2 pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), administrado pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), atendendo aos critérios de segurança exigidos e apresenta gestão integrada, bem como qualidade nos serviços prestados. Ocupa uma área de 55 mil metros quadrados, sendo 20 mil metros de construção, com 236 leitos, 40 UTIs adulto e 10 UTIs neonatal. O projeto possibilita, ainda, a expansão da construção, podendo comportar até 500 leitos em uma segunda etapa. São oferecidas várias especialidades médicas no Hospital Municipal, como as chamadas clínicas (cardiologia, hematologia, infectologia, neurologia, nefrologia e nutrologia), cirúrgicas (geral, cardiologia, oncológicas, aparelho digestivo, torácica, vascular, urologia, ginecologia/obstetrícia, ortopedia e traumatologia), pediatria/neonatologia e oftalmologia. O hospital conta com uma média de quatro profissionais por leito, o que garante maior atenção com os pacientes.
Novas conquistas Em 2018, o hospital foi credenciado a receber novos recursos específicos para realização de cirurgias
Centro de internação municipal oncológicas e iniciou também os serviços de cardiologia e montagem da equipe de hemodinâmica. Em julho de 2018, o Hospital e Maternidade Municipal realizou a primeira cirurgia cardíaca na unidade. E em julho de 2019 foi contratada a segunda equipe para ampliar o número de cirurgias.
Estrutura Sustentabilidade – Primeiro hospital público ambientalmente correto do país, reaproveita 50% da água utilizada, fazendo o tratamento e utilizando em descargas dos vasos sanitários e economiza energia com aquecedor solar e ar-condicionado inteligente, iluminação natural e ventilação. Acessibilidade – As instalações foram planejadas para garantir acessibilidade a todas as pessoas. A unidade é completamente horizontal, o que favorece um atendimento mais próximo, mais atencioso e mais humano.
Enfermarias inteligentes – Construídas em dois corredores de pouco mais de 100 metros de extensão, as enfermarias possuem claraboias a cada oito metros, que permitem ventilação e iluminação naturais. Os postos de enfermagem são geminados e se transformam em oito unidades ao longo da enfermaria, sendo quatro para cada corredor. Os quartos ficam de frente às salas de serviço, evitando que os pacientes vejam os procedimentos realizados no quarto em frente. Quartos completos – Os quartos das enfermarias acolhem até três pacientes e possuem o que há de mais moderno em equipamento e arquitetura hospitalar. Logo na entrada, existe um banheiro com porta removível, assim, o enfermeiro poderá ajudar pacientes que se sintam mal dentro do sanitário mesmo com a porta trancada. Camas especiais – Em cima de cada leito há uma régua com tomadas para equipamentos médicos, módulos com ar comprimido, oxigênio e vácuo, chamada de enfermagem controlada e ponto de rede.
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As camas possuem colchões com quatro camadas para reduzir a pressão e proporcionar maior conforto e ajudar no tratamento do paciente. Isso evita úlceras de pressão. UTIs modernas – O Hospital e Maternidade Municipal Dr. Odelmo Leão Carneiro possui quatro módulos de Unidade de Tratamento Intensivo com dez leitos cada. Os leitos são individuais e possuem o que há de mais moderno em equipamentos hospitalares. Cada um dos leitos possui sistema elétrico independente. Em caso de pane em alguma unidade, o problema pode ser resolvido sem afetar outros pacientes. As camas possuem balança eletrônica, que permite pesagem do paciente sem retirá-lo do leito. A unidade conta ainda com bombas de infusão, ventilador pulmonar e monitor de multiparâmetros, para verificar os sinais vitais dos pacientes 24 horas por dia. Cada módulo possui um leito de isolamento para acolher paciente com doença infectocontagiosa. Neste espaço o ar-condicionado com pressão negativa suga o ar quando a porta é aberta, não permitindo que ele saia do leito e contamine outros pacientes. Maternidade humanizada – Na Maternidade do Hospital Municipal é oferecido o atendimento humanizado em todas as fases: pré-parto, parto e pós-parto (PPP). As quatro salas do centro obstétrico possuem o que há de mais moderno em equipamentos hospitalares. De lá, os bebês são levados para os berçários de cuidados intermediários ou, se precisarem de atenção especial, para as UTIs neonatais. Centro cirúrgico – São seis salas onde são realizadas
cirurgias de média e alta complexidades. Dentro das salas de cirurgia o piso Pavifloor® ganha uma característica especial com o controle da condutividade elétrica. Por ser uma sala com muitos equipamentos ligados simultaneamente esse tratamento evita choques elétricos e contratempos durante os procedimentos. Sala de recuperação – Quando o paciente sai do centro cirúrgico, é encaminhado à sala de recuperação pós-anestésica. No local existe uma janela de vidro com interfone onde o médico pode falar com os familiares na sala de espera e informar sobre a cirurgia e a evolução clínica do paciente. Em frente, foi construída uma capela para os parentes e acompanhantes. Setor de imagens – Assim como as outras áreas do hospital, o setor de imagens tem uma entrada separada do restante da unidade. Os pacientes já chegam ao local encaminhados por outras unidades de saúde. Neste departamento, estão disponíveis exames de ressonância magnética, raio-X, ultrassom, tomografia, mamografia e outros. Central de Material de Esterilização (CME) – A CME é totalmente automatizada e tem uma localização estratégica, próximo aos blocos cirúrgicos, UTIs e Maternidade. Lá são recebidos todos os materiais infectados do Hospital e Maternidade Municipal Dr. Odelmo Leão Carneiro e de outras unidades de saúde do município. Isso garante total uniformidade aos procedimentos. Farmácias – Todos os medicamentos que são utilizados no Hospital e Maternidade Municipal Dr.
Odelmo Leão Carneiro chegam até a Farmácia Central. Lá os remédios são fracionados em uma sala totalmente estéril e enviados para todos os setores de acordo com a necessidade de cada paciente. Cada medicamento é devidamente cadastrado e recebe um código de barras para ser conferido e controlado na hora da aplicação. Na UTI está localizada a Farmácia Satélite que recebe os medicamentos e abastece todos os 40 leitos da unidade. Os remédios fracionados também são levados da Farmácia Central para os armários dentro de cada leito das enfermarias. Saúde integrada – Em Uberlândia todas as unidades de saúde funcionam de maneira interligada. Por exemplo, as Unidades de Atenção Básica à Saúde da Família (UBSFs) auxiliam as Unidades de Atendimento Integrado (UAIs), fazendo o atendimento primário e encaminhando os pacientes. O Hospital e Maternidade Municipal Dr. Odelmo Leão Carneiro também integra esse sistema. Os pacientes serão referenciados por uma das oito UAIs que estão instaladas nas quatro regiões da cidade. Para receber os pacientes dos quatro cantos de Uberlândia, o Hospital e Maternidade Municipal Dr. Odelmo Leão Carneiro foi pensado e construído estrategicamente. A unidade é de fácil acesso e o trajeto de carro entre o Hospital e as UAIs leva em média 13 minutos. Os anexos - O Hospital Municipal também assumiu a estrutura do Hospital Santa Catarina, que estava desativado. Localizado na avenida Getúlio Vargas 161, foi fundado em 1958. Em 2016, por problemas seríssimos que enfrentou, acabou sendo interditado.
