Ed.14- Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre

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ISSN 2526-3129

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Sumário NOSSA CAPA

ÓLEO SOBRE TELA- BABINSKI

PROPONENTE

ROSILEI FERREIRA MACHADO.

HISTORIADORES

Antônio Pereira Jane de Fátima S. Rodrigues Júlio Cesar de Oliveira Oscar Virgílio Pereira DIREÇÃO EDITORIAL

Celso Machado

EDIÇÃO E PROJETO GRÁFICO

Antonio Seara

CAPA

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BABINSKI, O PINTOR E UBERLÂNDIA

AVIAÇÃO

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UBERLÂNDIA E AS ROTAS AÉREAS

POLÍTICA

LADEIRA, O PREFEITO CANTOR

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PESQUISA E REPORTAGEM

Carlos Guimarães Núbia Mota Margareth Castro COLABORAÇÃO

Ademir Reis Adriana Souza Amir Cherulli Arquivo Público Municipal Carlos Magno d’Armada Cora Pavan Capparelli Evandro Guimarães de Souza Gilberto Gildo Moabe Esteves Serifa Comunicação Vanessa Merola FOTOGRAFIAS

Acervos pessoais Arquivo Público Municipal Arquivos pessoais CDHIS (UFU) Clayton Mota Close Comunicação

COMÉRCIO

DE QUITANDAS A GRANDES LOJAS

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ENTREVISTA

AS MUITAS MULHERES EM MARTA

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CULTURA

FLÁVIO ARCIOLE, PELOS PALCOS DA VIDA

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PERFIL

JOSÉ ESPÍNDOLA, UMA VIDA POR UBERLÂNDIA

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REVISÃO

Ilma de Moraes TRATAMENTO DE IMAGEM

Luciano Araújo IMPRESSÃO

EDUCAÇÃO

NOS TEMPOS DO BRASIL CENTRAL

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Gráfica Breda Finalização e ilustrações: José Ferreira Neto

HISTÓRIA

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SINAIS DE REBELDIA

AGRADECIMENTOS

Ady Torres • Ana Cristina Neves • Carlos Magno • Carlos Roberto Viola • Julio Servo • Maria Vidal • Pedro Eduardo Machado • Ricardo Batista dos Santos • Rosilei Ferreira Machado • Santa Prado • Taísa Ferreira Machado

Patrocínio:

Apoio:

PROJETO EDITORIAL

Nós Projetos de Conteúdo Patrocínio:

(34) 3229-0641 Rua Eduardo de Oliveira, 175 384000-068 Uberlândia, MG

Apoio:

Produção:

Incentivo:


Pra começar

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om frequência fazemos questão de reconhecer a inestimável contribuição dos colaboradores que nos ajudam a fazer cada número desta publicação melhor do que a anterior.

Informações novas, visões diferenciadas, abordagens próprias acrescentam muito ao conteúdo do nosso querido “Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre”. Nesta 14ª edição, estamos tendo a satisfação de receber novos parceiros que vêm acrescentar seus talentos. O médico, escritor e colunista Dr. Evandro Guimarães de Souza, filho do querido casal Enoy-Dr. Arnaldo que, com um estilo muito peculiar, traz agradáveis reminiscências de uma Uberlândia de outros tempos. Margareth Castro, competente jornalista com extensa folha de serviços prestados aos diferentes veículos de mídia impressa da cidade, que está revezando com a Núbia na produção das reportagens.

RÁDIO

CULTURA, UMA HISTÓRIA DE MUITOS 51 SUCESSOS EMPREENDEDORES

A FAMÍLIA REZENDE COSTA 57

Ademir Reis, veterano profissional da comunicação local, que resgata a época de ouro do rádio AM em Uberlândia. Período que conhece muito bem até porque foi um de seus principais personagens. A eles nossos agradecimentos, igualmente à equipe de colaboradores frequentes que sempre nos auxilia. E o nosso convite a todos que, seja por meio de sugestão de pauta, referências fotográficas ou outro tipo de colaboração possam nos ajudar a editar esta publicação que a cada dia se torna mais valiosa e prestigiada por todos que gostam de nossa cidade. Boa leitura a todos.


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MANOEL SERAFIM (1952-2017)

Manuel Serafim, ponte sobre o rio Araguari, no Parque do Pau Furado: sempre as cores da realidade

Mestre da Reportagem Fotográfica

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anoel Serafim era, antes de tudo, jornalista. Repórter fotográfico desde 1982 quando iniciou a carreira no Jornal Primeira Hora, gostava mesmo do registro do fato. O flagrante, o momento da dor ou a explosão de alegria. Nada de esperar o sol se pôr para conseguir aquela luz especial. As

cores eram sempre as da realidade, do mais puro jornalismo. Manoel Serafim registrou o crescimento de Uberlândia em reportagens no Correio de Uberlândia, onde trabalhou, durante 22 anos, como repórter. Atuou também como correspondente dos jornais O Tempo e O Globo e como freelancer para várias revistas

de circulação nacional. Era mestre em cativar amigos, fosse pela partilha da paixão pela profissão ou pela sensibilidade que exalava, sem medo de se mostrar sempre simples, como mineiro da gema, puro personagem de Guimarães Rosa. Deixou como legado registros marcantes da vida uberlandense.


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CARRO POPULAR

A Romi-Isetta do professor Vadico

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o final da década de 1950, ainda que a cidade estivesse crescendo aceleradamente, a maioria das pessoas ainda se conhecia. Ou, pelo menos, as mais populares eram reconhecidas por todos. Uma delas era Oswaldo Vieira Gonçalves, o professor Vadico, diretor do mais importante colégio local, o Ginásio Estadual conhecido como “Museu”. Além da extraordinária bagagem de conhecimentos e da rigidez e dedicação com que comandava seus alunos, houve um período em que era reconhecida nas ruas sem precisar sequer descer do carro. Foi o primeiro a ter uma Romi-Isetta, automóvel de apenas 2,28 metros de comprimento. Desenhada pelo italiano

projetista de aviões Ermenegildo Pretti, a Romi-Isetta trouxe para as ruas diversos conceitos adotados pela aviação. A porta (única e que abre para frente, arrastando a coluna de direção e o volante) e a ampla área envidraçada imitam o estilo adotado nos aviões de guerra. Já as linhas arredondadas traduzem as formas de uma gota de chuva. Ao volante, o professor era alvo da atenção de todos os uberlandenses atraídos pela curiosidade do carro inusitado. Numa época em que ninguém imaginava que surgiriam os carros “mini”, hoje tão comuns, ficou famosa e marcou época a Romi-Isetta do professor Vadico.

Grande Hotel: bilhete premiado

CAPITAL INICIAL

O Magazine Luiza nasceu em Uberlândia?

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Magazine Luiza é uma das mais importantes redes de varejo do Brasil e tem a sede em Franca, cidade do interior paulista. Um viajante lembra que o sr. Pelegrino (fundador da rede de varejo com a esposa, Luiza Trajano) passava muito por Uberlândia nos idos de 1950. Ficava hospedado no Grande Hotel de onde viajava para Goiás e Mato Grosso. Pelegrino sempre deixava um valor com o porteiro do hotel para que comprasse um bilhete da loteria. E não é que um dia o bilhete foi premiado? Quando Pelegrino voltou à cidade Uberlandense, o porteiro foi satisfeito lhe dar a notícia. Surpreso, mas muito contente, ele teria perguntado: “e agora, o que faço com o dinheiro?”. Rapidamente teve a ideia de comprar a loja A Cristaleira, em Franca, um desejo antigo da sua esposa. Do pensamento à ação foi um pulo. E a loja, pouco tempo depois, foi transformada no Magazine Luiza. Taí uma história que pode ser confirmada ou não. Que pode ser verdadeira ou mera fantasia. Mas que o Magazine Luiza tem um carinho todo especial por Uberlândia, isto ninguém duvida.


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Racha 2017: partida de qualidade presta justa homenagem a quem sempre tratou muito bem a bola

RACHA DOS VELHOS MALANDROS

Uma homenagem a Vilfredo e Estrangão Jogadores de carreiras marcantes e brilhantes exibições no futebol e futsal de Uberlândia Por CELSO MACHADO

Vilfredo e Estrangão: no racha que é um jogo de vida ou gole

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iferente das vezes anteriores, o evento, promovido pelo programa Uberlândia de Ontem e Sempre, que homenageia os atletas que fizeram história no futebol local, reverenciou não um, mas dois jogadores de trajetórias diferentes, igualmente marcantes. Vilfredo, o craque irreverente foi destaque no Uberlândia Esporte Clube e em vários outros times do futebol brasileiro, como América Mineiro, Portuguesa de Desportes, Clube do Remo, Paysandu e Rio Negro de Manaus. Evandro Ozanam Sobrinho, o conhecido Estrangão, foi um dos maiores vencedores do futebol amador e do futsal de nossa cidade. Fez história num dos times de ouro de Uberlândia, o Omega, ao lado de outros craques como Hugsmar, Neiriberto, Banga e Cia. Justa homenagem a dois futebolistas de carreira ilibada e de vários títulos. Referências e inspirações para jovens atletas e torcedores que guardam com carinho suas brilhantes exibições. O Cajubá Country Clube foi novamente palco desta carinhosa premiação, que, mesmo simples e singela, toca não apenas os homenageados, como também os que vão lá prestigiar, pois cada um de certa forma também foi protagonista desta jornada. Ex-atletas de diferentes gerações, representantes da mídia esportiva, dirigentes, autoridades, amigos foram vivenciar a edição de 2017 do Racha dos Velhos Malandros, promoção do “Uberlândia de Ontem e Sempre” que vem se constituindo num dos mais significativos reconhecimentos do futebol uberlandense a seus antigos ídolos.


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Bar Brasil ficava ao lado do Cine It, ambos demolidos recentemente

CRÔNICA

O sorvete do Bar Brasil Por EVANDRO GUIMARÃES DE SOUSA

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odos sabem que em qualquer cidade há sempre um café onde o sexo masculino se reúne, com frequência, para colocar a prosa em dia. Ou um restaurante tradicional onde famílias se juntam para o almoço no domingo. Ou, ainda, um bar bem localizado para os drinks do dia a dia. Devo confessar que, desde criança, fui frequentador assíduo do Bar Brasil, que ficava em frente à praça da antiga Prefeitura de Uberlândia. Não me entendam mal. O que me fascinava era o movimento das máquinas de sorvetes que batiam o líquido até que adquirisse a consistência esperada para sua distribuição nas formas de preparo dos picolés. Porém, o melhor de tudo era saborear os deliciosos produtos, especialmente meus preferidos de coco, creme holandês, limão e abacaxi. Interessado em informações sobre este lugar de tão boas lembranças, entrei em contato com historiadores da cidade e nada consegui. Nem mesmo uma foto antiga! Então, lembrei-me do primo Moraes, que já viveu um pouco mais do que eu, e o procurei para pedir ajuda. Poucos dias depois, ele me respondeu o seguinte: “Do Bar Brasil, só me lembro que era o local onde os alunos internos do Colégio Brasil Central, no início da década 1940, tomavam um sorvete após a caminhada nas tardes de domingo, que fazíamos sob a vigilância da Vó Sanita.

Imagino que era o único bar na região central porque era meio “fubá”, muito escuro e, aos olhos de meus 7 anos, pior que os bares de Mariana”. Eu explico: a nossa avó Sanita era responsável pelo controle dos alunos em regime de internato no Colégio Brasil Central. Mariana foi a cidade natal de minha família pelo lado paterno e “fubá” é um termo usado para indicar situação confusa, desordem, rolo ou pessoa muito feia. Lembro-me, ainda, que, na minha cidade, tínhamos uma interpretação muito própria: Federação Uberlandense de Bagulhos Abandonados, o que nada tem a ver com o assunto em questão! Porém, esta expressão será motivo de um outro texto. Finalmente, alguém se lembrou do Bar Brasil, pois eu já estava imaginando que o estabelecimento fosse uma ilusão de minha geriátrica memória. Realmente, o recinto era escuro, lúgubre e a limpeza não era das mais primorosas! As máquinas de produção de sorvete e os picolés ficavam à esquerda da entrada. Havia mesas e cadeiras do outro lado e o restaurante funcionava nos fundos do prédio. Lembro-me, ainda, de um episódio interessante sobre este Bar Brasil. Num belo dia, quando passeava com o meu tio José Salles, carinhosamente chamado por nós de Pai Zé, pedi que ele comprasse um picolé para mim e outro para o meu irmão Amaury. Como estava muito quente e para evitar que os

picolés escorressem, eu dava uma lambida num e no outro. Lá pelas tantas não teve jeito, um dos picolés derreteu e caiu no solo. Imediatamente, eu afirmei: “Este era o do Amaury” e continuei apreciando o outro! Percebem como eu já era esperto desde minha mais tenra idade? Buscando encontrar mais recordações daquele tempo, lembrei-me do Seu Loló, um homem magro com faces encovadas, bigodinho e barba ralos, que vendia picolés em frente ao portão do Colégio Brasil Central, onde eu estudava. É bem possível que ele abastecesse seu carrinho com picolés fabricados no Bar Brasil, que ficava pertinho do colégio. Eu continuo apreciando picolés e sorvetes; infelizmente quase não consigo mais adquirir produtos artesanais pois, nos dias de hoje, estão mais disponíveis os industrializados. Ah, que saudades do Bar Brasil que não mais existe. O sabor dos picolés e sorvetes são inesquecíveis, assim como a aventura de cruzar a praça, comprá-los sozinho e retornar para casa são e salvo, sem risco de assalto ou atropelamento! Bons tempos aqueles. Recordei-me, finalmente, de um poema de Casimiro de Abreu, conhecido por todos: “Oh! Que saudades que tenho/ Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida/ Que os anos não trazem mais”. Realmente, foram anos dourados e, por que não, gelados pelos picolés e sorvetes do Bar Brasil que os anos não trarão de volta! Enfim, como afirmaram Aldacir, Marins e Macedo: “Recordar é Viver”. Vou continuar lembrando e registrando os bons momentos que vivi e, assim, assegurar a minha existência por muitos e muitos anos!

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“ Sou inspirado por tudo o que minha visão me oferece no presente cotidiano, somado ao que minha memória guardou do passado”

ARTISTA DA CAPA

Um certo Maciej Babinski Pintor e professor que viveu em Uberlândia fala da cidade e de seu trabalho

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ue Uberlândia é um celeiro de grandes artistas visuais, quase todo mundo sabe. O que pode não ser do conhecimento de todos é que muitas celebridades da área já viveram por aqui e movimentaram a cena artística da cidade. Como o polonês Maciej Antoni Babinski que, por acaso, veio morar em Araguari e transferiu-se para Uberlândia para assumir uma cadeira

de docente na Universidade Federal de Uberlândia. Uma ponte provocou a mudança de Babinski para Uberlândia. Como relata Marcelo Wesley, um de seus filhos, Babinski morava em Araguari, terra de sua mulher, Hilda. Um dia, chegando ao trabalho na Universidade, Babinski soube que a ponte entre as duas cidades havia caído minutos depois de ele ter passado por ela. Decidiu, então, instalar-se

Babinski viveu e deu aulas aqui entre 1979 e 1987

em Uberlândia com a família, mesmo abrindo mão de um trajeto que gostava muito de fazer, porque era grande apreciador dos campos do cerrado. Babinski saiu garoto com a família de Varsóvia, em 1940, fugindo da Segunda Guerra Mundial. Passou por vários países, como a Inglaterra e o Canadá, antes de aportar no Rio de Janeiro no início dos anos de 1950. Seguiu para Brasília depois para Ara-


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guari e Uberlândia, onde viveu entre 1979 e 1987. Nestas andanças tornou-se gravador, ilustrador, pintor, desenhista e professor. Lecionou no curso de Artes Plásticas da Universidade Federal de Uberlândia e, atualmente, vive no interior do Ceará. Teve cinco filhos: Ana Lúcia, que morreu em 2013, Fátima, que vive há muitas décadas no Canadá, e os mineiros Daniel Áquila, que reside em São Paulo, e Marcelo Wesley que mora em Uberlândia. O caçula Aniel vive com os pais no Ceará. Confira, a seguir, a entrevista de Maciej Babinski ao Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre. O senhor viveu um tempo em Uberlândia. Como foi essa experiência? O que lembra da cidade no setor das artes visuais? Como resultado da divulgação do meu trabalho pelos pioneiros Dr. Celso e Lourdes Saraiva Queiroz, quando ainda estava em Araguari, fui convidado pela professora Myrtes Lints, a fazer parte da UFU, onde lecionei gravura e desenho de modelo vivo por nove anos. Fiz exposições dentro e fora da UFU e passei a pintar menos paisagens. Contribui com orientação para um ateliê de gravura na Casa da Cultura. Doutor Celso e a UFU são dois fatores que aumentaram a presença das artes e dos artistas em Uberlândia. Graças a eles, a cidade hoje tem artistas que têm lugar onde desenvolver e expor seus trabalhos. Há muitos artistas em Uberlândia que se sentem gratos ao senhor na referência como artista ou, na sala de aula, como professor. Como se sente em relação a isso? É gratificante saber disso, porque sempre acreditei que um docente deve conhecer a matéria que leciona e comprovar isso para que os alunos acreditem nas suas palavras. O Sebas-

Sede atual do Conservatório Cora Caparelli inaugurada em 1977

Desenhos de Babinski sobre paisagens regionais


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tião, que trabalhou como modelo nas minhas aulas por mais ou menos nove anos, tornou-se um escultor. Pode haver melhor reconhecimento do meu trabalho como professor do que isso? Consegui mostrar aos alunos meu trabalho em exposições, sem criar rótulos ou discípulos. Falei muito em liberdade e verdade, tentando demonstrar meu ensino na prática. Babinski é um nome conhecido e cultuado no setor das Artes Visuais. Considera que seu trabalho foi reconhecido à altura do seu merecimento? O nome se relaciona mais com mitos do que com minha obra. Sempre fui um artista de artistas e minha obra é relativamente pouco conhecida do grande público. Passado um tempo, já que me preocupei em conseguir expor em espaços que permitissem o livre acesso do público, as exposições tiveram visitações muito boas, especialmente quando comparadas com galerias. Eu me afastei voluntariamente dos lugares onde se constrói a busca do “reconhecimento” junto à “nomenclatura” dos manipuladores do conceito e das opiniões. Estou trabalhando na solidão necessária para fazer o que tenho de fazer. Da situação opressora estou fora, graças à vida. Sua origem não é brasileira. Você se sente mais brasileiro? O Brasil inspira artisticamente? É um país que incentiva ou deprime? Sou brasileiro por viver os últimos 63 anos no Brasil. Maioria absoluta. Incentivado, sim. Decepcionado, nunca. Depressão é frequente? Não, doutor! Vivemos um momento de estranhamento entre a arte e o público. Recentes episódios de censura suscitaram o debate sobre o que é arte. O que é arte para o senhor?