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m 2020, com a chegada da pandemia da Covid-19, a Prefeitura de Uberlândia entrou com um processo de desapropriação do prédio, tornando o espaço referência no atendimento à doença que acometeu o mundo. O hospital, atualmente denominado de Anexo do Hospital Municipal, passou por adequações, disponibilizando maior número de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs), além de leitos de enfermaria, todos com equipamentos disponíveis, proporcionando assistência hospitalar de média e alta complexidade na área de UTI e Clínica Médica para pacientes internados e encaminhados por meio da Central de Regulação.
do Espectro Autista (TEA) de Minas Gerais. Os pacientes que precisam deste atendimento têm à disposição sete consultórios das áreas de clínica geral, fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia, pedagogia e neuropsicologia, além de salas de recepção, convivência, diagnósticos, reuniões, integração sensorial multidisciplinar, terapia infantil, terapia para adolescentes, treino de Atividades de Vida Diária (AVD), oficinas para famílias, jardim sensorial, área de playground, entre outros. Ainda que a saúde seja um processo interminável de desafios e necessidades, Uberlândia é referência
nacional também nesse quesito e não para de evoluir e modernizar o atendimento e os cuidados com a saúde de sua população. Legenda: O nome do Hospital e Maternidade Municipal Dr.Odelmo Leão Carneiro foi definido por meio de um projeto de lei de autoria da Câmara Municipal de Uberlândia – Lei nº 9.767 de 11 de março de 2008 em homenagem a um dos mais respeitados profissionais de medicina da região. unlimited online access)
Além dos leitos de UTIs e Enfermaria para assistência direta aos pacientes com a Covid -19, foram disponibilizados ainda serviços de apoio como tomografia computadorizada para a prestação de assistência com qualidade e segurança. A prefeitura trabalhou para que ele permanecesse como uma unidade de saúde para o munícipe de Uberlândia. E assim foi feito, com a cidade ganhando uma nova estrutura hospitalar. Com o arrefecimento da pandemia, a unidade de saúde hoje atende diferentes doenças e tornou-se um benefício permanente à população. O mesmo aconteceu com o Centro de Internação Municipal (CIM). Inaugurado em agosto de 2020, o CIM veio para dar suporte à rede municipal diante da grave situação da pandemia da Covid-19, recebendo pacientes da rede avaliados com grau baixo a moderado da doença. Com mais de 100 leitos de enfermaria, nove de emergência e o trabalho de uma equipe multiprofissional, foram mais de 3.400 atendimentos e 2.700 altas em um ano e três meses de atividades. Desde o fim do ano passado, toda essa estrutura foi destinada aos pacientes das Unidades de Atendimento Integrado (UAIs) que necessitam de internação clínica. Ainda durante a pandemia, a Prefeitura inaugurou o Centro Vida de Reabilitação, que é o primeiro espaço de Minas Gerais com atendimento exclusivo para pacientes pós-Covid que precisam de cuidados contínuos após a alta hospitalar. Com uma equipe multiprofissional, o local é referência para a reabilitação cardiovascular, respiratória e motora de pacientes. Também foram inaugurados neste período o Centro de Internação Pediátrico (CIP), com 30 leitos para atender crianças até 12 anos, e o Centro de Especialidades Odontológicas, que oferece atendimentos mais complexos na especialidade. Mais recentemente, no início do mês de abril, a Prefeitura de Uberlândia também inaugurou o primeiro centro de referência, via SUS, especializado no atendimento a pessoas com Transtorno
Maternidade humanizada um dos serviços prestados pela Prefeitura de Uberlândia
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O Hospital do Câncer de Uberlândia hoje é um centro de referência para o tratamento do câncer no interior de Minas Gerais, que oferece atendimento totalmente gratuito e de qualidade aos pacientes da cidade e região
A DOR O QUE VIROU DOAR
Hospital do Câncer em Uberlândia é uma prova impressionante da capacidade do ser humano de reagir às adversidades, superar desafios e construir uma iniciativa solidária de excepcional alcance humano. “A história do Hospital do Câncer em Uberlândia começa em 1996, quando um grupo de pessoas que tinham parentes em tratamento contra o câncer em nossa cidade perceberam a necessidade de uma estrutura que melhor atendesse os pacientes oncológicos. Esses amigos se reuniram, começaram a juntar esforços e formaram a ONG Grupo Luta Pela Vida. Captando doações de empresas e membros da sociedade, com o apoio da UFU, realizaram em 2000 a entrega do primeiro piso do Hospital
do Câncer em Uberlândia”, conta a presidente atual do grupo, Thaísa Grapski, que acrescenta: “Naquela época, o projeto já era ousado e inovador, mas o Grupo não se deu por satisfeito e continuou se estruturando e captando para fornecer o melhor tratamento contra o câncer em nossa região”. – Em 2002, o Hospital passou a contar com o equipamento chamado de Acelerador Linear, aparelho que melhora a qualidade de atendimento da radioterapia. – Em 2003, foi inaugurada, no terceiro piso, a Brinquedoteca “Brincar é Viver”, área de entretenimento infantil, patrocinada pela empresa Refrigerantes do Triângulo – Guaraná Mineiro.
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– Em 2004, entrou em funcionamento a ala de internação para adultos, localizada no segundo piso do Hospital, com recepção exclusiva, sala de espera, capela, posto de enfermagem, televisões e conforto para os acompanhantes. Hoje a ala conta com 24 leitos.
sala exclusiva dentro do Hospital do Câncer. O espaço é destinado para a entrega e recebimento de doações feitas pela população.
– Em 2007, foi finalizado o corredor de ligação com o Hospital de Clínicas.
– Em 2012, foi inaugurada a nova área destinada à residência médica, contando com oito consultórios, salas de aula e de espera. O espaço é utilizado por residentes em Oncologia Clínica, Oncopediatria e também Radioterapia.
– Em 2008, o Grupo Luta Pela Vida investiu cerca de R$1,2 milhões para a ampliação da área de atendimento no primeiro piso do Hospital do Câncer. Um amplo saguão principal foi instalado com espaço para mais uma capela e para a loja do Hospital.
– Em 2013, o Grupo Luta Pela Vida adquiriu um novo acelerador linear para o Hospital do Câncer, por meio de doações da população e de empresas da região. O investimento foi de cerca de R$3 milhões de reais.
– Em 2009, março começou a funcionar o aparelho de radioterapia chamado HDR, auxiliando no tratamento do câncer de colo de útero. Em setembro do mesmo ano foi inaugurada a sala de macas climatizada. A obra foi feita com recursos de doações conseguidas pelo Grupo Luta Pela Vida.
– Em 2019, aconteceu a entrega física do espaço do Centro de Cuidados Paliativos, Centro Cirúrgico e do Centro de Transplante de Medula Óssea do Hospital do Câncer em Uberlândia. Além disso, aconteceu a aquisição da Elektra Versa HD, uma máquina de última geração para a Radioterapia, e as obras de ampliação da quimioterapia infantil e adulta. Nos primeiros meses de 2021, o Hospital do Câncer
– Em 2011, o Grupo Luta Pela Vida inaugurou uma
iniciou as atividades da nova sala de radioterapia equipada com terceiro acelerador linear, uma das máquinas mais modernas no mundo, capaz de realizar procedimentos de alta complexidade. O Hospital do Câncer de Uberlândia hoje é um centro de referência para o tratamento do câncer no interior de Minas Gerais, que oferece atendimento totalmente gratuito e de qualidade aos pacientes da cidade e região. Atualmente, o Hospital atende mais de 7.600 pacientes, vindos de mais de 70 cidades da região, e conta com os serviços de Oncologia Clínica, Quimioterapia, Radioterapia, Oncopediatria, Hematologia, Internação de adultos e crianças e Cuidados Paliativos. A Instituição contribui na formação de novos profissionais com programas de residência médica em Oncologia Clínica, Radioterapia e Oncopediatria e oferece também programa de residência multiprofissional. Outra referência da maior grandeza do cuidado e valor que Uberlândia tem com a saúde de sua gente e da região em que está inserida.
O moderno centro cirúrgico que o Hospital do Câncer de Uberlândia disponibiliza para seus pacientes
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52 Por: Carlos Guimarães Coelho
INSTITUTO DE OLHOS SANTA GENOVEVA
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Instituto de Olhos Santa Genoveva nasceu pela iniciativa dos médicos dr. Renzo Sansoni Soares e dr. Nilson Soares no final da década de 1970; surgiu para atender as demandas de oftalmologia com uma clínica moderna e completa para Uberlândia e região. Na década de 1980, visando o melhor atendimento e introdução de novas especialidades, entram para o corpo clínico e sociedade o dr. Paulo César Naves Borges e dr. Pedro Luiz Naves Borges. A antiga clínica que ficava na esquina da Av. Belo Horizonte e Rua Arthur Bernardes é transferida para o endereço atual com uma área maior, mais consultórios e estrutura mais moderna e confortável. Nos anos 2000, entram também para o corpo clínico e sociedade o dr. Adael Sansoni Soares e dr. Leonardo Ferreira Jorge, trazendo novas subespecialidades para o atendimento do IOSG. Na década de 2010, sempre preocupados com a qualidade de atendimento e novas tecnologias, a sociedade investiu em reforma e expansão da clínica para uma área de mais de 1000 m2, com mais consultórios, salas de exames e centro cirúrgico próprio. Junto com expansão da área, entram para o corpo clínico e sociedade novos médicos, dr. Guilherme César Naves Borges , dra. Letícia Aparecida Naves Borges, dra. Monique César Naves Borges e dr. Arthur César Naves Borges. Já na década de 2020, entra para a sociedade mais uma médica para o corpo clínico e sociedade, dra. Anaíla Soares Sansoni. Atualmente, o IOSG tem no seu corpo clínico 13 médicos.
Apesar de inserido na área do complexo hospitalar Santa Genoveva, o IOSG tem uma estrutura autônoma. A instituição se orgulha da sua história, esse ano completando 43 anos. Durante sua trajetória, a empresa investiu muito em novas tecnologias, equipamentos de ponta, estrutura confortável e moderna para os pacientes e colaboradores. Nesse período, o instituto já foi pioneiro em trazer vários equipamentos de vanguarda à cidade, alguns adquiridos somente depois por outros locais, como o Optomap, uma tecnologia multimodal que oferece múltiplos recursos para triagem, diagnósticos, monitoramento e gestão de patologias associadas à retina. O mapeamento de retina digital consegue diminuir o índice de pacientes que precisam de dilatar, tornando mais confortável o exame oftalmológico. A primeira unidade foi comprada pelo instituto há três anos e recentemente houve a segunda
O INSTITUTO DE OLHOS SANTA GENOVEVA TEM SIDO PIONEIRO EM TRAZER NOVAS TECNOLOGIAS E EQUIPAMENTOS DE PONTA
A INSTITUIÇÃO SE ORGULHA DA SUA HISTÓRIA ESSE ANO COMPLETANDO 43 ANOS
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aquisição de um equipamento novo, tendo hoje um em cada piso. Outros equipamentos complementam as necessidades cirúrgicas do instituto, em cujo centro cirúrgico são feitas todas as necessidades oftalmológicas, exceto as cirurgias refrativas e as de anestesia geral, deslocadas para o hospital, quase no mesmo recinto. Outro equipamento importante no instituto, produzido pelo laboratório Zeiss, é o chamado Fórum. Ele faz a gestão de todos os resultados de exame, facilitando a avaliação do médico no consultório. Após realizados os exames, são geradas algumas imagens que já ficam automaticamente disponíveis para o médico. Isso diminui o fluxo de papéis e aumenta a segurança do paciente, além de trazer elementos facilitadores para a abordagem médica e trazer resultados comparativos de exame para o paciente. Em casos de glaucoma, por exemplo, o médico consegue mostrar toda a evolução da doença e isso tudo fica registrado nesse sistema - algo que trouxe uma evolução muito interessante para o atendimento clínico e cirúrgico. O instituto fez também a aquisição de um módulo que se chama Callisto, um monitor todo digitalizado que ajuda o médico no posicionamento da lente da catarata quando o paciente tem astigmatismo.
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UBERLÂNDIA NA VANGUARDA DA TELEMEDICINA
A SAÚDE HOJE E NO FUTURO Por: Celso Machado e Carlos Guimarães Coelho Quem diria que o pequeno vilarejo que antes buscava na vizinha Uberaba recursos médicos para cuidar de enfermidades mais sérias em poucas décadas se tornaria referência nacional nesse setor. Não são poucas as especialidades que projetam Uberlândia no cenário brasileiro dos cuidados com a saúde, mas sem dúvida a cardiologia e a oncologia são duas exponenciais. Na oftalmologia, ortopedia, saúde mental, cirurgia plástica, implantes capilares, na estética, telemedicina, nos atendimentos e serviços on-line, enfim, em todos os segmentos a cidade evoluiu muito. Inclusive na parte dos serviços médicos municipais, que estão merecidamente entre os melhores do país. O médico cardiologista Roberto Botelho, que implantou a cirurgia cardíaca em Uberlândia e que faz parte do quadro do Uberlândia Medical Center – UMC, ajudou, e muito, a colocar nossa cidade na vanguarda da telemedicina.
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médico Roberto Botelho, natural de Araguari, cursou Medicina, especializando em cardiologia para trabalhar com o doutor Adib Jatene. Fez residência no hospital Dante Pazzanese, apoiado pela Fundação Adib Jatene, e ali teve o seu primeiro emprego. Uma de suas experiências marcantes em São Paulo foi a que trouxe novos paradigmas para Uberlândia e também o seu próprio retorno. Um paciente uberlandense foi para lá fazer um diagnóstico de cardiologia. Este senhor era o ex-prefeito e então secretário municipal Virgílio Galassi. Roberto avisou doutor Adib Jatene, que cresceu em Uberlândia, onde cursou o ginásio, e que foi fazer uma visita ao leito de Virgílio; brincando, ele comentou: “o que é isso, Virgílio? Você fala de Uberlândia, que ela é isso e aquilo, que é uma cidade desenvolvida, mas nem cateterismo vocês fazem lá?”. Imediatamente ele retrucou a provocação: “Uai, dr. Adib, é por causa de
vocês, que não devolveram pra terra o que ela deu. O senhor morou lá, o Roberto é de Araguari, o que me operou é de Tupaciguara. E todos vocês vieram pra São Paulo”. Aí o Adib falou: “nós podemos te devolver se você apoiar o projeto para criarmos lá uma estrutura de cardiologia”. Isso foi em meados da década de 1990. Virgílio marcou uma sequência de reuniões em que Roberto esteve presente e, depois de algum tempo, acabou sendo montado no Hospital Santa Catarina o Instituto do Coração do Triângulo. Uberlândia começava a fazer cateterismo e cirurgia cardíaca. Roberto contou que antes, quando morou em Atlanta, conheceu um pessoal que desenvolvia tecnologia para monitorar astronautas. Como no Brasil o sistema público de telecomunicações era pouco funcional e em Uberlândia, não, o doutor Adib o aproximou do doutor Luiz Alberto Garcia. Ele teve a chance de trazer essas soluções para cá e a começar a
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trabalhar com a telemedicina. Um ponto histórico de Uberlândia, porque com isso foi criada a Associação Brasileira de Telemedicina, a primeira do Brasil, com a experiência expandida para um cenário mundial, indo para países como Chile, Colômbia, Venezuela, Peru, Argentina e México. “A gente fazia telemedicina ao ponto de chegarmos a ter novecentas cidades no Brasil, mais umas duas ou três mil cidades na América Latina, chegando a atender dez mil pessoas por dia. Houve até um grupo suíço que nos localizou e investiu na operação”, afirmou, relatando que, hoje centralizada no UMC, é a maior operação em língua hispânica do mundo. Para ele, nesse contexto, essa operação trouxe muito conhecimento na escala, na tecnologia e nos relacionamentos com os grupos econômicos para a área da saúde, originando inclusive boa parte dos conceitos gerais de start-ups. Para Roberto, a tecnologia da medicina, sem dúvida, aumenta acesso, democratiza e descentraliza a complexidade. “Tanto que a gente tem telemedicina em tribo indígena. Coloco um especialista de São Paulo pra falar com o paciente da cidade mais remota do Brasil e regiões muito pobres da Colômbia, da Venezuela, etc. É uma plataforma extremamente democrática, reduz custo e aumenta a qualidade. É um fenômeno realmente muito bonito de socialização da atenção e saúde”. A telemedicina, como explicita, migrou para um conceito de plataforma digital e é o exercício da medicina à distância. Entrou a inteligência artificial, que ajuda em diagnósticos, entram as plataformas que entregam diferentes soluções. “Nós começamos a fazer, por exemplo, telemedicina ocupacional, a fazer telemedicina corporativa, conseguindo ajudar uma empresa na saúde dos seus
colaboradores, diminuindo a sinistralidade, criando pronto-socorro virtual, ajudando as operadoras de saúde a fazer gestão da vida daquele paciente, também de forma preventiva, individualizada. Um exemplo concreto: na pandemia da covid, chegamos a atender 15 mil pessoas por dia. A gente evitava que a pessoa suspeita fosse para o pronto-socorro, pois ali estava a doença, chegando a resolver 98% dos atendimentos sem hospital”, esclareceu. Dentro do UMC está a operação de telemedicina. Explica Roberto Botelho. “Criamos algumas inovações, muitas de destaque. Destaco esta última, que recebeu uma patente nos Estados Unidos há cinco meses: o relógio de pulso que faz eletrocardiograma no Apple Watch.” Conta que há ainda várias outras criações produzidas e patenteadas a partir desse escopo de atuação da telemedicina. Roberto esclarece que o avanço da telemedicina não está deixando a residência obsoleta, porque, na visão dele, a residência está acompanhando essa inovação. “O indivíduo que faz residência e é anestesista precisa carregar um tablet com solução de
inteligência artificial. Nós temos uma startup que chama Anestec, que é inteligência artificial para anestesia. O anestesista que não usar isso vai ser substituído. Tem até um jargão de Harvard que fala que o médico que não usar a inteligência artificial vai ser substituído por outro que usa”, explicou. “Com essa transformação, temos que colaborar com o nosso ecossistema, pois será assim no mundo inteiro. Se a gente cria massa crítica pra colocar os nossos jovens nesse ambiente e produzir conhecimento tecnológico, isso dá um salto exponencial. Por exemplo, o Brasil tem uma mortalidade de infarto em torno de 20%. Fizemos um programa de telemedicina com suporte na nuvem e inteligência artificial. Atendemos 800 mil pessoas no Brasil, Colômbia e México. A mortalidade foi reduzida de 20 para 4%. Metade do tempo de hospitalização e custo”. A inspiração e fonte de referência de Roberto Botelho, o médico Adib Jatene, foi realmente uma pessoa imparcial e comprometida com o desenvolvimento da saúde no Brasil. Humilde e simples, foi um gênio da medicina e que tivemos o privilégio de tê-lo sempre ligado à memória, amigos e às causas da saúde de nossa cidade.