Intelectuais e artistas de todas as áreas sempre reverenciam o mestre Babinski

Sinto que a relação das pessoas com a arte tem a ver com vários fatores. E dependendo do momento histórico, político, econômico, religioso, varia de lugar para lugar, de cultura para cultura. No momento, no Brasil, estamos sendo bombardeados com a ideia de um projeto globalizante, querendo impor a ideia de que as diferenças não deveriam existir e que, no fundo, as nacionalidades e o consequente nacionalismo são maléficos e prejudiciais ao pacífico convívio dos huma-

nos. Os resultados dessa pressão têm sido ridículos ou desastrosos, dependendo do lugar, país, nação e, sobretudo, da cultura nas quais é aplicada. Recentemente, não apenas no Brasil, mas em vários pontos do planeta, ocorreram episódios provocados pelo uso de espaços abertos ou públicos para exposições com o objetivo de chamar a atenção para questões sociais e comportamentais. A palavra arte pouco entra na discussão nestes casos. É usada como isca para uma


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ação política, com a intenção de criar um novo padrão de heróis e vilões para uso das populações. Isso é arte a serviço do poder. O que é arte? Você só pode dizer depois de olhar e sentir. Não cabe ao artista dizer, pois ele está ocupado em fazê-la e tendo que descobrir, a partir dele mesmo, o que será arte no momento seguinte. O senhor atravessou diversos momentos políticos no Brasil. Como sentiu sua arte contextualizada neles? Você considera o país difícil para os artistas? Como falaram que tenho raízes no expressionismo, pode ser que, em determinados momentos, eu tenha reagido de forma muito indireta aos momentos políticos que atravessei como artista. Algumas vezes de forma mais implícita e em outras com indignação indisfarçável. Nunca fui proibido de trabalhar, nem de expor os meus trabalhos. Em outros momentos, tive que aproveitar as oportunidades que apareciam, porque a vida de artista nunca foi moleza, nem aqui, nem em qualquer centro de intensa atividade e produção cultural. Seguir a moda nunca foi meu objetivo, mas tive que aproveitar todas as oportunidades que surgiram para expor. O Brasil me deu tudo que precisei para continuar sendo artista até agora. Nunca foi fácil ser artista, nem no Brasil, nem em Paris ou Nova York. O que mais o inspira à criação? Tudo o que minha visão me oferece no presente cotidiano, somado ao que minha memória guardou do passado.

Babinski, inspiração para o filho Marcelo (ao centro) e para os amigos.

Sabemos que há várias obras suas em galerias de Uberlândia. Há previsão de uma exposição de seus trabalhos na cidade? Não no momento.


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Scania Saab, operado pela Vasp em Uberlândia nos anos 1950, tinha capacidade para até 45 passageiros

AVIAÇÃO

De Uberlândia para o mundo Década de 1950 foi o apogeu do transporte aéreo de passageiros na cidade

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á para imaginar Uberlândia com voos aéreos para cidades, Araguari, Itumbiara, Catalão, Ipameri, Pires do Rio, Uruaçu e mais 40 cidades, com frequência quase diária? Pois é, difícil acreditar nos tempos atuais, mas aconteceu. Segundo o ex-piloto Durval Teixeira, com mais de 20 mil horas de voo; nos anos 1950, Uberlândia chegou entre 40 e 50 pousos e decolagens diários. Dez companhias aéreas operavam na cidade. E havia demanda para isso, tanto que a maioria dos os aviões saía da cidade lotada. Formado em Direito, Durval Teixeira foi piloto por 52 anos. Hoje, aos 90, está aposentado. Também é escritor, com três livros publicados. Ele lembra

Por MARGARETH CASTRO

bem da década de 1950, que considera o apogeu da aviação em Uberlândia. “Na verdade, a aviação brasileira ganhou força a partir do fim da Segunda Guerra, em 1945, quando os restos de guerra foram reaproveitados pelas companhias aéreas. Começaram a ser usados modelos de aeronaves como o DC-3, o C-46 e o C-47.” Uberlândia, pela localização estratégica, acabou atraindo várias companhias aéreas. Até 1953, o modelo mais usado por elas na cidade era o Junkers, avião alemão que comportava até oito pessoas. Depois passaram a ser usados o DC-3, avião maior com capacidade para até 35 pessoas e o Scania Saab para 45 passageiros, operado pela Vasp.

Arte de voar Durval Teixeira é filho de piloto e tem um filho que também foi piloto. Ele lembra que fez o primeiro voo com seu pai em 12 de junho de 1942 e, mesmo tendo parado de pilotar em 1986 aos 69 anos de idade depois de problemas de saúde, ele ainda pratica voos por meio de simuladores no computador. “Voar hoje é controlar instrumentos”, disse. Segundo Durval Teixeira, nos anos 1950, exigia-se mais do piloto, pois havia apenas o LDB (sintonia com as rádios) e a bússola para orientação. Em Uberlândia, a pista era de terra, o que só mudou por volta de 1957, quando foi inaugurada a primeira pista asfaltada do atual aeroporto. “Naquela época valia


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Horários de voos, saindo de Uberlândia na década de 50

mais o instinto do piloto, não havia tantos equipamentos”, disse. De acordo com Teixeira, na década de 1950, empresas como Vasp, Real Aerovias e Linhas Aéreas Brasileiras eram as mais procuradas. “Na Vasp, havia um ícone chamado comandante Baumgartner, que voou até os 80 anos e pilotou na Alemanha. Ele tinha muita experiência e era muito conhecido, o que fazia com que as pessoas preferissem voar com ele, como também com os comandantes Carlos Simão, Landel e Camargos”. Uma figura também marcante dessa época era o representante da Varig, Moacir Marques do Prado. As passagens aéreas eram vendidas pelos agentes das companhias aéreas, que também eram responsáveis pela fiscalização e distribuição da carga para equilíbrio de peso nas aeronaves. “E, durante algum tempo, as pessoas podiam ir até as portas dos aviões receber quem chegava e se despedir de quem partia.” Além de piloto, Durval Teixeira foi subgerente da Vasp e também trabalhou nas Linhas Aéreas Brasileiras. Com tantos anos na aviação, diz que muito do que se conta sobre a década de 1950 é história. Mas é verdade que motoristas iluminavam a pista para pousos noturnos. Quando um avião atrasava e chegava à noite, o piloto sobrevoava a cidade e os motoristas iam iluminar a pista para o pouso emergencial com os faróis de seus carros.


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Ladeira cumpriu a promessa de azular a cidade se fosse eleito: pintou de azul o prédio onde funcionava a prefeitura

MEMÓRIA POLÍTICA

Uma eleição que azulou a cidade

Estilos de campanha têm variado de acordo com a evolução dos hábitos e costumes dos eleitores Por OSCAR VIRGÍLIO PEREIRA

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história das eleições municipais mostra que os estilos de campanha têm variado conforme a evolução da sociedade. Nas eleições municipais brasileiras de hoje, os componentes ideológicos das campanhas já tendem a definir as posições políticas de muitos eleitores. Outras vezes, nas candidaturas à reeleição, o diferencial entre os postulantes tem sido a apresentação de resultados de atuação anterior bem, sucedida. E existe ainda o grande contingente de eleitores incautos ou mal informados, influenciável pelos argumentos imaginados por marqueteiros profissionais. Mas, no início da era repu-

blicana, os impactos motivadores da preferência do eleitor eram criados de outras formas. A forma mais comum era a eleição controlada pelos chefes e chefetes políticos, com expedientes, como a manipulação de resultados, o voto de cabresto, o curral eleitoral. De modo geral, a eleição acontecia em clima de acirrada disputa, na qual conflitos resultavam até em agressões e mortes. Em Uberabinha, no ano de 1892, contrariando o costume, a primeira eleição, conduzida pelos coronéis antigos, combinada previamente, foi a única que aconteceu de forma pacífica. É que as duas alas políticas do Partido Republicano Mineiro

resolveram adotar um candidato comum, que foi Augusto Cezar Ferreira e Souza, por ser a única pessoa capaz de organizar o município recém- criado. Ele recebeu a unanimidade dos votos dos eleitores da cidade, que eram cinquenta e quatro! Outro fator decisivo de sucesso foi o cultivo da aura de simpatia pelo próprio candidato. Afrânio Rodrigues da Cunha, que se elegeu prefeito de Uberlândia para o período fevereiro de 1955 a fevereiro de 1959, tinha memória notável para nomes: sabia o de milhares de pessoas e dos respectivos parentes. Hoje, perante um eleitorado de 600 mil votantes, um talento desses ainda seria útil, mas não decisivo como foi para Afrânio. Na linha da criação de imagem pelo próprio candidato, nenhum caso supera o que aconteceu em 1958 na eleição de Geraldo Mota Batista, mais conhecido como Geraldo Ladeira. Diretor da Rádio Difusora, a PR-C6, ele a transformou no mais poderoso meio de comunicação de Uberlândia com a região. No âmbito local, a Rádio Difusora promovia concursos, programas de auditório, transmitia solenidades ao vivo, notas de falecimento. Todas as tardes era levado ao ar o programa “Às suas ordens”, de oferecimento de músicas a pessoas, por amigos


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ou parentes. As homenagens eram anunciadas de modo padrão, uma por uma: “Fulano oferece a beltrano com sinceros parabéns pelo aniversário”. A carreira política de Ladeira foi iniciada com sua eleição a vereador municipal, depois de se filiar ao Partido Social Democrático. Daí, o desejo de dar um passo mais avançado na eleição de 1958, rumo ao cargo de prefeito, foi rápido. A imprensa logo revelou seu propósito, afirmando até que ele almejava o apoio comum do PSD e da UDN, que eram duas forças políticas antagônicas. Ladeira criou dois programas radiofônicos, levados ao ar depois das 18 horas: a “Crônica do Dia”, apresentado por pessoas convidadas ou por ele mesmo. Em seguida, conduzia, sozinho, o programa “Sugestões, Queixas e Reclamações”, iniciado e fechado com um bordão estimulador da participação do povo: “Reclame, porque é um seu direito. Reclame, porque estamos no regime democrático!” E lá vinham reclamações, cuidadosamente filtradas, para não molestar nenhuma autoridade federal e estadual, nem ofender potenciais eleitores. Os temas de caráter mais local eram habilmente comentados, terminando a fala com uma respeitosa sugestão ao poder responsável. Aqueles programas tinham a fala de um conservador ferrenho; mas eram o único modo de protestar contra alguma coisa naqueles tempos. No âmbito pessedista, a pretensão manifestada por Ladeira foi vista com grande restrição, mas ninguém se manifestou contra ela. Só que, em silêncio, quando chegou a data da convenção para escolha do candidato a prefeito, a candidatura de Ladeira foi abafada sem piedade. Naquele tempo, as convenções partidárias eram pró-forma. Um secretário apenas lavrou uma ata dan-

Geraldo Ladeira com Espíndola, Cícero Naves e Zé Carneiro

do como escolhido a candidato pelo PSD, o sr. Antônio Tomás Ferreira de Rezende, conforme acertado com os maiorais. O livro de atas foi levado de casa em casa para colher as assinaturas dos convencionais. Ladeira foi o último a ser procurado. Recusou assiná-lo, indignado.

Tudo azul Não foi difícil para Geraldo Ladeira deixar o PSD para se abrigar em outro partido. O inexpressivo PR – Partido Republicano, visando ao valioso apoio para seus candidatos a deputados, imediatamente inscreveu Ladeira e registrou sua candidatura a prefeito. Assim saiu a “dobradinha”: para prefeito, Ladeira; para deputado federal, Walter Passos Ladeira se apresentou ao eleitorado como vítima de uma traição, mas não fez disso o mote de sua campanha. Aproveitando habilmente a simpatia que vinha granjeando há tempos, deu caráter alegre e popular à candidatura. Focalizou seu esforço na periferia.

Sua equipe, gente de rádio, fiel e perita em comunicação, conhecida na cidade, montou a campanha, e lhe deu o tom, sem programa nem compromisso (a mesma coisa que a dos outros candidatos), mas apelativa e insinuando falta de competência dos adversários. Seu jingle, que era uma simples marchinha composta pelo maestro Mosquitinho, tomou conta da cidade e foi cantada alegremente pelo povo nos comícios, com acompanhamento pelo conjunto musical da rádio Difusora: “Uberlândia não pode parar Não pode não, não senhor Para vencer esta barreira Ser prefeito não é brincadeira Quem gostar desta terra mineira Vai votar no Geraldo Ladeira! Na PR-C6, a curtos intervalos, era apresentado um bordão, à moda sertaneja, isolado mas, sugestivo, que dizia assim: “Olê, qui bão, é ganhá as inleição!” Ladeira, em seu programa vespertino, mandava mensagens de


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Ladeira em visita ao presidente Juscelino Kubitschek

carinho a seus pais que moravam em Campinas, com um estribilho emocionado: “Alô papai, alô mamãe, aqui tudo azul!”. Sentindo a receptividade popular, prometia nos comícios que, quando fosse eleito prefeito, seu primeiro ato seria pintar de azul o prédio da prefeitura. Assim, enquanto cultivava a imagem do bom filho, anulava os argumentos dos adversários que o chamavam de forasteiro e, ao mesmo tempo, se identificava com os milhares de eleitores também oriundos de outras terras. Havia um problema grave a ser resolvido. Para dificultar a eleição de Juscelino em 1955, a oposição tinha conseguido aprovar uma lei eleitoral que cancelava a validade dos títulos eleitorais, exigindo nova qualificação. O povo se mostrava desmotivado. O jornal Correio de Uberlândia comentou na edição de 16 de março de 1957: “Uma forte e clamorosa realidade: irrisória a quantidade de 577 eleitores inscritos até agora em uma cidade com 60 mil habitantes! Ou

intensifica-se o alistamento, para podermos ostentar os mesmos 32.000 eleitores, ou Uberlândia ver-se-á obrigada a amargar um triste destino.” Mas, em maio daquele mesmo ano, o alistamento não passara de 1.565 eleitores. Ladeira percebeu que a maioria de eleitores inscritos vinha das elites locais e moradores do centro. O povo das vilas, onde estava sua maior base eleitoral, precisava ser motivado. Ele criou então a campanha do Eleitor Mirim, fazendo uma inscrição simbólica de crianças, que recebiam cada uma seu “título de eleitor do Ladeira.” Foi pedido o apoio da meninada para convencer seus pais a se inscreverem no Cartório Eleitoral. Foi um sucesso. A criançada, aos milhares, com seus títulos eleitorais de brincadeira, foi convertida em cabos eleitorais de Ladeira, deu exemplo e mexeu com os brios dos pais. O número de eleitores, principalmente mulheres, cresceu e chegou ao nível antigo, mais de 30 mil. A eleição de 1958 terminou com a

vitória de Ladeira, que derrotou as forças tradicionais de Uberlândia, com este resultado em votos válidos: Geraldo Mota Batista (Ladeira) – PR: 9.025; Antônio Tomaz Ferreira de Rezende (Toninho) – PSD: 7.668; José Fonseca e Silva - UDN: 7.590. Dos 15 vereadores eleitos, apenas quatro eram do grupo de Ladeira. O candidato a deputado pelo PR Walter Passos teve mais ou menos metade dos votos de Ladeira. Esses resultados eleitorais mostraram que a imagem construída por Ladeira fortaleceu apenas a sua pessoa. A campanha eleitoral de Geraldo Ladeira foi considerada, na época, uma das mais originais de Minas Gerais pelo alcance popular de seus slogans e da forma de fazer comícios como se fossem programas de auditório. Na edição em que divulgou o resultado da eleição, um jornal publicou esta nota: “Ladeira: picolé azul. O Prefeito eleito de Uberlândia, sr. Geraldo Ladeira, fez distribuir domingo, entre a criançada, 2.000 picolés de cor azul, o que ocorreu em uma das “vilas” da cidade. A garotada, como não poderia deixar de ser – gostou imensamente e nós, à vista do fato, só podemos concluir: Ladeira está fazendo crescer a onda em torno de seu lugar-comum “Tudo Azul”, por ele transformado, habilmente, em cor característica de sua campanha.” Ladeira, depois de empossado, cumpriu a promessa e mandou pintar o prédio da prefeitura com a cor azul celeste, que foi mantida durante todo o exercício de seu mandato. Esta é a origem da expressão “Tudo azul !” em Uberlândia, muito usada quando se quer dizer que as coisas vão bem.