O médico Adib Jatene lança o serviço de telemedicina a partir de Uberlândia
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Não será mais um médico que vai administrar o hospital, é sim, um administrador hospitalar, como já é no Hospital Municipal
A CHEGADA DAS GRANDES Por: Celso Machado
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tualmente, Uberlândia vive uma transformação extraordinária com a chegada de grandes grupos nacionais que adquiriram todos os hospitais locais de maior porte. A HapVida adquiriu o Madrecor, a Onco Clínicas, o Uberlândia Medical Center - UMC, e o Mater Dei, os hospitais Santa Clara e Santa Genoveva. O presidente do Mater Dei, dr. Henrique Moraes Salvador Silva, explica o que trouxe a rede Mater Dei para nossa cidade: “Quando o Mater Dei abriu o capital na Bolsa de Valores, nós precisávamos acelerar o crescimento adquirindo hospitais. E, ao analisar o mercado de Uberlândia, nos deparamos inicialmente com o Santa Genoveva, que é um hospital tradicional, de multiespecialidades, com um corpo clínico muito conceituado; um hospital inclusive com uma área de influência regional maior do que Uberlândia. Através dos contatos com sua diretoria, identificamos uma oportunidade de aquisição. Eles tinham interesse em ciclar o hospital, um hospital de muitos sócios que, por vários motivos, cada um em fase diferente de suas vidas tomaram a decisão de vender. Aí iniciamos uma negociação na qual também era importante
DR. HENRIQUE MORAES SALVADOR SILVA, PRESIDENTE DA REDE MATER DEI
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REDES HOSPITALARES O QUE VEM POR AÍ? o Centro Diagnóstico de Imagem – CDI vir junto para a gente poder adquirir uma operação integrada, que para nós faz todo sentido.
É o que pensa também quem está chegando, como afirma o dr. Henrique, presidente da rede Mater Dei: “Eu acho que tem tudo para impactar Quanto ao Santa Clara, na verdade a aquisição positivamente. Claro que você tem que procurar ainda não foi concluída porque depende ainda viabilizar financeiramente e economicamente o do CADE autorizar. Conseguimos concluir com empreendimento, mas acima de tudo a gente eles a assinatura de um contrato com as bases de nunca pode abrir mão de entregar um serviço fechamento, mas depende ainda do CADE”. customizado, um serviço com qualidade, com Que impacto essas mudanças irão provocar? o atendimento adequado. Acho que as redes O médico infectologista Marcelo Simão Ferreira, como a rede Mater Dei, que sempre investiu em que não é ligado a nenhum desses hospitais, não qualidade, vão ter um posicionamento muito tem dúvida quanto aos benefícios. mais sustentável no longo prazo. Nós, por “Uberlândia está passando por uma grande exemplo, não viemos para esse negócio de saúde transformação na saúde, praticamente todos os para um tiro curto: temos uma história de 42 hospitais de Uberlândia foram vendidos. anos de envolvimento profundo da nossa família com as questões de saúde. Uberlândia pode esperar do Mater Dei muita paixão, muito amor e muito comprometimento s grupos que os compraram têm com a cidade. Nós viemos para cá para fazer a uma logística e uma performance de trabalho totalmente diferente do que os diferença. Nós queremos prestar um serviço da hospitais de Uberlândia praticam. Por melhor qualidade com a maior segurança.” exemplo, aqui funciona o sistema de cotas. Você, para trabalhar num hospital, tem que comprar uma cota dele. Isso não existe mais, é uma coisa TODO ESSE obsoleta. A partir de agora, para trabalhar num hospital, o médico apresenta o seu currículo para MOVIMENTO a diretoria que analisa o currículo e, se aprovar, o médico vai ganhar pelo que produzir. Muito MOSTRA mais organizado. Por exemplo, não será mais CLARAMENTE um médico que vai administrar o hospital, é um administrador hospitalar, como já é no Hospital O ENORME Municipal. Então vai acabar essa mentalidade dos médicos mais antigos que faziam tudo no POTENCIAL E hospital, até mesmo administrar. Acredito que MERCADO DE essa transformação será para melhor, inclusive nos serviços médicos oferecidos.”
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UBERLÂNDIA NA ÁREA DA SAÚDE
Todo esse movimento mostra claramente o enorme potencial e mercado da cidade de Uberlândia pela sua localização estratégica, infraestrutura, vocação inovadora, polo de influência regional e outros predicados mais. Ficam algumas questões no ar: como existem vários outros grandes grupos hospitalares além destes que chegaram, qual será a estratégia deles? Vão deixar a cidade na mão dos que chegaram primeiro ou vão buscar alternativas para ocupar espaço? A classe médica que vai ter sua relação modificada vai seguir ajustada ou pode buscar opções, como novos empreendimentos etc.? Os hospitais menores podem crescer? Enfim, dúvidas existem, o que é bastante normal. As respostas a elas também certamente estão evidentes. Para conhecê-las, basta aguardar o futuro.
58 Por: Carlos Guimarães Coelho
UMC
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conceito sobre atendimento diferenciado na área de saúde ganhou uma nova dimensão em Uberlândia a partir de 2013, quando foi inaugurada a primeira estrutura de saúde multiplex de toda a região: o UMC – Uberlândia Medical Center. O local, que na década de 1980 abrigou o Ubershopping e, posteriormente, uma faculdade particular, se transformou em um complexo moderno com o objetivo de atender e integrar várias necessidades da área de saúde. O projeto arquitetônico inteligente, preparado para oferecer o que há de melhor e mais moderno a médicos e pacientes, com foco na integralidade dos atendimentos médicos e otimização de resultados, chamou atenção e se tornou referência nacional. A escolha da região Sul de Uberlândia para a instalação do UMC levou em conta diversos fatores, dentre eles o crescimento da região, que se tornava referência para empreendimentos imobiliários de todos os tipos de portes, fossem residenciais ou de negócios, possibilitando que variados públicos pudessem ter acesso ao novo conceito em saúde oferecido, levando o acesso para áreas que, até então, estavam desatendidas. Não restava dúvida de que seria um local adequado para oferecer a medicina do futuro, que traz a fusão perfeita entre pessoas e tecnologia, que é o que move o UMC.
MAS O QUE É O UMC? Ocupando uma área de 70 mil m2., trata-se de um dos maiores, mais completos e avançados complexos de saúde do Brasil, sendo referência em inovação tecnológica, com equipamentos de última geração, em um parque tecnológico idealizado a partir das principais referências mundiais, e com espaço para pesquisas com centros internacionais. Nestes quase 10 anos de atuação, o UMC se tornou referência em inovação com foco na qualidade de vida, e trouxe iniciativas inéditas para Uberlândia. Foi pioneiro ao trazer a cirurgia robótica para o interior mineiro, em 2019, e em 2021 realizou uma cirurgia inédita no estado, com a retirada parcial de rim e ureter em uma criança de 2 anos, em um procedimento denominado nefroureterectomia parcial robótica. Também em 2021, a Unidade Hospitalar do UMC se tornou o primeiro hospital da cidade a oferecer, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o transplante de fígado além de também ser habilitado para transplante de rins.
Outro diferencial do Complexo UMC é trazer, em primeira mão, equipamentos de ponta utilizados em suas unidades, como a Tomografia Computadorizada multislice de 128 canais, oferecendo diagnósticos mais confiáveis e detalhados, com laudo de especialistas. O UMC também disponibilizou a primeira Ressonância Magnética de 3.0 Tesla, além de aparelhos de última geração de Ultrassom, Mamografia Digital, Densitometria Óssea e Raios-X, dentre outros. O Complexo do UMC tem parcerias diversas com players nacionais e internacionais no setor de saúde. Em 2021 firmou parceria com o Grupo Oncoclínicas, que assumiu a unidade hospitalar do UMC, o serviço de exames de imagem - UMC Imagem, e o centro dedicado de cardiologia de alta complexidade Instituto do Coração do Triângulo - ICT. Estas três unidades estão instaladas no Complexo UMC, onde também entrou em funcionamento a nova clínica oncológica do Grupo. Para o futuro, no projeto do UMC, que faz parte do grupo Eurolatino, há a previsão da implementação de um espaço de conveniências externo completo, para ampliar a gama de serviços oferecidos e atender as necessidades, tanto dos pacientes e acompanhantes, quanto da comunidade na qual está inserido, além de um edifício garagem, que visa assistir a demanda atual e aumentar o conforto dos que visitam o complexo.
ALGUMAS DAS PRINCIPAIS UNIDADES JÁ INSTALADAS NO UMC: Unidade Hospitalar
Com estrutura moderna, padrão hotelaria, a Unidade
Hospitalar do UMC foi inaugurada em 2014, e conta atualmente com 130 suítes para internações, mais de 40 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) humanizada, 15 RPAs (leitos de recuperação pósanestésica), 16 leitos semi-intensivos para pronto atendimento, 12 salas cirúrgicas e 02 leitos em salas de emergência. Além disso, possui um andar exclusivo para maternidade e pediatria, com 17 suítes para internação, 10 leitos em berçário, 10 em UTI NEO (Unidade de Terapia Intensiva Neonatal) e 6 em UTI pediátrica.
Pronto atendimento
Para oferecer a melhor estrutura e tecnologia nos atendimentos de urgências e emergências, foi criado o Pronto Atendimento do UMC, que oferece atendimento ininterrupto, diariamente, atendendo a maioria dos planos de saúde, e conta com equipes bem treinadas para atender qualquer tipo de situação, desde os casos mais simples até os mais complexos. O Pronto Atendimento oferece de forma diferenciada, em uma estrutura integrada, diagnósticos com confiabilidade e segurança para o paciente, com as seguintes especialidades: Clínica médica, Cardiologia, Otorrinolaringologia, Pediatria, Obstetrícia, Ortopedia, Ginecologia e Urologia.
UMC Centro Clínico
Inaugurado em 2019, o Centro Clínico do UMC é uma torre integrada, para a complementariedade de atendimentos em saúde e bem-estar. São 9 pavimentos, 220 consultórios e, dezenas de clínicas, além de uma Unidade Avançada de Diagnóstico por Imagem. Instalada no edifício Dr. Adib Domingos Jatene, construído com foco específico para unidades de saúde, a torre possui uma infraestrutura
59 UMA NOVA DIMENSÃO EM ATENDIMENTO DIFERENCIADO diferenciada e moderna. O Centro Clínico oferece: Concierge para pacientes; Central de informações e agendamentos; Estrutura de conveniências; Espaços amplos e confortáveis, com elevadores, sanitários e segurança, em um ambiente eficiente, planejado para atender grande fluxo de pessoas; Internet Wi-Fi, e espaço bem sinalizado e preparado para atender todas as questões de acessibilidade, sendo assim a melhor solução integrada em saúde da região.
Clínicas
O UMC abriga algumas das mais modernas e conceituadas clínicas de toda a região, contemplando diversas especialidades médicas que oferecem cuidados e tratamentos unificados, centrados no bem-estar e qualidade de vida dos pacientes.
Exames laboratoriais e imagem
O Complexo dispõe de uma experiência completa em análises clínicas e medicina preventiva. Um dos maiores diferenciais é proporcionar ao paciente a possibilidade de sair de uma consulta médica e realizar seus exames em seguida, sem necessidade de deslocamento externo ao complexo. São oferecidos serviços de análises clínicas multidisciplinares, exames de imagem, genéticos e nucleares, reduzindo o espaço entre diagnóstico e tratamento, propiciando a chance de obter resultados mais rápidos e eficazes.
UMC Imagem
Idealizado em 2013 por um grupo de médicos especialistas de Uberlândia, São Paulo e Miami (EUA), juntamente com empresários da região, se destaca
por seu pioneirismo em oferecer equipamentos e diagnóstico de última geração, com atualização constante. Disponibiliza exames com qualidade de excelência e redução de dose da radiação.
UMC Medicina Nuclear
Desde 2014 o Complexo UMC disponibiliza a Medicina Nuclear, em uma estrutura planejada para o conforto e tranquilidade do paciente durante todo o processo dentro da clínica. O atendimento conta com acompanhamento integral por médicos, inclusive no pós-atendimento, com aplicação de conceitos e técnicas internacionais, sempre pensando em enriquecer o diagnóstico e torná-lo cada vez mais preciso e detalhado.
Eurolatino Medical Research
Centro de pesquisa que se destaca no cenário nacional e até internacional, sendo reconhecido pelo FDA (Food and Drug Administration), dispõe de tecnologia de ponta para realização de pesquisas clínicas e etapas finais de validação no desenvolvimento de novas hipóteses de tratamento das enfermidades. Além disso, oferece novas e melhores abordagens terapêuticas a pacientes que não teriam condições de acesso aos benefícios destes processos, que são realizados sob rígidos protocolos internacionais aplicados no Centro de Pesquisa onde são entregues resultados de alto padrão.
ICT – Instituto do Coração do Triângulo
Criado em 1996, como centro dedicado de cardiologia de alta complexidade do Triângulo Mineiro, o ICT passou
exclusivamente para o UMC, se tornando o braço de cardiologia da Unidade Hospitalar, disponibilizando uma equipe de profissionais qualificados e reconhecidos internacionalmente para a realização de diversos exames de prevenção e tratamentos para a saúde do coração, como: avaliação clínica - pós procedimento; cateterismo cardíaco; angiografias – ROLL CBHPM – 40; arteriografia cerebral; embolizações cerebrais e renais; drenagem biliar; embolizações de mioma, neurointervencionista; angioplastias coronárias, renais, periféricas; implante aórtico endopróteses; eletrofisiologia; marcapasso; implantes de geradores e valvulopastias - fechamento de CIAA.
Espaços para consultórios e clínicas
O Complexo UMC foi pensado para receber diversos setores da saúde, oferecendo um completo ecossistema de atendimento, com total apoio às rotinas de trabalho e infraestrutura especializada. Quem se instala no espaço, conta com a sinergia entre os procedimentos médicos, evitando deslocamentos, e protocolos de suporte à emergência médica integrado com todo o Complexo UMC, como o Pronto Atendimento e Unidade Hospitalar. Quem opta por locar um consultório no Centro Clínico, tanto em períodos integrais quanto em turnos fracionados, conta com: Pool de secretárias; Sistema de Gestão de Consultórios integrado; Link de Internet; Sanitário privativo dentro do consultório; Equipamentos de Informática; Sistema integrado de telefonia avançada; Serviço de limpeza e higienização; Profissionais de apoio treinados e especializados, além de ampla e confortável sala de espera para seus pacientes. Para a instalação de clínicas são oferecidas áreas de 100m2 a 400m2, no Centro Clínico e no térreo do Complexo UMC, com toda a infraestrutura do complexo e seu Ecossistema de Atendimento Integrado. Além da completa infraestrutura de apoio para o trabalho, o Complexo UMC oferece também facilities e comodidades, como praça de alimentação, segurança, agência bancária, amplo estacionamento e alameda de serviços. Conheça a história completa do UMC, com linha do tempo e tudo o que é oferecido, acessando umcenter. com.br
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O nosso governo foi da Democracia Participativa e isso acho que foi uma modificação muito grande, muito importante
O MÉDICO PREFEITO Por: Celso Machado
Ele considera que foi um divisor de águas na política de Uberlândia
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ais do que uma curiosidade, chega a ser instigante imaginar uma cidade do interior com mais de 130 anos ter tido apenas um médico como prefeito. E, ainda por cima, em duas gestões. Zaire Rezende, o primeiro e único médico prefeito de Uberlândia. Nesta entrevista de 2021 ele comenta o fato. “Quando eu me candidatei pela primeira vez à Prefeitura, Uberlândia estava com 243 mil habitantes. Quando eu me candidatei na segunda vez, Uberlândia já tinha 500 mil
habitantes e hoje está com quase 800 mil habitantes. Uberlândia cresce muito. Eu tenho essa alegria de ser o único médico que fez parte da administração e é uma honra muito grande ter sido prefeito dessa nossa terra aqui.” Outro orgulho é ter sido prefeito quando a cidade comemorou seu primeiro centenário. “Estava prefeito quando Uberlândia completou 100 anos em 1988, mas antes disso tive outra alegria enorme no início do primeiro governo: o Uberlândia Esporte Clube ganhou a Taça de Prata, que corresponderia hoje ao título da série
B do Brasileirão lá no Pará. Venceu jogando a final lá. Nós desfilamos aqui em cima do caminhão do Corpo de Bombeiros para o povo poder acompanhar e demonstrar também a sua alegria. Então são duas alegrias muito importantes para mim.” “Sem dúvida fui, desde a campanha. Nós fizemos uma campanha discutindo um projeto de governo de Uberlândia com a população. Em 82 foi a eleição, mas desde 81 nós começamos a fazer reuniões pela cidade toda, nas casas das pessoas: lá na cozinha, na varanda, nos fundos.