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Há mais de 3 mil empresários associados à CDL na cidade, que conta hoje com milhares de lojas espalhadas em centro, bairros e shoppings

CDL 40 ANOS

De quitandas a grandes lojas Quarenta anos de luta de uma entidade representativa para o comércio

A

s avenidas sem pavimentação onde trafegavam carroças, charretes e carros antigos, tornaram-se pistas largas com tráfego de centenas de carros, motos e ônibus. O comércio, movido por pequenas quitandas e armazéns, que estocavam seus produtos a granel em barris e sacos, com cadernetas, deu lugar às grandes lojas de departamento e conveniências, com pagamentos em cartões de débito e crédito, com parcelamentos. Com características rudimentares, as pequenas lojas não ofereciam estruturas diferenciadas, tampouco, variedade de produtos. Os estabelecimentos eram simples e sua clientela

muito carente. As vendas fiadas, tudo anotado em cadernetas. Os acertos feitos no final do mês, ou, muitas vezes, no final do ano, logo após a safra. Em 1895, Uberlândia ganhou uma estrada de rodagem até Itumbiara. Todo o sul de Goiás começou a vir comprar na cidade. Os produtos primários e manufaturados chegavam de São Paulo, trazidos para Uberlândia pela estrada de ferro Mogiana. Foi o começo de novos tempos para o comércio uberlandense, que recebeu este empurrão para o desenvolvimento econômico. Os atacados começaram a surgir, porém ainda com muitas dificuldades financeiras. O escambo (troca de mercadorias) foi moeda de

troca das mercadorias primárias como o fumo, banha, arroz, feijão e milho, pelas mercadorias manufaturadas. Com o crescimento do comércio, em 1977, viu-se a necessidade de uma força representativa para defender os interesses e direitos do setor. Foi quando nasceu o Clube de Diretores Lojistas de Uberlândia, nas dependências do Senac. Seu fundador e primeiro presidente, Orlando Pinto Guimarães, deu os primeiros de muitos importantes passos, ao formalizar a compra do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), denominado, na época, Credicerto. Além disso, para otimizar o serviço, o CDL adquiriu uma central telefônica com 150 linhas privadas e

A região começou a vir comprar em Uberlândia os produtos de São Paulo, trazidos pela ferrovia Mogiana


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um PABX com cinco ramais, que permitia o acesso do associado ao SPC.

Novo nome Com o passar dos anos, o CDL ganhou novo nome. Agora, chama-se Câmara de Dirigentes Lojistas de Uberlândia, entidade associativista pertencente à Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Preocupados com o crescimento e, sobretudo, o desenvolvimento de Uberlândia, os dirigentes da CDL direcionaram seus esforços para a criação de uma cartela diferenciada de soluções e representatividade maior com políticas públicas, visando à qualidade de vida da cidade e, consequentemente, ajudando o associado a desenvolver mais ofertas de bens que aumentassem o interesse de seus clientes. Além disso, a entidade atuou na prospecção de novas empresas e para a qualificação de trabalhadores. A CDL Uberlândia é reconhecida por sua representatividade, credibilidade e, ainda, como uma das entidades de classe mais comprometidas com a valorização do varejo no país. Hoje, há mais de 3 mil empresários associados, na cidade que conta com milhares de lojas espalhadas em centro, bairros e shoppings. “Uma entidade por si só não sobrevive apenas com recursos oriundos da contribuição associativa. Para avançar, criamos diversas soluções para apoio aos associados. São soluções que os empresários precisam e produtos próprios que não se encontram com facilidade. Além disso, a CDL tem como objetivo interferir no ambiente de negócios de seus associados por meio de uma atuação político-institucional mais abrangente”, afirma Cícero Novaes, atual presidente da CDL Uberlândia, que está completando 40 anos no segmento do comércio, reconhecido como um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento de Uberlândia.

Casa comercial na região central de Uberlândia em 1884

Sede atual da Câmara de Dirigentes Lojistas de Uberlândia


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Imigrantes do Japão em Uberlândia nas primeiras décadas do século passado

SAGA JAPONESA

Reis carregam pedras? Por JÚLIO CÉSAR DE OLIVEIRA

E

m seu poema “Perguntas de um trabalhador que lê”, o poeta e dramaturgo Bertold Brecht (1898-1956) faz, entre outras, as seguintes perguntas: “quem construiu Tebas? Nos livros estão nomes de reis; os reis carregaram pedras?” Os questionamentos, realizados pelo bardo alemão, convida-nos a refletir criticamente sobre as abordagens historiográficas tradicionais que privilegiam os grandes acontecimentos e os personagens que marcaram a história de Uberlândia. Segundo elas, a cidade desenvolveu-se graças à genialidade e ao empreendedorismo dos grandes políticos e empresários. Em sentido contrário, as indagações realizadas por Brecht conduzem-nos à difícil tarefa de apreendermos como os trabalhadores construíram a história local. Nessa perspectiva, opto por pensar sobre as contribuições dos imigrantes japoneses e seus descendentes para o desenvolvimento de Uberlândia. Oficialmente, a imigração japonesa para o Brasil iniciou-se com a chegada do navio Kasato Maru ao porto de Santos no dia 18 de junho de 1908. Em 1910, mais de 900 famílias japonesas vieram para Uberlândia em busca de terra e trabalho. Estima-se que, entre 1917 e 1940, chegaram mais de 164 mil imigrantes. Nos anos 1930, o Brasil já possuía a maior população de japoneses do mundo fora

do Japão. Nas primeiras décadas do século XX, diversos imigrantes japoneses procurando forma mais digna de sobrevivência deslocaram-se para o Triângulo Mineiro. Em Uberlândia, montaram as primeiras colônias nos bairros que hoje conhecemos como Brasil, Fundinho e Patrimônio. Construídas em torno de templos xintoístas, as residências caracterizavam-se pelos jardins e hortas bem cuidadas. No decorrer do processo de imigração, os membros dessas comunidades conviveram com o discurso preconceituoso de que os japoneses “tomavam o emprego dos brasileiros” e “degeneravam a raça brasileira”. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-45), na qual o Brasil lutou contra as potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), diversos imigrantes japoneses da cidade, como no resto em todo o Brasil, foram perseguidos politicamente. Em pleno Estado Novo (1937-45), escolas das comunidades japonesas foram fechadas, os imigrantes proibidos de falar seu idioma e ouvir transmissões provenientes de rádios localizadas no Japão. Os acusados de espionagem foram presos e encaminhados ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), localizado na cidade de São Paulo. Em 1941, o então ministro da Justiça Francisco Campos defendeu publicamente

a proibição da entrada de imigrantes japoneses em solo brasileiro, alegando que “seu egoísmo, sua má-fé, seu caráter refratário, fazem deles um enorme quisto étnico e cultural”. Em meio ao contexto histórico marcado pela aversão aos japoneses, o casal Sidico e Tuki Okada chegou ao Brasil no começo dos anos 1930. Após peregrinarem por diversas cidades dos estados de São Paulo e Minas Gerais, finalmente fixaram-se em Uberlândia. Na cidade de São Simão (SP), tiveram o filho Romeu. Em Uberlândia, conceberam os filhos Geraldo, Amélia, Lila, Regina e Isao. No bairro Patrimônio, o agrônomo Sidico e a professora Tuki alugaram um terreno e nele passaram a produzir legumes e hortaliças. Em 1957, o casal mudou-se para Guarulhos (SP) deixando aqui o filho Isao Okada. Coube a ele dar continuidade às atividades iniciadas por seus pais. Na cidade, onde nasceu no dia 9 de dezembro de 1936, Isao estudou, prestou o serviço militar e casou-se com Neuza, tendo com ela os filhos William, Kátia e Robson. Da Uberlândia antiga recorda o modo de vida interiorano caracterizado pela paz, inocência e camaradagem. Lembra com ironia o fato do escrivão não registrá-lo com o nome de Waldemar, alegando não ser “nome de japonês”. Da Uberlândia atual, lamenta a desumanização. No entanto, continua a residir nela e a produzir alimentos necessários às famílias da cidade. Relembrando a saga dos imigrantes japoneses para o Brasil e vendo Isao trabalhar em sua horta, inclusive nos finais de semana e feriados, recordo-me de outra pergunta de Brecht no poema citado no início: “A grande Roma está cheia de arcos do triunfo; quem os erigiu?”.


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30 ENTREVISTA MARTHA PANNUNZIO

AS MUITAS

MULHERES EM

MARTHA Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

M

artha é uma mulher de muitas palavras. Como os que têm paixão pela palavra, pela vida, pelas raízes, pela cidade, pelos amigos e pela família, sua fala faz imaginar. Ela mesma escolheu nos receber para esta entrevista na Biblioteca Municipal de Uberlândia, onde diz se sentir em casa e costuma fazer o compartilhamento de suas obras, sobretudo, com as crianças. Foi ali, em meio às estantes de livros, que ela abriu as portas de sua memória para falar um pouco da mulher cidadã, apaixonada pela cidade e pela família, a escritora, que desafiou limites tradicionais de sua geração, a contadora de histórias preocupada com o futuro das crianças, a militante política, vereadora por dois mandatos, a esposa e a mãe. Martha Pannunzio é motivo de orgulho para Uberlândia. Lendo suas palavras, dá para saber porque.


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Você é escritora reconhecida em nível nacional. Poderia ir para fora e investir em sua carreira. Por que permanecer em Uberlândia? Sou absolutamente apaixonada por Uberlândia. Minha vida adulta foi toda consagrada à cidade. Fico magoada quando alguém deprecia a cidade. Aqui, a energia e o empreendedorismo são evidentes. É uma cidade condenada ao sucesso. Tem também orgulho de ser mineira? Sinto grande frustração por não termos ainda o Estado do Triângulo. Estamos, já há bastante tempo, prontos para a independência. Tenho orgulho de dizer que sou triangulina. Como foi sua infância? Venho de uma família grande e amorosa. Muitas tias, muitos primos, onde se cozinhou muito, se costurou e se bordou muito, com muitas contações de histórias, muitos desafios, muitas mães-de-leite, madrinhas de fogueiras e benzedeiras. Uma família rural. Aprendemos a respeitar e a cultivar a terra, a reconhecer a importância deste “apoio de quintal” e assimilar a cultura popular. Havia também a crítica permanente, que nos ajudava a crescer. E junto dela, uma docilidade que nos preparou para uma vida muito boa. Foi dela que retirou a inspiração para a literatura? Sua preocupação com as questões políticas no Brasil? Meu pai, Afrânio Francisco de

Martha, durante a infância, com seus irmãos Mário Augusto, Afrânio e José Olympio Abaixo: Martha, aos 8 anos, vestida para o Carnaval


“ Sou absolutamente apaixonada por Uberlândia, uma cidade com energia e empreendedorismo evidentes”

Azevedo, era comunista. E espírita também. Teve sucesso na vida financeira, mas sempre com muita generosidade. Desde criança, ali pelos 6 anos, eu também já me declarava comunista. Não fiz primeira comunhão e não casei no religioso. Sou a única mulher entre quatro irmãos. Todos me vigiavam, mas meu pai ressaltava que ali não existia nenhuma princesa.

Acima: No baile de debutantes Abaixo: No casamento com José Gilberto Pannunzio

E como foi a jovem Martha? Era namoradeira? Gostaria de ter sido. E poderia. As meninas de 15 anos, geralmente, são bonitinhas. E eu também era bonitinha. Mas não. Meus irmãos eram vigilantes. E, naquele tempo, era desse jeito mesmo. E sua mãe, como era ela? Minha mãe, Joaninha de Freitas, era geógrafa e cartógrafa. Tímida, nunca foi de grandes aparições. Tenho lembranças maravilhosas dela. Na sala de TV, tínhamos dois mapas: o mapa do Brasil e o Mapa Mundi. Minha mãe, quando ia nos contar histórias recorria aos mapas e fazia preâmbulos para que pudéssemos localizar melhor a história e alimentar a imaginação. Ela criava cenários para isso. Já meu pai contava histórias de assombrações. Nessa época, você se imaginava como mãe? Quando tinha 6 anos, sofri um acidente terrível, que me deixou desacordada por dois meses. O médico aconselhou

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a meus pais que me orientassem para outros caminhos na vida, pois dificilmente eu poderia ser mãe. Enganou-se. Tive cinco filhos. Mas, por causa disso, minha educação acabou sendo muito voltada para as artes. E a formação escolar? Como se deu a escolha pela literatura? Na minha família, a opção da maioria era pela Medicina. Cheguei a cogitar isso também. Mas, fui cursar Letras em São Paulo. O internato era na rua Maria Antônia, grudado na USP, que eu passei a frequentar todas as noites. Ou seja, era quase como uma faculdade dupla. E com o fim do curso, como foi seu retorno ? Formei em Letras e retornei à cidade, para ser professora de Língua Portuguesa. Já voltei casada. Conheci meu marido, José Gilberto Pannunzio, em São Paulo. Casei-me no 4º ano da faculdade. E o casamento? Maravilhoso. Tive um marido que me construiu. A menina oprimida, vigiada, mudou muito. Foi trabalhar fora. Fez especialização. Foi vereadora em dois mandatos. Quando fui vereadora, ele me incentivava e me protegia quando havia alguns “excessos” na Câmara. Como foi a vereadora Martha Pannunzio? No começo, não pude fazer


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muito. Imperava uma cultura machista. Éramos poucas: eu, Nilza Alves, Olguinha e Normy Barbosa. Nilza era a mais combatente. Eu estava vindo da sala de aula para a Câmara. Foram anos de muito aprendizado. Por outro lado, foi ruim descobrir que pessoas que eu admirava, na verdade, trabalhavam para si. Foi quando vi de perto o corporativismo do ambiente político legislativo. Como você se situava nos partidos políticos? No primeiro mandato, entrei pelo MDB, naquele momento, um partido que surgia como oposição à Arena, que dava sustentação ao regime militar. No segundo mandato, estava com o PDT, o partido do Brizola. No período, partidos da esquerda ainda estavam na ilegalidade. Esta experiência foi posterior àquelas vividas na juventude. Como era a vida política na juventude? Nós vivemos os horrores da ditadura. Vários integrantes da família sofreram muito. Tivemos perseguições, prisões, bibliotecas queimadas em praça pública. Mas, nem por isso, nenhum de nós abriu mão de seus pontos de vista. E o encerramento desta carreira política? Na terceira disputa, tive pouquíssimos votos e não me reelegi. Fiquei arrasada, pois eu estava “no ponto” para um novo mandato. Fiquei muito frustrada com a votação irrisória. Quase concomitantemente, em

Acima: com o marido e os filhos: ao lado de Fábio e Adriana e, no alto, Eduardo, Lavínia e Pedro Paulo

Ao lado: tomando posse na ALTM, Academia de Letras do Triângulo Mineiro


35 “ A gente tem que aproveitar a vida de maneira feliz e prática”