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Com isso, eu conheci a cidade toda. Conheci as lideranças e, mais importante, nós discutimos com o povo para saber o que que eles estavam achando da administração do governo de Uberlândia e o que que eles achavam que estava bom, que devia ser mantido, que devia ser melhorado ou então que precisava ser feito. E com isso percebemos que muita coisa podia ser acrescentada. Fizemos um projeto de governo que marcou. Nós criamos a Secretaria de Saúde, criamos a Secretaria de Meio Ambiente, criamos a Administração dos Distritos para dar uma atenção especial aos Distritos de Uberlândia. Foi a primeira vez que Uberlândia teve uma Secretaria de Planejamento. E criei a Secretaria de Cultura também, aliás, que me trouxe uma alegria muito grande. Vou te contar um fato que aconteceu comigo. Uns seis ou sete anos atrás, eu tenho um neto que fez Psicologia na UFU, mas ele também é um poeta e escreveu um livro lançado lá na Casa da Cultura, que foi criada no meu governo. Fiquei evidentemente muito emocionado com isso e muito feliz. Acho que a cultura em Uberlândia mudou muito. Apareceram muitas pessoas com o seu potencial de cultura, potencial artístico, que passaram a ter um espaço para poderem mostrar a sua presença e seu valor na nossa terra. Tivemos o privilégio de ter a Iolanda Lima como a primeira secretaria de cultura, uma pessoa profundamente capaz. Foi com ela que montamos toda a estrutura da Secretaria de Cultura que praticamente existe até hoje. É uma alegria que eu tenho. Mas eu tenho muitas alegrias em Uberlândia. Por exemplo, na Administração dos Distritos, assim que eu assumi a prefeitura no primeiro governo, o Reinaldo Custódio Pereira, que era meu primo, foi no gabinete e me disse: ‘Oh, Zaire, eu fiz campanha contra você, então eu vim aqui dizer que eu não vou continuar na prefeitura não. Eu respeito você’. Respondi na hora: ‘não senhor, você conhece a Zona Rural toda de Uberlândia; vou querer que você vá cuidar da Zona Rural de Uberlândia, das nossas estradas, das nossas pontes, dos nossos mata-
burros, no apoio a todo o pessoal da Zona Rural’. E ele ficou e trabalhou seis anos conosco e fez um trabalho ótimo. Homem muito bom, muito sério, muito honesto, trabalhador. Antes das cinco da manhã ele já estava lá no almoxarifado para começar a trabalhar.” Relembrando ainda a primeira gestão, faz questão de comentar o que considera que a marcou: “Foi a Democracia Participativa. Desde o programa de governo. Dissemos para o nosso povo que nós iríamos governar ouvindo a população, pedindo a participação de todos em tudo que pudessem sugerir, que pudessem
criticar. Quando começou a campanha, nós fizemos um comício na praça ali onde era a Câmara antiga, em frente ao antigo Cine It. Eu disse para aqueles que estavam lá: ‘Começa hoje a caminhada do povo para o poder em Uberlândia’. Com isso eu disse o seguinte: que eu ia governar junto com a população. Por quê? Quem é o dono da cidade? Quem é o dono do país? É o povo. Então quem vai governar é empregado do povo, então tem que ouvir o povo, tem que respeitar o povo. O nosso governo foi da Democracia Participativa e isso acho que foi uma modificação muito grande, muito importante, que inclusive depois foi copiado em outros municípios do Brasil.”
Zaire Rezende, no seu primeiro mandato como prefeito com o então governador Tancredo Neves
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Hoje, com dez mil associados, a atual Unicred Aliança, continua empenhada em garantir um atendimento Premium para todos eles
primeira cooperativa iniciada por tecelões, foi fundada por um grupo de médicos, idealistas que após alguns anos trouxeram outros profissionais da área da saúde, para se juntarem ao nosso sistema. Com o crescimentos das cooperativas, acompanhando as mudanças que aconteceram no sistema financeiro, com supervisão do BACEN, permitiu que a Unicred chegasse ao patamar atual.
A UNICRED UBERLÂNDIA SE TORNA UNICRED ALIANÇA:
Luiz Mauro Coelho Nascimento, presidente do Conselho de Administração da Unicred Aliança
SISTEMA UNICRED, UMA HISTÓRIA DE COOPERATIVISMO Por: Prelo Comunicação
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á 32 anos foi fundada a primeira unidade da cooperativa de crédito do atual Sistema Unicred, que tem como sua maior motivação promover o crescimento de seus cooperados, além de, sempre, buscar inovação e adaptação às novas dinâmicas da sociedade. “Quanto mais avança a tecnologia, mais valorizamos o contato humano e o sentimento de pertencimento que privilegiamos em nossa cooperativa”, afirma Luiz Mauro Coelho, presidente do Conselho de Administração da Unicred Aliança.
O QUE SE SABE SOBRE COOPERATIVISMO? Assim como outras grandes inovações que surgiram durante a história, o cooperativismo
nasceu de uma necessidade. Durante o processo de industrialização, no século XVIII, as condições sociais, como também as econômico-financeiras eram precárias. Com isso, alguns trabalhadores se uniram e criaram um fundo comunitário de consumo. Nesse fundo, mensalmente, cada participante contribuía com uma libra. E assim originou o movimento cooperativista, quando várias pessoas, com os mesmos ideais e princípios, começaram mutuamente a se ajudar de forma colaborativa engendrando, os ideais do cooperativismo: solidariedade, equidade, transparência e compliance. E foi com esses princípios que o Sistema Unicred surgiu em 1989, no Vale das Antas, no Rio Grande do Sul. A Unicred, diferente daquela
Já em 1993, nasceu a primeira unidade da Unicred na cidade de Uberlândia. De acordo com Luiz Mauro Coelho, presidente do Conselho de Administração da Unicred Aliança, “o objetivo era movimentar o dinheiro do sistema nacional Unimed e proporcionar aos médicos a possibilidade de autogestão dos recursos resultantes do seu trabalho”. Em seu nascimento, a Unicred possuía 40 cooperados, mas, já ao final do seu primeiro ano de existência, chegou a 150. Tudo isso graças ao apoio da Unimed Uberlândia e ao trabalho árduo dos presidentes da Unicred Uberlândia. Hoje, com dez mil associados, a atual Unicred Aliança, continua empenhada em garantir um atendimento Premium para todos eles. Com o passar dos anos, aquela primeira unidade, criada em uma sala cedida pela Unimed Uberlândia, se multiplicou. Hoje, possui 25 agências em Minas Gerais e duas em Goiás, nas cidades de Catalão e Itumbiara, e uma terceira na capital do estado vizinho, Goiânia, que será inaugurada em Abril/2022. E, continuamos com o propósito de oferecer os serviços mais personalizados, tanto para as pessoas físicas, quanto jurídicas, e procurando manter a excelência e satisfação dos seus associados.
UNICRED ALIANÇA, CRIANDO VALORES NA VIDA DAS PESSOAS
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TECNOLOGIA PRESENTE Além disso, a Unicred Aliança, sempre busca a inovação e transformação constante para atender as necessidades de seus cooperados. Sendo assim, em 2020, disponibilizou uma nova versão do aplicativo no mobile, que proporcionou alguns diferenciais, como consulta e contratação de previdência e investimentos, seguros em geral, plataforma PIX, entre outros, tudo no mesmo lugar, para o conforto dos nossos associados.