1991, dois acontecimentos mudaram os rumos da minha vida. Recebi o comunicado que eu deveria me aposentar do cargo de professora. E o meu marido faleceu. Foi quando decidi voltar para o campo. Ginásio: foto da formatura no ensino fundamental

Vereadora: 2º mandato, no PDT, com Brizola Abaixo: com a cunhada Eliane Guimarães

Como é a vida no campo? Muito trabalho. O solo do cerrado requer mais atenção e cuidados. A terra tem que ser corrigida, tem que haver rotação de lavouras. Mas, a terra não cansa. Ela tem que trabalhar. Fico maravilhada com a evolução tecnológica. Mas, não é fácil. Fico nos bastidores, na parte burocrática. O trabalho duro é do meu filho Eduardo. Mas, acho que sou valente. Na fazenda, já temos 22 boletins de ocorrência por assaltos. Em um deles, chegando lá, me deparei com nove ladrões, dando uma “limpa” na casa. Fui feita refém e, como não podia fazer nada, fiquei de prosa com os ladrões. Os ladrões são pessoas como nós, comuns. Mas são bandidos, roubaram mesmo assim. Você tem dois filhos que seguiram seus passos: Fábio Pannunzio, jornalista, e Lavínia Pannunzio, atriz. Sim. E ambos têm este talento desde a infância. O Fábio sempre redigiu com muita facilidade, era curioso e muito perguntador. A Lavínia é atriz desde criança. Aqui em Uberlândia, quando adolescente,

ela tinha o grupo Palcos e Quintais. Os quintais eram os lá de casa. Hoje, os dois estão aí, reconhecidos, com vários prêmios. Os outros também estão bem realizados, mas em carreiras de menos visibilidade. Adriana é economista, Pedro Paulo é advogado e Eduardo é geógrafo, mas atua como fazendeiro. Eu o ajudo. Você relatou seu envolvimento político e com a arte e a educação. Como você vê o Brasil hoje? Aos 80 anos sinto, frustração por perceber para onde o mundo caminhou, mas não sou defensora deste engodo de que o mundo seria melhor se todos fossem comunistas. É lamentável este sinistro em que está o Brasil em todas as áreas. Já passamos por tantas coisas. A comoção de lutos nacionais, como o de Getúlio Vargas, o horror das perseguições políticas em vários outros momentos, a falta da liberdade de expressão em alguns períodos. Um país com tanta coisa para dar certo e é uma lástima que não esteja dando certo. Os valores estão desmoronados. Sinto-me na pré-história da humanidade. Assusta a velocidade do tempo? A vida não passa depressa. Ela passa minuto a minuto. A gente tem que aproveitá-la de maneira feliz e prática. Nada tira o prazer de fazer um docinho no tacho de cobre. Isto alimenta a vida!


36 Recortes...

Comissão permanente de defesa dos interesses de Uberlândia, na qual estão, dentre outros, Abel Santos, Herculano Naves, Jerônimo José Alves, Dr. Manuel Thomaz, Antonio Hubaide, Moacir Lopes de Carvalho, Alair Martins, George Tormim, Aldorando Dias de Souza e Amir Cherulli LÍDERES DE ONTEM E SEMPRE O salão Dr. Armante Carneiro era o local de reuniões do antigo prédio da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária em Uberlândia, na avenida João Pinheiro, onde hoje está erguido o edifício que tem seu nome. Além das reuniões da diretoria, era palco também de encontros das lideranças na discussão de assuntos relevantes para o desenvolvimento da Uberlândia, que ainda não tinha despertado para o seu grandioso futuro. O CAÇADOR DE ONÇAS Manoel Pereira dos Santos foi dono da Fazenda do Salto aqui no município de Uberlândia e uma de suas especialidades era caçar onça. Isso lá pela década de 1920, quando os criadores sofriam prejuízos pelo ataque constante de animais selvagens. Uma tarde foi chamado por um vizinho para matar uma onça que estava atacando seus bezerros. Ele tocou a buzina reunindo sua matilha de cães fila. Montou no cavalo, seguindo ras-

tros que indicavam a entrada do bicho no capão. Viu que ela estava acuada pelos cães. Como era noite, não podia atirar. Fez uma fogueira e esperou clarear. Quando amanheceu lá estava ela, bem visível, rosnando, num galho de árvore. Com a sua conhecida e respeitada pontaria mirou e acertou um tiro bem na testa. Ela caiu sobre os filas que, furiosos por vigiá-la toda a noite, a arrastaram até a sede da fazenda. Depois, como Manoel fazia com outras caças, a onça teve a cabeça cortada e, depois de seca, virava peça de decoração na sala. A aventura de passar a noite de tocaia virou até moda de viola. Manoel foi o mais famoso caçador de onças da nossa região. Faleceu em 23 de agosto de 1927. [Extraído do livro “São Pedro de Uberabinha – suas sesmarias, suas primeiras famílias e suas primeiras fazendas”, que Gentil Alves Rezende publicou em 1974.]

CINEMA DE RUA Em 2015 foi demolido o prédio do último cinema de rua de Uberlândia, o cine It que viveu tempos de glórias quando foi inaugurado em 1963.

Apesar de sua capacidade para 335 lugares, que na época era um pequeno número tinha todo um charme pelas suas cadeiras vermelhas muito confortáveis e uma tela bem grande. Outra de suas características que também não era comum quando foi inaugurado era o seu pequeno hall de entrada. Desde 1997 havia deixado de ser utilizado como cinema e seu final foi melancólico pois nos últimos 15 anos de existência foi destinado à exibição de filmes pornográficos.


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Flávio Arciole: “Nonada”, retorno à obra de Guimarães Rosa em peça de teatro com Ivens Tilman

TEATRO & MÚSICA

Generosidade no papel de protagonista Ator, diretor, cenógrafo, figurinista, cantor e também carnavalesco, Flávio Arciole celebra 50 anos de carreira Por CARLOS GUIMARÃES COELHO

F

lávio Arciole é um grande patrimônio cultural da cidade. Está em cena há 50 anos. É ator, diretor, cantor lírico, cenógrafo, figurinista e carnavalesco de mão cheia, detentor de dezenas de títulos de campeão nos desfiles de escolas de samba na cidade, 12 obtidos,

consecutivamente, nos últimos anos. Em 1968, Arciole se inscreveu no curso de Interpretação do Sesc de Uberlândia. Sua aptidão para a cena era notória e tinha também o dom de cantar. Logo passou de aluno para integrante da companhia de teatro da instituição. Como ator e cantor, participou

da montagem de “Reconstrução”, uma colagem de textos políticos e música. Com o Sesc integrou também o elenco de Cadeira de Balanço, baseada na obra de Carlos Drummond de Andrade. Desde o final da década de 1960, Arciole não parou de atuar, nem de cantar. Quando integrava o Grupo Sesc de Teatro, ele já estudava no Conservatório, onde também havia uma companhia teatral, o grupo Cinteartes. Ele lembra que, no Conservatório, havia todo mês um “happening” teatral do qual começou a fazer parte. No Cinteartes, Arciole participou de dois momentos importantes do teatro em Uberlândia: “Flicts, Era Uma Vez uma Cor”, de Maria Clara Machado e “A Casa de Bernarda Alba”, de Frederico Garcia Lorca. Em seguida, integrou o elenco de “A Viagem de Um Barquinho”, no processo de apropriação e reconfiguração do Teatro Rondon Pacheco, que até então, era apenas auditório de uma escola pública estadual. Na década de 1970, Arciole dirigiu, no Grupo Teatral do Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina, a peça “Ponto de Partida”, de Gianfrancesco Guarnieri. Os primeiros passos na carreira de


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Arciole em “Apareceu a Margarida”, de Roberto Athayde. Como cantor, em show com Cida Moreira Arciole como ator e diretor aconteceram durante os chamados anos de chumbo da ditadura militar. A liberdade de expressão era limitada e tudo tinha que ser submetido à censura. Quando montou “Os Fuzis da Senhora Carrar”, de Bertold Brecht, o Exército emprestou fuzis da década de 1950 para serem usados em cena. A temporada foi curta, apenas três dias, como era comum na época. No terceiro dia, ao fim do espetáculo, a PM estava do lado de fora do teatro para confirmar que a temporada seria realmente encerrada. Nos anos 1980, sob a direção de Abílio Tavares, Arciole, encenou “Apareceu a Margarida”, de Roberto Athayde, espetáculo que ficou vários anos em cartaz e foi apresentado em lugares diferentes da cidade. Novos improvisos em cada sessão e a crítica ácida do texto fez da peça um sucesso, com um público fiel que a acompanhava em teatros e em eventos sociais e culturais. Em 1983, Arciole encenou “Sarapalha e Outras Histórias” no festival de Arte e Cultura da UFU, ao lado do músico Renato Mismeti. Baseada na obra de Guimarães Rosa, a montagem viajou pelo país e foi indicada a

“Muitas vezes, a gente doa nosso trabalho, a gente doa nossa arte para que ela não morra” vários prêmios. Há três anos, Arciole retornou a Guimarães Rosa, desta vez, ao lado do ator Ivens Tilman, na peça “Nonada”. Paralelamente à carreira teatral, Arciole se destacou como cantor operístico e participou como protagonista de praticamente todas as óperas montadas na cidade, principalmente com a regente Edmar Ferretti. Realizou recitais e cantou, frequentemente, em eventos sociais, sobretudo casamentos. “Sem falsa modéstia, há pouquíssimas famílias de bom gosto musical nessa cidade nas quais eu não tenha cantado”, diz Arciole.

Campeão do Carnaval E Arciole ainda encontra tempo para ser um carnavalesco de destaque. Iniciou, no final da década de 1970,

na Escola Garotos do Samba, com a qual ganhou cinco carnavais. Depois, transferiu-se para a Unidos do Chatão, onde conquistou outros três títulos. Depois do hiato de alguns anos, foi convidado pela Tabajaras para ser o carnavalesco oficial da escola, onde conquistou dois vice-campeonatos e 12 títulos consecutivos de campeã do Carnaval na cidade. “O Carnaval é uma grande escola. A gente aprende a driblar as dificuldades, a ser criativo, a construir um desfile com a ajuda de 10 a 20 pessoas para outras centenas desfilarem”, diz Arciole. Além de eventuais colaborações para o Congado, Arciole também realiza há 10 anos o “Auto da Paixão” na praça Tubal Vilela, em frente à Catedral Santa Teresinha. Ali acontece um teatro religioso de grande apelo popular, reunindo alguns dos melhores atores da cidade. De acordo com Arciole, “a plateia já chegou a cerca de 3 mil pessoas. Há 70 pessoas em cena. A maioria trabalhando sem cachê. Assim é o trabalho do artista. Muitas vezes, a gente doa nosso trabalho, a gente doa nossa arte para que ela não morra”.


José Espíndola: secretário de Obras de Renato de Freitas desenvolveu o plano da adutora do Sucupira

PERFIL

José Espíndola O homem que mudou o abastecimento e o tratamento da água de Uberlândia Por MARGARETH CASTRO

O

abastecimento de água sempre foi um desafio para qualquer cidade. Ainda mais para aquelas em franco desenvolvimento atraindo industrias de grande porte e uma população crescendo em escala geométrica. Esta era a situação de Uberlândia no final da década de 60. Com um outro agravante, os diminutos recursos financeiros municípais. Foi necessário bem mais do que determinação, coragem e criatividade: teve que existir muito desprendimento para superar esse desafio.

Isso só foi possível graças principalmente a duas figuras marcantes: o prefeito Renato de Freitas e o empresário José Pereira Espíndola. É este último hoje com 87 anos que relembra o trabalho realizado para a melhoria do abastecimento de água e tratamento de esgoto de Uberlândia. Como foi essa história José Pereira Espíndola havia feito cursos técnicos em hidráulica em São Paulo e também por correspondências. Isto o motivou a abrir a

empresa Hidroelétrica Fundição Pereira Espíndola Ltda. (HEFPEL), especializada em montagem e fundição de tubos hidráulicos. A dedicação ao objetivo de trabalhar pelo desenvolvimento de Uberlândia fez com que José Espíndola, que havia sido diretor da Associaçao Comercial e Industrial de Uberlândia, entrasse para a vida pública. Como secretário municipal de Obras no governo Renato de Freitas, José Espíndola fez a canalização de águas pluviais com drenagem das avenidas João Pinheiro, Cipriano Del Fávero, João Pessoa e outras. Para reduzir os custos das obras, comprou a primeira retroescavadeira e guindauto para a Prefeitura de Uberlândia e ainda montou uma fábrica de tubos de concreto no almoxarifado da Prefeitura. Em 23 de novembro de 1967, foi criado o Dmae e, a partir dessa época, Espíndola começou a fabricar as máquinas para a futura fábrica de tubos do Dmae, além de outros equipamentos. E foi,


41 a partir dessa fábrica, com a ajuda e dedicação dos funcionários da autarquia que deu-se início à construção da adutora do Sucupira. Ele conta que, em Uberlândia, havia muito racionamento de água que era captada dos córregos São Pedro, Lagoinha e Jataí. Era poluída, com muitos protozoários, especialmente amebas. Depois apresentou um plano ousado e inovador: captar á água do rio Uberabinha, mais precisamente da Cachoeira de Sucupira. O projeto começou pelo córrego Buritis e Espíndola, por meio de sua empresa, fabricou mil metros de tubos sem custos para a Prefeitura. Depois, fez um projeto de captação de água a partir da Cachoeira do Sucupira aproveitando o potencial hidráulico da queda e o volume de água do rio, acionando bombas por turbinas hidráulicas, algo inovador no Brasil e que gerava economia, permitindo uma água mais acessível já que não dependia de energia elétrica para funcionar. A empresa que havia criado, a Hefpel foi vendida anos depois para os funcionários, de forma parcelada e preço bem abaixo do mercado, na condição de fabricar as peças necessárias para a execução do projeto de captação e abastecimento de água de Uberlândia a preço de custo, gerando uma econo-

mia para o Município. José Espíndola tinha também, em sociedade com o irmão Walter Espíndola e João Alves de Souza, a empresa Lusel – Linhas e Usinas Elétricas Ltda, que foi vendida aos sócios para que pudesse se dedicar integralmente ao projeto da Prefeitura de Uberlândia e de forma gratuita. “Estava muito empolgado com o projeto e queria me dedicar totalmente a ele. Foram mais de dois anos sem salário. Meu objetivo era trabalhar para o desenvolvimento de Uberlândia e atrair mais empresas para o Distrito Industrial, cuja água captada era insuficiente”, contou Espíndola. Espíndola construiu máquinas de jateamento de areia e dispositivos para revestimento em Epoxi, sendo a primeira adutora de água da América Latina revestida com este produto. Em agosto de 1970, foi uma festa a inauguração da captação e tratamento de água do rio Uberabinha. O prefeito Renato de Freitas abriu as torneiras e jogou milhares de litros de água nos asfaltos da av. Floriano Peixoto para encanto da população. Mais tarde, a convite do prefeito Virgílio Galassi dirigiu novamente o Dmae. Além de várias soluções econômicas para sanar dívidas da autarquia, dobrou a capacidade das estações de tratamento de água,

Inauguração de outra obra marcante de Espindola: a eclusa praiana

O Dmae fabricava as peças da adutora construiu novas adutoras e subadutoras e ainda um anel hidráulico, aumentando em pelo menos dez vezes a capacidade de reserva de água. Também foi responsável pelo projeto e construção da Eclusa no Praia Clube. Foi graças ao trabalho e dedicação de José Espíndola que Uberlândia se orgulha de ter hoje 100% de água tratada e 99% de redes de esgoto. “A disposição dos funcionários do Dmae em fazer algo por Uberlândia foi fundamental para conseguirmos fazer tudo e eu agradeço a todos”, disse Espíndola. Devido a todos os resultados obtidos em Uberlândia por meio de seus projetos, José Espíndola ganhou fama e acabou realizando projetos para várias prefeituras e cidades da região e do país e até para a Costa Rica. Aposentou-se em 1996 e abriu a Espíndola Consultoria Ltda, em que trabalhou até a pouco tempo. Em novembro de 2017 foi homenageado durante a inauguração da nova sede do Dmae com uma placa de agradecimento aos serviços prestados. Hoje José Espíndola cuida de sua fazenda e se dedica à esposa, aos seis filhos e aos oito netos. Um guerreiro, quase anônimo que ajudou Uberlândia a vencer essa batalha gigantesca do abastecimento de água e do tratamento de esgoto do município.


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Peça de teatro protagonizada por alunos do Colégio Brasil Central

EDUCAÇÃO

Nos tempos do Brasil Central Fundada na primeira metade do século passado, escola funcionou por mais de seis décadas A Associação Brasil Central de Educação e Cultura (Abracec), conhecida, como Instituto Brasil Central, foi criada em 1924 e funcionou por 65 anos. O jornalista Ademir Reis morava em frente ao estabelecimento. Ainda menino, gostava de ver o movimento da escola. Ele conta que boa parte dos alunos era de outras cidades da região e de outros Estados como Tupaciguara, Juiz de Fora, Petrolina, Mariana, Muzambinho, Aragarças, Cassú etc. Mas, são poucas as fontes que trazem alguma luz à história do Colégio Brasil Central. Os relatos da história da educação na cidade falam muito sobre o Liceu, o Museu,

o Colégio Nossa Senhora, o Tereza Valsée, entre outros tradicionais estabelecimentos de ensino, mas quase nada sobre o Brasil Central, que era um dos bons colégios da cidade, sobretudo nos anos de 1950 e 1960. Alguns afirmam que isto se deve ao fato de que o colégio era formado por pessoas consideradas “de esquerda”, como Arnaldo Godoy, Tia Lia, Manoel Thomaz e outras.

Origens Nas origens da escola, está o professor José Ignácio de Souza, um baluarte da educação da velha cidade. Segundo Antônio Pereira,

José Ignácio não era oficialmente um professor, era farmacêutico. E não era de Uberabinha. Nasceu em Coqueiral, no sudoeste mineiro e estudou Farmácia em Ouro Preto. Formado, montou sua botica em Mariana. Por essa época, o governo de Minas Gerais resolveu construir grupos escolares. Até então, o curso primário, constituído por quatro séries fundamentais, funcionava em qualquer lugar e lecionava quem pudesse. Havia classes femininas e masculinas. Nada de mistura de gêneros. As quatro séries funcionavam numa sala com um professor só, nem sempre formado. O grupo escolar, como o nome indica, acabou com essas salinhas milagrosas e reuniu a criançada em prédios bonitos, funcionais, uma sala para cada série, que podia ser mista. Professor formado nem sempre havia. O professor José Ignácio, desde seu tempo de farmacêutico, já gostava de educar. Preparava alunos para a admissão aos ginásios, uma espécie de “vestibular” da época que as crianças deveriam fazer para entrar no ensino fundamental, o “exame de admissão”. Quem terminava o curso primário, se quisesse entrar para o ginásio, tinha de fazer os exames.


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Construído um Grupo Escolar em Mariana, José Ignácio foi convidado para dirigí-lo. Daí, foi transferido para Campo Belo, depois para Ituiutaba, onde criou o Instituto Propedêutico Ituiutabano. Em 1927, veio para Uberabinha dirigir o Grupo Escolar Bueno Brandão. Desde 1921, estava construído e funcionando como escola particular o futuro Colégio Estadual, o “Museu”, à época chamado Ginásio de Uberabinha, do prof. Antônio Luiz da Silveira. Silveira não deu conta das despesas e vendeu o ginásio para o professor José Avelino, que resolveu ir para Araguari e passou o estabelecimento para José Ignácio, que passou a enfrentar duas direções: a do grupo e a do ginásio. José Ignácio criou, no prédio do Museu, a primeira Escola Normal de Uberabinha. Em 1929, a Sociedade dona do prédio propôs ao governo do Estado trocar o imóvel por um ginásio. O Estado aceitou e deu um ginásio estadual à cidade. José Ignácio teve que sair e transferiu sua escola para a esquina da rua Marechal Deodoro com Vigário Dantas. Eliminou o ginásio. Esta escola era o Instituto Brasil Central. Algum tempo depois, mudou-se para a praça Dr. Duarte, na esquina das ruas Barão de Camargos e General Osório. Ali criou o Colégio Brasil Central, que voltou a ter primário, ginásio e normal. Posteriormente, outros cursos foram acrescentados, como uma Escola Técnica de Comércio. José Ignácio faleceu em 1953. Antes disso, ele próprio passou aos filhos e à esposa a direção do Colégio Brasil Central.

O Brasil Central ficava na rua Barão de Camargos entre General Osório e Augusto Cezar

A professora Normy Firmino participou intensamente da vida do Brasil Central


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Antonieta Vilela (início de 1920)

HISTÓRIA

Sinais de rebeldia O feminismo de Antonieta Villela em Uberabinha Por JANE DE FÁTIMA

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o número anterior do Almanaque, tivemos a oportunidade de escrever sobre o femininismo das primeiras décadas do século XX quando Uberlândia ainda era a pequena e bucólica Uberabinha. Apresentamos a participação da mulher nos mais diversos momentos da sociedade uberabinhense destacando fatos importantes da

evolução do município, culminando com a Revolução de 1930 e a criação do Batalhão Feminino João Pessoa. Mesmo constituindo-se, no âmbito nacional, um assunto ainda incipiente para o início do século XX, a questão feminista já era destaque na imprensa da pequena Uberabinha, ao ser divulgada a primeira notícia sobre o assunto. A reportagem dizia respeito ao movimen-

to sufragista de Londres em 1909. Para o autor do artigo (que não o assina), as mulheres andavam com aspirações viris, mas a brasileira estava com contente com a sua sorte, pois “nós não tivemos ainda a agitação por causa dos chamados direitos das mulheres... os 44 cogitam fazer barulho” (O Progresso, 17/09/1909). O autor apontava as feministas brasileiras, Emília Bandeira e Carmem Dolores, que, apesar de seus talentos, nada conseguiram e pressagiavam o uso da bala. Ao longo das décadas de 1910 e 1920, as matérias veiculadas na imprensa de Uberabinha eram hostis às reivindicações feministas, posicionando-se de forma agressiva contra as liberdades e direitos pleiteados numa atitude cristalizada na idealização da imagem da mulher “esposa-mãe”. “Não somos fervorosos partidários daquella escola que pretende emancipar a mulher por forma que ella possa competir com o homem não só em vestir calças, mas em todas as faculdades sociaes, em muitas das quaes ella correria graves perigos, quer no tocante a sua actual posição de escola, quer no tocante à conservação da família” (O Progresso, 14/02/1914). Os artigos invocavam a natureza biológica da mulher e sua fragilidade, afirmando que sua maior qualidade era cuidar das tarefas do lar e da criação da prole. No entanto, os periódicos locais não podiam ignorar as primeiras vitórias do movimento feminista nacional e internacional. Com o título “O Feminismo”, o jornal A Notícia de 25/07/1919, publicou: “A Câmara francesa aprovou por 344 votos contra 97, o projeto que dá direito de voto às mulheres. Na Inglaterra, passou em segunda leitura, na Câmara, uma proposta ao sexo fraco exercer as funções de Juiz de Paz sem remuneração. No Rio de Janeiro, a senhorita Berenice Borges


“ É no contexto local, hostil às conquistas femininas, que Antonieta Villela Marquez passou a conclamar suas companheiras para a luta pela igualdade de direitos”

Fialho, de 19 annos, se inscreveu para o concurso de escripta da Estrada de Ferro Central. E assim aos poucos, a mulher vae alargando o seu campo de acção conquistando as directrizes que, segundo dizem as intransigentes sufragistas, os homens usurparam”. É, nesse contexto local, hostil às conquistas femininas, que Antonieta Villela Marquez passou a endossar e a conclamar suas companheiras para a luta pela igualdade de direitos civis e sociais. Os primeiros escritos nos quais propõe o sufrágio feminino e a educação para a mulher datam de 1920. No artigo O Século das Mulheres (A Tribuna, 30/05/1920, nº 38), ela inicia uma discussão sobre a liberdade feminina em todos os níveis. Destacava a condição da mulher, escrava do homem, vivendo unicamente para o lar e, por séculos, alheia ao mundo exterior, no esquecimento. Chamava a atenção para a presença das mulheres nos campos de batalha e no mundo do trabalho. Acreditava que, pela cultura moral e intelectual, a mulher iria superar o homem e vaticinava: “Estudemos e trabalhemos e vejamos se em nosso século o homem não inclinará a fronte deante de nosso poder”. Assim como várias outras feministas que postulavam a vitória da mulher pela educação e pelo trabalho, para Antonieta Villela estes seriam os caminhos para a superação do estado de subserviência e comodismo em que se encontravam milhões de mulheres em todo o mundo. Conclamou: “Ó brasileiras, imitemos as audaciosas sufragistas – verdadeiras fadas do progresso. Levantemos também o nosso vôo, coroando os nosso ideaes de bom êxito, vivamos, sim e trabalhemos para a completa emancipação da mulher brasileira, porque ella não vive, vegeta” A educação é uma questão recorrente no artigo “O Papel da Mulher” (A

Tribuna, 20/06/1920), uma vez que a concebia como papel de progresso e aprimoramento da mulher, quer seja no lar, quer em outras atividades. Esse era o discurso comum às feministas brasileiras naquele momento. Antonieta acreditava que “a mulher brasileira representará algum dia o seu papel mais brilhantemente, quando a sua educação evoluir, quer no lar ou fora dele, sobresahir-se-á muito mais tanto quanto mais aprimorada fôr a sua educação”. Além das questões educacionais, Antonieta Villela tinha uma visão bastante firme e crítica sobre as relações de gênero. Para ela, só a igualdade de direitos e deveres possibilitaria a harmonia entre homens e mulheres. Questionava, no artigo “Os Direitos da Mulher” (A Tribuna, 06/06/1920), as bases da superioridade masculina e da submissão feminina, principalmente a da mulher brasileira, que reconhecia ser “ella tão infeliz que as vezes pelo grande affecto e veneração que tem por seu companheiro se submete aos seus caprichos e se curva para sempre, em vez de chamá-lo fraternalmente à ordem, esclarecendo-lhe o caminha do direito”. Para Antonieta, a luta pela emancipação de mulher deveria contar com a participação masculina: “O homem polido e de bom senso já trabalha, já coopera para a emancipação da mulher”. Sua análise sobre as relações entre os sexos passava por um entendimento de que as conquistas femininas deveriam ser compartilhadas pelo sexo masculino. Neste sentido, ela ganhava um aliado, o jornalista local Lycidio Paes, que se opunha àqueles que escreviam contra os avanços do movimento feminista. Em seu primeiro artigo sobre o tema, o jornalista combateu os que negavam a igualdade de direitos para as mulheres. Lembrou que a 1ª Guerra

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Mundial contara com a participação feminina em todos os setores, mas a sociedade conservadora negava-lhe o direito ao voto. Para ele “só o egoísmo tigrino do homem consegue ver o desastre social de serem reconhecidos os direitos políticos da mulher” (O Feminismo, A Tribuna, 29/05/1921). A defesa pelo sufrágio feminino foi feita de maneira elegante e didática por Antonieta Villela, em dois momentos. No primeiro através de uma peça teatral “O Mundo Feminino” (A Tribuna, 02/01/1921), envolvendo oito personagens, quatro masculinos e quatro femininos. As cenas se desenrolam na casa do sr. Marcondes e Dª Clara que recebem amigos e a discussão gira em torno do voto feminino. O segundo momento no artigo “Dialogando” (A Reacção, 17/04/1924), no qual estabelece-se um diálogo entre ela e sua amiga Rosa, com ênfase na participação da mulher na vida política do país. Analisou com propriedade a situação política, econômica e social do Brasil no decurso dos trinta anos de regime republicano, que considerava uma forma de governo imperfeita e sobre a qual endereçava duras críticas: “a tal política brasileira só concorre para a completa derrota da pátria. Promette muito e nada cumpre. Conveniências succedem-se a conveniências, absurdos succedem-se a absurdos” (A Situação Crítica do Brazil, A Tribuna, 07/11/1920). Em seus artigos de teor político, Antonieta prenunciava um verdadeiro descalabro social, caso os governantes continuassem usando a política em benefício próprio. Indicava a morosidade, a inércia, os interesses de grupos e a falta de empenho como procedimentos que levariam à decadência da nação. As promessas de palanque e o seu posterior esquecimento foram duramente criticadas por ela, bem como as gestões


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dos presidentes Rodrigues Alves e do Marechal Hermes da Fonseca. “A política conscienciosa que não ousa transgredir as leis do governo, esbanjando o tesouro do paiz, essa é a política louvável, a política por excellência”, escrevia ela no artigo 15 De Novembro – Phases da República (A Tribuna, 15/11/1920). Se de um lado Antonieta mostrava um certo pessimismo em relação aos políticos brasileiros, de outro ressaltava a memória daqueles que foram injustiçados. Chamando-os de heróis nacionais que morreram lutando pelos ideais democráticos, reverenciou a memória de Frei do Amor Divino Caneca, Tristão de Araripe, Padre Albuquerque Mororó, entre outros. Nutria profunda admiração por Rui Barbosa, a quem homenageou com uma pequena biografia, por ocasião de sua morte. Conhecedora dos problemas que afligiam o Brasil, através da imprensa, denunciou a falta de saneamento no país, o pequeno investimento em saúde e educação, buscando exemplos nos países estrangeiros, notadamente nos Estados Unidos, como prova de preocupação com o bem estar social através dos governos de Lincoln, Washington e do presidente Wilson. Seus veementes protestos contra a política nacional levaram o Sr. Alceu de Souza Novaes a tecer elogios à sua pessoa em artigo publicado no jornal Cidade do Prata e reproduzido no jornal local: “a distincta jornalista apresenta uma victória do feminismo sobre o meio asphyxiante dos preconceitos que anulam a acção das mulheres no Brazil” (A Tribuna, 21/11/1920). Sem esgotar as reflexões realizadas por Antonieta Villela por meio de seus artigos e crônicas, fizemos um levantamento de sua vida pessoal e profissional através de depoimentos

Antonieta e a amiga Rosa (início de 1920) de sua irmã mais nova, Alice Villela Mendes, aos 81 anos, durante o segundo semestre de 1991. Tomávamos chás aos domingos à tarde em sua residência, durante dez anos, até seu falecimento em maio de 2002. Nascida aos 29 de junho de 1891, em uma fazenda no município de Canápolis, Antonieta Villela Marquez viveu a infância ao lado de numerosa família de irmãos (ãs), primos (as) e tios (as). Fez seus primeiros estudos na própria fazenda com professores vindos de Juiz de Fora e Belo Horizonte, contratados por seu pai, José Villela Marquez e sua mãe Eliza Marquez. Nos primeiros anos da década de 1910, os Villela Marquez se transferiram para Uberabinha. A chegada da adolescência de Antonieta foi marcada pela separação da família ao ser enviada para um internato em Piracicaba-SP, onde completaria o curso ginasial. Leitora assídua de romancistas nacionais e estrangeiros tinha a Filosofia como sua disciplina dileta. Ao tomar conhecimento da situação aviltante da mulher em vários países do mundo, através de jornais que o pai assinava e por assíduas viagens a

São Paulo e Rio de Janeiro, entregou-se à causa feminista, escrevendo no jornal A Tribuna, fundado em 1919 e no jornal A Reacção, criado em 1924. Por volta de 1922, aprendera a dirigir o automóvel da família, atitude que escandalizou a sociedade uberabinhense ao vê-la passar pelas principais ruas da pequena cidade, ora empoeiradas, ora lamacentas. O pai ensinara-lhe o manejo do revólver que, como a dança, aprendera com desenvoltura. A música, principalmente a valsa, e o cinema constituíram-se em fontes inesgotáveis de prazer, ao lado da leitura. Sua atriz preferida era Margareth Clark, a grande estrela do cinema norte-americano dos anos 1920 e heroína do seriado “A Cabana do Pai Tomaz”, a que assistira no Cine Theatro São Pedro de Uberabinha. As mãos, que escreveram artigos tão combativos, eram também habilidosas para a costura e o bordado. Sempre elegante, confeccionava e bordava os próprios vestidos, manifestando visível predileção pelo azul e o branco que combinavam com os sapatos de salto alto e bolsas da mesma cor que comprava em suas viagens


“Era uma pessoa que lutava para vencer naquela época que a mulher era só do lar... Queria evoluir, porque lia muito. Sabia que, na Europa, a mulher tinha liberdade e aqui não...”