UM LEGADO EM CONSTRUÇÃO Séculos atrás, as primeiras cooperativas surgiam com o espírito de solidariedade e companheirismo e com a Unicred Aliança não foi diferente. Sempre visando autonomia e independência, os conselhos de administração que se seguiram ajudaram seus colegas cooperados a atingirem o sucesso graças a uma gestão democrática ao longo dos anos. E esse legado está em construção, haja vista que educação cooperativista e financeira para associados e colaboradores são para a vida inteira. De acordo com Luiz Mauro, o propósito é facilitar a vida dos cooperados. Tudo o que é feito tem uma estratégia com foco nas pessoas. Expandir ajudou na melhoria do atendimento premium e na sustentabilidade do modelo de negócio. Além disso, levando a “filosofia cooperativista” para outros cantos de Minas Gerais e Goiás, difundindo os princípios que nortearam as cooperativas de todos os ramos. "São esses ideais e princípios que fizeram a Unicred Aliança ter chegado ao patamar atual. São 28 anos de, não apenas uma história, mas de dez
mil histórias que contribuíram para a construção dessa casa, num crescimento responsável, consistente e visando também a sustentabilidade e seguindo como um farol o nosso propósito “,criar valor na vida das pessoas”.
COMPOSIÇÃO ATUAL DIRETORIA: Luiz Mauro Coelho Nascimento: Presidente do Conselho de Administração William Manoel Cecílio: Primeiro vice-presidente do Conselho de Administração Nivaldo Maciel: Segundo vice-presidente do Conselho de Administração Luis Antonio Menegazzo: Diretor Superintendente Leandro Rangel: Diretor Administrativo
Abaixo: Séde da Unicred Aliança, a av. João Pinheiro 690
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Dra. Lidia
CUIDADO COM A SAÚDE E COM AS PESSOAS MARCA A TRAJETÓRIA DO GRUPO SABIN EM UBERLÂNDIA
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nspirar pessoas a cuidar de pessoas. É com este propósito que o Grupo Sabin tem impactado de forma positiva a qualidade de vida da população de Uberlândia há sete anos. Além de investir em tecnologia e inovação para oferecer serviços de medicina diagnóstica de excelência, a empresa está à frente de projetos com foco na sustentabilidade ambiental e na responsabilidade social. Com um portfólio ampliado, o Sabin oferece serviços de análises clínicas, diagnósticos por imagem, imunizações e check-up executivo, distribuídos por 11 unidades em pontos estratégicos da cidade, além do serviço de atendimento móvel. “Alinhamos conhecimento, tecnologia e experiência às necessidades de cada paciente. Nossa missão primordial
é cuidar da saúde das pessoas, oferecendo conforto, serviços de qualidade e eficiência nos resultados”, explica o gestor regional do Sabin Uberlândia, Fabrício Cazorla. A constante busca da empresa pela excelência nos serviços, com investimento em gestão, pesquisa técnico-científica, qualidade e inovação, é reconhecida por meio de certificações e por programas de acreditação. Entre eles está o Programa de Acreditação para Laboratórios Clínicos (PALC), da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), que chancela os serviços de análises clínicas, que oferecem mais de 7 mil exames na cidade. Já os serviços de imagem receberam a certificação do Programa de Acreditação em
Diagnóstico por Imagem (Padi), concedida pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR). O reconhecimento comprova a qualidade, a segurança e a sustentabilidade dos serviços prestados. Além disso, a operação de Uberlândia conta com o Certificado do Sistema de Gestão da Qualidade (ONA), que atesta a qualificação e excelência dos serviços de saúde no Brasil, tendo como foco a segurança do paciente. Com o objetivo de contribuir também para a geração direta e indireta de empregos no município, o quadro de funcionários de Uberlândia é formado predominantemente por colaboradores da região. Além de uma equipe local, o gestor regional também procura dar prioridade para os fornecedores da cidade na aquisição de serviços e insumos.
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O quadro de funcionários de Uberlândia é formado predominantemente por colaboradores da região PROTAGONISMO FEMININO Referência em gestão de pessoas, o Sabin também é reconhecido como empresa de alma feminina. “Nossa lente sobre os valores da diversidade, igualdade e equidade está enraizada na nossa história. Nascemos dos sonhos de duas mulheres – Janete Vaz e Sandra Costa – que hoje são exemplos da força e do empreendedorismo femininos”, explica a presidente-executiva do Grupo, Lídia Abdalla. A personalidade feminina no Sabin vai além das duas fundadoras. É parte da cultura da empresa fomentar o respeito às diferenças e promover discussões capazes de superar preconceitos e crenças limitantes. No ano passado, a empresa foi destaque no Prêmio Valor Mulheres na Liderança, do jornal Valor Econômico por ser uma das empesas brasileiras que mais investe no protagonismo feminino. Em outro reconhecimento, foi destaque no Prêmio Ethos/ Época Negócios deste ano. Como marca dessa diretriz, do total dos 443 colaboradores de Uberlândia, 81,81% são do sexo feminino e 65% dos cargos de liderança são exercidos por mulheres. Essa cultura de valorização pessoas é reconhecida em diversas premiações conquistadas pela empresa. A empresa também
está, há 17 anos, na lista dos melhores lugares para se trabalhar no Brasil, da Great Place to Work (GPTW), consultoria internacional que reconhece os melhores ambientes de trabalho ao redor do planeta. A empresa também figura no ranking da GPTW para Minas Gerais e foi campeã, em 2021, na categoria Gestão de Pessoas, do anuário “Época Negócios 360º”, e ficou está entre os 5 destaques em "Visão de Futuro". No segmento Diversidade e Inclusão, do prêmio Top of Mind RH, o Sabin ficou entre as melhores do Brasil.
AGENDA ESG Como as pessoas estão no centro do negócio, um dos pilares que guiam os princípios da visão empreendedora do Sabin é crescer com a cadeia produtiva e com todos aqueles que fazem parte do contexto empresarial. Desde a sua fundação, o Sabin já tinha enraizado a sustentabilidade como um de seus valores, antes mesmo de ser criado o termo ESG (Environmental, Social and Governance). A governança social é realizada pelo Instituto Sabin, que atua em Uberlândia desde 2015. Entre as diversas ações implementadas estão: apoio às entidades de assistência a pessoas em vulnerabilidade, instalação de academias ao ar livre e de ludotecas, espaços lúdicos
direcionados às crianças, aos adolescentes e às famílias vítimas de violência. Como resultado do investimento na agenda ambiental, o Sabin acaba de receber o Certificado de Neutralização das Emissões de Gases de Efeito Estufa. A conquista comprova a neutralização total de 1.91 mil toneladas de gases responsáveis pelo aquecimento global emitidos a partir das atividades desenvolvidas pela empresa em todo o país. O certificado ratifica as ações da companhia em favor da redução da poluição atmosférica, ao investir em uma gestão mais verde para neutralizar as emissões de GEE de suas atividades por meio da aquisição de créditos de carbono. Esses créditos são gerados por projetos ambientais certificados pela Organização das Nações Unidas (ONU) e disponibilizados ao mercado. "Este marco chancela o compromisso da empresa de investir em projetos com o foco na sustentabilidade ambiental", celebra a CEO, Lídia Abdalla. Presente em 12 estados e no Distrito Federal, o Sabin possui 323 unidades de negócios, onde atuam mais de 6.500 colaboradores, que atendem cerca de 6,5 milhões de clientes em todo o país. Só em Minas Gerais são 21 pontos de atendimento, distribuídos pelas cidades de Uberlândia, Uberaba, Araxá, Unaí e Frutal.