frequentes. Dedilhou as cordas do violino, mas percebeu que suas mãos davam preferência para a escrita. Adorava valsas e, ao som do gramofone de sua casa, rodopiava pelo imenso salão, dançando com os membros de sua família. Quarta filha de prole numerosa, contribuía com a educação dos irmãos e irmãs mais jovens. Era severa, mas sempre meiga e carinhosa com eles (as). Passava horas a fio preparando suas aulas de Francês, no quarto reservado só para ela. Em suas viagens ao Rio de Janeiro e São Paulo, frequentava cinemas e teatros. Nas férias com a família desfrutava das águas medicinais do Grande Hotel de Araxá. Viu casarem-se várias irmãs. Embora tenha tido breve romance com um médico em Uberabinha, permaneceu solteira. Sempre alegre e bem, humorada cativou uma plêiade de amigos e amigas, tanto localmente quanto nas cidades para onde viajava. Apoiada no exemplo do pai, que falava inglês, francês e latim, deu vazão a seus estudos participando ativamente dos comícios da Aliança Liberal, que em fins de 1929, eram realizados na Praça Clarimundo Carneiro. Nem mesmo as crises de asma que a deixavam sem fôlego e abatida e, com as quais convivera durante anos, a impediam de participar dos apaixonados debates políticos que prenunciavam a Revolução de 1930. Defensora de um sistema educacional que atingisse todas as classes sociais, conhecedora das mazelas políticas do país, embevecida por um mundo novo que se revelava pelas incursões literárias, com um espírito irrequieto e indagador, Antonieta recebeu de sua irmã Alice a seguinte descrição: “era uma pessoa que lutava para vencer naquela época

que a mulher era só do lar... queria evoluir, porque lia muito. Sabia que na Europa a mulher tinha liberdade e aqui não ... Ela tinha essa ânsia de saber, queria sempre aprender mais” (Entrevista com Alice Villela Mendes, 03/08/1991). A partir de 1924 não encontramos nenhuma publicação de Antonieta Villela nos jornais locais. Esforços foram feitos para localizar vestígios que pudessem justificar tal fato, já que nossa depoente, Alice Villela, também não conseguia lembrar o que havia ocorrido para que Antonieta deixasse de escrever. Entretanto, com a doação do acervo do jornalista Lycidio Paes à Universidade Federal de Uberlândia e sua organização pelo Centro de Documentação e Pesquisa em História (CDHIS), encontramos uma carta de Antonieta, datada de 12/01/1924 que explica em parte seu silêncio. Nesta carta, ela contava ao jornalista Lycidio Paes seu desapontamento e tristeza, por saber que fora duramente criticada por suas posições na Confeitaria Central em conversa com alguns rapazes, dentre eles, um de seus irmãos. A crítica partiu de um advogado e juiz do município, chamando-a de “pedante e metida à literata” e que “perguntou a um rapaz se teria coragem de casar-se comigo e ainda disse: Deus me livre”. Na carta Antonieta pede ao jornalista que conversasse com o advogado e juiz sobre o assunto. Vejamos alguns trechos: “Eu acho não merecer essas cousas, ser tão deprimida assim perante moços e numa confeitaria!... Não vou desmascarar o Dr..... por conveniências familiares... Não saio de casa e respeito a vida de meus semelhantes”. Encontramos outra carta de Antonieta também dirigida à Lycidio Paes em 14 de junho de 1928 pedindo-lhe que intercedesse junto ao deputado

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federal Leopoldino de Oliveira para que lhe indicasse para um emprego no Rio de Janeiro, como “tachygrapha e dactylographa”. Termina a carta dizendo: “Eu, além de aspirar um meio melhor onde eu possa progredir um pouquinho, quero a minha independência financeira. Aqui em Uberabinha não consigo o que desejo. Lucta-se muito e não se consegue nada”. Na manhã de 8/2/1930 a sociedade uberlandense acordou enlutada. Morria Antonieta Villela Marquez aos 39 anos. Ceifadas sua pena e sua voz, fez certamente avançar, com arrojo avançado para seu tempo, as ideias sobre os direitos das mulheres na sociedade uberlandense. A Tribuna, de 09/02/1930, trouxe uma nota da qual reproduzimos alguns trechos: “ella (Antonieta Villela) sempre viveu intelectualmente de alma agitada... era um espírito emancipado... dirigia-se e pensava por si mesma. A menos de 10 dias de seu falecimento aqui, no lar de seus progenitores, falava ella violentamente em favor da Aliança Liberal... Cortêz, delicada para com todos, dominava ella o seu temperamento explosivo e vibrátil devido a problemas que preocupava o seu espírito de moça estudiosa... abre-se uma lacuna dificilmente prehenchível, não só pelo seu talento como pela distincção com que se havia”.

*Agradeço sobremaneira à Dª Alice Villela Mendes por ter me concedido longas horas de entrevistas, pois só assim pude recompor os dados biográficos de Antonieta Villela. jane de fátima silva rodrigues

é Doutora em História pela Universidade de São Paulo e bacharel em Direito. Algumas transcrições estão no português da época e por isso foram preservadas.


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Quem construiu nosso passado, sustenta nosso presente e inspira nosso futuro merece nosso reconhecimento. ANĂšNCIO 11

Dr. Castinaldo Brasil Santos, fundador do Hospital Santa Genoveva e um dos pioneiros da cardiologia em Uberlândia.


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PIONEIRO

Médico do coração Pioneiro na cardiologia em nossa cidade, fundador do Hospital Santa Genoveva, da Unimed Uberlândia e primeiro professor da especialidade na Faculdade de Medicina, ele é, em todos os sentidos da palavra, um médico do coração. E que abriu seu coração neste depoimento.

Dr. Castinaldo Brasil Santos

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asci em Abadia dos Dourados. Cedo saí para estudar Tinha 11 anos, quando saí de casa, lembro que ainda usava calça curta, e fui para o Internato em Lavras onde fiz o ginasial. Era regime interno num colégio que, diga-se de passagem, era um ótimo: o Instituto Gammon. Vários ex-alunos, do Gammon, foram muito importantes.l. Quase fui contemporâneo de Alysson Paulinelli, que se formou em Agricultura . Sempre tive esse desejo de fazer Medicina. Acho que eu tinha certa vocação, certa tendência e meus pais me apoiaram. Entrei na UFMG em Belo Horizonte no ano de 1960. Dois médicos daqui foram meus colegas, o Gladstone Rodrigues da Cunha e o Dorinato Jorge. Quando formei me transferi para Uberlândia.

Cheguei aqui e não conhecia, praticamente, ninguém, em 1966. Tinha um primo distante, o Dr. Ribeiro. E foi ele quem me apresentou. Montei um consultório na casa do Dr. Mário Faria, em frente ao Hospital São Francisco ali na av. João Pinheiro. Atendia também no Centro de Saúde, no bairro Martins. Comecei sozinho com o consultório particular. Depois, a convite do Dr. Renato Grama, montamos o Instituto de Cardiologia de Uberlândia, que foi o primeiro na cidade. Convidei o Dr. Dorinato, que integrou a este grupo. . Na época, havia apenas três cardiologistas na cidade, os doutores Renato Grama, Miron de Menezes e o Otacílio.

Com a fundação da Faculdade de Medicina, chegaram outros médicos e, hoje, Uberlândia é esse centro cardiológico de excelência.

Santa Genoveva

Quase todos os dias, ia à Santa Casa, que era administrada pelos vicentinos e as Irmãs para atender a população carente de Uberlândia gratuitamente. Por muito tempo, ela funcionou assim. Até que nós adquirimos a Santa Casa. Sou fundador do Hospital Santa Genoveva, que foi criado em 1975. Podem faltar alguns entre os que vou citar, mas teve o Dr. Fausto, que foi o pioneiro. Foi dele a ideia de criar o


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hospital. O Wilson Galvão, Salah, Ribeiro, Adelmo, Valdo, Milton Diniz, Eduardo Mineiro. Alguns começaram e saíram, outros foram chegando até que o Santa Genoveva se transformou nesse grande hospital que é atualmente. Passava aqui horas e horas. Participei da criação da fundação, fui até arquiteto e o engenheiro da primeira UTI, que teve aqui no Hospital. Vinha aqui à noite, media, olhava. Antes, estive em São Paulo, vendo equipamentos, ferramentas para trazer. Às vezes, eu chegava aqui, à noite, e ficava medindo paredes para ver onde instalar tal equipamento.

Você não pode esquecer o passado. Quem não conhece a história, não faz o futuro, não tem jeito, não há como

Frei Egidio, Dr. Castinaldo, Dr. Wilson Galvão, prefeito Virgilio Galassi e o pres. da Câmara, Angelo Cunha Neto, na inauguração do Hospital Santa Genoveva

Bem mais tarde, creio que, por volta dos anos 80/90 é que começamos a fazer aqui outros exames. Em 1995, se não me engano, depois de várias tentativas, chegou o Dr. Roberto Botelho, quando ele passou a trabalhar no hospital montamos a primeira UTI Cardiológica da cidade. A Cardiologia de Uberlândia, hoje, é de ponta. Não fica devendo a esses grandes centros, não. Só alguns detalhes, como transplantes cardíacos, que ainda não realizamos, por algumas questões técnicas.

Unimed Uberlândia

Em 1972, com o Dr. Ribeiro, que foi o primeiro presidente e vários outros colegas, criamos a Unimed Uberlândia. Iniciativa que nasceu com esse espírito de ampliar mais o atendimento por parte dos médicos cooperados. E para oferecer ao os usuários mais chance de acesso à assistência médica por um preço razoável.

Cardiologia – o começo Uberlândia No princípio, a Cardiologia, em Uberlândia, não era como em outros centros maiores. Na época, a gente contava com o eletrocardiograma, que era a ferramenta básica, e raios X. Não tinha ultrassom, não tinha Ecodopplercardiograma, cateterismo, nada. A gente ficava muito desarmado nessa especialidade. Quando um paciente demandava maiores recursos, tínhamos que transferi-lo para São Paulo. Era aquela dificuldade: ligava para o hospital, para o médico, e eles iam nos aguardar no aeroporto.

Uberlândia, quando eu cheguei, tinha uns 80 mil habitantes. Ela cresceu, desenvolveu muito. Me sinto muito feliz aqui, criei meus filhos, gosto muito de Uberlândia. Tenho orgulho em ser, hoje, um cidadão uberlandense. Comecei a dar aula na Faculdade de Medicina quando começou a parte clínica. Tem a parte básica, as cadeiras básicas e depois começa a parte clínica, com a Semiologia. Eu dei aula para a primeira turma. Dei aula de Semiologia, de Cardiologia e de Eletrocardiografia.

Recordações

Tive várias que lembro com satisfação porque a gente foi útil e salvou vidas. Vou citar uma marcante. Quando nós montamos a UTI, uma criança de 4 anos, chegou com parada cardíaca. Havia feito uma cirurgia de garganta e teve uma complicação anestésica, Ela chegou, aqui no Hospital, completamente parada. Fizemos a reanimação dessa criança, ela voltou, reanimou, e ficou na UTI por vários dias. Foi uma luta. Arrumamos um respirador artificial com um colega ( só havia um na cidade). Arrumamos esse respirador artificial, colocamos na criança e ela ficou, por quase 20 dias, entubada com esse aparelho. A mãe ficava ajoelhada na porta da UTI, rezando, quase que o dia todo. A criança recuperou. Depois disso, ela, o pai e a mãe mantiveram contato com a gente até pouco tempo atrás. Interessante, que até o médico que a operou ficou muito sensibilizado também. Teve uma complicação, não era culpa dele, evidente, mas ele ficou muito sensibilizado porque ele é muito humano. Sei que ele fez até uma promessa de ir a pé a Romaria. E foi. Casos como esse guardamos como uma lembrança querida.

Futuro

Vamos continuando até quando a saúde permitir. Enquanto a gente ainda se sente útil, se sente capaz de exercer, com qualidade, evidentemente, vamos continuando. Não tem como parar. Também porque não sei fazer outra coisa a não ser Medicina.


53 Renato: “Perdi por culpa do rádio”

Pena e Floriano Peixoto. Provisoriamente. No mesmo quarteirão, Renato comprou duas velhas casas, jogou às no chão e construiu instalações gigantescas, com um enorme palco e auditório, que deixavam nos chinelos as rádios do Ladeira e do Nicomedes. Não satisfeito, no início dos anos 1960, Renato construiu na mesma rua Santos Dumont, entre a Afonso Pena e a João Pinheiro, um verdadeiro palácio para sua Rádio Cultura e também para seu jornal, O Triângulo.

Eleições

RÁDIO CULTURA

Uma história de muito sucesso Quem mandava na cidade era o rádio. Não havia a televisão. E, naquela época, não havia nada melhor Por ADEMIR REIS

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enato de Freitas, um político ferrenho na concepção da palavra, tinha sido vereador em Uberlândia no início dos anos 1950. Já amargava uma derrota numa candidatura a deputado estadual. Isso por culpa de quem? Segundo ele mesmo: do rádio. Sim, do rádio. Naquela época quem mandava na cidade era o rádio. Não havia televisão e seus adversários tinham três rádios. O Geraldo Ladeira que também havia sido vereador tinha duas, a Difusora e a Bela Vista. Por outro lado, o cacique da UDN, Nicomedes Alves dos Santos e seus filhos, Ary e Ruy, tinham a Educadora que desde seus primórdios era comandada por um dos homens

mais inteligentes que o rádio conheceu nesta cidade, Moacyr Lopes de Carvalho. Moacyr e Ladeira vivam às turras pelo rádio e o Renato só olhando, mas “mexendo os pauzinhos”. Como havia se formado em engenharia no Rio de Janeiro, conhecia muita gente do alto escalão da República e, já nos idos de 1956, pleiteava junto ao governo uma nova concessão de rádio AM para Uberlândia. No final de 1957 foi agraciado com o prefixo 1.570 kHz e, em 1958 ano de eleição municipal, colocou sua Rádio Cultura no ar. A Rádio Cultura começou em acanhadas instalações na rua Machado de Assis, entre as avenidas Afonso

Para quem viveu naquela época, não havia nada melhor. Não havia censura. Ladeira, candidato do nanico PR a prefeito, batia à vontade, gritando “Alô, alô mamãe, tudo azul”, o dia inteiro. Moacyr Lopes de Carvalho, Nicomedes e todo o grupo da UDN firmes com a candidatura de José Fonseca e Silva, que já havia sido prefeito entre 1947 e1950. Renato comandava a campanha do candidato pelo PSD, Toninho Rezende. Deu Ladeira, mas Renato não desistiu. Apesar de ter feito um bom mandato entre 1959 e 1962, Ladeira não conseguiu fazer o sucessor. Lançou Pedro Schwindt, que ficou na lanterna. A UDN, dona da Educadora, lançou Raul Pereira de Rezende, combativo vereador e presidente da Câmara, que bateu duro em Ladeira durante os quatro anos de mandato. Renato, finalmente, saiu candidato a prefeito pelo PSD. As rádio “bombavam” o dia todo. Raul levou e Renato perdeu, mas ainda assim não desistiu. Com a força do rádio, em 1966, se tornou pela primeira vez prefeito de Uberlândia. Daí deu de presente o jornal para seus funcionários – assim, de mão beijada e a Cultura foi vendida para um grupo de empresários liderados pelo advogado Wilson Ribeiro da Silva.


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Surge a Super Cultura Em abril de 1969, este grupo de empresários resolveu vender a Cultura para Edson Garcia Nunes, que tinha inaugurado anos antes sua TV Triângulo e começava a liderar os meios de comunicação. Vem de volta a política: Edson Garcia Nunes sonhava em ser prefeito de Uberlândia. Foi candidato pelo novato MDB e perdeu, mesmo com rádio e TV nas mãos. No início de maio, o empresário chamou ao escritório da CEGEBE no Edifício Itacolomy, o jovem e promissor bancário, 26 anos, economista promotor de eventos sociais e radialista Paulo Henrique Petri e lhe faz uma proposta irrecusável. “Paulo, quero que dirija a Rádio Cultura para mim. Não entendo nada de rádio e quero o melhor, para bater no Moacyr e no Ladeira. O Juarez, meu irmão, queria o Dantas Ruas, mas meu cunhado José Bonfim indicou seu nome. A proposta é pegar ou largar.” Paulo Petri pediu carta branca. “Quer a melhor rádio? Terá, mas preciso de carta branca. Vamos fechar a Cultura por 30 dias, mudar tudo e quero propaganda da Nova Cultura toda hora na sua televisão”. Resposta do Dr. Edson Garcia: “Feito”. Em 12 de maio de 1969, dia em que Paulo Henrique completava 27 anos, a Rádio Cultura, foi fechada para reforma total. Enquanto a equipe técnica da TV trocava tudo, do transmissor aos microfones, Paulo saiu formando sua equipe. Selecionou uns poucos nomes que estavam na Cultura como Mauro Mendonça, Paulo César Pegoraro, Sebastião Silva Dantas, Luiz Alberto Rodrigues, João Divino Abreu,

Paulo Cesar Pegoraro, Josemilton, Gedeon, Orley e Ademir Reis na mudança da Cultura para o bairro Umuarama

Ademir Reis entrevista Clara Nunes no São João Praiano


55 “ Com desempenho espantoso, a Rádio Cultura liderou sozinha nos anos 1970”

Orlei, Paulo Henrique, Leocádio, Oscar (goleiro), Silva Dantas, Josué Borges, Lúcio Baia e Ademir Reis. Agachados: Manoel Pardal, Chiclete (José Décio), Edvane Duarte, Lizandro Sobrinho, Maurílio Catito, J. Ferreira e Osní Nespatti

Paulo Henrique Petri entrevistando a escritora Carolina de Jesus Izaltino Filho, Josué Borges. Da Bela Vista, levou Ademir Reis, com 18 anos, que seria o único contemplado na nova Cultura com dois programas diários de duas horas, um de manhã e outro à tarde. Da Educadora levou os que considerava melhores: Maurílio Catito, Alfonso Andrade Prieto, Orlei Moreira, Gideon de Oliveira. Dia 2 de junho de 1969, a Super Cultura entrava no ar, com liderança espantosa, surpreendendo até mesmo o proprietário, Edson Garcia Nunes e seu jovem diretor

Paulo Henrique Petri. Para chegar até aí, a nova equipe aparecia na TV todos os dias em entrevistas, com chamadas dos programas, um fato inédito. A Cultura AM liderou sozinha nos anos 1970. Em 1º de janeiro de 1982, Paulo Henrique Petri, assessorado por Ademir Reis e pelo Wander Rocha, colocava no ar a FM da Cultura. Nos estúdios da Santos Dumont, a Cultura vivia lotada de ouvintes que tinham prazer de ver seus “ídolos” de perto. Era permitido ficar dentro das cabines de locução e pelos corredores da rádio. Mas isso só durou de junho de 1969 até fevereiro de 1971, quando a Cultura se juntou à TV Triângulo, que havia se mudado para o Umuarama.

A volta de Renato Ainda acreditando na força dos meios de comunicação, Renato de Freitas, de olho nas eleições municipais de 1972, ao lado do irmão Rubens e de mais dois empresários, Rubens Pereira Leite e Tubal Siqueira Silva, compra em agosto de 1971, não só a Rádio Cultura, mas também a TV Triângulo. No

dia do 31 de agosto daquele ano, os quatro assumiram o controle acionário e de imediato decidiram manter toda a equipe da rádio, sucesso absoluto. Renato se elegeu prefeito pela segunda vez em 1972 e deputado estadual para a Legislatura 19791982. Depois disso, ele e o irmão Rubens venderam seus 50% para os outros sócios. A Cultura AM ainda se manteve líder por muitos anos, com promoções inesquecíveis como a de levar um ouvinte com acompanhante, com tudo pago para a Copa do Mundo de 1970 no México, os shows no dia das mães com Milionário e José Rico, as lutas de telecatch e muitas outras. Suas equipes esportivas eram brilhantes, acompanhando o Uberlândia Esporte Clube que era um time muito querido e respeitado em toda Minas Gerais. Não foram poucas as vezes em que a equipe de esportes da Rádio Cultura foi transmitir jogos de grandes times nacionais nas capitais.

O fim A Rádio Cultura AM de Uberlândia já não existe mais. No ano passado, “virou” a “Mix FM” utilizando da migração autorizada por decreto presidencial em novembro de 2013. E deixa gostosas recordações de uma verdadeira época de ouro das emissoras de rádio na cidade. Hoje, o rádio AM em Uberlândia está restrito a duas emissoras: a América, ligada à igreja católica, e a Vitoriosa do grupo Salgado. E algumas comunitárias de cunho religioso.


VISTA AÉREA DA FÁBRICA EM UBERLÂNDIA

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ANÚNCIO 12

A FIEMG Regional Vale do Paranaíba cumprimenta a Souza Cruz pela comemoração dos 40 anos da fábrica em Uberlândia. E reverencia a todos que, de uma forma ou outra, contribuíram para viabilizar esse marco importante no desenvolvimento de nossa cidade.


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A Souza Cruz construiu sua fábrica numa região onde praticamente não havia nada

1978-2018

Quatro décadas marcantes A fábrica da Souza Cruz completa 40 anos, gerando empregos e sendo um dos mais importantes agentes de fomento econômico de Uberlândia

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O prefeito Renato de Freitas assinando a doação da área para a construção da fábrica

m pouco de história. Os anos 1970 marcaram um período excepcional de nossa cidade, que já havia aproveitado muito bem o “boom” da construção de Brasília na década anterior e almejava incrementar ainda mais seu desenvolvimento. Ainda que a representação política fosse dividida, grandes homens públicos de Uberlândia se uniram em busca deste objetivo. Nomes como os do governador de Minas, Rondon Pacheco, sem dúvida o maior responsável por essa conquista, do deputado federal Homero Santos e, especialmente, os dos ex-prefeitos Renato de Freitas e Virgilio Galassi. De acordo com o livro “Das sesmarias ao polo urbano” do historiador e ex-procurador do município, Dr. Oscar Virgilio, o prefeito Renato de Freitas recebeu em 28 de junho


O presidente Juscelino acompanhando o início das atividades da fábrica

de 1974, uma carta enviada pelo diretor da Souza Cruz, J.S. Sargent, com os tópicos que justificavam a escolha da cidade para a construção da fábrica. Os tópicos 4 e 5 explicavam: “tínhamos em mente selecionar uma cidade cuja administração fosse progressista e cuja infra-estrutura social e industrial estivesse em franco desenvolvimento.E em tal cidade deveria existir um aeroporto comercial e ligações rodoviárias e ferroviárias. Uberlândia está situada no eixo principal São Paulo/Brasília, possui rotas para o leste, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Encontra-se muito bem posicionada no caso de verificar-se um desenvolvimento acelerado em direção ao interior do País”. A localização, a infraestrutura da cidade, os incentivos como doação de terrenos e isenção fiscal realizados pelos governos Federal, Estadual e Municipal ajudavam e foi com essa junção de atributos que Uberlândia conquistou a fábrica da Souza Cruz, hoje a maior unidade fabril do setor de tabaco em toda a América Latina. A unidade da Souza Cruz em Uberlândia iniciou suas atividades em 28 de fevereiro de 1978 em terreno cedido pela Prefeitura com cerca de 870 mil metros quadrados. Hoje possui uma área construída de 150 mil metros e área verde de 720 mil metros quadrados.

Benefícios Não seria exagero dizer que a fábrica da Souza Cruz foi um dos fatores mais relevantes para o desenvolvimento de Uberlândia. Antes da fábrica, a cidade era uma, depois dela outra, pelo impulso na economia, pela geração de emprego, disseminação de processos inovadores e modelos de gestão modernos e de alta produtividade. A cidade reconhece isso segundo o prefeito Odelmo Leão. A Souza Cruz representa, na história de Uberlândia, uma das grandes conquistas do espírito público e empreendedor dos que aqui residem. E é esse caráter que sempre permitiu que, com responsabilidade, a cidade pudesse se desenvolver social e economicamente. E foram os esforços de ilustres homens da cidade que fizeram com que a multinacional enxergasse Uberlândia como o local ideal para a construção de um fábrica na década de 70. Destaco a importância do doutor Rondon Pacheco, governador de Minas Gerais à época, que articulou desde o início a vinda da fábrica, bem como o ex-prefeito Renato de Freitas, que o auxiliou. É com satisfação que presenciamos, após 40 anos de existência, a consolidação da Souza Cruz junto à cidade, sendo hoje a única fábrica da empresa no Brasil.

“É uma das grandes parceiras da população, contribuindo para a geração de renda ao empregar mais de 1,1 mil pessoas de forma direta e para a movimentação de toda uma cadeia de negócios. A operação da fábrica também garante que a Souza Cruz seja uma das que mais contribuem com tributos para o município. Está entre as dez empresas que mais arrecadam tanto ISS quanto ICMS na cidade. São recursos que o município reverte em benefício da nossa população em áreas como a Saúde, a Educação e área Social, dentre outras”. Odelmo Leão – Prefeito de Uberlândia

Hoje Ao completar 40 anos, a fábrica da Souza Cruz em Uberlândia conta com tecnologia de ponta para garantir alto nível de qualidade de seus produtos. Praticamente, toda a produção é automatizada: a partir do momento em que o tabaco proveniente das usinas é aberto e inserido na produção, não há mais nenhum manuseio humano. A fábrica pode produzir até 20 mil cigarros e 1.000 carteiras por minuto. A capacidade produtiva instalada é de 70 bilhões de cigarro por ano.


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Antônio Rezende Costa e as famílias de seus genros: Joaquim Carneiro (Lysia), Luiz da Rocha e Silva (Lydia), Antônio de Rezende Costa, Dr. Manoel Alves Lima Maldonado (Lygia). Netos: José Theóphilo Carneiro Neto, Hebe Carneiro, Luiz Antônio da Rocha e SIlva e Hidraulina (Lininha) Rezende Costa Maldonado

EMPREENDEDORES

A família Rezende Costa Por ANTÔNIO PEREIRA

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m dos grandes empresários uberabinhenses, pioneiro industrial, sedimentador das bases do futuro centro distribuidor que temos hoje, foi o paracatuense Antônio de Rezende Costa, aqui chegado em 1895. Tonico Rezende era filho do fazendeiro major José de Rezende Costa e Francisca Pimentel de Ulhoa, famílias tradicionais de Paracatu, primos dos Melo Franco e do ramo dos Rezende Costa envolvidos com a Inconfidência Mineira. Em 21 de abril de 1867. Estudou em Paracatu e lá iniciou suas atividades profissionais, no Magistério. Em Franca, para onde se mudou, entrou para o comércio trabalhando com Higino Caleiro. Em seguida, empregou-se com Rato, Guaritá & Machado, em Uberaba. Por fim, veio ser gerente de Ribeiro, Veloso & Companhia, em São Pedro de Uberabinha. Fechando-se a casa, Tonico vendeu suas propriedades em Paracatu por seis contos de réis, com o que montou

casa comercial com Antônio Marques Guerreiro Nunes, sob a razão Rezende & Guerreiro, à praça da Independência, hoje Coronel Carneiro. Em 1909, fez nova sociedade com Tobias da Costa Junqueira sob a razão Antônio Rezende & Companhia que durou pouco, mas, a firma continuou. Foram admitidos como interessados seu sobrinho Aristides Bernardes de Assis, José Mateus de Sales e João de Deus Faria (o criador do topônimo “Uberlândia”). Além do estabelecimento comercial, Tonico possuía máquina de arroz a vapor na avenida João Pessoa, em frente à antiga estação da Mogiana. Inaugurada a energia elétrica pelo Coronel Carneiro, em dezembro de 1909, Tonico Rezende importou da Alemanha, uma máquina elétrica, modelo Brasil-2, com capacidade para 180 sacas/dia. Os novos armazéns da cerealista foram instalados à praça do Comércio (hoje, Dr. Duarte). Nesta praça, além da máquina, já estavam seus armazéns e os de Teixeira, Costa & Companhia, responsáveis pela aglomeração de dezenas de carros de bois provenientes dos sertões do

Triângulo, Goiás e Mato Grosso. Com ele trabalharam homens que se destacaram na cidade: Aristides Bernardes de Assis, José Mateus de Sales, Aristeu Bernardes, Manoelzinho da Silva e Oliveira, Vítor Cotta Pacheco, Elviro Cabral de Menezes, Modesto do Egypto, Francelino Cardoso, João de Deus Faria e Manoel Jacinto de Jesus. Para transportar mercadorias, via Mogiana, adquiriu no Rio de Janeiro um carroção de quatro rodas, puxado por dois burros. Tonico também teve atividade política e foi eleito vereador para o período 1919/1922, pelo partido “Cocão”. Abriu outros estabelecimentos comerciais no Rio, São Paulo e Ipameri. Para São Paulo, enviava mercadorias que recebia por escambo dos carreiros: arroz, feijão, charque, couro, banha, ouro etc. Foi nosso primeiro exportador internacional: enviava para a Europa borracha extraída das mangabeiras de Goiás e Mato Grosso, algodão enfardado e, especialmente para a Alemanha e a Inglaterra, o couro bovino. Pioneiro da indústria, adquiriu, com Abrão de Moraes, uma destilaria


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em São Paulo transferindo-a para cá. Era a destilaria Fajardo, dirigida por um técnico espanhol que lhe emprestou o nome. Engarrafavam aguardente, o vinho Lydia e produziam o guaraná Flexa e a cerveja Cabeça de Carneiro, com lúpulo e cevada puros, vendidos em toda a região. Isso, na segunda década do século passado. Posteriormente, essa fábrica foi dirigida por seu genro Joaquim Carneiro e, depois, vendida para Antônio Rezende Chaves. Tonico introduziu na região o feijão preto que ficou conhecido como “Uberabinha”, de largo consumo no Rio de Janeiro e São Paulo. Com sua esposa, Hidraulina Horbillon, nascida em Jataí, Goiás, constituiu família de quatro filhos: Lydia, Antônio, Lígia e Lysia, aos quais deram esmerada educação, com aprimoramento no Mackenzie, São Paulo, onde possuíam residência, na rua da Consolação. Aqui construíram casa luxuosa na esquina da praça Dr. Duarte com a rua Quinze de Novembro, onde é hoje a Escola Enéas Guimarães (que também ocupa os prédios dos armazéns da casa comercial). Foram usadas na construção telhas francesas de Marselha, todos os vidros são belgas, mármore italiano, ferragens inglesas e portas portuguesas de pinho de Riga. Para a pintura, veio de São Paulo o italiano Cypriano del Fávero, que aqui se radicou, autor de vários projetos interessantes, inclusive o da Câmara Municipal (hoje Museu). Lydia formou-se em Farmácia, em Ribeirão Preto. Casou-se com o engenheiro e professor Luiz da Rocha e Silva, natural do Rio de Janeiro. Tiveram dois filhos: Luiz

Lydia Rezende Rocha e Silva Antônio e Luly. Luiz Antônio Rocha e Silva, engenheiro, casou-se com Ida Nogueira Rocha e Silva, pais de Gustavo Nogueira Rocha e Silva, oftalmologista, que é pai de Leonardo e Murilo; de Carmen Lydia Rocha e Silva Tieppo, arquiteta, casada com o engenheiro Eduardo Maia Tieppo, ex-diretor da Crefisul, do Citybank e do HSBC, residentes em São Paulo, com as filhas gêmeas Laura e Luíza e o filho Antônio; e de Isabella Nogueira Rocha e Silva, advogada e jornalista, casada com o engenheiro Ricardo Hermann, residentes em São Paulo, pais de Daniel, Paula e Anna; Luly Rocha de Paula Xavier, falecida, formada em Biblioteconomia, casou-se com o engenheiro Mário N. de Paula Xavier, da diretoria do Bamerindus. Não tiveram filhos. Antônio de Rezende Costa Filho casou-se com a prima Laura Barbosa de Rezende. Estudou em Uberabinha, com Honório Guimarães e José Avelino; em São Paulo e, depois, na Inglaterra, onde ficou por seis anos, graduando-se em Ciências Econômicas. Recebeu a tutela de empresários ingleses, amigos de seu pai que aqui os representava. Viveu lá todo o período da Guerra de 1914. Assimilou os costumes ingleses causando impressão, ao voltar, na pacata e provinciana Uberabinha. Talvez tenha sido um dos primeiros economistas da região. Usou seus conhecimentos nos pró-

Antônio de Rezende Costa prios negócios seguindo, em parte, os empreendimentos do pai. Montou máquina de beneficiar algodão onde eram os armazéns de Antônio Rezende & Companhia. Foi o primeiro na região a financiar agricultores e a pagar preços estimulantes. Construiu requintado palacete, projetado por seu sogro, onde foi a antiga chácara do Padre Pio, com jardins em torno, piscina, pomar, cavalariças e canis. Foi a primeira casa da cidade com laje de cobertura. Como isso foi durante a Segunda Grande Guerra, pensavam que ele construía um abrigo antiaéreo. Era conhecida como a “chácara de Antônio Rezende”. Após sua morte, foi adquirida por seu sobrinho, Luiz Antônio Rocha e Silva. Foi demolida e, a partir de 1985, construiu-se no local o Condomínio Edifício Rocha e Silva. Antônio de Rezende Costa Filho foi um dos fundadores da Associação Comercial, Industrial e Agro Pecuária de Uberlândia, em 1933. Pertenceu à primeira diretoria e foi presidente de 1938 a 1940. Foi presidente do Rotary Club de Uberlândia de 1938 a 1939. Teve duas filhas: Lilian, falecida na infância, e Míryam de Rezende Costa Phillips, residente no Rio de Janeiro, com estudos universitários. Trabalhou em embaixadas estrangeiras por seu domínio de várias línguas. Lígia, tradutora, casou-se com o advogado Manoel Alves de Lima