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Eurípedes trabalhava 12 horas na Enfermaria e de lá seguia para as aulas do último ano do 2o grau
UM NEGRO QUE FEZ HISTÓRIA NA MEDICINA DE UBERLÂNDIA Por: Carlos Guimarães Coelho
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ada nessa vida é por acaso. Depois de um rompimento necessário com a família sanguínea na infância, aos seis anos, com o incentivo dos pais adotivos, ele despertou o amor pelos estudos, pela leitura, pela caligrafia e pela música e fez deste despertar o caminho para as suas realizações, até tornar-se um dos dois primeiros estudantes negros da Faculdade de Medicina de Uberlândia, depois o primeiro doutor negro do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), onde integrou o quadro de docentes da instituição, sendo ali o primeiro professor negro. E foi também o primeiro médico negro eleito vereador na cidade. Esse é Sebastião Eurípedes dos Santos, um homem brincalhão, afetivo e generoso, que se orgulha de sua trajetória, apesar dos percalços, e de ter se debruçado em atividades voluntárias em prol da saúde coletiva, mencionadas com certa timidez, por nunca ter se preocupado em divulgá-las. A medicina surgiu no meio do seu caminho muito por acaso. Depois de ter passado pelos ensinos fundamental e médio por escolas públicas, já próximo de tentar o ingresso no curso superior, Eurípedes teve o seu primeiro emprego como enfermeiro na UFU. Precisava se manter por meio do trabalho e entrar no desejado curso de Engenharia. Trabalhava 12 horas na Enfermaria e de lá seguia para as aulas do último ano do 2o grau na Escola Estadual de Uberlândia, o Museu. Aquele trabalho o moveu para o seu destino. Gostou de cuidar das pessoas, ajudá-las em suas crises de saúde, lhes dar banho, principalmente nos idosos, aplicar remédios, fornecer refeições, entre outras atividades da rotina de enfermagem. Resultado: apaixonou-se pela Medicina. E seu rumo na vida foi alterado. Entre 100 estudantes candidatos no vestibular para o curso de Medicina, Sebastião foi um dos primeiros colocados. Algumas colocações abaixo dele estava o amigo, também negro, Carlos Alberto Santana. Negros eram somente os dois. Para conquistar esse espaço em seu futuro, ele teve de pedir demissão da enfermagem e se dedicar aos estudos. Naqueles tempos, a competitividade para ingressar no
curso de Medicina era ainda maior do que atualmente. O jovem estudante não temia os estudos. Desde os 12 anos era não somente um devorador de livros, mas também um admirável poeta. Até hoje coleciona poesias autorais que o fizeram, por exemplo, ser convidado a integrar a Academia Uberlandense de Letras. Junto de seu lado literato, residia também a música. Mesmo
não sendo musicista, compôs várias canções, incluindo o Hino do Centenário de Uberlândia, que reverberou bastante em 1988 e foi transformado em disco, um compacto em vinil. Entrar na Medicina não foi uma tarefa fácil. A dificuldade era financeira. Naquela época a faculdade não era federalizada. Ela, coincidentemente, se tornou federal
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logo após ele concluir o curso. Nos primeiros seis meses, Sebastião Eurípedes não conseguiu pagar as mensalidades. Emocionado, lembra um episódio marcante no início da sua vida acadêmica. No auditório onde os alunos realizavam as provas, ele e mais alguns amigos da classe foram surpreendidos com a visita de uma funcionária, que comentou publicamente que os nomes que ela mencionou deveriam se retirar da sala e não poderiam realizar o exame por estarem inadimplentes. Quando se retiraram, também para sua surpresa, todos os estudantes se levantaram e saíram juntos. E foi iniciado um protesto nos corredores da faculdade. Para solucionar o problema, Eurípedes decidiu ir até o MEC em Brasília. Em uma viagem aventureira, indo de carona, com apenas alguns trocados no bolso para se alimentar, ele chegou à capital brasileira, inclusive gastando seus últimos trocados no trecho entre Goiânia e Brasília. Lá, na rodoviária, faminto, sem dinheiro e sem saber como chegar ao MEC, foi acolhido por uma faxineira, que o viu em pratos, o alimentou e ajudou a chegar onde pretendia. O anjo da guarda que o acolheu o fez lembrar de sua mãe biológica, que também era uma faxineira em uma pensão no bairro Fundinho em Uberlândia e fora abandonada pelo marido, com sete filhos para criar. Juvercina de Jesus se viu obrigada a entregar o filho para os pais adotivos, Aldivina Santos Silva e Jerônimo Dias da Silva, que o próprio Eurípedes oficializou como pais em cartório, às vésperas da formatura, para que seus nomes constassem em seu diploma. No MEC, Eurípedes conseguiu o crédito educativo, sistema público de financiamento que faz com que a mensalidade do estudante fosse paga pelo Governo e, após formado, o recurso deveria ser pago pelo novo profissional. Eurípedes afirma ter orgulho de não ter seguido esse procedimento. Decidiu devolver o recurso público para o próprio público, se empenhando em dezenas de trabalhos voluntários em vários pontos da cidade, na região central e nas periferias. Afirma nunca ter feito nenhuma consulta paga em toda a sua carreira. O seu comprometimento com as pessoas, a ânsia e o desejo de ver as pessoas mais saudáveis e melhor acolhidas o transformou em um grande benfeitor, algo que não divulga nunca e com muita insistência entrou para essas linhas. Causas como o HIV, a hanseníase,
entre várias outras da cidade receberam, com muita frequência, o seu envolvimento e atendimento voluntário e gratuito, além de pessoas que ajudou a atingirem as suas metas acadêmicas e profissionais, com um lema que sempre trouxe em sua existência, de que “a vida é uma troca”. O exemplo de vida de Sebastião Eurípedes, assim como sua entrega às doações voluntárias aos que necessitam, fizeram com que suas duas filhas também se tornassem médicas. Sebastião Eurípedes teve três filhas. Uma delas faleceu precocemente, aos 11 anos, dentro de sua casa, em um acidente doméstico. Algo que nunca conseguiu assimilar e sobre o qual nunca fala. Embora carregue a tristeza dessa tragédia pessoal, ainda se mantém como uma pessoa brincalhona, animada e que vê a vida com bons olhos, que têm amor à literatura, à música e às artes e, acima de tudo, ao cuidado que a medicina oferece e à presença do negro neste contexto. Além de ter sido o primeiro negro no mundo acadêmico e profissional da UFU, Eurípedes, como resultado de suas preocupações sociais, se envolveu em vários movimentos, incluindo os movimentos negros e, diante desse comprometimento, sonhou que poderia provocar grandes mudanças por meio da militância política e tornou-se o primeiro médico negro eleito como vereador na cidade. Considera o período uma grande frustração, percebeu o cenário pouco promissor e bastante engessado em estruturas políticas que quase nada incentivavam os sonhos que ele tinha. Não quis mais retornar ao posto. Mesmo tendo um temperamento que sempre conquistou os colegas, Eurípedes lembrou de momentos, como estudante e profissional, nos quais o preconceito apareceu de forma evidente. Lembra quando se candidatou ao vestibular, a maneira como uma servidora queria desestimulá-lo, como se a opção fosse inconveniente. Recordou também quando foi com um grupo de colegas a um baile de Carnaval em um clube da cidade, embora nem gostasse de carnavais de salão, e foi barrado por ser negro. Só permitiram a sua entrada, da qual se arrepende, depois de mostrar a sua carteirinha de estudante, já que naqueles tempos era extremamente de elite seguir a carreira da medicina. Como médico, por ter se especializado em pediatria, tendo feito dois anos de residência na mesma UFU, ele recordou de alguns
momentos em que as mães mostravam rejeição ao atendimento, como se fosse uma situação absurda um médico negro encostar em sua criança, usando exatamente esse argumento. Mas, segundo ele, não foram situações que o deixassem constrangido e indisposto. Ao contrário, agia como se elas não acontecessem e procurava manter sempre o bom humor e a ética profissional. Mas, se sente feliz pelos anjos da guarda que sempre atravessaram o seu caminho e o ajudaram a moldar o futuro. Cita, por exemplo, quando terminou o período de residência em pediatria, após formado. Teve de ir a Belo Horizonte, pois na época era exigido um exame para a validação da Sociedade Brasileira de Pediatria. Passou em segundo lugar no estado de Minas Gerais. Quando, no último dia, preocupado em obter um emprego e ciente da dificuldade que isso seria, recebeu um telefonema do diretor de clínicas da UFU, o convidando para compor a equipe. Ali, como contratado, permaneceu o tempo permitido de dois anos, garantindo a vaga efetiva por meio do concurso obrigatório. E por ali construiu a sua história por mais de quatro décadas, como médico e como professor, até sua aposentadoria. Hoje, aposentado da UFU desde 2011 e da Fundação Maçônica desde 2014, Sebastião Eurípedes vive com sua atual esposa, Edna Maria Tavares, em uma bela chácara, que possui há décadas para onde se mudou apenas no início da pandemia. Ainda exercita esporadicamente a medicina, como voluntário, e se emociona com a leitura de seus belos poemas, sobretudo aqueles que têm os negros como tema.
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