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Residência na praça Dr. Duarte onde morava a familia de Tonico Rezende Maldonado, double de delegado de polícia e violonista. Seus filhos: Hidraulina, promotora de Justiça em São Paulo, solteira; Galeano Luiz Maldonado, engenheiro, casado com Marisa, tem os filhos Cristian, engenheiro, Maísa e Carolina, administradoras de empresa, a última, casada com William Eiffert, residindo nos Estados Unidos; Milton Maldonado, advogado trabalhista, casado com Maria Luíza, professora, pais dos universitários Milton Luiz, Luiz Guilherme, Mário Luiz e André Luiz. A caçula de Tonico Rezende, Lysia, casou-se com Joaquim Carneiro, filho do coronel Carneiro. Sendo Tonico do partido “Cocão” e o pai do futuro noivo “Coió”, o noivado encontrou obstáculos. Tonico exigiu um pedido com todas as formalidades. José Theóphilo Carneiro, que gostava de usar a farda da Guarda Nacional e o fazia em todas as ocasiões apropriadas e nos feriados nacionais, enfardou-se e foi à casa do adversário onde formalizou o pedido. Joaquim dirigiu por muitos anos a Destilaria Fajardo e foi corretor de imóveis em São Paulo. Lysia, durante algum tempo, lecionou francês. São falecidos. Seus filhos: José Teófilo Carneiro Neto (falecido) foi casado com Ana Maria Perassoli Carneiro e tem os filhos Flávio, Luiz Fernando, médico pediatra, e Cinthia, residentes em São Paulo. José Teófilo, após

curso técnico no Mackenzie, iniciou suas atividades profissionais nas indústrias automobilísticas. Orientou o projeto do caminhão da Volks. Trabalhou na Ford, Mercedes Benz, GM, Perkins e, atualmente, é assessor de diretoria na Vega Sopave. Fez vários cursos no exterior. A filha, Hebe Carneiro Alves, foi casada com Alberto Alves, um dos fundadores das Lojas Mappin. Faleceu aos 40 anos, em São Paulo, deixando os filhos Ricardo e Margarida. Luiz Otávio Carneiro de Rezende, engenheiro agrônomo, foi funcionário público em São Paulo e da Quimbrasil, no Paraná; é casado com Vircênia Maradei Carneiro de Rezende. Residem em Uberlândia. São comerciantes (Loja Ornato) e fazendeiros. Seus filhos: Otaviano Carneiro de Rezende, veterinário, casado com Nádia Assis C. de Rezende, funcionária do Banco do Brasil, têm os filhos Flávia e Luiz Otávio; Vicente Maradei Carneiro de Rezende, casado com Dalira L. Maradei Carneiro, têm o filho Lucas e residem em Porto Velho onde ele é gerente da Margo, do Grupo Martins; Virgínia Maradei Carneiro Rosa é formada em Artes e casada com Gilney Crispim com quem tem os filhos Felipe e Rafael, residentes em Uberlândia; e Luciana Maradei Carneiro. Aristides Bernardes de Assis, paracatuense, é filho de Ambrosina de Rezende Costa de Assis, irmão

do Tonico e de Francisco Bernardes de Assis. Veio para Uberabinha em 1910 para trabalhar com o tio com quem ficou até 1922. Foi boiadeiro e, posteriormente, com seu irmão Aristeu Bernardes, entrou para a firma Rezende & Companhia, fundada em 1923 por Antônio Maria Pereira de Rezende, português, que era casado com outra irmã de Tonico, Adelaide de Rezende Costa. Antônio Maria passou sua firma para o sobrinho Aristides que, para manter o nome da casa, mudou o seu, tirando “Assis” e colocando “Rezende”. Essa firma tornou-se uma das mais tradicionais da cidade e encerrou suas atividades já sob o nome de Lares (iniciais de Luiz Antônio Rocha e Silva, seu sucessor). Aristides foi um dos fundadores da Associação Comercial, Industrial e Agro Pecuária de Uberlândia, participou da sua primeira diretoria e foi seu terceiro presidente, entre 1936 e 1937. José de Rezende Costa também veio trabalhar com o tio e aqui se radicou, casando-se com Alíria, tendo os filhos Josaly, Marilene, José e Edson. Aqui viveram também suas irmãs Francisca, Ana, Iracema e Manuela.

Fontes: Luiz Antônio Rocha e Silva, Ida Nogueira R. Silva, Gustavo Rocha e Silva Tito Teixeira, Antônio Gomes Moreira, A. Pereira da Silva


Uberlândia Clube, projeto do engenheiro Almor da Cunha: fachada livre, vidros, brise-soleil e pilotis

UBERLÂNDIA CLUBE

Pioneiro na arquitetura moderna Edifício com linhas de tendência moderna associadas a elementos do art déco é único no contexto da cidade Por MOABE ESTEVES E VANESSA MEROLA

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Uberlândia Clube Sociedade Recreativa é um clube privado com seu quadro de sócios constituído por famílias representativas da elite social uberlandense. A atual sede foi inaugurada em 26 de janeiro de 1957, na gestão do sr. José Rezende Ribeiro – sócio proprietá-

rio e diretor do Clube. A edificação foi construída para substituir a primeira sede, localizada na avenida Afonso Pena, esquina com Olegário Maciel, que se tornara pequena para as atividades do clube com o número crescente de sócios. A construção se deu com capital dos sócios proprietários, em terreno

doado pelo Estado de Minas Gerais. O uberlandense Rondon Pacheco, então deputado estadual de Minas Gerais, conseguiu a doação de parte de um grande terreno do Estado que se estendia da rua Olegário Maciel à rua Santos Dumont na área central da cidade para a construção da nova sede do clube.

Concurso A diretoria decidiu promover um concurso para escolher o melhor engenheiro para projetar a edificação. O projeto vencedor foi o de Almor da Cunha, engenheiro de Sacramento com formação e atuação no Rio de Janeiro, enquanto os interiores ficaram sob a responsabilidade do artista plástico e decorador Sérgio Freitas. José Machado de Moraes, outro artista plástico carioca, com formação na Escola Nacional de Belas Artes e com trabalhos realizados junto a Cândido Portinari, foi também contratado para criar os murais de entrada no pavimento térreo e no segundo pavimento. O edifício tem linhas arrojadas de tendência moderna, associadas a


Rampa do hall central (vista externa e interna): elementos diferenciados de arquitetura moderna elementos do art déco e foi um dos primeiros de arquitetura moderna em Uberlândia, utilizando-se de recursos como grandes panos de vidro protegidos por brise-soleil, estruturação independente proporcionando fachadas e plantas livres, e o uso de pilotis e terraço-jardim. Seus elementos diferenciados da arquitetura moderna, ainda hoje o tornam único no contexto urbano, com elementos que poderiam ser amplamente utilizados em toda a cidade. Além disso, seu acervo de mobiliário, em ótimo estado de conservação, também é muito importante para a manutenção da memória da ambientação da década de 1960.

Inauguração A inauguração da nova sede do Uberlândia Clube Sociedade Recreativa se deu com grande festa, que contou com a presença dos associados, da Orquestra do Cassino de Sevilha, de São Paulo, além da orquestra do próprio clube, de bailarinos internacionais, artistas brasileiros e autoridades políticas, como o ministro da Aeronáutica e um embaixador da República.

O mobiliário do clube é importante para a manutenção da memória da ambientação da década de 1960 No uberlândia Clube, aconteciam apresentações de óperas, recitais e concertos nos próprios salões do clube ou no teatro. Além das apresentações culturais, durante a semana, os associados se reuniam no edifício para jogar e dançar, podendo também acessar a sala de leitura na biblioteca, além de frequentar as festas para o público jovem todos os finais de semana, bailes de carnaval e festas de virada do ano. O salão principal, no segundo pavimento, muitas vezes era alugado para festas particulares, como casamentos e aniversários dos associados. Na década de 1970, o clube foi muito procurado por seu barzinho e boate e, nos 90, a Festa Brava atraía muitas pessoas com sua música eletrônica. O prédio é tombado como Patrimônio Histórico Municipal, pelo Decreto nº 10.223 de 29/03/2006.

Foyer e mobiliário do 1º andar


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Uberlandices... PAISAGEM URBANA

O primeiro arranha-céu

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edifício Tubal Vilela, inaugurado em outubro de 1960, foi o primeiro edifício com mais de dez pavimentos construído na cidade de Uberlândia. Sua construção foi iniciada na segunda metade da década de 1950 e causava espanto e admiração em todos os moradores da cidade pela sua altura e proporção. Iniciativa da Imobiliária Tubal Vilela, logo que

foi inaugurado recebeu estabelecimentos comerciais como a Livraria Chagas, que comercializava revistas e jornais e principalmente uma lanchonete que marcou época, a Paulistana, que era dirigida por uma família de descendentes da colônia japonesa e vendiam salgados de qualidade. Dois dos seus maiores destaques eram os pastéis e o horário amplo de funcionamento.

Edifício foi construído onde havia um posto

TABUS

E as rinhas de galo de briga?

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oda cidade tem assuntos que são “meio” tabus: difícil achar registros e quem se disponha a relembrar. Este é o caso das rinhas de galo, que existiram em nossa cidade e que atraíam apostadores de todo Brasil. Só recordando: rinhas eram locais onde se promovia combates entre galos, geralmente, envolvendo apostas e, na maioria das vezes, a luta terminava com a morte de um dos animais. Pouca documentação existe, e praticamente, ninguém comenta. E olha que não faz tanto tempo assim. Trecho de reportagem especial sobre Uberlândia publicada em abril de 1968 na revista “A Cigarra” abordou o assunto . Relata o autor: “De galismo me falaram às

toneladas. Galismo, galista, briga de galo, galo que briga por coisa séria, até mesmo por galinha. Quem for galista de fé, torcedor de esporões valentes, vá ver o que é galo em Uberlândia, a maior rinha do Brasil. Galos de muitas mortes no campo da honra, de muita técnica e malícia, donos de pernadas lógicas. Verdadeiros Gengis Khan de crista. Galo uberlandense não se arreceia de perigo. Não respeita crista de fora”. O decreto 50.620, assinado pelo presidente Jânio Quadros em 18 de maio de 1961, proibiu as brigas de galo no país. Mesmo assim, elas continuaram promovidas clandestinamente por anos. E Uberlândia, infelizmente, seguiu tendo tanto rinhas, quanto criadores de galos de briga.



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Registros Outra noite histórica marcou o lançamento da edição 13 do Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre no restaurante Fogão de Minas

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oi mais um acontecimento marcante na vida cultural de nossa cidade, que reuniu personagens expressivos ligados à história uberlandense. O local, novamente, foi um dos mais típicos restaurantes mineiros de nosso estado que contribui magnificamente para criar um ambiente descontraído e aconchegante na recepção aos convidados. Graças também à habilidade de seus proprietários Rosane e Sobreira, que são verdadeiros mestres nessa arte. Além do lançamento do almanaque e seus destaques, a noite ficou ainda marcada pelo descerramento da foto do ex-governador Rondon Pacheco como um dos homenageados da galeria do

centro cultural Fogão de Minas. Representando a família lá esteve seu irmão, Dr. Márcio Pacheco. O prefeito Odelmo Leão Carneiro também compareceu para reverenciar seu apreço pelo maior expoente político de nossa cidade e referência de homem público. Outro fato marcante dessa noite foi que ela coincidiu com o aniversário da primeira-dama e secretária de Governo Ana Paula Junqueira, que recebeu os parabéns de forma musical. Quase 200 pessoas estiveram presentes e transformaram esse lançamento em mais um evento especial na vida daqueles que tanto se dedicam em promover os mais legítimos valores da nossa cidade.

O casal Rosane e Sobreira com a costumeira atenção de sempre na recepção aos convidados

A secretaria de Governo e primeira-dama, Ana Paula, recebeu cumprimentos pelo aniversário

A foto do ex-governador Rondon Pacheco passa a fazer parte da galeria do Centro Cultural Fogão de Minas

Homenagem para quem merece todas (Cora Pavan Capparelli)


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O “Baú do PH” será uma das novas atrações do programa

O industrial Alfredo Resende também recebeu homenagem póstuma

Programa Uberlândia de Ontem e Sempre agora na TV Paranaíba Após 13 anos no Canal da Gente e na TV Universitária, o programa “Uberlândia de Ontem e Sempre” está de casa e horário novos. A temporada 2018 passa ser uma coproduçao veiculada pela Paranaíba, afiliada da Rede Record. A série, que é produzida desde 2005 dedicada ao registro e valorização da história e memória de Uberlândia, passou a ser exibida às 10h30, aos domingos, como um saboroso aperitivo para os gostosos almoços familiares.

Nicolau Sulzbeck recebendo o desenho em sua homenagem

Nesta nova etapa, o programa irá acrescentar novos quadros como o “Quem te viu, quem te vê” com fotos pitorescas da infância de figuras conhecidas, o bate-papo de Celso Machado muda de nome para “Prosa Mansa”, focando ainda mais no depoente. Mas sem dúvida, um dos carros-chefes será o quadro “Baú do PH”, em que Paulo Henrique Petri compartilha o acervo da Close com suas memórias ligadas às matérias a serem exibidas. Junto com o almanaque e o museu virtual, o programa de TV é reconhecido como um importante valorizador da identidade uberlandense. “Uberlândia de Ontem e Sempre” tem direção de Taisa Machado, reportagens de Cristiane de Paula, edição de Franklyn do Nascimento, supervisão de Celso Machado. E é produzida pela Close Comunicação.

Pedro Eduardo, Rosilei, Celso e Taisa, a família anfitriã da noite

Também pode ser acessado pelo site WWW.uberlandiadeontemesempre.com.br


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Finalmentes...

LIVRO DE OURO

Não tinha texto e valia uma grana!

A

li pelos anos 60/70 Uberlândia ainda era bastante provinciana. Em todos os sentidos. A Prefeitura tinha uma atuação mais focada nos serviços e no desenvolvimento da cidade. Pouco ou quase nada investia em áreas como cultura. O máximo que fazia era manter a banda pública municipal. Então como eram bancados os custos para a realização de eventos públicos como os desfiles de carnaval, festas de congado, campeonatos de futebol, etc? Aí entrava o livro de ouro. Um caderno envolto numa caixa mais elaborada que circulava junto às empresas da cidade colhendo donativos para essas causas. Os empresários de certa forma até esperavam essa abordagem. Não tinha festa pública que não tivesse o apoio dos colaboradores tradicionais. Da turma do material de construção, Waltercides Borges de Sá, Oswaldo Oliveira, Nelson Silveira e outros. Das revendas de veículos, o Adelívio Peixoto da Motomaq, o Mário Pinto da Autominas, o Zézinho

As cores do Praia Clube, amarelo e preta, são uma homenagem ao clube uruguaio

da Ford, o Agenor Garcia do Irmãos Garcia, o Walter e Glenio da Intermáquinas. O Oswaldo Horbilon do Pregos Triângulo, o Nilo do Rodoviário Caçula, o Carlito Saraiva, os Pedreiros do Arroz Vitória e muitos mais. E não eram apenas festas e eventos esportivos que utilizavam desse expediente. Patronato, Creches, Entidades religiosas também se valiam dele. Até mesmo a criação de faculdades como Engenharia e Medicina tiveram seus livros de ouro. Tão valiosa quanto a contribuição financeira que recebiam, havia outra igualmente relevante que passava despercebida, mas fazia uma diferença enorme. Quem ajudava uma causa, um evento, uma instituição se sentia parte dela. Do seu trabalho e objetivo. Nesse caso, o apoio era também de envolvimento e atuação. E foi assim que Uberlândia, graças à doação de seus empresários e da iniciativa de pessoas bem-intencionadas que a cidade se desenvolveu. Em todos os sentidos...

FUTEBOL

Peñarol em Uberlândia

O

Peñarol, um dos mais famosos times de futebol da América do Sul, quem diria, já fez uma apresentação aqui em nossa cidade. O mais interessante é que não foi contra o Uberlândia Esporte Clube. Até porque o UEC não existia na época do jogo. Vejam o registro publicado no anuário uberlandense do ano de 1958: “No dia 13 de junho de 1928, o mundo esportivo de Uberabinha esteve em festas: o poderoso esquadrão do Peñarol aqui chegava para uma disputa com o Uberabinha Sport Clube. O time uruguaio efetuava uma excursão internacional, tendo visitado muitas cidades do Brasil regressando invicto ao seu país natal”. Sua vinda a Uberabinha foi um acontecimento marcante para a cidade pela relevância de receber um dos mais famosos clubes do mundo. O jogo aconteceu no campo do Uberabinha, que já era o Estádio Juca Ribeiro e o Peñarol saiu vitorioso. Outro fato que marca a ligação de nossa cidade com o Peñarol foi a escolha das cores do Praia Clube, a preta e a amarela, fruto da paixão pelo time uruguaio de um dos fundadores do Clube, Ramon Balparda.


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